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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: FISIOLOGIA
ESTRESSE OSMÓTICO: SÍNTESE DE LIPÍDIOS A PARTIR DE AMINOÁCIDOS
EM CARANGUEJOS Neohelice granulata (DANA, 1851)
Dissertação de Mestrado
TIAGO LEAL MARTINS
Porto Alegre, 2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS:
FISIOLOGIA
ESTRESSE OSMÓTICO: SÍNTESE DE LIPÍDIOS A PARTIR DE AMINOÁCIDOS
EM CARANGUEJOS Neohelice granulata (DANA, 1851)
TIAGO LEAL MARTINS
Orientadora: Dra. Roselis Silveira Martins da Silva
Dissertação apresentada ao curso de Pós-graduação
em Ciências Biológicas: Fisiologia, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre.
Porto Alegre, 2008
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Comissão Examinadora
Denise Maria Zancan
Profª Doutora do Programa de Pós-graduação em
Ciências Biológicas: Fisiologia – UFRGS
Vera Maria Treis Trindade
Profª Doutora do Programa de Pós-graduação em
Ciências Biológicas: Bioquímica – UFRGS
Carolina Arruda de Oliveira Freire
Profª Doutora do Programa de Pós-graduação em
Biologia Celular e Molecular – UFPR
4
Dedico este trabalho à minha família
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha orientadora Professora Roselis Silveira Martins da Silva,
que gentilmente me acolheu em sua equipe e possibilitou a realização deste traba-
lho, depositando muita confiança, paciência e transferindo conhecimentos.
À minha família, que desde sempre acreditou em mim e me apoiou nos mo-
mentos difíceis.
Ao Professor Luiz Carlos Kucharski pela parceria e por estar sempre dispos-
to a ajudar e partilhar seus conhecimentos.
Aos mais que colegas, os grandes amigos que fiz no Laboratório de Metabo-
lismo e Endocrinologia Comparada (LaMEC) por proporcionarem um ambiente a-
gradável para trabalhar e pelos momentos de prazer e descontração regados a
muito “amargo”.
Aos professores do curso de Pós-graduação em Fisiologia por me guiarem
na busca do conhecimento e contribuírem na minha formação docente.
Aos colegas do Departamento de Fisiologia pela convivência e amizade.
Às funcionárias da secretaria do curso de Pós-graduação em Fisiologia pelo
carinho e dedicação no atendimento às necessidades dos alunos.
Aos colegas do curso de Especialização em Toxicologia, que recentemente
ingressaram na minha vida, mas puderam acompanhar os instantes finais deste
trabalho me apoiando muito durante este período.
Aos amigos de longa data, que de uma forma ou de outra também tornaram
possível a concretização deste projeto, seja por palavras de incentivo ou no convite
6
para umas “happy hours” nos redutos boêmios da minha amada Porto Alegre, a fim
de “desencanar” dos problemas relacionados ao trabalho.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pela concessão da bolsa de estudos e auxilio financeiro.
7
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................8
RESUMO.......................................................................................................9
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................10
2. OBJETIVOS.............................................................................................24
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Animais........................................................................................25
3.2 Procedimentos experimentais.....................................................25
3.3 Determinação da conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios........26
3.4 Determinação da atividade da enzima fosfoenolpiruvato carboxi-
quinase (PEPCK (E.C. 4.1.1.32))......................................................28
3.5 Determinação de proteínas.........................................................29
3.6 Análise estatística........................................................................29.
4. RESULTADOS.........................................................................................30
5. DISCUSSÃO............................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................47
8
LISTA DE ABREVIATURAS
α
αα
α-KG – Alfa-cetoglutarato
ANOVA – Análise de variância
Asp – Aspartato
ATP – Adenosina trifosfato
DHAF – Diidroxiacetona fosfato
Glut – Glutamato
GSH – Glutationa
GTP – Guanosina trifosfato
HDL – Lipoproteína de alta densidade
HEPES – N-[2-hidroxiethyl]piperazine-N’-[2-ethanesulfonic acid]
ITP – Inosina trifosfato
MeAIB – Ácido metal-aminoisobutírico
OAA – Oxaloacetato
PC – Piruvato carboxilase
PEP – Fosfoenolpiruvato
PEPCK – Fosfoenolpiruvato carboxiquinase
PMSF – Fluoreto de fenilmetilsulfonil
POPOP – 1,4-bis[2-(5-Phenyloxazolyl)]benzene
PPO – 2,5-Diphenyloxazole
SFC – Solução fisiológica de caranguejo
SNK – Student-Newman-Keuls
TCA – Ácido tricloracético
TMAO – Óxido de trimetilamina
9
RESUMO
No ambiente estuarino, hábitat do caranguejo Neohelice granulata, a salini-
dade pode variar de 0,22 a 34‰, implicando em mudanças comportamentais e fisi-
ológicas neste animal. Este estudo teve como objetivo verificar os efeitos do es-
tresse hiper e hiposmótico sobre a via lipogênica a partir de glicina em diferentes
tecidos de N. granulata, bem como a atividade da enzima fosfoenolpiruvato carbo-
xiquinase (PEPCK).
No presente trabalho, aumentos na incorporação de
14
C-glicina em
14
C-
lipídios totais foram constatados nas brânquias anteriores (estresse hiposmótico) e
posteriores (hiperosmótico). Este aumento provavelmente ocorreria via gliceroneo-
gênese, que também foi constatado o incremento na atividade da enzima
PEPCK. Nestes órgãos a atividade desta enzima ocorre tanto na fração citosólica
como na mitocondrial, o que permitiria a conversão da glicina em glicerol, manten-
do, assim, o ciclo triacilglicerol/ácido graxo nesses tecidos.
Nas brânquias posteriores (no estresse hiposmótico), no músculo e no hepa-
topâncreas a síntese de lipídios através da formação de ácidos graxos a partir de
14
C-glicina seria uma via de ajuste de concentração de aminoácidos livres intracelu-
lares em resposta ao estresse osmótico.
O presente estudo demonstra que a lipogênese a partir de
14
C-glicina seria
uma via metabólica que estaria envolvida no processo de aclimatação ao estresse
osmótico em N. granulata.
PALAVRAS-CHAVE: Estresse osmótico, lipogênese, aminoácido, PEPCK, caran-
guejo.
10
1. INTRODUÇÃO
O ecossistema estuarino representa uma transição entre o ambiente mari-
nho e límnico e se caracteriza pela presença de sedimento fino de origem marinha,
fluvial ou terrestre que se acumula formando planícies de barro ricas em alimento,
mas escassas em oxigênio (McLusky, 1989). As freqüentes variações do cenário,
em vista da ação constante das marés, alternando períodos de total cobertura do
meio pelas águas e de exposição do substrato, além dos fatores meteorológicos,
exercem um controle seletivo e severo sobre as espécies nativas.
O estresse provocado pelas alterações de fatores como salinidade, tempera-
tura ou teor de O
2
na água, leva à utilização de estratégias comportamentais e fi-
siológicas pelos organismos, capacitando-os a tolerar tais oscilações característi-
cas do meio estuarino (Odum, 1985; Miranda, 1994).
Considerando-se as variações na concentração osmótica dos fluidos corpo-
rais dos organismos aquáticos em resposta às variações de salinidade do meio,
distinguem-se duas formas de ajustes osmóticos: osmoconformação e osmorregu-
lação. Nas espécies osmoconformadoras, a pressão osmótica intracelular pode
variar de acordo com a variação da osmolaridade do meio, ou seja, esses animais
mantêm a osmolaridade dos seus fluidos corporais semelhante àquela do meio em
que se encontram. As espécies osmorreguladoras são capazes de tolerar varia-
ções na salinidade do meio com mínimas alterações da concentração osmótica da
hemolinfa (Péqueux, 1995; Schmidt-Nielsen, 2002).
A capacidade osmorregulatória parece ser um pré-requisito para a invasão
de espécies marinhas a ambientes osmoticamente diferentes. Tais espécies, uma
11
vez estabelecidas, perderiam a capacidade de osmorregular depois de um longo
período evolutivo nestes ambientes (Freire et. al., 2008).
O caranguejo Neohelice granulata, também conhecido popularmente como
“catanhão” ou “gatanhão”, é uma espécie endêmica do ambiente estuarino e se
distribui desde o Rio de Janeiro a o golfo de San Matias (Argentina) (Boschi,
1964), onde a salinidade pode variar de 0,22‰ a 34‰ (Turcato, 1990). Cava sua
toca geralmente nas regiões supralitoral e mesolitoral superior, deslocando-se para
o mesolitoral inferior e infralitoral em busca de umidade e de alimento (Bond-
Buckup et al., 1991).
Este caranguejo, assim como outros crustáceos eurialinos, ou seja, toleran-
tes às grandes amplitudes na salinidade do meio, possui capacidade osmorregula-
dora, apresenta hemolinfa hiposmótica em meio concentrado, ao passo que em
meio diluído, sua hemolinfa é hiperosmótica (Mañe-Garzon et al., 1974). Seu ponto
isosmótico situa-se entre 28,5‰ e 30‰, no inverno e no verão, respectivamente
(Bromberg, 1992).
Estudos realizados em várias espécies eurialinas mostraram que as células
desses animais estabelecem uma relação de isosmolaridade, com relativa rapidez,
com o fluido extracelular. Esta regulação é realizada principalmente por altas con-
centrações de efetores osmóticos orgânicos, e não por meio de altas concentra-
ções de osmólitos inorgânicos como sódio, potássio ou cloreto. Os principais osmó-
litos orgânicos em eucariotos, que vivem em ambiente aquático estressante, estão
restritos a uma pequena classe de moléculas com baixo peso molecular: polióis
(p.ex. glicerol, manitol e sacarose); aminoácidos livres e derivados de aminoácidos
(p.ex. taurina e alanina); uréia e metilaminas (p.ex. trimetilamina-N-óxido-TMAO,
betaína e sarcosina) (Yancey et al., 1982). No caso da betaína, é particularmente
12
interessante observar que esse composto, derivado da colina, após sucessivas
desmetilações origem à dimetilglicina, à metilglicina e à glicina (Viana et. al.,
2005). Jahn et al. (2006) demonstraram a importância da colina e de glicina betaína
na regulação osmótica em N. granulata. Os autores constataram um aumento na
captação de colina e na conseqüente formação de glicina betaína no hepatopân-
creas de caranguejos submetidos ao estresse hiperosmótico.
Mudanças na concentração de osmólitos orgânicos no fluido extracelular in-
fluenciam diretamente rotas metabólicas, por meio de alterações no fluxo de meta-
bólitos para as células. Desta forma, altera a concentração de hormônios e outras
moléculas sinalizadoras, levando a alteração na expressão de genes que codificam
proteínas reguladoras ou enzimas chave do metabolismo intermediário. Estas alte-
rações metabólicas estão diretamente envolvidas nas respostas fisiológicas e bio-
químicas estratégicas para a integridade celular face às alterações no meio extra-
celular (Schliess e Häussinger, 2002).
Diversos autores sugerem um controle neuroendócrino sobre o mecanismo
osmorregulatório (Mcnamara et al., 1990; Eckhadt et al., 1995; Freire et al., 1995)
Em Macrobrachium olfersii, fatores neuroendócrinos, presentes no Sistema
Nervoso, atuam sobre a regulação de aminoácidos livres da hemolinfa. O homoge-
nado de gânglio torácico aumentou a quantidade de aminoácidos livres na hemolin-
fa de camarões mantidos em água doce, e diminuiu estes compostos nitrogenados
na hemolinfa de animais submetidos ao estresse hiperosmótico (Freire et al.,
1995).
Os aminoácidos exercem muitas funções nos processos biológicos. Além de
serem precursores da biossíntese de proteínas, de carboidratos e de lipídios, os
aminoácidos também são utilizados como fonte energética, como transportado-
13
res/doadores de átomos de carbono e de nitrogênio, como neurotransmissores ou
neuromoduladores, como componentes de sistemas de tamponamento, e como
osmólitos (Kilberg e Haüssinger, 1992).
Nos crustáceos eurialinos a concentração de aminoácidos tissulares é cerca
de dez vezes mais elevada que a encontrada em tecidos de mamíferos, enquanto
que os níveis desses osmólitos orgânicos na hemolinfa são equivalentes (Gilles,
1987). A mobilização dos aminoácidos nos tecidos, durante o ajuste homeostático
ao estresse osmótico, estaria envolvida com a utilização dos mesmos em três me-
canismos básicos: a) deslocamento do equilíbrio entre influxo e efluxo dos aminoá-
cidos através da membrana plasmática; b) alterações na capacidade de síntese e
de oxidação destes aminoácidos livres tissulares; c) alterações na capacidade de
síntese e de mobilização de proteínas, de carboidratos e de lipídios (Figura 1) (Gil-
les, 1982; Turcato, 1990).
Em algumas espécies eurialinas, a quantidade de aminoácidos livres repre-
senta apenas 10-20% da concentração osmótica intracelular (Gilles, 1997). Essas
espécies, geralmente, utilizam metilaminas nas respostas regulatórias de volume
celular (Gilles e Delpire, 1997). Schein et al. (2005 b) mostraram que a captação de
14
C-MeAIB
1
aumenta no músculo mandibular e no hepatopâncreas de caranguejos
submetidos ao estresse hiperosmótico.
No hepatopâncreas e no músculo da mandíbula de N. granulata, o transpor-
te de alanina via sistema A
2
é um dos mecanismos envolvidos no ajustamento da
concentração de aminoácidos durante o estresse hiperosmótico (Schein et al.,
2005 b). Em invertebrados, estudos in vivo e in vitro têm demonstrado que o au-
1
14
C-MeAIB: ácido
14
C-metilaminoisobutirico, usado como modelo para identificar o trans-
porte de aminoácidos via sistema A.
2
Sistema A: Sistema de transporte de aminoácidos dependente de Na
+
.
14
mento dos aminoácidos intracelulares, durante o estresse hiperosmótico, envolve a
captação de compostos nitrogenados do líquido extracelular (Gilles e Delpire, 1997;
Gilles, 1998).
Figura 1 Mecanismos que podem estar implicados no controle da concen-
tração de aminoácidos livres tissulares (segundo Gilles, 1982).
Schein et al. (2005 b) constataram que durante o estresse hiperosmótico, a
redução da oxidação de
14
C-alanina parece ser um dos mecanismos envolvidos no
aumento da concentração de aminoácidos livres intracelulares no hepatopâncreas
de N. granulata. Ao passo que no estresse hiposmótico, a oxidação total de amino-
ácidos não estaria envolvida na diminuição das concentrações de osmólitos orgâ-
nicos no hepatopâncreas e no músculo mandibular. Schein (1999) observou tam-
bém que durante o estresse hiperosmótico, a concentração do aminoácido glicina
na hemolinfa de N. granulata diminui cerca 60%. Bock (2005) verificou que a sínte-
CARBOIDRATOS
PROTEÍNAS
LIPÍDIOS
OXIDAÇÃO PARA CO
2
C
C
É
É
L
L
U
U
L
L
A
A
i
i
n
n
f
f
l
l
u
u
x
x
o
o
e
e
l
l
u
u
x
x
o
o
15
se de proteínas, a captação e a oxidação de aminoácidos estariam envolvidas nas
variações de concentração de aminoácidos intracelulares em hepatopâncreas,
músculo mandibular e brânquias anteriores e posteriores de N. granulata, submeti-
dos ao estresse osmótico agudo in vitro.
A participação do metabolismo de carboidratos, durante o processo de acli-
matação ao estresse osmótico, foi demonstrada no músculo, no hepatopâncreas e
nas brânquias de caranguejo N. granulata (Da Silva e Kucharski, 1992; Schein,
1999; Oliveira e Da Silva, 2000; Schein et al., 2004; 2005 a; Chittó et al., 2008 a).
Assim como em outros crustáceos, o tecido branquial deste animal apresen-
ta uma diferenciação funcional e estrutural. Os três pares de brânquias posteriores
constituem o principal sítio osmo e ionorregulador das espécies eurialinas, enquan-
to os três anteriores estão mais associados à função respiratória e excreção de
amônia (Bianchini et al., 2008).
A diminuição na concentração de glicose livre nas brânquias anteriores e
posteriores durante o estresse hipo e hiperosmótico indica a utilização deste subs-
trato como fonte de energia no processo de aclimatação ao estresse osmótico
(Chittó, 2000).
Segundo Oliveira e Da Silva (2000), a via gliconeogênica hepatopancreática
também estaria implicada no ajuste da concentração de aminoácidos durante a
aclimatação ao estresse hiposmótico em N. granulata. As autoras ainda constata-
ram um aumento dos níveis de uréia na hemolinfa, sugerindo um aumento do cata-
bolismo de aminoácidos em resposta ao estresse hiposmótico. Chittó et al. (2008
a) observaram uma redução de cerca de 34% na conversão de
14
C-glicerol em
14
C-
glicose nas brânquias posteriores de N. granulata expostos por 3 dias em meio
concentrado, comprovando a participação da via gliconeogênica como uma das
16
vias envolvidas no ajuste metabólico durante a aclimatação ao estresse hiperosmó-
tico em brânquias.
Os lipídios teciduais também participam do ajuste metabólico ao estresse
osmótico em caranguejos. Em N. granulata, submetido ao estresse osmótico du-
rante os meses de verão, ocorre diminuição na concentração de lipídios totais nas
brânquias posteriores, no hepatopâncreas e no músculo, sugerindo a utilização
desse substrato energético durante o esforço de aclimatação ao estresse (Chittó et
al., 2008 a).
Os principais lipídios em crustáceos são os lipídios neutros, entre estes,
90% são triglicerídios (Allen et al., 2000). Os lipídios de crustáceos são transporta-
dos na hemolinfa por lipoproteínas de alta densidade (HDL) (Garcia et al., 2002). O
músculo, o hepatopâncreas e as gônadas são locais de armazenamento de lipí-
dios, pois não um tecido adiposo diferenciado em crustáceos (Kucharski e Da
Silva, 1991; Rosa e Nunes, 2002). Diversos estudos têm demonstrado que durante
períodos de grande demanda energética, como a muda e a gametogênese, ocorre
uma marcante mobilização de lipídios, principalmente, aqueles presentes no hepa-
topâncreas.
Em mamíferos, o ciclo triglicerídio/ácido graxo requer não apenas ácidos
graxos, mas também glicerol 3-fosfato para a síntese de triglicerídios. A glicose é o
principal precursor de glicerol 3-fosfato durante o estado alimentado. Entretanto,
durante o jejum, quando a lipólise no tecido adiposo é induzida pelas baixas con-
centrações de insulina circulante, a disponibilidade de glicose é limitada em função
do seu papel crucial no metabolismo de tecidos fundamentais. O glicerol o pode
ser usado pelo tecido adiposo devido aos níveis insignificantes da enzima glicerol
quinase neste tecido (Hanson e Reshef, 2003). Para manter o ciclo triglicerí-
17
dio/ácido graxos ocorre a formação de glicerol 3-fosfato a partir de outros compos-
tos como piruvato, lactato e alanina por uma via denominada gliceroneogênese.
A gliceroneogênese foi descoberta na década de 60 por Lea Reshef, Ri-
chard Hanson e John Ballard, e simultaneamente por Eleazar Shafrir e seus cola-
boradores, os quais ficaram intrigados pela presença de duas enzimas gliconeogê-
nicas, piruvato carboxilase (PC) e fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), no
tecido adiposo, onde a glicose não era sintetizada (Nelson e Cox, 2004). Esta via é
uma versão reduzida da gliconeogênese, de piruvato à diidroxiacetona fosfato
(DHAF), seguido pela conversão de DHAF em glicerol 3-fosfato pela ação da glice-
rol 3-fosfato desidrogenase. O glicerol 3-fosfato é subsequentemente utilizado na
síntese de triglicerídios (Figura 2) (Devlin, 2002).
A conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato ocorre em duas etapas sepa-
radas que requerem compostos de fosfato de alta energia (1 ATP e 1 GTP). A pri-
meira é catalisada pela PC, que converte piruvato em oxaloacetato e envolve a
hidrólise de um ATP (adenosina trifosfato). duas vias que podem ser adotadas
pelo oxaloacetato para chegar a DHAF. Isto acontece porque a PEPCK está pre-
sente tanto no compartimento citosólico como no mitocondrial. A via mais simples
envolve a PEPCK mitocondrial. O OAA é convertido em PEP que, então, atravessa
a membrana mitocondrial para o meio citosólico. A segunda via envolve a conver-
são de OAA em aspartato que é transportado para o citosol através do antiporte
glutamato-aspartato. No citosol, a transaminação com α-cetoglutarato converte o
aspartato novamente em oxaloacetato, que é descarboxilado pela PEPCK citosóli-
ca. No compartimento citosólico, o PEP sofre sucessivas reações até formar glice-
raldeído 3-fosfato. Este composto pode ser convertido a DHAF, numa reação re-
versível catalisada pela triose fosfato isomerase (Figura 2) (Devlin, 2002).
18
Figura 2 Esquema da via lipogênica a partir de glicina, mostrando alguns
dos principais substratos e as enzimas-chave dessa via. PC: piruvato carboxilase,
PEPCK: fosfoenolpiruvato carboxiquinase, OAA: oxaloacetato, PEP: fosfoenolpiru-
vato, Asp: aspartato, Glut: glutamato, α-KG: α-cetoglutarato, DHAF: diidroxiacetona
fosfato. Adaptado de Devlin, 2002.
O primeiro passo da síntese de triglicerídios é a incorporação de dois acetil-
CoA ao glicerol 3-fosfato formado a partir de DHAF ou glicerol, dando origem ao
ácido fosfatídico. O ácido fosfatídico é hidrolisado à 1,2-diacilglicerol, que pode ser
convertido à triglicerídio pela transesterificação com um terceiro acetil-CoA (Figura
3) (Nelson e Cox, 2004).
Glic
i
na
Ser
i
na
Piruv
a
to
Piruv
a
to
OAA
CO
2
ATP
ADP + P
i
PC
Asp
PEP
CO
2
PEPCK
GTP
GDP
ATP
ADP
Glut
Mit
o
sol
Asp
OAA
PEP
ADP
ATP
GDP
GTP
CO
2
PEPCK
Gliceralde
í
do 3
fosfato
1,3
Bifosfoglicerato
P
i
DHAF
Glicerol 3
fosfato
Triglice
í
deo
3
Fosfoglicerato
ADP + P
i
ATP
Cit
o
sol
Glic
o
se
Glut
α
αα
α
-KG
α
αα
α
-KG
19
Figura 3 Esquema da síntese de triglicerídios. Adaptado de Nelson e Cox,
2004.
A distribuição da PEPCK entre as frações celulares varia entre as espécies
(Moon, 1988). Conforme a espécie estudada, a PEPCK pode se localizar na mito-
côndria, no citosol ou em ambos os compartimentos, como ocorre em humanos
(Marks et al., 1996). Em aves, a PEPCK hepática é mitocondrial (Moon, 1988). Em
ratos e camundongos, a PEPCK hepática é principalmente citosólica, em outros
mamíferos, como nos coelhos e nos porcos da índia (Wiese et al., 1991; Somberg
e Mehlman, 1969), está presente nos dois compartimentos do hepatócito.
A maior diferença entre as duas isoformas da enzima é o tipo de regulação
da expressão de seus genes. A regulação transcricional da expressão gênica da
PEPCK citosólica (PEPCKc) é modulada por dieta ou sinalização hormonal, o que
resulta em alteração na síntese desta enzima (Croniger et al., 2002). Entretanto,
em vertebrados, a PEPCK mitocondrial hepática é expressa constitutivamente, não
sendo controlada por estes fatores (Croniger et al., 2002).
DHAF
Glicerol 3
-
fosfato
Glic
e
rol
Á
cido fosfat
í
d
i
co
Acetil
-
CoA
Acetil
-
CoA
1,2
-
diacilglicerol
TRIGLICER
Í
DIO
Acetil
-
CoA
20
Alguns estudos têm discutido a importância da isoforma citosólica no meta-
bolismo lipídico em mamíferos (Croniger et al., 2002; Hanson e Reshef, 2003; Re-
shef et al., 2003; Beale et al., 2002; Hanson, 2005). Olswang et al. (2002) produzi-
ram camundongos geneticamente modificados em que foi suprimido o sítio de liga-
ção para o PPARγ2
3
, que regula a expressão a gênica da PEPCKc em tecido adi-
poso. Os autores demonstraram que esta linhagem de camundongos apresentava
níveis normais de PEPCKc no fígado e nos rins, porém nada no tecido adiposo. Os
animais ainda apresentavam quantidades reduzidas de gordura corporal e aproxi-
madamente 25% dos camundongos eram lipodistróficos. Por outro lado, Frankhau-
ser et al. (2002) verificaram que a superexpressão da PEPCKc no tecido adiposo
de camundongos resulta em animais obesos devido ao aumento da taxa de re-
esterificação e da gliceroneogênese.
Brito et al. (1999) demonstraram que em ratos alimentados com uma dieta
rica em proteínas ocorre a indução da gliceroneogênese a partir de alanina, de pi-
ruvato e de lactato no tecido adiposo marrom, e um aumento de cerca de quatro
vezes na atividade da enzima PEPCKc, levando ao aumento da re-esterificação de
ácidos graxos livres.
Zammit e Newsholme (1978) verificaram a atividade da PEPCK no sculo
do caranguejo ferradura Limulus polyphemus e da lagosta Homarus vulgaris e su-
geriram que essa enzima catalisa a conversão de oxaloacetato em fosfoenolpiruva-
to, sendo parte da via de oxidação de alguns aminoácidos nos músculos desses
animais. No hepatopâncreas e no manto do molusco Megalobulimus oblongus a
atividade da enzima PEPCK é predominantemente mitocondrial, entretanto, no co-
3
PPARγ2: Receptor ativado por proliferadores de peroxissoma expresso no tecido adiposo.
21
ração e no diafragma a maior atividade foi constatada na fração citosólica (Dias,
1996; 2000).
Em caranguejos N. granulata a PEPCK foi clonada (AY074922) e sua ex-
pressão determinada no hepatopâncreas, no músculo, no sistema nervoso, nas
brânquias e no coração (Schein et al., 2004).
Oliveira e Da Silva (1997) demonstraram, pela primeira vez, a presença da
via gliconeogênica e a atividade da PEPCK no hepatopâncreas de N. granulata. As
autoras constataram que entre 84 e 89% da atividade desta enzima era mitocon-
drial. Schein et al. (2004) demonstraram que no músculo da mandíbula deste
mesmo caranguejo mais de 90% da atividade da PEPCK é mitocondrial, evidenci-
ando similaridade com os valores encontrados no hepatopâncreas. No mesmo tra-
balho foi constatado um aumento significativo na expressão e na atividade da en-
zima durante o choque hiperosmótico, sugerindo que a gliconeogênese colabora
no ajuste metabólico durante este tipo de estresse. Os resultados desse trabalho
também sugerem que em crustáceos, a isoforma mitocondrial não seria constituti-
va, como ocorre em mamíferos, que sua expressão pode ser modulada pelo es-
tresse osmótico. Recentemente, Maciel (2007) demonstrou que a atividade e a ex-
pressão da PEPCK muscular também seriam controladas pelo teor de oxigênio no
meio e pela composição da dieta administrada aos caranguejos.
Chittó et al. (2008 b) verificou que, contrariamente ao que ocorre no músculo
e no hepatopâncreas, a atividade da enzima PEPCK está presente tanto na fração
mitocondrial como na citosólica em brânquias anteriores e posteriores de N. granu-
lata.
A sazonalidade também altera o perfil metabólico de crustáceos. Rosa e
Nunes (2002), em seu trabalho com três diferentes espécies de crustáceos decá-
22
podes, mostraram que o ciclo reprodutivo tem efeitos marcantes sobre a dinâmica
de lipídios em crustáceos. Os lipídios são a principal fonte de energia metabólica
para o desenvolvimento embrionário e sua quantidade correlaciona-se com o ta-
manho dos ovos, com o intervalo de tempo entre a postura, a incubação e a primei-
ra alimentação das larvas. Durante o período de maturação gonadal os ovários tor-
nam-se um centro adicional para o metabolismo lipídico, incluindo a lipogênese
(síntese de triacilglicerol). Sob estas circunstâncias, o requerimento lipídico parece
ser dependente do aporte de lipídios da dieta e/ou das reservas hepatopancreáti-
cas (Ferreira et al, 2005).
Esta variação sazonal foi verificada em outros crustáceos. Ferreira et al
(2005), estudando o perfil metabólico em Aegla platensis, submetida a diferentes
dietas, observou um aumento da demanda energética no verão, possivelmente pa-
ra a produção de gametas; a incubação e a postura dos ovos no outono e no inver-
no respectivamente, visto que em ambiente natural o outono antecede os meses
de ocorrência do pico reprodutivo da espécie. Em N. granulata o glicogênio é a
principal fonte de energia durante a primavera e o verão, ao passo que os lipídios
do músculo são mais utilizados durante o outono e o inverno (Kucharski e Da Silva,
1991).
Luvizzotto-Santos et al. (2003) verificaram diferenças sazonais na concen-
tração de lipídios totais em tecidos de N. granulata, constatando concentrações
maiores de lipídios em animais de inverno quando comparados aos caranguejos de
verão. As concentrações de lipídios totais nas brânquias e no sculo foram signi-
ficativamente menores em caranguejos expostos por sete dias ao meio hiposmóti-
co do que naqueles submetidos ao mesmo período de estresse hiperosmótico ou
mantidos em condições controle. Assim como relatado para outros crustáceos, o
23
hepatopâncreas de N. granulata apresentou altas concentrações lipídicas em rela-
ção aos outros tecidos.
Em N. granulata previamente alimentado com uma dieta rica em proteína ou
carboidratos, Vinagre e Da Silva (1992) constataram um consumo acentuado dos
lipídios do hepatopâncreas e do músculo ao final de um período de jejum de 8 se-
manas, evidenciando a utilização deste substrato energético durante o jejum longo.
Os autores ainda observaram que a lipogênese, no hepatopâncreas, no músculo e
nas brânquias, não foi alterada nestes animais quando mantidos em jejum por 3
semanas. Entretanto, a realimentação de 48 horas após o jejum de 3 semanas,
elevou a síntese de lipídios no hepatopâncreas (Vinagre e Da Silva, 2002).
Kucharski e Da Silva (1991) verificaram que em N. granulata alimentados
com uma dieta rica em proteínas uma maior concentração de lipídios totais no
hepatopâncreas em relação aos animais alimentados com uma dieta rica em car-
boidratos e aos animais coletados do campo.
Na maioria dos crustáceos eurialinos, como o N. granulata, sabe-se que os
aminoácidos intracelulares são utilizados como osmólitos orgânicos para a regula-
ção do volume celular. Nos crustáceos em geral, o principal lipídio armazenado é o
triacilglicerol. Assim a pergunta que o presente trabalho gostaria de esclarecer é:
Haveria um controle da capacidade de síntese de lipídios a partir de aminoácidos
durante a aclimatação ao estresse osmótico em tecidos de Neohelice granulata?
24
2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi verificar os efeitos dos estresses hiperos-
mótico e hiposmótico sobre a via lipogênica e sobre a atividade da enzima fosfoe-
nolpiruvato carboxiquinase (PEPCK) em diferentes tecidos do caranguejo N. granu-
lata.
Para isto, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
1) Avaliar a capacidade lipogênica, através da conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais, nas brânquias anteriores e posteriores, no sculo da mandíbu-
la e no hepatopâncreas de animais do grupo controle ou submetidos a 24, 72 e 144
horas de estresse hiperosmótico ou hiposmótico.
2) Determinar a atividade da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase
(PEPCK) nas brânquias anteriores e posteriores, no sculo da mandíbula e no
hepatopâncreas de animais do grupo controle ou submetidos a 24, 72 e 144 horas
de estresse hiperosmótico ou hiposmótico.
25
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Animais
Foram utilizados caranguejos Neohelice granulata (Chasmagnathus granula-
tus Dana 1851) (Crustacea, Brachyura, Varunidae) machos em estágio C do ciclo
intermudas (Drach e Tchernigovtzeff, 1967), a fim de minimizar os efeitos dos perí-
odos de ecdise.
A coleta foi realizada na margem da Lagoa Tramandaí, no município de Im-
(RS), durante a primavera e o verão. Os animais foram capturados manualmen-
te e acondicionados em caixas plásticas, com água do próprio local, durante o
transporte até o laboratório, localizado no Instituto de Ciências Básicas da Saúde
na UFRGS, em Porto Alegre (RS).
No laboratório, os caranguejos foram submetidos ao choque hiposmótico
com água destilada por 24 horas, para eliminação de possíveis parasitas e limpeza
do conteúdo estomacal (Kucharski, 1990). Após este procedimento, os animais
foram mantidos por 10 dias em tanque contendo água com salinidade de 20‰,
temperatura de 25°C, fotoperíodo natural, aeração constante. Os caranguejos fo-
ram alimentados, ad libitum, com carne bovina crua, duas vezes por semana.
3.2. Procedimentos experimentais
Após o período de aclimatação os animais foram divididos em dois grupos
experimentais e submetidos durante 24, 72 e 144 horas ao estresse hiposmótico
(salinidade de 0‰) ou hiperosmótico (salinidade de 34‰), os outros parâmetros
26
foram mantidos nas mesmas condições de aclimatação e os caranguejos foram
alimentados até 16 horas antes de serem utilizados nos experimentos.
Ao final dos períodos experimentais, os caranguejos foram crioanestesiados
e amostras de 50-100mg de brânquias (anteriores e posteriores), de músculo da
mandíbula e de hepatopâncreas foram coletadas e colocadas em placas de Petry
sobre gelo, contendo solução fisiológica de caranguejo (SFC). Foram feitos peque-
nos cortes nas lamelas das brânquias, possibilitando um maior contato do tecido
com o meio de incubação. As brânquias foram divididas em anteriores e posterio-
res, pois apresentam funções distintas, estando as anteriores relacionadas com a
respiração e as posteriores com o processo osmorregulatório (Luquet et al., 2000;
Bianchini et.al., 2008).
Os animais mantidos no tanque, contendo água com salinidade de 20‰,
constituíram o grupo controle e foram sacrificados juntamente com os animais dos
grupos submetidos ao estresse osmótico.
3.3. Determinação da conversão de
14
C-glicina em -
14
C-lipídios
As amostras de tecido foram colocadas em tubos de 2ml com 250µl de SFC
contendo:
1) Grupo controle: 374mM de NaCl, 10mM KCl, 25mM CaCl
2
, 10mM Mg-
Cl
2
.H
2
O, 8,8mM H
3
BO
3
, 10mM HEPES e 0,1mM fluoreto de fenilmetilsulfonil
(PMSF), pH 7,8, 770 mOsm/kg. A osmolalidade da hemolinfa dos animais aclima-
tados à salinidade de 20‰ é de 719 ± 10,41 mOsm/kg.
2) Grupo hiposmótico: 331mM de NaCl, 10mM KCl, 25mM CaCl
2
, 10mM
MgCl
2
.H
2
O, 8,8mM H
3
BO
3
, 10mM HEPES e 0,1mM fluoreto de fenilmetilsulfonil
27
(PMSF), pH 7,8, 690 mOsm/kg. A osmolalidade da hemolinfa dos animais aclima-
tados à salinidade de 0‰ é de 636 ± 21,5 mOsm/kg.
3) Grupo hiperosmótico: 457mM de NaCl, 10mM KCl, 25mM CaCl
2
, 10mM
MgCl
2
.H
2
O, 8,8mM H
3
BO
3
, 10mM HEPES e 0,1mM fluoreto de fenilmetilsulfonil
(PMSF), pH 7,8, 900 mOsm/kg. A osmolalidade da hemolinfa de N. granulata acli-
matado à 34‰ é de 853 ± 12.45 mOsm/kg.
Ao meio da incubação dos três grupos experimentais (controle, estresse hi-
posmótico e hiperosmótico) foi adicionado 0,2µCi de
14
C-glicina (104mCi mmol
-1
,
Amersham International) e 5mM de glicina não marcada. A seguir foi feita a substi-
tuição da fase gasosa por carbogênio (O
2
:CO
2
, na proporção 95:5% v/v). Os tubos
foram fechados e incubados em banho metabólico do tipo Dubnoff por 1 hora sob
agitação constante a 25°C.
Após a incubação, os tubos foram imediatamente colocados no gelo, para
parar as reações bioquímicas. Os tecidos foram lavados com SFC, para retirar o
excesso de material radioativo, e secos em papel filtro. Em seguida as amostras
foram homogeneizadas em uma mistura de clorofórmio:metanol (2:1, v/v), utilizan-
do-se um homogeneizador com pistilo de teflon, e armazenadas para posterior ex-
tração dos lipídios.
A extração dos lipídios foi realizada conforme o método descrito por Folch et
al. (1957). Às amostras filtradas foi adicionada solução salina (0,9%) na proporção
de 5:1 (v/v). Após a centrifugação por 5 minutos a 1500rpm, a fase superior foi
descartada e amostras de 2ml foram repassadas para tubos de vidro, que foram
deixados em repouso dentro de uma capela de exaustão, a temperatura ambiente,
até a evaporação completa da fase clorofórmica sob nitrogênio. Às amostras foram
acrescentados 5ml de líquido de cintilação [Tolueno - PPO (0,4%) e POPOP
28
(0,01%)] e a radioatividade medida em espectrômetro de cintilação líquida (LKB-
Wallac). Os resultados foram expressos em nmol de
14
C-glicina convertida em
14
C-
lipídios totais .g
-1
de tecido.h
-1
de incubação.
3.4. Determinação da atividade da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase
(PEPCK (E.C. 4.1.1.32))
A determinação da atividade da PEPCK foi realizada segundo a cnica
descrita por Oliveira e Da Silva (1997), baseado na reação de troca entre H
14
CO
3
-
e
o oxalacetato.
As amostras de tecidos (cerca de 500mg) de caranguejos dos diferentes
grupos experimentais foram homogeneizadas em sacarose 0,25M mais fluoreto de
fenilmetilsulfonil (PMSF) na proporção de 0,5:3:0,003 (w/v/v), com a utilização de
um homogeneizador com pistilo de teflon. Em seguida, o homogeneizado foi centri-
fugado a 600xg por 10 minutos a temperatura de 4ºC e o sobrenadante transferido
para outro tubo que foi mantido em gelo.
A mistura da reação (500µl) continha tampão Tris-HCl 0,625M, oxalacetato
(OAA) 0,3M, MnCl
2
0,04M, MgCl
2
0,4M, GSH 6,25M, trifosfato de inosina (ITP)
0,02M, NaHCO
3
1M e 0,4µCi de NaH
14
CO
3
(8,4mCi/mmol Du Pont). A essa mis-
tura foram adicionados 50µl de amostra e realizada a incubação em banho metabó-
lico a 37ºC durante 4 minutos. A reação enzimática foi interrompida com a adição
de 500µl de ácido tricloroacético (TCA) 5%. As amostras foram imediatamente ae-
radas com CO
2
durante 5 minutos para remoção do excesso de H
14
CO
3
. Após, as
amostras foram centrifugadas a 3000rpm durante 10 minutos. Do sobrenadante
foram retirados 300µl e repassados para os tubos de vidro contendo 3ml de líquido
29
de cintilação [Tolueno-Triton X-100 (2:1) - PPO (0,4%) e POPOP (0,01%)]. A radio-
atividade foi medida em espectrômetro de cintilação líquida (LKB-Wallac).
Para cada grupo experimental foi preparado um branco. Os brancos conti-
nham todos os componentes da mistura (inclusive a amostra), exceto ITP (ativador
enzimático). As contagens obtidas dos brancos eram descontadas das contagens
das amostras e os resultados da atividade foram expressos em µmol de H
14
CO
3
-
incorporado em oxalacetato.mg
-1
de proteína.min
-1
de incubação.
3.5. Determinação de proteínas
A determinação da concentração de proteínas totais nos tecidos foi realiza-
da segundo o método descrito por Bradford (1976) e como padrão foi utilizada al-
bumina bovina.
3.6. Análise estatística
Os resultados foram expressos como a média mais ou menos o desvio pa-
drão da média (média ± DPM). Foi utilizada a análise de variância (ANOVA) de
uma ou duas vias, com teste de comparação Sudent-Newman-Keuls (SNK). Os
dados foram considerados significativos quando P<0,05. O testes foram realizados
com o programa estatístico SigmaStat 3.1.
30
4. RESULTADOS
4.1. Estudo in vitro da incorporação do
14
C da glicina em
14
C-lipídios totais e
determinação da atividade da PEPCK nas brânquias anteriores em Neohelice
granulata submetidos ao estresse hiper ou hiposmótico
A medida da conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais, nas brânquias
anteriores de animais submetidos a diferentes tempos de estresse osmótico, pode
ser vista na figura 4 A.
Nas brânquias anteriores de caranguejos submetidos ao estresse hiposmó-
tico, constata-se um aumento de 3,5 vezes (p<0,05) na síntese de lipídios-
14
C às
72 horas de estresse, com uma diminuição de 27% no tempo de 144 horas. Nas
brânquias anteriores de animais previamente submetidos ao estresse hiperosmóti-
co, verifica-se uma diminuição de 52% na capacidade lipogênica entre os tempos
de 72 e 144 horas de estresse.
A atividade da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), medida
através da incorporação de H
14
CO
3
-
em oxalacetato, nas brânquias anteriores de
animais submetidos a diferentes tempos de estresse osmótico pode ser vista na
figura 4 B.
Durante o estresse hiperosmótico, observa-se um aumento linear (r
2
=0,99)
na atividade da PEPCK. Entretanto, em animais submetidos ao estresse hiposmó-
tico, constata-se uma diminuição de 65% na atividade da PEPCK no tempo de 24
horas e, posteriormente, um aumento de cerca de 6 vezes no tempo de 72 horas,
mantendo-se até o final do período experimental.
31
Figura 4: Efeito de diferentes tempos de estresse hiperosmótico ou hiposmótico
sobre a conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais (A) (n=6-24) e sobre a ativi-
dade da enzima PEPCK (B) (n=6-12), nas brânquias anteriores de caranguejos N.
granulata. As colunas e as barras representam, respectivamente, as dias ±
DPM.
a
- valores médios diferentes do grupo controle (p<0,05).
b
- valores médios diferentes entre tempos do mesmo grupo (p<0,05).
Tempo de estresse (horas)
0
2
4
6
8
10
12
14
0h 24h 72h 144h
Atividade da PEPCK
micromol.mg
-1
de prot.min
-1
0
5
10
15
20
25
30
0h 24h 72h 144h
Lipídio-C
14
formado a partir de C
14
-glicina
(nmol.g
-1
de tecido.h
-1
)
Hiperosmótico
Hiposmótico
a
B
A
b
a
b
a
a
a
32
4.2. Estudo in vitro da incorporação do
14
C da glicina em
14
C-lipídios totais e
determinação da atividade da PEPCK nas brânquias posteriores em Neoheli-
ce granulata submetidos ao estresse hiper ou hiposmótico
A medida da incorporação da
14
C-glicina em lipídios totais em brânquias
posteriores de animais submetidos ao estresse hiper ou hiposmótico pode ser vista
na figura 5 A.
Nas brânquias posteriores de N. granulata, submetidos tanto ao estresse hi-
perosmótico como no hiposmótico, constata-se um aumento significativo (p<0,05)
na formação de lipídio-
14
C a partir de
14
C-glicina às 72 horas de estresse, retornan-
do aos valores do grupo controle às 144 horas.
Na figura 5 B pode ser vista a atividade enzimática da PEPCK nas brânquias
posteriores de animais submetidos a diferentes tempos de estresse osmótico.
Nas primeiras 24 horas de estresse hiperosmótico, observa-se um aumento
de 5,5 vezes (p<0,05) na atividade da PEPCK. Essa atividade diminui cerca de 3
vezes (p<0,05), mas mantém-se aumentada (p<0,05) em relação ao grupo controle
até o final do período experimental. Nos caranguejos submetidos ao estresse hi-
posmótico, a atividade da PEPCK diminui cerca de 50% (p<0,05) no tempo de 24
horas, retornando aos níveis próximos do grupo controle às 72 horas. No final do
período experimental novamente constata-se uma diminuição (p<0,05) na atividade
dessa enzima.
33
Figura 5: Efeito de diferentes tempos de estresse hiperosmótico ou hiposmótico
sobre a conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais (A) (n=7-19) e sobre a ativi-
dade da enzima PEPCK (B) (n=6), nas brânquias posteriores de caranguejos N.
granulata. As colunas e as barras representam, respectivamente, as dias ±
DPM.
a
- valores médios diferentes do grupo controle (p<0,05).
b
- valores médios diferentes entre tempos do mesmo grupo (p<0,05).
Tempo de estresse (horas)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0h 24h 72h 144h
Atividade da PEPCK
micromol.mg
-1
de prot.min
-1
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0h 24h 72h 144h
Lipídio-C
14
formado a partir de C
14
-glicina
(nmol.g
-1
de tecido.h
-1
)
Hiperosmótico
Hiposmótico
A
B
b
b
a b
a b
b
b
a b
a b
a b
b
a
a b
34
4.3. Estudo in vitro da incorporação do
14
C da glicina em
14
C-lipídios totais e
determinação da atividade da PEPCK no músculo da mandíbula em Neohelice
granulata submetidos ao estresse hiper ou hiposmótico
Na figura 6 A está representada a medida da incorporação de
14
C-glicina em
lipídios totais, no músculo da mandíbula de animais submetidos a diferentes tem-
pos de estresse osmótico.
Durante o estresse hiperosmótico, verifica-se um aumento de cerca de 44%
(p<0,05) na incorporação de
14
C-glicina em lipídios totais ao final do período (144h)
de tratamento. Nos animais submetidos ao estresse hiposmótico, também é possí-
vel observar um aumento na síntese de
14
C-lipídios totais neste mesmo tempo de
estresse.
A atividade da enzima PEPCK no músculo da mandíbula de animais subme-
tidos ao estresse osmótico está representada na figura 6 B.
Durante o choque hiperosmótico, observa-se uma diminuição de 42% na ati-
vidade da PEPCK nas primeiras 24 horas, retornando aos valores do grupo contro-
le às 72 horas e diminuindo a atividade em 66% (p<0,05) no final do período expe-
rimental. Nos animais submetidos ao estresse hiposmótico, constata-se um aumen-
to na atividade enzimática da PEPCK no tempo de 72 horas e, posteriormente,
uma diminuição de 58% no tempo de 144 horas de estresse.
35
Figura 6: Efeito de diferentes tempos de estresse hiperosmótico ou hiposmótico
sobre a conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais (A) (n=6-15) e sobre a ativi-
dade da enzima PEPCK (B) (n=6-12), no músculo da mandíbula de caranguejos N.
granulata. As colunas e as barras representam, respectivamente, as dias ±
DPM.
a
- valores médios diferentes do grupo controle (p<0,05).
b
- valores médios diferentes entre tempos do mesmo grupo (p<0,05).
Tempo de estresse (horas)
0
2
4
6
8
10
12
0h 24h 72h 144h
Atividade da PEPCK
micromol.mg
-1
de prot.min
-1
0
5
10
15
20
25
30
35
0h 24h 72h 144h
Lipídio-C
14
formado a partir de C
14
-glicina
(nmol.g
-1
de tecido.h
-1
)
Hiperosmótico
Hiposmótico
A
b
a b
B
b
b
a b
b
36
4.4. Estudo in vitro da incorporação do
14
C da glicina em
14
C-lipídios totais e
determinação da atividade da PEPCK no hepatopâncreas em Neohelice gra-
nulata submetidos ao estresse hiper ou hiposmótico
O efeito de diferentes tempos de estresse hiper ou hiposmótico, sobre a in-
corporação de
14
C-glicina em lipídios totais no hepatopâncreas, está representado
na figura 7 A.
Durante o estresse hiperosmótico, o hepatopâncreas apresenta uma diminu-
ição de 43% (p<0,05) na síntese de
14
C-lipídios totais nas primeiras 24 horas de
estresse, com um aumento (p<0,05) de cerca de 2,5 vezes às 72 horas e retornan-
do aos valores próximos do grupo controle no tempo de 144 horas. Nos animais
submetidos ao estresse hiposmótico, após uma diminuição (p>0,05) no primeiro dia
de estresse, a formação de
14
C-lipídios totais a partir de
14
C-glicina retornou aos
valores do grupo controle a partir das 72 horas.
Na figura 7 B pode ser vista a atividade da enzima PEPCK no hepatopân-
creas de animais submetidos a diferentes tempos de estresse osmótico.
Nos animais submetidos ao estresse hiposmótico, observa-se um aumento
linear (r
2
=0,95) na atividade da PEPCK. Entretanto, em animais submetidos ao es-
tresse hiperosmótico, constata-se um aumento (p<0,05) de 2,6 vezes na atividade
da PEPCK no tempo de 24 horas e, posteriormente, um retorno aos valores do
grupo controle às 72 horas de estresse, aumentando novamente (p<0,05) a ativi-
dade enzimática ao final do período experimental.
37
Figura 7: Efeito de diferentes tempos de estresse hiperosmótico ou hiposmótico
sobre a conversão de
14
C-glicina em
14
C-lipídios totais (A) (n=6-18) e sobre a ativi-
dade da enzima PEPCK (B) (n=6-12), no hepatopâncreas de caranguejos N. gra-
nulata. As colunas e as barras representam, respectivamente, as médias ± DPM.
a
- valores médios diferentes do grupo controle (p<0,05).
b
- valores médios diferentes entre tempos do mesmo grupo (p<0,05).
Tempo de estresse (horas)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0h 24h 72h 144h
Atividade da PEPCK
micromol.mg
-1
de prot.min
-1
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0h 24h 72h 144h
Lipídio-C
14
formado a partir de C
14
-glicina
(nmol.g
-1
de tecido.h
-1
)
Hiperosmótico
Hiposmótico
A
a b
a b
B
a b
b
a
a
a
38
5. DISCUSSÃO
Schein (1999) verificou que durante o estresse hiperosmótico, a concentra-
ção do aminoácido glicina na hemolinfa de N. granulata diminui cerca 60%. A redu-
ção na concentração da glicina na hemolinfa estaria envolvida no processo de a-
climatação do N. granulata ao estresse osmótico, aumentando a concentração in-
tracelular de aminoácidos em resposta ao choque hiperosmótico. Schein et al.
(2005 b) demonstraram que a captação de aminoácidos aumenta significativamen-
te no sculo e no hepatopâncreas de N. granulata submetido ao estresse hipe-
rosmótico. Os autores também mostraram que a oxidação de aminoácidos no he-
patopâncreas seria uma das estratégias metabólicas para aumentar a concentra-
ção de aminoácidos livres intracelulares durante o processo de aclimatação ao
meio hiperosmótico (Schein et al., 2005 b). Também a participação da via glicone-
ogênica no processo de aclimatação ao estresse osmótico foi demonstrada no he-
patopâncreas, no sculo e nas brânquias de N. granulata (Oliveira e Da Silva,
2000; Schein et al., 2004; 2005; Chittó et al., 2008 a; b).
Em N. granulata, Schein et al. (2004) realizaram a clonagem molecular da
PEPCK do músculo mandibular e verificaram a expressão desta enzima nas brân-
quias anteriores e posteriores, no hepatopâncreas, no sistema nervoso e no cora-
ção. A atividade da PEPCK no hepatopâncreas e no músculo mandibular é cerca
de 80-95% mitocondrial (Oliveira e da Silva, 1997; Schein et al., 2004; 2005 a).
Contudo, nas brânquias anteriores e posteriores a atividade dessa enzima está
dividida entre as frações citosólica (32-36%) e mitocondrial (66-68%) (Chittó et al.,
2008 b).
O tecido branquial de crustáceos decápodes apresenta uma diferenciação
funcional e estrutural. Os três pares de brânquias posteriores constituem o principal
39
sítio osmorregulador das espécies eurialinas, enquanto os três anteriores estão
mais associados à função respiratória e excreção de amônia (Bianchini et al.,
2008).
No presente trabalho, em brânquias anteriores de caranguejos expostos ao
meio hiperosmótico não foram observadas alterações significativas na síntese de
lipídios em relação aos animais do grupo controle. Os aminoácidos tissulares (argi-
nina, alanina, glicina, prolina, ácido glutâmico e taurina entre outros) são conside-
rados os principais efetores orgânicos osmoticamente ativos em crustáceos, contri-
buindo com cerca de 50% da pressão osmótica intracelular (Gilles e Delpire, 1997).
Durante a aclimatação ao meio hiperosmótico a concentração de aminoácidos in-
tracelulares aumenta com objetivo de limitar a alteração do volume celular. Desta
forma, a ativação da síntese de lipídios a partir de aminoácidos comprometeria a
regulação isosmótica do fluido intracelular, pois diminuiria a concentração de osmó-
litos orgânicos nas células branquiais. Bock (2005) verificou uma diminuição na
capacidade de síntese de proteínas nas brânquias anteriores às 72 horas de es-
tresse hiperosmótico.
Contudo, no presente trabalho, a atividade da PEPCK nas brânquias anterio-
res apresenta um aumento linear (r
2
=0,99) ao longo do estresse hiperosmótico.
Estudos prévios, realizados em brânquias anteriores deste mesmo caranguejo,
mostraram que a incorporação de
14
C-alanina em
14
C-glicose diminui significativa-
mente às 24 horas de estresse hiperosmótico, retornando a valores semelhantes
àqueles verificados no grupo controle entre 72-144horas de estresse osmótico
(Chittó et al., 2008 b). Esta redução na capacidade de síntese de glicose a partir de
aminoácidos às 24 h de estresse osmótico foi acompanhada por uma diminuição
significativa de cerca de 55% na atividade da PEPCK citosólica (Chittó et al., 2008
40
b). No presente trabalho foi determinada a atividade total da enzima PEPCK, o que
possivelmente mascarou a redução da atividade citosólica às 24h de estresse hipe-
rosmótico. Porém, o aumento da atividade total da PEPCK entre 72-144h de es-
tresse hiperosmótico, constatado no presente estudo, corrobora com o retorno da
capacidade de síntese de glicose, a partir de aminoácidos, constatada por Chittó et
al. (2008 b) nesse mesmo período experimental. A redução, de cerca de 40% (não
significativa), na incorporação de
14
C-glicina em lipídios totais em brânquias anteri-
ores às 144h de estresse hiperosmótico poderia ser interpretada como um desvio
desse aminoácido para a via gliconeogênica, reforçado pelo aumento nos valores
de glicose hemolinfática neste período experimental (Chittó, 2000).
Durante o choque hiposmótico, a partir das 72h de estresse, constata-se um
aumento significativo na atividade da enzima PEPCK em brânquias anteriores, que
coincide com o aumento da síntese de
14
C-lipídios totais a partir de
14
C-glicina. As-
sim, o aumento na síntese de lipídios, que perdura até o término dos seis dias
(144h) de estresse hiposmótico, diminuiria as concentrações intracelulares de ami-
noácidos, contribuindo para o ajuste metabólico em resposta à exposição dos ani-
mais ao meio diluído. Chittó et al. (2008 b) o verificaram, durante o choque hi-
posmótico, alteração na atividade gliconeogênica a partir de
14
C-alanina em N. gra-
nulata submetido durante o mesmo tempo experimental ao estresse hiposmótico.
Também o aumento significativo na incorporação da
14
C-glicina em lipídios totais
nas brânquias posteriores de caranguejos submetidos durante 72 horas ao estres-
se hiperosmótico foi precedido s 24h) pelo aumento, de cerca de cinco vezes, na
atividade da PEPCK. Apesar da diminuição observada a partir das 72 horas de es-
tresse, a atividade dessa enzima manteve-se cerca de 50% mais elevada que à-
quela verificada no grupo controle. Em N. granulata submetido ao estresse hipe-
41
rosmótico, durante os meses de verão, a concentração de lipídios totais nas brân-
quias posteriores diminui significativamente no período compreendido entre 72 e
144 horas de choque osmótico e coincide com a redução significativa da incorpora-
ção de
14
C-glicerol em glicose (Chittó et al., 2008 a). Os achados do presente tra-
balho sugerem que tanto em brânquias anteriores de caranguejos submetidos ao
estresse hiposmótico como em brânquias posteriores de animais expostos ao meio
hiperosmótico haveria a participação da via gliceroneogênica. Assim, para manter o
ciclo triacilglicerol/ácido graxo e/ou reduzir a concentração de aminoácidos livres
intracelulares nas brânquias anteriores e posteriores, a formação de glicerol 3-
fosfato seria as expensas de aminoácidos via gliceroneogênese. Corroborando
com esta hipótese, nas brânquias anteriores e posteriores ocorrem as duas isofor-
mas da enzima PEPCK, a citosólica e a mitocondrial, diferentemente dos outros
tecidos de N. granulata, tais como o músculo e o hepatopâncreas, em que a ativi-
dade da PEPCK é cerca de 90% mitocondrial (Oliveira e Da Silva, 1997; Schein et
al., 2004).
A participação da enzima PEPCK citosólica na gliceroneogênese foi de-
monstrada em mamíferos (Croniger et al., 2002; Hanson e Reshef, 2003; Reshef et
al., 2003; Beale et al., 2002; Hanson, 2005). Olswang et al. (2002) verificaram que
camundongos geneticamente modificados, nos quais a PEPCKc não era expressa
no tecido adiposo, apresentavam quantidades reduzidas de gordura corporal. Por
outro lado, a superexpressão desta enzima resultava em animais obesos (Fran-
khauser et al., 2002).
Além disso, no período de aclimatação ao laboratório e ao estresse osmóti-
co, os caranguejos foram alimentados com carne bovina crua, isto é, uma dieta rica
em proteínas. Em ratos alimentados com dieta rica em proteínas a atividade da
42
gliceroneogênese nos tecidos adiposos branco e marrom é significativamente mai-
or que aquela verificada nos animais alimentados com dieta balanceada (Botion et
al., 1995; Brito et al., 1999). Contudo, para a confirmação da participação da glice-
roneogênese no ajuste metabólico durante o estresse hiposmótico serão necessá-
rias medidas das atividades das enzimas PEPCK citosólica e piruvato quinase e
experimentos de incorporação de piruvato-2-
14
C em glicerol 3-fosfato.
No presente estudo, em brânquias posteriores de caranguejos submetidos
ao choque hiposmótico constata-se uma diminuição significativa na atividade da
PEPCK às 24 e 144 horas de estresses. Estes resultados estão de acordo com os
dados obtidos por Chittó et al. (2008 b) que constataram às 72 horas de estresse
hiposmótico uma significativa diminuição da incorporação de
14
C-alanina em glico-
se em brânquias posteriores de N. granulata submetido aos mesmos tempos de
estresse. Contudo, os valores de incorporação de
14
C-glicina em lipídios totais au-
mentam marcadamente às 72 horas de estresse hiposmótico em brânquias poste-
riores. Durante o choque hiposmótico o tecido deve reduzir a concentração de ami-
noácidos livres intracelulares, assim, os átomos de carbono dos aminoácidos seri-
am convertidos à acetil-CoA, diretamente ou via fosfoenolpiruvato, e a acetil-CoA
produzida proveria de precursores a via de síntese de ácido graxo. Como conse-
qüência da diminuição na concentração de aminoácidos livres intracelulares, ocor-
reria uma redução da atividade gliconeogênica em brânquias posteriores em res-
posta a aclimatação ao meio hiposmótico.
Os efeitos do estresse hiposmótico e hiperosmótico sobre o metabolismo li-
pídico do sculo da mandíbula foram observados no sexto (144h) dia de tra-
tamento, quando se constata um aumento significativo de cerca de 44% da lipogê-
nese a partir de
14
C-glicina. A diminuição da concentração intracelular de aminoá-
43
cidos intracelulares, durante o estresse hiposmótico, seria uma das estratégias pa-
ra a regulação do volume celular utilizada em tecidos de crustáceos (Gilles e Delpi-
re, 1997). Nesse mesmo tempo de estresse hiposmótico, foi observado por Schein
et al. (2005 b) que a oxidação e a captação de aminoácidos o sofreram altera-
ções significativas no músculo de N. granulata. a síntese de glicose a partir de
aminoácidos, neste mesmo tecido, aumenta significativamente às 24h de choque
hiposmótico, contudo, no período de 72-144h de tratamento os valores de glicone-
ogênese foram semelhantes àqueles verificados no grupo controle (Schein et al.,
2005 a). Nesse mesmo tempo de estresse hiposmótico, Bock (2005) observou au-
mento na síntese de proteínas, estratégia que também contribuiria para a diminui-
ção da concentração de aminoácidos do meio intracelular. Assim o aumento da
síntese de lipídios a partir de aminoácidos no músculo mandibular seria uma das
estratégias metabólicas para regular o volume celular em período mais tardio de
aclimatação ao meio hiposmótico, quando os valores de gliconeogênese retornam
a valores semelhantes aqueles do grupo controle (Schein et al., 2005 a). Entretan-
to, a atividade da enzima PEPCK não acompanhou o perfil do metabolismo lipídico
e, inclusive, apresentou uma diminuição de cerca de 47% no último dia de trata-
mento em relação aos animais do grupo controle, sugerindo que a redução no fluxo
de aminoácidos no tecido estaria controlando a atividade da enzima.
No presente trabalho, às 144 horas de aclimatação ao meio hiperosmótico,
constata-se uma redução de 57% da atividade da PEPCK acompanhada por um
aumento marcante na síntese de lipídios totais a partir de
14
C-glicina. Também em
músculo mandibular de N. granulata, submetido ao estresse hiperosmótico, foi veri-
ficado aumento significativo na captação de aminoácidos às 9, 12 e 24 horas, se-
guido de diminuição na capacidade gliconeogênica a partir de aminoácidos e dimi-
44
nuição na atividade da enzima PEPCK mitocondrial e citosólica (Waché, 2003;
Schein et al., 2005). Desta forma, os resultados do presente trabalho sugerem que
o aumento na síntese de lipídios a partir de aminoácidos, às 144h, seria uma estra-
tégia de ajuste na concentração intracelular de aminoácidos após a aclimatação ao
meio hiperosmótico. Recentemente, foi verificado que a concentração de lipídios
totais no músculo mandibular diminui significativamente durante o estresse hipe-
rosmótico (Chittó et al., 2008 a), assim o aumento na síntese de lipídios a partir de
aminoácidos também serviria para repor as reservas energéticas utilizadas durante
o esforço de regulação osmótica.
No tecido hepatopancreático, a exposição dos caranguejos por 24 horas ao
meio hiperosmótico promove um aumento na atividade da enzima PEPCK, contu-
do, a síntese de lipídios a partir de
14
C-glicina diminui significativamente no mesmo
período experimental. Nesse mesmo período de choque hiperosmótico foi consta-
tado aumento na captação e diminuição na oxidação de aminoácidos no hepato-
pâncreas (Schein et al., 2005 a; b). Esses parâmetros metabólicos foram determi-
nados às 24 h de estresse hiperosmótico. Estudo realizado por Waché (2003) mos-
trou que a captação de aminoácidos ocorre a partir das 9 horas de exposição ao
meio salino. Assim, o aumento da atividade da PEPCK constatado no presente tra-
balho (às 24 e 144 horas) seria uma conseqüência do incremento na concentração
de aminoácidos livres intracelulares e do ajuste do volume celular ocorrido antes
das 24 horas. Como o hepatopâncreas é um órgão metabólico importante para a
resposta ao estresse, os ajustes metabólicos estratégicos para a aclimatação ao
estresse osmótico ocorreriam temporalmente mais rapidamente que nos outros
tecidos como, por exemplo, no sculo. O aumento na síntese de lipídios a partir
de
14
C-glicina às 72 horas de estresse hiperosmótico e o retorno da atividade da
45
PEPCK a valores semelhantes àqueles verificados no grupo controle, corroboram
com a hipótese de que um ajuste metabólico mais rápido ocorreria no hepatopân-
creas.
Nos caranguejos submetidos ao estresse hiposmótico, a lipogênese não se-
ria uma das rotas envolvidas no ajuste metabólico para regulação do volume celu-
lar no hepatopâncreas, pois os valores mantiveram-se próximos aos do grupo con-
trole durante todo o período de exposição dos animais ao meio diluído.
O aumento linear (r
2
=0,95) da atividade da PEPCK no hepatopâncreas de
caranguejos submetidos ao estresse hiposmótico pode ser explicado pelo aumento
da atividade gliconeogênica. Neste mesmo tecido, Oliveira e Da Silva (2000) verifi-
caram aumento significativo da incorporação de
14
C-alanina em glicose e da ativi-
dade da PEPCK nos mesmos tempos de estresse hiposmótico utilizados no pre-
sente estudo. Desta forma, a gliconeogênese a partir de aminoácidos durante a
aclimatação ao choque hiposmótico diminuiria a concentração intracelular de com-
postos nitrogenados. As autoras ainda demonstraram neste mesmo estudo um
aumento nas concentrações de uréia na hemolinfa, sugerindo um aumento no ca-
tabolismo de aminoácidos e, com isso, diminuição nas concentrações intracelulares
destes compostos durante o ajuste ao estresse hiposmótico.
O presente estudo demonstra que a síntese de
14
C-lipídios a partir de
14
C-
glicina seria uma via metabólica que participaria do ajuste de aminoácidos intrace-
lulares durante o processo de aclimatação ao estresse osmótico em Neohelice
granulata. Nas brânquias anteriores (estresse hiposmótico) e posteriores (estresse
hiperosmótico) provavelmente o aumento na incorporação da
14
C-glicina ocorreria
via gliceroneogênese. Nestes órgãos a atividade da PEPCK ocorre tanto na fração
citosólica como na mitocondrial, o que permitiria a conversão da glicina em glicerol,
46
mantendo, assim, o ciclo triacilglicerol/ácido graxo nesses tecidos. Contudo, estu-
dos mais aprofundados sobre a via gliceroneogênica em N. granulata serão neces-
sários para confirmar estes resultados.
Nas brânquias posteriores (no estresse hiposmótico), no músculo e no hepa-
topâncreas a síntese de lipídios através da formação de ácidos graxos a partir de
14
C-glicina seria uma via de ajuste de concentração de aminoácidos livres intracelu-
lares durante a aclimatação ao estresse osmótico.
Figura 8: Contribuição do presente trabalho para a compreensão das vias
metabólicas envolvidas na regulação osmótica em N. granulata.
C
C
É
É
L
L
U
U
L
L
A
A
Triglicerídeo
Glicerol
Glicerol 3-fosfato
Acetil-CoA
GLIC
O
SE
Ácido-graxo
PROTEÍNAS
OXIDAÇÃO PARA
CO
2
i
i
n
n
f
f
l
l
u
u
x
x
o
o
Piruvato
Piruvato
Diidroxiacetona fosfato
47
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