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A “exuberância irracional
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da economia norte-americana e a confiança ilimitada dos
investidores nos executivos favoreceram ocorrência de fraudes, deficiências de gestão e atos
ilícitos, que levaram ao desaparecimento de grandes empresas, provocaram prejuízos aos
investidores, causando a perda de confiança sobre o modelo econômico e a queda de bilhões
de dólares sobre o valor de mercado. Diversos fatores inflacionaram o valor das empresas,
sem qualquer relação com a realidade. Executivos manipulavam dados, superestimando suas
posições e gerenciavam o contentamento dos investidores, garantindo um alto valor das ações.
A falta de conhecimento sobre a real forma pela qual os negócios eram realizados levou à
descoberta tardia de uma série de ações que culminaram com a extinção de algumas das
principais empresas norte-americanas. A falta de controles efetivos, a pouca transparência nos
atos de gestão, a manipulação de resultados, o uso de informações privilegiadas, o abuso de
poder e conivência de empresas de auditoria provocaram prejuízos de bilhões de dólares.
A queda do mercado de capitais norte-americano se iniciou em março de 2000, com a
descoberta de que grandes companhias manipulavam informações financeiras. Segundo
BLOEM et al. (2005), o ciclo de vida de algumas das principais corporações norte-americanas
foi abreviado por falta de estruturas de governança sólidas, e apesar de fortes eventos
conjunturais do período, deficiências gerais na gestão provocaram a queda e a extinção das
empresas. A falta de governança foi um dos principais eventos
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que causaram perdas
estimadas em US$ 5,6 trilhões em valores de mercado das companhias listadas nos mercados
de capitais norte-americanos.
O comportamento destas corporações foi refletido na valorização pelos acionistas. Para
BONSERVIZZI E SANTOS (2006), durante as duas últimas décadas, o mercado norte-
americano, principal mercado de capitais mundial, passou por duas fases distintas. A primeira é
marcada por um crescimento inicial do mercado, com cortes de taxas internas e a ampliação
do livre comércio mundial. Com o fim da Guerra Fria, o término da Guerra do Golfo e o
fenômeno da Internet, o índice DJIA
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atinge níveis elevados, característicos, porém, de um
“capitalismo exuberante”. Seguem-se novos eventos, que iriam deflagrar na “desconfiança
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Segundo BLOEM et al. (2005), o termo “exuberância irracional” foi empregado por Alan Greenspan, chairman do U.S. Federal
Reserve, em 1996, em pronunciamento onde alertava sobre a ganância e a “fé cega” (“blind faith”) sobre o crescimento contínuo
do mercado, sem bases consistentes.
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Para BLOEM et al. (2005), estes principais erros ou deficiências são referenciados como “The Ten Big Mistakes”, termo
empregado primeiramente em material publicado na Revista Fortune em Maio de 2002 no artigo intitulado “Why Companies Fail”
por Ram Charan e Jerry Useem. A expressão passou a ser referenciada como base para definir os principais fatores que
influenciaram a queda da bolsa norte-americana. Os fatores apontados são: a servidão aos executivos de Wall Street, o excesso
de arrojo, a overdose ao risco, Problemas de governança, a idolatria ao sucesso passado, estratégias de curto prazo, a ciranda
de aquisições, o medo de pressões de superiores, a cultura interna inadequada, levando a uma “espiral da morte” (“Death
Spiral”).
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O Dow Jones Industrial Average (DJIA), é um índice criado por Charles Dow em 1896 e utilizado para acompanhar o
desempenho das ações da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Seu cálculo é uma média simples das cotações das ações
das trinta empresas industriais mais importantes dos EUA, todas listadas na NYSE, com exceção da Microsoft e da Intel, que são
listadas na Nasdaq. Como o índice não é calculado pela bolsa de Nova York, seus componentes são escolhidos pelos editores do
jornal financeiro norte-americano The Wall Street Journal. Não existe nenhum critério pré-determinado, a não ser que os
componentes sejam companhias norte-americanas que são líderes em seus segmentos de mercado.