Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
CURSO DE MESTRADO
A INFLUÊNCIA DO GÊNERO E ORDEM DE NASCIMENTO SOBRE AS
PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS
FLORIANÓPOLIS
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
IZABELA TISSOT ANTUNES SAMPAIO
A INFLUÊNCIA DO GÊNERO E ORDEM DE NASCIMENTO SOBRE AS
PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Psicologia,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Curso de Mestrado, Centro de Filosofia e
Ciências Humanas.
Orientador: Prof°. Dr°. Mauro Luís Vieira.
FLORIANÓPOLIS
2008
ads:
iii
Dedico este trabalho aos meus pais, mestres na arte de educar...
iv
AGRADECIMENTOS
Ao professor Mauro Luís Vieira, pela oportunidade, apoio e conhecimento.
Aos meus pais, Gilberto e Marilia, pelo amor.
Às minhas irmãs, Fernanda e Carolina (em memória), motivação dessa pesquisa.
Ao Juliano, pelo incentivo e parceria.
Ao grupo do NEPeDI (Núcleo de Estudos e Pesquisa em Desenvolvimento Infantil),
especialmente à Gabriela e Samira, pelo coleguismo, e à Viviane e Lílian, pela ajuda na
categorização dos dados.
Ao amigo João Fernando Rech Wachelke, por toda disponibilidade e ajuda prestada.
À amiga Débora Staub Cano, pelas longas conversas e acolhimento.
À Profª. Drª. Paula Gomide, por estar sempre presente e pela participação na banca.
Ao Prof. Roberto M. Cruz, pelas sugestões ao trabalho e pela participação na banca.
Ao Prof. Dr. Brígido Vizeu Camargo e à Profª. Drª. Ana Maria Faraco de Oliveira,
pelas sugestões quando da qualificação.
À Janete Bromer, pela eficiência com que cumpre seu trabalho na secretaria da Pós.
Ao estatístico Thiago da Silva Alves e à Profª. Drª. Nívea da Silva Matuda, do Depto.
de Estatística da UFPR, pela assessoria estatística.
Às instituições e aos participantes que permitiram a realização da pesquisa.
À minha família, especialmente minha madrinha Elisabete, e todos os amigos que
estiveram ao meu lado durante o processo.
Ao CNPq, pela bolsa.
A Deus, pela vida.
v
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................vii
ABSTRACT............................................................................................................................viii
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 9
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 13
3. HIPÓTESES................................................................................................................... 14
4. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................... 15
4.1 Evolução dos cuidados parentais ................................................................................ 15
4.2. Práticas educativas parentais ..................................................................................... 20
4.3. A influência do gênero do filho ................................................................................. 25
4.4. A influência da ordem de nascimento dos filhos........................................................ 32
4.4.1 Ordem de nascimento e personalidade. ........................................................ 35
4.4.2. Ordem de nascimento e percepção da preferência parental. ......................... 40
4.4.3. Ordem de nascimento e QI.......................................................................... 44
4.5. Adolescentes e a relação com seus pais ..................................................................... 46
5. MÉTODO....................................................................................................................... 52
5.1. Caracterização da pesquisa........................................................................................ 52
5.2. Participantes.............................................................................................................. 53
5.3. Local......................................................................................................................... 54
5.4. Instrumentos.............................................................................................................. 55
5.4.1. Inventário de Estilos Parentais............................................................................ 55
5.4.2. Folha Adicional.................................................................................................. 56
5.5. Procedimentos........................................................................................................... 58
5.5.1 Coleta de dados ................................................................................................... 58
5.5.2 Análise dos dados................................................................................................ 59
5.5.2.1. Inventário de Estilos Parentais - IEP ............................................................ 59
5.5.2.2. Folha adicional ............................................................................................ 61
5.5.3. Aspectos éticos................................................................................................... 64
8. RESULTADOS .............................................................................................................. 65
8.1. Comentários sobre a amostra ................................................................................. 65
8.2. Práticas educativas parentais.................................................................................. 66
8.3. Percepção da preferência parental.......................................................................... 79
8.3. Autodescrição........................................................................................................ 86
9. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 94
9.1. Práticas educativas parentais.................................................................................. 94
9.2. Percepção da preferência parental........................................................................ 100
9.3. Autodescrição...................................................................................................... 102
10. CONCLUSÃO............................................................................................................ 107
11. REFERÊNCIAS......................................................................................................... 111
vi
12. LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ 119
13. LISTA DE TABELAS................................................................................................ 120
14. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................... 122
15. APÊNDICES .............................................................................................................. 123
Apêndice A.................................................................................................................... 124
Apêndice B .................................................................................................................... 125
Apêndice C .................................................................................................................... 127
Apêndice D.................................................................................................................... 130
10. ANEXOS .................................................................................................................... 133
Anexo A ........................................................................................................................ 134
Anexo B......................................................................................................................... 137
Anexo C......................................................................................................................... 140
Anexo D ........................................................................................................................ 141
SAMPAIO, Izabela Tissot Antunes. A influência do gênero e da ordem de nascimento
sobre as práticas educativas parentais. Florianópolis, 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado
em Psicologia) Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientador: Mauro Luís Vieira
Defesa: 07/03/2008
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo levantar dados sobre a influência do gênero e da
ordem de nascimento dos filhos sobre as práticas educativas parentais, investigando também a
percepção da preferência parental e a autodescrição de adolescentes. O modelo teórico
utilizado para avaliar as práticas educativas inclui sete categorias: duas relativas a práticas
denominadas positivas (monitoria positiva e comportamento moral); e cinco negativas
(punição inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico).
Participaram da pesquisa 322 adolescentes entre 13 e 17 anos, sendo 59% do sexo feminino.
Os resultados indicaram que as filhas avaliaram a figura paterna de forma mais negativa do
que os filhos, não havendo diferenças na avaliação materna geral. As filhas primogênitas
alegaram sofrer mais as práticas de punição inconsistente e abuso físico por parte das mães e
dos pais; enquanto os filhos mais velhos julgaram apanhar mais da figura paterna. As filhas
primogênitas obtiveram maiores valores para monitoria negativa paterna. Primogênitos de
ambos os sexos diferenciaram-se dos demais grupos por acreditarem que existe preferência
parental por um dos filhos, atribuindo-a principalmente aos caçulas. Houve associação entre
os índices de estilo parental e a percepção da preferência parental. Com relação à
autodescrição, os participantes dividiram-se principalmente segundo conceitos atribuídos ao
gênero. Evidencia-se que o gênero e a ordem de nascimento modulam o modo como os pais
tratam os filhos e como os próprios filhos avaliam os pais; esse último aspecto sofrendo
influência dos irmãos dentro da relação fraternal.
Palavras-chave: Gênero; Ordem de nascimento; Práticas educativas parentais.
viii
SAMPAIO, Izabela Tissot Antunes. The influence of gender and birth order on parenting.
Florianópolis, 2008. 142 p. Dissertation (Master in Psychology) – Psychology Graduate
Program, Federal University of Santa Catarina.
ABSTRACT
This work aimed at searching data about gender and birth order influence on parenting, also
investigating perceived parental favoritism and self-description of adolescents. The theoretical
model used to assess the parenting practices includes seven categories: two related to positive
practices (positive monitoring and moral modeling), and five related to negative practices
(inconsistent punishment, negligence, careless discipline, negative monitoring and physical
abuse). The participants were 322 adolescents between ages 13 and 17, 59% girls. Results
indicated that girl assessed fathers more negatively than boys, which did not happen for
mothers in the general score. Firstborn girls believe to suffer more inconsistent punishment
and physical abuse from mothers and fathers, while firstborn boys agree to be more spanked
by fathers. Firstborn girls also obtained higher scores for paternal negative monitoring.
Firstborns of both sexes differed from other groups for the perceived parental favoritism,
especially attributed to laterborns. An association between perceived parental favoritism and
the parenting style score was found. Relative to self-description, participants were divided
following gender social concepts. It seems evident that gender and birth order modulate the
way parents raise their offspring and the way children assess them; in this case suffering the
influence of brotherhood.
Keywords: Gender; Birth order; Parenting.
9
1.
I
NTRODUÇÃO
O interesse de psicólogos pela família o é recente. Como o modo de vida familiar
aparece em todas as comunidades humanas, configurando-se de forma específica de acordo
com cada cultura, diversos estudos são realizados a respeito da vida familiar e como ela
influencia o desenvolvimento das pessoas. E, nesse contexto dinâmico e complexo, a relação
dos pais com seus filhos e o olhar que esses m sobre a família traduzem-se de suma
importância para o entendimento de como o processo de desenvolvimento acontece.
Ao estudar a família podemos adotar dois olhares: um olhar macro, geral e outro
micro, específico. Do ponto de vista macro, avalia-se o contexto sócio-cultural em que a
família está inserida, ou seja, como a cultura, as crenças, normas, os sistemas político e
econômico influenciam sua configuração e funcionamento. Do ponto de vista micro,
considera-se como a família se organiza levando em conta a estrutura familiar, ou seja, sua
composição, tamanho, o status da conjugalidade dos pais, temperamento, características de
personalidade de seus membros e também o sexo, a idade, a ordem de nascimento dos filhos
(Montandon, 2005).
Neste trabalho, objetiva-se entender as relações familiares do ponto de vista micro,
priorizando dados sobre a família a partir dois aspectos em particular: o gênero e a ordem de
nascimento dos filhos. Especificamente, verifica-se em como se configuram as práticas
educativas parentais, a percepção da preferência parental e autodescrição de adolescentes
entre 13 e 17 anos.
O tema a respeito das práticas educativas parentais é bastante abrangente e diz respeito
a como os pais monitoram, estabelecem regras de convivência e de conduta, se punem maus-
comportamentos dos filhos e como o fazem, entre outros. A produção científica a esse
respeito abrange diversos estudos. Bolsoni-Silva e Marturano (2002), por exemplo,
10
constataram que existe uma forte relação entre habilidades sociais dos pais e desenvolvimento
de comportamento anti-social dos filhos. Isso quer dizer que, pais que não estabelecem
diálogos, que brigam e abusam fisicamente dos filhos, o lhes ensinando o certo e o errado,
potencializam a probabilidade da criança apresentar comportamentos de risco social. Em
contrapartida, pais que promovem comportamentos adequados nos filhos a partir de seu
próprio modelo, demonstrando carinho, atenção e incentivando a expressão de sentimentos, o
diálogo, as negociações de regras, criam um ambiente de desenvolvimento harmônico para a
criança, contribuindo para o seu desenvolvimento.
Ao se comportarem de forma socialmente habilidosa, os pais fazem uso de uma
estratégia eficaz na criação dos filhos, substituindo outras formas inadequadas de controle,
como o uso de ameaças e o abuso físico. Ao contrário do que se pensa comumente, as
ameaças e o abuso físico apenas controlam o comportamento em curto espaço de tempo e,
geralmente, somente na presença de quem controla (Gomide, 2001, 2006). Da mesma forma,
o abuso de poder por parte dos pais pode levar ao abuso físico, tornando a punição física a
estratégia mais utilizada como prática educativa. E a agravante dessa situação é que os filhos
que apanham são aqueles que mais tarde apresentarão maior probabilidade de bater (Muller,
Hunter & Stollack, 1995).
Além da punição física, outra forma bastante comum de se tentar controlar
comportamentos de crianças e adolescentes é pela coerção. A coerção ocorre quando
ameaça, e o comportamento tem o objetivo de se esquivar ou fugir de uma situação
desagradável ou para evitar a perda de privilégios. Alvarenga e Piccinini (2001)
demonstraram que essa forma de controle aparece muito freqüentemente entre os pais,
independente do estilo de criação que adotam. A diferença reside na intensidade e freqüência
do uso dessa prática, as quais determinarão se ela trará ou o prejuízos para o
desenvolvimento infantil.
11
Em contrapartida, é o apoio e o envolvimento afetivo dos pais que contribuem de
forma positiva para o desenvolvimento dos filhos. Em todos os setores da vida, seja social,
acadêmico ou emocional, as crianças precisam se sentir amadas e protegidas. Isso quer dizer
que a demonstração de carinho, o afeto e o uso de elogios por parte dos pais o
imprescindíveis para que a criança se sinta confiante e consiga atingir seus objetivos
(D’Avila-Bacarji, Marturano & Elias, 2005).
É claro, portanto, que o papel dos pais vem sendo freqüentemente questionado,
especialmente no que diz respeito a questões de poder, hierarquia e apoio emocional na
relação com os filhos (Costa, Teixeira & Gomes, 2000). No entanto, algumas especificidades
de como se estabelecem essas relações carecem de entendimento. Para Sulloway (1996), o
gênero e a ordem de nascimento dos filhos são os principais fatores que influenciam o
comportamento parental e a competição entre irmãos. Ao pesquisar bases de dados de
publicações brasileiras, contudo, percebe-se que essas variáveis consideradas conjuntamente
não são alvos de muitas pesquisas, especialmente no que diz respeito à influência da ordem de
nascimento nos papéis familiar e social.
O nero e a ordem de nascimento contribuem para a formação da autopercepção dos
indivíduos, e essa depende do modo como se é tratado na família e da avaliação que se faz
dela. Nesse sentido, cabe investigar como os filhos percebem os pais e os irmãos, pois disso
dependerá o modo como eles mesmos se vêem na família, o que contribui para o
desenvolvimento da auto-estima. Percepção familiar e autodescrição assumem uma relação
diretamente proporcional, em que, sendo a percepção familiar boa, favorável, provavelmente
assim também será o autoconceito dos membros que a enxergam dessa forma (Lummertz e
Blaggio, 1986; Magagnin e Kõrbes, 2000; Weber, Stasiak & Brandenburg, 2003). E é
especialmente na adolescência que a avaliação familiar e o desenvolvimento do autoconceito
ocorrem.
12
A adolescência é um período em que novas relações familiares e extra-familiares são
estabelecidas. Segundo teorias do desenvolvimento, os adolescentes apresentam
particularidades referentes, especialmente, à maturação biológica para a reprodução. A
puberdade gera transformações em todos os níveis do indivíduo, revelando características
corporais, emocionais e sociais qualitativamente diferentes das crianças mais novas.
Geralmente, um fortalecimento das relações entre pares, a mudança na autodefinição e na
auto-estima, maior autonomia com relação aos pais e novas formas de entender o mundo.
Todos esses fatores também modificam a dinâmica familiar global e, conseqüentemente, o
modo de os pais lidarem com os filhos, desses os avaliarem e se auto-conceituarem. Assim,
essa pesquisa pretende obter respostas sobre a seguinte pergunta:
“Qual a influência do gênero e ordem de nascimento sobre as práticas educativas
parentais?”
13
2.
OBJETIVOS
2.1. Geral
Analisar a influência do gênero e da ordem de nascimento sobre as práticas educativas
parentais.
2.2. Específicos
Descrever e verificar a existência de diferenças nas práticas educativas parentais em
função do gênero (masculino e feminino) e ordem do nascimento dos filhos
(primogênito, do meio, caçula e único);
Verificar a percepção da preferência parental em função do gênero (masculino e
feminino) e a ordem do nascimento dos filhos (primogênito, do meio, caçula e único);
Verificar como se configura a autodescrição dos adolescentes em função do gênero
(masculino e feminino) e a ordem do nascimento dos filhos (primogênito, do meio,
caçula e único).
14
3.
H
IPÓTESES
Sobre práticas educativas parentais:
1. As práticas educativas parentais são diferentes em relação a meninos e meninas,
conforme a ordem de nascimento;
2. Os primogênitos, especialmente meninos, sofrem mais abuso físico (apanharão mais);
3. As primogênitas (meninas) sofrem mais monitoria negativa, ou seja, o mais
cobradas continuamente;
4. Os caçulas e filhos únicos apresentam maiores índices de estilo parental geral (ieps);
5. Os filhos do meio apresentam ieps intermediários (não-extremos);
6. Filhos únicos sofrem mais monitoria negativa;
Sobre preferência parental:
7. Os primogênitos indicam haver preferência parental com maior freqüência;
8. Os caçulas são os mais indicados como preferidos dos pais.
Sobre autodescrição:
9. Há componentes (palavras) semelhantes intra-grupos e diferentes entre-grupos;
10. O tipo de palavra descritora tem relação com o valor do índice de estilo parental.
15
4.
R
EVISÃO DE LITERATURA
4.1 Evolução dos cuidados parentais
Nossos ancestrais desenvolveram uma dependência da cultura para sobreviver, pois foi
a partir da seleção natural que os genes propiciadores do comportamento cultural humano
foram favorecidos (Bussab & Ribeiro, 1998). Desde que nascemos estamos inseridos num
contexto cultural que “teoricamente” nos garante a sobrevivência frente à natureza, ao mesmo
tempo em que nos “aprisiona” num ambiente especial sujeito à seleção natural. A seleção
natural agiu de forma a favorecer as ligações sociais afetivas, propiciando a iniciação da
cultura. O aumento da sobreposição das gerações, a dependência infantil, o apego e os
cuidados parentais, o fortalecimento da união afetiva entre homens e mulheres com
intensificação da sexualidade e tendência a ligações duradouras levaram ao fortalecimento dos
vínculos grupais e à intensificação do viver sócio-afetivo, possibilitando o desenvolvimento
da cultura humana.
Culturalmente, é o contexto familiar que funciona como matriz essencial do
desenvolvimento humano, tendo sido o elemento crucial sobre o qual ocorreu pressão seletiva
na evolução natural do homem (Bussab, 2000). Segundo a autora, nenhuma comunidade
humana desconsidera o parentesco na constituição de seus laços afetivos, existindo
predisposições naturais no ser humano para a vinculação familiar, como sugerem estudos
sobre apego, adoção e cuidados com a prole.
De acordo com Eibl-Eibesfeld (1989), a evolução do cuidado parental foi o principal
evento que permitiu o desenvolvimento da sociabilidade em vertebrados, especialmente no
tocante às relações amigáveis e afetuosas entre pais e filhos. Para Rodrigues (1998ab), a
solicitude (amor parental) e o investimento parental humano são fenômenos de base biológica,
embora os determinantes biológicos não sejam suficientemente poderosos para garantir a
16
ocorrência desses fenômenos. As concepções sociais se constituiriam em reforço necessário e,
assim, a importância do investimento parental na evolução hominidea seria uma integração
entre o biológico e o social.
As predisposições naturais para o vínculo social em recém-nascidos, como o apego
(Bowlby, 1969/1990), demonstram a natureza afetiva humana. Desde muito cedo, os bebês
mantêm contato visual mútuo e engajam-se em interações sociais complexas, interessam-se por
faces e vozes humanas, preferem o odor e a voz da própria mãe, tranqüilizam-se no colo,
imitam expressões faciais, sincronizam-se interacionalmente e sorriem à fala afetuosa a eles
dirigida (Otta, 1994; Bussab & Ribeiro, 1998; Bussab, 2000).
Para Otta (1994), diferentes comportamentos de bebês em relação à aproximação de
pessoas são determinados por algumas variantes, tais como o grau de familiaridade, aparência
da pessoa e idade do bebê. A partir do sexto mês de idade, o bebê sorri menos a pessoas não
familiares, demonstrando um comportamento mais seletivo. À medida que cresce, adquire a
capacidade de considerar eventos simultaneamente, podendo associar um estranho à mãe, sua
principal referência. O sorriso, por exemplo, que é um dos sistemas de sinalização social, tem
valor de sobrevivência na fase inicial da vida, pois desencadeia sentimentos ternos e protetores
no adulto, da mesma forma que as formas arredondadas do rosto e do corpo do bebê. Isso
demonstra que a expressividade emocional da família é fundamental para promover maior
compreensão social.
Afora a importância da mãe no desenvolvimento do bebê, alguns pesquisadores também
demonstraram a relevância do pai no processo de vinculação afetiva (Alencar, 1982;
Wendland, 2001, Trindade & Menandro, 2002). Christenfeld e Hill (1995), por exemplo,
mencionam que crianças de um ano de idade são significativamente mais parecidas com seus
pais. Os autores fizeram uma pesquisa em que foram apresentadas fotos de indivíduos ao(s) 1,
10 e 20 anos a 122 participantes, que deveriam relacioná-las aos seus respectivos pais, também
17
fotografados. A maioria das pessoas identificou os pais das crianças de 1 ano, mas não as mães,
tanto com relação aos meninos quanto às meninas. Tal semelhança entre pais e filhos no
primeiro ano de vida pode ter ocorrido e se mantido ao longo da evolução humana por garantir
o maior investimento do pai à prole, aumentando suas chances de sobrevivência e fortalecendo
a relação entre o pai e a mãe. Da mesma forma, Bandeira, Goetz, Vieira e Pontes (2005)
discutem o papel do pai numa perspectiva histórica, demonstrando que sua importância na
criação dos filhos ultrapassa o papel de provedor, pois a figura paterna influencia positivamente
o desenvolvimento dos filhos através do afeto, cuidado, exemplo; ou negativamente pela falta
dessas qualidades.
Vale ressaltar que o vínculo entre pais e filhos se forma em decorrência de interações
afetivas, de contato com caráter lúdico estabelecida entre eles, e não pela “simples” oferta de
alimentação ou satisfação de outras necessidades básicas (Bowlby, 1969/1990; Bussab, 2000).
O estudo da vinculação afetiva como necessidade primária ilustra que esse padrão de
comportamento foi selecionado na espécie humana por conferir a ela vantagens na
sobrevivência, como proteção de predadores, oferta de cuidados devido à imaturidade e
dependência do bebê e convivência com a experiência dos adultos, essencial à evolução
humana. Sabendo que a probabilidade de um animal ser atacado quando isolado e que o
comportamento de apego é mais facilmente eliciado em animais mais vulneráveis aos
predadores (como filhotes e bichos doentes), a concepção de que a função do comportamento
de apego é a defesa contra predadores mostra-se relevante. Vale ressaltar que o perigo de morte
como conseqüência de um ataque ou agressão é tão provável quanto o de inanição; sendo
assim, o equipamento comportamental que protege contra predadores é tão importante quanto o
que leva à nutrição ou reprodução (Bowlby, 1969/1990).
Para Keller (2007), através da perspectiva evolucionista, as características do
desenvolvimento humano foram aprimoradas com o objetivo de solucionar problemas de
18
adaptação ocorridos durante a filogenia da espécie. Isso quer dizer que, como o ser humano é
o animal que depende dos pais por mais tempo até que consiga ser independente o suficiente
para garantir sua sobrevivência, dentre os problemas de adaptação inclui-se o cuidado
parental. Para a autora, tarefas universais, como o cuidado com a prole, são solucionadas de
diferentes maneiras por diferentes culturas.
Mais especificamente, Keller e Zach (2002) afirmam que a família não é mais
concebida como um sistema homogêneo, mas como um sistema composto por membros em
diferentes momentos do desenvolvimento, configurando diversos contextos de criação para
cada criança na mesma família. Segundo Trivers (1974), o investimento parental é definido
como um esforço do pai ou da mãe em aumentar a probabilidade de sobrevivência e, portanto,
do sucesso reprodutivo de um filho em particular, ao mesmo tempo em que diminui o grau de
investimento em outro descendente. Keller (2003) concorda com Trivers (1974) quando
afirma que qualquer investimento envolve dois aspectos: por um lado, os cuidados parentais
físicos, sociais e psicológicos que contribuem para o sucesso reprodutivo dos filhos,
promovendo a adequação dos pais; por outro, o investimento numa criança em particular que,
ao mesmo tempo, compromete a possibilidade parental de investir em outro filho.
Assim, a decisão de investimento baseia-se em condições ecológicas e sociais do
ambiente que definem as condições parentais. O investimento pode variar desde a negligência
ou infanticídio ao cuidado adequado, associado a um clima familiar positivo. É importante
ressaltar que o sucesso reprodutivo ótimo, expresso nos estilos reprodutivos, é essencialmente
não-intencional, não-consciente e implícito. Assim, todo o ciclo vital humano é entendido
como um produto da evolução, e não apenas o indivíduo adulto (Keller, 2000).
Segundo Keller (2007), a parentalidade é entendida como um programa comportamental
que dá apoio aos filhos na formação da matriz relacional, a qual é desenvolvida na sua
estrutura básica por volta dos 3 meses de idade (Keller & Zach, 2002). A esse respeito,
19
Rodrigues (1998a) ressalta o conceito de solicitude, ou seja, o cuidado, a atenção e o empenho
dos pais na criação dos filhos. A solicitude é influenciada por uma série de fatores
provenientes das características dos pais, dos filhos e da situação na qual estão inseridos. Essa
influência produz mudanças na relação dos pais com os filhos de acordo com 1- o grau ou
certeza do parentesco genético pai-filho; 2- os atributos fenotípicos da criança que sugerem
suas aptidões; 3- indicadores situacionais da aptidão da criança; e 4- a alternativa reprodutiva
e as oportunidades de investimento do pai e da mãe.
O conceito de solicitude aproxima-se do conceito de responsividade descrita por Ribas,
Seidl de Moura e Ribas Junior (2003) e Ribas e Seidl de Moura (2004). Esses autores, em
uma revisão de literatura a respeito do tema responsividade” (ou sensitividade”) materna,
constaram que, a despeito das diversas contribuições existentes na área, inclusive em estudos
utilizando animais, o conceito de responsividade não apresenta uma definição consensual. Por
um lado, ele mantém-se em torno de ações maternas afetivas e contingentes, como
comportamento maternos sensíveis, apropriados e imediatamente relacionados aos
comportamentos dos filhos. Por outro, ele abrange ações mais amplas e interativas, levando
em conta a reciprocidade das relações entre a mãe e a criança, as quais dependem do
temperamento da criança e das difereas individuais dos pais, desconsiderando a
contingência da resposta da mãe em termos temporais.
Os níveis de análise sobre a responsividade parental também variam. o nível
molecular, mais específico, cuja análise se dá pelas seqüências específicas de comportamentos
entre os parceiros da interação, sendo que a resposta de um depende das ões do outro. O
nível molar, por sua vez, é mais abrangente, e considera características da interação que
ultrapassam a análise das seqüências de ação, envolvendo a complementaridade, a ordenação
interpessoal e o respeito mútuo entre seus membros (Ribas, Seidl de Moura & Ribas Junior,
2003; Ribas & Seidl de Moura, 2004).
20
Especificamente com relação aos cuidados parentais, admite-se, portanto, que existem
mecanismos subjacentes à história da evolução humana que nos orientam no tratamento com a
prole. No entanto, esses mecanismos não são suficientes para explicar a complexidade da
relação entre pais e filhos e deles com o ambiente externo. Nesse processo, o papel da
aprendizagem ao longo da vida - ontogenia - é essencial.
4.2. Práticas educativas parentais
A literatura da Psicologia a respeito das práticas educativas parentais e dos estilos
parentais é bastante abrangente e, embora alguns autores adotem definições específicas
(Baumrind, 1966; Darling & Steinberg, 1993; Maccoby & Martin, 1983; Wood, McLeon
Sigman, Hwang & Cho, 2003; Gomide, 2006), de modo geral elas se referem às formas
específicas dos pais se relacionarem com os filhos, o que configura um padrão relacional
particular. O uso do termo ‘estilos parentais’, contudo, comumente encontrado em
publicações da área, remete, principalmente, ao modelo teórico construído pela autora Diana
Baumrind (1966, 1971, 1991, por ex.). Resumidamente, esse modelo inclui três grandes
grupos, ou estilos: autoritário, permissivo e autoritativo (ou responsivo).
O estilo autoritário descreve os pais cujo controle sobre os filhos é feito de forma
absoluta, rígida e inflexível, em que se estima o cumprimento e a obediência de regras tidas
como certas. Diante do conflito, adotam medidas punitivas e não abrem espaço para
negociação. O estilo permissivo enquadra os pais que se colocam à mercê das vontades dos
filhos, sendo fonte de realização de seus desejos e ações, não adotando formas de restringir,
direcionar ou punir os comportamentos filiais. O estilo autoritativo, por sua vez, descreve os
pais atentos às atividades, desejos, potenciais e limitações de seus filhos, que definem e
explicam suas ações de forma racional, direcionada e adequada à situação, sabendo quando e
21
como impor restrições ou efetuar liberações, sem ignorar a capacidade e os interesses pessoais
dos filhos (Baumrind, 1966, 1967, 1991).
Os autores Maccoby e Martin (1983), porém, consideram que o estilo permissivo pode
ser dividido em dois, reorganizando o modelo de Baumrind em duas dimensões: a exigência
(demandingness) e responsividade (responsiveness). Essa mudança permitiu a definição de
quatro estilos, portanto: autoritário (pais exigentes e não responsivos); autoritativo (pais
responsivos e exigentes); indulgente (pai responsivos e não exigentes) e negligente (pais não
responsivos e não exigentes). Os dois últimos surgiram da fragmentação do então estilo
‘permissivo’.
O modelo teórico de Baumrind, usualmente utilizado por psicólogos, porém, não é o
único. Como o tema a respeito de estilos parentais recai, necessariamente, nos primeiros
estudos feitos pela autora, é essencial ao menos uma síntese de suas principais contribuições.
Recentemente, uma autora brasileira construiu uma teorização a respeito dos estilos parentais,
considerando outras categorias não especificadas no modelo de Baumrind. Pode-se dizer que
os modelos não se contradizem, e sim se complementam, pois o anteriormente descrito é mais
amplo e de certa forma contém o segundo. No entanto, é o modelo de Gomide (2006) que será
utilizado como base para avaliação das práticas educativas parentais nessa pesquisa.
Para Gomide (2006), práticas educativas parentais são técnicas e estratégias utilizadas
pelos pais na criação de seus filhos, as quais, em conjunto, determinam o estilo parental. De
modo geral, as práticas educativas incluem o modo como os pais monitoram os filhos, em
casa e fora dela; negociam regras de convivência; estimulam comportamentos
adequados/adaptativos; ensinam valores morais e habilidades sociais; e quais formas de
punição utilizam diante do comportamento filial considerado inadequado. Dessa forma, a
autora selecionou em seu modelo teórico sete práticas educativas que compõem o Estilo
Parental; duas favoráveis ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais: monitoria
22
positiva e comportamento moral; e cinco relacionadas ao desenvolvimento de
comportamentos anti-sociais: abuso físico, punição inconsistente, disciplina relaxada,
monitoria negativa e negligência.
A monitoria positiva é definida como o conjunto de práticas parentais que envolvem
atenção e conhecimento dos pais acerca de onde seu filho se encontra e das atividades
desenvolvidas por ele. Para Gomide (2003), são componentes da monitoria positiva as
demonstrações de afeto e carinho dos pais, principalmente relacionados aos momentos de
maior necessidade da criança. A monitoria do comportamento da criança é defendida por
vários autores como uma variável importante para promover o desenvolvimento saudável e
evitar o comportamento disruptivo ou anti-social (Patterson, Reid & Dishion, 1992; Stattin &
Kerr, 2000), sendo que um dos fatores mais importantes para que ela ocorra é a comunicação
adequada entre pais e filhos (Stanton et al., 2000).
O comportamento moral refere-se a uma prática educativa pela qual os pais
transmitem valores como honestidade, generosidade e senso de justiça aos filhos, auxiliando-
os na discriminação do certo e do errado por meio de modelos positivos, dentro de uma
relação de afeto. Alguns fatores são tidos como essenciais para o desenvolvimento do
comportamento moral nas crianças, como o sentimento de culpa, o desenvolvimento da
empatia, as ações honestas e as crenças parentais positivas sobre trabalho, além da ausência
de práticas anti-sociais. Uma pesquisa desenvolvida por Lamborn, Mounts, Steinberg e
Dornbusch (1991), com adolescentes de 14 a 18 anos de idade, demonstrou haver correlação
positiva entre pais considerados responsivos e índices mais altos de desenvolvimento
psicossocial, sucesso escolar, autoconfiança e inibição dos comportamentos anti-sociais dos
filhos. Da mesma forma, o modelo paterno parece ter uma função importante no
desenvolvimento da moralidade de crianças e adolescentes. Nurco e Lerner (1996), por
23
exemplo, afirmam que a presença e modelo positivo do pai na família inibem o consumo de
drogas e álcool por adolescentes.
A punição inconsistente acontece quando os pais punem ou reforçam os
comportamentos de seus filhos de acordo com o humor, de forma não contingente ao
comportamento da criança. Assim, é o estado emocional dos pais que determina as ações
educativas, e não as ações da criança. Como conseqüência, a criança aprende a discriminar o
humor de seus pais e não se seu ato foi adequado ou inadequado (Gomide, 2003). Essa falta
de contingência ao comportamento leva à manipulação das partes, em que os filhos escolhem
os momentos considerados adequados para interagir com os pais, esquivando-se de contato
quando julgam que eles estão de mau-humor. Nesse padrão, a transmissão de valores e a
comunicação tornam-se confusas, o que pode dificultar à criança a compreensão de regras e
atitudes morais, e levá-la a não respeitar leis e figuras de autoridade (Carvalho, 2003).
A negligência ocorre quando os pais não estão atentos às necessidades de seus filhos,
ausentam-se das responsabilidades, omitem-se de auxiliar seus filhos, ou simplesmente
interagem sem afeto, sem amor. A falta de calor e carinho na interação com a criança pode
desencadear sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e eventual hostilidade e agressão em
relacionamentos sociais. Dodge, Pettit e Battes (1994) e Oliveira, Frizzo e Marin (2000)
acreditam que ela é uma das variáveis mais importantes para o desenvolvimento de
comportamentos anti-sociais, pois a falta de cuidados e, principalmente de amor e carinho,
impedem ou dificultam o desenvolvimento da auto-estima.
A monitoria negativa (ou supervisão estressante) caracteriza-se pelo excesso de
fiscalização dos pais sobre a vida dos filhos e pela grande quantidade de instruções
repetitivas, as quais não são seguidas. Em suma, é um controle psicológico e comportamental
exagerado. Essa prática educativa produz um clima familiar hostil, estressado e sem diálogo,
já que os filhos tentam proteger sua privacidade evitando falar com os pais sobre suas
24
particularidades, e os pais sentem-se frustrados em seu papel parental porque imaginam
estarem fazendo de tudo para educar os filhos. As tentativas de controle contínuo por parte
dos pais inibem ou interferem no desenvolvimento da autoconfiança e autonomia dos filhos
pelo fato de manter a dependência emocional aos pais (Barber, 1996), podendo gerar
psicopatologias como ansiedade e depressão (Pettit, Laird, Dodge, Bates & Criss, 2001).
Na disciplina relaxada verifica-se que o fator controlador da interação pais – filhos é
o comportamento agressivo/opositor e coercitivo do filho. As regras estabelecidas pelos pais
não são cumpridas e, diante de cobranças ou ameaças, a criança torna-se rebelde e
manipuladora, conseguindo manter a situação do jeito que deseja para si. Os pais, por sua vez,
omitem-se de impor ou manter os limites, não fazendo valer as regras que eles próprios
determinaram (Gomide, 2003). As regras, portanto, são frouxas e ineficientes.
Por fim, considera-se abuso físico quando os pais machucam ou causam dor a seus
filhos com a justificativa de que os estão educando, por vezes causando-lhes ferimentos e
deixando marcas na pele. Pesquisas demonstram que o abuso físico (espancamento) e a
negligência são os fatores que desencadeiam com maior facilidade comportamentos anti-
sociais em crianças e adolescentes (Gomide, 2001; Ehrensaft, Wasserman, Verdelli,
Greenwald, Miller & Davies, 2003; Gomide, 2004; Straus, Sugarman, Giles-Sims, 1997).
Além disso, pais que administram punição corporal tendem a ser abusivos verbalmente com
seus filhos, através de insultos, xingamentos e ameaças, o que pode magnificar a agressão, a
delinqüência e o comportamento anti-social nas crianças (Gershoff, 2002). A punição corporal
e abuso físico são dois pontos em continuum, sendo que, se a punição for administrada muito
severa ou freqüentemente, ela atravessa a linha para o abuso físico. Geralmente, o perigo da
punição física reside no fato de que ela é iniciada de modo instrumental, ou seja, de forma
controlada, planejada e desacompanhada de emoções fortes, culminando, posteriormente, com
25
a perda de controle contaminada pela raiva e por outras emoções negativas. Para Gomide
(2003), a prática do abuso físico pode gerar criaas apáticas, medrosas e desinteressadas.
As práticas educativas parentais anteriormente descritas podem ser avaliadas por meio
do Inventário de Estilos Parentais (IEP), o qual visa auxiliar especialmente profissionais que
trabalham com famílias que apresentam risco social, pois permite detectar a quais práticas
parentais um indivíduo esteve ou está sujeito, e qual a influência delas no desenvolvimento de
comportamentos anti-sociais, como o abuso de substâncias, atos homicidas, infratores, etc. O
IEP também permite que se possa visualizar quais as práticas administradas pelos pais devem
ser modificadas, mantidas ou otimizadas, no caso de busca de orientação, intervenção e
encaminhamento à terapia de família (Sampaio & Gomide, 2007).
A seguir são apresentadas pesquisas sobre práticas educativas no que tange
especificamente o gênero e a ordem de nascimento, ressaltando possíveis semelhanças e
diferenças entre essas variáveis que são o foco da pesquisa.
4.3. A influência do gênero do filho
1
A literatura a respeito do gênero dos filhos nas relações familiares demonstra que são
vários os fatores que interferem nas interações existentes entre as mães e pais com seus filhos
e filhas, como a relação de apego, a forma de comunicação, a identidade e a tipificação
sexual, os papéis de homens e mulheres socialmente esperados, além das expectativas
parentais acerca do sexo de seu filho. Glória (2005) salienta que, embora esse pareça ser o
tema mais abordado pelas Ciências Sociais, ainda faltam trabalhos que o relacionem às
práticas educativas familiares. Na Inglaterra, por exemplo, Daniels, Featherstone, Hooper e
Scourfield (2005) criticam uma revista denominadaEvery Child Matters” ressaltando a falta
1
Nesse trabalho entender-se-á por “filho” tanto meninas quanto meninos; quando for necessária a diferenciação,
serão utilizados os substantivos “menino” e “menina”.
26
de análise da relação entre gênero e práticas parentais como foco de discussão, especialmente
porque dados relativos a esse tema contribuiriam para a organização dos serviços prestados às
crianças. Outros pesquisadores (Seifer, Sameroff, Anagnostopolou & Elias, 1992; Keller e
Zach, 2002), por sua vez, alegam que as pesquisas recentes vêm apontando que o sexo do
filho não é uma variável forte na determinação do investimento parental, embora a ordem do
nascimento dos filhos pareça ter um efeito relevante sobre ele.
As considerações evolucionistas a respeito da diferenciação do gênero para a reprodução
humana baseiam-se na suposição de que a maior variabilidade da reprodução potencial de
machos quando comparada às fêmeas é uma conseqüência da seleção sexual e da reprodução
humana. De acordo com essa hipótese, um pai deve investir mais nos filhos homens se o
ambiente econômico mantém-se estável e previsível ao longo das gerações, contando com o
sucesso reprodutivo de sua prole. Em ambientes com recursos escassos e imprevisíveis, um
pai possivelmente investiria primariamente nas filhas mulheres, que seu sucesso
reprodutivo é menos variável do que o dos homens (Voland, 1998). Assim, dependendo do
ambiente em que se dá a reprodução, o investimento pode variar, embora em muitas culturas a
preferência do investimento seja com relação ao menino (Keller & Zach, 2002). Variando a
decisão de investimento, a primeira conseqüência é saber como se estabelecerão as relações
com os filhos, o que se configura através das práticas educativas.
Embora Keller e Zach (2002) sugiram que o sexo não seja determinante nos cuidados
parentais, sua pesquisa pistas que existem algumas diferenças. Ao observar 58 pais e mães
em interação com bebês de 3 meses de idade, levando-se em conta os cuidados primários e a
interação face-a-face, constatou-se que: 1- as mães passaram mais tempo sozinhas com suas
filhas e os pais sozinhos com seus filhos; 2- juntos, pais e mães permanecerem mais tempo
com os filhos homens; 3- as mães demoraram-se mais alimentando suas filhas do que seus
filhos; 4- quanto à interação face-a-face, não foram detectadas diferenças no comportamento
27
da mãe com relação a nenhuma das categorias (sexo e ordem de nascimento), enquanto que os
pais permaneceram mais tempo nessa interação com suas filhas; e 5- as mães preferiram suas
filhas em termos de presença e cuidados primários e os pais preferiram os filhos homens em
termos de presença. Para os autores, porém, algumas contradições com relação às literaturas
psicológica e evolucionista foram encontradas (por exemplo, a de número 4), que elas
enunciam que mães e pais têm preferências de interação com filhos do mesmo sexo que o seu.
Gomide e Guimarães (2003) compararam o valor do índice do estilo parental de dois
grupos (risco e não risco) com relação ao gênero. Os resultados demonstraram que, em
relação às praticas educativas maternas, verificou-se que as meninas da escola particular
perceberam suas mães com maior índice de punição inconsistente do que os meninos, e que as
meninas da escola pública perceberam suas mães mais negligentes do que os meninos. Com
relação às práticas parentais paternas, obteve-se que as meninas consideraram seus pais com
maior nível de punição inconsistente do que os meninos. Nos três casos observou-se que as
meninas avaliaram suas mães ou seus pais com maior rigor do que os meninos.
Teixeira, Oliveira e Wottrich (2006) identificaram, em sua escala, que as meninas
perceberam suas mães e mães e pais, em conjunto, como mais supervisores do que os
meninos, ou seja, elas acreditam que seus pais supervisionam seus comportamentos buscando
conhecer suas atividades ao invés de impor restrições explícitas. Assim, as pontuações mais
altas da escala foram atribuídas às práticas maternas.
Por outro lado, utilizando a escala de responsividade baseada no modelo de Baumrind
e adaptada para o contexto brasileiro, Weber, Prado, Viezzer e Brandenburg (2004)
realizaram um estudo para observar a freqüência dos estilos parentais e sua relação com o
gênero. Os resultados demonstraram que mães e pais são um pouco mais exigentes com as
filhas do que com os filhos; embora não se tenha encontrado diferenças significativas quanto
à responsividade. De modo geral, as diferenças com relação ao gênero não foram
28
significativas; porém, uma análise mais aprofundada demonstrou que, de todos os meninos,
70,2% consideraram seus pais negligentes e 29,8 % autoritativos. De todas as meninas, 47,9%
classificaram seus pais como negligentes e 52,1% como autoritativos. Ao contrário dos
resultados de Gomide e Guimarães (2003), nesse estudo os meninos pareceram mais rigorosos
na avaliação de seus pais.
Algumas pesquisas, no entanto, abarcam a relação de somente um membro do par
parental, geralmente a mãe (Furtado, 2005), com seus filhos. Oliveira et al. (2000), avaliando
as “atitudes maternas” como uma predisposição ou julgamento afetivo das mães sobre a tarefa
de criar filhos, concluíram que as atitudes não variaram dependendo do sexo do filho, embora
tenha havido uma tendência de as mães dos meninos relatarem maiores níveis de intrusão do
que as mães das meninas, o que pode condicionar relacionamentos aversivos e coercitivos
com a criança, que podem ser generalizados a outros contextos.
Da mesma forma, Ehrensaft et al. (2003), ao avaliarem a relação mãe-filho e o
desenvolvimento do transtorno de conduta filial, perceberam que as variáveis de maior
influência foram o transtorno de conduta da própria mãe, o qual explicou aproximadamente
6% do agravamento, e as práticas educativas maternas, as quais explicaram 17% dessa
variável. De acordo com os autores, o comportamento agressivo parece ter sido facilitado pela
baixa capacidade das mães na implementação de conseqüências consistentes e previsíveis
diante do mau comportamento do filho, apresentando, ao contrário disso, rejeição e interações
conflituosas para com ele. A baixa monitoria da mãe referiu-se, especialmente, ao
desconhecimento de onde o filho se encontrava, quais suas companhias e quais atividades
realizava, sendo que esse fator foi mais forte na contribuição do risco de seus filhos do que a
própria punição per se. E a associação entre condições econômicas desfavoráveis e frustração
com o comportamento anti-social é mais forte nos meninos (Veenstra, Lindenberg,
Oldehinkel, De Winter & Ormel, 2006).
29
Nesse sentido, um fator socialmente relevante ao se estudar o tema diz respeito ao
investimento de pais e mães com relação à escolaridade dos filhos. Glória (2005), por
exemplo, ressalta que as diferenças de atitudes parentais na expectativa de maior ou menor
escolaridade dos filhos homens ou mulheres são mais acentuadas nos meios menos instruídos
e nas camadas mais desfavorecidas. No entanto, em camadas mais favorecidas, parece não
haver diferenças quanto ao sucesso aspirado pelos pais aos filhos homens ou mulheres. O que
ainda se questiona, porém, é o fato de que muitas mulheres acabam se diplomando em
disciplinas consideradas menos exigentes e menos remuneradas do que os homens. Embora o
pai invista tanto na menina quanto no menino, ele parece cooperar mais com o filho homem,
enquanto que as mães comunicam-se um pouco menos com o menino do que com a menina.
Outro ponto bastante discutido refere-se à relação entre fatores negativos, também
chamados “estressantes” ou de risco”, encontrados na família e o desenvolvimento infantil,
especialmente tratando da diferença entre meninos e meninas. Roelofs, Meesters, ter Huurne,
Bamelis e Muris (2006), por exemplo, investigaram a relação entre fatores negativos
presentes na família (superproteção, rejeição e ansiedade) e sintomas de internalização
2
(sentimentos de ansiedade e depressão) e externalização (comportamento destrutivo,
agressivo e anti-social) de uma amostra não-clínica de 237 crianças entre 9 e 12 anos. Os
resultados apontaram que a presença de fatores negativos no comportamento paterno teve
mais impacto sobre os meninos; enquanto que os mesmos fatores nas mães tiveram mais
impacto sobre as meninas. Da mesma forma, as mães apresentaram mais rejeição e
superproteção com relação aos filhos do que os pais. Apenas o apego inseguro dos meninos
com relação aos pais (homens) explicou parte significativa da variação nos sintomas de
ansiedade e depressão nos primeiros. Para as meninas, contudo, o estilo do apego teve menos
2
Os conceitos de internalização e externalização baseiam-se no modelo descrito em: Achenbach, T. M. (1991).
Manual for the Youth Self-report. Burlington, VT: University of Vermont (Depto. de Psiquiatria) e Achenbach,
T. M.; McConaughy, S. H. & Howeel, C. T. (1987). Child/adolescent behavioral and emotional problems:
Implications of cross-informant correlations for situational specificity. Psychological Bulletin, 101, 213-232.
30
proeminência nos sintomas de externalização e internalização do que as próprias práticas
educativas parentais.
Guttmannova (2005), por sua vez, verificou que os meninos de 6 anos apresentaram
maiores níveis de internalização e externalização de comportamentos problemáticos do que as
meninas. Aprofundando o tema, a autora complementa que os fatores de risco mais
proeminentes para os meninos dessa idade, de etnia branca, foram viver na pobreza
persistentemente, receber pouco apoio emocional dos pais e ser filho de mãe adolescente. Para
as meninas, também de etnia branca, o fator de risco de mais efeito foi a falta de estimulação
cognitiva por parte dos pais.
Gaylord, Kitzmann e Lockwood (2003), ao investigarem as estratégias de
enfrentamento, idade e gênero como moderadores da associação entre estressores familiares
3
,
internalização, externalização e rejeição dos pares de 228 crianças entre 9 e 12 anos,
verificaram que as crianças que mais sofriam com estressores familiares foram as mais
rejeitadas por colegas. O gênero não moderou a aceitação ou rejeição pelos pares, mas
apresentou relação com a internalização. Especificamente, quanto mais crescia o número de
estressores familiares, menor era a internalização entre as meninas, o que não ocorria entre os
meninos.
Por sua vez, Oldehinkel, Veenstra, Ormel, de Winter e Verhulst (2006) estudaram a
relação entre o temperamento [medo/receio (fearfulness) e frustração], sintomas depressivos e
práticas parentais de 2230 pré-adolescentes entre 10 e 12 anos do norte da Holanda. Os
resultados apontaram que todos os fatores ligados às práticas parentais e ao temperamento dos
filhos foram significativamente associados aos problemas depressivos nos pré-adolescentes. A
frustração aumentou o efeito depressogênico da superproteção ou da falta de afeto dos pais. O
3
Neste trabalho, por estressores familiares entende-se: desvantagem econômica, viver em casa de pais solteiros,
doença séria na família, separação ou divórcio, recasamento dos pais, morte na família, desemprego dos pais,
presença de adultos não-parentes em casa e presença de uma nova pessoa na casa. O risco apresenta-se pela
sobreposição de dois ou mais desses fatores.
31
medo/receio aumentou o efeito da rejeição dos pais com relação às meninas, mas não com
relação aos meninos. Além disso, a associação entre frustração e depressão foi maior nos
meninos.
No mesmo sentido, Hastings (2005) avaliou a relação entre gênero, inibição e
socialização parental para o desenvolvimento do comportamento pró-social de 46 meninos e
42 meninas de idade pré-escolar avaliados durante 2 anos. Não foi encontrada relação entre a
inibição da criança e modo de se comportar do pai com o desenvolvimento do comportamento
pró-social. No entanto, o mesmo o aconteceu com relação às mães. O comportamento
materno foi preditivo do comportamento pró-social de maneira mais forte com as meninas
mais inibidas. Para os autores, esses achados sustentam a hipótese de que comportamentos
específicos dos pais dependem do temperamento e do gênero dos filhos.
Assim, a partir da breve revisão de literatura acima apresentada, pode-se perceber que
existem alguns pontos em comum entre as diversas pesquisas referenciadas. A primeira
conclusão a que se pode chegar é que realmente existem diferenças no modo como pais e
mães relacionam-se com seus filhos e filhas e que, portanto, meninos e meninas apresentam
formas particulares de lidar com suas competências e dificuldades.
O segundo fator relevante é a consistência dos dados que sugerem que os meninos
apresentam mais problemas de internalização e, de maneira ainda mais proeminente, de
externalização do que as meninas ao lidarem com fatores estressores, especialmente
familiares. Isto está de acordo com a literatura a respeito do comportamento anti-social,
segundo a qual esse tipo de comportamento aparece com mais freqüência e gravidade nos
meninos.
Outro dado importante refere-se às variáveis usualmente estudadas por esses
pesquisadores. A maioria deles correlacionou o gênero a outras variáveis para a compreensão
dos determinantes das práticas educativas parentais sendo que, dentre elas, a que pareceu ter
32
mais relevância foi o temperamento da criança. Assim, a despeito do gênero do filho, o modo
como ele lida com situações cotidianas e/ou adversas define uma interação familiar particular.
4.4. A influência da ordem de nascimento dos filhos
O investimento dos pais depende não nas condições econômicas da família, mas
também da ordem do nascimento de seus filhos (Hertwig, Davis e Sulloway, 2002). Segundo
Sulloway (2000 apud Keller & Zach, 2002), a ordem do nascimento revela informações
acerca da paridade dos pais e do sistema de fratrias no qual a criança está inserida. Para o
autor, a partir de uma perspectiva evolucionista, a competição entre irmãos pelo amor dos pais
é considerada uma importante força que empurra a evolução humana, contribuindo para as
diferenças da formação da personalidade. A influência da ordem de nascimento, como o
gênero, pode ser tratada ao longo da história, inclusive gerando dramáticas conseqüências,
tendo determinado quem vivia, quem morria, quem tinha acesso ao poder político, quem não,
quem poderia encontrar um parceiro para reproduzir e quem não (Sulloway, 1996).
Para Sulloway (1996), em séculos anteriores, os pais geralmente investiam mais nos
filhos primogênitos para garantir que ao menos um da prole obtivesse sucesso na perpetuação
da linhagem familiar. No mesmo sentido, Keller e Zach (2002) sugerem que uma atenção
especial é dada aos primogênitos quando comparados aos demais filhos em termos de tempo
de interação, estimulação, brincadeiras, consistência, indulgência e estabelecimento de
diálogos entre pais e filhos. Da mesma forma, comunidades tradicionais demonstram sua
preferência pelos primogênitos quando atribuem a eles maior status social.
Os resultados de Keller e Zach (2002) indicaram que tanto as mães quanto os pais
permaneceram mais tempo junto com o primogênito, sendo que esse número se elevou
quando as mães interagiam com as filhas e os pais com os filhos. No entanto, pais e mães,
quando estavam juntos, permaneceram mais tempo com os primogênitos meninos. Com
33
relação aos cuidados primários em relação à ordem de nascimento, não foi observada
diferença no comportamento de pais e mães. Por outro lado, quando avaliada a interação face-
a-face dos pais com meninos primogênitos, observou-se que eles se mantiveram na interação
por mais tempo quando comparados aos outros filhos. o foi observada diferença no
comportamento materno nessa categoria. Assim, nessa pesquisa, a ordem de nascimento
pareceu ser algo mais importante na determinação da presença/ausência dos pais e do contato
face-a-face na configuração da interação entre pais e filhos do que o sexo da criança.
A fim de avaliar as opiniões acerca do tema, Herrera, Zajonc, Wieczorkowska e
Cichomski (2003) realizaram um levantamento de dados a respeito das crenças sobre a ordem
de nascimento e seu impacto na realidade. Os autores confirmaram que as pessoas têm
estereótipos sobre as diferenças de ocupação e personalidade das pessoas de acordo com a
ordem de nascimento delas. Foram realizados quatro estudos avaliando diferentes dimensões:
1- atribuição do tipo personalidade; 2 e 3- estereótipos sobre a ocupação em Wisconsin e
Stanford; e 4 - o prestígio da ocupação atual e o nível de escolaridade com relação às diversas
posições de nascimento.
Com relação ao item 1, os resultados demonstraram que os respondentes acreditam que
os primogênitos são mais inteligentes, obedientes, estáveis, responsáveis e menos emotivos;
que os filhos-únicos são mais desagradáveis; que os “do meio” são mais invejosos, menos
ousados e falantes; e que os caçulas são mais criativos, emotivos, extrovertidos,
desobedientes, irresponsáveis e falantes. De acordo com os estudos 2 e 3, as ocupações mais
atribuídas aos primogênitos foram Direito e Medicina, enquanto que aos caçulas foram as
atividades ligadas à arte, como Teatro e Fotografia. O mais interessante nesse estudo, porém,
é a demonstração da influência dessas crenças na vida real das pessoas. Segundo os
pesquisadores, o estudo 4 indicou que, de fato, os primogênitos são aqueles que apresentaram
34
maior tempo de escolaridade, foram considerados mais inteligentes e ocuparam os cargos de
maior prestígio quando comparados aos demais (Herrera et al., 2003).
Outra pesquisa sobre estereótipos socialmente construídos foi realizada por Jaffe
(2004). A autora relacionou a ordem de nascimento, gênero e estilo parental na busca de
sensações fortes (comportamentos de risco que geram emoções fortes) de 150 estudantes
universitários. Entretanto, contrariando a revisão de literatura por ela realizada, a qual
pressupunha que os caçulas são mais engajados na busca de atividades perigosas do que
primogênitos, os resultados obtidos não revelaram relação entre a ordem do nascimento e a
procura por sensações fortes.
Por outro lado, La Rosa (1998) detectou que os estudantes primogênitos de nível sócio-
econômico médio-alto apresentaram menor nível de ansiedade-estado do que os primogênitos
de nível baixo. As mulheres, como esperado, foram as que apresentaram maior nível de
ansiedade, sendo que as primogênitas de nível sócio-econômico mais baixo obtiveram a maior
pontuação nesse quesito. De acordo com esses resultados, o autor conclui que a ordem de
nascimento não é, por si só, um fator relevante no estudo da ansiedade; porém, quando
associada ao nível sócio-econômico e sexo, ela parece surtir efeitos significativos.
O mesmo autor (La Rosa, 1996) também avaliou ordem de nascimento com a
determinação de lócus de controle e vel sócio-econômico de estudantes. Concluiu que os
primogênitos de nível sócio-econômico mais alto apresentaram maiores escores de
internalidade, menor alienação sócio-política e menor controle por pessoas poderosas ou pela
sorte.
Laurent e Sebastian (2005) perceberam que, ao estudar 1129 crianças autoras de atos
infracionais na França, os primogênitos foram aqueles que apresentaram menor número de
transgressões leves e graves quando comparados aos “nascidos do meio”, o que corrobora a
literatura consultada pelos autores. Da mesma forma, os primogênitos indicaram ter sido mais
35
supervisionados pelos pais do que os demais, o que permitiu aos autores concluírem que a
ordem do nascimento tem papel moderador no comportamento delinqüente, e que esse efeito
é em parte induzido pelo controle parental diferenciado. Para Caracushansky (1972), os filhos
mais velhos tendem a acreditar no êxito se obedecerem às ordens recebidas, e na punição,
caso as desobedeçam. Isso leva a crer que eles são mais propensos a corresponder a valores
culturais aos quais se sintam pressionados.
A respeito dos filhos únicos, porém, foi encontrada apenas uma pesquisa brasileira.
Fuchs et al. (2004) avaliaram o impacto de ser filho único sobre as características de
relacionamento com pais e amigos, desempenho escolar, comportamento social e sexual a
partir de uma amostra de 360 adolescentes entre 15 e 19 anos. Os resultados indicaram que o
fato de ser filho único não diferiu com relação ao relacionamento estabelecido com os pais,
amigos, namorado(as) e nem nas práticas esportivas. As diferenças apareceram nas atividades
de lazer, as quais são realizadas mais individualmente pelos filhos únicos; na freqüência de
intoxicação por drogas, que foi baixa entre os filhos únicos quando comparados aos demais
(primogênitos e não-primogênitos); e com relação à opção sexual, em que os filhos únicos
apresentaram uma taxa maior de respostas referentes às homo e bissexualidade.
4.4.1 Ordem de nascimento e personalidade.
O entendimento da importância da família na formação da personalidade possibilitou
que vários estudos da Psicologia atribuíssem certo valor à ordem de nascimento como um
fator de peso nesse quesito. Embora ainda seja tema de muitas contradições teóricas e
metódicas, estudos sugerem que a ordem de nascimento pode explicar porque algumas
pessoas apresentam comportamentos mais estáveis e freqüentes do que outras. Nesse sentido,
a relação entre irmãos seria mais influente do que a própria relação dos filhos com os pais,
não pela competição do amor parental, mas também pelo desenvolvimento de estratégias
36
funcionais de adaptação que os irmãos utilizam para lidarem um com o outro (Sulloway,
1996; Isaacson & Radish, 2002).
Frank Sulloway é considerado o estudioso que reviveu o tema da ordem de nascimento
na Psicologia do Desenvolvimento (Cole & Cole, 2002), quando lançou seu livro Born to
Rebel. O autor objetivava entender quais características são mais presentes em pessoas
históricas que mudaram o curso da humanidade, especialmente através de revoluções
políticas, econômicas e sociais (como a Revolução Francesa e Reforma Protestante).
Especificamente, avaliou quem eram as pessoas mais propensas a aceitaram mudanças no
modo de entender o mundo (como quando da divulgação da teoria da seleção natural, de
Darwin, 1982), de promover e liderar revoluções, e quem eram as mais conservadoras.
Durante essa análise, o autor percebeu que a configuração do nicho familiar, ou seja, a relação
de tais personalidades com seus pais e irmãos, fez grande diferença nas escolhas de cada um.
Segundo o autor (Sulloway, 1996), a receptividade da inovação científica e teorias
liberais, mesmo dentre várias classes sociais, é maior para irmãos mais novos, sendo que, para
primogênitos e filhos únicos, ela se torna bem mais baixa. Para ele, isso ocorre porque é
natural para os primogênitos se identificarem mais fortemente com poder e autoridade,
impondo seu tamanho e força para defender seu status especial, enquanto que os mais novos
são mais inclinados a questionar o status quo e em alguns casos desenvolver uma
personalidade revolucionária. Com relação aos mais novos, os primogênitos são mais
assertivos, dominantes socialmente, ambiciosos, ciumentos da sua posição, e defensivos.
Baseado na teoria do Big Five (cinco grandes fatores de personalidade), a qual
demonstrou ter correlação maior com a ordem de nascimento do que com o gênero
4
, Sulloway
(1996) coloca que os primogênitos são mais autoconfiantes, usam mais seu tamanho e força
para defender seus interesses, são mais propensos a cumprir a expectativa dos pais e prontos
4
Pesquisa de Ernst, C. & Angst, J. (1983). Birth order: Its influence on personality. Berlin and NY: Springer-
Verlag.
37
para aceitar sua autoridade, sendo mais responsáveis, mais ansiosos e emocionalmente
intensos e, dentre homens, apresentarem maior tendência a exibir raiva e nutrir sentimento de
revanche. Assim, são mais conformados, convencionais e menos abertos a mudanças.
Os nascidos posteriormente (mais novos), para Sulloway (1996), são especialmente
sensíveis para desfavorecer a comparação com irmãos mais velhos, adotando uma postura de
busca de algo ainda o descoberto pelos outros irmãos. Essa busca favorece o
desenvolvimento da criatividade e realça a abertura a novas experiências, podendo fazer
surgir um espírito aventureiro e rebelde, que aceita riscos, geralmente apoiando mudanças
sociais igualitárias. Os filhos do meio, quando comparados aos outros irmãos, são mais
flexíveis e comprometidos, demonstrando ter habilidades diplomáticas e coalizões com os
irmãos, dividindo mais o poder.
A ordem de nascimento, obviamente, não é a única responsável pelo desenvolvimento
de certas características em detrimento de outras. Segundo Sulloway (1996), ela interage
principalmente com os fatores: gênero, conflito pais-filhos, tamanho da fratria, diferença de
idade entre irmãos, idade da perda de uma figura parental, classe social e temperamento. Com
relação ao gênero, o autor afirma que a maioria das pesquisas analisa dados considerando
ambas as variáveis porque elas promovem estratégias similares. Considerando que
organismos sociais buscam acesso a recursos através de dois meios, dominação e cooperação,
tem-se que a dominação é um atributo dos primogênitos e também dos homens; e a
cooperação é uma tendência dos mais novos e das mulheres.
O conflito entre pais e filhos interage com ordem de nascimento revelando que os
primogênitos são os mais particularmente afetados por ele, assim como os mais novos que são
também os mais velhos do que os demais irmãos do mesmo sexo. Da mesma forma, quando a
fratria assume seus papéis tradicionais ou quando a diferença de idade entre irmãos é
moderada, as particularidades devidas à ordem de nascimento tornam-se mais visíveis. A
38
diferença de idade e a idade da perda de uma figura parental interagem juntas com a ordem de
nascimento pelo fato de os mais velhos muitas vezes terem de adotar uma postura de cuidado
com os irmãos mais novos para substituir a perda. O temperamento, mais especificamente, a
timidez, interage com a ordem de nascimento e com o tamanho da fratria, principalmente,
visto que em famílias de até três filhos, geralmente não há diferença, enquanto que em
famílias maiores, o primogênito mostra-se mais competente socialmente, sendo os mais novos
mais tímidos, na mesma linha dos filhos únicos.
Essa concepção a respeito da influência da ordem de nascimento sobre características de
personalidade, elaborada por Frank Sulloway, porém, não discrimina em pormenores
diferenças mais específicas, visto que na maioria de suas análises, compara primogênitos com
os demais irmãos, citando apenas algumas vezes os filhos únicos e os do meio. outro
modelo, desenvolvido por Isaacson (Isaacson & Radish, 2002) que, embora coincida em
vários aspectos com as idéias de Sulloway, é mais específico.
Isaacson & Radish (2002) relatam haver cinco tipos de personalidade segundo a ordem
de nascimento. Os autores ressaltam que não necessariamente a ordem cronológica de
nascimento seja a mesma da “ordem de personalidade”, mas que, de modo geral, existem
padrões de comportamentos para cada uma das posições. Segundo eles, os tipos de
personalidade são: filho único, primogênito, nascido em segundo, nascido em terceiro e
nascido em quarto lugares. Os principais traços de acordo com Isaacson e Radish (2002) são:
Filho único: organizado; agendado; emocionalmente preocupado; reacionário;
dependente; sente-se sob pressão; necessita de tempo sozinho; interrompe os
outros; projeta pensamentos, sentimentos, e motivações sobre os outros; evita
sentir-se decepcionado; pratica a justiça igualitária; espera que os outros sejam
justos; faz birra para exercitar seu poder; faz listas; não gosta de intrusão; tem
humor sarcástico;
39
Primogênito: sente culpa com facilidade; apaziguador; acredita que a justiça se
faz quando as pessoas recebem o que merecem; faz perguntas para se auto-
orientar; emocionalmente inexpressivo; evita ofender os outros; sonha em
conquistar as coisas; não se conhece bem; não se conecta com outros; é mais
líder do que administrador de pessoas; comprometido; quer impressionar;
Nascido em segundo lugar: perfeccionista; faz uso da lógica; avalia bastante; age
a favor da paz; sensível à raiva; segue regras; auto-disciplinado; honesto;
determinado; prestativo como amigo; gosta de manter locais arrumados; cumpre
projetos; experencia emoções intensas; corrige os outros com freqüência;
Nascido em terceiro lugar: sente-se vulnerável; tem força emocional; prestativo;
faz uso do humor como defesa emocional; tem tendência a pensar de forma
comparativa; agrada os outros; criativo; acha difícil trabalhar com outros; é
amigável, mas tem um ou dois amigos próximos; sente-se entediado com
freqüência; não liga para detalhes; pode sentir ansiedade/pânico; ajuda as
vítimas;
Nascido em quarto lugar: sente-se excluído; sente-se imaturo; analítico;
desconfiado; faz uso da retaliação; não ouve a si mesmo; acha que os outros o
o ouvem; pode ser passivo ou ter de ser “empurrado”; trabalha firme; controla os
sentimentos para controlar comportamentos; geralmente esconde a raiva;
secreto; sensível à culpa, tem humor insultivo.
Para Sulloway (1996) e Isaacson e Radish (2002), a ordem de nascimento não é
determinante rígido da personalidade, mas pode ter uma influência maior do que se encontra
na literatura da Psicologia. Ambos concordam que as personalidades segundo a ordem de
nascimento são mais visíveis em famílias em que mais conflito, como abuso, negligência,
uso de substância, superproteção, controle inconsistente, punição freqüente e exigências
40
incoerentes por parte dos pais. Acreditam que a diferença de idade também é um fator de
influência, visto que um primogênito, por exemplo, cria-se e mantém como filho único
quando a diferença de idade do nascido em segundo chega ou passa de 6 anos. Isso também
pode ocorrer com as demais ordens. Além disso, para eles, o gênero interage junto com a
ordem de nascimento, mas o é um fator tão forte quanto a própria ordem, pois a percepção
da preferência e a ameaça de perda de amor parental, em suma, a competição entre irmãos,
ocorre independentemente do sexo do irmão.
4.4.2. Ordem de nascimento e percepção da preferência parental.
A percepção dos filhos a respeito do comportamento parental também se mostra
relevante no estudo das práticas educativas e autodescrição de adolescentes. Especificamente,
esse tema versa sobre tratamento parental diferenciado, ou seja, modos específicos dos pais
lidarem com os filhos, variando de um para outro. Em uma pesquisa desenvolvida por
Kuperfish (2006), encontrou-se que quase 50% dos participantes revelaram existir preferência
dos pais por algum filho, sendo que 37,6% disseram ser si mesmos os favoritos, contra 12,2%
que se julgaram desfavorecidos. Além disso, houve correspondência entre a percepção da
preferência para pais e mães.
Shebloski, Conger e Widaman (2005) avaliaram as ligações recíprocas entre tratamento
parental diferenciado, parcialidade percebida e auto-valorização de 384 díades de irmãos
adolescentes, e seus resultados indicaram que a ordem de nascimento foi significativamente
associada com a auto-valorização e percepção de tratamento diferenciado de mães e pais.
Numa primeira análise, os primogênitos e aqueles que eram nascidos antes que o irmão
(e o eram primogênitos) não demonstraram diferenças de auto-valorização na percepção da
parcialidade parental quando comparados ao grupo de irmãos mais novos, os quais indicaram
ter menores índices de auto-valorização. No entanto, quando o primeiro grupo foi dividido em
41
primogênitos e não-primogênitos, os segundos apresentaram menor auto-valorização do que
os primeiros. Nesse caso, porém, a auto-valorização dos primogênitos não foi relacionada à
percepção do tratamento parental (Sheblonski et al., 2005). Castro e Souza (1978), por sua
vez, alguns anos obteve resultados contrários, os quais indicaram que o caçula teria maior
probabilidade de apresentar alta auto-estima, maior do que o filho único ou o primogênito, ao
menos dentre os adolescentes. Para a autora, de qualquer forma, é clara a existência de uma
relação significativa entre o interesse dos pais pelos filhos e a auto-estima deles.
Shebloski et al. (2005) encontraram outra diferença relacionada à percepção do
comportamento parental diferencial, em que os primogênitos foram aqueles que mais
perceberam a diferença no tratamento dos pais com relação aos filhos, o que sugere que os
adolescentes mais velhos têm maior propensão a observar e comparar o comportamento
parental do que adolescentes mais novos. Da mesma forma, os autores encontraram que,
quando o membro mais novo da díade considerava que seu par era o filho favorito, sua auto-
valorização diminuía. Os autores ressaltam que, embora a percepção dos primogênitos pareça
predizer o posterior tratamento parental diferencial, não se sabe se são os primeiros que
utilizam estratégias específicas para influenciar os pais, ou se eles são mais receptivos com os
filhos mais velhos.
Lucchetti (2000) ressalta que um dos fatores mais proeminentes na percepção da
preferência parental em díades de irmãos diz respeito à forma de comunicação que os pais
estabelecem com os filhos. Nesse sentido, quando uma criança percebe que seus pais
comunicam-se melhor com um e não com outro, tendem a julgar que a preferência parental
existe. Segundo a autora, a percepção do favoritismo influencia a visão dos filhos sobre o
funcionamento familiar, qualidade da relação com os irmãos e a visão de sua própria
autocompetência. Levy (2000) ainda complementa que, para adolescentes, sentir-se desigual
com relação ao irmão é um fator moderador que influencia a tentativa de suicídio, junto a
42
outros fatores, como parcialidade materna e a ausência de admiração e cuidados por parte do
irmão. A autora assinala que a relação entre irmãos, a ordem de nascimento e o sexo estão
fortemente relacionados à tentativa de suicídio de adolescentes.
A despeito dos estudos que referenciam possíveis “preferências” dos pais por algum
filho específico, como sugerido por Shebloski et al. (2005), outros autores (Hertwig, Davis &
Sulloway, 2002) argumentam que existe uma pretensão dos pais em investir de forma
igualitária entre os filhos, pois a distribuição igualitária do investimento parental reduz o risco
de que a linhagem familiar se extinga. No entanto, os autores discutem que é justamente essa
tentativa “igualitária”, chamada pelos autores de equity heuristic, que gera a desigualdade do
investimento entre os filhos em algumas situações. Segundo os autores, a partir de uma
contabilidade matemática acerca do investimento parental, pode-se perceber que a tentativa
dos pais de serem iguais com os filhos não se mantém quando três ou mais crianças na
família. O quadro a seguir ilustra a hipótese dos autores.
Figura 1. Alocação absoluta e relativa de recursos parentais entre os filhos
considerando quatro períodos de crescimento, de acordo com a divisão igualitária (baseado
em Hertwig, Davis & Sulloway, 2002).
Ordem de nascimento Filho único Dois filhos Três filhos
2º 1º 2º 3º
400 250 250 217 167 217 Investimento
acumulado
100% 63% 63% 54% 42% 54%
43
Segundo os autores (Hertwig et al., 2002), quando na família apenas um filho, ele
recebe todo o investimento dos pais. Quando dois filhos, a soma total do investimento será
a mesma entre eles, embora o momento que o investimento ocorra varie. Assim, o
primogênito recebe mais dos pais quando tem menos idade, nos anos de vida que antecedem o
nascimento do irmão; enquanto o segundo recebe mais quando o irmão é mais velho e não
demanda tanto dos pais, podendo inclusive o residir na mesma casa. A diferença (ou
desigualdade) no investimento aparece, portanto, quando três filhos na família. Como
pode ser visto na figura 1, o filho do meio não dispõe em nenhum momento de uma
oportunidade de ser o único” a receber o investimento, que vai sempre dividi-lo com o
irmão mais velho ou mais novo.
Para os autores (Hertwig et al., 2002), porém, não só o filho do meio apresenta
desvantagens. O primogênito pode ser prejudicado com relação à falta de liberdade em
atividades mais permissivas por parte dos pais, como emprestar o carro ou chegar tarde em
casa. E o caçula pode sofrer com a menor disponibilidade dos pais em cuidá-lo, especialmente
no início da vida, pois ainda há os irmãos para serem cuidados também. No entanto, a
complexidade dos fatores envolvidos na distribuição de recursos entre os filhos ultrapassa
essa análise. Os próprios autores alertam que as circunstâncias moderadoras da distribuição
igualitária dependem da duração do período de crescimento, a qual, quanto maior, menos
prejudicial será ao filho do meio; ao intervalo entre nascimentos que, quanto maior, também
menos prejudicial será ao filho do meio; e o tamanho da fratria (número de irmãos), a qual,
quanto maior, menor investimento recebe o filho do meio.
O conceito de filho do meio”, porém, não se restringe ao segundo filho. Ele inclui
todos aqueles que nasceram entre o primeiro e último irmãos, sendo mais freqüente quanto
maior o tamanho da família. Nesse sentido, Hertwig et al. (2002) alertam que alguns de seus
dados são inconsistentes com outros achados. Eles citam que um deles indicou que, em
44
famílias com 3 a 5 filhos, os segundos-nascidos foram aqueles mais prejudicados em termos
de tempo de cuidados, considerando o espaço de nascimento variando de 1 a 4 anos entre os
irmãos. Isso quer dizer que o tamanho da família altera significativamente o investimento dos
pais com relação aos filhos, em especial com os filhos do meio. Outro dado revelou que os
filhos do meio foram os que menos relataram pedir ajuda emocional ou financeira da família
quando em necessidade, o que sugere um distanciamento desses dos seus próprios pais ou
parentes.
Demais dados trazidos por Hertwig et al. (2002) demonstram que um menor número
de filhos mais novos foram atendidos em clínicas médicas para crianças, tendo sido menos
vacinados/imunizados, na Inglaterra; além de terem apresentado maiores taxas de nutrição
empobrecida, nas Filipinas; e maiores taxas de mortalidade em países em desenvolvimento.
Dados referentes aos principais problemas encontrados para filhos mais velhos indicam a falta
de recursos dos pais em manter o tempo de escolaridade desses.
4.4.3. Ordem de nascimento e QI.
Outro tema bastante citado na literatura sobre a ordem de nascimento refere-se à
relação entre essa variável e o coeficiente de inteligência (QI). Um debate entre pesquisadores
da área foi publicado recentemente no periódico American Psychologist. Rodgers, Cleveland,
van den Oord e Rowe (2000), questionando os modelos que propõem que o tamanho da
família e a ordem de nascimento influenciam o QI de crianças, no sentido que, quanto maior a
família e mais distante a ordem de nascimento, menor o QI, avaliaram dados coletados a partir
do National Longitudinal Survey of Youth, nos Estados Unidos, de crianças entre 8 e 14 anos.
Os autores concluíram que, realmente, os pais de famílias maiores apresentaram QI mais
baixo; todavia, contrariando achados de outros pesquisadores, a crença de que crianças
criadas em famílias grandes e mais distantes na ordem de nascimento apresentam menor QI
45
não foi confirmada. Os autores discutem os problemas das pesquisas realizadas acerca do
tema, enfatizando a confusão entre ordem de nascimento e idade da criança, e também a
mistura de variáveis na análise, pois o tamanho da família é uma medida inter-grupos e a
ordem de nascimento, intra-grupo.
As conclusões de Rodgers et al. (2000) geraram controvérsias entre os estudiosos da
área, principalmente considerando-se as implicações metodológicas de sua pesquisa. Zajonc
(2001), por exemplo, alega que o tamanho da família e os efeitos da ordem de nascimento não
são variáveis que se transformam em causas. Elas são condições que sustentam, mediam ou
previnem um conjunto de diversos resultados, sendo um deles o escore num teste de
inteligência. O autor diz que, assim como outras características pessoais imutáveis, como
sexo, cor da pele e altura, o tamanho da família e a ordem de nascimento também contribuem
na criação de condições favoráveis ou não ao desenvolvimento. Essas variáveis “são traços da
ordem social que organizam as estruturas institucionais e normas comportamentais na
distribuição diferencial dos recursos escassos, poder e status” (p. 495).
Michalski e Shackelford (2001) também acharam problemas nas conclusões de
Rodgers et al. (2000). Segundo os autores, a análise da ordem de nascimento no modelo intra-
familiar não dá conta de outras variáveis relevantes, como a mudança na dinâmica familiar ao
longo dos tempos, especialmente do ponto de vista econômico, ou da própria mudança de
atitudes dos pais, que podem se tornar mais calmos e experientes ao terem outros filhos além
do primeiro.
Armor (2001) foi outro crítico de Rodgers et al. (2000) ao discordar que o QI das
mães, mais do que o tamanho da família, teve implicações nos escores das crianças. Para ele,
faltou ser realizada uma análise de regressão para se saber a relação entre cada um dos
fatores: ordem de nascimento, tamanho da família e QI das mães. Além disso, ele acrescenta
que numa análise de regressão por ele realizada, a ordem de nascimento apresentou impactos
46
significativos nas habilidades matemáticas, verbais e de leitura das crianças; da mesma forma,
o tamanho da família teve impacto sobre as duas últimas.
No mesmo caminho, a revista Science (ed. 316 de 2007) divulgou uma pesquisa em
que foi feita uma relação entre ordem de nascimento e inteligência (Kristensen & Bjerkedal,
2007), analisando essa relação segundo duas hipóteses divulgadas na literatura. A primeira
seria a hipótese de diferença de escores de QI dos filhos devido à ordem gestacional, ou seja,
a ordem de nascimento biológica, natural. A segunda hipótese seria a ordem social da criança
dentro da família, levando em consideração a morte do primeiro, e primeiro e segundo filhos
combinados, o que faz com que o segundo filho torne-se o primogênito e que o terceiro torne-
se o segundo, respectivamente. Isso alteraria a função social da ordem de nascimento. Numa
primeira análise, os resultados indicaram que tanto a ordem natural quanto a social
relacionaram-se negativamente com o QI; no entanto, a partir de análises de regressão,
percebeu-se que o posicionamento social dentro da família foi o fator de peso na diferença de
QI, e não a ordem de nascimento gestacional. Esse estudo sugere que não é o fator biológico
da ordem de nascimento que diferencia as pessoas, mas a função social, isto é, o modo da
família tratar os filhos considerando essa variável.
4.5. Adolescentes e a relação com seus pais
O período da adolescência (do latim adelesco: crescer Cole & Cole, 2003), embora
amplamente estudado e de constante interesse para psicólogos, ainda carrega em si uma
incerteza no seu próprio significado, pois os estudiosos do tema não definem se ele representa
uma transição da idade infantil à idade adulta, ou se é em si uma fase de determinadas
características. Em algumas comunidades humanas, e em outros tempos, o período que
compreende a adolescência não existia, já que a menarca demarcava a vida adulta reprodutiva
47
das meninas e a capacidade de prover a família dos meninos (Bee, 1996; Berk, 1996; Cole &
Cole, 2003).
O pesquisador Barry Bogan, em uma publicação em 1999, relata que o Homo sapiens
é o único primata que experimenta uma explosão de crescimento após a infância, ou seja, a
puberdade. Ele acredita que a adolescência tornou-se uma parte da história da vida humana
porque conferiu e confere vantagens reprodutivas à espécie, em parte por permitir que o
indivíduo aprenda e pratique o comportamento econômico, social e sexual do adulto antes da
reprodução, o que ele chama de “modelo cultural da adolescência” (Cole & Cole, 2003).
A adolescência compreende, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA
(Brasil, 1990), a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de idade. Para psicólogos do
desenvolvimento, essa categorização pode variar, iniciando a partir dos 11 anos (Berk, 1996),
ou terminado mais tarde, aos 19 ou 20 anos (Cole & Cole). O que marca seu início, porém, é
consenso: a puberdade.
A capacidade de reprodução biológica é o principal fator que demarca a adolescência.
A maturidade dos órgãos sexuais vem aliada ao aparecimento das características sexuais
secundárias, modificando na noção identitária do adolescente e fazendo emergir as atrações
sexuais. Tais modificações implicam necessariamente mudanças em todos os âmbitos da vida
do indivíduo, seja social, moral, cognitivo ou afetivo, não se restringindo ao corpo.
Uma das características mais marcantes dessa fase, portanto, diz respeito à noção de
eu que é criada. É bastante difundida a idéia de que é a adolescência o período em que o
indivíduo constrói sua base para uma personalidade adulta estável. Assim, a identidade
pessoal é expressa em termos de crenças gerais, valores e planos de vida, levando ao
aparecimento de vários eus”, cada qual mais adequado a determinados contextos. Para a
auto-estima, o que mais conta é a beleza física e a aceitação dos pares; nesse sentido, tudo
48
depende de como eles julgam os outros, como os outros os julgam e o que eles pensam sobre
o próprio ato de julgar.
Nesse momento da vida, o adolescente passa a criar novos tipos de relacionamento
com os pares (amigos, pessoas do sexo oposto), pais e autoridades, configurando uma nova
rede social de contato. Dele espera-se uma maior independência emocional com relação aos
pais, a aprendizagem de papéis sociais de adultos necessária para a posterior sustentação
econômica, uma compreensão mais profunda dos valores e da ética de sua cultura e uma
maneira de agir socialmente responsável.
Tudo isso reflete na estrutura familiar do adolescente, levando ao aumento dos
conflitos que emergem entre os adolescentes e seus pais (cuidadores e/ou outros familiares), o
que leva muitos a denominarem essa fase como sendo de “muito tumulto e estresse” (a
popular “aborrecência”). Cole e Cole (2003) citam pesquisadores que relatam que a
freqüência e a intensidade das brigas/conflitos entre pais e filhos adolescentes é maior no seu
primeiro estágio (até metade), posteriormente declinando. Esses fatores coincidem com o
período em que o adolescente passa menos tempo em casa e muda os vínculos emocionais
com seus pares. Além disso, considera-se também que os próprios pais do adolescente estão
atingindo uma idade que gera mudanças em suas vidas, provavelmente com maiores
responsabilidades no trabalho e com a família, especialmente porque seus pais estão
envelhecendo e eles mesmos já não gozam do mesmo vigor físico de quando os filhos eram
menores (Carter & McGoldrick, 2001).
A comunicação entre pais e filhos nessa fase representa, portanto, um grande fator de
amenização ou de agravamento de um conflito familiar. Wagner, Falcke, Silveira e Mosmann
(2002), por exemplo, relatam que o aumento de confronto entre pais e filhos circulam os
temas que dizem respeito às regras, valores e crenças familiares, o que pode gerar
instabilidade emocional, agressividade, irritabilidade, isolamento e comportamentos sexuais
49
desafiadores e de risco por parte do adolescente. As autoras ainda sugerem que as mães e os
irmãos mais velhos o as pessoas mais procuradas pelos adolescentes para conversar. Cole e
Cole (2003), por sua vez, relatam que existem indicativos de que os pais (homens) são mais
procurados pelos filhos para tratar de assuntos cujos objetivos são de longo alcance, enquanto
as mães são buscadas para discutir questões pessoais, obter conselhos práticos ou confirmação
de sentimentos.
A adolescência chama a atenção de estudiosos do comportamento humano por
também representar uma fase em que psicopatologias desenvolvem-se. Nessa fase, o índice de
depressão, suicídio e transtornos alimentares aumenta, e possíveis dificuldades sofridas na
infância podem ser reavivadas e agravadas. Estudos realizados nos Estados Unidos e na Nova
Zelândia, por exemplo, indicam que as adolescentes que experimentam um alto nível de
conflito familiar passam pela menarca mais cedo do que aquelas que vivem em famílias
harmoniosas. Além disso, dentre as meninas que entraram na puberdade relativamente cedo e
que tinham imagens corporais desfavoráveis a seu próprio corpo, aquelas que estavam em
conflito com suas famílias corriam um risco maior de sofrer distúrbios alimentares crônicos
(Cole & Cole, 2003).
Uma pesquisa realizada por Henry, Robinson, Neal e Huey (2006) demonstrou que os
adolescentes consideram que um clima familiar adequado existe quando há níveis de coesão e
flexibilidade entre as pessoas da família; um equilíbrio entre proximidade (ligação) e
individualidade (privacidade) entre elas; liderança igualitária, isto é, quando todos podem
opinar e discutir assuntos; quando as decisões disciplinares o democráticas e forma de
comunicação é positiva. Com isso, os adolescentes percebem seus pais como pessoas que os
apóiam, criadores de um ambiente familiar mais flexível em que as regras e os papéis que
cada um desempenha são equilibrados.
50
Da mesma forma, resultados obtidos por Magagnin e Kõrbes (2000), a partir da
avaliação da relação entre autoconceito do adolescente, relacionamento familiar e limites,
indicaram que quando o autoconceito do adolescente apresenta escores altos, o
relacionamento com os pais e com os irmãos também se mostra bom. Segundo as autoras, os
filhos legitimam o estabelecimento de limites por parte dos pais, controlando seu
comportamento de forma a ajudá-los a desenvolver autonomia e independência. Por outro
lado, quando o autoconceito apresenta escores baixos, o relacionamento com os pais e com os
irmãos também apresentou tendências a ser considerado de pior qualidade, sendo que os
limites passaram a ser considerados uma prática desgostosa aos adolescentes. Num estudo
anterior, Lummertz e Blaggio (1986) também verificaram haver alta correlação entre
autoconceito do adolescente e satisfação familiar.
Moilanen (2007) acrescenta que a auto-regulação ao adolescente a curto e longo prazos
obtiveram escores positivamente relacionados ao calor emocional (warmth) parental, e
negativamente relacionado ao controle psicológico. Por sua vez, maior auto-regulação es
positivamente relacionada ao bom desempenho escolar, comportamentos pró-sociais e
menores índices de problemas de inter e externalização.
Mais especificamente, Weber, Stasiak e Brandenburg (2003) citam que as variáveis
mais proeminentes no desenvolvimento da auto-estima dos adolescentes são: expressão
afetiva, envolvimento, regras, reforçamento, comunicação positiva, presença de modelo
parental, clima conjugal positivo e sentimentos positivos em relação aos pais. as punições
consideradas inadequadas e a comunicação negativa estiveram significativa e negativamente
relacionadas com a auto-estima. Assim, famílias que têm regras e padrões claros, e que são
consistentes com relação ao seu cumprimento, criam filhos com maior auto-estima e
competência para enfrentar as mais variadas situações.
51
Na fase adolescente, portanto, os indivíduos passam por um momento de mudanças
corporais, sociais, morais e afetivas significativas, em que surgem muitas dúvidas com relação
às convenções sociais, à sexualidade, ao que é certo e errado. Conseqüentemente, é um
período em que novas negociações com pais e autoridades são feitas, o que influencia
diretamente a forma como os pais lidam com os filhos e como os últimos avaliam sua família.
52
5.
M
ÉTODO
5.1. Caracterização da pesquisa
Essa pesquisa caracteriza-se como levantamento de dados, de caráter descritivo e
exploratório, pois tem como objetivo tornar familiar o problema investigado, possibilitando
explicações aprimoradas e novas descobertas sobre a temática abordada (Gil, 1991).
A pesquisa tem um delineamento fatorial, isto é, “um delineamento em que todos os
níveis de uma variável (...) são combinados com todos os níveis de todas as outras variáveis”
(Cozby, 2003, p. 423). Esse delineamento permite a investigação das interações entre duas ou
mais variáveis que, no caso da presente pesquisa, são: os pais (mãe e pai), o gênero dos filhos
(masculino ou feminino) e as posições de nascimento (filho único, primogênito, do meio e
caçula). O formato desse delineamento é, portanto: 2 x 2 x 4 (Tabela 1), o que resulta em 16
cruzamentos.
TABELA 1
Delineamento da Pesquisa
Pais Gênero
Ordem de nascimento
Único
Primogênito
Do meio
Masculino
Caçula
Único
Primogênito
Do meio
Pai
Feminino
Caçula
Único
Primogênito
Do meio
Masculino
Caçula
Único
Primogênito
Do meio
Mãe
Feminino
Caçula
53
5.2. Participantes
Participaram dessa pesquisa 322 adolescentes entre 13 e 17 anos, sendo a maioria
(59,6%) entre 14 e 15 anos, freqüentadores da 8ª. série do ensino fundamental e o 1º. ano do
ensino médio. Grande parte (68,9%) mora com os pais, sendo que a escolaridade desses foi
correspondente, a maior parte (55,6%), ao ensino superior, completo ou o. Dos 277 (86%)
participantes que têm irmãos, a maioria (85,6%) assinalou ter um ou dois irmãos, enquanto
apenas 14,4% marcaram ter três ou mais. Os detalhes da composição da amostra podem ser
vistos na Tabela 2.
TABELA 2
Caracterização da amostra (N = 322)
Variáveis n %
Grupos
Masculino 132 41,0
Primogênito 51 38,6
Do meio 17 12,9
Caçula 49 37,1
Único 15 11,4
Feminino 190 59,0
Primogênito 64 33,7
Do meio 32 16,8
Caçula 64 33,7
Único 30 15,8
Idade (anos)
13 68 21,1
14 105 32,6
15 87 27,0
16 58 18,0
17 4 1,3
Com quem mora
Mãe e pai 222 68,9
Só com a mãe 50 15,5
Mãe e padrasto 25 7,8
Outros 25 7,8
Escolaridade
Superior
Completo 159 49,4
Incompleto 20 6,2
Médio
Completo 68 21,1
54
Incompleto 29 9,0
Fundamental
Completo 16 4,9
Incompleto 17 5,3
Não alfabetizado
Não sabe
1
12
0,3
3,7
Número de irmãos
Um 155 56,0
Dois 82 29,6
Três 25 9,0
Mais de três 15 5,4
Considerou-se “do meio” os meninos e meninas não-primogênitos e não-caçulas,
independente ter havido mais de três filhos na família. Isso porque, se houvesse outras
divisões (ex.: 2º e 3º filhos), o número de análises a serem realizadas estaria além dos
propósitos dessa pesquisa. Além disso, quanto maior a alocação dos participantes a diferentes
grupos, maior o números de cruzamentos a serem feitos, o que fragmenta a análise.
5.3. Local
Os dados foram coletados em três instituições da cidade de Curitiba, PR: uma escola
estadual (4 turmas); um colégio particular (5 turmas); e uma organização não-governamental
que seleciona alunos de escolas públicas da região (8 turmas de cursos extras). Nesse último
caso, os adolescentes provieram de pelo menos cinco escolas diferentes, todas localizadas em
Curitiba. A escola estadual atende aproximadamente 500 alunos que cursam o ensino
fundamental (1ª. a 8ª. séries), sendo que a população usuária caracteriza-se principalmente por
pessoas de classe média e baixa, cujos pais têm empregos no setor secundário, sendo parte
deles oriundos de favelas. O colégio particular inclui os ensinos infantil, fundamental e
médio, com 2.200 alunos matriculados de renda familiar dia ou alta. A ONG, por sua vez,
atende no momento 360 alunos em Curitiba, oriundos de escolas públicas, com renda familiar
55
de até quatro salários-mínimos, e histórico escolar com média mínima de 7,0 em todas as
disciplinas cursadas e freqüência mínima de 90% às aulas.
5.4. Instrumentos
Os instrumentos utilizados nessa pesquisa foram: o Inventário de Estilos Parentais
(IEP, Gomide, 2006) e um questionário para as finalidades dessa pesquisa, denominado
“Folha Adicional”.
5.4.1. Inventário de Estilos Parentais
Foi utilizado o Inventário de Estilos Parentais IEP (anexos A e B), de Gomide
(2006), para avaliar como se caracterizam as práticas educativas dos pais em relação às
crianças. O Inventário é composto de 42 itens, no qual o participante deve responder
indicando a freqüência com que a figura materna/paterna age conforme a situação descrita.
Assim, responde-se:
NUNCA: se em 10 ocasiões, ele (a) agiu daquela forma de 0 a 2 vezes.
ÀS VEZES: se em 10 ocasiões, ele (a) agiu daquela forma de 3 a 7 vezes.
SEMPRE: se em 10 ocasiões, ele (a) agiu daquela forma de 8 a 10 vezes.
As questões estão distribuídas de maneira que abranjam as sete práticas educativas: (A)
monitoria positiva, (B) comportamento moral, (C) punição inconsistente, (D) negligência, (E)
disciplina relaxada, (F) monitoria negativa e (G) abuso físico, sendo que a cada variável
correspondem seis perguntas. A tabulação dos dados obtidos por meio do Inventário é feita
utilizando-se a folha de resposta que contém as sete práticas educativas deste instrumento.
Cada resposta NUNCA recebe pontuação 0 (zero); ÀS VEZES, pontuação 1 (um); e
SEMPRE, pontuação 2 (dois). O cálculo do índice de estilo parental é feito pela subtração da
56
soma das disciplinas negativas (C+D+E+F+G) e da soma das positivas (A+B), ou seja, IEP =
(A+B)-(C+D+E+F+G) (anexo C).
O IEP fornece um escore, o iep (índice de estilo parental), um escore bruto que deve
ser consultado nas tabelas normativas, nas quais são apresentados os percentis
correspondentes aos valores encontrados. duas tabelas, uma referente às práticas maternas
e outra às paternas. Encontrando-se o valor percentual, observa-se qual estilo parental é
predominante. Essa referência é dada através de uma tabela em que os percentis são
agrupados nas seguintes categorias: estilo parental ótimo; regular acima da média; regular
abaixo da média; e de risco. Nessa pesquisa, foram considerados o valor geral do índice de
estilo parental (iep) e o valor de cada prática isoladamente, para que a análise fosse mais
detalhada.
O IEP apresenta três versões: a) em que o filho(a) responde em relação ao pai; b) em
relação à e; e c) auto-aplicação, em que os pais respondem sobre sua forma de educar os
filhos. Nessa pesquisa, foram utilizadas as versões (a) – anexo A - e (b) – anexo B -, visto que
os participantes foram os adolescentes - filhos.
5.4.2. Folha Adicional
Junto aos inventários (IEPs), foi anexado um questionário (Folha Adicional - apêndice
B) requisitando outros dados dos respondentes. O objetivo principal desse instrumento foi
coletar dados adicionais sobre os participantes (questões 1, 2, 3 e 4) e questioná-los sobre
preferência parental e autodescrição.
A pergunta 1 (“com quem você mora?”) foi incluída para se ter o controle dos
cuidadores que moram com o participante, não necessariamente seus pais. Na consigna da
aplicação dos instrumentos foi ressaltado que o adolescente deveria responder sobre a figura
que representa o papel de pai e de mãe (ou de apenas um) para ele, e não sobre o pai e/ou mãe
57
biológicos(as), caso a convivência não fosse significativa para responder aos instrumentos.
Ressalta-se que a pesquisa não se restringiu e nem excluiu determinadas configurações
familiares (nuclear, extensa, reconstituída ou recasada) por considerar que o importante é o
cuidador efetivo da criança, e não necessariamente a ligação sanguínea (Wagner, Ribeiro,
Arteche & Bornholdt, 1999).
A questão 2 (“qual a maior escolaridade de seus pais ou das pessoas com quem você
mora?”) foi inserida porque sugere-se que a escolaridade seja um fator importante nas práticas
parentais, apresentando-se como uma variável relevante nas diferenças entre grupos, sendo
mais proeminente do que a classe social e raça, por exemplo (Keller, 2007).
As questões 3 e 4 identificaram se o respondente tem irmão(s) ou irmã(s), e a idade
deles. Elas serviram de controle para as questões seguintes, já que a identificação da ordem de
nascimento para alocação dos participantes nos grupos foi feita pela pesquisadora.
Das questões 5 até a 10, investigou-se se o participante acha que seu pai e/ou mãe têm
algum filho preferido (questões 5 e 8), quem é (questões 6 e 9) e porquê acredita que essa
preferência existe (questões 7 e 10). Essas perguntas, obviamente, foram respondidas por
filhos não-únicos, tendo sido indicado para que os filhos únicos as pulassem. Elas versam
sobre o favoritismo parental, tema incluído visto que na revisão de literatura sobre ordem de
nascimento obteve destaque como um fator de influência nas práticas parentais e nas relações
entre irmãos (ver especialmente Sheblonski et al., 2005).
A última pergunta (número 11) requisitou que o adolescente cite três características
suas que considerasse positivas e três negativas, buscando apreender resumidamente o
autodescrição dos participantes considerando que esse é um possível fator de diferenciação
das pessoas segundo a ordem de nascimento (ver especialmente Sulloway, 1996; Isaacson &
Radish, 2002).
58
5.5. Procedimentos
5.5.1 Coleta de dados
A pesquisadora entrou em contato com as escolas, apresentou o projeto e os objetivos
da pesquisa. Com o consentimento da direção/coordenação das séries dos participantes foram
marcadas, primeiramente, as datas e horários para a entrega os termos de consentimento livre
e esclarecido (apêndice A) para os alunos, para que eles os entregassem aos pais. Nessa
ocasião foi feita a apresentação da pesquisadora e os objetivos gerais da pesquisa aos alunos,
que foram informados da data da aplicação dos instrumentos, a mesma em que deveriam
devolver os termos. A aplicação foi coletiva em sala de aula.
Foram destinados 50 minutos (duração de uma aula) para aplicação dos instrumentos.
Os professores responsáveis pelas turmas permaneceram na sala enquanto os alunos
respondiam; porém, qualquer dúvida era direcionada à pesquisadora, e não ao professor. Esse
detalhe foi esclarecido antes do início da tarefa. Após a entrega do material, foi dada a
seguinte consigna:
“Esta pesquisa tem interesse em saber um pouco mais sobre a relação dos adolescentes
com seus pais. A (nome da instituição) me deu a oportunidade de tê-los como participantes
dessa pesquisa, por isso estou contando com vocês. Vocês têm em mãos três questionários. Os
dois primeiros, favor conferir, chamam-se Inventário de Estilos Parentais; no entanto, o
primeiro refere-se à mãe; e o segundo, ao pai. As perguntas são as mesmas, mas para cada um
vocês devem levar em conta a figura parental (mãe/pai) anunciada. Se você não morar com os
pais, se eles forem separados ou um deles falecido, considere a pessoa que cuida de você de
verdade e escreva quem é no questionário (ex.: tio no IEP do pai; avó no IEP da mãe).
(Consigna do IEP). O terceiro questionário chama-se Folha Adicional. As perguntas são de
fácil entendimento, mas chamo a atenção para a questão 2 (explicação sobre cada tipo de
59
escolaridade). Na questão 11, vocês devem citar características de personalidade,
psicológicas, comportamentais que crêem ter. As respostas de todos os questionários são
pessoais, por isso não necessidade de confirmar nada com o colega. Não respostas
certas ou erradas, sua sinceridade é o mais importante. Qualquer dúvida, favor levantar a mão
que atendo na carteira. Alguma dúvida? Podem começar”.
As dúvidas foram esclarecidas individualmente; quando se repetiam, porém, foram
dirimidas coletivamente. À medida que os alunos terminavam de responder, entregavam os
questionários à pesquisadora, que confirmava os dados de sexo, idade e preenchimento
correto do material. Caso faltasse algo, os questionários eram devolvidos e pedia-se que
fossem completados. Caso sobrasse tempo antes do término da aula, permitia-se que os alunos
pegassem material escolar e estudassem individual e silenciosamente.
5.5.2 Análise dos dados
5
5.5.2.1. Inventário de Estilos Parentais - IEP
Os dados obtidos através do IEP foram analisados com auxílio do pacote estatístico
Statitical Package for Social Science (SPSS) versão 11.0, para Windows. Os itens de cada
inventário foram tabulados primeiramente à mão na Folha de Respostas do referido
instrumento e então digitados no software estatístico.
Quando algum item não era respondido, optou-se pelo tratamento de missing (não-
resposta), desde que a ausência de respostas o ultrapasse 10% do total, ou seja, 4 frases.
Apenas dois IEPs foram desconsiderados integralmente por terem ultrapassado o limite, o
restante que deixou até 4 itens sem resposta recebeu um valor que seguiu a moda das
respostas da dimensão correspondente. Por exemplo: se das 6 questões de uma determinada
5
Para todos os testes estatísticos dessa pesquisa, considerou-se α=95%, ou seja, um p-valor significativo a 0,05,
no mínimo.
60
dimensão, três recebessem “2 (sempre)”, duas 1(às vezes)” e uma não tivesse resposta, essa
era completada pelo “2 (sempre)”, que essa foi a moda da dimensão, ou seja, ocorreu com
maior freqüência. Em 13 questionários, porém, houve empate de moda. Nesses casos, a
decisão para completar o missing dependeu do iep geral. Se o iep geral fosse negativo, a
resposta tenderia a indicar o que mantivesse o iep negativo, e vice-versa, atentando que para
as duas primeiras categorias os valores assumem a função de elevar o iep e para as demais, de
baixá-lo. Isso foi adequadamente resolvido para manter a tendência de respostas e não alterar
a qualidade das mesmas.
Os dados foram analisados de forma quantitativa, sendo utilizados a estatística
descritiva e os testes de diferenças. A estatística descritiva objetivou descrever a constituição
da amostra da pesquisa em termos de freqüência (bruta e percentual), médias e desvios-padrão
dos valores dos índices de estilo parental (iep). Os testes de diferença foram utilizados para
testar as hipóteses da pesquisa com referência às práticas educativas parentais, ou seja, se elas
se configuram de diferentes formas considerando o gênero e a ordem de nascimento dos
filhos. Para tal, foram comparados os ieps gerais de cada grupo, assim como cada prática
educativa separadamente.
Os testes de diferenças utilizados foram três: Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e de
Comparações Múltiplas. Eles enquadram-se na chamada estatística não-paramétrica e foram
escolhidos para análise dessa pesquisa porque os requisitos necessários para que a estatística
paramétrica fosse aplicada não foram atingidos. Especificamente, os escores do IEP não
tiveram uma distribuição normal, que os valores do teste de normalidade de Kolmogorov-
Smirnov foram: K-S d=0,525; gl=320; p<0,001, para as mães; K-S d=0,534; gl=294; p<0,001,
para os pais. Como esses testes (não-paramétricos)o oferecem a possibilidade de investigar
a interação dos fatores (que seriam gênero e ordem de nascimento), foram separadas as
61
amostra de gênero (masculino e feminino) e em cada uma delas foi feita a comparação das
ordens de nascimento, posteriormente.
O teste de Mann-Whitney (U) foi utilizado na comparação dos ieps com referência ao
gênero. Como duas categorias incluídas nessa variável (masculino e feminino), esse
teste foi considerado mais apropriado. O teste de Kruskal-Wallis (H) foi utilizado na
comparação das ordens de nascimento, pois admite que a variável assuma mais de duas
categorias, sendo “uma prova extremamente útil para decidir se k amostras independentes
provêm de populações diferentes” (Siegel, 1975, p. 209).
A partir do resultado do teste de Kruskal-Wallis, foram feitas comparações múltiplas
especificamente para as variáveis cujo p-valor indicou haver diferença significativa entre os
grupos. Isso é necessário porque o teste de Kruskal-Wallis somente diz se há ou não diferença
entre os grupos, mas não indica entre quais (Dancey & Reidy, 2006). Ao se rejeitar a hipótese
nula, ainda resta saber quais dos tratamentos diferem, o que justifica o uso das comparações
múltiplas, que podem ser encaradas como uma complementação ao teste de Kruskal-Wallis
(Pontes e Corrente, 2001). As comparações múltiplas regem por aproximação de escores,
indicando uma diferença observada e uma diferença crítica para cada grupo; quando a
primeira tem valor mais alto que a segunda, considera-se significativa a diferença dentro do
par comparado.
5.5.2.2. Folha adicional
As questões de 1 a 4 da folha adicional foram analisados apenas em termos de
freqüência, visto que serviram apenas para descrição da amostra. As questões 5, 6, 8 e 9, por
sua vez, além de terem recebido uma análise descritiva/qualitativa, também foram objeto de
estudo da pesquisa e sofreram tratamento estatístico com o teste do qui-quadrado (χ²). Foram
testadas diferenças para saber se existia ou não a preferência do ponto de vista do respondente
62
(questões 5 e 8) e, em caso afirmativo, quem era o filho considerado preferido (questões 6 e
9). Nesse último caso, como as opções de resposta eram várias (sete) e as freqüências o
foram suficientes em algumas delas para aplicação do teste qui-quadrado, o qual necessita de
uma freqüência mínima de 5 respostas em cada casela para poder rodar adequadamente,
considerou-se apropriado agrupar as opções. Assim, foram feitos dois agrupamentos: um
relativo ao gênero do filho preferido, incluindo as opções ‘minha irmã mais velha/do
meio/mais novo como grupo feminino e ‘meu irmão mais velho/do meio/mais novo’ como
masculino; e outro referente à ordem de nascimento, considerando “primogênito” as opções
‘minha irmã mais velha’ e ‘meu irmão mais velho’; “do meio”, ‘minha irmã do meio’ e ‘meu
irmão do meio’ e “caçula”, ‘ minha irmã mais nova’ e ‘ meu irmão mais novo’.
Com relação às questões 7 e 10, que são abertas, foi feita uma categorização dos temas
das respostas, as quais tiveram como objetivo elucidar os principais conteúdos que justificam
a existência da preferência parental. Uma categorização prévia dos temas foi feita pela
pesquisadora principal e, posteriormente, entregue à avaliação de dois juizes para que o índice
de concordância dos construtos fosse calculado. Para que uma categoria fosse construída, foi
estabelecido o critério de haver, no mínimo, quatro sentenças (aproximadamente 5%) que
versassem de modo semelhante para que pudessem ser agrupadas numa categoria.
Freqüências menores do que quatro encaixaram-se em ‘outros’.
Assim, resultaram três avaliações em pares. As avaliações foram submetidas ao teste
Kappa, resultando: para o par (IxV) k=0,79; (IxL) k=0,84 e (VxL) k=0,82 (média dos
kappa=0,76), para as categorias maternas; e (IxV) k=0,73; (IxL) k= 0,82 e (VxL) k= 0,74
(média dos kappa=0,82), para as categorias paternas, todos com p<0,001. Acima de 0,60, o
valor kappa é considerado bom, e acima de 0,8, muito bom (Fleiss, Cohen & Everitt, 1969).
Reconhece-se que as categorias, portanto, foram satisfatoriamente construídas. As categorias
63
para pais e es foram praticamente idênticas, apenas uma categoria a mais foi construída
para descrever a preferência paterna: o ‘gênero’ (ver Tabela 3).
TABELA 3
Categorias que Descrevem os Temas Referentes à Preferência Parental
Categoria
Definição: o filho é considerado preferido
porque...
Direção da
ação
Características positivas
apresenta características físicas e/ou psicológicas
que agradam o(a) pai/mãe, sejam elas de cunho
afetuoso, desempenho acadêmico,
companheirismo, ajuda.
Filho - pais
Ordem de nascimento é primogênito, do meio ou caçula. Filho - pais
Tolerância
o pai/mãe é mais tolerante, paciente, briga menos
cobra menos, defende, protege e favorece mais o
filho preferido, não se importando para as coisas
erradas que ele faça, brigando mais com os outros
filhos.
Pais - filho
Atenção
recebe mais atenção do(a) pai/mãe, ou seja, mais
carinho, agrado cuidados (zelo), mimo, tendo
realizadas suas vontades, inclusive materiais.
Pais - filho
Convivência
o filho preferido convive mais com o(a) pai/mãe,
ficando mais juntos, passando mais tempo em
presença um do outro.
Recíproca
Afinidade
há uma relação de afeto, apego, proximidade
relacional (não física) mais forte entre o filho
preferido e o(a) pai/mãe, sugerindo que eles
conversam mais, identificam-se reciprocamente.
Recíproca
Outros
demais respostas que não se enquadram nas
anteriores por serem muito específicas.
Qualquer
Exclusiva dos pais
Gênero é menino ou menina. Filho - pais
As respostas da questão 11, por outro lado, não foram categorizadas porque não
formaram frases; as palavras correspondentes às características positivas e negativas
requisitadas foram apenas citadas. Para analisá-las, portanto, foi feita uma Análise Fatorial de
Correspondências (AFC), através do software francês SPAD (Systeme Portable pour
l´Analyse de Donnés textualles), cujo objetivo é “representar um dado conjunto de variáveis
através de um menor número de variáveis hipotéticas, ou fatores, que garantam a maior
covariação das variáveis observadas. Os fatores resultam da combinação linear dessas
variáveis e permitem dar sentido às combinações obtidas e às variáveis que as constituem”
(Oliveira & Amâncio, 2005, p. 327). Foi feita uma AFC para o item ‘características positivas’
64
e outra para ‘características negativas’. Na primeira, consideraram-se as palavras cuja
contribuição foi igual ou acima de 2,2; e na segunda, igual ou acima de 2,3, valores que foram
as respectivas médias.
Parte dessa pesquisa objetivava relacionar as definições dessa questão (11) com o
índice de estilo parental (iep) dos respondentes, buscando saber se haveria associação entre o
tipo de palavra utilizada na autodescrição e o escore obtido no iep. No entanto, essa análise
não foi utilizada, embora tenha sido feita, porque a contribuição relativa do iep nos fatores foi
irrelevante, já que seus cossenos quadrados ficaram abaixo de 0,05.
5.5.3. Aspectos éticos
Esta pesquisa seguiu as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética
em Pesquisa (CONEP, 2000), tendo sido encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da Universidade Federal de Santa Catarina. Recebeu aprovação sob o protocolo de número
026/07.
65
8.
R
ESULTADOS
Primeiramente, será feita a descrição da amostra; a seguir, os resultados serão
apresentados em três seções. A primeira será relativa às práticas educativas parentais; a
segunda à percepção da preferência parental e a terceira à autodescrição.
8.1. Comentários sobre a amostra
A amostra pode ser considerada homogênea do ponto de vista da fase de
desenvolvimento dos respondentes, devido à idade da maioria; da configuração familiar, pois
a maioria mora com os pais, respeitando o modelo de família nuclear; e da escolaridade dos
pais. A escolaridade dos pais, embora se sugira ser um fator importante para adoção de um ou
outro modelo educativo, o foi aprofundada em pormenores nessa pesquisa, justamente por
ter assumido uma distribuição bastante concentrada num tipo, o ensino superior, o sendo
adequado fazer comparações com as demais para não se tomar conclusões precipitadas.
Por outro lado, embora a renda não tenha sido requisitada nessa pesquisa, sabe-se que
ela foi um fator variante dentre os participantes, pois metade da amostra (50,6%) é estudante
de um colégio particular de elite da cidade de Curitiba, enquanto que 86 deles estudam em
uma escola estadual e 73, por mais que estudem em escolas particulares, o fazem porque
recebem bolsa de uma ONG justamente por terem renda familiar entre 1 e 4 salários-mínimos.
A renda não foi avaliada, contudo, porque pesquisas anteriores utilizando o IEP (Gomide,
2006) indicaram que essa variável não contribuiu suficientemente para diferenciar os grupos.
Com relação ao tamanho da família, o número de irmãos dos respondentes demonstra
que as famílias, na sua maior parte, são compostas por até cinco membros (pais e três filhos,
no máximo). As configurações mais extensas, com mais de três filhos, foram
66
consideravelmente menos freqüentes, algo esperado pela diminuição do tamanho da família
que vem ocorrendo nos últimos anos.
No que se refere às variáveis principais da pesquisa, gênero e ordem de nascimento, a
distribuição da amostra não ficou balanceada como tinha sido proposto no projeto de
pesquisa. Inicialmente, tinha-se pensado em obter 20 participantes para cada grupo, o que
totalizaria 160. No entanto, para os grupos masculinos de filhos únicos e do meio, não foi
possível obter esse n, mesmo aumentando a amostra. Assim, decidiu-se finalizar a aplicação
dos questionários quando o n chegou a 322 e trabalhar com os grupos formados a partir dele.
Os grupos de filhos primogênitos e caçulas foram os maiores e mais equilibrados entre
si. Os grupos dos filhos únicos e do meio foram menores, sendo quase metade dos anteriores
em termos de freqüência, mas também obtiveram um n semelhante entre si. Houve mais
meninas respondentes do que meninos, apesar da diferença não ser o grande. Entretanto,
essa configuração, embora não pareada exatamente ou de forma muito parecida, permitiu a
análise dos dados normalmente com o uso da estatística não-paramétrica.
8.2. Práticas educativas parentais
As práticas educativas parentais, avaliadas pelo instrumento Inventário de Estilos
Parentais (IEP, Gomide, 2006), receberam análise estatística quantitativa, como descrito no
item 7, “Método”. Inicialmente, o apresentadas as estatísticas descritivas dos grupos; em
seguida, os testes de diferenças para o índice de estilo parental (iep) geral e para cada uma das
sete práticas educativas, separadamente.
A Tabela 4 mostra as médias e desvios-padrão dos ieps de cada grupo (ordem de
nascimento, gênero e ordem de nascimento e somente gênero). Chamam a atenção os valores
paternos, que foram quase na sua totalidade menores do que os maternos, embora esse dado
seja coerente com a literatura (Furtado, 2005).
67
TABELA 4
Médias e Desvios-padrão dos Ieps para cada Grupo e no Geral
Grupos Mãe Pai
Média DP Média DP
Ordem de nascimento
Primogênito
Geral (n = 115) -1,3 10,2 -3,7 11,8
Masculino (n = 51) -1,73 11,0 -1,79 11,7
Feminino (n= 64) -1,0 9,6 -5,17 11,7
Do meio
Geral (n = 49) 0,2 9,9 -1,2 11,0
Masculino (n= 17) 1,23 10,76 1,23 10,5
Feminino (n = 32) -0,28 9,56 -2,59 11,2
Caçula
Geral (n = 113) 1,6 8,5 -0,3 9,9
Masculino (n = 49) 1,3 7,75 1,27 8,8
Feminino (n = 64) 1,78 9,0 -1,47 10,6
Único
Geral (n = 45) 1,6 8,5 0,5 9,2
Masculino (n = 15) 0,87 10,0 -0,43 11,4
Feminino (n = 30) 1,9 6,8 1,0 7,79
Gênero
Masculino (n = 132) 0,1 9,8 -0,1 10,5
Feminino (n = 190) 0,5 9,1 -2,6 10,9
Com relação às práticas maternas, os meninos obtiveram uma média geral menor do
que as meninas, embora próximas. O grupo dos filhos primogênitos foram os que obtiveram a
menor dia (-1,3), sendo que o grupo dos meninos pontuou um pouco menos do que o das
meninas. Os grupos de filhos do meio obtiveram um valor intermediário (0,2), entre os
primogênitos e caçulas/ únicos, os quais pontuaram igualmente e com o maior valor (1,6).
Referente aos resultados paternos, as meninas obtiveram valor menor do que os meninos. O
grupo de filhos primogênitos também foi o que obteve menor média (-3,7), consideravelmente
baixa, inclusive. No entanto, o grupo que melhor pontuou foi o dos filhos únicos, seguido dos
caçulas e do meio.
68
A Tabela 5 mostra os valores percentílicos correspondentes aos ieps brutos, baseados
nas tabelas normativas materna e paterna (anexo D). Nessas tabelas, os valores percentílicos
do iep bruto distribuem-se da seguinte maneira:
Percentis 75 a 99 – referem-se a um estilo parental ótimo, com presença marcante das
práticas parentais positivas e ausência das práticas negativas.
Perctentis 55 a 70referem-se a um estilo parental regular, acima da média, porém
aconselha-se a leitura de livros de orientação para pais visando ao aprimoramento das práticas
parentais.
Percentis 30 a 50 – referem-se a um estilo parental regular, porém abaixo da média.
Aconselha-se a participação em grupos de treinamento para pais.
Percentis abaixo de 25 referem-se a um estilo parental de risco. Aconselha-se a
participação em programas de intervenção especialmente desenvolvidos para pais com
dificuldades em práticas educativas ou terapia de grupo, de casal ou individual em que
possam ser enfocadas as conseqüências do uso de práticas negativas em detrimento das
positivas (Sampaio e Gomide, 2007).
TABELA 5
Intervalos Percentílicos Correspondentes aos Ieps brutos
Grupos Mãe Pai
Escore
bruto
Intervalo
percen-
tílico
Classificação
Escore
bruto
Intervalo
percen-
tílico
Classificação
Ordem de nascimento
Primogênito
Geral (n = 115) -1,3 25-30 Regular abaixo -3,7 20-25
Risco
Masculino (n = 51) -1,73 25-30 Regular abaixo -1,79 30-25 Regular abaixo
Feminino (n= 64) -1,0 25-30 Regular abaixo -5,17 20-25
Risco
Do meio
Geral (n = 49) 0,2 30-35 Regular abaixo 1,2 35-40 Regular abaixo
Masculino (n= 17) 1,23 35-40 Regular abaixo 1,23 35-40 Regular abaixo
Feminino (n = 32) -0,28 25-30 Regular abaixo -2,59 25-30
Risco/regular
abaixo
Caçula
Geral (n = 113) 1,6 35-40 Regular abaixo -0,3 35-40 Regular abaixo
Masculino (n = 49) 1,3 35-40 Regular abaixo 1,27 35-40 Regular abaixo
Feminino (n = 64) 1,78 35-40 Regular abaixo -1,47 30-35 Regular abaixo
69
Único
Geral (n = 45) 1,6 35-40 Regular abaixo 0,5 35-40 Regular abaixo
Masculino (n = 15) 0,87 30-35 Regular abaixo -0,43 30-35 Regular abaixo
Feminino (n = 30) 1,9 35-40 Regular abaixo 1,0 35-40 Regular abaixo
Gênero
Masculino (n = 132) 0,1 30-35 Regular abaixo -0,1 35-40 Regular abaixo
Feminino (n = 190) 0,5 30-35 Regular abaixo -2,6 25-30
Risco/regular
abaixo
Todos os grupos obtiveram uma classificação ‘regular, porém abaixo da média’ para
os IEPs maternos. Embora essa não seja uma classificação considerada boa, ela não é de risco,
mantendo-se média. Com relação aos IEPs paternos, contudo, as meninas receberam
classificação ‘risco’, sofrendo maior influência dos grupos das primogênitas e do meio.
Corroborando os dados da Tabela 4, o grupo dos primogênitos foram os únicos classificados
na zona de risco, enquanto que os do meio ficaram numa posição limítrofe entre ‘regular’ e
‘de risco’, na avaliação dos pais.
Esses dados sugerem haver diferenças em uma ou mais prática(s) educativa(s) e entre
dois ou mais grupos. Para avaliar a existência de diferenças, foram aplicados os testes
estatísticos, descritos no item do Método, e cujos resultados estão demonstrados na Tabela 6.
Nesse primeiro momento, as variáveis gênero e ordem de nascimento foram consideradas
separadamente. Foi aplicado o teste Mann-Whitney (U) para comparar o gênero (masculino e
feminino) e o Kruskal-Wallis (H) para a ordem de nascimento, para mães e pais.
TABELA 6
Médias dos Postos, Teste U de Mann-Whitney para Gênero, H de Kruskal-Wallis para Ordem
de Nascimento, Referentes à Mãe e ao Pai
Mãe Pai
Práticas Gênero
Média
dos
postos
Ordem de
nasc.
Média dos
postos
Gênero
Média dos
postos
Ordem de
nasc.
Média dos
postos
Mon. Positiva Masc. 149,02 Prim. 156,96 Masc. 158,83 Prim. 147,69
Fem. 168,46 Do meio 162,57 Fem. 139,35 Do meio 125,99
Caçula 157,04 Caçula 153,85
Único 176,26 Único 155,84
U = 10875,5 p = 0,062 H = 1,66 p = 0,64 U = 11910,0 p = 0,051 H = 3,92 p = 0,27
Comp. moral Masc. 144,59 Prim. 156,18 Masc. 139,54 Prim. 142,70
Fem. 171,53 Do meio 150,37 Fem. 153,23 Do meio 140,82
Caçula 158,84 Caçula 152,44
Único 187,28 Único 155,81
70
U = 10295,5 p = 0,01*
H = 4,64 p = 0,2 U = 9537,0 p = 0,17 H = 1,34 p = 0,71
Pun. Incons. Masc. 152,48 Prim. 179,79 Masc. 140,85 Prim. 167,71
Fem. 166,06 Do meio 156,26 Fem. 152,28 Do meio 123,16
Caçula 143,27 Caçula 140,12
Único 158,66 Único 140,07
U = 11329,5 p = 0,2
H = 0,17 p = 0,027*
U = 9698,5 p = 0,25
H = 11,03 0,01*
Negligência Masc. 157,65 Prim. 169,40 Masc. 127,28 Prim. 155,17
Fem. 162,48 Do meio 144,54 Fem. 162,05 Do meio 146,24
Caçula 161,01 Caçula 141,74
Único 153,69 Único 143,08
U = 12006,0 P = 0,64 H= 2,82 p = 0,42
U = 8029,0 p = 0,001**
H = 1,48 p = 0,68
Disc. Relaxada Masc. 156,36 Prim. 161,05 Masc. 129,53 Prim. 144,50
Fem. 163,37 Do meio 161,87 Fem. 160,43 Do meio 151,20
Caçula 159,79 Caçula 150,36
Único 159,36 Único 143,53
U = 11837,0 p = 0,5 H = 0,028 p = 0,99
U = 8306,0 p = 0,02*
H = 0,43 p = 0,93
Mon. Negativa Masc. 151,40 Prim. 166,79 Masc. 143,62 Prim. 160,67
Fem. 166,81 Do meio 175,82 Fem. 150,29 Do meio 143,41
Caçula 143,09 Caçula 140,50
Único 171,32 Único 134,19
U = 11187,5 p = 0,14 H = 6,56 p = 0,08 U = 10039,0 p = 0,5 H = 4,4 p = 0,22
Abuso físico Masc. 156,74 Prim. 179,25 Masc. 149,84 Prim. 173,94
Fem. 162,11 Do meio 166,50 Fem. 145,82 Do meio 116,97
Caçula 143,09 Caçula 139,60
Único 148,38 Único 131,19
U = 11886,5 p = 0,51
H = 11,18 p = 0,01*
U = 10804,0 P = 0,67 H = 20,53
p=0,0001***
iep Masc. 160,60 Prim. 143,16 Masc. 161,07 Prim. 131,60
Fem. 160,43 Do meio 162,15 Fem. 137,74 Do meio 150,57
Caçula 172,64 Caçula 156,95
Único 173,08 Único 163,12
U = 12393,0 p = 0,98 H = 6,8 p = 0,078
U = 12185,0 p = 0,02*
H = 6,34 p = 0,09
Diferenças significativas a * 0,05, ** 0,01 e ***0,001.
A partir da Tabela 6, observa-se que o índice de estilo parental (iep) paterno foi
estatisticamente diferente com relação ao gênero (p<0,05), o que não ocorreu com as mães.
Avaliando as médias dos postos de gênero, para os pais, tem-se que o valor do grupo feminino
foi mais baixo do que o masculino. Portanto, a diferença assinalada pelo teste revela que as
meninas avaliaram seus pais de forma mais rígida do que os meninos, obtendo ieps mais
baixos. No que se refere à ordem de nascimento, a estatística H não revelou haver diferenças
significativas para um α=95%; contudo, tanto para os pais (p = 0,09), quanto para as mães (p
= 0,078), o valor de p ficou entre 0,05 e 0,1, o que indica uma tendência dos pais em tratar,
sim, os filhos de diferentes maneiras ou de, ao menos, os filhos os avaliarem de formas
diversas.
Considerando as práticas educativas com relação ao gênero, observa-se que as mães
obtiveram um resultado significativo no que tange ao ‘comportamento moral’, apenas. O
grupo feminino avaliou as mães como mais atuantes nessa prática do que os meninos (U =
71
10295; p<0,05). Com relação aos pais, duas práticas resultaram em um p-valor significativo:
negligência (U = 8029; p<0,01) e disciplina relaxada (U = 8306; p<0,05). Em ambas, as
meninas obtiveram escores mais elevados do que os meninos, o que indica que os pais o
mais negligentes e têm mais dificuldade em manter regras do ponto de vista das filhas. A
monitoria positiva paterna ficou limítrofe em termos de p-valor (p = 0,051), o que indica uma
tendência dos pais em monitorar positivamente com mais freqüência os meninos do que as
meninas.
No que se refere à ordem de nascimento, ambos (pais e mães) revelaram resultados
significativamente diferentes para as práticas de punição inconsistente e abuso físico. No
entanto, como explicado no item 7, o teste de Kruskal-Wallis não permite saber entre quais
grupos encontra-se tal diferença. Observando as médias dos postos, os primogênitos somaram
os resultados mais altos nas duas categorias, tanto para mães quanto para pais, o que sugere
que haja diferença entre esse grupo e outro(s) e que ele sofra mais com as referidas práticas. A
seguir, a Tabela 7 mostra os resultados considerando os oito subgrupos da pesquisa, formados
a partir do cruzamento de gênero e ordem de nascimento.
72
TABELA 7
Médias e Teste H para Todos os Grupos
Mãe Pai
Médias Est. Médias Est.
Práticas
Primog. Meio Caç. Ún. H p Primog. Meio Caç. Ún. H p
Mon. Pos.
Masc. 8,5 9,0 9,0 8,9 0,27 0,97 7,6 6,9 8,3 7,9 2,86 0,41
Fem. 9,3 9,3 9,2 9,9 0,56 0,67 7,2 6,3 7,2 7,6 1,83 0,61
Cpto. moral
Masc. 7,5 8,1 8,2 9,3 6,67 0,08 7,2 7,5 8,0 8,0 1,72 0,63
Fem. 9,0 8,4 8,8 9,0 2,25 0,52 8,0 7,8 8,1 8,2 0,32 0,95
Pun. Incons.
Masc. 4,4 3,6 3,8 4,7 2,63 0,45 4,0 3,2 3,4 4,1 2,7 0,44
Fem. 5,0 4,4 4,0 4,1 8,34 0,04* 4,8 3,0 3,9 3,4 10,76 0,013*
Negligência
Masc. 3,4 2,5 3,0 3,7 2,43 0,49 4,1 3,4 3,4 3,9 2,48 0,48
Fem. 3,4 2,9 3,2 2,7 2,91 0,40 5,2 5,1 4,7 4,3 0,88 0,83
Disc. Relax.
Masc. 2,9 2,9 3,2 2,7 0,46 0,93 1,8 2,2 2,2 1,8 2,53 0,47
Fem. 3,2 3,4 3,0 3,3 0,35 0,95 2,9 2,8 2,7 2,7 0,20 0,98
Mon. Neg.
Masc. 5,5 5,5 4,8 5,1 1,74 0,63 4,2 3,5 4,3 4,7 1,75 0,63
Fem. 5,6 5,9 5,1 5,8 4,81 0,19 5,0 4,6 3,9 3,5 10,13
0,017*
Abuso fís.
Masc. 1,5 1,4 1,0 1,0 1,90 0,59 2,5 0,8 1,8 1,9 0,16
0,027*
Fem. 2,0 1,4 1,0 0,9 11,43
0,0096**
2,5 1,2 1,5 0,8 13,35
0,004*
Diferenças significativas a *0,05; **0,001.
Os dados da Tabela 7 dizem respeito ao objetivo principal da presente pesquisa, por
avaliarem não só o gênero e a ordem de nascimento no geral, mas para cada subgrupo
separadamente. Como esperado, as diferenças surgiram para as práticas de punição
inconsistente e abuso físico maternos e paternos; porém, em grupos específicos. Para as mães,
ambas as práticas resultaram num p que assinala diferença significativa no grupo feminino.
73
Isso quer dizer que, dentre as meninas, a ordem de nascimento foi um fator que moderou as
diferenças nessas práticas, o que não ocorreu com os meninos.
Para os pais, a punição inconsistente também surgiu no grupo feminino, e não
masculino; porém, o abuso físico foi presente nos dois grupos (masculino e feminino). Em
ambos os sexos, portanto, a ordem de nascimento também moderou a avaliação dessas
categorias. Contudo, um fator interessante que não surgiu na análise prévia geral diz respeito
à monitoria negativa paterna em relação às meninas. Inclusive dentro desse grupo, houve
diferenças ligadas à ordem de nascimento. A Tabela 8 ilustra os valores percentílicos
correspondentes às médias dos ieps brutos de cada subgrupo.
TABELA 8
Percentis Correspondentes aos Ieps Brutos das Práticas Educativas para Todos os Grupos
Mãe Pai
Primogênito Do meio Caçula Único Primogênito Do meio Caçula Único
Práticas
Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas. Iep
bruto
Per-
centil
Clas.
Mon. Pos.
Masc.
8,5 25-30
Ri/
RAb
9,0 35 RAb 9,0 35 RAb 8,9 30-35 RAb 7,6 30-35 RAb 6,9 20-25
RAb/
Ri
8,3 40-45 RAb 7,9 30-35 RAb
Fem.
9,3 35-40 RAb 9,3 35-40 RAb 9,2 35-40 RAb 9,9 35-40 RAb 7,2 30-35 RAb 6,3 20-25
RAb/
Ri
7,2 30-35 RAb 7,6 30-35 RAb
Comp. moral
Masc.
7,5 25-30
Ri/
RAb
8,1 35-40 RAb 8,2 35-40 RAb 9,3 50-55
RAc/
ME
7,2 30-35 RAb 7,5 30-35 RAb 8,0 30-35 RAb 8,0 30-35 RAb
Fem.
9,0 50 ME 8,4 35-40 RAb 8,8 35-40 RAb 9,0 50 ME 8,0 30-35 RAb 7,8 30-35 RAb 8,1 45-50 RAb/
ME
8,2 45-50 RAb/
ME
Pun. Incon.
Masc.
4,4 30-35 RAb 3,6 45-50 RAb/
ME
3,8 45-50 RAb/
ME
4,7 30-35 RAb 4,0 40 RAb 3,2 40-45 RAb 3,0 40-45 RAb 4,1 25-30
RAb/
Ri
Fem.
5,0 30 RAb 4,4 30-35 RAb 4,0 45 RAb 4,1 30-35 RAb 4,8 25-30
RAb/
Ri
3,0 55
ME/
RAc
3,9 40-45 RAb 3,4 40-45 RAb
Negligência
Masc.
3,4 20-25
RAb/
Ri
2,5 35-40 RAb 3,0 35 RAb 3,7 20-25
RAb/
Ri
4,1 20-25
Ri
3,4 30-35 RAb 3,4 30-35 RAb 3,9 30-35 RAb
Fem.
3,4 20-25
RAb/
Ri
2,9 35-40 RAb 3,2 20-25
RAb/
Ri
2,7 35-40 RAb 5,2 15-20
Ri
5,1 15-20
Ri
4,7 20-25
Ri
4,3 20-25
Ri
Disc. Relax.
Masc.
2,9 55-60 ME 2,9 55-60
RAc
3,2 35-40 RAb 2,7 55-60
RAc
1,8 65-70 RAc 2,2 50-55
ME/
RAc
2,2 50-55 ME/
RAc
1,8 65-70 RAc
Fem.
3,2 35-40 RAb 3,4 35-40 RAb 3,0 55 ME/
RAc
3,3 35-40 RAb 2,9 50-55
ME/
RAc
2,8 50-55
ME/
RAc
2,7 50-55 ME/
RAc
2,7 50-55 ME/
RAc
Mon. neg.
Masc.
5,5 45-50 RAb/
ME
5,5 45-50 RAb/
ME
4,8 65-70 RAc 5,1 45-50 RAb/
ME
4,2 45-50 RAb/
ME
3,5 65-70 ME/
RAc
4,3 45-50 RAb/
ME
4,7 45-50 RAb/
ME
Fem.
5,6 45-50 RAb/
ME
5,9 45-50 RAb/
ME
5,1 45-50 RAb/
ME
5,8 45-50 RAb/
ME
5,0 45 RAb 4,6 45-50 RAb/
ME
3,9 65-70 ME/
RAc
3,5 65-70 ME/
RAc
Abuso fís.
Masc.
1,5 45-50 RAb/
ME
1,4 45-50 RAb/
ME
1,0 45 RAb 1,0 45 RAb 2,5 15-20
Ri
0,8 45-50 RAb/
ME
1,8 25-30
RAb
/Ri
1,9 25-30
RAb/
Ri
Fem.
2,0 20
Ri
1,4 45-50 RAb/
ME
1,0 45 RAb 0,9 45-50 RAb/
ME
2,5 15-20
Ri
1,2 25-30
RAb/
Ri
1,5 25-30
RAb
/Ri
0,8 45-50 RAb/
ME
Legenda: RAb: Regular abaixo da média RAc: Regular acima da média ME: Média Ri: risco
A Tabela 8 ilustra os dados de forma mais aprofundada, confirmando a tendência dos
resultados anteriormente descritos. O grupo dos primogênitos foi o que mais se aproximou ou
efetivamente entrou na área de risco, segundo as tabelas normativas. Com relação às mães, os
primogênitos apresentaram risco para o subgrupo feminino na prática de abuso físico; e
mantiveram-se limítrofes, ou seja, muito próximos do risco, para as práticas de negligência
(masculino e feminino), e monitoria positiva e comportamento moral do subgrupo masculino.
No quesito comportamento moral, tínhamos visto que as meninas tinham pontuado melhor
na análise geral, e na análise percentílica ficaram na média, consideravelmente acima dos
meninos.
Os filhos do meio, relativos à mãe, não chegaram à área de risco em nenhuma das
práticas, pontuando, inclusive, acima dos demais, visto que obtiveram cinco classificações
entre ‘regular abaixo da média e ‘média’, e uma acima da média, essa última referente à
‘disciplina relaxada’ do subgrupo masculino. Os caçulas também não foram classificados na
área de risco em nenhuma categoria, apenas ficaram limítrofes para a prática de negligência
no subgrupo feminino. Por outro lado, o subgrupo masculino de caçulas ficou acima da média
para monitoria negativa materna. Os filhos únicos, como os do meio, não chegaram à zona de
risco, mas ficaram limítrofes para negligência do grupo masculino. Assim como os do meio,
para os meninos filhos únicos os valores mais altos foram referentes à disciplina relaxada
materna.
Na avaliação dos pais, os primogênitos foram mais negativos. Atingiram a zona de
risco em duas práticas: negligência e abuso físico, para ambos os grupos (masculino e
feminino). Ficaram limítrofes no risco para a prática ‘punição inconsistente’, segundo as
filhas. A prática melhor pontuada para esse subgrupo foi ‘disciplina relaxada’, tanto para os
meninos, cuja classificação foi ‘regular, acima da média’, quanto para as meninas, cuja
classificação ficou entre ‘média’ e ‘regular, acima da média’.
76
Os filhos do meio atingiram a área de risco com relação aos pais para a prática de
negligência, do grupo feminino, apenas. A monitoria positiva ficou limítrofe com risco, para
ambos os gêneros; assim como o abuso físico, nesse caso segundo as filhas. A prática de
‘disciplina relaxada’ foi a que obteve melhor pontuação, considerando os dois subgrupos;
porém, para os meninos, a prática melhor pontuada foi ‘monitoria negativa’. Isso sugere que
os filhos do meio são menos cobrados do que os irmãos mais velhos.
As meninas caçulas foram classificadas no ‘risco’ apenas para negligência; entretanto,
ficaram limítrofes no risco para ‘abuso físico’, junto com os meninos. Para o grupo dos
caçulas, a prática melhor pontuada também foi ‘disciplina relaxada’, estando entre ‘média’ e
‘regular, acima da média’, para ambos os subgrupos. As filhas únicas atingiram o ‘risco’ para
negligência paterna; e os filhos ficaram no limite entre ‘regular, abaixo da média’ e ‘risco’
para ‘punição inconsistente’ e ‘abuso físico’. Novamente, a prática de ‘disciplina relaxada’
obteve a melhor classificação, com percentis acima de 50, tanto para as meninas quanto
meninos.
Em suma, com relação às mães, as classificações mais baixas dos grupos analisados
foram concernentes à prática de ‘negligência’, especialmente para os primogênitos de ambos
os sexos, para as meninas caçulas e para os meninos filhos únicos. Da mesma forma, para os
pais, a prática de menor pontuação foi a negligência, em que todos os subgrupos femininos
atingiram o risco, e também os meninos primogênitos. Seguindo a negligência, o ‘abuso
físico’ ficou limítrofe no risco para as meninas do meio e caçulas, e meninos caçulas e únicos,
chegando ao risco para os primogênitos. Por outro lado, tanto as mães quanto os pais
pontuaram melhor na prática de ‘disciplina relaxada’, embora haja diferenças entre eles. Para
as mães, os percentis variaram de 35 a 60; enquanto para os pais, de 50 a 70. Sugere-se que,
com relação à implementação e manutenção de regras, os pais são mais firmes e consistentes
do que as mães.
77
Como visto na Tabela 7, e complementado na Tabela 8, os dados sinalizam diferenças
das práticas parentais com relação aos subgrupos avaliados nessa pesquisa. Ainda não se sabe,
entretanto, onde se encontram essas diferenças devido à restrição do teste H utilizado. Para
tanto, optou-se pelo uso das comparações múltiplas, explicitadas no item 7, as quais então
permitiram a análise das diferenças entre os grupos. Os resultados encontram-se na Tabela 9.
TABELA 9
Comparações Múltiplas para as Práticas em que Houve Diferenças
Mãe Pai
Gênero
Práticas
Ordens
Dif. Obs. Dif. Crít. Sig. Dif. Obs. Dif. Crít. Sig.
Primogênito - do meio 13,5 31,2 NÃO
33,3 29,5 SIM
Primogênito - caçula
26,6 25,5 SIM
17,4 23,9 NÃO
Primogênito - único 21,8 32,3 NÃO 25,4 32,0 NÃO
Do meio - caçula 13,1 31,2 NÃO 15,9 29,6 NÃO
Do meio- único 8,3 31,0 NÃO 7,9 36,5 NÃO
Pun. incon.
Caçula - único 4,7 32,3 NÃO 8,0 32,1 NÃO
Primogênito - do meio - - - 10,7 29,5 NÃO
Primogênito - caçula - - - 22,9 23,9 NÃO
Primogênito - único - - -
32,1 32,0 SIM
Do meio- caçula - - - 12,2 29,6 NÃO
Do meio- único - - - 21,3 36,4 NÃO
Mon. Negat.
Caçula - único - - - 9,2 32,1 NÃO
Primogênito - do meio - - - - - -
Primogênito - caçula - - - - - -
Primogênito - único - - - - - -
Do meio - caçula - - - - - -
Do meio- único - - - - - -
Negligência
Caçula - único - - - - - -
Primogênito - do meio 15,5 31,2 NÃO 29,3 29,5 NÃO
Primogênito - caçula
29,9 25,5 SIM 24,0 23,9 SIM
Primogênito - único 25,1 32,3 NÃO 31,3 32,0 NÃO
Do meio - caçula 13,5 31,2 NÃO 5,3 29,6 NÃO
Do meio - único 9,6 37,0 NÃO 1,9 36,4 NÃO
Feminino
Abuso físico
Caçula - único 3,8 32,3 NÃO 7,2 32,1 NÃO
Primogênito - do meio - - -
28,7 26,6 SIM
Primogênito - caçula - - - 10,7 19,6 NÃO
Primogênito - único - - - 11,1 28,6 NÃO
Do meio- caçula - - - 17,9 16,7 NÃO
Do meio - único - - - 17,5 33,9 NÃO
Masculino
Abuso físico
Caçula - único - - - 0,3 28,7 NÃO
A Tabela 9 indica entre quais grupos houve diferença para práticas parentais em que
se tinha obtido um p-valor significativo. Com relação às mães, surgiram duas diferenças,
78
enquanto que para os pais, quatro. Das seis comparações, apenas uma referiu-se ao subgrupo
masculino. Para as mães, as diferenças surgiram entre os mesmos grupos, primogênitos e
caçulas, nas duas práticas. As primogênitas alegaram sofrer mais ‘punição inconsistente’ e
‘abuso físicodo que os caçulas. Para os pais, as diferenças apareceram para primogênitos
com relação às demais ordens. No subgrupo feminino, as primogênitas atribuíram valores
mais altos a eles na punição inconsistente, diferenciando-se dos filhos do meio; da monitoria
negativa, diferenciando-se dos filhos únicos; e do abuso físico, diferenciando-se dos caçulas.
Para o subgrupo masculino, a única diferença referiu-se à comparação dos primogênitos com
os filhos do meio, sendo o primeiro mais abusado fisicamente.
Em resumo, todos os dados apresentados revelaram haver uma tendência dos pais em
diferirem suas práticas educativas considerando o gênero e a ordem de nascimento dos filhos,
seja em separado ou em interação. As mães, como sugere a literatura já citada, no geral
obtiveram valores mais altos do que os pais, sendo que os dados que apresentaram diferenças
nos grupos foram menos freqüentes do que para eles. Não houve diferenças com relação ao
gênero; e com referência à ordem de nascimento, apenas as meninas avaliaram as mães
distintamente, sendo que as diferenças apareceram para primogênitas e caçulas. As primeiras
alegaram sofrer mais com punição inconsistente e abuso físico por parte das mães.
Os pais, por sua vez, foram avaliados de forma mais rígida pelas filhas do que pelos
filhos, sendo a diferença de escores do gênero estatisticamente significativa. Os meninos
revelaram diferença de ordem de nascimento apenas para a prática de abuso físico paterno, em
que os primogênitos alegaram apanhar mais do que os do meio. As meninas primogênitas
diferenciaram-se das do meio para punição inconsistente; das caçulas para abuso físico e das
filhas únicas para monitoria negativa. De modo geral, tanto na avaliação dos pais quanto das
mães, os primogênitos foram os mais rigorosos e obtiveram escores que assinalaram
diferenças significativas com relação às demais ordens.
79
8.3. Percepção da preferência parental
A percepção da preferência parental foi avaliada através das questões 5 a 10 da folha
adicional. Esse tema foi incluído porque se acredita que a percepção da preferência ou
favoritismo parental influencia a avaliação que os filhos têm sobre os pais, e também sua
própria auto-avaliação. Os dados obtidos pela análise desse conteúdo receberam uma
descrição qualitativa, no que se refere às questões abertas (7 e 10), e quantitativa para as
demais.
Na análise desse item, dos 322 respondentes da pesquisa, excetuou-se 45 por serem
filhos únicos. Assim, dos 277 restantes, 90 acreditam existir preferência paterna e 182 não (5
não responderam); e 77 acreditam existir preferência materna e 197 não (3 não responderam).
Do total, 48 assinalaram existir a preferência, enquanto 155 responderam que o há, para
ambos (pai e mãe), o que resultou numa relação significativa (χ²=44,67, gl=1, p<0,001). Isso
quer dizer que, na maioria dos casos, quando o participante acreditava existir preferência do
pai, também o fazia com relação à mãe, assim como quando julgava não existir tal
favoritismo. A relação foi mais forte considerando as respostas negativas, visto que as
positivas (existência da preferência para pai e mãe juntos) foram menos freqüentes (ver
Tabela 10).
TABELA 10
Percepção da Preferência Parental
Preferência Paterna
Grupos Primogênito Do meio Caçula
Total n % n % n %
Masculino 29 (100%) 14 48,3 3 10,3 12 41,4
Feminino 61
(100%)
31 50,8 15 24,6 15 24,6
Total 90 (100%) 45 50 18 20 27 30
80
Preferência Materna
Grupos Primogênito Do meio Caçula
Total n % n % n %
Masculino 27
(100%)
11 40,7 3 11,1 13 48,1
Feminino 50
(100%)
24 48 9 18 17 34
Total 77 (100%) 35 45,4 12 15,6 30 38,9
Os dados da Tabela 10 demonstram que a percepção da preferência paterna é maior do
que a materna, e que as meninas responderam positivamente a essa questão com mais
freqüência do que os meninos. Essa diferença de gênero foi significativa para a percepção
paterna (χ² =5,4; gl=1; p<0,05), mas não materna [χ²=2,5; gl=1; p=0,113 (ns)], ou seja, as
meninas avaliam existir a preferência paterna com maior freqüência do que os meninos, mas
os gêneros não se diferenciaram entre si quanto à materna.
Considerando a variável ‘ordem de nascimento’, observa-se que os primogênitos
percebem a prerência parental de forma mais intensa do que os demais. Na avaliação das
mães, contudo, essa diferença não foi significativa [χ²=0,8; gl=2; p=0,65 (ns)], o que significa
que os grupos (primogênitos, do meio e caçulas) não se diferenciaram quanto à percepção da
preferência materna. Com relação aos pais, por outro lado, a ordem de nascimento foi um
fator relevante, já que houve diferença entre grupos (χ²=6,8 gl=2, p<0,05). Especificamente, a
diferença encontrou-se entre os primogênitos e caçulas (χ²=5,7; gl=1; p <0,05), e não com
relação às outras ordens: primogênito versus do meio [χ²=0,056; gl=1;p=0,81 (ns)]; e do meio
versus caçula [χ²= 2,01; gl= 1; p=0,15 (ns)]. A Tabela 11 apresenta quem são considerados os
filhos preferidos dos pais.
81
TABELA 11
Filhos Preferidos Segundo os Respondentes por Gênero e Ordem de Nascimento
Mãe Pai
Filho preferido Total Gênero Ordem de nasc. Total Gênero Ordem de nasc.
Masc. Fem. Prim. Meio Caçula Masc. Fem. Prim. Meio Caçula
Eu 14 8 6 7 1 6 26 7 19 6 7 13
Irmã mais velha 12 3 9 - 2 10 7 2 5 - 3 4
Irmã do meio 4 - 4 2 1 1 6 2 4 2 - 4
Irmã caçula 16 4 12 13 3 - 25 7 18 21 4 -
Irmão mais velho 10 5 5 - 1 9 5 3 2 - - 5
Irmão do meio 5 2 3 1 - 4 5 1 4 2 2 1
Irmão caçula 16 5 11 12 4 - 16 7 9 14 2 -
Total (fp) Mãe Pai Geral
Total (fp) Mãe Pai Geral
Masculino 31 38 69 Primogênito 22 12 34
Feminino 32 26 58 Do meio 9 11 20
Caçula 32 41 73
Observando a Tabela 11, o filho considerado preferido não variou muito quanto ao
gênero, não sendo significativa essa diferença nem na avaliação das mães [χ²=1,4; gl=1;
p=0,24 (ns)], nem dos pais [χ²=0,7; gl=1; p=0,4 (ns)]. No entanto, as freqüências dos grupos
de ordem de nascimento diferenciaram-se de forma relevante. Os votos para si mesmos (‘eu’)
atingiram apenas 18,8% do total para as mães e 28,8% para os pais, ou seja, foram
consideravelmente menos freqüentes do que os votos para os irmãos.
Para ambos os pais, os filhos do meio receberam menor número de votos como filhos
preferidos, seguidos dos primogênitos, enquanto os caçulas foram os mais votados. Na
avaliação dos pais, particularmente, a diferença entre os grupos de primogênitos e caçulas foi
significativa (χ²=10,53; gl=1; p<0,001), sendo que os primeiros alegaram com mais
freqüência que os preferidos o os caçulas, enquanto que metade desses julgaram si próprios
como favoritos. Assim, dentro das fratrias, ser menino ou menina não foi um fator forte na
percepção da preferência, enquanto que a posição ordinal de nascimento o foi.
As questões 7 e 10 da folha adicional coletaram os conteúdos que justificam a
percepção da preferência parental. As respostas foram categorizadas segundo a Tabela 3, e
serão apresentadas na íntegra de acordo com a categoria a que pertencem para, a seguir, serem
82
analisadas de forma quantitativa. Dos 77 participantes que alegaram existir preferência
materna, 71 justificaram tal resposta, assim como 81 dos 90 que referenciaram preferência
paterna, o que resulta em 152 frases distribuídas nas categorias (apêndices C e D).
Para as mães, ‘ordem de nascimento’ foi a categoria que obteve maior mero de
respostas, tendo sido assinalada principalmente por primogênitos e filhos do meio. Em
seguida, situou-se a categoria ‘características positivas’, cuja maior contribuição foi dada
pelos caçulas. As demais categorias se mantiveram próximas entre si, marcando entre 5 e 8.
Os sete primogênitos que julgaram si próprios como filhos preferidos não se concentraram
numa categoria específica, mas o se incluíram em ‘tolerância’ e ‘atenção’. No entanto, dos
25 primogênitos que votaram nos caçulas como os preferidos, 13 justificaram essa preferência
através da ordem de nascimento (8) e tolerância (5), 10 distribuíram-se nas demais categorias
e três não justificaram.
Dos 12 filhos do meio que acreditam existir preferência materna, apenas um julgou si
mesmo como preferido, incluindo-se na categoria ‘afinidade’; dos 11 votos restantes, 7 foram
justificados pela ‘ordem de nascimento’ e 4 incluíram-se nas categorias ‘convivência’,
‘atenção’ e ‘tolerância’. Nenhum filho do meio justificou de forma a se enquadrar em
‘características positivas’, ‘afinidade’ e ‘outros’ ao avaliar os irmãos como preferidos.
Seis filhos caçulas votaram em si mesmos como preferidos das mães, sendo que 4
deles foram incluídos na ‘ordem de nascimento’. No entanto, os caçulas votaram nos
primogênitos como preferidos com mais freqüência do que a si mesmos, contribuindo com 19
votos a eles. Desse total, 16 foram votos justificados, em que 8 encaixaram-se na categoria
‘características positivas’ e os outros 8 distribuíram-se nas demais, exceto para ‘convivência’.
Dos 5 votos aos irmãos do meio, 4 também foram incluídos em ‘características positivas’.
Assim, para os primogênitos, a ‘ordem de nascimento’ foi um fator de avaliação da
preferência como referência ao irmão julgado preferido, e não si mesmos. O contrário serviu
83
para os caçulas, os quais avaliaram si mesmos como preferidos justamente por serem mais
novos. Por outro lado, os caçulas crêem existir preferência materna com referência aos
irmãos, especialmente mais velhos, através das ‘características positivas’ que julgam que
esses têm.
Na análise das justificativas paternas, a categoria em que mais respostas se encaixaram
foi ‘características positivas’, cuja maior contribuição deveu-se aos primogênitos e, em
seguida, aos caçulas. Ela diferenciou-se por apenas uma resposta de ‘ordem de nascimento’,
que obteve uma distribuição mais homogênea entre as ordens. Com relação aos primogênitos
que escolheram si mesmos como preferidos, não houve um padrão de escolha; todavia, 35
deles votaram nos caçulas como preferidos, e das 33 justificativas avaliadas, 15
concentraram-se nas categorias ‘características positivas’ (8) e ‘ordem de nascimento’ (7),
cinco em ‘tolerância’, 4 ‘atenção’ e 8 nas demais. Também não houve padrão de resposta (7)
para os filhos do meio que responderam acreditar que são eles os preferidos. Dos 6 votos que
eles deram aos caçulas, três enquadraram-se em ‘ordem de nascimento’.
Em contrapartida, dos 27 caçulas, 13 consideram-se os preferidos dos pais, sendo que
as categorias mais votadas foram ‘ordem de nascimento’ (5) e ‘gênero’ (3); a categoria
‘características positivas’ recebeu apenas dois votos. Na justificativa dos caçulas que acham
que o primogênito é o favorito (9), cinco encaixaram-se em ‘características positivas’. Quanto
à categoria ‘gênero’, a qual recebeu oito votos, observa-se que os quatro primogênitos
votaram em meninos, enquanto que apenas um menino foi votado dentre os quatro caçulas,
sendo três meninas. Nenhum filho do meio citou preferência por gênero.
O padrão de respostas justificando a preferência paterna foi semelhante ao materno,
pois em ambos as categorias em que as respostas foram mais numerosas foram ‘ordem de
nascimento’ e ‘características positivas’. As categorias restantes variaram um pouco mais do
84
que as maternas, entre 4 e 10. Para melhor visualização da distribuição dos temas entre as
ordens de nascimento, ver a Tabela 12.
TABELA 12
Distribuição dos Votos nas Categorias de Preferência Parental de acordo com a Ordem
de Nascimento, para Mães e Pais
Mãe Pai
Categorias
Total Prim. Meio Caçula Total Prim. Meio Caçula
Carac. Positivas 18 5 -
13
20
12
-
8
Ordem nasc. 20
9 7
4 19 9
5
5
Tolerância 8 5 1 2 9 6 1 2
Atenção 7 3 1 3 10 5 4 1
Convivência 8 5 2 1 6 2 2 2
Afinidade 5 2 1 2 4 1 1 2
Outros 5 2 - 3 5 4 1 -
Gênero
(exclusivo pais)
- - - - 8 4 - 4
Total 71 31 12 28 81 42 14 25
Como os dados referentes aos pais e às mães são semelhantes, ao juntá-los podemos
visualizar de forma mais geral a contribuição de cada categoria na percepção da preferência
parental (figura 2).
39
38
17
17
14
9
8
10
ordem de nasc.
caract. positivas
tolerância
ateão
convivência
afinidade
nero
outros
Figura 2. Contribuição de cada categoria na justificativa da preferência parental (para
mães e pais juntos); N=152.
85
Em suma, as categorias ‘ordem de nascimento’ e ‘características positivas’ são as
responsáveis por metade do total de respostas que justificam a preferência parental, tanto para
pais quanto mães. Em seguida, os fatores de maior peso em ordem decrescente foram
‘tolerância’ e ‘atenção’, ocupando 23% do total; ‘convivência’, ‘afinidade’ e ‘gênero’, com
20%, e ‘outros’, com 7%. Assim, do ponto de vista dos adolescentes, a ordem de nascimento e
um fator de maior relevância do que o gênero do irmão na avaliação da preferência dos pais,
sendo tão importante quanto as características comportamentais consideradas de qualidade
que estão presentes no relacionamento entre pais e filhos.
Para aprofundar a análise da preferência parental, procurou-se relacionar os
questionários dos participantes cujas respostas foram positivas (sim) para preferência parental
com seus respectivos IEPs. O objetivo foi observar se a avaliação positiva da preferência
parental teria uma relação positiva ou negativa com os índices de estilo parental do
participante. Para tal, foi feito um agrupamento dos escores do IEP. Primeiramente, os escores
foram divididos em 4 grupos, partindo do valor máximo ao mínimo. Foram elaborados, assim,
2 grupos cujos ieps eram negativos (categorias 1 e 2) e 2 negativos (categorias 3 e 4), tanto
para pais quanto para mães.
Aplicando o teste qui-quadrado para avaliar a associação entre essas categorias e a
avaliação da preferência parental, obteve-se χ²=40,2; gl=3; p<0,001, para os pais, e χ²=31,3;
gl=3; p<0,001, para mães. Esse resultado indicou uma associação entre as duas variáveis; no
entanto, como havia duas categorias para cada seção do IEP (positiva e negativa), não ficou
claro entre quais havia associação. Assim, as categorias 1 e 2 foram agrupadas em uma (1: iep
negativo), cujos índices variaram do valor mínimo até zero, e as 3 e 4 em outra (2: iep
positivo), em que os índices variaram de 1 ao valor máximo (Tabela 13).
86
TABELA 13
Freqüências de Respostas Sobre Preferência Parental Considerando o Valor do IEP
Mãe Pai Categorias
IEP
Sim Não Total Sim Não Total
1- negativo
(mín. - zero)
48
(41,4%)
68
(58,6%)
116
(100%)
70
(49%)
72
(51%)
142
(100%)
2- positivo
(1 - máx.)
29
(18,3%)
129
(81,7%)
158
(100%)
20
(15,4%)
110
(84,6%)
130
(100%)
Total 77
(28%)
197
(72%)
274
(100%)
90
(33%)
182
(67%)
272
(100%)
A partir da Tabela 13, constata-se que os participantes cujos valores do IEP foram
positivos avaliaram existir preferência parental com menos freqüência do que aqueles cujos
índices foram negativos. Observa-se que, para os primeiros, a taxa de resposta positiva quanto
à preferência parental ficou abaixo de 19%, enquanto que, para os segundos, ela elevou-se
para mais de 40%, chegando a quase 50% para os pais do grupo dos escores negativos.
Utilizando o qui-quadrado nos valores da Tabela 14 para avaliar essa diferença, obteve-se
χ²=33,7; gl=1; p<0,001, para pais, e χ²=16,43; gl=1; p<0,001, para mães. Portanto, esses
resultados indicam que associação entre percepção da preferência parental e o índice de
estilo parental, no sentido que, quanto maior o índice, menor a percepção da preferência, e
vice-versa.
8.3. Autodescrição
Embora essa pesquisa não tenha tido como objetivo maior tratar de autodescrição,
especialmente de adolescentes, considerou-se interessante ao menos levantar alguns dados
que pudessem contribuir para o estudo do nero e da ordem de nascimento. Os resultados
dessa parte da pesquisa forma analisados baseando-se na última questão (11) da folha
adicional, em que foram requisitadas características positivas e negativas dos participantes
segundo a auto-percepção deles mesmos. Inicialmente, pretendia-se observar se o tipo de
87
palavra estaria relacionado ao índice de estilo parental; no entanto, como explicado no item 7,
essa relação não se fez relevante. Assim, o objetivo da análise das palavras firmou-se apenas
em levantar possíveis semelhanças e disparidades intra e entre os grupos formados nessa
pesquisa.
A partir da Análise Fatorial de Correspondência (AFC), tanto para características
positivas (Tabela 14), quanto negativas (Tabela 15), foram obtidos quatro fatores. Para ambas,
o primeiro fator foi o gênero. Isso indica que, em termos de autodescrição, os papéis sociais
definidos pelo nero parecem ser mais fortes do que os da ordem de nascimento. Para as
características positivas, os primeiro e segundo fatores foram responsáveis por 67,12% da
inércia total; para as negativas, os mesmos fatores somaram 65,85%. Por serem os fatores de
maior contribuição, apenas eles foram considerados nas Figuras 2 e 3.
TABELA 14
Análise Fatorial de Correspondências para Características Positivas
De fora para dentro De dentro para fora
Fator
Modalidades Coord.
CPF Cos
2
Modalidades Coord.
CPF Cos
2
Masculino -0,46 58,4 0,98 Feminino 0,29 36,9 0,98
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Bom -0,98 6,9 0,8 Confiável 0,36 2,6 0,64
Bonito -0,76 11,3 0,9 Otimista 0,64 7,3 0,77
Engraçado -0,22 2,5 0,25 Persistente 0,30 2,6 0,92
Esperto -0,90 8,9 0,87 Sincero 0,27 7,1 0,75
Fiel -0,90 7,4 0,54
Inteligente -0,36 10,6 0,91
Legal -0,37 5,5 0,51
Primeiro,
Autovalor = 0,07
Inércia =
46,48%
Conversador Engraçado
Único -0,53 58,6 0,72 Caçula 0,19 21,1 0,35
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Amoroso -0,27 2,9 0,22 Brincalhão 0,26 2,8 0,34
Compreensivo -0,32 8,4 0,66 Carinhoso 0,21 4,7 0,39
Confiante -0,76 11,8 0,86 Divertido 0,21 3,1 0,51
Conversador -0,74 13,4 0,81 Engraçado 0,29 10,2 0,46
Criativo -0,38 4,6 0,74 Espontâneo 0,30 2,5 0,66
Otimista -0,30 3,7 0,17 Respeitoso 0,28 2,9 0,51
Segundo,
Autovalor = 0,03
Inércia=
20,64%
Responsável 0,25 2,6 0,36
Divertido Companheiro
Terceiro, Caçula -0,25 40,6 0,6 Primogênito 0,29 53,7 0,78
88
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Amigo -0,13 6,4 0,46 Amoroso 0,45 9,1 0,6
Calmo -0,27 3,9 0,42 Brincalhão 0,27 3,4 0,37
Confiável -0,23 2,8 0,27 Companheiro 0,27 11,2 0,98
Engraçado -0,22 6,4 0,26 Comunicativo 0,64 7,4 0,67
Legal -0,26 7,0 0,26 Determinado 0,32 3,3 0,61
Responsável -0,27 3,4 0,43 Feliz 0,23 3,9 0,54
Simpático -0,12 2,9 0,30 Paciente 0,44 3,6 0,46
Autovalor= 0,0274
Inércia =
18,39%
Sincero 0,15 5,3 0,22
Honesto Fiel
Único
-0,30 25,9 0,22 Do meio 0,43 69,8 0,78
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Bonito -0,22 3,1 0,08 Atencioso 0,33 7,7 0,52
Calmo -0,28 5,6 0,47 Bem-humorado 0,16 3,1 0,25
Comunicativo -0,41 3,8 0,27 Esperto 0,33 3,8 0,12
Conversador -0,32 3,7 0,16 Estudioso 0,29 7,8 0,89
Honesto -0,34 9,9 0,51 Fiel 0,76 16,9 0,39
Quarto,
Autovalor= 0,0216
Inércia=
14,49%
Legal -0,25 8,0 0,23 Gentil 0,64 9,5 0,88
O primeiro fator das características positivas contrapôs os gêneros (masculino x
feminino), sendo responsável por quase 47% da contribuição total. As palavras mais
freqüentes citadas pelos meninos foram ‘bonito’ e ‘inteligente’; enquanto para as meninas
foram ‘otimista’ e ‘sincero’. Observando o padrão de respostas de cada nero, percebe-se
que o lócus da escolha das palavras é diferente. Para os meninos, as palavras mais freqüentes
remetem a como eles crêem ser vistos pelos outros (amigos, pais, sociedade), o que
caracteriza certa externalidade da definição; enquanto que para as meninas, a referência
utilizada são elas em relação a elas mesmas, o que sugere mais internalidade. O segundo fator
diferenciou os padrões de resposta de filhos únicos e caçulas. Para os primeiros, as palavras
mais freqüentes foram ‘conversador’ e ‘confiante’; para os segundos, a principal foi
‘engraçado’, marcando grande diferença das demais. A Figura 3 mostra a disposição gráfica
do cruzamento dos fatores 1 e 2.
89
Figura 3. Disposição gráfica dos dois primeiros fatores da análise de correspondências
para características positivas.
Observa-se pela Figura 3 que as palavras descritoras dos meninos e dos filhos únicos
estão mais dispersas no gráfico, o que sugere uma variabilidade maior de citações. As
palavras referentes às meninas e aos caçulas estão mais próximas, o que sugere que foram
respondidas pelas mesmas pessoas. Especificamente, a característica ser ‘otimista’, foi mais
freqüente para meninas filhas únicas; e ‘ engraçado’ para meninos caçulas.
O terceiro fator opôs primogênitos e caçulas. Os caçulas mantiveram o mesmo tipo de
resposta do segundo fator, ou seja, caracterizam-se como divertidos, tendo sido citadas as
palavras ‘legal’, ‘amigo’ e ‘engraçado’ em maior e quase igual freqüência. Os primogênitos,
por sua vez, caracterizaram-se através das palavras ‘companheiro’ e ‘amoroso’ e, em menor
90
escala, ‘comunicativo’. O quarto fator diferenciou os filhos únicos dos filhos do meio, em que
os primeiros julgaram-se ‘honestos’ e ‘legais’ e os segundos ‘fiéis’, sendo essa característica
(fidelidade) muito mais freqüente do que as demais para o mesmo grupo.
A análise fatorial para as características negativas gerou fatores parecidos, com
exceção daquele formado pela comparação entre primogênitos e caçulas para características
positivas, que deu lugar à oposição entre primogênitos e filhos do meio. O primeiro fator das
características negativas também foi o gênero, como mencionado, sendo responsável por
quase 40% da inércia total. A palavra mais citada pelo grupo masculino foi ‘pentelho’, que
indica perturbar, incomodar os outros com certa freqüência e intensidade. Essa palavra ficou
bem acima da média das demais da modalidade, o que sugere que ela tem grande força
descritora para os meninos. As meninas, por sua vez, julgam que suas características
negativas mais proeminentes são ser ‘egoístas’ e ‘orgulhosas’. Novamente, o ponto de vista
utilizado por meninos e meninas variou, sendo que os primeiros parecem considerar mais o
outro como referência para a autodescrição, ao contrário das meninas (Tabela 15).
TABELA 15
Análise Fatorial de Correspondências para Características Negativas
De fora para dentro De dentro para fora
Fator
Modalidades Coord.
CPF Cos
2
Modalidades Coord.
CPF Cos
2
Masculino -0,43 48,5 0,81 Feminino 0,22 25,4 0,81
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Bagunceiro -0,40 2,9 0,64 Egoísta 0,46 6,5 0,70
Burro -0,64 3,8 0,29 Estressado 0,22 3,8 0,43
Chato -0,17 2,7 0,47 Impaciente 0,23 3,1 0,66
Desorganizado -0,24 2,4 0,43 Impulsivo 0,53 3,3 0,52
Esquecido -0,57 3,7 0,86 Irresponsável 0,39 2,9 0,55
Folgado -0,60 5,0 0,45 Orgulhoso 0,58 6,3 0,86
Grosso -0,42 5,7 0,80 Pessimista 0,47 3,0 0,41
Primeiro,
Autovalor
= 0,065
Inércia =
38,86%
Mentiroso
Pentelho
Preguiçoso
-0,44
-1,14
-0,19
2,3
15,0
4,6
0,57
0,91
0,88
Sensível 0,43 2,6 0,36
Contraditório Introspectivo
Do meio -0,45 36,2 0,49 Único 0,37 18,9 0,32
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Segundo,
Autovalor
Burro -0,94 11,9 0,63 Desorganizado 0,26 4,0 0,50
91
Crítico -0,32 2,8 0,20 Insistente 0,49 8,8 0,95
Desatento -0,54 7,9 0,62 Irritado 0,30 6,9 0,69
Egoísta -0,28 3,5 0,26 Teimoso 0,19 4,3 0,64
Estúpido -0,42 2,4 0,37 Tímido 0,28 8,9 0,98
Folgado -0,38 2,9 0,18
= 0,045
Inércia=
26,99%
Impulsivo
Mal-humorado
Metido
-0,51
-0,21
-0,80
4,3
5,0
10,7
0,47
0,36
0,75
Mal-humorado Crítico
Primogênito -0,29 48,7 0,69 Do meio 0,37 34,4 0,32
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Ciumento -0,33 9,0 0,66 Bagunceiro 0,25 2,4 0,26
Desatento -0,33 4,3 0,24 Brabo 0,21 2,3 0,24
Exigente demais -0,36 4,3 0,82 Chorão 0,50 4,8 0,34
Folgado -0,50 7,1 0,31 Crítico 0,60 14,1 0,70
Mal-humorado -0,26 10,8 0,54 Estúpido 0,45 3,8 0,42
Pessimista -0,33 3,1 0,20 Sensível 0,50 7,4 0,50
Temperamental 0,30 3,8 0,59
Terceiro,
Autovalor
= 0,0313
Inércia =
18,77%
Desobediente Pessimista
Único
-0,52 66,9 0,65 Caçula 0,18 21,3 0,21
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Elementos Coord.
CPF Cos
2
Ansioso -0,16 2,8 0,73 Brabo 0,20 2,6 0,22
Briguento -0,17 3,5 0,96 Irresponsável 0,27 3,5 0,27
Chato -0,17 6,8 0,47 Orgulhoso 0,22 2,3 0,12
Desatento -0,23 2,6 0,12 Pentelho 0,34 3,3 0,08
Desobediente -0,52 9,5 0,60 Perfeccionista 0,25 3,4 0,52
Quarto,
Autovalor
= 0,0256
Inércia=
15,39%
Estressado
Irritado
-0,21
-0,17
9,3
4,0
0,42
0,23
Pessimista
Preocupado
Respondão
Vingativo
0,41
0,28
0,30
0,39
6,0
2,3
4,7
4,4
0,32
0,38
0,97
0,56
O segundo fator contrapôs os filhos do meio com os únicos, sendo que as palavras
mais freqüentes para os primeiros foram ‘burro’ e ‘metido’; e para os segundo ‘tímido’ e
‘insistente’. Com relação aos filhos do meio, os elementos principais que compuseram a
modalidade soam contraditórios, visto que ser ‘burro’ e ‘metido’ são incompatíveis. Assim,
esse dado sugere que o grupo de filhos do meio, nesse fator, dividiu-se de forma um tanto
extrema. Os elementos do grupo dos filhos únicos, porém, tiveram uma distribuição mais
homogênea. A figura 4 apresenta o cruzamento dos fatores 1 e 2.
92
Figura 4. Disposição gráfica dos dois primeiros fatores da análise de correspondências
para características negativas.
A partir da figura 4, observam-se facilmente as diferenças de gênero, pois as palavras
‘mentiroso, ‘grosso’ e ‘folgado’ estão muito próximas do masculino, e as palavras
‘estressado’, ‘pessimista’ e sensível’ mais próximas do feminino. Os meninos filhos únicos
relatam maior desorganização, e as meninas filhas únicas mais timidez, irritação e teimosia.
Para os filhos do meio, a palavra ‘folgado’ foi mais presente; as filhas do mesmo grupo
citaram ser egoístas e impulsivas.
O terceiro fator diferenciou o grupo dos primogênitos dos filhos do meio. Os
primogênitos consideraram como características negativas serem ‘mal-humorados’ e
‘ciumentos’, em comparação com os do meio, os quais se julgaram bastantes ‘críticos’. Ser
crítico, para eles, foi o fator de maior peso, mantendo considerável distância de média com
Único
Do meio
93
relação aos outros elementos. Ser ‘sensível foi a característica que, embora tenha obtido
apenas metade da média do ‘crítico’, também ficou acima das demais de maneira relevante.
Para o quarto e último fator, opuseram-se os filhos únicos dos caçulas. Com quase
igual freqüência, os filhos únicos consideraram-se ‘desobedientes’ e ‘estressados’ e, em
menor escala, ‘chatos’. Para os caçulas, a distribuição de elementos não variou muito, a
característica diferencial para eles foi julgarem-se ‘pessimistas’, e também ‘respondões’ e
‘vingativos’.
A análise da autodescrição considerando gênero e ordem de nascimento indicou de
maneira mais visível a diferença entre meninos e meninas. As comparações entre as ordens
contribuíram menos na formação dos fatores e por vezes também soaram um tanto
contraditórias; no entanto, elas sinalizam haver diferenças, talvez sutis, entre as formas mais
freqüentes dos adolescentes se autodefinirem. Isso foi indicado pela freqüência maior ou
menor das palavras que surgiram para cada modalidade em comparação com outra.
94
9.
D
ISCUSSÃO
O objetivo principal desse trabalho foi coletar dados a respeito das práticas educativas
parentais considerando duas variáveis em especial: o gênero e a ordem de nascimento. De
maneira geral, o nero sempre está presente como variável de pesquisa, seja como alvo de
análise ou como controle demográfico; no entanto, a ordem de nascimento não tem a mesma
relevância, e pouca pesquisa a respeito dela é feita no Brasil. Justamente para instigar o estudo
sobre esse fator ordem de nascimento essa pesquisa interessou-se em levantar dados a
respeito de como as práticas parentais podem ou efetivamente diferenciam-se de acordo com a
posição ordinal de nascimento de seus filhos. Além disso, para complementar, avaliou se
existe preferência parental e por meio de que ela é justificada, e de possíveis padrões de
palavras de autodescrição utilizadas por adolescente entre 13 e 17 anos. Assim, a discussão
dos resultados obtidos seguirá as três etapas dos resultados: as práticas educativas parentais, a
preferência parental e a autodescrição, em que serão retomadas as hipóteses do início da
pesquisa.
9.1. Práticas educativas parentais
O primeiro resultado importante obtido através do IEP foi em parte a favor da hipótese
1 da pesquisa, em que se versou que há diferenças nas práticas educativas maternas e
paternas. Os escores maternos foram mais altos do que os paternos de modo geral. A literatura
da Psicologia (Furtado, 2005; Gomide, 2006) mencionou em outras pesquisas que os pais
geralmente recebem uma avaliação mais inadequada pelos filhos do que as mães, em que o
papel esperado do pai não corresponde ao real (Furtado, 2005).
Ainda, os valores dos ieps femininos foram mais baixos na avaliação dos pais,
diferenciando-se significativamente do grupo masculino. Para as mães, essa diferença não
95
ocorreu. Isso sugere que as meninas são tratadas de modo diferente pelos pais, sofrendo mais
com as práticas negativas quando comparadas aos meninos. Se retomarmos a hipótese de
Keller e Zach (2002) a respeito do investimento parental, encontramos que algumas pesquisas
que indicam que há preferência dos pais em investirem mais nos meninos do que nas meninas,
ao menos em ambientes mais estáveis e previsíveis (Voland, 1998). Historicamente, o sexo
masculino teve mais força social do que o feminino, e não podemos descartar que apenas a
partir do final desse século que o sexo feminino passou a ser olhado de outra forma, lutando
para se igualar ao masculino em termos de direitos, especialmente profissionais. A mudança
no tratamento parental nesse contexto, embora exista, pode ainda não se mostrar efetivamente
na sociedade.
Avaliando mais de perto, porém, os resultados indicaram que quanto a determinadas
práticas educativas, tanto as mães quanto os pais comportam-se de modo diferente com filhas
e filhos. Para as mães, o comportamento moral foi mais alto para as meninas, mantendo-se
limítrofe no risco para os meninos, assim como a monitoria positiva. Contrariamente, os
meninos tiveram escores mais altos do que as meninas em monitoria positiva quando
avaliaram seus pais. As meninas, por sua vez, alegam sofrer mais negligência e disciplina
relaxada por parte deles. Ora, se as meninas m modelo de comportamento moral mais alto
por parte das mães, e os meninos são mais monitorados positivamente por parte dos pais,
sugere-se que a identificação sexual existe. Essa informação está de acordo com alguns
indícios da literatura (Crouter & McHale, 1995; Lamb, 1997; Keller e Zach, 2002) que
demonstram que as mães interagem mais com suas filhas e os pais com seus filhos,
correspondendo a uma identificação sexual: mãe - filha mulher e pai - filho homem. Roelofs
et al. (2006) também afirmam que a presença de fatores negativos (como rejeição, ansiedade)
no comportamento paterno parece ter mais impacto sobre os meninos, ao mesmo tempo que
os mesmos fatores nas mães afetam mais as meninas.
96
Com relação à influência da ordem de nascimento sobre as práticas maternas, os
resultados indicaram diferenças apenas para as meninas. As primogênitas relataram sofrer
mais punição inconsistente e abuso físico do que as caçulas. Para os pais, as primogênitas
também se diferenciaram das filhas do meio por sofrerem mais punição inconsistente; das
caçulas pelo abuso físico e das filhas únicas pela monitoria negativa. Os meninos relataram
diferença apenas para o abuso físico, sendo que os primogênitos alegam apanhar mais do que
os irmãos do meio. De maneira geral, portanto, as primogênitas relataram haver mais punição
inconsistente e abuso físico tanto por parte de mães quanto de pais. Especificamente com
relação aos pais, os meninos primogênitos também relataram sofrer mais abuso físico, o que
confirma em parte a hipótese 2 da pesquisa; porém, os meninos a confirmam com relação
aos pais, enquanto as meninas consideram que apanham de ambas as figuras parentais. Além
disso, as meninas primogênitas também alegaram sofrer mais monitoria negativa paterna.
Sofrer com mais punição inconsistente significa que os primogênitos recebem uma
educação mais baseada no humor dos pais do que contingente ao tipo de comportamento
emitido por eles (Gomide, 2006). O padrão de interação entre pais e filhos torna-se, portanto,
instável e dependente do bom ou mau-humor dos pais; e nesse ambiente, os filhos passam a
ter dificuldades em aprender valores morais e podem aprender a manipular e desrespeitar
figuras de autoridade. Segundo Berri (2004), a punição inconsistente está fortemente ligada ao
abuso físico, visto que a freqüência e intensidade do bater variam segundo o estado de humor
do agente punidor, sendo que, quanto mais nervoso, mais vezes e com mais força o faz. Essa
afirmação vai ao encontro aos dados obtidos, visto que os primogênitos também alegam
apanhar mais do que os grupos das demais ordens. Assim, faz sentido que o mesmo grupo que
diz sofrer mais com a punição inconsistente também seja abusado fisicamente com mais
freqüência. Ehrensaft et al. (2003) alertam que a falta de consistência em estabelecer
conseqüências adequadas para os comportamentos dos filhos está associada ao
97
desenvolvimento da agressividade; assim, a punição inconsistente e o abuso físico colocam
em risco especialmente os primogênitos. Esse dado, contudo, contraria os achados de Laurent
e Sebastian (2005), segundo os quais os primogênitos foram aqueles que tiveram menor
número de transgressões leves e graves na França. Seria necessário um estudo dessa espécie
no Brasil para ver se haveria ou não tal correspondência.
No que se refere aos maiores índices de monitoria negativa paterna sofridas pelas
primogênitas, Hertwig et al. (2002) alegam que os primeiros filhos, ao mesmo tempo que
recebem grande investimento dos pais principalmente enquanto ainda são filhos únicos (antes
do nascimento dos irmãos), também podem vir a ser prejudicados com a falta de liberdade e
maiores restrições em certas atividades. É justamente sobre isso que versa a monitoria
negativa: excesso de fiscalização dos pais sobre os filhos, restringindo seu campo de ação
natural. Aqui a hipótese 3 se confirma, embora apenas com relação aos pais; e a hipótese 6
não se confirma, visto que os filhos únicos não pontuaram mais em monitoria negativa do que
os demais, como era esperado.
A monitoria negativa em excesso, ou seja, o controle exagerado com baixo
envolvimento afetivo, está relacionada ao desenvolvimento de psicopatologias como
ansiedade e depressão (Pettit et al. 2001; Gulone et al., 2003; Oldehinkel et al., 2006), que
são fatores de internalização do comportamento (Achenbach, 1991). O fato de ter sido mais
elevada para as meninas primogênitas demonstra a interação entre gênero e ordem de
nascimento. Como La Rosa (1998) apontou em sua pesquisa, as meninas primogênitas de
nível sócio-econômico baixo apresentam maiores índices de ansiedade-estado. Embora não
tenha sido avaliada aqui, a renda pode ter influenciado esse resultado de maneira mais
específica, visto que as classes respondentes da pesquisa variaram nesse quesito, embora o
de forma extrema. Existe a possibilidade das primogênitas serem mais cobradas pelos pais no
98
sentido de ajudar em casa, inclusive cuidando dos irmãos mais novos, como aponta o autor
anteriormente mencionado.
Na realidade, as diferenças encontradas sugerem que os primogênitos apresentam mais
desvantagens com relação aos irmãos por terem apresentado escores mais altos para práticas
negativas. Isso parece contrariar alguns estudos (Sulloway, 1996; Keller & Zach, 2002;
Herrera et al., 2003; Larent & Sebastian, 2005) que sugerem que os primogênitos apresentam
várias vantagens com relação aos demais irmãos, por receberem mais investimento. No
entanto, antes de se chegar a conclusões precipitadas, há de se considerar dois fatores:
1. Inexperiência dos pais. Os pais podem realmente tratar os primogênitos de forma
mais inconsistente e fazerem uso do ‘bater’ de maneira mais freqüente e/ou intensa. Se assim
o for, isso pode acontecer pela inabilidade deles em usar outras estratégias de controle do
comportamento e de interação afetiva com os filhos, justamente por eles ainda não terem tido
experiência prévia como pais (Michalski & Shackelford, 2001).
2. Percepção dos primogênitos. Ao responder o IEP, os participantes primogênitos
podem ter sido mais rígidos e talvez mais extremistas nas suas respostas do que os
respondentes das demais ordens. Shebloski et al. (2005) sugerem que o exatamente os
primogênitos que avaliam o funcionamento familiar de forma mais acurada, percebendo
diferenças do tratamento parental que talvez fossem imperceptíveis ou desconsideradas pelos
irmãos.
Entretanto, além de discutir os resultados que foram estatisticamente diferentes, vale a
pena comentar também outros indicativos encontrados na pesquisa, especialmente as duas
hipóteses restantes com relação ao IEP. A hipótese 4, sobre maiores índices de estilo parental
para caçulas e filhos únicos, foi confirmada tanto para as mães quanto para os pais. Esses
grupos obtiveram os escores mais altos, inclusive iguais quando se referiram às mães, quando
comparados aos primogênitos e do meio. Os primogênitos, devido ao discutido acima,
99
ficaram na última classificação. E os do meio, conforme a hipótese 5, mantiveram-se ‘no
meio’, com valores intermediários entre primogênitos e caçulas/únicos.
Esses dados confirmam o que Hertwig et al. (2002) comentam sobre a divisão do
investimento parental, que aparece nas práticas pelos pais adotadas. Para os autores, os filhos
únicos têm a ‘vantagem’ de receber todo o investimento dos pais, não tendo irmãos com quem
dividir e competir. Os caçulas, embora não sejam filhos únicos, têm grande possibilidade de
serem tratados como tais quando seus irmãos mais velhos estiverem crescidos o suficiente
para não dependerem mais dos pais, ou quando efetivamente saírem de casa. Os autores
também citam essa vantagem para os primogênitos, que são efetivamente únicos aseu(s)
irmão(s) nascerem; entretanto, a presente pesquisa não mostrou diferenças positivas a favor
deles. Por último, Hertwig et al. (2002) justificam que os filhos do meio nunca têm a
oportunidade de serem únicos, pois sempre haverá o irmão mais velho e o mais novo com
quem dividir a atenção e investimentos dos pais, não sendo possível terem uma fase de ‘filhos
únicos’. Realmente, nessa pesquisa, o grupo de filhos do meio obteve índices de estilo
parental intermediários, que indicam que eles não são tratados de forma extrema nem nas
práticas positivas, nem nas negativas.
O estudo dos filhos únicos também necessita de mais investimento de pesquisas, pois
muito pouco é publicado a seu respeito no país. Embora alguns autores (Sulloway, 1996;
Hertwig et al., 2002; Isaacson & Raish, 2002) sugiram que o comportamento dos filhos
únicos em muito se pareça com o dos primogênitos, principalmente enquanto os irmãos não
nascem e quando a diferença de idade entre eles é grande (6 anos ou mais), tudo muda quando
o novo membro chega na família, e por essa experiência o filho único nunca passa. É
interessante saber como é o relacionamento dos filhos únicos em família quando não
irmãos com quem competir pelo amor dos pais.
100
9.2. Percepção da preferência parental
A percepção da preferência parental não chegou a quase 50%, como ocorreu para
Kuperfish (2006), e sim a 28% para mães e 33% para pais do total de participantes. Isso pode
ter ocorrido por uma diferença de amostra, ou pela facilidade dos respondentes em assinalar
‘não’ nas questões referentes ao tema e então não precisar justificar em forma de texto, o que
poderia desmotivar alguns. Mas, como para a autora, houve correspondência entre preferência
materna e paterna nessa pesquisa, isto é, a maioria dos que assinalaram existir preferência
para mães, também o fizeram com relação aos pais.
As meninas, da mesma forma como foram mais rígidas na avaliação dos pais no IEP,
também assinalaram existir preferência parental com mais freqüência do que os meninos, no
que concernem os pais. Para as mães, não houve diferença entre os gêneros. Considerando a
ordem de nascimento, os primogênitos, especialmente meninas, perceberam diferenças no
tratamento parental despendido aos filhos. Esse dado está de acordo com a afirmação de
Shebloski et al. (2005) de que os primogênitos e adolescentes mais velhos percebem mais a
diferença da relação dos pais com os filhos, possivelmente por sentirem mais as mudanças
trazidas pelos novos membros que entram na família.
Talvez o fato de os primogênitos julgarem os irmãos mais novos como preferidos dos
pais, e não eles próprios, possa se dever à diferença do jeito que os pais lidam com os filhos
do ponto de vista desse grupo. Se eles crêem ou efetivamente apanham mais, recebem
conseqüências inconsistentes e são mais cobrados pelos pais do que os irmãos seguintes
podem considerar que justamente o abrandamento dessas práticas seja um fator que revele
favoritismo. Por outro lado, os caçulas também se consideram preferidos pelos pais com mais
freqüência do que os demais (primogênitos e do meio), embora tenham votado nos irmãos
mais velhos e do meio como preferidos, além deles próprios. Para Castro e Souza (1978), os
101
caçulas têm maior auto-estima do que primogênitos e filhos do meio e, se assim o for, esse
fator pode ter sido responsável pela maior contribuição auto-direcionada sobre o favoritismo
desse grupo.
Como muitos estudos apontam (Lummertz & Blaggio, 1986; Levy, 2000; Luchetti,
2000; Magagnin & Kõrbes, 2000; Weber et al., 2003; Moilan, 2007), nessa pesquisa também
foi encontrada associação entre a existência da preferência parental com a percepção do
funcionamento familiar. Os filhos cujos índices de estilo parental foram negativos assinalaram
existir preferência parental com muito mais freqüência do que os que obtiveram índices
positivos. E vale ressaltar que os participantes votaram nos irmãos como preferidos com
muito mais freqüência do que a si mesmos. Isso indica que, quando os filhos recebem ou
sentem o tratamento parental de forma mais negativa, tendem a achar que seus irmãos, e não
eles próprios, são os favoritos dos pais. A esse respeito, Sulloway (1996) e Isaacson e Radish
(2002) afirmam que, em famílias harmoniosas, em que o tratamento parental é
adequadamente dividido entre os filhos, as diferenças entre irmãos devidas à ordem de
nascimento não são fortes.
Com relação aos temas de justificativa para a preferência, as duas categorias mais
votadas foram ‘ordem de nascimento’ e ‘características positivas’. Isso quer dizer que a
posição ordinal do irmão na fratria foi tão relevante quanto as qualidades comportamentais
descritas pelas características positivas, como ser afetuoso, carinhoso, companheiro,
prestativo, inteligente, estudioso. Para Luchetti (2000), a diferenciação que um irmão faz do
outro na avaliação do favoritismo regra-se principalmente através da forma de comunicação
que existe entre a figura parental e o filho julgado preferido. Observando as justificativas dos
participantes sobre o tema, sugere-se que as características positivas contenham em si o
componente de comunicação adequada, visto que eles julgam que a relação entre pais e filhos
seja mais harmoniosa. Entretanto, a diferenciação pela ordem de nascimento ainda carece de
102
explicação, pois ela encobre o que a posição de nascimento contém em si que faz com que os
pais tratem os filhos de forma diferente.
Outro dado interessante levantado nessa pesquisa é que foi a ordem de nascimento, e
não o nero, o fator que mais influenciou a preferência. Para as mães, inclusive, a categoria
de gênero não foi estabelecida por falta de votos dessa qualidade. Para os pais, embora
existente, ela foi pouco votada. Isso vai ao encontro a opinião de outros pesquisadores
(Sulloway, 1996; Hertwig et al., 2002; Isaacson & Radish, 2002; Keller & Zach, 2002), que
atribuem mais importância a diferenças de ordem de nascimento do que ao gênero na
diferenciação do tratamento parental.
9.3. Autodescrição
A discussão sobre a autodescrição considerando os grupos formados nessa pesquisa
foi mais complicada de ser feita, pois faltam referências na literatura que expliquem os
resultados obtidos na pesquisa, além da limitação da questão, que pretendia apenas verificar
se existiam diferenças entre as principais palavras escolhidas na autodescrição. A hipótese 9
da pesquisa, que esperava que os componentes (palavras) fosse semelhantes intra-grupos e
diferentes entre os grupos, foi confirmada em parte, pois apenas entre os fatores formados
essa comparação pôde ser feita. Com relação à hipótese 10, sobre os tipos de palavras e o
valor do índice de estilo parental, não foi encontrada nenhuma associação. No entanto, vale
lembrar que a simplicidade da questão não foi capaz de avaliar autodescrição no sentido de
auto-estima dos adolescentes, o que responderia melhor a hipótese.
O resultado mais visível avaliado na questão 11 diz respeito à diferença de gênero
entre as palavras escolhidas na autodescrição. As meninas diferenciaram-se dos meninos de
maneira significativa, tanto para as características negativas quanto positivas. Esse dado
contraria a pesquisa de Ernst e Angst (1983), que achou correlação mais forte entre os cinco
103
tipos de personalidade (Big Five) e ordem de nascimento do que com o gênero. Segundo os
autores, isso quer dizer que as diferenças de personalidade dadas pelos conceitos do Big Five
não se mostraram fortes com relação ao gênero, e sim com a ordem de nascimento, o que não
foi confirmado nessa pesquisa. Por outro lado, o presente estudo não avaliou a personalidade
em si e, portanto, essa informação deve ser tomada com precaução.
De toda forma, o gênero foi o principal fator de distribuição das palavras, o que indica
que os estereótipos relacionados aos papéis sociais são mais claros na nossa sociedade do que
aqueles relacionados à ordem de nascimento. De fato, os tipos de palavras escolhidas pelos
adolescentes para se autodescreverem foram diferentes, no sentido que as meninas tomaram si
próprias como referência dos comportamentos, enquanto os meninos parecem se apoiar na
opinião dos outros, ou no modo como acham que são vistos por eles. No que se refere à
ordem de nascimento, os fatores que surgiram para ambas as características (positivas e
negativas) foram praticamente os mesmos, com exceção de um, que opôs primogênitos e
caçulas, para as positivas, e primogênitos e do meio, para negativas.
Para as características positivas, o segundo fator opôs filhos únicos e caçulas. As
palavras mais citadas pelos primeiros foram ‘conversador’ e ‘confiante’. Essas palavras
sugerem que os filhos únicos têm certa habilidade social, ao menos, ao conversar, e se
mostram mais auto-confiantes do que os caçulas. Os caçulas, por sua vez, consideram-se
engraçados, fator que também surgiu na comparação deles com os primogênitos, que gerou o
terceiro fator. A característica de divertimento, portanto, foi diferencial para os caçulas ao
serem comparados aos filhos únicos e primogênitos.
No terceiro fator, os primogênitos também sugeriram ter a habilidade de serem
comunicativos, além de companheiros e amorosos. Segundo Sulloway (1996) e Isaacson e
Radish (2002), os primogênitos e os filhos únicos podem apresentar características parecidas
porque os primeiros passam pela experiência dos segundos, ao menos por um tempo. Para
104
eles, os primogênitos são mais auto-confiantes e beis socialmente do que os irmãos mais
novos. Isso também foi sugerido por esses resultados. Os mais novos, todavia, são mais
abertos a novas experiências e mais criativos ao pensarem em estratégias competitivas para
serem favorecidos; nesse sentido, o fato de se considerarem divertidos pode ser uma forma
particular deles se comportarem. Também para Herrera et al. (2003), os caçulas são mais
criativos, emotivos e extrovertidos.
A última dimensão foi composta por filhos únicos e do meio. Os filhos únicos
consideram-se honestos e legais, em maior freqüência, e o padrão de elementos utilizados
denota habilidade comunicativa, por citarem serem calmos, comunicativos e conversadores.
Os filhos do meio também sugerem ter competências sociais nesse fator; entretanto, de outra
forma. As palavras escolhidas (fiel, gentil, atencioso) sugerem uma preocupação em agradar
os outros, no sentido de corresponder expectativas, em ser cooperativo. Para Sulloway (1996),
os filhos do meio são mais flexíveis e comprometidos, demonstrando ter habilidades
diplomáticas. E para Isaacson e Radish (2002), os nascidos em segundo e terceiro lugares
(que equivalem aos do meio, nessa pesquisa), são amigáveis e prestativos.
Para as características negativas, esses mesmos grupos (únicos e do meio) opuseram-
se no segundo fator. Entretanto, a formação dos elementos ficou confusa, pois, ao mesmo
tempo em que os filhos únicos relataram ter certa habilidade social nas características
positivas, eles assinalaram ser tímidos, irritados (e não calmos), e teimosos. Por outro lado,
Sulloway (1996) também aponta que os filhos únicos e os filhos mais novos são mais tímidos
quando comparados aos primogênitos. Para o grupo dos filhos do meio, os elementos foram
mais dispersos e em maior quantidade, o que dificulta a visualização de um padrão de
respostas. De forma um tanto extrema, parece que esse grupo se dividiu entre aqueles que se
consideram desfavorecidos intelectualmente (palavras ‘burro’ e ‘desatento’) e aqueles que
denotam certo ar de superioridade, julgando-se metidos, egoístas e estúpidos.
105
O terceiro fator, que contrapôs os primogênitos dos filhos do meio, revelou mais
consistência com a literatura revisada. Os primogênitos julgaram-se mais mal-humorados e
ciumentos, o que vai ao encontro ao que afirma Sulloway (1996), de que os primogênitos o
mais ciumentos de sua posição, tendo mais tendência a exibir raiva e terem emoções intensas.
Fazendo o contraponto, os filhos do meio julgam-se críticos em alta escala, e também
sensíveis, o que é apoiado por Isaacson e Radish (2002), que dizem que os mais novos são
mais vulneráveis, sensíveis à raiva e à culpa, e que também são detalhistas e perfeccionistas, o
que poderia contribuir para serem mais críticos do que os mais velhos.
Por último, os filhos únicos se diferenciaram dos caçulas. Os primeiros consideram-se
desobedientes e estressados, o que pode apoiar a idéia de Isaacson e Radish (2002) de que eles
fazem birra para conseguirem o que querem, mas também contrariar Herrera et al. (2003), em
cuja pesquisa a desobediência correspondeu mais ao caçulas do que aos únicos. Porém, a
característica ‘ser chato’ apontada pelos filhos únicos concorda com a idéia de que os filhos
únicos são ‘desagradáveis’, segundo a pesquisa de Herrera et al. (2003). Os caçulas, que se
consideram pessimistas, respondões e vingativos, de certa forma correspondem ao modelo de
Isaacson e Radish (2002), quando os autores dizem que os nascidos em quarto (e último)
lugar acham que os outros não o ouvem, sentem-se imaturos, e também têm o humor
insultivo, o que poderia ser ilustrado pela característica ‘respondão’.
Assim, embora esse trabalho não tenha objetivado definir padrões claros de palavras a
serem associadas à ordem de nascimento, ele pôde contribuir para fazer pensar que existem
dados que vêm se repetindo através das pesquisas e que sugerem consistência, mas que
outros muito confusos que necessitam de mais investimento para serem esclarecidos. Alerta-
se a Psicologia, portanto, ao estudo da ordem de nascimento como um fator de peso no
entendimento do ser humano. Para concluir, a Tabela 16 organiza as hipóteses da pesquisa e
suas respectivas correspondências ou não à realidade, de acordo com esse estudo.
106
TABELA 16
Respostas às Hipóteses da Pesquisa
Hipótese
Apoiada?
1. As práticas educativas parentais são diferentes com
relação a meninos e meninas, conforme a ordem de
nascimento
Sim, para pais (diferença meninos e meninas)
2. Os primogênitos, especialmente meninos, sofrem
mais abuso físico (apanharão mais);
Sim, e meninas também, para pais e mães
3. As primogênitas (meninas) sofrem mais monitoria
negativa, ou seja, serão mais cobradas continuamente;
Sim, para pais
4. Os caçulas e filhos únicos apresentam maiores
índices de estilo parental geral (ieps);
Sim, para pais e mães
5. Os filhos do meio apresentam ieps intermediários
(não-extremos);
Sim, para pais e mães
6. Filhos únicos sofrem mais monitoria negativa;
Não
7. Os primogênitos indicam haver preferência parental
com maior freqüência
Sim, para pais
8. Os caçulas são os mais indicados como preferidos
dos pais
Sim, para pais
9. Há componentes (palavras) semelhantes intra-
grupos e diferentes entre-grupos
Sim, dentro dos fatores
10. O tipo de palavra descritora tem relação com o
valor do índice de estilo parental
Não
107
10.
CONCLUSÃO
O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a influência do gênero e da ordem de nascimento
nas relações familiares, especialmente no que diz respeito às práticas educativas parentais.
Também foram levantados dados a respeito da percepção da preferência parental e da
autodescrição dos adolescentes, por serem temas relativos ao principal e que poderiam
contribuir para o campo do desenvolvimento humano dentro da Psicologia.
Conforme a literatura pesquisada, o gênero influencia o tratamento que os pais
dispensam aos filhos especialmente devido à identificação sexual que ocorre. Assim, de
maneira geral as mães se identificam mais com as filhas, e os pais, com os filhos. Embora
esse tenha sido um dado encontrado também nessa pesquisa, ele foi menos proeminente com
relação às mães do que aos pais. Quase não houve diferenças entre meninos e meninas que se
referiram as primeiras, enquanto os pais foram avaliados de forma mais negativa pelas
meninas.
No que se refere à ordem de nascimento, os principais resultados demonstram que
diferenças especialmente entre os filhos primogênitos e os mais novos. Os primogênitos, tanto
meninas quanto meninos, alegaram apanhar mais dos pais, e também sofrer mais com a
punição inconsistente, que é uma prática muito influenciada pelo humor. Isso sugere que os
pais, possivelmente pela inexperiência no novo papel que desempenham, sejam mais
propícios a serem influenciados por variáveis externas que predispõe ao bom ou mau-humor e
comportem-se de forma variável no lar, influenciando diretamente a educação dos filhos. Ao
fazerem isso, a probabilidade de usar o controle físico (bater) eleva-se.
Além disso, as meninas primogênitas alegam sofrer mais com monitoria negativa por
parte dos pais (figura paterna), ou seja, elas consideram que são mais cobradas, recebem
regras repetidamente sem necessidade e têm seu comportamento mais controlado por eles.
108
Essa prática pode aparecer mais na relação dos pais com os primeiros filhos pela expectativa
deles de que os filhos, no caso, as filhas, tenham comportamentos adequados ao que se espera
deles, sejam obedientes e cumpram seu dever de filhos. Esperava-se que essa prática também
aparecesse em maior freqüência para os filhos únicos; entretanto, pelo contrário, foi
demonstrado que eles diferenciam-se dos primogênitos justamente por não serem monitorados
negativamente na mesma intensidade.
Interessante que também foram justamente os primogênitos que acreditam que os pais,
principalmente o pai, têm um filho preferido, e que esse filho não o eles mesmos, mas os
caçulas. Esses, por sua vez, concordam com os irmãos mais velhos ao se auto-elegerem os
preferidos. Para os filhos do meio, a maior quantidade de votos marcou a categoria relativa à
ordem de nascimento. Assim, a posição ordinal de nascimento mostrou-se um fator de peso na
discriminação da preferência parental, muito mais forte do que o gênero.
Com relação às palavras autodescritoras citadas pelos participantes e avaliadas
segundo os fatores resultantes, observa-se que existem indicações de padrões característicos
que diferenciam os grupos segundo o gênero e a ordem de nascimento, embora mais pesquisa
seja necessária a esse respeito para dirimir dúvidas quanto, por exemplo, a habilidade social
de filhos únicos – se têm mais propensão a serem tímidos ou hábeis socialmente, e a
autodescrição dos filhos do meio, pois foram esses grupos que resultaram dados mais
contraditórios.
A interação entre as variáveis (práticas educativas parentais, percepção da preferência
e autodescrição) indica que estão relacionadas de forma a serem moderadas pelo gênero e
ordem de nascimento. Adotando o conceito de Baron & Kenny (1986), o moderador é uma
variável que influencia a direção e/ou força da relação entre uma variável preditora e a
variável resultante e pode mudar a probabilidade de resultados negativos na presença de risco.
109
Dessa forma, o gênero e a ordem de nascimento alteram a forma como os pais e filhos se
comportam numa relação recíproca.
No caso de famílias em que irmãos, especialmente a relação fraternal ganha
visibilidade. Além da relação direta entre pais e filhos, avaliada pelo IEP, a pesquisa também
indicou que a forma como os adolescentes responderam ao instrumento foi fortemente
influenciada pela percepção do favoritismo parental, o que significa que a diferenciação que
eles fazem entre eles próprios e os irmãos contribui para o modo como avaliam os pais. Então,
a competição entre irmãos pelo amor dos pais, como sugere as teorias evolucionistas e
psicológicas, parece realmente ter tanto quanto ou mais força na formação da personalidade
do que o tratamento parental.
Limitações da pesquisa
Toda pesquisa apresenta limitações por fazer um recorte da realidade, e não dar conta
de avaliar o todo ao mesmo tempo. Por isso, vários estudos devem ser desenvolvidos sobre o
mesmo tema a fim de se formar um arcabouço teórico consistente. A presente pesquisa teve o
objetivo de levantar alguns dados e provocar questionamentos aos interessados sobre o tema,
embora seus achados sejam restritos.
Algumas limitações dizem respeito ao número e à forma que os participantes foram
alocados para cada grupo. O mero de filhos do meio e filhos únicos foi menor do que o
esperado, e isso de certa forma empobreceu a análise mais profunda desses grupos. O
tamanho das famílias também variou, e houve famílias em que o segundo filho de uma díade
foi considerado caçula da mesma forma que o terceiro ou quarto das famílias maiores. Para
pesquisas futuras, é interessante que sejam separadas as famílias por número de filhos,
avaliado-as separadamente: como díades, tríades, etc. Cuidar com o sexo dos irmãos também
favorece o controle de variáveis intervenientes. Talvez a desmotivação de certos participantes
de responder as questões abertas da Folha Adicional, embora o espaço dado fosse de apenas
110
duas linhas, possa ter influenciado e diminuído a freqüência positivas de respostas para a
preferência parental. E com relação ao estudo de autodescrição, instrumentos melhor
elaborados, de preferência já validados, podem ser utilizados para melhor apreender possíveis
diferenças entre os grupos.
Sugestões para futuras pesquisas
Os dados coletados nessa pesquisa, embora tenha suas limitações, sinalizam diferenças
no tratamento parental dispensado aos filhos, dependendo do gênero e da ordem de
nascimento. Algumas questões podem ser retomadas pela Psicologia para se ter uma resposta
mais adequada sobre a influência da ordem de nascimento na dinâmica familiar,
especialmente na tentativa de entender as diferenças mais patentes entre primogênitos e
demais filhos que surgiram nessa pesquisa. A principal forma de avaliar isso seria separar o
real tratamento adotado pelos pais na educação dos filhos e a percepção dos filhos sobre ele.
Nesse caso, o mais adequado seria fazer um levantamento de dados/opiniões dos membros
sobre a percepção deles sobre a família, e então comparar essas informações com dados mais
objetivos, como cenas de filmagem que retratam o que de fato acontece ou em situações
estruturadas in loco.
Algumas sugestões para futuras pesquisas estão elencadas a seguir, visto terem sido
consideradas importantes e ainda não esclarecidas:
- Relação entre ordem de nascimento, percepção da preferência parental e auto-estima;
- Tipos de personalidades e ordem de nascimento;
- Habilidades sociais e ordem de nascimento, especialmente para filhos únicos;
- Percepção familiar e filhos gêmeos;
- Psicopatologias e ordem de nascimento;
- QI e ordem de nascimento, pois o Brasil não participa da discussão internacional
sobre esse tema.
111
11.
R
EFERÊNCIAS
Achenbach, T. M. (1991). Manual for the Youth Self-report. Burlington, VT: University of
Vermont.
Alencar, E. M. S. (1982). A criança na família e na sociedade. Petrópolis: Vozes.
Alvarenga, P. & Piccinini, C. (2001). Práticas educativas maternas e problemas de
comportamento em pré-escolares. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(3), 449-460.
Armor, D. J. (2001). On family size and intelligence. American Psychologist, 56(6/7), 521-
522.
Bandeira, M; Goetz, E. R.; Vieira, M. L. & Pontes, F. A. R. (2005). O cuidado parental e o
papel do pai no contexto familiar. In: F. A. R. Pontes; C. M. C. Magalhães; R. S.
C. Brito; W. L. B. Martin. (orgs.). Temas pertinentes à construção da psicologia
contemporânea. (pp. 191-230). Belém: EDUFPa.
Barber, B. K. (1996). Parental psychological control: Revisiting a neglected construct. Child
Development, 65, 1120-1136.
Baron, R. M. & Kenny, D. A. (1986). The moderator-mediator variable distinction in social
psychological research: Conceptual, strategic, and statistical considerations. Journal of
Personality and Social Psychology, 51, 1173–1182.
Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior. Child Development,
37, 887 - 907.
Baumrind, D. (1971). Current patterns of parental authority. Developmental Psychology
Monograph, 4(1), 1-103.
Baumrind, D. (1991). The influence of parenting style on adolescent competence and
substance use. Journal Of Early Adolescence, 11(1), 56-95
Bee, H. (1996). A criança em desenvolvimento. 7
a
. ed. Porto Alegre: Artmed.
Berk, L. E. (1996). Infants, children and adolescents. 2
a
. ed. Illinois State University: Allyn
and Bacon.
Berri, G. (2004). Programa de Intervenção em Práticas parentais para Mães de Adolescentes
em Conflito com a Lei. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em
Psicologia da Infância e da Adolescência. Curitiba - UFPR.
112
Bolsoni-Silva, A. T. & Marturano, E. M. (2002). Práticas educativas e problemas de
comportamento: uma análise à luz das habilidades sociais. Estudos de Psicologia, 7(2),
227-235.
Bowlby, J. (1990). Apego: A natureza do vínculo. 2
ª
ed. São Paulo: Martins Fontes.
Originalmente publicado em 1969.
Bussab, V. S. R. (2000). A família humana vista da perspectiva etológica: natureza ou
cultura? Interação, 4, 9-22.
Bussab, V. S. R. & Ribeiro, F. L. (1998). Biologicamente cultural. In: L. de Souza, M. F. Q.
de Freitas e M. M. P. Rodrigues (orgs). Psicologia - reflexões (im)pertinentes. (pp. 175-
193). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Caracushansky, S. (1972). Ordem de nascimento e alguns aspectos do comportamento
avaliados através de estórias para completar. Tese de doutorado. Universidade de São
Paulo, São Paulo, SP
.
Carvalho, M.C.N. (2003). Efeito das práticas educativas parentais sobre o comportamento
infrator de adolescentes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em
Psicologia da Infância e Adolescência. Curitiba: UFPR.
Carter, B. & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura
para a terapia familiar. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed.
Castro e Souza, Y. (1978). Auto-imagens de adolescentes de Presidente Prudente: Um estudo
exploratório. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
Christenfeld, N. J. S. & Hill, E. A. (1995). Whose baby are you? Nature, 378, 669.
Cole, M. & Cole, S. R. (2003). O desenvolvimento da criança e do adolescente. 4
a
. ed. Porto
Alegre: Artmed.
Costa, F. T.; Teixeira, M. A. P. & Gomes, W. B. (2000). Responsividade e exigência: Duas
escalas para avaliar estilos parentais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(3), 465-473.
Cozby, P. C. (2003). Métodos de pesquisa em ciências do comportamento. São Paulo: Atlas.
Crouter, A. C. & McHale, S. M. (1995). The family context of gender intensification in early
adolescence. Child Development, 66, 37-329.
D´Avila-Bacarji, K. M. L.; Marturano, E. M. & Elias, L. C. (2005). Suporte parental: um
estudo sobre crianças com queixas escolares. Psicologia em Estudo (Maringá), 10(1), 107-
115.
113
Dancey, C. P. & Reidy, J. (2006). Estatística sem matemática para psicologia. Porto Alegre:
Artmed.
Daniel, B.; Featherstone, B.; Hooper, B. & Scourfield, J. (2005). Why gender matters for
every child matters. British Journal of Social Work, 35(8), 1343-1355.
Darling, N, Steinberg,L (1993) Parenting style as a context: An integrative model.
Psychological Bulletin, 113(3), 487-496.
Dodge, K. A.; Pettit, G. S. & Battes, J. E. (1994). Socializations mediators of the relation
between socioeconomic status and child conduct problems. Journal of Child
Development, 65, 649-665.
Darwin, C. (1982). A origem das espécies (Ilustrada). Brasília: Melhoramentos (Ed.
Universidade de Brasília).
Ehrensaft, M. K.; Wasserman, G. A.; Verdelli, L.; Greenwald, S.; Miller, L. S & Davies, M.
(2003). Maternal antisocial behavior, parenting practices, and behavior problems in boys
at risk for antisocial behavior. Journal of Child and Family Studies, 12(1), 27-40.
Eibl-Eibesfeldt, I. (1989). Human ethology. New York: Aldyne de Gruyter.
Ernst, C. & Angst, J. (1983). Birth order: Its influence on personality. Berlin and NY:
Springer-Verlag
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasil.
Fleiss, J. L.; Cohen, J. & Everitt, B. S. (1969). Large sample standard errors of kappa and
weighted kappa. Psychological Bulletin, 72, 323-327.
Fuchs, S. C.; Tavares, M. B.; Fuchs, F. C.; Diligenti, F. Abreu, J. R. P. & Rohde, L. A.
(2004). Características de comportamento do filho único vs filho primogênito e não-
primogênito. Revista Brasileira de Psiquiatria, 26(1), 17-23.
Furtado, E. R. G. (2005). Percepções dos filhos sobre aspectos reais e ideais do cuidado
parental. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.
Gaylord, N. K.; Kitzmann, K. M. & Lockwell, R. L. (2003). Child characteristics as
moderators of the association between family stress and children’s internalizing,
externalizing, and peer rejection. Journal of Child and Family Studies, 12(2), 201-213.
Gershoff, E. T. (2002). Corporal punishment by parents and associated child behaviors and
experiences. Psychological Bulletin, 128, 539-579.
Gil, A. C. (1991). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.
114
Glória, D. M. A. (2005). Relação entre escolaridade e diferenças constitutivas das fratrias.
Paidéia, 15(30), 31-42.
Gomide, P. I. C. (2001). Efeitos das práticas educativas parentais no desenvolvimento do
comportamento anti-social. In: M. L. Marinho & V. E. Caballo (orgs). Psicologia clínica e
da saúde (pp. 33-53). Londrina (Brasil), Granada (Espanha): Uel, Apicsa.
Gomide, P. I. C. (2003). Estilos parentais e comportamento anti-social. In: A. Del Prette & Z.
A. Del Prette (orgs). Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: questões
conceituais, avaliação e intervenção (pp. 21-60). Campinas: Alínea.
Gomide, P.I.C. & Guimarães, A. M. (2003). Efeitos das práticas educativas sobre o
comportamento anti-social em crianças e adolescentes. Relatório de pesquisa
PIBIC/CNPq não publicado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil.
Gomide, P. I. C. (2004). Pais presentes pais ausentes. Petrópolis: Vozes.
Gomide, P. I. C. (2006). Inventário de Estilos Parentais (IEP), modelo teórico, manual de
aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis: Vozes.
Guttmannova, K. (2005). Development of externalizing and internalizing behavior problems
during middle childhood: risk and protective factors. Dissertation Abstracts International,
66, 2-B. (UMI No. AA13166291).
Hastings, P. (2005). Links among gender, inhibition, and parental socialization in the
development of prosocial behavior. Merrill-Palmer Quartely, 51(4), 467-493.
Henry, C.; Robinson, L. C.; Neal, E. A. & Huey, E. L. (2006). Adolescent perceptions of
overall family system functioning and parental behaviors. Journal of Child and Family
Studies, 15(3), 308-318.
Herrera, N. C.; Zajonc, R. B.; Wieczorkowska, G. & Cichomski, B. (2003). Beliefs about
birth rank and their reflection in reality. Journal of Personality and Social Psychology,
85(1), 142-150.
Hertwig, R.; Davis, J. N. & Sulloway, F. J. (2002). Parental investment: how an equity motive
can produce inequality. Psychological Bulletin, 128(5), 728-745.
Isaacson, C. & Radish, K. (2002). The birth order effect: How to better understand yourself
and others. Avon: Adams Media.
Jaffe, N. (2004). The relationship of birth order, parenting styles, and gender on sensation
seeking. Dissertation Abstracts International, 65, 5-B (UMI No. 2682).
Keller, H. (2000). Human parent-child relationships from an evolutionary perspective. Journal
American Behavioral Scientist, 43(6), 957-969.
115
Keller, H. (2003). Ontogeny as the interface between biology and culture. Evolutionary
considerations. In: T. S. Saraswathi (ed.). Cross-cultural perspectives in human
development: theory, research and applications (pp. 102-127). New Delhi: Sage.
Keller, H. (2007). Cultures of infancy. Mahwah, NJ: Erlbaum.
Keller, H. & Zach, U. (2002). Gender and birth order as determinants of parental behaviour.
International Journal of Behavioral Development, 20(2), 177-184.
Kristensen, P. & Bjerkedal, T. (2007). Explaining the relation between birth order and
intelligence. Science, 316, 1717.
Kuperfish, S. (2006). Parental favoritism, self-esteem and locus of control. Dissertation
Abstracts International, 66, 10-B. (UMI No. 5686).
Lamb, M. E. (1997). The role of father in child development. 3ª ed. New York: Willey.
Lamborn, S. D.; Mounts, N. S.; Steinberg, L. & Dornbusch, S. M. (1991). Patterns of
competence and adjustment among adolescents from authoritative, authoritarian,
indulgent and neglectful families. Child Development, 62, 1049-1065.
La Rosa, J. (1996). Lócus de controle, sexo, nível sócio-econômico e ordem de nascimento.
Psico (Porto Alegre), 27(2), 199-212.
La Rosa, J. (1998). Ansiedade, sexo, nível sócio-econômico e ordem de nascimento.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(1), 59-70.
Laurent, B. & Sebastian, R. (2005). Birth order and youth delinquent behaviour: testing the
differential parental control hypothesis in a French representative sample. Psychology,
Crime & Law, 11(1), 73-85.
Levy, S. R. (2000). The influence of sibling relations on adolescent suicidal behavior.
Dissertation Abstracts International, 61, 3-B (UMI N° AAI9967287
).
Lucchetti, A. E. (2000). Children´s perceptions of parental favoritism as mediating the
relationship between discrepant parent-children communication and child outcomes.
Dissertation Abstracts International, 60, 7-A (UMI N° AEH9937082
)
Lummertz, J. G. & Blaggio, A. M. B. (1986). Relações entre autoconceito e nível de
satisfação familiar em adolescentes. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 38(2), 158-166.
Maccoby, E. & Martin, J. (1983). Socialization in the context of the family: Parent-child
interaction. Em: E. M. Hetherington (Org.), Handbook of child psychology. V. 4.
Socialization, personality, and social development. 4ª ed. (pp. 1-101). New York: Wiley.
116
Magagnin, C. & Korbes, J. M. (2000). Autoconceito do adolescente, relacionamento familiar
e limites. Alethéia, 12, 65-81.
Michalski, R. L. & Shackelford, T. K. (2001). Methodology, birth order, intelligence, and
personality. American Psychologist, 56(6/7), 520-521.
Moinlanen, K. L. (2007). The Adolescent Self-Regulatory Inventory: The development of a
questionnaire of short-term and long-term self-regulation. Journal of Youth and
Adolescence, 36(6), 835-848.
Montandon, C. (2005). As práticas educativas parentais e a experiência das crianças.
Educação & Sociedade, 26(91), 485-507.
Muller, R.; Hunter, J. E. & Stollak, G. (1995). The intergenerational transmition of corporal
punishment: a comparison of social learning and temperament models. Child Abuse &
Neglect, 19(11), 1323-1335.
Nurco, D. & Lerner, M. (1996). Vulnerability to narcotic addiction: Family structure and
functioning. Journal of Drug Issues, 26, 1007-1025.
Oldehinkel, A. J.; Veesntra, R.; Ormel, J.; de Winter, A. F. & Verhulst, F. C. (2006).
Temperament, parenting and depressive symptoms in a population sample of
preadolescents. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 47(7), 684-695.
Oliveira, E. A.; Frizzo, G. B. & Marin, A. H. (2000). Atitudes maternas diferenciais para com
meninos e meninas de quatro e cinco anos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(3), 363-371.
Oliveira, A. & Amâncio, L. (2005). A análise fatorial de correspondências no estudo das
representações sociais As representações sociais do suicídio na adolescência. Em: A. S.
Moreira; B. V. Camargo; J. C. Jesuíno & S. M. Nóbrega (Orgs). Perspectivas teórico-
metodológicas em representações sociais (pp. 323 - 362). João Pessoa: UFPB.
Otta, E. (1994). O sorriso e seus significados. Petrópolis: Vozes.
Patterson, G. R.; Reid, J. B. & Dishion, T. J. (1992) Antisocial boys. Eugene: Castalia
Publishing Co.
Pettit, G. S.; Laird, R. D.; Dodge, K. A.; Bates, J. E. & Criss, M. M. (2001). Antecedents and
behavior-problem outcomes of parental monitoring and psychological control in early
adolescence. Child Development, 72(2), 583-598.
Pontes, A. C. F. & Corrente, J. E. (2001). Comparações múltiplas não-paramétricas para
delineamento com um fator de classificação simples. Revista de Matemática e Estatística,
19, 179-197.
117
Ribas, A. F. P. & Seidl de Moura, M. L. (2004). Responsividade materna e teoria do apego:
uma discussão crítica do papel de estudos transculturais. Psicologia: Reflexão e Crítica,
17(3), 315-322.
Ribas, A. F. P.; Seidl de Moura, M. L. & Ribas Junior (2003). Responsividade materna:
levantamento bibliográfico e discussão conceitual. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(1),
137-145.
Rodgers, J. L.; Cleveland, H. H.; van den Oord, E. & Rowe, D. C. (2000). Resolving the
debate over birth order, family size, and intelligence. American Psychologist, 55(6), 599-
612.
Rodrigues, M. M. P. (1998a). Evolução do investimento parental em primatas, o caso do
Homo sapiens. In: L. Souza; M. F. Q. Freitas; M. M. P. Rodrigues (orgs). Psicologia:
reflexões (im)pertinentes (pp. 273-292). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Rodrigues, M. M. P. (1998b). Investimento parental: determinantes biológicos e sociais.
Temas em Psicologia, 6(3), 199-204.
Roelofs, J; Meesters, C.; ter Huurne, M.; Bamelis, L. & Muris, P. (2006). On the links
between attachment style, parental rearing behaviors, and internalizing and externalizing
problems in non-clinical children. Journal of Child and Family Studies, 15(3), 319-332.
Sampaio, I. T. A. & Gomide, P. I. C. (2007). Inventário de estilos parentais (IEP-Gomide,
2006): Percurso de padronização e normatização. Psicologia Argumento, 25(48), 15-26.
Seifer, R.; Sameroff, A. J.; Anagnostopolou, R. & Elias, P. K. (1992). Mother-infant
interaction during the first year: Effects of situation, maternal mental illness, and
demographic factors. Infant Behavior and Development, 15, 405 - 426.
Shebloski, B.; Conger, K. J. & Widaman, K. F. (2005). Reciprocal links among differential
parenting, perceived partiality, and self-worth a three-wave longitudinal study. Journal of
Family Psychology, 19(4), 633-642.
Siegel, S. (1975). Estatística o-paramétrica para ciências do comportamento. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil Ltda.
Stanton, B. F.; Xiaoming, L.; Galbraith, J.; Cornick, G.; Feigelman, S.; Kaljee, L. & Zhou, Y.
(2000). Parental underestimates of adolescente risk behavior: A randomized, controlled
trial of a parental monitoring intervention. Journal of Adolescent Health, 26(1),18-26.
Stattin, H. & Kerr, M. (2000). Parental monitoring: A reinterpretation. Child Development,
71(4), 1072-1085.
Straus, M. A; Sugarman, D. B. & Giles-Sims, J. (1997). Spanking by parents and subsequent
antisocial behavior of children. Arch Pediatric Adolescence Medicine, 151, 761-767.
118
Sulloway, F. J. (1996). Born to rebel: Birth order, family dynamics, and creative lives. New
York: Pantheon Books.
Teixeira, M. A. P.; A. M. & Wottrich, S. H. (2006). Escala de práticas parentais (EPP):
Avaliando dimensões de práticas parentais em relação a adolescentes. Psicologia:
Reflexão e Crítica: 19(3), 433-441.
Trindade, Z. A. & Menandro, M. C. S. (2002). Pais adolescentes: Vivência e significação.
Estudos de Psicologia (Natal), 7(1), 15-23.
Trivers, R. L. (1974). Parent-offspring conflict. American Zoologist, 14, 249-264.
Veenstra, R.; Lindenberg, S.; Oldehinkel, A. J.; De Winter, A. F. & Ormel, J. (2006).
Temperament, environment, and antisocial behavior in a population sample of
preadolescent boys and girls. International Journal of Behavior Development, 30(5), 32-
42.
Voland, E. (1998). Evolutionary ecology of human reproduction. Annual Review of
Anthropology, 27, 347-374.
Wagner, A.; Falcke, D.; Silveira, L. M. B. O.; Mosmann, C. P. (2002). A comunicação em
famílias com filhos adolescentes. Psicologia em Estudo, 7 (1), 75-80.
Wagner, A.; Ribeiro, L. S.; Arteche, A. X. & Bornholdt, E. A. (1999). Configuração familiar
e o bem-estar psicológico de adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12(1), 147-156.
Weber, L. N. D.; Stasiak, G. R. & Brandenburg, O. J. (2003). Percepção da interação familiar
e auto-estima de adolescentes. Alethéia, 17(18), 95-105.
Weber, L. N. D.; Prado, P. M.; Viezzer, A. P. & Brandenburg, O. J. (2004). Identificação de
estilos parentais: o ponto de vista dos pais e dos filhos. Psicologia: Reflexão e Crítica,
17(3), 323-331.
Wendland, J. (2001). A abordagem clínica das interações pais-bebê: perspectivas teóricas e
metodológicas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(1), 45-56.
Wood, J. J.; McLeod, B. D.; Sigman, M.; Hwang, W. C.; Cho, B. C. (2003). Parenting and
childhood anxiety: Theory, empirical findings and feature directions. Journal of
Childhood Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines. 44 (1), 134-151.
Zajonc, R. B. (2001). The family dynamics of intellectual development. American
Psychologist, 56(6/7), 490-496.
119
12.
L
ISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 ALOCAÇÃO ABSOLUTA E RELATIVA DE RECURSOS
PARENTAIS ENTRE OS FILHOS CONSIDERANDO
QUATRO PERÍODOS DE CRESCIMENTO, DE ACORDO
COM A DIVISÃO IGUALITÁRIA (BASEADO EM
HERTWIG, DAVIS & SULLOWAY, 2002).
42
FIGURA 2 CONTRIBUIÇÃO DE CADA CATEGORIA NA
JUSTIFICATIVA DA PREFERÊNCIA PARENTAL (PARA
MÃES E PAIS JUNTOS); N=152.
84
FIGURA 3 DISPOSIÇÃO GRÁFICA DOS DOIS PRIMEIROS
FATORES DA ANÁLISE DE CORRESPONDÊNCIAS
PARA CARACTERÍSTICAS POSITIVAS.
89
FIGURA 4 DISPOSIÇÃO GRÁFICA DOS DOIS PRIMEIROS
FATORES DA ANÁLISE DE CORRESPONDÊNCIAS
PARA CARACTERÍSTICAS.
92
120
13.
L
ISTA DE TABELAS
TABELA 1 DELINEAMENTO DA PESQUISA 52
TABELA 2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 53
TABELA 3 CATEGORIAS QUE DESCREVEM OS TEMAS
REFERENTES À PREFERÊNCIA PARENTAL
63
TABELA 4 MÉDIAS E DESVIOS-PADRÃO DOS IEPS PARA
CADA GRUPO E NO GERAL
67
TABELA 5 INTERVALOS PERCENTÍLICOS
CORRESPONDENTES AOS IEPS BRUTOS
68
TABELA 6 MÉDIAS DOS POSTOS, TESTE U DE MANN-
WHITNEY E H DE KRUSKAL-WALLIS PARA
ORDEM DE NASCIMENTO, REFERENTES À MÃE E
AO PAI
69
TABELA 7 MÉDIAS E TESTE H PARA TODOS OS GRUPOS 72
TABELA 8 PERCENTIS CORRESPONDENTES AOS IEPS
BRUTOS DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA
TODOS OS GRUPOS
74
TABELA 9 COMPARAÇÕES MÚLTIPLAS PARA AS PRÁTICAS
EM QUE HOUVE DIFERENÇAS
77
TABELA 10 PERCEPÇÃO DA PREFERÊNCIA PARENTAL 79
121
TABELA 11 FILHOS PREFERIDOS SEGUNDO OS
RESPONDENTES POR GÊNERO E ORDEM DE
NASCIMENTO
81
TABELA 12 DISTRIBUIÇÃO DOS VOTOS NAS CATEGORIAS DE
PREFERÊNCIA PARENTAL DE ACORDO COM A
ORDEM DE NASCIMENTO, PARA MÃES E PAIS
84
TABELA 13 FREQÜÊNCIAS DAS RESPOSTAS SOBRE
PREFERÊNCIA PARENTAL CONSIDERANDO O
VALOR DO IEP
86
TABELA 14 ANÁLISE FATORIAL DE CORRESPONDÊNCIAS
PARA CARACTERÍSTICAS POSITIVAS
87
TABELA 15 ANÁLISE FATORIAL DE CORRESPONDÊNCIAS
PARA CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS
90
TABELA 16 RESPOSTAS ÀS HIPÓTESES DA PESQUISA 106
122
14.
L
ISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abreviaturas
P Filho primogênito
M Filho do meio
C Filho caçula
F Respondente do sexo feminino
M Respondente do sexo masculino
Pref Filho considerado preferido
Siglas
IEP Inventário de Estilos Parentais
iep Índice de estilo parental
123
15.
APÊNDICES
124
Apêndice A
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Prezado(a) Senhor(a):
Meu nome é Izabela T. A. Sampaio, sou aluna de mestrado em Psicologia da
Universidade Federal de Santa Catarina, e venho por meio deste convidar seu (sua) filho(a) a
participar de uma pesquisa intitulada “Relação Entre Práticas Educativas Parentais,
Gênero e Ordem de Nascimento dos Filhos”. Essa pesquisa tem por objetivo entender como
se caracterizam as práticas de cuidado dos pais com os filhos entre 14 e 17 anos de idade,
especialmente no que diz respeito ao gênero (se menino ou menina) e à ordem de nascimento,
ou seja, se filho único, primogênito, do meio ou caçula. Esse trabalho está sendo desenvolvido
sob orientação do Prof. Dr. Mauro Luiz Vieira.
A participação é voluntária. Caso você aceite que seu (sua) filho(a) participe,
solicito a permissão para que os dados obtidos através do questionário possam ser utilizados
pela pesquisadora. Os dados referentes à identificação do(a) seu(sua) filho(a) não serão
divulgados, e somente os pesquisadores terão acesso a eles. A participação na pesquisa não
oferece riscos ou qualquer tipo de desconforto e poderá ser interrompida a qualquer momento.
Quaisquer dúvidas podem ser esclarecidas pela escola ou através do fone (48) 3721- 8606
(prof. Mauro) e (41) 9134-4883 (Izabela).
Eu, Sr(a) ........................................................................................................................
considero-me informado(a) sobre a pesquisa “Relação entre Práticas Educativas Parentais,
Gênero e Ordem de Nascimento dos Filhos na Segunda-infância”, realizada pela aluna do
Programa de Pós-graduação em Psicologia, e autorizo a participação do(a) meu(minha)
filho(a)......................................................................................................................................... ,
consentindo que os questionários sejam aplicados e utilizados para coleta e análise de dados.
Curitiba, / / 2007.
Assinatura do pai ou responsável
125
Instruções
Por favor, responda as próximas questões sinceramente. Não respostas certas ou erradas, é a sua
opinião que conta. Para as questões de múltipla escolha, faça um X no quadrado ao lado correspondente.
Se tiver dúvidas, chame a pesquisadora.
Izabela Tissot Antunes Sampaio
Apêndice B
Questões
1. Com quem você mora? (não considere irmãos, primos ou outros).
Mãe e pai Pai e madrasta
Só com a mãe Avô e avó
Só com o pai Só com a avó
Mãe e padrasto Outros ___________________________________
2. Qual a maior escolaridade de seus pais, ou da(s) pessoa(s) com quem você mora?
Não alfabetizado Ensino Médio Completo
Ensino Fundamental Incompleto Ensino Superior Incompleto
Ensino Fundamental Completo Ensino Superior Completo
Ensino Médio Incompleto Não sei
3. Você tem irmã(os)?
Sim (passe para a questão 4).
Não
(
passe para a questão 11).
4. Se você respondeu “Sim” na questão anterior, indique abaixo qual a idade e sexo (irmã ou irmão)
dos seus irmã(os).
Irmã anos Irmão anos
Irmã anos Irmão anos
Irmã anos Irmão anos
Irmã anos Irmão anos
5. Na sua opinião, seu pai tem um filho(a) preferido(a)?
Sim (passe para as questões 6 e 7 ).
Não
(
passe para a questão 8).
6. Se sim, quem você acha que é o filho(a) preferido(a) de seu pai?
Eu
Minha irmã mais velha Meu irmão mais velho
Minha irmã do meio Meu irmão do meio
Minha irmã mais nova Meu irmão mais novo
FOLHA ADICIONAL
126
continuação
7. Por que você acha que existe essa preferência de seu pai?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
8. Na sua opinião, sua mãe tem um filho(a) preferido(a)?
Sim (passe para as questões 9 e 10 ).
Não
(
passe para a questão 11).
9. Se sim, quem você acha que é o filho(a) preferido(a) de sua mãe?
Eu
Minha irmã mais velha Meu irmão mais velho
Minha irmã do meio Meu irmão do meio
Minha irmã mais nova Meu irmão mais novo
10. Por que você acha que existe essa preferência de sua mãe?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
11. Escreva três características suas que considere positivas e três que considere negativas.
POSITIVAS 1. __________________________________________________
2. __________________________________________________
3. __________________________________________________
NEGATIVAS 1. __________________________________________________
2. __________________________________________________
3. __________________________________________________
Muito obrigada!!!!
FOLHA ADICIONAL
127
Apêndice C
Justificativas da Percepção da Preferência Materna Segundo as Categorias
1- CARACTERÍSTICAS POSITIVAS:
P Talvez por ela gostar mais do pai da minha irmã e pela gravidez dela ter sido mais fácil”
(F, 15, pref: irmã do meio).
P “Porque elas são as mais novas e elas agradam mais minha mãe (F, 13, pref: irmã do
meio).
P “Porque sou sua companheira e que sou carente de carinho por parte de pai” (F, 14, pref:
eu).
P “Talvez por ser mais responsável que meu irmão, e ela não conseguir controlar meu irmão,
e eu sempre compreendo ela, e meu irmão chega a xingá-la” (F, 15, pref: eu).
P “Porque ela não traz problemas, não é rebelde e é filha do seu marido” (F, 13, pref: irmã
mais nova).
C “Porque eu sou meio levado e meu irmão não” (M, 15, pref: irmão mais velho).
C “Porque ele é o mais carinhoso com ela” (F, 14, pref: irmão do meio).
C “Porque ele foi embora morar com a namorada e tudo é para eles, mas eu nem ligo, eu não
entendo como preferência, e sim ajuda” (M, 15, pref: irmão do meio).
C Pois ela tira notas melhores, se esforça mais e ela é mais séria” (M, 13, pref: irmã mais
velha).
C “Porque ele tira notas melhores que as minhas, mas ela gosta de mim” (M, 13, pref: irmão
mais velho).
C “Porque elas passam os fins de semana sempre juntas, gostam das mesmas coisas... já eu e
minha mãe temos pensamentos diferentes, e ela me critica por isso” (F, 13, pref: irmã mais
velha).
C “Porque ela é mais esperta e responsável” (F, 13, pref: irmã do meio).
C “Porque sou mais obediente que minha irmã, e mais carinhosa” (F, 14, pref: eu).
C “Por ser o mais quietinho e que tira as melhores notas” (F, 15, pref: irmão do meio).
C “Porque minha irmã é mais carinhosa e às vezes tenho a impressão de que elas se dão
melhor” (F, 15, pref: irmã mais velha).
C “Porque ela pensa que minha irmã é perfeita” (F, 15, pref: irmã mais velha).
C “Pelo fato de ela ser mulher e tirar notas maiores e estudar mais” (M, 15, pref: irmã mais
velha).
C “Porque ele é mais estudioso e aplicado” (M, 16, pref: irmão mais velho).
2- ORDEM DE NASCIMENTO:
P “Por meu irmão ser mais novo” (F, 13, pref: irmão mais novo).
P “Por ser mais novo. Um saco!” (F, 13, pref: irmão mais novo).
P “Porque ela é pequena, etc.” (F, 14, pref: irmã mais nova).
P “Porque eu sou mais velha, e sou “escrava” dela” (F, 14, pref: eu).
P “Por ela ser mais nova e precisar de mais atenção para tudo” (F, 15, pref: irmã mais nova).
P “Por ser a mais nova (temos 7 anos de diferença) e não ter tido um pai muito presente na
sua infância (última vez que ele viu minha irmã ela tinha 1 ano e 4 meses)” (F, 13, pref: irmã
mais nova).
P “Acredito por ser a mais nova, ela fica mais tempo com ela, ela é mais companheira” (M,
15, pref: irmã mais nova).
P “Porque ele é mais novo, parece mais frágil, talvez. Não sei” (F, 15, pref: irmão mais
novo).
128
P “Porque minha irmã é pequena” (F, 16, pref: irmã mais nova).
M “Penso que é por ela ser menor, por ela ser a “bebê” da família ela ganha mais atenção, é a
preferida dela” (F, 14, pref: irmã mais nova).
M “Acho que porque ele é o menor de nós que somos mais velhos” (F, 16, pref: irmão mais
novo).
M “Porque é a mais nova. Defende em tudo” (F, 16, pref: irmã mais nova).
M “Porque ele é menor” (F, 16, pref: irmão mais novo).
M “Por ser mais criança, ela precisa de mais atenção” (F, 16, pref: irmã mais nova).
M “Porque foi sua primeira filha, e elas se identificam mais, não é que eu não me com
ela” (F, 13, pref: irmã mais velha).
M “Por ele ser mais novo, e com muitos anos distante de mim, e também por proteger mais
ele” (M, 15, pref: irmão mais novo).
C “Eu sou o mais novo e ela conversa mais comigo” (M, 15, pref: eu).
C “Pois eu sou o caçula” (M, 13, pref: eu).
C “Porque eu sou o mais novo” (M, 14, pref: eu).
C “Por eu ser o filho mais novo” (M, 15, pref: eu).
3- TOLERÂNCIA:
P “Porque ela acha que eu sou muito ruim pra ele porque ele é criança” (F, 16, pref: irmão
mais novo).
P “Pois não lhebroncas quando é necessário/briga menos com ela” (F, 13, pref: irmã mais
nova).
P “Pirralho. Sempre defende ele das coisas que faço” (M, 14, pref: irmão mais novo).
P “Porque ela briga comigo, e sempre quer fazer as coisas com o meu irmão” (F, 15, pref:
irmão mais novo).
P “Porque ela deixa minha irmã fazer muitas coisas que eu nunca fazia com e idade que ela
tem. Mima e protege ela às vezes” (F, 16, pref: irmã mais nova).
M Porque ela sempre a protege e acha desculpas para seus erros” (F, 15, pref: irmã do
meio).
C Porque minha irmã parou de estudar, não trabalha, tem um filho e mora sozinha. Se ela
pede alguma coisa pra minha mãe, ela corre e faz. E eu que estudo, trabalho, ela sempre diz
não, e além que a minha mãe tem que cuidar do filho da minha irmã” (F, 14, pref: irmã mais
velha).
C “Porque ela me compara de maneira que minha mãe me humilha” (M, 13, pref: irmã mais
velha).
4- ATENÇÃO:
P “Porque minha irmã tem muito medo de perder minha mãe, por isso minha mãe gosta mais
dela” (F, 14, pref: irmã mais nova).
P “Porque às vezes aparenta que ela dá mais ateão para ele” (F, 14, pref: irmão mais novo).
P “Porque às vezes ele mais atenção a ela do que a mim, mesmo meu “problema” sendo
maior que o dela” (F, 13, pref: irmã mais nova).
M “Não, penso que ele ganha e sempre ganhou tudo e eu tive que trabalhar sempre pra
conseguir” (M, 16, pref: irmão mais velho).
C “Porque tenho e dou mais atenção pra ela e ajudo mais ela no seu dia-a-dia” (M, 16, pref:
eu).
C “Por meu pai defender mais eu, minha mãe ajuda ele em tudo” (F, 14, pref: irmão mais
velho).
C “Porque ele sempre tem o que quer e eu não” (F, 16, pref: irmão mais velho).
129
5- CONVIVÊNCIA:
P “Porque ela passa mais tempo com ela” (M, 15, pref: irmã mais nova).
P “Porque eu não moro mais com ela, mas meu irmão mora” (F, 15, pref: irmão mais novo).
P “Porque ela convive muito mais comigo do que com minha irmã” (M, 15, pref: eu).
P “Porque meu irmão mais novo mora com ela” (M, 13, pref: irmão mais novo).
P “Por eu ser o que sempre está próximo e ser o mais velho” (M, 15, pref: eu).
M “Porque a minha irmã passa mais tempo em casa e acaba limpando, arrumando...
(cuidando da casa)” (F, 14, pref: irmã mais velha).
M “Primeiro por ser de um pai diferente e depois que ele fica mais tempo em casa” (M, 14,
pref: irmão mais novo).
6- AFINIDADE:
P “Pois eu e minha mãe temos uma relação de mãe e filho (mãe amigona)” (M, 1, 15, pref:
eu).
P “Porque ele é idêntico a ela” (F, 14, pref: irmão mais novo).
M “Porque eu sou mais ligada a ela” (F, 14, pref: eu).
C “Porque os dois conversam mais e ela faz todas as vontades dele(F, 14, pref: irmão mais
velho).
C Porque minha irmã se parece mais com ela, tanto em características físicas e
psicológicas” (F, 16, pref: irmã mais velha).
C “Por elas terem mais contato e mais afinidades” (F, 16, pref: irmã mais velha).
7- OUTROS:
P “Acho que porque eu moro longe dela” (F, 13, pref: eu).
P “Porque minha irmã mais nova não tem pai” (M, 16, pref: irmã mais nova).
C “Porque ela é filha de sangue dela e eu e as outras duas somos adotadas” (F, 17, pref: irmã
mais velha).
C Porque ela confia mais nele do que em mim e minha irmã” (F, 14, pref: irmão mais
velho).
C “Por ser o único menino” (F, 15, pref: irmão do meio).
Legenda:
P: primogênito, M: do meio, C: caçula (para respondentes)
F: feminino, M: masculino (para respondentes)
Número: idade do respondente
pref: filho considerado preferido.
130
Apêndice D
Justificativas da Percepção da Preferência Paterna Segundo as Categorias
1- CARACTERÍSTICAS POSITIVAS:
P “Não sei ao certo, mas porque ela faz tudo direitinho do jeito dele” (M, 15, pref: irmã mais
nova).
P “Pelo jeito que eles me tratam, meu pai principalmente, minha irmã do meio, ela é mais
carinhosa com ele do que eu” (F, 13, pref: irmã do meio).
P “Porque meu irmão é bobinho, chato e inofensivo. Meu pai tem muito ciúmes de mim” (F,
14, pref: irmão mais novo).
P “Talvez porque ela seja melhor ou se preocupa mais com ele do que eu” (F, 14, pref: irmã
mais nova).
P “Porque ela passou num bom colégio e não sei direito por que” (F, 15, pref: irmã do meio).
P “Porque ela puxa muito o saco dele” (F, 14, pref: irmã mais nova).
P “Porque ela é bonita e educada especificamente com ele” (M, 13, pref: irmã mais nova).
P “Porque ele briga comigo quando ele apronta, coloca toda a culpa em mim, “puxa o saco”
dele” (F, 14, pref: irmão mais novo).
P Porque ela é muito mais simpática e meiga com meus pais do que eu” (M, 13, pref: irmã
mais nova).
P “Porque ele sempre faz tudo que ela quer e a chama com apelidos carinhosos” (F, 13, pref:
irmã mais nova).
P “Porque ela é mais esperta e responsável” (F, 13, pref: irmã do meio).
P “Porque sou mais parecida com ele, temos os mesmos pensamentos” (F, 14, pref: eu).
C “Porque sou meio levado e meu irmão não” (M, 15, pref: irmão mais velho).
C “Porque eu sou educada com ele” (F, 14, pref: eu).
C “Ela é mais madura e conversa mais com ele” (M, 15, pref: irmã mais velha).
C “Por ela fazer sempre o que ele manda sem se opor” (F, 15, pref: irmã do meio).
C “Porque nossas semelhanças são muitas e bem visíveis” (M, 15, pref: eu).
C “Porque meu irmão faz o que ele quer, tudo ele é certo e eu sempre sou criticada” (F, 16,
pref: irmão mais velho).
C “Porque ele é mais estudioso e aplicado” (M, 16, pref: irmão mais velho).
C “Porque ela é o orgulho da casa porque é inteligente” (F, 16, pref: irmã mais velha).
2- ORDEM DE NASCIMENTO:
P “Por meu irmão ser mais novo” (F, 13, pref: irmão mais novo).
P “Porque eu nasci primeiro e eu também agrado mais ele” (F, 13, pref: eu).
P “Por ela ser a mais nova, e é a última filha” (F, 15, pref: irmã mais nova).
P “Porque ela é a mais nova” (F, 13, pref: irmã mais nova).
P “Por eu ser o filho mais velho, e ser muito apegado a ele jogando bola e outros esportes”
(M, 13, pref: eu).
P Porque ele diz que nós estamos crescidas (eu e minha irmã do meio)” (F, 14, pref: irmã
mais nova).
P “Não sei, talvez porque ele é mais novo” (M, 15, pref: irmão mais novo).
P “Acredito por ser a mais nova, ela fica mais tempo com ele, ela é mais companheira” (M,
15, pref: irmã mais nova).
P “Porque ela é menor, sendo assim menos preocupação para ele” (F, 16, pref: irmã mais
nova).
M “Penso que é por ela ser menor, por ela ser a “bebê” da família ela ganha mais atenção, é a
131
preferida dele” (F, 14, pref: irmã mais nova).
M “Porque nós somos os mais novos e ficamos mais com eles” (F, 16, pref: eu).
M “Por ser o mais novo e está sempre com ele onde ele vai” (M, 16, pref: irmão mais novo).
M “Porque foi a primeira filha dele, e ele convive mais com ela” (F, 13, pref: irmã mais
velha).
M “Por ele ser novo, e com muitos anos distante de mim” (M, 15, pref: irmão mais novo).
C “Porque eu sou a caçula, e ele faz minhas vontades” (F, 14, pref: eu).
C “Porque eu sou a irmã mais nova” (F, 14, pref: eu).
C Por eu ser o caçula ele me defende mais e as coisas que às vezes eu faço ele fala que é
meu irmão” (F, 14, pref: eu).
C “Pois sou o mais novo” (M, 14, pref: eu).
C Porque sou a mais nova e ele passa muito tempo fora, isso desde pequena” (F, 15, pref:
eu).
3- TOLERÂNCIA:
P “Porque ele muita corda, levo muitas broncas por causa deles e ele nem me escuta,
vem me enchendo o saco, xingando, etc. E sempre defende eles” (F, 14, pref: irmã mais
nova).
P “Sempre dá a razão para ela” (F, 15, pref: irmã mais nova).
P “Pirralho. Sempre defende ele das coisas que faço” (M, 14, pref: irmão mais novo).
P “Ele tudo que meu irmão quer mesmo fazendo coisas erradas e eu o ganho mesmo
fazendo coisas boas” (M, 15, pref: irmão mais novo).
P “Porque ele é mais autoritário e agressivo com meu irmão do que comigo” (F, 15, pref: eu).
P “Ele faz as coisas erradas e meu pai às vezes não faz nada, diz para deixar quieto porque
ele é criança” (F, 16, pref: irmão mais novo).
M “Ele a favorece em alguns aspectos. Cobra de mim coisas que ele não cobra dela” (F, 14
pref: irmã mais nova).
C “Porque eu brigo com ele e ele não fala nada. Quando minha irmã fala alguma coisa ele
briga muito com ela” (F, 14, pref: eu).
C Pois mesmo que todos digam que a razão é minha, ela insiste em dizer que minha irmã
está certa” (M, 13, pref: irmã do meio).
4- ATENÇÃO:
P “Não sei direito, ele nunca teve atenção, carinho, compreensão comigo e isso me deixa
muito triste” (F, 14, pref: irmão mais novo).
P “Porque ela es fazendo várias descobertas, o que pode impressioná-lo, e acaba dando
mais atenção a ela” (M, 14, pref: irmã mais nova).
P “Porque às vezes ele mais atenção a ela do que a mim, mesmo meu “problema” sendo
maior que o dela” (F, 13, pref: irmã mais nova).
P “Porque se ele realmente me adorasse/amasse ele iria tentar se comunicar comigo ou pelo
menos tentar me visitar” (F, 13, pref: irmã mais nova).
P “Porque ela faz tudo que eu peço e do jeito que eu quero” (F, 15, pref: eu).
M “Pela atenção maior que ele a elas, às vezes preferência em algumas situações” (F,
16, pref: irmã mais velha).
M “Porque para todas as outras filhas ele briga, ou não está nem aí, mas eu e o meu irmão ele
está sempre implicando, falando, protegendo” (F, 13, pref: eu).
M “Porque ele tem mais zelo comigo e sempre me chama para acompanhá-lo em tudo que
pode” (F, 15, pref: eu).
M “Pois desde pequena ele mais atenção a ela como também mostra-se mais preocupado”
(F, 16, pref: irmã mais nova).
132
C “Porque ele mais atenção para ela. Na verdade, tudo que ela quer ele dá, e para mim é
sempre os restos dela” (F, 17, pref: irmã do meio).
5- CONVIVÊNCIA:
P “Porque eu não moro com ele e minha irmã, sim. Ele convive mais com ela que comigo, e
ele nem lembra quantos anos eu tenho” (F, 13, pref: irmã mais nova).
P “Porque ele convive muito mais comigo do que com minha irmã” (M, 15, pref: eu).
M Porque ele convive mais com ela e porque ela sempre faz tudo certo” (F, 13, pref: irmã
mais velha).
M “Não sei bem certo, mas penso que é pela convivência” (F, 16, pref: irmã mais nova).
C “Porque meus irmãos são filhos do seu primeiro casamento e moram em Londrina” (M, 15,
pref: eu).
C Por ter convivido com ela por mais tempo, pois logo que eu nasci meus pais se
separaram” (F, 14, pref: irmã mais velha).
6- AFINIDADE:
P “Por afinidade” (F, 16, pref: irmão mais novo).
M Porque eu sempre fui a mais apegada com ele, eu adoro ele e ele me adora” (F, 14, pref:
eu).
C “Porque depois que minha mãe morreu meu irmão se grudou a ele” (M, 14, pref: irmão do
meio).
C “Porque ele teve alguns desentendimentos com a minha irmã e geralmente estamos mais
próximos do que ele e a minha irmã” (F, 15, pref: eu).
7- GÊNERO:
P “Porque ele é menino, sempre está defendendo ele, ele joga futebol, etc.” (F, 14, pref:
irmão do meio).
P “Porque o meu irmão é menino” (F, 14, pref: irmão mais novo).
P “Porque ele é menino” (F, 14, pref: irmão mais novo).
P “Por ser o primeiro filho menino e conviver mais com ele” (F, 16, pref: irmão do meio).
C “Porque ele sempre quis ter uma menina e eu fui a única” (F, 14, pref: eu).
C “Porque sou o único filho homem” (M, 13, pref: eu).
C “Porque ela é garota” (M, 13, pref: irmã mais velha).
C “Porque meu pai queria muito uma menina, e quando eu nasci ele começou a gostar mais
de mim” (F, 15, pref: eu).
8- OUTROS:
P “Porque minha irmã é por parte de pai e ela mora com os avôs dela” (F, 14, pref: irmã
mais nova).
P “Por ser filho dele (padrasto)” (F, 13, pref: irmão mais novo).
P “Porque eu não o suporto” (M, 13, pref: irmã mais nova).
P “Porque é filha de sangue dele” (F, 13, pref: irmã mais nova).
M “Porque eu moro longe dele” (F, 16, pref: eu).
Legenda:
P: primogênito, M: do meio, C: caçula (para respondentes)
F: feminino, M: masculino (para respondentes)
Número: idade do respondente
pref: filho considerado preferido
133
10.
ANEXOS
134
Anexo A
INVENTÁRIO DE ESTILOS PARENTAIS - IEP
Paula Inez Cunha Gomide
O objetivo deste instrumento é estudar a maneira utilizada pelos pais na educação de
seus filhos. Não existem respostas certas ou erradas. Responda cada questão com sinceridade
e tranqüilidade. Suas informações serão sigilosas. Escolha, entre as alternativas abaixo,
aquelas que mais refletem a forma como sua mãe o (a) educa.
Identificação
Nome: ________________ Idade____________
Escolaridade:________________ Sexo: ( ) m ( )f
Responda a tabela abaixo fazendo um X no quadrinho que melhor indicar a freqüência com
que sua MÃE age nas situações abaixo relacionadas; mesmo que a situação descrita nunca
tenha ocorrido, responda considerando o possível comportamento de sua Mãe naquelas
circunstancias.
Utilize a legenda de acordo com o seguinte critério:
NUNCA: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 0 a 2 vezes.
ÀS VEZES: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 3 a 7 vezes.
SEMPRE: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 8 a 10 vezes.
135
Entre 10 episódios
8 a 10 3 a 7 0 a 2
Sempre Às vezes Nunca
1. Quando saio conto a ela espontaneamente aonde eu
vou.
2. Ela me ensina a devolver objetos ou dinheiro que não
me pertencem.
3. Quando faço algo errado, a punição de minha mãe é
mais severa dependendo de seu humor.
4. O trabalho de minha mãe atrapalha sua atenção para
comigo.
5. Ela ameaça que vai me bater ou castigar e depois nada
acontece.
6. Ela critica qualquer coisa que eu faça, como o quarto
estar desarrumado ou estar com os cabelos
despenteados.
7. Ela me bate com cinta ou outros objetos.
8. Ela pergunta como foi meu dia na escola e me ouve
atentamente.
9. Se eu colar na prova ela me explica que é melhor tirar
nota baixa do que enganar a professora ou a mim
mesmo (a).
10. Quando ela está alegre o se importa com as coisas
erradas que eu faça.
11. Sinto dificuldades em contar meus problemas para ela,
pois vive ocupada.
12. Quando ela me castiga, peço para sair do castigo, e
após um pouco de insistência, ela deixa.
13. Quando saio, ela telefona atrás de mim muitas vezes.
14. Tenho muito medo de apanhar dela.
15. Quando estou triste ou aborrecido (a), ela se interessa
em me ajudar a resolver o problema.
16. Quando estrago alguma coisa de alguém, ela me
ensina a contar o que fiz e pedir desculpas.
17. Ela me castiga quando es nervosa; assim que passa a
raiva, pede desculpas.
18. Fico sozinho (a) em casa a maior parte do tempo.
19. Durante uma briga eu xingo ou grito com ela e, então,
ela me deixa em paz.
20. Ela controla com quem falo ou saio.
21. Fico machucado (a) quando ela me bate.
22. Mesmo quando está ocupada ou viajando, me telefona
para saber como estou.
23. Ela me aconselha a ler livros, revistas ou ver
programas de TV que mostrem os efeitos negativos do
uso de drogas.
24. Quando ela está nervosa acaba descontando em mim.
25. Sinto que ela não me dá atenção.
26. Quando ela me manda estudar, arrumar o quarto ou
voltar para casa, e não obedeço, ela “deixa pra lá”.
27. Especialmente nas horas das refeições, ela fica dando
as “broncas”.
28. Sinto ódio de minha mãe quando ela me bate.
1
36
29. Após uma festa ela quer saber se me diverti.
30. Ela conversa comigo sobre o que é certo ou errado no
comportamento dos personagens dos filmes e dos
programas de TV.
31. Ela é mau-humorada.
32. Ela ignora o que eu gosto.
33. Ela avisa que não vai me dar um presente caso não
estude, mas, na hora H”, ela fica com pena e o
presente.
34. Se vou a uma festa ela somente quer saber se bebi, se
fumei ou se estava com aquele grupo de maus -
elementos.
35. Ela é agressiva comigo.
36. Ela estabelece regras (o que pode e o que não pode ser
feito) e explica as suas razões sem brigar.
37. Ela conversa sobre meu futuro trabalho mostrando os
pontos positivos ou negativos da minha escolha.
38. O mau humor dela impede que eu saia com os amigos.
39. Ela ignora meus problemas.
40. Quando fico muito nervoso (a) em uma discussão ou
briga, e, percebo, que isto amedronta minha mãe.
41. Se estiver aborrecido(a) ela fica insistindo para eu
contar o que aconteceu, mesmo que eu não queira
contar.
42. Ela é violenta.
137
Anexo B
INVENTÁRIO DE ESTILOS PARENTAIS - IEP
Paula Inez Cunha Gomide
O objetivo deste instrumento é estudar a maneira utilizada pelos pais na educação de
seus filhos. Não existem respostas certas ou erradas. Responda cada questão com sinceridade
e tranqüilidade. Suas informações serão sigilosas. Escolha, entre as alternativas abaixo,
aquelas que mais refletem a forma como seu pai o (a) educa.
Identificação
Nome: ________________ Idade____________
Escolaridade:________________ Sexo: ( ) m ( )f
Responda a tabela abaixo fazendo um X no quadrinho que melhor indicar a freqüência com
que sua MÃE age nas situações abaixo relacionadas; mesmo que a situação descrita nunca
tenha ocorrido, responda considerando o possível comportamento de sua Mãe naquelas
circunstancias.
Utilize a legenda de acordo com o seguinte critério:
NUNCA: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 0 a 2 vezes.
ÀS VEZES: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 3 a 7 vezes.
SEMPRE: se, considerando 10 episódios, ela agiu daquela forma entre 8 a 10 vezes.
138
Entre 10 episódios
8 a 10 3 a 7 0 a 2
Sempre Às vezes Nunca
1. Quando saio conto a ele espontaneamente aonde eu
vou.
2. Ele me ensina a devolver objetos ou dinheiro que não
me pertencem.
3. Quando faço algo errado, a punição de meu pai é mais
severa dependendo de seu humor.
4. O trabalho de meu pai atrapalha sua atenção para
comigo.
5. Ele ameaça que vai me bater ou castigar e depois nada
acontece.
6. Ele critica qualquer coisa que eu faça, como o quarto
estar desarrumado ou estar com os cabelos
despenteados.
7. Ele me bate com cinta ou outros objetos.
8. Ele pergunta como foi meu dia na escola e me ouve
atentamente.
9. Se eu colar na prova ele me explica que é melhor tirar
nota baixa do que enganar a professora ou a mim
mesmo (a).
10. Quando ele está alegre o se importa com as coisas
erradas que eu faça.
11. Sinto dificuldades em contar meus problemas para ele,
pois vive ocupado.
12. Quando ele me castiga, peço para sair do castigo, e
após um pouco de insistência, ele deixa.
13. Quando saio, ele telefona atrás de mim muitas vezes.
14. Tenho muito medo de apanhar dele.
15. Quando estou triste ou aborrecido (a), ele se interessa
em me ajudar a resolver o problema.
16. Quando estrago alguma coisa de alguém, ele me
ensina a contar o que fiz e pedir desculpas.
17. Ele me castiga quando está nervoso; assim que passa a
raiva, pede desculpas.
18. Fico sozinho(a) em casa a maior parte do tempo.
19. Durante uma briga eu xingo ou grito com ele e, então,
ele me deixa em paz.
20. Ele controla com quem falo ou saio.
21. Fico machucado (a) quando ele me bate.
22. Mesmo quando está ocupado ou viajando, me telefona
para saber como estou.
23. Ele me aconselha a ler livros, revistas ou ver
programas de TV que mostrem os efeitos negativos do
uso de drogas.
24. Quando ele está nervoso acaba descontando em mim.
25. Sinto que ele não me dá atenção.
26. Quando ele me manda estudar, arrumar o quarto ou
voltar para casa, e não obedeço, ele “deixa pra lá”.
27. Especialmente nas horas das refeições, ele fica dando
as “broncas”.
28. Sinto ódio de meu pai quando ele me bate.
139
29. Após uma festa ele quer saber se me diverti.
30. Ele conversa comigo sobre o que é certo ou errado no
comportamento dos personagens dos filmes e dos
programas de TV.
31. Ele é mau-humorado.
32. Ele ignora o que eu gosto.
33. Ele avisa que não vai me dar um presente caso não
estude, mas, na hora H”, ele fica com pena e o
presente.
34. Se vou a uma festa ele somente quer saber se bebi, se
fumei ou se estava com aquele grupo de maus -
elementos.
35. Ele é agressivo comigo.
36. Ele estabelece regras (o que pode e o que não pode ser
feito) e explica as suas razões sem brigar.
37. Ele conversa sobre meu futuro trabalho mostrando os
pontos positivos ou negativos da minha escolha.
38. O mau humor dele impede que eu saia com os amigos.
39. Ele ignora meus problemas.
40. Quando fico muito nervoso (a) em uma discussão ou
briga, percebo que isto amedronta meu pai.
41. Quando estou aborrecido(a) ele fica insistindo para eu
contar o que aconteceu, mesmo que eu não queira
contar.
42. Ele é violento.
140
Anexo C
FOLHA DE RESPOSTA: MÃE
2 = SEMPRE 1 = ÀS VEZES 0 = NUNCA
VARIÁVEIS
QUESTÕES
A. Monitoria Positiva 1 8 15 22 29 36 A
B. Comportamento Moral 2 9 16 23 30 37 B
C. Punição Inconsistente 4 11 18 25 32 39 D
D. Negligência 3 10 17 24 31 38 C
E. Disciplina Relaxada 5 12 19 26 33 40 E
F. Monitoria Negativa 6 13 20 27 34 41 F
G. Abuso Físico 7 14 21 28 35 42 G
Índice de Estilo Parental = ( A + B ) - ( C + D + E + F + G ) =
FOLHA DE RESPOSTA: PAI
2 = SEMPRE 1 = ÀS VEZES 0 = NUNCA
VARIÁVEIS
QUESTÕES
A. Monitoria Positiva 1 8 15 22 29 36 A
B. Comportamento Moral 2 9 16 23 30 37 B
C. Punição Inconsistente 4 11 18 25 32 39 D
D. Negligência 3 10 17 24 31 38 C
E. Disciplina Relaxada 5 12 19 26 33 40 E
F. Monitoria Negativa 6 13 20 27 34 41 F
G. Abuso Físico 7 14 21 28 35 42 G
Índice de Estilo Parental = ( A + B ) - ( C + D + E + F + G) =
141
Anexo D
Dados normativos das práticas maternas
Percentis
IEP
monitoria
positiva
comportamento
moral
abuso
físico
negli-
gência
monitoria
negativa
punição
inconsistente
disciplina
relaxada
99 19 12 12 0 0 1 0 0
95 15 12 12 0 0 2 0 0
90 13 12 12 0 0 3 1 0
85 12 12 11 0 0 3 1 1
80 11 12 11 0 1 4 2 1
75 9 11 11 0 1 4 2 2
70 8 11 11 0 1 4 2 2
65 7 11 10 0 1 5 2 2
60 6 11 10 0 1 5 3 2
55 5 10 10 0 2 5 3 3
50 4 10 9 0 2 5 3 3
45 3 10 9 1 2 6 4 3
40 2 10 9 1 2 6 4 3
35 1 9 8 1 3 6 4 4
30 0 9 8 1 3 7 5 4
25 -2 8 7 1 3 7 5 4
20 -3 8 7 2 4 7 5 5
15 -6 7 6 2 4 8 6 5
10 -9 7 5 3 5 8 7 6
5 -14 6 4 5 7 9 8 7
1 -22 3 2 8 10 11 9 10
Média 2,97 9,83 8,87 1,05 2,37 5,54 3,58 3,19
Desvio
padrão
8,79 2,41 2,49 1,68 2,17 2,27 2,26 2,21
Dados normativos das práticas paternas
Percentis
IEP
monitoria
positiva
comportamento
moral
abuso
físico
negli-
gência
monitoria
negativa
punição
inconsistente
disciplina
relaxada
99 20 12 12 0 0 0 0 0
95 15 12 12 0 0 1 0 0
90 13 12 12 0 0 2 0 0
85 12 12 11 0 1 2 1 0
80 10 11 11 0 1 2 1 1
75 9 11 11 0 1 3 1 1
70 8 11 10 0 1 3 2 1
65 7 10 10 0 2 4 2 2
60 6 10 10 0 2 4 2 2
55 5 10 9 0 2 4 3 2
50 4 9 9 0 2 4 3 3
45 3 9 8 1 3 5 3 3
40 2 8 8 1 3 5 4 3
35 0 8 8 1 3 5 4 3
30 -2 7 7 1 4 6 4 4
25 -3 7 6 2 4 6 5 4
142
20 -6 6 6 2 5 7 5 4
15 -8 5 5 3 6 7 6 5
10 -11 4 4 4 7 8 6 6
5 -16 3 3 6 8 9 7 7
1 -25 2 0 8 11 10 10 9
Média 2,18 8,61 8,33 1,22 3,07 4,54 3,18 2,76
Desvio
padrão
9,56 2,93 2,99 1,94 2,56 2,36 2,35 2,23
Fonte: Gomide (2006) e Sampaio e Gomide (2007).
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo