RESUMO
A contagem dos reticulócitos é usada extensamente na rotina laboratorial para avaliar
a atividade eritropoiética da medula óssea, sendo de grande importância para o diagnóstico,
prognóstico e terapia de anemias. Em pacientes com quadro de anemia que apresentam
reticulocitose, a eritropoiese na medula óssea mostra-se eficaz contra um processo
hemolítico ou hemorragia acelerados, ou responde a terapias específicas. Por outro lado, a
reticulocitopenia demonstra pouca atividade eritropoiética. A contagem de reticulócitos
promove o monitoramento da regeneração da atividade da medula óssea após
quimioterapia ou transplante de medula óssea. Os reticulócitos são corados com o azul de
metileno novo ou o azul de cresil brilhante, evidenciando o aspecto característico de retículo
a fragmentos de RNA, ao microscópio óptico. As metodologias manual e automatizada, para
a contagem de reticulócitos em laboratório clínico, seguem o protocolo de normas técnicas
H44-A do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS) e ao International
Committee for Standards in Haematology (ICSH). A metodologia manual é muito utilizada
em laboratórios de pequeno e médio porte, devido ao baixo custo em relação ao método
automatizado. No entanto, mesmo laboratórios de médio porte que contam com aparelhos
eletrônicos para a contagem de reticulócitos, nem sempre os utilizam, devido ao alto custo
dos reagentes específicos. As contagens de reticulócitos feitas em contadores eletrônicos,
que empregam a metodologia de citometria de fluxo, são mais rápidas e precisas, devido ao
maior número de células contadas e da redução das fontes de erros. Alguns equipamentos
determinam volume, concentração de hemoglobina e grau de maturidade dos reticulócitos,
compondo o reticulocitograma, o qual reflete o tipo de produção eritrocitária da medula
óssea. Os objetivos do presente trabalho foram os de avaliar a variação inter-observadores
para contagem manual de reticulócitos; comparar metodologias de execução manual e
automatizada para contagem de reticulócitos; testar alternativas para a metodologia
automatizada; bem como analisar os seus erros estatísticos. Foram selecionadas 446
amostras de sangue total de pacientes, obtidas por punção venosa na rotina laboratorial
para hemograma e ou contagem de reticulócitos do Laboratório Pontagrossense de Análises
Clínicas, Ponta Grossa – PR, e do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, com idades entre 0 e 89 anos, sendo 102 do
sexo masculino, 120 do sexo feminino e 224 recém-natos. A análise de correlação inter-
observadores e intra-classes, para valores baixos, médios e altos, segundo Bartko (1974) foi
usada para avaliar a concordância entre 12 observadores, que realizaram a contagem
manual de reticulócitos em 25 preparações de sangue, com contagens variadas. Os
resultados das análises estatísticas indicam que o erro casual (1-R
2
) variou de 4 a 60%
entre os observadores. Apesar da imprecisão detectada, o perfil geral entre os observadores
foi similar. Na comparação entre as metodologias manual e automatizada (ABBOTT Cell
Dyn 3500 SL), utilizando-se amostras de sangue de 341 pacientes, a análise de variância
(ANOVA) dos resultados não demonstrou diferenças entre as médias obtidas com as duas
metodologias (p = 0,21), sendo que os valores de tendência central e de dispersão foram
muito próximos entre ambas. A análise de variância dos valores obtidos com o emprego de
azul de metileno novo 1g/dl diluído 1:10 em NaCl 0,85 g/dl como corante-diluente
alternativo, em comparação aos obtidos com o fornecido pelo fabricante do aparelho, para
contagem de reticulócitos automatizada, não mostrou diferenças entre as médias obtidas
(p = 0,9) e entre as repetições (p = 0,63). Entretanto, foi detectado um erro sistemático, com
valores 0,4% maiores para as determinações com o corante-diluente alternativo em relação
ao comercial, bem como um erro casual (1- R
2
) de 19%, dentro do erro apresentado pela
metodologia. A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que: no estudo inter-
observadores, o coeficiente de correlação intra-classes indicou resultados clinicamente
úteis; a comparação entre as metodologias manual e automatizada indicou precisão entre os
dados obtidos; o corante-diluente alternativo apresentado pode substituir o corante-diluente
comercial, por apresentar resultados estatisticamente idênticos.