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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas
Luciana Pianaro
ESTRATÉGIAS DE MARKETING DOS PRODUTOS DE LUXO
NO MERCADO BRASILEIRO: UM ESTUDO NO SEGMENTO
DE VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS
São Paulo
2007
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LUCIANA PIANARO
ESTRATÉGIAS DE MARKETING DOS PRODUTOS DE LUXO
NO MERCADO BRASILEIRO: UM ESTUDO NO SEGMENTO
DE VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração de Empresas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para a
obtenção do título de Mestre em Administração
de Empresas.
Orientador: Prof. Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes
SÃO PAULO
2007
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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Manassés Claudino Fonteles
Decano de Pesquisa e Pós-Graduação
Profa. Dra. Sandra Maria Dotto Stump
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Prof. Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração
de Empresas
Profa. Dra. Eliane Pereira Zamith Brito
Dedico este trabalho a você meu Amor, que
completa minha existência.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Doutor Reynaldo Cavalheiro Marcondes por sua exigência
e rigor científico mas, acima de tudo, pela paciência e por acreditar nesta
pesquisadora. Foi um privilégio e uma honra tê-lo como meu orientador.
Aos meus professores do Mestrado em Administração de Empresas do Mackenzie
por sua competência, educação e paciência, em especial à Profa. Dra. Eliane Zamith
Brito, pelos conselhos, críticas e observações de melhoria em meus trabalhos.
Aos colegas de turma, em especial à Cristina Hirayama, Celso Malachias, Giancarlo
Ricciardi, Nelson Furquim e Nereida Silveira, por sua amizade.
Ao Mack Pesquisa, pela disposição de reserva técnica, que viabilizou
financeiramente a pesquisa de campo e o projeto final.
Ao Carlos Alberto Júlio, presidente da HSM e ao Carlos Ferreirinha, presidente da
MCF Consultoria que, gentilmente, me apresentaram aos entrevistados.
A todos os entrevistados, que foram da maior importância para a realização das
pesquisas, e por conseqüência, do trabalho. Dentro de suas agendas lotadas e
inúmeros projetos, receberam-me atenciosa e educadamente. Muito obrigada.
À Mara Nobre, Jaqueline de Freitas, Elves Costa e Flávio Macau, meus colegas de
trabalho, que deram o apoio necessário nos momentos em estive fora da empresa
durante os últimos dois anos.
Aos meus pais, Francisca e Sézi, que me ensinaram o valor da integridade.
Ao meu marido e adorável prof. Eugenio Mussak, que me incentiva, aconselha e
apóia em tudo que me proponho a fazer. Você é minha maior fonte de inspiração.
RESUMO
Esta dissertação trata da identificação das estratégias de marketing utilizadas pelas
empresas do segmento de roupas e acessórios de luxo cujas marcas são
internacionais e consolidadas no mercado brasileiro. Os objetivos da pesquisa que a
fundamentaram foram os de conhecer a visão dos executivos sobre conceitos e
atributos de produtos de luxo e em especial das marcas que representavam;
entender o comportamento de consumo dos seus clientes; identificar as práticas do
composto de marketing; e por fim conhecer como se configura a competição nesse
setor. A pesquisa, de natureza exploratória qualitativa utilizou uma amostra não
probabilística composta por sete executivos de marketing de sete empresas desse
segmento. Para o tratamento e a análise dos dados foram aplicadas técnicas de
análise de conteúdo, com base na transcrição ipsis litteris dos depoimentos dos
entrevistados gravados em áudio, obtidos por meio de um roteiro padrão semi-
estruturado. Os resultados apontaram visões similares sobre produtos e marcas de
luxo, sendo que cada marca possui um consumidor típico. Sobre as estratégias de
marketing verificou-se uma preocupação maior em zelar pela marca do que
aumentar market-share. As atividades do composto de marketing obedecem às
regras estabelecidas pelas matrizes das marcas fora do país, não deixando margens
para se inovar muito além do seu padrão de forma a não comprometer a imagem
internacional da marca. Percebeu-se um crescimento das vendas e importância dos
acessórios para as marcas, pois estes permitem aumentar a base de clientes
aspirantes a consumidores da marca. Entre as constatações relevantes, uma delas
foi a política do parcelamento das compras e a do bom atendimento dos vendedores
em relação a práticas de outros países. Outra constatação que se ressalta foi o fato
de que todas as marcas pesquisadas consideram concorrentes apenas aquelas que
vendem produtos similares, não reconhecendo a concorrência de nenhuma marca
nacional.
Palavras-chave: Produtos de luxo. Comportamento do consumidor. Estratégias de
marketing. Marcas de luxo.
ABSTRACT
This study focuses in the identification of the marketing strategies used by companies
in the luxury market of clothing and accessories of international brands that are
consolidated in the Brazilian market. The objectives of this research are getting to
know the vision of the executives about the concepts and features of luxury goods,
especially the brands that these products represent; understand the behavior of their
customers; identify the practices of the marketing mix; and to know what the
competition in this sector is like. The research, of a qualitative nature, utilized a non-
probabilistic sample of seven marketing executives of seven different companies in
the segment. Techniques of content analysis were applied to the treatment and
analysis of the data, based in the transcriptions ipsis litteris of the semi-structured
interviews, which were recorded in audio format. The results point to similar views
about luxury products and brands, each brand having a typical consumer. Regarding
the marketing strategies, it was possible to verify a main concern in maintaining the
brand intact instead of increasing its market-share. The activities of the marketing mix
obey the rules established by the brand’s head offices outside of the country, leaving
no margin to innovate from its standard, in order not to compromise the international
image of the brand. The importance and growing of accessories sales to the brands
were noticed, since they allow an increase of the aspiring customer base of the
brand. Amongst the relevant findings, one of them was the use of payment through
installments and the good quality service of the sellers in relation to other countries.
Another interesting finding was the fact that all the researched brands consider only
other brands that sell similar products as competitors, not recognizing the competition
of any national brand.
Keywords: Luxury goods. Consumer behavior. Marketing strategies. Luxury brands.
LISTA DE ESQUEMAS
Esquema 1: Percepções pessoais e não pessoais do luxo.......................................35
Esquema 2: Valor premium exclusivo e margem......................................................55
Esquema 3: Canais de Distribuição para produtos de luxo.......................................60
LISTA DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1: Identidade e Imagem de uma marca.................................................32
Fluxograma 2: Componentes de uma marca de luxo................................................38
Fluxograma 3: O Ambiente e o comportamento de compra......................................45
Fluxograma 4: Sistema de estratégias produto-mercado e negócio .........................49
Fluxograma 5: O processo de comunicação.............................................................56
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Estudos acadêmicos sobre luxo no Brasil................................................22
Quadro 2: Marcas de luxo de vestuário e acessórios situados na cidade de
São Paulo.................................................................................................71
Quadro 3: Exemplo de análise de conteúdo de uma das marcas.............................84
Quadro 4: Resumo das características-chave das marcas de luxo entrevistadas ..111
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Faturamento do grupo LVMH, destaque feito pela pesquisadora .............16
Tabela 2: Faturamento do grupo PPR, destaque feito pela pesquisadora................16
Tabela 3: Faturamento do grupo Richemont, destaque feito pelo pesquisador ........17
Tabela 4: Classificação e faturamento mundial do setor de luxo ..............................19
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 11
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA...................................................................................... 11
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO........................................................................................ 14
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA.......................................................................................... 20
1.4 OBJETIVOS................................................................................................................. 20
1.5 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA................................................................................ 21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................................... 24
2.1 PRODUTOS DE LUXO................................................................................................ 24
2.1.1 Definição e atributos de produtos de luxo............................................................. 25
2.1.2 A semiótica do luxo............................................................................................... 28
2.1.3 Marcas de luxo ..................................................................................................... 31
2.2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR................................................................... 39
2.2.1 Comportamento do consumidor............................................................................ 39
2.2.2 O cliente de produtos de luxo............................................................................... 42
2.3 MARKETING – UM RECURSO DA ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS........................... 47
2.3.1 O marketing estratégico........................................................................................ 47
2.3.2 Marketing mix ....................................................................................................... 49
2.3.2.1 Produto .......................................................................................................... 50
2.3.2.2 Preço.............................................................................................................. 52
2.3.2.3 Promoção....................................................................................................... 56
2.3.2.4 Distribuição.................................................................................................... 59
2.3.2.5 Serviços complementares.............................................................................. 61
2.4 ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS.................................................................................... 63
2.4.1 Análise da competição dos produtos.................................................................... 65
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................................... 68
3.1 TIPO DA PESQUISA................................................................................................... 68
3.2 MÉTODO DA PESQUISA............................................................................................ 68
3.3 COLETA DE DADOS................................................................................................... 70
3.3.1 Amostra ................................................................................................................ 70
3.3.2 Entrevistas............................................................................................................ 71
3.4 APRESENTAÇÃO DAS MARCAS .............................................................................. 74
3.4.1 Armani .................................................................................................................. 74
3.4.2 Burberry................................................................................................................ 75
3.4.3 Diesel.................................................................................................................... 76
3.4.4 Dior ....................................................................................................................... 77
3.4.5 Louis Vuitton.........................................................................................................79
3.4.6 Versace................................................................................................................. 79
3.4.7 Zegna.................................................................................................................... 80
4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS.......................................................................................... 83
4.1 CONCEITOS E ATRIBUTOS DE ROUPAS E ACESSÓRIOS DE LUXO................... 84
4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CLIENTES DO MERCADO DE LUXO............................. 88
4.3 COMPOSTO DE MARKETING................................................................................... 95
4.4 ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA .............................................................................. 109
5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................................. 114
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 116
7 RECOMENDAÇÕES........................................................................................................ 126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 128
APENDICES........................................................................................................................ 135
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA
Esta dissertação de mestrado trata das estratégias de marketing adotadas pelas
empresas comercializadoras de produtos de luxo no setor de vestuário e acessórios
no Brasil.
Muito se tem falado sobre o consumo de produtos de luxo no mundo e, mais
recentemente, no Brasil. Apesar da intensa divulgação de marcas internacionais de
luxo, pouco é conhecido sobre como estas marcas são gerenciadas (BEVERLAND,
2004).
O universo do luxo, representado por vários segmentos, encanta e fascina muitos
consumidores, até aqueles que não têm condições de adquiri-los (BEVERLAND,
2004). Mesmo enfrentando competidores, guerras, baixas econômicas e escândalos,
os produtos de luxo têm mantido uma posição no topo de seu mercado por muitos
anos (BROOK
1
, 2001, apud BEVERLAND, 2004), crescendo não menos que dois
dígitos na última década conforme informação de Yves CARCELLES (2006),
presidente mundial da Louis Vuitton, em entrevista ao canal de notícias Globonews
sobre o Mercado de Luxo.
Segundo artigo publicado no site da revista Isto é Dinheiro (DINHEIRO NA WEB,
2006), o Brasil faz parte da lista dos dez maiores mercados consumidores de
1
BROOK, S. Bordeaux: People, Power and Politics. Mitchell-Beazley: 2001, London
12
produtos de luxo com cerca de 4 milhões de brasileiros consumidores de artigos de
luxo – quase 2,5% da população - e é um negócio que tem crescido até 45% ao ano,
segundo as grifes.
Na América, só perde para os Estados Unidos. Em uma entrevista para o Jornal
Valor Econômico em 31/08/2005, Alberto Serrentino, sócio-diretor da Gouvêa de
Souza & MD, empresa paulistana especialista em varejo, estima que seja um
mercado que movimente cerca de US$ 200 bilhões/ano globalmente. No Brasil, este
número é estimado em R$ 5,5 bilhões/ano (KLINKE; STEIN, 2005).
Chama a atenção que cresça no país um mercado aparentemente tão restrito quanto
esse. Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) (2003) publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
existem cerca de um milhão de pessoas ocupadas que ganham acima de 20 salários
mínimos mensais no Brasil. Deste total, 412.000 estão no estado de São Paulo. Ao
cruzar dados do IBGE, a consultoria Escopo Geomarketing (VEJA, 2005 - maio)
constatou que 24.700 paulistanos moram em domicílios com rendimento mensal
acima de 50 mil reais o que representa 0,24% da população. Entre estes, 7.880
vivem com um milhão de reais por ano e, no alto da pirâmide, 90 fazem esta fortuna
por mês (VEJA 2005a). Somando-se a outros 5% de profissionais com uma renda
familiar média de R$ 4,6 mil, os profissionais liberais, executivos, pequenos e
médios empresários se permitem desfrutar de alguns produtos caros e sofisticados
(VARELLA, 2000), mesmo que parcelados em várias vezes, tendo-se mais uma
justificativa para o bom andamento desse mercado.
13
As empresas detentoras das marcas que atuam no mercado de luxo são
predominantemente de origem européia (França e Itália), americana e japonesa
(STREHLAU, 2005). No Brasil, existe apenas a comercialização de tais produtos;
não há a tradição de fabricação. A produção de artigos de luxo requer um trabalho
quase artesanal, minucioso, exclusivo, características muito intrínsecas desse tipo
de produto e valorizadas por seus consumidores que pagam o valor que lhe é
atribuído.
Muito embora os produtos de luxo ainda mantenham esta áurea artesanal, o
desenvolvimento da globalização e especialmente o crescimento potencial dos
mercados emergentes do BRIC-Brasil, Rússia, Índia e China -, representam o
crescimento da renda dos seus habitantes e conseqüentemente o crescimento do
consumo para este mercado. Para atender a este potencial de mercado empresas,
outrora familiares, foram adquiridas por grandes grupos empresariais que
administram seus direitos de comercialização da marca no mundo todo. Como
resultado, o mercado do luxo tornou-se bastante mais complexo e competitivo,
sujeito às estratégias de negócios para que pudesse dar o retorno esperado aos
seus acionistas e atender à sua perpetuação (VEJA, 2005 - maio).
Vender para os clientes desse mercado requer cuidados muito especiais, sendo que
o relacionamento, gestos de reconhecimento, exclusividade, atenção aos detalhes e
encantamento são elementos bastante valorizados dentro da estratégia de marketing
de empresas desse setor (EXAME, 2006).
Observa-se, a partir dos dados e informações referidos acima, que há no país um
mercado significativo para produtos de luxo. Investigar as estratégias deste mercado
14
é relevante à medida que o seu sucesso baseado pelo crescimento citado, supera o
de muitos outros negócios similares. Desta forma, ao investigar tais estratégias,
outras áreas de consumo desses produtos podem utilizar informações para seu
próprio negócio, fazendo o uso especialmente dos significados e encantamento que
o mercado de luxo proporciona para seus clientes.
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O crescimento do mercado do luxo é freqüentemente creditado ao crescimento da
população que tem mais que 1 milhão de dólares de investimentos em ativos de
acordo com o World Wealth Report – (WWR) (2005) publicado pelas empresas de
consultoria Capgemini e Merril Lynch. De acordo com este relatório, a quantidade de
milionários do planeta cresceu 7,3% entre 2002 e 2004. São cerca de 8,3 milhões de
pessoas. Esta tendência de crescimento é estimada em 6,5% ao ano pelos próximos
5 anos, conforme demonstra o Gráfico 1. Segundo estas consultorias, no Brasil há
98.000 milionários, com patrimônio superior a 1 milhão de dólares. Outros 250.000
possuem metade disso (EXAME, 2005).
15
Gráfico 1: Estimativa de crescimento da população mais rica do planeta.
Fonte: WWR, 2005, p. 10
Desde mais de uma década, o setor de luxo passa por uma mudança
organizacional, tendo as pequenas empresas independentes e semi-artesanais
cedido lugar aos conglomerados de dimensão internacional tais como LVMH (Louis
Vuitton-Möet Henessy), PPR (Printemps-Pinault- Redôute) e Richemont , os quais
deram o aporte financeiro que permitiu uma globalização do luxo (VEJA, 2005 -
maio).
O grupo LVMH criado em 1987 pelo francês Bernard Arnauld é atualmente o maior
conglomerado do segmento do luxo, detentor de 51 das mais prestigiosas marcas do
mundo tais como a Louis Vuitton, Dior, Celine e Pucci, com presença em 65 países
e faturamento de 13,9 bilhões de euros no último ano conforme demonstra a tabela
1, publicada no relatório financeiro da companhia (LVMH , 2005).
16
Tabela 1: Faturamento do grupo LVMH, destaque feito pela pesquisadora
Fonte: LVMH, Financial Report, 2005.
O grupo PPR, administrador das lojas Printemps, FNAC e Conforama e no setor de
luxo representado pelo Gucci Group, detentor de marcas como Gucci , Yves Saint
Laurent e Balenciaga, faturou 17,765 bilhões de euros , sendo 3,03 bilhões somente
no setor de luxo (PPR, 2005), conforme mostra a tabela 2, obtida do relatório
financeiro da companhia.
Tabela 2: Faturamento do grupo PPR, destaque feito pela pesquisadora
Fonte: PPR, Financial Report, 2005
17
Já o grupo Richemont, cujas marcas mais conhecidas são a Montblanc, a Cartier e a
Piaget, chegou à casa dos 3,7 bilhões de euros de faturamento conforme demonstra
a Tabela 3, retirada também do relatório financeiro da companhia (RICHEMONT,
2005).
Tabela 3: Faturamento do grupo Richemont, destaque feito pelo pesquisador
Fonte: Richemont, Financial Report, 2005
Sobre a aquisição das empresas de luxo por grandes grupos financeiros, o
presidente mundial da Louis Vuitton, marca do grupo LVMH, Yves CARCELLES
(2006) afirmou:
[..] não é a compra por um grande grupo que transforma uma marca, mas
sim o ambiente que o grupo proporciona à maison: um acionariado estável,
a gestão de longo prazo da marca, a atenção aos custos e margens, a
tomada de decisões sobre planos estratégicos de 10 ou 15 anos, os
recursos financeiros. [...] para se ser líder em termos de lojas, produtos e
comunicação são necessários os recursos de um grande grupo.
No Brasil, as primeiras empresas ligadas ao consumo do luxo estabeleceram-se em
meados dos anos 90, quando da liberação das importações promovida pelo governo
Collor (1990-1992) e ganharam mais força com a estabilização da economia e
controle cambial (VEJA, 2005 - maio).
18
O luxo é um diferencial que todos os segmentos, até os mais populares procuram
conhecer melhor para aplicar algumas idéias sobre seu negócio (KLINKE; STEIN,
2005). Busca-se vender, além da oferta de produtos e agilidade das soluções,
experiências de consumo ao consumidor. Ao fazer uso das emoções e da
experimentação, o setor de luxo criou um outro patamar de relacionamento com os
clientes e deixou de ser só um vínculo de ostentação (KLINKE; STEIN, 2005).
Com o interesse da mídia por assuntos relacionados ao mercado do luxo, em 2005,
várias publicações foram lançadas: dois fascículos especiais da revista Veja, um
publicado em maio, sobre o luxo disponível para a classe AAA em São Paulo (VEJA,
2005 – maio), e outro publicado em junho, intitulado “Esse mundo é um luxo” (VEJA,
2005 – junho). No mesmo ano, uma revista sobre o setor foi lançada pela Editora
Abril, chamada revista A (REVISTA A, 2005), e outra lançada pela Dória Associados,
chamada Oscar (OSCAR, 2005). Em agosto de 2005, o jornal Valor Econômico
organizou um seminário sobre o mercado do luxo. Surgiram também cursos voltados
especificamente ao setor como MBA em Gestão do Luxo da faculdade Fundação
Armando Alvares Penteado (FAAP) de São Paulo em 2004 e o curso em Marketing
de Produtos de Luxo em 2006 da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM), também de São Paulo.
Para o lançamento do curso da ESPM em abril de 2006, a faculdade trouxe ao
Brasil, o professor-doutor Jean CASTARÉDE (2006), estudioso do mercado do luxo
e fundador do Institut Supérieur du Marketing de Luxe em Paris. Em sua palestra na
sede da ESPM em São Paulo, o professor apresentou os números de faturamento
mundial do luxo como mostra a tabela a seguir (Tabela 4):
19
Tabela 4: Classificação e faturamento mundial do setor de luxo
Setor Produtos Faturamento
(bilhões euros)
% da
indústria
mundial
Automóveis de luxo Automóveis, iates, aviões particulares 14,0 10,00%
Cosméticos e perfumes Cosméticos e perfumes 32,0 21,00%
Vestuário e acessórios Alta costura,
prêt-à-porter
30,0 20,00%
Artes da mesa Cristais, porcelanas, antiguidades 1,5 1,00%
Gastronomia Restaurantes e comidas 2,5 1,70%
Tecnologia Objetos eletrônicos 2,0 1,30%
Esportes de luxo Golfe, pólo, equitação 1,0 1,00%
Vinhos e bebidas Vinhos e bebidas 30,0 20,00%
Relojoaria Relojoaria, joalheria, artigos de escrita 8,0 5,30%
Obras de arte Pintura, escultura, coleções 5,0 3,30%
Artefatos de couro Cal
ç
ados, malas e acessórios em couro 11,0 7,30%
Turismo e Lazer hotéis, spas, vôos em primeira classe 13,0 8,70%
Fonte: CASTARÉDE , Conferénce sur le Luxe, 2006 (destaques feito pela autora)
Diante do interesse da mídia por este tema, dos números do setor de luxo no
mundo, do potencial de consumo do Brasil, dos cursos de pós-graduação
especializados no mercado do luxo, bem como o interesse de empresas de outros
setores citadas, a autora dessa dissertação enxerga uma lacuna do conhecimento a
ser preenchida no que diz respeito às estratégias das empresas do mercado de luxo
no Brasil. A escolha específica dos setores de vestuário e acessórios, deve-se à
afinidade mercadológica de ambos, ao significativo faturamento mundial
apresentado no quadro acima, ao potencial produtivo do Brasil nos setores de moda
e acessórios que podem se inspirar em tais estratégias e ao interesse genuíno desta
pesquisadora por estes assuntos.
20
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA
Considerando as justificativas apresentadas no item anterior bem como fato das
empresas do mercado do luxo existentes no Brasil serem apenas comercializadoras
e não produtoras, a questão de pesquisa proposta neste projeto é: quais as
estratégias de marketing adotadas pelas empresas comercializadoras de vestuário e
acessórios no setor de luxo?
1.4 OBJETIVOS
O objetivo básico deste trabalho é o de caracterizar as estratégias de marketing mais
significativas adotadas especificamente dentro dos setores de vestuário e
acessórios, do ponto de vista do diretor de marketing da empresa.
Os objetivos específicos são:
Conhecer os conceitos e atributos de roupas e acessórios de luxo do ponto de
vista dos entrevistados;
Entender como são caracterizados os clientes desses produtos de luxo
quanto ao seu comportamento de consumo;
Identificar práticas de fixação de preços, modelos de distribuição,
merchandising, mídia, relações públicas e serviços complementares ao cliente;
Conhecer como se configura a competição desses produtos.
21
1.5 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA
Nas pesquisas realizadas pela autora, foram encontrados poucos estudos
acadêmicos no Brasil, conforme demonstra o quadro 1 a seguir. Nas universidades
mais conhecidas, foram encontrados: uma dissertação de mestrado na FGV-SP,
publicada por Célia Amaral BARTH (1996) sobre o marketing de produtos de luxo
(grifo da autora); em seguida, no ano de 1997, Lucien GEARGEOURA (1997), da
FEA-USP, descreveu, em sua dissertação, o marketing da Louis Vuitton; em 2002,
duas dissertações foram produzidas na Coppead-RJ, sobre Luxo: uma sobre
comportamento de consumo das chamadas “patricinhas” (WALTHER, 2002) e outra
sobre o comportamento de consumo dos yuppies (SILVEIRA, 2002). Dois anos mais
tarde, foi a vez da professora Suzane STREHLAU (2004), publicar sua tese de
doutorado sobre o consumo de produtos de luxo falsificados, pela FGV-SP e de
André CAUDURO (2004), da UFRS, publicar sua dissertação sobre significados de
consumo de produtos de luxo. Nos anais do Anpad, apenas dois artigos sobre
consumo do luxo foram encontrados, ambos originados na FGV/EBAPE-RJ (SILVA;
CERCHIARO; MASCETTI, 2004) e (SILVA; MASCETTI, 2004). Em 2006, na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi apresentado um Trabalho de Graduação
Interdisciplinar (TGI) sobre o comportamento do consumidor da classe A em relação
aos restaurantes de luxo em São Paulo (TARANTELLI et al., 2006).
Como se pode observar, dos trabalhos acadêmicos citados, nenhum abordou
especificamente estratégias de marketing de roupas e acessórios. Desta forma, esta
dissertação visa primariamente compreender as estratégias de empresas
comercializadoras de produtos de luxo, especificamente sobre os setores de
vestuário e acessórios. Procurar-se-á igualmente explorar definições e
22
características dos produtos de luxo, como é o cliente deste setor, qual a dinâmica
de marketing do negócio bem como o funcionamento da concorrência no setor.
AUTOR (ES) NATUREZA
/INSTITUIÇÃO
TEMA PRINCIPAIS
QUESTÕES
ABORDADAS
D´Angelo
(2004)
Dissertação
UFRS
Significados associados
ao consumo do luxo
Distinção, hierarquia,
status.
Barth (1996) Dissertação
FGV
Marketing de Produtos
de Luxo (geral)
Simbolismo, marcas
e estratégia.
Geargeoura
(1997)
Dissertação
USP
O marketing da Louis
Vuitton
Marketing marca
Walther (2002) Dissertação
Coppead
Comportamento de
consumo de jovens do
Rio de Janeiro
Pertencimento a um
grupo, consumismo,
luxo
Silveira (2002) Dissertação
Coppead
Estudo do
Comportamento de
Consumo dos Yuppies
Brasileiros
Luxo, Marca,
comportamento do
consumidor.
Strehlau (2004) Tese
FGV
Falsificação e consumo
de produtos de luxo
Comportamento de
consumo, semiótica,
marcas.
Silva;
Cerchiaro;
Mascetti, 2004
Enanpad
2004
Consumo como
Espiritualidade e
Consumo do Luxo
Comportamento de
Consumo, luxo.
Silva; Mascetti,
2004
Enanpad
2004
Observando o Consumo
do Luxo como
Espiritualidade
Comportamento do
consumo, luxo
Tarantelli et al.,
2006
TGI
Mackenzie
Comportamento do
consumidor em relação
aos restaurantes de
luxo
Comportamento do
consumidor
Quadro 1 – Estudos acadêmicos sobre Luxo no Brasil
Fonte: Elaborado pela autora.
No plano acadêmico, a contribuição desse projeto de pesquisa é o aporte de teorias
de outros campos de estudo que permitam melhor compreender o que são os
produtos de luxo e as características dos seus clientes. Além disso, busca-se
analisar os resultados tendo em vista a contribuição teórica para o avanço do
23
conhecimento pertinente à utilização de estratégias no setor de luxo dentro do
mercado brasileiro.
24
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O objetivo desse capítulo é o identificar a literatura de características e atributos de
produtos de luxo, as suas dimensões de marca e significado. Também serão
contemplados o marketing estratégico, em especial, os conceitos do composto de
marketing aplicados ao segmento de luxo bem como as estratégias gerais do
negócio e análise da concorrência.
2.1 PRODUTOS DE LUXO
Os produtos de luxo podem ser estudados por meio de várias dimensões: o
conceito, a criação, os atributos, o design e a inovação, a marca, o valor econômico,
a semiótica, os meios de produção, a cadeia de fornecedores, o consumo, entre
outros. Dado o foco desta dissertação ser o entendimento das estratégias de
comercialização e não a sua criação ou produção, serão tratados apenas os
conceitos de luxo e os atributos da marca dos produtos de luxo. Não se estudará o
consumo em si, mas procurar-se-á compreender o comportamento do consumidor
deste tipo de produto, bem como o sentido que tais produtos possuem para os seus
clientes (semiótica).
25
2.1.1 Definição e atributos de produtos de luxo
Não argumente com a necessidade. Os mais pobres mendigos têm dentro de suas humílimas posses
algo supérfluo. Proíba-se a natureza ter mais do que a natureza, e a vida de um homem se iguala a
de um bicho.
(William Shakespeare, Rei Lear, ato II, cena 4)
Etimologicamente, a palavra luxo vem do latim luxus, o que significa tolerância do
senso, mesmo não se considerando o custo (NUENO; QUELCH, 1998). Castaréde
(2005) define lux como brilho, bom gosto, iluminação, elegância – chegando à
luxúria – excessivo, aberrante, raro, extremo. Para ele a definição se equilibra entre
dois pólos: o parecer e o ser, a aparência e a essência.
Já para Vigneron e Johnson (2004) consideram o luxo difícil de se definir. Para eles,
há um forte elemento de envolvimento humano, de pouca oferta e reconhecimento
do valor que seriam os seus componentes-chave. Esta visão complementa-se à de
Dubois e Laurent (1996) para os quais o luxo é um conceito pessoal, relativo e
idiossincrático e que os produtos de luxo envolvem componentes simbólicos,
hedônicos, de cognição e necessidades variadas.
Dubois, Laurent e Czellar (2001) argumentam que um produto de luxo é um produto
de excelente qualidade e durabilidade, possui status de bom gosto, refinamento, alto
preço, escassez e exclusividade, forte apelo estético, tradição, história e lenda.
Complementa Lombard que eles ainda possuem necessariamente uma marca
reconhecida em vários lugares do mundo, e são adquiridos por uma clientela
especial, com capacidade de apreciação ou alto poder aquisitivo (LOMBARD, 1989).
26
Essas visões se equiparam à de Allérès (2000), de que um objeto de luxo se prende
a um produto de qualidade; a uma marca de notoriedade quase universal; a uma
distribuição seletiva, elegante e refinada; a uma comunicação de qualidade, bela e
seletiva; a preços mais elevados .Para a autora, um objeto de luxo encerra todos os
qualificativos da perfeição, em todos os níveis de sua existência e seu itinerário, até
o consumidor conforme a seguintes características:
1. Perfeição: o uso de materiais nobres, a busca harmoniosa do colorido, a
seleção das idéias originais e inovadoras, bem como as condições de
realização e controle estão reunidas permitem a produção de modelos
únicos e inacessíveis;
2. Acondicionamento: igualmente importante é a apresentação luxuosa do
produto por meio da embalagem e o papel de presente Esse cuidado
assegura a obtenção de níveis de perfeição inigualáveis em comparação
com produtos de consumo comum;
3. Preço: Os produtos de luxo nobres, únicos, providos de um
acondicionamento refinado atingem preços de revenda muito elevados e
preços de venda pouco competitivos;
4. Distribuição: a distribuição de um produto de luxo deve ser selecionada de
acordo com a imagem do produto e da marca - por exemplo, muito seletiva
para jóias finas, mais ampla para prêt-à-porter ou muito ampla para
cosméticos;
5. Comunicação: uma comunicação bem-sucedida equilibrando a
notoriedade da marca, o conceito do produto e sua imagem, a clientela
pretendida e uma justa escolha dos meios de comunicação selecionados.
27
Castaréde (2005) é um pouco mais sintético. Para ele um objeto de luxo deve: 1)
corresponder a uma abordagem personalizada; 2) ser tecnicamente perfeito; 3) ser
esteticamente belo. Complementa que é luxuoso tudo o que é raro que não é nem
comum nem usual. A raridade e a escassez constituem um fenômeno subjetivo que
justifica o diferencial de preço. O valor agregado das marcas de luxo situa-se
naquele algo mais – o estilo, a apresentação, o apelo histórico, o design, a
originalidade: “[...] uma boa empresa de luxo mantém a especificidade de imaginar e
definir o produto com uma qualidade e uma apresentação da qual só ela tem o
segredo.” (CASTARÉDE, 2005, p.87).
De posse desses conceitos que ajudam a caracterizar os produtos de luxo pode-se
classificá-los. Existe, o luxo inacessível – formado, entre outros, pela alta joalheria,
obras de arte, alta costura veículos e imóveis –, que tem um caráter patrimonial,
podendo ser transmitido ao longo de gerações de uma mesma família. Há o luxo
intermediário, constituído de objetos fabricados em poucas quantidades, como peles,
prêt-a-porter, acessórios e artigos de escrita. Nesta faixa encontram-se a maior parte
dos produtos responsáveis pelo crescimento do mercado de luxo no Brasil como as
bolsas Louis Vuitton, as canetas Montblanc, os trajes Armani e Diesel. Por fim, há o
luxo acessível constituído dos perfumes e de bebidas – os quais atendem às
demandas hedônicas do cliente, sendo voltado essencialmente à qualidade e ao
bem-estar (ALLÉRÈS, 2000).
Pode-se assim hipotetizar que a combinação desses elementos é o que confere o
caráter de luxo a um produto bem como a evocação da beleza, da elegância, da
sedução, da distinção percebida. Todas estas características contribuem para criar o
28
imaginário das pessoas, algo fundamental para a manutenção da imagem de um
produto de luxo (ALLÉRÈS, 2000).
2.1.2 A semiótica do luxo
Um produto de luxo é um produto que emociona, seja ao comprá-lo, oferecê-lo ou recebê-lo
(CARCELLES, 2006)
Enquanto significado, o luxo pode ser estudado por intermédio da semiótica, ciência
que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, o exame
dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como veículo de produção
de significação e de sentido. É uma ciência que estuda toda e qualquer linguagem,
verbal e não verbal (SANTAELLA, 1992).
Segundo a autora, os indivíduos se comunicam mediante a leitura ou da produção
de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos, ou, por meio de
uma outra análise mais real, a comunicação é feita por intermédio de imagens, sons
musicais, gestos, expressões, cheiros, olhar, sentir apalpar: “Somos uma espécie
animal tão complexa quanto são complexas e plurais as linguagens que nos
constituem como seres simbólicos, isto é, seres de linguagem” (SANTAELLA, 1992,
p.10).
Os produtos de luxo são provavelmente os mais representativos de toda a
complexidade da escolha de um objeto e de um ato de compra. Eles apreendem ao
mesmo tempo todos os fatores racionais de compra – qualidade, originalidade – e os
mais irracionais – procura de distinção, gosto pelos objetos de marca, pelos códigos
sociais, ou seja, eles são signos que representam algo. Para o francês Lipovetsky
29
(2005) o desejo deste consumidor é o de estender sua personalidade por meio das
suas posses. Em uma sociedade, as pessoas desenvolvem significados comuns
para o que os símbolos representam (MOWEN; MINOR, 2003).
Desde os anos 80, as novas elites do mundo econômico declaram seus gostos pelos
produtos de luxo e pelos seus símbolos de posição social. Nos EUA mais do que na
Europa, as classes ricas orgulham-se de exibir sua fortuna como signos de valor e
sucesso individual, validação de um projeto econômico e social (MOWEN; MINOR,
2003).
Roux (2003) complementa que um produto de luxo é um objeto (produto ou serviço),
acrescido de um grupo de representações - imagens, conceitos, sensações - que
são associadas a ele e o consumidor compra juntamente com o objeto sendo que
está disposto a pagar um preço superior ao que aceitaria pagar por um objeto ou
serviço de características funcionais equivalentes, mas sem estas representações
associadas. Para a autora (2005) o domínio do luxo é o da excelência e da emoção.
Esta visão corrobora com os estudos realizados por Dubois e Dequesne (1993) de
uma perspectiva hedônica do luxo, na qual os consumidores primeiramente buscam
significados simbólicos e de Dubois, Laurent e Czellar (2001), de que o valor de um
objeto de luxo não deriva de sua utilidade, mas dos benefícios adicionais que ele
proporciona.
Quanto mais os objetos apelam à subjetividade das preferências, a certa
irracionalidade dos seus utilizadores, agradando ao mesmo tempo um ego e um
desejo social, mais adquire mistério, poder simbólico e de signo (ALLÉRÈS, 2000).
Sua função essencial é a constituição, o reconhecimento e o respeito de uma
30
hierarquia de classes sociais. Esse reconhecimento social cada vez mais fino e
complexo, através dos códigos sociais, é bem mais carregado de sentido do que
parece: produtos sem grande necessidade evidente, às vezes supérfluo, mas
fortemente impregnados de simbolismo. Quanto mais os objetos apelam à
irracionalidade dos consumidores, mais os símbolos são numerosos e difíceis de
delimitar. (ALLÉRÈS, 2000). Estas visões complementam Dubois e Laurent (1996)
que abordam a aquisição e consumo de produtos de luxo para gratificar a si mesmos
mais do que para impressionar os outros e de Dubois e Paternault (1995) que
defendem que as marcas de luxo são compradas mais pelo que elas significam e
menos pelo que elas são.
Vigneron e Johnson (2004), descrevem a possibilidade de uma marca de luxo
permitir a um consumidor: “expressar o seu próprio self, um self ideal ou uma
dimensão específica de um self” através do seu uso. Por outro lado, complementam
os produtos de luxo como produtos nos quais o simples uso ou apresentação de
uma marca em particular definem a opinião do proprietário a despeito de qualquer
utilidade funcional. Por isso, os produtos de luxo permitem aos consumidores
satisfazer necessidades psicológicas e funcionais e parece que os benefícios
psicológicos são os principais fatores que os distinguem dos produtos não luxuosos.
Para Allérès (2000) a escolha, a aquisição e a posse de objetos encerram um
conjunto de significados complexos e às vezes, antieconômicos. Nesse sentido, a
distinção entre os objetos úteis, adquiridos racionalmente, que preenchem as
funções vitais e os objetos inúteis adquiridos por motivações subjetivas para
satisfazer um desejo é utópica. Cada objeto é portador de uma quantidade de
símbolos contraditórios. Assim, os produtos mais carregados de emoções, de
31
desejos, que têm por finalidade principal fazer funcionar uma série de associações
afetivas e de imagens, são vendidos no mundo inteiro. Para a autora, luxo, distinção
e objetos em série coexistem (ALLÉRÈS, 2000).
Kapferer (1997, p.253), apresentou a semiótica da palavra luxo, suas referências
sociológicas e pragmáticas:
O luxo define a beleza; é uma arte aplicada aos itens funcionais. Como a
luz, o luxo é iluminador [..] Ele oferece mais que meros objetos: ele
providencia referências de um bom gosto. E é por isso que a gestão do luxo
deveria não apenas depender das expectativas do consumidor: as marcas
de luxo são animadas por sua programação interna, sua visão global e o
gosto específico que eles promovem bem como o desejo de ter seus
próprios padrões... os itens de luxo providenciam um prazer extra... O luxo é
um anexo das classes dominantes.
Desse modo, pode-se concluir que o ser humano recorreu sempre aos artifícios, aos
signos, os fenômenos, buscando uma necessidade ou ilusão, a compra de um
prazer, mais do que os objetos. Sua tentativa é uma procura perene dos signos de
reconhecimento, de satisfação dos desejos e de distinção social.
2.1.3 Marcas de luxo
Uma marca existe com a finalidade de identificar e sinalizar a origem do produto. Os
elementos que compõem uma marca são: nome, logo, símbolo, slogan, jingle e
embalagem (KELLER, 1998). O nome da marca é a sua parte verbal, aquela que se
pronuncia. O logotipo é um símbolo, ou desenho pictórico, constituído para
representar a marca nominal. Logos e outros símbolos não são verbalizáveis, mas
nem por isso são menos associados às marcas.
32
Kapferer (1992) distinguiu entre o conceito de imagem e identidade da marca. A
identidade da marca situa-se do lado da empresa, que deve especificar o sentido, a
intenção e a vocação de uma marca. A imagem, por sua vez, situa-se do lado do
receptor e refere-se à maneira como o público decodifica todos os sinais emitidos
pela marca por intermédio de seus produtos, serviços e programas de comunicação.
A identidade necessariamente precede à imagem, pois antes de retratar a idéia do
que está na mente do público é preciso estabelecer exatamente o que será retratado
conforme ilustra a figura abaixo (Fluxograma 1):
Vocão
Sentido Intenção
Entendimento
dos sinais
Empresa Consumidor
Identidade
Imagem
Fluxograma 1: Identidade e Imagem de uma marca
Fonte: KAPFERER, 1992
Marcas são importantes de serem estudadas dentro do marketing, pois são difíceis
de se construir, adicionam vantagens ao cliente, criam posições competitivas
defensivas, constroem a retenção de clientes, podem transformar mercados e geram
valor aos acionistas (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2001).
Entretanto, esta dissertação não fará um estudo sobre marcas, por considerar que
isso exige mais do que apenas uma simples apresentação do tema. A autora focará
apenas as características genéricas das marcas de luxo, pois essas, por serem mais
33
específicas, serão importantes quando da análise das estratégias de produtos de
luxo.
Em matéria de luxo, a marca é primordial. É quase tão importante quanto o produto
– é um patrimônio. Assim, para inspirar a comunicação, convém delimitar o território
da identificação, a história da marca, sua proveniência, sua genealogia, seu
fundador e sua linhagem, suas tradições, seus códigos (CASTARÉDE, 2005)
Nueno e Quelch, (1998), dois dos maiores estudiosos de produtos de luxo,
levantaram que uma marca de luxo tradicional consiste nas seguintes
características:
Entrega de qualidade premium em toda sua linha de produtos, do menos ao
mais caro;
Herança do conceito de artesanato, geralmente herdada do seu criador
original;
Reconhecimento imediato pelo consumidor final através do estilo ou design;
Produção limitada de qualquer item de forma a garantir a exclusividade e
possibilitar a geração de uma lista de espera;
Um programa de marketing que garanta, por meio da distribuição seletiva e
do preço premium, um posicionamento de mercado que combine o apelo
emocional com a excelência do produto entregue;
Reputação global, ou seja, a excelência da marca é universalmente
reconhecida;
Associação imediata ao país de origem que tenha uma forte reputação como
fonte de excelência na categoria do produto;
34
Elementos únicos no design para cada produto;
Uma habilidade no tempo para mudar de rumo quando a categoria fica muito
na moda;
Carregar a personalidade e os valores de seu criador.
Roux (2005) é mais sintética. Para a autora, uma marca de luxo é definida pela
altíssima qualidade de seus produtos, pelo fato de ser mundialmente reconhecida,
com produtos caros de um estilo inimitável. Esta análise complementa-se com a
visão de Phau e Prendergast (2000) os quais identificaram além da qualidade e
conhecimento da marca, a exclusividade, manutenção de vendas e a lealdade dos
seus consumidores como definidores de uma marca de luxo.
Já para Castaréde (2005), os seguintes fatores proporcionam legitimidade e
personalidade à marca: o produto, a clientela, a distribuição, a divulgação, o tempo:
a idade, a história, as raízes, a proveniência (made in...), a genealogia: o aval do
inspirador e do talento.
Vigneron e Johnson (2004) demonstram a existência de determinadas dimensões de
uma marca de luxo e que devem ser monitoradas para que a mesma se perpetue: as
dimensões impessoais (exclusividade, consumo conspícuo, qualidade) e pessoais
(hedonismo, exibicionismo, consumo conspícuo).
Os autores propuseram o seguinte framework (Esquema 1) para explicar uma marca
de luxo:
35
Conspicuidade
Percepções Exclusividade
não pessoais
Qualidade
Luxo
Hedonismo
Percepções pessoais
Eu estendido
Esquema 1: Percepções pessoais e não pessoais do luxo.
Fonte: Vigneron; Johnson, 2004
Para esses autores, é esperado que diferentes grupos de consumidores tenham
diferentes percepções do nível de luxo de mesmas marcas e que o nível total de
percepção de uma marca incluiria estas percepções por meio de diferentes
perspectivas (VIGNERON; JOHNSON, 2004).
Em relação à conspicuidade, os autores argumentam que o consumo de marcas de
luxo pode ser importante para os indivíduos que buscam um reconhecimento e
posicionamento social. Além disso, o consumo de produtos com alto preço pode ser
um indicador da percepção da riqueza de um indivíduo. Já a exclusividade revela
que a escassez ou fornecimento limitado de um produto potencializa o desejo de um
consumidor por uma marca. Uma marca que seja difícil de encontrar por conta de
sua exclusividade ou edição limitada e que seja ainda mais cara, pode ser ainda
mais valorosa. Por fim, é esperado que uma marca de luxo possua qualidade e
performance superiores se comparadas com produtos comuns. A literatura
relacionada ao consumo de luxo enfatiza a importância da qualidade de longo prazo
para assegurar a percepção de luxo. Estas características podem estar ligadas com
36
a tecnologia, engenharia design, sofisticação, artesanato. (VIGNERON; JOHNSON,
2004).
Os consumidores de uma marca de luxo podem usá-la como forma de se distinguir,
mas eles também podem tentar integrar símbolos sobre sua própria identidade, de
suas possessões materiais (self estendido). Por outro lado, os consumidores de
produtos de luxo são considerados hedônicos quando eles estão procurando por
gratificações pessoais e o preenchimento de requerimentos emocionais ao invés de
benefícios funcionais. (VIGNERON; JOHNSON, 2004).
O valor agregado das marcas de luxo pode ser definido como o estilo, a
apresentação, o apelo histórico, o design, a originalidade. Uma boa empresa de luxo
mantém a especificidade de imaginar e definir o produto com uma qualidade e uma
apresentação das quais só ela tem o segredo. A seletividade e a inacessibilidade
são os vetores da marca. Mas esta pode também se desvalorizar por causa de
clientes destrutivos, acidentes, erros de estratégia, pirataria (CASTARÉDE, 2005).
A força do ofício e a condição do desenvolvimento das marcas de luxo residem nas
políticas de criação e de imagem, ou em outras palavras, na assimilação dos
princípios constitutivos da forma: a mudança, a sedução, a comunicação, a
diversificação da oferta. É por intermédio de referências de um passado mitificado,
de legendas, das origens que se moldam as grandes marcas (ROUX, 2005).
Beverland (2004), em seu estudo sobre a construção de marcas de luxo, identificou
como seus componentes: a) a integridade do produto; b) crescimento impulsionado
pelo valor; c) cultura e história; d) marketing; e) endorsements. Para o autor, a
37
integridade do produto diz respeito à qualidade do produto, a atenção aos detalhes,
a credibilidade. Já o crescimento impulsionado pelo valor diz respeito à oportunidade
de explorar outros produtos por meio do produto de luxo. O uso da história da firma
também é um dos elementos importantes para construir uma marca de luxo. Isso
consiste no detalhamento de quando e como uma firma foi fundada, outros produtos
de sucesso, a história do seu fundador. O uso intensivo do marketing e de
endorsements de pessoas conhecidas, em geral celebridades, faz parte da
estratégia de construir uma marca de luxo. Segundo o autor, acredita-se que essa
estratégia cria uma massa crítica, mesmo entre os não consumidores, que faz com
que a marca seja desejada ao ser aprovada socialmente. A atenção dada aos
detalhes, como a embalagem, as cores utilizadas, a seleção dos vendedores e o
material promocional são essencialmente importantes.
O fluxograma 2 mostra que uma marca de luxo é um sistema integrado, que envolve
desde a estratégia, ao histórico e aspectos técnicos. As empresas desenvolvem as
marcas ao longo de um período de intensa dedicação ao produto, construindo sua
reputação baseado na qualidade do mesmo. Para o autor, cada empresa enfatiza
um ou outro componente, pois o desenvolvimento de marcas é path-dependent. Por
exemplo, empresas mais jovens, tendo pouca história a contar, colocam menos
importância neste componente, investindo mais em qualidade do produto e
endorsements. Entretanto, é necessário envolver todos os componentes e assegurar
que eles estão integrados de uma forma consistente.
38
Marca de Luxo
Endorsements
Marketing
Cultura
Crescim.
Impulsionado
pelo valor
Integridade
produto
História
Fluxograma 2: Componentes de uma marca de luxo
Fonte: Beverland (2004), p. 457
Dubois e Paternault (1995) desenvolveram a chamada “dream formula” para explicar
as marcas de luxo, que consiste numa relação entre conscientização, compra e valor
do sonho. Eles acreditam que os produtos de luxo são comprados mais pelo que
eles significam e menos pelo que eles são. Entretanto, isso pode parecer um tanto
paradoxal, na medida em que em a compra pode destruir o sonho do valor, fazendo
o objeto de luxo menos desejável assim que ele se torne real (SERINGHAUS, 2002).
Bernard Arnauld, presidente do grupo LVMH, um dos maiores conglomerados de
luxo do mundo, numa perspectiva mais pragmática sobre uma marca de luxo
afirmou:
Eu diria que há quatro características necessárias [para uma marca de
luxo]. Uma marca de luxo é atemporal, moderna, de crescimento rápido e
altamente lucrativa. [..] é muito difícil balancear todas estas características
ao mesmo tempo, além de tudo, crescimento rápido frequentemente não
combina com lucratividade.... Uma marca tem que se tornar uma
39
instituição... mas também permanecer atual. (WETLAUFER
2
, apud
BEVERLAND, 2004)
Mediante as explicações sugeridas, pode-se hipotetizar que a marca possui uma
importância muito grande quando da decisão de compra por um produto de luxo.
2.2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Este subitem tem por objetivo proporcionar uma visão genérica a respeito do
comportamento do consumidor, especificamente do consumidor de produtos de luxo
no que diz respeito às suas características comportamentais, psicológicas e sociais
bem como ao ambiente de vendas favorável ao consumo.
2.2.1 Comportamento do consumidor
O comportamento do consumidor é definido por Mowen e Minor (2003) como o
estudo das unidades de compra e dos processos de troca envolvidos na aquisição,
no consumo e na disposição de mercadorias, serviços, experiências e idéias. Como
unidades compradoras, entenda-se tanto um indivíduo quanto um grupo, caso este
seja de compra entre empresas. O comportamento do consumidor é motivo de
estudo pois ajuda as organizações a elaborar o seu mix de marketing, segmentar o
mercado, posicionar e diferenciar os seus produtos; realizar uma análise do
ambiente e desenvolver pesquisas de mercado (MOWEN; MINOR, 2003).
2
WETLAUFER, S. The perfect paradox of star brands: an interview with Bernard Arnauld of LVMH.
Harvard Business Review: vol. 79, n. 9, 2001, p. 117-123
40
Para estes autores, um aspecto-chave da área de comportamento do consumidor é
a sua base de pesquisa. Eles classificam em três: a) a perspectiva da tomada de
decisão - que seria o processo de escolha de um determinado produto/serviço; b) a
perspectiva experimental – que seria o processo de compra baseado em emoções e
sentimentos e c) a perspectiva da influência comportamental – que seria a compra
baseada em forças ambientais, sem escolha ou desenvolvimento de sentimentos.
Solomon e Stuart (2002) e Kotler (1994), tratam das questões ligadas às
características e às necessidades dos clientes que podem estar relacionadas com as
funções físicas ou psicológicas. A forma específica na qual uma necessidade é
satisfeita depende da história individual, do aprendizado e do ambiente cultural. O
desejo por um produto em particular satisfaz necessidades que são cultural e
socialmente influenciadas. (SOLOMON; STUART, 2002).
É o que também discute Bradley (2003), sobre a influência que as crenças e atitudes
pessoais têm sobre o comportamento de compra do cliente. A combinação de
crenças e atitudes determina a extensão na qual os consumidores gostam ou não de
um produto ou serviço. Para o autor, o cliente decide sua compra em função: i) da
importância percebida do produto/serviço; ii) do risco associado ao seu uso; iii) do
valor simbólico do produto; iv) do valor hedônico do mesmo.
Por outro lado, a cultura em que uma pessoa vive também influencia no
comportamento de uma pessoa (KOTLER, 1994; SOLOMON; STUART, 2002). Ao
crescer em determinada sociedade, uma criança aprende seus valores, percepções,
preferências e comportamentos básicos da sua família e outras instituições
importantes (KOTLER, 1994; SOLOMON; STUART, 2002). Exemplos são grupos
41
nacionais, religiosos, raciais. Para estes autores, tais grupos, chamados de grupos
de referência, fornecem normas e valores que podem tornar-se a perspectiva
dominante de como uma pessoa pensa e se comporta.
Essas visões se complementam às de Mowen e Minor (2003), de cada indivíduo em
uma população possui um conjunto único de necessidades, vontades e aspirações.
As características pessoais são classificadas em i) demográficas, como a idade,
sexo, renda, profissão, escolaridade e podem ser usadas sozinhas ou em
combinação com outra para descrever certos valores, necessidades e
comportamentos de um grupo. Também podem ser classificadas segundo o ii)
comportamento do consumidor, como a elasticidade da demanda, os benefícios
procurados e a fidelidade à marca, por exemplo, as iii) características de
personalidade são levadas em consideração pois se avalia aspectos como a
necessidade de reconhecimento e, por fim, iv) o perfil psicográfico, ou estilo de vida,
interesses, atividades e opiniões, também é analisado para segmentar as
características pessoais dos consumidores.
É importante igualmente o entendimento da segmentação dos mercados
consumidores. Para Kotler (2000) a segmentação é definida como a divisão de um
mercado em subconjuntos distintos de clientes com necessidades e vontades
semelhantes, cada qual podendo ser alcançada com um mix de marketing
diferenciado. As bases utilizadas para a segmentação são: a) as características de
uma pessoa; b) a natureza da situação na qual o produto é adquirido; c) a geografia,
que diz respeito à densidade da população e clima, por exemplo; e d) a cultura da
sociedade.
42
De uma forma geral, as informações acima podem ser utilizadas para classificar
quaisquer consumidores. Mas pelo fato do consumidor de luxo ser objeto desta
pesquisa, far-se-á uma explanação ainda mais específica sobre as suas
características, no item a seguir.
2.2.2 O cliente de produtos de luxo
Os produtos de luxo dão a oportunidade ao seu usuário de se sentir diferenciado de
outros ao mesmo tempo em que permitem a incorporação da excelência de
qualidade que o produto sugere, deixando tal consumidor com um sentimento de
distinção e extremo bem-estar (DUBOIS; LAURENT; CZELLAR, 2001).
Para estes autores, as práticas de marketing podem influenciar a forma como os
produtos de luxo são percebidos, assim como dependendo do nível dos recursos
financeiros de uma pessoa, um produto de luxo pode variar de acordo com a
cerimônia social em que ele participa, por exemplo. Igualmente eles sugerem que o
contraste de percepções ocorre em função do gênero, da idade ou do histórico
cultural.
Vickers e Renand (2003) argumentam que existe um mix de componentes de
necessidades do consumidor de produtos de luxo, baseados nas dimensões de i)
funcionalismo simbólico; ii) experimentalismo simbólico; iii) interação simbólica.
43
As necessidades do funcionalismo simbólico são as que motivam os consumidores a
procurar por produtos que resolvem uma situação de frustração (AGAR, 2003
3
apud
VICKERS; RENAND, 2003). Um produto com esta dimensão pode ser caracterizado
como tendo um componente que resolve necessidades geradas externamente.
As necessidades do experimentalismo simbólico são as que motivam os
consumidores a procurar por produtos que forneçam prazer sensorial, variedade e
estímulos cognitivos. Um produto com esta dimensão pode ser caracterizado como
tendo um componente que resolve necessidades geradas internamente.
Já a interação simbólica descreve o desejo por produtos que preencham
internamente as necessidades de auto-afirmação, posicionamento grupal ou
identificação do ego. Um produto com esta dimensão pode ser definido como tendo
um componente que é designado para associação o consumidor individual com um
grupo desejado ou auto-imagem em termos de emoções e personalidades (BHAT;
REDDY, 1998
4
apud VICKERS; RENAND, 2003).
Vickers e Renand (2003) inferem que o valor primário dos produtos de luxo para
seus consumidores é psicológico e que seu consumo é dependente de um distintivo
mix de relações individuais e sociais. Essa interação se aproxima do que Vigneron e
Johnson (2004) defendem, de que o consumidor de produtos de luxo está em busca
de representação social e posicionamento, além da busca por uma exclusividade.
3
AGAR, N. Functionalism and personal identity. Noûs, vol. 37, 1, p. 52-70
4
BHAT, S.; REDDY, S.K. Simbolic and Functional Positioning of Brands. Journal of Consumer
Marketing: v. 15, 1, 1998, p. 32-43
44
Sob o ponto de vista da segmentação Roux (2005) classificou a clientela de luxo em
dois segmentos: o segmento fiel dos clientes muito ricos e o segmento menos fiel
dos clientes razoavelmente abastados. A nova clientela do luxo é uma clientela
abastada cada vez mais uma clientela de classes médias, mais sensível ao preço.
Ela corresponde a um segmento pouco fiel à marca, e seu comportamento é volátil:
trata-se de um alvo informado e exigente em relação às marcas. Essa exigência é
tanto mais forte no plano dos produtos e dos serviços quanto as compras dessa
clientela serão de natureza excepcional e de alto investimento psicológico (ROUX,
2005).
Por outro lado, Dubois e Laurent (1996) classificaram os consumidores de luxo em
uma minoria que compra de qualquer forma, os consumidores ocasionais ou
excursionistas e os excluídos. O primeiro inclui os clientes leais, que geralmente
possuem uma relação já estabelecida com algum vendedor ou mesmo com os
designers. O segundo grupo inclui os consumidores temporários, que consomem os
produtos de luxo em ocasiões bastante específicas. E os excluídos que são os que
não têm acesso a este mercado (DUBOIS; LAURENT, 1996).
Os dois itens anteriores discutiram o comportamento e as classificações de clientes,
em especial dos clientes de produtos de luxo. Sabe-se que o estudo do
comportamento do consumidor é uma ciência bem mais complexa do que estas
explanações. Entretanto, como forma de atender aos objetivos deste trabalho em
especial, foram tratados apenas os temas que inferem nos resultados das
pesquisas. No próximo item será discutida a influência do ambiente de vendas no
comportamento de consumo.
45
2.2.3 O ambiente físico das vendas
O ambiente físico é o aspecto físico e espacial do local que circunda uma atividade
de consumo. São considerados estímulos a localização, as cores, os ruídos, a
música, a iluminação, o clima, a decoração, a segurança, entre outros, como
influenciadores da percepção do comportamento do consumidor e para a construção
da imagem da marca (MOVEN; MINOR, 2003).
Para os autores, quando o ambiente influencia o consumidor e já existem emoções
positivas sobre a marca, por exemplo, é provável um aumento das compras. Em
contrapartida, se o ambiente não for agradável, mesmo com uma emoção positiva
da marca, pode o resultado pode ser menos compras. O fluxograma 3, abaixo,
apresenta o diagrama destas relações:
Lay-out Prazer/desprazer Tempo maior/menor na loja
Sons Excitação/sono Relacionamento com as pessoas
Aromas Ações de compra
Texturas
Arquitetura
A
mbiente
Resposta
Emocional
Comporta
mento
Influencia
Influencia
Fluxograma 3 – O Ambiente e o comportamento de compra
MOWEI; MINOR (2003), p. 253
Loudon e Bitta (1993) acreditam que os consumidores examinar uma loja em função
da aparência da arquitetura, do design interior, do layout, das facilidades, cores,
vizinhança, luzes baseados na percepção de como estes fatores parecem ou não
adequados a eles. Para os autores estes fatores podem afetar o estado de humor do
46
consumidor na compra, o qual por sua vez, pode influenciar o comportamento dele
e a avaliação da marca. A importância desse ambiente diz respeito à produção de
efeitos emocionais que aumentam o tempo que o consumidor passa na loja e
interage com o pessoal de vendas fortalecendo a percepção da qualidade da
experiência de compra e reforçando ou não a probabilidade de compra (LOUDON;
BITTA, 1993)
Esta visão corrobora com Donovan e Rossiter (1982) que caracterizaram alguns
elementos do ambiente físico que podem influenciar na compra como a disposição
das mercadorias, cores, músicas, aromas, iluminação, apresentação dos
funcionários, fluxo de pessoas. A resposta desses elementos pode ser manifestado
pelo desejo de permanecer ou sair da loja.
Os elementos ambientais que exercem influência sobre o varejo podem ser
classificados em (DUNNE; LUSCH, 1999):
Variáveis externas: sinalização, entrada, vitrine, arquitetura do prédio,
vizinhança, localização, estacionamento;
Variáveis internas: tipo de música, cores, iluminação, temperatura, aromas;
Variáveis de design, layout e ponto de venda: design, espaços, disposição
das mercadorias, área de espera, móveis, tráfego interno;
Variáveis humanas: empregados, uniforme, outros clientes, privacidade.
A partir dos elementos expostos pode-se afirmar que os elementos ambientais
exercem influência no comportamento do consumidor.
47
O ambiente de compra é muito importante para diferenciar uma loja de outra e para
atrair grupos específicos de consumidores que buscam os sentimentos que derivam
desta atmosfera criada para a marca. No caso do ambiente de produtos de luxo, ele
é ainda mais importante para tangibilizar a imagem que o consumidor tem da marca.
2.3 MARKETING – UM RECURSO DA ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS
O objetivo deste subitem é o de identificar alguns dos principais elementos do
marketing que podem contribuir com as estratégias das empresas comercializadoras
de produtos de luxo. Apresentar-se-á brevemente o marketing estratégico como um
dos recursos da estratégia de negócios, utilizando para isso as ferramentas do
marketing mix.
2.3.1 O marketing estratégico
O marketing estratégico está ligado com a direção e escopo das atividades de longo
prazo desempenhadas pela organização para obter vantagem competitiva
(BRADLEY, 2003). Pressupõe a análise sistemática e permanente das necessidades
de mercado, o desenvolvimento de conceitos e produtos com um bom desempenho
destinados a grupo de compradores específicos, que apresentam qualidades
distintivas que os diferenciam dos concorrentes imediatos (LAMBIN, 2000).
Solomon e Stuart (2002) são mais abrangentes e conceituam marketing estratégico
como o processo troca de valor que consiste em planejamento, execução, preço,
promoção e distribuição de idéias, bens e serviços de forma a propiciar trocas que
satisfaçam os indivíduos e os objetivos organizacionais. Já as estratégias de
48
marketing são conceituadas pelos mesmos autores como a seleção do público-alvo
e o desenvolvimento de um mix de programas para atingir este público – estratégias
relacionadas ao produto, ao preço, à promoção e à distribuição. (SOLOMON;
STUART 2002).
Lambin (2000) defende que estas atividades são dependentes, já que resultam em
atividades complementares no esforço do marketing. O marketing estratégico
identifica as necessidades insatisfeitas ou mal satisfeitas e desenvolve produtos
novos adaptados a essas expectativas.
Para Bradley, a vantagem de marketing de uma organização, depende em quão bem
ela escolhe sua estratégia de : i) concentração nos segmentos selecionados; ii)
oferta de produtos diferenciados; iii) uso de canais de distribuição alternativos; iv)
uso de processos de manufatura diferenciados que permitem uma alta qualidade a
preços menores (BRADLEY, 2003)
As organizações de sucesso reconhecem o posicionamento de valor e asseguram
que o aprendizado ocorre através da organização como o resultado da descoberta
deste posicionamento. A escolha de tal posicionamento é uma das decisões
estratégicas mais importantes pela qual a organização passa. Uma vez escolhida, é
uma tarefa da administração de assegurar que todos na empresa contribuam
diretamente com a entrega do valor escolhido (BRADLEY, 2003).
Dentro deste framework é necessário que a organização se decida sobre a sua
plataforma produto-mercado a qual possui dois elementos: decisões sobre o
49
produto-mercado e decisões sobre as posições a serem adotadas dentro do negócio
em si, conforme demonstra o fluxograma 4, abaixo:
Produto-mercado e estratégias
Segmentos Negócio
Segmento 1 Produção/operação
Distribuição
Vendas
Serviço
Segmento N Cliente
Concentração
nos segmentos-
chave do mercado
concentração nos
elementos chave
do negócio
Fluxograma 4: Sistema de estratégias produto-mercado e negócio
Fonte: Bradley, 2003, p. 13
No item a seguir, serão aprofundados alguns dos conceitos dos elementos do mix de
marketing importantes para a elaboração da estratégia das organizações.
2.3.2 Marketing mix
O conceito do mix de marketing consiste em ferramentas que são usadas juntas e
que criam uma resposta desejada entre uma série de consumidores pré-definidos
(SOLOMON; STUART, 2002). Os elementos do mix de marketing são comumente
conhecidos como os 4 Ps: produto, preço, promoção e distribuição (placement).
Estes elementos são interdependentes e as decisões sobre qualquer um deles afeta
a decisão sobre outro.
50
Borden (1964) um dos pioneiros no estudo do marketing mix, declarou:
[...] Eu percebi que é essencial perguntar: qual a estratégia de marketing
que foi ou deveria ser aplicada para atingir os resultados face às
circunstâncias encontradas? Qual a combinação de procedimentos e
políticas que foram ou deveriam ter sido adotadas para permitir o
comportamento de compra desejado dos clientes a um custo que permite o
lucro? Especificamente, que tipo de anúncio fazer, quais as habilidades
pessoais do vendedor, o preço, embalagem, canais de distribuição e
armazenamento e outros elementos de um programa de marketing podem
ser manipulados de uma forma a permitir uma operação rentável?
(BORDEN, 1964
5
, apud SHETH; GARDNER; GARRET, 1998)
Abaixo, uma explicação sucinta sobre cada um dos elementos do mix e uma breve
explanação específica aplicada ao setor de produtos de luxo.
2.3.2.1 Produto
Um produto é qualquer coisa que um consumidor adquira ou possa adquirir de forma
a atender as suas expectativas. Envolve um bem material e certas características de
construção, aparência, desempenho, embalagem, prazo de entrega, garantia e
preço (HAWKINS; BEST; CONEY, 1995).
Para Kotler, os produtos podem ser: bens físicos, serviços, pessoas, locais,
organizações e idéias (KOTLER, 1993). O sucesso de um produto está relacionado
com a sua correspondência às necessidades impostas pelo mercado, as quais
podem ser determinadas por meio de uma pesquisa de mercado, além de uma
adequada promoção de lançamento, formas de comercialização eficientes e preço
compatível com as condições de mercado (KOTLER, 1993).
5
BORDEN, N. The Concept of the Marketing Mix, Journal of Advertising Research, 4 (June, 1964),
p. 2-7.
51
Em outro tipo de classificação de Kotler (1993), os produtos podem ser divididos em:
bens de consumo e bens industriais. Os bens de consumo subdividem-se em:
produtos de conveniência; produtos de comparação; produtos de especialidade e
produtos não procurados. Os produtos de conveniência são aqueles que o
consumidor não está disposto a se locomover, por isso, prefere comprar mais
rapidamente em uma loja mais acessível. Já os produtos de comparação são
produtos de consumo comprados com menos freqüência e comparados em termos
de adequação, qualidade, preço, estilo e marcas. Os produtos de especialidade são
os produtos de consumo com características únicas ou identificação de marca, em
função das quais vários consumidores dispõem-se a fazer um esforço especial de
compra e por fim .existem os produtos não procurados que são os produtos de
consumo que o consumidor não conhece, ou normalmente não pensa em comprar
(KOTLER, 1993).
Os produtos de luxo, por suas características específicas e muito atrelados com a
marca parecem pertencer à classificação de produtos de especialidade. As
características e atributos dos produtos de luxo, já foram referenciadas no item 2.1.
Abaixo, serão comentados algumas peculiaridades referentes aos produtos de luxo.
Segundo Nueno e Quelch, um portifólio de produtos balanceados para uma marca
de luxo é essencial para a lucratividade. Isto envolve produtos de uma nova coleção
além de uma parte composta de itens mais clássicos da marca, como acessórios em
couro e peças de cores clássicas. (NUENO; QUELCH, 1998)
Para os autores, há três tipos de desafios que uma marca de luxo enfrenta no que
tange ao ciclo de seu produto: a) a inclusão de acessórios a preço mais baixo os
52
quais permitiriam uma ampliação do mercado; b) a extensão da sua marca por meio
da ampliação da sua linha de produtos além do seu core business; c) o lançamento
de versões mais jovens de suas marcas para ampliar um mercado que também
aspira o consumo de luxo.
Sobre a inclusão de acessórios a um preço mais acessível, algumas marcas
tradicionais tais como Hermes e Tiffany´s optaram por sua inserção, democratizando
assim o luxo. Outras marcas, entretanto, acreditam que tal estratégia diminui a
exclusividade da marca ao abrir as portas para outros consumidores que não os do
topo da pirâmide (NUENO ; QUELCH, 1998, p. 65).
Sobre a ampliação das marcas para outros produtos, além de adicionar custos mais
complexos, corre-se o risco do consumidor não perceber tal transferência. Além
disso, para os autores, o controle de qualidade é mais complicado de se assegurar,
especialmente se a manufatura é subcontratada. Alguns proprietários de marcas
fazem contratos de longo-prazo envolvendo investimentos em ações. A marca
Calvin Klein, por exemplo, originalmente de roupas, possui 10% de participação
acionária na CK Watches, empresa fruto da joint venture da SMH e a marca Calvin
Klein, diminuindo assim os riscos e problemas advindos desta estratégia.
2.3.2.2 Preço
O preço diz respeito ao valor que os consumidores pagam para obter um
determinado produto e deve ser baseado em custos, demanda, preços do
competidor, marca. O preço é frequentemente usado como um meio de aumentar o
interesse dos consumidores em um produto. (SOLOMON; STUART, 2002). É
53
importante considerar que o preço de um produto não é o mesmo que o custo de um
produto para o consumidor. A definição do preço de um produto passa pelo
entendimento das regras simbólicas que o preço possui para o produto em questão
(HAWKINS; BEST; CONEY, 1995).
Estratégias de preço alto frequentemente se refere a preços de prestígio, premium
ou exclusividade e são vistos como excelentes estratégias para certos tipos de
produtos, tipicamente aqueles de alta qualidade (GROTH ; MCDANIEL, 1993). O
maior benefício de uma estratégia de preço de prestígio obviamente são as altas
margens obtidas. Embora os altos preços estejam associados com baixo volume,
não é sempre o caso. Na verdade, os altos preços podem eventualmente fazer com
que certos produtos sejam mais desejados e aumentem seu volume de vendas
(GROTH; MCDANIEL, 1993).
Além disso, o alto preço, aliado a uma alta qualidade, influenciam o valor percebido
de uma marca que, para Chang e Wildt (1994), é a compensação entre a qualidade
percebida e o preço percebido.
Para Tellis (1986), uma estratégia de preços é uma escolha razoável entre uma série
de preços alternativos que objetivam uma maximização dos lucros dentro de um
período planejado em resposta a um cenário escolhido.
Em geral as empresas ligadas aos produtos de luxo buscam uma estratégia de alto
preço procurando dar ao seu produto uma posição de exclusividade. Entretanto, o
preço por si só não é o único fator que reforça esta exclusividade, mas também a
imagem da marca na mente do consumidor (GROTH; McDANIEL, 1993).
54
A oportunidade de posicionar um produto ou serviço como exclusivo baseia-se no
princípio do valor exclusivo desenvolvido pelos autores Groth e McDaniel, o qual
sustenta que a diferença entre o valor de mercado e o puro valor utiliário de um
produto é seu valor premium de exclusividade. De uma perspectiva do consumidor, o
valor de mercado é uma junção de dois fatores: o Valor Utilitário Puro (VUP) e o
Valor Premium Exclusivo (VPE), se houver.
Na perspectiva do consumidor isto pode ser representado como:
Valor de Mercado de um Produto (VM) = VUP + VPE
A firma tem uma perspectiva diferente. A margem de contribuição é a diferença entre
o preço de venda e os custos de produção e marketing (custos relacionados ao
produto - CP). Assim, na perspectiva da firma esta fórmula pode ser representada
como:
Preço de Venda de um Produto (PV) = CP + VPE
A principal tarefa da estratégia de marketing, especialmente para as marcas com um
alto nível de exclusividade desejada é maximizar a margem de contribuição total,
dados os custos fixos. A margem total gerada é o resultado das unidades vendidas e
a margem por unidade. O tamanho do VPE mais a possibilidade de aumento do
volume produz potencialmente grandes lucros desde que o resultado da margem de
contribuição por unidade também seja grande. A margem de contribuição coopera
por meio da cobertura dos custos fixos dentro daquele período. Uma vez que eles
estejam cobertos, qualquer venda adicional contribui com o lucro. Com margens
55
mais amplas tem-se um ponto de equilíbrio atingido mais cedo representando menos
risco para empresa e vendas incrementais aumentam o lucro incremental (GROTH;
McDANIEL, 1993, p. 12). O esquema 2 ilustra duas situações possíveis: o caso A
em que o valor utilitário percebido é maior do que os custos do produto e o caso B
em que este valor é menor. No caso B, se o VPE deixar de existir, a firma B poderá
ter problemas.
Caso
A
Caso B
VPE maior que os custos do produto VPE menor que os custos do produto
$ 25 $ 30 $ 70 $ 32 $ 42 $ 80
$ 0 CP VUP PV $ 0 VUP PC PV
VPE = $ 40 VPE = $ 48
MV = $ 45 MV = $ 38
Legenda
VPE Valor premium exclusivo
PV Preço venda
VUP Valor utilitário puro
CP Custo produto
MV Margem nas vendas
Esquema 2: Valor premium exclusivo e margem
Fonte: Groth; McDaniel, 1993, p. 12
Alguns determinantes para o entendimento do VPE fornecem as bases para o
desenvolvimento da estratégia de maximização do mesmo e estão ligados sobretudo
a fatores psicológicos, ligados à percepção das necessidades do consumidor ou o
valor dado ao crescimento das percepções de valor exclusivo. Estes fatores podem
ser internos ou externos ao consumidor. Internos porque independente da opinião,
influência ou interação com outras pessoas eles podem surgir. E externos, quando
sofrem a influência de outros (GROTH; McDANIEL, 1993).
Para os autores, se uma marca quer ter um alto nível de exclusividade, ela deve
objetivar aumentar seu VPE. Este aumento se faz mediante estratégias como:
56
identificar os segmentos de mercado onde os fatores psicológicos tem um peso
maior, maximizar o valor do VPE por meio de estratégias de marketing que
enfoquem os atributos exclusivos do produto, as estratégias promocionais exclusivas
e aos canais de distribuição específicos.
2.3.2.3 Promoção
A promoção ou comunicação de marketing inclui todas as atividades de
comunicação utilizadas para informar o consumidor ou as organizações sobre os
seus produtos e encorajar clientes ou potenciais consumidores a comprar tais
produtos. Existem 5 elementos no processo de comunicação (Fluxograma 5): a fonte
da mensagem; a mensagem; o meio ou canal de propagação; o emissor e o receptor
(BRADLEY, 2003)
Codificação Decodificação
figuras atitudes
palavras conhecimento
música percepção
gestos aprendizado
temas
Mensagem
Fonte
Vendedor
Agência de
propaganda
Meio
TV/Radio
Impressos
Apresentação vendas
Embalagem
Receptor
cliente
consumidores
público
Resposta
rejeição
preferência
compra
lealdade
Fluxograma 5: O processo de comunicação
Fonte: BRADLEY, 2003, p. 178
A promoção envolve propagandas em TV e revistas, relações públicas, embalagem
e qualquer outro sinal que a empresa queira mostrar sobre si e seus produtos
57
(HAWKINS; BEST; CONEY, 1995). Também pode envolver a venda personalizada e
notícias na imprensa (SOLOMON; STUART, 2002; BRADLEY, 2003).
Para Bradley (2003) as questões básicas a serem identificadas em um processo de
comunicação são: a) o que a organização quer informar; b) em quais resultados ela
quer influir? c) qual a melhor mensagem para atingir tais objetivos; d) qual veículo é
o mais apropriado? e) quando ela deve comunicar? f) qual o orçamento para isso? g)
o quão efetiva é a comunicação de marketing? Hawkings, Best e Coney (1995)
complementam a visão de Bradley, ao citar um dos principais elementos da
comunicação: quem é o público-alvo?
Um dos elementos que diferencia a indústria do luxo das outras indústrias é a
necessidade da criatividade. Muitas marcas de luxo atingem a legitimidade como
resultado de um marketing criativo, inovativo e convincente que gera mídia favorável
e aceitação de mercado. Como exemplo, os autores citam Salvatore Ferragamo, o
fundador da loja que leva seu nome, que não apenas foi um genial criador de
sapatos, mas também era uma fonte rica de aforismos e anedotas as quais a
empresa usa intensivamente nas suas ações de comunicação e promoção da marca
ainda nos tempos atuais (NUENO; QUELCH, 1998).
Para obter valor no mercado, as iniciativas de design de uma marca de luxo devem
ser comunicadas no mundo todo. Feiras de moda, eventos especiais e outros
esforços de relações públicas devem ser cuidadosamente coordenados para
assegurar bons editoriais nas revistas e comunicar uma imagem de desejo pela
marca de luxo. As revistas selecionadas para propaganda, os filmes nos quais a
58
marca aparece, as celebridades usando a marca, tudo contribui para a imagem da
marca (NUENO ; QUELCH, 1998).
Vickers e Renand (2003) propõem que os programas de comunicação de produtos
de luxo devam articular um mix de imagens simbólicas usando todos os elementos
do marketing mix numa forma criativa, mas consistente e congruente. Para estes
autores, os executivos precisam perceber que os produtos de luxo possuem um mix
distintivo de atributos simbólicos, os quais podem ser usados para diferenciá-los dos
produtos não-luxuosos. Um conjunto de dimensões simbólicas pode ajudar os
produtos de luxo a criarem uma imagem de estilo, uma imagem que os
consumidores usam para comunicar informações sobre si mesmos ou para fazer
inferências sobre outros.
No caso de campanhas internacionais é necessário considerar algumas limitações
como restrições no uso de símbolos, uso de linguagem estrangeira, disponibilidade
de mídia além de considerações legais, diferenças culturais e hábitos de consumo
que variam de país para país (LAMBIN, 2000)
Para a pesquisadora Roux (2003), as estratégias de lançamento de marcas podem
ser de dois tipos: estratégia de diferenciação com campanha de notoriedade maciça
internacional e estratégia de especialização ou nicho. A primeira é muito
dispendiosa, arriscada e necessariamente precisa estar apoiada em grupos
financeiros muito fortes. A segunda pratica uma distribuição intencionalmente muito
seletiva e reduzida, utilizando sua imagem de marca e conceito.
59
Por fim, é importante que os administradores das marcas de luxo considerem o
efeito das chamadas promoções de venda (venda mais barata ou com brinde). Em
muitos casos, elas podem diminuir o papel da marca e retirar o valor como critério de
escolha. Ao recusar estratégias de promoção, a empresa afirma seu prestígio e
seletividade (ROUX, 2005).
2.3.2.4 Distribuição
A distribuição (placing) refere-se à disponibilidade do produto ao consumidor no
tempo e no espaço desejado. A estratégia de distribuição deve contemplar se a
empresa vai vender seu produto diretamente ou por meio de um distribuidor ou
varejista. A escolha do canal depende do produto, do preço e das decisões de
promoção. (SOLOMON; STUART, 2002).
Para Nueno e Quelch (1998), há três tipos de estratégias de distribuição dentro do
mercado de luxo: a) a distribuição expandida, com várias lojas distribuídas pelo
mundo; b) distribuição por contrato com algumas lojas independentes; c)
recuperação da distribuição quando o volume justifica a implantação de uma loja
própria.
O Esquema 3, a seguir, mostra o mix de canais que as marcas de luxo utilizam para
sua distribuição. Pode-se perceber que para cada canal há um típico perfil
consumidor para cada objetivo:
60
Objetivos Público-alvo
Construção de prestígio Elite
Estabelecimento imagem Clientes leais
Disposição de toda linha
Seguir o consumidor Turistas
onde ele es
Público que deseja pagar
preço premium
Extensão da distribuição
em geral, item de preço menor
Duty-free
Lojas de departamento
Multimarcas
Lojas próprias
Esquema 3: Canais de Distribuição para produtos de luxo
Fonte: Nueno e Quelch (1998, p. 67)
O relatório Eurostaf complementa Nueno e Quelch, citando além dos tradicionais
circuitos, como as lojas próprias, as lojas multimarcas, os grandes magazins, as
vendas em viagem e no duty free, os circuitos alternativos são: a venda a distância,
as vendas privadas, as boutiques dos grandes hotéis. (EUROSTAF, 2005).
Apesar da tentativa de retomar o controle da distribuição, muitas marcas de luxo
ainda continuarão a serem vendidas por intermédio de canais múltiplos. Muitos
consumidores valorizam a oportunidade de comparar marcas. Por meio de lojas não
exclusivas, uma marca de luxo pode testar suas estratégias com a de outras marcas.
Por outro lado, um mix de canais de distribuição é complicado de se administrar.
Eles requerem serviços e merchandising diferenciados, e alguns casos, a separação
da linha de produtos (NUENO; QUELCH, 1998).
61
2.3.2.5 Serviços complementares
Para Solomon e Stuart (2002), os serviços são ações, esforços ou performances
trocadas entre o produtor e o usuário que asseguram a satisfação do consumidor
com o que ele pagou. São valores intangíveis, a satisfação de necessidades por
intermédio do prazer, da informação, da conveniência. Esta definição é similar à de
Kotler (1994), onde serviço é qualquer ato ou desempenho oferecido por uma parte
à outra e que seja essencialmente intangível e não resulte na propriedade de nada.
Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico.
As características dos serviços podem ser definidas como intangibilidade que é a
aparência física do local, o uniforme dos atendentes, a logomarca, websites, a
embalagem e a propaganda; perecibilidade que diz respeito ao ajuste do preço à
demanda; a variabilidade que é a melhoria do processo de entrega e a autonomia
dos funcionários; e a inseparabilidade que diz respeito ao treinamento e
atendimento dos funcionários (SOLOMON; STUART, 2002).
A mensuração da qualidade dos serviços prestados pode ser feita de forma a
identificar planos específicos para melhorar o que é esperado do que está sendo
oferecido. Solomon e Stuart (2002) citam os espaços de melhoria, ou gaps, que
podem ser descritos como: gap entre as expectativas do consumidor e as
percepções da gerência; gap entre a percepção da gerência e os padrões de
qualidade estabelecidos pela empresa; gap entre os padrões de qualidade
existentes e o serviço entregue; gap entre a qualidade do serviço e as expectativas
do consumidor e o gap entre o serviço esperado e o serviço percebido.
62
Lovelock e Wright (2001) argumentam que no serviço sob medida, o papel mais
importante pertence aos empregados, já que representam o contato com o
consumidor. Eles têm como missão fundamental identificar a necessidade dos
consumidores e entender o que os clientes desejam, já que nem sempre estes têm
ciência de suas necessidades reais ou mesmo não sabem expressá-la. Neste
sentido, os funcionários cumprem um papel de identificar o serviço mais adequado.
Nueno e Quelch (1998) comentam que assim que as vendas se expandem, os
donos de marcas de luxo devem se tornar “experts” em construção de
relacionamento, serviços aos clientes e gestão de banco de dados para explorar
melhorar a base de clientes e efetuar mais vendas.
Para esses autores as marcas de luxo deveriam investir em sistemas de informação
sobre seus clientes. Por exemplo, o cliente que compra um acessório hoje, pode
comprar itens de mais valor amanhã; os proprietários devem ampliar a venda
cruzada ao saber das informações do seu cliente; um turista que compra um item
apenas em uma loja pode comprar outros itens em outras lojas. Com informações
sobre os clientes, os proprietários podem contatar clientes para eventos especiais,
tais como a apresentação de novas coleções, desfiles, test-drive. Por fim, um banco
de dados mantém os registros de um comprador, caso haja um turnover de
vendedores (DUBOIS; LAURENT, 1996).
Por fim, para Roux (2003) a qualidade da prestação dos serviços é diretamente
dependente do valor das relações com o pessoal de contato , em outras palavras, o
pessoal de vendas. O treinamento nos produtos, na acolhida, na escuta do cliente,
63
na empatia, aos métodos de dobragem e embalagem dos produtos, à vestimenta,
são fundamentais para o negócio (ROUX, 2003)
2.4 ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS
Estratégia diz respeito basicamente à direção das organizações e firmas. Estas
estão numa competição para entrar no mercado, por clientes e por lucros que
cubram os seus custos e para isso é necessário definir suas estratégias tais como:
os objetivos a alcançar, produtos e serviços a oferecer, design e configuração de
políticas de concorrência no mercado, sistemas administrativos. Estas escolhas têm
uma influência crítica no sucesso ou fracasso de um empreendimento e
fundamentalmente, devem ser integradas (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1991).
No começo dos anos 80 o surgimento das teorias de Porter (1981) influenciou uma
série de empresas ao redor do mundo em busca da chamada vantagem competitiva.
Segundo o autor, para competir as empresas deveriam estar atentas a cinco forças
principais, as quais limitariam a sua obtenção de lucro. Estas forças seriam: a força
de fornecedores; a força dos clientes, a força dos concorrentes diretos; a força dos
concorrentes indiretos e a força dos concorrentes futuros (PORTER, 1981).
Em 1986, o autor defende a idéia de que as empresas lucrativas seriam aquelas que
se especializassem para competir em termos de liderança em custos, diferenciação
ou enfoque (PORTER, 1986). A idéia principal é a de que a estratégia não deveria
somente pensar nos mercados em que a empresa atuasse, mas também no
posicionamento em relação a estes mercados.
64
No caso dos produtos de luxo, seu valor premium e enfoque no cliente de alta renda,
como foi visto na fundamentação do item 2.1, as estratégias podem ser discutidos
levando-se em consideração as estratégias de diferenciação e enfoque.
A diferenciação pode assumir diferentes formas: projeto ou imagem de marca,
tecnologia, peculiaridades, serviços sob encomenda, rede de fornecedores. Para o
autor a estratégia de diferenciação proporciona rivalidade competitiva devido à
lealdade dos consumidores à marca, bem como uma conseqüente menor
sensibilização ao preço. Entretanto, pode ser bem mais difícil de se obter uma alta
parcela do mercado, pois em geral, requer um sentimento de exclusividade
(PORTER, 1986).
Aaker complementa a visão de Porter ao argumentar que uma estratégia de
diferenciação bem sucedida envolve a geração de valor ao cliente, ao fornecimento
deste valor percebido e a dificuldade de ser copiado pelos rivais (AAKER, 1997).
Para se diferenciar pode-se optar pelo foco na qualidade do produto, pelo foco nos
serviços ou por meio da construção de marcas fortes (AAKER, 1997). Na qualidade
do produto, itens como desempenho, durabilidade, conformidade, características,
nome, confiabilidade, nível de serviço e aparência final serão observados. Já o foco
no serviço envolve os aspectos tangíveis observáveis, a confiabilidade, a
receptividade, a competência e a empatia dos atendentes. A construção de marcas
fortes adiciona valor por meio da confiança de compra, da qualidade percebida, da
lealdade e associações que a marca provoca - auto-imagem, símbolos, emoções
(AAKER, 1997).
65
Já a estratégia de enfoque, defendida por Porter (1986) repousa na premissa de que
a empresa é capaz de atender seu alvo estratégico estreito mais efetiva e
eficientemente do que os concorrentes que estão atuando de forma mais ampla,
mas por outro lado, envolve necessariamente um trade-off entre a rentabilidade e as
vendas (PORTER; 1986). Esta estratégia envolve concentrar o negócio em
segmento específico, em uma parte da linha de produto ou numa área geográfica.
Pode ser interessante porque evita dispersão na implementação da estratégia,
permite competir quando os recursos são limitados, fornece posicionamento
estratégico e reduz as pressões competitivas (AAKER, 1997).
As estratégias das empresas de luxo são desenvolvidas e controladas por sua
matriz. Na literatura pesquisada não foram encontradas informações específicas
sobre tais estratégias nem como as empresas configuram a concorrência. Pode-se
supor que a configuração das estratégias sofra alterações em cada mercado onde
estejam instalados, dadas as suas especificidades. Como um dos objetivos
específicos desta pesquisa é o entendimento da concorrência, será feita uma breve
busca da teoria sobre este assunto, no item a seguir.
2.4.1 Análise da competição dos produtos
Este subitem descreve sucintamente a análise da concorrência, com o objetivo de
identificar a competitividade no mercado de luxo.
Aaker (1997) descreve que análise da concorrência começa com a identificação dos
concorrentes atuais e potenciais. Alguns concorrentes competem mais intensamente
que outros. Especialmente quando há muitos concorrentes é útil reunir em grupos
66
estratégicos aqueles que são semelhantes em suas características (ex. tamanho e
recursos), forças (ex. marca e distribuição) e estratégias (ex. alta qualidade). Para o
autor, ao se desenvolver uma estratégia é necessário entender, as seguintes
características dos concorrentes (Esquema 3): a) o desempenho , b) a imagem a
personalidade construídos e percebidos, c) os objetivos, d) a estratégia atual e
passada, d) a cultura da empresa – custos ou clientes, e) estrutura de custos e f) as
forças e fraquezas , g) as barreiras de saída (AAKER, 1997). Para o autor, é também
importante considerar os potenciais competidores observando firmas que promovam
a expansão de seus produtos e mercado ou que estejam tentando uma retaliação do
mercado.
Ações do
concorrente
Forças e
Fraquezas
Imagem e
Poicionamento
Barreiras de
saída
Estratégias atuais
E
passadas
Objetivos e
comprometimen
to
Estrutura de
custos
Organização
E
Cultura
Tamanho,
crescimento,
lucratividade
Esquema 3: Entendendo os concorrentes
Fonte: AAKER, 1997, p. 65
67
Porter (1986) desenvolveu uma metodologia de análise a concorrência onde é
analisado o que orienta os concorrentes, o que ele está fazendo e o que pode fazer,
ou seja, qual a estratégia que está em curso, quais as metas futuras, sua
capacidade em relação às suas áreas funcionais e de crescimento, capacidade de
adaptação e mudança, capacidade de resposta rápida, os pontos fortes e pontos
fracos em relação a produtos, à distribuição, ao marketing, às vendas, às operações,
aos custos, à capacidade financeira, organizacional e administrativa.
Hooley, Saunders e Piercy (2001), complementam esta visão ao argumentar que a
análise da concorrência deve concentrar-se nas empresas de mesmo grupo
estratégico. A longo prazo, o setor como um todo precisa ser examinado para a
identificação de concorrentes que possam dispor de recursos ou da necessidade de
vencer as barreiras de entrada no grupo estratégico da empresa interessada.
Embora as barreiras possam ser altas, se o grupo estratégico a que pertence a
empresa interessada apresentar grandes lucros ou um potencial de crescimento
superior ao resto de mercado, ele provavelmente atrairá novos participantes. Os
autores sugerem que, quando uma empresa entra em mercados e institui
estratégias, a empresa deve buscar bons concorrentes, capazes de estabilizar
mercados, proporcionar oportunidades e exercer uma pressão em todo o setor no
que diz respeito ao desempenho.
Especificamente sobre o mercado de luxo, Roux (2005) considera importante que as
empresas estudem as ofertas promocionais da concorrência e seus efeitos sobre as
vendas, bem como estudar a origem das compras, se são vendas conquistadas dos
seus concorrentes, por exemplo. Para a autora é imperativo analisar as taxas de
repetição e fidelização dos consumidores.
68
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 TIPO DA PESQUISA
Esta dissertação foi conduzida por meio de uma pesquisa exploratória e qualitativa.
A pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver idéias prevendo
novos estudos sobre o tema, com o objetivo de proporcionar uma visão geral acerca
de determinado fato (GIL, 1995). De acordo com Oliveira (1997), os estudos
exploratórios têm como objetivo a formulação de um problema para efeito de uma
pesquisa mais precisa ou, ainda, para a elaboração de hipóteses.
Convém ressaltar que as pesquisas exploratórias são recomendadas quando há
poucos conhecimentos sobre o problema estudado (RAMPAZZO, 2001), sendo o
primeiro passo em direção à percepção e descoberta de novas idéias (CERVO;
BERVIAN, 1983), como é o caso deste trabalho de dissertação.
3.2 MÉTODO DA PESQUISA
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram adotados procedimentos sistemáticos
de caráter instrumental e metodológico, com o objetivo de se obter um conhecimento
da realidade em questão.
O método qualitativo utilizado procurou uma espécie de representatividade do grupo
dos sujeitos que participaram da pesquisa. Foram feitas entrevistas com os
executivos de marketing do segmento de roupas a acessórios de produtos de luxo.
Utilizou-se um roteiro semi-estruturado (Apêndice B), tendo sido gravados e
69
transcritos os dados para posterior análise qualitativa de conteúdo conforme método
descrito por Bardin (1977).
Para Bardin (1977) a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações que visa obter indicadores que permitam a inferência (ou deduções
lógicas) de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção de tais
mensagens, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos. Prevê três fases
fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados
(GODOY, 1995b).
Para Bawer e Gaskell (2002) a vantagem da análise de conteúdo é que ela é
sistemática, pode lidar com grandes quantidades de dados, oferece um conjunto de
procedimentos maduros e bem documentados, usa dados remanescentes da
atividade passada e pode ser um caminho barato para estabelecer tendências
sociais.
Para garantir a confiabilidade dos dados, três cuidados foram fundamentais: a
aprovação do roteiro de entrevista pela banca examinadora do projeto de pesquisa
para esta dissertação, um pré-teste do roteiro e a documentação de todos os
procedimentos metodológicos. O pré-teste se fez necessário, pois segundo Hopf
(1978 apud FLICK, 2002) a aplicação muito burocrática do guia da entrevista pode
restringir os benefícios da abertura e das informações contextuais do entrevistador
pelo excesso de rigidez do entrevistador ao se fixar neste guia. Com a
documentação das informações por meio das anotações da pesquisadora e
fundamentalmente da gravação em áudio das entrevistas, procurou-se garantir um
mínimo de confiabilidade dos dados e dos procedimentos utilizados.
70
3.3 COLETA DE DADOS
A pesquisa iniciou-se com o levantamento da literatura sobre temas relacionados ao
estudo do luxo, em banco de dados como ProQuest, EBSCO, entre outros, pois há
limitação de material no Brasil. Em seguida, procurou-se levantar aspectos
relacionados a estratégias de negócios, em especial, estratégias relacionadas ao
marketing e ao comportamento do consumidor.
Foram consultadas ainda revistas, jornais e periódicos especializados contendo
matérias sobre luxo que a autora colecionou nos últimos dois anos bem como
websites das marcas objeto das entrevistas. Tais informações serviram como fonte
secundária de dados, que objetivaram entender o funcionamento do setor.
3.3.1 Amostra
Em se tratando de uma pesquisa exploratória a amostra foi constituída pelo critério
de conveniência, qual seja da acessibilidade aos entrevistados.
A autora fez um levantamento das marcas consideradas de luxo pela imprensa
especializada relacionadas a vestuário e acessórios, com lojas próprias situados no
Brasil, especificamente na cidade de São Paulo (Quadro 2). Na tabela constam as
linhas de vestuário e acessórios disponíveis para o mercado brasileiro. Não foram
consideradas as lojas multimarcas, exceção feita à loja Daslu, visto que ela detém a
representação exclusiva de algumas marcas com espaço dentro do seu próprio
empreendimento. As empresas levantadas foram:
71
Nome Origem
Vestuário
Feminino
Vestuário
Masculino
Acessórios
1. ARMANI Itália X X X
2. BURBERRY Inglaterra X X X
3. CALVIN KLEIN EUA X X
4. CAVALLI Itália X X
5. CHANEL* França X X
6. DIOR França X X
7. DIESEL Itália X X X
8. DOLCE & GABBANA Itália X X X
9. ZEGNA Itália X X
10. GUCCI* Itália X X
11. LOUIS VUITTON França X X
12. PRADA* Itália X X
13. SALVATORE
FERRAGAMO
Itália X X
14. VALENTINO* Itália X
15. VERSACE Itália X X X
* Representação exclusiva da loja Daslu.
Quadro 2: Marcas de Luxo de vestuário e acessórios situadas na cidade de São Paulo
Fonte: Elaborado pela autora.
3.3.2 Entrevistas
Imediatamente após a qualificação, foi enviado um e-mail (APÊNDICE A)
diretamente aos potenciais entrevistados, explicando o projeto e solicitando a
entrevista. Os nomes dos entrevistados, endereço de e-mail e telefone foram
cedidos pelo Sr. Carlos Ferreirinha, reconhecido consultor especializado no mercado
72
do luxo. Após dois dias, quem não respondeu ao e-mail, recebeu a ligação da
pesquisadora, como tentativa adicional de agendamento.
Das 15 marcas levantadas no quadro acima, sete responderam e foram
entrevistadas: ARMANI, BURBERRY, ARMANI, DIESEL, DIOR, LOUIS VUITTON,
VERSACE e ZEGNA. Com exceção de Dior e Louis Vuitton que são filiais próprias,
todas as outras são franquias das marcas. Alguns grupos empresariais representam
mais de uma marca, como Armani, Dolce & Gabanna, Versace e Cavalli, cujos
diretores de marketing respondem pelas duas marcas. Optou-se neste caso,
fornecer informações sobre a marca que possui mais tradição no mercado brasileiro,
pois entrevistar duas marcas ao mesmo tempo ocuparia um tempo que o
entrevistado não tinha. Marcar uma segunda entrevista seria inviável, dado que
todas ocorreram no mês de novembro, início dos preparativos para as vendas de
final de ano.
Em relação às marcas Chanel, Gucci, Prada e Valentino, todas de representação
exclusiva da empresa Daslu, não foi possível obter informações, apesar das
inúmeras tentativas de contato. A pesquisadora pressupõe que isso ocorreu devido
aos delicados problemas e especulações que a empresa tem enfrentado nos últimos
meses, especialmente com os produtos importados.
As marcas Calvin Klein e Salvatore Ferragamo mesmo após o e-mail e contatos
telefônicos, não responderam ao convite. Entretanto, nenhuma delas declinou
formalmente a entrevista.
73
As entrevistas ocorreram entre 01 e 30 de novembro de 2006. Os entrevistados
foram bastante receptivos e demonstraram todo interesse em colaborar com a
pesquisa acadêmica. O agendamento ocorreu sem maiores problemas e os
responsáveis atenderam a pesquisadora no horário marcado, no escritório
administrativo ou na loja, sempre com muito profissionalismo e gentileza. Apenas
duas entrevistas precisaram ser remanejadas devido a problemas na agenda dos
entrevistados.
As entrevistas foram todas gravadas com a autorização dos entrevistados. Não
houve resistência à gravação das conversas, porém em certos momentos foi
percebida certa relutância por parte de alguns deles. Este desconforto foi logo
eliminado quando perceberam que o conteúdo da entrevista não comprometeria nem
seu nome, nem a marca que representava.
Os entrevistados se apresentaram todos como os diretores de marketing das
marcas. Quando questionados se autorizariam a identificação da marca na pesquisa,
alguns deles não permitiram. De forma a preservar e respeitar esta solicitação, não
foram identificados os comentários de nenhum dos executivos.
Assim, a identificação será feita aleatoriamente usando a seguinte referência: M1,
M2, M3, M4, M5, M6, M7. As marcas somente serão identificadas no capítulo abaixo,
por ordem alfabética, onde uma breve apresentação será feita para que se possa
entender o contexto das mesmas.
74
Convém ressaltar que as empresas pesquisadas foram escolhidas em função de
possuírem marcas altamente destacadas no mercado, fato este que não caracteriza
esta pesquisa como um estudo de casos múltiplos.
3.4 APRESENTAÇÃO DAS MARCAS
Para facilitar o entendimento sobre os ambientes de cada entrevista, seguem
algumas informações sobre as empresas.
3.4.1 Armani
O grupo italiano Armani (Giorgio Armani S.p.A) é um dos líderes da indústria de
moda e artigos de luxo no mundo. Foi fundada em Milão em 1975, por Sérgio
Galeotti e Giorgio Armani, este, seu atual CEO e único acionista. Depois de um ano
de sucesso de suas operações, Giorgio Armani começou a estender seu portifólio de
clientes e presença na Europa. O ano de 78 representou um turning point na história
da empresa quando foi estabelecido o primeiro acordo de licenciamento com o
Gruppo Finanziario Tessile, dando a Giorgio Armani a oportunidade de investir em
novos espaços que incluiria showrooms e assessoria de imprensa. Em 79,
aconteceu a expansão internacional por meio do estabelecimento da empresa nos
EUA.
Entre 1998 e 2003 o Grupo Armani investiu cerca de €600 milhões de seu fundo de
investimento em importantes atividades estratégicas de expansão da companhia:
diversificação da sua linha de produtos, abertura de 60 novas lojas em importantes
cidades do mundo e reforma de várias outras, aquisição de tecelagens e de know-
75
how de fabricação de sapatos, lançamento de novas fragrâncias e jóias, linha casa,
jeans, óculos. Em 2004, adquiriram uma licença para a produção mundial de uma
linha de roupas íntimas.
Atualmente possui 13 fábricas e aproximadamente 4.800 empregados diretos, que
são responsáveis pelo design, manufatura, distribuição e comercialização de moda e
acessórios, óculos, relógios, perfumes e cosméticos, jóias, design de interiores entre
outros, sob uma série de marcas: Giorgio Armani, Armani Collezioni, Emporio
Armani, Armani Jeans, Armani Exchange, Armani Junior e Armani Casa.
A rede de varejo inclui cerca de 380 butiques em 37 países e o resultado do grupo
em 2004 foi de € 1,6 Bi, sendo que a linha de roupas e acessórios representa ao
redor de 53% do faturamento, conforme relatório financeiro da companhia.
No Brasil, são cinco lojas: duas da marca Giorgio Armani (Jardins e Daslu, em São
Paulo) e três da marca Emporio Armani (Jardins e Shopping Iguatemi em São Paulo
e São Conrado Fashion Mall, no Rio de Janeiro).
3.4.2 Burberry
A Burberry é uma marca de luxo bastante reconhecida por sua forte identidade
britânica, inovação, qualidade e design. Foi fundada em 1856 pelo jovem Thomas
Burberry de 21 anos em Hampshire, Inglaterra. Em 1880, a empresa introduziu o
gabardine, um tecido que permitia a transpiração além de ser impermeável, uma
novidade para a época. Mais tarde a empresa desenvolveu alguns tecidos e
coleções que serviram ao exército e cavalaria inglesa e em 1914, surge o famoso
76
trench-coat, ícone da marca até os dias atuais. Duas vezes a marca foi premiada
com o Selo de Qualidade Britânico, reconhecimento máximo, emitido pela família
real (1955, 1989).
O grupo mantém o controle da marca, por intermédio do desenho, controle da
fabricação, licenciamento e distribuição de roupas, acessórios e outros produtos de
estilo para mulheres, homens e crianças. Os produtos Burberry são vendidos no
mundo todo por meio de uma rede de 65 lojas, 165 concessões de marca, além de
vendas em lojas multimarcas. Nos Estados Unidos, a marca também mantém uma
pequena operação de vendas via internet. No ano financeiro de 31 de março de
2006 o grupo mostra um resultado de £ 743 milhões. As vendas da rede de varejo
atingiram vendas de £ 2,7 bilhões.
A Burberry oferece uma linha de produtos e preços mais ampla considerando outros
produtos europeus tradicionais. A marca herdou uma rica história associada aos
militares ingleses durante o século XX. Igualmente, a marca é reconhecida pela
inovação e performance dos seus casacos para exploradores.
No Brasil existem duas lojas: 01 no Shopping Iguatemi e outra na Daslu, ambas na
cidade de São Paulo.
3.4.3 Diesel
A marca DIESEL foi criada pelos italianos Renzo Rosso e Adriano Goldschmeid, e
outros sócios em 1978. Em 1979, a primeira coleção masculina foi lançada. Já no
começo da década de 80, a marca experimentou um crescimento muito grande
77
dentro do mercado italiano. Em 1985, Renzo Rosso adquiriu a totalidade da
companhia.
O nome Diesel foi escolhido porque a palavra significava exatamente a mesma coisa
em qualquer lugar do mundo e podia ser pronunciada da mesma forma em diversos
idiomas, uma indicação mais que clara das aspirações internacionais da marca.
A marca Diesel é uma marca de jeans, roupas e acessórios de luxo, além de
licenciamento em óculos e relógios, focada principalmente no público jovem entre 15
e 25 anos.
A empresa tem sede na cidade de Molvena, norte da Itália, e está presente em mais
de 80 países. Possui cerca de 300 lojas, 200 das quais próprias e 100 por meio de
parcerias locais. Além disso, possui produtos em cerca de 5.000 pontos de venda
multimarcas e emprega atualmente ao redor de 1,3 mil pessoas. Seu faturamento
anual gira ao redor de US$ 680 milhões, 85% dos quais gerados fora da Itália. A
Diesel foi citada pela revista americana Forbes como uma das marcas mais luxuosas
do mundo, lista esta compilada pela FutureBrand.
No Brasil há 3 lojas: Jardins e Shopping Iguatemi em São Paulo e Fashion Mall, no
Rio de Janeiro, além de produtos em várias lojas multimarcas.
3.4.4 Dior
A maison Dior foi fundada por Christian Dior em 1946, em um pequeno hotel de
Paris. Em 1947, ele apresenta sua primeira coleção batizada de New Look , bem
78
como constitui uma sociedade para produzir perfumes. Em 1948, foi instalada a
primeira loja de prêt-à-porter de luxo em Nova Iorque. No mesmo ano, foi criada a
Christian Dior Perfumes de Nova Iorque. Em 1952, a Dior consolida sua implantação
na Europa.
Desde 1990, a Christian Dior S.A. pertence ao maior grupo de produtos de luxo – a
LVMH. Atualmente a Dior opera 160 butiques (Dior Couture) no mundo todo, 15 das
quais no Japão. As roupas são vendidas exclusivamente nas lojas Dior. Outros
varejistas vendem produtos Dior como óculos, lingerie, gravatas, perfumes e outros
acessórios. Desde que a LVMH adquiriu as lojas Duty Free ao redor do mundo, a
distribuição dos produtos Dior foi expandida para as 165 desta rede. Atualmente a
Dior vem reduzindo o número de suas licenças bem como de suas franquias de
forma a retomar o controle sobre seus produtos.
Após a compra da marca pelo grupo LVMH a Dior vem sistematicamente
centralizando as operações e distribuições de forma a obter um melhor controle da
marca. Em 2005, a Dior Couture teve um resultado de vendas da ordem de €663
milhões, segundo relatório financeiro da companhia.
Atualmente existem duas lojas Dior Couture no Brasil, ambas em São Paulo (Jardins
e Daslu), que vendem bolsas, roupas e bijuterias. Essas lojas são administradas
pela matriz em Paris.
79
3.4.5 Louis Vuitton
A Louis Vuitton foi fundada em Paris por Monsieur Louis Vuitton em 1854 para
fabricar malas, bolsas e acessórios destinados para viagens. As suas peças logo se
tornaram um sucesso, devido à inovação, a praticidade e elegância. Atualmente a
empresa produz malas, bolsas e artigos em couro, sapatos, relógios, jóias, roupas e
instrumentos de escrita, acessórios e óculos de sol.
Quase um século e meio mais tarde, a marca ainda mantém as mesmas
características, porém reforçada por seu reconhecimento mundial e por seu
monograma, que se tornou um sucesso desde sua implantação em 1896. A marca
mantém uma característica de vanguarda em todos os seus produtos sem deixar de
lado o aspecto artesanal de fabricação. Continuamente em expansão, a empresa
possui 15 ateliês de produção e um centro internacional de distribuição, 350 lojas
exclusivas em 51 países, além de empregar mais de 11.000 pessoas, 66¨% das
quais, fora da França.
No Brasil, são 3 lojas, todas situadas em São Paulo: Jardins, Shopping Iguatemi e
Daslu.
3.4.6 Versace
Fundada em 1978 em Milão, por Gianni Versace e seu irmão Santo Versace, a
Gianni Versace SpA é um dos mais fortes grupos italianos de moda. O grupo
desenha, produz, distribui e comercializa seus produtos. Sua característica principal
80
sempre foi o uso de estampagens vibrantes, materiais não-convencionais, além do
forte apelo sensual das peças e referências às culturas da antiguidade clássica.
Gianni Versace, o estilista principal da marca, foi premiado por várias vezes como
um dos mais criativos designers de sua época. Foi um ativo defensor das artes e
óperas, além de ter feito as roupas para diversos espetáculos. Entretanto, teve um
final trágico, quando foi assassinado em 1997 em Miami, Flórida.
Atualmente a marca inclui além da coleção prét-a-pôrter masculinas e femininas,
uma linha de vestuário desportivo e roupas íntimas, além de acessórios, jóias e
relógios, óculos, perfumes, maquiagem e uma linha de decoração. Recentemente, a
Versace inaugurou o primeiro hotel de seis estrelas do grupo, o Palazzo Versace,
localizado na costa australiana.
O grupo, ainda administrado familiarmente por Donatella e Santo Versace, irmãos de
Gianni, possui uma rede de 81 lojas, além de 123 pontos em lojas multimarcas e
lojas de departamento do mundo todo e faturamento estimado em mais de 1 bilhão
de dólares anuais. O grupo trabalha fortemente amparado em quatro princípios:
comunicação, organização, produtividade e qualidade.
Atualmente existe uma loja no Brasil, situada nos Jardins, em São Paulo.
3.4.7 Zegna
O Grupo Zegna é uma das mais antigas empresas familiares da Itália. O lanifício
Zegna foi fundado em 1910 em Trivero na Itália pelo alfaiate e empreendedor
81
Ermenegildo Zegna. O objetivo era produzir tecidos para roupas masculinas da mais
alta qualidade de forma a competir com as tradicionais fábricas inglesas. Sua visão
incluía a seleção de materiais nobres, a introdução de inovações de produto e
processo e a promoção da marca.
A empresa consolidou seu nome e reputação mediante a produção de tecidos de
alta qualidade, exportando inclusive para diversos alfaiates principalmente nos
Estados Unidos. Em meados da década de 60, os filhos do empreendedor deram
início à integração vertical da companhia: da produção de tecidos para fabricação de
roupas de alta qualidade e internacionalização da produção. No começo dos anos
70, a empresa diversificou sua produção e incluiu acessórios, moda esporte e ternos
sob medida. A produção era vendida para lojas multimarcas.
A empresa abriu suas primeiras lojas próprias em Paris em 1980 e em Milão em
1985. Estas duas butiques serviram como modelo para um sistema capilar de
distribuição que hoje representa mais de 460 lojas, sendo 187 próprias. Atualmente
é a líder mundial na indústria de roupas masculinas de luxo, presente em mais de 60
países.
A diversificação continuou e hoje a empresa possui além das roupas, perfumes,
linha de óculos, roupas íntimas e pijamas masculinos, todos de etiqueta Ermenegildo
Zegna.
O resultado do grupo Ermenegildo Zegna em 2005 foi de €713 milhões. Em 2006, a
previsão do grupo era de crescer dois dígitos. Segundo a empresa, um crescimento
desta proporção só é possível devido a um cuidado intenso em relação à qualidade,
82
a um foco constante nos clientes e nas pessoas e uma comunicação baseada na
criatividade e credibilidade. A filosofia do grupo é baseada em três princípios:
objetivos de longo prazo, presença da administração familiar para assegurar a
continuidade e um compromisso ético baseado em um sistema de governança
corporativa. Atualmente a 4ª geração do fundador responde por sua administração.
No Brasil, a primeira loja exclusiva foi instalada em 2001. Atualmente, existem três
lojas da marca: Duas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Entretanto, as vendas
em lojas multimarcas continuam, mesmo que em pequena escala.
83
4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Após a transcrição das entrevistas e várias leituras do material, foram feitas as
classificações dentro de categorias específicas, pois de acordo com Ludke e André
(1986) o pesquisador deve utilizar alguma forma de codificação e classificação que
permita reunir componentes similares.
As classificações ou categorizações, conforme denomina Bardin (1997) foram feitas
segundo as questões do roteiro de entrevistas, que constituíam um conjunto de
elementos, estes por sua vez, derivavam dos objetivos específicos.
Os dados foram organizados primeiramente por marca, por meio de um sumário que
possibilitou o fornecimento de respostas a cada uma das categorias. Após esta
análise por marca, foi feito um sumário geral, separando-se os dados comuns a
todas, dos dados específicos de uma ou outra marca, porém relevantes à análise
dos objetivos específicos. Logo abaixo, encontra-se parte de uma análise de uma
das marcas, sem identificação da mesma (Quadro 3):
84
Análise de conteúdo
Em
p
resa:
M1
Entrevistado: Diretor de Marketing, homem, formado em Economia nos EUA e MBA em varejo na
FIA-USP
Ob
j
etivos Es
p
ecíficos Cate
g
orias
Sumário da resposta Trechos
Conhecer os conceitos e atributos de roupas e acessórios de luxo
1. Qual o seu conceito sobre produtos de luxo? Conceito
Produtos de momento; caros, com marca forte ,
credibilidade do designer 3
2. Quais as características de uma marca de luxo? Marca de Luxo
Qualidade, durabilidade; designer 5
3. Quais são as principais características da sua marca? Marca Própria
Qualidade, durabilidade, escolha da matéria-
prima, credibilidade da equipe, atemporal,
manufatura dos próprios tecidos. 3;5;7
4. Sabe-se que os produtos de luxo são provavelmente objetos mais repletos de significado dentro da cultura material. Na sua
visão, quais seriam estes significados para o cliente da sua marca?
Semiótica
Auto-estima; respeito externo; auto-
confiança;credibilidade 19
Entender o comportamento de consumo dos clientes da marca
5.Quem é o cliente da sua marca e quais são as suas características? Comportamento consumo
Para cada linha oferecida há seus tipos
específicos: esportistas (veleiro, golf); jovens
executivos; executivo de alto padrão. 30% são
mulheres que compram para marido. Decisão final
da compra é da mulher. Aumento dos clientes
advindos do agronegócio (Mat 27; 35
7. Que outros fatores dentro da loja influenciam a compra? Comportamento consumo
Arquitetura padrão em todas as lojas, música
ambiente mais animada para quebrar a
formalidade; aspecto jovem 45;47
8. Existe alguma peculiaridade de consumo observada apenas no mercado brasileiro? Comportamento consumo
Cliente brasileiro não gosta de terno marrom
6. O que tem sido feito para manter e conquistar seus clientes? Vocês possuem algum sistema de informações sobre eles?
Como isso é trabalhado?
Comportamento consumo
Anúncio; Atendimento Personalizado; Envio de
mala direta. Banco de dados tem 15 mil nomes 43
Quadro 3: Exemplo da análise de conteúdo de uma das marcas
Fonte: Elaborado pela autora
No próximo item serão interpretados os dados encontrados, procurando um sentido
para as respostas, face ao referencial teórico levantado. Como parte da técnica de
análise de conteúdo serão utilizados trechos das entrevistas, transcritos ipsis literis,
para ilustrar o que foi encontrado.
A análise, a seguir, será apresentada de maneira conectada aos objetivos
específicos. Após as considerações iniciais de cada categoria serão apresentadas
as transcrições de trechos das entrevistas para conferir maior riqueza de
entendimento e interpretação na análise.
4.1 CONCEITOS E ATRIBUTOS DE ROUPAS E ACESSÓRIOS DE LUXO
De uma forma geral, o conceito de produtos de luxo não difere muito de uma
marca para outra. As definições mais utilizadas foram: produtos que possuem uma
85
marca forte, exclusividade a poucos, produtos de design, qualidade excelente,
tradição da marca, sofisticação, distribuição seletiva e alta desejabilidade. Estes
conceitos estão mais próximos aos definidos por Dubois, Laurent e Czellar (2002);
Lombard (1989) e Alléres (2000). Apenas a entrevistada de M1 citou o fator preço
elevado, identificado por autores como Alléres (2000) e Castaréde (2005) como
característico de um produto de luxo. Os detentores dessa marca consideram que a
presença de um estilista valorize um produto desse padrão, embora a entrevistada
não veja isto como característica fundamental da marca que representa, conforme
consta nos depoimentos, a seguir:
Entrevistado da M1
Eu acho que produtos de luxo são produtos de momento,
sabe? Que varia, vai de coleção a coleção, são produtos
caros, com uma marca fortíssima por trás e que tem o
respaldo de uma credibilidade do designer [...] No caso da
M1.é a credibilidade do nome e também de uma equipe, não
de um designer só, uma equipe construiu a marca.
Entrevistado da M2
[...] é algo exclusivo no sentido de que não abrange uma
camada da população muito grande. [...] São produtos feitos
e criados para uma mulher, para um homem serem
identificados como pessoas de bom gosto, pessoas
elegantes, mas sem a necessidade do show all.
Entrevistado da M3
um produto que tem uma mescla muito especial de seus
valores: por um lado tem uma mescla de qualidade, com
design, distribuição seletiva, uma distribuição controlada [...],
e obviamente com uma alta desejabilidade e um controle
absoluto de sua distribuição que é super importante, não?
Entrevistado da M4
Você sabe que é um produto de qualidade, você sabe que é
um produto que tem uma tradição, uma história, ele tem
uma sofisticação, materiais nobres, mas ao mesmo tempo
não é ostentador [...]
Entrevistado da M5
Exclusividade, design, qualidade...[...] obviamente que um
produto de luxo não pode ser barato. Porque um produto de
luxo ele envolve toda uma estrutura, né? [...] São
praticamente peças únicas, feitas à mão.
Entrevistado da M7
Eu acho principalmente assim: produtos diferenciados e
com uma qualidade excelente.
86
Quando analisado o significado da aquisição de um produto de luxo, foram
levantados pontos como auto-estima, autoconfiança, credibilidade, poder, elegância,
sofisticação, seletividade, pertencer a um clube. Estas características corroboram a
visão de vários autores, em especial as de Vigneron e Johnson (2004) de que um
produto de luxo permitiria a um consumidor expressar o seu próprio self, um self
ideal ou específico, mediante o seu uso, e as de Dubois e Laurent (1996) sobre a
gratificação de si mesmos quando da aquisição de um produto de luxo e a
oportunidade ao seu usuário de se sentir diferenciado de outros, ao mesmo tempo
em que permitem a incorporação da excelência de qualidade que o produto sugere.
Com isso, o consumidor ficaria com um sentimento de distinção e extremo bem-estar
(DUBOIS; LAURENT; CZELLAR, 2001). Nenhum dos entrevistados comentou que o
significado de um produto de luxo poderia estar ligado à distinção social conforme
argumentado por Kapferer (1997), embora um dos entrevistados tenha citado que o
cliente leva para casa “status”.
Entrevistado da M1
Ele leva, acho que autoestima [...] quando você está bem
vestido, você se sente melhor, você tem... Como eu diria?
Um respeito externo da própria família inclusive. Você está
distinto, você se sente melhor, você tem mais confiança,
você tem mais credibilidade nos negócios, outros lugares.
Tem um... Sabe? Um prazer de estar usando a melhor
marca do mundo...
Entrevistado da M2
Em primeiro lugar tem uma coisa de poder, né? [...]
Segundo lugar tem a questão, assim, da elegância
abalizada pelo próprio criador.
Entrevistado da M3
Veja, são muitas coisas [...] sabe que está levando um
produto duradouro, não está levando um produto para três
dias... está levando um produto para sempre. Por outro lado,
está levando, dependendo do tipo de cliente, alguns estão
levando o design, outros levam a seletividade, o pertencer a
este clube.
Entrevistado da M4
Ela busca uma satisfação pessoal e principalmente
reconhecimento. Tem um auto reconhecimento em poder se
presentear ou, muitas vezes, até para terceiros.
87
Sobre as características de uma marca de luxo, alguns entrevistados citaram a
qualidade da matéria-prima e do acabamento, atemporalidade, exclusividade. Todas
essas características foram exploradas por Nueno e Quelch (1998) como elementos
de uma marca de luxo. Porém, nem todos citaram a tradição e o design, que para
esses autores também são determinantes de uma marca de luxo.
Entrevistado da M2
É corte, é tecido, é acabamento, é apreço da confecção
principalmente. Ou seja, cada peça, o acabamento de cada
peça é feito com muito apreço, com muito cuidado. [...] Eu
acho que uma marca de luxo, ela se consolida em primeiro
lugar pelo diferencial da matéria-prima, pela preocupação
com o acabamento da peça [...] clássico elegante, atemporal
e sempre assim com muita sofisticação.
Entrevistado da M3
Marca reverencia um estilo de vida e esse estilo é o que
está impresso nos produtos. É como pertencer a um clube.
Então num produto em si, tem todo este contexto de
qualidade, exclusividade, seletividade. Já a marca surge
como um guarda-chuva que banha absolutamente tudo.
Entrevistado da M4
Primeiro você tem que ter uma tradição muito forte. [...] Não
existe marca de luxo sem tradição. Se você não tem na
coleção um histórico, fica defasado. E para ela se manter
como luxo hoje em dia, ela precisa saber se inventar a cada
coleção. Esse é o maior desafio
Por outro lado, quando questionados sobre as características das suas próprias
marcas os pontos levantados foram mais abrangentes, tendo sido citados atributos
como: qualidade, durabilidade, qualidade da matéria-prima e do acabamento,
equipe responsável, atemporalidade, solidez, sofisticação, tradição, produtos
diferenciados, peças exclusivas; características estas comuns às defendidas
principalmente por Nueno e Quelch (1998). Mais uma vez, nenhum dos sete
entrevistados citou o preço nem a clientela como determinante de uma marca de
luxo, fatores estes que foram trabalhados por Mckinsey (1990); Nueno e Quelch,
88
(1998); Vigneron e Johnsson (2004); Beverland (2004); Roux (2003) e Castaréde
(2005).
Entrevistado da M1
É uma marca que vem trabalhando pela qualidade, pela
durabilidade, pela escolha bem feita da matéria-prima. Isso
é imprescindível [...] é um produto que pode passar de
geração em geração [...] é a credibilidade do nome e
também de uma equipe, não um designer só, uma equipe
que construiu a marca.
Entrevistado da M3
É uma marca que tem muito da vanguarda. De qualquer
ponto de vista que a veja, sempre está aliada com as
expectativas de um cliente [...] Por outro lado, também tem a
ver com a inovação. [M3] historicamente... é parte inclusive
de um dos conceitos da marca , sempre fazer o inesperado
[...] também é uma marca que sempre esteve associada
com a arte, em distintos níveis. Todos os produtos têm
realmente um contexto de influência social.
Entrevistado da M5
o que a [M5] tem que difere realmente das outras é que ela
tem uma maior gama de produtos...
4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CLIENTES DO MERCADO DE LUXO
É oportuno lembrar que essa caracterização foi feita do ponto de vista exclusivo dos
executivos das marcas.
Dado que cada entrevistado destacou uma característica da sua marca que se
sobressai das demais, por exemplo, uma é focada no público masculino, outra na
mulher sexy, outra na mulher comportada, outra no indivíduo mais tradicional, foi
exigida muita atenção para se agregar às características similares dos clientes das
marcas.
89
Para a M1 os clientes típicos são jovens, profissionais liberais, esportistas de final de
semana. Também comentou que muitas mulheres compram para seus maridos. Isso
corrobora com a argumentação de Kotler (1993) sobre a influência de pais, maridos,
esposas, filhos na decisão de compra bem como ser explicado pelo fato do produto
de luxo estar muito ligado com a satisfação pessoal quando da aquisição
(KAPFERER e JOHNSSON, 2004). A seguir são apresentados trechos da
transcrição da entrevista com o executivo dessa marca para ilustrar a observação
acima.
Entrevistado da M1
[...] são quatro linhas... gente que gosta de veleiro, para fim-
de-semana, né? Golfe... A linha [XXX] é uma linha fashion, é
uma linha que é fabricada para jovens de 25 a 35 anos.
Quem está concentrado no mercado de trabalho, quer
parecer moderno, sabe? ...tem a linha [YYY], que é linha
clássica e acima dela tem a linha [ZZZ], que também é tudo
clássico só que feita de acordo com a medida do cliente. [...]
Então, nossos clientes variam, vai desde [...] 25 anos de
idade, em média, e vai até 70. Porque tem muita gente que
veste cada linha.
Ah, sim! 30% dos nossos clientes são mulheres, 30% que
compram para o marido. Inclusive a decisão final da compra
do produto é da mulher, sempre.
Para a M2, os clientes principais são aqueles que já conhecem a marca. Pode-se
deduzir que são pessoas que tenham um bom poder aquisitivo, pois além de viajar
compravam ou ainda compram a marca fora do Brasil. Quanto ao sexo, para o
entrevistado, as compras são equivalentes entre homem e mulher.
90
Entrevistado da M2
Olha, eu tenho um pouco de tudo, tá? Eu tenho em primeiro
lugar aqueles clientes que já conheciam a marca, né?
Porque sempre viajarem e tal. Então, esses clientes, eles
continuam comprando, mas são clientes que compram no
Brasil e fora do Brasil. Ou seja: são consumidores da marca,
não importa onde. [...] E eu tenho, assim, de uma forma
geral profissionais liberais, dependendo da área, muitos
publicitários . [...] A base de clientes são mais mulheres do
que homens, mas a minha venda é 50% feminina, 50%
masculina. E a compra é feita em cima dessa base: 50% do
meu budget eu dedico para o feminino, 50% para o
masculino.
O entrevistado da M3 classificou seus clientes, acima de tudo, como pessoas que
buscam a qualidade e a seletividade, conforme a transcrição de um trecho do seu
depoimento, a seguir.
Entrevistado da M3
Há pessoas que são mais racionais e que procuram a
elaboração de um produto. Existe por outro lado uma
mulher jovem que está buscando o último modelo e de
qualidade. Por outro lado, existem pessoas que buscam a
seletividade, de ter algo que ninguém mais tem.
Para a M4 os clientes variam mais, pois podem ser desde o jovem solteiro na faixa
dos 30 anos que se auto presenteia ou compra presente para outros, até o cliente
mais velho, acima de 45 anos, homens e mulheres que gastam chegando, em
alguns casos a comprarem a coleção inteira. Para o entrevistado da M4, este é o
cliente que sustenta o negócio. Dentro das classificações de Aaker (2003) significa o
cliente lucrativo, com maior poder de atratividade. Foi também mencionado que os
clientes homens são mais fiéis à marca e que o público feminino é momentâneo.
Um fato relevante foi a citação do entrevistado de que o posicionamento está voltado
91
para o cliente que é focado em moda, mas que este não tem condições de comprar
o produto no Brasil. Seguem trechos do seu depoimento.
Entrevistado da M4
É engraçado como você se posiciona de uma maneira, mas
o cliente que vem é outro. Naturalmente você se posiciona
buscando um cliente focado em moda, que conhece o que
está comprando, [...] mas esse cliente no Brasil,
infelizmente, não tem condição financeira em ter essas
peças.
[...] cliente jovem, menos de 30 anos, que não é casado
normalmente, homem, que se autopresenteia e compra
presente para terceiros, que sempre busca algo específico.
Mulher nessa faixa de idade tende a receber presentes ou
dos pais, ou ela pedir um presente por não ter condição
financeira. Depois disso há um salto e mudança de perfil, ou
seja: pequenas compras segmentadas até quarenta,
quarenta e poucos anos. E acima de 45 anos, você tende
a... Homens e mulheres que compram mais, gastam mais e
compram a coleção inteira [...]. O cliente que vai sustentar o
nosso negócio, que é fiel, que compra a cada dois, três
meses, é um cliente com uma idade mais velha.
Para a M6, o cliente é jovem solteiro (mulher e homem), bem educado, “descolado”
Aqui, percebe-se bem o que Kotler (1993) identificou como grupo-membro ou grupo
de referência, que o cliente aspira pertencer. Segue um trecho do depoimento do
entrevistado dessa marca.
Entrevistado da M6
A gente tem um público alvo que a gente chama de young
cool. São os jovens descolados, bacanas que se vestem
bem, que são educados, que você encontra em lugares
bacanas. A gente não gosta de “metidez”, a gente não gosta
de gente esnobe. [...] eu quero gente bacana usando a [M6],
entendeu? São pessoas que sei lá, que vão ao cinema, que
vão ao teatro, que vão aos shows, [...] que freqüentam
Angra dos Reis.. Essas são as pessoas que a gente
persegue e que eu acho que influenciam e reverberam nos
outros.
92
O entrevistado da M7 citou a dificuldade de se identificar o cliente, porém afirmou
que a base feminina é maior. Acredita ele que não se venda tanto a homens, pois o
brasileiro é mais conservador e a marca tem uma imagem mais moderna, conforme
seu depoimento a seguir.
Entrevistado da M7
A gente é muito mais forte no feminino do que masculino.
No Brasil, e também no resto do mundo, mas no Brasil
principalmente, porque o homem aqui é muito conservador e
[M7] tem uma imagem muito moderna. [...] Então, é assim: é
difícil você conhecer o cliente, quando você consegue, ele
se torna cliente fiel.
Alguns dos entrevistados citaram atender um cliente bastante presente: pessoas de
fora de São Paulo. Nesse sentido, afirmou o entrevistado da M1:
Entrevistado da M1
Eu estou sempre buscando novos mercados. Por exemplo,
eu tenho visto muito que no Mato Grosso tem um
agrobusiness fortíssimo. Então eu acho que Mato Grosso
vale a pena estar presente, anunciando. Tem muita gente
que vem do interior de São Paulo, que vem para São Paulo
fim de semana, feriado, que a gente também tenta se
comunicar com esse pessoal.
Em relação a comportamentos peculiares de compra que são observados apenas
no mercado brasileiro, alguns aspectos foram apontados como o fato de quase não
se vender roupas nas cores marrom, verde, amarelo. O entrevistado da M3 é de
opinião que o brasileiro é muito focado no que está na moda e não valoriza muito o
tradicional. Os entrevistados de M2, M5 e M7 afirmaram que a mulher brasileira
valoriza antes de tudo a sensualidade. O entrevistado da M4 considera haver um
paradoxo no comportamento do brasileiro, pois é um cliente que não gosta que o
93
abordem por se sentir incomodado; entretanto, ele exige muito mais, quer ser
lembrado o tempo todo.
Entrevistado da M2
[...] muito difícil vender marrom e verde. [...] O homem
brasileiro, ele não tem uma cultura de jantar num
restaurante num sábado à noite usando sequer um paletó, a
menos que esteja frio, um paletó mais curtinho de lã. Caso
contrário não. É diferente da Europa, né?
Entrevistado da M3
Olha aqui tem muitas coisas! [...] o consumidor que se fixa
muito ao lado das tendências, de um produto sai hoje, hoje
mesmo ele quer. Ele é muito exigente na qualidade e muito
envolvido no contexto ‘fashion’. Talvez não esteja tão
interessado na parte da história e tradição.
Entrevistado da M4
[...] Ele não quer que você ligue na casa dele, ele não quer
que você force uma venda, mas ao mesmo tempo ele quer
ser lembrado. Esse é o maior desafio! Se você for fazer uma
compra no exterior, você entra numa loja de luxo, você anda
sozinha e muitas vezes você não é incomodada,
principalmente pelo seu olhar [...]. No Brasil se um cliente
entra numa loja e você não encosta, não conversa com ele,
[...] ele trata você com uma postura arrogante [...] Isso é um
paradigma.
Entrevistado da M5
[...] a brasileira tem muita mania que é primeiro, é a roupa
grudada no corpo. Sabe? É uma coisa que é um desespero!
[...] Porque aí a cliente vem, quer esturricar a roupa, a roupa
esturrica, sai completamente fora de linha, entendeu?
Depois se der algum defeito ela vem e reclama
Entrevistado da M6
Mulher brasileira valoriza, antes de tudo, a sensualidade,
né? Que ela é mais sexy do que as outras [...]. A [M6] como
uma marca européia, ela tem várias peças que não são
exatamente sexy [...] Então, a gente tenta adaptar.
Entrevistado da M7
Nas mulheres é muito forte essa coisa do lado sensual,
entendeu? Que são roupas que valorizam muito o corpo [...].
Sobre o ambiente da venda os entrevistados não foram muito enfáticos em algum
fator específico. Alguns acreditam que a arquitetura padrão em todas as lojas, a
decoração, a iluminação, a sonorização, o ambiente confortável influenciam sim na
compra, bem como a opção de produtos, a experiência de tocar, experimentar uma
94
peça. O entrevistado da M2 afirmou que, embora tudo deva parecer perfeito, nada
deve aparecer mais do que a coleção em si. Por outro lado, o da M5 acredita que a
atitude do cliente é mais forte que a arquitetura ou o atendimento em si.
Entrevistado da M1
Então acho que tem que ser uma música um pouco mais
animada para a pessoa não ficar... Achar que é muito
formal. Porque tem tendência, né? O [M1] tem tendência de
a pessoa achar que é mais velho, chatinha. Mas... Como é
que chama? “Morfinho”, né? Mas não é assim, a gente tenta
deixar jovem. Ninguém gosta de sentir velho [...] Os móveis
são todos iguais em todo lugar do mundo.
Entrevistado da M2
Então, o [M2], ele se apresenta como uma marca sólida,
né? Uma marca sólida, uma marca elegante, uma marca
sofisticada. Então, o que é que ele coloca na arquitetura da
loja? Uma marca onde menos é mais. [...] onde você
apresenta o produto, não a arquitetura. Só que a arquitetura
é extremamente sofisticada! [...] essa questão da
arquitetura, mas que também não muda em nada no
conceito, só ajuda o comercial.
Entrevistado da M3
[...] É feita tropicalização com os materiais necessários, mas
a imagem é uma imagem internacional. A mensagem da
[M3] é a mesma tanto em comunicação, quanto em relações
públicas, publicidade, e evidentemente no serviço no interior
da loja. [...] Sim, influencia, é parte da experiência de
compra.
Entrevistado da M4
A arquitetura, ambiente confortável e principalmente visual,
o merchandising... conta muito. Ou seja, você ter uma peça
sozinha é uma coisa, você ter uma família, profundidade de
linha, você tende a escolher. [...] uma iluminação, em que
você possa ver as cores da loja em um clima agradável,
informal para o cliente [...] tem sonorização [...] não se
coloca essência na loja, porque isso incomoda muito os
consumidores. [...] A experiência de tocar na peça, botar no
corpo... É muito especial. Tanto que o meu estilista sempre
fala: ‘A experiência é fundamental!’
Entrevistado da M6
Tudo que a gente coloca dentro ou fora das lojas constroem
o universo [M6] e é isso que atraem os nossos
consumidores e isso que é traduzido na nossa roupa, [...].
Quando a pessoa veste [M6], ela está vestindo a arquitetura
da loja, as trilhas sonoras da loja, [...] os nossos
vendedores, os nossos anúncios, as matérias que são
geradas. [...]
95
4.3 COMPOSTO DE MARKETING
De uma forma geral, pôde-se perceber, em todas as entrevistas, uma preocupação
muito maior em zelar pela marca e seus atributos do que necessariamente aumentar
market-share que, conforme Schnaars (1998) é uma das finalidades do marketing
estratégico. Isso talvez se justifique pelo fato de as marcas ainda estarem em
desenvolvimento no Brasil e por serem representações, franquias ou filiais das
matrizes, sem muito poder para tomar atitudes mais ousadas no próprio mercado. O
cuidado com uma marca de luxo, passa muito pelo controle de sua imagem e pela
tradição que ele desenvolveu ao longo de muitos anos (ROUX, 2005).
Sob outro ponto de vista do marketing estratégico (LAMBIN, 2000) apenas os
entrevistados de M4 e M6 aparentaram estar permanentemente preocupadas com a
análise sistemática e permanente das necessidades de mercado, o desenvolvimento
de conceitos e produtos com um bom desempenho, destinados a grupos de
compradores específicos. Isso talvez se justifique pelo fato da M6 ser uma marca
ainda em desenvolvimento e relativamente recente no Brasil , embora tenha mais de
20 anos de existência e a M4, pelo fato de estar se reposicionando, segundo o
executivo entrevistado. É oportuno esclarecer que o desenvolvimento de novos
produtos é tarefa de responsabilidade da matriz dessas marcas.
Sobre o composto de marketing em si, a começar pelos produtos, procurou-se
compreender como era feita a seleção das peças para o mercado brasileiro e quais
os produtos mais vendidos. Todas as marcas trabalham com quatro coleções ao
longo do ano: pré-verão e verão, pré-inverno e inverno. Não se compra a coleção
inteira, mas sim, peças que contenham tecidos e/ou cores mais a ver com o clima e
96
gostos locais. Também pode ser feita uma adaptação da disponibilidade das peças
(às vezes apenas dois itens de um mesmo modelo, um por loja), porque uma das
características do luxo pressupõe a exclusividade, ou o sentimento de que ninguém
mais ou poucas pessoas usarão determinado produto. A escolha das peças leva em
consideração o que os clientes gostam, a análise de outros mercados, a pesquisa
com vendedores.
De acordo com o entrevistado da M1
Entrevistado da M1
É a experiência... É a experiência do que vende, do que é
pedido, do que o cliente sente falta, sabe? A gente tenta
ouvir nosso cliente, bastante. O que ele gosta, né? A gente
vê outros mercados... Realmente é a respeito do dia-a-dia.
A gente vê... Eu faço pesquisa com os nossos vendedores,
o que eles acham que venderia, o que eu acho que o cliente
está procurando.
[...] São duas coleções ao ano. E fora também tem duas
coleções sobre medida também, tem... A gente começa com
a coleção de verão e aí depois, um mês depois, a coleção
sob medida de inverno. Porque são períodos opostos.
Para o da M2:
Entrevistado da M2
Eu tento adequar ao meu cliente, ao meu público. Porém,
muitas vezes você não consegue sair daquilo que é
proposto. Por mais que você queira adequar, a proposta da
coleção é aquela. [...] o que eu adequo mais hoje em dia
são os tecidos, porque dentro da mesma coleção eu tenho
opções de gramatura de tecido então eu acabo optando. Por
exemplo, numa coleção de inverno, são tecidos mais leves
porque eu vendo inverno aqui em dezembro, mas trago
também os casacos mais pesados. Por quê? Para aquele
público que viaja [...].
97
Para o entrevistado da M7:
Entrevistado da M7
[...] a gente tem muita liberdade de poder escolher o que
mais se adequa ao nosso clima principalmente. Coleção de
inverno é sempre muito mais difícil de comprar, porque
coisa muito pesada realmente não vende. Mas por outro
lado há uma tendência cada vez mais lá fora de fazer roupa
que se adequa ao verão e ao inverno [...]
Especificamente o entrevistado da marca M2 foi enfático ao afirmar que a coleção
oferecida no momento é exatamente a mesma que está nas lojas dos outros países
(muitas vezes a coleção oferecida é de uma estação contrária). Isso significa que o
cliente tem a vantagem de não precisar viajar para buscar uma peça que viu em um
editorial ou reportagem de moda internacional. Segue um trecho do seu depoimento.
Entrevistado da M2
...a gente procura estar, independente de todos os
problemas de importação que é uma burocracia enorme, a
gente procura passar as coleções sempre atualizadas. Ou
seja, a gente trabalha com a coleção na coleção e não na
estação. Então, isso faz com que ela encontre aqui a
mesma coisa que ela vai encontrar na Europa ou nos
Estados Unidos. E comprando aqui é muito mais fácil. [...]
Um dos desafios citados por M4 é o de se ajustar o formato das roupas para o
padrão brasileiro:
Entrevistado da M4
Buscamos os históricos de compra, buscamos entender a
nova coleção, ver quais os produtos que se adaptam,
entender – como eu te falei, no caso específico de roupa o
desafio maior é a forma, vamos assim dizer. Isso é um
problema sério. É um desafio.
98
Em relação ao lançamento de versões mais jovens de marcas que possibilite a
ampliação do mercado consumidor (NUENO; QUELCH, 1998), apenas a M2 possui
duas linhas mais jovens ou de um preço mais acessível. Essas marcas são
vendidas em uma derivação do nome da marca principal, em lojas diferenciadas da
principal, geralmente em grandes shoppings. Para o entrevistado da M2 o objetivo é
atingir um consumidor que não consegue comprar a marca principal, a mais cara.
Enquanto isso não for possível, espera-se que ele fique satisfeito com ao marca
mais acessível, mas que tenha a grife da principal.
Entrevistado da M2
Eu tenho clientes que migraram do [cita marca
intermediária] para a [cita marca superior]. Esses são os
executivos que começaram com a gente há dez anos, que
não tinham tanto poder de compra, mas já se identificavam
com o estilo [M2] e que hoje migraram para a [cita marca
superior], né?[...] continuamos no mercado de luxo, por
assim dizer, porque para aquele cliente que antes não podia
consumir um produto internacional por causa da questão
preço, que consumia o mercado nacional, hoje vai poder
consumir o mercado internacional. Para ele , [cita marca
intermediária] é um luxo.
Não foi questionado pela entrevistadora como a marca M2 lida com uma possível
“popularização” destas marcas secundárias, o que, segundo Nueno e Quelch (1998)
é um risco que pode comprometer a marca principal, pelo fato de que esta pode
superar a marca primária ao se estender demais.
Quanto aos produtos mais vendidos, segundo os entrevistados, cada marca tem
um reconhecimento por sua qualidade em um determinado produto: ternos, jeans,
bolsas, vestidos, tecidos especiais. Entretanto, isso não significa que estes sejam os
99
produtos mais vendidos. Praticamente todos os entrevistados citaram que a venda
de acessórios cresceu muito.
Entrevistado da M2
Mas, vamos assim, como carro-chefe: os ternos. O feminino
é... Claro, que é o que eu te falei, os ternos são sempre
objetos de desejo, objeto de estilo, né? Mas depende muito
da coleção, porque tem coleções que produz mais assim
vestidos, saias. Então aí naturalmente, acaba migrando um
pouquinho para essa linha. Mas os ternos são os mais...
Entrevistado da M3
Além das bolsas, as roupas estão indo muito bem..[...]
Estamos falando de peças de alto preço, de número
limitado.
Entrevistado da M4
[...] o Brasil é um país, percentualmente falando, muito
focado em acessórios e cada vez mais vai o ser. Ou seja, o
percentual de vendas que você tem de acessórios versus
roupa, o Brasil é um dos maiores números no mundo, no
mundo! No Brasil só de acessórios são mais de 50%, depois
vem feminino e depois vem masculino.
Entrevistado da M7
Os vestidos são os mais procurados. [...] E os acessórios.
As bolsas estão absurdamente fortes, bolsas e sapatos.
Sobre a questão do preço foram questionados, a base da precificação, a política de
saldos e o parcelamento de compras. Todas as lojas sem exceção, seguem uma
política de preços estabelecida pela matriz. Obviamente que aqui se inserem os
encargos de importação, além dos internos, mais o mark-up. Segue raciocínio básico
da fixação do preço dos produtos:
Preço = Matriz + encargos de importação + encargos internos + mark-up
Não foi questionado o processo de estabelecimento do mark-up utilizado pois este
não fazia parte do escopo da pesquisa, entretanto a marca M2 citou que muitas
vezes se baseia nos preços do mercado americano. Como o preço base é definido
100
via matriz, não se percebeu consonância com a bibliografia citada em que alguns
casos leva em consideração o fator psicológico onde, por exemplo, preços altos
aumentam o volume de vendas, ou o valor da exclusividade (GROTH; MCDANIEL,
1993). Percebeu-se que os entrevistados consideram que a imagem da marca já
esteja consolidada na mente do consumidor, por isso ele paga o valor que é
atribuído a um produto, conforme Groth e Daniel (1993) comentam.
Entrevistado da M1
A definição da matriz, aí depois nós temos... Estabelecemos
a importação, o custo de internalização e tem que ter um
pouco de mark up. Então, obviamente vai ser um pouco
mais caro que a Europa, que não tem nada disso.
Interessante é que parcela os produtos, então essa é a
diferença.
Entrevistado da M2
...eu tenho uma marcação de preço onde eu procuro manter
o preço muito próximo ao preço do mercado americano,
porque as taxações nos Estados Unidos são muito próximas
às nossas. [...] O produto europeu, comercializado na
Europa, não sofre tantas taxações, então eu me comparo ao
mercado americano na hora da formação de preços.
Inclusive tem muitas, várias vezes quando a coleção
chegava, eu entrava em sites como o da Sacks [...] para
poder fazer uma idéia comparativa. Já aconteceu de a gente
ter produtos mais baratos do que nessas lojas...
Entrevistado da M3
[...] É um preço-base internacional. Evidentemente tem que
ir se regionalizando adicionando os impostos locais e tudo...
Entrevistado da M4:
Busca-se seguir um preço, um preço de margem mundial
mais impostos locais. Aí que está a grande diferença. Nossa
carga tributária tende a encarecer em muito, em muito. Isso
é um grande problema. Então, é uma política de margem
bruta mundial em que você tende a colocar a carga de
imposto de um país.
Entrevistado da M5
Na realidade, quem define o preço são eles. Tá? A gente
recebe uma lista com o... Logicamente que eles fazem uma
conversão do euro [...] você tem todos os impostos.
101
Uma das características bem específicas do mercado brasileiro é a questão do
parcelamento das compras. Praticamente todos os entrevistados citaram que é
cultural e ao mesmo tempo uma vantagem em relação às lojas nos outros países.
Em geral as compras são parceladas em no máximo três vezes, podendo em
algumas vezes chegar a seis, dependendo do valor, de uma promoção com uma
bandeira de cartão de crédito ou em uma data específica, por exemplo, dia das
mães. As marca M1 e M2 citaram que 80% de suas vendas são parceladas. Já, para
a marca M7, 70% das vendas são parceladas. As demais não citaram este
percentual tão elevado.
Entrevistado da M1
Cinco vezes, se eu não me engano [...] 80% das compras é
parcelado [...] É cultural, né?[...] Sempre foi assim. É, virou
parte da cultura brasileira. É por isso que o Brasil está com
uma dívida pública enorme .[risos]
Entrevistado da M2
É cultural. 80% lá, das vendas, são feitas... Eu não sei esse
número exato, mas é praticamente isso. Se não for até
mais, se não for até mais.
Entrevistado da M3
É, existe um parcelamento de 3 vezes. Não existe
parcelamento em 500 vezes...
Entrevistado da M4
É comprar um sonho em prestações. Isso é um fato, isso é
um fato. Isso se aplica para classe A, A+, A-, B... Isso é um
fato. Isso é uma cultura brasileira.
Entrevistado da M6
[...] até mil e quinhentos reais a gente divide em duas vezes;
a partir de mil e quinhentos reais a gente divide em três
vezes. Não se divide mais do que três vezes. Você pode
comprar sessenta mil reais, mas vai ser divido em três
parcelas de vinte.
Entrevistado da M7
[...] não é questão de as pessoas terem dinheiro ou não
terem, entendeu? Faz parte da cultura brasileira, não
adianta. Quer dizer, a gente oferece desconto à vista, mas a
maioria das pessoas prefere parcelar. [...] normalmente são
três vezes. [...] às vezes a gente faz uma promoção de uma
semana na época do Natal ou dia das mães, em dez vezes
num determinado cartão. Mas aí são coisas esporádicas,
não é regra. [...] deve ser em torno de 70%.
102
Já em relação à política de saldos, todos os entrevistados citaram que fazem
liquidações conforme o calendário brasileiro, à exceção da marca M3 que não a
realiza. Em geral o desconto é de 50%, porém algumas peças que são consideradas
“âncora” da marca nunca entram em liquidação, como uma forma de preservar o que
se chama ícone da marca. Já a marca M5, faz uma vez por ano uma liquidação
especial, com parte da renda destinada a alguma instituição de caridade.
Entrevistado da M1:
Nós fazemos liquidação duas vezes ao ano e sempre têm
produtos em promoção lá da coleção passada, produtos de
promoção. Todo ano tem promoção, não tem como ser.
Hoje em dia poucas marcas não fazem liquidação se for
pensar bem. [...] Não tem como não fazer.
Entrevistado da M3:
Não. [M3] é a única marca de luxo do mundo que não tem
descontos, outlet, nada. Quando termina uma coleção ou
quando uma linha é descontinuada, o que sobrou é
destruído.
Entrevistado da M4
Sim, sim. Algumas peças não entram em liquidação.
Sempre se busca não colocar as peças ícones, vamos
chamar assim, em liquidação. Produtos de coleção sempre
se coloca.
Entrevistado da M5:
Duas vezes por ano você tem uma liquidação normal, se faz
no mundo todo. [...] Uma ou duas vezes por ano se faz em
prol de alguma... instituição beneficente, né?
Entrevistado da M6
A gente só faz promoção em pré-liquidação e liquidação. E
isso é respeitado, inclusive o calendário internacional não é
feito promoção durante a temporada, nada disso. O [cita
peça ícone] nunca entra em liquidação. O que entra em
liquidação são os complementos. Isso é uma característica
da [M6] no mundo inteiro, que é o que também ajuda manter
a exclusividade.
Entrevistado da M7
A gente faz a liquidação normal, que é 50%, entendeu?
Janeiro e julho, época normal, [...] A gente não chega a
fazer na loja 80%. Isso não!
103
Sobre a divulgação das marcas, que para Solomon e Stuart (2002) significam as
atividades utilizadas para informar o consumidor atual e encorajar o potencial a
comprarem, são utilizados recursos como o atendimento personalizado, o envio de
mala direta para a base de clientes, a disposição de um vendedor para ir até a casa
do cliente. A marca M2 oferece presentes em ocasiões especiais para os maiores
clientes, tais como flores ou até mesmo uma roupa da coleção. Todas as marcas
citaram possuir um banco de dados de clientes próprio. Apenas a marca M4 citou
utilizar um banco de terceiros também. A marca M3 possui uma base de dados
internacional dos seus clientes que a utiliza para enviar convites de lançamento,
catálogos, comunicação da marca, entre outros. A marca M5 possui um mailing
de homens para enviar correspondência no dia das namoradas e das mães. O
desafio da M4 é como atrair aquele consumidor que não gosta de ser incomodado
em casa, mas quer ser lembrado pela marca. Para essa marca enviar catálogos ou
anúncios não é suficiente para passar toda a motivação de consumo para o cliente.
É necessário atraí-lo para a loja.
Quanto às formas de divulgação e publicidade, os entrevistados citaram que a
promoção de mídia é padronizada, ou seja, as marcas apenas reproduzem o que é
feito na matriz. Os meios ou canais utilizados são em geral os mesmos, ou seja,
aqueles que possuem o seu público-alvo através de anúncios ou editoriais de moda.
A marca M1 utiliza jornais, revistas e publicações especializadas, ex: Golf Life, Iate
Life. É a única dentre as entrevistadas que não utiliza endorsement de celebridades
(BEVERLAND, 2004).
Já as marcas M2 e M5 citaram as revistas como, Vogue, Daslu e Elle. No Brasil a
M2 tem obtido bons resultados com jornais, embora a matriz seja reticente em
relação a estes. Também enviam catálogos e realizam desfiles na loja para clientes
104
vips. Essa marca utiliza o endorsement de duas celebridades brasileiras. O
entrevistado citou que possui várias idéias independentes da matriz, mas consegue
colocar poucas em prática. A matriz tem o controle total sobre o que é feito com a
marca
Segundo o entrevistado da M2:
Entrevistado da M2
Tantas idéias que a gente teve, mas chega lá... Ou seja, se
não parte dele eu não tenho autorização para fazer aqui.
Idéia é o que não falta. [...] Ou seja, por mais idéias que a
gente tenha, o que a gente consegue colocar em prática
mesmo é muito pouco.
A campanha de marketing da marca M3 é mundial e acontece ao mesmo tempo em
todos os países. Também trabalha com celebridades que tenham afinidade com a
marca, mas que acima de tudo representem o perfil das consumidoras da marca. O
entrevistado da marca M4 informou que dispõe de pouca verba para divulgação,
dizendo que utiliza muito o apoio dos distribuidores de perfume da marca além de
fazer anúncio em algumas revistas e jornais e um trabalho corpo-a-corpo. A marca
M6 por ter um público diferenciado, procura manter um mix entre a mídia de luxo e a
mídia contemporâneo, preocupada em estimular novos veículos de comunicação.
Também realizam o endorsement de algumas celebridades que são vestidas pela
marca; as que combinem com a marca e que possuam credibilidade. Entretanto,
essa marca não empresta roupas para eventos e nem paga cachê para artistas.
O entrevistado da marca M7 também citou que a verba de publicidade é bem
restrita. A cada estação, faz-se um plano de mídia bem enxuto. Assim, considera
que a realização de eventos na própria loja com a presença de celebridades que
105
atraem o público, gera uma mídia espontânea. Além disso, utiliza-se o endorsement
de celebridades mediante o empréstimo de roupas para que participem de eventos e
festas .
A distribuição dos produtos é feita de duas formas: a marca M1 importa por
intermédio de uma trading. As demais marcas compram diretamente da matriz, sem
intermediários. Pode-se perceber em todas as entrevistas uma necessidade de
expressar que as marcas se preocupam com a importação dentro das leis e normas
brasileiras. Essa preocupação explícita pode ser justificada por dois motivos: o
primeiro, pelos diversos problemas de importação explorados na mídia nos últimos
tempos e segundo, e mais importante, pelo cuidado absoluto que a marca na matriz
tem em relação à sua reputação.
Entrevistado da M1
Nós importamos, nós temos uma trading que importa, a
gente importa diretamente da matriz, geralmente vem da
Espanha, faz as compras na Espanha, em Barcelona. Tem
sido assim há alguns anos já.
Entrevistado da M3
Não existem distribuidores, não existem franquias, não
existem licenças. [M3] é a única marca de luxo do mundo
em que todos os processos são controlados internamente.
Por isso eu lhe dizia que [M3] possui um controle absoluto
sobre tudo, produção, serviço ao cliente, e tudo...
Entrevistado da M5
É importado direto de [cita país]. A diretora vai quatro vezes
por ano, ela vai, faz as compras e as compras vão
chegando.
Entrevistado da M7
Tem um distribuidor que é para toda a América Latina.
Todas as lojas oferecem serviços adicionais gratuitos. As marcas M1, M3 e M5
oferecem garantia vitalícia de seus produtos, por exemplo, se uma bolsa comprada
apresentou problemas com cinco anos de existência, a empresa oferece o conserto
106
gratuito. Se não for possível consertar no Brasil, a peça é enviada para a matriz.
Além disso, todas oferecem pequenos consertos habituais, ajustes, visita de
vendedores e costureiros na casa do cliente bem como a entrega de roupa em casa.
A marca M1 oferece alguns produtos feitos sob medida que são feitos por artesões
na Europa. Já a marca M5 convida alguns clientes especiais para assistirem os
desfiles da coleção no país de origem. A marca M7 envia peças pelos correios mas
pode também enviar um vendedor e roupas de avião para onde esteja um cliente
muito especial. E por fim, para alguns clientes muito especiais, a marca faz uma
espécie de showroom em casa.
Entrevistado da M1
[...] alteramos as roupas caso o cliente engorde, emagreça,
nós consertamos, sabe? Tem um serviço completo, né?
Serviço de luxo. Já que o cliente gastou uma certa quantia
de dinheiro para comprar uma roupa.
Entrevistado da M2
[...] aqui, uma cliente, ela abre as portas da casa dela para
um vendedor meu entrar. Ou seja, um atendimento a
domicílio. É coisa que não existe no exterior. Elas gostam
disso, isso cria um diferencial porque ela tem um
atendimento privado, na casa dela, vip, onde ela pode fazer
essa questão do ´get together´ com aquilo que ela já tem,
porque para a gente isso é um gancho muito forte de venda.
Entrevistado da M3
Há alguns clientes muito importantes, para os quais existe
um serviço especial, não da maneira habitual. Esses
clientes exigem tal atendimento. Então fazemos uma visita
privada, um ‘showroom’ dentro da casa do cliente.
Entrevistado da M4
[...] Eventualmente, a peça se dá algum defeito, ele traz, a
gente arruma; se for algum defeito de fabricação troca por
uma outra peça. O pós-venda é feito, até para preservar. E
principalmente pela experiência da compra, né? Se a
pessoa gastou, desembolsou um montante nisso, ela espera
uma coisa especial. Então, não é somente uma compra,
uma compra é uma experiência satisfatória. Se você tem
uma experiência desgastante, você perde o cliente
facilmente.
107
Entrevistado da M5:
Então, para as clientes... Logicamente você tem “as
clientes” para quem você manda roupa, não é para todo
mundo, né? Tem algumas clientes especiais. Que mais?
Você tem... Produto específico, especial... Cliente que tem a
roupa há dez anos que vem aqui para consertar, entendeu?
[...] A manutenção é eterna, tá?
Entrevistado da M6
Absolutamente todos que a gente acredita que possam
gerar conforto para o nosso consumidor [...] Porque a gente
quer que haja um espírito de equipe e que cada pessoa que
entre na loja comprando ou não, sinta-se bem na loja.
Então, isso é uma coisa que é fundamental, vai gerar
conforto para o nosso cliente. Fora isso, absolutamente
todos os serviços que a gente possa oferecer para gerar
conforto para os nossos clientes: do cafezinho à arara na
sua casa.
Sobre as características de um vendedor de produtos de luxo todas as marcas
citaram em comum dois pontos: i) a necessidade do vendedor estar bem informado
sobre diversos assuntos atuais, ou seja, ter um bom nível cultural e ii) a identificação
com moda em especial com a marca que está representando. Não necessariamente
precisa ter nível superior, tampouco o conhecimento de uma segunda língua. O
entrevistado da marca M5 citou a necessidade do cuidado com o cliente, mesmo que
o mesmo não compre nada e o da marca M3 foi o único a citar como fator primordial,
gostar de vender. Já para a marca M4 é importante a experiência de se trabalhar
com produtos de luxo, para não se assustar, por exemplo, com a venda de uma
única peça que signifique mais do que ele ganha às vezes num mês de trabalho.
Para a M6 o comportamento do seu vendedor está direcionado para indicar uma
roupa que fique bem no cliente e não apenas para fechar uma venda. Essa marca
prefere vendedores sem experiência prévia para poder os aculturar de acordo com
as características da marca.
108
Entrevistado da M1
Bom, geralmente ele é bilíngüe, né? Ele tem nível que
consegue conversar com um cliente, ele entende o produto
de cabo a rabo. Ele sabe explicar os detalhes de alguns
tecidos, sabe explicar os detalhes do corte, tem uma
simpatia inata, né? [..] Geralmente tem, eles cursam
superior. Não dá para generalizar, às vezes a pessoa não
tem formação superior e tem um nível bom, né?
Entrevistado da M2:
Antes de mais nada, Luciana, eu gosto de um vendedor que
tenha identificação com a marca. Isso para mim é o ponto
de partida para a contratação de um vendedor, né? [...]Eu
não coloco um pré-requisito de que fale um outro idioma,
porque eu não atendo um volume muito grande de turistas e
tal. Mas o que é que eu coloco no perfil de uma pessoa que
saiba falar um outro idioma? É uma pessoa “antenada” com
o mundo lá fora. [...]E uma pessoa muito informada, assim,
que também não importa, pode ser até em futebol! [...]Isso é
importante! Para eles é assunto com o cliente. Para não
ficar aquela coisa muito... simplesmente “estou vendendo”.
Não, eu não estou só vendendo, eu estou te dando atenção,
eu estou cuidando de você, eu sei o que está acontecendo.
[...]Eu não contrato ninguém de fora para gerenciar uma loja
porque acho que tem aquela coisa da cultura corporativa
que você só aprende, que você só absorve mesmo se você
está há muitos anos na empresa. E tem que estar reciclando
esse funcionário, porque também tem o contraponto disso,
né?
Entrevistado da M3:
[...] o principal ponto é se sentir orgulhoso de vender [M3],
de gostar da marca, da sua história, da qualidade, sua
aparição, da sua abordagem, ter a capacidade para
distinguir e valorizar um produto, apreciar um produto e
conhecer suas as características de design, cores, etc. Tudo
isso ajuda na hora da venda.
Entrevistado da M4
[...] Ele tem que ter uma base de conhecimento [...] não
pode ficar assustado com o que ele está vendendo. Ele não
pode saber que ele vendeu uma peça mais cara que o
salário dele e isso intimidar. [...] Buscando sempre uma
pessoa bilíngüe, [...] do mesmo nível do cliente, isso é um
outro desafio também. A pessoa poder lidar com o olho no
olho do cliente, saber, saber da moda, saber da cultura,
saber indicar um cinema, uma peça. Isso é importante.
Infelizmente é muito difícil conseguir isso, é muito
complicado no Brasil. [...] um vendedor, ao contrário no
exterior que é visto como uma carreira, no Brasil é visto
como uma carreira temporária: ‘Não dei certo, vou ser
vendedor’.
109
Entrevistado da M5
Antes de tudo, um vendedor... Ter o conhecimento de moda,
ser uma pessoa informada num todo, né? Porque pra você
conversar com a cliente você precisa de conhecimento
geral. Você não precisa ser necessariamente bonita, mas
você tem que ter uma boa aparência. Você tem que – não
vou dizer que falar inglês, porque o inglês é básico, hoje em
dia mexer em computador e falar inglês são coisas básicas,
entendeu? Então, você tem que ser uma pessoa que esteja
acostumada a trabalhar com produto de luxo [...]
Entrevistado da M6:
O jovem bonito, descolado, uma pessoa que tem estilo e,
portanto, possa direcionar a venda de forma que o cliente
saia da loja e realmente use aquela roupa. Não é só “bater”
cota. E a gente tenta buscar vendedores que não tenham
experiência prévia. Para que sejam treinados por nós e
tenham a nossa identidade, a nossa forma de vender. E não
venham com fórmulas pré-estabelecidas por outras marcas.
Entrevistado da M7
[...] essa coisa da venda é uma coisa que tem que estar
realmente na alma da pessoa, né? E isso que é o mais
difícil, eu acho. Pessoas que tenham um nível cultural bom,
que falem uma segunda língua e que tenham essa coisa da
venda mesmo. [...] Tem todo um procedimento para atender
um cliente que tem que ser igual para todo mundo. [...] Não
pode entrar aqui e comprar o que for, nem que seja um
chaveiro, e sentir como se estivesse ido a Lojas
Americanas. Sabe? Tem que sentir que veio na M7, que
teve um atendimento condizente.
4.4 ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA
Foi questionado como os entrevistados viam a concorrência, se ela existia e quem
eram os concorrentes mais próximos. À exceção da marca M6, cujo entrevistado
disse que esta não se preocupa com a concorrência, todos os outros citaram
principalmente a concorrência de marcas de luxo internacionais. As marcas M3, M4
acreditam que existem marcas nacionais que concorram com elas. O entrevistado da
M7 afirmou que para o mesmo segmento de produtos, a marca Daslu é considerada
como sua concorrente.
110
Entrevistado da M1
Eu acho que a minha concorrência está fora do Brasil. [...]
Mas aqui no Brasil não tem, né? Então, por enquanto a
gente está um pouco tranqüilo [...] Mas a concorrência é
boa, porque cria uma cultura de... clássica, eu acho.
Entrevistado da M2
Então não tem concorrente. Ou seja, uma cliente, ela não
deixa de comprar [cita M2] para comprar uma outra marca.
Ela pode comprar outra marca, mas compra [M2] também.
[...] Então eu não vejo assim outra marca no Brasil que
concorra com [M2]. É outro perfil de cliente.
Entrevistado da M3
Olha, depende do segmento: existem muitos concorrentes,
mas depende do segmento e das categorias...Onde se tem
a mesma categoria tem-se vários competidores dependendo
do estilo [...]Depende se o tipo de produto que ele está
manejando e posicionamento, por exemplo preço e cliente é
o mesmo que o meu. Por exemplo, se eu tenho uma cliente
X que vai ao shopping comprar uma bolsa, de determinado
modelo, preço, etc, e tem-se a opção de [M3] ou [cita marca
nacional], ou quem quer que seja, sim, é meu concorrente.
Entrevistado da M4
Segmentando os clientes, você tem clientes concorrendo
para aquele atendimento. O cliente de liquidação, se ele
comprar liquidação, ele compara com todas as outras
marcas. Espera a liquidação. E quem primeiro inicia uma
liquidação é quem mais vende.
Entrevistado da M6
[...] a gente está preocupado com o nosso trabalho, em criar
uma identidade própria e não com o que está sendo feito no
mercado.
Entrevistado da M7
Eu acho assim, os principais concorrentes de, assim,
principalmente, por exemplo, nesse segmento de [produto] e
tal, eu acho que hoje é [cita marcas internacionais] são os
principais. [...] Daslu. Sim, sem dúvida.
Para facilitar ao leitor a visualização do que foi revelado pela análise procedida
acima, elaborou-se um quadro (Quadro 4) com as categorizações e os resultados
mais significativos. Os pontos considerados comuns foram encontrados na maioria
das marcas e os específicos em uma ou outra marca. É importante considerar a
subjetividade na identificação dos pontos comuns, para palavras que possuíam ou
111
queriam dizer a mesma coisa. As informações completas se encontram ao final
dessa dissertação sobre a denominação Matriz de Amarração (Apêndice C).
Categorias de análise
Pontos
em comum
Pontos específicos
Conceito de Luxo
Marca forte, exclusividade, design,
qualidade excelente, tradição,
sofisticação, distribuição seletiva,
alta desejabilidade
Credibilidade do designer;
estrutura de produção, peças
únicas, uso de materiais nobres e
não ostentador; distribuição
controlada, alto preço
Marca de Luxo
Qualidade, durabilidade, design,
tradição, exclusividade, moda, arte.
Atemporalidade; sofisticação,
marca reverencia um estilo de
vida
Conceito da própria marca
Qualidade, durabilidade, qualidade
da matéria-prima e do acabamento,
equipe responsável, atemporal,
sólida, sofisticação, tradição,
produtos diferenciados, peças
exclusivas.
Elegante, artesanal, estampas
fortes, sensualidade; a logomarca
como parte do produto.
Semiótica
Auto-estima, autoconfiança,
credibilidade, poder, elegância,
sofisticação, status, satisfação
pessoal, seletividade, o pertencer a
este clube.
Segurança de não errar no
figurino, sensualidade e glamour,
juventude, cool, cult; transgressão.
Além da qualidade, saber que está
levando um produto duradouro;
alguns levam o design.
Ambiente de venda
Arquitetura padrão em todas as
lojas, decoração, iluminação ,
opção de produtos, sonorização,
ambiente confortável
Música ambiente mais animada
para quebrar a formalidade;
aspecto jovem; decoração
minimalista; tudo é perfeito, mas
nada aparece mais do que a
coleção; a atitude da cliente é mais
forte que a arquitetura;
atendimento em si
Perfil dos clientes
público masculino, feminino, mulher
“sexy”, mulher comportada, jovens,
pessoas mais velhas
forte influência da mulher na
decisão da compra; os clientes
homens são mais fiéis ; público
feminino é momentâneo; pertencer
a uma ‘‘tribo”
Peculiaridade de consumo
Não vendem roupas muito coloridas
; Difícil sair roupas marrom e verde;
Acha brasileiro muito consumista e
focado no que está na moda;
Mulher basileira valoriza antes de
tudo a sensualidade; exigente
quanto ao atendimento
Homem brasileiro não tem
costume de usar terno em um
jantar; influenciado pelas roupas
da novela, da moda; roupas de frio
não saem muito..cor como o verde
e amarelo por conta da associação
com a bandeira brasileira
Disponibilidade dos
produtos
04 coleções (pré-verão e verão,
pré-inverno e inverno); Não se
compra uma grade inteira - são
feitas adaptações para o nosso
mercado - clima, tecidos,
disponibilidade de produtos. Ouve
clientes, vendedores, análise de
outros mercados.
A coleção oferecida aqui é
exatamente a mesma que está nas
lojas dos outros países.
Tendência da marca de fazer
produtos que se adequam ao
mesmo tempo ao verão daqui
112
Produtos mais vendidos
Ternos, Acessórios, Bolsas, Calça
Jeans.
gravata, vestidos, sapatos têm
crescido muito. Relação de venda
entre acessório e roupa no Brasil é
um dos maiores do mundo na
marca (50%), depois vêm roupas
femininas e masculinas.
Base de preços
Matriz + encargos de importação +
encargos internos + mark-up.
A margem se faz por meio de
benchmarking de preços no
mercado americano; Procuram
estar dentro da conformidade
absoluta, mesmo que demore para
não envolver a marca em
nenhuma situação delicada que
comprometa sua credibilidade
Parcelamento
Parcelamento em cinco vezes, para
compras à vista, o desconto é
mínimo. Parcelamento de três a
seis vezes; Parcelamento em no
máximo três vezes, independente
do valor.
Considera cultural e ao mesmo
tempo uma vantagem comparada
com a compra feita no exterior/ Em
datas especiais (dia das mães, dos
namorados), há promoção para
maior parcelamento ainda. Às
vezes promoção com determinada
bandeira de cartão para
pagamento em 10 vezes.
Liquidações
Normal como no calendário
brasileiro de liquidações (janeiro e
julho); duas vezes por ano existe
uma liquidação normal que se faz
no mundo todo. / Liquidação normal
(janeiro e julho), descontos de 50%.
Algumas peças não entram em
liquidação nunca
Há produtos em promoção sempre
disponíveis.Liquida apenas a
coleção passada/ E uma ou duas
vezes por ano também faz-se uma
liquidação em prol de alguma
instituição beneficiente, com
produtos que sobraram das
coleções anteriores
Manutenção dos clientes
Atendimento Personalizado; Envio
de mala direta para base de
clientes; Vai até a residência do
cliente, analisa o guarda-roupa,
sugere combinações. Oferece
sempre a última coleção disponível
na matriz; Presentes de natal,
aniversário que podem ser flores ou
produtos da loja.
Tem um mailing só de homens
para enviar em época de dias de
namorados, mães, etc . O desafio
manter reside na conquista do
cliente. Ele não quer ser
incomodado, mas ao mesmo
tempo quer ser lembrado.
Divulgação
Jornais, revistas e publicações
especializadas, ex: Golf Life, Iate
Life, Daslu, Elle, Vogue. Envio de
catálogos, não se usa televisão.
Uso de endorsements de
celebridades
Tem várias idéias independentes
da matriz, mas consegue colocar
poucas em prática; A verba de
publicidade é bem restrita; Não se
usa celebridades (uma marca
apenas).
Distribuição
Direto da matriz, sem
intermediários; Há um distribuidor
para toda a América Latina, mas as
compras são feitas na matriz;
Importação direta. Não existem
distribuidores, franquias, licenças.
"É a única marca de luxo do
mundo em que todos os processos
são controlados internamente"
Serviços Complementares
Consertos, ajustes gratuitos -
garantia vitalícia ; Visita do
vendedor, costureira na casa do
comprador; entrega de roupas em
casa
Produto sob medida feita por
artesãos na Suiça; convite para
assistir desfiles em Paris; Parceria
para atender aos clientes em
hotéis, Envio de mercadorias via
correios. Em casos mais raros, a
vendedora viaja de avião para
levar produtos.
113
Vendedor
Bilíngue; Nível Cultural bom; estar
bem informado sobre vários
assuntos; ouvir o cliente;
identificação com a marca; boa
aparência, Ter um sentimento de
cuidado com o cliente, mesmo o
que não compre; conhecimento de
moda.
Não necessariamente nível
superior de formação; entender
produto , simpatia inata; 50%
homens, 50% mulheres; Gostar de
vender e não ter a profissão
apenas como "bico"; acostumada a
trabalhar com produtos de luxo.
Não se assustar com o preço dos
produtos
Concorrência
Em termos de monomarca, não.
Mas há as lojas multimarcas ou
lojas unissex que vendem algumas
peças da marca; Mas acha que de
fato a concorrência dele está no
exterior. /Não tem concorrente.
Considera ter concorrência na
liquidação pois o cliente compara
com todas as marcas;
Nacionalmente, considera um
concorrente quando o cliente
procurar por modelo ou preço
equivalente.
Quadro 4: Resumo das características-chave das marcas de luxo entrevistadas
Fonte: Elaborado pela autora
114
5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Com o objetivo de que as conclusões desta dissertação sejam passíveis de uma
confiabilidade e validade mínimas, por meio da interpretação e compreensão
corretas do que foi proposto, é necessário indicar algumas limitações do estudo.
A primeira é a limitação da amostra dos entrevistados, tendo em vista a
impossibilidade de serem entrevistados todos os executivos das marcas existentes
de produtos desse segmento, indicadas na Introdução. Apesar de desejável, tanto os
recursos disponíveis como o prazo para a entrega dessa dissertação foram decisivos
para isso.
Deve-se considerar também eventuais distorções do discurso dos entrevistados, que
ao tentar proteger-se ou proteger sua marca, podem efetuar citações que se não
enganadoras, podem comprometer o resultado final. De qualquer forma, foram
tomados todos os cuidados para que as transcrições das entrevistas fossem feitas
com a maior fidedignidade possível. Tal procedimento pode minimizar as fraquezas
do método (BAWER; GASKELL, 2002).
Outro fator limitante está relacionado ao modelo dos negócios das marcas. Como
são representações, franquias ou filiais, o controle é feito pela matriz, fato este que
impediu uma análise de maior abrangência sobre questões estratégicas das marcas,
acabando por se considerar apenas a sua atuação no Brasil.
Convém relembrar que todas as lojas são exclusivas da marca que representam, ou
seja, não vendem produtos de outras marcas. Assim, de acordo com Nueno e
115
Quelch (1998), não é possível testar as estratégias da marca com a de outras dentro
do mesmo espaço. Estes autores citam o fato de que alguns consumidores gostam
de comparar marcas, oportunidade que têm quando compram em lojas multimarcas,
porém no Brasil, isso só é possível com as marcas M1 e M6 que possuem alguns
produtos em lojas multimarcas.
Um terceiro fator limitante é a própria natureza exploratória da pesquisa que permitiu
apenas a aplicação do método qualitativo, cujos protocolos para assegurarem um
mínimo de confiabilidade e validade são ainda de difícil demonstração. De qualquer
maneira, o roteiro das entrevistas foi submetido previamente aos membros da banca
no Exame de Qualificação do projeto de pesquisa para esta dissertação e feito um
pré-teste conforme mencionado no capítulo sobre os procedimentos metodológicos.
Há de se observar que os resultados obtidos não permitem extrapolações ou
generalizações para outras situações ou segmentos diferenciados, valendo
unicamente para as situações analisadas, servindo, no entanto, como um
fundamento para novas pesquisas sobre o tema.
116
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reportando-se aos objetivos pré-determinados, a pesquisa propiciou a identificação
de aspectos de relevância que possibilitarão a elaboração das considerações a
seguir.
Com relação ao primeiro objetivo específico, de se conhecer os conceitos e
atributos de roupas e acessórios de luxo do ponto de vista dos entrevistados,
obtiveram-se os aprendizados a seguir comentados.
Primeiramente constatou-se que o conceito dos executivos da amostra sobre o que
seja um produto de luxo difere muito pouco de uma marca para outra. As definições
mais utilizadas foram de produtos que possuem uma marca forte, de exclusividade
a poucos, produtos de design, qualidade excelente, tradição da marca,
sofisticação, distribuição seletiva e alta desejabilidade. Curiosamente, apenas
um entrevistado citou o fator preço alto como característica de um produto de luxo.
Pode-se assumir que as características citadas pressupõem um preço alto ao final
da produção, como comentado por um dos entrevistados.
Um aspecto que surgiu com muita intensidade é que a definição sobre um produto
de luxo confunde-se muito com os atributos de uma marca de luxo. Talvez isso
ocorra porque os atributos, muitos deles, sejam suficientemente fortes para serem
associados a algumas necessidades das pessoas.
Por outro lado, quando questionados sobre as características das suas próprias
marcas houve uma defesa de forma mais abrangente envolvendo atributos como
117
qualidade, durabilidade, qualidade da matéria-prima e do acabamento, equipe
responsável, atemporalidade, solidez, sofisticação, tradição, produtos diferenciados,
peças exclusivas. Mais uma vez, nenhum dos entrevistados citou o preço nem a
clientela como elementos constituintes de sua marca, apesar de serem
determinantes de uma marca de luxo conforme citado por Mckinsey (1990); Nueno e
Quelch, (1998); Vigneron e Johnsson (2004); Beverland (2004); Roux (2003) e
Castaréde (2005).
Com relação ao segundo objetivo específico de se entender como são
caracterizados os clientes desses produtos quanto ao seu comportamento de
consumo, têm-se os seguintes destaques:
Reiterando, a entrevista abrangeu apenas questões relacionadas ao perfil
sociográfico dos clientes. Assim, não foi identificada nenhuma característica que os
diferenciem claramente de outros tipos de consumidores a não ser o fato que estes
possuem alta renda e serem mais exigentes. Cada marca possui uma segmentação-
alvo - público masculino, feminino, mulher sexy, mulher comportada, jovens,
pessoas mais velhas. Em uma das entrevistas foi citada a forte influência da mulher
na decisão de compra (KOTLER, 1993), e que de uma forma geral, os clientes
homens são mais fiéis a uma marca e que o público feminino é momentâneo. Em
apenas uma das marcas percebeu-se existir uma forte identidade entre o público
consumidor – uma espécie de tribo, à qual um cliente aspira pertencer quando
adquire seus produtos.
Uma das interpretações que se pode tirar aqui é que os clientes quando adquirem
um produto de luxo, não compram apenas um produto físico, mas compram
118
componentes simbólicos e hedônicos para atender necessidades variadas tais como
a auto-estima, autoconfiança, a credibilidade, poder, elegância, sofisticação, status,
a seletividade, o pertencer a um clube. Isso corrobora a afirmação de Vigneron e
Johnson (2004) de que o consumo de marcas de luxo pode ser importante para os
indivíduos que buscam um reconhecimento e posicionamento social.
Foram evidenciados comportamentos peculiares de compra que são observados
apenas no mercado brasileiro como algumas cores que têm pouca saída, assim
como o fato do brasileiro valorizar as tendências de moda e em especial a mulher
brasileira, valorizar a sensualidade das peças. Isso acarreta algumas dificuldades,
por exemplo, adaptar peças de padronagem européia, que nem sempre valoriza as
formas para o contexto brasileiro.
Com relação ao ambiente da venda dos produtos de luxo aparentemente não são
considerados fundamentais na decisão de compra, embora todas as marcas tenham
uma preocupação muito grande em criar um ambiente confortável que permita uma
experiência de compra agradável. O fato das lojas serem padronizadas no mundo
todo, faz com que os clientes, que já conhecem a marca no exterior, sintam-se
familiarizados com o contexto. Pelas entrevistas ficou evidente que o diferencial está
no atendimento dos vendedores e no parcelamento das compras, algo que não
existe em outro lugar.
Quanto ao terceiro objetivo específico, de se identificar o composto de marketing e
serviços complementares oferecidos ao cliente dos produtos de luxo, as
considerações são as que seguem.
119
Com exceção de uma ou outra nuance, pôde-se perceber uma preocupação muito
maior em zelar pela marca que representa do que necessariamente aumentar
market-share que, conforme Schnaars (1998) é uma das finalidades do marketing
estratégico. Pode-se justificar essa atitude pelo fato das marcas ainda estarem em
desenvolvimento no Brasil e por serem representações, franquias ou filiais das
matrizes, não possui autonomia para tomar decisões mais ousadas no próprio
mercado.
Verificou-se, no entanto, que duas das marcas estão atentas sobre as necessidades
do mercado, procurando o desenvolvimento de conceitos e adaptação dos produtos
destinados a uma segmentação específica de clientes. Isso pode ser explicado pelo
fato de que uma delas seja a mais jovem de todas as entrevistadas (completa 30
anos em 2007) e a outra marca, embora tenha mais de 100 anos de história, esteja
se reposicionando mundialmente após uma série de insucessos na administração de
sua marca ao longo de sua história.
Em relação à disponibilidade de produtos ao mercado brasileiro, observou-se que a
escolha é feita de acordo com o conhecimento dos clientes, a experiência dos
vendedores, a adaptabilidade das peças ao clima e ao gosto local. Atualmente,
procura-se adquirir peças cujo tecido seja o diferencial. Esse faz com que uma peça
possa ser usada aqui e em outro país, independente do clima. Todas as marcas
trabalham com quatro coleções anuais, mas somente uma das marcas comercializa
a mesma coleção disponível na Europa, a despeito da burocracia das importações.
De maneira geral, são comercializadas estações opostas. Para manter
exclusividade, as marcas não compram grandes lotes de uma mesma peça.
120
Quanto aos produtos mais vendidos, cada marca possui um reconhecimento por sua
tradição em um determinado produto: ternos, jeans, bolsas, vestidos, tecidos
especiais. Entretanto, isso não significa que estes sejam os mais vendidos, pois em
todas elas tem havido o crescimento de venda de produtos acessórios. Pode-se
assumir que produtos, tais como gravatas, lenços, cintos, chaveiros, entre peças em
geral com preço mais acessível, são adquiridos ocasionalmente. Isso aparentemente
corrobora a visão de Dubois e Laurent (1995) de que os acessórios são adquiridos
por clientes que não possuem recursos para adquirir uma peça de maior valor, mas
que desejam ter acesso ao mundo elitizado. Sob outro ponto de vista, pode-se
considerar que estes produtos estejam na linha do que Alléres (2000) chamou de
luxo “acessível”. De qualquer forma, as marcas são pressionadas a estarem atentas
ao equilíbrio entre a sua difusão e banalização, mantendo a exclusividade que é um
dos vetores da desejabilidade da marca (ROUX, 2005).
Uma das características bem marcantes do mercado dessas marcas no Brasil é a
questão do parcelamento das compras. Conclui-se que ela é cultural, independente
da classe social e, segundo os entrevistados, uma vantagem em relação às lojas dos
outros países. Apesar de não haver dados disponíveis para uma conclusão efetiva,
pode-se pressupor que o parcelamento represente 70 a 80% das vendas. Sobre o
estabelecimento dos preços das mercadorias, as lojas seguem uma política de
preços estabelecida pela matriz. Além do custo da mercadoria, inserem-se os
encargos de importação e o mark-up. Como o preço-base é definido via matriz, aqui
não há a inserção do chamado valor da exclusividade, citado por Groth e McDaniel
(1993). Supõe-se que isso seja feito na própria matriz.
121
Outro aspecto relevante observado é que todas as marcas fazem liquidação de suas
peças, à exceção apenas de uma delas, obedecendo ao calendário de saldos
brasileiros – janeiro e julho. Porém, para manter a exclusividade, algumas peças
ícones das marcas nunca entram em liquidação como uma maneira de respeitar os
clientes que já adquiriram um produto de sua marca. Com isso mantém-se a aura
de exclusividade e a elevada atratividade da marca.
De fato, as promoções ou liquidações, podem gerar alguns aspectos negativos para
as marcas, como estimular um hábito no consumidor de só comprar em épocas de
liquidação. Além disso, conforme a visão de Roux (2005), a promoção pode diminuir
a longo prazo a desejabilidade e, consequentemente, os lucros da marca. Por outro
lado, as promoções permitem a identificação da repetição da compra e fidelidade à
marca, além do que tipos específicos de promoção não alteram a qualidade
percebida do produto nem o valor da marca. Isso pode explicar o sucesso das
promoções feitas em épocas diferentes do calendário tradicional, com parte do lucro
revertido a instituições de caridade, como costuma fazer uma das marcas.
Sobre as formas de se administrar os clientes, todas as marcas mantêm um sistema
de cadastro próprio. Apenas uma delas opera também por meio de cadastro de
terceiros. Os clientes recebem catálogos, ligações de vendedores e até visita dos
mesmos, dependendo do seu poder de compra. Entretanto, cabe ressaltar o desafio
que é procurar ser lembrado pelo cliente ao mesmo tempo em que este não deseja
ser incomodado, por ligações, mailing e outros meios.
Todas as estratégias de exposição da marca são cuidadosamente trabalhadas. Não
se utiliza mídia televisiva, que por definição é veículo de massa. Prefere-se a
122
imprensa periódica, ou seja, as revistas focadas no público de padrão A e jornais de
grande circulação e do que está teoricamente fora da mídia, ou seja, as relações
públicas e os eventos. As peças de marketing são mundiais e geradas pela matriz
sendo apenas reproduzidas na filial. Um dos recursos utilizado por algumas marcas
é a realização de desfiles das coleções na sua própria loja ou algum espaço maior
convidando clientes vips e celebridades do meio artístico. Com exceção a uma das
marcas, todas as outras utilizam endorsements de celebridades (BEVERLAND,
2004), ou seja, vestem-nas com suas roupas e acessórios, seja frequentemente ou
em algum evento específico. Há uma preocupação muito grande com as escolha das
celebridades que utilizam as roupas de uma marca. Essa pessoa deve possuir uma
imagem congruente com a marca que irá representar.
Estas estratégias produzem efeitos produtivos na imagem, mesmo entre os não
consumidores, pois a mídia espontânea que é gerada com estes eventos faz com
que a marca seja lembrada e desejada quando aprovada socialmente
(BEVERLAND, 2004).
Percebeu-se também em todas as entrevistas uma necessidade de expressar que
as marcas se preocupam com a importação dentro das leis e normas brasileiras. As
importações, são feitas direto da matriz ou por intermédio de uma trade,
“absolutamente dentro de todas as normas brasileiras de importação” segundo
comentou um dos entrevistados.
Como forma de atender ao alto nível de exigência de sua clientela, todas as lojas
oferecem serviços adicionais gratuitos. Esses serviços variam desde a realização de
pequenos consertos e ajustes à manutenção permanente das peças e até a
123
montagem de uma espécie de showroom da marca na casa de clientes muito
especiais, ou seja, aqueles que podem efetuar grandes compras.
Nesse sentido, o serviço e a qualidade do pessoal de contato e de vendas tornam-se
vitais a este negócio (ROUX, 2005). Pela elevada exigência dos clientes, o vendedor
deve possuir algumas características especiais, como por exemplo, ser acolhedor,
ter bom nível cultural, saber ouvir seus clientes, fugindo do discurso de venda
padronizado. Também é importante um bom nível de escolaridade bem como o
conhecimento de línguas, embora a formação universitária não seja um requisito
fundamental. Merece consideração a discrição e a naturalidade necessária ao
vendedor, pois muitas vezes ele pode efetuar a venda de uma peça que
representaria a remuneração de um mês de seu trabalho.
Observou-se que existe uma carência de vendedores com esse perfil para o
mercado de trabalho de produtos de luxo, pois a cultura brasileira costuma assumir a
profissão de vendedor mais como transitória do algo mais profissional.
Em relação ao quarto objetivo específico, de se conhecer como se configura a
competição dessas marcas, as considerações relevantes são as que seguem.
Existe uma preocupação pouco significativa em relação à concorrência. Ao que
parece, estas marcas estão ainda numa fase de desenvolvimento do mercado.
Entretanto, quando era admitida alguma concorrência, esta necessariamente se
referia a uma outra marca de luxo. Os entrevistados não admitem que concorram
com marcas similares brasileiras, apenas uma marca citou a possibilidade dentro de
um contexto muito específico. É possível que com o maior desenvolvimento desses
124
produtos no mercado brasileiro, crie-se a necessidade de se observar melhor o
comportamento da concorrência. Todavia, parece existir alguma competição entre
elas quando das liquidações, efetuadas no mesmo período que os produtos normais
– janeiro e julho. Para um dos entrevistados, nesta época, o cliente compara
preços.
Por fim, respondendo ao problema geral de pesquisa que procurou compreender
as estratégias de marketing adotadas pelas empresas de luxo no segmento de
roupas e acessórios, ficou evidenciado que as estratégias das marcas de luxo são
bastante similares entre si e que se valem principalmente dos seus recursos internos
e de suas habilidades construídas há dezenas de anos (GRANT, 2001) e que são
reproduzidas nas suas filiais ou representações. Com pequenas nuances de atuação
ou até mesmo de disponibilidade financeira, todas estão focadas na reputação e
exclusividade da marca para consolidar o mercado. Algumas delas, por estarem há
mais tempo no país e por possuirem um direcionamento mais consolidado na matriz,
estão mais seguras de seus passos. Outras, estão explorando as potencialidades do
mercado com parcimônia. Percebeu-se uma busca por um tipo específico de cliente,
aquele de alta renda, muito embora, a intensa divulgação e interesse por tais
produtos gerados na mídia, cria um tipo de consumidor que nem sempre tem um alto
poder de compra, mas que consome produtos mais acessíveis como os acessórios,
aumentando a base de clientes aspirantes e potenciais da marca (DUBOIS ;
LAURENT, 1995). Isso talvez justifique a grande importância que os acessórios têm
para a visibilidade das marcas.
Igualmente, o fato de se parcelar as compras, em todas as marcas, é uma estratégia
que faz muito sucesso e que ampliou consideravelmente a base de clientes. Como
125
nas palavras de um dos entrevistados “[...] é a compra do sonho em prestações [...]”.
Como estratégia de marketing, além do tradicional anúncio e eventos, bastante
freqüente é o uso de endorsements de clientes considerados “celebridades” seja
através de empréstimo de roupas para ocasiões especiais ou para desfiles nas lojas,
o que gera uma procura intensa dos veículos especializados, produzindo uma mídia
espontânea e consequentemente uma massa crítica em relação às marcas.
Por fim, foi importante para a pesquisadora a compreensão do papel do marketing
no estudo e a compreensão da identidade e posicionamento de cada marca objeto
do estudo, bem como na identificação dos clientes e dos seus desejos e
comportamentos, assim como nas estratégias do composto de marketing e a
identificação da sua concorrência para os produtos considerados de luxo.
126
7 RECOMENDAÇÕES
Não obstante esta pesquisa ter definido quatro objetivos que foram tratados de
forma conjunta, cada um deles poderá ser eleito individualmente como tema de
novos estudos, porque o seu caráter exploratório não permitiu maiores
aprofundamentos.
Uma outra sugestão seria a de explorar a forma como diferentes segmentos de luxo,
tais como, hotelaria, jóias, perfumaria, meios de transporte, viagens, bebidas e
alimentação, artes, entre outros segmentos, executam suas estratégias de marketing
e de desenvolvimento de negócios. A despeito de compartilharem boa parte dos
significados existentes em produtos ou serviços desta natureza, há sempre algumas
nuances e diferenças que merecem ser identificadas.
Apesar de esta pesquisa ter se restringido às marcas internacionais, seria oportuno
e relevante realizar estudos sobre marcas nacionais que já possuem credibilidade
junto ao consumidor e que aspiram ingressar nesse mercado , a partir do referencial
identificado nesta dissertação.
Com relação às marcas objeto da pesquisa, percebeu-se que o seu mercado está
em crescimento continuado. Dadas as declarações de um dos entrevistados sobre a
maior fidelidade dos homens à marca, as empresas que possuem roupas e
acessórios masculinos, podem pensar em promoções especiais tais como desfiles
exclusivos e relações públicas especialmente para este público. Igualmente
interessante podem ser as relações públicas e comunicação com o segmento de
altos executivos, homens ou mulheres, pois muitos consumidores adquirem produtos
127
de luxo no intuito de aprimorar sua imagem profissional além de serem bons
formadores de opinião. A despeito do atendimento do vendedor ser considerado
muito bom quando comparado com outros países, ainda assim é importante que
estes vendedores sejam reciclados através de um treinamento específico, que
busque a superação da expectativa do cliente, de forma a fidelizá-lo pela agregação
de valor à relação pessoal que se estabeleça. Este treinamento pode envolver a
compreensão de características comportamentais, estilos, forma de se comunicar,
reações. Na medida em que se estabelece uma relação de atendimento, torna-se
fundamental que o vendedor tenha a sensibilidade e o preparo para identificar estes
fatores na personalidade do cliente e efetuar uma venda mais adequada
consolidando uma relação de confiabilidade, fundamental neste setor.
128
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135
APENDICES
Apêndice A – Conteúdo do e-mail enviado aos entrevistados
136
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CCSA - Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
EMPRESA
DIRETOR DE MARKETING (nome)
Caro Senhor,
Meu nome é Luciana e sou estudante do Mestrado em Administração da Universidade Mackenzie.
Seu contato me foi gentilmente fornecido pelo Carlos Ferreirinha que está acompanhando meu
projeto.
Estou desenvolvendo um estudo sobre as estratégias de marketing das empresas de luxo,
especificamente dos setores de vestuário e acessórios.
Gostaria de solicitar a autorização para entrevistá-lo ou os executivos de marketing de suas marcas
de forma a melhor qualificar meu projeto.
A entrevista tem aproximadamente uma hora de duração e é composta de questões abertas que
serão gravadas para facilitar a análise posterior, desde que o senhor concorde com este
procedimento.
Esta pesquisa, de caráter científico-acadêmico
, não tratará de resultados de venda nem tampouco
financeiros, concentrando-se na opinião dos entrevistados sobre questões ligadas ao marketing
específico para cada marca.
Para efeito de elaboração de relatório final da pesquisa, e a sua posterior divulgação, não serão
identificados os nomes dos entrevistados. Quanto ao nome das empresas, poderão ser divulgados,
se o senhor autorizar.
Espero contar com a sua aprovação. Meu prazo para esta pesquisa é até 20/11 em horário que for
melhor conveniente para a sua empresa.
Fico à sua disposição para quaisquer esclarecimentos prévios que considerar necessários, através
deste e-mail ou pelo celular (11) XXXX.XXXX.
Cordialmente,
Luciana Pianaro
Mestranda em Administração
137
Apêndice B – Modelo de Roteiro
138
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CCSA - Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Prezado Senhor,
Com este roteiro, pretende-se levantar informações a respeito das estratégias de
marketing das empresas comercializadoras de produtos de luxo.
Esta pesquisa, de caráter científico-acadêmico, não tratará de resultados de venda
nem tampouco financeiros, concentrando-se na opinião dos entrevistados sobre
questões ligadas ao marketing específico para sua marca.
Para efeito de elaboração de relatório final da pesquisa, e a sua posterior
divulgação, não serão identificados os nomes dos entrevistados. Quanto ao nome da
empresa, poderá ser divulgado, se o senhor autorizar.
São quatro objetivos a se conhecer na sua empresa:
1. Conhecer os conceitos e atributos de roupas e acessórios de luxo;
2. Entender o comportamento de consumo dos clientes da marca;
3. Identificar práticas de fixação de preços, modelos de distribuição,
merchandising, mídia, relações públicas e serviços adicionais oferecidos ao cliente;
4. Conhecer como se configura a competição neste segmento
Parte I – Informações sobre a Empresa
Nome da Empresa:
Ano de instalação no Brasil:
Número de Lojas no Brasil:
Entrevistado:
Cargo :
Formação: ___________________________________________________
Autoriza divulgação do nome da empresa? ( ) Sim ( ) Não
Autoriza a gravação da entrevista? ( ) Sim ( ) Não
QUESTÕES
139
Sobre os conceitos e atributos dos produtos de luxo
1. Qual o seu conceito sobre produtos de luxo?
2. Quais as características de uma marca de luxo?
3. Quais são as principais características da sua marca?
4. Sabe-se que os produtos de luxo são provavelmente objetos mais repletos de
significado dentro da cultura material. Na sua visão, quais seriam estes significados?
Sobre comportamento do consumidor
5. Quem é o cliente da sua marca e quais são as suas características?
6. Na sua opinião, quando o cliente compra um produto da sua loja, além do
valor tangível, o que mais ele leva para casa?
7. O que tem sido feito para manter e conquistar seus clientes? Vocês possuem
algum sistema de informações sobre eles? Como isso é trabalhado?
8. Que outros fatores dentro da loja influenciam a compra?
9. Existe alguma peculiaridade de consumo observada apenas no mercado
brasileiro?
Sobre a estratégia de marketing
10. Com base em que informações foi tomada a decisão de entrar no mercado
local?
11. Em relação aos produtos disponíveis, como é feita a escolha para o mercado
local? Quantas trocas de coleções acontecem por ano?
12. Quais são os produtos mais vendidos?
13. O preço dos produtos é estabelecido com base em quê?
14. Existe o parcelamento de compras? Qual o percentual médio de compras à
vista e à crédito no faturamento total?
15. Quais são as formas de divulgação e promoção da marca no Brasil? Ela é a
mesma no mundo todo?
16. Como é feito o fornecimento de produtos para a loja? Vêm direto da matriz, de
um distribuidor?
17. Que tipos de serviços (adicionais) são oferecido por sua loja e como isso é
feito? No que eles diferem em relação à concorrência?
18. Quais são as características de um vendedor de produtos da sua marca ?
Sobre a configuração da competição
19. Na sua opinião, quem seriam os concorrentes da sua marca no Brasil? Como
eles atuam?
140
Apêndice C – Matriz de amarração
141
Objetivos
Específicos
Conceitos-Chave
Referencial Teórico
Questões Pontos em comum
Pontos
específicos
1. Conhecer os
conceitos e
atributos das
roupas e
acessórios em
couro de luxo do
ponto de vista dos
entrevistados
Conceitos
É luxuoso tudo o que é raro, que não é nem
comum nem usual. A raridade e a escassez constitui-
se em um fenômeno subjetivo que justifica o
diferencial de preço (CASTARÉDE, 2005)
É um conceito pessoal, relativo e idiossincrático e
que os produtos de luxo envolvem componentes
simbólicos, hedônicos, de cognição e necessidades
variadas (DUBOIS; LAURENT, 1994)
Possui excelente qualidade e durabilidade, status
de bom gosto, refinamento, alto preço, escassez e
exclusividade, forte apelo estético, tradição, história e
lenda ( DUBOIS, LAURENT; CZELLAR (2002);
LOMBARD, 1989); ALLÉRES, 2000)
Marca reconhecida no mundo e adquiridos por uma
clientela especial (LOMBARD, 1989)
Uma distribuição seletiva, elegante e refinada; uma
comunicação de qualidade, bela e seletiva; preços
mais elevados do que a média de preços de produtos
de uso substituível (ALLÉRES, 2000)
Envolve qualificativos da perfeição, em todos os
níveis de sua existência até seu itinerário (ALLÉRES,
2000)
Um objeto de luxo corresponder a uma abordagem
personalizada; ser tecnicamente perfeito; ser
esteticamente belo (CASTARÉDE, 2005)
Luxo pode ser classificado como acessível,
intermediário e inacessível.
1. Qual seu
conceito sobre
Produtos de
luxo,
especificamente
para os quais
representa?
Produtos que possuem uma
marca forte, exclusividade, design,
qualidade excelente; tradição;
sofisticação; distribuição seletiva,
alta desejabilidade
Credibilidade do
designer; estrutura de
produção, peças
únicas, uso de
materiais nobres e não
ostentador.
Distribuição
controlada.
Conceito de luxo ficou
banalizado no país
devido às diferenças
financeiras.
142
Significado
Um OL é “um produto mais um grupo de
representações (produto ou serviço): imagens,
conceitos, sensações que são associadas a ele pelo
consumidor” (ROUX, 2005).
Os consumidores primeiramente buscam
significados simbólicos (DUBOIS; DEQUESNE,
1993:37)
O valor de um objeto de luxo não deriva de sua
utilidade, mas dos benefícios adicionais que ele
proporciona (DUBOIS; LAURENT; CZELLAR 2002)
Apelam à subjetividade das preferências, a certa
irracionalidade dos seus utilizadores, agradando ao
mesmo tempo um ego e um desejo social, mas
adquirem mistério e poder simbólico e de signo
(ALLÉRES, 2005)
Quanto mais os objetos apelam à irracionalidade
dos consumidores, a seu narcisismo, mais os
símbolos são numerosos e difíceis de delimitar.
(ALLÉRÈS, 2000:51)
Permitem a um consumidor: “expressar o seu
próprio self , um self ideal ou uma dimensão
específica de um self” através do seu uso
(VIGNERON; JOHNSON 2004: 484)
A aquisição e consumo de produtos de luxo serve
para gratificar a si mesmos mais do que para
impressionar os outros (DUBOIS; LAURENT 1996)
Dubois e Paternault (1995) defendem que as
marcas de luxo são compradas mais pelo que elas
significam e menos pelo que elas são.
os produtos de luxo permitem aos consumidores
satisfazer necessidades psicológicas e funcionais e
parece que os benefícios psicológicos são os
principais fatores que os distinguem dos produtos não
luxuosos (KAPFERER; JOHNSON , 2004: 486)
Os produtos mais carregados de emoções, de
desejos , que têm por finalidade principal fazer
2. Sabe-se que
os produtos de
luxo são
provavelmente
objetos mais
repletos de
significado
dentro da
cultura material.
Na sua visão,
quais seriam
estes
significados
para o cliente
da sua marca?
Auto-estima; autoconfiança;
credibilidade, poder, elegância,
sofisticação, status, satisfação
pessoal, seletividade, o pertencer
a este clube
Segurança de não
errar no figurino,
sensualidade e
glamour, juventude,
cool, cult . De certa
forma um transgressor.
algo da tradição
britânica do "sangue
azul", além da
qualidade, sabe que
está levando um
produto duradouro;
alguns levam o design,
143
funcionar uma série de associações afetivas e de
imagens, são vendidos no mundo inteiro. Luxo,
distinção e objetos em série coexistem (ALLÉRÈS,
2000: 56-57)
Sinônimo de bom gosto; anexo das classes
dominantes (KAPFERER,1997)
Marca
Os elementos que compõem uma marca são:
nome, logo, símbolo, slogan, jingle e embalagem
(KELLER, 1998)
A identidade da marca situa-se do lado da
empresa, que deve especificar o sentido, a intenção e
a vocação de uma marca (KAPFERER, 1992)
adicionam vantagens ao cliente, criam posições
competitivas defensivas, constroem a retenção de
clientes, podem transformar mercados e geram valor
aos acionistas (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY,
2001).
A imagem situa-se do lado do receptor e refere-se
à maneira como o público decodifica todos os sinais
emitidos pela marca por meio de seus produtos,
serviços e programa de comunicação (KAPFERER,
1992)
Marcas de luxo são aquelas cuja relação custo-
benefício é baixa enquanto que a relação da
intangibilidade e da utilidade situacional comparada
com o preço é alta (NUENO; QUELCH, 1998)
Marcas de luxo são aquelas cuja relação preço e
qualidade são os maiores do mercado. Isto significa
que seu preço é significantemente maior que o preço
de produtos com similar características tangíveis
(MCKINSEY, 1990)
Uma marca de luxo tradicional consiste nas
seguintes características: qualidade, preço Premium;
reputação global , estilo único (NUENO; QUELCH,
1998; ROUX 2005: 83); conceito de artesanato ;
reconhecimento pelo consumidor do estilo ou design;
produção limitada, gerando lista de espera;
3. Quais as
características
de uma marca
de luxo?
Diferencial da matéria-prima,
acabamento, atemporalidade
Tradição, qualidade,
exclusividade, design.
Mas contrata novos
criadores para se
renovar e manter atual
no mercado
144
distribuição seletiva ; associação ao país de origem ;
carregar a personalidade e os valores de seu criador;
uma habilidade no tempo para mudar de rumo
quando a categoria fica muito na moda (NUENO;
QUELCH, 1998)
Marca de luxo atrelada ao produto; a clientela; a
distribuição; a divulgação; o tempo: a idade, a
história, as raízes; a proveniência (made in...); a
genealogia: o aval do inspirador e do talento
(CASTARÉDE, 2005).
A seletividade e a inacessibilidade são os vetores
da marca. Mas esta pode também se desvalorizar por
causa de clientes destrutivos, acidentes, erros de
estratégia, pirataria (CASTARÉDE, 2005).
Componentes de uma marca de luxo: a integridade
do produto; b) crescimento impulsionado pelo valor;
c) cultura e história; d) marketing; e) endorsements
(BEVERLAND, 2004)
a exclusividade, manutenção de vendas e a
lealdade dos seus consumidores como definidores de
uma marca de luxo (PHAU; PRENDERGAST, 2000)
determinadas dimensões de uma marca de luxo e
que devem ser monitoradas para que a mesma se
perpetue: as dimensões impessoais (exclusividade,
consumo conspícuo, qualidade) e pessoais
(hedonismo, exibicionismo, consumo conspícuo)
(VIGNERON; JOHNSON, 2004)
Uma marca que seja difícil de ser encontrada por
conta de sua exclusividade ou edição limitada e que
seja ainda mais cara, pode ser ainda mais valorosa
(VIGNERON; JOHNSON, 2004)
Dubois e Paternault (1995) desenvolveram a
chamada “dream formula” para explicar as marcas de
luxo, que consiste numa relação entre
conscientização, compra e valor do sonho
Uma marca de luxo é atemporal, moderna, de
crescimento rápido e altamente lucrativo (BERNARD
ARNAUD)
4. Quais as
principais
características
da sua marca?
Qualidade, durabilidade,
qualidade da matéria-prima e do
acabamento, equipe responsável,
atemporal, sólida, sofisticação,
tradição; produtos diferenciados,
peças exclusivas
Elegante, maior linha
de produtos, artesanal,
estampas, Roupas que
valorizam o corpo,
sensualidade. Primeira
marca do mundo a
utilizar a logomarca
como parte do produto.
145
2. Entender como
são caracterizados
os clientes desses
produtos de luxo
quanto ao seu
comportamento de
consumo
As questões relativas aos clientes atuais são: quem
constitui os mercados-alvo principais; quais suas
principais características, o que lhes proporciona
valor; como podem ser levados a se aproximarem e
como podem ser melhor servidos (HOOLEY;
SAUNDERS; PIERCY, 2001).
Para os clientes futuros, é necessário saber: como
os clientes mudarão; quais os novos clientes a se
conquistar e como fazer isso (HOOLEY; SAUNDERS;
PIERCY, 2001)
Segmentação: quem são os maiores clientes, os
mais lucrativos, os com maior potencial de
atratividade, em que tipo de classificação eles podem
ser inseridos; como o mercado pode ser segmentado
(AAKER, 2003)
Motivações dos clientes: são analisados os
elementos do produto ou serviço mais valorizados
pelo cliente, os objetivos reais quando compra,
mudanças que ocorrem na motivação e prioridade
dos clientes (AAKER, 2003)
Necessidades não atendidas: por que alguns
clientes não estão satisfeitos, porque estão mudando
de marca, severidade dos problemas do clientes,
necessidades não atendidas que os clientes
identificam ou que não tenham consciência (AAKER,
2003: 54)
Características e as necessidades dos clientes
que podem estar relacionadas com as funções físicas
ou psicológicas (SOLOMON; STUART, 2002;
KOTLER,1993)
Para Kotler (1993) as decisões de aquisição de um
consumidor são influenciadas por fatores culturais e
sociais (SOLOMON; STUART, 2002; KOTLER, 1993)
pessoais e psicológicas. (KOTLER, 1993)
Um comportamento de consumo também é
influenciado por fatores sociais, tais como as classes
sociais, os grupos de referência, família, papéis
5. Quem é o
cliente da sua
marca e quais
são as suas
características?
Para cada linha oferecida há seus
tipos específicos: esportistas;
jovens executivos; executivo de
alto padrão. Mulheres que
compram para marido. Cliente que
já conhecia a marca de suas
viagens ao exterior; clientes que
migraram de uma linha da mesma
marca para esta, considerada
superior; profissionais liberais,
publicitários. A mulher compra
mais vezes; homem compra
poucas vezes em maior
quantidade. Mulheres
principalmente. Idade de 25 a 70
anos. Muitas pessoas de fora de
SP /Nosso público-alvo são jovens
descolados, bacanas que se
vestem bem, educados, que são
encontrados em locais bacanas.
Posicionamento é para o cliente
focado em moda; mas o cliente
que vem é outro. Clientes de
meia-idade; jovens solteiros na
faixa dos 30 anos que se
autopresenteia ou compra
presente para outros. Pequenas
compras segmentadas até 40
anos; acima de 45 anos homens e
mulheres que compram mais,
gastam mais, compram a coleção
inteira. Este é o cliente fiel que
sustenta o negócio. Os clientes
homens são mais fiéis à marca. O
feminino é momentâneo; Mulher
jovem que busca o último modelo
e qualidade; outros buscam a
seletividade de ter algo que
Mulher bem formada,
glamourosa, que gosta
de exclusividade, de
qualidade. Homens
compram às vezes
para suas
mães/mulheres.
Também há as clientes
que vêm à loja apenas
para bater papo, nem
sempre levam peças;
Há roupas para o
homem, mas o
brasileiro é mais
conservador e a
empresa tem uma
imagem muito
moderna; Muitas
pessoas de fora de SP;
A gente não gosta de
pessoa esnobe.
146
sociais e posição do consumidor. (SOLOMON;
STUART, 2002)
produtos de luxo que servem como símbolos de
status, marcas visíveis que proporcionam uma forma
das pessoas se destacarem na sua alta classe social.
(SOLOMON; STUART, 2002).
Os grupos que têm uma influência direta e aos
quais uma pessoa pertence são chamados grupos-
membros (KOTLER, 1993)
os grupos que têm uma influência direta ou indireta
sobre as atitudes ou comportamento da pessoa são
chamados grupos de referência (KOTLER, 1993)
Em geral as pessoas são influenciadas por grupos
aos quais não pertencem, por exemplo, um grupo de
aspiração (KOTLER, 1993)
Os membros de uma família, tais como pais,
conjuges, filhos podem influenciar fortemente o
comportamento de um consumidor e seus papéis
precisam ser considerados dentro do processo de
compra (KOTLER, 1993)
Os fatores pessoais tais como a idade e o ciclo de
vida, a ocupação e a situação econômica, o estilo de
vida, a personalidade e a auto-estima também
influenciam a decisão de um comprador (KOTLER,
1993)
Para Bradley (2003), as crenças e atitudes
pessoais influenciam o comportamento de compra do
cliente. Para o autor, o cliente decide sua compra em
função: i) da importância percebida do
produto/serviço; ii) do risco associado ao seu uso; iii)
do valor simbólico do produto; iv) do valor hedônico
do mesmo.
Os produtos de luxo dão a oportunidade ao seu
usuário de se sentir diferenciado de outros ao mesmo
tempo em que permitem a incorporação da
excelência de qualidade que o produto sugere,
deixando tal consumidor com um sentimento de
distinção e extremo bem-estar (DUBOIS; LAURENT;
8. Existe
alguma
peculiaridade
de consumo
observada
apenas no
mercado
brasileiro?
ninguém mais quer.
Não vendem roupas muito
coloridas; Difícil sair roupas
marrom e verde; Considera-se
que o brasileiro é muito
consumista e focado no que está
na moda; Mulher brasileira
valoriza antes de tudo a
sensualidade, ela pede o sexy;
busca de um atendimento que nos
outros países não existe;
Homem brasileiro não
tem costume de usar
terno em um jantar;
influenciado pelas
roupas da novela;
roupas de frio não
saem muito. Cor como
o verde e amarelo por
conta da associação
com a bandeira;
147
CZELLAR, 2001).
Vickers e Renand (2003) inferem que o valor
primário dos produtos de luxo para seus
consumidores é psicológico e que seu consumo é
dependente de um distintivo mix de relações
individuais e sociais
Vigneron e Johnson (2004) discutem que o
consumidor de produtos de luxo está em busca de
representação social e posicionamento, além da
busca por uma exclusividade;
A clientela de luxo compõe-se essencialmente de
dois segmentos: o segmento fiel dos clientes muito
ricos e o segmento menos fiel dos clientes
razoavelmente abastados (ROUX, 2005)
7. Que outros
fatores dentro
da loja
influenciam a
compra?
Arquitetura padrão em todas as
lojas, decoração, iluminação,
opção de produtos; sonorização,
ambiente confortável; A
experiência de tocar na peça,
colocar no corpo.
Música ambiente mais
animada para quebrar
a formalidade; aspecto
jovem; decoração
minimalista; tudo é
perfeito, mas nada
aparece mais do que a
coleção; a atitude da
cliente é mais forte que
a arquitetura que o
atendimento em si
3. Identificar
práticas de fixação
de preços, modelos
de distribuição,
merchandising,
mídia, relações
públicas e serviços
complementares ao
cliente;
Marketing Estratégico
O marketing estratégico, o qual pressupõe a
análise sistemática e permanente das necessidades
de mercado, o desenvolvimento de conceitos e
produtos com um bom desempenho destinados a
grupo de compradores específicos e que apresentam
qualidades distintivas que os diferenciam dos
concorrentes imediatos, assegurando deste modo ao
produtor uma vantagem competitiva duradoura e
defensável (LAMBIN, 2000)
O marketing estratégico identifica as necessidades
insatisfeitas ou mal satisfeitas e desenvolve produtos
novos adaptados a essas expectativas.
Estratégias de entrada do produto e do mercado:
estratégias que dizem respeito à construção, defesa
ou crescimento de marketing share (SCHNAARS,
1998)
processo troca de valor que consiste em
planejamento, execução, preço, promoção e
distribuição de idéias, bens e serviços de forma a
propiciar trocas que satisfaçam os indivíduos e os
objetivos organizacionais (SOLOMON; STUART,
2002)
148
Estratégias de marketing são conceituadas são a
seleção do público-alvo e o desenvolvimento de um
mix de programas para atingir este público –
estratégias relacionadas ao produto, ao preço, a
promoção e à distribuição. (SOLOMON; STUART
2002)
A análise ambiental, que observa o ambiente
externo e inclui uma análise do mercado em que a
empresa compete; os recursos ou competências
especiais de uma empresa; a definição de objetivos e
metas e como os recursos são desenvolvidos para
atingi-los (BRACKER, 1980).
Produto
desafios que uma marca de luxo enfrenta no que
tange ao ciclo de seu produto: a) a inclusão de
acessórios a preço mais baixo os quais permitiriam
uma ampliação do mercado; b) a extensão da sua
marcas por meio da ampliação da sua linha de
produtos além do seu core business; c) o lançamento
de versões mais jovens de suas marcas para ampliar
um mercado que também aspira o consumo de luxo
(NUENO; QUELCH, 1998)
O controle de qualidade é mais complicado de se
assegurar, especialmente se a manufatura é
subcontratada (NUENO; QUELCH, 1998)
Em relação ao lançamento de versões mais jovens
de marcas que possibilite a ampliação do mercado
consumidor, frequentemente estas marcas protegem
a marca primária de se entender demais. Por outro
lado, entretanto, corre-se o risco de tal marca superar
a marca primária (NUENO; QUELCH, 1998: 65).
10. Em relação
aos produtos
disponíveis,
como é feita a
escolha para o
mercado local?
Quantas trocas
de coleções
acontecem por
ano?
quatro coleções (pré-coleção e
coleção); Não se compra uma
grade inteira - são feitas
adaptações para o nosso mercado
- clima, tecidos, disponibilidade de
produtos.
Ouvindo o que os
clientes gostam.
Análise de outros
mercados; pesquisa
com vendedores. A
coleção oferecida aqui
é exatamente a
mesma que está nas
lojas dos outros
países. Tendência da
marca de fazer
produtos que se
adaptam ao mesmo
tempo ao verão daqui
e inverno Europeu. O
desafio maior é ajustar
a forma da roupa, pois
os clientes são
maiores.
149
Preço
O preço diz respeito ao valor que os consumidores
pagam para obter um determinado produto e deve
ser baseado em custos, demanda, preços do
competidor, marca. O preço é frequentemente usado
como um meio de aumentar o interesse dos
consumidores em um produto. (SOLOMON;
STUART, 2002)
Os altos preços podem eventualmente fazer com
que certos produtos sejam mais desejados e
aumentem seu volume de vendas e (GROTH;
McDANIEL, 1993)
uma estratégia de preços é uma escolha razoável
entre uma série de preços alternativos que objetivam
uma maximização dos lucros dentro de um período
planejado em resposta a um cenário escolhido
(TELLIS, 1986)
11. Quais são
os produtos
mais vendidos?
12. O preço dos
produtos é
estabelecido
com base em
quê?
Ternos, Acessórios, Bolsas, Calça
Jeans.
Matriz + encargos de importação
+ encargos internos + mark-up.
Gravata, vestidos,
sapatos têm crescido
muito. Relação de
venda entre acessório
e roupa no Brasil é um
dos maiores do mundo
na marca (50%),
depois vem roupas
femininas e
masculinas. Além das
bolsas, as roupas
estão indo muito bem.
A margem se faz por
meio de benchmarking
de preços no mercado
americano; Procuram
estar dentro da
conformidade absoluta,
mesmo que demore
para não envolver a
marca em nenhuma
situação delicada que
comprometa sua
credibilidade
150
O preço por si não é o único fator que reforça esta
exclusividade, mas também a imagem da marca na
mente do consumidor (GROTH; McDANIEL, 1993)
Princípio do valor exclusivo, diferença entre o valor
de mercado e o puro valor utiliário de um produto é
seu valor premium de exclusividade (GROTH;
McDANIEL, 1993)
Na perspectiva do consumidor: Valor de Mercado
de um Produto (VM) = VUP + VPE
Na perspectiva da firma: Preço de Venda de um
Produto (PV) = CP + VPE
Com margens mais amplas tem-se um ponto de
equilíbrio atingido mais cedo representando menos
risco para empresa e vendas incrementais
aumentam o lucro incremental (GROTH; McDANIEL,
1993)
O desenvolvimento da estratégia de maximização
do preço está ligado com fatores psicológicos,
ligados à percepção das necessidades do
consumidor ou o valor dado ao crescimento das
percepções de valor exclusivo (GROTH; McDANIEL,
1993)
13. Existe o
parcelamento
de compras?
Qual o
percentual
médio de
compras à vista
e a crédito no
faturamento
total?
14. Existe uma
política de
saldos?
Parcelamento em cinco vezes; 80
% é parcelado. Para compras à
vista, o desconto é mínimo.
Parcelamento de três a seis
vezes; Parcelamento para
compras acima de R$ 1.500,00.
Em no máximo três vezes. Até R$
1.500,00 em duas vezes; acima
disso em três vezes,
independente do valor. Não sabe
informar o percentual de vendas
parceladas/ 40% vista; 60%
parcelado, mas pode variar em
função de liquidação ou nova
coleção. Compra do sonho em
prestações...
Cultural/Parcelamento em três
vezes. Não existe parcelamento
em 500 vezes...
Normal como no calendário
brasileiro de liquidações (janeiro e
julho); duas vezes por ano existe
uma liquidação normal que se faz
no mundo todo. / Liquidação
normal (janeiro e julho), descontos
de 50%. Algumas peças não
entram em liquidação nunca, por
exemplo os xadrez, jeans.
Considera cultural e ao
mesmo tempo uma
vantagem comparada
com a compra feita no
exterior. Em datas
especiais (dia das
mães, dos
namorados), há
promoção para maior
parcelamento ainda.
Às vezes promoção
com determinada
bandeira de cartão
para pagamento em 10
x.
Produtos em promoção
sempre disponíveis.
Poucas marcas não
fazem
liquidação.../Liquida
apenas a coleção
passada/ E uma ou
duas vezes por ano
também faz-se uma
151
Promoção
A promoção inclui todas as atividades utilizadas
para informar o consumidor ou as organizações
sobre os seus produtos e encorajar potenciais
consumidores a comprar tais produtos (SOLOMON;
STUART, 2002)
O elemento-chave que diferencia a indústria do
luxo das outras é a necessidade da criatividade
(NUENO; QUELCH, 1998)
o desenvolvimento da reputação de uma marca
permite extrair altos markups e minimizar markdown,
pois gera recursos adicionais para a inovação no
design, comunicação de marketing e construção da
marca
Para obter valor no mercado, as iniciativas de
design de uma marca de luxo devem ser
comunicada no mundo todo (NUENO; QUELCH,
1998)
As revistas selecionadas para propaganda, os
filmes nos quais a marca aparece, as celebridades
usando a marca, tudo contribui para a imagem da
marca (NUENO; QUELCH, 1998)
Existem cinco elementos no processo de: a fonte
da mensagem; a mensagem; o meio ou canal de
propagação; o emissor e o receptor (BRADLEY,
2003)
Para o autor, as questões básicas a serem
identificadas em um processo de comunicação são:
6. O que tem
sido feito para
manter e
conquistar seus
clientes? Vocês
possuem algum
sistema de
informações
sobre eles?
Como isso é
trabalhado?
Atendimento Personalizado; Envio
de mala direta para base de
clientes ; Vai até a residência do
cliente, analisa o guarda-roupa,
sugere combinações. Oferece
sempre a última coleção
disponível na matriz; Presentes de
natal, aniversário que podem ser
flores ou até uma roupa,
dependendo do cliente; CRM
próprio e banco de dados de
terceiros. CRM internacional e
base de dados nacional. Engloba
a comunicação, o contato da loja,
os eventos, os convites para
lançamento especiais,
publicidade, marketing.
liquidação em prol de
alguma instituição
beneficiente, com
produtos que sobraram
das coleções
anteriores/ O que
sobra desta liquidação
é vendido em uma
ponta de estoque
específica. Durante o
calendário
internacional jamais é
feito promoções. É a
única marca de luxo do
mundo que não tem
descontos, outlet,
nada. Quando uma
coleção termina ou
quando uma linha é
descontinuada, o que
sobrou é destruído
Tem um mailing só de
homens para enviar
em época de dias de
namorados, mães, etc.
O desafio manter
reside na conquista do
cliente. Ele não quer
ser incomodado, mas
ao mesmo tempo quer
ser lembrado; As
marcas que investem
apenas em anúncios
ou enviam catálogos
não conseguem passar
152
a) o que a organização quer informar; b) em quais
resultados ela quer influir? c) qual a melhor
mensagem para atingir tais objetivos; d) qual veículo
é o mais apropriado? e) quando ela deve comunicar?
f) qual o orçamento para isso? g) o quão efetiva é a
comunicação de marketing?
Para obter valor no mercado, as iniciativas de
design de uma marca de luxo devem ser
comunicadas no mundo todo (NUENO; QUELCH)
Vickers e Renand (2003) propõem que os
programas de comunicação de produtos de luxo
devam aticular um mix de imagens simbólicas
usando todos os elementos do marketing mix numa
forma criativa mas consistente e congruente
Para Roux (2003), as estratégias de lançamento de
marcas são de dois tipos: estratégia de diferenciação
com campanha de notoriedade maciça internacional
e estratégia de especialização ou nicho
Para a autora, ao recusar estratégias de promoção,
a empresa afirma seu prestígio e seletividade.
15. Quais são
as formas de
divulgação e
promoção da
marca no
Brasil? Ela é a
mesma no
mundo todo?
A promoção de mídia é externa.
Apenas publicam em jornais ,
revistas e publicações
especializadas, ex: Golf Life, Iate
Life. Não vestem celebridades.
Envio de catálogo /A promoção de
mídia é externa. Divulgam em
revistas como Vogue, Elle, jornais.
Catálogo enviado; Desfiles
realizados na loja para clientes
vips; Endorsement de
celebridades brasileiras.
Editoriais de revistas de moda:
Elle, Daslu e Vogue. Algumas
celebridades são vestidas pela
marca - as que possuem
credibilidade. A campanha é
mundial e acontecem todas ao
mesmo tempo. Trabalham com
celebridades que tenham
afinidade com a marca, mas que
representem o perfil das
consumidoras da marca
toda a experiência
para o cliente. É
necessário chamá-lo
para vir à loja, para
que ele possa
experimentar.
No Brasil tem
resultados com jornais,
embora a matriz seja
reticente em relação a
eles. Tem várias
idéias independentes
da matriz, mas
consegue colocar
poucas em prática;
Não se faz jornal nem
TV/ A verba de
publicidade é bem
restrita. A cada
estação, faz-se um
plano de mídia bem
enxuto. Acabam
fazendo muitos
eventos na loja com a
presença de
"celebridades" que
atraem o público. Isso
gera uma mídia
espontânea. Empresta-
se roupas para
celebridades em
153
Distribuição
A distribuição (placing) refere-se à disponibilidade
do produto ao consumidor no tempo e no espaço
desejado
tipos de estratégias de distribuição dentro do
mercado de luxo: a) a distribuição expandida, com
várias lojas distribuídas pelo mundo; b) distribuição
por contrato com algumas lojas independentes; c)
recuperação da distribuição quando o volume
justifica a implantação de uma loja própria (NUENO;
QUELCH)
para cada canal há um típico perfil consumidor
para cada objetivos (NUENO; QUELCH, 1998)
Através de lojas não exclusivas, uma marca de
luxo pode testar suas estratégias com a de outras
marcas. Por outro lado, um mix de canais de
distribuição é complicado de se administrar. Eles
requerem serviços e merchandising diferenciados, e
alguns casos, a separação da linha de produtos
(NUENO; QUELCH, 1998).
Muitas marcas de luxo ainda continuarão a serem
vendidas através de canais múltiplos. Muitos
consumidores valorizam a oportunidade de comparar
marcas (NUENO; QUELCH, 1998)
Eles requerem serviços e merchandising
diferenciados, e alguns casos, a separação da linha
de produtos (NUENO; QUELCH, 1998)
16. Como é feito
o fornecimento
de produtos
para a loja? A
importação é
feita direto da
matriz, de um
distribuidor?
Uma trading importa diretamente
da Matriz/ Direto da matriz, sem
intermediários/Direto da matriz/Há
um distribuidor para toda a
América Latina, mas as compras
são feitas na matriz;
eventos (que
combinem com a
marca). Revistas:
Vogue, L´Officiel, Elle,
Estilo/Mídia, anúncios
e eventos que são
feitos com veículos
muito selecionados.
Revistas Vogue,
Simples, Caras.
Procura manter um mix
entre a mídia de luxo e
a mídia underground
ou contemporâneo.
Procuram estimular
novos veículos de
comunicação. Usa-se
muito o apoio dos
distribuidores de
perfume da marca;
Importação direta. Não
existem distribuidores,
franquias, licenças.
Todos os processos
são controlados
internamente
154
Serviços
os serviços são ações, esforços ou performances
trocadas entre o produtor e o usuário que asseguram
a satisfação do consumidor com o que ele pagou
(SOLOMON; STUART, 2002)
são valores intangíveis, a satisfação de
necessidades por meio do prazer, da informação, da
conveniência (SOLOMON; STUART, 2002)
serviço é qualquer ato ou desempenho oferecido
que uma parte à outra e que seja essencialmente
intangível e não resulte na propriedade de nada. Sua
produção pode ou não estar vinculada a um produto
físico (KOTLER , 98)
a mensuração da qualidade dos serviços prestados
pode ser feita de forma a identificar planos
específicos para melhorar o que é esperado do que
está sendo oferecido.
gap entre as expectativas do consumidor e as
percepções da gerência; gap entre a percepção da
gerência e os padrões de qualidade estabelecidos
pela empresa; gap entre os padrões de qualidade
existentes e o serviço entregue; gap entre a
qualidade do serviço e as expectativas do
consumidor e o gap entre o serviço esperado e o
serviço percebido (SOLOMON; STUART, 2002)
no serviço sob medida, o papel mais importante
pertence aos empregados, já que representam o
contato com o consumidor (LOVELOCK, 2001)
eles têm a missão fundamental identificar a
necessidade dos consumidores e entender o que os
clientes desejam, já que nem sempre estes têm
ciência de suas necessidades reais (LOVELOCK,
2001)
assim que as vendas se expandem, os donos de
marcas de luxo devem se tornar experts em
construção de relacionamento, serviços aos clientes
e gestão de banco de dados para explorar um círculo
17. Que tipos de
serviços
(adicionais) são
oferecido por
sua loja e como
isso é feito?
18. Quais são
as
características
de um vendedor
de produtos da
sua marca?
Consertos, ajustes gratuitos -
garantia vitalícia; Visita do
vendedor, costureira na casa do
comprador; entrega de roupas em
casa
Nível Cultural bom; estar bem
informado sobre vários assuntos;
não necessariamente nível
superior de formação;
identificação com a marca; boa
aparência. Ter um sentimento de
cuidado com o cliente, mesmo o
que não compre; conhecimento de
moda e da marca; gostar de
vender.
Produto sob medida
feita por artesãos na
Suiça; convite para
assistir desfiles em
Paris; Parceria para
atender aos clientes do
Hotel Fasano no
próprio quarto; Envio
de mercadorias via
correios. Em casos
mais raros, a
vendedora viaja de
avião para levar
produtos a clientes;
Para clientes muito
importantes fazemos
uma visita privada, um
showroom dentro da
casa do cliente
Não necessariamente
nível superior de
formação; entende
produto de cabo a
rabo, simpatia inata;
50% homens, 50%
mulheres; Gostar de
vender e não ter a
profissão apenas como
bico; acostumada a
trabalhar com produtos
de luxo; Mostram a
coleção toda, se a
cliente não conhece a
155
de gestão de serviço ao cliente (NUENO; QUELCH,
1998)
existe uma falta de atenção aos serviços e isso se
deve ao fato de que há dois tipos de consumidores:
uma minoria que compra de qualquer forma e os
consumidores ocasionais ou excursionistas
(DUBOIS; LAURENT, 1996)
os proprietários devem ampliar a venda cruzada
ao saber das informações do seu cliente
um turista que compra um item apenas em uma
loja pode comprar outros itens em outras lojas
Com informações sobre os clientes, os
proprietários podem contatar clientes para eventos
especiais, tais como a apresentação de novas
coleções, desfiles, test-drive
marca, explica um
pouco como ela é;
jovem, bonito,
descolado, que tem
estilo de forma a
indicar a roupa ideal
para o cliente e não
apenas para fechar
uma venda; buscam
vendedores que não
tenham experiência
prévia para poder
moldar de acordo com
as características da
marca; não ficar
assustado com o que
vende; ter a
capacidade de
distinguir e valorizar
um produto, apreciá-lo
e conhecer suas
características de
design, cores, etc.
4. Conhecer como
se configura a
competição desses
produtos
análise da concorrência começa com a
identificação dos concorrentes atuais e potenciais
quando há muitos concorrentes é útil reunir em
grupos estratégicos aqueles que são semelhantes em
suas características
ao se desenvolver uma estratégia: entender a) o
desempenho, b) a imagem a personalidade
construídos e percebidos, c) os objetivos dele, d) a
estratégia atual e passada, d) a cultura da empresa –
custos ou clientes, e) estrutura de custos e f) as
forças e fraquezas.
19. Em sua
opinião, quem
seriam os
concorrentes da
sua marca no
Brasil? Como
eles atuam?
Em termos de monomarca, não.
Mas há as lojas multimarcas ou
lojas unissex que vendem
algumas peças da marca; Mas
acha que de fato a concorrência
dele está no exterior. Não tem
concorrente. "O Cliente não deixa
de comprar nossa marca porque
comprou outra marca". Estão mais
interessados em desenvolver a
marca e não em controlar o que
está sendo feito no mercado.
Na liquidação, o cliente
compara com todas as
marcas.
Nacionalmente,
considera um
concorrente quando o
cliente procura por
modelo ou preço
equivalente.
156
Empresa deve buscar bons concorrentes, capazes
de estabilizar mercados, proporcionar oportunidades
e exercer uma pressão em todo o setor no que diz
respeito ao desempenho (HOOLEY, SAUNDERS;
PIERCY, 2001)
Para Hooley, Saunders e Piercy (2001), a médio
prazo, a análise da concorrência deve concentrar-se
nas empresas de mesmo grupo estratégico.
Porter (1986) desenvolveu uma metodologia de
análise a concorrência onde é analisado o que
orienta os concorrentes, o que ele está fazendo e o
que pode fazer, ou seja, qual a estratégia que está
em curso, quais as metas futuras, sua capacidade em
relação às suas áreas funcionais e de crescimento,
capacidade de adaptação e mudança, capacidade de
resposta rápida, os pontos fortes e pontos fracos em
relação a produtos , à distribuição, ao marketing, à
vendas, às operações, aos custos, à capacidade
financeira, organizacional e administrativa (PORTER,
1986)
Para Roux (2003) é necessário que a empresa
estude a concorrência, a sua participação no
mercado e os seus lucros, além de identificar no seu
próprio negócio quais os tipos de promoção capazes
de reforçar a repetição da compra e fidelidade à
marca.
Considera concorrentes outras
empresas de luxo, dependendo do
segmento: bolsas, roupas,
relógios.
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