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escolares, e o governo FHC fez o mesmo em relação à medicina de grupo. Mas
tais iniciativas revelaram-se inconsistentes.
Dessa forma, verifica-se que a educação se tornou uma ótima mercadoria dentro da
relação social capitalista, possibilitando aos empresários do setor um aumento significativo da
extração da mais-valia, bem como a valorização do seu capital
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. No entanto, os trabalhadores em
educação também vêm sendo diretamente prejudicados nessa relação, pois a grande maioria não
atinge um ganho salarial real necessário à sobrevivência. Boito (2002)
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analisa a relação da
burguesia e o Estado brasileiro, afirmando que
Abandonando o desenvolvimentismo, a burguesia e o Estado brasileiro
abandonaram qualquer veleidade de implantar um capitalismo nacional e,
adotando a política social do neoliberalismo, cuja característica fundamental é a
redução e a supressão de direitos sociais, não possui tampouco interesse em
integrar, sequer de modo restrito segmentado, os trabalhadores à riqueza
produzida. Nesse novo quadro político, a escola, a universidade e os
trabalhadores em educação perdem importância
como elementos de um projeto
nacional e popular. Gasto público com educação é visto assim mesmo: como
gasto. O que foi herdado do período desenvolvimentista e populista é, do ponto
de vista do modelo econômico atual, uma herança inútil e dispendiosa. Os
museus universitários, os laboratórios, as pesquisas, as bibliotecas sofisticadas –
tudo isso é algo do que é preciso se livrar. O modelo capitalista neoliberal na
periferia funciona a partir de fora, com tecnologia e produtos importados. Ele
não necessita de tecnologia e nem de produção científica nacional. Basta uma
mão-de-obra medianamente formada, o que pode ser obtido por qualquer
instituição de ensino de terceiro grau – que é a denominação mais adequada para
a nova safra de “universidades”.
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-
econômicos (DIEESE), o valor do salário mínimo necessário
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estaria em torno de R$ 1.600,00
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“Os dados do Ministério da Educação mostram que a oferta de cursos superiores acompanha a demanda por
qualificação maior. O último censo feito sobre o assunto mostra que, de 2003 para 2004, o Brasil ganhou 2.191 cursos
presenciais de nível superior, um crescimento de 13,3%, que significa nada menos do que a abertura de seis novos
cursos ao dia. O avanço das faculdades foi proporcionado principalmente pelas instituições privadas, que triplicaram
de 1988 a 2004, saltando de 3.980 cursos para 12.360” (Fonte: Jornal Valor, 23 de janeiro de 2006, p. A4).
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O texto foi apresentado pelo autor em conferência no 4º Coned (Congresso Nacional de Educação), que foi
realizado na cidade de São Paulo nos dias 23 a 26 de abril de 2002. (Fonte:
www.espacoacademico.com.br/014cboito.htm)
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Salário mínimo necessário: Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional "salário mínimo fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente,
de modo a preservar o poder aquisitivo, vedado sua vinculação para qualquer fim" (Constituição da República
Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). A família considerada é de dois adultos e