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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA ESPANHOLA E
LITERATURAS ESPANHOLA E HISPANO-AMERICANA
Estruturas transitivas com os verbos dar e vender nos
documentos notariais castelhanos dos séculos XII e XIII
Erick de Aquino Santana
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Língua e Literatura
Espanhola e Hispano-Americana do
Departamento de Letras Modernas da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo,
para a obtenção do título de Mestre em
Letras.
Orientadora: Mirta María Groppi Asplanato de Varalla
São Paulo
2008
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2
AGRADECIMENTOS
A conclusão desse trabalho não foi resultado do esforço de apenas
uma pessoa, mas sim da colaboração, do companheirismo e da motivação de
todos aqueles que nele acreditaram e que me incentivaram a seguir em frente.
Demonstro gratidão à minha família, especialmente a meus pais, pelo
exemplo de amor, determinação, ética e valorização da educação. A
preocupação constante pela manutenção de um ambiente familiar agradável e
o apoio constante e irrestrito foram elementos essenciais, sem os quais esse
trabalho dificilmente se completaria.
À Mariana, minha grande companheira, que dividiu muito de seu
tempo com essa dissertação, ficando em relativa desvantagem, estando, no
entanto, sempre presente.
Sou imensamente grato à professora doutora Mirta María Groppi
Asplanato de Varalla, pelos quase cinco anos de trabalho, desde os tempos da
graduação em Letras. Seu otimismo, conhecimento, boa vontade, dedicação,
comprometimento com o desenvolvimento da pesquisa lingüística, orientações
precisas e muitas outras qualidades deram base e sustentação a esse
trabalho, cujos erros de qualquer natureza devem ser a mim atribuídos.
Aos professores doutores Maria Teresa Celada, Neide Teresinha
Maia González, Isabel Gretel Eres Fernández, María Zulma Moliondo
Kulikowski, Ataliba Teixeira de Castilho, Magdalena Coll, Valter Kehdi, por, de
alguma maneira, terem contribuído nessa produção.
À Rosa Justo, que me substituiu em um período de licença para que
eu pudesse finalizar o trabalho, auxílio esse fundamental.
Ao Pueri Domus Escola Experimental e a todos os colegas que me
apoiaram, em especial aos da área de Espanhol.
À Nilde e a Elza, pela leitura atenta dos originais e revisão de texto.
A todos os demais, que igualmente me apoiaram
, muito obrigado.
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3
RESUMO
Palavras – chave:
Lingüística Histórica
;
Língua Espanhola
;
Sintaxe
Este trabalho foca seu estudo nas estruturas transitivas dos verbos dar
e vender, presentes nos documentos notariais castelhanos dos séculos XII e
XIII, das antigas regiões de Castela do Norte, Burgos, Rioja (Alta e Baixa) e
Toledo, transcritos diretamente dos originais por Ramón Menéndez Pidal.
A partir da leitura dos documentos, foi possível formar um corpus
composto por fragmentos de todas as regiões e dos dois séculos, com a
presença dos verbos dar e/ou vender e todos os seus complementos (diretos
e/ou indiretos). Para a identificação dos objetos direto e indireto, usamos o
critério da proporcionalidade dos objetos pelos pronomes lo(s), la(s) / le(s),
respectivamente.
Como suporte teórico ao estudo das estruturas transitivas, apoiamo-
nos nos estudos funcionalistas de Hopper e Thompson (1980) e Alarcos
Llorach (1994), para quem a determinação da transitividade não depende
somente do verbo, mas de toda a complementação verbal, de modo a
considerar que não há verbos transitivos, mas estruturas verbais transitivas.
A análise dos fragmentos possibilitou a identificação de 18 estruturas
diferentes, reunidas em quatro grandes grupos de estruturas sintáticas:
Grupo 1 – Estruturas presentes nos dois grupos;
Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos;
Grupo 3 – Estruturas topicalizadas;
Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo dar.
O uso do objeto indireto com a preposição a ainda não estava definido,
havendo no período muitos casos de ausência dessa preposição.
As regiões de Castela do Norte e Toledo foram as únicas que
apresentaram construções de tópico, com todos os casos situados no século
XIII.
Em relação à presença do latim medieval hispânico nos documentos,
encontramos diversos fatores que mostram a integração entre a tradição latina
e o falar romance, resultando em textos com a presença tanto de elementos
castelhanos quanto de elementos latinos, tais como o pronome dativo uobis ao
lado de a uobis.
4
ABSTRACT
Key words:
Historical Linguistics
;
Spanish Language
;
Syntax
This paper focus its analysis on transitive structures of the verbs dar
(give) and vender (sell), present in Castilian Notarial documents from the 12
th
and 13
th
centuries, from old regions of North Castela, Burgos, High and Low
Riojas and Toledo, trasnscribed directly from the originals by Ramón
Menéndez Pidal.
From the reading of those documents, it was possible to form a corpus
made up of fragments from all regions and from the two centuries with the
verbs dar and / or vender and all their complements. To identify the direct and
indirect objects, we used the criterion of proportion of complements set by the
pronouns lo(s), la(s), / le(s), respectively.
We based the study of transitive structures on the principles proposed by
Hopper and Thompson (1980), two functionalists, and Alarcos Llorach (1994),
to whom the determination of transitivity doesn´t depend only on the verbs, but
on the whole verbal complementation, so that there are no transitive verbs, but
rather, transitive verbal structures.
The analysis of the fragments made the identification of 18 different
structures possible, gathered in four big groups of syntactic structures:
Group 1 – Structures present in the two groups;
Group 2 – Structures with Latin verbal complements;
Group 3 – Topic structures;
Group 4 – Specific structures with the verb “dar”.
The usage of the indirect complement with the preposition “a” wasn´t
defined yet, what, in this period, justifies the many cases in which the
preposition doesn´t occur.
The regions of North Castela, Burgos and Toledo were the only ones
which presented topic constructions, all of them occurring in the 13
th
century.
In relation to the existence of the Spanish Medieval Latin in the
documents, we find several factors that show the interaction between the Latin
tradition and the spoken Romance, resulting in texts with Castilian as well as
Latin elements, such as the dative pronoun uobis coexisting with a uobis.
5
LISTAS
ABREVIATURAS
ODSN (objeto direto representado por um sintagma nominal);
OD pro (objeto direto representado por um pronome);
ODSN ACUSATIVO (objeto direto representado por um sintagma
nominal com desinência de caso acusativo latino);
OISN (objeto indireto representado por um sintagma nominal);
OI pro (objeto indireto representado por um pronome);
OISN DATIVO (objeto indireto representado por um sintagma
nominal com desinência de caso dativo latino).
TABELAS
Tabela 1 – Parâmetros de transitividade
Parâmetros Alta transitividade Baixa transitividade
Participantes Dois ou mais
participantes
Um participante
Kinesis Ação Não ação
Aspecto do verbo Perfectivo Não perfectivo
Pontualidade da ação
verbal
Pontual Não pontual
Intencionalidade do
sujeito (volicionality)
Intencional Não intencional
Polaridade da oração Afirmativa Negativa
Modo verbal Realis (modo
indicativo)
Irrealis (modo
subjuntivo)
Agentividade do
sujeito
Agentivo Não-agentivo
Afetamento do objeto Afetado Não afetado
Individuação do
objeto
Individuado Não-individuado
6
Tabela 2 – Distribuição das construções por região e período – Verbo
Dar
Tabela 3 – Distribuição das construções por região e período – Verbo
Vender
Distribuição das construções por região e período
VERBO DAR
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
2.1
2.2
2.3
2.4
3.1
3.2
3.3
3.4
4.1
4.2
4.3
4.4
Período
Castilla
del
Norte
2 6 1 1 XII
1 1 1 XIII
Burgos 1 XII
1 1 6 5 2 3 1 1 1 XIII
Rioja
Alta
XII
3 1 2 XIII
Rioja
Baja
XII
1 1 1 XIII
Toledo 2 3 2 2 XII
2 4 1 1 XIII
Total 9 8 16 10 2 4 1 0 0 0 3 0 2 1 1 1 1 2
Distribuição das construções por região e período
VERBO VENDER
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
2.1
2.2
2.3
2.4
3.1
3.2
3.3
3.4
4.1
4.2
4.3
4.4
Período
Castilla
del
Norte
XII
7 1 XIII
Burgos
XII
1 10 1 1 2 2 XIII
Rioja
Alta
1 XII
1 4 1 XIII
Rioja
Baja
XII
1 0 1 1 XIII
Toledo
1 4 1 XII
XIII
Total 2 1 26 1 2 1 0 4 2 1 0 1 0 0 0 0 0 0
7
Tabela 4 – Grupo 1 – Estruturas sintaticamente semelhantes
nos dois verbos
Tabela 5 – Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos
Grupo 1 –
Estruturas sintaticamente semelhantes nos dois verbos
Número de ocorrências
Dar Vender
1.1 - verbo + ODSN + OISN
9 2
1.2 - verbo + OISN + ODSN
8 1
1.3 – verbo + OI pro (auos) + ODSN 16 26
1.4 – verbo + OI pro (vos) + ODSN 10 1
1.5 – ODSN + verbo + auos
2 2
1.6 - ODSN + OI pro (uos) + verbo
4 1
Total de ocorrências
49 33
Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos
Número de ocorrências
Dar Vender
2.1 – dar + a uobis + ODSN
1 0
2.2 – vender + uobis + ODSN
0 4
2.3 – vender + uobis + ODSN
ACUSATIVO
0 2
2.4 – vender + ODSN ACUSATIVO +
OISN DATIVO
0 1
Total de ocorrências 1 7
8
Tabela 6 – Grupo 3 – Estruturas Topicalizadas
Tabela 7 – Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo Dar
Grupo 3 – Estruturas topicalizadas
Dar Vender
3.1 – ODSN + dar + OISN
3 0
3.2 – OI pro (uos) + vender + OI pro
(auos)
0 1
3.3 – OI pro (uos) + dar + ODSN 2 0
3.4 - OI pro (uos) + OD pro (clítico) +
dar
1 0
Total de ocorrências 6 1
Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo DAR
Dar Vender
4.1 – dar + ODSN + OI pro (auos)
1 0
4.2 – dar + OI pro (uos) + OD pro
(clítico)
1 0
4.3 – dar + OD pro (clítico) + OI pro
(auos)
1 0
4.4 – dar + OI pro (clítico les) + ODSN
2 0
Total de ocorrências 5 0
9
Tabela 8 - Estruturas presentes na região de Castela
Estruturas presentes na região de Castela
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 2
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
6 7
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
1
3.1 – ODSN + dar + OISN
1
3.2 – OI pro (uos) + vender + OI
pro (auos)
1
3.4 – OI pro (uos) + OD pro
(clítico) + dar
1
4.2 – dar + OI pro (uos) + OD
pro (clítico)
2
Total de ocorrências 10 4 0 8
10
Tabela 9 - Estruturas presentes na região de Burgos
Estruturas presentes na região de Burgos
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 1
1
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
6 10
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
5
1
1.5 – ODSN + verbo + auos 2
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
3
2.1 – dar + a uobis + ODSN 1
2.2 – vender + uobis + ODSN
2
2.3 – vender + uobis + ODSN
ACUSATIVO
2
3.3 – OIpro (uos) + dar + ODSN
1
4.1 – dar + ODSN + OIpro
(auos)
1
4.3 – dar + OD pro (clítico) +
OIpro (auos)
1
Total de ocorrências 1 21 17
Tabela 10 – Total geral de ocorrências por região
Total geral de ocorrências por região
XII XIII Total
Burgos 1 38 39
Toledo 14 9 23
Castela do Norte 10 11 21
La Rioja 1 18 19
Total de ocorrências
26 75 102
11
Tabela 11 - Estruturas presentes na região de La Rioja
Tabela 12 – Estruturas presentes na região de Toledo
Estruturas presentes na região de Toledo
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 2 1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 2 4
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
1 4
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
3
1.5 – ODSN + verbo + auos 1
3.1 – ODSN + dar + OISN 2
3.3 – OI pro (uos) + dar +
ODSN
1
4.4 – dar + OI pro (clítico les) +
ODSN
2
Total de ocorrências 9 8 6
Estruturas presentes na região de La Rioja
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 4
1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 1
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
3 5
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
1
2.2 – vender + uobis + ODSN 1 1
2.4 – vender + ODSN
ACUSATIVO + OISN DATIVO
1
Total de ocorrências 9 1 9
12
Tabela 13 - Variação diatópica de uso do objeto indireto
preposicionado. Séculos XII e XIII, com os verbos dar e vender
Variação diatópica de uso do objeto indireto
preposicionado. Séculos XII e XIII, com os verbos dar e
vender
A + OIpro (auos) OIpro (uos)
Burgos 16 6
Castela do Norte 13 1
La Rioja 8
1
Toledo 5 3
Total de ocorrências
42 11
13
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................15
Capítulo 1 – Objetivos e Caracterização dos documentos.................18
1.1 – Objetivos............................................................................ 19
1.2 - Caracterização dos documentos......................................... 20
Capítulo 2 A colonização e o processo de romanização da Península
Ibérica – o caso espanhol.......................................................................28
2.1 – O início da expansão romana ............................................. 29
2.2 – Os povos pré-romanos ....................................................... 31
2.2.1 – Os povos iberos............................................................... 31
2.2.2 – Os povos de origem indo-européia .................................. 33
2.3 – A romanização da Península Ibérica................................... 34
2.3.1 – O período das invasões ................................................... 36
2.3.2 – A presença árabe na Península Ibérica............................ 39
2.4 – O Reino de Castela............................................................. 40
2.5 – O latim vulgar ..................................................................... 44
Capítulo 3 Sobre a transitividade verbal e as relações de
transitividade no sintagma verbal .........................................................50
3.1 – A complementação verbal.................................................... 56
3.1.1 – O objeto direto em espanhol ............................................. 62
3.1.2 – O objeto direto preposicionado.......................................... 64
3.1.3 – O funcionamento do objeto direto em latim - acusativo .... 69
3.1.4 – O objeto indireto em espanhol........................................... 73
3.1.5 – O objeto indireto em latim – dativo ................................... 75
Capítulo 4 – Metodologia e Formação do Corpus ...............................78
4.1 – Metodologia de Análise........................................................ 79
4.1.2 – Formação do Corpus ........................................................ 79
14
4.1.3 – Formação dos grupos sintáticos......................................... 80
4.1.4 – Variação ortográfica........................................................... 83
Capítulo 5 – Análise das estruturas com dar e vender ....................... 85
5.1 - Grupo 1 – Estruturas sintaticamente semelhantes
nos dois verbos ........................................................... 86
5.2 - Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos...... 98
5.3 - Grupo 3 – Estruturas topicalizadas ....................................... 103
5.4 - Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo dar................ 106
5.5 – Apresentação diatópica dos dados ..................................... 112
5.5.1 – Castela do Norte............................................................... 112
5.5.2 – Burgos .............................................................................. 113
5.5.3 – La Rioja............................................................................. 115
5.5.4 – Toledo............................................................................... 117
5.6 Presença de vestígios do latim medieval nas estruturas
transitivas .............................................................................................. 118
5.6.1 – Morfologia......................................................................... 118
5.6.2 – Acusativo em lugar de nominativo..................................... 120
5.6.3 – Acusativo – perda do morfema /m/.................................... 120
Considerações finais ....................................................................122
Bibliografia .....................................................................................129
Anexo..............................................................................................135
15
Introdução
16
A pesquisa e descrição histórica das línguas não é tarefa nova
dentro dos estudos lingüísticos. Foram muitos aqueles que concentraram
seu trabalho na evolução lingüística, no estudo de períodos e contextos
favoráveis à mudança, bem como em suas diversas manifestações e
preservações nas línguas tais como as conhecemos hoje.
Contudo a grande variedade de produções e pesquisas não
contemplou quantitativamente todas as vertentes de análise, atribuindo
grande relevância aos estudos sobre fonética e morfologia e, em menor
proporção, à sintaxe histórica.
Este trabalho procura resgatar essa tradição diacrônica, de
fundamental importância para a compreensão do estado atual das línguas
modernas, e, ao mesmo tempo, contribuir com um estudo de sintaxe
histórica da língua notarial castelhana dos séculos XII e XIII, período de
grande importância histórica, tanto pela presença ainda marcante do latim
medieval, quanto pela concretização do castelhano como língua oficial de
Castela.
O primeiro capítulo traça um panorama sobre o objetivo geral do
trabalho: o estudo de estruturas transitivas presentes nos documentos
notariais castelhanos dos séculos XII e XIII, tomando por base dois verbos
de ampla freqüência em todos os textos - dar e vender. O capítulo também
traz uma caracterização dos documentos utilizados, apresentando os
principais critérios considerados na seleção do corpus, bem como situa
historicamente as regiões de origem dos documentos.
O capítulo dois apresenta uma visão sobre o processo de
romanização e expansão da língua latina pelos territórios romanos,
incluindo a Península Ibérica, em que a presença romana data da Segunda
Guerra Púnica, culminando com o surgimento do castelhano, no século
VIII.
Quando tratamos de estabelecer uma linha de evolução histórica do
castelhano, não podemos tomar por base somente os fatores lingüísticos
17
relacionados à evolução, mas considerar que, nesse processo, estão
implicadas questões sociais, políticas, geográficas, culturais etc, que não
podem ser desprezadas, uma vez que a língua é um fenômeno social e,
por isso, está diretamente ligada a tais fatores.
Assim, além da análise lingüística, um perfil histórico do período
que deve ser levado em conta.
O terceiro capítulo aponta os fundamentos teóricos que darão
suporte às descrições lingüísticas a serem propostas, abordando temas
relacionados à transitividade verbal e aos objetos diretos e indiretos, em
espanhol e em latim.
A análise do corpus terá lugar no quarto capítulo, com a
apresentação e a descrição das estruturas transitivas.
O último capítulo abre um espaço para observações sobre a
presença latino-castelhana nos documentos, não abordada no capítulo
quatro, encerrando, então, com as considerações finais.
No anexo, apresentamos o corpus integral, agrupado de acordo
com as características sintáticas dos fragmentos.
Todos os documentos que serviram de base para a formação do
corpus estão digitalizados e disponibilizados no cd-rom que acompanha
este trabalho.
18
Capítulo 1
Objetivos e Caracterização
dos documentos
19
1.1 – Objetivo
O objetivo específico do trabalho é o de identificar, classificar e
descrever as estruturas transitivas dos verbos vender e dar presentes nos
documentos notariais castelhanos dos séculos XII e XIII, das antigas
regiões de Castela del Norte, Burgos, La Rioja e Toledo, regiões de origem
do antigo dialeto castelhano, predominante em todo o território da atual
Espanha no final do século XIII, motivado principalmente pela Reconquista.
O estudo dessa língua romance em processo de formação nos
documentos notariais é muito importante porque mostra o momento em
que o latim medieval deixa de ser língua oficial do Direito e é
gradativamente substituído pelo castelhano, implicando um período de
interferências e mudanças lingüísticas.
Segundo Menéndez Pidal (1950:8), é possível destacar duas
correntes de inovações na linguagem notarial: a primeira, advinda de
séculos anteriores e finalizada no início do século XI, interrompida
principalmente pelos efeitos da reforma Clunicence, que restaurou a
latinidade; e a segunda, iniciada na segunda metade do século XII e que
terminava pela adoção da língua vulgar (romance) no XIII, motivada
principalmente ... por un movimiento general a toda la Romania que llevaba
a secularizar la cultura, y por tanto a entronizar el romance como lengua
oficial ordinaria, dejando el latín solamente como supletorio para los actos
más solemnes.
1
Assim, o estudo da língua notarial dos séculos XII e XIII pode
demonstrar tanto estruturas mais arcaizantes quanto inovações do
romance castelhano, que passa a ser língua oficial nos diplomas
castelhanos no início do século XII (Smith, 1985:29).
1
...
por um movimento geral a toda a România, que levava a secularizar a cultura e portanto estabelecer
o romance como lingua oficial ordinária, ficando o latim como substituto para os atos mais solenes.
Tradução livre ao português.
20
1.2 – Caracterização dos documentos
Os documentos selecionados para o estudo das estruturas
transitivas fazem parte de uma coletânea de textos notariais intitulada
Documentos Lingüísticos de España, Reino de Castela, vol. 1. Madrid:
CSIC, 1966, publicada por Ramón Menéndez Pidal. Também é de sua
autoria a transcrição paleográfica dos documentos.
Tal coletânea é composta, supostamente, por três volumes. O
primeiro deles compreende apenas os documentos pertencentes ao antigo
Reino de Castela, entre os séculos XI e XV. O segundo abrangeria
documentos do antigo Reino de Leão e o terceiro, os dos antigos Reinos
de Aragão e Navarra
2
.
O volume selecionado apresenta 372 documentos, divididos da
forma que segue.
século XI: 1 documento;
século XII: 43 documentos;
século XIII: 271 documentos, sendo 175 da primeira metade e 96
da segunda;
século XIV: 42 documentos;
século XV: 16 documentos.
Para a nossa pesquisa, selecionaremos somente os documentos
dos séculos XII e XIII, visto que:
O século XI apresenta apenas um documento, o que não nos
autoriza a fazer maiores considerações;
É nos séculos XII e XIII que temos a grande influência da língua
castelhana nos documentos notariais, substituindo
gradativamente o latim e passando a ser língua oficial. Por outro
lado, a grande presença latina não foi totalmente apagada, o que
2
Com relão aos dois outros volumes aqui citados, não encontramos refencias de que
tenham sido publicados, assim como o conseguimos localizar, tanto no Brasil quanto na
Espanha, o volume de análise lingüística citado por Mendez Pidal (1966)
, referente ao
volume 1, do qual retiramos os documentos para este trabalho, de modo que acreditamos
que Mendez Pidal não tenha concluído ou nem mesmo iniciado essa referida alise.
21
confere aos documentos notariais dessa época uma riqueza
lingüística inquestionável;
Nos séculos XIV e XV, a rica produção literária espanhola ganha
cada vez mais espaço, fazendo com que diminua o interesse pela
lengua restringida y cada vez más amanerada de los notários.
Menéndez Pidal (1966: 6).
Os diplomas estão divididos em quinze regiões, segundo a cidade
em que foram outorgados: La Montana, Campó, Castela del Norte, Rioja
(Alta e Baja), Álava, Burgos, Osma, Valladolid e Cerrato, Segovia e Ávila,
Sigüenza, Toledo, Cuenca, Plasencia, Andalucía e Murcia.
Devido à grande quantidade de documentos dos séculos XII e XIII
e a conseqüente dificuldade de se trabalhar com todos eles, optamos por
selecionar textos pertencentes ao norte da Península, região primitiva do
dialeto castelhano.
Foram selecionados todos os documentos pertencentes às
regiões de Castela del Norte, Rioja (Alta e Baja), Burgos e Toledo. Ainda
que La Montaña (atual província de Santander) seja uma zona tradicional
castelhana, não pudemos usar esses documentos pelo fato de a região não
possuir textos da primeira metade do século XII e apenas um da segunda
metade do mesmo século, o que dificultaria a análise.
O projeto inicial previa o trabalho com 40 documentos, 10 de
cada região e 5 de cada século. No entanto a análise preliminar se mostrou
insatisfatória, porque encontramos diversas construções sintáticas
igualmente interessantes em documentos que o haviam sido
selecionados.
Como não tínhamos como incluí-las sem alterar qualitativamente
o corpus, optamos por delimitar o estudo a dois verbos, dar e vender, os
mais freqüentes, devido ao tipo de texto, e usar todos os documentos das
quatro regiões citadas, dentro dos séculos XII e XIII, produzindo, assim,
um estudo mais completo e específico sobre os verbos citados.
22
Esse novo critério nos levou a um total de 180 documentos,
distribuídos da seguinte forma:
a) Burgos – 56 documentos (8 do séc. XII e 48 do séc. XIII);
b) Castilla del Norte 34 documentos (5 do séc. XII e 29 do
séc. XIII);
c) Rioja Alta 37 documentos (10 do séc. XII e 27 do séc.
XIII);
d) Rioja Baja 23 documentos (4 do séc. XII e 19 do séc.
XIII);
e) Toledo – 30 documentos (4 do séc. XII e 26 do séc. XIII).
Os documentos o de cunho jurídico, ou seja, visam atestar a
realização de compra, venda ou doação de bens diversos. Não há o uso de
linguagem literária.
Por serem muitos, esses documentos não são aqui descritos
pormenorizadamente. Limitamo-nos a apresentar uma caracterização
histórica das regiões que lhes deram origem.
3
Castela do Norte
A denominação Castela do Norte é usada por Menéndez Pidal
(1966:62) para referir-se à região que, no início do século IX, era a que
unicamente se chamava Castela. Consideram-se pertencentes à Castela
do Norte as regiões do norte da província de Burgos, com seus partidos de
Villarcayo, Sedano, Villadiego, Briviesca e Miranda del Ebro.
no século X, o nome Castela havia chegado ao sul de Burgos,
que se tornava mais importante que a primitiva. O termo Castela passou a
ser usado para designar essa nova região, muito mais ampla
geograficamente, enquanto que Castela Vetula ou Vetra referia-se à
primitiva Castela.
3
Lembramos que todos os textos podem ser consultados na íntegra a partir do cd-rom.
23
Rioja
A região de Rioja apresenta, desde os tempos visigóticos, uma
intensa relação tanto com a parte ocidental quanto com a oriental da
Península Ibérica.
No tempo de Augusto, com Castela do Norte, Campó e La
Montaña, também recebia o nome de Cantabria, devido ao avanço dos
cântabros em direção a terras mais planas do sul, às margens meridionais
do rio Ebro. Em 574, juntamente com Logronho, Cantabria e Amaya,
formava o que se conheceu como ducado de Cantabria (Op. Cit.,:107).
Após a invasão muçulmana, a relação política com as províncias
do ocidente aumentou significativamente, principalmente pela formação de
um grande centro da Reconquista na região de Astúrias. A relação entre
Cantabria e Astúrias era muito próxima, uma vez que Pelayo, criador da
monarquia asturo-leonesa, era filho de um duque de Cantabria, bem como
Alfonso, el Católico, seu sucessor.
As disputas de terras foram intensas, envolvendo Rioja e suas
regiões vizinhas, como os reinos de Navarra e Leão, bem como a parte
mais ocidental com Castela.
Com relação à parte oriental de Rioja, a região pertencia, desde a
conhecida divisão constantina e eclesiástica, à província Tarraconense.
Como principais cidades da parte oriental, temos as províncias de
Calahorra, Oca, Alava, Berceo e La Cogolla.
A influência navarra na parte oriental era bastante forte,
principalmente após 922, quando o rei Sancho García de Pamplona a
ocupou quase completamente, retomando o controle administrativo das
mãos dos muçulmanos. Em 927, somente a cidade de Calahorra
permanecia em poder muçulmano, ainda que povoada, em grande parte,
por moçárabes, fato que durou até o ano de 1045.
Logo depois, recomeçaram os antigos confrontos com Castela,
resultando nas sucessivas incorporações de Rioja às terras castelhanas. A
24
primeira delas ocorre no período de 1076 a 1109; a segunda, no de 1135 a
1162; e a terceira, definitiva, data de 1176.
Segundo Menéndez Pidal (op.cit.:110),
la castellanización de la
comarca fue rápida; a comienzos del siglo XII, aun bajo el señorío del rey aragonés
Alfonso el Batallador, los najerenses se llamaban ya castellanos.
4
Devido às divisões ocidentais e orientais, a Rioja é dividida em
Rioja Alta e Baixa.
5
Segundo Menéndez Pidal, (op. cit. :111),
La Rioja Alta se extiende desde Logroño al Oeste, es
atravesada por el camino francés, que la abría a una
comunicación con Castela más activa que la que pudiera tener
con Navarra; además, en esta parte se halla el monasterio de
San Millán, que sabemos fue en lo antiguo un centro de
peregrinación castellana.
La Rioja Baja comprende la parte oriental, cuyas relaciones, al
revés de la Rioja Alta, gravitan hacia los reinos de Navarra y
Aragón. En esa parte se halla Calahorra, cabeza del obispado
tarraconense; Alfaro, pueblo extremo de la región, pertenece a
la diócesis aragonesa de Tarazona; entre Alfaro y Cervera de
Río Alhama está enclavado el monasterio navarro de Fitero,
antiguo centro de la devoción religiosa del oriente riojano (…).
6
4
A castelhanização da comarca foi rápida, no início do século XII, ainda sob o controle do rei aragones
Alfonso, o batalhador, os najerenses já se chamavam castelhanos. Tradução livre ao português.
5
Essa divisão também foi adotada na seleção dos documentos e do corpus
.
6
A região de Rioja se estende de Logronho ao Oeste, sendo atravessada pelo caminho francês, o que lhe
conferia uma comunicação mais atrativa com Castela do que a que pudesse existir com Navarra. Além
disso, é nessa região que se encontra o mosteiro de San Millán, antigo centro de peregrinação
castelhana.
Rioja Baixa se localiza na porção oriental, cujas relações, ao contrário das de Rioja Alta, se voltam aos
reinos de Navarra e Aragão. Nessa região se encontra Calahorra, núcleo do obispado tarraconense.
Alfaro, povoado localizado na extremidade da região, pertence à diocese aragoneza de Tarazona.
Entre Alfaro e Cervera do Rio Alhama está encravado o mosteiro Navarro de Fitero, antigo centro de
devoção religiosa do oriente riojano (...) Tradução livre ao português.
25
Burgos
A região assim denominada corresponde à parte central da atual
província de Burgos, abarcando os municípios de Castrogeriz, Burgos,
Belorado e uma parte de Lerma.
Tal região não fazia parte da antiga Castela. Era sim composta
por vários condados do reino de Leão, que foram intensamente povoados
devido à Reconquista.
No século X, tais condados uniram-se à Castela, sob o jugo de
Fernán González, deixando o nome Castela Velha à primitiva Castela do
Norte.
Toledo
O nome Toledo refere-se à antiga diocese de Toledo, que
compreendia a porção ocidental das províncias de Guadalajara, de Madri e
de Toledo, toda a província da Cidade Real e o extremo oriental de
Cáceres.
Ainda que a reconquista de Toledo tenha acontecido somente em
1085, por Alfonso VI, a incorporação dessa região como parte do reino de
Castela foi facilitada pela presença de uma população anterior à
Reconquista, ou seja, intensamente romanizada, que lutou e resistiu ao
domínio muçulmano por quase duzentos anos, contando com a ajuda dos
reis de Leão.
Segundo Menéndez Pidal (op. cit.:347), mesmo sob controle
muçulmano, os cristãos e moçárabes
7
mantinham uma grande organização
eclesiástica.
7
1. adj. Indivíduo de origem hispânica que, com a permiso do direito islâmico, vivia
na Espanha muçulmana a o fim do culo XI, conservando sua religião cristã e,
inclusive, sua organizão eclesiástica e judicial.
2. adj. Indiduo das mesmas comunidades
, emigrado aos reinos cristãos do norte,
levando consigo elementos culturais muçulmanos. Fonte: Diccionario de la lengua
espola, 23ª edición. Versión on-line: www.rae.es
26
Na época da Reconquista, Toledo era constituída, basicamente,
por três núcleos principais de povoação: os moçárabes, os castelhanos e
os franceses que haviam ajudado os castelhanos na Reconquista. Além
dos moçárabes e castelhanos, encontravam-se também, em regiões como
Guadalajara, povoados vindos de Leão e Galícia.
A presença moçárabe era intensa e coexistia com a castelhana
nas quatro cidades principais de Toledo: Madri, Talavera, Maqueda e
Alhamín. Além dessas cidades, supunha-se que Toledo seria um grande
centro para o qual migravam moçárabes provenientes do Marrocos e
deportados de Córdoba e Granada, de Aragão e de diversas outras
cidades.
A incorporação do nome Castela Nova aconteceu tardiamente,
sendo que, ao longo do século XII, a região era conhecida como Tras-
Sierra, Allen-Sierra, reino de Toledo.
Uma das regiões mais importantes de Toledo localiza-se ao sul
da região, conhecida como província de Calatrava, que compreendia a
maior parte da moderna província da Cidade Real, ponto de partida da
atual comunidade autônoma de Castela La Mancha.
Segundo Menéndez Pidal (op. Cit.:349),
Calatrava perteneció a los musulmanes hasta 1147, en que
Alfonso VII la reconquistó. En 1158, el rey Sancho III, buscando
quien defendiese de los musulmanes la villa de Calatrava, la
cedió al fundador de la Orden, pero ésta perdió dicho castillo en
1196 y no lo recobró hasta el año 1212, cuando la victoria de las
Navas de Tolosa. Cuarenta años después, con las victorias de
Fernando III en Andalucía, el territorio de la Orden dejó de ser
fronterizo. Continuó considerándose como una parte del reino
de Toledo, hasta que en 1691 formó una provincia aparte, la de
La Mancha.
8
8
Calatrava pertenceu aos muçulmanos até 1147, ano em que Alfonso VII a reconquistou. Em 1158, o rei
Sancho III, buscando quem defendesse a vila de Calatrava dos muçulmanos, a cedeu ao fundador da
Ordem, mas a mesma perdeu o castelo em 1196 e não o recuperou até 1212, devido a vitória das Navas
de Tolosa. Quarenta anos depois, com as vitórias de Fernando III em Andaluzia, o território da Ordem
deixou de ser fronteiriço. Continuou sendo considerado como uma parte do território do reino de Toledo,
até que em 1691 formou uma província separada, a de La Mancha. Tradução livre ao português.
27
Um detalhe que chama a atenção nos documentos toledanos é a
assinatura em árabe presente em muitos deles, evidenciando a origem
muçulmana do escriba.
28
Capítulo 2
A colonização e o processo
de romanização da Península
Ibérica – o caso espanhol
29
2.1 - O início da expansão romana
O surgimento e desenvolvimento das línguas românicas culmina
com um processo de evolução lingüística e social que tem seu início muitos
séculos atrás, quando o latim era apenas um dialeto de Roma, língua de
camponeses, sem qualquer sofisticação. Vale destacar que as línguas
românicas se desenvolveram de uma variedade oral do latim, que, por sua
vez, também apresentava variedades, de modo que o termo latim deve ser
considerado de maneira relativa quando falamos em evolução das línguas
românicas.
O latim começa a se destacar quando os romanos decidem
aumentar os limites de seus territórios, projetando-se em todas as direções
da Península Itálica, até então composta por um mosaico de raças,
Basseto (2001:88). Os mais significativos eram os etruscos, que ocupavam
a região localizada ao norte de Roma, chegando a dominar quase toda a
região italiana, inclusive Roma.
Por volta do ano 500 a.C., Roma consegue vencer e expulsar os
reis etruscos, fundando a República. Devido à sua localização privilegiada
no centro da Península Itálica e também a muitas alianças com os demais
povos itálicos, pôde, com certa facilidade, deslocar-se rapidamente em
todas as direções, conquistando e agregando novos territórios,
aumentando gradativamente as dimensões de influência política e levando
consigo a língua latina aos novos territórios conquistados.
Roma termina, com a conquista de Tarento, no sul da Itália, o
domínio de toda a península. Acumula uma grande extensão territorial e
também muitos problemas sociais. Como afirma Koch (op.cit.:63), ao
conquistar o sul da Itália, Roma passa a ser uma grande potência do
Mediterrâneo, ao lado de Cartago, Egito, Síria e Macedônia.
30
Segundo (Basseto, ibidem),
(...) seu domínio [de Roma] abrange a Itália, desde a Sicília
até a planície do rio Pó. Ao mesmo tempo, enfrentava
dificuldades internas com a revolta dos plebeus endividados
e espoliados de seus direitos civis contra os patrícios; uma
tropa armada de plebeus ocupou o monte sagrado do
Aventino, em 494, e só se retiraram depois da criação dos
concilia plebis tribuna, isto é, assembléias do povo por tribos,
fato que constitui o primeiro tipo de greve de que se tem
notícia. Mas a igualdade de direitos só foi conseguida em 287
a.C., com a admissão dos plebeus em todas as
magistraturas.
A conquista do sul da Itália pelos romanos é de vital importância
para a história da romanização da Hispania, porque o próximo grande
passo no processo de expansão e conquistas territoriais romanas é em
direção à cidade mediterrânea de Cartago e todos os seus domínios, o que
incluía as colônias comerciais no território da Península Ibérica.
A presença púnica na Península Ibérica, ao longo de quase toda
a extensão do litoral mediterrâneo espanhol, começa muitos séculos atrás,
entre os séculos 1000 e 500 a.C.. Junto com os gregos, serão os romanos
os primeiros povos a colonizarem a região.
Com o fim das guerras púnicas, aproximadamente no ano 201
a.C., Roma ganha o domínio da Espanha e das ilhas mediterrâneas,
(Baleares), dando início ao lento processo de romanização da Península,
ainda que o interesse pelos territórios da Península Ibérica tenha sido
despertado em Roma somente por ocasião da segunda guerra púnica,
período que vai de 218-204 a.C., quando começam as primeiras incursões
romanas pelo território ibérico.
31
2.2 - Os povos pré-romanos
A Península Ibérica sempre foi constituída por uma grande
quantidade de povos, muitas vezes estranhos entre si, de modo que o
processo de unificação somente começou a ocorrer com a romanização.
Basicamente foram dois os processos de colonização da
Península Ibérica, ocorridos quase que simultaneamente: o núcleo fenício e
grego, pelo Mediterrâneo, na região leste e sul, resultando nos chamados
povos ibéricos, e um outro núcleo, constituído essencialmente por povos de
origem celta, que entrou na Península cruzando os Pirineus e logo se
dirigiu rumo ao centro-oeste. Constituíram-se, assim, dois grandes blocos,
com características bem distintas entre si.
2.2.1 – Os Povos Iberos
Os povos iberos são os mais conhecidos e importantes da
Península pré-romana, embora haja sobre eles lacunas a serem
preenchidas, principalmente no que se refere à língua que utilizavam.
Devido aos dados arqueológicos existentes, acredita-se que tenham
surgido nos séculos VII ou VI a.C., tendo, portanto, uma origem pré-
românica, ao contrário do que se afirmava na década de quarenta. Os
iberos eram apenas, segundo Tuñon de Lara et alli (1982:135),
un fenómeno especial del provincialismo romano (...) una
desvalorización de los iberos como consecuencia del alto valor
concedido a los celtas o en general a los indoeuropeos de la
Edad del Hierro -, valoración derivada, por una parte, por los
estudios arqueológicos y, por la otra, de la ilusión de ser lo más
‘arios’ posible, siguiendo las tendencias políticas de la Europa
del momento dominada por los pensadores nazis.
9
9
Um fenômeno especial do provincialismo romano (...) uma desvalorização dos iberos como
conseqüência do alto valor concedido aos celtas o em geral aos indo-europeus da Idade do Ferro -,
valorização derivada, por uma parte, pelos estudos arqueológicos e, por outra, da ilusão de ser o mais
‘ariano’ possível, seguindo as tendências políticas da Europa do momento dominada pelos pensadores
nazistas. Tradução livre ao português.
32
Uma das principais questões refere-se ao nome ibero,
desconhecendo-se se existia ou se foi atribuído pelos gregos. Além
disso, o nome adquiriu um sentido lato, referindo-se a lugares e povos
diferentes:
Por una parte, hay referencias a unos iberos como pueblos
que ocupan la zona costera mediterránea. Unas veces el
término se limita al litoral del este, comprendida Murcia. Otras
veces, dentro del término de iberos se incluye también
Andalucía, saltando el concepto de turdetano que otros autores
atribuyen a los indígenas andaluces, como herederos del
mundo tartésico.
Más grave que esta confusión etnológica es el hecho que se
llamó Iberia a toda la Península. Así, cuando vemos citados,
por ejemplo, a los mercenarios ibéricos que luchan ya sea con
cartagineses ya sea con griegos, no sabemos si se trata de
iberos propiamente dichos o simplemente de gentes
procedentes de Iberia (la Península) que igual podrían ser
celtíberos, celtas u otros pueblos no ibéricos. Tuñon de Lara
(idem)
10
Com relação à língua ibérica, parece não avançarem os estudos
no sentido de traduzi-la através do euskera, devido à falta de conhecimento
e, principalmente, pela ausência de registros escritos dangua antiga,
ainda que seja possível realizar a leitura e a transcrição dos signos, fato
semelhante ao que ocorre com a língua etrusca.
De modo geral, vestígios arqueológicos dos iberos são
encontrados por toda a costa leste da Península, desde o extremo sul do
Languedoc até a Andaluzia.
10
Por um lado, referências a uns iberos como povos que ocupam a zona costeira mediterrânea.
Algumas vezes o termo se limita ao litoral do oeste, compreendida Murcia. Em outros momentos, dentro
do termo ‘iberos’ se inclui também Andaluzia, saltando o conceito de turdetano que outros autores
atribuem aos indígenas andaluzes, como herdeiros do mundo tartésico.
Mais grave do que esta confusão etnológica é o fato que se chamou Ibéria a toda a Península. Assim,
quando vemos citados, por exemplo, os mercenários ibéricos que lutam, seja contra cartagineses ou
gregos, não sabemos se se trata de iberos propriamente dito ou simplesmente de povos procedentes de
Ibéria (a Península), que igualmente poderiam ser celtibéricos, celtas ou outros povos não ibéricos.
Tradução livre ao português.
33
Os povos iberos eram mais desenvolvidos do que os de origem
celta, dado o intenso contato com os gregos e os fenícios, bem como com
os cartagineses. Cidades importantes, como a de Sagunto, por exemplo,
tinham praticamente a mesma organização sócio-política das cidades
gregas, enquanto que, entre os povos do interior, conservavam-se formas
de organização social mais arcaizantes, Cabo Alonso (1979:255). Sabe-se
que, desde o século VII a.C., os iberos utilizavam moedas no comércio com
as colônias gregas, principalmente da região da Catalunha.
Devido a uma maior organização social e a uma acentuada
proximidade com gregos, cartagineses e romanos, as regiões litorâneas do
Mediterrâneo se adaptaram mais facilmente à romanização, não
oferecendo grande resistência a que se instalasse.
2.2.2 - Povos de origem Indo-européia
Se, por um lado, os ibéricos eram predominantes nas regiões
oriental e meridional da Península, as regiões centrais e do norte eram
povoadas por povos de origem indo-européia, que cruzaram os Pirineus e
se instalaram inicialmente nas regiões nordeste e norte, avançando
posteriormente rumo ao centro da Península Ibérica. Trata-se dos povos de
origem celta.
Ao contrário dos iberos, os celtas não eram grandes
comerciantes e tinham sua estrutura econômica baseada, principalmente,
na criação de gado e na agricultura de cereais.
Segundo Cabo Alonso (1979: 256),
Los lusitanos y los celtiberos eran los pueblos más
importantes asentados en las regiones del Oeste y del centro
de la Península. En la meseta, además de los celtíberos
propiamente dichos, habitaban los arevacos, los lusones y los
pelendones, a los cuales también se aplicaba el calificativo de
celtíberos.
11
11
Os lusitanos e os celtibéricos eram os povos mais importantes assentados nas regiões do oeste e do
centro da Península. Na meseta, além dos celtibéricos propriamente ditos, habitavam os arevacos, os
34
A organização primitiva dos povoados de origem celta também
era bem diferente daquela dos povos ibéricos. Se estes tinham uma grande
influência grega e cidades mais bem desenvolvidas, aqueles, por sua vez,
organizavam-se nas chamadas gentes ou gentilitates, agrupações de
várias aldeias ao redor de um líder, segundo as denominações
empregadas pelos romanos, (Cabo Alonso,1979: 257).
Embora os povos do centro-sul e da costa oriental da Península
tivessem uma organização social, econômica e política mais estabelecida,
o mesmo não se pode dizer dos que habitavam a região do extremo norte,
formados por asturos, galáicos, cántabros e vascones.
As regiões do sul e da costa leste mediterrânea foram
rapidamente assimiladas pelos romanos, que a população estava mais
acostumada à presença romana desde a Segunda Guerra Púnica. Os
povos do norte foram os últimos a serem romanizados, mas a assimilação
não foi total, como ocorrera com os demais povos.
2.3 – A Romanização da Península Ibérica
Com o fim da Segunda Guerra Púnica, Roma adquiriu o controle
de toda a costa mediterrânea oeste espanhola, estendendo seus domínios
até a região da Andaluzia.
O processo de romanização da Península não foi uniforme, ou
seja, nem todas as regiões foram romanizadas com a mesma intensidade e
na mesma época, principalmente se levarmos em consideração os povos
pré-romanos que lá habitavam.
É importante reafirmar que a romanização da Península Ibérica
não fazia parte dos planos de Roma até o início da Segunda Guerra
Púnica, quando passou a ter então o controle sobre os territórios
cartagineses e se viu obrigada a traçar uma política expansionista para
anexar o novo território, processo iniciado com inúmeras incursões
lusos e os palendones, aos quais também se aplicava o qualificativo de celtibéricos. Tradução livre ao
português.
35
diplomáticas romanas pelo território ibérico, visando a um acordo pacífico
com Cartago.
A crescente conquista dos territórios ibéricos fez com que Roma
criasse alguns mecanismos para melhor administrá-los. Assim, em 197
a.C., foi criado o primeiro ato administrativo da Península Ibérica sob
domínio de Roma: a divisão dos territórios em duas províncias, a Ulterior e
a Citerior
12
.
Datam desse mesmo ano as primeiras rebeliões dos povos que
habitavam a Península contra os abusos da nova administração romana,
ato que se espalhou rapidamente em ambas as províncias, chegando à
costa da Andaluzia, e estendendo-se de 195 a 193 a.C.
A transformação da sociedade e a adaptação à vida romana foi
um processo muito mais lento do que os quase duzentos anos de
conquista territorial; gradativamente, a língua latina foi penetrando nos
territórios e passando a fazer parte do cotidiano das pessoas,
principalmente devido aos intensos contatos entre latinos e hispanos;
entretanto, em algumas regiões, como o atual País Vasco, a romanização
foi sutil, a ponto de o latim não ter conseguido prevalecer sobre o euskera.
A última divisão administrativa da Hispania feita pelos romanos
ocorreu entre 284 e 288 d.C. A antiga divisão - Citerior e Ulterior - deu lugar
a cinco novas regiões administrativas: Tarraconensis, Carthaginensis,
Baetica, Lusitânia e Gallaecia. Posteriomente, a Gallia também foi
12
http://www.tesorillo.com/imagenes1/provincias.jpg
36
incorporada à Hispania. Foi essa a divisão encontrada pelos povos
invasores; apenas a Tarraconensis, a partir de 409, ficou fora do domínio
bárbaro.
A seguir, apresentamos um mapa
13
com essas novas regiões.
2.3.1– O período das invasões
Após o fim das guerras pela romanização da Península, a
Hispania levou mais ou menos um século para adaptar-se à vida romana e
para que as estruturas administrativas de Roma pudessem ser percebidas
na região.
As primeiras invasões ao território da Hispania ocorreram por
volta do ano II d.C. (161-180), muito antes das grandes invasões
germânicas no ano de 409, que modificaram completamente o panorama
político-social da Península. Vindas do norte da África, várias tribos da
13
García Moreno et alli. Romanismo e Germanismo. El despertar de los pueblos hispánicos. p. 48-49.
37
Mauritânia cruzaram o Estreito de Gibraltar e praticamente devastaram
quase toda a Península, sendo interceptadas pela Legio VII Gemina
14
, que
as perseguiu e as expulsou do território hispânico.
De todas as tribos que entraram na Península Ibérica no período
das invasões germânicas, até mesmo entre os séculos II e III, os visigodos
eram os mais civilizados e os que apresentavam melhores condições de
estabelecer um reino em Hispania, devido aos quase cento e cinqüenta
anos de duração do reino de Tolosa (atual cidade de Toulouse, França) e
ao convívio intenso com os romanos, (Lapesa,1981:117).
Em 470, os visigodos constituíam um poder independente de
Roma, com presença em todo o território hispânico. Possuíam líderes
renomados, dentre eles Eurico, que, em 466, substituiu seu irmão
Teodorico II, assassinado, iniciando um movimento de busca e resgate da
identidade visigoda em oposição à romana.
Com a institucionalização do Código de Eurico, procurava-se
estabelecer um conjunto de regras que determinassem a separação entre
visigodos e hispano-romanos, proibindo o casamento entre os povos -
decisão inspirada na própria constituição romana dos imperadores
Valentiniano e Valente, que proibia o casamento entre romanos e
bárbaros
15
-, estipulando ainda os tipos de vestimentas, o idioma e a
religião de cada povo.
O sucessor de Eurico, seu filho Alarico II, destacou-se por tentar
uma aproximação entre os povos, uma vez que a separação imposta por
seu pai motivava muitas hostilidades e, principalmente, facilitava a
desunião administrativa. Aproximou-se da Igreja Católica, que exercia
uma boa influência em Tolosa, e, em 506, publicou o Lex Romana
Visigothorum.
14
Durante o período de romanização, era comum que as legiões de soldados romanos recebessem, além
das terras reservadas para montar seu acampamento, outras ao redor para que as explorassem. Nessas
terras, formavam-se verdadeiros núcleos urbanos que se organizavam como municípios e que
posteriormente deram origem a várias cidades espanholas. A atual cidade de León, no norte da Espanha,
é um exemplo de cidade formada pelo assentamento da Legio VII Gemina. Cf. Cabo Alonso, 1979:301.
15
Menéndez Pidal, Orígenes del Español, p. 505.
38
Os quase duzentos anos que sucederam ao domínio definitivo
dos visigodos em terras hispanas e às primeiras invasões árabes no
século VIII foram marcados por intensas disputas pelo poder e pelo
agravamento de crises políticas, resultando em fragilidade e,
conseqüentemente, na invasão árabe.
Segundo García de Cortazar (1988:57),
Una serie de contradicciones –en especial la que supone
conciliar un poder real que fuera sucesor del antiguo estado
romano y, simultáneamente, salvara los intereses de la capa
más alta de una sociedad en as de feudalización y la falta
de integración de un amplísimo sector social fueron factores
decisivos en los procesos de debilitamiento y de desinterés
colectivo por la cosa blica que caracterizan los últimos años
del reino visigodo.
16
É importante destacar também o fortalecimento do papel da
Igreja Católica como legisladora e evangelizadora os visigodos se
convertem oficialmente em 589 - o que certamente contribui para que o
Norte da Península, sede do governo visigótico, caracterize-se como
grande centro católico, exercendo grande influência ao longo de todo o
processo de Reconquista e, principalmente, na fundação de Castela.
Segundo Lapesa (1988: 118),
La romanización de los visigodos no significa que éstos, como
pueblo, careciesen de vigor. Perdieron, sí, la postura
intransigente de dominio y se debili en ellos el sentido
particularista de raza: Hispania no se llamó Gotia, mientras que
Galia se convirtió en Francia. La fusión con los
hispanorromanos tuvo resultados de valor nacional superior;
gracias a los visigodos, la idea de personalidad de Hispania
16
Uma série de contradições - em especial a que supõe conciliar um poder real que fosse sucessor do
antigo estado romano e, simultaneamente, salvasse os interesses da classe mais alta de uma sociedade
em vias de feudalização e a falta de integração de um amplíssimo setor social foram fatores decisivos
nos processos de debilitamento e de desinteresse coletivo pela coisa pública que caracterizam os últimos
anos do reino visigodo. Tradução livre ao português.
39
como provincia se trocó en conciencia de su unidad
independiente.
Transformaron las costumbres y el derecho, y trajeron la
simiente de la inspiración épica. Si durante el siglo VII es
evidente la decadencia del reino toledano, que se derrumba
como un castillo de naipes al surgir la invasión árabe, la
impronta visigótica es grabada en muchas instituciones
medievales y en la epopeya castellana.
17
Sob o ponto de vista lingüístico, a contribuição dos visigodos,
em território espanhol, foi pouco expressiva e refletiu minimamente na
formação do romance. O latim falado por eles ficou restrito devido ao
gradativo distanciamento dos romanos, não havendo novas influências.
Os poucos registros que chegaram aos nossos dias são muito
difíceis de ler e interpretar e, segundo Lapesa (1988: 123), faltam os
documentos notariais que evidenciam as mudanças lingüísticas ocorridas
na Gália durante o domínio merovíngio e sobre o castelhano, no início da
Reconquista.
2.3.2 – A presença árabe na Península Ibérica
O desenvolvimento de Castela, a partir do século VIII, e sua
conseqüente expansão pelo território Ibérico, encontram-se intimamente
relacionados com os movimentos de Reconquista empreendidos pelos
reinos do Norte, de tradição cristã, contra os pretensamente chamados de
invasores árabes.
Dessa forma, a presença árabe na Hispania adquire importância
histórica fundamental quando se pensa em estudar o desenvolvimento da
língua castelhana nesse período.
17
A romanização dos visigodos não significa que eles, como povo, carecessem de vigor. Perderam, sim,
a postura intransigente de domínio e se debilitou entre eles o sentido particularista de raça: Hispania não
se chamou Gotia, ao passo que a Gália se transformou na França. A fusão com os hispano-romanos teve
resultados de valor nacional superiores; graças aos visigodos, a idéia de personalidade da Hispania como
província se modificou em prol de uma consciência de sua unidade independente.
Transformaram-se os costumes e o Direito, e trouxeram a semente da inspiração épica. Se durante o
século VII é evidente a decadência do reino toledano, que desmorona como um castelo de cartas ao
surgir a invasão árabe, a presença visigótica está gravada em muitas instituições medievais e na epopéia
castelhana. Tradução livre ao português.
40
A permanência muçulmana na Península por aproximadamente
sete séculos pode ser vista como parte de um processo expansionista,
com início entre os anos 640 e 642, quando os árabes ampliam seu poder
em direção à costa da África, invadindo e islamizando o Egito e,
posteriormente, o Marrocos.
As constantes migrações árabes e o intenso contato com os
hispano-godos, cristãos, judeus e berberes foram, aos poucos,
transformando a sociedade hispana. A criação e o desenvolvimento de Al-
Andaluz consolida o poder árabe, ao passo que abre caminho às lutas da
Reconquista, pelos cristãos, dos territórios perdidos. Nesse contexto,
temos o surgimento de Castela, que se desenvolve em nome da
Reconquista, de modo que, no século XII, Andaluzia falava castelhano,
o que indica a rápida expansão territorial e, conseqüentemente, lingüística
de Castela.
2.4 - O Reino de Castela
Os primeiros movimentos do pequeno povoado de Castela
começaram a aparecer em meados do século IX, à medida que os califas
de Córdoba aumentavam a pressão sobre os territórios cristãos situados ao
norte da Península.
A localização inicial de Castela se encontrava distribuída pelo
território de três antigas províncias romanas.
Segundo Menéndez Pidal (1966:4),
Todo parece responder aquí, en los primeros tiempos de la
reconquista, a las divisiones administrativas de la época del
emperador Constantino, perpetuadas en las divisiones
eclesiásticas de la España visigoda. La provincia de Gallaecia
es la base del nuevo reino de Oviedo; su parte más oriental,
la Cantabria, es la que ahora renace bajo el nombre de
condado de Castela, lindante con los Montes de Oca de la
provincia Tarraconense. (…) y era extremo septentrional de la
provincia Carthaginense, formando parte de la diócesis de
41
Osma, que se extendía desde Garray o Numancia hasta el río
Arlanzón.
18
Devido à sua antiga localização geográfica, Castela sofria
constante influência das três províncias, sendo este um dos motivos pelos
quais a região recebia as mais diversas tendências lingüísticas.
Segundo Lapesa (1981:184),
Las circunstancias favorecieron, pues, la constitución de un
dialecto original e independiente. En efecto, el castellano fue
en la época primitiva un islote excepcional. (…) El lenguaje de
Castela adoptó las principales innovaciones que venían de las
regiones vecinas, dándoles notas propias.
19
Ao iniciar o processo de expansão e reconquista, Castela
avançou principalmente pelos territórios da antiga Carthaginense, região na
qual se situava a maior parte do poder administrativo árabe, principalmente
a cidade de Toledo, que ainda exercia um importante papel na vida política
da província.
Um dos principais responsáveis pela expansão castelhana rumo
a Toledo foi o rei Afonso VI. A morte do primeiro rei de Castela e Leão,
Fernando I, em 1065, fez com que o reino de Castela fosse dividido entre
seus dois filhos: Afonso VI recebeu o reino de Leão e o filho primogênito,
Sancho, ficou com Castela. Os dois reinos voltaram a ser delimitados pelos
rios Deva e Pisuerga, como havia ocorrido nos tempos dos condes
séc. IX.
Contudo, no ano de 1072, a morte prematura de Sancho, em
Zamora, transferiu a Alfonso VI o controle de Castela, o que implicou a
unificação novamente dos dois reinos. O falecimento de Sancho de
18
Tudo parece responder aqui, nos primeiros tempos da Reconquista, às divisões administrativas da
época do imperador Constantino, perpetuadas nas divisões eclesiásticas da Espanha visigoda. A
província de Gallaecia é a base do novo reino de Oviedo; sua parte mais oriental, a Cantabria, é a que
agora renasce como o nome de Castela, ao lado dos Montes de Oca da província Terraconense. (...) e
era extremo septentrional da província Cartaginense, formando parte da diocese de Osma, que se
extendia de Garray o Numancia até o rio Arlanzón. Tradução livre ao português.
19
As circunstâncias favoreceram, portanto, a constituição de um dialeto original e independente. De fato,
o castelhano foi na época primitiva, ainda que de dimensão restrita, excepcional. (...) A linguagem de
Castela adotou as principais inovações que vinham das regiões vizinhas, atribuindo-lhes características
próprias. Tradução livre ao Português.
42
Navarra, primo de Alfonso VI, fez ainda com que as terras de Navarra
fossem divididas entre os reinos de Castela e Aragão.
Lutando contra os árabes e mantendo como vassalos os
principais reis mouros, Alfonso VI empreendeu um grande processo de
reconquista, culminando com a conquista de Toledo (1085).
20
Essa conquista, devido à grande importância da cidade, foi um
ponto importante no processo de expansão do castelhano e na
predominância deste em relação aos demais dialetos moçárabes das
regiões vizinhas.
Segundo Lapesa (op. cit.: 189),
El núcleo mozárabe toledano era muy importante; conservaba
seis parroquias, tenía jueces propios, y, estando ya bajo el
dominio cristiano, siguió empleando el árabe para sus escrituras
notariales; sus costumbres públicas y jurídicas continuaron en
uso durante mucho tiempo. El castellano se impuso en el reino
de Toledo, pero tras lenta asimilación.
21
Com a morte de Alfonso VI, em 1109, o reino de Castela passa
por um longo período de guerras pelo poder (1110-1129) contra o rei de
Aragão e Navarra, Afonso, o Batalhador. Este consegue conquistar
cidades importantes como Burgos, La Rioja e Soria. Castela recupera
essas regiões somente com a morte do Batalhador, em 1134, quando o rei
de Castela, Alfonso VII, cobra dos regentes de Navarra, García Ramirez, e
de Aragão, Ramiro, antigos vassalos do rei castelhano, a devolução dos
territórios tomados.
Afonso VII mantém então uma grande luta contra os
almorávides para proteger os territórios castelhanos, principalmente
Toledo, totalmente castelhanizada apenas no reinado de Afonso VIII
(1158-1214).
20
Menéndez Pidal, R. Documentos Lingüísticos de Espana, p. 9.
21
O núcleo moçárabe toledano era muito importante: conservava seis paróquias, tinha juizes própios, e,
sob o domínio cristão, continuou empregando o árabe em seus registros notariais; seus costumes
políticos e jurídicos continuaram em uso durante muito tempo. O castelhano se impôs no reino de Toledo,
mas após lenta assimilação. Tradução livre ao português.
43
Nesse último período, uma grande consolidação do poder
castelhano, devido ao progressivo enfraquecimento dos árabes. Temos
o início do costume de redigir-se em romance alguns documentos notariais
do reino, sendo um dos mais importantes o tratado de paz de Alfonso VIII
e o rei de Leão conhecido como Tratado de Cabreros, datado de 1206,
escrito totalmente em castelhano.
A ampliação do castelhano a todos os documentos notariais
acontece no reinado de Fernando III (1217-1252), que consegue, em
definitivo, reunir os reinos de Castela e Leão em 1230. Conquista boa
parte do reduto árabe na região da atual Andaluzia, restringindo o domínio
muçulmano apenas à cidade de Granada, que cai como poderio político
em 1492. Esses acontecimentos influenciam diretamente os rumos do
dialeto castelhano, principalmente no âmbito jurídico.
Segundo Menéndez Pidal (1966:12),
Coincidiendo con esta ocupación de la mayor parte de
Extremadura y Andalucía, ocurre la extensión de la lengua
vulgar en las escrituras notariales privadas y el comienzo de su
uso regular en los diplomas reales; el latín se reserva ya sólo
para los privilegios más solemnes. Aun éstos llegan a
redactarse corrientemente en castellano durante el reinado
siguiente de Alfonso X, el Sabio.
22
Dessa forma, o castelhano se propaga e cresce em importância
à medida que se consolida o poder administrativo e político dos
castelhanos nas regiões dominadas, rumo ao sul da Península, fato que
culmina com a conquista de Granada e oficializa o castelhano como
instrumento de comunicación y cultura válido para todos los españoles
.
23
22
Coincidindo com a ocupação da maior parte de Extremadura e Andaluzia, ocorre a extensão da língua
vulgar nas escrituras notariais privadas e o começo de seu uso regular nos diplomas reais; o latim se
reserva somente aos momentos mais solenes. Ainda estes chegam a ser redatados correntemente em
castelhano durante o reinado seguinte de Afonso X, o Sábio. Tradução livre ao português.
23
Instrumento de comunicação e cultura válido para todos os espanhóis. Tradução livre ao português.
Lapesa, R. (op. cit.:192)
44
Segundo Menéndez Pidal (1950:513),
El gran empuje que Castela dio a la reconquista por Toledo y
por Andalucía y el gran desarrollo de la literatura y cultura
castellanas trajeron consigo la propagación del dialecto
castellano, antes poco difundido, el cual, al dilatarse por el sur,
desalojando de ala los empobrecidos y moribundos dialectos
mozárabes, rompió el lazo de unión que antes existía entre los
dos extremos oriental y occidental e hizo cesar la primitiva
continuidad geográfica de ciertos rasgos comunes del Oriente
y del Occidente que hoy aparecen extrañamente aislados entre
si.
24
Dentro desse contexto, o castelhano, por ter sido elevado à
língua oficial presente nos documentos notariais, principalmente os dos
séculos XII e XIII, aliado ao fato de a expansão castelhana ter sido mais
significativa a partir do século XI, apresenta-nos uma rica fonte de
informações lingüísticas, pois, quanto mais ao sul se chegava com a
Reconquista, maiores as possibilidades de interferência dos dialetos
moçárabes na língua castelhana.
2.5 – O latim vulgar
Embora não se tenha uma precisão cronológica, se
considerarmos o período em que o latim foi dominante em todo o Império
Romano, é possível estabelecer três grandes momentos, (Basseto, 2001:
184) nos quais a língua latina, considerando aqui sua variedade vulgar ou
falada, evolui, até culminar nas línguas romances.
O primeiro deles é conhecido como fase latina e
corresponde ao período em que o latim vulgar e urbano era a
língua do Império, isto é, aproximadamente do século VI a.C.
ao século V ou VI d.C., durante os quais intervieram os fatores
24
O grande apoio que Castela deu à reconquista por Toledo e pela Andaluzia e o grande
desenvolvimento da literatura e cultura castelhanas trouxeram consigo a propagação do dialeto
castelhano, antes pouco difundido, o qual, ao expandir-se pelo sul, desalojando os empobrecidos e
moribundos dialetos moçárabes, rompeu os laços de união que antes existia entre os dois extemos,
oriental e ocidental, e fez cessar a primitiva continuidade geográfica de certos traços comuns do Oriente e
do Ocidente que hoje aparecem tão estranhamente isolados entre si. Tradução livre ao português.
45
internos e externos que, posteriormente, farão surgir as
línguas românicas.
Nesse período, devido a diversos fatores como os diferentes
níveis de latinização das regiões, a relação com os substratos e adstratos
e, grosso modo, a partir do século VI, a fragmentação do Império e o
desaparecimento da língua vulgar, temos os primeiros passos do
surgimento do que mais tarde viemos a conhecer como línguas romances.
Segue a fase romance, período no qual o latim vulgar se
transforma nas línguas românicas modernas. Na verdade, o processo de
evolução sempre existiu e o que temos, a partir do culo VII, é
simplesmente o ápice desse processo.
O terceiro momento seria a consolidação das línguas românicas
modernas.
Coseriu (1954:19) afirma que, até aproximadamente o século I
d.C., os sistemas de isoglossas latinos, que diferenciavam a língua escrita
da língua falada, eram tão pouco expressivos que é possível afirmar que,
nessa época, existia somente uma língua, ou seja, a língua escrita
correspondia, em grande parte, à língua falada.
A partir dos séculos III e IV d.C., as isoglossas diferenciadoras
começaram a proliferar-se de modo bastante rápido, a ponto de serem
muito superiores às comuns, estabelecendo-se a diferença entre o latim
literário ou escrito e o latim coloquial ou falado nessa época.
(...) lo que en realidad oponemos no es el latín corriente o
hablado al latín literario escrito, sino más bien el latín en
evolución y en continuo movimiento de diferenciación al latín
codificado, prácticamente detenido en el siglo I a. C., al latín
clásico.
25
25
Op. Cit. , p. 21.
O que na
realidade opomos não é o latim corrente ou falado ao latim literário escrito,
mas sim o latim em evolução e em continuo movimento de diferenciação do latim codificado, o latim
clássico, praticamente detido no século I a. C.,. Tradução livre ao português.
46
Num momento posterior, nos séculos VI e VII, o sistema do latim
falado se apresenta tão diferenciado internamente que é possível tratar
essas isoglossas como línguas, dado o grau de diferença que adquirem
frente ao sistema latino mais amplo e, posteriormente, entre elas próprias.
O conceito de latim vulgar passou por várias transformações
dentro da historiografia lingüística. Por muito tempo, entendeu-se que a
língua vulgar foi, de certo modo, homogênea em todas as regiões do
Império devido ao fato de muitas ocorrências lingüísticas semelhantes ou
bastante próximas poderem ser encontradas em quase todas as línguas
romances, fato que sustentaria a tese de uma origem comum a todas elas.
A Friedrich Diez (1885) é atribuído o papel de ser o pai da
filologia românica por ter sido ele o primeiro a publicar uma gramática
comparativa e um dicionário de Etimologia das línguas romances. Foi
também o principal responsável pela primeira definição de latim vulgar.
Para Diez, as línguas romances eram derivadas de uma variedade popular
de latim (Volkslatein), falado principalmente pelos soldados, pelos
comerciantes, pelos funcionários públicos etc.. Era, portanto, uma língua
diferente do latim clássico, sob os pontos de vista fonético, sintático,
morfológico e léxico.
Coseriu (1954:4) atribui a essa visão de Diez a grande influência
exercida pelas idéias lingüísticas presentes na Idade Média, ao opor ao
latim considerado clássico, ou seja, ao latim literário usado no período
clássico, a língua falada, corrompida pelos iletrados.
Se retrocedermos pela história, veremos que essa tendência de
opor-se a língua escrita à falada é ainda mais antiga, como mostra Lyons
(1979: 9), tendo sua origem no século III a.C., na cidade grega de
Alexandria, como conseqüência do trabalho desempenhado pelos filólogos
alexandrinos, visando estabelecer uma norma padrão de língua grega que
servisse de base para a transcrição de antigos documentos, escritos em
grego antigo, que já não correspondiam ao grego falado na época.
47
A admiração pelas grandes obras literárias do passado encorajou
a crença de que a própria língua na qual elas tinham sido escritas
era em si mais “pura”, mais “correta” do que a fala coloquial
corrente de Alexandria e de outros centros helênicos. As
gramáticas escritas pelos filólogos helenistas tinham então dupla
finalidade: combinavam a intenção de estabelecer e explicar a
língua dos autores clássicos com o desejo de preservar o grego
da corrupção por parte dos ignorantes e dos iletrados.
Esse fato acaba por acarretar dois problemas, o que Lyons
classifica como o erro clássico no estudo da língua:
Primeiro Erro
Os filólogos alexandrinos consideravam que a língua escrita
era mais importante que a língua falada. Consideravam a
gramática como sendo a arte de escrever; assim, sempre que
havia uma diferença entre o que se falava e o que se escrevia,
consideravam a língua falada como dependente e derivada da
escrita.
Segundo Erro
Considerava-se que angua dos escritores áticos do século V
a.C. era mais correta que a fala coloquial de seu tempo e
supunha-se que a pureza de uma língua se mantém pelo uso
das pessoas cultas e se corrompe pelos iletrados.
Retornando ao latim, o fato de as línguas romances terem tido
sua origem da variedade falada dessa língua é praticamente incontestável.
No entanto, questiona-se o fato de o latim vulgar ter sido uma língua
homogênea em todas as províncias do Império e o de, principalmente, ser
uma outra língua, diferente do latim clássico.
Segundo Coseriu (1959:5),
(...) al considerarse el latín ‘vulgar’ como otra lengua, se pensó
en una lengua más o menos homogénea, una lengua unitaria,
hablada prácticamente idéntica en las varias provincias del
48
Imperio, y a cuyas formas podrían hacerse remontar las formas
de las lenguas romances.
26
Essa denominada homogeneidade lingüística era sustentada
pelo fato de acreditar-se que, por um longo período, a intensa circulação de
pessoas pelas províncias pudesse assegurar uma certa unidade lingüística
a todas as províncias romanizadas.
Os estudos sobre as chamadas Ursprachen (línguas primitivas
ou originais) atribuíram ao latim vulgar o estatuto de língua primitiva,
cabendo ao grande romanista alemão Wilhelm Meyer-Lübke a tarefa de
empreender uma reconstrução do latim vulgar a partir da comparação entre
as línguas românicas, apresentada no livro Einführung in das Studium der
romanischen Sprachwissenschaft
27
, publicado na Alemanha, em 1920, que
de certa forma contribuiu para a propagação da idéia de língua vulgar
homogênea.
no século XX, o lingüista italiano Matteo Bartoli publica em
Turim a obra Per la storia del latino volgare, na qual modifica
significativamente a noção de latim vulgar. Em vez de considerá-lo como
uma língua distinta do latim clássico, a diferença passa a ser interpretada
como cronológica.
La diferencia entre latín clásico y latín vulgar sería, pues, una
diferencia sobre todo cronológica, de edad de las formas: el
latín clásico, constituido en sus comienzos por formas ‘vivas’
(habladas) contendría un número cada vez mayor de
conservaciones, de formas ‘muertas’ (ya eliminadas de la
hablada), mientras el latín vulgar contendría un número cada
vez mayor de innovaciones. Desde un punto de vista absoluto,
un vocablo como pavor no sería ni más ni menos popular que
metus, sino simplemente más nuevo en su empleo: metus era
perfectamente popular en la época en que se difundió en Iberia
(esp. miedo), pero luego fue sustituido por pavor y peur en
Galia y paura en Italia. (…) Ello quiere decir que, según la
época en que se considere, el latín corriente o hablado
26
Ao considerar-se o latim ‘vulgar’ como outra língua, se pensou em uma língua mais ou menos
homogênea, uma língua unitária, falada praticamente idêntica nas várias províncias do Império, e a cujas
formas poderíamos remontar às formas das línguas romances. Tradução livre ao português.
27
“Introdução à linguistica românica”.
49
aparece cada vez más apartado del latín literario, que
prácticamente se detiene en su evolución en los últimos os
de la República y los primeros años del Imperio y, al mismo
tiempo, aparece cada vez más diferenciado, abarca cada vez
más un número menor de isoglosas generales.
28
Nos documentos notariais, a presença do latim medieval e a do
castelhano se misturam, de modo a evidenciar um momento de transição
de uma língua que sempre contou com um status social e de prestígio,
mas que não era mais usada de modo freqüente, para outra, que era a
língua falada, o romance.
28
A diferença entre o latim clássico e o latim vulgar seria, portanto, uma diferença sobretudo cronológica,
de idade das formas: o latim clássico, constituído inicialmente por formas ‘vivas’ (faladas) conteria um
número cada vez maior de preservações, de formas ‘mortas’ (já eliminadas da língua falada), enquanto o
latim vulgar apresentaria um mero cada vez maior de inovações. De um ponto de vista absoluto, um
vocábulo como pavor não seria nem mais nem menos popular que metus, apenas simplesmente de uso
mais recente: metus era perfeitamente popular na época em que se difundiu na Ibéria (espanhol miedo),
mas logo foi substituído por pavor e peur na Gália e paura na Itália. (...) Isso quer dizer que, segundo a
época que se considere, o latim corrente ou falado aparece cada vez mais separado do latim literário, que
praticamente se deteve em sua evolução nos últimos anos da República e nos primeiros anos do Império
e, ao mesmo tempo, aparece cada vez mais diferenciado, abrangendo cada vez mais um número menor
de isoglossas gerais. Tradução livre ao português.
50
Capítulo 3
Sobre a transitividade verbal
e relações de
complementação no
sintagma verbal
51
Ainda que estejamos falando sobre um conceito clássico de
transitividade, formulado inicialmente para explicar as relações entre os
verbos e seus complementos em latim e grego, não significa que ele não
esteja em uso.
Segundo Cano Aguilar (1987:15), o sentido latino de transitivus,
relacionado morfológica e semanticamente com transiens (do verbo
transire) foi usado gramaticalmente para indicar que
...un miembro de la frase
no se bastaba a mismo, sino que necesitaba referirse a otro: idea, pues, de
‘paso’ o ‘tránsito’.
29
O conceito de transitividade como a capacidade do verbo de
“transitar” sentidos entre os elementos da frase vincula-se diretamente à
categoria gramatical de vozes verbais, conceito este já presente no grego e
no indo-europeu, (Bassols de Climent,1948: 3 e passim; Faria, 1958:389),
posteriormente adaptado pelos gramáticos latinos para explicar as
diferentes formas pelas quais o verbo expressava suas relações de
sentido.
Essa relação diz respeito ao papel exercido pelo sujeito na frase:
se o sujeito participasse ativamente da ação denotada pelo verbo, este
vinha na forma ativa; quando, ao invés de participar ativamente, o sujeito
sofresse ou recebesse a ação verbal, o verbo modificava-se e era
veiculado na forma passiva.
30
A instituição das vozes ativa e passiva foi determinante para a
concretização do conceito de transitividade, uma vez que os verbos
passaram a ser considerados transitivos quando conseguiam passar (=
trans ire) de ativos a passivos e vice-versa, e intransitivos quando não
conseguiam realizar tal transição.
29
...um membro da frase não se bastava a si mesmo, mas necessitava referir-se a outro: idéia, portanto,
de ‘passagem’ ou ‘tránsito’. Tradução livre ao português.
30
BELLO, A. (1958:110), Uenti agitant undas (Os ventos agitam as ondas) opõem se a Uentis agitantur
undae (As ondas são agitadas pelos ventos).
Vale destacar que tanto o grego quanto o indo-europeu possuíam, além das duas vozes citadas, um
tempo chamado voz média, de permanência efêmera em latim. Compreendia as situações em que o
sujeito, ao mesmo que exercia, era o destinatário da ação verbal, função que nas línguas românicas,
grosso modo, foi substituída pelos verbos reflexivos. Cf. Bassols de Climent, 1945.
52
Segundo Bello (idem),
Os verbos que se usam nestas duas construções (ativa e
passiva) são chamados transitivos, porque neles uma ação
real ou imaginária que passa de um objeto a outro. (...) A voz
ativa e passiva formam um verbo transitivo completo.
Os verbos que, tendo somente as formas da voz ativa não se
constroem como ativos, ou seja, com um acusativo que
significa o objeto que recebe a ação, se chamam intransitivos
ou neutros.
Nesse contexto, um elemento gramatical que ganha muita
importância nos estudos sobre a transitividade verbal é o papel do objeto
direto na formação da voz ativa, dado que o caso usado para indicar o
elemento no qual se concretizava e se dirigia a ação verbal era o acusativo,
que,
por completar diretamente o sentido do verbo transitivo, costuma chamar-se
vulgarmente “acusativo de objeto direto”.
(Faria, 1958:334).
Podemos concluir que o verbo era considerado transitivo se
realizado nas duas vozes, sendo que, na ativa, a ação expressa pelo
agente do caso nominativo recaía diretamente sobre o do acusativo.
Por oposição, os verbos intransitivos estabelecem uma relação
de impossibilidade de realizar-se nas duas vozes, ainda que possuam uma
forma ativa
31
.
Contudo a aparente precisão teórica das definições lingüísticas
nem sempre representa a real funcionalidade da língua de modo que era
freqüente em latim e continua sendo nas línguas românicas o uso de
verbos transitivos como intransitivos e vice-versa.
Segundo Alarcos Llorach (1999:349), ainda que o critério da
presença do objeto direto tenha sido amplamente usado pela tradição
gramatical para classificar-se um verbo como transitivo ou intransitivo,
31
É necessário lembrar que o conjunto de verbos que apresentam um lugar na estrutura argumental é
heterogêneo, constituindo duas classes diferentes: a dos “inergativos” (“intransitivos” propriamente ditos,
cujo sujeito é “ativo”) e aquela dos “inacusativos”.
53
nota-se claramente a presença de verbos usados com ou sem a
complementação; inclusive, verbos que normalmente o empregados
como intransitivos recebem objeto direto.
32
Parece razoável considerar que a propriedade da transitividade
não deva ser atribuída somente ao verbo, devendo existir outros fatores
que a favoreçam.
Um dos grandes problemas teóricos de se atribuir ao verbo a
transitividade é que a distinção entre transitivo e intransitivo não é somente
uma questão de diferença gramatical, que nos permite separá-los em
categorias fechadas de transitivos ou intransitivos, mas também a presença
de um traço semântico muito forte, que deve ser igualmente considerado,
segundo as necessidades discursivas de produção.
Segundo Alarcos Llorach (1994:149), o que existe não são
verbos gramaticalmente diferentes, mas sim estruturas diferentes de
predicados,
unas reducidas a un solo sintagma, otras en que el núcleo del
predicado el sintagma llamado verbo va acompañado de
ciertos términos adyacentes. La separación de verbos
transitivos e intransitivos se basa en una confusión de nivel en
que se practica el análisis: no es la función gramatical del
verbo, la oracional, la que exige la presencia o la ausencia de
términos adyacentes, sino el valor semántico de su signo léxico
el que exige o no delimitaciones de tipo semántico.
33
Assim, a transitividade começa a ser entendida como uma
característica de certos predicados e não somente de seu núcleo, ou seja,
do verbo em si, que as freqüentes possibilidades de transitividades com
32
El niño comía las patatas. – Este niño no come.
Fumaba siempre cigarrillos. – No fuma nunca.
Escribió un libro. – Escribía desde joven.
Durmió un sueño profundo.
Vive una vida muy regalada.
33
Umas reduzidas a um único sintagma, outras em que o núcleo do predicado o sintagma chamado
verbo vai acompanhado de certos termos adjacentes. A separação de verbos transitivos e intransitivos
se baseia em uma confusão referente ao nível em que se paratica a análise: não é a função gramatical do
verbo, a oracioanal, a que exige a presença ou a ausência de termos adjacentes, mas sim o valor
semântico de seu signo léxico que exige ou não delimitações de tipo semântico. Tradução livre ao
português.
54
o mesmo verbo apontam para uma relação sintático-semântica mais
abrangente.
Ao deslocar a atribuição da transitividade do verbo a todo o
predicado, considerando as necessidades de produção discursiva,
estamos caminhando rumo a uma interpretação funcional da linguagem,
que não somente considera as relações lingüísticas em si, mas também
sua relação com o ato comunicativo.
Segundo Martellota et alli (2003:20),
o pólo funcionalista caracteriza-se pela concepção da língua
como um instrumento de comunicação, que, como tal, não
pode ser analisada como um objeto autônomo, mas como uma
estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das diferentes
situações comunicativas, que ajudam a determinar sua
estrutura gramatical.
Cunha et alii (2003:29) não consideram somente a análise
sintática como importante, mas a relacionam à semântica e à pragmática,
estando todas elas interligadas.
Segundo a hipótese funcionalista, a estrutura gramatical
depende do uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é
motivada pela situação comunicativa. Nesse sentido, a
estrutura é uma variável dependente, pois os usos da língua,
ao longo do tempo, é que dão forma ao sistema. A
necessidade de investigar a sintaxe nos termos da semântica e
da pragmática é comum a todas as abordagens funcionalistas
atuais.
Os estudos funcionalistas de Hopper e Thompson (1980)
atribuem à transitividade uma noção escalar, gerada de acordo com as
necessidades discursivas, de modo que afirmam existir uma gradação
baseada em dez parâmetros sintático-semânticos independentes.
Na tabela a seguir, temos um resumo de tais parâmetros e
como funcionam na determinação da transitividade.
55
Tabela 1 – Parâmetros de transitividade
Parâmetros Alta transitividade Baixa transitividade
Participantes Dois ou mais
participantes
Um participante
Kinesis Ação Não ação
Aspecto do verbo Perfectivo Não perfectivo
Pontualidade da ação
verbal
Pontual Não pontual
Intencionalidade do
sujeito (volicionality)
Intencional Não intencional
Polaridade da oração Afirmativa Negativa
Modo verbal Realis (modo
indicativo)
Irrealis (modo
subjuntivo)
Agentividade do
sujeito
Agentivo Não-agentivo
Afetamento do objeto Afetado Não afetado
Individuação do
objeto
Individuado Não-individuado
Dada a relação entre a transitividade e o discurso, Hooper e
Thompson (1980) consideram que as sentenças que apresentam alta
transitividade estão relacionadas com partes do discurso onde a carga
informacional é maior, ou seja, correspondem à sua porção central,
enquanto que as de menor transitividade aparecem em partes periféricas
dos textos, com menor quantidade de informações.
Segundo Cunha et alli (Op. Cit.: 39),
a transitividade oracional es relacionada a uma função
pragmática. O modo como o falante organiza seu texto é
determinado, em parte, pelos seus objetivos comunicativos e,
em parte, pela sua percepção das necessidades do seu
interlocutor. Neste sentido, o texto apresenta uma distinção
entre o que é central e o que é periférico. (...) Em termos de
estrutura de texto, ou de planos discursivos, a divisão entre
central e periférico corresponde à distinção entre figura e
fundo. (...) Há, portanto, uma correlação forte entre a marcação
56
gramatical dos parâmetros da transitividade e a distinção entre
figura e fundo.
Do ponto de vista de Hooper e Thompson, a análise das
estruturas transitivas passa pela análise textual e pela veiculação da
informação, sendo que as relações de predicação mais formais do ponto
de vista sintático são apenas o resultado desse processo.
Contudo, um estudo mais detalhado do ponto de vista sintático
não pode deixar de considerar também os aspectos mais formais da
estrutura gramatical e, mesmo que haja uma motivação discursiva, o modo
como as relações de predicação se realizam na sintaxe deve ser levado
em conta.
3.1 – A complementação verbal
A noção de objeto está, dentro do marco da gramática
tradicional, diretamente relacionada ao verbo e ao modo como se entende
a transitividade. Como foi dito, a transitividade se definia principalmente
pela presença do objeto direto, o que levava à definição dessa função
apenas por critérios semânticos.
Segundo Alarcos Llorach (Op. Cit.:150), o que existe não é uma
transferência de sentidos, uma vez que lingüisticamente
no pasa nada de
nadie a nadie: se ponen solo en relación tales y tales signos.
34
Campos (1999:1529) considera como verbo transitivo aquele
que pode aparecer com um objeto direto regido tanto num nível semântico
quanto sintático.
Segundo o autor, a regência sintática é a capacidade atribuída
ao verbo de determinar o tipo de sintagma que vai realizar o seu
complemento. A regência semântica se relaciona à capacidade dos verbos
de determinar certas característica semânticas de seus objetos e a
presença ou não desses argumentos (estrutura semântica ou valências,
segundo a teoria considerada).
34
...não passa nada de uma pessoa a outra: apenas se estabelecem relações entre tais signos. Tradução
livre ao português.
57
Essa seria, portanto, a propriedade fundamental do verbo, a de
selecionar os argumentos que formarão a estrutura argumental da
sentença, sendo os objetos direto e indireto elementos dessa estrutura.
Segundo Castilho (2001:93), o vocábulo argumento deve ser
entendido como o
termo adjacente ao verbo, por ele subcategorizado
35
.
Ao atribuir à sentença propriedades semânticas e sintáticas,
podemos considerar que a sentença seria, segundo Galves (1988),
(...) a projeção sintática das propriedades de subcategorização
de um verbo, em outros termos, a projeção da estrutura
argumental desse verbo. Neste sentido, o verbo é o núcleo da
oração.
Castilho (idem) destaca a diferença entre os argumentos
selecionados pelo verbo. O chamado argumento interno complemento
verbal – se realiza dentro do sintagma verbal, enquanto o argumento
externo – sujeito – se localiza fora desse sintagma.
Pode-se dizer que o radical do verbo subcategoriza os
argumentos internos (ou complementos), assim denominados
porque são gerados ‘no interior do sintagma verbal’, ao passo
que a flexão do verbo subcategoriza o argumento externo (ou
sujeito), gerado ‘fora do SV’. Essas afirmações se baseiam no
fato de que o verbo (i) tem em sua morfologia dois
constituintes, o radical e as desinências, fato que teria uma
óbvia conseqüência sintática, e (ii) concorda com o sujeito, o
que é indicado pela flexão, mas não concorda com o
complemento. Os argumentos verbais têm, portanto, um
comportamento sintático diverso.
Entretanto alguns complementos também selecionados pelo
verbo e gerados dentro do sintagma verbal não são proporcionais a um
objeto direto ou indireto, como é o caso dos sintagmas preposicionais, (Di
35
Entendo subcategorizado como exigido pelo item lexical verbal, no sentido acima mencionado.
58
Tullio,1997:116), de modo que se faz necessário estabelecer critérios
lingüísticos que possam distinguir corretamente os sintagmas argumentais
que funcionam como objetos diretos e indiretos daqueles que não o fazem.
Um dos procedimentos sintáticos tradicionais utilizados para a
determinação do objeto direto é a transformação da sentença da voz ativa
na passiva, sendo esse, como dissemos, um dos critérios para
determinar a transitividade verbal segundo a gramática tradicional. A
desvantagem de tal processo é que nem todas as sentenças com
argumento interno podem aparecer na voz passiva, o que excluiria uma
grande gama de verbos, tais como tener:
I.
Maria tiene un libro de español.
II.
*Un libro de español es tenido por María.
36
Outra tendência é a de considerar o pronome como uma classe
primitiva e os substantivos como, segundo Castilho (2003:95),
propronomes. Pelo fato dos pronomes (pessoais) não terem “sentido
próprio”, mas sim preservarem suas funções latinas de dativo e
acusativo
37
, poderiam descrever com mais segurança a estrutura
argumental da sentença, à medida que se estabelecem relações de
proporcionalidade entre o pronome e o termo adjacente subcategorizado
pelo verbo.
Essa relação de proporcionalidade
38
e não mais de substituição
entre o pronome e um termo nominal aparece em Blanche-Benveniste et
alii. (1984:26), citado por Castilho (idem),
O elemento pronominal seria o resultado, explicito ou implícito,
de um processo de pronominalização, fundado freqüentemente
numa argumentação pragmática. (...) Nós deduzimos uma
teoria inversa da teoria herdada: é o pronome ou a unidade
subjacente induzida a partir do pronome que constitui a base
36
I. Maria tem um livro de espanhol.
II. Um livro de espanhol é tido por Maria. Tradução livre ao português.
37
Do antigo sistema de declinação latino, pode-se afirmar que se conservou nas línguas românicas o
sistema dos pronomes pessoais, principalmente nas formas átonas de terceira pessoa, que mantiveram a
oposição entre as antigas funções de dativo e acusativo.
38
Entendemos proporcionalidade como sendo a relação estabelecida entre um pronome e o termo
lexicalizado, apresentando ambos as mesmas funções sintáticas.
59
lingüística do enunciado. Os outros elementos podem ser
apresentados como sendo o resultado do processo de
lexicalização.
Dessa forma, estabelecer o vínculo de um complemento com um
pronome pode significar um procedimento mais seguro na determinação
dos objetos diretos e indiretos.
Por essa abordagem, se o termo adjacente ao verbo é
proporcional a um pronome sujeito, no caso espanhol (yo, tú, él, ella,
nosotros, vosotros, ellos, ellas) e, se com ele estabelecer uma relação de
concordância, identificamos esse sintagma como o sujeito da sentença.
Por outro lado, se a relação de proporcionalidade se estabelecer
com um pronome clítico acusativo (me, te, lo, la, los, las), o termo
lexicalizado será um objeto direto que, em espanhol, poderá vir em alguns
casos marcado pela preposição a. Se, além dos pronomes descritos
acima, o termo corresponder a um dativo (le, les), teremos o objeto
indireto.
Esse procedimento, conhecido como abordagem pronominal da
sintaxe, proposto por Alarcos Llorach (1970)
39
, foi utilizado para selecionar
adequadamente os complementos verbais que funcionam com argumento
interno e que serão objeto de estudo neste trabalho.
Segundo Gutiérrez Órdonez, (1999:1869 e passim), são as
seguintes as vantagens desse critério:
I.
A proporção a um pronome obedece apenas a condições
funcionais. No caso dos objetos indiretos, cuja referência são os
pronomes le-les, a condição a ser cumprida é que o sintagma
proporcional desempenhe uma função que pertença ao mundo
dos dativos, não exigindo que seus referidos
sean “animados”
(como alguien) o que posean el rasgo “locativo” (como allí)
(...);
40
39
ALARCOS LLORACH, E. Verbos transitivos, verbos intransitivos, estructura del predicado. In: Estudios
de gramática funcional. Madrid: Gredos, 1970.
40
...sejam ‘animados’ (como alguém) o que possuam o traço ‘locativo’ (como ali) (...) Tradução livre ao
português.
60
II.
satisfaz a condição de inmanencia, ou seja, a explicação
lingüística é feita com argumentos lingüísticos. Está de acordo
também com os três princípios empíricos propostos por
Hjelmslev, que são a coerência, a exclusividade (não recusa um
constituinte, salvo por critérios funcionais) e a simplicidade de
emprego
41
;
III.
além de identificar sintagmas com a mesma função, serve
também para determinar-lhes os limites, assumindo uma función
demarcativa, como nos exemplos a seguir:
a) Tengo nuevos dos discos.
a’) Los tengo nuevos. (Los = dos discos)
b) Tengo dos nuevos discos.
b') Los tengo. (Los = dos nuevos discos)
A determinação dos objetos diretos e indiretos mediada pela
equivalência a um pronome pode apresentar alguns problemas que devem
ser observados e evitados ao longo desse processo, tais como:
I. a semelhança morfológica entre os pronomes de primeira (me,
nos) e segunda pessoas (te, os) - nesses casos, a determinação da função
do objeto, como em Me pegó, objeto indireto, e Me castigó, objeto direto, é
definida pelo paradigma verbal;
II. os casos de laísmo, loísmo e leísmo
42
; em verbos com três
argumentos, a pronominalização do objeto direto e indireto pode minimizar
o problema:
a) La escribió un poema a Inês. (laísmo)
b) Se lo escribió.
O estreito vínculo entre os pronomes e suas funções sintáticas
latinas levanta a questão sobre até que ponto seria correto chamar os
atuais complementos diretos e indiretos pelos antigos casos latinos
acusativos e dativos, respectivamente.
41
Isso é extremamente verdadeiro para aqueles dialetos que têm o caso como base do sistema
pronominal, como esclarecido a seguir.
42
O laísmo e o loísmo consistem no uso do pronome la y lo, respectivamente, na função de objeto
indireto. O leísmo é o emprego de le(s) como objeto direto.
61
Até o século XIX, a discussão sobre a existência de casos latinos
no espanhol ainda não havia terminado, o que levou alguns autores a
aproximar as relações sintáticas latinas ao uso que se dava em espanhol,
como indica Gutiérrez Órdoñez (1999:1859), citando Vázquez (1990:429),
La situación en español plantea a los gramáticos un problema
distinto, no tiene esta lengua un procedimiento de expresión
único y tan evidente como la flexión casual para expresar las
relaciones entre los constituyentes de la cláusula. A pesar de
esto, nuestros gramáticos intentaron seguir lo más fielmente
posible los esquema de la lingüística clásica, y no encontraron
otro camino que partir de los contenidos que se asignaban a
cada caso latino para, a continuación, intentar encontrar en la
expresión algún indicio que permitiese hablar también en
español de un nominativo, un acusativo, etc.
43
Uma mudança de posicionamento surge em decorrência dos
estudos funcionalistas, que introduziram as idéias de objeto, direto e
indireto, representando uma ruptura conceitual com a tradição latina. A
principal modificação estava no modo como a sintaxe passou a ser
explicada. De uma dependência morfológica, passou a ser, segundo
Gutiérrez Órdonez (1999:1860),
vista, por el contrario, desde los ‘casos semânticos’. (...)
Cuando se introduce la noción de ‘oficio’, (precursora del
concepto de función) la sintaxis inicia una andadura
autónoma.
Este nuevo cambio no significó la desaparición de los términos
tradicionales (‘nominativo’, ‘acusativo’, ‘dativo’…), que ahora
pasan a ser variantes denominativas de las correspondientes
funciones sintácticas (‘nominativo’ o ‘sujeto’, ‘acusativo’ o
‘complemento directo’, ‘dativo’ o ‘complemento indirecto’…)
44
43
A situação em espanhol propõe aos gramáticos um problema distinto: não existe nessa língua um
procedimento de expressão único e tão evidente como a flexão casual para expressar as relações entre
os constituintes da sentença. A pesar disso, nossos gramáticos tentaram seguir o mais fielmente possível
os esquemas da lingüística clássica, e não encontraram outro caminho a não ser partir dos conteúdos que
se apresentavam a cada caso latino para, em seguida, tentar encontrar na expressão algum indício que
permitisse falar também em espanhol de um nominativo, um acusativo, etc. Tradução livre ao português.
44
...
vista, pelo contrário, a partir dos ‘casos semânticos’. (...) Quando se introduz a noção de ‘oficio’,
(percursora do conceito de função) a sintaxe inicia uma trajetória autônoma.
Esta nova modificação não significou o desaparecimento de termos tradicionais (‘nominativo’, ‘acusativo’,
‘dativo’...) que agora passam a ser variantes denominativas das correspondentes funções sintáticas
(‘nominativo’, ou ‘sujeito’, ‘acusativo’ ou ‘objeto direto’, dativo’ ou ‘objeto indireto’...)
62
Segundo Bello (1847:757), a melhor opção era abandonar o uso
dos nomes latinos porque, em latim, estavam diretamente relacionados às
desinências e aos casos, o que não acontecia no espanhol, uma vez que
não temos desinências, mas sim complementos.
De mesma opinião é Cano (1987:18), para o qual os termos
acusativo e dativo são
muy poco afortunados en una lengua sin flexión casual.
45
3.1.1 – O objeto direto em espanhol
O objeto direto sempre esteve vinculado à noção de verbo
transitivo, como nessa citação que Di Tullio (1997: 103) faz do Esbozo,
vocablo que precisa la significación del verbo transitivo, y
denota a la vez el objeto (persona, animal o cosa) en que recae
directamente la acción expresada por aquél. Se llama directo
porque en él se cumple y termina la acción del verbo, y ambos
forman una unidad sintáctica ‘verbo + objeto directo’.
46
Tradicionalmente, o objeto direto era identificado devido ao seu
papel temático de paciente afetado. No entanto, ainda que este seja o caso
mais típico, não é o único, podendo aparecer também como o objeto
surgido a partir da ação verbal, não possuindo existência prévia, (Di Tullio
(1997: 104), como em
María pintó un cuadro.
47
A autora também se refere aos objetos diretos que estão de certo
modo ligados a sensações de percepção ou estímulos psicológicos, como
em
Luisa oyó el disparo; Manuel adora la música rock
.
48
45
...
não são adequados a uma língua sem flexão casual. Tradução livre ao português.
46
Vocábulo que precisa a significação do verbo transitivo e denota ao mesmo tempo o objeto (pessoa,
animal ou coisa) em que recai diretamente a ão expressada por aquele. Chama-se direto porque nele
se cumpre e termina a ação do verbo, e ambos formam uma unidade sintática verbo+objeto direto’.
Tradução livre ao português.
47
Maria pintou um quadro. Tradução livre ao português.
48
Luisa ouviu um disparo; Manuel adora rock. Tradução livre ao português.
63
De um ponto de vista semântico, Campos (1999:1531), citando
Demonte (1990), estabelece dois tipos de papéis temáticos básicos que
caracterizam a relação entre o sujeito e o CD:
Llamaremos ‘agente’ al argumento que ‘designa al realizador
directo, animado o inanimado, de la acción que el verbo
menciona o a la causa voluntaria o involuntaria de la misma’.
(…)
Por otra parte consideraremos ‘pacientes’ a tres tipos
diferentes de complementos: (a) los complementos
‘afectados’; (b) los complementos ‘efectuados’ y (c) los
complementos ‘desplazados’. Complementos afectados son
aquellos argumentos cuyo estatus, propiedades o localización
pueden ser afectados por la acción expresada por el verbo.
Complemento efectuado es aquel que designa el resultado de
una acción o el proceso del verbo. Complemento desplazado
es aquel argumento que designa al objeto que se mueve.
(…)
49
A partir da relação dos papéis temáticos, os verbos se
agrupariam em basicamente duas grandes categorias, com pequenas
subdivisões em cada uma delas, segundo sua carga semântica:
I. o sujeito é agente ou causa e o complemento direto é paciente,
sendo interpretado como afetado, efetuado ou deslocado, entrando nessa
classificação verbos como hacer, causar, provocar, ordenar, emocionar,
enganar, traicionar, comer, beber, iniciar, poner, cargar, atravesar, presidir,
tocar, tener, perder, dar, robar, obligar, decir etc.
II. essa segunda categoria relaciona os verbos de atividade
cognitiva, Cano Aguilar (1981); nela, o sujeito é um experimentador e o CD
é um tema ou o objeto que é efetuado ou percebido. Campos (1999:1536),
49
Chamaremos ‘agente’ ao argumento que ‘designa o realizador direto, animado ou não, da ão que o
verbo menciona ou a causa voluntária ou involuntária da mesma’ (...)
Por outro lado, consideraremos ‘pacientes’ três tipos diferentes de complementos:
a) complementos ‘afetados’;
b) complementos ‘efetuados’;
c) complementos ‘deslocados’.
Complementos afetados são aqueles argumentos cujo estatus, propriedades ou localização podem ser
afetados pela ação expressada pelo verbo. Complemento efetuado é aquele designa o resultado de uma
ação ou o precesso do verbo. Complemento deslocado é aquele argumento que designa o objeto que se
move. (...) Tradução livre ao português.
64
classifica como
experimentante a un actor involucrado y afectado por la acción
del verbo.
Como exemplos dessa classe temos os verbos ver, sentir, saber,
aprender, creer, imaginar, querer, esperar, sufrir, soportar, necesitar,
merecer, amar, detestar etc.
Visto a partir de um ponto de vista estrutural, o objeto direto pode
apresentar-se como um sintagma nominal ou como uma oração:
a) Yo temía la llegada de Julián
b) Yo temía que Julián llegara.
50
3.1.2 – O objeto direto preposicionado
51
A questão do objeto direto preposicionado (CDP) em espanhol é
muito estudada e discutida, principalmente no que diz respeito à origem
desse fenômeno, que não se restringe ao espanhol, mas que também
aparece com maior ou menor freqüência em outras línguas romances. De
modo geral, podemos dizer que as teses mais debatidas sobre o uso do
CDP se referem a:
I.
analogia com o sujeito;
II.
analogia com o dativo;
III.
mudança de transitividade dos sintagmas verbais.
Segundo a Gramática da Real Academia Española (1999: 347),
os contextos lingüísticos favoráveis ao aparecimento do CDP no espanhol
moderno são os seguintes:
I.
Sintagma nominal com determinante:
Encontré al comprador
.
II.
Substantivos pessoais:
Te busca a tí.
III.
Nomes próprios de pessoas ou animais singularizados:
Fue
Don Quijote uno de los que crearon a Cervantes /Yo trato a Platero
cual si fuese un niño.
50
a) Eu temia a chegada de Juliano.
b) Eu temia que Juliano chegasse. Tradução livre ao português.
51
Não foram encontrados registros de uso do complemento direto preposicionado nos documentos
estudados. Tanto o verbo dar quanto vender formam a complementação verbal com elementos que não
possuem as características semânticas que favorecem o uso do CDP em espanhol, por exemplo, o traço
de + humanidade.
65
Esses contextos, porém, nem sempre foram os mesmos, que
no espanhol medieval era possível encontrar objetos diretos com o
sintagma nominal + animado e + específico sem a preposição a e vice-
versa, assim como apontam Menéndez Pidal (1950:374) e Bastardas
Parera (1953:36), respectivamente:
(...) Del uso de ‘a’ o ‘ad’ indicando acusativo de persona,
hallamos muchos ejemplos [nos Documentos Lingüísticos
de España] (...) ’rogauit ad uos con omines bonos’. (...).
También debe notarse un acusativo de cosa con ‘a’: ‘tuviere
tajado su miembro’; puede compararse al verso 1088 del
Cid: ‘Dexado á Saragoça e a las tierras ducá’. (véase Mio
Cid, pág. 339) y a muchos otros que ofrece la lengua de los
siglos posteriores.”
La caracterización del complemento directo mediante la
preposición a’ debió ser una innovación relativamente
moderna; quizá exclusivamente románica. Corrobora tal
aserto el hecho de que en los antiguos monumentos
literarios del castellano este uso tiene todavía poca fijeza.
En el Cid, al lado de 245: ‘reciben al que en buen ora
nasco’, aparece 1583: ‘reçibir...las dueñas...’.
52
Maurer Júnior (1959:200) coloca como difícil a localização da
origem do objeto direto regido pela preposição ad, encontrado desde a
época latina. Como aparece, contudo, em dialetos romances
geograficamente separados, português, espanhol, corso, engadino,
siciliano e dialetos da Itália Meridional, sua hipótese é a de que se trata de
um
fenômeno de extensão limitada e não um processo geral da língua vulgar.
52
Do uso de ‘a’ ou ‘ad’ indicando acusativo de pessoa, encontramos muitos exemplos [nos Documentos
Lingüísticos da Espanha] (...) rogauit ad uos con omnes bonos’. (...).
Também encontramos a presença de um acusativo de coisa com ‘a’: ‘tuviere tajado su miembro’; que
pode ser comparado ao verso 1088 do Cid: ‘Dexado a Saragoça e a las tierras ducá’ (...) e a muitos outros
que oferece a língua dos séculos posteriores.
A caracterização do complemento direto mediante a preposição ‘a’ deve ser uma inovação
relativamente moderna; talvez exclusivamente românica. Corrobora tal afirmação o fato de que nos
antigos clássicos literários do castelhano este uso tem ainda pouca firmeza. No Cid, ao lado de 245:
‘reciben al que em buen ora nasco’, aparece 1583: ‘reçibir...las dueñas...’. Tradução livre ao português.
66
I – Analogia com o Sujeito
A tese da analogia com o sujeito é uma das mais antigas e
freqüentes na tradição gramatical. Essa relação se dá principalmente pelos
traços que tanto o sujeito quanto o objeto direto podem apresentar.
Segundo Laca (1995:73), assim como os sujeitos, os objetos
diretos introduzidos pela preposição a, com as características de + definido
e + específico refletem uma autonomia referencial com relação à
predicação.
Un sujeto (más precisamente un sujeto temático de una
oración principal declarativa) queda siempre fuera de las
modalizaciones posibles de la predicación oracional, su
referencia queda establecida con independencia de la
predicación y, en tanto presuposición, es inmune al valor de
veracidad o a la ‘factualidad de la aserción.’ (…) La
autonomia referencial del objeto introducido por a parece ser
decisiva en las conocidas oposiciones del tipo
a) Estoy buscando una secretaria que haya trabajado antes
para un político. ¿Conoces alguna?
b) Estoy buscando a una secretaria que traba mucho
tiempo para Jorge. ¿La conoces?
53
Um outro traço que favorece a presença do CDP é o traço +
animado do objeto direto, o que pode provocar certa confusão com o
sujeito, segundo alguns autores. Nesses contextos, o uso da preposição a
antes do objeto direto serviria para estabelecer a diferença entre sujeito e
objeto.
53
Um sujeito, (mais precisamente um sujeito temático de uma oração principal declarativa), fica sempre
fora das modalizações possíveis da predicação oracional, sua referência fica estabelecida com
independência da predicação e, como pressuposição, é imune ao valor de verdade ou a ‘fatualidade da
aserção’. (...) A autonomia referencial do objeto introducido por a parece ser decisiva nas conhecidas
oposições do tipo
a) Estou procurando uma secretária que tenha trabalhado antes para algum político. Conhece
alguma?
b) Estou procurando a uma secretária que trabalhou muito tempo para o Jorge. Você a conhece?
Tradução livre ao português.
67
Segundo Torrego (1999:1784),
(...) las características de animacidad y especificidad del
objeto preposicional hacen que se produzca en ciertas
situaciones sintácticas, ambigüedad en las funciones
gramaticales de sujeto y objeto.
(...) como los complementos que llevan ‘a’ son animados y
los animados son precisamente la clase nominal que puede
ser agente, la omisión de la ‘a’ con estos verbos hace que el
objeto se pueda confundir con el sujeto también en el papel
semántico.
6) Perseguía el guardia el ladrón;
7ª) Perseguía al guardia el ladrón;
7
b
) Perseguía el guardia al ladrón.
54
Essa também é a posição adotada pela Real Academia Española.
Segundo Alarcos Llorach (1999: 346), basta a anteposição da preposição a
antes do termo que funcione como objeto direto para que a ambigüidade
seja desfeita.
Segundo Bastardas Parera (1953: 35),
El uso de la preposición ‘a’ para introducir al complemento
directo cuando éste es un nombre de persona, de ciudad e
incluso de animal, constituye una de las características del
castellano (...) Esta construcción se debe sin duda al deseo
de diferenciar el sujeto del complemento directo, que ya
hallamos confundidos en España a partir del siglo VIII.
55
Contudo Bastardas Parera baseia-se apenas em um exemplo
seguro do século X e três do século XI, para justificar sua afirmação.
54
(...) as características de animacidade e especificidade do objeto preposicional faz com que se
produzam em certas situações sintáticas, ambiguedade nas funções gramaticais de sujeito e objeto.
(...) como os complementos que levam ‘a’ são animados e os animados são precisamente a classe
nominal que pode ser agente, a omissão de ‘a’ com estes verbos faz com que objeto possa ser
confundido com o sujeito também no papel semântico.
6) Perseguia o guarda o ladrão.
7ª) Perseguia ao guarda o ladrão.
7
b
) Perseguia o guarda o ladrão.
55
O uso da preposição ‘apara introduzir o complemento direto quando este é um nome de pessoa, de
cidade e inclusive de animal, constitui uma das características do castelhano. (...) Esta construção se
deve, sem dúvida, ao desejo de diferenciar o sujeito do complemento direto, que se confundem na
Espanha a partir do século VIII. Tradução livre ao português.
68
II – Analogia com o Dativo
Outra tese bastante discutida pelos gramáticos é a que relaciona
a origem do CDP ao dativo. Teoricamente, uma coincidência formal
entre as estruturas de objeto indireto e objeto direto preposicionado
56
:
Vi a María. (La vi) Objeto direto
Habló a María. (Le habló) Objeto indireto
Gili Gaya (1979: 9-10) sustenta a tese de que o uso do CDP
tenha surgido na época pré-literária, em confusão com o dativo,
considerando a pessoa como interessada na ação, podendo ser
encontrado com grande freqüência nos textos primitivos, sem ser, porém,
obrigatório. Com o passar do tempo, passou a ter um uso mais geral no
espanhol moderno, ainda que apresente uma grande variação,
principalmente no que se refere à maior ou menor determinação da
pessoa ou ao grau do objeto direto.
III – Mudança de Transitividade dos Sintagmas Verbais
Outra tese presente nas discussões sobre o CDP relaciona-se à
transitividade dos verbos com objeto direto.
No tocante à relação maior transitividade – CDP, alguns autores
defendem a tese de que o surgimento do CDP esteja ligado à mudança no
regime de transição de alguns verbos latinos, ocorrida em algum momento
da evolução do latim vulgar para o ibero-romance.
Segundo Pensado (1995: 190),
(...) en iberorromance, sardo y suritaliano, aparece una forma
para marcar el índice de transitividad elevado, con
complementos humanos, sustituyendo el acusativo latino por un
giro que coincide con la expresión romance del CI. Con esto,
podemos ver que la aparición del CDP no es un hecho aislado
56
Exemplos extraídos de Laca (1995:74).
69
en la sintaxis del romance temprano, sino que la reorganización
de la transitividad debió de ser una tendencia del romance
con que, por efecto de la evolución fonética empezaba a
perder las marcas formales características de los casos latinos.
57
3.1.3 – O funcionamento do objeto direto em latim - caso
acusativo
O estudo dos documentos notariais do período em questão,
principalmente os dos séculos XII e XIII, no qual se verifica a transição de
uma escrita mais formal e ainda presa às formas latinas para o romance,
revelou uma intensa presença das relações de complementação latinas,
inclusive com as marcas da antiga declinação nominal do caso acusativo,
como demonstrado nos exemplos a seguir:
I. Rioja Alta 111 – 1152
(...) Don Gonzaluo de Tuesta
didit
Sancto Dominico
unan aream
, cum suo filio
Petro Sobrino, que est in Iano de Uilla cunez, circa
aream
Aluar Didaz de
Uillacunez e Martinuinez (...)
II. Toledo 260 – 1181
Ego magister de Calatraua y
totum conuentum
, y ego Tellus Petri,
spontanea nostra uoluntate facimus auinentia y
demus uobis
Tellus
Petri
hereditatem
por a .xxx. iugos de boues (…)
Por esse motivo, resolvemos incluir um breve comentário sobre o
funcionamento do acusativo em latim, uma vez que esse uso pode
justificar muitos dos nossos exemplos, além de demonstrar as situações
nas quais a língua romance começava a prevalecer sobre as construções
latinas.
Se hoje consideramos o objeto direto como um argumento
selecionado pelo verbo, veremos que essa relação de determinação nem
sempre foi expressa pelo acusativo.
Em latim, o acusativo não era usado exclusivamente como
57
(...) em ibero-romance, sardo e suritaliano, aparece uma forma para marcar o índice de transitividade
elevado, com complementos humanos, substituindo o acusativo latino por uma forma que coincide com a
expressão romance do complemento indireto. Com isto, podemos ver que a aparição do CDP não é um
fato isolado na sintaxe do antigo romance, mas sim que a reorganização da transitividade deve ter sido
uma tendência do romance comum que, por efeito da evolução fonética, começava a perder as marcas
formais características dos casos latinos. Tradução livre ao português.
7
0
complemento verbal, podendo indicar também, segundo Faria (Op. Cit.
366), o
termo para o qual tende um movimento.
Segundo Faria (1958: 335 – 336),
58
Note-se, porém, que este [complemento verbal] o era o primitivo
valor do acusativo, que a principio era inteiramente independente do
verbo, o que é comprovado por vários fatos, entre os quais poder o
seu complemento vir em outro caso, como também poderem verbos
transitivos ser empregados intransitivamente e vice-versa. Assim,
alguns verbos empregados como transitivos na ngua arcaica,
passaram depois, no período clássico, a se construírem como
intransitivos, como abutor, ‘abusar’, fruor, gozar’, fungor, pagar,
desempenhar uma fuão, quaeso, ‘pedir’, etc. (...)
Talvez esteja a origem dos problemas clássicos sobre a
transitividade, vista a partir da presença obrigatória do objeto direto.
O emprego do acusativo gera uma discussão teórica estabelecida
em decorrência de apresentar alguns usos chamados adverbiais, o que,
para alguns gramáticos, representaria uma diferença na função de
complementação acusativa, justificando o seu emprego em outras
circunstâncias e não somente como complemento verbal.
A discussão sobre os usos do acusativo é polêmica e
questionada por Blatt (1952:77), para o qual o acusativo teria uma função
semântica e funcional, servindo como complemento verbal sobre o qual
recairia o objetivo e o resultado da ação verbal.
Rubio (1966: 119) admite como válida a existência da função
nominal do acusativo, mas também questiona a existência de usos
diferenciados.
Baseia sua argumentação principalmente na citação de
Kurylowicz (s/d:27), para quem existe uma diferença entre a função de
complementação direta exercida pelo acusativo e outras funções
58
Exemplos: Hoc argentum alibi abutar (Plaut., Pers., 262) “gastarei este dinheiro em outro lugar”; iam diu
sapientiam tuam abusat (Plauto., Poen., 1199) “ já há muito que a tua sabedoria se gastou”.
71
secundárias, tais como a de um complemento indicando direção (Romam
ire), preço, extensão, ou seja, um acusativo adverbial.
Para Kurylowicz (apud Rubio, 1966), essas relações adverbiais
são
sugerencias semânticas del verbo
e as desinências do acusativo se
asimilan al verbo, penetrándose de su sentido especial.
59
Rubio (1966:120) afirma que o uso adverbial do acusativo
No forma parte del contenido casual’ del acusativo: el contenido de
dirección no es un caso concreto de movimiento’, un caso adverbial
distinto del caso gramatical y abstracto; lo que es muy concreto es el
sentido del verbo (‘movimiento’) y el sentido del nombre puesto en
acusativo (‘lugar menor’).
60
Exemplifica sua argumentação comparando algumas construções
latinas com as similares em espanhol, nas quais os usos se explicam pelos
traços semânticos dos verbos e não pela diferença de uso dos acusativos,
Ganar altura y ganar dinero;
Dirigirse a Roma y dirigirse al Jefe del Estado.
Y en latín:
Adire Romam y adire consulem;
Peto Romam y peto pacem.
Vemos en altura’ un complemento directo tan legítimo como en
‘dinero’; sin embargo, ganar altura’ es algo comparable a un
‘acusativo de dirección’. El diccionario dice que ‘ganar’ significa, entre
otras cosas, ‘llegar al sitio o lugar que se pretende’.
En realidad, cuando el verbo tiene un espectro semántico dilatado
como el espol ‘ganar’ o el latín ‘petere’, es el complemento directo
quien, por la semántica del nombre, confiere al lexema verbal el
matiz de movimiento. Y cuando el verbo tiene un espectro semántico
muy restringido y concreto, indicando ya per se movimiento (ire,
venire, etc), si por la adidura es concreto y ‘local’ el lexema
nominal, todo contribuye a la expresión del movimiento; y basta
entonces el caso acusativo para indicar el objeto, como basta el
ablativo para expresar el punto de partida del movimiento. Si se trata
59
...sugestões semânticas do verbo (...) assimilam ao verbo, penetrando-se de seu sentido especial.
Tradução livre ao português.
60
Não faz parte do conteúdo ‘casual’ do acusativo: o conteúdo de direção não é ‘um caso concreto de
movimento’, um caso adverbial distinto do cado gramatical e abstrato; o que é muito concreto é o sentido
do verbo (‘moviemento’) e o sentido do nome posto em acusativo (‘lugar menor’). Tradução livre ao
português.
72
de expresar relaciones espaciales más complejas, el latín ya no las
confía a la simple flexión, sino que acude a las preposiciones, como
en las lenguas románicas.
Puesto que ninguna caracterización gramatical distingue eo Romam,
peto pacem y uerbero puerum, es verosímil pensar que los hablantes
latinos no verían ahí acusativos heterogéneos, como no vemos
nosotros dos complementos directos heterogéneos en ganar dinero y
ganar altura o en peto pacem y peto Romam (cf. Cicerón, De imp.
Pomp., 34: Siciliam adiit, Africam explorauit…, Sardiniam …cenit).
(Rubio idem).
61
Mesmo que não nos aprofundemos na discussão teórica sobre
os usos adverbiais estarem ou não relacionados à essência do caso
acusativo, não podemos deixar de constatar que, em alguns contextos, a
relação de complementação adquire outro matizes, influenciando ou
complementando um significado.
Os principais usos, (Rubio, 1966:122), do acusativo, nesses
contextos, são os seguintes:
I. O chamado acusativo interno, onde o verbo e o nome estão
relacionados com a mesma carga semântica, dolere dolorem, uiuere uitam
etc.;
II. Acusativo de extensão espacial: Cicerón, Deiot., 42: discedere
pedem “separarse (una separación de) un pie”;
III. Acusativos de extensão temporal ou de duração, que muitas
vezes se confundem com o acusativo interno;
61
Ganhar altura e ganhar dinheiro; dirigir-se a Roma e dirigir-se ao Chefe do Estado. E em latim: Adire
Romam e adire consulem; Petro Romam e peto pacem.
Vemos em ‘altura’ um complemento direto tão legítimo quanto em ‘dinheiro’; entretanto, ‘ganhar altura’
é algo comparável a um ‘acusativo de direção’. O dicionário diz que ‘ganhar’ significa, entre outras coisas,
‘chegar ao lugar que se pretende’
Na realidade, quando o verbo tem um espectro semântico dilatado como no espanhol ganar ou em
latim petere, é o complemento direto que, pela semântica do nome, confere ao lexema verbal o matiz de
movimento. E quando o verbo tem um espectro semântico muito restrito e concreto, indicando por si
movimento (ire, venire) e ademais, o lexema nominal é concreto e ‘local’, tudo contribui à expressão do
movimento, bastando o caso acusativo para indicar o objeto, como basta o ablativo para indicar o ponto
de partida do movimento. Se se trata de expressar relações espaciais mais complexas, o latim não
confia a simples flexão, mas sim recorre às preposições, como nas línguas românicas.
Posto que nenhuma caracterização gramatical distingue eo Romam, peto pacem e uerbero puerum, é
verossímel pensar que os falantes latinos não interpretariam essas situações como acusativos
heterogêneos, como nós não vemos dois complementos diretos heterogêneos em ganhar dinheiro e
ganhar altura o em peto pacem e peto Romam. Tradução livre ao português.
73
IV. Construções com duplo acusativo de pessoa e coisa: doceo
pueros grammaticam, “hago a los niños aprender la gramática”.
V. Acusativo exclamativo, (Concialini, 1993:245), usado
normalmente com verbo elíptico: Bene Messallam! (Cic.)
3.1.4 – O objeto indireto em espanhol
Campos (1999:1545) traz uma definição de objeto indireto
baseada na RAE de 1973. Segundo o autor, o objeto indireto é
el vocablo, que expresa la persona, animal o cosa en que se
cumple o termina la acción del verbo transitivo ejercida ya
sobre el complemento directo.
Ej.:
c) Juan (le) dio una limosna a nuestro vecino ayer.
d) Le duele la cabeza a María.
62
Por essa definição, somente os verbos considerados transitivos
são capazes de apresentar objeto indireto, desconsiderando que alguns
verbos intransitivos podem trazer objeto indireto, como nos exemplos de
Campos (1999:1546):
a) A Michel le gustan mucho los deportes.
b) Kiko les habló de sus últimas inversiones a sus asociados.
Com relação à estrutura argumental dos verbos que apresentam
o objeto indireto, é possível ter verbos com três espaços argumentais: o
sujeito, o objeto direto e o indireto. No entanto, o objeto indireto não se
restringe apenas aos verbos desse tipo, mas também pode aparecer em
outros contextos, com verbos intransitivos, e em alguns esquemas
impessoalizados. Gutierrez Ordónez (1999:1873).
62
o vocábulo, que expressa a pessoa, animal ou coisa em que se cumpre ou termina a ação do verbo
transitivo já exercida sobre o complemento direto. Ex.
a) João deu esmola a nosso vizinho ontem.
b) A cabeça de Maria dói.
74
Di Tullio (1997:107) classifica, sob uma perspectiva semântica,
os verbos tri-argumentais em três grupos básicos, nos quais a ocorrência
do objeto indireto é freqüente:
a) verbos de transferência - dar, ofrecer, regalar, devolver, traer,
comprar, vender etc.; no caso do nosso corpus, os dois verbos estudados
correspondem a essa categoria;
b) verbos de comunicação e atos de fala - decir, comunicar,
prometer, indicar, señalar etc;
c) verbos de influência - ordenar, aconsejar, pedir etc.
Outra classificação da autora refere-se ao uso do objeto indireto
como beneficiário, que remonta ao uso da preposição para, concorrendo
com a.
O uso das preposições a e para junto com o objeto indireto é um
ponto de muito debate entre os gramáticos. Gili Gaya (1943:§52),
considera que tanto uma quanto a outra formam o objeto indireto
espanhol:
Los complementos indirectos se desgnaban en latín por el
dativo; en español llevan siempre la preposición a o para,
como puede observarse en los ejemplos:
a) Envié un regalo a Pedro.
b) Compraría para el niño algunas golosinas.
No entanto, nos exemplos a e b, os objetos indiretos com para
não podem, em espanhol, ser pronominalizados por le. Essa análise
pode ser justificada por uma correspondência ao uso dativo que essa
preposição exercia em latim.
Como afirma Gutiérrez Ordónez (1999:1867),
Del antiguo caso dativo nos queda la herencia pronominal en las
formas le-les. A su vez, la mayor parte de los contenidos que se
cobijaban otrora bajo el manto de aquel caso son manifestados por
las preposiciones a’ y para’. (…) Es comprensible que los
gramáticos tradicionales (que agrupaban bajo esta advocación los
antiguos usos latinos) hayan mantenido como criterio formal de
identificación del complemento indirecto las preposiciones que los
75
expresaban. Pero quede claro cl era el punto de partida: se
identificaba el complemento indirecto a tras de dichas
preposiciones no porque así lo aconseje el comportamiento
inmanente de nuestra lengua, sino por su correspondencia con el
valor dativo del latín.
El mantenimiento en la graticas, (con la honrosa excepción de
Bello, 1847) de la preposición para’ como índice funcional propio de
los complementos indirectos no se correspondía con el
comportamiento de la lengua.
63
Por esse motivo, ao adotarmos a pronominalização como critério
identificador dos objetos diretos e indiretos, não consideraremos a
preposição para como marcadora de objetos indiretos.
Outros usos encontrados dos objetos indiretos são as chamadas
funções de
dativo posesivo
Di Tullio (1997:109), referindo-se a propriedades
inalienáveis, como partes do corpo, ou alienáveis, tais como objetos de
âmbito pessoal.
a) El dentista me extirpó la muela del juicio.
b) Le afeitaron el bigote.
c) Te lustré los zapatos.
3.1.5 – O objeto indireto em latim – caso dativo
Segundo Faria (1958: 348),
O valor primitivo do dativo, e do qual de um modo amplo
decorrem todos os outros, é indicar a atribuição, referindo a
quem ou a que se destina uma coisa, ou ainda no interesse de
quem, ou para quem, ela se faz. Essa idéia de atribuição
63
Do antigo caso dativo restou-nos a herança pronominal nas formas lhe-lhes. Ao mesmo tempo, a maior
parte dos conteúdos latinos que se consideravam outrora sob o mesmo manto daquele caso são
manifestados pelas preposições “a” e “para”. (...)
É compreensível que os gramáticos tradicionais (que agrupam nesse grupo os antigos usos latinos)
tenham mantido como critério formal de identificação do complemento indireto as preposições que o
expressavam. Mas que fique claro qual era o ponto de partida: identificava-se o complemento indireto
através dessas preposições não porque assim aconselhe o bom comportamento de nossa língua, mas
devido a sua correspondência com o valor dativo do latim.
A permanência nas gramáticas, (com honrosa exceção de Bello, 1847) da preposição “para” como
índice funcional próprio dos complementos indiretos não se correspondia com o comportamento da
língua.
76
explica o emprego do dativo como complemento não de
verbos, como também de substantivos e adjetivos.
Faria (op. cit: 370, citando Brugmann, 1905:440), afirma que
a característica essencial do dativo é ser o caso em que se
põe o conceito nominal em consideração do qual a ação se
faz, ao qual ela é destinada: é o caso da participação e do
interesse.
De acordo com Bassols de Climent (1945:33-160), o dativo
apresentava desinências diferentes segundo a função que desempenhava
em latim: [-ei] com valor de complemento e [–ai] como locativo, o que
justificaria sua dupla possibilidade de ocorrência, do mesmo modo como
ocorreu com o acusativo.
Algumas das possibilidades de realização do dativo latino, (Faria,
idem) são:
I.
Como objeto indireto: Hirtio cenam dedi (Cic. Fam., 9,20,2)
“dei uma ceia a Hírtio.
II.
Dativo de contato ou de aproximação, com verbos do tipo
misceo (misturar), iungo,(ligar, associar), haereo (prender):
Fletumque cruori miscuit (Ov. Met. , 4, 140-1) “misturou-se
o pranto ao sangue”.
III.
Dativo de interesse: Nom solum diuites esse uolumus, sed
liberis, propinquis, amicis (Cic., Of. 3,63) “Não para nós
queremos ser ricos, mas para os filhos, os parentes, os
amigos”
IV.
Dativo de posse, empregado com o verbo sum: certe huic
homini spes nulla salutis esset (Cic., Verr. 3, 168)
“certamente este homem não teria nenhuma esperança de
salvação”
V.
Dativo ético, indicando a participação afetiva na ação
representada pelo verbo, sendo usado com pronomes da
primeira e segunda pessoas: nunc amici anne inimici sis
imago mihi sciam (Plaut., Cãs., 515) “agora saberei se me
és a imagem do amigo ou do inimigo”
77
VI.
Dativo de agente ou de obrigação: haec praecipue
colendast nobis (Cic., De Or., 2, 148) “esta (a diligencia)
deve ser especialmente cultivada por nós”.
VII.
Dativo de destinação, normalmente com verbos de
movimento: quem auxilio Caesari Haedui miserant (Cés., B.
Gal., 1,18,10) “(a cavalaria) que os éduos haviam mandado
em auxílio de César”.
78
Capítulo 4
Metodologia e Formação do
Corpus
79
4.1 – Metodologia de Análise
O estudo da estrutura argumental das sentenças pressupõe a
grande importância atribuída ao verbo, uma vez que este é tido como o
núcleo dessa estrutura. Em vez de classificá-lo como transitivo ou
intransitivo, procuramos verificar e descrever como es formada sua
estrutura argumental e determinar, sempre que possível - por ser tratar de
textos com uma estrutura mais rígida - quais fatores favorecem uma maior
ou menor transitividade, segundo o descrito por Hoopper e Thompson
(1988).
No caso da determinação dos objetos diretos e indiretos,
adotamos o critério da pronominalização de tais objetos pelos pronomes
clíticos, pelo fato de preservarem as mesmas marcações dos casos latinos
de complementação direta e indireta.
Após a seleção dessas estruturas
64
, procedeu-se aos seguintes
passos:
1. Reunião das estruturas em grupos sintáticos semelhantes,
independentemente de período ou região de origem;
2. Descrição e análise de cada grupo, considerando suas
subdivisões;
3. Descrição de características gerais dos fragmentos,
considerando as variações diatópicas e diacrônicas, bem como a
influência do latim medieval nessas construções
4.1.2 - Formação do corpus
Como já mencionado na introdução, restringimo-nos à análise de
dois verbos: dar e vender. Esses verbos se mostraram mais freqüentes
devido a características temáticas dos documentos, formados
64
Os procedimentos de seleção do corpus serão especificados em 4.1.2.
80
principalmente por escrituras e contratos de venda e doação de
propriedades.
Para a seleção do corpus, definimos alguns critérios básicos:
Os verbos dar e vender foram pesquisados em dois tempos
verbais, Presente e Pretérito Perfeito do Indicativo, por
serem estes os dois tempos verbais predominantes nos
documentos. Não o uso de verbos no Futuro do
Indicativo e apenas uma forma no imperfeito do Subjuntivo
com os verbos estudados;
Foram selecionadas, com os dois verbos, ocorrências na
primeira pessoa (singular e plural);
Para a determinação dos objetos diretos e indiretos,
usamos o critério da pronominalização, ou seja, foram
considerados objetos diretos e indiretos os fragmentos que
correspondiam sintaticamente a pronomes acusativos e
dativos, respectivamente.
Devido à variedade ortográfica do período, pesquisamos
todas as possibilidades de escrita de um verbo nos
documentos e, por esse motivo, uma mesma forma verbal
pode apresentar mais de um registro, como nos exemplos
vendimos, uendimos, vendimo, uendimo etc., observando
que essas diferenças ortográficas também representam
diferenças sintáticas
65
.
A reprodução dos fragmentos obedecerá aos mesmos critérios da
transcrição paleográfica original, respeitando as divisões de linhas e
palavras.
4.1.3 – Formação dos grupos sintáticos
Uma vez formado o corpus, reunimos os fragmentos em quatro
grandes grupos, de acordo com suas características sintáticas. Os grupos
formados e também suas subdivisões são os seguintes
66
:
65
Esses casos serão apresentados no capítulo 5, por não serem o foco de nossa análise.
66
Serão apresentadas no tópico 4.2 as características gerais de cada grupo, bem como a análise de suas
subdivisões.
81
I. Construções sintaticamente semelhantes nos dois verbos
II. Estruturas com complementos verbais latinos
III. Estruturas topicalizadas
IV. Estruturas específicas com o verbo dar
Todos os grupos apresentam subdivisões, de modo que seus
nomes apenas indicam as características gerais das estruturas. Essas
subdivisões serão representadas pelos seguintes códigos:
ODSN (objeto direto representado por um sintagma
nominal);
Burgos 152 - 1188
5
Ego donna Sol, abbade∫∫a I
2
de Sancta Maria la Real de
Burgo, do una terra que e en Duraton, a medias, a poner maiolo,
I
3
a don Fele et a Lobo z con toda ua frontada del rio; (...)
OD pro (objeto direto representado por um pronome);
Burgos 203 – 1295
31
(…) Et por que eto ea ffirme z non venga en dubda, nos los peroner.os
delos conçejos delas villas de Cartiella puiemos en eta carta los eellos
delos conçejos cuyos per∫∫oneros nos omos, z por mayor I
51
∫∫irmedumbre
puiemos en ella el dicho eello dela hermandat en tetimonio
con los otras eellos delos conçejos, z damos la auos el conçejo de Na-
gera que ∫∫odes connueco en eta hermandat.
ODSN ACUSATIVO (objeto direto representado por um
sintagma nominal com desinência de caso acusativo latino);
Rioja Baja 118 – 1243
3
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....(...)
OISN (objeto indireto representado por um sintagma
nominal);
Toledo 271 – 1213
4
Notum fit omnibus hominibus tam pre-
entibus quam futuris, quod ego Johanis Dominici z uxor mea dona
Maria Gonzaluez, en nuetra I
2
uida e en nuetra alud, damos nuetra
eredat que auemos in Madridl, caas e uineas, alos canonges de ancta
Maria de Toledo (…)
82
OI pro (objeto indireto representado por um pronome);
Toledo
262 – 1194
41
E damo uo io emja muger dona
Therea Gar[ciez], toda la nuetra heredat, quanta no al
11
uemo en
Fermoiella. E damo uo de nuetro moble, con toda la heredat de
Uillagero .XI. egua cum uo cauallo. (…)
OISN DATIVO (objeto indireto representado por um
sintagma nominal com desinência de caso dativo latino).
Rioja Baja 118 – 1243
3
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....(...)
Foram encontradas 18 estruturas sintáticas diferentes e essas
estruturas produziram 103 exemplos, que estão disponíveis no anexo.
As tabelas abaixo mostram a relação de distribuição das 18
estruturas sintáticas e a diversidade de exemplos, ao longo dos séculos XII
e XIII, em todas as regiões.
Tabela 2 – Distribuição das construções por região e período – Verbo
Dar
Distribuição das construções por região e período
VERBO DAR
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
2.1
2.2
2.3
2.4
3.1
3.2
3.3
3.4
4.1
4.2
4.3
4.4
Período
Castilla
del
Norte
2 6 1 1 XII
1 1 1 XIII
Burgos 1 XII
1 1 6 5 2 3 1 1 1 XIII
Rioja
Alta
XII
3 1 2 XIII
Rioja
Baja
XII
1 1 1 XIII
Toledo 2 3 2 2 XII
2 4 1 1 XIII
Total 9 8 16 10 2 4 1 0 0 0 3 0 2 1 1 1 1 2
83
Tabela 3 – Distribuição das construções por região e período – Verbo
Vender
4.1.4 - Variação ortográfica
Ao fazermos a busca do corpus nos deparamos com uma
variação ortográfica nas letras v e s, que podiam ser escritas como u ou
.
Essa variação nos fez organizar o corpus de modo a contemplar todas as
variações e formas possíveis, para que nenhuma, por uma simples
questão ortográfica, ficasse fora da seleção.
Contudo, ao analisarmos os dados, percebemos que a
distribuição das estruturas sintáticas não era homogênea em todas as
versões. Algumas combinações ortográficas foram mais produtivas que
outras, de modo que apresentamos aqui essa distribuição.
O verbo dar apresentou menos possibilidades de combinações,
pois a alternância ocorre apenas na última letra, entre s e
, ao contrário de
vender.
Distribuição das construções por região e período
VERBO VENDER
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
2.1
2.2
2.3
2.4
3.1
3.2
3.3
3.4
4.1
4.2
4.3
4.4
Período
Castilla
del
Norte
XII
7 1 XIII
Burgos
XII
1 10 1 1 2 2 XIII
Rioja
Alta
1 XII
1 4 1 XIII
Rioja
Baja
XII
1 0 1 1 XIII
Toledo
1 4 1 XII
XIII
Total 2 1 26 1 2 1 0 4 2 1 0 1 0 0 0 0 0 0
84
As variações ortográficas encontradas com o verbo dar se
dividem entre as estruturas sintáticas da seguinte maneira
67
:
Damos – sete estruturas (1.1, 1.2, 1.3, 1.4, 3.3, 4.1, 4.3)
Damo
- nove estruturas (1.1, 1.2, 1.3, 1,4, 1,5, 3.1, 3.3,
4.3, 4.4 e 5.2)
Damu
- uma estrutura (1.1)
A variação do verbo vender correspondeu a nove formas
diferentes, assim distribuídas:
Uendo – seis estruturas (1.1, 1.2, 1.3,1.4, 2.2 e 2.3)
Vendo – duas estruturas (1.3 e 2.2)
Uendemos – três estruturas (1.1, 1.3 e 1.5)
Uendemo
- quatro estruturas (1.3, 1.5, 2.2 e 3.2)
Vendemo
- duas estruturas (1.1 e 1.3)
Vendemos – duas estruturas (1.1 e 1.3)
Uendimus – uma estrutura (2.2)
Vendimus – uma estrutura (2.4)
Vendimo
- uma estrutura (3.2)
67
Os números entre parêntesis se referem aos subgrupos sintáticos já mencionados e não a quantidade
de ocorrências com cada estrutura..
85
Capítulo 5
Análise das Estruturas
com dar e vender
86
5.1 - Grupo 1: Estruturas sintaticamente semelhantes nos
dois verbos
A esse grupo correspondem as estruturas sintáticas encontradas
tanto com o verbo dar quanto com o vender, independentemente do
período analisado.
O grupo 1 demonstra que 6 das 18 estruturas encontradas com os
dois verbos, em todos os grupos, são comuns a ambos os verbos,
representando 33,3% do total de estruturas.
No entanto, se os 33,3% correspondem a somente 6 diferentes
estruturas, em termos quantitativos, foram elas as responsáveis por 82
exemplos, o que equivale a 80,39% do total encontrado, permitindo-nos
afirmar que a linguagem notarial castelhana dos séculos XII e XIII, relativa
aos verbos dar e vender, de grande importância semântica dentro do
contexto no qual estavam inseridos, usava de modo mais freqüente as
estruturas presentes nesse grupo.
Outro dado importante, evidenciado na descrição dos demais
grupos, é que essas estruturas foram encontradas em todas as partes dos
documentos, ou seja, no início, no meio e no fim, indício de que não se
trata de estruturas fossilizadas, mas sim de uso corrente nesse tipo de
linguagem.
De todas as construções presentes, as estruturadas com o verbo
dar foram as mais freqüentes, perdendo em número de ocorrências apenas
para o subgrupo 1.3, indicando que o verbo vender apresentava uma maior
freqüência de casos com o objeto indireto pronominal anteposto ao direto,
funcionando o pronome auos como indicador do comprador ou beneficiário
da negociação, ocupando o lugar que hoje pertence ao pronome le.
(1) Castilla del Norte 53 - 1231
3
Connoçuda coa ea qe io don Aznar, con otorga-
miento de mi mugier Mari Lopez, uendo z
z z
z robro a uos dona Eluira
Garciez, abbadera de Uillaenna, z
z z
z al conuiento, tres olares que auemos
en Palacio nueuo con us eras
z con os huertos, z una uinna de tres
quartas, z heredad de .XIIIJ. tabladas emradura, en .XVJ. logares, por
8.C. z .xxx. morauedis (…)
87
Por outro lado, quando o objeto indireto, em vez de um pronome,
foi representado por um sintagma nominal, houve apenas uma ocorrência
contra oito com o verbo dar. Esse mesmo verbo teve o dobro de estruturas
com o pronome como objeto indireto, evidenciando um equilíbrio maior se
comparado com o vender.
Esse grupo demonstra inclusive que era menos freqüente nos
documentos a construção dos verbos dar e vender com o objeto direto
topicalizado.
Tabela 4 – Grupo 1 – Estruturas sintaticamente semelhantes
nos dois verbos
Grupo 1 – Estruturas sintatic
amente semelhantes nos dois verbos
Número de ocorrências
Dar Vender
1.1 - verbo + ODSN + OISN
9 2
1.2 - verbo + OISN + ODSN
8 1
1.3 – verbo + OI pro (auos) + ODSN 16 26
1.4 – verbo + OI pro (vos) + ODSN 10 1
1.5 – ODSN + verbo + auos
2 2
1.6 - ODSN + OI pro (uos) + verbo
4 1
Total de ocorrências
49 33
88
Subgrupo 1.1 – verbo + ODSN + OISN
A primeira classe de estruturas encontradas nos dois verbos
corresponde a uma ordem sintática que, hoje, é conhecida como ordem
direta, ou seja, é formada pela presença de sujeito, verbo e complementos.
(2) Burgos – 150 – 1179
3
In Dei nomine et indiuidue Trinjtatjs, Pater z filius et Spirictus
Sanctus. I
2
Ego dompna Sancia do el eredad de Uillaldemjro I
3
quanto
mi perteneze demj edemjo ermano Garci Diaz l
4
aDiago Garcia mio
6
obrino. (...)
(3)
Burgos - 152 - 1188
5
Ego donna Sol, abbade∫∫a I
2
de Sancta Maria la Real de
Burgo, do una terra que e en Duraton, a medias, a poner maiolo,
I
3
a don Fele et a Lobo z
zz
z con toda ua frontada del rio; (...)
A ordem SVO é, na verdade, o resultado de um processo de
evolução do latim clássico, caracterizado em linhas gerais pela ordem livre
dos constituintes na frase. No latim vulgar, a colocação se torna cada vez
mais determinada, ainda que não totalmente gida, e transfere essa
característica às nguas românicas, de modo que o romeno e as demais
línguas de origem latina do Ocidente seguem normalmente a tendência da
ordem direta, com algumas especificidades.
Segundo Renzi (1976:184),
a orden fundamental do latim Sujeito-Objeto-Verbo é
abandonada por todas as línguas românicas, que reservam ao
predicado o posto central. A ordem não marcada: Paulus
matrem amat SOV corresponde à ordem pan-românica Paulo
ama sua mãe. SVO. Essa ordem era predominante em um
texto latino, não muito antigo, como a Vulgata.
No grupo em questão, encontramos apenas dois exemplos,
somente na primeira pessoa do singular com o verbo vender, e a grande
maioria com dar.
89
(4) Burgos – 150 – 1179
3
In Dei nomine et indiuidue Trinjtatjs, Pater z filius et Spirictus
Sanctus. I
2
Ego dompna Sancia do el eredad de Uillaldemjro I
3
quanto
mi perteneze demj edemjo ermano Garci Diaz l
4
aDiago Garcia mio
6
obrino. (...)
(5) La Rioja - 123
Ego Maria Uellida, fija de I
2
don Bueo, uendo una pieça mia cabo la
5
erna adon Martin Perez dean z
zz
z al caI
3
billo de Calaforra. (…)
Todos os exemplos desse subgrupo são formados por
complementos com funções sintáticas de objeto direto e indireto, tendo
como núcleo um sintagma nominal. Com relação ao objeto indireto, não foi
constatado nenhum caso de complementação com ausência da preposição
a, diferentemente do que ocorre nos grupos cujo núcleo é um pronome,
contextos que apresentam diversidade de uso da preposição.
68
Também não encontramos nenhum caso de objeto direto
preposicionado, talvez pela determinação semântica dos verbos dar e
vender, que são formados por objetos diretos [- animados].
Subgrupo 1.2 – verbo + OISN + ODSN
Nesse subgrupo, temos uma inversão em relação ao anterior, com
o objeto indireto se antepondo ao direto. Os núcleos de ambos os objetos
também são formados por sintagmas nominais e o verbo dar continua
como mais freqüente nesse tipo de construção. O verbo vender
apareceu em um exemplo. Novamente, todos os núcleos dos objetos
verbais são sintagmas nominais e os objetos indiretos são antecedidos
pela preposição a.
(6) Toledo - 262 – 1194
27
(...) io don Alfonso Lopez,
en uno con mia muger dona Therea Garciez, do alos fraire de Cala-
traua z
z z
z al maeI
3
tro don Nuno la mja caa que io iz en Uilla Noua;
dola con el molino que hi ei,
z con el maiuelo que hi planI
4
tej, (…)
68
Esses casos serão comentados nos subgrupos específicos.
90
(7) Burgos - 176 – 1226
4
Cognoçuda coa ea alo omnes qui on z que on
por uenir, cuemo io don Nunno Gonçaluet en uno con dona Elujra,
mie I
2
mugier, de nuetra bona uoluntade, que Dio no perdone nue-
tro peccado z faga mercet ala almas, damo z
zz
z otorgamos al abbat
don I
3
Uidal z
zz
z al conuiento deancta Maria deBuxedo, a chelas dos
ueçes z
zz
z media que auemo en los molinos de Tor que compramos de
10
don l
4
Belaco de Çorita z de os obrino, filios de Gacon z de Romero.
(8) Burgos 159
3
In Dei nomine. Ego don Gonzaluo fllius de Peidro Equierdo, uendo
alabat donPeidro de Sancti I
2
Crito foro z al conuent, latierra deo
Quintanilla (…)
Se, por um lado, a gradativa consolidação da ordem direta nas
línguas românicas do Ocidente estabeleceu a anteposição do objeto direto
ao indireto, no período estudado, vemos que o mero de estruturas
encontradas nos subgrupos 1.1 e 1.2 é quase o mesmo, o que nos
possibilita afirmar, com base nos documentos estudados, que, entre os
séculos XII e XIII, era comum tanto a construção direta quanto a que
apresentava a inversão do objeto indireto com o direto, quando possuíam
um sintagma nominal como núcleo.
Segundo Maurer Júnior (1959:195), a anteposição do objeto
indireto ao direto é comum no romeno, língua que sofreu menos influência
do latim medieval, ao passo que, nas demais línguas latinas, é mais
freqüente que o objeto direto se anteponha ao indireto. Maurer Júnior não
menciona se no caso romeno essa inversão se com sintagma nominal
ou pronominal. O único exemplo citado por ele é com sintagma nominal
69
.
Se considerarmos não somente as estruturas desse subgrupo,
mas o conjunto de todas as estruturas encontradas, poderemos afirmar que
a anteposição do objeto indireto ao objeto direto é mais freqüente quando o
objeto direto é pronominal e não quando é um objeto indireto com sintagma
nominal, o que demonstra que a linguagem notarial desse período pode
conter traços que a assemelhem ao romeno.
69
Dau copilului mâncare. (dou de comer ao menino).
91
subgrupo 1.3 - verbo + OI pro (auos) + ODSN
70
subgrupo 1.4 – verbo + OI pro (uos) + ODSN
De todas as estruturas encontradas no corpus, as desses
subgrupos são as mais produtivas, representando 51,9% das estruturas
totais, sem contar suas diversas variações com pronome uobis, que foram
classificadas em outros subgrupos.
Com relação aos subgrupos anteriores, a diferença básica é que,
nesse grupo, o núcleo do objeto indireto não é mais um sintagma nominal,
mas sim o pronome (uos / vos), o que nos abre um interessante caminho
de investigação. Outra diferença semântica é que a maior parte das
sentenças foi encontrada com o verbo vender.
Antes de analisarmos o papel de vos nessas estruturas, vejamos
os quadros dos pronomes pessoais latinos, no latim clássico e no vulgar.
1) Latim Clássico
71
2) Latim Vulgar
72
Ao analisarmos o quadro, percebemos poucas diferenças
morfológicas entre os pronomes e os casos, sendo que as principais
70
Os subgrupos 1.3 e 1.4 serão analisados juntos devido a características próximas.
71
Latina Esentia. Preparação ao Latim, p. 47. Ainda que o pronome “vos” apareça como acusativo e
nominativo plural, há registros de uso no singular, Resnick (1981:89).
72
Gramática do Latim Vulgar, p. 106.
1ª pessoa 2ª pessoa
Nom. ego - nos tu - uos
Acus. me - nos te - uos
Dat. mihi - nobis tibi - uobis
1ª pessoa 2ª pessoa
Nom. eo - nos tu - uos
Acus. me - nos te - uos
Dat. mi (e mihi) - nos (e
nobis)
ti (e tibi) - uos
(e uobis)
92
ocorrem no dativo, que de mihi e nobis passam a mi e nos, e de tibi e uobis
a ti e vos. A coexistência de pronomes correspondentes no latim clássico e
no vulgar, como apontada no quadro dois, também foi percebida nos
documentos notariais, com a presença de nobis, tibi e vobis
73
.
(9) Castilla del Norte – 36 - 1102
In Dei nomine. No denique la domina, uidelicet domna Maior
5
et domna Anderchina ..... damu. I
3
notro palacio quam habemus en
Quinta niella ubtus uilla deuo… I
6
en Ualle Fermoo quantum nobi
ibi pertinet; (…)
(10) Rioja Alta – 73 – 1170
(…) tu das nobis una uinea in Lahun, circa la notra de Sancti Emi-
liani z ke nos aiudes er el portal del palacio; z
zz
z nos damus tibi in
notro corral del palacio .I. pedazo circa la nolra porta kee aiuntat al
tuo; (...)
(11) La Rioja – 118 - 1243
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....
Nos documentos estudados, o pronome vos apresenta um uso
muito próximo ao de um pronome de tratamento de cortesia.
(12) Burgos - 199 – 1270
3
Connoçuda coa ea a quantos eta carta vieren como no donna
Vrraca Martinez, abbade∫∫a del monaterio de anta Maria la Real de
Burgos, con uoluntad z con I
2
otorgamiento de nuetra sennora la
in∫∫anle donna Beringuella z de todo el conuento de∫∫e mimo logar, de
nuetra buena uoluntad, in premia njnguna, damos auos el muy alto
z
zz
z muy noble sennor don Alffon∫∫o, por la gracia de Dios rey de Ca-
tiella, de Toledo, de Leon, de Gallizia, de Seuilla, de Cordoua, de Mur-
çia,de Jahen z del AlI
4
garue, dos nuetros huertos con una caa, que
nos auemos en Burgos, en el varrio de Vega ala collaçionl de ant Co
12
meDamian.
Esse uso também é registrado no Cantar de Mio Cid, (Menéndez
Pidal, 1944:324), onde é usado como forma respeitosa não entre
nobres, mas também nos tratamentos mais formais. Cid trata de vos a sua
esposa, a dona Ximena e seu marido e a parentes como Albarfañez e
73
Vide grupo 2: Estruturas com complementos verbais latinos. O exemplo (11) não corresponde à mesma
estrutura sintática de 1.3 e 1.4. Está empregado apenas para exemplificar o uso de vobis.
93
Martin Antolinez. O exemplo a seguir corresponde aos versos 2331 e 2332
do Cantar de Mio Cid,
Yo vos pido merçed a vos, rey natural:
Pues que casades mis fijas, así commo a vos plaz (…)
O pronome vos, ainda que gramaticalmente corresponda a uma
forma plural, é também usado no singular, a ponto de não encontrarmos
nos documentos nenhum exemplo com os pronomes tu / te ou a ti com as
mesmas funções sintáticas de vos / avos. Em catalão, Bastardas Parera
(1951:63), registra o uso de tu depois de preposição:
San Cugat, 798, 10,
1108: sic dono ego ad tu (...); S. Creus, 16, 46, 1076: dono...a tu(...)
(13) Castilla – 63 – 1274
4
In Dei nomine. Connocida coa ea a todos los omnes que eta carta
uieren z oyeren, como yo Ferrant Alfon∫∫o z yo Rodrigo Alfon∫∫o z yo
donna Mayor, fijos de Alfon∫∫o Garcia de Roia, vendemos auos donna
Alduença Pedrez, abbade∫∫a del moneterio de VilIenna, z
z z
z a todo el con-
uento de mimo moneterio .XIj. hanegas embradura de heredat en
9
Sancta Maria de Riba redonda, (...)
(14) Burgos - 199 – 1270
3
Connoçuda coa ea a quantos eta carta vieren como no donna
Vrraca Martinez, abbade∫∫a del monaterio de anta Maria la Real de
Burgos, con uoluntad z con I
2
otorgamiento de nuetra sennora la
in∫∫anle donna Beringuella z de todo el conuento de∫∫e mimo logar, de
nuetra buena uoluntad, in premia njnguna, damos auos el muy alto
z
zz
z muy noble sennor don Alffon∫∫o, por la gracia de Dios rey de Ca-
tiella, de Toledo, de Leon, de Gallizia, de Seuilla, de Cordoua, de Mur-
çia,de Jahen z del AlI
4
garue, dos nuetros huertos con una caa, que
nos auemos en Burgos, en el varrio de Vega ala collaçionl de ant Co
12
meDamian.
No exemplo 13, não existe somente um beneficiário da venda.
Além de dona Alduença Pedrez, o mosteiro de Villenna também entra
como parte beneficiada. Assim como nesse exemplo, são freqüentes as
associações entre uma pessoa e um grupo que será beneficiado; na
maioria dos casos, uma comunidade religiosa.
Encontra-se também ao lado de mais de um beneficiário,
construções nas quais o comprador é uma única pessoa, como no caso do
exemplo 14. Don Alfonso recebe uma casa com uma área para plantação.
Não no documento referência a outras pessoas que se beneficiarão
94
dessa casa, o que nos possibilita concluir que temos dois grupos de
beneficiários: um no singular e outro no plural.
O fato de o beneficiário ser singular ou plural levou-nos a crer,
inicialmente, que a presença da preposição a poderia influenciar essas
ocorrências, ou seja, a preposição acompanharia o pronome, dependendo
da quantidade de beneficiários.
De fato, essa constatação é parcialmente positiva, já que, ao
analisarmos as estruturas com o verbo dar pertencentes ao subgrupo 1.3,
dos 16 exemplos encontrados, 14 são marcados por mais de um
beneficiário, um com beneficiário no singular e um exemplo com
referências no singular e plural.
Com base somente no grupo dar, podemos afirmar que a
presença do pronome de objeto indireto vos antecedido pela preposição a
aparece nos casos com mais de um beneficiário, como no exemplo 12.
Porém o grupo vender apresenta uma relação mais equilibrada,
pois, dos 25 exemplos encontrados, 11 se referem a beneficiários no
singular e 14 no plural, todos com a preposição a antecedendo o pronome
uos. Ao somarmos os dois grupos, temos 28 casos com objeto indireto no
plural e 12 no singular, justificando parcialmente a origem latina de
pronome dativo plural para vos.
Embora tenhamos plural ou mais de um beneficiário, as
características dos documentos notariais nos permitem pensar em uma
outra configuração da relação singular e plural.
Muitas formas constituídas por verbos no plural apresentam menor
intensidade das relações de plural (eu + ele / a = nós) e se aproximam da
relação de individualidade (eu + eu = nós), como no próximo exemplo:
(15) Rioja Alta - 94 – 1242
5
Sabida coa ea a quanto eta carta uieren,
que yo Aznar Perez, ijo de Pero Enel
2
cone, e yo MariSemenez, u
prima, con mandamiento de mi marido Pero Sanchez, uino no tal
I
3
nece∫∫idat e tal uoluntat que uendemo a muerta a uo don Juan San-
95
chez, abbat de Sant Millan, I
4
por .xxx.
a
morauedis quanta heredat aue-
mo en Madriz e en todo u termino, connonbrada mientre la he I
5
ran
de Uarrio Epa∫∫o, con u fructales e tierra e linare e nogueras; (…)
Bastarda Parera (1953:65) encontrara exemplos semelhantes,
ao estudar os documentos notariais espanhóis dos séculos VIII a XI.
Segundo ele,
En una frase como Ego Johannes et uxor mea Maria
donatores sumus, el plural está constituído por “yo más ella”;
pero esta manera de expresarse es a veces sustituída por un
deseo de exactitud, por un giro como Ego Johannes et ego
Maria donatores summus. El plural entonces equivale a “yo
más yo”, lo qual no deja de ser absurdo lógicamente, pero
con ello se logra poner en evidencia que las diferentes
personas que actúan lo hacen con independencia y asumen
cada una completa responsabilidad.
74
Essa mesma relação pode também ser verificada no uso do
pronome vos. Ainda que o beneficiário seja mais de uma pessoa, uma
individualização clara nas relações de complementação.
(16) Burgos - 167 – 1220
4
Connoçuda coa ea a los ome que on agora cumo
a los que on por uenir, cumo I
2
yo donna Sancha, por la gracia de
Dios abbade∫∫a del moneterio de Burgos, qual diçen ancla Maria la
/3 Real, con otorgamiento de todo nuetro conuiento, damos a uos Johan
de UilIafarret z
zz
z a Gomez z
z z
z a Barl
4
tholome z
zz
z Johan Aparicio z
zz
z Domi-
nico de Ma[m]e z
zz
z Pelayo z
zz
z Johan z
zz
z Pedro Terradillos z
zz
z Dominico de
Marina I
5
z
zz
z Johan Ferrandez z
zz
z Pedro Ferrandez z
zz
z Dominico del huerto,
11
toda la nuetra heredad que auemos en Terradillos (…)
Outro dado importante na sintaxe dessas construções é que,
quando o pronome aparece acompanhado pela preposição a, no grupo 1.3,
o nome do(s) beneficiário(s) aparece(m) em seguida.
74
Em uma frase como Ego Johannes et uxor mea Maria donatores sumus, o plural está constituído por eu
mais ela; mas esse modo de expressar-se é, às vezes, substituído por um desejo de exatitidão, em uma
construção do tipo Ego Johannes e ego Maria donatores sumus. O plural, dessa forma, equivale a eu
mais eu, o que não deixa de serr absurdo logicamente, mas com ele se consegue por em evidência que
as diferentes pessoas que atuam o fazem com independência e assumem cada uma completa
responsabilidade. Tradução livre ao português.
96
(17) Burgos - 171 – 1224
19
Eta heredad nombrada damos auos Ferrand Martinez
hy a uotra mugier Mari Diaz a∫∫i cum lo nos deI
10
uemos heredar, hy
uos que nos dedes ancadanno de renda .xxx. almudes de pan, los
.XX. almudes de trigo, hy los .X. almudes de ceuada, I
11
hy el diezmo de
23
quanto ructo ouieredes en eta heredad.
Já a ausência da preposição é mais comum quando o beneficiário
foi nomeado e, portanto, já é conhecido, atribuindo ao pronome vos a
função de pronome átono, como no exemplo a seguir:
(18) Castilla del Norte - 51 – 1230
4
Connoçuda coa ea a todo aquello que eta carta
uieren, como no, conceio de Rioeco, clerigo z lauradore, todo de
man comun, de nuetra buena uoluntade fazemo pleyto con uo, don
Peydro I
2
abbat de Rioeco, z con todo el conuento, que eamo uuetro
ua∫∫allo firme z etable del moneterio z de uo z de aquello que han
a uenir depuede uo; z uendemo uo toda nue/tra heredade obre
I
3
tal paramiento, (...)
No exemplo acima, aparece, primeiramente, o pronome com
preposição (con uo
)
seguido do sintagma nominal que indica o referente do
pronome. Depois, quando o referente já foi introduzido, aparece o
pronome (uendemos vos) sem preposição. É possível pensar que a forma
vos é usada como pronome tônico quando antecedida pela preposição e
como átono quando surge ao lado do verbo, sem preposição.
Subgrupo 1.5 - ODSN + verbo + auos
75
Esse subgrupo apresenta construções de tópico presentes nos
dois grupos verbais em estudo. Ainda que a ordem mais freqüente seja a
SVO, encontramos também construções com a topicalização do objeto
direto,
(19) Burgos 184 – 1231
32
E todo elo obre dicho damo no auo, a∫∫i cuemo e
dicho, por .D.
tos
morauedis que diete uo a no, de que compramo
nos la heredad de fijo de don Adrian z otra heredad en Cueua.
75
Os subgrupos 1.5 e 1.6 correspondem a estruturas topicalizadas e também poderiam estar agrupadas
no Grupo 3 Estruturas Topicalizadas. Optamos por inseri-las no Grupo 1 pelo fato de encontrarmos as
mesmas estruturas com os dois verbos estudados, dar e vender.
97
(20) Burgos 170 – 1222
9
Ete olar
uendemo no a uo Pedro Ordonnez z I
5
a uuetra mugier Dona Jllana
por ete precio nombrado.
Nos dois exemplos anteriores, não temos a presença do pronome
clítico que retome o objeto direto colocado na periferia esquerda da oração.
No espanhol atual, as construções de tópico apresentam um pronome
clítico junto ao verbo que retoma o referente do tópico:
Este solar (nosotros)
lo
vendemos (nosotros) a ...
Subgrupo 1.6 – ODSN + OIpro (uos) + verbo
Os exemplos desse subgrupo mostram a presença do objeto
indireto ao lado do indireto e ambos antepostos ao verbo.
(21) Rioja Alta 120 – 1250
12
(...) Este molino uo uen-
demo cun quanto drecho ha nj deue auer, e damo uo fiadol
5
re
de redra a fuero de an Peidro, don Gil Periz de Veha e don Johan
Semeno ecriuano de conceyo.
(22) Burgo 167 - 1220
26
E eta heredad obrecripta I
16
que
uos damo que fagades della .XII. quinonez z que lo ayade por heredad
por uender z por enpenar a I
17
tale ome que fagan a nos eta façen-
dera obrecripta que uos nos auedes a açer.
98
5.2 - Grupo 2: Estruturas com complementos verbais latinos
O período que vai do século XII ao XIII representou muito
claramente um momento importante na linguagem notarial castelhana,
dado que o castelhano, no final do século XII, atingira quase todos os
cantos da Península e fora designado como língua notarial oficial em
Castela e em todos os seus domínios, substituindo legalmente o
formalismo da língua latina.
Na realidade, muitos desses documentos eram escritos
tempos com uma grande influência castelhana, como atesta o trabalho de
Bastarda Parera (1953), intitulado Particularidades sintáticas del Latín
medieval: Cartularios Españoles de los siglos VIII al XI. Nesse estudo, a
presença latina ainda é bem marcante, mas nota-se, claramente, o uso
sintático de algumas estruturas e vocábulos castelhanos, principalmente
nos séculos X e XI, indicando o início da mudança lingüística, de modo
lento e gradual.
A partir do século XII, encontramos uma situação mais favorável
ao uso do castelhano como língua corrente e cada vez menos construções
latinas, algumas corrompidas ou em posições específicas no texto,
evidenciando que esta não era uma língua de pleno conhecimento de
quem a escrevia, muito menos da população que fazia uso dos
documentos.
Os documentos notariais revelaram a presença de algumas
dessas estruturas típicas latinas, representadas principalmente pelos casos
acusativo e dativo, seja pela desinência nominal, seja pela presença do
pronome pleno. Alguns usos têm correspondência com os do latim, porém,
em alguns casos, o que vemos é apenas o sintagma sendo usado dentro
de uma estrutura castelhana, como fica claro no uso do pronome dativo
vobis antecedido pela preposição a, marca típica da construção castelhana
com objeto indireto.
Se no grupo 1, o verbo dar produziu o maior número de
ocorrências, as construções latinas apareceram quase sempre vinculadas
99
ao verbo vender, em estruturas mais próximas das usadas em latim; além
disso, o verbo dar apresentou o inusitado caso citado dar a vobis,
devido ao fato de o pronome já ter perdido seu sentido latino de dativo.
A presença dessas ocorrências distingue esse grupo dos demais,
tornando evidente a idéia de que a língua latina ainda detinha um status
social elevado, principalmente no que diz respeito à linguagem notarial, o
que pode ter levado o escrivão a tentar reproduzir, nos documentos que
redigia, determinadas estruturas dessa língua, buscando, talvez, uma
credibilidade maior, ainda que não a dominasse completamente.
A mistura entre castelhano e construções latinas é mais evidente
somente nas partes iniciais e finais dos documentos.
Tabela 5 – Grupo 2 - Estruturas com complementos verbais
latinos
Subgrupo 2.1 - dar + a uobis + ODSN
O subgrupo 2.1 pode ser entendido dentro desse esquema de
formas fossilizadas latinas. Encontramos apenas um exemplo com uobis
antecedido pela preposição a, desempenhando a função de objeto indireto.
Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos
Número de ocorrências
Dar Vender
2.1 – dar + a uobis + ODSN
1 0
2.2 – vender + uobis + ODSN
0 4
2.3 – vender + uobis + ODSN
ACUSATIVO
0 2
2.4 – vender + ODSN ACUSATIVO +
OISN DATIVO
0 1
Total de ocorrências 1 7
100
Pela data do documento, vemos que se trata de uma forma
fossilizada, provavelmente com o desejo de transmitir maior formalidade,
porque a forma a uos, descrita nos subgrupos anteriores, era usada
anteriormente.
No entanto a presença da preposição a, característica do objeto
indireto, e o pronome vobis formam um conjunto lingüístico que une formas
arcaicas com construções romances, evidenciando que vobis não tinha
seu sentido pleno, necessitando da presença da preposição para reforçar
seu caráter de objeto indireto e indicando a influência que o escrivão
recebia, ora do latim clássico, ora da linguagem corrente na época.
(23) Burgos - 188 – 1235
12
(…) E yo
Diago Gonzaluez de mi buena uoluntad do a uobis donna Marina,
abbati∫∫a del monaterio I
6
de Uilla Mayor, z al conuento daquete
mimo monaterio por cambio de ita villa upra cripta de Robledo,
tota quanta heredat yo he z auer deuo z a mj perteneI
7
ce en Torre de
Padierno z in uos terminos nominata mieut: (…)
Subgrupo 2.2 - vender + uobis + ODSN
A função de vobis como objeto indireto sem a preposição a foi
mais freqüente nos documentos estudados, aproximando-se mais de sua
atribuição de caso dativo latino sem preposição.
(24) Burgos 156 – 1201
3
Ego Marj Ioan una cum filji mej nomjnatjm cum
Guarjn, Joan, Dorle, Bernaldo, I
2
Alrnerjc, Marj Bemaldo, Ramundo,
uendimus uobis fratrjbus de Fonte lezjna una terra en lo I
3
plano de
Fonte lezina, por .IIII. morabedis emedio; lo que dema uale deffamo
pro anjma patri I
4
mej don Joan. (...)
(25) Burgos 156 - 1201
18
(...)Jn Dei nomjne, ego Domjngo Pedrez, iljo de Pedro Pedrez de Barlada,
uendo uobis fratrjbus de fonte lezina I
2
.III. terra por .II. morabedi
emerjo (…)
(26) Burgos 157 - 1206
4
In Dei nomine. Ego Rodericus Gunalui de Rio Cereo ex mea bona
uoluntate uendo z
z z
z robro uobis Petro Johannis burgeni illam meam pro-
101
priam hereditatem quam habeo en Quintana fortunno che fue de mio
8padre z de mio madre, fuera la parte de mie hermana dona Therea.
(27) Burgos – 157 - 1206
26
Ego Roderico Gunalui uendo z
zz
z robro uobis Petro Johannis
tota mea hereditate quantum habeo in Quintana ortunno: caas, terras,
vineas z ortos z: arbores, ent mont z ont, quantum habeo z ad me
pertinet, por .CLXVIlI. morabetinos, bonos alonis de auro z pondere, z
o de illis paccati z nichil remait per dare.
(28) Rioja Baja – 118 – 1243
3
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....(...)
O uso de vobis apresenta uma diferença se comparado ao de vos.
Ainda que apareçam nos mesmos contextos, descrevemos que vos vem
acompanhado por a quando o referente do pronome posposto, e sem a
preposição quando tal referente já foi introduzido.
No entanto, os exemplos de 24 a 28 mostram o pronome vobis
sem a preposição e com o referente posposto ao pronome, ainda que no
exemplo 23, do a uobis donna Marina, a construção seja semelhante a com
vos.
Esses exemplos apontam a dois contextos de uso diferenciados
para vobis e vos.
A presença de vobis, além de ser uma retomada do uso latino,
está ligada também a fatores discursivos, principalmente de organização
textual. Em todos os exemplos citados, a construção com vobis não
aparece livremente, mas sempre no início dos documentos, de forma mais
rígida e mais ligada à tradição latina. É comum, nos documentos, que
trechos iniciais estejam em latim.
Essa afirmação também é aplicável aos subgrupos 2.3 e 2.4
76
,
todos com restos sintáticos latinos. A presença de objetos dativos e
acusativos não se justifica cronologicamente, uma vez que nos séculos
76
Os subgrupos citados não serão comentados separadamente e estão representados pelos exemplos 13
a 17.
102
XII e XIII não se usavam declinações para marcar os casos latinos. A
língua romance dos documentos mescla, em trechos iniciais, resquícios de
complementação latina com declinação e palavras romances, como
podemos ver nos exemplos de 23 a 28.
Essas estruturas confirmam algumas relações de transitividade
propostas por Hopper e Thompson (1980). De acordo com suas hipóteses,
as partes periféricas dos textos apresentam menor grau de transitividade,
enquanto as porções centrais são mais transitivas. Dessa forma, os trechos
iniciais e finais se apresentam de modo mais conservador e ligado à
tradição latina, com menor espaço a inovações lingüísticas, ao passo que
as áreas mais centrais apresentam construções de maior flexibilidade e
variedade.
5.3 - Grupo 3: Estruturas topicalizadas
Separamos no grupo 3 as estruturas encontradas que
representam construções topicalizadas, seja com o objeto direto ou com o
indireto. O verbo dar foi o mais representativo do grupo, com a maior parte
das construções com ambos os objetos.
No primeiro caso, representado pela topicalização do objeto direto,
o elemento posto em posição de tópico foi um sintagma nominal, ao passo
que, nas construções com tópicos indiretos, esse espaço foi preenchido por
um pronome, o que indica que os verbos dar e vender não realizavam, nos
documentos estudados, construções topicalizadas com o objeto indireto
como sintagma nominal.
77
De acordo com a observação dos dados, especificamente do
subgrupo 3.1, somente o verbo dar admitia a construção topicalizada com
ambos os objetos representados por sintagmas nominais.
77
Essa afirmação também é válida para os subgrupos 1.5 e 1.6, que também apresentam construções
topicalizadas.
103
Tabela 6 – Grupo 3 – Estruturas Topicalizadas
Subgrupo 3.1 - ODSN + dar + OISN
A topicalização do objeto direto com sintagma nominal foi mais
significativa, de modo a evidenciar o que seria vendido, como se pode
verificar nos três exemplos a seguir:
(29) Castilla del Norte – 48 – 1225
7
(…) toda
eta por nombrada heredat do io al conuiento z
zz
z al moneterio de Uillen-.
na que la ayna z que la hereden por ienpre; z do y mio cuerpo z de
mi mugier fuera ent i entraremos en orden, z fago me amiliar o por
bucar tot el bien z toda la pro que pudiero. (…)
(30) Toledo - 263 – 1203
4
Ego magiter de Salua terra M. Mar-
tinez, z Roi Diaz elcomendador, con todo o raire, I
2
damo heredad
inSeennia intodo o dia de Rodrig Iuannes, de Uilla Pichinim, que
aret con uno iugo de I
3
boe, z una caa. Et eta heredad a∫∫i la damo
que det della el decimo cada anno alo fraires, (…)
(31) Toledo - 273 – 1215
32
(…) Et eto damo
a eto frares nomnado por pleito quelo tengan poblado, e que I
14
de-
fendaut e curient todo lo que fuere nuetro eneto termino obre nom-
nado, a o poder egund lo o. E i por auentura fuere, lo que non
plega a Dios I
15
que ea, que fuerza o dampno recebiemo eneto
termino nomnador delo frares nomnado o de o omnes o de otro
omnes alguno por culpa dello, I
16
abiendo ello e pudiendolo emen-
dar, e nonIo emendaren a∫∫i como fuere derecho, que perdian todo eto
quelles damo,(...)
Grupo 3 – Estruturas topicalizadas
Dar Vender
3.1 – ODSN + dar + OISN
3 0
3.2 – OI pro (uos) + vender + OI pro
(auos)
0 1
3.3 – OI pro (uos) + dar + ODSN 2 0
3.4 - OI pro (uos) + OD pro (clítico) +
dar
1 0
Total de ocorrências 6 1
104
Os três exemplos apresentam construções topicalizadas com
marcas diferenciadas. No 29, temos a presença do pronome io posposto ao
verbo dar, o que o ocorre nos exemplos 30 e 31, que apresentam a
marcação de sujeito desinencial.
O exemplo 30 é o que mais se aproxima da construção do
espanhol moderno, que exige a presença do pronome átono em casos de
anteposição dos objetos. No exemplo em questão, a presença do clítico la
refere-se apenas ao objeto direto, não se mencionando a duplicação
comum do objeto indireto em nenhum dos exemplos encontrados nesse
subgrupo.
Subgrupo 3.2 - OI pro (uos) + vender + OI pro (auos)
O exemplo tem como principal característica a presença da
duplicação do objeto indireto vos. Ainda que a duplicação do objeto indireto
não tenha sido encontrada com grande freqüência, esse subgrupo
demonstra que a duplicação do objeto indireto, ainda que pouco utilizada,
já aparecia nos documentos notariais do século XIII.
(32) Castilla del Norte - 67 – 1285
32
Edeto
I
21
uo damo fiador de rredar z de otorigar ano por iempre z a otro
qual quier que venga contra eta I
22
venta deta quarta parte dete olar
deRretuerto que uo vendimo auo, don ffrey Domingo Perez (…)
A presença de uos no lugar de le na duplicação do objeto indireto,
ainda que o pronome le fosse conhecido nos documentos notariais,
justifica-se porque a forma de tratamento empregada não é a terceira
pessoa, mas o plural da segunda pessoa.
A seguir, apresentamos o pronome le como objeto indireto, numa
estrutura diferente da descrita no exemplo anterior, porém usado quase um
século antes.
105
(33) Toledo - 262 – 1194
57
(…)z de
o I
20
termino, que lo tenga don Alfono todo lo al que e obracripto,
eo muger dona Therea Garciez en toda o ujta I
21
delo anbos. E
damo le de mais el aldea nuelra que dizen Mendeinno, la qual es en
termino de Makeda; (...)
(34 Toledo – 261 - 1191
8
(…) et doles
olar en ke I
5
fagan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar, foras
end en Toledo dentro.
Nos dois exemplos anteriores, a presença de les aponta a um
referente distante, ao passo que no exemplo (32), vos, que também é
indireto, foi usado com o referente mais próximo.
Subgrupo 3.3 - OI pro (uos) + dar + ODSN
O referido subgrupo apresenta o verbo dar antecedido pelo
pronome indireto uos, não gerando a duplicação como no subgrupo
anterior.
(35) Toledo 280 – 1241
12
(…) E otro i, uo do I
7
z
zz
z uo halmono z
zz
z uo apodero en quanto
heredamiento yo e z deuo auer en Nauarra, o quier que lo I
8
hy aya,
z por quj quier que lo hy aya z lo deuo auer, z de apodero me dello
z apodero uo en I
9
ello con toda us derechuras z con toda us per-
tenencias z con todas us entradas z con toda I
10
us exidas. (...)
(36) Burgos 197 – 1261
4
(...) ffazemos cambio z abenencia
I
2
cum uuco don Arnalt abbad de Buxedo z cum todo el conuiento de
mimo logar, que uo otorgamo z
zz
z uos damo por paramiento, que uos
z uuetros omne [fa]I
3
gade cepede en nuetro termino do los falla-
rede, i no en deffea o en prado uedado, a∫∫i cumo e el oto de villa
z en la uelga z en el oto mayor, (…)
Subgrupo 3.4 - OI pro (uos) + OD pro (clítico) + dar
A estrutura presente nesse subgrupo mostra a colocação dos
pronomes uos e o clítico de objeto direto à esquerda do verbo, indicando
que uos concorria com le nessa posição.
106
(37) Castilla del Norte 52 – 1230
(… ) z vos que me mantegades los collaços en los fueros que
uos lo io do; z quando uos diero etos morauedis, uuetro fructo alçado,
que dixedes mi heredat.(...)
5.4 - Grupo 4: Estruturas específicas com o verbo DAR
Se, por um lado, o grupo 1 mostra construções de ampla
freqüência, tanto com o verbo dar quanto com o vender, o grupo 4
apresenta somente construções sintáticas realizadas com o verbo dar.
Ainda que o número seja pequeno, tais ocorrências são significativas, pois
demonstram que embora sejam verbos semanticamente parecidos, suas
realizações sintáticas podem não ser as mesmas.
A principal característica do grupo é o fato de as construções
serem realizadas com a predominância do pronome como núcleo da
complementação verbal, no caso, da complementação indireta, além da
presença de dois pronomes funcionando como objetos: o atual le e a
variação uos e a uos.
Tabela 7 – Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo Dar
Grupo 4 – Estruturas específicas com o verbo DAR
Dar Vender
4.1 – dar + ODSN + OI pro (auos)
1 0
4.2 – dar + OI pro (uos) + OD pro
(clítico)
1 0
4.3 – dar + OD pro (clítico) + OI pro
(auos)
1 0
4.4 – dar + OI pro (clítico les) + ODSN
2 0
Total 5 0
107
Subgrupo 4.1 – dar + ODSN + OI pro (auos)
O exemplo 38 apresenta o uso do pronome tônico a uos. No
espanhol atual, essa posição normalmente é preenchida por a ti quando o
referente é a segunda pessoa do singular e a él / ella, quando se refere à
terceira pessoa do singular.
(38) Burgos - 155 – 1200
4
Ego don Armengot edomna Cathalana etodel econ-
ceiho de I
2
Palatiolos, por nuetras animas ede nuetros parientes, damos
eatorgarnos la agua I
3
que decende por Sancta Maria de Palatiolos auos
7
don Epalon abbat de Buedo l
4
etot el conuent ibidem Deo eruien-
tibus,(…)
Esse exemplo mostra o pronome tônico a uos, plural de segunda
pessoa, sendo usado como tratamento de respeito.
Subgrupo 4.2 – dar + OI pro (uos) + OD pro (clítico)
(39)Castilla del Norte – 52 - 1230
11
(…)z
do uos lo por .cc. z
zz
z .LXXX. morauedis que me pretates, que lo ayades
z que lo mantegades fata que uos de etos morauedis io o qui por mi
deue heredar, z vos que me mantegades los collaços en los fueros que
uos lo io do; z quando uos diero etos morauedis, uuetro ructo alçado,
16 que dixedes mi heredat.(...)
No exemplo 39, o pronome vos seguido do clítico de terceira
pessoa lo pode indicar que as duas formas eram átonas nessa posição. Ou
seja, parece que temos dois pronomes átonos enclíticos junto ao verbo. No
exemplo 38, vos, que aparece com a preposição, esdistante do verbo,
indicando que poderia ser tônico.
Outro aspecto importante a ser considerado no exemplo acima, e
que também pode ser observado em outros casos, como em 42, 43, 44, diz
respeito à colocação pronominal em relação ao verbo.
Em 39, a ordem da colocação pronominal aparece em posição
enclítica na linha 11 (do vos lo) e logo temos uma próclise na linha 16 (vos
lo io do).
108
Esse exemplo pode indicar que a ordem de colocação pronominal
era usada de modo diferente da atual, uma vez que a referida ênclise não
seria possível no espanhol moderno, estando o verbo no indicativo.
Segundo o Diccionario Panhispánico de Dudas
78
, a colocação dos
pronomes clíticos no espanhol atual, antes ou depois do verbo, não é livre,
mas sim obedece a determinadas regras que nem sempre foram as
mesmas.
Próclise: Os clíticos se antepõem aos verbos quando os
mesmos estão em qualquer forma do indicativo ou subjuntivo:
T
E LO
advierto;
ME
voy; Ojalá
LE
concedan el premio
.
Ênclise: Os clíticos se pospõem quando o verbo se está em:
Imperativo afirmativo:
HazLO, pónTELO
,
Gerúndio:
No conseguirás nada regañándoME
;
Infinitivo:
Al mirarLO, sonrió.
No caso de perífrases verbais, é admitida a próclise ou
ênclise:
Debo hacerLO / LO debo hacer.
No espanhol medieval, essa ordem era diferente da atual,
existindo outros fatores que favoreciam o uso enclítico ou proclítico dos
pronomes.
Segundo Eberenz (2005:616)
(...) contrariamente al uso actual, en castellano medieval la
posición del pronombre no dependía de la forma verbal a la
que acompañaba, sino de factores prosódicos y sintácticos.
(…) Por otra parte, dentro de la oración se dan ciertos tipos de
dependencia sintáctica como, sobre todo, la subordinación, que
parece tener alguna influencia en la posición del clítico.
79
Segundo Menéndez Pidal (1950: 379), a ênclise era usada depois
do verbo quando este encabeçava a sentença ou quando era antecedido
somente pela conjunção et.
78
Diccionario Panhispánico de Dudas, Real Academia Española, versão on line, 2005.
http://buscon.rae.es/dpdI/SrvltConsulta?lema=colocación%20pronominal
79
(...) contrariamente ao uso atual, em castelhano medieval a posição do pronome o dependia da
forma verbal a que acompanhava, mas sim de fatores prosódicos e sintáticos. (...) Por outro lado, dentro
da oração se dão certos tipos de dependencia sintática como, sobre tudo, a subordinação, que parece ter
alguma influencia na posição do clítico. Tradução livre ao português.
109
Et ouiste me a dare centu sólidos. 1061 León
O uso da próclise ocorria quando o verbo era precedido por
advérbio ou conjunção diferente de et.
Non se cuempetet. Gl. Emil 68
Non se bergu[n]dian. 75
Ata ke se monden. 328.
Lapesa, (1980:218), afirma que o pronome átono era
essencialmente enclítico, não podendo aparecer antes de pausa ou
precedido pelas conjunções e ou mas. Menéndez Pidal não menciona a
preposição mas e Lapesa não apresenta exemplos de uso enclítico com
mas.
Acógensele omnes de todas partes.
E mandólo recabdar.
As ocorrências dos clíticos nos exemplos citados e nos
encontrados nos documentos também podem ser explicadas de acordo
com as generalizações propostas por Alfred Tobler em 1895, que ficaram
conhecidas como Lei Tobler-Mussafia. De acordo com essa proposta, as
línguas romances medievais não apresentavam clíticos em início de
sentença (Galves; Britto e Paixão de Souza, 2005:13).
Ainda em 39, a presença do pronome sujeito io entre o clítico e o
verbo também não seria possível no espanhol moderno. Da mesma forma
que no espanhol atual, no castelhano medieval o pronome estava
totalmente vinculado ao verbo, e não podia ficar separado dele, salvo pela
intercalação da partícula de negação no(n) ou pelos pronomes sujeito,
(Eberenz, 2005:616) como é o caso do exemplo 39.
A combinação dos pronomes é a mesma usada atualmente,
dativo-acusativo, mas não registramos exemplos do tipo le(s)-la(s) / lo(s).
Atribuímos tal ausência ao fato do pronome vos ser usado nas situações
formais de referencia ao interloculor, ao invés de le, que era usado para
falar do interlocutor.
110
Porém, a referida seqüência le la(s) / lo(s) era conhecida no
espanhol medieval e foi encontrada nos documentos, não com o dativo le,
mas sim por se.
Segundo Company Company (2006:480)
Los pronombres átonos dativos le les, cuando concurren
con un clítico acusativo lo(s) la(s), se manifiestan en el
español medieval, por un antiguo proceso morfofonémico,
como un clítico invariable ge, que posteriormente
evolucionó a se, si bien en el español primitivo los dos
clíticos, dativo le(s) y acusativo lo(s) la(s), podían
construirse juntos manteniendo ambos la consonante
lateral (…)
80
Ej. Todo le lo debe entregar. [Fuero Juzgo, apud
RAE1931:247)
Segundo Menédez Pidal, (1962:253-254), a forma ge é o resultado
da evolução fonética de illi (dativo).
En el siglo XIV empieza a dejar su puesto a la forma
moderna se lo, generalizada gracias a la influencia
analógica ejercida por expresiones reflexivas.
81
A presença de le(s) por ge, como afirma Company, foi encontrada
em duas situações, com o verbo demandar
82
e com o verbo vender.
No exemplo 40, ge lo demande ante Dios, a forma ge faz
referência ao sacristão e portanto está em singular, sendo equivalente a le.
80
Os pronomes átonos dativos le les, quando concorrem com um clítico lo(s) la(s), se manifestam em
espanhol medieval, por um antigo processo morfofonémico, como um clítico invariavel ge, que
posteriormente evoluiu a se, ainda que no espanhol primitivo, os dois clíticos, dativo le(s) e acusativo lo(s)
e la(s) podiam ser construidos juntos mantendo ambos a consoante lateral. Tradução livre ao Português.
81
No século XIV começa a abandonar sua antiga forma e adotar a moderna se lo, generalizada graças a
influência analógica exercida por expressões reflexivas. Tradução livre ao Português.
82
demandar. (Del lat. demandāre, confiar, encomendar).1. tr. Pedir, rogar. 2. tr. preguntar. Diccionario de
la lengua española, 22ª edición, versión on line. www.rae.es
111
(40) Rioja Alta – 43 - 1241
que tenga iempre una lampada qe I
9
arda
iempre de noch ante la ymagen de I
10
Sancta Maria que efta en la
clautra en fommo I
11
del panno do cuelgan los ecudos, que ella I
12
nos
de la o gracia e que nos acabe la del o fijo I
13
precioo; z el acritan
i eto non cumpliere, I14 que ella ge lo demande ante Dios, amen.
Em 41, no a∫∫igelo vendemos, ge se equivale a les, porque seu
referente está no plural, no caso os aldeões.
(41) Castilla del Norte - 288 - 1297
14
(…)E I
9
a∫∫i commo etos aledannos lo departen aeto que
dicho e, no a∫∫igelo vendemos conI
10
∫∫us entradas z con ∫∫us ∫∫alidas
16
z con todos ∫∫us derechos ∫∫egunt le perteneI
11
;(…)
4.3 – dar + OD pro (clítico) + OI pro (auos)
O exemplo 42 mostra como objeto indireto um pronome tônico,
seguido pelo direto e ambos pospostos ao verbo.
(42) Burgos 203 – 1295
31
Et por que eto ea ffirme z non venga en dubda, nos los peroneros
delos conçejos delas villas de Catiella puiemos en eta carta los eellos
delos conçejos cuyos per∫∫oneros nos omos, z por mayor I
51
ffirme-
dumbre puiemos en ella el dicho eello dela hermandat en tetimonio
con los otras eellos delos conçejos, z damos la auos el conçejo de Na-
gera que ∫∫odes connueco en eta hermandat.
Subgrupo 4.4 – dar + OI pro (clítico les) + ODSN
Os exemplos 43 e 44 trazem o pronome les, seguido por objeto
direto nominal.
(43) Toledo – 262 – 1194
57
(…)z de
o I
20
termino, que lo tenga don Alfono todo lo al que e obracripto,
eo muger dona Therea Garciez en toda o ujta I
21
delo anbos. E
damo le de mais el aldea nuelra que dizen Mendeinno, la qual es en
termino de Makeda; (...)
(44) Toledo – 261 - 1191
8
(…) et doles
olar en ke I
5
fagan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar, foras
112
end en Toledo dentro.
Nos exemplos anteriores, temos o uso mencionado de les
enclítico. Esse pronome foi usado no lugar de vos nas situações em que o
referente do objeto indireto estava em plural.
5.5 – Apresentação diatópica dos dados
Apresentaremos neste subcapítulo um panorama de cada região,
de acordo com os dados encontrados.
5.5.1 - Castela de Norte
A região de Castela do Norte apresentou todas as construções no
século XII com o verbo dar, no grupo 1, que engloba as estruturas
sintáticas encontradas nos dois verbos.
O século XIII foi marcado pela ausência de construções no grupo
1 com o verbo dar; todos os exemplos com esse verbo estão localizados
nos grupos 3 e 4. com o verbo vender, encontramos 7 ocorrências no
século XIII, no subgrupo 1.3 e apenas 1 no grupo 3.
A região se caracteriza pela maior freqüência de estruturas tais
como verbo + OIpro (auos) + ODSN, correspondente ao subgrupo 1.3. No
século XIII, ao lado de estruturas do tipo SVO, há construções com o objeto
(direto ou indireto) anteposto ao verbo (SOV), no grupo 3 (três), ordem
mais freqüente em latim. A tabela da página seguinte explicita essas
relações.
113
Tabela 8 - Estruturas presentes na região de Castela do
Norte
Estruturas presentes na região de Castela do Norte
Dar Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 2
1.3– verbo +
OI pro (auos) +
ODSN
6 7
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
1
3.1 – ODSN + dar + OISN
1
3.2 – OI pro (uos) + vender + OI
pro (auos)
1
3.4 – OI pro (uos) + OD pro
(clítico) + dar
1
4.2 – dar + OI pro (uos) + OD
pro (clítico)
2
Total de ocorrências 10 4 0 8
5.5.2 - Burgos
Pode-se dizer que o panorama de Burgos é diferente do de
Castela, porque traz apenas uma construção (4.1) no século XII: dar +
ODSN + OIpro (auos) e 38 no XIII.
Burgos apresentou 12 construções sintáticas diferentes, 4 a mais
do que de Castela, com 8. O século XIII mostrou a preferência da região
por construções classificadas no grupo 1, do tipo SVO, muito próximo ao
verificado em Castela do Norte.
114
Tabela 9 - Estruturas presentes na região de Burgos
Estruturas presentes na região de Burgos
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 1
1
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
6 10
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
5
1
1.5 – ODSN + verbo + auos 2
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
3
2.1 – dar + a uobis + ODSN 1
2.2 – vender + uobis + ODSN
2
2.3 – vender + uobis + ODSN
ACUSATIVO
2
3.3 – OIpro (uos) + dar + ODSN
1
4.1 – dar + ODSN + OIpro
(auos)
1
4.3 – dar + OD pro (clítico) +
OIpro (auos)
1
Total de ocorrências 1 21 17
Com relação ao uso da preposição a antes do objeto indireto
pronominal, encontramos 16 ocorrências com o objeto indireto pronominal
antecedido pela preposição a e 6 sem a preposição, mostrando pouca
diferença no uso/ausência da preposição se comparado à sua vizinha
Castela do Norte, que apresenta 13 casos com a marca preposicional e
somente 1 com o pronome uos.
Esses dados podem sugerir que o uso da preposição ainda não
estava consolidado como índice de objeto indireto, mas que já aparecia em
muitos casos, representando a grande maioria dos exemplos, se
considerarmos as demais regiões.
115
Burgos também revelou a presença de complementos verbais
latinos, seja de marcação casual de acusativo ou de marcação pronominal,
o que inclui a variação a uobis/uobis, ambas no século XIII.
Burgos foi a região com o maior número total de exemplos,
seguida por Toledo, Castela e La Rioja.
Tabela 10 – Total geral de ocorrências por região
Total geral de ocorrências por região
XII XIII Total
Burgos 1 38 39
Toledo 14 9 23
Castela do Norte 10 11 21
La Rioja 1 18 19
Total de ocorrências
26 75 102
5.5.3 - La Rioja
A região de La Rioja também apresentou apenas 1 exemplo no
século XII, justamente o exemplo marcado pela construção uendo uobis,
sem preposição.
(45) Rioja Alta – 112 - 1169
4
Ego dompnu Petrus, fil delalcalde Dominico Petro
vendo uobis don Garia Zabata z ad uetra muliere dompna Sanctia
mea maiolo deLampaI
2
iana pro .xxx.
a
.III. morabetino, z quia um
bene paccato de ito precio cum ua iantar; proinde affirmo uobis illo
maiolo per ecula cuncta.
La Rioja (Alta e Baixa) apresentou a preferência pela ordem SVO,
sendo essa a ordem presente em quase todos os exemplos encontrados. A
exceção é o seguinte exemplo, que mostra a topicalização do objeto direto:
116
(46) Rioja Alta 120 – 1250
12
(...) Este molino uo uen-
demo cun quanto drecho ha nj deue auer, e damo uo fiadol
5
re
de redra a fuero de an Peidro, don Gil Periz de Veha e don Johan
Semeno ecriuano de conceyo.
Rioja Baja também mostrou o emprego de objetos latinos em
duas estruturas argumentais - a primeira com o pronome uobis e a
segunda com os dois complementos com indicação desinencial de caso
acusativo e dativo, que correspondem aos subgrupos 2.2 e 2.4,
respectivamente.
(47) Rioja Alta – 112 - 1169
4
Ego dompnu Petrus, fil delalcalde Dominico Petro
vendo uobis don Garia Zabata z ad uetra muliere dompna Sanctia
mea maiolo deLampaI
2
iana pro .xxx.
a
.III. morabetino, z quia um
bene paccato de ito precio cum ua iantar; proinde affirmo uobis illo
maiolo per ecula cuncta.
(48) Rioja Baja 118 – 1243
3
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....(...)
Tabela 11 - Estruturas presentes na região de La Rioja
Estruturas presentes na região de La Rioja
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 4
1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 1
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
3 5
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
1
1.6 - ODSN + OI pro (uos) +
verbo
1
2.2 – vender + uobis + ODSN 1 1
2.4 – vender + ODSN
ACUSATIVO + OISN DATIVO
1
Total de ocorrências 9 1 9
117
5.5.4 - Toledo
A região de Toledo apresentou um equilíbrio de usos do verbo
dar nos séculos XII e XIII. Já, com o verbo vender, todas as ocorrências
estão localizadas no século XII.
Toledo registra duas construções com a presença do pronome
indireto clítico les.
(49) Toledo 262 – 1164
57
(…)z de
o I
20
termino, que lo tenga don Alfono todo lo al que e obracripto,
eo muger dona Therea Garciez en toda o ujta I
21
delo anbos. E
damo le de mais el aldea nuelra que dizen Mendeinno, la qual es en
termino de Makeda; (...)
(50) Toledo – 261 - 1191
8
(…) et doles
olar en ke I
5
fagan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar, foras
end en Toledo dentro.
Tabela 12 – Estruturas presentes na região de Toledo
Estruturas presentes na região de Toledo
Dar
Vender
Estruturas
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
Século XII
(número de
ocorrências)
Século XIII
(número de
ocorrências)
1.1 - verbo + ODSN + OISN 2 1
1.2 – verbo +OISN + ODSN 2 4
1.3–
verbo + OI pro (auos) +
ODSN
1 4
1.4 – verbo + OI pro (vos) +
ODSN
3
1.5 – ODSN + verbo + auos 1
3.1 – ODSN + dar + OISN 2
3.3 – OI pro (uos) + dar +
ODSN
1
4.4 – dar + OI pro (clítico le) +
ODSN
2
Total de ocorrências 9 8 6
118
5.6 - Presença de vestígios do latim medieval nas estruturas
transitivas
Este capítulo visa ampliar o universo de análise e descrição das
estruturas transitivas apresentadas, trazendo algumas características da
presença do latim medieval nos textos notariais. Em alguns momentos,
utilizaremos alguns exemplos que não estão no corpus descrito no anexo,
mas que pertencem aos documentos estudados.
5.6.1 - Morfologia
A presença do latim medieval na linguagem notarial é sentida em
diversos momentos, principalmente na permanência inusitada dos antigos
casos latinos, cuja presença em textos dos séculos XII e XIII não se
justifica por critérios de necessidade de uso.
Segundo Cabrera Morales
83
(1996:79), basicamente duas
forças antagônicas que atuavam diretamente sobre o escrivão: a tentativa
de respeitarem-se alguns hábitos do latim clássico, ainda que isso não
fosse possível em muitos casos; e a influência que a língua falada exercia
sobre a língua escrita, talvez único modelo de referência. O resultado,
obviamente, era uma linguagem híbrida.
Essa mistura de “forças” é o que, grosso modo, poderíamos
denominar latim medieval. Nas palavras de Cabrera Morales (ibidem),
La tensión entre esos dos vectores define lingüísticamente el
latín medieval: um latín que aspira a ser escrito según las
pautas tradicionales pero donde se advierten desviaciones a
partir de un modelo empírico que proporciona la lengua
romance. Desde tal punto de vista, todo elemento lingüístico
latino a priori podrá verse alterado por contagio del romance, lo
que equivale a decir que es posible que algunos elementos
lingüísticos del latín, desde las grafías hasta las desinencias,
alcancen ahora una nueva dimensión: la de ser utilizadas, de
83
Cabrera Morales, Carlos. Sobre el uso avulgarado del antiguo sistema de casos en los documentos
latino-medievales. In: Anuario de Estudios Filológicos, XIX. Salamanca, Universidad de Salamanca, 1996.
119
forma consciente o no, con otra función distinta a la que tenían
en el latín clásico a partir de las nuevas exigencias lingüísticas
del único modelo de lengua que se conoce.
84
Essa afirmação confirma os usos dos diversos pronomes latinos
encontrados nos fragmentos, em alguns casos totalmente
descaracterizados de seu uso no latim clássico.
No entanto, além do acusativo e do dativo, mencionados nos
fragmentos analisados, encontramos algumas variações de uso em todos
os casos, demonstrando o modo como o dialeto castelhano se
transformava e se afirmava frente à lingua latina.
Wright (1982:16), citando alguns dos principais romanistas, como
Menéndez Pidal (1926), Löfstedt (1959), Norberg (1968) e dtke (1959),
fala sobre uma tradicional teoria dentro da filologia românica, a de que
tanto o latim vulgar quanto o romance coexistiram como línguas faladas
por um longo período, que vai aproximadamente do final do Império
Romano até o século XII, estando essa teoria comprovada
documentalmente.
O ponto de equilíbrio entre os especialistas é que o latim vulgar
era usado como língua oral culta, enquanto o povo utilizava sua língua
vernácula.
Dessa forma, o estudo da língua notarial dos séculos XII e XIII
pode demonstrar tanto estruturas mais arcaizantes quanto inovações do
romance castelhano, que passa a ser a língua oficial nos diplomas no início
do século XII (Smith, 1985:29).
84
A tensão entre esses dois vetores define lingüisticamente o latim medieval: um latim que aspira ser
escrito segundo as pautas tradicionais, mas que apresenta desvios a partir de um modelo empírico que
proporciona a língua romance. De tal ponto de vista, todo elemento lingüístico latino a priori poderia se
alterado pelo contagio do romance, o que equivale a dizer que é possível que alguns elementos
lingüísticos do latim, das grafias até as desinências, adquiram agora uma nova dimensão: a de ser
utilizadas, de forma consciente ou não, com outra função distinta a que tinham no latim clássico a partir
das novas exigências lingüísticas do único modelo de língua que se conhece. Tradução livre ao
português.
120
5.6.2 - Acusativo em lugar de Nominativo
A presença de vestígios do acusativo em lugar do nominativo
nos documentos analisados se refere principalmente ao uso de flexões
lexicais híbridas, com variação principalmente no plural.
85
Segundo Bastarda Parera (1953:19), o uso do acusativo no
lugar do nominativo constitui uma inovação do latim hispânico. O uso dos
nomes em –o em lugar de –us se generaliza e passa aos nomes próprios.
Um exemplo pode ser observado na segunda declinação,
principalmente nas palavras terminadas em –us e -er. A presença do
acusativo o, -os aparece no lugar do nominativo singular e plural, como
nos exemplos a seguir:
(51) Burgos 156 - 1201
30
Jn nomine Domini. Ego do Ferrando filio do Ferloi, uendo ad uo,
fradre Pedro de Fontel
2
lazina, uendo la hereditate de Ualu[a] que com-
pre de don Garcia, por uno molo e por una I
3
mula, elo que de maiz uale
la hereditate, dono pro meam animam z de mei parentibu.
O exemplo que segue mostra a mesma palavra usada no
nominativo
,
porém com a desinência morfológica de acusativo do latim
clássico, mostrando a convivência das duas formas de desinência.
(52) Burgos – 150 – 1179
3
In Dei nomine et indiuidue Trinjtatjs, Pater z f
ff
filius et Spirictus
Sanctus. I
2
Ego dompna Sancia do el eredad de Uillaldemjro I
3
quanto
mi perteneze demj edemjo ermano Garci Diaz l
4
aDiago Garcia mio
6
obrino. (...)
5.6.3 - Acusativo (perda do morfema /–m/)
O uso do acusativo
como caso regime também revela variação
do morfema /–m/, nos seguintes casos:
85
O substantivo possuía, na época clássica latina, cinco variações morfológicas: nomes em ā (terra),
em ŏ (lupus), em consoante ou em ǐ (virtus e ovis), em ǔ (fluctus) e em ē (dies). Maurer Júnior
(1959:77).
121
(53) Burgos 157 - 1206
4
In Dei nomine. Ego Rodericus Gunalui de Rio Cereo ex mea bona
uoluntate uendo z robro uobis Petro Johannis burgeni illam meam pro-
priam hereditatem quam habeo en Quintana fortunno che fue de mio
padre z de mio madre, fuera la parte de mie hermana dona Therea.
(54) Burgos 157 - 1206
26
Ego Roderico Gunalui uendo z robro uobis Petro Johanllis
tota mea hereditate quantum habeo in Quintana ortunno: caas, terras,
vineas z ortos z: arbores, ent mont z ont, quantum habeo z ad me
pertinet, por .CLXVIlI. morabetinos, bonos alfonis de auro z pondere, z
o de illis paccati z nichil remait per dare.
122
Considerações finais
123
O estudo das estruturas transitivas revelou uma grande
variedade de combinações sintáticas dentro da estrutura argumental, as
quais foram apresentadas nos capítulos anteriores. Foram reunidos 103
fragmentos, divididos em 18 estruturas sintáticas, em quatro grandes
grupos. A ordem prenominante foi a SVO, ainda que também tenhamos
registrado SOV.
Mostrou também que a língua notarial castelhana nos séculos
XII e XIII representa um momento de transição lingüística importante dentro
da história da língua, momento que passa a ter cada vez menos influência
do latim - não mais aquele culto, literário - mas um latim modificado pela
linguagem oral.
Sobre as relações de transitividade propostas por Hooper e
Thompson, os exemplos apontam contextos de alta transitividade verbal:
participação de duas ou mais pessoas, ação verbal pontual, tempo no
passado, intencionalidade do sujeito, polaridade afirmativa da oração,
modo indicativo, sujeito agente, objeto afetado e individuado.
6.1 – Uso vos / a vos
A presença do pronome uos foi registrada em todos os grupos,
exercendo a função de objeto indireto. Seu uso esteve associado a
referentes tanto no singular quanto no plural. Porém, a presença da
preposição a não apareceu em todos os exemplos, e pode ser interpretado
como o uso do pronome como tônico e átono.
A forma tônica a uos esteve associada a contextos nos quais o
nome do referente do pronome aparecia em seguida. Quando o referente
havia sido nomeado, o pronome foi usado na forma átona, sem a
preposição a. Os exemplos a seguir mostram essas relações.
124
(55) Toledo 128 – 1278
5
Ego don Gil ide Garl
2
çia z yo Mari Meder o mugier vendemo auo
Joan Martinez el erero I
3
.XX. z .II. logare de vjnna del ryo adelant. (…)
(56) Toledo 34 – 1146
44
E do uo la caas elo ola-
res, elo banno que io ei enToledo, lo quale on enla colation de
ant Nichola, todo I
13
a∫∫i complidamientre como o de mjo auuelo el
comde don Peidro A∫∫uriz; edo uo la tre parte del quarto de toda
I
14
el aldea que dizen Algorfiella, toda la mia ration, ela ration que io
heredej de mio hermanos, don Peidro Lopez edon I
15
Martin Lopez.
A tabela a seguir apresenta a quantidade de ocorrências de vos / a
vos, distribuídas por região.
Tabela 13 - Variação diatópica de uso do objeto indireto
preposicionado. Séculos XII e XIII, com os verbos dar e vender
Variação diatópica de uso do objeto indireto
preposicionado. Séculos XII e XIII, com os verbos dar e
vender
A + OIpro (auos) OIpro (uos)
Burgos 16 6
Castela do Norte 13 1
La Rioja 8
1
Toledo 5 3
Total de ocorrências
42 11
Segundo esses dados, a presença da preposição a antes de vos é
muito maior, sendo superior em todas as regiões estudadas.
6.2 – Vos como forma de tratamento de cortesia
Sobre as formas de tratamento nos documentos, podemos
observar que a vos está vinculado a uma forma de tratamento formal, de
segunda pessoa do singular, além de seu uso tradicional no plural. Não
125
nenhum uso de le no singular, o que pode indicar que a uos era usado nas
situações formais, seja no singular ou no plural, quando se dirigia a palavra
ao interlocutor.
No plural, ainda que a vos seja a forma predominante,
encontramos dois registros de les, o que pode indicar que as formas de
terceira pessoa do singular usadas no espanhol atual, para demonstrar
cortesia ou distância, já eram empregadas.
(57) Toledo 262 – 1164
57
(…)z de
o I
20
termino, que lo tenga don Alfono todo lo al que e obracripto,
eo muger dona Therea Garciez en toda o ujta I
21
delo anbos. E
damo le de mais el aldea nuelra que dizen Mendeinno, la qual es en
termino de Makeda; (...)
(58) Toledo – 261 - 1191
8
(…) et doles
olar en ke I
5
fagan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar, foras
end en Toledo dentro.
6.3 – Colocação pronominal
A análise dos dados mostrou um uso diferente do utilizado no
espanhol atual no que se refere à colocação pronominal. Encontramos no
mesmo fragmento e com a mesma forma verbal, duas situações distintas.
No primeiro caso, a posição enclítica do vos lo, e no segundo a próclise vos
lo io do.
(59) Castilla del Norte 52 – 1230
11
(…)z
do uos lo por .cc. z .LXXX. morauedis que me pretates, que lo ayades
z que lo mantegades fata que uos de etos morauedis io o qui por mi
deue heredar, z vos que me mantegades los collaços en los fueros que
uos lo io do; z quando uos diero etos morauedis, uuetro fructo alçado,
que dixedes mi heredat.(...)
Esse uso enclítico só é possível no espanhol atual com o verbo no
imperativo, gerúndio ou infinitivo.
126
6.4 – Presença de elementos latinos
Os dados mostraram também que, ao lado dos pronomes
romances, a linguagem notarial ainda usava algumas formas latinas,
principalmente o pronome dativo vobis.
O uso desse pronome foi encontrado com e sem a preposição a,
porém em contextos diferentes dos encontrados com vos. Como já foi
descrito, vos aparecia sem a preposição quando o referente havia sido
nomeado e com a preposição nos casos do referente aparecer depois do
pronome. Com vobis, a posição do referente não interfere na presença da
preposição, como pode ser observado nos exemplos a seguir:
(60) Rioja Alta – 112 - 1169
4
Ego dompnu Petrus, fil delalcalde Dominico Petro
vendo uobis don Garia Zabata z ad uetra muliere dompna Sanctia
mea maiolo deLampaI
2
iana pro .xxx.
a
.III. morabetino, z quia um
bene paccato de ito precio cum ua iantar; proinde affirmo uobis illo
maiolo per ecula cuncta.
(61)Burgos 188 – 1235
12
(…) E yo
Diago Gonzaluez de mi buena uoluntad do a uobis donna Marina,
abbati∫∫a del monaterio I
6
de Uilla Mayor, z al conuento daquete
mimo monaterio por cambio de ita villa upra cripta de Robledo,
tota quanta heredat yo he z auer deuo z a mj perteneI
7
ce en Torre de
Padierno z in uos terminos nominata mieut: (…)
A presença de elementos latinos não se restringia aos pronomes,
mas também se aplicava às declinações marcadoras dos casos sintáticos.
Foram encontrados objetos diretos e indiretos que apresentavam suas
respectivas desinências casuais latinas, ao lado de com outros objetos com
terminações romances.
(62) Burgos 157 - 1206
26
Ego Roderico Gunalui uendo z robro uobis Petro Johanllis
tota mea hereditate quantum habeo in Quintana ortunno: caas, terras,
vineas z ortos z: arbores, ent mont z ont, quantum habeo z ad me
pertinet, por .CLXVIlI. morabetinos, bonos alfonis de auro z pondere, z
o de illis paccati z nichil remait per dare.
127
Os documentos não apresentam a tendência presente no
espanhol atual de duplicar o objeto indireto, como em:
Le dimos el libro a Pedro.
Le vendí la casa a mi vecino.
6.5 – Construções Topicalizadas
Nas construções topicalizadas, somente os objetos diretos
formados por um sintagma nominal apareceram a esquerda do verbo.
Quando a topicalização era do objeto indireto, o tópico era o pronome vos.
(63) Castilla del Norte 49 – 1225
7
(…) toda
eta por nombrada heredat do io al conuiento z al moneterio de Uillen-.
na que la ayna z que la hereden por ienpre; z do y mio cuerpo z de
mi mugier fuera ent i entraremos en orden, z fago me familiar o por
bucar tot el bien z toda la pro que pudiero. (…)
(64)Castilla del Norte 67 – 1285
32
Edeto
I
21
uo damo fiador de rredar z de otorigar ano por iempre z a otro
qual quier que venga contra eta I
22
venta deta quarta parte dete olar
deRretuerto que uo vendimo auo, don ffrey Domingo Perez (…)
o registramos a duplicação obrigatória do pronome clítico
existente no espanhol atual nos casos de anteposição dos objetos ao
verbo.
6.6 – Sugestões de estudos futuros
O estudo das estruturas transitivas nos documentos notariais
castelhanos abre alguns caminhos para estudos futuros, que sugerimos a
seguir:
Os documentos estudados correspondem geograficamente a
regiões ao norte do atual Espanha. No entanto, a coleção de
documentos transcritos por Menéndez Pidal apresenta textos
coletados em todas as demais regiões espanholas influenciadas pelo
castelhano, incluindo a Andaluzia, de grande presença árabe. O
128
estudo da totalidade das regiões pode mostrar um outro panorama
de construções sintáticas.
Estudamos os séculos XII e XIII, séculos ainda ligados à
tradição latina. Porém, os documentos coletados vão de 1044 a
1492, o que abre a possibilidade de novos estudos sobre os textos.
O estudo pronominal de le e vos ligado ao interlocutor. Como
não encontramos o uso de le ligado diretamente ao interloculor, mas
sendo essa uma forma de tratamento de cortesia no espanhol atual,
seria interessante investigar se nos documentos notariais, que são
textos muito formais, há essa mudança na forma de tratamento e em
quais contextos lingüísticos aparece.
Sobre as formas de tratamento, o pronome vos passa a ser
usado informalmente, principalmente no espanhol americano,
estando presente em toda a América Hispânica (Carricaburo, 1997).
A análise de documentos notariais americanos pode mostrar um
outro contexto de uso de vos.
Além do voseo
86
pronominal, há também o verbal, que é o uso
de algumas formas mais ou menos modificas da segunda pessoa do
plural, conjugadas na segunda pessoa do singular. Não registramos
o voseo verbal em nossos textos, mas não significa que sejam
inexistentes.
86
Voseo é o emprego da forma pronominal vos para dirigir-se ao interlocutor. Diccionario Panhispánico de
dudas, 2005, versão on line. http://buscon.rae.es/dpdI/SrvltConsulta?lema=vos
129
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Editorial Gredos, 1982.
RESNICK,
Melvyn C
. Introducción a la historia de la lengua
española.
Washington, D.C.: Georgetown University, 1981.
RUBIO, L.
Introducción a la sintaxis estructural del latín
: casos y
preposiciones. Barcelona: Ariel, 1966. v. 1.
SALRACH MARÉS, José María; VALDERÓN BARUQUE, Julio;
ZABALO ZABALEGUI, Javier.
Historia de España
, v. 4:
feudalismo y consolidación de los pueblos hispánicos (siglos XI-
XV). Barcelona: Labor, 1982.
SMITH, Colin. Aspectos culturales del siglo XII. In:
La Creación del
poema de Mio Cid
. Barcelona: Editorial Crítica, 1985. p. 19-66.
TORREGO SALCEDO, Esther. El complemento directo
preposicional. In: BOSQUE MUÑOZ, I., DEMONTE BARRETO, V.
Gramática descriptiva de la lengua española
. Madrid: Espasa–
Calpe, 1999. v. 2, p. 1781-1805.
TUÑÓN DE LARA, Manuel; TARRADELL, Miquel; MANGAS, Julio.
Historia de España
, I: introducción, primeras culturas e Hispania
romana. 3. ed. Barcelona: Editorial Labor, 1982.
WRIGHT, Roger.
Latín tardío y romance temprano en España y la
Francia carolíngia
. Madrid: Editorial Gredos, 1989.
135
ANEXO
Corpus formado a partir da leitura dos documentos notariais. Os
fragmentos serão descritos dentro do grupo e subgrupo ao qual pertençam,
organizados cronologicamente em ordem crescente, em cada um dos
grupos verbais. Os documentos estão disponíveis, na íntegra, em CD-
ROM.
136
Grupo 1 – Estruturas sintaticamente semelhantes nos dois verbos
1.1- verbo + ODSN + OISN
VERBO DAR
Burgos – 150 – 1179
3
In Dei nomine et indiuidue Trinjtatjs, Pater z filius et Spirictus
Sanctus. I
2
Ego dompna Sancia do el eredad de Uillaldemjro I
3
quanto
mi perteneze demj edemjo ermano Garci Diaz l
4
aDiago Garcia mio
6
obrino. (...)
Burgos 152 - 1188
5
Ego donna Sol, abbade∫∫a I
2
de Sancta Maria la Real de
Burgo, do una terra que e en Duraton, a medias, a poner maiolo,
I
3
a don Fele et a Lobo z con toda ua frontada del rio; (...)
Toledo 271 – 1213
4
Notum fit omnibus hominibus tam pre-
entibus quam futuris, quod ego Johanis Dominici z uxor mea dona
Maria Gonzaluez, en nuetra I
2
uida e en nuetra alud, damos nuetra
eredat que auemos in Madridl, caas e uineas, alos canonges de ancta
Maria de Toledo (…)
Burgos – 166 - 1219
3
Notum it omnibus hominibus tam preentis quam
futuris, que jo don Rodrigo Rodriguez, en uno con mja moier doina
Agne Peidrez I
2
e por alud de notra almas, damo e otorgamo etos
foro al concejo de las Quintanjelas: (…)
Rioja 86 – 1227
5
Sepan todos quantos eta carta uieren,
que yo dona Maria Pedrez offreco e do mi mima a Dios, e al obipo,
e ala I
2
egleia de Calaforra, e al hopital de la Cadena por eruir i a Dios
e alos pobres en mios dias, por mi alma e por redencion de mios pec-
ados I
3
e do hi comigo quanto que he en Huercanos, mueble e raiz,
a uos I
4
Juan, obipo de Calaforra,(...)
Rioja Baja - 126 – 1272
4
Conoçuda coa ea aquanto eta preent carta veran
z odrau, como no el I
2
cabillo dela ygleia de Sant Miguel de Alfaro,
con conentimiento z con otorgamjellto I
3
de don Lope Garçia, abbat
deta mema ygleia obredicha, damo e otorgamo l
4
vna vinna que
no auemo en la vinna de Iohan de Françia, que habet alectaneo
eta I
5
dicha vinna(…)
137
Toledo 286 – 1274
4
Conoçuda coa ea a quantos eta carta vieren, como yo donna
Locadia Fferrandes, por la gracia de Dios abbadea del moneterio de
ant Clemente de Tolledo, con la priora donna Margarita z con la ce-
lleriça a donna Luna Perez z con dona Maria la portera, por tot I
2
el con-
uento, damos z atorgamos la heredat de Açotan a todos aquellos que
hij queieren poblar z beuir o nos z eer nuetros baallos (…)
Rioja 106 – 1282
4
Connoçuda coa ∫∫ea atodo quanto eta carta vieren z oyeren,
como yo donna Terea Sanchez, ffija de don Sancho Paiz I
2
de Ma-
rannon, muger que ffuy de San Diaç, de Tirgo, do por mi buena
voluntat z por ∫∫aluaçion de mi alma toI
3
da la arra del heredamiento
que yo e en Tirgo, al abbat de Herrera z al conuentu de∫∫i mimo
logar, (…)
Rioja 108 – 1285
16
(…)auiendo muy grant abor de lis fazer bien e mençed z de acar de entre
ellos el murmurio que es por I
10
eta mengua, damos z otorgamos z
confirmamos al conuento de Sant MiIlan poral o vetiario aquel nue-
tro monaterio de Sancta I
11
Maria de Vannares con todos os collaços
z con todos os heredamientos z con todos os pertenentios poroquier
que on .....(…)
VERBO VENDER
Rioja Alta 123 - 1258
Ego Maria Uellida, fija de I
2
don Bueo, uendo una pieça mia cabo la
5
erna adon Martin Perez dean z al caI
3
billo de Calaforra. (…)
Toledo – 287 - 1277
35
(…)z vendemos toda eta vendida al conprador frey I
18
Eteuan Perez el
dicho, z ala orden z al conuento de Calatraua, vendida buena z ana
in entredicho nenguno, por preçio conon I
9
brado tre mil morauedis
de los dineros blancos de iete ueldos z medio el moralledi,(…)
1.2 - verbo + OISN + ODSN
VERBO DAR
Toledo 261 – 1191
4 Ego don Pedro Alpollechen do a poblar a Joan
Domingez, fillo de don Oria, et I
2
alos ke uinieren conel, akella mia
aldea ke dizen UilIa Algariua;
z dola ad atal foro I
3
a poblar, kem den
.VI. fanegas de trigo z otras .VI. fanegas de ordeo cadanno iugo, et I
4
a
la ementera una obra, z otra al baruecho, z otra al egar; et doles
138
olar en ke I
5
agan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar (…)
Toledo 262 – 1194
27
(...) io don Alfonso Lopez,
en uno con mia muger dona Therea Garciez, do alos fraire de Cala-
traua z al maeI
3
tro don Nuno la mja caa que io fiz en Uilla Noua;
dola con el molino que hi ei, z con el maiuelo que hi planI
4
tej, (…)
Toledo 273 – 1215
4
Eto epanlo qui on
z lo qui rerau, como ego Cecilia, por la gracia de Dios abade∫∫a del
monaterio de ant Clemellt de Toledo, I
2
otorgando z plaçiendo a
nuetra conuent, toda en uno de buen curazan z de buena uoluntat,
damos alas frares dela orden de Calatraua part en una nuetra heredad.
Toledo 274 – 1221
15
Connozuda coa ea a los que on e
que eran cuemo io don Migael Eteuanez, archidiacono de Calatraua,
do a meo I
2
ennor don Rodrigo, arzobipo de Toledo e primat de las
Epannas, que Dios mantenga, amen; dol toda aquella derechura que io
e en los molinos dAlI
3
ita, en termino de Toledo, en Taio.
Burgos 176 – 1226
4
Cognoçuda coa ea alo omnes qui on z que on
por uenir, cuemo io don Nunno Gonçaluet en uno con dona Elujra,
mie I
2
mugier, de nuetra bona uoluntade, que Dio no perdone nue-
tro peccado z faga mercet ala almas, damo z otorgamos al abbat
don I
3
Uidal z al conuiento deancta Maria deBuxedo, a chelas dos
ueçes z media que auemo en los molinos de Tor que compramos de
don l
4
Belaco de Çorita z de os obrino, filios de Gacon z de Romero.
Toledo 281 – 1242
4
Conoçuda coa ea atodos los omnes que on como
alos que han por uenir, como yo comde∫∫a don Elo do z otorgo amjo
fijo don Rodri I
2
go uoz z demanda de quanto heredamiento auje mjo
ermano don Aluaro z deuie auer, oquier que ea, z como quier que
el fiziere dello, de todo o I
3
pagada (…)
Toledo 283 – 1252
4
Conocida coa ea atodo lo omne que eta carta vieren z oyeren,
como yo ffrey Ferran Ordonnez, magitro de Calatraua, en uno con
don Gomez Gonçaluez, comenl
2
dador mayor, z con don frey Opinel,
clauero, z con otorgamiento de todo el conuento dee mimo logar, da-
mo z otorgamo al conceio de Cogolludo I
3
el fuero de Guadalfaiara,
y ete fuero e dado conplazer del conceio z de todo el conuento; (…)
139
Rioja 104 – 1270
4
Conoçuda coa ea I
2
a todo los om-
ue que eta carta uieren e oyeren, I
3
como nos don Ennego, por la gra-
cia de Dio abbat l
4
de Sant Millan de la Cogolla, do e otorgo al con-
I
5
uento de mime lagar, alos que oy on e eran pora I
6
ienpre en el
monaterio obredicho, diez morauedis en la martiniega que yo he en la
I
7
nuetra uilla de Pazuengos,(...)
VERBO VENDER
Burgos 159 - 1209
3
In Dei nomine. Ego don Gonzaluo filius de Peidro Equierdo, uendo
alabat donPeidro de Sancti I
2
Crito foro z al conuent, latierra deo
Quintanilla (…)
1.3 – verbo + OI pro (auos) + ODSN
VERBO DAR
Rioja Baja 270 – 1212
4
Conocida coa ea a todo omne, ai alo preente
como alo qui on por uenir, como io don Rodrig[o] I
2
maetro de
Salua tierra, enemble con el conuent daquel logar, damo z otorga-
mo auo don Fernan Pedrez euotra I
3
mulier dona Yndia, .x. iugada
de tierra en Oto en todo uuetro dia, (…)
Burgos 167 – 1220
4
Connoçuda coa ea a los ome que on agora cumo
a los que on por uenir, cumo I
2
yo donna Sancha, por la gracia de
Dios abbade∫∫a del moneterio de Burgos, qual diçen ancla Maria la
/3 Real, con otorgamiento de todo nuetro conuiento, damos a uos Johan
de UilIafarret z a Gomez z a Barl
4
tholome z Johan Aparicio z Domi-
nico de Ma[m]e z Pelayo z Johan z Pedro Terradillos z Dominico de
Marina I
5
z Johan Ferrandez z Pedro Ferrandez z Dominico del huerto,
toda la nuetra heredad que auemos en Terradillos (…)
Burgos 171 – 1224
19
Eta heredad nombrada damos auos Ferrand Martinez
hy a uotra mugier Mari Diaz a∫∫i cum lo nos deI
10
uemos heredar, hy
uos que nos dedes ancadanno de renda .xxx. almudes de pan, los
.XX. almudes de trigo, hy los .X. almudes de ceuada, I
11
hy el diezmo de
quanto fructo ouieredes en eta heredad.
Castilla del Norte 48 – 1225
4
In Dei nomine. Connoçuda coa ea, qe io Diag Roiz de Quintanie-
lIa, de mi buena uoluntad do por mi alma z por mio quinto a uos dona
Eluira Garciez, abbade∫∫a del moneterio de Uillaenna, z a tod el con-
Uiento daqe logar, la meatad de tod el mueble que io e
z pudiera auer, (…)
140
Castilla del Norte 48 – 1225
13
(...)Eta helemorina z
eta heredad a∫∫i como es nomnado, do io Diag Roiz a uos dona Eluira
Garciez, abbade∫∫a, z a todel conuiento de Uillaenna, qe ea uuetra z
qe la heredades por iempre, (...)
Castilla del Norte 49 – 1225
3
Connoçuda coa ea, como io Ferran Royz de mi
buena uoluntat, do por mi alma z por mio quinto, auos, donna Eluira
Garciez, abbade∫∫a de Uillenna, z atot el conuiento, la mi heredat de
Quintana Çamanon quanta io y e que gane z que conpre Garci Royz
de Salas z de Pero Armillez z de Ferran Ferrandez de Pan coruo; (…)
Castilla del Norte 46 – 1226
4
Connoeuda coa ea a todo lo que eta carta uieren, que no don
Peydro Perez, por la gracia de Dio abbat de Onna, z no conl
2
uiento
de mimo logar damo z otorgamo a uo, Pero Martinez, z a uo, Pero
Garciez, el nue/tro olar de Ualde Rama, por etos I
3
.XIJ. anno, con entra-
da z con exida z con quanto al olar perteneçe z que no hyauemo
agora; atal pleyt uo lo damo, (...)
Burgos 177 – 1227
6
(…) con otorgamiento de todo nuetro conuiento façemos camio
I
4
con uos don Rodrigo, fijo de Martiln Apparicio de Palaciolos; damos
nos a uos una tierI
5
a que auemos en Cantales entre amas las carreras,
allados don Munno de Palaciol
6
los; z damos uos otra tierra tra los
huertos de Palaciolos, allados Mari Gutierrez I
7
z fijos de Garci Diaz z
don Rodrigo que camia con nuco z la carrera; z por etas I
8
.II. tierras
que uos damos en Palaciolos recebimos de uos en camio la uuetra tie-
rra que e I
9
o la puente de Benbibre, allados Roi Peidrez, fijo de don
Peidro de dona Urraca, I
1O
z Dominico Uecent fijo de Peidro Epina, z
Gutier Roiz fijo de don Pelayo; z recebimos I
11
de uos otra tierra a la
ponteçiella de Sauita, allados don Eteuan el alcalde de Uarrio (…)
Rioja Alta 89 – 1228
4
Sabida coa ea a quanto eta carta uidieren, ke io
don DiagoI
2
Aluarez do a uo abbad don Juuannes de San Millan e al
conuiento ke i e enpenI
3
no quanto io e en Gragera e en Egleia, yermo
e poblado, con todo o mueI
4
ble, por ex ciento e .XXV. morauedi, por
lo quale io o iador edepdor de I
5
dona Terea mi ermana, ke me echo
fiador edepdor a uos abbad don Iuuanne (…)
Castilla del Norte 52 – 1230
4
Connocuda coa ea, que jo Ferrant Goncaluez, fijo
de Gonçaluo Gomez z de donna Sancha, do auos donna Eluira Garciez
abbade∫∫a de Villenna, z atot conuiento, toda la mi heredat que io e en
Buto, z en Sancta Maria de Riba redonda, z en Poadas, z en Uega,
z en Quintaniella de Soto, z en Ranera, (…)
141
Burgos 184 – 1231
6
Cognozuda coa ea a todo los omne que on z que eran, que yo
don Martin, por la gracia de Dio abbad del moneterio de ancto Do-
mingo de Silo, en uno con el conuento de mimo logar, con abiduria
z otorgamiento de don Mauriz, por la gracia de Dio obipo de Burgo,
damo z otorgamo a uo don Pedro Garciez de Ferrera z a uuetra
mugier dona Eluira Ordonnez, toda la nuetra heredad que auemo z
deuemo auer en Cueua de Amaya, (…)
Burgos 191 – 1240
4
Cognoçuda coa ea alos que on z que on por
uenir, cuemo yo don Peidro, abbat de Buxedo, contod el conuiento,
I
2
damos auos Goçaluo Perez eauos don Domingo Hierno de Ruuiale,
la nuetra heredat que auemos cn Ruuiale en SoriI
3
ba, pora que faga-
de hi .Ij. molinos que ean amedias eatoda uuetra miion, elos molinos
que ean fechos daquia la ant MiI
4
gael primero qui uien, ede manera
que muelant bien; (…)
Toledo 280 – 1241
4
Connoçuda coa ea atodos los omnes que eta carta uieren, commo
yo don Pero Martinez, I
2
fijo de don Martin Ferrandez z nieto de don
Ferran Royz el catellano, do z halmono z apodero I
3
a uos ffrey don
Gomez, maetre de Calatraua, z al conuento de mimo logar, alos que
on I
4
agora z alos que on por uenir, quanto heredamiento yo e z
deuo auer en Texonar agora, que es I
5
en Nauarra, (…)
Castilla del Norte 58 – 1244
4
Manifieta coa ea aquanto eta carta uieren, que yo Ferrando Diaz
con otorgal
2
miento z con plazenteria de mj madre, donna Sancha Fe-
rrandez, z de mio I
3
tio, don Sancho Sanchez de Uelacor, do a uo don
Peydro, por la I
4
gracia de Dio abbat de Onna, z al conuiento que e
hi z que era, a∫∫i cumo mio I
5
padre Diag Sanchez lo mando, quanta
heredat de o patrimonio auie en I
6
Qeçedo z en Arroyo z en toda
Ual de uielo z en Douro; (…)
Rioja Alta 99 – 1253
3
Sabida coa ea aquantos eta carta uieren,
como yo don Ferrando, por la gracia de Dios abbat de Sant Millan,
con otorI
3
gamiento de nuetro conuiento damos e otorgamos auos,
Menga Sanchez. I
4
la nuetra caa de Sant Juau de Freneda con todos
os pertenencios, que la ayaI
5
des z que la mantengades en toda uuetra
uida (...)
Burgos 199 – 1270
3
Connoçuda coa ea a quantos eta carta vieren como no donna
Vrraca Martinez, abbade∫∫a del monaterio de anta Maria la Real de
Burgos, con uoluntad z con I
2
otorgamiento de nuetra sennora la
inffante donna Beringuella z de todo el conuento de∫∫e mimo logar, de
nuetra buena uoluntad, in premia njnguna, damos auos el muy alto
z muy noble sennor don Alffon∫∫o, por la gracia de Dios rey de Ca-
tiella, de Toledo, de Leon, de Gallizia, de Seuilla, de Cordoua, de Mur-
çia,de Jahen
z del AlI
4
garue, dos nuetros huertos con una caa, que
nos auemos en Burgos, en el varrio de Vega ala collaçionl de ant Co
meDamian.
142
VERBO VENDER
Burgos 156 - 1201
30
Jn nomine Domini. Ego do Ferrando filio do Ferloi, uendo ad uo,
fradre Pedro de Fontel
2
lazina, uendo la hereditate de Ualu[a] que com-
pre de don Garcia, por uno molo e por una I
3
mula, elo que de maiz uale
la hereditate, dono pro meam animam z : de mei parentibu.
Burgos 160 - 1209
6
(…) Uenl
2
do a uo don Garcia Gonzaluez z a uuetra mulier
dona Maior Giles quanta heredad abeo en Pladano.. ... uendo ego Gonzaluo
Gonzaluez a uos don Garcia Gonzaluez meo ermano z a uuetra
mulier dona Maior Gilez, por .LXX.
a
. e tres morauedis,(...)
Rioja Alta 113 – 1212
4
Ego dona Urraca filla de don Epaunol con todo
mi illos z con Vincent z con Betolomeu z con Domingo, todo enem-
ble atorgando, uendemo auo don Maurin abbat I
2
de Fitero z a todo
el conuent de Fitero, al preent z al uenjdero, toda la heredat del
termino de Tudullen que no caio en-part por heredat entre nuetro
ermano, de nuetro padre don I
3
Epannol z de nuetra madre dona
Uellida, (...)
Burgos 163 - 1213
8
(...) eta uinna uendo io IIlana Peidrez a uo dona Maior, ont ont tetigo: Pedro I
7
Iohanes dela
era, t.; Gonzal Merino, t.; don rola, t.; Roi Pedrez Barba, t.; Juan
del era, t.; concilio de Eccleialua.
Toledo 272 - 1215
3
Ego donna Maria, mulier que fuj de Tamem, filia de
Aue Cerhan, uendo ad uo don Franco de ancto Dominico, por a la
duenna I
2
de ancto Climente de Tolleto, el tercio de la utrias que on
en lo Auione; uendo ad uo con plana z con oto z con entrada z
con I
3
exida z con toda ua pertinentia.
Burgos 168 - 1220
4
Connoçuda coa ea a los qui on cumo a los qui
on por uenir, cumo yo dona Igne de Oterdaios, la fiia de Goçaluo Roiz
Duc, de mi buena I
3
uoluntad uendo z robro a uos dona Sancha, abba-
de∫∫a del moneterio de Burgos, I
4
qual diçen ancta Maria la Real, z a
todo uuetro conuiento toda la heredad quanta que e en Villa I
5
fran-
douilez, tierras e uinnaz molinos z ortos z olares poblados z por
poblar (…)
Burgos 170 – 1222
3
Sepan lo qui agora on e lo che an aeer
cuerno io Gonzaluo Pedrez e Ferrant Pedrez, mio ermano, e Suer
I
2
Melendez e dona Enderquina uendemo a uo Pedro Ordonnez z a
dona Jllana uuejtra mugier un olar en Ecclesialua por .XII. I
3
morauedis,
143
e omos pagado de precio e de robla, e uendemo e rroblamos.
Burgos 173 - 1224
5
(…) yo dona VrI
2
raca Remondo, de mi buena uoluntad,
con otorgamiento de mio (mio) marido don Martin Peil
3
drez dArcos,
uendo z robra a uos dona Sancha, abbade∫∫a del moneterio de Burgos
qual diçen I
4
sancta Maria la Real, z a todo uuetro conuiento, toda la
mie propria part de forno z de caa z de toI
5
da us pertenentia que
yo e z a mi pertenez en el orno que fue de don Pere Lambert que e '0
en uarI
6
rio de Sancti Jague, alIados la caas del uuetro moneterio (…)
Burgos 175 - 1226
5
(…) que yo don Johan Symon, el fijo de don
Symon, de mi buena uoluntad, in entredicho ninguno, I
3
uendo z robro
a uos dona Sancha, abbade∫∫a del moneterio de Burgos qual diçen
ancta Maria l
4
la Real, z a todo uuetro conuiento toda quanta heredad
fue de don Symon mio padre, quel cayo por I
5
fuert de fue madre
dama Jullana en Arcos, en mont i en ual i en fuent, olare poblado
z por poblar, z deuia con tierras z uiinnas, huertos, molinos, patos,
prados, rios, riegos, con I
7
; entradas z exidas z con todas us pertenentias,
a∫∫i cumo mio padre lo ouo z perteneciel z pcrtenece I
8
a mi, por
.LXXXX. morauedis (...)
Castilla del Norte 50 - 1228
5
Connoçuda coa ea a todo aquellos qui eta carta uieren, como yo
don Gomez Garciez de Catriel de Lenze, de mi bona uoluntad, uendo
todo quanto que yo e z deuo auer, yo e mio ermal
2
no todo, en Quin-
tana Suar, olare e tierra, poblado e non poblado, en mont z en fuent,
con entrada z con e∫∫ida e todo quanto derecho no y pertenezen,
ca todo cayo a mi en paticion I
3
e a e∫∫o lo de Cernuega; vendo lo e
robrolo a uo re Martin de Cennera, en uoz de uueItro abbat don Ro-
drigo z a todo el conuento de Ryo ecco, por .LX. morabedis, (…)
Toledo 276 - 1228
6
Connoçuda coa ea atodo los I
3
homne qur eta carta uieren z que on
agora z a lo que on poruenir, como io don Pero Ferrandez dAzagra,
va∫∫allo de ancta I
4
Maria z ennor de Aluarrazin, con plazer z con otor-
gamiento de don Ela mi mugier, uendo z otorgo de mj I
5
bona uelun-
tad a uos don Pero Aluarez, comendador de Vele, la mj heredat Couie-
llas nombradamient que e I
6
en Cerrato, in entredicho ninguno, (…)
Rioja Baja 87 - 1228
5
Conozuda coa ea a todos ... que nos don Juan, por gracia de
Dios [obipo de Calaforra, con] I
2
conentimiento e con plazer de nue-
tro cabildo, uendemos auos Ferrando [e a uo]s Diago, ammo erm[anos
de] I
3
don Juan nuetro maiordomo, las caas z la tiendas z lo huertos
z la n[uetra uin]na de Tafaia, con ent[radas, ex idas] l
4
e con quanto
derecho nos y auemos (…)
144
Burgos 183 - 1229
5
cumo io donna Maria de Guz-
man, I
2
filia de don Ferrant Aluarez, uendo a uo dona Sancha Garciaz,
abade∫∫a de Sancta Maria la real, z a todo el conuento, quanta here-
I
3
dat io he z deuo auer en Agheuiela, tierra z uineas, olares, ortos,
linares, prados, pastos, aguas, montes, fontes, I
4
presas, molinos, entradas
z exidas z deuia, todo assi cumo io lo heredo, a∫∫i uos lo uendo
11por xxx.
a
morabedis,(...)
Castilla del Norte 53 - 1231
3
Connoçuda coa ea qe io don Aznar, con otorga-
miento de mi mugier Mari Lopez, uendo z robro a uos dona Eluira
Garciez, abbadera de Uillaenna, z al conuiento, tres olares que auemos
en Palacio nueuo con us eras z con os huertos, z una uinna de tres
quartas, z heredad de .XIIIJ. tabladas emradura, en .XVJ. logares, por
8.C. z .xxx. morauedis (…)
Castilla del Norte 54 - 1231
4
Connoçuda ea, que io Alfono Ferrandez, uendo a
uos dona Eluira Garciez, abbadea de Uillaenna, z al conuiento .IJ. ola-
res qe compre de don Andres de Cubo, el uno de o patrimonio z el
otro qe compro en qe moraua il, z la heredad qe compre de Maria
Migellez, la obrina de don Martin, de quatro caas quanto ella en quatro
auie. Etos olares z eta heredad, uos uendo z robro por .XL. morauedis,
z ro pagado de uendida z de robra.
Castilla del Norte 55 - 1236
3
Cum yo don Orti Ortiz, de mj bona uoluntad
uendo z robro auos, don Ramiro, la quarta part de todo quanto yo z
mj mugier, donna Vrraca Roiz, I
2
auemos z auer deuemos z anos aper-
tenece de parte de don Roy Diaz, mio uegro, in Centolinos z in uos
terminos; todo uos lo uendo z in entreI
3
dicho ninguno, e rezibo de uos
in precio .xxv. morabedis bonos, derechos, z o delos bien pagado, z
non finco nada por pagar, z un manto in robra, z o l
4
pagado de pre-
cio z de robra.
Burgos 189 - 1237
4
(...) como yo don Aluar
Perez uendo auo, donna Mencia Lopez, la mj villa que dizen Parede z
toda quanta I
2
heredat he en el regno de Leon, por quinze mill mora-
bedis.(...)
Castilla del Norte 56 - 1237
4
Connoçuda coa ea alos que eta carta vieren, commo yo Martin
Periz ijo de Pero Periz dAmjugo, z I
2
yo donna María o mugier, otor-
gamos z connoçemos que uendemos auos don Iohan, prior del I
3
ho-
pital de rias, vna tierra que auemos en Couiena que es alos Caares,
8con entradas I
4
z con alidas, por .xx. morauedis;
145
Toledo
279 - 1239
4
Preentibus z futuris notum fit de manifetum, que yo don Aluar-
Perez,fijo de don Pero Fernandez el catellano z fijo de dona Xemena,
fija del comde don [Gom]ez el catellano, vendo auos don GonzalYua-
nes, maetro deI
2
la caualleria de Calatraua, z atodo el conuento de∫∫e
mimo logar, toda la uilla qual yo e en Campos ala qual dizen Paredes
de Naua.(...)
Rioja Alta 94 – 1242
5
Sabida coa ea a quanto eta carta uieren,
que yo Aznar Perez, ijo de Pero Enel
2
cone, e yo MariSemenez, u
prima, con mandamiento de mi marido Pero Sanchez, uino no tal
I
3
nece∫∫idat e tal uoluntat que uendemo a muerta a uo don Juan San-
chez, abbat de Sant Millan, I
4
por .xxx.
a
morauedis quanta heredat aue-
mo en Madriz e en todo u termino, connonbrada mientre la he I
5
ran
de Uarrio Epa∫∫o, con u fructales e tierra e linare e nogueras; (…)
Burgos 194 – 1245
4
Connocida coa ea atodo lo omne que ela uieren, quemo yo
don Rodrigo Peyret z mi mugier donna Terea [Tel
2
rea] Garciat, amo
ado demancomun, vendemo z robramo auo, don Rodrigo, abbat de
Sancto Domingo deSilo, z al conuienI
3
to delmimo logar, toda la nuetra
heredat que no auemo en Ruuiale (…)
Rioja Alta 121 - 1250
3
Ego Domjngo Gil, fijo de
Gil de Megulian, I
2
uendo auo don Diag Çapata, arcidiagno de Madrid
z uezino de Chel, I
3
un rio por auuetro molino en mj pieza cabo la
cueua Mocada. (…)
Castilla del Norte 62 - 1270
10
Enel nombre de Dio, amen. Notum fit omnibu hominibu tam
preentibu quam futuri, cuemo yo don Pero I
3
Diaz de Ualderrama, de
mj bona uolunltad, vendo a uo don Sancho, electu de Sancta Maria de
Fria,z a uo el conuentu demimo logar, aquel mjo proprio olar que
yo he l
4
en Touera, (…)
Toledo 128 – 1278
5
Ego don Gil ide Garl
2
çia z yo Mari Meder o mugier vendemo auo
Joan Martinez el erero I
3
.XX. z .II. logare de vjnna del ryo adelant. (…)
Castilla del Norte 66 - 1283
3
Connoçuda coa ∫∫ea aquantos eta carta vieren,
commo yo Pero Diaz de ValleRaI
2
ma, de mj buena voluntad vendo auo,
el prior z el conuento del moneterio de Sancta Maria de FfriI
3
a, el medio
solar que yo e en Trechuello, con toda la eredade z con entrada z con
exida (…)
146
Rioja Alta 107- 1285
4
Conoçida coa ea a quantos eta carta vieren z oyeren, commo
yo Guarin Lopet, I
2
fijo de Lop Diat, de Laanco, vendo a uos don-
na Toda Martinet, monia de Cannas, I
9
Lope, el mjo colaçon de Villa
Porquerra, e dotra parte ocho almudes enbradura de I
4
heredat en Te-
rraços, por quatrocientos morauedis de los quales ∫∫o muy bien I
5
paga-
dos (…)
1.4 – verbo + OI pro (vos) + ODSN
VERBO DAR
Toledo 34 – 1146
34
E do uos las mia caI
7
as
de Ferreruera, con quanta heredat que io hi ei e con quanto que hi
poderej auer. E do uo la mia caas de CastriI
8
elo con quanta heredat
io hi ei, econ quanto que hi poderei auer. E do uo la mia heredat de
Rodelga, e con quanto que I
9
hi podiero auer, oras el catiello. E do
uo la mia heredat de Uillagero e quanto que hi podiero ganar. E do
41uo las I
10
mia caas de Ualadolit.
Toledo 34 – 1146
44
E do uo la caas elo ola-
res, elo banno que io ei enToledo, lo quale on enla colation de
ant Nichola, todo I
13
a∫∫i complidamientre como o de mjo auuelo el
comde don Peidro A∫∫uriz; edo uo la tre parte del quarto de toda
I
14
el aldea que dizen Algorfiella, toda la mia ration, ela ration que io
heredej de mio hermanos, don Peidro Lopez edon I
15
Martin Lopez.
Toledo
262 – 1194
41
E damo uo io emja muger dona
Therea Gar[ciez], toda la nuetra heredat, quanta no al
11
uemo en
Fermoiella. E damo uo de nuetro moble, con toda la heredat de
Uillagero .XI. egua cum uo cauallo. (…)
Rioja Baja 113 – 1212
26
E damo uo fidancia de aluedat, a foro de tierra,
Pedro Martineç, ierno de dona Sancha.
Burgos 169 – 1220
17
(…) por que uale mas la uuetra tierra que la nuetra, da-
mos uos en uanna .Ill. I
10
olidos z .VlllI. dineros, z fode pagados dellos.
Castilla del Norte 48 – 1225
10
(…) z do uos la heredad qe io e en Quintana, del
heredamiento de mio padre las Ij. partes, la mi fuert
z la de mi ermana
Vrraca Roiz qe compre; z do uos la heredad qe io e en Soto del here-
damiento de mi madre, la tercera part, la mi fuert. (…)
147
Burgos 174 – 1225
15
(…) z damo uos
la tierra de Remil Couo, alIados don Martin el fijo de Peidro Seua-
tianez z los arroyos. (...)
Burgos 174 – 1225
8
Damos uos una tierra que auemos
cerca de los palomares de Munno, alIal
3
dos de Martin molinero z de las
carreras; z damos uos la tierra del Ruuial, alIados de Epinel z de las
carreras; z damos uos otra tierra del Ruuial cerca deta, alIados de Do-
minico Johannes I
4
z de las carreras ..... z damos uos .II. tierras z una
uinna en Canaleias, alIados monge z don Garcia el I
5
clerigo z don
Jague z Dominico Valetero ..... z damos uos la ferreneia, alIados Mar-
tin Ferrandez z la carrera; I
6
z damos uos el pedaçuelo de los huertos,
que eta en o cabo; z damos uos la tierra de la tegera, ..... z damo uos
la tierra de Remil Couo, alIados don Martin el fijo de Peidro Seua-
tianez z los arroyos.
Burgos 177 – 1227
6
(…) con otorgamiento de todo nuetro conuiento façemos camio
I
4
con uos don Rodrigo, fijo de Martiln Apparicio de Palaciolos; damos
nos a uos una tierI
5
a que auemos en Cantales entre amas las carreras,
allados don Munno de Palaciol
6
los; z damos uos otra tierra tra los
huertos de Palaciolos, allados Mari Gutierrez I
7
z fijos de Garci Diaz z
don Rodrigo que camia con nuco z la carrera; z por etas I
8
.II. tierras
que uos damos en Palaciolos recebimos de uos en camio la uuetra tie-
rra que e I
9
o la puente de Benbibre, allados Roi Peidrez, fijo de don
Peidro de dona Urraca, I
1O
z Dominico Uecent fijo de Peidro Epina, z
Gutier Roiz fijo de don Pelayo; z recebimos I
11
de uos otra tierra a la
ponteçiella de Sauita, allados don Eteuan el alcalde de Uarrio (…)
Burgos 183 – 1229
11
Et
do uos fiadores de anamiento a fuer de tierra, cumo el rei manda: don
Gil Johan, I
6
zapatero, Pedro Johanes, Johan Migaelez, z io donna Maria
de Guzman con elos en uno; (…)
VERBO VENDER
Burgos 156 - 1201
8
Vendo uos el olar cum introitu z exitu z cum ua era que a mi pertinet,
vnde suntt allatanei: ex una parte Therea Diaz, z ex alia parte ilios
domna Sol de la Calleia, z delant uia dicurrelns; z uendo uos el huerto de
alon cerca Maria Munioz z la errein de alon cerca Therea. Diaz, z otra
terra en Valleio cerca ilios Dominici Petri, z otra terra en prado arriba (…)
148
1.5 – ODSN + verbo + auos
VERBO DAR
Burgos 184 – 1231
19
(…) Todo eto obre dicho, conuiene de aber:
tierras, uina, prados, huerto, olare poblado z por poblar, part en
lo molino de Quintaniella de Piuerga, entrada z exida z uoz z
demanda z toda derechura quanta a no perteneze en aquelle logar obre
dicho, damo no auo, don Pedro Garciez de Ferrera z a uuetra mu-
gier dona Eluira Ordonnez, (...)
Burgos 184 – 1231
32
E todo elo obre dicho damo no auo, a∫∫i cuemo e
dicho, por .D.
tos
morauedis que diete uo a no, de que compramo
nos la heredad de fijo de don Adrian z otra heredad en Cueua.
VERBO VENDER
Burgos 170 – 1222
9
Ete olar
uendemo no a uo Pedro Ordonnez z I
5
a uuetra mugier Dona Jllana
por ete precio nombrado.
Toledo 285 – 1258
13
Et uo Domingo
Migael euuetra muger donnna Marina, amo lo conombrado, ffirme
mientre tengade eta al
7
dea con quanta heredat dearamio nos auemo,
z toda la uiuna z toda la caas z ∫∫olare z alcacere... .. z con toda
us pertenencia, quanto que ano pertenesI
8
cie en eta aldea conom-
brada, que no lo auandiçho uos uendemos, poco z mucho, conlla ben-
dicion del Criador.
1.6 – ODSN + vos + verbo
VERBO VENDER
Rioja Alta 120 – 1250
12
(...) Este molino uo uen-
demo cun quanto drecho ha nj deue auer, e damo uo fiadol
5
re
de redra a fuero de an Peidro, don Gil Periz de Veha e don Johan
Semeno ecriuano de conceyo.
149
VERBO DAR
Burgo 167 - 1220
26
E eta heredad obrecripta I
16
que
uos damo que fagades della .XII. quinonez z que lo ayade por heredad
por uender z por enpenar a I
17
tale ome que fagan a nos eta façen-
dera obrecripta que uos nos auedes a açer.
Castilla del Norte 46 – 1226
13
E todo aqueto
que uo damo, que non ayade poder de uender lo ni de enpennar lo
ni de meI
7
ter lo o otro ennorio, i non que por e∫∫o lo perdade todo;
z a cabo deto .XIJ. anno, que finque el olar libre z quito al moI
8
ne-
rio obredicho, con alze plantado z con frutero z con quanto uo
en el damo z con quanta meioria hy fizierede; (…)
Burgos 199 – 1270
17
Et el otro huerto, que nos uos damos
otro∫∫i, ha por linderos: dela una parte, el huerto obredicho que fue
de don Johan Gonçalez, I
8
el alcalde de uo nonbrado; (…)
Burgos 199 – 1270
27
Etos nuetros
huertos con eta I
12
nuetra caa uos damos libres z quitos ai commo
nos los auemos z los deuemos auer, pora dar, pora uender, pora en-
pennar z para fazer dellos I
13
todas aquellas coas que uos por bien
touieredes.
Grupo 2 – Estruturas com complementos verbais latinos
2.1 – dar + a uobis + ODSN
VERBO DAR
Burgos 188 – 1235
12
(…) E yo
Diago Gonzaluez de mi buena uoluntad do a uobis donna Marina,
abbati∫∫a del monaterio I
6
de Uilla Mayor, z al conuento daquete
mimo monaterio por cambio de ita villa upra cripta de Robledo,
tota quanta heredat yo he z auer deuo z a mj perteneI
7
ce en Torre de
Padierno z in uos terminos nominata mieut: (…)
150
2.2 – vender + uobis + ODSN
VERBO VENDER
Rioja Alta – 112 - 1169
4
Ego dompnu Petrus, fil delalcalde Dominico Petro
vendo uobis don Garia Zabata z ad uetra muliere dompna Sanctia
mea maiolo deLampaI
2
iana pro .xxx.
a
.III. morabetino, z quia um
bene paccato de ito precio cum ua iantar; proinde affirmo uobis illo
maiolo per ecula cuncta.
Burgos – 156 - 1201
18
(...)Jn Dei nomjne, ego Domjngo Pedrez, filjo de Pedro Pedrez de Barlada,
uendo uobis fratrjbus de fonte lezina I
2
.III. terra por .II. morabedi
emerjo (…)
Burgos 156 - 1201
3
Ego Marj Ioan una cum filji mej nomjnatjm cum
Guarjn, Joan, Dorle, Bernaldo, I
2
Alrnerjc, Marj Bemaldo, Ramundo,
uendimus uobis fratrjbus de Fonte lezjna una terra en lo I
3
plano de
Fonte lezina, por .IIII. morabedis emedio; lo que dema uale deffamo
pro anjma patri I
4
mej don Joan. (...)
Rioja Baja 14 – 1235
1
Hec et carta uendecionis z emcio-
ni, quo ego Gil de I
2
Olit z mea uxor emea annada Orracha, uendemo
uobis don Mlartin Perez, dean de I
3
Calaforra, en uoz de todo loscalo-
nigos, una caa cerca elpoio de MenCardiel, (...)
2.3 – vender + uobis + ODSN ACUSATIVO
VERBO VENDER
Burgos 157 - 1206
4
In Dei nomine. Ego Rodericus Gunalui de Rio Cereo ex mea bona
uoluntate uendo z robro uobis Petro Johannis burgeni illam meam pro-
priam hereditatem quam habeo en Quintana fortunno che fue de mio
padre z de mio madre, fuera la parte de mie hermana dona Therea.
Burgos 157 - 1206
26
Ego Roderico Gunalui uendo z robro uobis Petro Johanllis
tota mea hereditate quantum habeo in Quintana ortunno: caas, terras,
vineas z ortos z: arbores, ent mont z ont, quantum habeo z ad me
pertinet, por .CLXVIlI. morabetinos, bonos alfonis de auro z pondere, z
o de illis paccati z nichil remait per dare.
151
2.4 – vender + ODSN ACUSATIVO + OISN DATIVO
VERBO VENDER
Rioja Baja 118 – 1243
3
In Dei nomine ego Egidius de Cugnada z uxor mea Romea vendi-
mus notrum I
2
ortum in Sant Sol vobis Martino Petri, decano Sancte
Marie Calagurre .....(...)
Grupo 3 – Estruturas topicalizadas
3.1 – ODSN + dar + OISN
VERBO DAR
Toledo 263 – 1203
4
Ego magiter de Salua terra M. Mar-
tinez, z Roi Diaz elcomendador, con todo o fraire, I
2
damo heredad
inSeennia intodo o dia de Rodrig Iuannes, de Uilla Pichinim, que
aret con uno iugo de I
3
boe, z una caa. Et eta heredad a∫∫i la damo
que det della el decimo cada anno alo fraires, (…)
Toledo 273 – 1215
32
Et eto damo
a eto frares nomnado por pleito quelo tengan poblado, e que I
14
de-
fendaut e curient todo lo que fuere nuetro eneto termino obre nom-
nado, a o poder egund lo o. E i por auentura fuere, lo que non
plega a Dios I
15
que ea, que fuerza o dampno recebiemo eneto
termino nomnador delo frares nomnado o de o omnes o de otro
omnes alguno por culpa dello, I
16
abiendo ello e pudiendolo emen-
dar, e nonIo emendaren a∫∫i como fuere derecho, que perdian todo eto
quelles damo,(...)
Castilla del Norte 49 – 1225
7
(…) toda
eta por nombrada heredat do io al conuiento z al moneterio de Uillen-.
na que la ayna z que la hereden por ienpre; z do y mio cuerpo z de
mi mugier fuera ent i entraremos en orden, z fago me familiar o por
bucar tot el bien z toda la pro que pudiero. (…)
3.2 - OI pro (uos) + vender + OI pro (auos)
VERBO VENDER
Castilla del Norte 67 – 1285
32
Edeto
I
21
uo damo fiador de rredar z de otorigar ano por iempre z a otro
qual quier que venga contra eta I
22
venta deta quarta parte dete olar
deRretuerto que uo vendimo auo, don ffrey Domingo Perez (…)
152
3.3 – OI pro (uos) + dar + ODSN
VERBO DAR
Toledo 280 – 1241
12
(…) E otro i, uo do I
7
z uo halmono z uo apodero en quanto
heredamiento yo e z deuo auer en Nauarra, o quier que lo I
8
hy aya,
z por quj quier que lo hy aya z lo deuo auer, z de apodero me dello
z apodero uo en I
9
ello con toda us derechuras z con toda us per-
tenencias z con todas us entradas z con toda I
10
us exidas. (...)
Burgos 197 – 1261
4
(...) ffazemos cambio z abenencia
I
2
cum uuco don Arnalt abbad de Buxedo z cum todo el conuiento de
mimo logar, que uo otorgamo z uos damo por paramiento, que uos
z uuetros omne [fa]I
3
gade cepede en nuetro termino do los falla-
rede, i no en deffea o en prado uedado, a∫∫i cumo e el foto de villa
z en la uelga z en el oto mayor, (…)
3.4 – OI pro (uos) + OD pro (clítico) + dar
VERBO DAR
Castilla del Norte 52 – 1230
11
(…)z
do uos lo por .cc. z.LXXX. morauedis que me pretates, que lo ayades
z que lo mantegades fata que uos de etos morauedis io o qui por mi
deue heredar, z vos que me mantegades los collaços en los fueros que
uos lo io do; z quando uos diero etos morauedis, uuetro fructo alçado,
que dixedes mi heredat.(...)
4.1 – dar + ODSN + OI pro (auos)
Burgos 155 – 1200
4
Ego don Armengot edomna Cathalana etodel econ-
ceiho de I
2
Palatiolos, por nuetras animas ede nuetros parientes, damos
eatorgarnos la agua I
3
que decende por Sancta Maria de Palatiolos auos
don Epalon abbat de Bu∫∫edo l
4
etot el conuent ibidem Deo eruien-
tibus,(…)
4.2 – dar + OI pro (uos) + OD pro (clítico)
Castilla del Norte 52 – 1230
11
(…)z
do uos lo por .cc. z .LXXX. morauedis que me pretates, que lo ayades
z que lo mantegades fata que uos de etos morauedis io o qui por mi
153
deue heredar, z vos que me mantegades los collaços en los fueros que
uos lo io do; z quando uos diero etos morauedis, uuetro fructo alçado,
que dixedes mi heredat.(...)
4.3 – dar + OD pro (clítico) + OI pro (auos)
Burgos 203 – 1295
31
(…) Et por que eto ea ffirme z non venga en dubda, nos los peroner.os
delos conçejos delas villas de Cartiella puiemos en eta carta los eellos
delos conçejos cuyos per∫∫oneros nos omos, z por mayor I
51
∫∫irmedumbre
puiemos en ella el dicho eello dela hermandat en tetimonio
con los otras eellos delos conçejos, z damos la auos el conçejo de Na-
gera que ∫∫odes connueco en eta hermandat.
4.4 – dar + OI pro (clítico le) + ODSN
Toledo 262 – 1164
57
(…)z de
o I
20
termino, que lo tenga don Alfono todo lo al que e obracripto,
eo muger dona Therea Garciez en toda o ujta I
21
delo anbos. E
damo le de mais el aldea nuelra que dizen Mendeinno, la qual es en
termino de Makeda; (...)
Toledo 261 - 1191
8
(…) et doles
olar en ke I
5
fagan caas z en ke moren, z ke moren hi con uas mulle-
res z con os fillos, z non I
6
cambien la morancia en otro lugar, foras
end en Toledo dentro.
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