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Com relação a esse novo traçado espacial da revitalizada Praça Sete, embora o poder
público destaque a sua funcionalidade para a realização das manifestações, alguns
entrevistados apontaram a estratégia como uma tentativa de limitar a realização das mesmas
ou mesmo de canalizar ou de espacializar os atos públicos. Reclamam dessa regulamentação,
indicando que a manifestação não pode ser conduzida externamente, ou seja, pelo poder
público, inaugurando-se o lugar do “proteste aqui!”, uma maneira de domar as
potencialidades criadoras contidas nos movimentos. Quando a manifestação é assim
canalizada, ela perde um pouco de sua essência, conforme apresenta um entrevistado.
[...] ela [a Praça Sete] tinha um “layout” que facilitava a aglutinação de pessoas.
Aquele.... né... na época do, né... o plano, aquele “rampião”, aquela rampa enorme,
então o povo ocupava aquele trem tudo ali. Criava aquele “muvucão” ali. E era
bom pros comerciantes e era ruim também ao mesmo tempo, né? Mas o povo, pelo
menos o da lanchonete da esquina, [...], depois lotava o bar deles, né? [...]. Hoje,
com essa mudança de “layout”, procê colocar esse plano diferente, ou seja,
ninguém consegue fazer uma atividade lá assim – já fizemos – mas hoje não tem a
mesma aglutinação de pessoas. O público fica mais dividido. Que não tem um,
assim, um foco mesmo, só. “aqui que eu vou fazer e o povo vai ficar dessa forma”.
[...] tá sendo bonito realmente... pra população foi bacana, porque a gente vê o
pessoal sentado, descansando, lendo jornal, ou seja, tá ocupando a Praça, uma
praça diferente, né, uma coisa mais moderna, vamos dizer assim. [...] não pode
mais fazer grandes aglutinações mais lá. [...].Até mesmo aquele Pirulito do jeito
que ele era....né. Hoje tá tudo cercadinho, então cê num pode... (Informação verbal,
grifo nosso).
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Alguns entrevistados criticam também as dificuldades criadas para se realizar
manifestações a partir das exigências de alvarás. De acordo com Fernando Neiva, o Sindicato
encontra dificuldades com as exigências da Prefeitura para se fazer manifestações. Sem o
Alvará para a circulação do carro de som ou para permanência em ato público, a polícia ou os
fiscais da Prefeitura podem notificar.
A Polícia é muito dura, muito truculenta, né, nas nossas manifestações, né, nas
nossas greves. Não tem moleza para o Sindicato. É...é uma movimentação muito
forte, os banqueiros junto com o Governo Federal, eles não dão moleza, certo? Com
a Prefeitura a gente tá tendo muitos problemas também porque... a gente não tá
conseguindo Alvará igual a gente conseguia antigamente, não é, os alvarás pra
colocar som, pra rodar o carro, pra colocar faixas, né?
A gente é muito notificado né, cartazes que às vezes a gente coloca num lugar
indevido. Faixas, por exemplo, a gente não coloca mais na cidade, né, que o Código
de Posturas proibiu. Então eu falo essas dificuldades toda que a gente tá tendo:
faixas, cartazes, alvarás, né? Então em multa, a gente.... (Informação verbal, grifo
nosso).
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Entrevista concedida em 14/08/2007 por Jacó do Nascimento.
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Entrevista concedida em 03/08/2007 por Fernando Ferraz do Rêgo Neiva.