Texto alterado em 15/10/07
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Considerando-se que, desde sua “gestação”, ou seja, desde seu início, a Escola
Municipal Paulo Freire foi pensada para ser construída por todos e para todos, essa será uma
maneira de se realizar esse intento. No entanto, sendo esse tipo de movimento ainda muito
recente e, de certa forma, inédito, ou seja, a participação ativa na elaboração e na gestão de
um projeto de escola, muitas são, ainda, as contradições. O drama da educação não é informar
melhor. O esclarecimento não muda o real. Se não se muda as condições materiais de
existência, também não se muda a consciência. Há um discurso de que o grande problema é
que a classe trabalhadora não percebe a particularidade do capitalismo, percebendo-o como
evolução, progresso da humanidade. Entretanto, não é que “povo” tenha uma falsa
consciência ou falsa percepção do real, na verdade o real oculta-se, através do fetiche da
mercadoria. Ele mesmo, o real é distorcido. Desse modo, muitas vezes, as cobranças, pedidos
e desejos das famílias que têm seus filhos na escola pública são antagônicos com a própria
situação de classe, ou seja, buscam, muitas vezes, a qualidade da escola em características
capitalistas, burguesas, como, por exemplo, a competitividade, a meritocracia, a educação
como mercadoria, o individualismo etc. Gramsci levanta esta questão afirmando que,
um grupo social, que tem uma concepção própria do mundo, ainda que embrionária,
que se manifesta na ação e, portanto descontinua e ocasionalmente [...] toma
emprestada a outro grupo social, por razões de submissão e subordinação intelectual,
uma concepção que lhe é estranha. (GRAMSCI, 1995, p.15).
Que realidade é esta que queremos pesquisar? Em que realidade maior ela está
inserida? Considerando que estamos numa sociedade capitalista, que busca naturalizar todas
as relações de poder, de dominação como se esses fenômenos não fossem frutos da própria
divisão de classes, a escola, no mais das vezes, é o lugar onde se legitimam esses fenômenos,
que vão conformando os novos cidadãos-trabalhadores, reiterando a relação entre dirigentes e
dirigidos, de dominados e dominantes. Gramsci identifica a escola como instituição e os
professores como intelectuais que, pelos seus números, são os maiores representantes de
organizações culturais. Portanto, poderiam ajudar na promoção de uma nova racionalidade,
subvertendo a lógica hierárquica e excludente da sociedade capitalista e na garantia da
apropriação dos conhecimentos historicamente construídos pela ciência. “Entretanto, deve-se
notar que [...], ainda que em graus diversos, existe uma grande cisão entre massas populares e
os grupos intelectuais, inclusive os mais numerosos e mais próximos à periferia nacional,
como os professores”. (GRAMSCI, 1995, p. 29)
Sempre houve uma separação entre a educação dispensada aos filhos da elite e aquela
destinada aos filhos dos trabalhadores. Para as elites uma educação propedêutica e a escola,