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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS DE BOTUCATU
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
ESTRUTURA E ONTOGÊNESE DE ÓRGÃOS REPRODUTIVOS DE CONNARUS
SUBEROSUS PLANCH. (CONNARACEAE) E OXALIS CYTISOIDES ZUCC.
(OXALIDACEAE)
JOÃO DONIZETE DENARDI
BOTUCATU - SP
- 2008 -
Tese apresentada ao Instituto de
Biociências, Campus de Botucatu, UNESP,
para obtenção do título de Doutor em
Ciências Biológicas (Botânica), AC:
Morfologia e Diversidade Vegetal.
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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS DE BOTUCATU
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
ESTRUTURA E ONTOGÊNESE DE ÓRGÃOS REPRODUTIVOS DE CONNARUS
SUBEROSUS PLANCH. (CONNARACEAE) E OXALIS CYTISOIDES ZUCC.
(OXALIDACEAE)
JOÃO DONIZETE DENARDI
PROFª DRª DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
ORIENTADORA
PROF. DR. ÉLDER ANTÔNIO SOUSA PAIVA
CO-ORIENTADOR
BOTUCATU - SP
- 2008 -
Tese apresentada ao Instituto de
Biociências, Campus de Botucatu,
UNESP, para obteão do título de
Doutor em Ciências Biogicas
(Botânica), AC: Morfologia e Diversidade
Vegetal.
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO
DA INFORMAÇÃO
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: SELMA MARIA DE JESUS
Denardi, João Donizete.
Estrutura e ontogênese de órgãos reprodutivos de Connarus Suberosus
Planch. (Connaraceae e Oxalis Cytisoides Zucc. (Oxalidaceae) / João Donizete
Denardi. – Botucatu : [s.n.], 2008.
Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências de Botucatu 2008.
Orientador: Denise Maria Trombert Oliveira
Co-orientador: Élder Antônio Sousa Paiva
Assunto CAPES: 20303009
1. Anatomia vegetal 2. Morfologia vegetal 3. Flores 4. Frutos 5. Se-
mentes
CDD 581.46
Palavras-chave: Connaraceae; Flor; Oxalidaceae; Pericarpo; Semente;
Tricoma glandular
ii
Dedico à minha família.
iii
AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Denise Maria Trombert Oliveira, a quem devoto sincera admiração,
agradeço por toda a atenção dedicada a minha formação acadêmica, pelo apoio e incentivo
constantes na realização deste trabalho, pela confiança e tratamento acolhedor.
Ao Prof. Dr. Élder Antônio Sousa e Paiva e Profª Drª Sheila Zambello de Pinho, pela
orientação em temas específicos neste trabalho e pela generosidade com que a fizeram.
Aos Professores do curso de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Botânica), pelas
suas contribuições a minha formação acadêmica.
Aos taxonomistas Luciano C. Milhomens e Pedro Fiaschi, pela identificação das
espécies estudadas neste trabalho.
Aos funcionários do Departamento de Botânica, especialmente Clemente Jo
Campos, pelo auxílio nas coletas, e Kleber A. Campos, pela prontidão em me auxiliar nas
atividades laboratoriais.
Aos funcionários da Biblioteca Marlene e Braz, pela simpatia e empenho em atender
às solicitações de artigos via COMUT.
Aos meus queridos amigos Juliana Marzinek e Orlando Cavalari de Paula pelo
companheirismo e convívio acadêmico tão proveitoso.
Aos amigos Shirlayne S. U. de Barros, Daniela D. Pinto e Marco Antônio G. Martins,
pela cordialidade com que me receberam em Botucatu e pelo apoio.
À Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) por me incluir no Programa
de Qualificação Docente.
Aos queridos amigos da UEMS: Emília Maria Silva, Francisco C. E. González, Olga
T. Matsuno, César Y. Fujihara e Rosemary Mocchi, por todo o apoio que recebi.
À CAPES pela concessão de bolsa PICDT.
iv
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................. 1
ABSTRACT ......................................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 8
Connaraceae e Oxalidaceae: relações interfamiliares e classificação ordinal .......................... 8
Família Connaraceae ............................................................................................................. 9
Família Oxalidaceae ............................................................................................................ 12
Considerações sobre as espécies estudadas .......................................................................... 13
Anatomia floral .................................................................................................................... 16
Heterostilia ......................................................................................................................... 19
Morfologia dos frutos .......................................................................................................... 21
Morfologia da semente ........................................................................................................ 21
CAPÍTULO I Tricomas glandulares em Connarus suberosus (Connaraceae): distribuição,
organização estrutural e prováveis funções ........................................................................... 24
Resumo ............................................................................................................................... 26
Introdução ........................................................................................................................... 27
Material e métodos .............................................................................................................. 28
Resultados .......................................................................................................................... 29
Discussão ............................................................................................................................ 31
Literatura citada .................................................................................................................. 34
Ilustrações ........................................................................................................................... 38
CAPÍTULO II – Existem variedades de Connarus suberosus? Evidências morfoanatômicas da
heterostilia e dioicia ............................................................................................................ 42
Resumo ............................................................................................................................... 44
Introdução ........................................................................................................................... 44
Material e métodos .............................................................................................................. 46
Resultados .......................................................................................................................... 47
Discussão ............................................................................................................................ 52
Referências ......................................................................................................................... 57
Ilustrações ........................................................................................................................... 59
v
CAPÍTULO III Morfoanatomia e desenvolvimento do pericarpo e da semente de Connarus
suberosus Planch. (Connaraceae) ........................................................................................ 67
Introdução ........................................................................................................................... 69
Material e métodos .............................................................................................................. 70
Resultados .......................................................................................................................... 71
Discussão ............................................................................................................................ 78
Literatura citada .................................................................................................................. 84
Ilustrações ........................................................................................................................... 89
CAPÍTULO IV Morfologia e anatomia floral de Oxalis cytisoides Zucc. (Oxalidaceae) . 102
Resumo ............................................................................................................................. 104
Introdução ......................................................................................................................... 104
Material e métodos ............................................................................................................ 106
Resultados ........................................................................................................................ 106
Discussão .......................................................................................................................... 112
Referências bibliogficas ................................................................................................. 115
Ilustrações ......................................................................................................................... 118
CAPÍTULO V Morfoanatomia e ontogênese do pericarpo e semente de Oxalis cytisoides
Zucc. (Oxalidaceae), com ênfase no peculiar mecanismo de deiscência ............................. 125
Resumo ............................................................................................................................. 127
Introdução ......................................................................................................................... 127
Material e métodos ............................................................................................................ 129
Resultados ........................................................................................................................ 130
Discussão .......................................................................................................................... 134
Referências bibliogficas ................................................................................................. 138
Ilustrações ......................................................................................................................... 140
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 147
1
DENARDI, J.D. ESTRUTURA E ONTOGÊNESE DE ÓRGÃOS REPRODUTIVOS DE
CONNARUS SUBEROSUS PLANCH. (CONNARACEAE) E OXALIS CYTISOIDES
ZUCC. (OXALIDACEAE). 2008. 155 P. TESE (DOUTORADO) INSTITUTO DE
BIOCIÊNCIAS, UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, BOTUCATU.
RESUMO - Considerando que Connaraceae e Oxalidaceae constituem um clado de
Oxalidales bem representado na flora brasileira e pouco estudado relativamente à estrutura de
órgãos reprodutivos, este trabalho aborda a morfoanatomia e a ontogênese de flores, frutos e
sementes de Connarus suberosus (Connaraceae) e Oxalis cytisoides (Oxalidaceae), a fim de
avaliar a exisncia de padrões estruturais comuns a essas espécies. O processamento das
amostras para microscopia de luz e microscopia eletrônica de transmissão e de varredura
seguiu as técnicas usuais. Verificou-se que, estruturalmente, C. suberosus possui heterostilia
dimórfica, caracterizada pelas formas brevi- e longistila, as quais se mostraram
funcionalmente masculina e feminina, respectivamente. Alguns caracteres morfológicos
peculiares a cada forma floral, provavelmente estão associados à evolução da dioicia, como
dimenes de sépalas e pétalas e distribuição de tricomas glandulares. Nesta análise, provou-
se que esses caracteres, aliados às diferenças de tamanho dos verticilos de estames das formas
florais, foram utilizados equivocadamente na delimitação de C. suberosus var. fulvus e C.
suberosus var. suberosus, que correspondem às formas brevistila e longistila,
respectivamente. Independentemente da forma floral, houve variação no número de palas,
pétalas e estames e tendência à restrição do tecido nectarífero aos setores antepétalos do tubo
estaminal. A vascularização carpelar mostrou-se derivada em relação ao padrão descrito para
Connaraceae, devido à formação de um complexo ovular mediante união parcial de traços
ovulares àqueles derivados de feixes alas. O desenvolvimento do pericarpo e da semente, que
pode ocorrer apomiticamente, não é concomitante, visto que a diferenciação seminal inicia-se
após a expansão do pericarpo, quando este alcança comprimento e largura finais. Ao término
da diferenciação seminal, ocorre a maturação pericárpica, caracterizada pela expansão radial
das lulas do mesocarpo externo que, provavelmente, causa a deiscência do folículo. A
semente madura é arilada, hemítropa e vascularizada por um complexo rafeal e outro p-
rafeal; o tégmen é parcialmente absorvido. Diferentemente de outras Connaraceae, a endotesta
e o exotégmen são multiplicativos; o mesotégmen mostra-se esclerificado. O endosperma, que
é núcleo-celular, persiste como estrato irregularmente multisseriado, adnato ao tegumento.
Como parte do indumento de C. suberosus, relatou-se a ocorrência de tricomas glandulares,
que consistem de pedúnculo multicelular, unisseriado, e de uma porção glandular multicelular
que, na fase secretora, apresenta acúmulo de compostos pécticos, amido e gotas lipídicas, as
quais ocupam grande parte do volume celular. No citoplasma das células secretoras,
predominam mitocôndrias, plastídios e dictiossomos. Na fase secretora, observa-se hidrólise
do amido presente nos plastídios, redução na densidade do estroma plastidial e fusão de
plastídios com vacúolos. A ocorrência desses tricomas glandulares nas superfícies expostas de
órgãos em desenvolvimento, associada à natureza química dos produtos de secreção e reserva,
sugere que estas estruturas possam atuar como corpos de alimentação. Oxalis cytisoides
apresenta tristilia e morfologia floral típica de Oxalidaceae, destacando-se que as pétalas
expandem-se apenas após a diferenciação dos demais verticilos, sendo livres na base e no
ápice, conatas em pequena extensão. O retarde no desenvolvimento da corola sugere que a
obdiplostemonia é primária. Anatomicamente, o que mais se destaca é similaridade entre o
mesofilo de sépalas e carpelos, ambos preenchidos, em grande parte, por volumosas células
aqüíferas. O pericarpo de O. cytisoides passa por pequenas alterações durante o
desenvolvimento, mantendo estrutura geral similar à parede ovariana, com exocarpo e
2
endocarpo unisseriados e mesocarpo com dois estratos, o externo composto por parênquima
aqüífero, que mantém a turgescência do fruto até próximo da deiscência, e o interno, que é
clorofiliano. As sementes desenvolvem ambos os tegumentos, com espessa cutícula na
exotesta, mesotesta multiplicativa que acumula amido até próximo da maturidade, endotesta
cristalífera e exotégmen unisseriado, composto por células paliçádicas espessadas. São
sementes albuminosas, com amplo endosperma formado de modo núcleo-celular. Ocorre
deiscência loculicida no fruto, a partir da desidratação do mesocarpo externo, que contrai o
pericarpo; tricomas endocárpicos lignificados alavancam as sementes, lançando-as
balisticamente; como a testa se rompe na camada cristalífera, as sementes são dispersadas
revestidas pelo exotégmen e resíduos da endotesta. As espécies estudadas compartilham
vários caracteres e tendências morfogicas, os quais incluem ocorrência e função de tricomas
glandulares em partes florais; restrição de áreas nectaríferas aos setores antepétalos;
desenvolvimento assimétrico dos frutos, os quais apresentam estômatos exo- e endocárpicos e
tricomas internos; desenvolvimento núcleo-celular do endosperma; entre outros.
Palavras-chave – Connaraceae, Oxalidaceae, flor, pericarpo, semente, tricoma glandular
3
DENARDI, J.D. STRUCTURE AND ONTOGENY OF THE REPRODUTIVE ORGANS
OF CONNARUS SUBEROSUS PLANCH. (CONNARACEAE) AND OXALIS
CYTISOIDES ZUCC. (OXALIDACEAE). 2008. 155P. DR THESIS BIOSCIENCES
INSTITUTE, UNESP – SÃO PAULO STATE UNIVERSITY, BOTUCATU.
ABSTRACT Connaraceae and Oxalidaceae constitute a clade of Oxalidales that is well
represented within the Brazilian flora although relatively poorly studied in terms of the
structure of their reproductive organs. The present work examined the morphology, anatomy
and ontogeny of the flowers, fruits, and seeds of Connarus suberosus (Connaraceae) and
Oxalis cytisoides (Oxalidaceae) in order to evaluate the existence of structural patterns
common to both species. Preparation of plant samples for viewing under light and electron
microscopy followed established techniques. Connarus suberosus demonstrated dimorphic
heterostyly, characterized by the brevi- and longistylous morphs, which were observed to be
functionally masculine and feminine respectively. Some of the peculiar morphological
characteristics of each floral form are probably associated with the evolution of dioecy, such
as the dimensions of the sepals and petals and the distribution of the glandular trichomes. The
present analysis indicated that these characters, allied to differences in the sizes of the verticils
of the two floral forms, had been equivocally used in delimiting C. suberosus var. fulvus and
C. suberosus var. suberosus, which correspond to thrum and pin morphs respectively.
Independent of the floral form, variation in the numbers of sepals, petals, and stamens were
observed, as well as a tendency for the nectary tissues to be restricted to the epipetalous
sectors of the staminal tube. Carpel vasculature was observed to be derived in relation to the
pattern described for Connaraceae due to the formation of an ovular complex resulting from
the partial union of ovular traces derived from wing bundles. The development of the
pericarps and seeds, which can occur in an apomixic manner, is not concomitant; the seed
differentiation initiates after the expansion of the pericarp when this organ attains its final
length and width. The pericarp matures when seminal differentiation ends, and is
characterized by radial expansion of the outer mesocarp cells, which provokes the dehiscence
of the follicles. The mature seed is arillate, hemianatropous, and is vascularized by a raphal
bundle complex as well as a pre-raphal bundle complex; the tegmen is partially absorbed.
Different from other Connaraceae, the endotesta and exotegmen are multiplicative; the
mesotegmen is sclerified. The endosperm, which is nuclear-cellular, persists as an irregular
multiseriate layer adnate to the seed coat. Glandular trichomes make up part of the indument
of C. suberosus, these having uniseriate multicellular peduncles with multicellular glandular
portions that accumulate pectic compounds, starch, and lipidic drops, which take up a large
portion of the cellular volume in their secretory phase. Mitochondria, plastids, and
dictiosomes predominate in the cytoplasm of the secretory cells. Hydrolysis of the starch
present in the plastids was observed in the secretory phase, as well as a reduction in the
density of the plastid stroma and the fusion of plastids with vacuoles. The occurrence of
glandular trichomes on the exposed surfaces of the developing organs in association with the
chemical nature of the secretion and reserve products, suggests that these structures act as
food bodies. Oxalis cytisoides demonstrates the tristyly and floral morphology typical of the
Oxalidaceae, especially in terms of its petals, that expand only after the differentiation of the
other verticils, are free at the base and at the apex, and connate only for short extensions. The
slow development of the corolla suggests that the obdiplostemony is primary. The anatomical
factor that most stands out is the similarity between the mesophyll of the sepals and carpels,
4
both of which are mostly filled by large water-storing cells. The pericarp of O. cytisoides
undergoes only small alterations during development, maintaining the general structure
similar to the ovarian wall. The exocarp and endocarp are uniseriate, and the mesocarp has
two layers – an outer layer composed of watery parenchyma, which maintains the fruit turgid
until near dehiscence, and an inner photosynthetic layer. The seeds develop both
integuments, with a thick exotesta cuticle, a multiplicative mesotesta that accumulates starch
almost to maturity, and a crystalliferous endotesta and uniseriate exotegmen composed of
thick palisade cells. The seeds are albuminous, with ample endosperm formed in a nuclear-
cellular mode. Loculicidal dehiscence occurs in the fruit by dehydration of the outer
mesocarp, contracting the pericarp; lignified endocarp trichomes propel the seeds outwards at
high speeds. As the testa is torn along the crystalliferous layer the seeds are covered by the
exotegmen and vestiges of the endotesta after dispersal. The species studied have various
characteristics and morphological tendencies which include: the occurrence and functioning
of glandular trichomes on floral parts; restriction of nectary areas to the epipetalous sectors;
asymmetric development of the fruits, which have stomata on the exo- and endocarp and
internal trichomes; the development of a nuclear-cellular endosperm; among others.
Key words – Connaraceae, Oxalidaceae, flower, pericarp, seeds, glandular trichomes
5
INTRODUÇÃO
Estudos recentes sobre sistemática de angiospermas promoveram um
reagrupamento de taxa superiores, com base em análises cladísticas de seqüências de DNA,
em particular dos genes 18S rDNA, rbcL e atpB (Chase et al., 1993; Savolainen et al., 2000;
Soltis et al., 2000). Desta forma, uma nova classificação para as famílias de angiospermas foi
proposta pelo “Angiosperm Phylogeny Group” (APG, 1998; 2003).
Uma associação inesperada de famílias resultou na circunscrição da ordem
Oxalidales, a qual, de acordo com APG (2003), constitui-se das famílias Brunelliaceae,
Cephalotaceae, Connaraceae, Cunoniaceae, Elaeocarpaceae (incluindo Tremandraceae) e
Oxalidaceae. Em classificações tradicionais (por exemplo: Cronquist, 1981; Takhtajan, 1997;
Thorne, 2000), essas famílias estavam alocadas em diversas ordens, nem todas relacionadas
estritamente ou inclusas em uma mesma subclasse. Na classificação de Cronquist (1981),
constavam na subclasse Rosidae as seguintes ordens e respectivas famílias: Rosales
(Brunelliaceae, Cephalotaceae, Connaraceae e Cunoniaceae), Geraniales (Oxalidaceae) e
Polygalales (Tremandraceae). Elaeocarpaceae, em contraste, estava na subclasse Dilleniidae
(ordem Malvales). Na classificação de Takhtajan (1997), embora colocadas nas mesmas
subclasses, o número de ordens para essas famílias aumentou. Em Rosidae, consistiam de
Cunoniales (Brunelliaceae e Cunoniaceae), Cephalotales (Cephalotaceae), Connarales
(Connaraceae), Oxalidales (Oxalidaceae) e Vochysiales (Tremandraceae). Elaeocarpaceae foi
mantida em Dilleniidae, mas acomodada em sua própria ordem, Elaeocarpales. Na
classificação de Thorne (2000), considerou-se em Rosidae apenas Brunelliaceae,
Cephalotaceae e Cunoniaceae, as quais foram agrupadas na ordem Cunoniales. As famílias
restantes foram distribuídas em Dilleniidae: Violales (Elaeocarpaceae), Rutales (Connaraceae)
e Geraniales (Oxalidaceae e Tremandraceae).
Zhang e Simmons (2006) sugeriram a inclusão de Huaceae em Oxalidales,
tendo em vista que, em suas análises, esses taxa figuram como grupos irmãos com suporte
moderado (valores jacknife superiores a 80%). Em estudos anteriores (Nandi, Chase e
Endress, 1998; Savolainen et al., 2000; Soltis et al., 2000), não se obteve suporte suficiente
para se realizar a classificação ordinal dessa família.
De acordo com Stevens (2007), Connaraceae e Oxalidaceae são grupos irmãos,
assim como Brunelliaceae e Cephalotaceae, e Tremandraceae está embebida em
6
Elaeocarpaceae. No entanto, com exceção do par Connaraceae/Oxalidaceae, as relações entre
as demais famílias (Brunelliaceae, Cephalotaceae, Cunoniaceae, Elaeocarpaceae incluindo
Tremandraceae) apresentam-se variáveis, devido à resolução conferida pelos dados até agora
considerados na análise filogenética (Davies et al., 2004; Savolainen et al., 2000; Soltis et al.,
2005; Zhang e Simmons, 2006). A interpretação da estrutura floral (Matthews e Endress,
2002, 2006), por outro lado, corroborou as relações mencionadas por Stevens (2007).
No sistema APG II (APG, 2003), Oxalidales, Malpighiales e Celastrales
constituem um grande subclado de eurosídeas I, cujas relações permanecem não resolvidas.
Stevens (2007) reconheceu como sinapomorfia para essas ordens a ocorrência de exotégmen
fibroso. Matthews e Endress (2005) descreveram, com base na morfoanatomia floral,
caracteres que evidenciam a associação entre Celastrales e Malpighiales, bem como as
potenciais sinapomorfias e tendências apomórficas entre Oxalidales, Malpighiales e
Celastrales.
Matthews e Endress (2002) relacionaram diversos caracteres de Oxalidales
menos comumente encontrados em outras ordens de rosídeas e consideraram que, pelo menos
parte desses, poderiam representar sinapomorfias para Oxalidales ou, talvez, para eurosídeas I
sensu APG (1998).
Stevens (2007) reconheceu como sinapomorfia para eurosídeas I o endosperma
escasso. Para Oxalidales, o autor mencionou os seguintes caracteres: ocorrência de células de
mucilagem, micpila formada por ambos os tegumentos, estigma secretor, tegumento do óvulo
multiplicativo, endotesta cristalífera e paliçádica, e exotégmen fibroso ou traqueoidal.
Tendo em vista que: 1) na flora brasileira, a ordem Oxalidales sensu APG
(2003) e Stevens (2007) está representada pelas famílias Connaraceae, Cunoniaceae,
Elaeocarpaceae e Oxalidaceae (Souza e Lorenzi, 2005); 2) há uma maior afinidade
filogenética entre Connaraceae e Oxalidaceae, conforme evidenciam as análises baseadas em
dados moleculares; e 3) os trabalhos relativos à morfoanatomia de órgãos reprodutivos dessas
duas famílias são escassos, ao contrário da situação levantada principalmente para
Cunoniaceae (Bensel e Palser, 1975; Dickison, 1975a, 1975b, 1984; Doweld, 1998; Godley
1983; Govil e Saxena, 1976; Kennedy e Prakash, 1981; Lopez Naranjo e Huber, 1971; Moody
e Hufford, 2000; Webb e Simpson, 1991); considerou-se oportuna a realização de um estudo
sobre a estrutura e a ontogênese de órgãos reprodutivos de Connaraceae e Oxalidaceae.
As espécies escolhidas para o presente estudo foram Connarus suberosus
Planch. (Connaraceae) e Oxalis cytisoides Zucc. (Oxalidaceae), em função de sua ocorrência
7
na região de Botucatu, Estado de São Paulo. No processo de seleção, consideraram-se
também os seguintes aspectos:
- Em 170 levantamentos florísticos rápidos da flora lenhosa de cerrado lato sensu, realizados
nos Estados da Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Piauí, Rondônia e Tocantins, Ratter, Bridgewater e Ribeiro (2001) avaliaram, entre
587 taxa inventariados (463 identificados até o nível de espécie), C. suberosus
(Connaraceae) como uma das espécies mais freqüentes, ocorrendo em 75% dos
levantamentos.
- Oxalis cytisoides inclui-se no subnero Thamnoxys, cujas espécies evoluíram
principalmente nos campos e cerrados do Brasil (Lourteig, 1994) e para as quais não foram
empreendidas abordagens anatômicas envolvendo órgãos reprodutivos.
O objetivo principal deste estudo foi realizar uma análise morfoanatômica dos
órgãos reprodutivos de C. suberosus e O. cytisoides, a fim de avaliar a existência de padrões
estruturais comuns a essas espécies. Os objetivos específicos consistiram em:
- Descrever a anatomia e a vascularizão floral, a estrutura e ontogênese de frutos e
sementes nas referidas famílias, bem como analisar a variabilidade estrutural desses
órgãos.
- Comparar os resultados obtidos àqueles disponíveis na literatura para as demais famílias de
Oxalidales e grupos filogeneticamente relacionados de acordo com o sistema APG II.
- Verificar a existência de caracteres estruturais de ocorrência comum às plantas dos
ambientes de origem das espécies selecionadas.
8
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Connaraceae e Oxalidaceae: relações interfamiliares e classificação ordinal
Várias interpretações taxonômicas foram apresentadas a respeito das afinidades
de Connaraceae com outras famílias. Hutchinson (1969) classificou Connaraceae em
Dilleniales por considerá-la derivada do mesmo estoque ancestral de Dilleniaceae, com a qual
compartilha gineceu apocárpico e sementes ariladas. No entanto, Dickison (1971, 1972,
1973a, 1973b, 1979) não encontrou evidências na morfologia de órgãos reprodutivos ou
vegetativos para o estabelecimento dessa associação.
Dickison (1972) concluiu que os caracteres estruturais do lenho indicam uma
posição avançada de Connaraceae dentro de Rosales ou uma relação mais estreita com
Sapindales, conforme propôs Heimsch (1942) em um estudo anatômico do lenho de Gruinales
e Terebinthales. Cronquist (1968) incluiu Connaraceae em Sapindales devido, principalmente,
à anatomia avançada do lenho e à presença de arilo e órgãos secretores comuns a
Sapindaceae. Contudo, esse autor ressaltou as similaridades entre Connaraceae e Rosales.
A relação de Connaraceae com Leguminosae e Rosaceae foi indicada em
diversos estudos, dentre os quais se destacam aqueles conduzidos por Dickison (1971, 1972,
1973a, 1973b) a respeito da vascularização carpelar, anatomia nodal, morfoanatomia foliar e
anatomia do lenho de Connaraceae. Cronquist (1981), subsidiado pelos trabalhos realizados
por Dickison, optou por classificar Connaraceae em Rosales, em função de suas folhas
exestipuladas, gineceu freqüentemente apocárpico e frutos usualmente do tipo folículo, que a
distinguiria de Fabales; porém destacou que essa família encontra-se em uma “área nebulosa”
que provê a conexão entre Rosales, Fabales e Sapindales. Posteriormente, trabalhos
envolvendo filogenia de Leguminosae revelaram que essa família possui o mesmo padrão de
espessamento endotecial de Connaraceae, Rosaceae, Sapindaceae e Chrysobalanaceae
(Manning e Stirton, 1994) e o mesmo arranjo de ceras epicuticulares observado em
Connaraceae (Ditsch, Patha e Barthlott, 1995).
Corner (1976), em seus estudos sobre as sementes das dicotiledôneas, sugeriu
uma aliança entre Connaraceae e as demais famílias que apresentam exotégmen fibroso,
especialmente Meliaceae. Segundo o autor, não evidências de afinidades entre Connaraceae,
Rosaceae e Leguminosae, quando se considera a estrutura das sementes e o sistema de
vascularização dos carpelos.
9
A inclusão de Connaraceae em qualquer uma das ordens citadas anteriormente,
leva à incompatibilidade de parte de seus caracteres com aquela posição. Assim, Takhtajan
(1969, 1997) criou a ordem Connarales para abranger, exclusivamente, essa família.
Segundo Forero (1983), alguns autores clássicos como Endlicher, Planchon,
Bentham e Hooker relacionaram Connaraceae com Oxalidaceae. Entretanto, na maioria das
classificações tradicionais, incluiu-se Oxalidaceae em Geraniales (Cronquist, 1981, 1988;
Thorne, 1992, 2000). Dahlgren (1989), por outro lado, acomodou essa falia em Linales,
enquanto Takhtajan (1997) preferiu tratá-la em uma ordem própria: Oxalidales. Behnke
(1982) considerou possível a associação citada no início desse parágrafo, ao verificar que
Connaraceae (Connarus) e alguns membros de Oxalidaceae (Averrhoa, Oxalis) apresentam
plastídios de elementos crivados do tipo P, sendo que Connarus e Averrhoa compartilham a
mesma forma (Pcs’). Recentemente, Connaraceae e Oxalidaceae aparecem como famílias-
irmãs nas análises filogenéticas realizadas por Hufford e Dickison (1992), a partir de dados
morfológicos e químicos, bem como em estudos filogenéticos baseados em seqüências
gênicas (Davies et al., 2004; Savolainen et al., 2000; Soltis et al., 2000, 2005; Zhang e
Simmons, 2006) ou na combinação de dados moleculares e morfológicos (Nandi, Chase e
Endress, 1998). Dessa forma, essas famílias são classificadas atualmente na ordem Oxalidales
(APG, 1998, 2003).
De acordo com Stevens (2007), os seguintes caracteres são comuns a
Connaraceae e Oxalidaceae: plantas com construção simpodial; presença da benzoquinona
rapanona, destituídas de ácido elágico; raízes diarcas; lenho com raios unisseriados; plastídios
de tubo crivado com cristalóides protéicos; drusas ausentes; plaquetas de cera epicuticular
arranjadas como rosetas; folhas imparipinadas ou trifolioladas ou unifolioladas (condição
menos comum), folíolos articulados, margens inteiras, nervuras secundárias pinadas a
palmadas, sem estípulas; corola unida s-genitalmente próximo à base, com pêlos
glandulares unisseriados; nectário extra-estaminal; dois verticilos de estames de diferentes
comprimentos, os quais portam pêlos glandulares unisseriados; heterostilia di ou trimórfica;
fruto com cálice persistente e exotesta mais ou menos carnosa.
Família Connaraceae
Connaraceae consta de espécies arreas, arbustivas ou lianas com ampla
distribuão nas regiões tropicais. No Neotrópico, é encontrada desde o México e Cuba até o
Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil. Ocorre desde o nível do mar até 1.000 metros de
altitude, em florestas ombrófilas e ripárias, nos cerrados e na vegetação sobre restinga. No
10
Brasil, que é considerado o centro de diversificação da família na região Neotropical, ocorrem
64 espécies, classificadas nos gêneros Bernardinia (1), Connarus (29), Pseudoconnarus (3) e
Rourea (31). No Estado de São Paulo, a família está representada por Bernardinia, Connarus
e Rourea, abrangendo oito espécies e três variedades (Forero, 1983; Forero e Costa, 2002).
Os estudos taxonômicos sobre Connaraceae, como aqueles conduzidos por
Schellenberg (1938), Leenhouts (1958) e Breteler (1989), compilados no Quadro 1, revelaram
divergências consideráveis na delimitação dos taxa em níveis infrafamiliares. Os tratamentos
realizados por Leenhouts (1958) e Breteler (1989) caracterizam-se por uma substancial
redução dos números de gêneros e espécies em relação àqueles reconhecidos por Schellenberg
(1938). Leenhouts revisou o trabalho de Schellenberg (1938), quando preparava sua
contribuição para “Flora Malesiana”. Nessa obra, Leenhouts (1958) referiu-se a seis gêneros
e 36 espécies de Connaraceae para a Malásia, em contraste aos nove gêneros com 142
espécies reportados, anteriormente, por Schellenberg (1938) para a Ásia e áreas adjacentes.
Um resultado similar foi obtido na revisão das espécies africanas (Breteler, 1989): uma
redução de 154 espécies em 16 gêneros, segundo Schellenberg (1938), para 49 espécies em 10
gêneros. No entanto, o tratamento empreendido para espécies americanas o levou à
diminuição do número de taxa. De acordo com Schellenberg (1938), cinco gêneros com 89
espécies ocorrem na América, enquanto que Forero (1983) registrou 101 espécies alocadas
nos mesmos gêneros. Desta forma, a América exibe, atualmente, a maior diversidade de
espécies. Na opinião de Breteler (1989), esse resultado provavelmente reflete um conceito
diferente de espécie.
Em seu estudo, Leenhouts (1958) reconheceu 16 gêneros para Connaraceae e
não aceitou a subdivisão da família, proposta por Schellenberg (1938), principalmente por
considerar a delimitação de tribos, com base na posição da inflorescência, insustentável na
prática. Breteler (1989) encontrou apoio em análises filogenética e de similaridade total para o
estabelecimento de quatro tribos: Connareae, Jollydoreae, Manoteae e Cnestideae. Essas
classificações (filogenética e por similaridade total) basearam-se nos gêneros e em seus
caracteres diferenciais. Segundo o autor, Connaraceae abrange 12 gêneros e cerca de 110 a
200 espécies, dependendo do conceito de espécie adotado.
Forero (1983) fez uma síntese dos usos de espécies de Connaraceae, os quais se
relacionam, principalmente, à medicina popular e a efeitos tóxicos sobre animais. Estudos
fitoquímicos recentes comprovaram os benefícios terapêuticos e, algumas vezes, a toxicidade
de sustâncias ativas e extratos obtidos de diversas partes de plantas dessa família. Por
exemplo, Otshudi et al. (2000) relataram atividades antidesentérica e bactericida para extratos
11
Quadro 1 – Comparação de tratamentos taxonômicos infrafamiliares de Connaraceae
SCHELLENBERG (1938)
LEE
NHOUTS (1958)
BRETELER (1989)
Subfam. I. JOLLYDOROIDEAE
1.
Cnestis
Juss.
Tribo 1.
Jollydoreae
1.
Jollydora
Pierre
2.
Agelaea
Soland. ex. Planch
. (inclui
Agelaea e Castanola sensu Schellenberg,
1.
Jollydora
Pierre
Subfam. II. CONNAROIDEAE
1938)
Tribo 2.
Manoteae
Trib
o
1.
Cnestideae
Subgê
nero
Troostwykia
2.
Manotes
Soland.
2.
Cnestis
Juss. Subgênero
Agelaea
Tribo 3.
Connareae
Trib
o
2.
Agelaeeae
3.
Roureopsis
Planch.
(inclui
3.
Burttia
Bak. F. Exell.
3.
Manotes
Soland.
Roureopsis e Taeniochlaena sensu
4.
Connarus
L.
4.
Hemandradenia
Stapf
Schellenberg, 1938)
5.
Ellipanthus
Hook. f.
(inclui
5.
Agelaea
Soland.
4.
Rourea
Aubl.
(inclui Rourea,
Ellipanthus, Pseudoellipanthus, sensu
Trib
o
3.
Byrsocarpeae
Byrsocarpus, Jaundea, Santaloides,
Schellenberg, 1938)
6.
Pseudoconnarus
Raldlk.
Santaloidella, sensu Schellenberg, 1938)
6.
Hemandradenia
Stapf
7.
Burttia
Bak. F. Exell.
5.
Ellipanthus
Hook. f.
(inclui
7.
Vismianthus
Mildbr.
8.
Vismianthus
Mildbr.
Ellipanthus, Pseudoellipanthus,
Tribo 4.
Cnestideae
9.
Bernardinia
Planch.
Hemandradenia sensu Schellenberg, 1938)
8.
Agelaea
Soland. ex. Planch.
(inclui
10.
Spiropetalum
Gilg.
6.
Co
nnarus
L.
Agelaea e Castanola sensu Schellenberg,
11.
Roureopsis
Planch.
7.
Cnestidium
Planch.
1938)
12.
Paxia
Gilg.
8.
Schellenbergia
Parkinson
Secçã
o
Troostwykia
13.
Santaloidella
Schellenb.
9.
Paxia
Gilg.
Secçã
o
Agela
ea
14.
Santaloides
(L.) O. Ktze.
10.
Spiropetalum
Gilg.
9.
Cnestis
Juss.
Subnero
Dalbergioidea
11.
Bernardinia
Planch.
10.
Cnestidium
Planch.
Subnero
Afrosantaloides
12.
Vismianthus
Mildbr.
11.
Pseudoconnarus
Raldlk
.
Subnero
Mimosoidea
13.
Burttia
Bak. F. Exell.
12.
Rourea
Aubl.
(inclui Rourea,
15.
Byrsocarpus
Schum. et Thonn.
14.
Pseudoconnarus
Raldlk.
Bernardinia, Byrsocarpus, Jaundea,
Subnero
Eubyrsocarpus
15.
Manotes
Soland.
Paxia, Roureopsis, Santaloidella,
Subnero
Pseudojaundea
16.
Jollydora
Pierre
Spiropetalum, Santaloides, Taeniochlaena,
16.
Jaundea
Gilg.
sensu Schellenberg, 1938)
Trib
o
4.
Castanoleae
Secçã
o
Bernardinia
17.
Taeniochlae
na
Hook. f.
Secçã
o
Byrsocarpus
18.
Castanola
Llanos
Secçã
o
Rourea
19.
Schellenbergia
Parkinson
Secçã
o
Roureopsis
20.
Ellipanthus
Hook. f.
Secçã
o
Santaloides
21.
Pseudoellipanthus
Schellen
b.
Trib
o
5
.
Connareae
22.
Cnestidium
Planch.
23.
Rourea
Aubl.
24.
Connarus
L.
Subnero
Connarellus
Subnero
Neoconnarus
Subnero Euconnarus
12
de raízes de Roureopsis obliquifoliolata; Kuwabara et al. (2003) estudaram uma substância
(“tricin”) com potente efeito anti-histamínico, extraída de folhas de Agelaea pentagyna;
Jiménez et al. (2001) constataram que extratos de folhas e ramos de Connarus lambertii
apresentam uma forte ão sobre a atividade cardiovascular de animais experimentais,
causando-lhes a morte, bem como são efetivos na inibição da enzima glucose-6-fosfatase, que
catalisa a reação final da neoglicogênese e glicogenólise. Taveira et al. (1988) investigaram os
efeitos de extratos da casca de Connarus fulvus (= Connarus suberosus) em camundongos,
uma vez que essa planta é consumida em cs e garrafadas devido a uma suposta ação sobre
as funções cardíacas. Os resultados obtidos o confirmaram esta atividade, mas indicaram
ações analgésica, anticonvulsivante e anticurarizante, além da toxicidade desses extratos.
Apesar dos indícios sobre o potencial farmacológico de muitas espécies de
Connaraceae (Forero, 1983; Jongkind, 1989), poucos estudos (Aiyar et al., 1964; Jeannoda et
al., 1985; Kuwabara et al., 2003; Le et al., 2005) trataram da identificação das substâncias
responsáveis por seus efeitos terapêuticos.
Família Oxalidaceae
Oxalidaceae é constituída por cinco gêneros e cerca de 800 espécies; Oxalis é o
maior gênero com aproximadamente 700 espécies (Stevens, 2007). São, em geral, ervas
bulbosas, raramente arbustos ou árvores, com distribuição tropical e subtropical. No Brasil,
ocorrem dois gêneros (Biophytum e Oxalis) com cerca de 150 espécies (Souza e Lorenzi,
2005). No Estado de o Paulo, está representada apenas por Oxalis, no entanto Averrhoa
carambola é muito cultivada em função dos frutos comestíveis (Fiaschi e Conceição, 2005).
Economicamente, Oxalis destaca-se por incluir espécies invasoras de culturas
(Lorenzi, 2000), espécies ornamentais (Ingram, 1958, 1959), e pela “oca” (Oxalis tuberosa),
cujos tubérculos comestíveis são cultivados na região andina (Alvarez, 1960; Trognitz e
Hermann, 2001). Várias espécies são mencionadas em estudos etnobotânicos (Albuquerque e
Andrade, 2002; Guarim Neto e Morais, 2003; Rodrigues e Carvalho, 2001), mas há poucos
ensaios laboratoriais voltados à comprovação de suas propriedades farmacológicas. Em um
desses, Egly et al. (2003) isolaram, a partir de O. erythrorhiza, compostos que se mostraram
ativos contra Trypanossoma cruzi, Leishmania amazonensis e L. donovani.
O gênero Oxalis consiste de quatro subgêneros: Oxalis, Thamnoxys, Monoxalis
e Trifidus. O subgênero Oxalis caracteriza-se pelo hábito herbáceo e por suas folhas
trifolioladas digitadas, enquanto os representantes de Thamnoxys são arbustivos ou
13
subarbustivos e apresentam folhas trifolioladas pinadas. Os demais subneros abrangem
apenas duas espécies cada um (Lourteig, 1994, 2000).
Estudos taxonômicos a respeito do gênero Oxalis foram conduzidos por vários
autores. Knuth (1930), por exemplo, dedicou-se à descrição e à determinação de espécies
africanas e sulamericanas, considerando 37 seções, numerosas subsecções e séries. Denton
(1973) realizou uma monografia sobre as espécies da seção Ionoxalis da América do Norte.
Lourteig (1975, 1979) revisou as seções Thamnoxys e Corniculatae, respectivamente, no
âmbito das espécies extra-austroamericanas. Em publicações subseqüentes, a autora
apresentou a descrição do subgênero Trifidus (Lourteig, 1995) e os resultados de tratamentos
taxonômicos efetuados para os subneros Thamnoxys (Lourteig, 1994), Monoxalis, Oxalis e
Trifidus (Lourteig, 2000).
Considerações sobre as espécies estudadas
Connarus suberosus é uma espécie que se desenvolve em áreas de cerrado,
sendo encontrada nos seguintes estados: Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Goiás (incluindo o
Distrito Federal), Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Forero e Costa (2002)
caracterizaram-na como árvore de pequeno porte, 1,5-7(-12)m; casca espessa, suberosa;
ramos tortuosos, os jovens densamente ferrugíneo-tomentosos. Folhas 5-9(-13) folioladas,
folíolos elípticos, ovais ou suborbiculares, coriáceos, face adaxial tomentosa quando jovem,
passando a glabrescente ou glabra, face abaxial tomentosa quando jovem passando a glabra,
exceto na nervura central. Inflorescência paniculada (Fig. 1), terminal ou axilar, densamente
ferrugíneo-tomentosa; palas com pontos glandulosos inconspícuos, tomentosa
externamente, glabra internamente; pétalas com pontos glandulosos presentes ou ausentes,
margem com ou sem tricomas glandulosos; estames unidos na base, com ou sem tricomas
glandulosos; estilete tomentoso, geralmente com tricomas glandulosos; ovário tomentoso.
Fruto estipitado (Fig. 2), densamente ferrugíneo-tomentoso quando jovem, mais tarde
irregularmente pubérulo externamente, esparsamente pubescente internamente.
Forero (1983), revisando Connaraceae neotropicais, concluiu que era
impossível manter Connarus suberosus e C. fulvus como entidades separadas. Desta forma,
procedeu à nova combinação, reconhecendo para C. suberosus as variedades suberosus e
fulvus. Para a identificação das mesmas, propôs a seguinte chave:
- sépalas 3,5 mm; pétalas 4x1,5 mm; pontos glandulosos ausentes ou inconspícuos; estames
maiores 2,5 mm, menores 1,5 mm, sem tricomas glandulosos nos filetes, tricomas
glandulosos presentes no ápice do conectivo e no estilete ............ C. suberosus var. suberosus
14
- sépalas 2,6 mm; pétalas 5-5,5x2 mm, pontos glandulosos conspícuos; estames maiores 4
mm, menores 3 mm, com tricomas glandulosos nos filetes, tricomas glandulosos ausentes no
ápice do conectivo e no estilete ......................................................... C. suberosus var. fulvus
Embora mencione a existência de estados intermediários em caracteres como
pilosidade dos filetes, ocorrência de pontos glandulosos nas pétalas, forma e pubescência dos
folíolos, entre outros, Forero (1983) considerou possível distinguir certas tendências que
justificariam a referida classificação.
Milhomens e Proença (2002), mediante a análise de 42 exsicatas, das quais 17
foram selecionadas a partir da monografia de Forero (1983), concluíram que não
correlação entre os caracteres diagnósticos estabelecidos por este autor e as respectivas
variedades de C. suberosus, uma vez que esses mostraram um gradiente de estados ou não
diferiram expressivamente entre as variedades. Resultados similares foram obtidos quando se
construíram gráficos de dispersão, utilizando-se outros caracteres que se apresentavam
variáveis entre exsicatas escolhidas ao acaso. Verificou-se, contudo, que realmente existem as
tendências morfológicas citadas por Forero (1983). Segundo Milhomens e Proença (2002),
em se tratando de densidade e persistência de pilosidade, essas tendências estariam
relacionadas à variação fenotípica ou genotípica, mas sem caracterizar a especialização de
linhagens. Parte da variação encontrada no tamanho das peças florais foi atribuída a diferentes
níveis de sexualidade das flores, visto que 50% das flores dissecadas apresentavam androceu
normal e pistilos reduzidos (sem óvulos e com estilete curto a ausente). Desta forma, os
autores recomendam que a variedade fulvus seja sinonimizada à variedade típica.
Em sua contribuição para “Flora fanerogâmica do Estado de São Paulo”,
Forero e Costa (2002) mantiveram a distinção entre C. suberosus var. suberosus e C.
suberosus var. fulvus; entretanto, não relacionaram a presença ou ausência de tricomas
glandulosos no estilete ou no ápice do conectivo como parte dos caracteres para sua
identificação.
A outra espécie selecionada para esse estudo, Oxalis cytisoides (Fig. 3), ocorre
em campos e locais úmidos até 950 m de altitude, desde o Ceará até o Rio Grande do Sul e na
Argentina. Segundo Fiaschi e Conceição (2005), essa espécie consiste de subarbustos eretos,
com até 1m, folhas espiraladas, trifolioladas pinadas; subopostas ou com entrenós até 6 cm;
pecíolo canaliculado, piloso; peciólulos pilosos. Os folíolos são glabros a esparsamente
pubescentes na face adaxial e densamente pubescentes na abaxial; lâmina terminal
estreitamente ovada a lanceolada ou rombo-ovada, ápice agudo a atenuado, base aguda;
lâminas laterais oblongas a ovadas, simétricas a levemente assimétricas, ápice agudo a obtuso,
15
16
base aguda a arredondada. Inflorescências maiores que a folhagem, consistindo de cimeiras
dicasiais. Sépalas pubescentes; corola rosa, filetes maiores apendiculados e pilosos, menores
glabros; estiletes pilosos. Cápsulas elipsóides a globosas, glabras; carpelos glabros e culos
trisseminados. Lourteig (1994), porém, mencionou a ocorrência de pilosidade em ambas as
superfícies da cápsula e duas a três sementes por lóculo.
Oxalis cytisoides assemelha-se muito a O. barrelieri, sendo as duas espécies
reconhecidas com base em pequenas diferenças no formato e pilosidade dos folíolos (Fiaschi
e Conceição, 2005).
Anatomia floral
As flores de Connaraceae são bissexuadas, actinomorfas, heterostilas; lice
pentâmero na maioria das espécies, sépalas livres ou conatas, geralmente pubescentes; corola
também pentâmera, pétalas livres ou conatas acima da base, usualmente glabras, pontos
glandulosos podem ocorrer nas pétalas de Connarus, Manotes e Vismianthus; dez estames
unidos a partir da base em um tubo de extensão variável, os estames antessépalos são maiores
que os demais; os filetes têm algum tipo de indumento em Connarus, Ellipanthus,
Hemandradenia e Manotes; gineceu formado por um ou cinco carpelos livres, biovulados,
parcial ou totalmente pubescentes na maioria das espécies (Forero, 1983; Jongkind, 1989).
De acordo com Matthews e Endress (2002), a anatomia floral de Connaraceae
é pouco conhecida; no entanto, em seu trabalho, produziram uma relação de caracteres
estruturais potencialmente úteis na determinação das afinidades interfamiliares dentro de
Oxalidales, não se apresentando descrições detalhadas da anatomia das peças florais, à
exceção da vascularização. Os autores consideraram que Connaraceae e Oxalidaceae
compartilham alguns caracteres que são únicos para Oxalidales, sendo alguns deles raros em
eudicotiledôneas. Essas sinapomorfias florais estão entre aquelas citadas por Stevens (2007).
Matthews e Endress (2002) notaram, ainda, similaridades entre os sistemas de
vascularização floral de Connaraceae e Brunelliaceae. Segundo Dickison (1971), o padrão
vascular prevalecente em carpelos de Connaraceae assemelha-se àquele descrito para algumas
espécies de Rosaceae (Sterling, 1953, 1969), Leguminosae (Rao, Sirdeshmukh e Sadar,
1958), Brunelliaceae e Cunoniaceae (Eyde, 1970), consistindo de cinco feixes principais.
Desses, um é o feixe dorsal, dois são feixes ovulares e os outros dois são feixes alas. Os feixes
ovulares vascularizam os óvulos, enquanto alas e dorsal continuam através do estilete. Em
17
Connarus culionensis var. culionensis e C. punctatus os traços ovulares fundem-se no
ginóforo, de modo que apenas um cordão ovular estende-se a partir da base do carpelo. Em
Cnestidium guianense, Agelaea borneensis e nas espécies de Cnestis estudadas, os carpelos
são vascularizados por um feixe dorsal e dois ventrais. No entanto, em Agelaea sp, os traços
ventrais dividem-se na base do lóculo, originando feixes alas e ovulares.
Sterling (1953, 1963, 1964a, 1964b, 1964c, 1965a, 1965b, 1965c, 1966a,
1966b, 1966c, 1969), por meio de uma série de estudos de morfologia comparada do carpelo
em Rosaceae, concluiu que o pado vascular ancestral caracteriza-se por feixes alas e
ovulares livres. Padrões mais avançados derivaram da fusão entre feixes alas e ovulares, em
extensões variáveis, para formar os feixes ventrais, sendo esta geralmente relacionada ao
fechamento do carpelo.
Rao, Sirdeshmukh e Sadar (1958), em um trabalho extenso sobre a anatomia
floral de Leguminosae, examinaram várias espécies cuja vascularização carpelar consiste de
cinco traços principais ou é derivada desta condição; porém, não apresentaram uma
interpretação sobre a filogenia do carpelo nessa família.
Corner (1976) considerou a similaridade na vascularização carpelar de
Connaraceae, Rosaceae e Leguminosae como um “exemplo de convergência por meio de
simplificação neotênica”.
Eyde (1970), ao discutir as relações filogenéticas de Brunelliaceae, tomou as
semelhanças observadas na vascularização dos carpelos de Brunellia (Brunelliaceae) e
Acsmithia densiflora (Cunoniaceae) como um dos parâmetros que unem as duas famílias. No
entanto, Dickison (1975b) verificou que somente os carpelos de Acsmithia e Spiraeanthemum
recebem cinco traços vasculares, enquanto que, nos demais gêneros de Cunoniaceae, a
vascularização carpelar principal é derivada de três traços. Ao contrário de Rosaceae e
Connaraceae, não estádios intermediários entre esses padrões vasculares. Essa e outras
disparidades anatômicas levaram o referido autor a sugerir a remoção de Acsmithia e
Spiraeanthemum de Cunoniaceae.
Em Oxalidaceae, as flores são bissexuadas, radiais, usualmente heterostilas;
com cinco sépalas livres; cinco pétalas distintas ou muito levemente conatas, geralmente
convolutas; freqüentemente dez estames; filetes conatos basalmente, sendo os externos mais
curtos que os internos; grãos de pólen geralmente tricolpados ou tricolporados; usualmente
cinco carpelos conatos; ovário pero, mais ou menos lobado, com placentação axial;
geralmente cinco estiletes distintos; estigmas freqüentemente capitatos ou punctiformes; em
18
geral, vários óvulos por lóculo; ctar produzido pela base dos filetes ou por glândulas que se
alternam com as pétalas (Judd et al., 1999).
Estelita-Teixeira (1984) investigou a morfologia floral de Oxalis latifolia, O.
oxyptera e O. corymbosa. Sauer (1933) destacou que a anatomia do carpelo em Oxalidaceae é
similar àquela das sépalas. Matthews e Endress (2002) consideraram que o mesofilo das
sépalas das Oxalidaceae, constituído por células especialmente grandes, representa uma
autapomorfia para Oxalidales.
Estudos sobre a vascularização floral de Oxalidaceae conduzidos por Al-
Nowaihi e Khalifa (1971), Narayana (1966), Kumar (1976) e Estelita-Teixeira (1980a)
evidenciaram uma tendência à redução dos feixes carpelares dorsais. Em algumas famílias,
como Meliaceae (Nair, 1963) e Malpighiaceae (Lorenzo, 1981), ocorre um processo evolutivo
similar. Segundo Estelita-Teixeira (1980a), em Oxalis latifolia, O. oxyptera e O. corymbosa,
observa-se a fusão de traços marginais de carpelos adjacentes, assim como de traços ventrais.
Nos espécimes de Oxalis examinados por Al-Nowaihi e Khalifa (1971), Narayana (1966) e
Kumar (1976), esses traços vasculares mostram-se conatos desde sua origem. Tendo em vista
que os feixes ventrais apresentam orientação invertida em relação ao eixo floral, logo acima
da base do ovário, Estelita-Teixeira (1980a) concluiu que uma tendência à substituição da
placentação parietal (Narayana, 1966; Kumar, 1976) pela axial.
A emissão de tros estaminais antepétalos em um nível inferior àquele de
traços de estames antessépalos foi considerada uma confirmação anamica da
obdiplostemonia em Oxalidaceae (Al-Nowaihi e Khalifa, 1971; Narayana, 1966; Kumar,
1976; Estelita-Teixeira, 1980a). No entanto, Al-Nowaihi e Khalifa (1971) mencionam que,
em O. cernua, o androceu obdiplostêmone somente é reconhecido do ponto de vista
morfológico, pois os traços estaminais separam-se do cilindro central no mesmo nível. Ronse
Decraene e Smets (1995) relataram que, em taxa obdiplostêmones, os traços de estames
antepétalos divergem em um nível inferior, equivalente ou superior àquele dos traços
antessépalos; portanto, não há uma correlação entre vascularização e obdiplostemonia.
O androceu obdiplostêmone representa uma interrupção da seqüência usual de
alternância dos verticilos florais, devido à posição oposta às pétalas do verticilo externo de
estames. Eames (1977) agrupou em três teorias as diversas interpretações sobre a
obdiplostemonia, as quais explicam a sua origem pela adição de um novo verticilo de estames
(teoria da intercalação), pela perda de um verticilo externo de estames (teoria da redução) ou
pelo deslocamento ontogenético (teoria do deslocamento).
19
Recentemente, vários estudos sobre a ontogenia floral de taxa obdiplostêmones
revelaram que os estames surgem na seqüência centrípeta usual. Desta forma, a
obdiplostemonia foi interpretada como um fenômeno secundário causado pelo crescimento
diferencial e deslocamento dos primórdios de estames. Esses resultados corroboram a teoria
do deslocamento, proposta originalmente por Čelakovský em 1875 (Ronse Decraene e Smets,
1995; Weberling, 1992).
A partir da observação de casos de obdiplostemonia que não se ajustam às
premissas de um deslocamento, Ronse Decraene e Smets (1995) propuseram a distinção entre
três vias de desenvolvimento da obdiplostemonia: “obdiplostemonia primária” (os estames
antepétalos surgem antes dos estames antessépalos e não deslocamento secundário),
“obdiplostemonia secundária” (as partes florais iniciam-se na seqüência acrópeta normal, mas
os primórdios de estames antepétalos são deslocados para uma posição externa àquela dos
estames antessépalos durante a ontogenia) e “obdiplostemonia centrífuga” (os primórdios de
estames antepétalos surgem após os primórdios antessépalos e constituem o verticilo externo).
Em termos evolutivos, admite-se que a obdiplostemonia é uma condição
intermediária na transição entre a diplostemonia e a haplostemonia ou, menos freqüentemente,
na transição entre diplostemonia e obhaplostemonia (Ronse Decraene e Smets, 1995, 1997).
Heterostilia
Matthews e Endress (2002) citaram a ocorrência de heterostilia dimórfica e
trimórfica em Connaraceae e Oxalidaceae e ressaltaram que o compartilhamento de
heterostilia trimórfica é especialmente significante, visto que é conhecida para poucas
famílias de angiospermas. Contudo, Vuilleumier (1967), Ganders (1979) e Barrett (2002)
consideraram que a heterostilia originou-se claramente em diversas ocasiões, especialmente
em famílias com um grau intermediário de avanço evolutivo, as quais não formam um grupo
estritamente relacionado.
Os relatos sobre heterostilia abrangem cerca de vinte e oito famílias de
angiospermas. A maioria delas apresenta heterostilia dimórfica (distilia), enquanto que a
heterostilia trimórfica (tristilia) é mais rara, sendo conhecida apenas em seis famílias (Barrett
et al., 2000).
As espécies portadoras de distilia caracterizam-se pela existência de plantas
brevistilas e longistilas em suas populações, enquanto aquelas com tristilia têm populações
constituídas por plantas brevistilas, medistilas (ou mesostilas) e longistilas. Em ambos os
casos, há uma correspondência recíproca entre as posições de anteras e estigmas das formas
20
florais. No entanto, os padrões morfológicos que distinguem as formas florais podem incluir
outros polimorfismos.
Em Biophytum sensitivum (Mayura Devi, 1966), Oxalis tuberosa (Gibbs, 1976)
e O. squamata (Marco e Arroyo, 1998), os grãos de pólen maiores o produzidos pelos
estames longos, o len de tamanho intermediário pelos estames médios e os grãos menores
pelos estames curtos. Entretanto, esse trimorfismo é pouco característico em Oxalis alpina
(Weller, 1976).
Em várias espécies tristilas, os estames médios e curtos não diferem entre si
quanto à produção de pólen e os verticilos longos produzem quantidades consideravelmente
menores; tais relações foram descritas para O. squamata (Marco e Arroyo, 1998). Em O.
alpina, Weller (1976) verificou que os estames curtos produzem mais len que os médios e
estes produzem mais que os longos.
Os estigmas das formas florais podem diferir na forma, tamanho ou, mais
comumente, no tamanho das papilas estigmáticas. Em Oxalis tuberosa, os estigmas das três
formas florais distinguem-se quanto a estes três parâmetros (Gibbs, 1976).
Marco e Arroyo (1998) registraram diferenças no comprimento de cálice e
corola e pubescência estilar de O. squamata, as quais representam polimorfismos pouco
comuns em plantas heterostilas.
Ao conjunto de caracteres morfológicos que distinguem as formas florais,
associa-se um sistema de auto-incompatibilidade dialélico que previne fertilizações as
autopolinizações ou polinizações entre anteras e estigmas situados em níveis diferentes
(polinizações ilegítimas). Desta forma, o estabelecimento de sementes decorre, em geral, de
polinizações entre formas com anteras e estigmas em níveis equivalentes (polinizações
legítimas) (Ganders, 1979). Em espécies distilas, com dois verticilos de estames em cada
forma floral, geralmente não nenhuma diferenciação funcional entre eles (Ornduff, 1972).
Apenas autopolinizações e polinizações entre flores da mesma forma floral são ilegítimas em
populações com essa caractestica (Weller, 1976).
A reação de auto-incompatibilidade, no entanto, varia em diferentes taxa
(Ganders, 1979). Em Oxalidaceae, as relações de incompatibilidade foram estudadas em
Biophytum sensitivum (Mayura Devi, 1964), Sarcotheca celebica (Lack e Kevan, 1987),
Oxalis suksdorfii (Ornduff, 1964), O. priceae (Mulcahy, 1964), O. alpina (Weller, 1976,
1981, 1986) e O. squamata (Marco e Arroyo. 1998). Em Oxalis seção Corniculatae (Ornduff,
1972), particularmente, quase toda estratégia evolutiva leva à ruptura da incompatibilidade
21
trimórfica e, em alguns casos, ao desenvolvimento da distilia, semi-homostilia e quase-
homostilia.
Em Connaraceae, as relações de incompatibilidade foram estudadas somente
em Byrsocarpus coccineus (Baker, 1962), apesar da diversidade de tipos de heterostilia
descritos por Lemmens (1989). Segundo este autor, a heterostilia em Connaraceae parece
seguir duas tendências filogenéticas a partir da tristilia: uma delas leva as espécies com cinco
carpelos à homostilia; a outra, atuando nas Connaraceae com gineceu unicarpelar, resulta na
dioicia. Em ambas as vias, a distilia representa um estádio intermediário.
Morfologia dos frutos
Os frutos de Connaraceae desenvolvem-se de gineceu unicarpelar ou
apocárpico. Neste último caso, geralmente apenas um fruolo é produzido. O pericarpo é seco
ou mais ou menos carnoso, deiscente pela sutura ventral ou indeiscente em Jollydora e
Hemandradenia (Jongkind, 1989). Externamente, os frutos são pubescentes a glabros. Em
Cnestis e em muitas espécies de Connarus, o endocarpo é piloso. Neste último gênero, os
tricomas podem ser glandulares, não-glandulares ou de ambos os tipos (Dickison, 1971;
Corner, 1976; Forero, 1983; Jongkind, 1989; Forero e Costa, 2002). Segundo Jongkind
(1989), em todas as espécies de Connarus, o desenvolvimento da semente é incipiente até a
completa expansão do folículo. Um padrão similar de desenvolvimento foi observado em
Leguminosae (Oliveira e Beltrati, 1993).
Informações sobre a anatomia dos frutos de Connaraceae restringem-se a
algumas observações realizadas por Corner (1976), por ocasião do estudo das sementes de
espécies dessa família.
Em Oxalidaceae, a estrutura do pericarpo de várias espécies de Oxalis foi
descrita por Sauer (1933) e Estelita-Teixeira (1980b). O fruto de Oxalis é uma cápsula rimosa,
a qual se caracteriza pela deiscência loculicida, sem a formação de valvas (Barroso et al.,
1999). Sua superfície pode ser glabra ou pilosa e várias espécies desenvolvem tricomas
endocárpicos (Lourteig, 1975, 1994, 2000; Fiaschi e Conceição, 2005). A anatomia do fruto
de Averrhoa, classificado como um campomanesoídeo (Barroso et al., 1999) foi analisada por
Dave, Patel e Rupera (1975), Kumar (1975) e Rao e Kothagoda (1984).
Morfologia da semente
As sementes de Connaraceae derivam de óvulos hemítropos (Corner, 1976;
Jongkind, 1989; Matthews e Endress, 2002), anátropos (Jongkind, 1989) ou quase ortótropos
22
(Matthews e Endress, 2002), bitegumentados e crassinucelados (Corner, 1976). Há dois
óvulos colaterais por carpelo, mas na maioria das espécies somente um deles desenvolve-se
em semente (Jongkind, 1989).
Uma característica comum a todas as Connaraceae é a suculência, pelos menos
parcial, do tegumento (Jongkind, 1989). Esse tecido carnoso usualmente se desenvolve da
rafe-calaza, estendendo-se como uma margem livre sobre parte da testa. Corner (1976)
referiu-se a ele como um complexo arilo-sarcotesta calazal, considerando a base dessa
excrescência de natureza sarcotestal e a sua porção livre, um arilo. Jongkind (1989) preferiu
empregar o termo sarcotesta por entender que esse tecido é contínuo e derivado da testa. Esses
pontos de vista refletem a controvérsia existente sobre a terminologia aplicada a apêndices
carnosos de sementes, a qual foi revisada por Corner (1976), Kapil, Bor e Bouman (1980),
entre outros. Em alguns gêneros, como Jollydora, Hemandradenia e Manotes, quase toda a
testa torna-se carnosa.
Segundo Corner (1976), a semente de Connaraceae é uma das mais distintas
entre dicotiledôneas. Suas principais características são a forma pré-rafeal, a qual se
caracteriza por um grande distanciamento entre a micrópila e o hilo, a testa preta com
paliçada exotestal firme mas não lignificada, o exotégmen fibroso, a presença de feixe
vascular pré-rafeal, o arilo calazal, o embrião grande e o aroma semelhante ao de feijão
exalado por tecidos triturados. O autor examinou a anatomia das sementes de dez espécies de
Connaraceae, sendo este estudo a única referência sobre o assunto.
Jongkind (1989) destacou que a estrutura da semente com relação ao
endosperma e cotilédones é muito variável. Em Manotes e algumas espécies de Cnestis, os
cotilédones achatados, finos e pequenos estão envoltos por endosperma abundante, enquanto
que as sementes exalbuminosas de Agelaea, Connarus, Jollydora e Rourea apresentam
cotilédones plano-convexos. Combinações intermediárias ocorrem em Burttia,
Pseudoconnarus e algumas espécies de Cnestis, que possuem cotilédones achatados, um tanto
carnosos, embebidos em endosperma abundante, e em Cnestidium, Ellipanthus,
Hemandradenia e Vismianthus com cotilédones plano-convexos e endosperma escasso.
De acordo com Corner (1976), as reservas das sementes de Cnestis palala e
Connarus grandis consistem de óleos. Forero (1983) mencionou o acúmulo de taninos e óleos
(Rourea) e proteínas e outras secreções características (Connarus) em sementes
exalbuminosas. Na semente de Pseudoconnarus, o endosperma abundante continha óleos. Em
Cnestidium, o endosperma, com espessura de duas camadas de células, e os cotilédones
armazenaram amido.
23
As sementes das Oxalidaceae desenvolvem-se de óvulos anátropos,
bitegumentados e tenuinucelados (Corner, 1976). A testa mucilaginosa é freqüentemente
confundida com um arilo (Stevens, 2007). Em vários gêneros, podem ocorrer ruminações nos
tegumentos que podem atingir o endosperma (Corner, 1976; Boesewinkel, 1985).
Em Oxalis e Averrhoa, as ruminações da semente são produzidas pela
atividade mitótica de grupos de células da mesotesta; em Biophytum, o derivadas,
exclusivamente, da expansão radial das células desse tecido (Boesewinkel, 1985; Werker,
1997).
Em Biophytum e Oxalis, ocorre um mecanismo incomum de dispersão das
sementes, que envolve a ruptura brusca da testa e a ejeção da parte interna. A separação do
tegumento externo é atribuída ao estiramento circunferencial da espessa membrana cuticular,
durante o desenvolvimento da semente, e à turgescência elevada do parênquima mesotestal,
resultante da degradação enzimática de amido pouco antes da maturação da semente. A tensão
gerada por esses processos causa o rompimento das paredes das células com cristais, que
constituem a endotesta, e a liberação balística da semente, revestida pelo tégmen e,
parcialmente, pela endotesta (Corner, 1976; Werker, 1997). Com exceção de Biophytum, os
demais gêneros de Oxalidaceae apresentam exotégmen fibroso. Corner (1976) sugeriu que
Oxalidaceae relaciona-se filogeneticamente a outras famílias portadoras desse caráter, entre as
quais Connaraceae.
O endosperma é formado por divisões nucleares livres, mas algumas espécies
possuem sementes exalbuminosas (Corner, 1976). Salter (1952) mencionou que várias
espécies de Oxalis da África do Sul não apresentam endosperma na semente madura. Barroso
et al. (1999) classificaram o embrião de Oxalis como espatulado. Corner (1976) e
Boesewinkel (1985) relataram que as reservas da semente consistem de óleos. Jones e Earle
(1966) quantificaram o conteúdo de amido, óleos e proteínas das sementes de Oxalis
europaea. Como resultado obteve-se 0; 47,6 e 21,9% dessas substâncias, respectivamente.
24
CAPÍTULO I
1
1
Trabalho elaborado segundo as normas da Revista de Biologia Tropical
25
Tricomas glandulares em Connarus suberosus (Connaraceae): distribuição, organização
estrutural e prováveis funções
2
JOÃO DONIZETE DENARDI
3
, DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
4
e ELDER
ANTONIO SOUSA PAIVA
4,5
Título resumido: Tricomas glandulares em Connarus suberosus
2
. Parte da tese de doutorado do primeiro autor, Programa de Pós-graduação em Ciências
Biológicas (Botânica), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Câmpus de
Botucatu.
3
. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universiria de Coxim, Rua
Pereira Gomes, 355, Vila Santa Maria, 79.400-000, Coxim, MS, Brasil.
4
. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica, Avenida Antonio Carlos, 6627, Pampulha, Caixa Postal 486, 31.270-901, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
5
. Autor para correspondência: epaiv[email protected]fmg.br
26
Resumo
Connarus suberosus Planch., Connaraceae típica de cerrado, apresenta inflorescências e
ramos vegetativos jovens densamente revestidos por tricomas dendróides. Como parte do
indumento desta espécie, relata-se, neste estudo, a ocorrência de tricomas glandulares (TGs),
os quais foram analisados quanto à localização, origem e estrutura, por meio de técnicas
usuais de microscopia de luz, microscopia eletrônica de varredura e de transmissão. Os TGs
ocorrem na face abaxial de folíolos, bractéolas e sépalas, assim como na superfície de
pecíolos, ráquis foliares, caules, eixos de inflorescências e frutos, durante os estádios juvenis
destes órgãos. Os TGs consistem de pedúnculo multicelular, unisseriado, cujas células se
mostram fenólicas, e de uma porção glandular multicelular que, na fase secretora, apresenta
acúmulo de compostos pécticos, amido e gotas lipídicas. O acúmulo de óleo na forma de
gotas dispersas no citosol é expressivo, ocupando grande parte do volume celular. As células
secretoras possuem paredes delgadas, citoplasma denso e núcleo volumoso com nucléolo
evidente. No citoplasma destas células predominam mitocôndrias, plastídios e dictiossomos.
Na fase secretora, observa-se hidrólise do amido presente nos plastídios, redução na
densidade do estroma plastidial e fusão de plastídios com vacúolos. Observam-se, ainda,
indícios da conversão de plastídios em vacúolos. Testes histoquímicos indicam presença de
secreção de natureza péctica, tanto no citosol quanto no espo subcuticular, entretanto, em
pequenas quantidades. Nos estádios finais de atividade dos TGs, os quais são caducos,
observou-se escurecimento protoplasmático em algumas células secretoras, o que sugere a
ocorrência de morte celular programada. Em C. suberosus, a ocorrência de TGs nas
superfícies expostas de órgãos em desenvolvimento, associada à natureza química dos
produtos de secreção e reserva, sugere que estas estruturas possam atuar como corpos de
alimentação. Estudos ecológicos são necessários para esclarecer o papel destes tricomas
nestas supostas interações.
Palavras-chave: Cerrado, Connaraceae, corpos de alimentação, secreção, tricoma glandular,
ultra-estrutura celular
27
Introdução
Os tricomas, projeções de natureza exclusivamente epidérmica, apresentam uma
enorme diversidade morfológica tendo, assim, grande valor taxonômico (ver Solereder, 1908).
Segundo Werker (2000), os estudos de ontogênese são importantes para a correta
denominão destas estruturas, sobretudo pela similaridade morfológica observada entre
tricomas e emergências.
Diversos autores separam os tricomas em dois grandes grupos: glandulares e não
glandulares. Para os tricomas não glandulares ou tectores, a distinção entre diferentes tipos é
feita, sobretudo, com base em caracteres morfológicos. Para os tricomas glandulares, a
classificação leva em consideração, dentre outros aspectos, a composição química da
secreção, seu modo de produção, a posição do tricoma no corpo vegetal e aspectos estruturais
e funcionais (Werker 2000). Tricomas glandulares estão envolvidos na ntese de diversos
compostos, tais como óleos, açúcares, sais, enzimas digestivas e outros, desempenhando
importantes papéis na interação planta-ambiente (Fahn 1979).
Os tricomas, tanto na forma isolada quanto em agrupamentos, podem constituir
estruturas secretoras diversas, como nectários, elaióforos e glândulas de sal (Fahn 1979).
Outras estruturas envolvidas nas interações planta-ambiente, tais como coléteres (Renobales
et al. 2001, Paiva e Machado 2006a) e corpos de alimentação ou similares (Rickson e Risch
1984) são, em algumas espécies, caracterizados como tricomas.
Estruturas secretoras podem ocupar várias posições nas diferentes partes do corpo
do vegetal e podem ocorrer em todos os seus órgãos, em alguns destes ou, então, se restringir
a apenas um órgão (Solereder 1908). Por vezes, diferentes estruturas secretoras estão
presentes em diferentes partes de uma mesma planta (Fahn 1979, Metcalfe e Chalk 1979) e
são de grande valor taxonômico, como ocorre com os tricomas glandulares (Solereder 1908).
No Brasil, considerado o centro de diversificação de Connaraceae nos
Neotrópicos, cerca de 64 espécies da família, sendo 30 pertencentes a Connarus (Forero
1983, Forero e Costa 2002). Segundo Ratter et al. (2001), Connarus suberosus Planch. é uma
das espécies mais freqüentes da flora lenhosa de cerrado senso lato, ocorrendo em 75% dos
levantamentos florísticos que os autores realizaram em dez estados brasileiros. Forero (1983)
relatou que C. suberosus apresenta caracteres comumente encontrados em plantas de cerrado,
como a casca espessa e suberosa, ramos tortuosos e pilosidade densa. De acordo com o autor,
ramos vegetativos jovens, inflorescências e frutos em estádios iniciais de desenvolvimento
mostram indumento ferrugíneo-tomentoso, denso, e tricomas glandulares que podem estar
presentes em pétalas, estames e estilete.
28
No presente estudo, são descritos a localizão, desenvolvimento, estrutura e
aspectos ultra-estruturais e histoquímicos dos tricomas glandulares em C. suberosus,
buscando dados que possam auxiliar na compreensão da função destas estruturas.
Material e métodos
Coleta de material para estudos morfológicos
As coletas foram realizadas em indivíduos adultos de Connarus suberosus Planch.
ocorrentes na região de Botucatu, São Paulo (22º 53’ 11,4”S, 48º 26’ 07,8”W), em diferentes
fases fenológicas. Foram coletados ápices vegetativos e reprodutivos, folhas e frutos em
diferentes etapas de desenvolvimento, botões florais e flores em antese. As amostras foram
estudadas ao microscópio estereoscópico para caracterização dos padrões de distribuição e
ocorrência.
Microscopia de luz
Para ontogênese e caracterização anatômica, foram coletadas amostras de ápices
caulinares e folhas em diferentes fases de desenvolvimento. O material foi fixado em solução
de Karnovsky (Karnovsky 1965) por 24 horas, transferido para álcool etílico 70% (Jensen
1962), desidratado em série etílica (Johansen 1940) e submetido a pré-infiltração e infiltração
em metacrilato (Leica®), segundo métodos usuais. Cortes transversais e longitudinais (5 µm)
foram obtidos em micrótomo rotativo, montados em lâmina e corados com azul de toluidina
0,05% pH 4,7 (O’Brien et al. 1964).
Testes histoquímicos
Foram utilizados material fixado e a fresco. Para a caracterização histoquímica,
foram empregados os seguintes testes, com os respectivos controles: Sudan black B para
lipídios em geral (Pearse 1980); lugol para identificação de amido (Johansen 1940); solução
aquosa de vermelho de rutênio a 0,02% para detecção de substâncias pécticas (Jensen 1962).
Microscopia eletrônica de transmissão
Amostras foram fixadas em mistura de Karnovsky (Karnovsky 1965) por 24
horas, s-fixadas em tetróxido de ósmio (1%, tampão fosfato 0,1 M, pH 7,2) e processadas
segundo métodos usuais (Roland 1978). As secções ultra-finas foram contrastadas com
acetato de uranila e citrato de chumbo e examinadas em microscópio de transmissão Philips
CM 100 a 60 KV.
29
Microscopia eletrônica de varredura
Amostras foram fixadas em glutaraldeído 2,5% (tampão fosfato 0,1 M, pH 7,2),
desidratadas em série etílica, submetidas à desidratação em ponto crítico com CO
2
e
metalizadas com camada de 10nm de ouro (Robards 1978). As amostras foram examinadas
em microscópio eletrônico de varredura Quanta 200 (Fei Company), sendo as imagens obtidas
digitalmente.
Resultados
Distribuição e ontogênese
As folhas de Connarus suberosus são compostas e, quando jovens, apresentam
folíolos conduplicados. Os tricomas glandulares (TGs) ocorrem na face abaxial de folíolos,
bracolas e sépalas, assim como na superfície de caules, eixos de inflorescências e frutos,
durante os estádios juvenis destes óros. Folhas jovens apresentam numerosos TGs na face
abaxial de folíolos, especialmente na região ao longo da nervura mediana; essas estruturas
secretoras também ocorrem, embora em menor número, na superfície do pecíolo e da ráquis,
principalmente na face abaxial. Em caules jovens e eixos de inflorescências, a presença de
TGs parece ser ocasional. Freqüentemente, os TGs encontram-se ocultos em meio a tricomas
dendróides (fig. 1A-C), que conferem ao indumento o aspecto ferrugíneo-tomentoso.
O desenvolvimento do tricoma glandular inicia-se com a expansão distal de uma
célula epidérmica, produzindo uma saliência globosa na superfície do órgão. Como resultado
da divisão periclinal da célula inicial, delimita-se a lula basal do TG e uma célula apical
(fig. 2A). A célula basal, de formato afunilado, completa seu processo de diferenciação nesta
fase. Da divisão periclinal da lula apical, forma-se, no sentido proximal, a célula inicial do
pedúnculo, mantendo-se no ápice a inicial da porção secretora (fig. 2B). Da célula inicial do
pedúnculo formam-se, por sucessivas divisões periclinais, o pedúnculo multicelular e
unisseriado (fig. 2C). Neste estádio, a célula inicial da porção secretora permanece em
interfase, reiniciando as divisões após a formação de pedúnculo. Desta célula, por divisões em
planos diversos, resulta uma porção apical, secretora, multicelular (fig. 2D-F).
Aspectos estruturais e histoquímicos
As células do pedúnculo são curtas, de formato cilíndrico (fig. 2D-F); a parede
anticlinal é cuticulada e impregnada por substâncias de natureza lipídica. Nos TGs maduros,
as células do pedúnculo são vacuoladas, ficando o restante do citoplasma restrito a uma
estreita faixa comprimida junto à parede celular. Não há, nestas células, acúmulo de
30
compostos de reserva e o vacúolo encerra grande quantidade de compostos de natureza
fenólica.
As células secretoras estão dispostas de modo compacto e apresentam paredes
delgadas, citoplasma denso e núcleo volumoso com nucléolo evidente (fig. 2E-F). Durante a
fase secretora, observou-se, no citoplasma destas células, a presença de compostos cticos,
amido e gotas lipídicas. Nas etapas finais de desenvolvimento dos TGs, observou-se aumento
do vacuoma e escurecimento protoplasmático de algumas células secretoras, o qual evolui
para as células vizinhas, culminando no encerramento da atividade secretora e na morte dos
TGs, os quais são caducos.
O acúmulo de óleo nas células secretoras é expressivo em TGs maduros,
ocorrendo na forma de gotas dispersas no citosol e ocupando grande parte do volume celular.
Testes histoquímicos indicam presença de secreção de natureza péctica, tanto no citosol
quanto no espaço subcuticular, entretanto, em pequenas quantidades. Nas observações em
campo e laboratório, não foram encontrados sinais de extravasamento da secreção.
Ultra-estrutura e secreção
As células secretoras apresentam-se justapostas, com citoplasma denso, núcleo
volumoso e nucléolo conspícuo (fig. 3A-B). No citoplasma de células secretoras ativas,
observam-se mitocôndrias, dictiossomos, plastídios e ribossomos, tanto livres quanto
associados a segmentos de retículo endoplasmático. As mitocôndrias possuem cristas bem
desenvolvidas e, algumas vezes, encontram-se justapostas a plastídios (fig. 3C-D). O retículo
endoplasmático aparece em estreita associação com os plastídios e, também, localizado muito
próximo à membrana plasmática (fig. 3C).
Os plastídios, de formas variadas, apresentam sistema de membranas inconspícuo,
estroma elétron-lucente e grãos de amido. Nos TGs maduros há evidências de hidrólise do
amido, quando o estroma torna-se mais elétron-denso e floculado (fig. 3C). A ocorrência de
fusões de plastídios com vacúolos foi observada em células secretoras (fig. 3E).
Observam-se indícios de ruptura da membrana interna dos plastídios, associada à
redução da densidade do estroma e hidrólise dos grãos de amido. Os vacúolos, de tamanho
similar ao dos plastídios, apresentam conteúdo amorfo que se assemelha ao estroma plastidial
(fig. 3C).
Os dictiossomos constituem-se de quatro a sete cisternas, cujas porções periféricas
liberam vesículas pequenas, pouco densas, que se dispersam na matriz citoplasmática. Outros
aspectos ultra-estruturais que se destacam referem-se à presença de corpos lipídicos no
31
citoplasma, ao vacuoma pouco volumoso, ao espaço periplasmático bem desenvolvido e ao
desprendimento de trechos da cutícula, originando pequenos espaços subcuticulares (fig. 3B).
Ainda nas células secretoras, observa-se a presença de corpos vesiculares e indícios de
secreção no espo periplasmático.
Em muitos TGs, ao final do estágio secretor, as células exibem citoplasma denso e
escuro, aumento da quantidade de retículo endoplasmático rugoso e dictiossomos ativos (fig.
3F-G). Nestas células os vacúolos apresentam inclusões membranares.
Discussão
Em Connarus suberosus, o indumento denso formado pelos tricomas dendróides
parece constituir uma vantagem adaptativa, exercendo proteção contra a dessecação, função
normalmente atribuída a este tipo de indumento (Fahn e Cutler 1992). Para órgãos em
desenvolvimento, ainda não fotossintetizantes, o transporte de água pelo xilema não é
eficiente (Nobel et al. 1994), o que os torna particularmente vulneráveis à dessecação. No
caso de C. suberosus, esta vulnerabilidade é ainda mais relevante, uma vez que a espécie é
típica de ambientes de cerrado, onde o clima é sazonal, com períodos de baixa umidade
relativa, temperatura elevada e alta luminosidade (Franco 2002), o que parece favorecer a
seleção de defesas estruturais contra a dessecação.
Estudos prévios sobre Connaraceae demonstraram a ocorrência de tricomas
glandulares (TGs) em Pseudoconnarus (Schellenberg 1938), Connarus, Rourea (Forero 1983,
Jongkind 1989), Manotes (Dickison 1973, Jongkind 1989), Cnestis e Jollydora (Jongkind
1989). Apesar destes relatos, pouco se sabe a respeito da organização estrutural destes
tricomas, sendo que aspectos ultra-estruturais, a biologia da secreção, composição química da
secreção e possíveis envolvimentos em interações planta-ambiente são absolutamente
desconhecidos.
A presença de compostos de natureza lipídica na parede anticlinal das células do
pedúnculo, como observado nos TGs de C. suberosus, é característica de tricomas envolvidos
em processos secretores (ver Fahn 1979); além de atuar impedindo o refluxo de secreção,
indica que os precursores da secreção o chegam até as células secretoras pela rota
apoplástica. Considerando-se os aspectos estruturais e histoquímicos das células do pedúnculo
e a hidrólise do amido observada nas células secretoras, é possível inferir que o amido
constitui uma fonte de energia para a secreção, tal como observado em outras estruturas
32
secretoras, onde o amido é a forma predominante de reserva energética (Fahn 1979, Paiva &
Machado 2008).
A grande quantidade de mitocôndrias, como se observou no TG de C. suberosus,
é uma característica marcante de lulas secretoras (Fahn 1988), estando relacionada a
atividade metabólica intensa (Horner e Lersten 1968, Mohan e Inamdar 1986). Segundo Paiva
e Machado (2008), a justaposição de mitocôndrias e amiloplastos pode evidenciar o
requerimento de energia durante a hidrólise do amido. Na espécie aqui estudada, este processo
parece fornecer precursores para a síntese de polissacarídeos, que ocorre nos dictiossomos
(Andreeva et al. 1998). As vesículas que se desprendem dessas organelas, possivelmente,
realizam o transporte dos produtos de secreção aa membrana plasmática; no entanto, os
espaços periplasmático e subcuticular não apresentaram acúmulo desses materiais.
A observação da fusão de plastídios com vacúolos, verificada nas lulas
secretoras dos TGs, e a similaridade entre o conteúdo vacuolar e o estroma plastidial, sugere a
ocorrência de conversão de plastídios em vacúolos, como reportado para outros tipos de
células secretoras (Paiva e Machado 2008). Pode-se inferir que este processo culmina na
ampliação do vacuoma, outro fato marcante em diversos tipos de células secretoras (Fahn
1979). Deve-se ressaltar que esta conversão de plastídios é observada nos estágios finais de
atividade celular e parece constituir-se num dos primeiros sinais de morte celular programada
(MCP) que verificamos ocorrer nestas células.
Também o escurecimento protoplasmático, observado em algumas células
secretoras dos TGs, parece constituir evidência de MCP, conforme descreveram Mohan e
Inamdar (1986), Zer e Fahn (1992) e Paiva e Machado (2006a).
A morte celular observada nas células secretoras do TG não pode ser interpretada
como apoptose, uma vez que características marcantes deste processo tais como vesiculações
na carioteca e presença de corpos apoptóticos não foram observadas. Por outro lado, segundo
Greenberg (1996), muitas das características da apoptose estão ausentes nas células vegetais
que sofrem MCP. A co-existência de células em diferentes estádios de morte celular com
células íntegras e de aspecto saudável reduz as possibilidades destas observações serem
decorrentes de artefatos de técnica ou problemas de fixação e demonstra ser um processo
normal no desenvolvimento destes TGs. A ocorrência de MCP em tricomas foi reportada por
Paiva e Machado (2006a) em coléteres de Hymenaea stigonocarpa (Fabaceae).
Os folíolos jovens de C. suberosus, ainda não expandidos, apresentam limbo
conduplicado, deixando apenas a face abaxial exposta, o que parece explicar o padrão de
distribuão de tricomas glandulares. Similarmente, bractéolas e palas, que constituem o
33
invólucro protetor de botões florais em diferentes estádios da ontogênese, apresentam a face
abaxial exposta. Assim, a localização dos TGs nesta espécie parece corroborar a interpretação
da função de proteção de órgãos em desenvolvimento (Mueller 1985, Thomas 1991), visto
que ocorrem em superfícies expostas ao ambiente, as quais são revestidas também por
tricomas tectores dendróides. Algumas das funções atribuídas a tricomas tectores e
glandulares relacionam-se à regulação da temperatura, ao aumento da reflexão luminosa e à
redução da transpiração (Wagner et al. 2004). O fato destes TGs ocorrerem apenas na fase
juvenil dos órgãos, os tornam similares a coléteres, de acordo com os conceitos adotados por
Thomas (1991).
Segundo Thomas (1991), o termo coléter é empregado para designar estruturas
secretoras de origem mista, ou seja, formadas com a participação tanto da protoderme quanto
do meristema fundamental. Renobales et al. (2001) consideraram que os tricomas de
Gentiana podem ser interpretados funcionalmente como coteres, pois embora se
desenvolvam exclusivamente da camada dérmica, sua secreção é mucilaginosa. Há, na
literatura, relatos da ocorrência de coteres de origem exclusivamente protodérmica
(Renobales et al. 2001, Paiva e Machado 2006a).
Os TGs presentes nos órgãos aéreos de C. suberosus, embora mostrem grande
similaridade estrutural com coléteres e apresentem compostos pécticos e lipídicos comumente
reportados nestas estruturas secretoras (Mohan e Inamdar 1986, Thomas e Dave 1989,
Appezzato-da-Glória e Estelita 2000, Klein et al. 2004), não reúnem todos os atributos para
serem considerados com tal, uma vez que não foi observado o extravasamento de secreção. A
liberação, pelo coléter, de secreção péctica ou resinosa é fundamental para que ocorra a
proteção contra dessecação e a lubrificação de órgãos em desenvolvimento. Fica, ainda, a
possibilidade de se tratar de estrutura com perda de função ou, do ponto de vista oposto, de
estrutura com processo evolutivo em curso; tendo por base esses aspectos, os TGs de C.
suberosus poderiam ser considerados coléteres não funcionais. Estudos adicionais e
prospecção de estruturas similares em Connaraceae são importantes para ajudar a elucidar
estas hipóteses.
Em C. suberosus, a ocorrência dos TGs restrita à fase juvenil dos órgãos,
associada à quantidade e natureza química dos compostos de reserva, constitui evidência de
que estas estruturas atuam na proteção dos órgãos em desenvolvimento, função atribuída a
corpos de alimentação em diversas espécies vegetais (O’Dowd 1980). A presença de reserva
predominantemente lipídica é reportada para corpos de alimentação (O’Dowd 1980), embora
34
outros compostos ricos em energia ou proteína sejam oferecidos nestas estruturas (O’Dowd
1982).
A quantidade de óleo acumulado nos TGs de C. suberosus faz destas estruturas
recursos alimentares interessantes. Assim, é possível que estes TGs atuem como mediadores
de interações entre a planta e formigas, as quais exercem proteção contra herbivoria, como
observado em diversas espécies vegetais portadoras de corpos de alimentação (Rickson 1980,
Heil et al. 1998). Sabe-se que corpos de alimentação atuam na manutenção de relação
mutualística entre planta e formigas, as quais beneficiam a planta por oferecerem proteção
contra herbívoros (O’Dowd 1980, 1982).
A restrição temporal de oferta dos TGs de C. suberosus, os quais são limitados à
fase juvenil dos órgãos, é característica de outras estruturas envolvidas em interações com
formigas que oferecem proteção, como em nectários extraflorais (Paiva e Machado 2006b),
além de corpos de alimentação. No caso dos nectários extraflorais, os órgãos jovens são
protegidos por formigas nos estágios de maior vulnerabilidade à herbivoria, quando as defesas
químicas e estruturais ainda não estão plenamente desenvolvidas (Paiva e Machado 2006b).
Diante destas considerações, observações em campo e estudos das interações
planta-ambiente, bem como a análise química dos compostos de reserva são imprescindíveis
para elucidar o possível envolvimento dos TGs, presentes em C. suberosus, como recompensa
alimentar.
Agradecimentos – A Luciano C. Milhomens, por realizar a identificação da espécie, e à
FAPESP (Programa BIOTA, proc. n
o
00/12469-3), pelo apoio financeiro. João D. Denardi
agradece à CAPES pela concessão da bolsa PICDT e D.M.T. Oliveira ao CNPq, pela bolsa de
produtividade em pesquisa.
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38
Ilustrações
39
Figura 1. Limbo de Connarus suberosus observado ao microscópio eletrônico de varredura,
destacando tricomas glandulares (TGs). A. Face abaxial do limbo foliolar, mostrando TGs
(seta) em meio a tricomas tectores dendróides. B. Detalhe de TG jovem; notar aspecto laxo da
cutícula, sugerindo formação de espaços subcuticulares. C. TG maduro, com porção secretora
em forma de clava.
40
Figura 2. Desenvolvimento e estrutura dos tricomas glandulares (TGs) em Connarus
suberosus. A. Estágio inicial de desenvolvimento, mostrando célula basal vacuolada e célula
apical densamente citoplasmática (seta). B. Primeira divisão da célula apical, dando origem à
célula inicial do pedúnculo e célula inicial da porção secretora (seta). C. Formação do
pedúnculo; notar célula apical única, sem indícios de divisão. D-E. Estágio de divisões para
formação da porção secretora. F. TG maduro, com células secretoras distintas daquelas do
pedúnculo. (ca – célula apical, pe – pedúnculo).
41
Figura 3. Organização ultra-estrutural das células secretoras dos tricomas glandulares (TGs)
de Connarus suberosus. A. Aspecto geral da porção secretora do TG; notar células de
citoplasma denso e núcleo volumoso (setas indicam células com escurecimento de
protoplasto, ao lado de outras sem esta característica). B. Detalhe de célula periférica; notar a
presença de cutícula e formação de espaço subcuticular (setas). C. Detalhe do citoplasma,
mostrando plastídio com resíduo de grão de amido; neste estádio, a membrana interna mostra
sinais de descontinuidade. D. Região citoplasmática, mostrando elevado número de
dictiossomos. E. Detalhe de célula, mostrando fusão de plastídio com vacúolo (setas). F-G.
lulas com protoplasto escurecido, ao lado de lulas sem esta característica; em F, as setas
indicam grãos de amido, associados a plastídios indistintos. (am amido; di dictiossomo;
mi – mitocôndria; nu – núcleo; pl – plastídio; re – retículo endoplasmático; va – vacúolo).
CAPÍTULO II
1
1
Trabalho elaborado segundo as normas de Plant Systematics and Evolution
43
1
Existem variedades de Connarus suberosus? Evidências morfoanatômicas da heterostilia
e dioicia
2
JOÃO DONIZETE DENARDI
3
, DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
4,5
e SHEILA
ZAMBELLO DE PINHO
6
1
2
. Parte da tese de doutorado do primeiro autor, Programa de Pós-graduação em Ciências
Biológicas (Botânica), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Câmpus de
Botucatu.
3
. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universiria de Coxim, Rua
Pereira Gomes, 355, Vila Santa Maria, 79.400-000, Coxim, MS, Brasil.
4
. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica, Avenida Antonio Carlos, 6627, Pampulha, Caixa Postal 486, 31.270-901, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
5
. Autor para correspondência: dmtol[email protected]fmg.br
6
. Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu, Instituto de Biociências,
Departamento de Bioestatística, Distrito de Rubião Jr., s/n, Caixa Postal 510, 18.618-000,
Botucatu, SP, Brasil.
44
Resumo
Connarus suberosus Planch. é uma espécie típica do cerrado, cuja morfologia
floral tem propiciado diferentes interpretações taxonômicas. Desta forma, investigou-se a
morfoanatomia floral, visando, principalmente, a analisar a variabilidade estrutural em função
dos tratamentos taxonômicos conferidos à espécie e identificar tendências morfológicas
associadas à heterostilia e à dioicia. Do ponto de vista estrutural, C. suberosus possui
heterostilia dimórfica, caracterizada pelas formas brevi- e longistila, as quais se mostraram
funcionalmente masculina e feminina, respectivamente. Alguns caracteres morfológicos
peculiares a cada forma floral, provavelmente estão associados à evolução da dioicia, como
dimenes de sépalas e talas e distribuição de tricomas glandulares, que possivelmente
atuam na atração de polinizadores. Nesta análise, provou-se que esses caracteres, aliados às
diferenças de tamanho dos verticilos de estames das formas florais, foram utilizados
equivocadamente na delimitação das duas variedades, C. suberosus var. fulvus e C. suberosus
var. suberosus, que correspondem às formas brevistila e longistila, respectivamente. Entre as
duas populações estudadas, ocorre certa variabilidade fenotípica intra-formas florais, relativa
às dimensões das partes florais; independentemente da forma floral, foram constatadas
variações no número de sépalas, pétalas e estames e uma tendência à restrição do tecido
nectarífero aos setores antepétalos do tubo estaminal. A ocorrência de cavidades secretoras
nas pétalas também não se correlacionou às formas florais, mas parece ter sido influenciada
pela localidade.
Palavras chave: anatomia, Connarus, Connaraceae, dioicia, fragrância floral, heterostilia,
nectário, tricoma.
Introdução
Connarus suberosus Planch. é uma Connaraceae arbórea de pequeno porte, que se
desenvolve exclusivamente em áreas de cerrado de oito Estados brasileiros (Forero 1983,
Forero e Costa 2002). Em 170 levantamentos florísticos rápidos da flora lenhosa de cerrado
senso lato, realizados por Ratter et al. (2001), C. suberosus figura como uma das espécies
mais freqüentes, ocorrendo em 75% das áreas inventariadas.
De acordo com Schellenberg (1938), C. suberosus distingue-se de Connarus
fulvus devido à ausência de tricomas glandulares e pontos glandulares (cavidades secretoras)
nas pétalas. Forero (1983), em sua revisão sobre Connaraceae neotropicais, concluiu que era
45
impossível manter essas espécies como entidades separadas, em virtude da existência de
estados intermediários dos caracteres diagnósticos e de outros, como pilosidade dos filetes,
forma e pubescência dos folíolos, entre outras; no entanto, considerou possível distinguir
certas tendências. Desta forma, procedeu a nova combinação, reconhecendo para C.
suberosus as variedades suberosus e fulvus. Para a identificação das mesmas, o autor propôs
os seguintes caracteres: 1. Connarus suberosus var. suberosus: sépalas 3,5mm; pétalas
4x1,5mm; pontos glandulares ausentes ou inconspícuos; estames maiores 2,5mm, menores
1,5 mm, sem tricomas glandulares nos filetes, tricomas glandulares presentes no ápice do
conectivo e no estilete; 2. Connarus suberosus var. fulvus: sépalas 2,6mm; pétalas 5-
5,5x2mm, pontos glandulares conspícuos; estames maiores 4mm, menores 3mm, com
tricomas glandulares nos filetes, tricomas glandulares ausentes no ápice do conectivo e no
estilete.
Milhomens e Proença (2002), mediante análise de exsicatas determinadas por
Forero, constataram que realmente existem as tendências morfológicas citadas por este autor,
contudo a análise de gráficos de dispersão produzidos a partir dos caracteres diagnósticos não
permitiu validar a divisão em variedades; assim sendo, recomendaram que a variedade fulvus
fosse sinonimizada à variedade típica.
Forero (1983) e outros autores, como Schellenberg (1938) e Leenhouts (1958),
que empreenderam importantes estudos taxonômicos sobre Connaraceae, dedicaram pouca
atenção à ocorrência de heterostilia na família. Esse tema é tratado minuciosamente por
Lemmens (1989), que identificou oito tipos de heterostilia em Connaraceae, baseado na
análise de espécies africanas principalmente. Em Connarus, verificou-se a ocorrência de dois
tipos de heterostilia dimórfica, ambos apresentando as formas medistila e longistila; contudo,
o autor ressaltou que, nas espécies americanas deste gênero, a forma brevistila ainda está
presente. Lemmens (1989) também mencionou que, nas espécies americanas de Connarus,
parece ocorrer uma tendência em direção à dioicia.
Considerando que: 1) há poucos trabalhos sobre a morfologia floral de
Connaraceae, os quais foram conduzidos por Baker (1962), Dickison (1971), Lemmens
(1989), Matthews e Endress (2002); 2) em C. suberosus, a variação morfológica proveniente
da heterostilia não é conhecida; 3) observações das flores de C. suberosus, realizadas no
início desta investigação, apontaram possíveis incongruências nos tratamentos taxonômicos
conferidos à espécie, além de haver indícios de dioicia funcional; os objetivos deste trabalho
consistiram em descrever a morfoanatomia floral de C. suberosus, analisar a variabilidade
46
estrutural em função dos tratamentos taxonômicos propostos por Forero (1983) e Milhomens
e Proença (2002) e identificar tendências morfológicas associadas à evolução da dioicia.
Material e métodos
As coletas de material botânico e o acompanhamento do período reprodutivo
foram realizados entre 2004 e 2006, em vinte espécimes de C. suberosus Planch. da Fazenda
Palmeira da Serra, Município de Pratânia, Estado de São Paulo, Brasil (P1) e de doze
indivíduos localizados à margem da rodovia municipal (Estrada do Roberto) que liga a área
urbana do Distrito de Vitoriana ao Rio Bonito Campo e utica, Município de Botucatu,
Estado de São Paulo, Brasil (P2). Ramos férteis herborizados foram incorporados à coleção
do Herbário “Irina Delanova Gemtchujnicov” (BOTU), do Departamento de Botânica,
Instituto de Biociências da UNESP, Câmpus de Botucatu, sob o número 24.415.
Para a realização do estudo anamico, foram preparadas lâminas permanentes de
botões florais em diversos estádios de desenvolvimento e flores em antese, a partir de
amostras de ambas as formas florais fixadas em FAA 50 (Johansen 1940) e preservadas em
etanol 70% (Jensen 1962), as quais foram submetidas à desidratação em série etanólica,
incluídas em metacrilato Leica, conforme o protocolo do fabricante, e seccionadas
transversal e longitudinalmente no micrótomo rotativo com aproximadamente 8µm de
espessura. As séries obtidas foram coradas com azul de toluidina 0,05%, pH 4,7 (O’Brien et
al. 1964) e montadas em resina sintética. Os resultados da análise do laminário foram
registrados digitalmente por meio de câmera Olympus C7070WZ acoplada a microscópio de
luz Olympus BX41.
Testes qualitativos foram empregados para detecção de polissacarídeos ácidos,
lipídios totais, amido e compostos fenólicos (Johansen 1940), mediante tratamento de secções
semi-finas com vermelho de rutênio, Sudan IV, lugol e cloreto rrico, respectivamente. Os
sítios de emissão de fragrâncias florais foram localizados pela exposição de flores intactas ao
vermelho neutro (Pridgeon e Stern 1983).
Para microscopia eletrônica de varredura, flores em antese de ambas as formas
florais foram preparadas conforme os procedimentos descritos por Robards (1978), os quais
consistem na fixação da amostra em glutaraldeído 2,5%, pós-fixação em tetróxido de ósmio
1%, desidratação em série etanólica, secagem em ponto crítico usando CO
2
e na metalização
com camada de ouro. As observações foram realizadas em microscópio eletrônico de
varredura Quanta 200 (Fei Company), obtendo-se imagens digitais.
47
Para a análise morfométrica, flores conservadas em etanol 70% foram dissecadas
sob estereomicroscópio, em meio contendo a mesma solução; as medidas das partes florais
foram tomadas indiretamente, com auxílio de câmara clara e régua milimetrada, e calculadas
mediante aplicação de regra de três. Para quantificar o número e as dimensões de sépalas e
pétalas, foram amostradas oito flores de cada uma de três plantas de cada forma floral,
selecionadas ao acaso de P1 e P2 (n = 24 flores/forma/localidade). O comprimento de estames
e gineceu foi mensurado em cinco flores retiradas de cada uma de seis plantas de cada forma
floral de P1 e de três plantas de cada forma floral de P2. Considerando que apenas os dados
relativos a flores com dez estames foram utilizados para análise estatística, n equivale a 19
flores brevistilas e a 22 longistilas para P1, enquanto n corresponde a 13 flores brevistilas e a
12 longistilas para P2. O teste t de Student foi usado para comparar as dimensões de sépalas,
pétalas, estames e gineceu entre as formas florais de uma mesma localidade (comparações
inter-formas florais) e entre plantas de uma mesma forma floral de localidades distintas
(comparações intra-formas florais). Aplicou-se, também, o referido teste nos seguintes casos:
para confirmar a ocorrência de heterostilia, mediante a comparação entre os verticilos de
estames curtos e longos e entre estes e o gineceu, em cada forma floral; para avaliar a
reciprocidade entre as posições dos estigmas e um dos conjuntos de anteras, entre formas
florais opostas de uma mesma localidade. As variações observadas no número de peças florais
foram expressas em porcentagem, independentemente da forma floral e da localidade. As
variações de caracteres qualitativos, como cavidades secretoras, foram tratadas
percentualmente considerando sua presença ou auncia em cada forma floral de P1 e P2.
Resultados
Connarus suberosus apresenta heterostilia dimórfica, caracterizada pelas formas
brevi- e longistila (Figs. 1-4), cujas flores, em geral, consistem de cinco sépalas, cinco pétalas
e dez estames dispostos em dois verticilos; o gineceu, invariavelmente, é unicarpelar e
unilocular. Em ambas as formas florais, o número de elementos do cálice e da corola varia de
quatro a seis. Determinou-se que 15, 73 e 12% das flores possuem, respectivamente, quatro,
cinco e seis sépalas, enquanto que 9, 90 e 1% delas apresentam quatro, cinco e seis pétalas,
respectivamente. No androceu de ambas as formas florais, as alterações numéricas referem-se
à supressão de um a quatro estames em cerca de 27% das amostras; no entanto,
eventualmente, observaram-se flores com onze ou doze estames. É relativamente freqüente, a
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ocorrência de um a dois estaminódios, a qual independe do número de estames que compõem
o androceu.
Análise anatômica
No início do desenvolvimento, cada botão floral exibe uma bractéola decídua, que
confere proteção aos órgãos internos; nos estádios seguintes, o cálice, que tem prefloração
imbricada (Figs. 5-6), desempenha essa função. Na epiderme da face abaxial das sépalas,
ocorrem estômatos (Fig. 7) e um revestimento ferrugíneo de tricomas dendróides (Figs. 5-6)
que apresentam conteúdo fenólico e paredes septais comumente lignificadas e pontoadas; em
botões florais, observam-se ainda tricomas glandulares, constituídos por pedúnculo
multicelular, unisseriado e cabeça multicelular, que produzem mucilagem e lipídios. Essas
estruturas secretoras, com certa freqüência, também são observadas na superfície abaxial de
brácteas. As células epidérmicas comuns o cuides e fenólicas na face abaxial, enquanto
que, adaxialmente, mostraram-se alongadas no sentido longitudinal e, muitas vezes,
destituídas de substâncias fenólicas ao longo da região mediana da sépala (Fig. 7).
O mesofilo é parenquimático, com espaços evidentes e substâncias fenólicas
acumulando-se principalmente nos estratos adjacentes à face abaxial da epiderme; o sistema
vascular consiste de feixes colaterais envoltos por bainha parenquimática pouco diferenciada
(Fig. 7). No mesofilo das sépalas de ambas as formas florais podem ocorrer cavidades
secretoras delimitadas por uma camada de células epiteliais. Tanto o conteúdo quanto o
epitélio dessa estrutura secretora produzem reação positiva para lipídios. Em material fresco e
sob estereomicroscópio, essas cavidades são visualizadas como pontos glandulares vermelhos
dispersos na superfície de sépalas e também de pétalas. A análise anatômica revelou que elas
podem ser formadas nos demais órgãos florais (Fig. 10), inclusive em bractéolas, ginóforo,
receptáculo e pedicelo.
A corola, que é amarelo-esverdeada, possui prefloração aberta (Fig. 6). Na região
basal das pétalas de ambas as formas florais, as margens apresentam lulas epidérmicas e
fundamentais com núcleo proeminente e citoplasma denso, isentas dos depósitos fenólicos,
que ocorrem nas demais células comuns da epiderme e são usuais no mesofilo (Fig. 8). Na
face abaxial, a epiderme é estomatífera. O mesofilo é parenquimático e lacunoso ao longo da
maior parte da pétala, exceto na região basal, onde os espaços intercelulares são menos
evidentes; o sistema vascular consiste de feixes colaterais envoltos por bainha parenquimática
pouco evidente (Figs. 9-10). Sob estereomicroscópio, as cavidades secretoras presentes no
mesofilo das pétalas mostram-se mais conspícuas que as das sépalas.
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As flores brevistilas apresentam tricomas glandulares, multicelulares e
unisseriados ao longo das margens das pétalas, nos filetes, nas anteras e, freqüentemente, no
estilete (Figs. 11-16). Nas flores longistilas, eles sempre ocorrem no estilete; as pétalas e os
filetes são desprovidos desses tricomas que, eventualmente, podem ser vistos nas anteras. Os
tricomas glandulares de qualquer um desses órgãos coram-se intensamente quando expostos
ao vermelho neutro, o que também ocorre com grãos de pólen e estigmas.
Os estames são conatos congenitamente na base (Fig. 20) e arranjados em dois
verticilos (Figs. 12, 17). O verticilo externo consiste de estames antessépalos, que o mais
longos e espessos que os antepétalos (Fig. 17); no tubo estaminal, entretanto, os setores
antepétalos são os mais largos (Fig. 21). A base do tubo estaminal apresenta-se adnata ao
ginóforo, às pétalas e às sépalas; a porção externa da parede é nectarífera e se constitui de
epiderme fenólica e de células fundamentais com núcleo volumoso e citoplasma denso,
permeadas por células fenólicas e cavidades secretoras (Figs. 20-22). Na região nectarífera
ocorrem estômatos, mas não terminações vasculares; o parênquima subjacente a ela
contém cavidades secretoras e muitas lulas fenólicas, principalmente no entorno dos feixes
estaminais (Figs. 20-21), que são anficrivais. A epiderme interna do tubo compõe-se de
células fenólicas, um pouco mais volumosas que aquelas da epiderme externa (Fig. 21). Na
região distal do tubo, apenas os setores antepétalos mostram-se nectaríferos (Fig. 21); por
outro lado, nos setores antessépalos, os caracteres secretores são suprimidos a diferentes
alturas. Acima das áreas nectaríferas e na porção livre dos filetes, não estômatos; células
fenólicas encontram-se principalmente na epiderme e no entorno do feixe estaminal (Fig. 23).
As anteras são cordadas (Fig. 18), dorsifixas e versáteis; na fase em que
apresentam megasporocitos, os estratos parietais consistem de protoderme, camada precursora
do endotécio, duas camadas médias e camada precursora do tapete; o conectivo exibe um
cordão procambial envolto por várias camadas fenólicas (Fig. 24). Quando se formam as
tétrades de micrósporos, as camadas médias apresentam-se mal definidas e o tapete
diferenciado, os demais estratos pouco se modificam (Fig. 25). Os eventos seguintes da
ontogênese diferem entre as formas florais. Em flores brevistilas, o desenvolvimento do
microgametofito ocorre normalmente e é acompanhado das seguintes modificações na parede
dos microsporângios: diferenciação da epiderme e das células do endotécio, que geralmente
apresentam espessamentos parietais filiformes e lignificados, dispostos reticuladamente;
reabsorção das camadas dias, do tapete (Figs. 26-27) e do septo que isola os dois
microsporângios de cada teca. A antera madura é introrsa; a deiscência das tecas ocorre
longitudinalmente, pela ruptura do estômio (Figs. 14, 27).
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Em flores longistilas, o desenvolvimento do microgametofito é interrompido em
ambos os verticilos, visto que os microsporos são reabsorvidos logo que se separam das
tétrades (Fig. 28). Nos eventos seguintes da diferenciação da parede dos microsporângios, é
notável a persistência do tapete, apesar da progressiva desorganização e colapso dessa
camada, que, na antese, mostra-se parcialmente absorvida (Fig. 29). Outros caracteres da
antera que se destacam, ao final da maturação, referem-se ao espessamento irregular do
endotécio, à diferenciação e persistência das camadas médias (Fig. 29), à dissociação
geralmente parcial do septo entre microsporângios adjacentes e a freqüente indeiscência das
tecas.
O gineceu, que se dise sobre ginóforo curto, é ascidiado na região basal, a qual
equivale a cerca de um quinto do comprimento do ovário; no nível da inserção ovular (Figs.
30-31) ou imediatamente abaixo desta ocorre a transição para a região plicada, onde as duas
camadas epidérmicas coerentes delimitam a região sutural até o ápice do estilete.
Externamente, a sutura é distinguível por uma reentrância (Figs. 30-33) que se prolonga até o
ginóforo, onde é menos evidente.
O indumento do ovário consiste de tricomas dendróides (Figs. 15, 30-33),
similares aos das sépalas, que lhe conferem aspecto ferrugíneo-tomentoso; eventualmente, os
tricomas distribuem-se esparsamente ao longo do estilete, acompanhando os tricomas
glandulares referidos (Figs. 15-17, 19). Além de tricomas, a epiderme externa do gineceu
possui estômatos; as células comuns contêm substâncias fenólicas, que também ocorrem nos
demais tecidos, abrangendo camadas inteiras, como aquelas adjacentes à epiderme externa e a
epiderme interna, ou células dispersas no mesofilo (Figs. 30-35). As células suturais e as
adjacentes da epiderme interna raramente se mostram fenólicas (Fig. 33).
O mesofilo ovariano compreende três regiões (Fig. 34), distintas quanto ao
número de camadas, formato e dimensões das células fundamentais, entre outros aspectos. O
mesofilo externo tem cinco a oito camadas parenquimáticas, onde ocorrem cavidades
secretoras geralmente separadas da epiderme por uma ou duas camadas de células. O mesofilo
médio é vascularizado por um feixe dorsal (Fig. 35), por cordões e faixas procambiais que
percorrem as paredes laterais e, na face ventral, por um par de feixes alas, por diversos feixes
marginais secundários e pelo complexo ovular que emite os traços que suprem os óvulos (Fig.
31). Acima da placenta, feixes marginais secundários e alas constituem os complexos
vasculares ventrais (Fig. 33). O mesofilo interno possui um número menor de camadas,
comparado a outras regiões do mesofilo, e não se estende até a linha de fusão carpelar (Figs
51
32-. 33). Ao longo da região dorsal, geralmente o é possível diferençar as camadas internas
do mesofilo médio daquelas do mesofilo interno.
A epiderme interna do ovário é formada por uma camada de células menos
volumosas que aquelas da epiderme externa (Fig. 34), algumas dispostas transversal e outras
longitudinalmente.
No estilete, o mesofilo é relativamente homogêneo, apresentando cavidades
secretoras, que se distribuem aleatoriamente; a vascularização compreende apenas o feixe
dorsal e os dois complexos ventrais. O estilete não mostra tecido de transmissão,
reconhecendo-se o canal estilar delimitado por epiderme (Figs. 36-37). As flores brevistilas
aparentemente apresentam tendência à redução do estilete, pois em vários espécimes ele se
mostra vestigial. Os estigmas diferem entre as formas florais quanto às dimensões e à forma.
As flores brevistilas têm estigmas puntiformes (Fig. 15), menores que aqueles das flores
longistilas, que são fendidos e volumosos (Fig. 17).
No ovário das flores longistilas, dois óvulos colaterais, bitegumentados (Figs.
30, 32, 35) e hemítropos, arranjados em placentação sutural. Freqüentemente, os óvulos
diferem quanto às dimensões (Figs. 30, 32) e, eventualmente, um deles mostra-se abortado.
As flores brevistilas, em geral, não apresentam óvulos, tendo em vista que o
desenvolvimento destes é inibido anteriormente ao surgimento dos primórdios de tegumento.
Desta forma, na antese, o lóculo ovariano abriga apenas duas emergências da placenta, que
recebem suprimento vascular (Fig. 38). Do grupo de plantas brevistilas acompanhadas durante
o período reprodutivo, apenas um espécime produziu frutos e sementes; nos demais houve
abscisão das flores algum tempo depois da antese.
Morfometria
O comprimento e a largura das sépalas de flores longistilas variam
significativamente entre as localidades amostradas (p < 0,05), enquanto que as sépalas da
forma brevistila são significativamente mais curtas que aquelas da forma longistila em P2 (p <
0,0001) (Tabela 1).
As dimensões das pétalas das flores brevistilas são significativamente maiores que
aquelas das flores longistilas, quando comparadas as médias de comprimento obtidas das
amostras de P1 (p < 0,0001) ou aquelas relativas à largura, determinadas para as flores de P2
(p < 0,05). Entre as localidades, as pétalas de flores longistilas diferem quanto a ambos os
parâmetros (p < 0,05) (Tabela 1).
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Cavidades secretoras ocorrem nas pétalas de ambas as formas florais. Em P1, elas
ocorrem em mais de 50% das flores brevi- e longistilas, enquanto, em P2, verifica-se a
situação contrária.
Em P1 e P2, o comprimento dos verticilos de estames apresenta variações intra-
formas florais significativas (p < 0,0001) (Tabela 2). Entre as formas florais, as médias de
estames curtos e longos das flores brevistilas são maiores que as respectivas médias das flores
longistilas (p < 0,0001); as variões entre diferentes verticilos também se mostram
significativas (p < 0,001), exceto na comparação de estames curtos de flores brevistilas e
estames longos de flores longistilas de P2 (p = 0,37) (Tabela 2). Entre as localidades
amostrais, as diferenças intra-formas o significativas (p < 0,0001), menos entre estames
curtos de flores longistilas (p = 0,07) e entre estames curtos e longos de flores brevistilas (p =
0,16) (Tabela 2).
As flores brevi- e longistilas diferem significativamente quanto ao comprimento
do gineceu (p < 0,01), em cada uma das localidades. A comparação intra-forma das médias
das amostras de P1 e P2 revela variação significativa apenas entre flores brevistilas (p <
0,001) (Tabela 2).
Independentemente da localidade, em cada forma floral, o comprimento médio do
gineceu difere estatisticamente daquele de estames curtos (p < 0,0001) e longos (p < 0,0001)
(Tabela 2). Em P1 e P2, as variações inter-formas florais relacionadas às médias de gineceu e
estames de cada verticilo são significativas (p < 0,05), com exceção daquela entre gineceu de
flores brevistilas e estames curtos de flores longistilas, ambas de P2 (p = 0,07) (Tabela 2).
Discussão
O cálice de C. suberosus apresenta prefloração imbricada, que é usual em
Connaraceae (Schellenberg 1938). No entanto, é registrada certa variação no gênero, já que as
espécies de Connarus examinadas por Jongkind (1989) possuem cálice mais ou menos valvar
e, em C. conchocarpus, ele é quincuncial (Matthews e Endress 2002).
A prefloração aberta da corola de C. suberosus é singular na família, cujo padrão
é imbricado (Jongkind 1989). Em Cunoniaceae, que é filogeneticamente afim (APG 2003), a
prefloração aberta foi relacionada às dimensões reduzidas das pétalas (Matthews e Endress
2002); na espécie aqui estudada, atribui-se esse tipo de prefloração à expansão tardia da
corola, que ocorre no início da antese.
Matthews e Endress (2002) o encontraram estômatos nas pétalas de
Connaraceae e das demais Oxalidales analisadas, com exceção de Crinodendron
53
(Elaeocarpaceae). Não obstante, em C. suberosus a epiderme mostra-se estomatífera
abaxialmente, enquanto em Oxalidaceae, família estritamente relacionada a Connaraceae,
registro de estômatos na superfície adaxial da corola de várias espécies de Oxalis (Estelita-
Teixeira 1984).
Os caracteres das margens, observados na região basal das pétalas de C.
suberosus, são similares àqueles de C. conchocarpus, os quais constituem indício de atividade
meristemática ou secretora (Matthews e Endress 2002). Neste trabalho, assume-se que os
mesmos relacionam-se à atividade secretora.
No tubo estaminal, a distribuição do tecido nectarífero de C. suberosus difere das
Connaraceae até agora estudadas. Em C. conchocarpus, que possui apenas cinco estames
antessépalos, as áreas nectaríferas ocupam integralmente os setores antepétalos; em Cnestis
ferruginea, o tecido nectarífero restringe-se às regiões interestaminais do tubo, que é muito
curto (Matthews e Endress 2002). Em C. suberosus, a porção externa do tubo é inteiramente
nectarífera; entretanto, a extensão das áreas nectaríferas dos setores antepétalos é
notavelmente maior que aquela dos setores antessépalos. Desta forma, parece existir uma
tendência que leva à restrição do tecido nectarífero aos setores antepétalos, conforme acontece
em C. conchocarpus e também em várias Oxalidaceae (Kumar 1976, Estelita-Teixiera 1980,
Matthews e Endress 2002).
As anteras das flores brevistilas, cujo desenvolvimento transcorre normalmente,
apresentam endotécio com espessamento reticulado, conforme se observou em Oxalidaceae
(Denardi e Oliveira, neste volume); no entanto, em outras Connaraceae, os espessamentos têm
formato de U como em Leguminosae, Rosaceae e Sapindaceae (Manning e Stirton 1994), que
foram considerados grupos relacionados nas classificações pré-cladísticas (Cronquist 1981).
As flores longistilas possuem anteras estéreis, visto que o desenvolvimento dos
microsporos é interrompido precocemente. De acordo com Frankel e Galun (1977), esta
interrupção na microsporogênese deve-se a uma falha na deposição da primexina sobre os
microsporos. Os autores consideraram a seqüência de eventos da maturação dos microsporos
como um dos estádios da formação do microgametofito mais susceptíveis a processos
abortivos. Nessa fase, os distúrbios que levam à esterilidade masculina foram relacionados à
persistência do tapete. Nas flores longistilas aqui analisadas, am desse desenvolvimento
anormal do tapete, ocorrem diferenciação e persistência das camadas médias e espessamento
irregular do endotécio.
Considerando que pelo menos um dos óvulos das flores longistilas de C.
suberosus é viável, essa forma floral é funcionalmente feminina. As flores brevistilas
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mostram-se funcionalmente masculinas, uma vez que o desenvolvimento dos óvulos é
interrompido precocemente; contudo, em P2, uma das plantas brevistilas coletadas produziu
flores funcionalmente bissexuais. Portanto, nessa localidade, a população de C. suberosus
pode ser classificada como polígama, enquanto aquela de P1 apresenta-se funcionalmente
dióica. Segundo Lemmens (1989), que considera rara a dioicia em Connaraceae, Ellipanthus
beccarii é uma espécie inquestionavelmente dióica, na qual também podem ocorrer flores
bissexuais.
Diferentemente de outros grupos heterostilos, em muitas Connaraceae, os
polimorfismos estigmáticos não se relacionam às formas florais, exceto nas espécies com
flores funcionalmente unissexuais (Lemmens 1989), caso de C. suberosus, cujos estigmas das
formas florais variam nas dimensões e no formato. Nesta espécie, a ocorrência de tricomas
glandulares também está associada à diferenciação de gêneros entre as formas florais, visto
que, invariavelmente, distribuem-se pelas superfícies de estames e carpelo férteis, onde atuam
na emissão de compostos voteis, que, possivelmente, estimulam a visitação desses órgãos,
conforme sugerem Young et al. (1984), Werker (2000) e Effmert et al. (2005). Na corola, tais
tricomas podem sinalizar a existência de recompensa na base das pétalas, que apresenta
características secretoras, e/ou indicar a região nectarífera na face abaxial do tubo estaminal, o
que explicaria a redução da área de tecido nectarífero nos setores antessépalos. No entanto,
essas hipóteses subentendem diferenças na capacidade secretora das formas florais, ainda que
não estabelecidas na população, tendo em vista que as pétalas das flores longistilas são
glabras; além disso, é lógico admitir que a supressão de tricomas glandulares das pétalas dessa
forma floral foi posterior à redução das áreas nectaríferas nos setores antessépalos. Também
não é claro o significado da conservação de tricomas glandulares nos carpelos da maioria das
flores brevistilas, os quais freqüentemente se mostram estéreis.
As difereas relativas à distribuição de tricomas glandulares em C. suberosus
foram interpretadas taxonomicamente por Schellenberg (1938) e, posteriormente, por Forero
(1983), que as utilizou como um dos caracteres diagnósticos na delimitação de C. suberosus
var. suberosus e C. suberosus var. fulvus. No entanto, em sua contribuição para “Flora
fanerogâmica do Estado de São Paulo”, Forero e Costa (2002) desprezaram as variações
referentes à ocorrência de tricomas glandulares no estilete ou no ápice do conectivo da chave
de identificação dessas variedades. Milhomens e Proença (2002) atribuíram à variação
fenotípica ou genotípica certas tendências relacionadas à pilosidade de folíolos e de partes
florais dessas variedades, as quais consideram insuficientes para caracterizar a especialização
de linhagens.
55
As dimensões de palas e pétalas assinaladas por Forero (1983) para a
identificação das variedades indicam que C. suberosus var. suberosus apresenta sépalas
maiores e pétalas menores que a variedade oposta. No presente estudo, essas relações
aplicam-se às flores longistilas e brevistilas, respectivamente, embora esses parâmetros
tenham diferido estatisticamente em localidades distintas. Esses resultados evidenciam que as
variações no tamanho do cálice e da corola, possivelmente, estão associadas à funcionalidade
sexual dessas flores, visto que esses caracteres não se encontram totalmente fixados nas
populações analisadas. A comparação das médias de comprimento das pétalas entre as formas
florais de P1 corrobora observações que indicam que o tamanho da corola das flores
masculinas geralmente é maior que o das femininas (Bell 1985, Delph 1996). As flores
longistilas, por sua vez, tendem a apresentar lice maior, provavelmente, em função de sua
persistência no fruto, conferindo-lhe proteção no início do desenvolvimento.
A ocorrência de cavidades secretoras nas pétalas não se correlacionou às formas
florais, mas parece ter sido influenciada pela localidade. Milhomens e Proença (2002)
relataram que, em 80% das exsicatas de C. suberosus var. fulvus, as três flores examinadas
por exsicata apresentavam pétalas com cavidades secretoras; enquanto em 66% das exsicatas
de C. suberosus var. suberosus pelo menos duas flores por exsicata portavam esse caráter;
assim, consideraram que a variedade fulvus tende a apresentar pétalas pontoadas por
cavidades secretoras.
Nas análises aqui apresentadas, os verticilos de estames de flores brevistilas
mostraram-se maiores que os equivalentes das longistilas, tanto em P1 quanto em P2. Essas
relações são condizentes com as dimensões de estames curtos e longos de C. suberosus var.
fulvus e C. suberosus var. suberosus, descritas por Forero (1983). Considerando que, em
ambas as formas florais, os verticilos de estames diferem significativamente entre si, bem
como do gineceu, C. suberosus possui heterostilia dimórfica do ponto de vista estrutural;
contudo, não há correspondência recíproca do comprimento dos estames e do gineceu entre as
formas florais, exceto entre gineceu de flores brevistilas e estames curtos de flores longistilas,
ambas de P2. Nas espécies africanas e asiáticas de Connarus, Lemmens (1989) descreveu a
ocorrência de heterostilia dimórfica caracterizada por formas florais com um estilete longo ou
médio e dez estames férteis, além de um tipo provavelmente derivado deste, cujas formas
florais apresentam um estilete longo ou dio, cinco estames férteis e cinco estames
rudimentares.
A argumentação aqui apresentada parece suficiente para demonstrar que o
reconhecimento de duas variedades de C. suberosus (Forero, 1983) consistiu de um equívoco
56
ocasionado pelos caracteres peculiares das formas florais, os quais freqüentemente aparecem
associados à evolução da dioicia. Entretanto, é notável que, na chave proposta para a distinção
das variedades, as dimensões dos verticilos de estames de cada uma delas não expressem
variações decorrentes da heterostilia, apesar de Forero (1983) considerá-la “um caráter
comum em todas as Connaraceae”.
Os resultados dessa investigação confrontados com os caracteres diagnósticos de
C. suberosus var. fulvus e C. suberosus var. suberosus (Forero 1983) revelam que as ditas
variedades correspondem às formas brevistila e longistila, respectivamente. Portanto,
recomenda-se que a espécie não seja tratada em nível varietal. Milhomens e Proença (2002)
propuseram que a variedade fulvus seja sinonimizada à variedade pica, visto que não
constataram correlação entre os caracteres diagnósticos estabelecidos por Forero (1983) e
respectivas variedades de C. suberosus, os quais mostraram um gradiente de estados ou não
diferiram expressivamente entre as variedades; contudo, os autores não associaram esses
resultados à ocorrência de heterostilia e à evolução da dioicia na espécie.
A comparação de parâmetros quantitativos entre as populações de P1 e P2 revelou
variações intra-formas florais significativas nas dimenes de sépalas e pétalas de flores
longistilas e de estames de ambas as formas florais, com exceção dos casos mencionados.
Interessantemente, Forero (1983) descreveu considerável variabilidade de forma, tamanho e
pubescência de folíolos, observada em cada variedade. Assim sendo, pode-se considerar que
ocorre certa variabilidade fenotípica intra-formas florais envolvendo órgãos vegetativos e
reprodutivos; entretanto, o é claro se a evolução da dioicia ou modificações do número de
peças florais influenciaram as variações nas dimensões de sépalas e pétalas de flores
longistilas e de estames de ambas as formas florais. Certamente, a evolução da dioicia é a
causa determinante da variação de comprimento do gineceu de flores brevistilas, observada
entre as localidades amostrais, tendo em vista que se verificou uma tendência ao
encurtamento do estilete nessa forma floral funcionalmente masculina.
Agradecimentos: Nós somos gratos a Luciano C. Milhomens, por realizar a identificação da
espécie, e à FAPESP (Programa BIOTA, proc. nº 00/12469-3), pelo apoio financeiro. João D.
Denardi agradece à CAPES pela concessão da bolsa PICDT e D.M.T. Oliveira ao CNPq, pela
bolsa de produtividade em pesquisa.
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59
Ilustrações
60
Figs. 1-4. Connarus suberosus. Figs. 1-2. Flor longistila. Figs. 3-4. Flor brevistila. Barras =
3mm (1-4).
61
Figs. 5-11. Connarus suberosus. Secções transversais de botões florais e do perianto da flor
em antese. Figs. 5-6. Botões florais em estádios sucessivos de desenvolvimento. Fig. 7.
Detalhe da sépala. Fig. 8. Detalhe do bordo da pétala. Figs. 9-10. Detalhes da pétala em áreas
intervenais. Fig. 11. Tricoma glandular. (sc = cavidade secretora; vb = feixe vascular; seta =
estômatos na epiderme da face abaxial de sépala e pétala; ponta de seta = epitélio da cavidade
secretora). Barras = 100 µm (5); 200 µm (6); 25 µm (7, 9-11); 10 µm (8).
62
Figs. 12-19. Connarus suberosus. Estames e carpelo de flores brevistilas (Figs. 12-16) e
longistilas (Figs. 17-19), em microscopia eletrônica de varredura. Fig. 12. Aspecto geral. Fig.
13. Detalhe do filete. Fig. 14. Detalhe da antera. Fig. 15. Detalhe do carpelo. Fig. 16. Detalhe
do estilete. Fig. 17. Aspecto geral. Fig. 18. Detalhe de estames. Fig. 19. Detalhe do estilete.
(Asterisco = estame longo; estrela = estame curto). Barras = 1 mm (12, 17); 100 µm (13); 250
µm (14-16); 500 µm (18); 200 µm (19).
63
Figs. 20-29. Connarus suberosus. Secções transversais da base floral e do androceu. Fig. 20.
Base floral, mostrando fusão do tubo estaminal a peças do perianto e ao ginóforo. Fig. 21.
Detalhe do tubo estaminal, ilustrando a extensão dos setores antepétalos e antessépalos e a
distribuão de tecido nectarífero. Fig. 22. Detalhe da área nectarífera observada na figura
anterior; notar epiderme com estômatos. Fig. 23. Detalhe do filete. Fig. 24. Detalhe da antera
com microsporocitos (ponta de seta). Fig. 25. Detalhe da antera na fase em que se observam
tétrades de microsporos; notar tapete desenvolvido (asterisco). Figs. 26-27. Detalhes de
anteras de flores brevistilas, ilustrando estádios sucessivos da diferenciação dos
microsporângios. Figs. 28-29. Detalhes de anteras de flores longistilas mostrando,
respectivamente, a degeneração dos microsporos e a diferenciação atípica da parede do
microsporângio, que encerra resquícios do tapete. (co = conectivo; en = endotécio; ep =
epiderme; gi = ginóforo; ml = camada dia; nt = tecido nectarífero; pb = feixe estaminal
antepétalo; pe = pétala; sb = feixe estaminal antessépalo; sc = cavidade secretora; se = pala;
so = estômio; st = tubo estaminal; vb = cordão procambial). Barras = 200 µm (20-21); 100 µm
(22); 25 µm (23-29).
64
Figs. 30-38. Connarus suberosus. Secções transversais do gineceu da flor longistila (Figs. 30-
37) e brevistila (Fig. 38). Fig. 30. Aspecto geral do orio, no nível das inserções dos dois
óvulos colaterais. Fig. 31. Detalhe da figura anterior, ilustrando a vascularização e a transição
da zona ascidiada para plicada. Fig. 32. Aspecto geral do orio na região plicada. Figs. 33-
35. Respectivamente, detalhes das regiões ventral, lateral e dorsal do ovário visto na Fig. 32.
Figs. 36-37. Aspecto geral e respectivo detalhe do estilete, no qual se destaca a vascularização
e o canal estilar (ponta de seta). Fig. 38. Detalhe do ovário de flor brevistila, mostrando
emergências placentárias vascularizadas. (db = feixe dorsal; ee = epiderme externa; em =
mesofilo externo; ie = epiderme interna; im = mesofilo interno; mb = feixe marginal
secundário; mm = mesofilo médio; ot = traço ovular; sc = cavidade secretora; sl = faixa
procambial lateral; vc = complex vascular ventral; wb = feixe ala). Barras = 100 µm (30,32);
50 µm (31, 33, 35-36, 38); 25 µm (34, 37).
65
Tabela 1. Médias de comprimento e largura de sépalas e pétalas de ambas as
formas florais (em mm), amostradas em P1 e P2, e respectivos valores de desvio-
padrão, mostrados entre parêntesis.
P1 (Pratânia) P2 (Vitoriana)
Brevistila Longistila Brevistila Longistila
Comprimento
de sépalas
2,79 (0,50) 2,71 (0,34) 2,51 (0,26) 2,86 (0,32)
Largura de
sépalas
1,32 (0,21) 1,37(0,16) 1,23 (0,14) 1,23 (0,17)
Comprimento
de pétalas
4,20 (0,49) 3,73 (0,43) 4,13 (0,27) 4,39 (0,70)
Largura de
pétalas
1,87 (0,18) 1,78 (0,23) 1,84 (0,21) 1,64 (0,19)
66
Tabela 2. Médias de comprimento de estames e gineceu de ambas as formas florais
(em mm), amostradas em P1 e P2, e respectivos valores de desvio-padrão,
mostrados entre parêntesis.
P1 (Pratânia) P2 (Vitoriana)
Brevistila Longistila Brevistila Longistila
Estames
curtos
4,02 (0,59) 1,97 (0,31) 3,01 (0,55) 2,21 (0,39)
Estames
longos
5,28 (0,33) 2,52 (0,31) 4,23 (0,44) 2,94 (0,36)
Gineceu
2,95 (0,88) 3,60 (0,56) 1,97 (0,21) 3,85 (0,27)
CAPÍTULO III
1
1
Trabalho elaborado segundo as normas do periódico Annals of Botany.
68
Morfoanatomia e desenvolvimento do pericarpo e da semente de Connarus suberosus
Planch. (Connaraceae)
JOÃO DONIZETE DENARDI
1
E DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
2
1
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Coxim, Rua
Pereira Gomes, 355, Vila Santa Maria, 79.400-000, Coxim, MS, Brasil.
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica, Avenida Antonio Carlos, 6627, Pampulha, Caixa Postal 486, 31.270-901, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
Justificativa e objetivos Connarus suberosus é espécie de Connaraceae típica do cerrado,
sobre a qual poucos dados estruturais estão disponíveis. Está incluída no subclado das
eurosídeas I, no qual muitas relações permanecem não resolvidas. O presente trabalho foi
realizado visando descrever, estrutural e ontogeneticamente, os frutos e sementes de C.
suberosus, discutindo os resultados em comparação com grupos irmãos.
Métodos Botões florais, flores em antese e frutos e sementes em várias fases de
desenvolvimento foram caracterizados morfologicamente e analisados em preparações
permanentes e semipermanentes, segundo as técnicas usuais.
Resultados principais A vascularização carpelar mostra-se derivada em relação ao padrão
descrito para Connaraceae, devido à formação de um complexo ovular mediante união parcial
de traços ovulares àqueles derivados de feixes alas. O desenvolvimento do pericarpo e da
semente, que pode ocorrer apomiticamente, não são concomitantes, visto que a diferenciação
seminal inicia-se após a expansão do pericarpo, que alcança comprimento e largura finais. Ao
término da diferenciação seminal, ocorre a maturação pericárpica, caracterizada pela
expano radial das células do mesocarpo externo e deiscência do folículo. A semente madura
apresenta arilo que se desenvolve da região rafe-calazal, é hemítropa e vascularizada por um
complexo de feixes que irriga as regiões rafeal e pré-rafeal; o tégmen é parcialmente
absorvido. Diferentemente de outras Connaraceae, a endotesta e o exotégmen são
multiplicativos; o mesotégmen mostra-se esclerificado, embora restrito à calaza. O
Para correspondência. Email:dmtoliv[email protected]g.br
69
endosperma, que é núcleo-celular, persiste como estrato irregularmente multisseriado,
fortemente adnato ao tegumento, o que não é usual em Connarus.
Conclusões Diversos aspectos estruturais observados são compartilhados com outras
espécies de Oxalidales, especialmente de Oxalidaceae, família irmã de Connaraceae.
INTRODUÇÃO
Connaraceae é uma família pantropical, que abrange espécies arbóreas, arbustivas e
lianas, caracterizadas por folhas alternas, imparipinadas, exestipuladas; gineceu formado por um
ou cinco carpelos livres, pubescentes, bi-ovulados; fruto simples ou múltiplo, com uma ou duas
sementes por cavidade seminal, as quais apresentam testa pelo menos parcialmente carnosa. No
Brasil, considerado o centro de diversificação da família na região Neotropical, ocorrem 64
espécies, classificadas nos gêneros Bernardinia, Connarus, Pseudoconnarus e Rourea (Forero,
1983; Forero e Costa, 2002).
Os estudos taxonômicos sobre Connaraceae, realizados por Schellenberg (1938),
Leenhouts (1958) e Breteler (1989) revelaram divergências consideráveis na delimitação dos
taxa em níveis infrafamiliares. Também, várias interpretações taxonômicas foram apresentadas
a respeito de suas relações interfamiliares (Heimsch, 1942; Hutchinson, 1969; Takhtajan, 1969,
1997; Dickison, 1971, 1972, 1973a,b; Corner, 1976; Cronquist, 1981; Behnke, 1982).
Recentemente, Connaraceae e Oxalidaceae constituíram um clado da ordem
Oxalidales (APG, 2003), definido nas análises filogenéticas realizadas por Hufford (1992), a
partir de dados morfológicos e químicos, bem como em estudos filogenéticos baseados em
seqüências gênicas (Davies et al., 2004; Savolainen et al., 2000; Soltis et al. 2000; Zhang e
Simmons, 2006) ou na combinação de dados moleculares e morfológicos (Nandi et al., 1998).
No sistema APG (APG, 2003), Oxalidales, Malpighiales e Celastrales constituem
um grande subclado de eurosídeas I, cujas relões permanecem não resolvidas. Stevens (2007)
reconheceu como sinapomorfia para eurosídeas I o endosperma escasso. Para Oxalidales, o
autor mencionou os seguintes caracteres relativos às sementes: micrópila formada por ambos os
tegumentos, tegumento do óvulo multiplicativo, endotesta cristalífera e paliçádica, e exotégmen
fibroso ou traqueoidal.
No presente trabalho, os frutos e sementes de C. suberosus, nas várias fases do
desenvolvimento, são descritos morfoanatomicamente, discutindo-se os resultados em
comparação com grupos irmãos de Connaraceae, em especial Oxalidaceae.
70
MATERIAL ETODOS
Botões florais, flores em antese, frutos e sementes de Connarus suberosus em
vários estádios de desenvolvimento foram coletados em espécimes ocorrentes na Fazenda
Palmeira da Serra, Município de Pratânia, Estado de São Paulo, Brasil, e em espécimes
localizados à margem da rodovia municipal (Estrada do Roberto) que liga a área urbana do
Distrito de Vitoriana ao Rio Bonito Campo e utica, Município de Botucatu, Estado de São
Paulo, Brasil. Ramos rteis herborizados foram depositados no Herbário “Irina Delanova
Gemtchujnicov” (BOTU), do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências da UNESP,
mpus de Botucatu, registrados sob o número 24.415.
Os caracteres morfológicos de frutos e sementes foram analisados sob
estereomicroscópio Leica®, a partir de 75 unidades de material fresco. As dimensões e o peso
fresco de frutos e sementes foram determinados com auxílio de paquímetro e balança de
precio. Para cada parâmetro, calculou-se a média aritmética e o desvio padrão. A terminologia
para descrição dos frutos e sementes baseou-se em Martin (1946), Corner (1976), Roth (1997) e
Barroso et al. (1999).
O laminário permanente foi preparado a partir de amostras fixadas em FAA 50
(Johansen, 1940) e preservadas em etanol 70% (Jensen, 1962), as quais foram desidratadas em
série etanólica e incluídas em metacrilato Leica, conforme o protocolo do fabricante. Secções
transversais e longitudinais com aproximadamente 8 µm de espessura, obtidas no micrótomo
rotativo, foram coradas com azul de toluidina 0,05%, pH 4,7 (O’Brien et al., 1964);
alternativamente secções do pericarpo maduro foram tratadas com este corante e, em seguida,
com solução aquosa de vermelho de rutênio 0,02%. Na montagem das minas utilizou-se
resina sintética. A documentação dos resultados foi realizada digitalmente por meio de câmera
Olympus C7070WZ acoplada a microscópio de luz Olympus BX41.
Nos testes histoquímicos, seões de materiais frescos foram expostas a lugol para
evidenciar amido, Sudan IV para realçar substâncias lipídicas, vermelho de rutênio para detectar
polissacarídeos ácidos, cloreto rrico para verificar a ocorrência de compostos fenólicos
(Johansen, 1940), azul mercúrio de bromofenol para indicar a presença de proteínas (Mazia et
al., 1953), floroglucinol acrescido de ácido clorídrico para detectar estruturas lignificadas (Sass,
1951).
Pericarpos maduros, após remoção do endocarpo e mesocarpo interno, foram
diafanizados segundo a técnica proposta por Fuchs (1963). Em outro ensaio, o pericarpo
71
maduro foi dividido ao longo do limite externo do mesocarpo interno, sendo as duas partes
maceradas separadamente, conforme os procedimentos descritos por Franklin (1945) e
modificados como descrito por Kraus e Arduin (1997).
RESULTADOS
O fruto de C. suberosus desenvolve-se de ovário súpero, unicarpelar e unilocular,
disposto sobre ginóforo curto (Fig. 1A). Em botões florais, as margens carpelares o
inicialmente livres (Fig. 1B), exceto na região basal do ovário, que é fechada congenitamente
(Fig. 1C) e equivale a cerca de um quinto do comprimento desse órgão. Posteriormente, os
bordos se unem mediante adesão cuticular. Assim, as duas camadas epidérmicas, coerentes
ontogeneticamente, manm-se distintas até o ápice do estilete, delimitando a rego sutural
(Fig. 1D-E, G). Entretanto, no nível da inserção dos dois primórdios ovulares ou imediatamente
abaixo dessa, ambos os processos de fusão concorrem para o fechamento do carpelo (Fig. 1C).
Em toda sua extensão, a sutura é acompanhada externamente por uma reentrância (Fig. 1G) que
se prolonga até o ginóforo, onde é menos evidente.
Na flor em antese, o ovário apresenta epiderme externa unisseriada, composta por
estômatos e células comuns cubóides, revestidos por cutícula inconspícua (Fig. 1F-H).
Tricomas dendróides (Fig. 1I) conferem o aspecto ferrugíneo-tomentoso ao orio e inserem-se
entre as demais células epidérmicas por meio de uma base constrita (Fig. 1H). As células desses
tricomas contêm substâncias fenólicas e suas paredes septais o comumente lignificadas e
pontoadas.
Na parede ovariana, há deposição de substâncias fenólicas em camadas inteiras,
como a epiderme externa, camadas adjacentes e epiderme interna, ou localizada em células
dispersas no mesofilo (Fig. 1E-H). As células suturais e as adjacentes da epiderme interna
raramente acumulam essas substâncias (Fig. 1G).
No mesofilo ovariano, distinguem-se três regiões (Fig. 1E-H). O mesofilo externo
consiste de células fundamentais de formato poligonal que, na face ventral, organizam-se em a
oito camadas (Fig. 1G). Nesse tecido, ocorrem cavidades secretoras delimitadas por epitélio
uniestratificado, as quais se separam da epiderme por uma ou duas camadas de células ou,
menos freqüentemente, são subepidérmicas (Fig. 1F, H). Em material fresco e sob
estereomicroscópio, a secreção dessas cavidades exibe coloração vermelha; em seu lume, assim
como no epitélio, foram detectados lipídios.
72
O mesofilo médio é formado por cerca de oito camadas de células poligonais,
menores que aquelas do mesofilo externo. Sua metade externa é ocupada, principalmente, por
procâmbio, com elementos vasculares pouco diferenciados (Fig. 1E-H). O sistema vascular
consiste de um feixe dorsal, de cordões e faixas procambiais que percorrem as paredes laterais
(Fig. 1F, H); na face ventral, observa-se um par de feixes alas, diversos feixes marginais
secundários e um par de faixas procambiais ovulares parcialmente fundidas (Fig. 2B). Estas se
formam no ginóforo, a partir de feixes próximos do dorsal, fundem-se pelas extremidades e
migram para a face ventral desse óro, deslocando para a vascularização lateral e deixando
uma lacuna parenquimática subjacente ao lóculo ovariano (Fig. 2A-B). No ovário, o ponto de
fusão das faixas procambiais ovulares alinha-se à reentrância ventral e a ele se unem faixas
procambiais derivadas dos feixes alas, logo abaixo da placenta. Desse complexo vascular
partem os cordões que suprem os óvulos (Fig. 2C-D). Os feixes marginais secundários derivam
da vascularização lateral que foi deslocada para a região ventral do ginóforo durante a emissão
das faixas procambiais ovulares (Fig. 2A-D). Acima da placenta, feixes marginais secundários e
feixes alas constituem os complexos vasculares ventrais (Fig. 2B).
O mesofilo interno constitui-se de duas a três, eventualmente até cinco camadas de
células alongadas periclinalmente, variavelmente dispostas nos sentidos horizontal e vertical, as
quais o se estendem até a linha de fuo carpelar (Fig. 1E, G); contudo, o mesofilo interno
tende a aumentar sua extensão em níveis sucessivamente superiores do ovário, no sentido
ventral. Ao longo da região dorsal, a distinção entre as camadas de mesofilo médio subjacentes
ao feixe dorsal e o mesofilo interno não é clara, ocorrendo células poligonais a arredondadas, de
tamanho reduzido (Fig. 1F); porém, na base do orio, é possível discernir uma ou mais
camadas típicas do mesofilo interno. A epiderme interna é unisseriada e apresenta células
estreitas e alongadas periclinalmente, dispostas transversal ou longitudinalmente, e menos
volumosas que aquelas da epiderme externa. Ao longo da região ventral, a epiderme interna
mostra células com parede periclinal externa convexa.
O lóculo ovariano encerra dois óvulos colaterais, hemítropos (Fig. 3B), em
placentação sutural (Fig. 1D-E). Freqüentemente, um dos óvulos é menor (Fig. 1E) e,
eventualmente, mostra-se abortado (Fig. 3A).
Os óvulos o bitegumentados, com micrópila definida pelo exóstoma e endóstoma
(Fig. 3B). Na antese, o tegumento externo possui cerca de oito camadas de células, com
epiderme externa unisseriada, coberta por cutícula delgada, constituída por células com
conteúdo fenólico e formato cubóide ou poliédrico alongado tangencial ou radialmente. No
mesofilo, as células o poliédricas e justapostas, de dimensões variáveis, algumas acumulando
73
substâncias fenólicas (Fig. 3B-C). Tanto na rafe quanto na pré-rafe, há ampliação do número de
camadas fundamentais em torno do cordão procambial (Fig. 1E, G; 3A). A epiderme interna
caracteriza-se por células cubóides, menores que as da epiderme externa e com citoplasma mais
denso que as células dos tecidos adjacentes. Nesta camada, podem-se observar divisões
periclinais esparsas. O limite entre os tegumentos externo e interno é definido por cutícula
delgada, porém evidente (Fig. 3B-C).
O tegumento interno consiste de cinco camadas de células. Destas, a epiderme
externa e o mesofilo apresentam células pouco diferenciadas, enquanto a epiderme interna
constitui o endotélio, cujas células, alongadas radialmente, apresentam impregnação de
substâncias fenólicas na parede celular, as quais se encontram também em pequenos vacúolos
(Fig. 3C).
Os óvulos são crassinucelados, estando o megasporocito separado da epiderme
nucelar por duas camadas parietais (Fig. 3D). Entretanto, o nucelo é consumido em um estádio
próximo à antese.
Em alguns botões florais em pré-antese, observou-se endosperma em início de
desenvolvimento, sem a ocorrência de fecundação, visto que nos mesmos botões as anteras
encontram-se fechadas e os megasporos eso sendo absorvidos (Fig. 3E-G).
O desenvolvimento do pericarpo, independentemente do processo que o induziu,
caracteriza-se, inicialmente, por uma fase em que predomina a atividade meristemática, no
entanto as divies são precedidas de certo grau de vacuolização das células (Fig. 4A). A
atividade meristemática é mais intensa na face ventral, determinando seu maior
desenvolvimento. Embora haja aumento significativo das dimensões do fruto, o espite
continua pouco distinto.
O exocarpo é unisseriado, visto que as células dividem-se apenas no plano
anticlinal; há formação de estômatos e tricomas dendróides (Fig. 4A-D), além de tricomas
glandulares providos de pedúnculo multicelular, unisseriado, e cabeça multicelular, os quais
acumulam numerosas gotas lipídicas.
No mesocarpo externo e médio, células vacuoladas dividem-se aleatoriamente,
ampliando o número de camadas desses tecidos (Fig. 4A-B). No mesocarpo externo, nota-se,
ainda, o desenvolvimento de cavidades secretoras similares àquelas do mesofilo ovariano,
geralmente localizadas próximas ao exocarpo (Fig. 4C). O sistema vascular encontra-se em
diferenciação. As faixas procambiais ovulares e aquelas derivadas dos feixes alas dão origem a
feixes que percorrem longitudinalmente diferentes extenes da região ventral acima da
placenta (Fig. 4D), à exceção do complexo vascular ovular, cujos feixes dirigem-se para os
74
funículos. Os feixes proximais, derivados da vascularização ala, o os mais longos, enquanto
aqueles originados das faixas procambiais ovulares extinguem-se gradativamente logo acima da
placenta. No mesocarpo interno, ocorrem apenas divisões anticlinais que acomodam essa região
ao crescimento do pericarpo (Fig. 4B-E).
O endocarpo mantém-se unisseriado, à exceção de alguns trechos em que mostra
espessura de duas ou, algumas vezes, três células e exteno raramente superior à de cinco
células dispostas lado a lado (Fig. 4E). Contudo, o endocarpo destaca-se por apresentar tricomas
glandulares em desenvolvimento, constituídos por pedúnculo multicelular, unisseriado, com
célula basal afunilada e cabeça multicelular ainda pouco diferenciada (Fig. 4F).
No estádio seguinte da ontogênese, ocorre abscio das estruturas florais, com
exceção das palas, e o pericarpo atinge comprimento e largura picos do órgão maduro,
inclusive com alongamento do estípite. Nesta fase, prevalece a expansão celular; no entanto,
observam-se divisões aleatórias no mesocarpo externo e dio, cuja freqüência diminui
gradativamente. Em todas as camadas pericárpicas as células, em geral, concentram substâncias
fenólicas (Fig. 5A-E).
No exocarpo, senescência e queda dos tricomas glandulares e redução da
densidade de tricomas dendróides, em função do alongamento das células comuns desse tecido.
Estômatos são freqüentes, acompanhados por câmara subestomática inconspícua (Fig. 5A-B).
A expansão celular no mesocarpo restringe-se às regiões média e interna, visto que
o volume das células do mesocarpo externo é pouco alterado, principalmente nas camadas
periféricas (Fig. 5A-C). O sistema vascular mostra-se bem desenvolvido, porém ainda há
elementos vasculares em diferenciação (Fig. 5C-D).
No endocarpo, estômatos desprovidos de câmara subestomática tornam-se
evidentes (Fig. 5E) e tricomas glandulares iniciam a atividade secretora (Fig. 5F), ao lado de
outros que principiam o seu desenvolvimento. Na fase secretora, estes tricomas possuem
pedúnculo longo, cujas células acumulam substâncias fenólicas, e cabeça multicelular distinta.
Em frutos frescos, a secreção produzida é vermelha, ao passo que o pedúnculo se mostra
hialino. Os testes realizados não foram suficientes para precisar a natureza da secreção.
Simultaneamente, a semente encontra-se em atividade meristemática, que lhe
proporciona um crescimento incipiente em comparação ao pericarpo. Na maioria das vezes,
apenas uma semente se desenvolve. A exotesta é unisseriada e fenólica. A mesotesta é a região
mais ampla do tegumento e consiste de células vacuoladas, com ou sem conteúdo fenólico, que,
inicialmente, dividem-se aleatoriamente, em planos variados (Fig. 6A-C). Posteriormente, a
75
camada subexotestal divide-se periclinalmente, com freqüência maior que as demais, mostrando
células pouco volumosas (Fig. 6B-C).
Na rego rafe-calazal, a proliferação de células mesotestais dos estratos situados
entre a exotesta e o complexo vascular rafeal dá origem a um arilo com margem lobada e
crenada. Esta emergência possui epiderme fenólica, portadora de estômatos; eventualmente,
ocorrem pequenos tricomas tectores o ramificados. À medida que o arilo se desenvolve, as
células fundamentais assumem arranjo radial, com fileiras parcialmente fenólicas (Fig. 6D-E).
Considerando a origem mista do suprimento vascular do óvulo, a vascularização da
semente consiste de um complexo vascular que percorre o funículo e irriga a mesotesta nas
regiões rafeal e pré-rafeal. O complexo vascular rafeal emite ramificações curtas, que se
estendem para as laterais da semente e das quais partem traços que migram para a região
proximal do arilo (Fig. 6D-E). O complexo pré-rafeal alcança o terço micropilar sem se
ramificar (Fig. 6F).
A endotesta também é multiplicativa, mas sua atividade inicia-se tardiamente.
O tégmen é absorvido parcialmente (Fig. 6B-C; F-G). O exotégmen torna-se
pontualmente bisseriado (Fig. 6G), mas em alguns trechos ele se desorganiza. No mesotégmen,
há ampliação do número de camadas nas extremidades da semente (Fig. 6C), seguida da
supressão desse estrato tegumentar (Fig. 6B), exceto nas regiões calazal e micropilar (Fig. 6G-
H). O endotégmen persiste como uma camada vestigial, devido ao colapso e à absorção de suas
células (Fig. 6C-F). Um estrato péctico amorfo, que se apresenta bastante espesso próximo à
micrópila, interpõe-se entre o tégmen e o endosperma nuclear. Após esse evento, o embrião
progride rapidamente para o estádio globular; perifericamente, inicia-se, a citocinese do
endosperma (Fig. 6H). Nessa fase, a semente, cujo comprimento aproxima-se de 5 mm, ocupa
uma cavidade seminal ampla, visto que o pericarpo alcança comprimento e largura finais.
À expansão do pericarpo segue-se a diferenciação de tecidos, o obstante no
mesocarpo externo este processo seja parcial. No exocarpo, a cutícula torna-se espessa,
apresentando flanges entre as lulas; sobre os estômatos, projeções elevadas recobrem
incompletamente o ostíolo (Fig. 7A-B). Os tricomas dendróides mostram-se frágeis à ação
mecânica, rompendo-se durante os procedimentos. As células epidérmicas comuns acumulam
antocianina, que confere cor vermelho-alaranjada à superfície do fruto. As demais regiões do
pericarpo são pardacentas, conservando os compostos fenólicos relatados; entretanto, células
esclerenquimáticas e aquelas do mesocarpo médio podem ser desprovidas desse conteúdo (Fig.
7A-D).
76
O mesocarpo externo exibe as seguintes alterações: deterioração do epitélio que
reveste as cavidades secretoras, formação de calotas de fibras gelatinosas na região ventral,
contíguas ao tecido de separação (Fig. 7C-D), o qual foi originado pela epiderme sutural;
diferenciação de esclereídes e fibroesclereídes, geralmente cristalíferas, isoladamente ou em
pequenos grupos entre as demais células (Fig. 7B).
No mesocarpo dio, completa-se o desenvolvimento do sistema vascular.
Percebe-se que as faixas procambiais laterais foram derivadas de cordões marginais secundários
distais aos alas, visto que, lateralmente, a vascularização consiste de ramos, emitidos pelos
feixes marginais secundários distais, percorrendo diagonal e ascendentemente o mesocarpo
dio, os quais se ramificam profusamente nesse trajeto e constituem ampla rede vascular (Fig.
7E-F). Os feixes vasculares são envoltos por bainha de fibras gelatinosas septadas (Fig. 7G-H),
à exceção daqueles derivados da vascularização ala e ovular (Fig. 7C-F). Essas bainhas são
mais espessas voltadas para o floema e comumente interruptas na porção que circunda o xilema
(Fig. 7H). Freqüentemente, continuidade entre as bainhas que margeiam os feixes alas e as
calotas de fibras adjacentes ao tecido de separação. Muitas vezes, as fibras gelatinosas
associadas a este tecido e a feixes vasculares contêm subsncias fenólicas (Fig. 7C-D).
Na face ventral, parte do mesocarpo médio consiste de parênquima colenquimatoso,
com células de paredes pouco e irregularmente espessadas, que se dispõem ao longo do tecido
de separação, das fibras gelatinosas adjacentes a ele e de parte dos feixes vasculares provindos
dos feixes alas (Fig. 7C). O restante desse estrato distingue-se como um parênquima com
espos intercelulares pequenos, porém evidentes. Nas demais regiões do pericarpo, o
mesocarpo médio é formado somente por esse tipo de tecido parenquimático, onde se
observam, algumas vezes, esclereídes isoladas e células com cristais prismáticos. Nas
proximidades do feixe dorsal, esse parênquima exibe redução gradual das dimensões celulares
(Fig. 8A-C).
O mesocarpo interno diferencia-se como estrato esclerenquimático, composto por
fibras de paredes espessas, pontoadas e lignificadas, que freqüentemente apresentam conteúdo
fenólico ou cristais prismáticos. A maioria das fibras dispõe-se obliquamente, embora haja
orientações variadas (Fig. 8A-D).
No endocarpo, as principais mudanças relacionam-se à deposição de material
péctico nas paredes celulares delimitantes da cavidade seminal, que se tornam levemente
espessadas (Fig. 8C), e à obstrução dos estômatos.
A maturação completa do pericarpo ocorre durante os eventos finais da
diferenciação da semente e caracteriza-se pelo alongamento radial das células parenquimáticas
77
do mesocarpo externo, que lhe confere espessura igual ou superior à do restante do pericarpo
(Fig. 8D).
O fruto maduro é um folículo estipitado (Fig. 9A-C), irregularmente pubérulo
externamente e com tricomas esparsos internamente, que apresenta coloração alaranjada a
vermelha e cálice persistente. O ápice é obquo e mucronado (Fig. 9A) e a deiscência ocorre ao
longo do tecido de separação (Fig. 9B). As dimensões e o peso da matéria fresca encontram-se
na tabela 1.
A maturação dos tecidos seminais inicia-se quando o pericarpo se encontra
parcialmente diferenciado. A semente madura tem testa preta e arilo amarelo, que recobre de
um quarto a um terço da semente a partir da região rafe-calazal. É hemítropa, com hilo sub-
basal e micrópila voltada para o ápice (Fig. 9D-E). As dimensões e o peso da matéria fresca são
apresentados na tabela 2.
Na exotesta, as células expandem-se radialmente, constituindo uma paliçada curta,
revestida por cutícula delgada. As paredes tangenciais externas dessas células tornam-se
consideravelmente espessadas; nas paredes radiais, ocorre espessamento discreto. Compostos
fenólicos impregnam as paredes celulares e são acumulados em vacúolos das células da exo- e
mesotesta, que se torna aerenquimática (Fig. 10A-C).
No arilo maduro, a epiderme mantém-se fenólica; muitas vezes, no entanto, esse
conteúdo apresenta aspecto floculado e reação menos intensa que a observada na estrutura
jovem. Os estômatos mostram-se obliterados; tricomas tectores não foram encontrados nessa
fase. No tecido fundamental, as células fenólicas avolumam-se e exibem dimensões geralmente
maiores que as lulas com reservas (Fig. 10D-E), que contêm amido, lipídios e proteínas;
contudo, a proporção destas é maior.
A atividade meristemática tardia na endotesta persiste por algum tempo, tornando-a
irregularmente multisseriada, com espessura de uma a três células parenquimáticas
aproximadamente (Fig. 10A, F). Na anti-rafe e adjacências, as células da camada interna desse
tecido apresentam cristais prismáticos; nas demais regiões, a presença de cristais é menos
comum (Fig. 10G). No tegumento maduro, a distinção entre endo- e mesotesta muitas vezes não
é clara, devido à ausência dos cristais, a interrupções nas camadas endotestais e à deposição de
compostos fenólicos nas paredes e vacúolos de suas células. Entretanto, é possível delimitar as
camadas endotestais, pela sua posição, dimensões celulares geralmente menores que as de
células mesotestais e menor volume de espaço intercelular (Fig. 10C).
O exotégmen, que é descontínuo (Fig. 10F), exceto na base do arilo, distingue-se
como uma camada de fibras lignificadas, dispostas longitudinalmente. Em alguns pontos, o
78
exotégmen é bisseriado. O mesotégmen persiste apenas na calaza, constituindo-se de duas a três
camadas de esclereídes. O endotégmen é absorvido completamente (Fig. 10H).
Após o embrião atingir o estádio globular, o endosperma celulariza-se rapidamente.
A epiderme deste tecido destaca-se das demais camadas por apresentar células com citoplasma
denso. Estas células e aquelas das camadas subjacentes próximas dividem-se periclinalmente,
produzindo arranjos radiais. Freqüentemente, os núcleos das células do endosperma o
volumosos (Fig. 11A-C) e exibem dois a três nucléolos. Durante o desenvolvimento do
embrião, o endosperma é consumido, com exceção da epiderme, que se mostra fortemente
adnata ao tegumento. Na semente madura, o endosperma é pontualmente descontínuo, com
espessura de uma a três células que possuem formatos variáveis, paredes pécticas e pequenos
vacúolos com conteúdo fenólico (Fig. 10A-C).
O embrião tem coloração esverdeada e consiste de dois cotidones plano-convexos,
unidos pelo eixo hipocótilo-radícula espesso e curto (Fig. 11D, G), cujo ápice radicular
apresenta primórdio de coifa (Fig. 11D-E) e posiciona-se no canal micropilar; a plúmula é
rudimentar (Fig. 11F). A protoderme é revestida por cutícula evidente, acumula substâncias
fenólicas e gotas lipídicas e, eventualmente, desenvolve alguns tricomas dendróides abaixo da
inserção dos cotilédones (Fig. 11G). No meristema fundamental, ocorrem cavidades secretoras
similares àquelas observadas no pericarpo (Fig. 11D, G-H). As células fundamentais possuem
paredes impregnadas por compostos fenólicos, que também podem ser depositados em
vacúolos, sobressaindo-se às reservas lipídicas e protéicas. As células predominantemente
fenólicas constituem uma ou mais camadas contíguas à protoderme ou se encontram mais ou
menos dispersas entre as células que armazenam lipídios e proteínas (Fig. 11H). No eixo
embrionário, observam-se três traços vasculares divergindo do cilindro procambial em direção a
cada cotilédone e deixando uma lacuna. Entretanto, dois traços adjacentes fundem-se quando
começam a se separar do cilindro vascular. Desta forma, cada cotilédone recebe dois traços
vasculares (Fig. 11G) que se ramificam na inserção deste órgão.
DISCUSSÃO
O fechamento ontogenético das margens carpelares, conforme se observou em C.
suberosus, ocorre em outras Connaraceae (Dickison, 1971), Rosaceae (Sterling, 1969),
Brunelliaceae (Eyde, 1970), Cunoniaceae (Dickison, 1975) e Fabaceae (Tucker e Kantz, 2001).
Nestas famílias, com exceção de Cunoniaceae, a vascularização carpelar aparentemente evoluiu
a partir de um padrão que consiste de um feixe dorsal, um par de feixes ovulares e um par de
feixes alas, mediante fusão entre feixes ovulares e alas, em extensões variáveis, para formar os
79
feixes ventrais, condição esta geralmente relacionada ao fechamento dos primórdios carpelares
(Sterling 1953, 1969; Eyde, 1970; Dickison 1971). Em Connaraceae, os avanços evolutivos
raramente conduziram à fusão entre feixes ovulares e alas; entretanto, em algumas espécies, a
fusão entre os ovulares resultou em três feixes principais na rego ventral (Dickison, 1971).
Diferentemente, C. suberosus apresenta um complexo ovular formado pela união parcial de
faixas procambiais ovulares àquelas derivadas dos feixes alas, imediatamente abaixo da
placenta.
A reentrância externa, que se estende ao longo da sutura até o ginóforo, em outros
taxa, geralmente não é observada na porção do carpelo fechada congenitamente. Matthews e
Endress (2002) referem-se a essa reentrância na zona de fuo congênita dos carpelos de
Connaraceae, Brunelliaceae e Acsmithia (Cunoniaceae); também destacam que essa
característica foi uma das quais subsidiou a associação anterior entre Connaraceae e Fabaceae.
Em C. suberosus, assim como nas demais Connaraceae e Brunelliaceae (Jongkind,
1989; Matthews e Endress, 2002), há dois óvulos colaterais por carpelo. A micrópila é formada
por ambos os tegumentos, o que é usual em Connaraceae (Corner, 1976); no entanto, C.
conchocarpus apresenta micrópila endostomal (Matthews e Endress, 2002). Na maioria das
Connaraceae, apenas um óvulo desenvolve-se em semente; contudo, excepcionalmente,
espécies unisseminadas podem apresentar duas sementes por fruto (Jongkind, 1989), conforme
também se observou em C. suberosus. Aparentemente, parte das sementes desta espécie pode se
originar por apomixia, visto que, em alguns botões florais em p-antese de plantas longistilas,
as quais se mostraram funcionalmente femininas (Denardi e Oliveira, Cap. II, neste volume),
observou-se endosperma em início de desenvolvimento; porém não foram realizados
experimentos de campo para avaliar a importância desse processo no sucesso reprodutivo da
espécie.
O desenvolvimento inicial do pericarpo de C. suberosus decorre principalmente da
atividade meristemática; no entanto, a maior freqüência de divies celulares na face ventral
resulta em crescimento assimétrico, que coloca o estilete em posição quase horizontal. Eyde
(1970) verificou desenvolvimento similar nos frutos de Brunellia spp. (Brunelliaceae), cujo
apículo mostra-se horizontal, divergente ou reflexo.
Durante a expansão do pericarpo, os tricomas endocárpicos iniciam a atividade
secretora. Embora este tipo de tricoma tenha sido observado em várias espécies de Connarus
(Corner, 1976; Forero, 1983; Jongkind, 1989; Forero e Costa, 2002), nenhuma investigação foi
empreendida a respeito de suas funções. Considerando que, em C. suberosus, eles são formados
durante todo o período que antecede à diferenciação das demais células do endocarpo,
80
mostrando-se ativos concomitantemente à redução da densidade dos tricomas exocárpicos e à
expansão da cavidade seminal, sugere-se que tais tricomas internos conferem alguma proteção à
semente em desenvolvimento contra microrganismos patogênicos ou a instalação de larvas de
insetos. Em várias famílias, tricomas glandulares externos, muitas vezes, associam-se à defesa
química de partes vegetais (Werker, 2000; Wagner et al., 2004), o que corrobora a hipótese aqui
apresentada.
A ocorrência de tricomas internos de natureza glandular, aparentemente, é rara;
outros registros obtidos referem-se a tricomas intra-ovarianos em Araceae (French, 1987), os
quais podem funcionar como obturador ou tecido de transmissão especializado, e em
Elaeocarpaceae, filogeneticamente relacionada a Connaraceae (Matthews e Endress, 2002). Em
Oxalidales sensu APG (2003), tricomas não-glandulares foram observados na epiderme interna
do ovário de espécies de Oxalidaceae (Sauer, 1933; Estelita-Teixeira, 1984; Matthews e
Endress, 2002), Elaeocarpaceae e Tremandraceae (Matthews e Endress, 2002); assim como no
endocarpo de algumas Oxalis (Sauer, 1933; Lourteig, 1994; Fiaschi e Conceição, 2005; Denardi
e Oliveira, Cap. V, neste volume) e Connarus (Dickison, 1971; Forero, 1983; Jongkind, 1989;
Forero e Costa, 2002).
Outro caráter endocárpico compartilhado por estes dois neros refere-se à
ocorrência de estômatos em C. suberosus, relatada neste estudo, e em algumas espécies de
Oxalis (Sauer, 1933; Denardi e Oliveira, Cap. V, neste volume). Em C. suberosus, os estômatos
somente foram detectados a partir da expano do pericarpo, mostrando-se obliterados na
maturidade deste órgão; assim, sua atividade, aparentemente, relaciona-se ao período de maior
crescimento da semente, que se inicia após a expansão do pericarpo, durante o qual tais
estruturas provavelmente promovem as trocas gasosas da cavidade seminal.
Segundo Jongkind (1989), em todas as espécies de Connarus, o desenvolvimento
da semente é incipiente até a completa expansão do pericarpo. Esse padrão aplica-se a C.
suberosus, com a ressalva que o mesocarpo externo alonga-se integralmente apenas na fase de
maturação do pericarpo. Também em algumas Fabaceae, como Inga fagifolia (Oliveira e
Beltrati, 1993), Acacia paniculata (Souza, 1993) e Pterocarpus violaceus (Nakamura e
Oliveira, 2005), o desenvolvimento do pericarpo e da semente não o concomitantes, e a
diferenciação seminal ocorre após a maturação do pericarpo. Segundo Nitsch (1953), a
alternância entre o crescimento pericárpico e seminal indica que estes processos competem por
nutrientes; Souza (1993) atribuiu essa defasagem à inexistência de um sistema estruturalmente
adequado do pericarpo jovem de A. paniculata para proteger suas sementes imaturas, o qual só
se constitui com a maturação dos tecidos esclerenquimáticos. O pericarpo de C. suberosus
81
dispõe de barreiras mecânicas e químicas que conferem alguma protão à semente em
desenvolvimento; assim a hipótese apresentada por Nitsch (1953) parece mais adequada a esta
espécie, que ocorre em áreas de cerrado, onde os solos geralmente são distficos.
Diferentemente das espécies de Fabaceae referidas acima, a maturação dos tecidos
seminais de C. suberosus ocorre quando o pericarpo encontra-se parcialmente diferenciado, o
qual reassume o crescimento, mediante expansão radial das células parenquimáticas do
mesocarpo externo, ao término da diferenciação embrionária. A retomada do alongamento
pericárpico após a maturação da semente é pica de frutos carnosos, especialmente os
drupáceos (ver Roth, 1977).
Segundo Fahn e Zohari (1955), a deiscência ativa de frutos de Fabaceae requer a
disposição cruzada de células esclerenquimáticas e/ou de suas micelas de celulose e a presença
de um tecido de separação estendendo-se, na região de sutura, da epiderme interna à externa.
Considerando que C. suberosus apresenta a maioria das fibras do mesocarpo interno e aquelas
associadas aos feixes vasculares orientadas diagonalmente em relação ao eixo longitudinal do
folículo, é provável que a expano radial do mesocarpo externo represente parte de um
mecanismo de turgor, que determina a deiscência do pericarpo. Os apontamentos sobre a
anatomia do pericarpo de algumas Connaraceae, apresentados por Corner (1976),
aparentemente indicam a ocorrência deste mecanismo na família, visto que o folículo de C.
monocarpus é desprovido de um estrato esclerenquimático, enquanto Jollydora duparquetiana,
cujos frutos são indeiscentes, possui mesocarpo interno o-especializado e a porção externa do
mesocarpo esclereificada.
As observações realizadas por Corner (1976) parecem revelar a existência de uma
estrutura pericárpica fundamental em Connarus, representada por seis estratos: epiderme
externa unisseriada; córtex externo parenquimático, com numerosas células pétreas e
grupamentos dispersos de células contendo resina; uma faixa estreita de numerosos feixes
vasculares revestidos por fibras; córtex interno aerenquimatoso; endocarpo fibroso ou não-
especializado; e epiderme interna. Tomada a devida cautela quanto à terminologia utilizada pelo
autor, pode-se inferir que C. suberosus ajusta-se ao referido padrão.
Corner (1976) destacou que a semente das Connaraceae é uma das mais distintas
entre dicotiledôneas. Suas principais características são a forma pré-rafeal, a testa preta com
paliçada exotestal firme mas não lignificada, o exotégmen fibroso, a presença de feixe vascular
pré-rafeal, o arilo calazal, o embrião grande e o aroma semelhante ao de feijão exalado por
tecidos triturados.
82
Segundo Corner (1976), a semente pré-rafeal es em via de se tornar ortótropa;
assim, a construção hemítropa observada em C. suberosus, a qual preserva a vascularização pré-
rafeal, parece representar um estádio transicional posterior à forma pré-rafeal. Corner (1976)
referiu-se à semente de C. semidecandrus como hemítropa e vascularizada por vigoroso feixe
pré-rafeal. Interessantemente, C. suberosus possui semente vascularizada por um complexo de
feixes que irriga as regiões rafeal e pré-rafeal.
A excrescência carnosa da semente de C. suberosus, a qual se desenvolve sobre a
rafe e calaza, foi tratada neste trabalho como arilo, que é um termo aplicado genericamente a
apêndices carnosos de sementes, por autores como Corner (1976) e Kapil, Bor e Bouman
(1980); em Connaraceae, no entanto, tais estruturas foram indistintamente consideradas como
complexos arilo sarcotesta-calazal (Corner, 1976), arilóides (Forero, 1983) ou sarcotestas
(Jongkind, 1989). Cabe destacar que as espécies estudadas por Corner (1976) não apresentaram
arilo vascularizado; em C. suberosus, ele recebe terminações vasculares na região proximal.
Segundo Corner (1976), as sementes de Connaraceae são exotestais, com
exotégmen mais ou menos desenvolvido; o mesofilo de ambos os tegumentos é multiplicativo,
mas o tégmen é reabsorvido durante o desenvolvimento, com exceção do exotégmen, que se
mantém como uma camada, às vezes interrupta, de fibras lignificadas, dispostas
longitudinalmente. Nas sementes de C. suberosus, além destas características, observou-se que
a endotesta e o exotégmen o multiplicativos, diferenciando-se, respectivamente, como um
extrato parenquitico, irregularmente multisseriado, e uma camada de fibras lignificadas,
descontínua e pontualmente bisseriada. Ainda de acordo com Corner (1976), o exotégmen
fibroso relaciona Connaraceae a famílias como Oxalidaceae, ambas pertencentes a Oxalidales;
Boesewinkel (1985) apontou, ainda, a ocorrência de endotesta cristalífera em ambas as famílias,
característica tamm verificada neste trabalho.
Connarus suberosus também difere das espécies examinadas por Corner (1976),
devido à ocorrência de camadas mesotégmicas esclerificadas e à adnação da epiderme
endospérmica ao tegumento.
Na região rafe-calazal, os estratos esclerenquimáticos apresentam-se mais
conspícuos que em outras partes da semente de C. suberosus, constituindo-se de exotégmen
contínuo e comumente bisseriado, subtendido na calaza, por esclereídes de origem
mesotégmica. Considerando que o arilo tem origem rafe-calazal, a presença de tecido mecânico
nesta região reduz a vulnerabilidade do embrião.
Corner (1976) e demais autores referidos neste trabalhoo mencionaram o tipo de
desenvolvimento do endosperma de Connaraceae. Em C. suberosus, observou-se que a
83
formação do endosperma progride, inicialmente, de forma nuclear, sendo ampliado, após a
citocinese, mediante atividade meristemática que se instala nas células epidérmicas e derivadas
próximas. As divies periclinais dessas células determinam o arranjo radial observado na
porção externa deste tecido. Este tipo de endosperma, denominado núcleo-celular, foi
recentemente descrito por Oliveira (2007) e também ocorre em Oxalis cytisoides (Denardi e
Oliveira, Cap. V, neste volume).
Freqüentemente, as células endospérmicas de C. suberosus exibem núcleos
volumosos, com dois a três nucléolos. Vijayaraghavan e Prabhakar (1984) e Werker (1997)
relataram que o aumento de tamanho dos núcleos endospérmicos geralmente é ocasionado por
poliploidia, mediante endorreduplicação, inibição mitótica no decorrer da prófase ou metáfase,
entre outros processos; contudo, o número de nucolos o constitui um índice do nível de
ploidia. Os autores evidenciaram, também, que a endopoliploidia é um mecanismo controlado
geneticamente, que aumenta a síntese de macromoléculas, principalmente proteínas e
carboidratos, requeridas para o desenvolvimento do endosperma e do embrião.
Quase todo endosperma de C. suberosus é consumido, durante o desenvolvimento
do embrião, exceto a epiderme, que se torna fortemente adnata ao tegumento. O estrato péctico
amorfo, observado na fase precedente à celularização dos núcleos endospérmicos,
provavelmente, é responsável por essa concrescência. Na semente madura, as células do
endosperma possuem paredes pécticas, pequenos vacúolos com conteúdo fenólico e nenhum
depósito de material nutritivo. Segundo Werker (1997), em certos taxa, o endosperma
relaciona-se à proteção física do embrião ou favorece a embebição da semente, dependendo,
respectivamente, da natureza rígida ou mucilaginosa do espessamento parietal. Em C.
suberosus, parece pouco provável que este tecido tome parte importante na absorção de água
durante a germinação, tendo em vista que as paredes celulares não apresentam espessamento
significativo e a natureza hidrofóbica dos compostos fenólicos acumulados nos vacúolos. A
ocorrência de camadas endospérmicas em sementes de Connarus não foi relatada em estudos
prévios e a auncia delas foi interpretada por Forero (1983) como um dos caracteres que
distinguem Connarus de Cnestidium. É possível que o endosperma residual esteja presente em
outras espécies de Connarus, mas sua observação seja prejudicada pela junção entre ele o
tegumento.
O embrião de C. suberosus é plano-convexo, do tipo invaginado, e apresenta
radícula posicionada no canal micropilar. Jongkind (1989) relatou que, em parte das espécies de
Rourea e Connarus, a radícula localiza-se mais ou menos ventral ou dorsalmente, enquanto a
84
micrópila é apical, como nas demais Connaraceae. Em C. staudtii e C. congolanus, o autor
observou a radícula no centro da semente, envolta por cotilédones peltados.
Alguns caracteres estruturais de C. suberosus, observados neste estudo, como a
ocorrência de tricomas, compostos fenólicos e cavidades contendo resinas, o considerados
xeromorfos (Fahn e Cutler, 1992); assim possuem valor adaptativo em condições como as do
cerrado. Os tricomas dendróides que revestem sépalas, ovário e fruto são típicos de Connarus,
no âmbito das Connaraceae (Dickison, 1973a). O arranjo compacto desses tricomas,
especialmente na superfície do ovário e frutos jovens, sugere que atuem como uma barreira
mecânica contra herbívoros e patógenos, excesso de luminosidade, temperaturas extremas e
transpiração excessiva (Werker, 2000; Wagner et al., 2004). Os compostos fenólicos, os quais
se mostraram amplamente distribuídos nos tecidos pericárpicos e seminais durante o
desenvolvimento, fornecem proteção contra fungos e bacrias, mas também representam
importantes dissuasores alimentares de herbívoros (Swain, 1979). A presença de tais
substâncias em vacúolos e paredes celulares do tegumento seminal maduro, conforme se
observou em C. suberosus, confere-lhe, além da coloração enegrecida, dureza e
impermeabilidade à água (Werker, 1997). O número elevado de cavidades contendo resina, as
quais ocorrem em todos os órgãos estudados, pode se relacionar à redução de perdas hídricas
(Fahn e Cutler, 1992), ou à defesa química (Farrell et al., 1991). No pericarpo, a retenção de
água também é assegurada pela cutícula espessa (Fahn e Cutler, 1992) e por fibras gelatinosas
(Paviani, 1978) associadas a feixes vasculares ou ao tecido de separação.
AGRADECIMENTOS
Nós somos gratos a Luciano C. Milhomens, por realizar a identificação da espécie, e à
FAPESP (Programa BIOTA, proc. 00/12469-3), pelo apoio financeiro. João D. Denardi
agradece à CAPES pela concessão da bolsa PICDT e D.M.T. Oliveira ao CNPq, pela bolsa de
produtividade em pesquisa.
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89
Ilustrações
90
Fig. 1. Ovário de botões florais e flores em antese de Connarus suberosus. Secção
longitudinal (A); secções transversais (B-H). (A) Detalhe do ginóforo e região basal do ovário
na antese. (B-D) Ovário de botões florais mostrando, respectivamente, margens carpelares
livres, parcialmente fundidas congenitamente e completamente fechadas ontogeneticamente.
(E) Aspecto geral do ovário, cujos óvulos diferem quanto às dimensões. (F-H) Detalhes das
regiões dorsal, ventral e lateral do ovário, respectivamente; notar que a cavidade secretora é
delimitada por epitélio. (I) Detalhe de um tricoma dendróide. (db, feixe dorsal; ie, epiderme
interna; im, mesofilo interno; ls, cordão vascular lateral; mm, mesofilo médio; oe, epiderme
externa; om, mesofilo externo; sc, cavidade secretora; ponta de seta, sutura; seta, reentrância).
Barras de escala = 100 µm (A, E); 25 µm (B, F, H); 50 µm (C-D, G, I).
91
Fig. 2. Diagramas de secções transversais do ginóforo (A) e ovário (B-E) de flor longistila de
Connarus suberosus no início da antese, ilustrando a vascularização destes órgãos. (A)
Emissão de traços ovulares a partir de feixes pximos do dorsal, originando uma lacuna
parenquimática no cilindro vascular. (B) Região basal do ovário, onde se observa o início da
diferenciação do lóculo, acima da lacuna parenquimática, ampliada em decorrência da
migração dos traços ovulares para a região ventral, que também é vascularizada pelos traços
alas e traços de feixes marginais secundários. (C) Região basal do ovário, abaixo da placenta,
ilustrando a emissão de tros vasculares, a partir dos feixes alas (seta). (D) Ovário
seccionado no nível das inserções ovulares, destacando o complexo ovular resultante da fusão
das faixas ovulares àquelas derivadas dos feixes alas. (E) Ovário seccionado acima das
inserções ovulares, mostrando os complexos vasculares ventrais produzidos pela fusão de
feixes alas aos feixes marginais secundários. (db, feixe dorsal; dt, traço dorsal; lo, lóculo; ls,
faixa procambial lateral; mb, feixe marginal secundário; mt, traço marginal secundário; oc,
complexo vascular ovular; ot, traço ovular; ov, óvulo; pl, lacuna parenquimática; vc,
complexo vascular ventral; wt, traço ala). Barras de escala = 100 µm (A-E).
92
Fig. 3. Botões florais e flores em antese de Connarus suberosus. Secções transversais (A, C,
E-G) e longitudinais (B, D). (A) Aspecto geral do ovário de flor em antese, apresentando um
óvulo abortado. (B-C) Detalhes de óvulos férteis. (D) Detalhe de um primórdio ovular,
mostrando o megasporocito. (E) Aspecto geral de um botão floral, mostrando anteras cujo
len foi absorvido e ovário com óvulo apresentando endosperma em desenvolvimento. (F-G)
Respectivamente, detalhes de uma antera e do óvulo com núcleos endospérmicos, vistos em
(E). (en, endóstoma; eu, núcleo endospérmico; ex, exóstoma; nu, nucelo; oe, tegumento
externo; oi, tegumento interno; rb, feixe rafeal). Barras de escala = 100 µm (A-B, E); 25 µm
(C, G); 10 µm (D); 50 µm (F).
93
Fig. 4. Secções transversais do pericarpo de Connarus suberosus em atividade meristemática.
(A) Detalhe da região dorsal; notar tricomas dendróides em desenvolvimento no exocarpo e
divisões anticlinais das células comuns; no mesocarpo externo, notar inúmeras divisões em
planos aleatórios. (B) Detalhe da região lateral. (C) Detalhe do exocarpo e mesocarpo externo.
(D) Detalhe da região ventral, logo acima da inserção da semente; notar feixes vasculares
derivados da vascularização ala (seta escura) e das faixas ovulares (seta clara). (E) Detalhe do
mesocarpo médio, mesocarpo interno e endocarpo, no qual se observa um trecho
multisseriado (ponta de seta). (F) Tricoma endocárpico em desenvolvimento. (dm, mesocarpo
médio; is, mesocarpo interno; om, mesocarpo externo; sc, cavidade secretora). Barras de
escala = 50 µm (A-B); 25 µm (C-E); 100 µm (D); 10 µm (F).
94
Fig. 5. Secções transversais do pericarpo de Connarus suberosus parcialmente expandido. (A)
Aspecto geral da região lateral. (B) Detalhe do exocarpo e mesocarpo externo, com ampla
cavidade secretora; notar estômato, com projeções cuticulares recobrindo parcialmente o
ostíolo. (C) Detalhe do mesocarpo médio e estratos subjacentes; notar feixes laterais
parcialmente diferenciados. (D) Região ventral do pericarpo. (E) Detalhe das camadas
internas do mesocarpo dio, mesocarpo interno e endocarpo com estômato (seta). (F)
Tricoma endocárpico em fase secretora. (dm, mesocarpo dio; lb, feixe lateral; om,
mesocarpo externo; sc, cavidade secretora; vc, complexo vascular ventral). Barras de escala =
100 µm (A); 25 µm (B, E); 50 µm (C); 100 µm (D); 10 µm (F).
95
Fig. 6. Semente de Connarus suberosus em fase inicial de desenvolvimento, com predomínio
de atividade meristemática. Secções transversais (A-C, F-G) e longitudinais (D-E, H). (A-B)
Detalhes ilustrando a progressão da atividade meristemática na testa e a reabsorção do
tégmen. (C) Detalhe da região calazal, onde o mesotégmen é multiplicativo; notar divisões
periclinais na camada subexotestal (ponta de seta clara) e endotégmen colapsado (seta escura).
(D) Aspecto geral do arilo rafe-calazal; notar arranjo radial de lulas fenólicas. (E) Detalhe
do arilo, com terminações vasculares (seta clara) na porção proximal. (F) Detalhe do
tegumento na região do complexo pré-rafeal; notar tégmen parcialmente colapsado e
reabsorvido, onde se reconhece o exotégmen, algumas células colapsadas do mesotégmen e
resquícios fenólicos do endotégmen, margeados internamente pelo endosperma nuclear. (G)
Detalhe do tegumento na região calazal, no qual se evidencia um pequeno trecho bisseriado
do exotégmen. (H) Detalhe da região micropilar, mostrando o estrato péctico (asterisco) que
se interpõe entre o tégmen e o endosperma. (cr, complexo rafeal; eg, exotégmen; em,
embrião; eo, endotesta; ep, endosperma; et, exotesta; mg, mesotégmen; mt, mesotesta; pc,
complexo pré-rafeal; te, testa; tg, tégmen). Barras de escala = 25 µm (A-B); 50 µm (C); 100
µm (D-E); 50 µm (F); 25 µm (G-H).
96
Fig. 7. Pericarpo de Connarus suberosus parcialmente diferenciado. Secções transversais (A-
D, H); secções diagonais (F-G). (A) Aspecto geral da região lateral. (B) Detalhe do exocarpo,
estômato (ponta de seta), mesocarpo externo e das fibras gelatinosas associadas a feixes
vasculares. (C) Detalhe da região ventral; notar tecido de separação (dupla ponta de seta) e
feixes derivados da vascularização ala (asterisco). (D) Detalhe das calotas de fibras
gelatinosas que ladeiam o tecido de separação; notar conteúdo fenólico em várias fibras. (E)
Aspecto do pericarpo diafanizado; observar disposição diagonal dos feixes laterais. (F)
Detalhe da vascularização na região basal do pericarpo, evidenciando a origem de um feixe
lateral, a partir do feixe marginal secundário distal; notar feixes derivados da faixa ovular
(seta). (G) Detalhe de feixe lateral, com fibras gelatinosas septadas. (H) Detalhe de feixe
lateral. (cf, calota de fibras; dm, mesocarpo médio; el, esclereídes; is, mesocarpo interno; lb,
feixe lateral; mb, feixe marginal secundário; om, mesocarpo externo; sf, fibra gelatinosa
septada; vc, complexo vascular ventral). Barras de escala = 100 µm (A, C); 25 µm (B, H); 50
µm (D, G); 3 mm (E); 200 µm (F).
97
Fig. 8. Secções transversais do pericarpo maduro de Connarus suberosus. (A) Detalhe do
mesocarpo médio e camadas subjacentes na região próxima ao feixe dorsal; notar esclereídes
dispersas no tecido parenquimático (ponta de seta). (B-C) Detalhes das camadas internas do
mesocarpo médio, mesocarpo interno e endocarpo; notar fibras com conteúdo fenólico (seta) e
endocarpo pontualmente bisseriado (asterisco). (D) Aspecto geral da região lateral, alongada
em comparação com a fase anterior (ver Fig. 7A). (dm, mesocarpo médio; is, mesocarpo
interno; om, mesocarpo externo). Barras de escala = 50 µm (A-B); 25 µm (C); 100 µm (D).
98
Fig. 9 Aspectos gerais do fruto (A-C) e da semente (D-E) maduros de Connarus suberosus.
(A) Vista lateral. (B) Vista ventral do pericarpo após a deiscência. (C) Secção longitudinal
mediana, expondo a semente. (D) Vista lateral; notar micrópila voltada para o ápice, hilo sub-
basal e arilo rafe-calazal. (E) Vista hilar. Barras de escala = 10 mm (A-E).
99
Tabela 1. Dimensões médias (cm) e peso fresco (g) do fruto de C. suberosus,
seguidos dos respectivos valores de desvio-padrão e da amplitude de variação de
cada parâmetro.
Média Desvio padrão
Amplitude de
variação
Comprimento
2,67 5,81 1,42-3,47
Largura
1,41 2,95 0,95-1,93
Espessura
1,26 2,00 0,95-1,66
Peso
1,53 0,48 0,71-2,27
Tabela 2. Dimensões médias (cm) e peso fresco (g) da semente de C. suberosus,
seguidos dos respectivos valores de desvio-padrão e da amplitude de variação de
cada parâmetro.
Média Desvio padrão
Amplitude de
variação
Comprimento
1,50 2,06 1,09-1,97
Largura
0,79 0,64 0,58-0,90
Espessura
0,58 0,45 0,50-0,70
Peso
0,49 0,07 0,29-0,65
100
Fig. 10. Semente de Connarus suberosus em diferenciação (A-B, F-G) e madura (C-E, H).
Secções transversais (A-C, E-H) e longitudinal (D). (A-C) Detalhes do tegumento e tecidos
subjacentes, ilustrando sucessivas modificações estruturais; notar camadas endospérmicas
adnatas ao tegumento (B-C), indicadas pela seta clara. (D-E) Respectivamente, aspecto geral e
detalhe do arilo. (F) Detalhe de camadas mesotestais, endotesta multiplicativa, exotégmen e
camadas endospérmicas. (G) Aspecto geral da semente sob luz polarizada, mostrando cristais
prismáticos na endotesta (seta escura), principalmente na anti-rafe e adjacências; as cavidades
secretoras dos cotilédones e o xilema também se mostram refringentes. (H) Detalhe do
tegumento na rego calazal, abrangendo camadas mesotestais, complexo vascular rafeal,
exotégmen, mesotégmen e camadas endospérmicas adnatas (seta clara). (co, cotilédone; eg,
exotégmen; eo, endotesta; ep, endosperma; et, exotesta; mg, mesotégmen; mt; mesotesta).
Barras de escala = 50 µm (A-B, H); 25 µm (C, E-F); 200 µm (D); 400 µm (G).
101
Fig. 11. Semente em diferenciação (A-C) e embrião maduro (D-H) de Connarus suberosus.
Secções transversais (A-C, G-H) e longitudinais (D-F). (A-B) Detalhe de estratos
tegumentares internos e endosperma, com células dispostas radialmente (A), em função de
divisões periclinais; notar a ocorrência de mitose (ponta de seta). (C) Detalhe de lulas
endospérmicas, evidenciando distintos tamanhos de núcleos. (D) Aspecto geral do eixo
embrionário e inserção dos cotilédones. (E-F) Detalhes do ápice radicular e plúmula,
respectivamente. (G) Detalhe do cotiledonar, mostrando a emissão de traços vasculares
(setas). (H) Detalhe de cotilédone. (po, primórdio de coifa; sc, cavidade secretora). Barras de
escala = 25 µm (A, C, E, G); 10 µm (B); 200 µm (D); 50 µm (F); 100 µm (H).
CAPÍTULO IV
1
1
Trabalho elaborado segundo as normas da Revista Brasileira de Botânica.
103
1
Morfologia e Anatomia Floral de Oxalis cytisoides Zucc. (Oxalidaceae)
2
JOÃO DONIZETE DENARDI
3
e DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
4,5
Título resumido: Morfoanatomia floral de Oxalis cytisoides
1
2
. Parte da tese de doutorado do primeiro autor, Programa de Pós-graduação em Ciências
Biológicas (Botânica), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Câmpus de
Botucatu.
3
. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universiria de Coxim, Rua
Pereira Gomes, 355, Vila Santa Maria, 79.400-000, Coxim, MS, Brasil.
4
. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica, Avenida Antonio Carlos, 6627, Pampulha, Caixa Postal 486, 31.270-901, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
5
. Autor para correspondência: dmtolive[email protected]fmg.br
104
RESUMO - (Morfologia e anatomia floral de Oxalis cytisoides Zucc. (Oxalidaceae)). Oxalis
é o maior gênero de Oxalidaceae, sendo o único com ocorrência natural no estado de São
Paulo. Poucas espécies do gênero tiveram as flores estudadas morfoanatomicamente, embora
tais dados sejam relevantes para a compreensão de relações filogenéticas nas Oxalidales. Com
o objetivo de descrever a anatomia floral de O. cytisoides com ênfase na vascularização,
botões florais e flores em antese foram fixados e incluídos em metacrilato, produzindo-se
laminário permanente pelas técnicas usuais. Oxalis cytisoides apresenta tristilia, com flores
muito similares, que diferem apenas na posição relativa de estames e carpelos. A morfologia
floral é típica de Oxalidaceae, destacando-se que as pétalas expandem-se apenas após a
diferenciação dos demais verticilos, sendo livres na base e no ápice, conatas em pequena
extensão. Na base do androginóforo, cinco nectários antepétalos são observados, o que
constitui uma variação dos padrões referidos na literatura para a família. Da análise da
vascularização, destaca-se que a flor apresenta traços de estames antepétalos emitidos
previamente aos antessépalos, de modo que existe obdiplostemonia primária.
Anatomicamente, o que mais se destaca é similaridade entre o mesofilo de sépalas e carpelos,
ambos com ampla extensão ocupada por volumosas células aqüíferas; também chama a
atenção a presença, nos quatro verticilos, de tricomas tectores e glandulares. Os óvulos são
anátropos, bitegumentados e tenuinucelados, típicos de Oxalidaceae.
Palavras chave – anatomia, flor, heterostilia, morfologia, Oxalis, tristilia
Introdução
As eurosídeas I constituem um amplo subclado incluindo Oxalidales,
Malpighiales e Celastrales que, segundo o APG (2003), apresenta muitas relações não
resolvidas. Matthews & Endress (2005) descreveram, com base na morfoanatomia floral,
caracteres que evidenciam a associação entre Celastrales e Malpighiales, bem como
potenciais sinapomorfias e tendências apomórficas entre as três ordens de eurosídeas I.
Na flora brasileira, Oxalidales (sensu APG 2003, Stevens 2007) está representada
pelas famílias Connaraceae, Cunoniaceae, Elaeocarpaceae e Oxalidaceae (Souza & Lorenzi
2005). Oxalidaceae é constituída por cinco gêneros e cerca de 800 espécies; Oxalis é,
expressivamente, o maior gênero, abrangendo aproximadamente 700 espécies (Stevens 2007).
São, em geral, ervas bulbosas, raramente arbustos ou árvores, com distribuição tropical e
subtropical. No Brasil, ocorrem dois gêneros (Biophytum e Oxalis) e cerca de 150 espécies
105
(Souza & Lorenzi 2005). No Estado de São Paulo, está naturalmente representada apenas por
Oxalis, embora Averrhoa carambola seja muito cultivada em função dos frutos comestíveis
(Fiaschi & Conceição 2005).
O gênero Oxalis encontra-se dividido em quatro subgêneros: Oxalis, Thamnoxys,
Monoxalis e Trifidus. O subgênero Oxalis caracteriza-se pelo hábito herbáceo e por suas
folhas trifolioladas digitadas, enquanto os representantes de Thamnoxys são arbustivos ou
subarbustivos e apresentam folhas trifolioladas pinadas. Os demais subgêneros abrangem
apenas duas espécies cada um (Lourteig 1994, 2000).
Em Oxalidaceae, as flores são bissexuadas, radiais, usualmente heterostilas, com
cinco sépalas livres e cinco pétalas distintas ou muito levemente conatas, geralmente
convolutas; freqüentemente, ocorrem dez estames com filetes conatos basalmente, os externos
mais curtos que os internos; observa-se a produção de néctar pela base dos filetes ou por
glândulas que, usualmente, se alternam com as pétalas; encontram-se cinco carpelos conatos;
o ovário é súpero, mais ou menos lobado, com placentação axial; distinguem-se, geralmente,
cinco estiletes e os estigmas são freqüentemente capitatos ou puntiformes; em geral, ocorrem
vários óvulos por lóculo (Judd et al. 1999).
Estudos sobre a morfologia e anatomia floral de espécies de Oxalidaceae são
escassos, podendo-se referir os trabalhos de Sauer (1933), Estelita-Teixeira (1984) e
Matthews & Endress (2002). Aspectos da vascularização floral de espécies da família foram
relatados por Narayana (1966), Al-Nowaihi & Khalifa (1971), Kumar (1976) e Estelita-
Teixeira (1980).
Para o presente estudo, selecionou-se Oxalis cytisoides Zucc., espécie que ocorre
em campos e locais úmidos até 950 m de altitude, desde o Ceará até o Rio Grande do Sul e na
Argentina. De acordo com Fiaschi & Conceição (2005), são subarbustos eretos, com até 1 m,
folhas trifolioladas e pinadas; as inflorescências são cimeiras dicasiais; as sépalas são
pubescentes e a corola é rosa; os filetes maiores são apendiculados e pilosos, e os menores são
glabros; os estiletes são também pilosos; os carpelos são glabros e formam-se cápsulas
elipsóides a globosas, glabras, com três sementes por cavidade seminal. Lourteig (1994),
porém, mencionou a ocorrência de pilosidade em ambas as superfícies da cápsula e duas a três
sementes por cavidade seminal.
Oxalis cytisoides inclui-se no subgênero Thamnoxys, cujas espécies evoluíram
principalmente nos campos e cerrados do Brasil (Lourteig, 1994) e para as quais não foram
empreendidos estudos anatômicos com os órgãos reprodutivos. A espécie foi escolhida em
função de sua ocorrência na região de Botucatu, estado de São Paulo, Brasil, e o trabalho foi
106
desenvolvido visando a descrever a anatomia floral de O. cytisoides com ênfase na
vascularização, comparando com o relatado na literatura para as Oxalidales.
Material e métodos
As coletas de material botânico foram inicialmente realizadas em um fragmento
de mata seca à margem da rodovia municipal (Estrada do Roberto) que liga a área urbana do
Distrito de Vitoriana ao Rio Bonito Campo e Náutica, Município de Botucatu, Estado de São
Paulo, Brasil. Considerando a vulnerabilidade desta área de ocorrência de Oxalis cytisoides
Zucc. (Oxalidaceae) ao pisoteio por bovinos, sementes maduras foram coletadas e colocadas
para germinar em sacos de plantio contendo substrato do local de coleta, os quais foram
irrigados e mantidos em casa de vegetação coberta por sombrite 50%, possibilitando o
acompanhamento diário dos eventos da reprodução. Ramos férteis foram herborizados e
registrados no Herbário “Irina Delanova Gemtchujnicov” (BOTU), do Departamento de
Botânica, Instituto de Biociências da UNESP, Câmpus de Botucatu, sob o número 24.172.
Lâminas permanentes de botões florais em diversos estádios de desenvolvimento
e flores em antese foram preparadas a partir de amostras das três formas florais fixadas em
FAA 50 (Johansen, 1940) e conservadas em etanol 70% (Jensen, 1962). As amostras foram
desidratadas em série etanólica, incluídas em metacrilato Leica, conforme o protocolo do
fabricante, e seccionadas transversal e longitudinalmente em micrótomo rotativo com
aproximadamente 8 µm de espessura. As séries obtidas foram coradas com azul de toluidina
0,05%, pH 4,7 (O’Brien et al., 1964) e montadas em resina sintética.
Para se verificarem os sítios de emissão de fragrâncias florais, flores intactas
foram expostas ao vermelho neutro, conforme indicado por Pridgeon & Stern (1983). Testes
histoquímicos foram realizados para detecção de polissacarídeos ácidos, lipídios totais e
compostos fenólicos (Johansen 1940), tratando-se secções semi-finas com vermelho de
rutênio, Sudan IV, lugol e cloretorrico, respectivamente.
Os resultados obtidos foram registrados digitalmente, utilizando-se câmera
Olympus C7070WZ acoplada a microscópio de luz Olympus BX41.
Resultados
Morfologia – As flores de O. cytisoides são pentâmeras, actinomorfas (figura 1) e diclamídeas
(figura 2). O cálice apresenta prefloração quincuncial (figura 11) e protege os verticilos
internos durante a maior parte da ontogênese floral; é constituído por sépalas verdes a
107
arroxeadas, com base larga e ápice agudo. A prefloração da corola é contorta; durante o seu
desenvolvimento, as pétalas tornam-se conatas (figura 13), mas a base (figuras 11-12), que é
estreita, e a metade superior (figuras 1-2) permanecem livres; a coloração é rósea, salvo a
porção interna do tubo, que é amarela.
Na espécie, ocorrem flores longistilas (figura 3), medistilas (figura 4) e brevistilas
(figura 5), mas as três formas florais não exibem diferenças estruturais marcantes, exceto pela
posição relativa de estames e carpelos.
O androceu e o gineceu são adnatos em curta extensão, produzindo um
androginóforo, onde se reconhecem dez traços estaminais e a vascularização carpelar (figuras
11-12). Acima da região adnata, o androceu exibe os dez estames conatos na base (figura 13)
e dispostos em dois verticilos (figuras 2-6). O verticilo externo compreende os estames
antepétalos, que possuem nectários basais na região externa do androginóforo (figuras 11-12).
Os estames antessépalos, mais longos e calibrosos que os antepétalos (figuras 2-6, 15),
exibem um apêndice não vascularizado, formado abaxialmente na porção livre dos filetes. As
anteras são dorsifixas (figura 15), versáteis e mudam da posição introrsa para extrorsa na
antese; a deiscência das tecas é dada por fenda longitudinal.
O gineceu é formado por cinco carpelos antepétalos, unidos congenitamente pelos
bordos ventrais, de tal modo que o orio se mostra pentalocular (figura 13); entretanto, na
região apical deste órgão, os carpelos tornam-se individualizados e uniloculares (figura 15).
Observa-se um cômpito apical (figura 14), restrito ao ovário de botões florais. Ao longo da
porção livre de cada carpelo, a sutura (região ventral) é conspícua, exceto na parte superior do
estilete. Externamente, a sutura é acompanhada por uma reentrância que se estende até o
estigma, que é bilobado e papiloso, reagindo intensamente ao vermelho neutro. Nas flores
brevi- e medistilas, as extremidades estigmáticas são decurrentes (figuras 4-5), enquanto são
confluentes nas longistilas (figura 3). Em cada carpelo, dois ou três óvulos anátropos,
inseridos ao longo da região axial.
Vascularização Na base do receptáculo, o sistema vascular organiza-se como um
sifonostelo, do qual se separam cinco traços medianos de sépalas (figura 7) e, alternando-se
com estes, cinco projeções que se bifurcam para constituir os traços laterais de sépalas
adjacentes (figura 8); portanto, cada sépala recebe três traços vasculares, que ainda podem se
ramificar durante a migração para a periferia (figura 9). De regiões intercaladas às sépalas,
divergem cinco complexos vasculares (figura 9), dos quais resultam cinco traços externos de
pétalas e cinco traços internos de estames antepétalos (figuras 9-10). Em seguida, o cilindro
108
vascular emite cinco traços de estames antessépalos (figuras 10-11), um pouco menos
conspícuos que os antepétalos e, logo a seguir, os cinco traços dorsais dos carpelos, que se
mostram muito pequenos (figuras 11, 19).
Na base do ovário, simultaneamente à formação dos lóculos, o sistema vascular
apresenta o contorno estrelado com cinco pontas (figura 12). De cada uma destas, deriva um
traço que penetra nas margens laterais concrescidas de carpelos adjacentes. Internamente a
esses traços laterais, o restante do sistema vascular organiza-se em cinco traços ventrais
intercalados aos laterais, alguns deles subdivididos em duas unidades (figuras 12, 20). Acima
deste ponto, a vascularização ventral de cada carpelo torna-se unitária e o feixe ventral de
cada carpelo migra, posicionando-se radialmente ao lateral intercarpelar (figuras 13, 21). No
ovário, os feixes ventrais ramificam-se para suprir óvulos de carpelos contíguos e não se
estendem além da placenta. Ao longo da parede ovariana, os feixes laterais originam cordões
que se ramificam em direção aos feixes dorsais.
Na região apical do ovário, onde o cômpito pode ser observado (figura 22), a
vascularização ovariana é composta pelos cinco feixes dorsais e dez laterais (figura 14),
formados pela subdivisão e divergência para carpelos vizinhos; nesta altura, os filetes estão
individualizados, sendo mais calibrosos nos estames antessépalos (figura 14). Mais ao ápice,
os carpelos também se individualizam e os feixes laterais, dois por carpelo, constituem os
feixes mais evidentes; neste ponto, podem ser vistas as anteras dos estames curtos (figura 15).
Nos estiletes, esses feixes laterais secundários aproximam-se gradativamente do
dorsal (figuras 16-17, 23), fundindo-se a ele e constituindo um complexo (figura 18) que se
estende até o estigma.
lice As sépalas apresentam epiderme coberta por cutícula inconspícua, constituída de
células cubóides a poligonais (figuras 24-26), alongadas longitudinalmente, com parede
periclinal externa convexa (figuras 25-26), que exibem raros cloroplastos; aquelas da face
abaxial mostram-se mais volumosas e possuem paredes periclinais externas levemente
espessadas (figura 25). Estômatos ocorrem em ambas as superfícies (figura 25), enquanto
tricomas restringem-se à abaxial; estes são unicelulares, com paredes lignificadas, providas de
ornamentações verrucosas (figura 26) e conteúdo fenólico; mais raramente, ocorrem tricomas
glandulares, multicelulares e unisseriados (figura 27). Estes tipos de tricomas também
ocorrem em outros órgãos florais, distribuindo-se conforme será indicado. Independentemente
do órgão em que se localizam, os tricomas glandulares coram-se intensamente quando
tratados com vermelho neutro.
109
O mesofilo das palas consiste de parênquima clorofiliano lacunoso, cujas
células, aproximadamente cilíndricas, envolvem total ou parcialmente os feixes vasculares
colaterais, e de uma a duas (raro três) camadas de parênquima aqüífero abaxial, formado por
células volumosas, de formato poligonal (figura 25), alongadas no sentido longitudinal e
dispostas compactamente (figuras 24, 26). No mesofilo, observam-se cristais prismáticos de
oxalato de cálcio principalmente no estrato parenquimático frouxo.
Corola A corola inicia sua diferenciação após os demais óros (figura 24), mas se expande
rapidamente, pouco antes e no decorrer do alongamento dos verticilos internos, tornando-se o
invólucro protetor de botões em pré-antese.
A epiderme das pétalas compõe-se de células cubóides (figuras 27-30), alongadas
longitudinalmente, possuindo paredes periclinais externas convexas (figuras 27-30),
levemente espessadas e revestidas por cutícula inconspícua. Na face adaxial do tubo, há
muitas papilas (figuras 28-29) e estômatos elevados (figura 30). Tricomas ocorrem
predominantemente na face adaxial, contudo a maior parte deles é glandular (figura 27).
O mesofilo é representado por parênquima de células de formatos irregulares, com
espaços intercelulares evidentes, e parênquima aqüífero, de células menores que as ocorrentes
nas palas, as quais são adjacentes à epiderme de ambas as faces (figuras 28-29). Cristais
prismáticos de oxalato de cálcio apresentam-se dispersos no mesofilo. Ocorrem feixes
vasculares colaterais, nos quais o floema é mais abundante que o xilema, rodeados por bainha
parenquimática (figuras 29-30).
Estames Os filetes possuem células epidérmicas cubóides a poligonais (figuras 31-32),
alongadas longitudinalmente, cujas paredes periclinais externas, levemente convexas, exibem
espessamentos pécticos (figura 32); no entanto, esses se mostram pouco conspícuos na antese,
exceto na porção distal deste órgão. O mesofilo é parenquimático, com pequenos espos
entre as células, que são volumosas (figura 32) e alongadas no sentido longitudinal. Estas
envolvem o feixe vascular anficrival e, eventualmente, contêm cristais prismáticos.
Os nectários são observados na base dos estames antepétalos e consistem de
epiderme estomatífera e células fundamentais que se caracterizam pelo citoplasma denso,
núcleo proeminente e menor tamanho em relação às células do parênquima adjacente. Uma ou
duas camadas de células separam o feixe estaminal do tecido nectarífero (figura 33).
O apêndice dos estames antessépalos consiste de emergências recobertas pela
epiderme característica dos filetes e preenchidas por parênquima.
110
Tricomas tectores e glandulares restringem-se aos estames antessépalos e à região
acima da inserção dos apêndices estaminais.
As anteras m quatro microsporângios, arranjados aos pares em duas tecas
equivalentes, unidas entre si e ao filete pelo conectivo (figuras 34, 36). Inicialmente, a parede
da antera consiste de quatro estratos parietais: protoderme, camada precursora do endotécio,
camada média e camada precursora do tapete; nesta fase, observa-se que todos os
microsporocitos encontram-se em contato direto com o tapete (figura 34). O conectivo
apresenta um cordão procambial (figura 34) e muitas lulas com pequenos cristais
prismáticos, dispostos em aglomerados similares a drusas (figuras 36-37).
Durante a ontogênese, a camada mediana desintegra-se (figura 35), em estádio
intermediário àqueles em que se observam microsporocitos e tétrades de microsporos; o
tapete mostra-se vestigial, logo que os microsporos tornam-se livres no interior dos
microsporângios (figura 36).
Paralelamente à microgametogênese, as células do endotécio tornam-se mais
volumosas e tendem a cubóides; são células com grande densidade citoplasmática e núcleo
evidente (figura 36). Posteriormente, o endotécio forma espessamentos parietais filiformes
lignificados, dispostos reticuladamente (figuras 37-39); no conectivo, observa-se a
diferenciação do feixe vascular e o endotécio multiplica-se irregularmente, exibindo mais de
uma camada de espessura (figuras 36). Neste período, o grão de len apresenta a parede
bastante espessada e a célula generativa englobada pela vegetativa; esta é grande, vacuolada e
apresenta núcleo globoso, enquanto aquela tem pequeno tamanho, formato elipsóide e núcleo
também muito evidente (figura 38).
Próximo à deiscência da antera, há reabsorção do septo que isola os dois
microsporângios de cada uma das tecas (figura 39). A parede da antera madura apresenta
epiderme formada por células de contorno irregular e endotécio constituído por células mais
alongadas tangencialmente, com os espessamentos parietais e o núcleo bastante evidentes; no
estômio, apenas a epiderme fica diferenciada (figura 39). No interior dos microsporângios,
próximos às paredes tangenciais internas do endotécio ou a resquícios do tapete, encontram-se
os corpos de Ubisch, que reagem similarmente à exina na coloração com azul de toluidina
(figuras 38-40). Os grãos de pólen têm o vacuoma muito reduzido, mostrando grande
densidade celular próximo à deiscência (figuras 39-40); deste modo, fica prejudicada a
observação das demais características internas. Os grãos de pólen também se coram
intensamente quando expostos ao vermelho neutro.
111
Gineceu A parede ovariana consiste, inicialmente, de quatro estratos parietais (figura 41),
dos quais derivam a epiderme externa, o mesofilo e a epiderme interna. Na antese, a epiderme
externa do ovário é unisseriada, coberta por cutícula inconspícua, formada por células
cubóides, com citoplasma denso e núcleo proeminente (figuras 42-43). Ao longo da
reentrância entre carpelos adjacentes e, em menor extensão, da região dorsal, ocorrem
idioblastos fenólicos (figura 43). Na região apical do ovário, o segmento epidérmico que se
estende da reentrância aos flancos do carpelo constitui-se de células mais volumosas que as
demais. Essas relações de volume o mantidas na porção unilocular do ovário, a partir da
sutura ventral (figura 44). No estilete, as dimensões celulares tornam-se uniformes. A
epiderme deste órgão é composta por células comuns, que possuem parede periclinal externa
convexa, estômatos e tricomas, tanto tectores (figura 45) quanto glandulares.
O mesofilo ovariano compreende duas regiões morfologicamente distintas, na
extensão que abrange das laterais à região dorsal (figura 43). O estrato externo consiste de
células relativamente volumosas, alongadas longitudinalmente, que apresentam paredes
levemente sinuosas e conteúdo hialino. Eventualmente, observam-se divisões aleatórias nessa
camada. A porção interna é formada por pequenas células poligonais, que se dividem
principalmente no plano periclinal, acomodando cordões procambiais. Na região do feixe
dorsal, que é formado por apenas alguns elementos vasculares, geralmente pouco
diferenciados, o mesofilo constitui-se de células de dimensões reduzidas.
Na parede ovariana pxima aos curtos septos, o mesofilo é homogêneo,
consistindo de duas a três camadas de células poligonais (figura 43); algumas dessas com
cristais prismáticos; nessa porção é incomum a ocorrência de divisões celulares.
Ramificações vasculares estendem-se até as proximidades do feixe dorsal, permeando o
mesofilo (figura 43).
Nos septos e na região axial, o mesofilo constitui-se de células cilíndricas a
poligonais alongadas longitudinalmente, que apresentam dimensões variáveis e pequenos
espaços entre si, ocorrendo acúmulo de compostos fenólicos. No septo, ainda se observa um
feixe lateral e um ventral invertido, pouco diferenciados, alinhados radialmente (figura 46).
Ao longo da região individualizada dos carpelos, o mesofilo aos poucos se mostra
relativamente homogêneo, sendo composto por células de contorno poligonal a arredondado,
alongadas longitudinalmente, que apresentam volumes variáveis e pequenos espaços
intercelulares.
112
No ovário, a epiderme interna é formada por células cubóides achatadas
periclinalmente, menores que àquelas da epiderme externa. Compostos fenólicos estão
presentes nas células que delimitam ventralmente o lóculo (figura 43).
Os óvulos são tenuinucelados (figura 47) e bitegumentados (figuras 47, 49), com
micpila em ziguezague, pressionada contra a placenta (figura 49), e um pequeno apêndice
calazal, composto por células pequenas e densas do tegumento externo (figura 48). Este
tegumento é constituído por três camadas de células (figura 49). A epiderme externa consiste
de células cubóides, com paredes tangenciais externas pécticas e levemente espessadas,
núcleo proeminente e citoplasma denso. No mesofilo, as células são semilunares e apresentam
conteúdo hialino e núcleo arredondado e evidente. Na rafe, onde ampliação do número de
camadas fundamentais em torno do feixe rafeal, as células são poligonais e menores. A
epiderme interna caracteriza-se por células cubóides alongadas transversalmente, densas e
com conteúdo péctico.
O tegumento interno compreende três a quatro camadas de células com citoplasma
denso e núcleo evidente. As células epidérmicas externas o cuides e alongadas
longitudinalmente, enquanto no mesofilo há uma ou duas camadas de células com esse
formato, alongadas transversalmente. A epiderme interna constitui o endotélio, com células
cubóides volumosas, um pouco achatadas periclinalmente, que apresentam paredes
tangenciais internas pécticas e levemente espessadas. O nucelo escasso é consumido em
estádios que precedem à antese (figura 49).
Discussão
A característica floral mais marcante de O. cytisoides é a ocorrência de heterostilia
trimórfica. Relatos sobre heterostilia abrangem cerca de vinte e oito famílias de angiospermas;
a maioria das espécies apresenta heterostilia dimórfica, também denominada distilia, enquanto
que a heterostilia trimórfica ou tristilia é mais rara, sendo conhecida em apenas seis famílias
(Barrett et al. 2000). Matthews & Endress (2002) citaram a ocorrência de heterostilia
dimórfica e trimórfica em Oxalidaceae e Connaraceae, ambas pertencentes a Oxalidales (APG
2003), ressaltando que o compartilhamento de heterostilia trimórfica é especialmente
significante, visto que é conhecida para poucas famílias de angiospermas.
A análise da morfologia floral de O. cytisoides revela características típicas da
família, como as relatadas por Judd et al. (1999), podendo-se destacar pequenas
peculiaridades. Além da heterostilia, verificou-se que as pétalas, que no grupo podem ser
113
distintas ou muito levemente conatas segundo os referidos autores, chamam a atenção na
espécie estudada. Oxalis cytisoides inicia tardiamente a diferenciação das pétalas, mas estas se
expandem rapidamente, tornando-se o invólucro protetor de botões em pré-antese; além disso,
ocorre conação em pequena extensão, embora tanto a região proximal quanto a distal sejam
livres.
Também cabe destacar que, em O. cytisoides, as cinco regiões nectaríferas são
formadas nas porções antepétalas do androginóforo, conforme se observou em O. latifolia, O.
oxyptera, O. corymbosa (Estelita-Teixeira 1980, 1984) e O. ortgiesii (Mattews & Endress
2002); no entanto, em O. pescaprae, toda porção externa do androginóforo constitui-se de
tecido nectarífero (Kumar, 1976). Judd et al. (1999) afirmaram que, nas Oxalidaceae, o néctar
pode ser produzido pela base dos filetes ou por glândulas que se alternam com as pétalas.
Matthews & Endress (2002) consideraram que o mesofilo das sépalas das
Oxalidaceae, constituído por células especialmente grandes, representa uma autapomorfia
para Oxalidales. Em O. cytisoides, a estrutura das sépalas é essencialmente similar à das
espécies estudadas por Estelita-Teixeira (1984) e Matthews & Endress (2002).
No tubo da corola, destaca-se a ocorrência de estômatos elevados em relação às
demais lulas da face adaxial da epiderme. É provável que a umidade relativa no interior do
tubo seja muito elevada, tanto em função da retenção de água nas sépalas, que ajuda a manter
a turgescência floral, quanto pela secreção de ctar, que se acumula no interior do tubo,
favorecendo o estabelecimento de caracteres hidromórficos como este.
Avaliando-se a vascularização floral de O. cytisoides, nota-se que ocorre a
emissão dos traços estaminais antepétalos em nível inferior ao dos traços de estames
antessépalos. Durante muito tempo, esta foi considerada uma confirmação anatômica da
obdiplostemonia em Oxalidaceae (Al-Nowaihi & Khalifa 1971, Narayana 1966, Kumar 1976,
Estelita-Teixeira 1980). No entanto, Al-Nowaihi & Khalifa (1971) mencionaram que, em O.
cernua, o androceu obdiplostêmone somente é reconhecido do ponto de vista morfológico,
pois os traços estaminais separam-se do cilindro central no mesmo nível. Ronse Decraene &
Smets (1995) relataram que, em taxa obdiplostêmones, os traços de estames antepétalos
podem divergir em um nível inferior, equivalente ou superior àquele dos traços antessépalos;
não há, portanto, uma correlação entre vascularização e obdiplostemonia.
O androceu obdiplostêmone representa uma interrupção da seqüência usual de
alternância dos verticilos florais, devido à posição oposta às pétalas do verticilo externo de
estames. Eames (1977) agrupou em três teorias as diversas interpretações sobre a
obdiplostemonia, as quais explicam a sua origem pela adição de um novo verticilo de estames
114
(teoria da intercalação), pela perda de um verticilo externo de estames (teoria da redução) ou
pelo deslocamento ontogenético (teoria do deslocamento).
Recentemente, vários estudos sobre a ontogenia floral de taxa obdiplostêmones
revelaram que os estames surgem na seqüência centrípeta usual. Desta forma, a
obdiplostemonia foi interpretada como um fenômeno secundário causado pelo crescimento
diferencial e deslocamento dos primórdios de estames. Esses resultados corroboram a teoria
do deslocamento, proposta originalmente por Čelakovský no século XIX e referida por
Weberling (1992) e por Ronse Decraene & Smets (1995).
A partir da observação de casos de obdiplostemonia que não se ajustam às
premissas do deslocamento, Ronse Decraene & Smets (1995) propuseram a distinção entre
três vias de desenvolvimento da obdiplostemonia: “obdiplostemonia primária” (os estames
antepétalos surgem antes dos estames antessépalos e não há deslocamento secundário),
“obdiplostemonia secundária” (as partes florais iniciam-se na seqüência acrópeta normal, mas
os primórdios de estames antepétalos são deslocados para uma posição externa àquela dos
estames antessépalos durante a ontogenia) e “obdiplostemonia centrífuga” (os primórdios de
estames antepétalos surgem após os primórdios antessépalos e constituem o verticilo externo).
Em O. cytisoides, provavelmente, a obdiplostemonia é primária, visto que existe correlação
entre a mesma e o retarde no desenvolvimento de pétalas, conforme assinalou Ronse
Decraene & Smets (1995), inclusive para Oxalidaceae. O retarde no desenvolvimento de
pétalas também foi relacionado pelo autor à ocorrência de complexos de vasculares dos quais
divergem os traços de estames antepétalos e de pétalas, como observado neste estudo e em
Averrhoa carambola (Al-Nowaihi & Khalifa 1971).
Matthews & Endress (2002) consideraram a ocorrência de tricomas glandulares
em órgãos florais de Oxalidaceae e Connaraceae como um dos caracteres estruturais que
aproximam filogeneticamente estas famílias. No presente estudo, constatou-se que tais
tricomas são responsáveis pela emissão de compostos voláteis, os quais, possivelmente,
atraem polinizadores (Young et al.1984, Werker 2000, Effmert et al. 2005).
Sauer (1933) destacou que a anatomia do carpelo em Oxalidaceae é similar àquela
das sépalas. De fato, a espécie estudada mostra esta situação, pouco comum em outras
famílias. Em ambas as peças florais de O. cytisoides, o mesofilo exibe poucas camadas de
células pequenas adjacentes à face adaxial da epiderme e células amplas e muito vacuoladas
voltadas para a face abaxial, ocupando a maior proporção do órgão; entre as duas faixas,
inserem-se os feixes vasculares. Dentre os quatro verticilos florais, cálice e gineceu
normalmente apresentam estruturas mais diferenciadas, inclusive recebendo vascularização
115
mais expressiva que corola e androceu, os quais, como visto na espécie em estudo,
usualmente recebem um traço único por peça. O investimento nos carpelos é facilmente
compreendido, tendo em foco a formação do pericarpo e a proteção das sementes. Também as
sépalas desempenham importante papel de proteção, tanto no botão jovem, antes do
alongamento das pétalas e diferenciação dos verticilos férteis, quanto durante parte do
desenvolvimento do fruto, já que o cálice é persistente nesta espécie.
Quanto aos óvulos, encontrou-se a condição característica de Oxalidaceae, que
se observou que eles são anátropos, bitegumentados e tenuinucelados (Corner 1976).
A análise da morfologia e anatomia floral de O. cytisoides evidenciou aspectos
interessantes da espécie, muitos deles típicos das Oxalidaceae, os quais são importantes para
se entenderem relações filogenéticas entre a família e as demais Oxalidales. Aspectos mais
peculiares da espécie podem ser úteis para se reconhecer relações intrafamiliares, desde que
um maior número de espécies venha a ser detalhadamente estudado.
Agradecimentos Ao M.Sc. Pedro Fiaschi, pela identificação da espécie, e à FAPESP
(Programa BIOTA, proc. n
o
00/12469-3), pelo apoio financeiro. À CAPES, pela concessão da
bolsa PICDT de João D. Denardi e ao CNPq, pela bolsa de produtividade em pesquisa de
D.M.T. Oliveira.
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118
Ilustrações
119
Figuras 1-6. Morfologia floral de Oxalis cytisoides Zucc. 1. Aspecto geral de flor longistila. 2.
Flor longistila em corte longitudinal mediano. 3-5. Androceu e gineceu das formas longistila,
medistila e brevistila respectivamente. 6. Detalhe do androceu, mostrando a presença de
tricomas glandulares e apêndice estaminal (seta) nos estames mais longos. (ec = estame curto;
el = estame longo; es = estilete; pe = pétala; se = sépala).
120
Figuras 7-18. Diagramas mostrando a vascularização floral de Oxalis cytisoides Zucc.,
analisada em botão em pré-antese. Secções transversais. 7-9. Receptáculo. 7. Início da
emissão dos traços medianos de sépala. 8. Traços de pala emitidos, ainda próximos ao
estelo. 9. Início de separação das sépalas, cujos traços encontram-se mais periféricos;
simultaneamente, emissão dos cinco complexos pétala-estame antepétalo. 10. Sépalas quase
totalmente isoladas, na altura em que se observa a separação do traço de tala e estame
antepétalo. 11. Bases livres das pétalas, separadas do androginóforo; neste, observam-se os
nectários e traços dos dez estames; cinco pequenos traços dorsais encontram-se bem emitidos
e inicia-se a emissão dos traços laterais de carpelos. 12. Traços laterais de carpelos mais
isolados e início da formação dos cinco lóculos; observar, também, traços ventrais unitários
ou subdivididos em dois por carpelo. 13. Pétalas parcialmente justapostas ao tubo estaminal,
mostrando os limbos concrescidos; orio distinto, destacando os feixes ventrais concrescidos
entre carpelos e alinhados radialmente aos feixes laterais; notar a presença dos óvulos. 14.
Ápice do ovário, mostrando o cômpito unindo os carpelos; notar os feixes laterais
subdivididos entre carpelos adjacentes; os filetes encontram-se individualizados, sendo mais
calibrosos nos estames antessépalos. 15-18. Seqüência mostrando a fusão dos feixes laterais e
dorsal de cada carpelo; enquanto os estames maiores ainda exibem os filetes, os menores
exibem as anteras, que não estaão mais visíveis na última figura. (an = antera; co = complexo
pétala-estame antepétalo; es = estilete; fc = filete de estame curto; fe = feixe lateral; fl = filete
de estame longo; fv = feixe ventral; ne = nectário; pe = pétala; se = sépala; tc = traço vascular
de estame curto; td = traço dorsal; tl = traço vascular de estame longo; tp = traço de pétala; tr
= traço lateral; ts = traço de sépala; tu = tubo estaminal; tv = traço ventral). Barra = 80 µm (7-
18).
121
Figuras 19-23. Vascularização floral de Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais. 19.
Detalhe da figura 11, mostrando o androginóforo, em que se reconhecem cinco nectários e
dez traços de estames, os mais calibrosos curtos e antepétalos; notar, ainda, os pequenos
traços dorsais bem emitidos. 20. Detalhe da figura 12, com os traços laterais emitidos e
ventrais parcialmente individualizados (dois por carpelo). 21. Detalhe do ovário, representado
na figura 13, com feixes ventrais fundidos dois a dois e alinhados radialmente com os laterais.
22. Detalhe da figura 14, mostrando o ápice do ovário com o cômpito (asterisco); notar a
divisão dos feixes laterais, irrigando as margens dos carpelos. 23. Detalhe de estiletes vistos
na figura 17, mostrando diferentes graus de fusão entre os feixes laterais e o dorsal dos
carpelos. (fd = feixe dorsal; fe = feixe lateral; fv = feixe ventral; ld = complexo feixe lateral-
dorsal; lo = lóculo; ne = nectário; ov = óvulo; pe = pétala; tc = traço vascular de estame curto;
td = tro dorsal; tl = traço vascular de estame longo; tr = traço lateral; tt = tecido de
transmissão; tv = traço ventral). Barras = 100 µm (19), 25 µm (20), 50 µm (21-23).
122
Figuras 24-30. Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais. 24. Aspecto geral de botão
jovem, mostrando as pétalas pouco desenvolvidas. 25-29. Flor em antese. 25. Aspecto geral
da sépala. 26. Detalhe de tricoma tector, observado em sépalas e estames. 27. Detalhe de
tricoma glandular, ocorrente em sépalas, pétalas, estames e estiletes. 28. Aspecto geral da
pétala. 29. Detalhe da pétala, destacando papilas, tricoma glandular e feixes vasculares. 30.
Detalhe da pétala de botão em pré-antese, com esmatos elevados (ponta de seta). (an =
antera; fl = filete de estame longo; pe = pétala; se = sépala). Barras = 100 µm (24), 25 µm (25,
29-30), 10 µm (26-27), 50 µm (28).
123
Figuras 31-40. Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais. 31. Detalhe do botão floral,
mostrando a diferença de calibre entre filetes de estames longos e curtos. 32. Detalhe do filete
com feixe vascular único. 33. Detalhe do nectário com estômato (ponta de seta); notar amplo
cordão procambial próximo ao nectário. 34. Aspecto geral da antera com microsporocitos
distintos. 35. Detalhe de microsporângio com microsporos jovens individualizados. 36.
Aspecto geral de antera mais desenvolvida, ainda com endotécio pouco diferenciado e tapete
presente; notar cristais no endotécio (seta). 37. Detalhe de antera ainda com os quatro
microsporângios distintos, mostrando endotécio com espessamentos diferenciados e ausência
do tapete. 38. Detalhe da figura anterior, destacando microgametofitos e a presença de corpos
de Ubisch (seta). 39. Detalhe da antera próxima da deisncia, as fusão dos dois
microsporângios de cada teca; notar a presença de corpos de Ubisch (seta). 40. Detalhe de
grãos de pólen maduros; observar os espessamentos reticulados do endotécio e os corpos de
Ubisch (seta). (cg = célula generativa; cv = célula vegetativa; en = endotécio; et = estômio; fc
= filete de estame curto; fl = filete de estame longo; fo = floema; ta = tapete; xi = xilema).
Barras = 100 µm (31), 25 µm (32-34, 36-37, 39), 10 µm (35, 38, 40).
124
Figuras 41-49. Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais (41-46). Secções longitudinais
(47-49). 41. Aspecto geral de ovário muito jovem, com quatro estratos parietais e óvulos em
início de formação. 42. Aspecto geral do ovário diferenciado, ainda em botão floral, na altura
em que se inicia a separação de carpelos. 43. Detalhe de ovário e óvulo durante a antese
(ponta de seta = idioblasto fenólico). 44. Detalhe do ápice do ovário, onde os carpelos
encontram-se individualizados. 45. Detalhe do estilete com amplo tecido de transmissão;
notar a presença de tricoma. 46. Detalhe do eixo central do ovário, mostrando os feixes
ventrais e alguns laterais. 47. Detalhe do óvulo no início da ontogênese; notar o nucelo com
evidente megasporocito, bem como os prirdios dos tegumentos interno e externo. 48.
Detalhe dos tegumentos, destacando o apêndice calazal (asterisco). 49. Detalhe do óvulo
durante a antese; notar micpila em ziguezague (seta = exóstoma; dupla ponta de seta =
enstoma). (fe = feixe lateral; fo = floema; fr = feixe rafeal; fv = feixe ventral; me =
megasporocito; nu = nucelo; te = tegumento externo; ti = tegumento interno; tt = tecido de
transmissão; xi = xilema). Barras = 25 µm (41-42, 45-46, 48), 50 µm (43-44, 49), 10 µm (47).
CAPÍTULO V
1
1
Trabalho elaborado segundo as normas da Revista Brasileira de Botânica.
126
1
Morfoanatomia e Ontogênese do Pericarpo e Semente de Oxalis cytisoides Zucc.
(Oxalidaceae), com ênfase no peculiar mecanismo de deiscência
2
JOÃO DONIZETE DENARDI
3
e DENISE MARIA TROMBERT OLIVEIRA
4,5
Título resumido: Fruto e semente de Oxalis cytisoides
1
2
. Parte da tese de doutorado do primeiro autor, Programa de Pós-graduação em Ciências
Biológicas (Botânica), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Câmpus de
Botucatu.
3
. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universiria de Coxim, Rua
Pereira Gomes, 355, Vila Santa Maria, 79.400-000, Coxim, MS, Brasil.
4
. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica, Avenida Antonio Carlos, 6627, Pampulha, Caixa Postal 486, 31.270-901, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
5
. Autor para correspondência: dmtol[email protected]fmg.br
127
RESUMO - (Morfoanatomia e ontonese do fruto e semente de Oxalis cytisoides Zucc.
(Oxalidaceae), com ênfase no peculiar mecanismo de deiscência). Oxalis cytisoides pertence
ao subgênero Thamnoxys, cujas espécies evoluíram principalmente nos campos e cerrados
brasileiros; ocorre em campos e locais úmidos até 950 m de altitude, do Ceará até o Rio
Grande do Sul e Argentina. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de descrever
a morfoanatomia e desenvolvimento do fruto e semente de O. cytisoides, relacionando a
estrutura observada ao seu processo de dispersão. O material foi processado e incluído em
metacrilato, produzindo-se lâminas permanentes; testes histoquímicos usuais foram
realizados. O pericarpo de O. cytisoides passa por pequenas alterações durante o
desenvolvimento, mantendo estrutura geral similar à parede ovariana, com exocarpo e
endocarpo unisseriados e mesocarpo com dois estratos, o externo composto por parênquima
aqüífero, que mantém a turgescência do fruto até próximo da deiscência, e o interno, que é
clorofiliano. As sementes desenvolvem ambos os tegumentos, com espessa cutícula na
exotesta, mesotesta multiplicativa que acumula amido até próximo da maturidade, endotesta
cristalífera e exotégmen unisseriado, composto por células paliçádicas espessadas e
impregnadas por compostos fenólicos. São sementes albuminosas, com amplo endosperma
formado de modo núcleo-celular. Ocorre deiscência loculicida no fruto, a partir da
desidratação do mesocarpo externo, que contrai o pericarpo; tricomas endocárpicos
lignificados alavancam as sementes, lançando-as balisticamente; como a testa se rompe na
camada cristalífera, as sementes são dispersadas revestidas pelo exotégmen e resíduos da
endotesta. Os eventos observados no tegumento foram previamente descritos para outras
Oxalidaceae, mas a função do pericarpo, especialmente do endocarpo, na dispersão é relatada
pela primeira vez neste trabalho.
Palavras chave – anatomia, dispersão, morfologia, pericarpo, tegumento
Introdução
No sistema APG II (APG 2003), Oxalidaceae pertence a Oxalidales, ordem do
subclado de eurosídeas I, cujas relações permanecem não resolvidas. Stevens (2007)
reconheceu como sinapomorfias para o subclado a ocorrência de exotégmen fibroso e
endosperma escasso, fato que destaca a relevância da compreensão da estrutura seminal para
o grupo. Diretamente para Oxalidales, o autor mencionou os seguintes caracteres
reprodutivos: ocorrência de células de mucilagem, micrópila formada por ambos os
128
tegumentos, tegumento do óvulo multiplicativo, endotesta cristalífera e paliçádica, e
exotégmen fibroso ou traqueoidal.
Das cerca de 800 espécies que comem as Oxalidaceae, aproximadamente 700
são de Oxalis (Stevens 2007), único gênero da família que ocorre naturalmente no estado de
São Paulo (Fiaschi & Conceição 2005). Em Oxalidaceae, as flores são bissexuadas e,
usualmente, heterostilas; é comum a ocorrência de cinco carpelos conatos, com ovário súpero,
mais ou menos lobado e placentação axial, em geral com vários óvulos por lóculo; geralmente
há cinco estiletes distintos e os estigmas são, freqüentemente, capitados ou puntiformes (Judd
et al. 1999).
Oxalis cytisoides Zucc. inclui-se no subgênero Thamnoxys, cujas espécies
evoluíram principalmente nos campos e cerrados do Brasil (Lourteig 1994) e para as quais
não foram encontradas análises anatômicas de óros reprodutivos. A espécie ocorre em
campos e locais úmidos até 950 m de altitude, desde o Ceaaté o Rio Grande do Sul e na
Argentina, e consiste de subarbustos eretos, com até 1 m, com folhas trifolioladas e pinadas
(Fiaschi & Conceição 2005). Segundo os autores, os frutos são cápsulas elipsóides a globosas
e glabras, com cavidades trisseminadas. Lourteig (1994), porém, mencionou a ocorrência de
pilosidade em ambas as superfícies da cápsula e duas a três sementes por lóculo.
A estrutura do pericarpo de várias espécies de Oxalis foi descrita por Sauer (1933)
e Estelita-Teixeira (1980). O fruto de Oxalis é uma psula rimosa, a qual se caracteriza,
segundo Barroso et al. (1999), pela deiscência loculicida, sem a formação de valvas. Sua
superfície pode ser glabra ou pilosa, e várias espécies desenvolvem tricomas endocárpicos
(Lourteig 1975, 1994, 2002, Fiaschi & Conceição 2005).
De acordo com Corner (1976), as sementes das Oxalidaceae desenvolvem-se de
óvulos anátropos, bitegumentados e tenuinucelados. A testa mucilaginosa é freqüentemente
confundida com um arilo (Stevens 2007). Em vários gêneros, podem ocorrer ruminações nos
tegumentos, as quais podem atingir o endosperma (Corner 1976, Boesewinkel 1985). Em
Oxalis, as ruminações da semente são produzidas pela atividade mitótica de grupos de células
da mesotesta; em Biophytum, são derivadas, exclusivamente, da expansão radial das células
desse tecido (Boesewinkel 1985, Werker 1997).
Com relação a O. cytisoides, não foram encontradas análises estruturais dos
órgãos reprodutivos, com exceção do trabalho de Denardi & Oliveira (Cap. IV, neste volume),
que descreveram a morfoanatomia floral, enfatizando sua vascularização. Sobre o gineceu, os
autores destacaram que é sincárpico, pentacarpelar e pentalocular, com carpelos conatos pelos
bordos ventrais, os quais são livres e uniloculares no ápice. Em cada carpelo, dois ou três
129
óvulos anátropos, dispostos axialmente. Segundo os autores, na parede ovariana, a epiderme
externa e interna são unisseriadas e o mesofilo apresenta lulas volumosas e hialinas
externamente e células pequenas e poligonais na porção interna.
Diante da relencia das características seminais para o subclado, da necessidade
de dados que favoreçam o esclarecimento de relações filogenéticas entre as eurosídeas I e
levando em conta o relato de Corner (1976) e Werker (1997) de um peculiar mecanismo de
dispersão de sementes em certas Oxalidaceae, tornou-se oportuno o presente trabalho, que
tem por objetivos: descrever a morfologia, anatomia e o desenvolvimento do fruto e semente
de O. cytisoides, e relacionar a estrutura observada ao processo de dispersão da espécie.
Material e métodos
Sementes maduras de dez indivíduos de Oxalis cytisoides Zucc. (Oxalidaceae)
foram coletadas em um fragmento de mata seca à margem da rodovia municipal (Estrada do
Roberto) que liga a área urbana do Distrito de Vitoriana ao Rio Bonito Campo e Náutica,
Município de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil; foram colocadas para germinar em casa
de vegetação coberta por sombrite 50%, em sacos de plantio contendo substrato do local de
coleta. Após o florescimento, as plantas foram observadas diariamente, coletando-se frutos e
sementes nas diversas fases do desenvolvimento. Exsicatas de indivíduos rteis foram
inseridas no Herbário “Irina Delanova Gemtchujnicov” (BOTU), do Departamento de
Botânica, Instituto de Biociências da UNESP, Câmpus de Botucatu, registradas sob o número
24.172.
Inicialmente, foram realizadas observações morfológicas sob estereomicroscópio
Leica, utilizando-se amostras de cerca de 50 unidades, ilustrando-se o fruto e a semente na
maturidade. Apesar da espécie apresentar tristilia, Denardi & Oliveira (Cap. IV, neste
volume) relataram que o diferenças morfológicas e anatômicas entre as três formas
florais, com exceção do comprimento do estilete. Deste modo, os frutos foram coletados
independentemente de sua origem em flores brevistilas, medistilas ou longistilas.
O estudo anamico foi realizado a partir de minas permanentes, preparadas a
partir de amostras fixadas em FAA 50 (Johansen 1940) e preservadas em etanol 70% (Jensen
1962). As amostras passaram por desidratação em série etílica e inclusão em metacrilato
Leica, conforme o protocolo do fabricante, sendo obtidas séries transversais e longitudinais
com cerca de 8 µm de espessura em micrótomo rotativo. As lâminas foram coradas com azul
de toluidina 0,05%, pH 4,7 (O’Brien et al. 1964) e montadas com Entellan®.
130
Foram realizados os seguintes testes histoquímicos de cunho qualitativo,
utilizando-se secções de material fresco e incluído em metacrilato: vermelho de rutênio, para
a detecção de polissacarídeos ácidos; Sudan IV, para verificação de lipídios totais; lugol, para
localizar amido; e cloreto férrico, para verificar a presença de compostos fenólicos (Johansen,
1940); azul mercúrio de bromofenol para indicar a presença de proteínas (Mazia et al., 1953).
Em secções de material fresco, aplicou-se floroglucinol acrescido de ácido clorídrico, para
detecção de estruturas lignificadas (Sass 1951).
A descrição do desenvolvimento foi feita a partir da estrutura do ovário e óvulo
apresentada por Denardi & Oliveira (Cap. IV, neste volume). Este trabalho considera fruto
jovem desde a estrutura observada a partir da abscisão das primeiras peças florais até a fase
pré-deiscência, quando as características do fruto maduro podem ser vistas.
O laminário foi analisado e os resultados foram fotografados em microscópio de
luz Olympus BX41 com câmera digital Olympus C7070WZ acoplada.
Resultados
Fruto jovem – O primeiro estádio da ontogênese do pericarpo de O. cytisoides é caracterizado
pela atividade meristemática, que se inicia após a fecundação, acompanhada pela
diferenciação dos estratos celulares. Nesse período, as laterais provenientes de cada carpelo
expandem-se, formando flancos e estreitando as reentrâncias entre eles (figuras 1-2). A
porção dorso-apical do ovário desenvolve-se além da base dos estiletes e as dimensões do
fruto aumentam significativamente em relação ao ovário.
Um carpóforo é constituído pelo androginóforo, o qual se mantém inconspícuo. Observa-se
que o início do desenvolvimento do fruto coincide com a abscisão da corola e dos estames,
embora estames antessépalos persistam por algum tempo (figura 1). Os estiletes são
persistentes, assim como o cálice, que continua a se desenvolver (figura 1).
O exocarpo é unisseriado (figuras 2-5), constituindo-se de células papilosas
(figuras 3-5) com cloroplastos, nos quais é evidenciada a presença de amido (figura 3).
Ocorrem, também, estômatos e tricomas glandulares, unisseriados, formados por três a quatro
células, esparsamente distribuídos; a célula apical destes apêndices é mais alongada que as
demais, contém granulações citoplasmáticas finas e sua extremidade mostra-se levemente
dilatada (figura 5). Nas reentrâncias entre flancos adjacentes, o exocarpo não apresenta
superfície papilosa, estômatos ou tricomas, consistindo de células achatadas periclinalmente,
131
com acúmulo de substâncias fenólicas, exceto naquelas situadas próximo à superfície; as
dimenes celulares variam ao longo da área da reentrância, conforme se observa na figura 2.
No mesocarpo, as células hialinas e vacuoladas (figura 3) dividem-se
aleatoriamente, muitas vezes de forma assimétrica, ocasionando a expansão dos flancos que,
em secção transversal, assumem aspecto deltóide (figura 2). A espessura deste tecido pode
chegar a seis células, reduzindo-se o número de camadas e as dimenes celulares em direção
à região dorsal. Trata-se de um parênquima aqüífero, que consiste de células com formato e
volume variáveis, paredes levemente sinuosas e finas, conteúdo hialino (figuras 2-6),
alongadas longitudinalmente e dispostas em fileiras diagonais.
Subjacente ao parênquima aqüífero, o mesocarpo consiste de parênquima
clorofiliano com espaços intercelulares pequenos mas evidentes, sem amplião do número de
camadas registrado para esta região na parede ovariana. Em direção ao septo, o mesocarpo é
formado por a três camadas de células parenquimáticas alongadas periclinalmente,
destituídas de cloroplastos, entre as quais raramente ocorrem espaços (figura 2).
Nos septos e na região axial (figura 7), o mesocarpo constitui-se de parênquima
colenquimatoso, cujas células apresentam paredes pécticas e tendem ao formato cilíndrico,
muitas delas acumulando compostos fenólicos e amido, as quais delimitam espaços
intercelulares pequenos e evidentes. O amido encontra-se depositado em todos os tecidos
pericárpicos, especialmente nos cloroplastos (figura 3), mas é pouco comum no parênquima
aqüífero e no endocarpo. Cristais de oxalato de lcio ocorrem com maior freqüência em
células parenquimáticas dos septos e região axial do fruto, bem como próximos a elementos
traqueais, especialmente em feixes de maior calibre. O sistema vascular, embora bem
desenvolvido, ainda apresenta poucos elementos condutores diferenciados, tanto nos feixes
dorsais (figura 4), quanto nos laterais (figuras 3, 6-7) e ventrais (figura 7). Na região do feixe
dorsal, que é inconscuo, o mesocarpo possui espessura de duas a três camadas de células
pequenas e arredondadas, constituindo a região de maior fragilidade do pericarpo (figura 4).
No endocarpo, que permanece unisseriado como a epiderme interna do ovário que
o originou, formação de tricomas unicelulares com paredes espessadas (figura 8) e
lignificadas, de conteúdo fenólico, orientados em direção à base da cavidade seminal; nas
adjacências da região dorsal, desenvolvem-se numerosos estômatos (figura 4).
No decorrer desse período de desenvolvimento do pericarpo, as modificações
observadas na semente resultam da atividade meristemática e expansão celular, que
determinam aumento significativo de suas dimenes.
132
A semente desenvolve-se mantendo as características gerais do óvulo (figura 9),
sendo anátropa e bitegumentada, com a presença de um pequeno apêndice calazal.
Na exotesta, após divisões anticlinais, as células tornam-se mais vacuoladas e um
tanto mais altas que largas (comparar as figuras 9 e 11); exibem paredes pécticas, núcleo
proeminente e citoplasma granular, e são recobertas por cutícula muito espessa (figuras 10-
14). A mesotesta é multiplicativa, porém a atividade mitica é irregular e produz ruminações
nos tegumentos, a intervalos mais ou menos regulares, resultando em ondulações observáveis
tanto externa quanto internamente (figuras 10-11), acentuadas durante o desenvolvimento
(figuras 12-13). A vascularização seminal restringe-se ao feixe rafeal (figuras 10, 12),
originado no cordão procambial presente na estrutura em s-antese (figura 9). A endotesta,
inicialmente composta por células pouco mais densas que a mesotesta (figura 9), desenvolve-
se como uma camada cristalífera, cujas células apresentam formato cubóide a poligonal,
núcleo volumoso, conteúdo péctico e cristal prismático depositado pximo à parede
periclinal interna (figura 13).
Com relação ao tegumento interno, destaca-se, em relação à estrutura inicial vista
na figura 9, o alongamento anticlinal das células do exotégmen e a ampliação do número de
camadas do mesotégmen (figuras 13-14); o endotégmen continua unisseriado, com células
proporcionalmente menores que no início do desenvolvimento (comparar as figuras 9 com as
13-14). No entanto, logo após a expansão celular, meso- e endotégmen começam a se
desintegrar.
Como estas sementes são provenientes de óvulos tenuinucelados, desde a fase
inicial não se observam nem resíduos do nucelo. O endosperma apresenta núcleos livres
(figuras 11-14) e o embrião alcança o estádio globular, mostrando pequeno suspensor (figura
15).
Fruto pré-maturação – Neste estádio, o pericarpo atinge as dimensões finais mediante o
aumento de volume celular, que ocorre principalmente no parênquima aqüífero (figuras 16-
17), e o estiramento dos demais tecidos (figura 18), à exceção da região axial, que não exibe
alterações estruturais visíveis (figura 16). No mesocarpo, completa-se o desenvolvimento dos
feixes vasculares. A expansão do pericarpo permite a acomodação da semente em
desenvolvimento, que também alcança o tamanho característico, ao término dos eventos de
diferenciação. A semente diferenciada apresenta sarcotesta translúcida e ruminações que se
estendem dos tegumentos à periferia do endosperma (figura 19).
133
Na exotesta, nota-se a cutícula muito espessa, porém as células acabam
comprimidas e, portanto, não podem ser facilmente identificadas (figuras 20-21). A mesotesta
é parenquimática, constituída por células volumosas, com paredes pécticas delgadas (figura
20) e reservas de amido (figura 21); as camadas externas mostram-se mais comprimidas
(figuras 20-21). O feixe rafeal encontra-se diferenciado, com pequeno calibre e pouco
evidente. Nas células da endotesta, ocorre espessamento da parede periclinal interna, que
apresenta impregnação fenólica (figura 21); em seguida, observa-se a formação de depósitos
pécticos no protoplasto (figura 23), possivelmente por meio de coalescência de pequenos
vacúolos contendo substâncias dessa natureza, que delimitam, com a parede periclinal interna,
uma câmara onde se aloja o cristal prismático (figura 24). No restante da célula, novos
acréscimos pécticos preenchem a maior parte do lúmen, restringindo o protoplasto a pequenos
tabiques no interior deste tampão péctico (figuras 20, 24).
O exotégmen diferencia-se como camada de células alongadas longitudinalmente,
dispostas em paliçada, que apresentam lúmen estreito delimitado por paredes espessadas
(figuras 20-24) não lignificadas, mas impregnadas por compostos fenólicos e outras
substâncias cuja natureza não pôde ser determinada nos testes realizados. O mesogmen é
completamente absorvido, enquanto o endotégmen desenvolve-se como uma camada de
células achatadas periclinalmente, com paredes finas (figuras 25-26) e conteúdo fenólico;
posteriormente, ele é reabsorvido e reduzido a um estrato fenólico amorfo que se interpõe
entre o exotégmen e o endosperma.
Depois que o embrião atingiu o estádio globular, inicia-se centripetamente a
citocinese do endosperma. Entretanto, na região central, este tecido continua a se desenvolver
mediante a atividade meristemática que se instala nas últimas camadas formadas (figura 25);
algumas vezes, observam-se mitoses em células localizadas mais perifericamente (figura 26).
Freqüentemente, as células do endosperma exibem núcleos volumosos, com dois a três
nucléolos (figura 27).
Na semente desenvolvida, o endosperma é abundante (figura 28) e acumula
lipídios e proteínas. Estas reservas também ocorrem no embrião, que tem formato espatulado
(figura 29) e coloração esbranquiçada. Este consiste de dois cotilédones achatados, maiores
que o eixo hipocótilo-radícula embora tão longos quanto, cada um recebendo um traço
vascular, que se ramifica constituindo cordões procambiais de calibres variados (figura 30). O
eixo embrionário apresenta plúmula rudimentar (figura 31) e ápice radicular revestido por
primórdio de coifa (figura 32). Desta forma, a distribuição dos tecidos meristemáticos
primários é típica.
134
Fruto maduro Na fase pré-deisncia, o fruto maduro é uma cápsula túrgida, ovada a
globosa, com estiletes persistentes (figura 33), que ocupam posição subterminal em virtude do
desenvolvimento da região dorso-apical do pericarpo (figuras 33-34). Os estames antessépalos
e lice (figuras 33, 35) também subsistem. O carpóforo não mostra sinais de alongamento
desde o início do desenvolvimento, de modo que pode ser observado sob
estereomicroscópio e as a remoção do cálice.
O fruto, pêndulo durante o desenvolvimento, assume posição ereta durante a
maturação. O pericarpo torna-se membranáceo, em função da desidratação do parênquima
aqüífero (comparar as figuras 34 e 36), após o quê se a ruptura dorsal (figuras 35-36),
caracterizando a deiscência loculicida, que exe de duas a três sementes por cavidade. A
pilosidade relatada em estádios anteriores mantém-se no pericarpo maduro; entretanto, os
tricomas endocárpicos apresentam-se voltados para o ápice do pericarpo, após a deisncia.
Na fase pré-deiscência (figura 37), a semente exibe a porção externa túrgida, pela
presença integral da testa. Simultaneamente à desidratação e deiscência do pericarpo, ocorre
degradação das reservas de amido no parênquima mesotestal, seguida da ruptura da testa, ao
longo da anti-rafe até o apêndice calazal, e liberação balística da porção interna da semente.
Após a dispersão (figura 38), o envoltório seminal consiste apenas do tégmen e da parede
periclinal interna fenólica da endotesta (figura 39), que se rompe na porção cristalífera,
provocando o desprendimento da porção carnosa da testa. O tegumento remanescente confere
coloração castanho-clara à semente.
Discussão
O pericarpo de O. cytisoides passa por pequenas alterações durante o seu
desenvolvimento, mantendo a estrutura geral similar à observada na parede ovariana durante a
antese (Denardi & Oliveira, Cap. IV, neste volume). A região mais ampla e evidente do
pericarpo é o mesocarpo externo, composto por parênquima aqüífero, que mantém a
turgescência do fruto até próximo da deiscência. Roth (1977) descreveu dois mecanismos de
deiscência, o higroscópico e o de turgor. Segundo a autora, o mecanismo higroscópico é o de
maior importância para a deiscência de frutos, sendo fundamentado na capacidade de
distensão e retração de paredes celulares, a qual é dependente da estrutura micelar,
usualmente de células mortas na maturidade; o mecanismo de turgor depende de um tecido
de expansão, composto por células túrgidas, que exercem considerável pressão de turgor
sobre tecidos vizinhos.
135
Na maturidade do fruto de O. cytisoides, o parênquima aqüífero mesocárpico
passa por intensa desidratação, de modo que a deiscência é resultante da contração das demais
camadas celulares observadas nos flancos do fruto. A deiscência não é relacionada à
contração de paredes de células mortas, como é comum em frutos com mecanismo
higroscópico, mas apenas de células vivas, tanto parenquimáticas quanto epidérmicas. Trata-
se, portanto, de um mecanismo higroscópico peculiar, que não produz deiscência muito ativa
ou explosiva, já que estas são dependentes de estratos esclerenquimáticos diferenciados, como
os relatados por Fahn & Zohary (1955) para pericarpos de leguminosas. Os autores
destacaram que a tendência derivada é a redução do estrato esclerenquimático até o extremo
da completa ausência deste.
Além de tecidos relacionados à produção da força que leva à deiscência,
pericarpos deiscentes apresentam regiões de fragilidade, usualmente compostas por células de
paredes delgadas (Roth 1977), nas quais se a ruptura pericárpica. Oxalis cytisoides forma
cápsulas rimosas e, portanto, abre-se dorsalmente; como esta é a região mais delgada do
pericarpo da espécie, abrangendo somente de quatro a cinco camadas celulares, e o próprio
feixe dorsal tem tamanho reduzido, a fragilidade estrutural é responsável pelo local de
abertura do fruto, o se reconhecendo camadas especiais de separação.
Analisando a constituição do pericarpo e considerando que a deiscência em O.
cytisoides é passiva, sem estrato esclerenquimático nem tecido de separação distintos, pode
causar estranheza o relato de liberação balística das sementes. De acordo com Corner (1976) e
Werker (1997), algumas Oxalidaceae dos gêneros Oxalis e Biophytum apresentam um
mecanismo incomum de dispersão das sementes, que envolve a ruptura brusca da testa e a
ejeção da parte interna. A separação do tegumento externo é atribda pelos autores a duas
características da testa: ao estiramento da cutícula, durante o desenvolvimento da semente, e à
elevada turgescência do parênquima mesotestal, resultante da degradação enzimática de
amido pouco antes da maturação da semente. Para os autores, a tensão gerada por esses
processos causa o rompimento das paredes das células cristalíferas da endotesta, provocando a
liberação balística da semente, revestida pelo tégmen e, parcialmente, pela endotesta.
A estrutura seminal de O. cytisoides corrobora os relatos de Corner (1976) e
Werker (1997). Contudo, ambos os trabalhos detiveram-se apenas à semente, não analisando
em conjunto o pericarpo; deste modo, explicaram detalhadamente como a porção carnosa da
testa é separada do restante da semente, mas não esclareceram os motivos de sua liberação
balística do fruto. Neste trabalho, analisando-se em conjunto a estrutura pericárpica e seminal,
pode-se reconhecer importante participação do endocarpo no processo de dispersão seminal.
136
Quando o pericarpo desidrata e se contrai, gera a força que produz as aberturas dorsais do
fruto; quando esta contração atinge o endocarpo, os tricomas longos e lignificados,
diferenciados com as extremidades voltadas para a base, são repuxados e estirados, sendo
observados voltados para o ápice após a dispersão. Como as sementes preenchem a cavidade
seminal, o movimento dos tricomas endocárpicos da base para o ápice alavanca as sementes
que, com a maior parte da testa desprendida do tégmen, o lançadas bruscamente. A
mudança de posição do fruto da espécie estudada, passando de pêndulo, durante todo o
desenvolvimento, a ereto, à época da deiscência, favorece a eficiência da liberação balística
das sementes.
Embora a correlação entre tricomas endocárpicos e a dispersão seja apresentada
pela primeira vez neste trabalho, encontra-se o registro de que várias espécies de Oxalis
desenvolvem esses tricomas (Lourteig 1975, 1994, 2002, Estelita-Teixeira 1980, Fiaschi &
Conceição 2005). Estelita-Teixeira (1980), considerou que a disposição dos tricomas no
interior da cavidade seminal sugere a sua participação no mecanismo de deisncia; no
entanto, não apresentou detalhes sobre esse processo. Sauer (1933), por sua vez, ressaltou que
a dispersão das sementes é efetuada exclusivamente pela camada externa do envolrio
seminal.
A estrutura do pericarpo de diversas espécies de Oxalis, descrita por Sauer (1933)
e Estelita-Teixeira (1980), apresenta características similares às aqui registradas.
Certamente, a espécie mais mencionada de Oxalidaceae é Averrhoa carambola,
espécie muito apreciada em função dos frutos comestíveis. O fruto de Averrhoa pode ser
classificado como campomanesoídeo (Barroso et al. 1999) e sua anatomia foi analisada por
Dave et al. (1975), Kumar (1975) e Rao & Kothagoda (1984). Por ser um fruto carnoso e
indeiscente, apenas aspectos estruturais gerais são comuns às espécies de Oxalis.
Dentre as sinapomorfias apontadas por Stevens (2007) para as eurosídeas I, a
ocorrência de exotégmen fibroso é considerada constante em Oxalidaceae, exceto em
Biophytum. Mesmo muito antes das análises moleculares atuais, Corner (1976) sugeriu que
Oxalidaceae relaciona-se filogeneticamente a outras famílias portadoras deste caráter, entre as
quais Connaraceae, hoje reconhecida como também pertencente a Oxalidales (APG 2003,
Stevens 2007).
Ainda com relação ao exotégmen, a denominação de “fibroso” não se aplica
perfeitamente a O. cytisoides, visto que a expressão induz à interpretação da presença de
camada lignificada, como são as fibras. Na espécie estudada, o exotégmen é formado por
células paliçádicas espessadas, impregnadas por compostos fenólicos, mas sem lignina
137
detectável pelos testes histoquímicos realizados. Funcionalmente, não há nenhuma
divergência, visto que a camada é resistente e protetora da semente, como são as camadas
lignificadas em tegumentos seminais.
A ontogênese tegumentar de Oxalis revela muitos aspectos peculiares que
merecem ser destacados. A semente desenvolve-se bitegumentada até a maturidade, mas,
observando-se apenas o diásporo, somente o tégmen é persistente. Também chama a atenção a
diferenciação da endotesta como camada cristalífera, típica de Geraniaceae e Oxalidaceae
(Werker 1997), à qual se associam conspícuos tampões pécticos. Análises ultra-estruturais
futuras são relevantes para se entender a formação destes tampões e favorecer a interpretação
de seu significado no processo de ruptura da testa.
Em O. cytisoides, a presença de ruminações é evidente, verificando-se que
abrangem ambos os tegumentos e a metade externa do endosperma. Werker (1997) destacou
que as ruminações podem atingir ou não o endosperma, sendo causadas por divisões
localizadas, como o verificado na mesotesta da espécie em estudo, ou pelo alongamento
desigual de uma única camada de células. Segundo a autora, ambos os padrões foram
relatados para Oxalidaceae, o primeiro para espécies de Oxalis e o segundo para Biophytum.
O endosperma, presente nas sementes maduras de O. cytisoides, difere do
esperado para as eurosídeas I que, segundo Stevens (2007), possuem endosperma escasso. A
semente estudada possui embrião axial e espatulado (Martin 1946, Barroso et al. 1999),
ocupando aproximadamente um quarto da semente, considerando-se a classificação de Martin
(1946). O endosperma é, portanto, a porção mais volumosa desta semente na maturidade,
sendo rico em lidios e proteínas. Corner (1976) e Boesewinkel (1985) relataram que as
reservas da semente de Oxalidaceae consistem apenas de óleos. Contudo, Jones & Earle
(1966) quantificaram as reservas seminais de O. europaea, encontrando 47,6% de óleos,
21,9% de proteínas e ausência de amido, corroborando os resultados dos testes histoquímicos
aqui apresentados. Corner (1976) mencionou que a presença de endosperma é variável na
família e Salter (1952) registrou que várias espécies de Oxalis da África do Sul não
apresentam endosperma na maturidade.
A característica mais marcante do endosperma de O. cytisoides, contudo, é seu
modo de formação. Inicialmente, o endosperma é nuclear, coincidindo com a generalização de
Corner (1976) para as Oxalidaceae. Após a fase inicial, entretanto, mitoses completas,
incluindo a cariocinese e a citocinese, ocorrem nas camadas endospérmicas recém
celularizadas, sendo responsáveis pela intensa proliferação deste tecido. A literatura
reconhece apenas três padrões de formação de endosperma, nuclear, celular ou helobial
138
(Werker 1997), padrões que não permitem enquadrar O. cytisoides. O desenvolvimento
analisado nesta espécie é um tipo misto, núcleo-celular, que foi anteriormente relatado apenas
para espécies de Manihot (Euphorbiaceae) por Oliveira (2007).
Agradecimentos Ao M.Sc. Pedro Fiaschi, pela identificação da espécie, e à FAPESP
(Programa BIOTA, proc. n
o
00/12469-3), pelo apoio financeiro. À CAPES, pela concessão da
bolsa PICDT de João D. Denardi e ao CNPq, pela bolsa de produtividade em pesquisa de
D.M.T. Oliveira.
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140
Ilustrações
141
Figuras 1-8. Pericarpo jovem de Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais (1-7). Secção
longitudinal (8). 1. Aspecto geral do fruto jovem, mostrando cinco filetes e cálice persistentes;
notar os flancos expandidos, estreitando o espaço entre as laterais provenientes de carpelos
contíguos (seta). 2. Detalhe da figura 1, mostrando o pericarpo com flancos. 3. Detalhe do
pericarpo reagido com lugol (ponta de seta = cloroplasto com amido). 4. Detalhe da região
dorsal; observar o feixe dorsal diminuto e a presença de esmato endocárpico (seta). 5.
Detalhe do pericarpo, mostrando tricoma exocárpico. 6. Detalhe do mesocarpo e endocarpo,
destacando um feixe lateral. 7. Aspecto dos septos, unidos à região axial do fruto; notar feixes
laterais e ventrais alinhados radialmente. 8. Detalhe do endocarpo com tricoma. (en =
endocarpo; ex = exocarpo; fd = feixe dorsal; fi = filete; fs = feixe lateral secundário; fv =
feixe ventral; me = mesocarpo; pa = parênquima aqüífero; pc = parênquima clorofiliano; pe =
pericarpo; se = semente; sp = sépala). Barras = 200 µm (1), 25 µm (2, 5-6, 8), 100 µm (3, 4),
50 µm (7).
142
Figuras 9-15. Semente jovem de Oxalis cytisoides Zucc. Secções transversais (9-13). Secção
longitudinal (14-15). 9. Início do desenvolvimento da semente, observado na fase
imediatamente pós-antese. 10. Aspecto geral da semente preenchendo a cavidade seminal do
fruto jovem, mostrando o contorno ondulado; notar o endosperma nuclear. 11. Detalhe da
figura anterior. 12. Vista geral semente, com ruminações mais pronunciadas. 13-14. Detalhes
da semente, na fase evidenciada na figura 12. 15. Detalhe da semente com embrião globular.
(cp = cordão procambial; eg = exotégmen; em = embrião; et = exotesta; fr = feixe rafeal; mg
= mesotégmen; mt = mesotesta; ng = endotégmen; nt = endotesta; pe = pericarpo; su =
suspensor; te = testa; tg = tégmen; asterisco = cutícula espessa; ponta de seta = núcleo livre;
dupla ponta de seta = cristal na endotesta). Barras = 25 µm (9, 11-15), 50 µm (10).
143
Figuras 16-28. Pericarpo e semente de Oxalis cytisoides Zucc., próximos à maturidade.
Secções transversais (16-18, 20-24). Secções longitudinais (19, 25-28). 16. Fruto expandido,
mostrando ampla cavidade seminal (a semente foi excluída). 17. Detalhe da figura anterior,
mostrando o flanco. 18. Detalhe do pericarpo, próximo ao curto septo (entre setas). 19.
Semente pré-dispersão, em secção transmediana. 20. Detalhe do tegumento reagido com
vermelho de rutênio, destacando os tampões pécticos na endotesta; notar a espessura da
cutícula (asterisco). 21. Detalhe do tegumento reagido com lugol; notar numerosos grãos de
amido na mesotesta. 22. Detalhe do tegumento em maturação; notar a endotesta cristalífera
com células densas, o exotégmen com paredes espessadas e o meso- e endotégmen ainda
presentes como resquícios (dupla ponta de seta). 23-24. Detalhes com a seqüência de
formação dos tampões pécticos na endotesta, indicados pela coloração mais densa nesta
camada. 25. Detalhe de semente, mostrando o endosperma em formação, já celularizado, onde
divisões celulares são freqüentes (ponta de seta). 26. Detalhe da figura anterior, em região
próxima à ruminação, destacando os resquícios do meso- e endotégmen (dupla ponta de seta)
e mitoses endospérmicas (ponta de seta). 27. Detalhe endosperma jovem com núcleos
volumosos com mais de um nucléolo (seta). 28. Detalhe endosperma, destacando as reservas.
(cr = cristal; cs = cavidade seminal; ed = endosperma; eg = exotégmen; em = embrião; mt =
mesotesta; nt = endotesta; tp = tampão péctico). Barras = 200 µm (16, 19), 100 µm (17-18),
25 µm (20-22, 26-28), 10 µm (23-24), 50 µm (25).
144
Figuras 29-32. Embrião de semente madura de Oxalis cytisoides Zucc. Secções longitudinais
(29, 31-32). Secção transversal (30). 29. Diagrama da secção transmediana do embrião. 30.
Detalhe dos cotilédones, justapostos ao endosperma. 31. Detalhe da plúmula. 32. Detalhe do
ápice da radícula (asterisco = primórdio de coifa). (co = cotilédone; cp = cordão procambial;
ed = endosperma; pl = plúmula; pr = procâmbio). Barras = 100 µm (29), 25 µm (30-32).
145
Figuras 33-39. Fruto e semente maduros de Oxalis cytisoides Zucc. Aspecto externo (33, 35,
37-38). Secções transversais, nas posições indicadas, respectivamente, nas figuras anteriores
(34, 36, 39). 33-34. Fruto pré-deiscência; notar a ocorrência de estilete subterminal. 35-36.
Fruto em deiscência. 37. Semente pré-dispersão, com a testa presente. 38-39. Semente
dispersada, revestida pelo tégmen e resquício da endostesta, indicado na figura 39 (seta). (ac =
apêndice calazal; co = cotidone; cs = cavidade seminal; ed = endosperma; eg = exotégmen;
es = estilete subterminal; ra = região axial). Barras = 3 mm (33, 35), 200 µm (34, 36), 1 mm
(37-38), 100 µm (39).
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À análise estrutural apresentada neste trabalho, cabem as seguintes considerações:
As espécies estudadas compartilham vários caracteres e tendências morfológicas, que
incluem:
pétalas com epiderme estomatífera, caráter que nas demais Oxalidales foi observado
somente em Crinodendron (Elaeocarpaceae);
ocorrência de tricomas glandulares em pétalas, filetes e estiletes, os quais emitem
compostos voláteis;
restrição de áreas nectaríferas aos setores antepétalos do tubo estaminal;
espessamento endotecial reticulado;
endotélio, que persiste como um estrato fenólico amorfo (O. cytisoides) ou é
completamente absorvido durante o desenvolvimento seminal (C. suberosus);
crescimento assimétrico dos frutos, ocasionado por atividade meristemática mais intensa
na face ventral (Connarus suberosus) ou dorso-apical (Oxalis cytisoides) do pericarpo;
pericarpo com estômatos exo- e endocárpicos e tricomas internos;
presença de estrutura carnosa no tegumento seminal, que consiste de arilo rafe-calazal em
C. suberosus e sarcotesta em O. cytisoides;
endotesta cristalífera; gmen multiplicativo, mas parcialmente absorvido durante o
desenvolvimento; exotégmen constituído por células com parede espessas, alongadas
longitudinalmente;
endosperma endopoliplóide, com desenvolvimento núcleo-celular.
A estrutura dos órgãos reprodutivos de O. cytisoides, espécie do subgênero Thamnoxys, é
muito similar àquela de espécies classificadas no subgênero Oxalis.
Em Connaraceae, as descrições morfológicas apontam certa variabilidade da construção
pericárpica e seminal; desta forma, novos trabalhos de cunho estrutural podem auxiliar no
refinamento das análises infra- e interfamiliares e evidenciar as tendências evolutivas
relacionadas aos frutos e sementes de Connaraceae.
Não há relatos prévios sobre a ocorrência de apomixia, de tricomas glandulares, que atuam
como corpos de alimentação, e de mecanismo de deiscência por meio de turgescência em
Connaraceae; desta forma, são pertinentes estudos adicionais voltados diretamente a
esclarecer esses aspectos.
147
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