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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CAMPUS DE TOLEDO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
EDNILSE MARIA WILLERS
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: O CASO DO
MUNICÍPIO DE TERRA ROXA – PR
TOLEDO
2006
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14
EDNILSE MARIA WILLERS
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: O CASO DO
MUNICÍPIO DE TERRA ROXA – PR
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação, em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – Campus Toledo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof. Jandir Ferrera de Lima, PhD.
TOLEDO
2006
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15
EDNILSE MARIA WILLERS
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: O CASO DO
MUNICÍPIO DE TERRA ROXA – PR
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio, da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – Campus Toledo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Jandir Ferrera de Lima, PhD.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
______________________________________
Prof. Jefferson Andronio Ramundo Staduto, Dr.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
______________________________________
Prof. Edmilson de Oliveira Lima, PhD.
Fundação Universidade Regional de Blumenau
Toledo, 31 de março de 2006.
16
A Deus, pelo dom da vida e da perseverança.
A minha mãe e ao meu filho Leonardo,
esta conquista é nossa!
17
AGRADECIMENTOS
A minha família, pela confiança, apoio e compreensão.
Ao Professor Jandir Ferrera de Lima, mais que um orientador, um guia pelos caminhos da
pesquisa científica.
As amigas Márcia, Fabiana e Rúbia, pelo incentivo e companheirismo.
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná, pela liberação de carga horária e a equipe
administrativa do Campus de Toledo, pelo apoio operacional.
Aos professores do Curso, pela partilha do saber e pela indicação de novos horizontes.
Aos colegas do curso, sem o nosso trabalho de equipe, com certeza não estaria agora
saboreando esta conquista.
Aos empresários do ramo de confecções infantis de Terra Roxa e demais profissionais
entrevistados, pela concessão das informações que subsidiaram a conclusão desta pesquisa.
A todos aqueles, que de uma forma ou de outra contribuíram para que esta pesquisa pudesse
ser realizada.
A todos, muito, muito obrigada!
18
“OS HOMENS DEVEM CRIAR AS OPORTUNIDADES,
AO INVÉS DE ESPERÁ-LAS.”
FRANCIS BACON
19
WILLERS, Ednilse Maria. Estratégia de desenvolvimento econômico local: o caso do
Município de Terra Roxa-PR. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de
Toledo, 2006 (Dissertação de mestrado).
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo analisar e definir uma estratégia de desenvolvimento
econômico que consolide a emergência econômica do município de Terra Roxa - PR. Partindo
da premissa teórica de Hirschman (1974, 1996), que a expansão industrial é um reflexo do
desenvolvimento econômico e que o local passa a ser o espaço de referência de ações
estratégicas que estimulam essa expansão, foi identificado às causas da emergência
econômica de Terra Roxa. Através dos resultados da pesquisa constatou-se que a sua
emergência adveio da base industrial formada por micro, pequenas e média empresas que se
especializaram no ramo de confecções infantis. Esta base industrial esta sendo responsável
pelas mudanças na estrutura produtiva do município, de urbano-rural para urbano-industrial,
produzindo uma seqüência de eventos estimuladores da economia local. Como resultado final
da pesquisa, foi proposta uma estratégia de desenvolvimento econômico pela base. Esta
estratégia visa à consolidação da base industrial de confecções infantis de Terra Roxa,
estimulando as mudanças estruturais necessárias aos encadeamentos produtivos que levarão,
ao longo do tempo, o desenvolvimento econômico do município.
Palavras-chave: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, DESENVOLVIMENTO LOCAL,
ECONOMIA URBANA.
20
WILLERS, Ednilse Maria. Local Economic Development Strategy: the case of Terra
Roxa city -PR. State University of West of Paraná - Campus of Toledo, 2006 (Master
Thesis).
ABSTRACT
The objective of this research was to analyze and to define a strategy of economic
development that consolidates the economic emergency of Terra Roxa City - PR. Based on
the theoretical premise of Hirschman (1974, 1996), in which the industrial expansion is a
consequence of the economic development and the local is becoming the space of reference of
strategic actions stimulating this expansion, the causes of the economic emergency of Terra
Roxa were identified. The results of this research evidenced that its emergency is a
consequence of the industrial base formed by micro, small and medium companies that are
specialized in the branch of infantile confections. This industrial base has been responsible
for the changes in the productive structure of the city, from urban-agricultural to urban-
industrial, producing a sequence of events, stimulators of the local economy. As final result
of this research, a strategy of economic development for the base was proposed. This strategy
aims to the consolidation of the industrial base of infantile confections in Terra Roxa,
stimulating the necessary structural changes to the productive chains that will lead, with the
times, the economic development of the city.
Key-words: ECONOMIC DEVELOPMENT, LOCAL DEVELOPMENT, URBAN
ECONOMY.
21
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Produto Interno Bruto (PIB) – a preço de mercado (US$) de
países selecionados – 2003 ...........................................................................17
Gráfico 2 – Produto Interno Bruto (PIB) das regiões do Brasil (R$ de 2000)
– 1950/2000...................................................................................................27
Gráfico 3 – Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná – (R$ de 2000) –
1950/2000 .....................................................................................................29
Gráfico 4 – Produto Interno Bruto (PIB) das Mesorregiões do Paraná –
(R$ de 2002) – 1970/1998 ............................................................................31
Gráfico 5 – Evolução da mão-de-obra ocupada, por setores da economia
em Terra Roxa (1985/2003) .........................................................................38
Gráfico 6 Profissões que mais admitiram em Terra Roxa em 2000/2002
(saldo entre contratações e demissões) .........................................................40
Gráfico 7 Produto Interno Bruto (PIB) da região Oeste do Paraná e de
municípios selecionados da região – 1970/2002 ..........................................124
Gráfico 8 – Demonstrativo de saldos da população rural e urbana entre os
anos de 1970 a 2000 no Oeste do Paraná .....................................................128
Gráfico 9 – Evolução da população de Terra Roxa de 1970/2000 ..................................129
Gráfico 10 – Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Município de Terra
Roxa – 1970/2003 .........................................................................................132
Gráfico 11 Valor Adicionado e Produto Interno Bruto (PIB) do município
de Terra Roxa, em valores correntes (R$ 1.000,00) –
1997/2003 .....................................................................................................133
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Mudanças no paradigma de desenvolvimento econômico antes
e após 1970. ..................................................................................................50
Quadro 2 - Fases da evolução das teorias do desenvolvimento econômico
regional no cenário internacional. ................................................................70
Quadro 3 Programas federais de apoio ao desenvolvimento econômico
local brasileiro a partir da década de 1990. ..................................................100
22
Quadro 4 - Estratégias espaciais relevantes em termos de localização de
investimentos ................................................................................................103
Quadro 5 – “Gargalos” detectados na estrutura econômico-social do
município de Terra Roxa. .............................................................................155
Quadro 6 - “Gargalos” detectados na consolidação da base industrial de
confecções infantis de Terra Roxa. ...............................................................156
Quadro 7 - Ações em obras públicas, habitação e rodovias de acesso ao
município. .....................................................................................................157
Quadro 8 - Ações para a educação básica e capacitação profissional, para o
bem estar social e qualidade de vida. ...........................................................158
Quadro 9 - Ações para a dinamização econômica e política das indústrias
de confecções infantis. ..................................................................................160
Quadro 10 - Ações para a capacitação e atualização profissional, saúde do
trabalho e de qualidade de vida. ...................................................................162
Quadro 11 - Ações para a dinamização econômico-financeira da secretaria
da fazenda da prefeitura municipal de Terra Roxa. ......................................164
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localização do emprego industrial da Mesorregião Oeste
Paranaense – 1970/2000. ..............................................................................35
Figura 2 - Mapa do Paraná com destaque para a Mesorregião Oeste, seus
principais municípios e Terra Roxa – 2000. .................................................37
Figura 3 – O processo do desenvolvimento econômico ao longo do tempo...................66
Figura 4 - Estrutura do desenvolvimento econômico local. ..........................................75
Figura 5 - Resultados do processo de cooperação. ........................................................80
Figura 6 - Conseqüências econômico-sociais do surgimento das indústrias
de confecções infantis em Terra Roxa, a partir de 1995. .............................144
Figura 7 - Elementos da emergência econômica de Terra Roxa. ..................................150
Figura 8 - Etapas do planejamento da estratégia de desenvolvimento
econômico de Terra Roxa. ............................................................................152
23
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................013
2 O PROBLEMA DE PESQUISA E SUA IMPORTÂNCIA ...........................................021
3 QUADRO TEÓRICO .....................................................................................................043
3.1 O Processo de Desenvolvimento Econômico ..............................................................045
3.2 O Processo de Desenvolvimento Econômico Brasileiro .............................................051
3.3 Desenvolvimento Econômico Regional: conceitos e discussões ................................060
3.3.1 O Desenvolvimento Econômico Regional no Contexto Brasileiro ..........................069
3.4 Desenvolvimento Econômico Local: conceitos e discussões ......................................072
3.4.1 Globalização e Localização: a dicotomia contemporânea do desenvolvimento
econômico local .....................................................................................................076
3.4.1.1 Cooperação e Capital Social ..................................................................................079
3.4.1.2 Mobilização Produtiva do Território e Arranjos Produtivos Locais .....................082
3.4.1.3 A Aprendizagem e Conhecimento .........................................................................086
3.4.2 O Desenvolvimento Econômico Local no Contexto Brasileiro ...............................089
3.5 Estratégia de Desenvolvimento Econômico: o local e o regional ...............................093
3.5.1 Estratégia de Desenvolvimento Econômico pelo “Alto” .........................................101
3.5.2 Estratégia de Desenvolvimento Econômico pela “Base” .........................................108
3.5.2.1 O Planejamento Local ...........................................................................................111
4 HIPÓTESES DA PESQUISA E BASE METODOLÓGICA ........................................115
4.1 Base Metodológica ......................................................................................................117
5 A ORIGEM DA BASE INDUSTRAIL DE TERRA ROXA: ANÁLISES E
APONTAMENTOS .....................................................................................................123
5.1 Conhecendo seu passado para compreender seu presente............................................123
5.2 As Indústrias de Confecções Infantis ..........................................................................134
5.2.1 O Perfil dos Empresários e a Origem da Base Industrial de Confecções de
Roupas Infantis..........................................................................................................135
5.2.2 Por que Investir em Indústrias de Confecções de Roupas Infantis? .........................138
5.2.3 A organização Local e o Desenvolvimento Econômico Social de Terra Roxa.........142
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................148
24
6.1 O Processo de Planejamento da Estratégia de Desenvolvimento Econômico
de Terra Roxa ...........................................................................................................152
6.1.1 Visão .........................................................................................................................154
6.1.2 Análise da Situação ..................................................................................................154
6.1.3 Escolha dos Eixos de Atuação ..................................................................................156
6.1.4 Adoção do Plano de Ação ........................................................................................165
6.1.5 Execução, Controle e Avaliação das Diretrizes e Metas Planejadas ........................165
6.2 Viabilização da Estratégia de Desenvolvimento Econômico de Terra Roxa ..............168
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................171
REFERÊNCIAS ................................................................................................................177
ANEXO A – Roteiro das Entrevistas ................................................................................ 188
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos o homem vem desenvolvendo formas que possibilitam
sua sobrevivência num mundo que está constantemente se modificando. Esta sobrevivência
sempre esteve estruturada na capacidade humana de evoluir enquanto ser social que depende e
interfere no seu próprio espaço. No entanto, a história registra uma diversidade de fatos que
evidenciam acertos e erros nesta intervenção, sendo uma delas as questões pertinentes ao
próprio desenvolvimento econômico regional. No século passado, o perfil econômico mundial
mudou diante da necessidade de sobrevivência das economias regionais, as quais, inseridas
num contexto de acirrada competitividade, se viram “atropeladas” pelo fenômeno da
globalização econômica.
Em termos conceituais, definir a palavra globalização é tarefa cada vez mais
difícil em função das múltiplas formas de uso do termo. Uma das hipóteses admitidas seria a
de que o processo de globalização corresponderia à expansão global da relação social de
produção capitalista, que em seu impulso histórico-geográfico se expandiu pelo planeta
inteiro, a ponto de tornar-se o espaço mundial do capitalismo multinacional, ou seja, seria a
radicalização extensiva e intensiva da economia-mundo (BENKO, 1999). Já a Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (1992) e a Conferência das Nações
Unidas para o Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD (1994) definiram a globalização a
partir do processo produtivo. Há uma fração crescente do valor produzido decorrente de
estruturas de ofertas interligadas em nível mundial que envolve o uso crescente de acordos
cooperativos entre empresas, como instrumento para facilitar a entrada em mercados
14
específicos e que amplia o acesso a tecnologias e compartilha riscos e custos financeiros
(BAUMANN, 1996).
Para Baumann (1996) uma das peculiaridades que distingue o processo de
globalização econômica de toda a sua experiência anterior é que, como conseqüência de sua
forma e intensidade, seus efeitos são mais intensos e se sobrepõem aos fenômenos
econômicos anteriores. Por exemplo, as economias nacionais passaram a ser substituíveis do
ponto de vista locacional, pois as decisões de se investir ou não passaram a ser tomadas não a
partir da dotação de fatores, mas sim a partir de vantagens construídas. Assim, a infra-
estrutura em transportes e comunicações assume importância sem precedentes, tanto pela
contribuição para a qualificação da mão-de-obra, quanto pela condição básica para o tipo de
processo produtivo interligado. Desta forma, a globalização passou, assim, a homogeneizar os
padrões de demanda, levando à fragmentação produtiva e à diferenciação de produtos,
estimulando a competição entre empresas e a formação de alianças. Por isso, a economia
mundial capitalista foi objeto de rápidas e importantes transformações ao longo dos anos de
1980, passando a configurar-se na mais avançada progressão tecnológica e de acumulação de
capital. A partir da década de 1980, o que se percebeu foi um profundo e intenso processo de
internacionalização da vida econômica, social, cultural e política das nações, passando a ser
entendida como o mais avançado estágio do processo histórico de internacionalizações.
Dentre as transformações do capitalismo mundial, citam-se algumas: a) forte aceleração da
mudança tecnológica, caracterizada pela intensa difusão das inovações telemáticas e
informáticas e pela emergência de um novo padrão de organização da produção e da gestão na
indústria e nos serviços; b) a rápida difusão deste novo padrão de organização da produção e
de gestão acentuou o peso do comércio regional intra-indústria, cuja adaptação produtiva às
demandas exigiu certa proximidade física entre produtores/fornecedores/clientes, enquanto as
estratégias tecnológicas e financeiras permaneceram globais; c) o favorecimento da
15
concentração de mercados dentro de blocos regionais, aprofundando a centralização do
capital, através de fusões e aquisições; d) a difusão desigual da mudança tecnológica ente os
países centrais, caracterizada pela “erosão” da liderança industrial americana (que enfrentou
sérios desequilíbrios comerciais e fiscais na década de 1980) e pela unificação européia,
diante da ascensão da indústria japonesa; e) a persistência dos desequilíbrios industrias
americanos levaram os EUA da posição de ‘nação-credora’ para a de ‘nação-devedora’; f) e a
emergência dos investidores institucionais (COUTINHO, 1996).
Diante destas transformações, a globalização passou a ser vista como o
verdadeiro estágio da internacionalização e da integração da economia mundial
contemporânea. Atribuiu-se à globalização: a) a aceleração intensa e desigual da mudança
tecnológica ente as economias centrais; b) a reorganização dos padrões de gestão e de
produção, combinando movimentos de globalização com regionalização; c) a difusão desigual
da revolução tecnológica, reiterando desequilíbrios comerciais e de balança de pagamento; d)
o aumento do número de oligopólios globais e dos fluxos de capitais; e) e a ausência de um
padrão monetário mundial estável (op. cit.).
Neste contexto, as decisões de alocação de recursos regionais passam a ser
resultado de investimentos, em função de vantagens comparativas
1
construídas, o que implica
em necessidades de criação de infra-estrutura e de aumento substantivo de qualificação de
mão-de-obra (BAUMANN, 1996). Sendo assim, a globalização passa a ser o espaço da
acumulação flexível, caracterizada pela mobilidade de capital. Isso corresponderia à nova
distribuição histórico-geográfica e político-cultural das estratégias da divisão social do
trabalho em nível global, sendo que essa definição está estruturada em quatro situações
definidas, quais sejam:
1
Concepção teórica sobre o comércio internacional desenvolvida por David Ricardo em 1817. Sua premissa
básica era de que cada país deve dedicar-se ou especializar-se onde os custos de produção fossem menores
(SANDRONI, 2003).
16
a) a mobilidade acelerada do capital: da condição de validação social do
trabalho privado na esfera da acumulação. Provoca a fragmentação do
sistema produtivo e uma integração que tende a acentuar a posição
subalterna das regiões subdesenvolvidas no espaço do desenvolvimento
desigual da economia-mundo, agravando a polarização entre regiões ricas
e dominantes em relação daquelas da periferia. Há um processo de
concentração e centralização do capital global;
b)
concorrência entre espaços nacionais, blocos (inter)-regionais e empresas
transacionais: estratégias que se configuram muito além da confrontação
comercial de políticas de preço. Dependência de fatores como contratos
interfirmas, sistemas de inspeção e design ou alocação de recursos
organizacionais e tecnológicos;
c)
crescente transnacionalização das economias e da produção: implica em
políticas de nacionalização, diante da necessidade de internacionalização
da produção;
d) enfraquecimento do Estado-Nação: diante do atual ambiente econômico
global.
As quatro situações expostas instigaram a idéia de que se vive na era de um
novo mundo. Um mundo em que a economia aberta estimula a interdependência das regiões
em prol de sua sobrevivência econômica inter-regional. Mas, em vez de estimular um
crescimento econômico mais igualitário entre as nações, a globalização econômica nada mais
fez do que expor, dramaticamente, as diferenças de desenvolvimento econômico entre as
economias subdesenvolvidas em relação às desenvolvidas. Este fato pode ser comprovado
através do Gráfico 1.
17
O Gráfico 1 permite visualizar a dimensão das diferenças de crescimento
econômico no início do século XXI. O critério de seleção dos países que compuseram este
Gráfico foi o Produto Interno Bruto (PIB), do ano base 2003, do qual foram selecionados dois
dos principais países de cada continente do globo.
Gráfico 1 – Produto Interno Bruto (PIB) – a preço de mercado (US$) de países selecionados –
2003
0 2.000.000.000.000 4.000.000.000.000 6.000.000.000.000 8.000.000.000.000 10.000.000.000.000 12.000.000.000.000
USA
China
Japão
Alemanha
Reino Unido
França
Brasil
Canadá
México
África do Sul
Argentina
Egipto
Colômbia
Chile
País
PIB US$
Fonte: GISDATA, 2005
Através do Gráfico 1, constata-se a distância, em termos de produção
econômica, dos países desenvolvidos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido,
França e Canadá) em relação àqueles em desenvolvimento (China, Brasil, México, África do
Sul, Argentina, Egito, Colômbia e Chile). Para Oliveira (2003) este desnível de produção
tomou grandes proporções a partir da globalização econômica, tecnológica e informacional, a
qual evidenciou o alto grau de pobreza que grande parte das nações atuais enfrenta. Desta
constatação, vários estudos foram desenvolvidos por organismos internacionais no sentido de
se buscar formas e/ou modelos econômicos que pudessem desencadear um desenvolvimento
18
mais homogêneo nesses países. Destes organismos internacionais podem ser citados: o Banco
Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Organização Internacional do
Trabalho, a Agência das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) e a Comissão
Econômica para a América Latina (CEPAL), (CORREA, 2003).
Em termos gerais, os efeitos da economia global no processo de
desenvolvimento econômico dos países permitiram evidenciar duas situações diferentes em
seu contexto.
A primeira destacou o grau de invasão na autonomia e na identidade da
soberania dos países, ou seja, o fim do Estado-Nação (por autonomia entende-se o domínio
que cada governante tem do próprio destino de seu país, tido por Sachs (1986) como o
instrumento primordial do desenvolvimento econômico de uma nação). Para autores como
Benko (1999) o “enfraquecimento” do Estado-Nação não é tão expressivo quanto querem
acreditar alguns especialistas. Apesar de o Estado ter de se adaptar às atuais exigências de
sobrevivência no mercado mundial, até o momento não se conseguiu tirar do Estado Nacional
seu ponto “nodal” de atividade política, pois ainda é a única representação política
reconhecida e assegurada pela humanidade.
A segunda evidenciou o quadro local, valorizando suas formas de
organização produtiva. Através das questões locais pode-se iniciar a retomada do
desenvolvimento econômico de uma região e país. Assim, a globalização de uma forma ou de
outra, evidenciou a importância do território frente à competitividade global imposta pelas
economias desenvolvidas (MAILLAT, 2002).
Neste contexto, compreender as economias locais em face ao fenômeno da
globalização é tão importante quanto compreender as causas da mudança do perfil econômico
mundial. Assim, discutir o progressivo debilitamento do grau de territorialidade das atividades
19
econômicas passou a ser, para a maioria dos países industrializados ou em processo de
industrialização, ponto de pauta permanente nas discussões da desterritorialização das
atividades econômicas originadas a partir da década de 1980, uma vez que, “a maior
mobilidade de fatores (especialmente do capital), [...] permite que as hierarquias corporativas
elejam e substituam territórios dentro da “aldeia global”, sem perdas de eficiência,
competitividade e rentabilidade” (LERDA, 1996, p. 241).
A constatação de que o desenvolvimento econômico, no atual paradigma
econômico global, é localizado, traz à tona sua dependência territorial enquanto organização
social em torno de objetivos comuns. As condições que efetivarão este desenvolvimento
passam a ser construídas pela sociedade local e não mais impostas por ações de governo e/ou
organismos internacionais. É neste cenário que se está discutindo e formulando estratégias de
desenvolvimento econômico que partam de “baixo para cima”, ou seja, pela base. O processo
de planejamento de estratégias de desenvolvimento econômico pela base se fundamenta na
capacidade dos agentes locais em se organizar, planejar e executar ações que estejam voltadas
às capacidades e às potencialidades do local. Para isso, é preciso direcionar suas ações aos
setores que estimulem as mudanças estruturais necessárias aos encadeamentos produtivos que
levem ao desenvolvimento econômico regional (HIRSCHAM, 1974, 1996).
Assim, considerando a importância das estratégias de desenvolvimento
econômico baseadas no potencial dos agentes locais em promover ações que estimulem as
mudanças estruturais necessárias ao desenvolvimento econômico, o objetivo desta pesquisa é
analisar e definir uma estratégia de desenvolvimento econômico que estimule a consolidação
da emergência econômica do município de Terra Roxa – PR. As características econômicas e
sociais deste município tornaram-se um objeto da pesquisa em função da sua recente
emergência econômica, cujas causas atribuem-se a algumas características locais que inserem
este município dentro dos mais recentes paradigmas de desenvolvimento econômico. A
20
economia urbana de Terra Roxa toma “fôlego” com o surgimento de uma base industrial
formada por micro, pequenas e médias empresas que se especializaram no ramo de
confecções de roupas infantis. Esta base industrial, num período de dez anos, de 1995 a 2005,
iniciou modificações na estrutura econômica do município, de urbano-rural para urbano-
industrial. Conhecer a origem e as causas do fenômeno de emergência econômica de Terra
Roxa se tornou importantes para o planejamento de uma estratégia que possa estimular as
mudanças estruturais necessárias à consolidação do desenvolvimento econômico do
município, bem como potencializar a reprodução do modelo para outras localidades e regiões
deprimidas.
Para tanto, esta pesquisa está dividida em 6 capítulos, sendo o primeiro esta
introdução. O segundo trata do problema da pesquisa e sua importância. Esse capítulo
apresenta as disparidades de desenvolvimento econômico existentes no Brasil, no Estado do
Paraná, e mais detalhadamente, na região Oeste do Paraná. Tendo por referência o estudo
destas disparidades, constata-se a mudança no perfil econômico do município de Terra Roxa,
sendo esta mudança a responsável pela transformação da estrutura produtiva do município,
justificando-o como objeto de análise. Foi a partir desta constatação que se formulou o
problema da pesquisa. O terceiro capítulo trata do quadro teórico que compôs o arcabouço
empírico. Partindo da concepção teórica de Hirschman (1974, 1996) de que o
desenvolvimento econômico é o resultado de uma seqüência de eventos provocados por
processos industriais que estimulam as mudanças estruturais necessárias ao desenvolvimento
econômico de uma região, o capítulo reúne elementos teóricos que consubstanciam as
estratégias de desenvolvimento econômico que partem da base. Esta estratégia é vista como
uma forma eficiente de estimular esta seqüência de eventos e promover o desenvolvimento
econômico de regiões deprimidas. No quarto capítulo apresentam-se as hipóteses e a base
metodológica que propiciou as respostas ao problema da pesquisa. No quinto capítulo estão
21
expostos os resultados da pesquisa seguidos das discussões acerca destes resultados. E, por
último, estão as conclusões a que se chegou através dessa pesquisa.
2 O PROBLEMA DE PESQUISA E SUA IMPORTÂNCIA
Sob a perspectiva da localização das atividades econômicas, a globalização
passa a ser vista como um processo de interações dinâmicas entre hierarquias e mercados
caracterizados por crescentes e ininterruptas interdependências econômicas territoriais,
interferindo e dificultando a autonomia dos governos. O capital, as corporações, o consumidor
e as comunicações formam e definem a atual localização das atividades econômicas. Desta
forma, não é mais o Estado-Nação que forma o mercado, mas sim o próprio mercado global
que encontra nos Estados-regiões as verdadeiras unidades de negócios da atual economia
global. As prioridades vão mudando à medida que as áreas econômicas passam por sucessivas
fases de desenvolvimento, cujo movimento nada tem a ver com a cultura de uma nação, mas
sim com a capacidade que uma determinada região tem em mobilizar políticas, instituições e
infra-estrutura corretas (OHMAE, 1999). É do efeito sinergético positivo da combinação de
inovações tecnicamente avançadas e dos sistemas organizacionais caracterizados pela
flexibilidade territorial que se está consolidando a globalização econômica (FREEMAN,
1994; UNCTAD, 1993; LERDA, 1996), e não mais pela autonomia econômica do Estado-
Nação.
Contudo, Lerda (1996) afirma que o Estado-Nação deverá permanecer, por
muito tempo, como unidade organizadora básica da vida política, econômica, social e cultural
dos países. A própria evolução da globalização tem demonstrado que junto com ela surgem
também novos desafios e oportunidades, sendo de competência dos governos e autoridades
econômicas nacionais buscarem por instrumentos capazes de enfrentar estes desafios. Um
destes instrumentos é o proposto pela CEPAL através do “regionalismo aberto”, no qual
23
governos tomam a iniciativa de políticas de desenvolvimento regionalizadas como resposta
aos desafios globais.
Neste contexto, o território surge como o espaço concreto em si (com seus
atributos naturais e socialmente construídos), apropriado e ocupado por um grupo social. A
ocupação do território é geradora de raízes e de identidade. Um grupo não pode mais ser
compreendido sem o seu território e a identidade sócio-cultural das pessoas estaria
inarredavelmente ligada aos atributos do espaço concreto (natureza, patrimônio arquitetônico,
paisagem). Outra forma de se abordar a territorialidade é a de compará-la com um campo de
forças, uma teia ou rede de relações sociais, as quais são projetadas no tempo e no espaço,
dissolvendo-se, constituindo-se e se dissipando de modo rápido, de acordo com o campo de
força dominador num determinado período (SOUZA, 1995).
A partir da definição de territorialidade como rede de relações sociais, pode-
se afirmar que o território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de
poder, “sempre que houver homens em interação com um espaço, primeiramente
transformando a natureza (espaço natural) através do trabalho, e depois criando
continuamente valor ao modificar e retrabalhar o espaço social estar-se-á também diante de
um território, e não só de um espaço econômico”, até por que tratar da questão territorialidade
é inconcebível sem, conjuntamente, tratar da interação do homem e a forma como ocupa o
espaço e o territorializa (SOUZA, 1995, p. 96). Assim, o território volta a ser importante, não
apenas como um espaço próprio do Estado, mas sim de diferentes atores sociais, que
manifestam seu poder sobre uma área específica (RODRIGUES, 1995). É o que Santos
(2001) ressaltou ao afirmar que o desenvolvimento passou a ter a lógica dos sistemas sociais,
gerando instabilidades conceituais, nas quais globalização e localização, globalização e
fragmentação são termos de uma dialética que se refazem continuamente. Esta lógica faz com
que cada lugar seja, a sua maneira, o mundo. Mas também permite que o lugar se torne,
24
exponencialmente, diferente dos demais, ou seja, uma maior globalidade corresponde a uma
maior individualidade. Benko (1999) chamou a esse fenômeno de “glocalidade”.
Todas estas mudanças, em termos de posicionamentos teóricos,
redirecionam o lugar para uma posição central de discussões, reportando-se a uma
redescoberta da dimensão local. Nela se impõe a necessidade de se encontrar novos
significados para o local, contemplando seus objetos, suas ações, técnicas e o tempo em que
está inserido.
O local passa a ser entendido como um recorte socioterritorial, delimitado a
partir de sua identidade cultural e social (MARTINELLI e JOYAL, 2004). Também é no local
que se desenvolvem as empresas e as atividades úteis ao desenvolvimento econômico, social e
cultural de uma coletividade. Assim, os lugares estão se especializando de acordo com suas
condições naturais, de sua realidade técnica e de suas vantagens de ordem social. À medida
que as potencialidades dos lugares se evidenciam, suas escolhas para o exercício dessa ou
daquela atividade se tornam mais precisas, o que irá desencadear o sucesso dos
empreendimentos lá existentes, “é desse modo que os lugares se tornam competitivos”
(SANTOS, 1996, p. 199). O local adquire conotações sócio-territoriais de ação, passando a
ser redefinido enquanto agente ativo dos processos de desenvolvimento econômico em curso,
pois passa a ser pensado, planejado e promovido em prol de seu desenvolvimento econômico
(MARTINELLI; JOYAL, 2004; VÁZQUEZ-BARQUERO, 2001).
Independentemente das vantagens ou desvantagens que a globalização
trouxe para o cenário econômico atual, uma questão não se pode negar: a necessidade de se
buscar respostas para este inusitado cenário global, que propicia o desenvolvimento
econômico de uns em detrimento de outros a partir do local. É preciso perceber o quão
latente é a necessidade de se introduzir mudanças radicais na maneira de se entender o
processo evolutivo da globalização, principalmente por parte dos países subdesenvolvidos,
25
dos quais, a própria necessidade de modernização já exige, permanentemente, a adoção de
novas estratégias que lhes possibilite, no mínimo, sobreviver neste cenário.
É este ambiente econômico que tem criado formas distintas de se enfrentar
os desafios que a globalização econômica trouxe para as regiões que se encontram em
processo de desenvolvimento: uma das quais é enfatizar as economias locais enquanto
propulsoras e coadjuvantes de um modelo de desenvolvimento econômico mais condizente às
suas necessidades.
No entanto, os modelos de desenvolvimento econômico necessitam de
estratégias que possam colocar em prática seu plano de ação. Neste sentido, tão importante
quanto definir as ações mais adequadas ao crescimento econômico de uma região é detectar
através dela os mecanismos locais que possibilitam seu êxito. Sendo assim, são situações reais
que propiciam um maior entendimento de quais seriam as fontes geradoras de seu dinamismo
econômico, transferindo para o cenário local as possibilidades reais que desencadeariam este
processo.
Para tanto, existem vários tipos de ações que podem estimular os sistemas
territoriais de produção, os quais desenvolveram diferentes capacidades de adaptação. Isso
quer dizer que, o estágio de desenvolvimento econômico de uma região é, por inúmeros
fatores, diferente de outros, o que proporciona diferenciadas formas de organização espacial
das atividades econômicas, modificando-as de acordo com o nível de desenvolvimento ou de
subdesenvolvimento de cada país.
É a partir desta realidade econômica que algumas regiões tornaram-se mais
atrativas e competitivas que outras, fazendo com que a presença de infra-estruturas básicas
como transporte, energia, centros de tecnologia, de comunicação e população qualificada
passassem a ser o diferencial de competitividade. O foco passou de uma estrutura de produção
baseada apenas no sítio fabril para aquela que converge técnica com potencial humano, aliada
26
às especificidades de cada território, direcionando sua capacidade de competitividade através
da otimização das vantagens territoriais e humanas que dispõem. Em conseqüência, o foco
passou para o meio inovador. Apesar do conceito de meio inovador ter se disseminado
enquanto forma territorial de organização produtiva somente a partir de 1990, a palavra
“inovação” já vem sendo utilizada no meio econômico desde a década de 1930 por Joseph
Alois Schumpeter (1883-1950).
Schumpeter (1984) propôs uma teoria da evolução econômica integrada
explicitamente à dimensão tecnológica, destacando o papel central desempenhado pela
inovação tecnológica na dinâmica do sistema econômico, ou seja, a inovação passa a ser o
“motor do desenvolvimento econômico”. Sua proposta parte dos empresários, mais
precisamente dos estímulos que estes devem ter para inovar. Como retorno a estes estímulos,
pode-se ter resultados conjuntos de inovações, as quais organizam complementaridades entre
produtos, processos de produção e espaços geográficos, fazendo com que a economia entre
em longa fase de crescimento favorecendo a difusão de novos produtos e técnicas.
O empresário-inovador é o personagem-chave que detém os meios de
inovação e os emprega. Na seqüência, esta inovação é recuperada pelo empresário-imitador e
se difunde progressivamente por “conjuntos” no âmbito da atividade econômica (BENKO,
1999).
Desta forma, o conceito de meio inovador é tido como uma maneira de
organização territorial onde nascem os processos de inovação, como conseqüência direta dos
elementos que determinam e favorecem a dinâmica e a transformação dos processos
econômicos territoriais, cuja característica principal é a integração de dinâmicas endógenas
com as mudanças advindas do exterior (MAILLAT, 2002). A inovação passa a ser vista como
um diferencial de competitividade, assumindo uma importância estratégica singular no
processo de construção de um desenvolvimento econômico factível de ser operacionalizado.
27
É neste contexto que as estratégias de desenvolvimento econômico regional
ganham um novo vigor, passando a ser vistas como ferramentas básicas de progresso de um
território (YORY, 2000). Isso porque as estratégias de desenvolvimento econômico
territoriais são uma necessidade no atual ambiente global, onde regiões e lugares assumem
perspectivas singulares na oportunização de novas formas produtivas, na própria organização
territorial, na inclusão social e na melhoria da qualidade de vida da população local
(CALDAS, 2003).
Neste sentido, o Brasil oferece inúmeras possibilidades de estudo. As suas
desigualdades econômicas constituem, segundo Furtado (1981, p. 95), um “exemplo
interessante do quanto um país pode avançar no processo de industrialização, sem abandonar
suas principais características de subdesenvolvimento”.
No Brasil, durante a transição do século XIX para o século XX, os aumentos
da renda (produtividade econômica) foram basicamente resultado de uma simples realocação
de recursos, visando à maximização das vantagens comparativas no comércio exterior. A
passagem da agricultura de subsistência para a agricultura comercial não significou,
efetivamente, na mudança da agricultura tradicional existente para a moderna. Este fato pode
ser atribuído à grande concentração de propriedades territoriais e à abundância da força de
trabalho existente na agricultura de subsistência, a qual possibilitou significativos aumentos
da produtividade, passando a beneficiar uma pequena minoria de pessoas. Contudo, ao se
comparar estes benefícios com o tamanho total da população brasileira, constata-se que essa
minoria modernizada foi suficientemente grande para permitir um amplo desenvolvimento
urbano e um começo de industrialização nacional (FURTADO, 1981). Este fato resultou na
concentração econômica existente, desde 1950, na região Sudeste do Brasil, mais
precisamente no Estado de São Paulo, tido como o “motor” do desenvolvimento econômico
28
brasileiro. Através do Gráfico 2, pode-se constatar o quanto a região Sudeste do Brasil se
destaca, em termos de produção econômica, das demais regiões brasileiras.
Gráfico 2 – Produto Interno Bruto (PIB) das regiões do Brasil (R$ de 2000) – 1950/2000
0,00
100.000.000,00
200.000.000,00
300.000.000,00
400.000.000,00
500.000.000,00
600.000.000,00
700.000.000,00
1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano
PIB em R$ de 2000 (mil)
CO - região Centro-Oeste N - região Norte NE - região Nordeste
S - região Sul SE - região Sudeste
Fonte: IPEADATA ( 2005)
O Gráfico 2 também nos permite tecer outras considerações:
a) do ano de 1950 a 1960, as regiões brasileiras de um modo geral
apresentavam uma produção econômica semelhante umas das outras. A
partir do ano de 1960 a região Sudeste começa a destacar-se das demais
regiões, sendo que, entre as décadas de 1970 e de 1980, um
extraordinário crescimento econômico ocorreu nessa região. Pode-se
dizer que este crescimento foi estimulado de forma acelerada pela
decisão política de colocar em prática o Plano Nacional de
29
Desenvolvimento Econômico (PND) I e II
2
. Entre suas prioridades estava
definida a estratégia de desenvolvimento industrial do país (VILLELA;
SUZIGAN, 1996). Contudo, a região Sudeste já apresentava uma
estrutura industrial básica, principalmente no Estado de São Paulo,
advinda do comércio e da exportação do café, fato este que acabou por
destacá-lo (SUZIGAN, 1986)
3
;
b) a partir da década de 1970, as demais regiões começam a apresentar um
gradativo crescimento produtivo, sendo este crescimento resultante da
Política Nacional de Integração Econômica, ocorrida a partir da década
de 1940 com o Governo de Getúlio Vargas, e da execução dos PNDs I e
II. Contudo, o diferencial de crescimento destas regiões com o da região
Sudeste está justamente na estrutura econômica das demais regiões,
configuradas, até a década de 1970, numa estrutura pré-capitalista.
No Brasil, o avanço global da economia e suas disparidades regionais
passaram a exercer forte pressão no sentido de encontrar alternativas de desenvolvimento
econômico que estimulassem essa desconcentração. Uma das alternativas propostas via
Constituição Federal de 1988, foi descentralizar parte da ação das políticas públicas de
desenvolvimento econômico. Neste contexto, foi repassado aos Estados e municípios a
responsabilidade pela busca de estratégias que possam, efetivamente, resultar em
desenvolvimento econômico, o qual por sua vez, deveria refletir na expansão econômica do
país. Contudo, a região Sudeste continuou sendo a região brasileira que mais cresceu em
termos produtivos do país (Gráfico 2).
2
O Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (PND) I e II foram programas de desenvolvimento
econômico e social que vigoraram nos governos Médici e Geisel, de 1972-1974/1975-1979, respectivamente.
Maiores detalhes ver CASTRO (1985).
3
Para maiores detalhes acerca das causas do surgimento e do desenvolvimento industrial brasileiro, ver
SUZIGAN (1986).
30
Apesar das desigualdades econômicas regionais ainda existentes no Brasil
(Gráfico 2) e das dificuldades do governo federal em implantar uma estratégia de retomada de
seu crescimento econômico de forma mais equilibrada, algumas regiões do país vem
mostrando que é possível avançar no desenvolvimento econômico a partir de suas
potencialidades locais. Um exemplo disso é o Estado do Paraná, que pode ser considerado um
exemplo promissor do quanto um processo de planejamento regional pode estimular o
desenvolvimento econômico.
No Gráfico 3 nota-se, através do PIB do Estado do Paraná, referente aos
anos de 1950 a 2000, o quanto o Estado evoluiu em termos de produção econômica neste
período.
Gráfico 3 – Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná (R$ de 2000) – 1950/2000
0,00
10.000.000,00
20.000.000,00
30.000.000,00
40.000.000,00
50.000.000,00
60.000.000,00
70.000.000,00
1950 1960 1970 1980 1990 2000
Anos
PIB em R$ de 2000 (mil)
Fonte: IPEADATA (2005)
Com base no Gráfico 3, nota-se que o Estado do Paraná vem alcançando um
expressivo crescimento econômico a partir de 1970. Esses índices, segundo o IPARDES
(2003) se devem à intensa modernização de sua base produtiva, desencadeada pela revolução
31
verde
4
, e na interiorização da expansão industrial ocorrida no Estado, capitaneada pela
concentração de alguns pólos regionais (Curitiba, Londrina, Cascavel, Maringá, Ponta Grossa,
Guarapuava). Para Trintin (2005) o crescimento econômico ocorrido no Estado do Paraná a
partir de 1970 foi reflexo direto das políticas públicas de desenvolvimento regional
implantadas no país (PND I e II) através das quais o Estado, efetivamente, diversifica sua base
produtiva e, conseqüentemente, expande sua plataforma industrial, integrando a produção
estadual junto ao mercado interno nacional. Da junção destes dois fatores, modernização
agrícola com a expansão industrial, o Paraná vivencia, nas três décadas subseqüentes, seu
período de maior geração de renda interna. De um PIB de aproximadamente R$ 12 bilhões de
em 1970 para 68 bilhões de Reais em 2000, o que acaba por consolidar sua estrutura
produtiva.
Contudo, mesmo tendo o Paraná alcançado resultados positivos quanto ao
seu processo de crescimento econômico, percebe-se, através do Gráfico 4, que os efeitos deste
crescimento também não foram sendo uniformemente distribuídos pelo Estado.
4
Processo de aumento da produtividade de cereais básicos, idealizado através do financiamento norte-
americano, para permitir que a agricultura dos países em desenvolvimento aumentasse sua produção. Contudo
seu êxito só foi alcançado em áreas em que a agricultura já estava modernizada, ocorrendo o inverso nas
regiões mais pobres, que ainda utilizavam métodos tradicionais de cultivo (SANDRONI, 2003, p.531). A
revolução verde estava fundamentada na melhoria da produtividade agrícola, substituindo formas de
produção tradicionais por um novo conjunto de práticas tecnológicas. O Brasil optou pela adoção deste
padrão tecnológico, através da estratégia agrícola contida no I PND (TRINTIN, 2005).
32
Gráfico 4 – Produto Interno Bruto (PIB) das Mesorregiões do Estado do Paraná (em R$ de
2002) – 1970/1998
0
3.000.000.000
6.000.000.000
9.000.000.000
12.000.000.000
15.000.000.000
18.000.000.000
21.000.000.000
1970 1975 1980 1985 1990 1996 1997 1998
Anos
Centro Oc ide ntal P a ra na ens e Centro Oriental P aranaense Centro-Sul P aranaense
Metropolitana de Curitiba No roes te P aranaens e Norte Central P aranaens e
No rte P io neiro P aranaens e Oeste Paranaense Sudeste Paranaense
Sudoeste Paranaense
Fonte: IPEA (2005)
Através do Gráfico 4, nota-se que tanto a região Metropolitana de Curitiba
(RMC) (sendo Curitiba a capital do Estado) quanto a região do Norte Central Paranaense
(capitaneada pelos municípios de Londrina e Maringá) representam os dois grandes pólos de
crescimento econômico do Estado.
Por ser RMC a que detinha as melhores condições em infra-estrutura do
Estado, e ser o centro financeiro do Paraná, as políticas de desenvolvimento econômico do
governo federal e estadual se concentraram nesta região. Isso permitiu seu expressivo
crescimento econômico nas décadas seguintes (de aproximadamente R$ 3,5 bilhões em 1970
33
para R$ 20 bilhões no final da década de 1990), distanciando a RMC das demais do Estado.
Outra região que também conseguiu crescer, mesmo que num ritmo bem mais lento que a
RMC, mas significativo em termos de Estado, foi a região do Norte Central. Seu crescimento
também está atribuído às políticas regionais de desenvolvimento econômico do governo;
contudo seu êxito foi favorecido pela proximidade da região com o eixo industrial paulista
(TRINTIN, 2005).
Para as demais regiões do Estado, o que se percebe é um pequeno
crescimento econômico nas regiões Oeste e Centro Oriental, se comparadas com a RMC e à
região Norte Central, e certo retrocesso e estagnação econômica para as demais regiões
(Centro Ocidental, Norte Pioneiro, Sudoeste, Noroeste, Centro Sul e Sudeste). Este
desempenho, segundo Gualda, Rocha e Fukui (2005) ocorreu através das políticas de
desenvolvimento econômico do governo Estadual. A partir da década de 1970, as políticas
públicas favoreceram as regiões que já detinham certa infra-estrutura física e social, deixando
as demais regiões à mercê do processo de diversificação produtiva e industrial que o Estado
estava vivenciando.
Na região Oeste do Paraná, terceira no ranking do crescimento das regiões
do Estado, pode-se afirmar que dos 50 municípios que a compõem, Cascavel, Foz do Iguaçu e
Toledo destacam-se em função de suas dimensões populacionais e níveis de polarização,
concentrando 52,9% da população total da região
5
e 61,5% da população urbana
mesorregional. A principal característica da estrutura produtiva da região está concentrada na
produção agropecuária. Nos últimos anos a região avançou na agroindustrialização, cujos
segmentos vêm impulsionando a dinâmica econômica regional. A região passou de uma
economia essencialmente agrícola para a consolidação do agronegócio cooperativado
(IPARDES, 2003).
5
Em 2000, a mesorregião Oeste detinha uma população de 1.138.582 habitantes (IPARDES, 2003).
34
Deve-se ressaltar que no conjunto das dez mesorregiões do Estado, a
mesorregião Oeste concentrava, em 2000, o terceiro maior contingente de população ocupada
do Estado, correspondendo a 495 mil pessoas ou 12,2% do total do Paraná. Apesar de ser
considerada uma das mais importantes áreas de produção agropecuária estadual, alguns
municípios destacam-se por sua dinâmica menos industrial e voltada às atividades
relacionadas ao agronegócio e ao turismo (Foz do Iguaçu e os municípios lindeiros integrantes
da Costa Oeste) (IPARDES, 2003).
No entanto, a região Oeste Paranaense, em termos de perfil interno, também
apresenta disparidades de desenvolvimento econômico. Isso pode ser visualizado pela
localização do setor industrial apresentado na Figura 1, através do Quociente de Localização
(QL). O QL é um indicador de análise regional utilizado na identificação de mudanças no
padrão de localização e de especialização econômica das regiões
6
. O QL indica a
concentração relativa de uma determinada indústria numa região ou município
comparativamente à participação dessa mesma indústria no espaço definido como base, por
exemplo, o Estado do Paraná. Assim, a verificação de um QL elevado em determinada
indústria numa região ou município indica a especialização da estrutura de produção local
naquela indústria. Ou seja, a partir da análise do QL é possível identificar a existência de
especialização produtiva na microrregião.
6
O QL é representado pela equação
∑∑
=
ij
ij
i
ij
j
ijij
ij
EE
EE
QL
ij
E = Número de empregados no setor de atividade i da região j;
j
ij
E = Número de empregados no setor de atividade i de todas as regiões;
i
ij
E = Número de empregados em todos os setores de atividades da região j;
∑∑
ij
ij
E
= Número de empregados em todos os setores de atividade e todas as regiões.
Seu indicador passa a ser significativo quando o QL 1. Mais detalhes ver Lima et al (2005).
35
Pela Figura 1, nota-se a evolução da localização do emprego industrial nos
municípios da mesorregião Oeste do Paraná, tendo como período de análise os anos de 1970 a
2000.
36
Figura 1 – Localização do emprego industrial da Mesorregião Oeste Paranaense – 1970/2000
1970
1980
1991 2000
QL 1 / Localização significativa
0,50 QL 0,99 / Localização média
QL 0,49 / Localização fraca
Notas:
QL: Quociente de Localização
municípios:
1 – Guaíra
2 – Terra Roxa
3 – Palotina
4 – Assis Chateaubriand
5 – Formosa do Oeste
6 – Jesuítas
7 – Iracema do Oeste
8 – Nova Aurora
9 – Maripá
10 – Nova Santa Rosa
11 – Mercedes
12 – Marechal C. Rondon
13 – Quatro Pontes
14 – Toledo
15 – Tupãssi
16 – Cafelândia
17 – Anahy
18 – Iguatu
19 – Corbélia
20 – Braganey
21 – Campo Bonito
22 – Guaraniaçu
23 – Diamante do Sul
24 – Ibema
25 – Catanduvas
26 – Cascavel
27 – Santa Ter. do Oeste
28 – São Pedro do Iguaçu
29 – Ouro Verde do Oeste
30 – São José das Pal.
31 – Pato Bragado
32 – Entre Rios do Oeste
33 – Santa Helena
34 – Diamante do Oeste
35 – Vera Cruz do Oeste
36 – Missal
37 – Ramilândia
38 – Itaipulândia
39 – Medianeira
40 – Foz do Iguaçu
41 – Santa Ter. de Itaipu
42 – São Miguel do Iguaçu
43 – Serranópolis do Ig.
44 – Matelândia
45 – Céu Azul
46 – LindOeste
47 – Santa Lúcia
48 – Capitão L. Marques
49 – Boa Vista da Apª
50 – Três Barras do PR
Fonte: Lima, et al. (2005)
1
43
3
4
5
6
7
8
11 10
9
15
12
13
14
16
19
17
18
20
21
22
23
31
32
33
30
29
26
27
28
34
35
45
37
36
38
40
41
42
39
2
44
48
46
47
49
50
25
24
1
3
4
5
8
10
12
14
19
22
33
26
45
40
42
39
2
44
48
25
1
3
4
5
8
12
14
19
22
33
26
45
40
42
39
2
44
48
25
1
3
4
5
6
8
10
15
12
14
16
19
20
21
22
33
30
29
26
27
34
35
45
36
40
41
42
39
2
44
48
46
49
50
25
24
0 100 km
37
Pela Figura 1, nota-se que durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, os
municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo mantiveram uma localização significativa
das atividades industriais regionais, conferindo-lhes o atributo de municípios polarizadores no
Oeste paranaense, com exceção do município de Foz do Iguaçu, considerado um enclave
econômico na região. Na definição de Hirschman (1985) o enclave econômico não se envolve
com a economia de seu entorno pela ausência de efeitos em cadeia. Já Cascavel e Toledo
destacaram-se pela eficiência da estrutura econômico-industrial da região. Contudo, a partir
do ano 2000, percebe-se uma nítida desconcentração das atividades industriais na região
Oeste. Foz do Iguaçu e Cascavel passam de uma área de significativa localização para uma
área de média localização do emprego industrial. Para o município de Foz do Iguaçu, pode-se
dizer que a causa desta mudança é atribuída à maior exploração econômica de suas áreas
turísticas (Parque Nacional do Iguaçu, Hidrelétrica de Itaipu Binacional e a tríplice fronteira
(Brasil, Paraguai e Argentina). Para o município de Cascavel, a causa desta desconcentração é
atribuída à sua atual configuração de centro regional em prestação de serviços (LIMA et al.,
2005)).
Por outro lado, chama a atenção na Figura 1 a emergência de alguns
municípios, que até o início do ano 2000 não eram representativos na localização do emprego
industrial na região Oeste do Paraná. Um destes municípios é Terra Roxa, situada no Oeste da
região (Figura 2).
38
Figura 2 – Mapa do Paraná com destaque para a Mesorregião Oeste, seus principais
municípios e Terra Roxa – 2000
Legenda:
1 - Terra Roxa 3 – Cascavel 5 - Curitiba
2 – Toledo 4 – Foz do Iguaçu
Fonte: IBGE (2005c)
O município de Terra Roxa foi criado pela Lei Estadual nº 220, de
14/12/1961. Seu histórico de criação e colonização seguiu o padrão adotado no Estado do
Paraná em 1960. Nesse padrão, a Companhia de Colonização e Desenvolvimento Rural
(CODAL), comprou a área onde se localiza o município. Ela dividiu esta área em lotes rurais
e urbanos (PIERUCCINI; TSCHÁ; IWAKE, 2003). Este processo de colonização culminou,
já na década de 1970, em uma concentração populacional de 38.237 habitantes, tendo por
atividade econômica a produção agrícola centrada no café. Contudo, nesta mesma década, o
Oeste do Paraná ingressa numa outra fase econômica caracterizada pela agricultura centrada
no binômio “soja e trigo”, altamente tecnificada, mecanizada e com largo uso de insumos
importados (revolução verde) (PIFFER, 1997).
3
4
5
1
2
0 58,38 Km
39
Como conseqüência dessas mudanças, Terra Roxa entra num período de
acentuado êxodo populacional (tanto rural quanto urbano), impulsionado pela perda dos
cafezais atingidos pelas geadas, pela modernização agrícola e pela inserção de novas
commodities. A união destes fatores acarretou, nas décadas seguintes, numa redução
populacional; de 38.237 habitantes da década de 1970, passa para 16.291 no início dos anos
2000, o que aponta para o declínio econômico do município. (IBGE, 2005a). Contudo, a partir
do ano 2000, constata-se um significativo aumento de indústrias no município. Se tomarmos
por base os índices de ocupação de mão-de-obra local pode-se verificar o quão significativo
está sendo o setor na oferta de empregos locais (Gráfico 5):
Gráfico 5 - Evolução da mão-de-obra ocupada, por setores da economia em Terra Roxa
(1985/2003)
0
200
400
600
800
1000
1200
INDUSTRIA CONSTR CIVIL COMERCIO
SERVICOS AGROPECUARIA
Fonte: MTE/RAIS (2005)
O que se percebe claramente no Gráfico 5 é que a mão-de-obra local se
distribuía nos setores de serviços em maior escala e de comércio; e na agropecuária em menor
escala, durante as décadas 1980 a meados de 1990. Esta distribuição estava diretamente
influenciada pelo bom desempenho da agropecuária, principal atividade econômica do
município. A partir de 1993, até 1996, período de criação do Plano Real e de abertura da
economia nacional ao capital estrangeiro, nota-se certa estabilidade entre os setores, cuja
40
causa está atribuída ao período de adaptação que o Plano Real exigiu e que levou os
empresários a um período de contenção e cautela quanto aos investimentos. Em 1999, período
em que o Plano Real já estava consolidado, alguns setores da economia nacional, como a
agropecuária e a indústria, enfrentaram problemas de competitividade frente aos produtos
importados. Este fato provocou uma série de processos de reestruturação para estes setores,
sendo que na indústria muitas empresas foram eliminadas por não conseguirem se ajustar a
estas mudanças (CAMPOS, 2004). Contudo, em Terra Roxa o que se verifica é uma
significativa expansão do emprego no setor industrial justamente a partir de 1999, situação
oposta ao cenário que o setor vivenciava neste período, em nível nacional.
O Gráfico 5 também nos permite constatar a mudança na divisão social do
trabalho de Terra Roxa, que a partir de 1997 se direciona para o setor industrial. Esta
mudança reflete claramente a tendência de alteração na estrutura produtiva de Terra Roxa, de
urbano-rural para urbano-industrial, apontada por Lima et al. (2005), bem como o
esgotamento de postos de trabalho no setor agropecuário. Com a expansão do setor industrial
a partir de 1999, começa uma migração de mão-de-obra de outros setores da economia local
para o setor industrial, pois era o setor que estava em franca expansão, conseqüentemente
absorvendo maior número de trabalhadores. Sendo assim, a expansão do setor industrial
acarreta a geração de postos de trabalho, preenchida pela própria população local, advindos,
em sua grande maioria, da própria área urbana e rural do município de Terra Roxa.
Esta afirmação é comprovada através do Gráfico 6, que aponta o setor
industrial como maior absorvedor de mão-de-obra na cidade a partir do ano de 2000.
41
Gráfico 6 - Profissões que mais admitiram em Terra Roxa em 2000/2002 (saldo entre
contratações e demissões)
478
14
10
9
11
0 100 200 300 400 500 600
Trabalhador Ind Têxtil
Supervidor Etiq e Embalagem
Trabalhadores Laticineos
Vendedor Varejista
Aux Escritório
Fonte: MTE/RAIS (2005)
A expansão do setor industrial em Terra Roxa é perceptível pela Figura 1.
Entre 1970 e 1999 a localização do emprego industrial em Terra Roxa era fraca. No entanto, a
partir de 2000 ocorre uma emergência da economia do município no cenário regional e na
localização significativa do emprego industrial. Desta constatação é que se questiona: O que
explica a emergência econômica de Terra Roxa?
As atuais correntes da economia regional, como Amaral Filho (2001);
Buarque (2002); Martins (2002); Martinelli e Joyal (2004), entre outros que identificam no
potencial endógeno de um local sua possibilidade real de desenvolvimento econômico, a
flexibilização produtiva local é considerada a forma concreta de viabilizar o desenvolvimento
econômico de um município. Desta forma, o município de Terra Roxa parece reunir alguns
elementos que indicam um fenômeno de crescimento econômico semelhante ao chamado de
desenvolvimento endógeno. Essa pode ser a explicação de sua emergência. Esse fenômeno, se
confirmado, pode ter sido o responsável, num espaço de seis anos, pela modificação da
estrutura econômica do município, indicado por Lima et al. (2005), o qual pode estar
modificando a estrutura urbano-rural, existente até o final de 1990, para a estrutura urbano-
industrial.
42
O curioso nas mudanças do Quociente de Localização e da ocupação da
mão-de-obra é que esta alteração estrutural apresenta uma particularidade que destaca Terra
Roxa dos demais municípios que compõem a região Oeste do Paraná. Essa estrutura não se
apresenta nos moldes das agroindústrias que predominam na região, mas sim no setor de
confecções de roupas infantis, segmento atípico ao seu entorno e que vem provocando
significativas mudanças na estrutura econômica local, conforme dados do Ministério do
Trabalho (RAIS/CAGED).
Deste contexto, algumas questões podem ser levantadas:
a) No fenômeno de emergência econômica de Terra Roxa, quais foram os
fatores que interferiram na estrutura sócio-econômica local que
propiciaram essa emergência?
b) Este fenômeno pode ser reproduzido por outras regiões/localidades?
c) Que tipo de estratégia de desenvolvimento econômico pode ser traçada, a
partir da atual configuração econômica de Terra Roxa, para o efetivo
avanço da economia local?
d) Quais e quem serão os agentes que devem participar do processo de
elaboração desta estratégia?
e) Que garantias a sociedade local poderá ter de que este fenômeno
realmente poderá consolidar seu incipiente crescimento econômico?
É pela busca de respostas às questões acima que a análise do fenômeno de
emergência econômica do município de Terra Roxa nos motiva a buscar, junto à literatura
especializada em desenvolvimento econômico local, uma estratégia de desenvolvimento
econômico que consolide seu processo industrial. Até porque, para Hirschman (1974, 1996) a
industrialização nada mais é do que o reflexo do processo de desenvolvimento econômico de
uma região. Portanto, acredita-se que, a partir do contexto de Terra Roxa, será possível definir
43
as linhas gerais de uma estratégia de desenvolvimento econômico local que possa consolidar
sua atual base produtiva.
Desta forma, partindo-se da premissa teórica de que a expansão industrial é
um reflexo do processo de desenvolvimento econômico (HIRSCHMAN (1974, 1996);
FURTADO (1963, 1983); SINGER, 1976) e que o conceito de local, enquanto referencial de
desenvolvimento econômico, passa a ser evidenciado e inserido na formulação de políticas
públicas de desenvolvimento econômico, compete a esta pesquisa investigar como se produz
uma seqüência de eventos (HIRSCHMAN, 1974, 1996) que possa provocar a indução do
avanço econômico local, bem como buscar junto à literatura especializada em
desenvolvimento econômico local uma estratégia de desenvolvimento econômico que possa
efetivamente produzir encadeamentos produtivos, os quais acredita-se, provocar as mudanças
estruturais necessárias ao crescimento e ao desenvolvimento econômico local. Assim, o
objetivo principal desta pesquisa é analisar e definir uma estratégia de desenvolvimento
econômico que estimule e consolide o recente crescimento econômico do município de Terra
Roxa, tendo por objetivos específicos: a) buscar na literatura especializada em
desenvolvimento econômico local, as atuais frentes estratégicas de desenvolvimento
econômico local; b) identificar e analisar através da pesquisa de campo como surgiu e
avançou o desenvolvimento econômico de Terra Roxa (através de seu resgate histórico-
econômico de 1990 a 2005); c) definir e avaliar a estratégia de desenvolvimento econômico
mais adequado à consolidação e manutenção da atual estrutura econômica de Terra Roxa.
Neste sentido, no próximo capítulo serão definidos os conceitos básicos para
a compreensão do desenvolvimento econômico regional e local e feita uma revisão de
literatura, tendo por foco de análise as estratégias de desenvolvimento econômico local.
3 QUADRO TEÓRICO
O tema do desenvolvimento econômico tem se tornado um importante
objeto de estudo e de pesquisas ao longo da histórica econômica contemporânea, tendo por
um de seus principais desafios identificar as causas de sua promoção.
Até o início do século XX acreditava-se que o desenvolvimento econômico
era resultado do equilíbrio da oferta e da procura. A idéia do “laissez faire” dominava as
políticas de desenvolvimento econômico. Mas, com a crise mundial de 1930, a ideologia do
laissez faire” passa a ser repensada em função do grande número de desempregados e das
diferenças no grau de desenvolvimento econômico existente entre os países. Deste cenário,
surge a idéia da necessidade de intervenção governamental para a promoção de um
desenvolvimento econômico mais equilibrado entre os países.
A partir da década de 1950 a intervenção governamental ganha peso na
definição das políticas de desenvolvimento econômico. A partir desta década os modelos de
desenvolvimento econômico passam a ser planejados pelos governos e o planejamento passa a
ser visto como a solução que iria atenuar as disparidades econômicas regionais, pois
resolveria a distribuição de renda e solucionaria os demais tipos de problemas advindos do
processo de desenvolver economicamente um país. Mas, a partir de 1970 iniciam-se críticas
ao desenvolvimento econômico planejado. As avaliações feitas ao longo das décadas de 1950
e 1960 mostraram que havia diferenças entre planejar e executar. Este fato agravou-se pela
“copia” de planejamentos exitosos de outros países. A transposição de planejamentos não
levava em consideração as especificidades e particularidades próprias de cada país, fato que o
inviabilizava, gerando críticas a sua efetividade. Outro fato que contribui às críticas foi a
“confusão” que se fez entre crescimento econômico (geração de recursos sem mudanças
45
estruturais) e desenvolvimento econômico (distribuição mais equitativa de recursos com
mudanças estruturais), termos tidos por alguns planejadores como sinônimos. Esta “confusão”
inviabilizou um grande número de planejamentos, principalmente daqueles elaborados para os
países em processo de desenvolvimento, onde, ignorou-se a necessidade de mudanças
estruturais para a efetividade do desenvolvimento econômico (FONSECA, 1998).
Nas décadas seguintes, principalmente a partir de 1980, a humanidade
vivencia um novo contexto econômico, onde o globalização econômica para a ser o fenômeno
internacional que altera e direciona a economia mundial. A partir deste cenário as
disparidades de desenvolvimento econômico se evidenciam, instigando governos e
planejadores a buscar estratégias de desenvolvimento econômico que estimulem
potencialidades locais em prol de seu desenvolvimento econômico. Desta constatação a
sociedade civil organizada passa a ser o elemento que dinamiza o processo de planejamento
do desenvolvimento econômico. A relação de identidade com o território em que vive faz com
que esta sociedade se sinta motivada a buscar soluções aos problemas econômico-sociais
existentes, instigando organizações locais que buscam superar problemas comuns. Assim, o
processo de planejar o desenvolvimento econômico passa a ser não só de responsabilidade do
Estado, mas sim de sua interação com a sociedade local, ampliando assim as chances de êxito
do planejamento.
Isto posto, este capítulo tem por objetivo relatar o processo de
desenvolvimento econômico ao longo do último século, evidenciando o quanto a globalização
econômica interferiu nas mudanças do perfil econômico mundial e o quanto a sociedade civil
organizada passa a ser o elemento diferenciador no processo de se planejar o desenvolvimento
econômico.
46
3.1 O Processo de Desenvolvimento Econômico
Ao longo da evolução do capitalismo industrial ocidental, o crescimento
rápido foi alcançado, segundo Schumpeter (1984), através da ação de empresários criadores,
os quais produziram núcleos de progresso industrial. Ainda que as inovações se originassem
cada vez em uma indústria determinada, os efeitos monetários e outras circunstâncias eram
tais que promoviam ondas de novas aplicações de capital em todo o campo industrial. Por
exemplo, a América do Norte centrou-se na indústria da inovação, afastando-se daquelas que
trabalhavam apenas para o mercado interno das zonas subdesenvolvidas. Ou seja, foi através
das inversões diretas dos norte-americanos no exterior que sua indústria interna alcançou a
expansão e diversificação necessária para a sua consolidação. Já, na América Latina, ocorreu
o inverso, pois os investidores só tinham interesse em investir em indústrias extrativas e que
produziam para o mercado de exportação. Esta opção dos investidores estrangeiros adveio do
próprio desinteresse do capital privado estrangeiro em trabalhar para os mercados internos dos
países subdesenvolvidos, tendo por causa principal a pobreza dos consumidores locais, até
porque o investimento do capital estrangeiro é atraído para aquele país que efetivamente possa
se transformar em mercado em potencial, e os países da América Latina, naquela época, não
correspondiam a estas potencialidades (NURKSE, 1976).
Nurkse (1976) já afirmava que sem investimento privado direto não havia
como gerar o capital necessário para o desenvolvimento econômico. No caso dos países
subdesenvolvidos, geralmente não há nenhum incentivo para que o capital privado se dedique
a trabalhar pela expansão das economias internas, o que para o autor significa que sem o
aumento da produção para o mercado interno, não há como o processo de industrialização se
efetivar e gerar crescimento econômico.
47
Outro ponto que merece destaque na análise de Nurkse (1976) é o papel
importante do comércio internacional na economia mundial do século XIX. Esta importância
deve-se à existência de uma periferia e de um vazio econômico além dela. Com a expansão da
industrialização, as grandes correntes do comércio internacional deixaram de lado as zonas
economicamente atrasadas para fluir entre os países industrialmente adiantados. Assim, o
modelo de crescimento equilibrado passou a ser um eficiente mecanismo de funcionamento
do comércio internacional, pois foi a forma encontrada de se preencher o vazio causado pelos
países periféricos, agravando ainda mais o estado de pobreza desses países.
Este fato fez com que no início do século XX, as teorias de crescimento
econômico emergissem e passassem a ditar as regras econômicas que desencadearam a maior
expansão econômica presenciada pela humanidade até então. A expansão produtiva dos bens
materiais transformou-se no referencial de desenvolvimento econômico, surgindo daí a
associação da idéia de desenvolvimento à de crescimento. Segundo Sachs (1986, p, 30), “ um
estreito economismo levava a pensar que, uma vez assegurado o crescimento rápido das
forças de produção, provocaria um processo completo de desenvolvimento que se estenderia
mais ou menos espontaneamente a todos os domínios da atividade humana”.
A premissa básica da teoria do crescimento econômico pregava a idéia do
“quanto mais, melhor”, e de que todos os problemas estruturais acabariam por se resolver à
medida que o processo de crescimento como um todo avançava. O foco estava centrado nas
instrumentações que o aumento da oferta de bens e de serviços exigia, sendo que as diferenças
qualitativas, entre os continentes, países e regiões eram ignorados por completo. Como
resultado, houve o agravamento das disparidades econômicas, que culminou no grande
distanciamento existente entre economias desenvolvidas daquelas em desenvolvimento
7
(SACHS, 1986).
7
Este distanciamento pôde ser visualizado no Gráfico 1, no problema desta pesquisa.
48
Contudo, a partir da década de 1960, o modelo de desenvolvimento
capitalista de produção adotado, o fordismo, entra em crise. O fordismo perde velocidade
entravado pela rigidez da cadeia de produção, dando lugar à experimentação de novas
estratégias de reestruturação produtiva (BENKO, 1999). Desta forma, tanto as disparidades de
desenvolvimento econômico detectadas, quanto a crise do fordismo, formaram o estopim que
deu início, a partir do período pós-guerra, às pesquisas de estratégias de desenvolvimento
econômico, as quais visavam tanto à redução dos desníveis de progresso entre as nações e
regiões quanto à busca por uma reestruturação produtiva que pudesse estancar a crise
econômica mundial. Neste contexto, as estratégias capitalistas de racionalização e de
flexibilização produtiva remodelam totalmente as práticas fordistas. As novas estratégias
capitalistas subvertem as relações de produção e os equilíbrios sóciopolíticos ao redistribuir
os mapas dos poderes, acarretando no aumento e agravamento das marginalizações sociais de
massa (BENKO, 1999).
As estratégias de reestruturação lutaram contra a “rigidez”, ou seja, trataram
de remodelar a organização do trabalho, os processos de produção, os sistemas de gestão e a
qualidade dos programas ou mesmo da norma social de consumo. Assim, a mobilidade
otimizada tornou-se o elemento-chave da nova ortodoxia capitalista. A linha de produção
flexível tende a substituir a organização fordista de produção, deixando claro que as
estratégias de reestruturação capitalista acabaram por modificar e afetar todo o quadro
mundial do desenvolvimento econômico pós-guerra. Desta forma, foi através das
transformações impostas pela crise do fordismo que surgiu a produção flexível, revalorizando
o capital e definindo novos imperativos à coordenação do mercado internacional.
Deste cenário de incertezas, reacendeu-se, a partir da década de 1970, a
teoria do desenvolvimento regional, período em que os países industrializados ocidentais
enfrentavam sérias dificuldades econômicas e sociais. Esta situação levou seus atores
49
econômicos a adotar novos modelos de desenvolvimento, passando a definir estratégias de
espacialização do sistema produtivo, em função das oportunidades geográficas e tecnológicas
existentes a partir dessa década.
Para Sachs (1986) o principal benefício que este redirecionamento trouxe foi
a possibilidade de se definirem estratégias de desenvolvimento econômico que estivessem
mais próximas do contexto social, econômico e histórico de cada região.
Em termos mais sucintos, Benko (1999) sintetiza, através das duas correntes
acadêmicas citadas abaixo, a crise das décadas de 1970-1980:
a) para a corrente Schumpeteriana, o crescimento econômico do pós-guerra
é resultado: a) da intervenção do Estado, sob a influência keynesiana, em
domínios específicos (P&D, setor nuclear, espaço, etc...) que sustentaram
as atividades econômicas; b) da liberação das trocas internacionais que
facilitaram a expansão e difusão de inovações, aumentando as
possibilidades de crescimento do progresso técnico; c) do favorecimento
do contexto internacional frente a estas mudanças, a partir do
estabelecimento de regulações gerais. Contudo, a partir da década de
1970, os investimentos em inovações e o progresso técnico atingem sua
fase de maturação. São provocadas por causas exógenas (preço do
petróleo e da matéria-prima) que agravam a situação e precipitaram a
adaptação da estrutura econômica vigente (pós-fordismo);
b) já a Escola Francesa, (tida como outra forma de compreender e explicar a
evolução do contexto econômico e social), partiu da escola de Regulação,
que teve como característica principal seu caráter não-determinista.
Segundo a abordagem regulacionista, a emergência de um novo regime
de acumulação e suas dinâmicas espaciais deve ser analisada como
50
mudanças quantitativas da organização das forças produtivas sob as
relações de produção do capitalismo. As regularidades permitem
absorver ou desdobrar no tempo as distorções e desequilíbrios que advêm
do próprio processo de acumulação. Esse regime está estruturado nos
princípios gerais de organização do trabalho e do uso de técnicas
advindas do paradigma tecnológico. Para tanto se faz necessária a
intervenção de mecanismos reguladores, conhecidos como modos de
regulação.
Segundo a escola francesa, o regime de acumulação surge como resultado
macroeconômico do funcionamento de um modo de regulação, com base num modelo de
industrialização (o modelo fordista desenvolvido no pós-guerra nos países ocidentais). Esse
modelo se baseou na produção industrial de massa e no consumo de massa, tendo forte apoio
institucional do Estado. Contudo, o modelo atingiu seu limite no fim dos anos de 1960,
entrando em grave crise. Somente a partir dos anos de 1980 é que se tem o primeiro sinal de
um novo período de desenvolvimento capitalista, fundamentado na flexibilização produtiva.
A flexibilização produtiva se configurou em um novo regime de acumulação, induzindo uma
nova reestruturação espacial e o estabelecimento de uma nova divisão social e espacial do
trabalho, criando novos espaços de produção e de consumo (BENKO, 1999).
As mudanças geográficas dos espaços de produção coincidiram com a
mutação da organização da produção, favorecendo a desintegração vertical das relações de
proximidade, a troca contínua de informações e a proximidade espacial. Foi através da
introdução de técnicas de produção flexível que se abriram perspectivas para a reorganização
do processo de produção global, ocasionando uma reorganização profunda das funções de
produção e de circulação na economia e até mesmo do desenvolvimento econômico (BENKO,
1999).
51
A transição do fordismo para o novo paradigma de desenvolvimento
econômico não só demandou novas concepções e percepções como tornou viável novas
propostas de organização da economia e da sociedade mundial.
No Quadro 1, pode-se visualizar algumas diferenças entre o fordismo e o
novo paradigma de desenvolvimento que caracterizou os modelos de desenvolvimento
econômico após 1970:
Quadro 1 - Mudanças no paradigma de desenvolvimento econômico antes e após 1970
FORDISMO NOVO PARADIGMA
Crescimento econômico extensivo com aumento do
consumo de massa.
Crescimento econômico seletivo com diversificação
do consumo.
Economia de escala (padronização e produção em
grandes quantidades).
Flexibilidade da produção e ganhos na qualidade e
diversidade de produtos (economia de escopo).
Competitividade baseada em abundância de recursos
naturais, baixo custo da mão-de-obra e limitado
controle ambiental.
Competitividade baseada em tecnologia,
conhecimento, informação e recursos humanos
qualificados e no controle e qualidade ambiental.
Estado do Bem Estar e interventor com gerência
burocrática e crescente participação no PIB e no
investimento social.
Novas institucionalidades, reorientação do papel do
Estado para a regulação e administração por
resultados.
Dinamização da base industrial e do consumo de bens
industrializados de massa.
Crescimento de novos segmentos e setores,
especialmente terciário, serviços públicos e
quaternários (serviços ambientais).
Fonte: Buarque (2002, p. 18)
Em síntese, pode-se dizer que o novo paradigma de desenvolvimento
econômico, surgido após 1970, está estruturado na revolução tecnológica e organizacional, os
quais provocaram fortes mudanças nos padrões de competitividade entre nações e regiões. O
Estado entra em intensa e profunda reformulação, redefinido seu papel diante a necessidade
de adaptação às novas condições estruturais da economia e da sociedade.
Neste contexto, as propostas contemporâneas de desenvolvimento tendem a
aumentar a importância e a necessidade do planejamento, enquanto instrumento fundamental
de orientação de futuro, em que o Estado-Nação não pode ser simplesmente descartado, pois
ele ainda é o agente regulador institucional legalmente reconhecido (BENKO, 1999;
BUARQUE, 2002).
52
O fato de o Estado ser, para a grande maioria dos países em
desenvolvimento, o grande “mentor” das estratégias de desenvolvimento econômico nos leva
a investigar o grau de eficácia desta forma de intervenção, principalmente para o processo de
desenvolvimento econômico brasileiro. Esta discussão é o conteúdo do próximo tópico desta
pesquisa.
3.2 O Processo de Desenvolvimento Econômico Brasileiro
Para que se possa compreender o processo de desenvolvimento econômico
brasileiro, e a formatação de suas políticas de desenvolvimento econômico, é preciso que se
investigue como seu passado econômico e sua história social deram origem a sua atual
estrutura econômica. Por estar o Brasil inserido nos modelos de desenvolvimento econômico
propostos pela CEPAL para a América Latina, é por estes modelos estarem pautados em
processos de industrialização, se faz necessário resgatar as condições que exigiram a
industrialização na América Latina, para, na seqüência, compreendermos este processo no
Brasil.
As características da indústria latino-americana, após 1950, são fruto de um
longo processo de crescimento, no qual alguns fatores vinculados aos grandes acontecimentos
da economia mundial (depressão de 1930, 1ª e 2ª Guerras Mundiais) e especificidades locais
lhe conferiram características bem específicas (CEPAL, 1979).
Muito dos fatores que fizeram da industrialização uma exigência natural do
processo de crescimento econômico também fizeram parte do processo de industrialização da
América Latina, incorporando-a ao processo mundial de industrialização ocorrido a partir de
53
1950. A industrialização na América Latina ocorreu como forma de resposta à exigência do
processo de crescimento mundial, sendo etapa necessária do processo de desenvolvimento
econômico, pois fazia parte das estratégias de desenvolvimento econômico mundial adotado
após 1950 (CEPAL, 1979).
Entre os fatores que exigiram seu surgimento, pode-se citar:
a) O grande salto no crescimento demográfico urbano, causado pela
imigração rural (a qual adquiriu uma característica bem peculiar, pois a
imigração agrícola não esperou a consolidação da demanda urbana de
mão-de-obra, gerando graves desequilíbrios urbanos (pobreza, miséria,
exclusão social, violência), levando a uma distribuição desordenada da
população urbana e desencadeando um forte e desestruturado processo de
urbanização forçada);
b) a distribuição da renda ficou concentrada, consolidando ainda mais a
pobreza urbana e rural;
c) na tentativa de amenizar o problema, o governo força a indústria a dar
conta de gerar empregos, desvirtuando desta forma sua principal
característica (movimentar a economia para desencadear seu crescimento
econômico e instigar seu desenvolvimento).
Foi justamente pelo “desvio no padrão” de conduta do setor industrial,
(alínea “c”) que o processo de industrialização da América Latina se diferenciou e se
distanciou dos demais países do continente. Enquanto nos países da América do Norte o
processo de industrialização se preocupava em desenvolver a economia, tornando sua
indústria cada vez mais competitiva, na América Latina as indústrias passaram a ser setor
chave para a oferta de empregos, mesmo que isso custasse a própria viabilidade econômica
destas indústrias (CEPAL, 1979).
54
Desta forma, os fatores fundamentais e determinantes no processo de
industrialização latino-americano foram: a) a acelerada urbanização conciliada ao crescimento
demográfico; b) as modalidades de distribuição de renda e c) o precoce declínio do setor
externo. Assim, seu êxito ficou prejudicado em função de que o capital industrial gerado
acabou se revertendo para o custeio da expansão dos serviços da vida urbana, não gerando
encadeamentos nem a montante nem a jusante do setor, uma vez que destinou-se a atender às
necessidades básicas da população (saúde, educação, etc...). Os objetivos da industrialização
foram apenas os de gerar emprego à grande massa populacional que migrou da zona rural para
a urbana. Essa foi a preocupação dominante dos governos da época (CEPAL, 1979).
No Brasil não foi diferente, sua história é talvez o caso mais claro de
desenvolvimento do subdesenvolvimento. A expansão da economia mundial a partir do século
XVI converteu sucessivamente o Nordeste, o interior de Minas Gerais, o Norte e por último o
Centro-Sul (São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná) em economias de exportação e incorporou-as
à estrutura e desenvolvimento do sistema capitalista mundial. No entanto, cada uma destas
regiões vivenciou um desenvolvimento satelitizado, que não era nem autogerador e nem auto-
sustentável, sendo que, tão logo o mercado e a produtividade das três primeiras regiões
declinaram, o interesse econômico nessas regiões também se esvaiu, cabendo a elas
desenvolver seu próprio subdesenvolvimento (FRANK, 1979). É o que na literatura de
Furtado (1995) recebeu o nome de ciclos econômicos
8
.
Para Furtado (1995) a economia brasileira pode ser dividida em quatro
ciclos econômicos, sendo que para cada ciclo, uma região ou localidade específica do
território brasileiro cresceu economicamente durante determinado período. O primeiro ciclo
constituiu-se pela economia do açúcar, do algodão e pela grande zona de economia de
8
Segundo a teoria econômica, os ciclos econômicos são flutuações nas atividades econômicas em que se
alternam períodos de expansão e de contração da economia. No Brasil, os ciclos econômicos foram utilizados
para identificar os movimentos de crescimento e de declínio das atividades extrativas, de produção agrícola e
mineradora (LACERDA et al, 2004).
55
subsistência ligado a estes produtos, cuja faixa territorial compreendia desde o Estado do
Maranhão até o Sergipe (área que concentrava, em 1872, a terça parte da população do país).
O segundo constituiu-se da economia de subsistência do sul do país, que se beneficiou
diretamente com as exportações de carne para as demais regiões do país. O terceiro teve como
centro norteador a extração do ouro na região de Minas Gerais; e o quarto centrou-se na
economia cafeeira, que compreendia os Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e São Paulo.
Para Furtado (1995) foram através dos ciclos econômicos que se puderam
visualizar no Brasil seus processos de expansão econômica, sendo que foi a partir da segunda
metade do século XIX que se teve a primeira evidência relevante de mudança na estrutura
econômica nacional, a transformação da economia escravista para o trabalho assalariado. A
segunda mudança relevante foi a transferência de foco do mercado externo para o mercado
interno, ocorrida a partir da primeira metade do século XX. Foram estas duas mudanças que
efetivamente desencadearam o processo de articulação entre as regiões do país. Mas foi
através da economia cafeeira (1880 a 1930), que efetivamente o Brasil conseguiu integrar
suas regiões. Foi neste período que se evidenciou a grande disparidade de desenvolvimento
econômico entre as regiões nacionais. O destaque recaiu para as regiões sudeste e sul do país,
uma vez que eram estas duas regiões que detinham a maior renda per capita do país. Por força
desta concentração, criou-se no país “um sólido núcleo em torno do qual as demais regiões
tiveram que, necessariamente, articular-se” (FURTADO, 1995, p. 237).
Sendo assim, o processo de industrialização brasileiro tendeu, naturalmente,
a concentrar-se na região que detinha a maior concentração de renda do país, a região sudeste,
a qual, após a Primeira Guerra Mundial, vivencia a primeira fase de aceleração do
desenvolvimento industrial brasileiro (op. cit.).
56
Assim, a região Sudeste, vivenciou, a partir de 1950, através do Estado de
São Paulo a construção do maior parque industrial da América Latina, levando os
planejadores públicos a acreditar que o País pudesse romper o ciclo de desenvolvimento e
subdesenvolvimento satelitizado que caracterizou, até a década de 1980, as demais regiões do
país. Contudo, o desenvolvimento da indústria paulista não trouxe riqueza para as demais
regiões do Brasil; ao contrário, converteram-nas em cidades satélites, descapitalizando-as
ainda mais e consolidando seu subdesenvolvimento (FRANK, 1979; FURTADO, 1995). Este
fato pode ser visualizado através da Tabela 1.
Tabela 1 - Distribuição do valor de produção industrial de certos Estados e regiões do Brasil
(%) – 1907-1997
Região/Estado 1907 1920 1938 1958 1970 1980 1997
Região Sul
21,8 16,1 14,3 12,9 12,0 16,0 18,2
Rio Grande do Sul 14,9 11,0 10,7 7,7 6,3 7,4 7,8
Paraná 4,9 3,2 1,8 3,1 3,1 4,4 5,5
Santa Catarina 2,0 1,9 1,8 2,1 2,6 4,2 4,9
Região Sudeste
61,2 65,9 73,9 78,8 80,5 72,4 69,1
São Paulo 16,5 31,5 43,2 55,0 58,0 53,1 51,2
Rio de Janeiro 39,8 28,2 19,2 18,0 15,6 10,5 7,7
Minas Gerais 4,8 5,5 11,3 5,6 6,4 7,9 9,0
Espírito Santo 0,1 0,7 0,2 0,2 0,5 0,9 1,2
Outras regiões
17 18 11,8 8,3 7,5 11,6 12,7
Fonte: LIMA (2005)
Através da Tabela 1 é possível perceber o quanto as regiões Sul e Sudeste
concentraram o processo de expansão industrial brasileiro. Capitaneado pelo Estado do Rio
Grande do Sul, a região Sul do Brasil se beneficia da expansão do mercado interno que estava
se expandindo com o desenvolvimento do café, conseguindo a inserção de seus produtos,
advindos da agropecuária, em praticamente todas as regiões do país. Mas é a região Sudeste
que, a partir de 1920 (período pós Primeira Guerra Mundial), efetivamente lidera o processo
de industrialização nacional. É nesta região que estava a maior concentração de renda per
capita do país, resultado direto das extensas áreas cultivadas com o café; conseqüentemente é
57
lá que irrompe um expressivo crescimento industrial, relegando às demais regiões, centro-
oeste, norte e nordeste, a posição de economias de subsistências (FURTADO, 1995).
Outro fator que deve ser levado em consideração no expressivo crescimento
industrial da região Sudeste é que, embora o desenvolvimento inicial da indústria paulista
tenha sido relativamente autônomo (financiado pelos produtores de café), ele foi sendo
crescentemente satelitizado pelo capital mundial, que visualizava na região situações
concretas de retorno econômico aos investimentos feitos (maior concentração de renda per
capita do país, região central que facilitava o escoamento da produção às demais regiões
brasileiras, entre outros) (FRANK, 1979).
Já o Estado do Paraná, em particular a partir da década de 1970, começa a
chamar a atenção em função de seu desempenho econômico frente à consolidação econômico-
industrial da região Sudeste do país. Beneficiando-se das políticas públicas de
desenvolvimento regional implantadas no país, o Estado inicia sua expansão e diversificação
econômica.
Segundo Trintin (2005), estas mudanças foram conseqüência de dois
grandes momentos: o primeiro resultou da política de modernização e diversificação da
agropecuária nacional e, o segundo, decorreu da integração do Estado junto ao mercado
nacional, como conseqüência da desconcentração da produção nacional e do espraiamento da
economia industrial paulista. Estes fatos fizeram com que a indústria estadual tomasse
impulso e ganhasse relativa importância frente à agricultura moderna que estava se
consolidando no Estado, tornando-se no principal setor de geração de renda interna da
economia estadual e na nova configuração da estrutura produtiva paranaense.
Contudo, a partir da década de 1980, a economia paranaense também sente
os efeitos da desaceleração econômica que se apoderou do país (crise da dívida externa, crise
financeira do Estado nacional e o aumento das taxas de inflação). No entanto, esta
58
desaceleração teve um impacto diferenciado no Estado do Paraná. Sentindo ainda os efeitos
positivos dos investimentos realizados nos anos de 1970, o Paraná ingressa na década de 1980
com uma base produtiva fortemente atrelada ao complexo agroindustrial, o qual, devido ao
seu bom desempenho, eleva os índices econômicos do Estado inserindo a indústria estadual
na economia nacional (TRINTIN, 2005).
É também na década de 1980 que ocorre a diversificação industrial do
Estado, quando as indústrias de produtos alimentares, têxteis e de madeira perdem margem
para os segmentos da metalmecânica. Contudo, as indústrias tradicionais (alimentos, têxteis e
madeira) continuaram se modernizando e crescendo. Isso possibilitou que a base industrial do
Estado se expandisse e não ficasse estagnada como em outras regiões do país.
Esta diversificação industrial também se refletiu na distribuição do produto
industrial paranaense por categoria de uso. Segundo Trintin (2005), os que apresentaram
maior crescimento na participação relativa do Estado, entre os anos de 1985 a 1998, foram os
produtos de bens de capital: de 13,87%, em 1985, para 21,23% em 1998; seguido dos de bens
intermediários, que passaram a participar, em 1998, com 43,88 do valor adicionado
9
da
indústria paranaense. Esta expansão foi reflexo direto dos investimentos de modernização
realizados ao longo deste período, fato este que contribuiu ainda mais para a diferenciação do
aparelho produtivo industrial do Paraná.
Através da Tabela 2 é possível visualizar a evolução da participação dos
principais gêneros industriais no valor adicionado da indústria paranaense de transformação,
por categoria de uso, do Estado do Paraná.
9
Ou valor Agregado. É o valor que cada empresa adicionou ou agregou no processo produtivo e é igual ao valor
da produção de cada empresa deduzida sua compra de bens intermediários (VICECONTI; NEVES, 2002).
59
Tabela 2 - Participação dos principais gêneros industriais no valor adicionado da indústria de
transformação, por categoria de uso, no Estado do Paraná
CATEGORIA 1985 1995 1998
Bens de consumo não-durável 35,58 26,21 23,79
Produtos alimentares 26,26 15,13 13,30
Bebidas 1,91 4,14 3,74
Têxtil 3,81 1,99 1,14
Vestuário e calçados 0,69 1,68 1,74
Perfumaria e sabões 0,12 0,79 0,64
Farmacêutica 0,07 0,29 0,51
Fumo 2,71 2,19 2,73
Bens intermediários 40,95 29,66 43,88
Minerais não metálicos 5,02 5,31 5,52
Metalúrgica 2,21 2,66 3,35
Papel e papelão 6,11 8,56 6,18
Borracha 0,25 0,21 0,15
Química 25,07 19,49 25,08
Couro, peles ... 0,61 0,76 0,49
Materiais plásticos 1,68 2,67 3,10
Consumo duráveis e bens de capital 13,87 24,29 21,23
Mecânica 5,41 6,86 6,09
Material elétrico e comunicação 4,41 8,66 5,65
Material de transporte 4,04 8,76 9,49
Total 89,79 89,40 88,41
Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda – SEFA: vários anos (TRINTIN, 2005)
No contexto de modernização e de diversificação da base industrial do
Estado do Paraná, a economia paranaense ingressou na década de 1990, de forma mais
dinâmica no mercado nacional, direcionando sua produção ao mercado interno brasileiro. Esta
integração não envolveu somente os produtos tradicionais da indústria paranaense (setor
primário), mas gradativamente fortaleceu o Estado enquanto produtor de bens intermediários
e de consumo duráveis e de capital o que permitiu que sua economia se integrasse de modo
diferenciado à dinâmica do desenvolvimento econômico brasileiro (TRINTIN, 2005).
Pode-se dizer que o processo de diversificação e de desenvolvimento da
indústria paranaense contou, desde a década de 1970, com a atuação do Estado. Ou seja, o
crescimento econômico constatado nas três últimas décadas foi reflexo das políticas públicas
de desenvolvimento regional do governo federal e das políticas públicas de atração de
investimentos do governo estadual (incentivos fiscais – 1990), permitindo ao Estado
60
transformar e industrializar sua base produtiva, direcionando-o a um desenvolvimento
econômico expressivo.
Contudo Gualda; Rocha e Fukui (2005) alertam para o fato de que este
desenvolvimento econômico (no Estado do Paraná) se sobressaiu apenas em algumas regiões
(RMC, Norte e Oeste), cujo crescimento pode ser visualizado através do Gráfico 4. Esta
concentração espacial da produção fez com que o Estado do Paraná adentrasse no século XXI
com um cenário de desenvolvimento econômico-social muito semelhante às demais regiões
do Brasil, onde algumas regiões se desenvolveram em detrimento de outras.
Gualda; Rocha e Fukui (2005) detectaram em recente pesquisa que,
tomando por base o PIB total de 2002, onze são os municípios paranaenses (3% do total de
municípios do Estado) que concentram atualmente mais da metade da produção estadual cerca
de 51,69%, restando aos outros 388 municípios o montante de 48,38% da produção estadual.
Esta concentração produtiva ocasionou no Estado enormes “vazios” (GUALDA; TAVARES,
2004) de produção e conseqüente empobrecimento econômico-social, o que para Gualda;
Rocha e Fukui (2005) é decorrente da incapacidade que a maioria dos municípios apresentam
de se inserir no processo de desenvolvimento contemporâneo existente, pois não conseguem
competir com os centros maiores, quer na atração de investimentos ou na retenção do
excedente gerado internamente.
O que se constata do breve relato histórico do processo de desenvolvimento
econômico brasileiro e paranaense apresentado é que, ao longo do último século, o Estado foi
o principal agente no planejamento e na execução de planos de desenvolvimento econômico
no Brasil. O fato é que estes modelos não conseguiram desencadear de forma uniforme o
desenvolvimento econômico entre as regiões do país. Os resultados mais promissores se
concentraram nas regiões Sudeste e, de forma mais branda, no Sul. Estes resultados
61
comprovam o perfil político brasileiro em adotar estratégias de desenvolvimento econômico
regionalizadas, as quais serão relatadas no próximo tópico.
3.3 Desenvolvimento Econômico Regional: conceitos e discussões
As discussões acerca do processo de desenvolvimento econômico tomaram
novo fôlego durante as duas primeiras décadas do século passado, quando se passou a
considerar os recursos naturais de um país como possibilidade real de seu desenvolvimento. A
partir dos anos de 1950, o capital passa a ser o denominador comum dos processos de
desenvolvimento econômico (FURTADO, 1963, 1983; SINGER, 1976; FRANK, 1979). O
capital era o elemento que, em tese, desencadearia o desenvolvimento econômico.
Contudo, percebeu-se que somente em países que já detinham certo avanço
em infra-estrutura interna é que o processo de desenvolvimento se consolidava. Desta
constatação, passou-se a questionar se o desenvolvimento econômico estaria destinado
somente àqueles países que participaram da Revolução Industrial, ocorrida nas duas últimas
décadas do século XVIII na Inglaterra e quase que concomitantemente na América do Norte
(SINGER, 1976).
Neste contexto, as teorias de desenvolvimento econômico regional emergem
e passam a ser reconhecidas como possibilidades reais para o desenvolvimento econômico,
tanto de países já desenvolvidos (consolidando o crescimento econômico já existente) quanto
dos países em desenvolvimento (definindo estratégias que visam impulsionar o
desenvolvimento econômico) (AMARAL FILHO, 2001).
62
A teoria do desenvolvimento regional sempre tratou da questão das trocas
inter-regionais, uma vez que estas constituem um dos fundamentos da especialização local
10
.
A abordagem mais tradicional se concentrava no estudo da vantagem comparativa, na troca
mercantil e nos fluxos espaciais do capital e do trabalho. O enfoque mais recente articula-se
em torno da nova divisão espacial e internacional do trabalho, introduzida pela empresa
multinacional e pelas diferentes fases do processo de produção (em função de suas
características tecnológicas e do nível de qualificação que exigem) (BENKO, 1999).
Segundo Amaral Filho (2001) tendo por base um desenvolvimento
econômico estruturado nos modelos de produção da organização industrial, conceitos como
concentração industrial e aglomeração produtiva ganharam evidência e passaram a ocupar
lugar de destaque nas teorias econômicas. Essas teorias sugeriam como caminho mais eficaz
para o desenvolvimento econômico, à industrialização de grandes pólos de crescimento
atraídos por políticas de substituição de importações. Destas teorias, dois conceitos destacam-
se: o dos “pólos de crescimento”, preconizados por Perroux (1977); e os encadeamentos
produtivos da seqüência de eventos de Hirschman (1974, 1996).
No que se refere ao conceito de “pólo de crescimento”, Perroux (1977)
afirmou que o desenvolvimento econômico não ocorria em todos os lugares ao mesmo tempo.
Ele se concentrava em um determinado local geográfico onde a existência de aglomeração de
algumas “firmas ou setores motrizes” acabava por impulsionar o crescimento econômico
daquela região. Perroux (1977) definia “firmas ou setores motrizes” como sendo aquelas
indústrias que tinham o poder de induzir o crescimento através da atração de outras indústrias
para a região, as quais complementavam ou subsidiavam a firma/indústria motriz.
Hirschman (1974, 1996) por sua vez, afirmava que era através dos
encadeamentos produtivos, advindos do processo de industrialização de uma região, que se
10
Entre as pesquisas mais significativas desta área pode-se citar Perroux, Boudeville, Myrdal, Hirschman,
Lewis, Rostow, Aydolat, entre outros (BENKO, 1999).
63
produzia a seqüência de eventos necessários à sustentação e ao complemento do crescimento
econômico regional. Desta forma, Hirschman (1974, 1996) direcionou seus estudos para
modelos que pudessem explicar o desenvolvimento econômico regional dos países
subdesenvolvidos, ou como o próprio autor denomina os países com escasso desenvolvimento
ou de economia atrasada. Desta forma, para que se possa compreender a dimensão do
conceito de desenvolvimento econômico regional de Hirschman (1974, 1996) e sua
concepção de encadeamentos produtivos, é necessário compreender sua concepção de
diferenças entre economias desenvolvidas ou avançadas, das subdesenvolvidas ou atrasadas.
Hirschman (1974, 1996) define por economias avançadas ou desenvolvidas
as que viveram a Revolução Industrial no final do século XVIII, como a Inglaterra (país de
origem da Revolução Industrial) seguida dos Estados Unidos, em função do progresso
econômico ocorrido naqueles países após esse acontecimento. As mudanças inseridas pela
Revolução Industrial causaram alterações tão significativas no modo de produção que deram
início a uma série de processos de transformações, desencadeando um expressivo crescimento
econômico. Este crescimento permitiu uma significativa vantagem produtiva que, após suprir
a demanda interna de seu país de origem, possibilitou a exportação de seus excedentes para
outras regiões/países. Foi a partir da comercialização dos excedentes da produção, gerada na
Revolução Industrial, que o comércio internacional ganhou ímpeto e uma nova formatação.
Isso permitiu ao seu país de origem uma inserção significativa nos demais países de seu
continente e de outros do globo.
O poder de crescimento econômico que se originou com a Revolução
Industrial foi tão significativo que criou uma situação de concorrência até então desconhecida
da sociedade. Amparada, de um lado, pela maquinização dos processos produtivos
(emergência do novo paradigma tecnológico) e pela cientifização dos conhecimentos técnicos,
e, por outro lado, pelos novos modelos de organização econômica, permitiu-se a reprodução
64
das estruturas produtivas e sua difusão por outras empresas e novos lugares, cujo efeito não só
intensificou ainda mais a concorrência, como também acrescentou à mobilidade dos bens e
dos capitais a dos conhecimentos tecnoorganizacionais, modificando as condições de seu
exercício e transformando a composição produtiva dos contextos locais (BENKO, 1999).
Já as economias atrasadas, segundo Hirschman (1974, 1996), seriam as
demais regiões que não participaram da Revolução Industrial e que buscam se “espelhar“nos
países que participaram, na tentativa de atingir os mesmos resultados alcançados na estrutura
produtiva daqueles países. Neste contexto, coloca-se a questão: existe ou não a possibilidade
de uma região que não participou da Revolução Industrial alcançar seu desenvolvimento
econômico? Em princípio, o desenvolvimento econômico só pode ser alcançado através da
acumulação própria de capital. Em meados da década de 1950, essa constatação parecia não
ter fundamento, pois o cenário econômico que envolvia os países que fizeram parte da
Revolução Industrial até então já havia se modificado significativamente. A possibilidade de
se encontrar países que importassem todos os insumos produzidos pelos países desenvolvidos
e que deles fosse possível extrair seus recursos naturais, necessários ao desenvolvimento
industrial dos países desenvolvidos, ficaram mais escassos. Também foi através das regiões
que não fizeram parte da Revolução Industrial que as regiões industrializadas encontraram
mercado para a absorção de seu excedente produtivo (SINGER, 1976).
Durante os anos de 1970 a 1980 as estratégias de desenvolvimento
econômico existentes se chocam com coações internas severas, tais como: endividamento
interno dos países, crise mundial do petróleo e crise na economia americana. Paralelamente a
este período, surgem as formas de industrialização baseadas na produção flexível e trabalhos
intensivos que se desenvolvem nos Novos Países Industrializados da Ásia e da América
Latina, onde setores especializados se agrupam em torno de políticas estatais que favorecem
uma industrialização orientada para a exportação (BENKO, 1999).
65
Desta forma Hirschman (1974, 1996) definiu desenvolvimento econômico
como sendo uma seqüência crescente de eventos que estimulam a acumulação e que levam à
industrialização de uma região. O autor considera o processo de industrialização uma etapa
fundamental para o desenvolvimento de uma série de encadeamentos para frente e para trás
(linkages), os quais possibilitam o avanço das regiões atrasadas. Também é a partir do
desenvolvimento industrial que se criam e se estimulam os mecanismos de “pressão” que
induzem os governos a investir na construção de estruturas físicas e sociais necessárias à
manutenção e à expansão do setor. A estruturação física e social de um país, condições
básicas para o seu desenvolvimento econômico, passam a ser conseqüências diretas do avanço
industrial de uma nação.
Neste sentido, Furtado (1983) complementa a definição de Hirschman
(1974, 1976) levando em consideração o conceito de desenvolvimento econômico a partir da
definição do conceito de fluxo de renda. Para Furtado (1983) é a partir do momento em que o
aumento do fluxo de renda ocorre, por unidade de força de trabalho utilizado, que se pode
quantificar a expansão de uma economia. É este o indicador que aponta se está ou não
ocorrendo o desenvolvimento de uma economia. Então, se o desenvolvimento econômico é
definido a partir dos indicadores do fluxo de renda de um país, o seu conceito pode abranger a
idéia de crescimento e de expansão, o que o faz acreditar que a definição de desenvolvimento
econômico passa, necessariamente, pelo crescimento de um conjunto de estruturas
“complexas”. Essas estruturas traduzem-se na diversidade das formas sociais e econômicas
engendradas pela divisão social do trabalho, sendo esta divisão o resultado do avanço da
Revolução Industrial.
Com base nesta linha de pensamento, Furtado (1983) afirma que o
crescimento econômico é o aumento da produção de um subconjunto econômico
especializado, o qual, por sua vez, reflete-se no fluxo de renda de uma região. As repercussões
66
desse aumento de produção afetam o conjunto econômico total levando-o ao desenvolvimento
econômico. Assim, a expansão do setor industrial gera encadeamentos que estimulam os
demais setores da economia.
Singer (1976) também entende que na definição de desenvolvimento
econômico é preciso considerar as instâncias específicas desse crescimento, as quais ele vê
como a variação, no tempo, do volume total de produção. Para este autor, o conceito de
desenvolvimento deve ser reconhecido como a transformação estrutural de uma economia,
uma vez que o crescimento sempre vem acompanhado de mudanças na estrutura econômica
de um país. A transformação estrutural deve ser vista como a essência do desenvolvimento,
não apenas a mudança do tamanho relativo do produto de cada setor da economia, mas a
mudança nas relações entre estes setores, as quais são derivadas da divisão social do trabalho.
Para Singer (1976) a diferença básica entre o padrão de desenvolvimento
das regiões desenvolvidas e em desenvolvimento está na mudança estrutural que o
crescimento econômico provoca, ou seja: nos países desenvolvidos o poder aquisitivo
adicional (gerado pelo crescimento) impacta no restante da economia. A transformação
estrutural se reflete na transferência das atividades de manufatura e de serviços do campo para
a cidade, sendo esta transferência o que induz ao crescimento econômico. Nessa transferência,
as atividades urbanas (secundárias e terciárias) tornam-se mais representativas na ocupação da
mão-de-obra e na composição do produto. É a partir das mudanças estruturais, resultantes da
“revolução industrial” interna de cada região, que o desenvolvimento econômico será
alavancado. Assim, o desenvolvimento econômico deve ser visto a partir de mudanças
estruturais nas economias regionais que estão se industrializando.
Portanto, a mudança estrutural é a essência do desenvolvimento econômico
regional. Já crescimento econômico regional é a conseqüência da transformação destas
estruturas. Alem disso, a industrialização é tida como um reflexo do processo de
67
desenvolvimento econômico. Assim, resta saber como produzir uma seqüência de eventos que
induzam ao avanço do desenvolvimento econômico de uma região, lembrando que esta
seqüência de eventos deve estar amparada em uma estratégia de desenvolvimento econômico
voltada a especificidade da realidade regional.
A Figura 3 sintetiza como uma seqüência de eventos pode desencadear o
desenvolvimento econômico, segundo a concepção de Hirschman (1974, 1996).
Figura 3 - O processo do desenvolvimento econômico ao longo do tempo
Fonte: Adaptação a partir de Hirschman (1974, 1996)
SEQÜÊNCIA DE EVENTOS
MUDANÇAS ESTRUTURAIS
NA ECONOMIA
LOCAL/REGIONAL
ESTIMULAM A
INDUSTRIALIZAÇÃO
ATIVIDADES URBANAS
EXPANSÃO E
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
No entanto há que se perguntar: como é possível produzir uma seqüência de
eventos que efetivamente estimule a expansão industrial de uma região? O enfoque abordado
por Hirschman (1974, 1996) permite visualizar claramente uma característica fundamental
para a análise e a definição de estratégias do processo de desenvolvimento econômico
regional, qual seja: o desenvolvimento econômico não depende apenas de se saber localizar as
68
combinações ótimas de recursos e de fatores de produção, mas sim da localização daqueles
recursos e capacidades que se encontram ocultos, disseminados pelo território e mal
utilizados. Assim, da mesma forma como uma região atrasada pode mobilizar uma grande
quantidade de reservas ocultas de mão-de-obra não qualificada, pode também, mobilizar o
capital e o “espírito” empreendedor (considerados pelo autor como pré-requisitos que
desencadeariam o desenvolvimento econômico) unindo-os de forma inesperada para dar
início ao processo. É essa mobilização o elemento produtor de “eventos” que conduz ao
desenvolvimento econômico regional, segundo Hirschman (1974, 1996).
Diante desta constatação, é essencial que se dê atenção aos aspectos
dinâmicos e estratégicos essenciais do processo de desenvolvimento econômico regional. Em
vez de se ater à questão dos recursos escassos, tanto de capital quanto de “espírito”
empreendedor, é preciso que se busquem mecanismos que levem a “pressões” e a
“mecanismos de indução” que atraiam e movimentem o maior número possível de capital e de
“espírito” empreendedor da região. Assim, o planejamento do desenvolvimento econômico
regional consiste, principalmente, na implantação simultânea de uma série de projetos que
aceleram as pressões e os mecanismos de indução. Contudo, o autor esclarece que instigar
essas pressões e mecanismos de indução não é tão fácil como parece, pois se não houver uma
sinergia entre os pré-requisitos apontados, provavelmente a estratégia de desenvolvimento
econômico regional não atingirá os resultados esperados, até porque a questão de se
considerar os pré-requisitos ainda é discutível, diante da impossibilidade de se definir um
número exato de fatores de atraso. De qualquer forma, as regiões atrasadas só alcançarão o
desenvolvimento econômico a partir do momento que os empreendedores decidirem buscar
por ele. Sendo assim, não adianta apenas determinação, mas sim uma visão real do que é
necessário fazer para que o desenvolvimento aconteça, sendo que esta visão só ocorre à
medida que o processo de desenvolvimento acontece.
69
Para Hirschman (1974,1996) as regiões atrasadas não aproveitam suas
potencialidades com receio das conseqüências que este ato poderá trazer. Parte desta
indecisão é resultado da lentidão e do número insuficiente de decisões de desenvolvimento
advindas da utilização inadequada de estratégias ao processo. Por isto, o autor afirma que as
mudanças embutidas nas decisões de desenvolvimento não são freadas por obstáculos e por
escassez de recursos físicos, mas sim pelas imperfeições inerentes ao próprio processo de
tomada de decisões. Diante deste contexto, Hirschman (1974, 1996) aposta nos mecanismos
de indução como a forma mais adequada de se iniciar o processo de desenvolvimento
econômico em regiões atrasadas. Estes mecanismos de indução fazem parte da teoria do
crescimento desequilibrado preconizada pelo autor. Segundo ele, os recursos iniciais
necessários para que ocorram as mudanças simultâneas em vários setores não existem nos
países subdesenvolvidos, caso contrário estes países não estariam enquadrados como
subdesenvolvidos, mas sim como desenvolvidos.
Como o desenvolvimento econômico regional é obtido através de uma
seqüência de eventos, resultado de encadeamentos produtivos que alteram a estrutura física e
social de uma região, e de seus processos de industrialização de bens de consumo, Hirschman
(1974, 1996) alerta que o êxito deste procedimento somente será alcançado quando ocorrerem
os “encadeamentos” (linkages) antes e após do processo de industrialização. Para o autor,
estes encadeamentos são os movimentos que efetivamente desencadeiam a expansão
econômica regional, a qual por sua vez leva ao seu desenvolvimento econômico.
A teoria do crescimento desequilibrado, proposta por Hirschman (1974,
1996) prevê que quando certas regiões de um país se desenvolvem antes de outras, acabam
por provocar uma série de perdas de recursos disponíveis nas regiões não desenvolvidas,
ocasionado desequilíbrios entre essas regiões. Para Hilhorst (1975) são justamente estes
desequilíbrios que acabam instigando as regiões retardatárias a reagir diante da política
70
governamental adotada, sendo que é através desta reação que as demais regiões poderão
desenvolver seu potencial de desenvolvimento. Desta forma, Hirschman (1974, 1996) propõe
ao governo criar e manter políticas de desenvolvimento que estimulem estas “tensões” entre
as regiões.
Diante do referencial acima exposto, nota-se que há um consenso teórico
entre Hirschman (1974, 1996), Hilhorst (1975), Singer (1976) e Furtado (1983): o
desenvolvimento econômico de uma região é o resultado de sua expansão industrial. Esta
expansão produz encadeamentos produtivos que possibilitam a existência dos complementos
essenciais à manutenção das mesmas, as quais se fortalecem e se consolidam enquanto força
pujante do início de mudanças estruturais.
3.3.1 O Desenvolvimento Econômico Regional no Contexto Brasileiro
Como forma de melhor visualizar a evolução das teorias do
desenvolvimento econômico regional no contexto brasileiro, se faz necessário conhecer suas
fases no cenário internacional. Segundo Martinelli e Joyal (2004) três fases distintas
caracterizam a evolução das teorias do desenvolvimento econômico regional no cenário
internacional. Estas fases estão explicitadas no Quadro 2:
71
Quadro 2 - Fases da evolução das teorias do desenvolvimento econômico regional no cenário
internacional
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO REGIONAL
1ª FASE
(início de 1960)
2ª FASE
(1970 e início de 1980)
3ª FASE
(meados de 1980 aos dias atuais)
Predomínio da Teoria dos Pólos
de crescimento, preconizada por
Perroux, Boudeville, Hirschman
e Myrdhal. Vivia-se a era de
ouro do Keynesianismo, quando
os programas governamentais
estimulavam a industrialização e
o desenvolvimento econômico
era um processo originário de
forças exógenas.
Propõe-se conciliar políticas
nacionais de industrialização às
regionais;
a localização das empresas não
depende mais da proximidade
dos pontos de produção e nem
dos mercados.
Início das abordagens que
valorizam o desenvolvimento
econômico local, através de
unidades produtoras de pequena
dimensão iniciadas por atores
locais;
surge o “empoderamento” dos
atores locais enquanto
protagonistas do
desenvolvimento econômico
local, evidencia-se o
empreendedorismo local
enquanto propulsor de
desenvolvimento econômico.
Fonte: Martinelli e Joyal (2004)
No Brasil, a exemplo da evolução internacional, o processo de
desenvolvimento econômico regional também pode ser sistematizado por fases, quais sejam:
a) fase do isolamento regional
11
: esta fase é representada pelos antigos complexos
exportadores (açúcar, algodão, café) e perdurou até o início do século XX; b) fase da
articulação comercial: esta fase coincidiu com a primeira etapa da industrialização brasileira e
durou até 1960; c) a fase da integração produtiva, que se estendeu até 1980 (GALVÃO;
VASCONCELOS, 1999).
Como já foi mencionado, da década de 1950 até o final da de 1970, o
desenvolvimento econômico brasileiro foi fortemente comandado pelo Estado, que adotou
modelos de desenvolvimento econômico regionalizados, com intervenção direta na produção
e intensa concessão de subsídios, provocando significativa expansão do PIB nas regiões
Sudeste e Sul do país, mas acabou gerando, por outro lado, um grande aumento do déficit
público.
11
Ou dos “Ciclos Econômicos” conforme Furtado (1995).
72
A partir de 1980 ao início de 1990 a economia brasileira foi marcada pela
grave crise financeira e fiscal do Estado, o que afetou gravemente a poupança pública e
reduziu sua capacidade de investimento e limitou desta forma sua intervenção no processo de
crescimento e de desenvolvimento econômico do país. Em conseqüência, as políticas
industriais e regionais, até então controladas pelo governo federal, são “fortemente
esvaziadas”. Este fato desencadeou duas frentes no processo de desenvolvimento econômico
brasileiro: a primeira constituiu-se na fragmentação econômica do território nacional; e a
segunda no surgimento de alguns núcleos dinâmicos, descentralizados até então da economia
nacional (GALVÃO; VASCONCELOS, 1999). Para Martinelli e Joyal (2004) as
interpretações dessas correntes regionais apresentam algumas divergências sobre as
tendências da configuração espacial do desenvolvimento econômico brasileiro, contudo,
ambas pressupõem uma clara visão do rompimento da escala local de produção para com a
escala estadual/nacional. Este fato se torna perceptível diante da abertura do mercado nacional
ao capital estrangeiro, ocorrido no início da década de 1990. Essa abertura econômica trouxe
sensíveis conseqüências para o desenvolvimento econômico nacional, pois serviu como um
“elemento depurador” de segmentos ineficientes, em termos competitivos, bem como
estimulou e aproximou a indústria nacional aos novos padrões técnicos de produção e de
gestão organizacional.
Outro fator importante na evolução do desenvolvimento regional brasileiro
adveio da estabilidade monetária alcançada pelo Plano Real (1994), que teve por característica
principal a “racionalidade dos cálculos econômicos” possibilitando aos empresários
planejamentos de médio e longo prazo. Também é mérito do Plano Real a atração dos
investidores estrangeiros, os quais propiciaram uma nova dinamização econômica para o país.
Estes investimentos foram direcionados a dinâmicas empreendedoras locais, direcionando o
foco de ação de políticas públicas para um desenvolvimento econômico mais localizado.
73
3.4 Desenvolvimento Econômico Local: conceitos e discussões
A exigência de mudança no modelo de desenvolvimento econômico
capitalista, ocorrido após 1970, advinda das alterações estruturais impostas pela tecnologia e
pela informação, que estão reconfigurando os métodos de produção, referem-se a um conjunto
de aspectos combinados, os quais envolvem tanto as formas de produção e gestão quanto a
natureza e o papel do Estado. Essas mudanças exigem novos parâmetros de articulação e
organização, nos quais a sociedade civil emerge com potencial de co-protagonismo. Neste
contexto se dá o redescobrimento da dimensão territorial (e o elo entre globalização e
localização) com a introdução de novas alternativas em torno do desenvolvimento econômico
local (SILVEIRA, 2005).
Mesmo não sendo consenso na classe acadêmica, a emergência da temática
do desenvolvimento econômico local parece ter origem nas discussões da crise do fordismo.
O fordismo expressou um modelo de desenvolvimento econômico que associava: produção
em massa, regime salarial, organização taylorista do trabalho e um papel centralizador dos
Estados Nacionais, tanto no planejamento econômico quando na cobertura social (CORÓ,
1999). Este sistema entra em crise, após 1970, pela rigidez da cadeia produtiva (BENKO,
1999) e pela crise do planejamento centralizado preconizado pelo Estado (ALBUQUERQUE,
2001).
Com o pós-fordismo, pode-se caracterizar um regime de acumulação em
que conviveram diferentes formas organizacionais e configurações produtivas (COCCO;
GALVÃO; SILVA, 1999), possibilitando novas modalidades de articulação territorial da vida
produtiva em que o regime de acumulação se configura pela informação e pela comunicação.
Nesta tendência, os processos endógenos se configuram na ampliação da
massa crítica de recursos humanos e no domínio do conhecimento e da informação, elementos
74
centrais da competitividade sistêmica. São esses processos que criam ambientes inovadores,
favorecendo a busca e a implantação de alternativas que propiciam a adaptação local às
exigências globais de mercado. Por isso é que o desenvolvimento econômico local não pode
ser confundido com o isolamento ou distanciamento de uma localidade; ao contrário, ele
precisa estar conectado ao mundo exterior para que haja estímulos à inovação local, até
porque o ambiente inovador é um conjunto territorializado e aberto para o exterior que integra
conhecimentos, regras e capital relacional. Ele está ligado a um coletivo de atores, bem como
de recursos humanos e territoriais, não se constituindo num universo fechado, mas sim, em
permanente relação com o ambiente exterior (AMARAL FILHO, 2001).
Neste contexto, o termo local ganha status estratégico nas economias das
nações, alcançando importância vital no tecido econômico graças às oportunidades
decorrentes da reestruturação do modo produtivo industrial e à relocação das infra-estruturas
produtivas, determinadas pela descentralização das plantas industriais flexíveis
(MARTINELLI; JOYAL, 2004).
Entre as definições de desenvolvimento econômico local apresenta-se a do
Comitê Econômico e Social das Comunidades Européias. Essa comissão entende o
desenvolvimento econômico local como um processo de reativação da economia e de
dinamização de uma sociedade local, com base no aproveitamento ótimo de seus recursos
endógenos, objetivando o crescimento da economia, a criação de empregos e a melhoria da
qualidade de vida local. Esta definição evidencia a preocupação com questões relacionadas à
geração de emprego e de renda da população (MARTINS, 2002).
Do ponto de vista local, o conceito de desenvolvimento endógeno pode ser
entendido como um processo de crescimento econômico que implica em uma contínua
ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade
de absorção de uma localidade, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico
75
gerado na economia local. É este processo que resulta na ampliação do emprego, do produto e
da renda local (AMARAL FILHO, 2001; MARTINELLI; JOYAL, 2004).
Através de suas recentes pesquisas, Martinelli e Joyal (2004) trouxeram
importantes contribuições para a área da economia local contemporânea, as quais evidenciam
o potencial do desenvolvimento endógeno como impulsionador real do desenvolvimento
econômico local. Para estes autores, o desenvolvimento econômico só poderá se efetivar se
for desencadeado a partir das particularidades locais, pois são estas particularidades que
conseguem instigar as sinergias necessárias à junção do setor público com o privado,
encontrando no capital social local a força motriz que efetiva o desenvolvimento econômico.
Para tanto, o desenvolvimento econômico local deve estar estruturado nas decisões tomadas
por seus atores locais, os quais devem visualizar a expansão e a melhoria da qualidade de vida
de seus cidadãos, premissa básica do desenvolvimento econômico local recente.
Desta forma, o modelo de desenvolvimento econômico local é tido por
Buarque (2002, p. 25) como um “processo endógeno de mudança que emerge em função do
dinamismo econômico e da melhoria da qualidade de vida da população em pequenas
unidades territoriais e agrupamentos humanos” e, para que se efetive em eficientes estratégias
de desenvolvimento econômico, precisa incitar as potencialidades locais e contribuir para
elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da comunidade local.
Neste sentido, o desenvolvimento econômico local hoje é visto como o
resultado de múltiplas ações convergentes e complementares. Para tanto, esse
desenvolvimento demanda mudanças institucionais que aumentam a governabilidade e a
governança das instituições públicas locais, construindo relativa autonomia das finanças
públicas e acumulação de excedentes para investimentos sociais e estratégicos para a
localidade. Desta forma, o desenvolvimento econômico local é resultado da interação e da
sinergia entre qualidade de vida da população local, eficiência econômica e gestão pública
76
eficiente (BUARQUE, 2002). Ele é um processo reativador da economia e dinamizador da
sociedade local que, mediante o aproveitamento eficiente dos recursos endógenos disponíveis,
é capaz de estimular o crescimento econômico, criando postos de trabalho (através de
empresas) e melhorando a qualidade de vida da população local (MARTINELLI e JOYAL,
2004). Sendo assim, a probabilidade de êxito de uma estratégia de desenvolvimento
econômico local aumenta, significativamente, se estiver estruturada em três pilares, conforme
ilustra a Figura 4.
Figura 4 - Estrutura do desenvolvimento econômico local
Fonte: Adaptado a partir de Buarque (2002)
ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE LOCAL
= contribui para a formação de capital social
local, formando espaços institucionais de
negociação e de gestão.
AGREGAÇÃO DE VALOR NA CADEIA
PRODUTIVA = articula e aumenta a
competitividade das atividades econômicas
com vantagens locais.
REESTRUTURAÇÃO E MODERNIZAÇÃO
DO SETOR PÚBLICO LOCAL =
descentralizam as decisões e eleva a eficiência
e eficácia da
gestão pública local.
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO LOCAL
Mas para que os pilares ilustrados na Figura 3 possam propiciar o êxito de
uma estratégia de desenvolvimento econômico local, é fundamental o esforço de promoção da
eficiência econômica local na busca do desenvolvimento e do aumento da competitividade de
uma cadeia produtiva que esteja adequada às condições locais. Cada localidade deve procurar
espaços de competitividade de acordo com suas condições e potencialidades, bem como nos
77
setores em que se apresentam maiores capacidades e vantagens locacionais (parâmetro atual
de competitividade de mercado).
O processo de desenvolvimento econômico local, segundo Albuquerque
(2001) pressupõe:
a) a criação de novas instituições, advindas de negociações entre gestores
públicos e privados;
b) o impulso ao empreendedorismo local, criando empresas inovadoras;
c) a melhoraria da capacitação da força de trabalho local.
Contudo, não se pode negligenciar o impacto e o efeito que a economia
global exerce sobre as comunidades locais. O êxito de qualquer estratégia de desenvolvimento
econômico local depende da sintonia gerada entre potencialidades locais com a
competitividade em mercado globais.
3.4.1 Globalização e Localização: a dicotomia contemporânea do desenvolvimento
econômico local.
O desenvolvimento econômico local está inserido em uma realidade mais
ampla e complexa com a qual interage e da qual recebe influências e pressões positivas e
negativas, gerando tanto possibilidades quanto ameaças. Desta forma, para que as localidades
possam atender a essas exigências, elas devem passar por reestruturações em sua base local de
produção, identificando potencialidades e descobrindo novas formas produtivas, através da
criatividade, visando adequar-se às novas exigências do mundo globalizado.
Sendo assim, o desenvolvimento econômico local, dentro do paradigma da
globalização, passa a ser o resultado direto da capacidade dos atores e da sociedade local em
78
se estruturar e se mobilizar, com base em sua matriz cultural, a partir da qual se define e se
exploram prioridades e especificidades, buscando a competitividade num contexto de rápidas
e profundas transformações. No novo paradigma do desenvolvimento, isto significa, antes de
tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica e da informação (CALDAS, 2003).
É um novo modo de promover o desenvolvimento, no qual é possível o
surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir as suas necessidades
imediatas, descobrindo e despertando para a valorização de suas potencialidades, fomentando
o intercâmbio externo e aproveitando suas vantagens locais (CALDAS, 2003). Ao mesmo
tempo em que a globalização provoca a uniformização e padronização dos mercados e
produtos, instiga a diversificação e a flexibilização das economias e mercados locais, criando
e reproduzindo diversidades onde o global e o local se articulam (BUARQUE, 2002).
As políticas de desenvolvimento econômico local convertem-se na
necessidade premente de atendimento às diversidades locais e na busca pela sua inclusão no
processo produtivo atual, tendo por ponto de partida a convicção de que regiões e lugares, a
partir de suas especificidades e potencialidades, podem encontrar formas de transformação de
suas realidades, a partir de processos globais e de implantação de inovações (CALDAS,
2003). Nesse sentido, a inovação é considerada um processo de integração de elementos que
determinam e favorecem a dinâmica e a transformação do processo territorial de produção
(MAILLAT, 2002), pois ela favorece a aplicação de novos conhecimentos ou invenções na
melhoria ou na modificação destes processos para a produção de novos bens (MÉNDEZ,
2001). A capacidade de inovação de um território está vinculada à natureza criativa de seus
habitantes enquanto agentes capazes de transformar seus recursos humanos, ambientais,
culturais ou artísticos em produtos de atração e de comercialização. Para Méndez (2001)
territórios propícios ao surgimento de iniciativas inovadoras tendem a desenvolver-se
economicamente de maneira mais equilibrada, instigando ações inovadoras e criativas junto à
79
população local. O que se percebe é um estreitamento do conceito de inovação junto às
indústrias locais, onde há predominância de pequenas empresas que se especializam em um
determinado setor e produto, favorecendo a divisão social do trabalho e instigando o
desenvolvimento econômico local.
É a idéia do meio inovador, onde a inovação é um fenômeno coletivo em
que existem relações empresariais e formas de cooperação que favorecem o desenvolvimento
econômico local (MÉNDEZ, 2001; MAILLAT, 2002). Mas como identificar um meio
inovador? Segundo Méndez (2001) há uma série de elementos que se inter-relacionam de
forma sistêmica onde um depende do outro. São eles:
a) um espaço territorial específico, um local;
b) um conjunto de atores com capacidade de decisão, que se identificam
com este espaço e elaboram projetos de interesse comum;
c) recursos materiais (infra-estrutura, patrimônio urbano) e imateriais
(identidade
12
, cultura);
c) uma lógica de aprendizagem.
Cabe ressaltar também que o meio de inovação decorre do que alguns
autores chamam de “local aprendiz”, entendido como um espaço social com capacidade de
criação, ampliação de conhecimento e aprendizagem contínuos, inventando, testando e
adaptando alternativas e caminhos que permitem o desenvolvimento econômico local
(BUARQUE, 2002). Coelho (2001), citado por Martinelli e Joyal (2004), afirma que o
desenvolvimento econômico local é resultado da construção de um ambiente produtivo
inovador, no qual se desenvolvem e se institucionalizam formas de cooperação e de
integração das cadeias produtivas e das redes econômicas e sociais, de tal modo que as
12
Questões relacionadas à identidade dos lugares são tidas como reflexos sociais que podem estabelecer
diferenciações de desenvolvimento econômico entre as regiões. Neste sentido a identidade é tida como uma
construção social, cujo direcionamento pode reverter-se em estratégias de desenvolvimento econômico, pois
referenda as opções do grupo, transformando o local naquilo que se pode tornar (WOODWARD, 2000)
(Grifo nosso).
80
oportunidades locais se ampliam, gerando trabalho e renda, bem como, atraindo novos
negócios.
Neste contexto, o desenvolvimento econômico local pressupõe a idéia de
inclusão social; é algo que passa pelos lugares-locais, por onde se constroem a experiência, a
vida social e a ação comunicativa dos atores reais.
Partindo do princípio do deslocamento do paradigma fordista para o da
flexibilização, e da espacialização da produção e o da reconstrução da globalização-
localização alguns elementos teórico-contextuais emergem e precisam ser discutidos sob pena
de não oferecer sustentações empíricas ao atual direcionamento de êxito do desenvolvimento
econômico local. Ressalta-se que estas abordagens despontam-se em torno do novo
entendimento do que seria o desenvolvimento econômico local na atualidade, sendo que os
conceitos-chave apresentados na seqüência estão particularmente presentes nas formulações
contemporâneas sobre esta temática. São eles:
3.4.1.1 Cooperação e Capital Social
Entre as questões que surgem no atual debate em torno de desenvolvimento
econômico local, cabe citar a noção de cooperação e sua aplicabilidade em sociedades
complexas, competitivas e desiguais, como a brasileira, por exemplo. Além disso, é comum a
idéia de que graus maiores de cooperação entre os agentes empreendedores locais são mais
favoráveis ao desenvolvimento econômico das sociedades do que quando este recurso não
existe (PUTNAM, 1996).
81
Através da Figura 5, é possível ilustrar como o processo de cooperação entre
os agentes locais pode potencializar a competitividade de uma localidade. É esta
competitividade que dinamiza a economia local através das ações empreendedoras de seus
empresários, os quais, através de seus empreendimentos, melhoram as condições de vida da
população, pois geram emprego e renda.
Figura 5 – Resultados do processo de cooperação
Mais
competitividade
Maior
dinamização da
economia
Melhores condições de
vida para a população
Fonte: Adaptado a partir de Putnam (1996)
Não é por acaso, mas as perspectivas que associam o desenvolvimento
econômico local a uma ótica pós-capitalista trazem a cooperação como idéia central. Contudo,
não é consenso na academia de que cooperação seja sinônimo de inclusão social. O
desenvolvimento econômico local continua oscilando numa disputa de fundo entre nova
dualização das relações sociais e dos sistemas produtivos para o aproveitamento de vantagens
locacionais versus a busca de sistemas de cooperação baseadas na valorização dos processos
participativos e redistributivos (BOCAYUVA, 2000).
É neste contexto de cooperação que o capital social é entendido como chave
para a questão da articulação institucional associada à perspectiva de desenvolvimento
econômico local. Parece crescer de forma exponencial a ênfase no conceito de capital social
como forma de associação ao tema do desenvolvimento econômico local.
82
Para Putnam (1996) as características da organização social, como
confiança, normas e sistemas, contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando
as ações coordenadas. O capital social facilita a cooperação espontânea de uma sociedade,
sendo que quanto mais elevado for seu nível de confiança, maior a probabilidade de haver
cooperação, pois a própria cooperação gera a confiança.
O capital social é um ativo coletivo de grupos inseridos numa estrutura
social. Trata-se de valores e crenças que os cidadãos compartilham, expressando socialização
e consenso normativo. Esta postura favorece o espírito cívico e a vida cooperativa, gerando
espaços e estruturas de trabalho em equipe, instigando a inovação e a aprendizagem coletiva,
fatores importantes para o dinamismo econômico recente (ALBAGLI; MACIEL, 2003).
Assim, vários podem ser os benefícios econômicos do capital social, quais sejam: a) maior
facilidade de compartilhamentos de informações e conhecimentos, devido a relações de
confiança, “espírito” cooperativo, referências sócio-culturais e objetivos comuns; b)
conformação de ambientes propícios ao empreendedorismo; c) melhor coordenação e
coerência de ações, processos de tomada de decisão coletiva e maior estabilidade
organizacional, contribuindo para a redução de custos.
O capital social, além de potencializar a cooperação entre os agentes locais,
em termos de desenvolvimento econômico local, refere-se também às estruturas
organizacionais da sociedade. O seu fomento constitui num dos principais eixos de um novo
paradigma de desenvolvimento humano, o que intervém e modifica a estrutura econômico-
social local, tendo por ponto de partida os recursos endógenos de cada localidade (ZAPATA
et al, 2001).
Neste sentido, as empresas que se organizam sob a forma de aglomerações
ficam conectadas por uma série de ligações e redes sociais, institucionais, culturais e técnicas,
cuja conduta leva à criação de capital social. Desta forma, o capital social acaba
83
representando normas e valores que “criam” o tecido da sociedade local, unindo indivíduos e
instituições. É com esta formatação que o capital social se torna crucial para o
desenvolvimento econômico local (MELO; HANSEN, 2005).
3.4.1.2 Mobilização Produtiva do Território e Arranjos Produtivos Locais
Pode-se definir arranjo produtivo como um conceito genérico que abriga
diferentes formatos. Sua principal característica é sua configuração marcada pela intensa
interação entre diferentes agentes ligados a uma mesma atividade econômica num mesmo
território. Seu grande diferencial está nas “interações” existentes entre estes agentes, as quais
necessitam de confiança e envolvem contextos culturais subjacentes, que vão além das
relações contratuais e formais do mercado puro (CASSIOLATO; LASTRES, 2002).
Esses traços, comuns a diferentes abordagens sobre arranjos produtivos
locais, permitem identificar duas questões relevantes: a) o afastamento diante da idéia
tradicional dos pólos regionais; b) a diferenciação face aos enfoques estritamente centrados
em cadeias produtivas setoriais.
Quanto à primeira abordagem, cabe ressaltar que a ênfase em arranjos
produtivos supõe a rejeição da visão tradicional do desenvolvimento regional baseada em
pólos de crescimento (ALMEIDA, 2002), geralmente associados a um núcleo de indústrias
dinâmicas que teriam efeitos encadeadores. A diferença básica entre um arranjo produtivo e
um pólo de crescimento é que o arranjo produtivo tende a se articular socialmente,
culturalmente e economicamente com a vida das pessoas de determinada localidade.
84
As iniciativas de desenvolvimento econômico local têm um conteúdo territorial, na
medida em que respondem a problemas identificados localmente, são concebidos
por atores locais e, também, são protagonizados por atores locais, diferenciando-se
das ações de desenvolvimento regional que são concebidas por iniciativas do
governo e de administrações centrais (ALBUQUERQUE, 2001, p. 5 ).
Na segunda abordagem é importante considerar as críticas à superestimação
da idéia de cadeia produtiva, é discutível a tese de que um conceito linear, unidirecional e
seqüencial como o da cadeia produtiva possa dar conta da complexidade das atuais relações
entre empresas e setores (ALMEIDA, 2002). Sob o enfoque econômico-setorial parece
pertinente ultrapassar as proposições de políticas públicas que se fundamentem na eleição de
atividades ou setores econômicos nos quais o desenvolvimento possa ser impulsionado. As
dimensões territoriais, cidadãs e políticas demonstram que as políticas públicas inovadoras
podem contemplar as regiões de modo mais abrangente, desde que envolvam os segmentos da
população nas estratégias de desenvolvimento econômico local (COCCO; GALVÃO; SILVA,
1999).
Neste sentido, se focado no território, é essencial que se considere a
interligação entre agentes. Isso não ocorre apenas pela identificação com um determinado
setor, mas também pela proximidade espacial e pelas redes de instituições de apoio, enfim,
pelos sistemas locais de inovação que assim podem ser proporcionados. É nessa perspectiva
que se atribuí à ênfase à constituição de entornos territoriais inovadores para impulsionar o
desenvolvimento do potencial econômico local. Cabe ressaltar que processos dessa natureza
requerem articulações estratégicas de atores públicos e privados no sentido de criação de
institucionalidades territoriais para a promoção empresarial e produtiva (ALBUQUERQUE,
2001), como elementos do sistema de governança tidos como impulsionadores de
desenvolvimento econômico local.
Assim, torna-se uma questão chave a oferta de serviços de apoio ao
desenvolvimento produtivo, ou seja, a territorialização das políticas públicas como condição
85
potencializadora de recursos endógenos. Isso ocorre até porque o êxito depende do nível em
que cada estratégia está definida às especificidades de cada localidade, enquanto perfil
produtivo.
Em se tratando de recursos endógenos, para Garofoli (1994) os casos mais
promissores de mobilização produtiva que desencadeiam o desenvolvimento econômico local
são aqueles compostos por sistemas de pequenas empresas
13
. Essas empresas multiplicam-se
em um território específico e se especializam em um mesmo produto.
O grau de autonomia destes sistemas é particularmente importante, e é conseqüência
de numerosos feixes de inter-relações existentes, por um lado, entre as empresas e os
diferentes sectores produtivos locais, e, por outro, entre o sistema produtivo e o meio
local (entendido no sentido de “meio envolvente”, ou seja, o conjunto de fatores
histórico-sócio-culturais sedimentados na comunidade e nas instituições locais)
(GAROFOLI, 1994, p. 33).
É da formação de um conjunto de pequenas empresas, especializadas em um
setor produtivo específico, que pode surgir a mobilização produtiva de um determinado
território, a qual poderia tornar-se na base do processo de desenvolvimento econômico
daquela localidade. Isto é possível porque este tipo de aglomerado, segundo Garofoli (1994),
propicia: a) uma forte especialização produtiva em nível local, ligando diferentes segmentos
correlacionados ao aglomerado, estimulando o crescimento da economia local; b) uma
acentuada divisão social do trabalho entre as empresas locais, dando vasão a uma densa rede
de interdependências produtivas, cujo processo dinâmico e interativo contribui na redução de
custos de transação entre as empresas do aglomerado; c) a existência de multiplicidade
(pluralidade dos protagonistas) entre as empresas, pois não há empresa líder que domine o
sistema local, fato este que estimula a interação entre os empresários, bem como discussões
13
A importância das pequenas empresas nos processos de desenvolvimento econômico local foi resgatada em
meados da década de 1980 através dos estudos de reestruturação produtiva de Piore e Sabel (1984). Para estes
autores a vantagem das PMEs está em sua capacidade de respostas rápidas às contínuas mudanças de mercado,
pois geralmente apresentam estruturas de produção mais flexíveis as quais se adaptam de forma mais efetivas
às mudanças de mercado (CAMPOS, 2004).
86
acerca das limitações e potencialidades do aglomerado; d) ocorre certo “impulso” no sentido
da especialização produtiva, estimulando a acumulação de conhecimentos específicos
(gerando a formação de um sistema de informação em escala local, garantindo rápida
circulação de informações) e facilitando a introdução de novas tecnologias, aumentando desta
forma, a autonomia econômica das empresas e do sistema local; e) a formação de um
profissionalismo difuso entre os trabalhadores locais, resultado da sedimentação histórica dos
conhecimentos pertinentes aos ciclos de produção e suas técnicas; f) a difusão dos contatos
pessoais diretos entre os operadores locais, principalmente fornecedores, favorecendo a
transmissão “em cascata”, no sistema de empresas, de melhorias técnicas e organizacionais,
aumentando a eficácia global do sistema local; g) uma ampla articulação social, acompanhada
de processos contínuos de mobilidade social em prol do desenvolvimento econômico local.
A formação de um sistema produtivo local é resultado da mobilização
produtiva advinda da própria sociedade local. É esta sociedade que forma a base de seu
processo, pois conta com um tecido social e produtivo precisos (direcionados) o que lhes
assegura a flexibilidade socioprodutiva do sistema, a acumulação de conhecimentos, a
profissionalização difusa à escala local e à circulação de informações. Estes fatores
proporcionam ao sistema as vantagens de economias de escala com a da flexibilização
produtiva, considerados como os principais fatores de sucesso deste tipo de aglomeração
(PIORE; SABEL, 1984; GAROFOLI, 1994; BECATTINI, 1994).
87
3.4.1.3 A Aprendizagem e Conhecimento
A aprendizagem e o conhecimento constituem na atual conjuntura do
desenvolvimento econômico local, um fator-chave. A divisão social do trabalho identifica-se
com o próprio processo de desenvolvimento econômico local à medida que se têm na
aprendizagem seu núcleo e espaço vital, ou seja, o desenvolvimento econômico local, sob a
ótica da aprendizagem, corresponde à construção de capacidades locais em prol de seu
desenvolvimento.
O conhecimento é o recurso mais fundamental numa economia capitalista
moderna, na qual a aprendizagem é o seu processo mais importante, pois se configura como
uma estratégia ímpar nos processos de desenvolvimento econômico local. Desta forma, a
criação de conhecimento é fundamental para a capacitação de pessoas, organizações,
empresas e localidades, pois, além de constituir-se em recurso, produz resultados positivos
que ultrapassam os limites da produção, pois envolve valores e usos econômicos (MELO;
HANSEN, 2005). Isto posto, o território passa a ser visto como um espaço impregnado de
conhecimento vivo, compartilhado e conectável, capaz assim de desenvolver-se, cujo
processo é desencadeado pelas empresas nele existentes.
Sendo assim, para Malerda (1992) há vários tipos de aprendizagens
relacionadas às empresas, as quais estão ligadas a trajetórias específicas de cada localidade. A
aprendizagem é um processo dirigido e cumulativo que amplia o estoque de conhecimento da
firma, pois ocorre no seu interior e está relacionada a diferentes fontes de conhecimento
internas ou externas a ela. Como fontes internas para a aprendizagem, o autor define as
atividades inerentes ao próprio processo produtivo da firma, acrescentando os setores de P&D
e de comercialização. As fontes externas seriam obtidas através do conhecimento obtido a
88
partir de fornecedores ou usuários dos produtos da firma. É através das firmas que o processo
de aprendizagem se potencializa e se converte em ações que desencadeiam o processo de
desenvolvimento econômico, uma vez que criam um ambiente de reconstrução social para
determinado local, principalmente àqueles que se encontram em declínio econômico.
Quanto aos principais tipos de processos de aprendizagem relacionados
atualmente, as fontes de conhecimento propiciadas pelas firmas, Malerba (1992) apresenta a
seguinte taxonomia: a) learning by doing (aprender fazendo): seria o processo interno à firma,
relacionado ao processo de produção; b) learnnig by using (aprender usando): interno e
externo à firma, relacionado ao uso do produto; c) learning from advances em S&T (aprender
com os avanços da ciência e tecnologia): externo à firma, está relacionado à absorção de
novos conhecimentos; d) learning from inter-industry spillovers (aprender com os
“transbordamentos” das indústrias): externo à firma, relacionado ao que os concorrentes estão
fazendo; e) learning by searching (aprender procurando): interno à firma, gera novos
conhecimentos através do setor de P&D; f) learning by interacting (aprender interagindo):
externo à firma, está relacionado à interação com fornecedores e usuários ou cooperação com
outras firmas do mesmo setor.
O que se pode considerar da classificação apresentada por Malerda (1992) é
o quanto as empresas, na atual conjuntura econômica, podem contribuir para o processo de
desenvolvimento econômico local, pois são as estruturas empresariais que desencadeiam a
seqüência de eventos, na proposta de Hirschman (1974; 1996) (como já foi comentado nesta
pesquisa).
Como a aprendizagem localizada é um processo interativo socialmente
imerso, ela não pode ser entendida sem que se leve em consideração os contextos
institucionais formais, informais e culturais localizados. Nestes contextos a aprendizagem se
processa tendo por estrutura física as empresas e seu grau de envolvimento e de interação com
89
a sociedade local, pois são as empresas que desenvolvem os ambientes inovadores. A
inovação está diretamente relacionada aos processos de aprendizagem, a qual por sua vez
propicia a interação entre os demais agentes locais, reduzindo incertezas, administrando
conflitos e possibilitando cooperações que se convertem em prol de objetivos comuns àquela
localidade
14
.
Os processos de aprendizagem desencadeados pelas empresas geram
conhecimentos especificamente relacionados à realidade local, potencializando os processos
de inovações. É neste sentido que o desenvolvimento econômico local assume o centro das
discussões das estratégias de desenvolvimento econômico da atualidade. Pois este parece ser a
forma ideal de busca de sinergias, por parte dos agentes locais, para a valorização dos
recursos humanos e materiais de uma localidade. Desta forma, a probabilidade de êxito na
execução de determinada estratégia de desenvolvimento econômico se sobressai diante a
possibilidade real de integração e de valorização dos agentes locais enquanto protagonistas da
própria transformação local, pois evidencia o espaço de decisão da própria comunidade
(CALDAS, 2003). Esta situação reforça o fato de que o desenvolvimento econômico está cada
vez mais localizado nas aglomerações econômicas, cujas razões práticas, se encontram na
aprendizagem e nas externalidades de conhecimento (MELO; HANSEN, 2005).
Assim sendo, tanto a cooperação e o capital social, a mobilização produtiva
e o arranjo produtivo local e a aprendizagem e o conhecimento, se efetivam enquanto
instrumentos que devem ser levados em consideração no momento de se definir uma
estratégia de desenvolvimento econômico local A interação entre estes instrumentos deve ser
instigada pela própria sociedade local, cujos resultados devem converter-se em: a)
investimento que resulte da combinação entre capital social e aprendizagem; b) a articulação
entre agentes de diferentes setores através de novos arranjos socioinstitucionais e espaços
14
Os modelos neo-schumpterianos com ênfase no comportamento das firmas, já salientavam a influência do
meio institucional como fator de indução de crescimento econômico.
90
democrático-participativos na formulação de políticas de gestão locais; c) o fomento à
mobilização produtiva dos territórios, integrando empreendimentos de pequeno porte; d) a
ênfase nos ativos locais como vetores de mudança e sustentabilidade.
3.4.2 O Desenvolvimento Econômico Local no Contexto Brasileiro
As discussões acerca da efetividade do desenvolvimento econômico local no
contexto brasileiro são extremamente recentes, elas datam do início da década de 1990. Seu
contexto de análise emerge em torno do significativo empobrecimento de grande parte dos
médios e pequenos municípios brasileiros. Desta forma, a adoção de estratégias de
desenvolvimento econômico local surge da iniciativa de governos municipais em parceira
com a sociedade civil organizada local, como alternativa real de geração de empregos e de
superação da pobreza.
O fato é que o Brasil vem passando, nas últimas décadas, por processos que
se alternam entre desconcentração econômica e descentralização político-institucional. Isso
quer dizer que durante as décadas de crescimento acelerado da economia nacional (1970 a
1985), ocorreu no Brasil um processo combinado de desconcentração econômica com
centralização política das decisões em Brasília. Os projetos de integração nacional,
promovidos pelo governo militar, investiram em políticas que visaram à desconcentração
territorial da economia e o crescimento diferenciado por regiões, tendo por controle
operacional o próprio Estado. Contudo, a partir da metade da década de 1980, este modelo de
desenvolvimento começa a declinar em função da estagnação econômica nacional (reflexo da
crise internacional) e da crise do Estado nacional, instigando, no final de década de 1980, a
91
reforma do Estado brasileiro, cujo objetivo foi a redefinição de seu papel e áreas de
intervenção, bem como sua saída enquanto principal agente financiador do desenvolvimento
(a Constituição Federal de 1988 consolida estas mudanças) (BUARQUE, 2002). Entre as
alterações ocorridas, ressalta-se a importância que os Estados e municípios passam a ter nos
processos de desenvolvimento econômico, sendo que a União, a partir deste momento, passa a
assumir um papel subsidiário e de suporte regulatório das regras econômicas.
No entanto, segundo Buarque (2002) mesmo tendo o Estado nacional
tomado a iniciativa de se adaptar as exigências dos novos modelos de desenvolvimento
econômico, repassando aos Estados e municípios maior autonomia administrativo-financeira,
o problema das disparidades econômicas regionais se agravou cada vez mais. Isso ocorreu
porque grande parte da maioria dos municípios, tanto os antigos quanto os mais recentes não
estavam preparados para as responsabilidades da descentralização, tendo dificuldades para
gerir seus próprios recursos. A conseqüência deste despreparo foi a inércia do governo
público municipal diante das exigências do novo paradigma de desenvolvimento, acarretando
o agravamento da pobreza e o declínio econômico de grande parte destes municípios. Mas,
essa realidade não atingiu todas as regiões brasileiras. Um exemplo disso são os núcleos de
desenvolvimento das regiões Sul-Sudeste, os quais encontram na reconcentração produtiva o
estímulo necessário à retomada de seu crescimento econômico. Cabe ressaltar que o
desprendimento destas regiões também é resultado dos investimentos federais ocorridos desde
a década de 1950, fruto da estratégia de desenvolvimento econômico adotado no país como
forma de industrializá-lo e inseri-lo no contexto internacional de desenvolvimento que
pregoava a industrialização como a única forma de se desenvolver economicamente uma
nação. Essas regiões também foram beneficiadas, ao longo da década de 1960, com o
chamado “modelo brasileiro”. Esse programa consistia na implantação de um sistema político
centralizado que fortaleceu o poder federal à custa da retenção de verbas para as regiões,
92
tendo por conseqüências um grande crescimento no eixo sul-sudeste, acompanhado de
grandes desigualdades econômicas das demais regiões brasileiras (MARTINELLI; JOYAL,
2004).
Outra característica das políticas de desenvolvimento econômico local
brasileiro foi a criação de vários órgãos federais, como a Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a Superintendência do Desenvolvimento do
Amazônia (SUDAM), a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO)
entre outras, que tinham por objetivo executar estas políticas. A criação destas
superintendências comprova que a política regional de desenvolvimento econômico brasileiro
se baseou de “cima para baixo”, ou seja, as decisões foram centralizadas na esfera do governo
federal. Este fato contribuiu para o fortalecimento das regiões sul-sudeste e à manutenção do
subdesenvolvimento das demais regiões, não conseguindo, inclusive frear o forte processo de
êxodo rural que ocorreu no país entre as décadas de 1960 a 1980, inchando as principais
capitais nacionais e com elas agravando os problemas de uma urbanização desenfreada e
desestruturada (MARTINELLI; JOYAL, 2004).
Para Abramovay (2001) no que se refere ao desenvolvimento econômico
territorial brasileiro, dois são os principais obstáculos que interferem na efetividade dos
planejamentos traçados. O primeiro está relacionado à atual relação de “vazio organizacional”
existente entre Estados e municípios. Os pequenos municípios brasileiros não têm condições
de planejar potencialidades produtivas, o que os leva à perda de oportunidades promissoras de
geração de renda. Por isso precisa que o Estado os auxiliem. Segundo, a cultura de “pré-
seleção” incutida nas práticas administrativas do país desde o início do século XX.
Bem, se o termo desenvolvimento econômico local é utilizado tanto pela
OCDE quanto pela CEPAL como referência a iniciativas pontuais e setoriais que lidam com
geração de trabalho e renda ou com os elementos clássicos de desenvolvimento urbano e
93
rural, então suas recentes abordagens, disseminadas a partir da década de 1980 e 1990 no
Brasil, trazem um diferencial significativo: a busca de uma intervenção territorializada onde
não se trata apenas de realizar um projeto, mas de gerar uma matriz de projetos e ações
continuadas a partir da mobilização de diferentes atores atuantes e presentes nos territórios.
Mais do que ações em parceria e multisetoriais constituem-se numa
perspectiva sistêmica de articulação socioinstitucional e socioprodutiva para a transformação
dos territórios, tendo os atores locais como protagonistas, criando assim bases consistentes
para um desenvolvimento social, econômico, político e ambiental sustentáveis. É o resultado
da vontade conjunta e dominante da sociedade local. É através da sociedade local que se tem a
sustentação e a viabilidade política necessária às iniciativas e ações capazes de organizar as
energias e de promover a dinamização e transformação da realidade local (BUARQUE, 2001;
MARTINELLI; JOYAL, 2004; AMARAL FILHO, 2001).
O desenvolvimento econômico local implica em organização de base, onde
as estruturas sociais e culturais locais é que determinam as estratégias de desenvolvimento
econômico, uma vez que competem a esta mesma estrutura social a execução e
operacionalização desta estratégia. Sendo assim, o diferencial de êxito deste tipo de
desenvolvimento econômico está justamente centrado em sua forma peculiar de planejamento,
qual seja, se origina do local para o regional, de “baixo para cima”
15
.
Assim, se o desenvolvimento econômico local é alcançado a partir da
execução de estratégias de desenvolvimento econômico estruturadas pela base, então se pode
dizer que a teoria do desenvolvimento econômico endógeno parece ser o caminho mais
indicado para a efetividade deste tipo de estratégia de desenvolvimento econômico.
Neste contexto, Amaral Filho (2001) aponta que o aspecto recente dos
debates acerca do paradigma de desenvolvimento endógeno está justamente na definição de
15
Termo utilizado por Martinelli e Joyal (2004); Amaral Filho (2001); Buarque (2001); Martins (2002), entre
outros.
94
estratégias de desenvolvimento econômico local que passam a ser estruturadas a partir de sua
base, ou seja, a partir de seus próprios atores locais e não mais por meio de estratégias
centralizadas pelo “alto”. Portanto, a estratégia de desenvolvimento econômico pela base, tida
até recentemente como uma forma alternativa de desenvolvimento econômico, atualmente se
destaca como uma eficiente estratégia de desenvolvimento para as economias atrasadas. É a
partir dela que se ampliam as bases de decisão autônoma dos atores locais, repassando para
esses a responsabilidade pelo destino de sua economia local.
3.5 Estratégia de Desenvolvimento Econômico: o local e o regional
Para que se possa identificar a estratégia mais adequada ao desenvolvimento
econômico de uma localidade, é preciso primeiro que se tenha clareza do significado da
palavra estratégia. Para Mintzberg e Quinn (2001) não existe uma única definição
universalmente aceita, para o termo. Quinn (2001) define estratégia como um padrão ou plano
que integra as principais metas, políticas e seqüências de ações de uma organização em um
todo coerente. Para este autor, uma estratégia bem formulada ajuda a ordenar e alocar os
recursos de uma organização para uma postura singular e viável, com base em suas
competências e deficiências internas relativas, bem como mudanças no ambiente antecipadas.
Quinn (2001) também afirma que a execução de uma estratégia é tão importante quanto as
suas políticas de ação, uma vez que são estas políticas que definem as regras ou as diretrizes
que apontam os limites dentro dos quais a ação deve ocorrer, orientando a postura e a direção
das metas e determinando sua viabilidade. Uma estratégia pode ser entendida como uma
maneira de agir, através de um planejamento, dentro de um período de tempo delimitado,
tendo sua ação direcionada a um local.
95
Contudo, para que se formule uma estratégia eficaz é preciso que se
considere a justaposição dos pontos fortes e fracos de uma localidade e das oportunidades e
ameaças apresentadas pelo ambiente no qual ela esta inserida (MONTGOMERY, 1998).
Também é preciso considerar que a base de todo o processo estratégico é a razão, o controle
racional e a análise sistemática de concorrentes e mercados cujas combinações devem
produzir estratégias claras, explícitas e completas (MINTZBERG; QUINN, 2001).
Desta forma, uma estratégia nada mais é do que um plano de ação, que na
literatura administrativa contemporânea, recebe o nome de planejamento estratégico. A
utilização do termo, planejamento estratégico na área da economia regional, mais
precisamente na de desenvolvimento econômico local, é recente, não ultrapassando mais do
que duas décadas.
O conceito de planejamento estratégico teve origem nos anos de 1980, na
Escola de Negócios de Harvard, Estados Unidos, cujo objetivo era ampliar a competitividade
das organizações junto a um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo. A visão
organizacional do planejamento estratégico evidenciou palavras como: flexibilidade,
maleabilidade, dinamismo e eficácia, cuja convergência estava focada em um único objetivo,
o êxito organizacional (YORY, 2000).
O processo de adoção do conceito de planejamento estratégico
organizacional para o de desenvolvimento econômico regional, e mais recentemente local,
passou a ser evidenciado a partir da percepção de que as organizações estavam inseridas em
um território específico. Desta forma, o território em que estão inseridas estas organizações
também participa de modo direto do seu dinamismo organizacional. Quer dizer, o êxito do
planejamento estratégico das organizações está diretamente atrelado às políticas fiscais,
econômicas e sociais dos territórios em que estas organizações estão inseridas (YORY, 2000).
96
Nesta percepção, o autor defende que os princípios que regem o
planejamento estratégico local na atualidade resultam, em grande parte, do avanço dos
planejamentos estratégicos organizacionais, trazendo para as discussões políticas locais
conceitos já consagrados na teoria organizacional contemporânea:
[...] comparte el territorio con la idea moderna de empresa la minimización del
equipo base que la conforma, la flexibilidad y agilidad en su modo de operar, la
adaptabilidad frente a las eventualidades, el sentido de oportunidad que responde a
las coyunturas locales y globales potenciando sus fortalezas y ventajas comparativas,
la optimización de recursos humanos, técnicos y financieros […] (YORY, 2000, p.
35).
E, principalmente, “la capacidad de alterar la línea de actuación tendencial
que se viene siguiendo con el objetivo de anticiparse a los cambios, es decir, la innovación
(YORY, 2000, p. 35). Ou seja, inúmeras são as razões que levam os governantes de um
determinado território a se organizar e a planejar seu futuro através de um planejamento
estratégico condizente com a sua atual situação local, buscando junto aos seus atores sociais
soluções para os problemas de ordem econômica e social destas localidades. Até porque, no
atual contexto de transformações econômicas, tecnológicas e político-institucionais ocorridas
no final do século XX, passou-se a evidenciar o território como espaço local onde convergem
sinergias positivas em busca da promoção de seu desenvolvimento econômico (MAILLAT,
2002).
No entanto, com a crise mundial de 1930, e o esgotamento do modelo
fordista de produção, evidenciaram que o desenvolvimento econômico precisava ser
planejado para acontecer, sendo de competência do Estado a intervenção necessária à sua
execução. A partir do Estado, as estratégias e o planejamento do desenvolvimento econômico
passam a ser vistos como instrumentos capazes de atenuar as disparidades regionais. Entende-
se por planejamento uma ferramenta de trabalho utilizada para tomar decisões e organizar
ações de forma lógica e racional, de forma a garantir resultados e a concretização dos
97
objetivos traçados, com custos e tempo reduzidos. Seria uma forma de a sociedade planejar o
seu futuro, rejeitando a resignação e partindo para iniciativas que definam seu destino. Se o
planejamento é tido como um processo de tomada de decisões de determinada sociedade em
relação ao seu futuro, ele envolve escolhas, alternativas, as quais devem se basear em
objetivos coletivos que se orientem para ações concretas e consensuais.
Por ser um processo ordenado e sistemático de decisões, o
planejamento estratégico adota uma conotação técnica e racional de formulação e suporte das
escolhas de uma sociedade. Por outro lado, por fazer parte de um processo político, o
planejamento se constitui em um espaço privilegiado de negociações, confrontando e
articulando interesses e alternativas. Dessa forma, possibilita oportunidades de reconstrução e
de reordenação dos jogos de poder, criando condições de construção da hegemonia, na
medida em que articula técnica e politicamente os agentes em suas escolhas e opções sociais.
Somente assim é que o planejamento pode se transformar em estratégias voltadas para a
promoção do desenvolvimento econômico.
É neste contexto que se reconhece a importância das diversidades territoriais
na formulação das estratégias de desenvolvimento econômico, as quais, apesar se estarem
vinculadas a um contexto histórico específico, podem ser potencializadas e valorizadas
através da organização destes territórios em torno de objetivos comuns pactuados entre seus
agentes locais, contribuindo para o avanço da economia local e, ao longo do tempo, no
desenvolvimento econômico propriamente dito.
No entanto, no Brasil as estratégias de desenvolvimento econômico
adotadas pelo governo federal, a partir do final da década de 1960, objetivaram o processo de
industrialização do país, frente ao modelo de desenvolvimento econômico mundial de
industrializar para desenvolver, já comentado nesta pesquisa. O período de integração
produtiva da economia nacional, que compreendeu o período de “montagem” da indústria
98
pesada brasileira (1968-1973), foi comandado pelo setor de bens duráveis de consumo, o qual
em alguns anos dá sinais de esgotamento frente sua incapacidade de continuar comandando o
processo de crescimento da economia brasileira
16
. Neste contexto de crise interna o governo
busca retomar o processo de substituição de importações em outros setores, como bens de
capital, eletrônica pesada e insumos básicos. A estratégia passa a ser o processo de
internalização da indústria pesada brasileira e de outros programas setoriais, tais como metais
não ferrosos, fertilizantes, defensivos agrícolas, papel e celulose e produtos petroquímicos
(TRINTIN, 2005).
A estratégia resumia-se em consolidar o setor industrial brasileiro. Para
tanto, o governo planejava garantir as condições necessárias à retomada do crescimento
econômico nacional, evitando e/ou desviando os problemas que a crise de energia e a escassez
de matéria-prima estavam provocando no cenário econômico mundial (década de 1970 e
1980). O objetivo era reduzir nossa dependência externa a fontes de recursos naturais,
principalmente o petróleo, que na época chegava ao montante de importação de dois terços do
volume consumido no país. Assim, optou-se por “aproveitar as oportunidades”, conquistar
novos parceiros comerciais e dar continuidade à estratégia de crescimento do período anterior,
quando as exportações foram decisivas para a sustentação do crescimento. Ou seja, deu-se
prosseguimento à “integração” com a economia mundial, para abrir ao país nova opção de
progresso. A intenção “era tirar proveito” da realidade recente, de níveis mais altos de
relacionamento entre os diferentes blocos, sem com isso tornar mais vulneráveis os objetivos
econômicos nacionais (LESSA, 1998).
Toda a estratégia de desenvolvimento econômico nacional deste período
estava centrada na obtenção de maior autonomia do país. Portanto, além de complementar a
indústria de base, promoveu também a substituição de importações em setores de insumos
16
Maiores detalhes ver Mello; Tavares e Belluzzo apud Trintin (2005).
99
básicos. Para tanto, reservou-se à política agrícola um papel relevante privilegiando o sistema
de crédito subsidiado como forma de modernizar e diversificar a estrutura agrícola do país.
Ressalta-se que este crédito estava direcionado, em sua grande maioria, aos produtos
exportáveis, commodities (como soja e trigo), fato este que acabou por privilegiar as regiões
Sudeste, Sul e Centro-Oeste que apresentaram melhores condições estruturais de adaptação a
este modelo (Revolução Verde), consolidando no país forte complexo agroindustrial,
instigando junto ao governo a crença de que se poderia colocar o Brasil como potência
mundial de fornecimento de alimentos, matérias-primas agrícolas e de produtos agrícolas
industrializados. Neste cenário, as exportações brasileiras crescem significativamente,
passando a liderar a pauta de exportações do país a partir de 1978 (TRINTIN, 2005).
Diante deste cenário promissor, o governo passa a ser o gerenciador do
ingresso do capital estrangeiro, buscando direcioná-lo de acordo com os interesses
econômicos do país, preservando as pequenas e médias empresas e fortalecendo a grande
empresa nacional. O objetivo era gerenciar os recursos financeiros e tecnológicos para que
estas empresas pudessem assumir seu papel na estratégia de desenvolvimento do país,
ocupando os “espaços vazios” que a estrutura industrial brasileira havia criado a partir da
década de 1950 (centrando-se na região Sudeste do país) (op. cit.).
Segundo Trintin (2005) caso essa estratégia não surtisse o resultado
esperado, o governo tinha por segunda opção a fórmula tripartite. A idéia desta fórmula era
convidar o capital nacional para participar dos empreendimentos propostos pelo capital
estatal, que abriria o mercado brasileiro para o capital multinacional, proporcionado o aporte
tecnológico e as conexões comerciais externas necessárias a sua expansão. Assim, o governo
apostou em sua força de negociação entre as partes, acreditando na possibilidade de ajustar os
interesses das multinacionais aos interesses das nacionais, para tanto, estipulou algumas
metas, quais sejam:
100
a) devem ser orientadas para os setores em que possam assegurar transferência de
tecnologia avançada; b) devem contribuir para o desenvolvimento de pesquisa
tecnológica no Brasil, aqui realizando gastos com P&D e contratando serviços de
engenharia com empresas nacionais; c) devem participar do esforço de ampliação
das exportações; deverão ser induzidas a cooperar em programas amplos de
exportações de manufaturados com tecnologia mais complexa, inclusive bens
duráveis de consumo, máquinas, componentes de vens de capital e bens duráveis,
nos quais tenhamos poder de competição, mesmo para áreas desenvolvidas (LESSA,
1998, p. 38).
O governo federal procurou formatar uma estratégia que atraísse e
convertesse o capital estrangeiro aos interesses do capital nacional, visualizando nesta
parceria a viabilização do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro da época.
Durante as décadas seguintes as estratégias de desenvolvimento econômico
brasileiras ficaram à mercê das crises econômicas e das várias tentativas de reformas e planos
econômicos de superação da crise. Somente nos de 1990 é que novamente são incorporadas às
políticas públicas federais estratégias de desenvolvimento. Partindo da regionalização, o
governo federal buscou definir estratégias regionalizadas para o enfrentamento da pobreza e
das desigualdades econômicas e sociais do país, traçando um plano de ação que pudesse
inserir as regiões deprimidas do país nos circuitos econômicos regionais mais dinâmicos
(MENDONÇA; ORTEGA, 2005). Dois foram os programas federais institucionalizados a
partir da década de 1990 (Quadro 3):
101
Quadro 3 - Programas federais de apoio ao desenvolvimento econômico local brasileiro a
partir da década de 1990
Programa Ano de
implantação
Objetivo(s)
DLIS – Desenvolvimento Local
Integrado e Sustentável (Projeto do
Programa Comunidade Ativa (atrelado
ao Comunidade Solidária)
1997
Combater a pobreza e promover o desenvolvimento
em espaços mais deprimidos do país através de
parcerias com os governos estaduais e municipais e
o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE), estimulando o
empreendedorismo local para gerar emprego e
renda.
CONSAD’s – Consórcios
Intermunicipais de Segurança
Alimentar e Desenvolvimento Local
2003
Firmar parcerias institucionalizadas entre poder
público e a sociedade civil organizada, com objetos
voltados ao fomento, apoio logístico e de
canalização de recursos para iniciativas localizadas,
criando condições que incentivem o
empreendedorismo local, gerando emprego e renda.
Fonte: Adaptado pela autora conforme Mendonça e Ortega (2005)
Os modelos de desenvolvimento econômico brasileiros sempre partiram da
atuação do governo. É a partir das estratégias de crescimento econômico do Estado que
ocorreram as mudanças, atualizações e diversificações do sistema produtivo nacional, as
quais, por sua vez, alavancaram o crescimento econômico ocorrido no Brasil ao longo das
décadas de 1950 a 1970 e somente da década de 1990 para cá é que o governo vem,
novamente, discutindo estratégias de desenvolvimento econômico.
Por isso, até 1980 a estratégia de desenvolvimento econômico brasileiro
adotada partiu do “alto”. Estratégias de desenvolvimento econômico pelo “alto” são aqueles
planejamentos estratégicos ou intervenções exógenas às regiões. Eles partem de um contexto
maior para o menor, de “cima para baixo”, como, por exemplo, uma estratégia de
desenvolvimento econômico definido pelo governo federal cuja execução e abrangência se
aplica ao país como um todo. São os tipos de estratégias preconizadas nos estudos clássicos
de Perroux (1977), Hirschman (1974, 1996), Hilhorst (1975), entre outros.
Em oposição às estratégias de desenvolvimento econômico pelo “alto” há as
estratégias de desenvolvimento econômico pela base, ou seja, aquelas que tiveram origem a
partir dos resultados obtidos pelas estratégias de desenvolvimento econômico local. Elas
102
evidenciam a necessidade de análise do ambiente local de forma sistêmica, tendo no
desenvolvimento endógeno o diferencial que leva uma localidade a alcançar seu
desenvolvimento econômico (MARTINELLI; JOYAL, 2004). Para Amaral Filho (2001) é a
partir do desenvolvimento regional que se evidenciam os atores locais como propulsores do
desenvolvimento das potencialidades socioeconômicas de uma localidade.
Os elementos dessas duas estratégias serão analisados a seguir.
3.5.1 Estratégia de Desenvolvimento Econômico pelo “Alto”
A estratégia de desenvolvimento econômico pelo “alto” parte do
planejamento estatal. O Estado é o agente que promove o desenvolvimento econômico. Sua
ênfase foi dada a partir da década de 1950, cujos planejadores públicos visavam alterar
determinada situação para outra, e viam através do planejamento a execução de estratégias
que viabilizassem o objetivo de desenvolver economicamente uma determinada região. O
desenvolvimento econômico regional só se efetivaria através da intervenção governamental
(FONSECA, 1998).
Antes de adentrarmos na definição conceitual de Estratégia de
Desenvolvimento Econômico pelo “Alto”, cabe lembrar que a linha teórica que está
estruturando esta pesquisa advém das considerações de Hirschman (1974, 1996) considerado
um dos precursores e proponente deste tipo de estratégias de desenvolvimento econômico.
Hirschman (1974, 1996) através da proposição de uma política de
desenvolvimento econômico desequilibrada, afirmava que quando certas regiões são
desenvolvidas antes de outras, ocorrerá uma perda de recursos disponíveis nas regiões que
103
não se desenvolveram. Os desequilíbrios resultantes desta perda permitirão a essas regiões
reagir vigorosamente à estratégia de desenvolvimento econômico, cujas reações
desencadearão seu potencial de desenvolvimento. Para que uma estratégia de
desenvolvimento econômico desencadeie os resultados esperados, seus planejadores precisam
definir eficientes políticas de desenvolvimento econômico, as quais, segundo o autor, terão
maior probabilidade de êxito, se direcionadas às especificidades de cada região que compõem
um estado e um país.
Neste sentido, a proposta de Hilhorst (1975) vem de encontro com a política
de desenvolvimento desequilibrado, preconizada por Hirschman (1974, 1996). Para Hilhorst
(1975) a principal função de uma estratégia é levar uma região a se tornar uma economia
avançada. Para tanto, segmenta sua proposta a partir de planejamentos regionais, pois acredita
que o retorno esperado será maior quando as estratégias estiverem espacialmente
concentradas.
Hilhorst (1975) propõe dois tipos de estratégias de desenvolvimento
econômico pelo “alto”: a de expansão e a de consolidação. Ambas podem ser divididas em
dispersão ou concentração. Os tipos de estratégias desenvolvidas por Hilhorst (1975) estão
expostas no Quadro 4.
104
Quadro 4 – Estratégias espaciais relevantes em termos de localização de investimentos
Problemas Regionais de Importância Nacional
Tipo de Desenvolvimento de Recursos Região Agrícola velha Região Industrial Velha
Estrutura Regional Objetivo Básico do Desenv. Espacial Objetivo Básico do Desenv. Espacial Objetivo Básico do Desenv. Espacial
Expansão Consolidação Expansão Consolidação Expansão Consolidação
I – distribuição “log
normal” de cidades
por tamanho com
periferia pequena
(Ia) corredor de
desenvolvimento
(Ib) centros de terceira
ordem próximos aos
limites da região
(IIa) centros secundários
próximos aos limites da
região
Não-Relevante
Não-Relevante
Não-Relevante
Não-Relevante
Não-Relevante
II – Distribuição
primaz de cidades por
tamanho com periferia
pequena
(Ia) corredor de
desenvolvimento
(IIa) centros secundários
próximos aos limites da
região
(IIIb) centro ao longo de
vias de transporte internas
(IVb) centros regionais
novos próximos ao centro
da região
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da
região
Não-Relevante
(IIIa) centros terciários
próximos ao centro da região
(IIIb) centro ao longo de vias
de transporte internas
(IIIc) centros secundários
próximos aos limites da
região
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
Não-Relevante
(IIIb) centro ao longo de vias de
transporte internas
(IIIc) centros secundários
próximos aos limites da região
(IVb) centro regional novo
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
III – Distribuição “log
normal” de cidades
por tamanho com
periferia grande
(Ia) corredor de
desenvolvimento
(IIa) centros secundários
próximos aos limites da
região ou
(IIb) centro regional
(IIIb) centro ao longo de
vias de transporte internas
(IVa) centro regional, ou
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da
região
Não-Relevante
(IIIa) centros terciários
próximos ao centro da região
(IIIb) centro ao longo de vias
de transporte internas
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
Não-Relevante
(IIIa) centros terciários próximos
ao centro da região
(IIIb) centro ao longo de vias de
transporte internas
(IVa) centro regional
ou
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
IV - Distribuição
primaz de cidades por
tamanho com periferia
grande
(Ia) corredor de
desenvolvimento
(IIa) centros secundários
próximos aos limites da
região
(IIIb) centro ao longo de
vias de transporte internas
(IVb) novo centro regional
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da
região
Não-Relevante
(IIIa) centros terciários
próximos ao centro da região
(IIIb) centro ao longo de vias
de transporte internas
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
Não-Relevante
(IIIb) centro ao longo de vias de
transporte internas
(IVb) novo centro regional
(IVc) centros secundários
próximos ao centro da região
Fonte: Hilhorst (1975, p. 136)
105
Hilhorst (1975) define estratégia de desenvolvimento de expansão como a
ampliação do espaço de decisão de um centro regional. Já a estratégia de desenvolvimento de
consolidação é vista como a intensificação da atividade sócio-econômica dentro do espaço de
decisão de um centro regional. É a partir da escolha de uma destas estratégias que o autor
acredita obter uma política de atividade sócio-econômica que propicie o desenvolvimento
econômico regional.
Cabe ressaltar que as estratégias acima descritas precisam ser vistas como
uma seqüência de um planejamento de ordem superior, como, por exemplo, o aumento do
nível de vida da população. É por este motivo que Hilhorst (1975) alerta para que não se
ignore a ideologia que sustenta este planejamento, sob pena de não se atingir os resultados
esperados. As ideologias embutidas no planejamento das estratégias de desenvolvimento
econômico, segundo o autor, podem ser de dominação extrativa ou de dominação distributiva.
Sob as condições de dominação extrativa, se justifica a opção por uma
estratégia de consolidação quando se encontram argumentos de natureza política e/ou
econômica. Para tanto, o subsistema central deve ter razões e/ou políticas que permitam que a
periferia intensifique suas atividades em prol do centro de uma região (Quadro 4).
Em condições semelhantes, a opção por estratégias de expansão deve
prevalecer quando se pretende investir nas áreas periféricas em detrimento do
desenvolvimento do centro da região. Agora, ao considerar a mesma estratégia de
desenvolvimento sob as condições de dominação distributiva, percebe-se o quão diferentes
podem ser os resultados alcançados. Nesta situação, os investimentos não são feitos de acordo
com o interesse do centro, mas sim de acordo com os interesses da periferia (Quadro 4).
As estratégias de desenvolvimento de consolidação, por sua vez, visam à
promoção de certo equilíbrio entre o desenvolvimento do centro e da periferia, de forma
simultânea. Cabe ressaltar que a estratégia de expansão, no decorrer do tempo, passa a ser
106
uma seqüência natural da estratégia de consolidação, uma vez que esta última cria condições
para que a primeira surja nas áreas periféricas ao mesmo tempo em que produz recursos com
os quais a estratégia de expansão será, posteriormente, financiada (HILHORST, 1975).
Para Hilhorst (1975) as estratégias de desenvolvimento de expansão e de
consolidação também podem ser qualificadas pela introdução de duas posições extremas dos
padrões da atividade sócio-econômica, quais sejam: a) as de expansão com dispersão ou
concentração; e b) as de consolidação com dispersão ou concentração. Contudo, o autor
ressalta que para a execução de ambas as estratégias é preciso que se leve em consideração as
limitações impostas pela escassez de recursos disponíveis. Desta forma, o autor define quatro
opções de estratégias, as quais variam de acordo com os investimentos que não precisam,
necessariamente, estar atrelada aos de natureza econômica.
A primeira opção seria a estratégia de expansão com dispersão, entendida
pelo autor como aquela em que os investimentos da maior parte dos recursos disponíveis se
dão em determinados centros, próximos aos limites da própria região. Dentre suas formas
possíveis de aplicação, o autor sugere: a) a de construção de um corredor de desenvolvimento;
e b) o de desenvolvimento de centros terciários, próximos aos limites e ao centro secundário
da região.
A segunda opção é a estratégia de expansão com concentração, a partir da
qual se entende que os investimentos da maior parte dos recursos regionais devam estar
localizados em um ou dois lugares secundários, próximos aos limites da região ou no centro
(novo) da região.
A terceira opção é estratégia de consolidação com dispersão, obtida através
da aplicação de investimentos em: a) centros terciários próximos ao centro regional; b) em
lugares ao longo das vias de transportes internos; e c) em lugares secundários, próximos aos
limites da região.
107
E, por último, a estratégia de consolidação com concentração é obtida pela
aplicação de investimentos da maior parte dos recursos da região nas três formas que seguem:
a) investimentos no centro da região; b) investimentos no novo centro regional; ou c)
investimentos nos centro secundários próximos ao centro da região, ou na combinação de “a”
e ”c” (investimentos no centro da região conciliados aos investimentos nos centro secundários
próximos ao centro da região) ou de ”b” com ”c” (investimentos no novo centro regional
conciliado aos investimentos nos centros secundários próximos ao centro da região). Desta
forma para Hilhorst (1975) tanto a estratégia de desenvolvimento econômico de expansão
quanto a de consolidação são entendidas como eficientes mecanismos de desenvolvimento
econômico regional pelo alto.
Nos dias atuais, Krugman (1995) busca, através do resgate dos distritos
industriais
17
, da proximidade espacial e dos fatores relacionais, dar uma nova versão às
estratégias de desenvolvimento econômico pelo alto. O autor considera três fatores que
explicam a concentração industrial, ocorrida na maioria dos países desenvolvidos das últimas
décadas, quais sejam: a concentração do mercado de trabalho, os insumos intermediários e as
externalidades tecnológicas. Tendo por base vários estudos do Vale do Silício, nos EUA,
Krugman (1995) defende a idéia de que é preciso considerar os fatores históricos que
antecipam uma localização industrial, pois é a partir desta que a concentração do mercado de
trabalho e a oferta de insumos especializados acabam por se desenvolver como uma espécie
de conseqüência do processo de desenvolvimento econômico regional executado. Becattini
(1994) também resgata os distritos industriais como forma de estratégia de desenvolvimento
econômico regional pelo alto. No entanto, acrescenta em sua análise o papel dos agentes
locais na organização dos fatores e na coordenação do processo cumulativo.
17
Distrito industrial é uma entidade socioterritorial caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de
pessoas e de uma população de empresas num determinado espaço geográfico e histórico, no qual tende a
criar-se uma osmose perfeita entre a comunidade local e as empresas (BECATTINI, 1994).
108
Do breve resgate teórico e histórico apresentado nos parágrafos acima,
percebe-se que desde a estratégia de desenvolvimento econômico desequilibrado, preconizado
por Hirschman (1974, 1996) aos tipos de estratégias de Hilhorst (1975), aos pólos de
crescimento, de Perroux (1977) e ao resgate dos distritos industriais por Krugman (1995) e
Becattini (1994) as estratégias de desenvolvimento econômico pelo “alto” tiveram por
sustentação institucional o próprio Estado, tido como responsável direto pelos rumos que a
economia de uma região tomava.
A partir do ano de 1990, o modelo estratégico de desenvolvimento pelo
“alto” dá sinais de esgotamento prático. Várias regiões, tradicionalmente industriais,
começam a declinar em função das radicais mudanças ocorridas nas formas e dos modos de
produção industrial, até então vistas como modelos produtivos eficientes. A este fato soma-se
a globalização econômica e a abertura das economias nacionais. Neste cenário, começam a
emergir alternativas estratégicas de desenvolvimento econômico, trazendo consigo a iniciativa
de uma reestruturação institucional. O Estado, tido até então como o idealizador e executor
primaz das estratégias de desenvolvimento econômico, passa a ser visto como um parceiro do
processo estratégico de desenvolvimento econômico, dividindo a responsabilidade pelos
rumos da economia com a sociedade civil organizada local (AMARAL FILHO, 2001).
Do cenário exposto, surge uma nova forma de se visualizar o Estado e a
sociedade civil organizada diante das reestruturações que as regiões devem passar em prol de
sua sobrevivência econômica no atual mercado global. As “ações coletivas”, preconizadas por
Schmitz (1997) e por Schultz (1981) passam a ser elementos potenciais da recente
configuração da economia regional, onde o Estado passa a se sustentar nos resultados dos
processos e de dinâmicas econômico-sociais, determinadas pelo comportamento dos atores
locais e de suas organizações, emergindo desta concepção as estratégias de desenvolvimento
econômico pela base.
109
3.5.2 Estratégia de Desenvolvimento Econômico pela base
As estratégias de desenvolvimento econômico pela base tiveram origem a
partir de um maior entendimento do conceito de desenvolvimento econômico local. Neste
entendimento, o território passa a ser o ponto de referência e de partida para uma estratégia
concreta que visa o desenvolvimento econômico de uma localidade.
A abordagem territorial do desenvolvimento econômico começou a ser
discutida a partir da metade dos anos de 1990, sendo que na geografia começa no final do
século XIX. Pode-se dizer que sua origem partiu das concepções teóricas da economia
espacial, a qual, num primeiro momento, se ateve às discussões de três abordagens distintas,
quais sejam: a) as diferenças espaciais entre áreas urbanas e rurais; b) a heterogeneidade
espacial do dinamismo econômico centrado nas discussões da economia industrial e c) no
estabelecimento das possíveis relações existentes entre as abordagens “a” e “b” com a
evolução do planejamento regional (VEIGA, 2002).
As discussões acerca dessas abordagens visavam à busca por respostas ao
expressivo dinamismo econômico que estava ocorrendo na década de 1990 nas regiões não
urbanas dos países desenvolvidos. Esse dinamismo contestava a idéia de que o
desenvolvimento econômico era conseqüência dos processos industriais que se concentravam
nas regiões urbanas. Foi da vontade de se entender quais seriam as fontes geradoras deste
dinamismo econômico, em localidades distantes dos grandes centros produtivos urbanos, que
se desencadeou uma série de discussões acerca da importância do local frente ao processo de
desenvolvimento econômico de uma região (VEIGA, 2002). Inserida neste contexto histórico,
a dimensão territorial ganhou vazão enquanto elo que liga a globalização econômica à
110
localização das atividades produtivas, possibilitando a introdução de novas alternativas de
desenvolvimento econômico (SILVEIRA, 2005).
Sendo assim, é a partir da definição de desenvolvimento econômico,
apresentada no início deste capítulo, que se tem o desdobramento do desenvolvimento
econômico local, o qual passa a ser visto como uma conseqüência da operacionalização de
uma estratégia de desenvolvimento econômico bem sucedida, que parte de um local
específico e sem intervenção externa. Esse desenvolvimento econômico é estruturado não
apenas no progresso material (que gera apenas o acúmulo de riquezas), mas naquele que é
resultado da iniciativa compartilhada dos atores sociais, da inovação e do empreendedorismo
comunitários de determinada localidade (MARTINS, 2002).
O desenvolvimento econômico local está relacionado então com o uso
efetivo, pela sociedade local, das potencialidades de seu próprio território, cuja promoção se
viabiliza através de estratégias que evidenciam e canalizam essas potencialidades em prol do
desenvolvimento econômico. Para tanto, se faz necessário estudar e avaliar o quanto se pode
aproveitar dos recursos disponíveis e das potencialidades endógenas de cada localidade,
destacando os fatores locais que têm influência direta sobre a dinâmica do desenvolvimento
econômico local (MORAES, 2005). É neste contexto que a estratégia de desenvolvimento
econômico pela base surge como opção que potencializa a capacidade organizativa dos
agentes locais, uma vez que articula e mobiliza os recursos internos de determinada
localidade, estimulando inovações que se revertem em sistemas produtivos locais,
diversificando e fortalecendo as instituições que instigam o avanço da economia local.
A estratégia de desenvolvimento econômico pela base deve planejar ações
que objetivam a implantação e a gestão de projetos que potencializam a economia local,
visando à geração de trabalho e de renda. Uma das alternativas mais eficientes acerca desta
ação é a criação e o fortalecimento de micro, pequenas e médias empresas, consideradas
111
eficazes instrumentos de estímulo ao desenvolvimento econômico local (a eficácia desta
alternativa já foi discutida nesta pesquisa (Garofoli (1994); Amaral Filho (2001); Martinelli e
Joyal (2004).
O que se percebe é uma forte correlação entre os fatores endógenos de um
determinado território com o avanço da economia local, uma vez que a principal preocupação
da teoria endogenista tem sido verificar o quanto as instituições e os fatores de produção,
como capital social, capital humano e capital imaterial (conhecimento, pesquisa e
desenvolvimento e informação) podem ser gerenciados a partir das reais condições locais, ou
seja de “baixo para cima” e não mais de “cima para baixo” como foi até a década de 1990
praticado pelos governos e estrategistas econômicos. O desenvolvimento endógeno é
considerado a base da estratégia de desenvolvimento econômico pela base ou de “baixo para
cima”, pois se baseia na execução de políticas que fortalecem e qualificam as estruturas
internas de um território, dinamizando a sociedade e o desenvolvimento econômico local
(AMARAL FILHO, 2001).
A política econômica local passa a ser uma abordagem “de baixo para cima”
a partir do momento em que os agentes locais passam a ser os principais atores na elaboração
de estratégias que almejam o efetivo avanço da economia local, a qual deve sustentar fatores
produtivos que criam um entorno inovador, onde se formam e se efetivam os processos que
transformam e desenvolvem a estrutura econômica local.
Mas, para que uma estratégia de desenvolvimento econômico pela base
atinja os resultados esperados (o desenvolvimento da economia local), é preciso que se
aproveitem, de forma eficaz, os recursos e as potencialidades internas do território. Para tanto,
é preciso que se canalizem os fatores locais que influenciam na dinâmica do desenvolvimento
econômico com a capacidade organizativa, técnica e gerencial das administrações locais, bem
como a capacidade de articulação e de mobilização dos recursos locais, pois são estes fatores
112
que formam a base social e econômica local, sustentando todo o processo de execução deste
tipo de estratégia de desenvolvimento econômico (MORAES, 2005).
Portanto, a lógica da estratégia de desenvolvimento econômico local está
centrada na capacidade de combinar recursos próprios com práticas inovadoras, direcionando
a poupança local em ações empreendedoras que se revertem na geração de trabalho e de
renda. Para tanto, seu êxito está em compreender os processos da vida social existentes na
localidade e sua integração com o ambiente de seu entorno, o que, para Martins (2002) é a
própria essência do desenvolvimento econômico local. Segundo este autor, é através da
postura adotada pela sociedade de uma determinada localidade que se torna possível ou não a
execução das estratégias de desenvolvimento econômico. Para tanto, o planejamento local,
passa a ser decisivo para o êxito de uma estratégia de desenvolvimento econômico pela base.
3.5.2.1 O Planejamento Local
Para Martinelli e Joyal (2004) o planejamento local só terá significado se
contribuir para a construção de projetos locais que mobilizem seus agentes sociais,
organizando decisões que se convertam em ações que transformem a realidade atual,
visualizando o alcance do futuro desejado. Ou seja, só se efetiva se gerar mudanças. Sendo
assim, o planejamento local e seu plano de desenvolvimento precisam ser, antes de tudo,
instrumentos de negociação entre parceiros potenciais, organizando e estruturando ações
conjuntas e de compromissos sociais coletivos, devendo basear-se em projetos de pequena
dimensão, apostando na diversificação produtiva e no envolvimento integral dos agentes
locais. Os autores chamam a atenção para a reduzida extensão territorial e populacional dos
113
municípios, afirmando serem estes facilitadores do processo, pois aproxima o governo do
cidadão e seus problemas, instigando maior comprometimento de ambos no processo de
execução dos projetos. É dessa inserção e interação que se constituem as linhas determinantes
do desenvolvimento de um município, servindo de base na orientação das estratégias a serem
traçadas, potencializando as articulações da dinâmica municipal.
Neste contexto, as estratégias de desenvolvimento econômico pela base
surgem como possibilidade real de retomada do crescimento econômico, porque advêm de
iniciativas locais, que impulsionam atividades de fomento produtivo e empresarial. Tendo por
diferencial de êxito dos demais tipos de estratégias, como a pelo “alto”, por exemplo, a
proximidade dos problemas, das necessidades, dos recursos e dos atores sociais locais, cuja
sinergia permite a formulação de políticas realistas e condizentes com as necessidades locais
(MARTINELLI; JOYAL, 2004).
O processo de um planejamento representa uma contribuição fundamental
para a capacitação e o desenvolvimento sóciopolítico e cultural de uma sociedade local. Na
medida em que promove a interação e a negociação de saberes e de interesses, estimula a
aprendizagem social, ampliando a capacidade dessa sociedade a adaptar-se e a responder aos
desafios e às mudanças globais.
A aprendizagem acaba sendo um resultado natural do processo de
planejamento, gerando uma “postura estratégica”, que é o que a capacita para a reação e a
adaptação às mudanças. A origem dos fatores endógenos de uma localidade advém da
consciência de que seus agentes sócio-econômicos é que formam a “mola propulsora” que
desencadeia o desenvolvimento econômico. Portanto, compete aos planejadores locais a tarefa
de se inserir nesta sociedade, convidando-a para participar deste processo de planejamento,
fazendo com que percebam, realmente, seu papel de protagonistas do desenvolvimento
econômico local.
114
Para Amaral Filho (2001) o processo de um planejamento local pode partir
de duas situações. A primeira é aquela que tem por ponto de partida algum tipo de vocação
local, como a existência de atividades típicas ou históricas; e a segunda, de alguma atividade
econômica criada pela vontade política das lideranças locais.
Não existe uma política pronta para instigar o desenvolvimento econômico
local. Algumas vezes um “trivial acidente histórico” (KRUGMAN, 1991) pode alavancar
processos que desencadeiam o desenvolvimento econômico de uma localidade. Esse “trivial
acidente histórico” preconizado por Krugman (1991) diz respeito a uma situação particular
que ocorreu em 1895 na cidade de Dalton, Geórgia (EUA), e que na atualidade vem sendo
utilizado como referência para a explicação de emergência econômica de algumas
localidades.
Em 1895, uma jovem garota chamada Catherine Evans, que vivia na pequena cidade
de Dalton, na Geórgia, fez uma colcha como presente de casamento. Era uma colcha
fora de uso na época, que tinha um aspecto entulhado. Esse trabalho (de algodão
espesso e macio) tinha sido comum no século XIX, mas tinha caído em desuso nessa
época. Como conseqüência direta desse presente de casamento, Dalton emergiu,
depois da Segunda Guerra Mundial, como o proeminente centro de fabricação de
tapetes dos Estados Unidos. Seis das vinte mais importantes fábricas de tapetes nos
EUA estão localizadas em Dalton; o restante na vizinhança. A indústria de tapetes
de Dalton e a vizinhança empregam 90 mil trabalhadores (AMARAL FILHO, 2001,
p. 279).
O interessante no relato acima é que há um número significativo de
experiências de sucesso de desenvolvimento econômico local, relatadas por pesquisadores
brasileiros tais como, Amaral Filho (2001), Lastres; Cassiolato e Maciel (2003) e Martinelli e
Joyal (2004), que também partiram de situações semelhantes ao “trivial acidente histórico” de
Krugman (1991), demonstrando o quanto o contexto histórico-social de uma localidade é
importante para o início do planejamento de estratégias de desenvolvimento econômico pela
base.
Isto evidencia o quão necessário é considerar o contexto histórico,
econômico e social de uma localidade no momento de se planejar seu desenvolvimento
115
econômico, direcionando sua própria identidade para iniciativas inovadoras de
empreendedorismo local, cuja mobilização social transforma os próprios agentes locais em
sujeitos do processo de desenvolvimento econômico, potencializando, desta forma, suas
possibilidades de êxito.
4 HIPÓTESES DA PESQUISA E BASE METODOLÓGICA
Através do referencial teórico apresentado no capítulo anterior, constatou-se
que foi a partir da década de 1980 que se intensificou o debate acerca da efetividade dos
fatores locais enquanto propulsores do desenvolvimento econômico. Com esse debate,
passou-se a questionar as abordagens teóricas que consideravam o Estado Nacional e as
grandes empresas como agentes únicos do desenvolvimento econômico de uma região. Em
termos de Brasil, a crise fiscal do Estado e os processos de descentralização industrial,
desencadeados desde o início da década de 1990, impulsionaram discussões que passaram a
valorizar políticas públicas que fossem formuladas e implantadas a partir de governos locais,
tendo por objetivo fim um desenvolvimento rural e urbano mais equilibrado e sustentável em
termos econômico-sociais para o país (MORAES, 2003).
Assim, notou-se que a urgência de um novo modelo de desenvolvimento
econômico surgiu a partir da constatação de que o crescimento das grandes empresas e o
dinamismo econômico não se irradiavam uniformemente para todas as regiões de um país e
nem permitiam uma distribuição de renda mais eqüitativa entre os diversos grupos sociais que
compunham estas regiões. Para Moraes (2003) são várias as evidências empíricas que
mostram que os efeitos de difusão do atual modelo de crescimento econômico são claramente
desiguais e insuficientes para eliminar as situações de pobreza em que ainda vive uma grande
parcela da população mundial. Sendo assim, a diversidade e as potencialidades locais
emergem enquanto elementos estratégicos para o surgimento e à manutenção da
competitividade local. A partir dessa constatação, e dos elementos apresentados no problema
de pesquisa e no quadro teórico, formularam-se as hipóteses dessa pesquisa.
117
No problema da pesquisa e sua importância, apresentados no Capítulo 2,
notou-se, pela Figura 1, o perfil de disparidades econômicas existentes na região Oeste do
Paraná. No entanto, na mesma, notou-se a emergência do município de Terra Roxa (estudo de
caso desta pesquisa).
Quando foi afirmado, no Capítulo 2, que a alteração na estrutura econômica
de Terra Roxa emergiu a partir do ano de 2000 (Figura 1), encontrou-se nas considerações de
Santos (1996) a ênfase dada pelo autor da necessidade que as regiões ou localidades têm de se
transformarem continuamente em prol de sua sobrevivência econômica. Para Santos (1996) os
lugares precisam buscar em seu interior ou entorno especializações produtivas que possam
diferenciá-los e torná-los competitivos no atual cenário global. Segundo o autor, as
possibilidades de retomada do crescimento econômico para os pequenos municípios está na
especialização de sua base produtiva, cujo êxito será maior se conciliado com as condições
naturais de sua realidade técnica e de suas vantagens de ordem social. Na medida em que as
potencialidades dos lugares se evidenciam, suas escolhas para o exercício dessa ou daquela
atividade se tornam mais precisas, o que, segundo o autor, irá desencadear o sucesso dos
empreendimentos lá existentes. “É desse modo que os lugares se tornam competitivos” e
conseguem sobreviver no mercado (SANTOS, 1996, p.199).
A hipótese inicial foi que a passagem da estrutura urbano-rural para urbano-
industrial (Figura 1), ocorrida em Terra Roxa, entre 1991-2000, foi decorrente de um
fenômeno local, explicada pela estratégia de desenvolvimento econômico pela base. Neste
caso, Terra Roxa emergiu através de um “trivial acidente histórico”
18
, cujo “embrião”
industrial multiplicou-se em função da capacidade e da vontade local de “avançar”. Foi da
sinergia gerada entre os atores locais que o “embrião” industrial gerado entre o período de
18
Termo empregado por Krugman (1991) para explicar a origem do desenvolvimento econômico de uma
localidade que até então não tinha uma vocação natural para a atividade emergente. VOCAÇÃO: termo ligado
a dotação de recursos naturais e a divisão social do trabalho de uma localidade (LIMA, 2005).
118
1995 a 2000, se desenvolveu e estimulou a seqüência de eventos preconizada por Hirschman
(1974, 1996) e que hoje se reflete na expansão econômica de Terra Roxa.
A segunda hipótese é de que a reestruturação produtiva de Terra Roxa
adveio de uma particularidade local, cuja explicação teórica se enquadra na teoria do
desenvolvimento endógeno de Amaral Filho (2001) e Martinelli e Joyal (2004). Essa hipótese
foi levantada em função do tipo de diversificação produtiva que se implantou em Terra Roxa.
A estrutura industrial local é adversa ao perfil econômico dos demais municípios que
compõem seu entorno. Assim, o sistema local de produção foi capaz de desenvolver-se sem
depender das atividades dos municípios localizados no Oeste Paranaense.
Desta forma pretendeu-se, através da base metodológica exposta a seguir,
obter respostas às questões levantadas no problema e nas hipóteses desta pesquisa, através das
quais se acredita poder viabilizar seu objetivo principal.
4.1 Base Metodológica
A base metodológica utilizada para a viabilização da pesquisa levou em
conta que os problemas locais, de um modo geral, apresentam características e especificidades
que requerem a construção de um diagnóstico para sua compreensão e posterior explicação da
situação atual. Para tanto, se fez necessário resgatar e conhecer a história do surgimento da
base industrial de Terra Roxa. Estas informações foram obtidas com os próprios empresários
da base industrial do município.
Para identificar e explicar a origem da base industrial de Terra Roxa, e seu
impacto na emergência econômica local foram utilizados os métodos de pesquisa descritiva e
explicativa. Descritiva para descrever as características de determinado fenômeno e
estabelecer relações entre as variáveis deste fenômeno, neste caso, o quanto o surgimento da
119
base industrial impactou na emergência econômica de Terra Roxa. Explicativa porque a
pesquisa interessou-se na identificação das causas do surgimento deste fenômeno. Desta
forma, além de identificar as causas do surgimento da base industrial de Terra Roxa, se quis
saber o quanto esse surgimento interferiu na recente expansão econômica do município (GIL,
1999). Outra finalidade da pesquisa explicativa é a utilização do referencial teórico construído
como base para a explicação do fenômeno pesquisado (COOPER; SCHINDLER, 2000).
Assim, a pesquisa foi de natureza qualitativa, uma vez que apresentou
características típicas deste tipo de pesquisa. A pesquisa qualitativa é definida por Taylor e
Bogdan (1984) como humanística e indutiva, pois focaliza as pessoas, cenários e grupos como
um todo, não os reduzindo a variáveis, procurando compreender as pessoas a partir de seu
próprio quadro de referência. Ou seja, este tipo de pesquisa leva em consideração o contexto
social em que ocorre o fenômeno, possibilitando sua descrição, ajudando a explicá-lo
(BÊRNI, 2002).
Segundo Merrian (1998) quando o foco de uma pesquisa está sobre os
participantes individuais, a pesquisa qualitativa possibilita uma abordagem mais consistente,
propiciando ao pesquisador conhecer as perspectivas individuais do fenômeno que se esta
pesquisando. A pesquisa qualitativa também possibilita resgatar o processo histórico do
fenômeno em estudo, através do qual se assinalam suas causas e conseqüências, contradições
e relações, podendo, a partir destes elementos, definir a ação mais adequada ao processo de
transformação da realidade pesquisada. Quer dizer, não se buscou captar, apenas, a aparência
do fenômeno, mas sim sua essência, buscando explicar sua origem, evolução, relações e
forças que foram responsáveis pela sua evolução e transformação ao longo do tempo
(TRIVIÑOS, 1990).
Desta forma, para que se pudesse compreender e analisar o fenômeno de
emergência econômica de Terra Roxa em sua totalidade, optou-se pelo estudo de caso, tido
120
por Triviños (1990) como um dos principais tipos de pesquisa qualitativa. Neste caso, a
unidade que foi analisada foi constituída pelo grupo de empresários que formaram a base
industrial de Terra Roxa. Para Cassel e Symon (1994) o estudo de caso consiste em uma
investigação detalhada, na qual a pesquisadora coleta dados durante certo período, obtendo as
informações que lhe permitirão a análise do contexto em que o fenômeno ocorreu, bem como
a compreensão dos processos nele envolvidos.
Outra característica que apontou o estudo de caso como a metodologia mais
adequada para a pesquisa é a ausência de controle sobre o fenômeno a ser pesquisado, uma
vez que o mesmo já aconteceu, sendo de competência do pesquisador apenas investigá-lo e
direcionar ações em prol do objetivo da pesquisa (YIN, 2001). Desta forma, para que se
pudesse viabilizar o objetivo desta pesquisa e as respostas às hipóteses, foram identificados e
analisados os principais elementos da história recente de Terra Roxa e as causas de sua
emergência. Para tanto, foi necessário resgatar a história econômica de alguns indicadores do
município, bem como do surgimento das indústrias, para que se possa buscar explicações para
sua atual estrutura econômica, bem como consubstanciar a definição de uma estratégia de
desenvolvimento econômico local.
Sendo assim, foram obtidos os dados referentes à história econômica de
Terra Roxa através de fontes secundárias, tendo por período de investigação e de análise
1990-2005. Dentre os dados que denotaram o perfil econômico do município está o PIB
setorial, o PIB per capita, o índice de emprego (por setores de atividades) e a população
19
. A
definição do período 1990-2005 deveu-se ao fato de que o emprego industrial de Terra Roxa
19
Esses dados foram obtidos junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2005), no Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005a), no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e
Social (IPARDES, 2005) e no Ministério do Trabalho (2005).
121
teve forte evolução somente a partir de 1994 (Ministério do Trabalho – RAIS
20
/CAGED).
Assim, o período proposto foi suficiente para o teste das hipóteses levantadas.
Foi através do resgate histórico do surgimento das indústrias que se
obtiveram as informações e os dados utilizados na explicação da estratégia de
desenvolvimento econômico. Esta história foi extraída de fontes primárias (empresários das
indústrias e prefeitos
21
que administraram o município durante o período de análise).
A técnica de coleta de dados para a obtenção destas fontes primárias, foi
através de entrevistas semi-estruturadas, constituídas por questões gerais. Segundo Cortes
(2002) e Richardson et al. (1985) este tipo de técnica possibilita respostas abertas, nas quais
os entrevistados puderam discorrer livremente sobre o assunto em pauta, descrevendo a
situação que vivenciaram através de uma conversação guiada por um roteiro previamente
elaborado pela pesquisadora (o roteiro utilizado está anexado no final desta pesquisa). A
coleta de informações teve o objetivo de reconstruir a história para explicar a situação
constatada no presente, o que favoreceu não só a descrição do fenômeno pesquisado, mas
também a explicação e compreensão de sua totalidade (TRIVIÑOS, 1987).
A entrevista semi-estruturada é aquela que parte de certos questionamentos
básicos, apoiados em teorias (transcritas no quadro teórico desta pesquisa), que interessam ao
tema da pesquisa. Ela oferece um amplo campo de interrogativas, surgidas à medida que se
recebem as respostas dos informantes (TRIVIÑOS, 1987). Desta forma, os entrevistados
seguem espontaneamente a linha de seus pensamentos e de suas experiências, dentro do foco
20
Mesmo ciente das fragilidades e deficiências da base de dados da RAIS – Relação Anual de Informações
Sociais (cobre apenas empregos formais e baseia-se em informações classificadas pelas próprias empresas,
sem verificação de veracidade das informações), essa ainda é uma fonte de dados que possibilita identificar
quantitativamente, com base em dados de emprego por micro regiões e municípios, concentrações ou
especializações locais em indústrias, pois sua principal vantagem é a elevada desagregação setorial e
geográfica dos dados. Maiores detalhes acerca das desvantagens da utilização do banco de dados da RAIS ver
Suzigan et al. (2001).
21
Não foi possível a realização das entrevistas com os prefeitos das gestões de 1997/2000 e 2001/2004, pois os
mesmos não foram encontrados para as entrevistas.
122
principal colocado pela pesquisadora, e começam a participar na elaboração do conteúdo da
pesquisa.
Para Selltiz et al. (1987) a entrevista semi-estruturada é apropriada ao
desenvolvimento de pesquisas nas quais experiências específicas trazem mudanças àqueles
que foram expostos a ela. Os sujeitos pesquisados, aqueles que vivenciaram uma determinada
situação, neste caso os empresários do setor industrial de Terra Roxa, tiveram melhores
condições para responder às indagações com essa técnica de coleta de dados.
Isto posto, optou-se pela amostra intencional, neste caso os empresários da
base industrial de Terra Roxa. A amostra intencional consiste em identificar e selecionar uma
amostra que possibilite a obtenção de informações necessárias ao desenvolvimento da
pesquisa. Desta forma, os empresários que participaram da entrevista foram selecionados em
função dos conhecimentos e das informações de que dispunham acerca do surgimento da base
industrial do município (GIL, 1999).
A coleta dos dados foi realizada durante o mês de novembro de 2005, tendo
por objetivo inicial entrevistar todos os empresários da base industrial local.
Foram entrevistados 18 empresários
22
, para os quais se atribuíram
aleatoriamente um código (1, 2, 3, .... 18), como forma de preservar a identidade dos
pesquisados e de se utilizar a reprodução de partes das entrevistas, quando necessárias.
Também participaram do processo de entrevistas: a) senhora Celma Rossato, pioneira no
trabalho de bordar roupas para bebês (tida como a precursora do fenômeno); b) o atual
Prefeito Municipal de Terra Roxa; c) o Coordenador do “Arranjo Produtivo Local de Moda
Bebê de Terra Roxa”; d) o consultor do SEBRAE/PR que acompanha as atividades do
“Arranjo Produtivo Local de Moda Bebê de Terra Roxa”; e) o mais antigo contador da cidade.
22
As indústrias de confecções de roupas infantis de Terra Roxa formam a única base industrial do município.
Com a pesquisa realizada localizaram-se 36 indústrias em funcionamento. À medida que as entrevistas eram
executadas, percebia-se claramente a convergência de respostas em pontos comuns. Este fato indicou que o
número de entrevistas feitas, 18, era representativo.
123
As informações obtidas através das entrevistas e das fontes secundárias
foram analisadas e sistematizadas de forma que pudessem constituir-se em elementos
explicativos da emergência econômica local, e que possibilitassem visualizar as etapas que
precederam esta emergência. Assim, a análise das respostas obtidas através das entrevistas
partiu: a) da transcrição e revisão das respostas obtidas; b) da leitura e da sistematização das
respostas; c) da construção do texto da análise feita.
Como etapa final, tanto as informações obtidas através das fontes
secundárias quanto às de fonte primárias foram analisadas, interpretadas e sistematizadas de
forma que se constituíram nos elementos básicos e explicadores do atual fenômeno de
crescimento econômico de Terra Roxa. Elas possibilitaram os indicativos necessários à
definição de uma estratégia de desenvolvimento econômico local que pudesse consolidar a
atual diversificação produtiva do Município, possibilitando assim, a conclusão da pesquisa.
5 A ORIGEM DA BASE INDUSTRAIL DE TERRA ROXA: ANÁLISES E
APONTAMENTOS
5.1 Conhecendo seu passado para compreender seu presente
As transformações ocorridas na estrutura produtiva do Estado do Paraná, a
partir da década de 1970, citadas no item 3.2 desta pesquisa, conduziram a uma configuração
espacial caracterizada pelo crescimento econômico desigual e concentrado. Esta concentração
ocorreu devido às políticas públicas setoriais, dos incentivos governamentais, implantados
pelos governos federal e estadual, bem como por algumas vantagens locacionais e aptidões
naturais pertinentes às regiões (TRINTIN, 2005; GUALDA; ROCHA; FUKUI, 2005;
GUALDA; TAVARES, 2004).
Mesmo estando a região Oeste do Paraná inserida neste processo de
crescimento econômico, ao longo das últimas três décadas, nela também ocorreram
disparidades de desenvolvimento econômico, como pode ser visualizado no Gráfico 7.
125
Gráfico 7 – Produto Interno Bruto (PIB) da região Oeste do Paraná e de municípios
selecionados
23
da região – 1970/2002
0
2.000.000
4.000.000
6.000.000
8.000.000
10.000.000
12.000.000
1970 1975 1980 1985 1996 1999 2000 2001 2002
Ano
R$ de 2000 (mil)
Cascavel Foz do Iguaçu Guaíra
Marechal Cândido Rondon Palotina Terra Roxa
Toledo Região Oeste
Fonte: IPEA (2005)
Pelo Gráfico 7, a partir de 1970, as cidades de Foz do Iguaçu, Cascavel e
Toledo começaram a destacar-se em termos de crescimento econômico regional. No ano de
2002, a região Oeste detinha um PIB de R$ 9.904 milhões. Deste montante, os municípios de
23
Entre os municípios que compuseram este gráfico foram selecionados Guaíra e Palotina por ser os municípios
que fazem divisas com Terra Roxa. Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo por deter o maior PIB da região Oeste
do Paraná.
126
Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo
24
detinham o equivalente a 56,64% do total. Essa
concentração reforça o efeito polarizador que estas cidades desencadearam em função de sua
base produtiva, posição geográfica e seus recursos naturais. Foz do Iguaçu, em particular,
polariza um dos maiores fluxos de transações comerciais urbanas internacionais do país,
destacando-se pelo acúmulo das funções comerciais e de serviços, as quais são intensificadas
pelo comércio fronteiriço (Brasil, Paraguai e Argentina) e por dois dos mais importantes pólos
turísticos do Brasil, as Cataratas do Iguaçu e a Hidrelétrica de Itaipu (considerada a maior do
mundo no setor). Este cenário destaca o município de Foz do Iguaçu, em termos de PIB
regional, das outras duas cidades da região. Foz do Iguaçu tem no turismo sua principal fonte
de renda, pois a cidade atrai, anualmente, cerca de quatro milhões de turistas (IPARDES,
2003).
Isto posto, parece importante resgatar, de forma breve e concisa, a história
econômica da região, para que se possa compreender os mecanismos de distanciamento
econômico intra-regional. Entre as cidades com menor crescimento econômico, está Terra
Roxa, objeto desta pesquisa.
O processo de colonização da região Oeste do Paraná aconteceu a partir de
1950, e ocorreu por duas frentes migratórias: uma, promovida pelas empresas colonizadoras
do sul do país, que trouxeram migrantes dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, e outra, pela produção do café que trouxe migrantes da região Norte do Estado. O
município de Terra Roxa adveio da frente migratória da região Norte do Paraná (COLODEL,
2003).
A partir de 1960, a região teve sua grande “explosão” populacional e
conseqüente crescimento econômico. Entre 1960 e 1970, o Oeste paranaense recebeu 374.082
pessoas, o que correspondeu a uma taxa decenal de migração de 0,82% a.a. Neste período,
24
No ano de 2002, Foz do Iguaçu obteve um PIB de R$ 3.167 milhões, o que correspondeu a 31,98% do PIB da
região Oeste do Paraná. Cascavel alcançou um PIB de R$ 1.424 milhões, 14,38% do PIB regional e Toledo,
R$ 1.018 milhões, representando 10,28% do PIB da região Oeste do Estado (IPEA, 2005).
127
apenas o Distrito Federal, considerado área de fortíssima atração populacional, recebeu mais
migrantes que o Oeste do Paraná (RIPPEL, 2004).
Contudo, a partir da década de 1970 o cenário econômico da região sofre
alterações. A região ingressa na segunda fase de produção agrícola adotada pelo país, a
“revolução verde”. A modernização da agricultura brasileira, que se alastrou
fundamentalmente pelas regiões Sul e Sudeste, encontrou condições naturais e sócio-
econômicas favoráveis para ser implantada regionalmente. Desta forma, inicia-se o plantio de
lavouras temporárias, como as culturas de soja, milho e trigo, as quais se tornaram nas
principais commodities cultivadas, sendo inclusive responsáveis pelo crescimento da
produção agrícola regional. A produção agropecuária não resultava mais da policultura de
subsistência e do extrativismo da erva-mate, mas da especialização na produção destas
commodities, as quais destinavam-se ao mercado interno e exportador (PIFFER, 1997). A
Tabela 3 nos permite visualizar o impacto que a inserção da soja e do trigo causou no volume
de área plantada na região Oeste, a partir de 1970.
Tabela 3 - Evolução qüinqüenal da produção da soja e do trigo no Oeste do Paraná –
1970/2000
SOJA TRIGO
ANO Área (ha) Variação
%
Produção
(t)
Variação
%
Área (ha) Variação
%
Produção
(t)
Variação
%
1970 195.000 - 228.30 - 92.100 - 81.363 -
1975 1.091.800 459,9 2.669.523 1069,66 324.741 252,6 180.529 121,88
1980 1.304.561 19,49 2.545.900 -4,74 1.013.446 212,08 1.028.130 469,51
1985 740.720 -43,22 1.429.807 -43,77 476.640 -52,97 1.041.354 1,19
1990 685.370 -7,47 1.474.051 3,09 492.928 3,42 277.394 -73,34
1995 693.112 1,13 1.929.996 30,93 305.420 -38,04 657.538 137,04
2000 759.612 9,59 1.947.650 0,91 211.591 -30,72 73.075 -88,89
Fonte: IPARDES (2005)
Através da Tabela 3, constata-se o quão significativo foi o processo de
inserção da soja no volume de área plantada na região Oeste do Paraná. Do ano de 1970 ao de
1975 ocorreu um aumento de 459,9% na área plantada, acarretando num aumento de
128
produção de 1069,66%. Para a cultura do trigo, verifica-se um crescimento menor, se
comparado com a soja. Mesmo assim, o volume de área plantada em 1980 atinge um índice
de 212,08% superior em relação ao início da década de 1970, cuja produção alcança uma
variação de 469,51%.
Estes índices refletem o quanto a “revolução verde” e as estratégias
agrícolas que visavam à modernização da agricultura brasileira, contidas no I PND (década de
1970), tiveram êxito no Oeste do Paraná. Contudo, com a expansão da área plantada da soja e
do trigo, a estrutura fundiária da região tornou-se alvo do processo de reorganização do
espaço rural e muitos estabelecimentos desapareceram da contagem dos Censos
Agropecuários. A retração populacional do campo, resultante da queda da população rural,
ocorrida nas microrregiões Norte-Central e Oeste paranaense, teve suas causas nas
transformações que constituíram a modernização da agropecuária. Essa redução ocorreu de
forma mais nítida nessas regiões, onde houve um grande adensamento populacional urbano
decorrente das transformações nas áreas rurais (PIFFER, 1997; RIPPEL, 2004).
Desta forma, o movimento de concentração fundiária foi um dos principais
responsáveis pelo forte processo de êxodo rural da região. Entre 1970 e 1980 as migrações na
região Oeste do Paraná deixaram um saldo negativo de 117.047 pessoas. Na década seguinte
mais 62.295 pessoas deixaram a região. Boa parte destas 179.342 pessoas que deixaram as
regiões rurais (1970 a 1990) desloca-se para o meio urbano. Em 1970 a população rural do
Oeste do Paraná correspondia a 80% da população total, já em 1980, a população rural e
urbana igualava-se em 50%, iniciando a década de 1990 com uma população urbana de
aproximadamente 71% (STADUTO; WILLERS; AZEVEDO, 2005). O Gráfico 8 ilustra este
cenário.
129
Gráfico 8 - Demonstração de saldos da população rural e urbana entre os anos de 1970 a 2000
no Oeste do Paraná
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
1970 1980 1990 1996 2000
Ano
%
Urbana
Rural
Fonte: IPARDES (2003)
O Gráfico 8 demonstra a modificação nas relações rurais-urbanas. Os
processos migratórios, além de provocarem grandes transformações na distribuição geográfica
da população, causaram intensos impactos na estrutura urbana e nas condições de gestão das
principais cidades da região Oeste (Foz do Iguaçu, Cascavel e Toledo), as quais passaram a
administrar um abrupto crescimento de demandas, instigando o crescimento das economias
locais (Gráfico 7). Foi neste cenário econômico-social que se encontrava imerso o município
de Terra Roxa. O processo de evasão populacional do município foi particularmente
dramático. Entre 1970 a 1980, considerando-se a migração interestadual, intra-estadual e
intra-regional, a população decresce de 37.452 habitantes para 25.535, e entre 1980 a 1990
para 19.820 habitantes. No ano de 2000 o seu saldo populacional foi de apenas 16.293
habitantes no município. Através do Gráfico 9 pode-se visualizar quão significativo foi o
êxodo populacional ocorrido em Terra Roxa nas últimas décadas.
130
Gráfico 9 - Evolução da população de Terra Roxa de 1970/2000
0
5.000
10 .0 0 0
15 .0 0 0
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
1970 1980 1991 1996 2000
ano
Total
Urbana
Rural
Fonte: IBGE (2005a)
Segundo Staduto; Willers e Azevedo (2005), o expressivo decréscimo
populacional do município de Terra Roxa é explicado pela transformação no modelo de
produção agrícola que afetou todo Oeste do Paraná. A situação foi agravada pela perda da
principal commoditie local, a produção de café, dizimado do município com as fortes geadas
do final da década de 1980. Segundo o Ipardes (1995) do ano de 1974 a 1989, Terra Roxa
produziu cerca 90.408 toneladas de café, o que gerou um valor de produção de R$ 4.680 mil.
A partir do ano de 1990 a produção cai para 11.240 toneladas, gerando um valor de produção
de R$ 28.554,00. Ou seja, do ápice da produção de café, meados da década de 1970 a 1980,
ao início da década de 2000 houve um decréscimo de 88% da produção da commoditie no
município. Este fato provocou a retração na renda local e o aumento do desemprego, afetando
toda a estrutura econômica de Terra Roxa.
Assim, em função da perda de sua principal fonte de renda e de emprego,
Terra Roxa não escapou da tendência geral dos movimentos demográficos que ocorreram
regionalmente. As transformações sócio-econômicas diminuíram as opções de trabalho e a
manutenção das pequenas propriedades.
No entanto, a situação de Terra Roxa começa a mudar nos anos 1990. Nessa
época houve o surgimento das primeiras indústrias de confecções de roupas infantis, as quais,
131
a partir do ano de 1995, registraram uma rápida expansão e absorção de mão-de-obra local,
conforme ilustrado na primeira parte desta pesquisa. De 1995 a 2003 quarenta e seis indústrias
foram abertas, segundo dados da Secretaria da Fazenda Municipal de Terra Roxa. Destas e 40
ainda estão em funcionamento
25
. Essas indústrias geraram, no ano de 2003, 1.900 postos de
trabalho, os quais, somados aos trabalhadores terceirizados, ultrapassaram o número de 2,5
mil, representando 84% do emprego formal industrial do município. Quanto ao porte
26
das
indústrias de confecções de roupas infantis, na sua grande maioria, elas são micro e pequenas
(93% tem até 50 funcionários), sendo as demais de médio porte (7%) (STADUTO;
WILLERS, AZEVEDO, 2005).
Com apenas uma década de produção, em 2004 as indústrias produziram
mais de 200 mil peças/mês, as quais foram comercializadas em praticamente todo o território
nacional. Seus produtos são considerados de qualidade, fato este que atribuiu ao município de
Terra Roxa o título de “Capital Nacional de Moda Bebê” a partir do ano de 2003 (op. cit.).
Como reflexo deste resultado, as indústrias faturaram, em conjunto, no ano de 2003, mais de
R$ 18 milhões, o que representou um faturamento mensal médio de R$ 1,5 milhões. Este
faturamento correspondeu junto ao setor de serviços por mais de 30% de participação do PIB
do município. Ressalta-se que este rendimento é considerado extremamente promissor por
parte dos analistas do SEBRAE/PR, se considerado o curto período de existência destas
indústrias. Diante desses dados, as indústrias de confecções de roupas infantis estão
alavancando a economia de Terra Roxa, tanto que a renda per capita média do município
cresceu 75,19%, passando de R$ 116,83, em 1991, para R$ 204,68 em 2000. Este fato
contribuiu para a diminuição da pobreza local em 51,04%; de 56,6%, em 1991, para 27,7%
em 2000 (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO
25
Das 40 empresas localizadas, 4 delas apresentavam o mesmo nome mas com o Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) diferentes. Desta forma pode-se dizer que 36 são as empresas em funcionamento, conforme
dados da pesquisa realizada em novembro de 2005.
26
O porte das indústrias obedeceu a divisão do IBGE, que tem por base o número de empregados, sendo: a)
micro: 0 a 19; b) pequena: 20 a 99; c) média: de 100 a 499.
132
(PNUD)/ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2005). Esses índices
também são confirmados pela redução do Índice de Gini
27
do mesmo período, que decresceu
de 0,531 para 0,512 (IPEA, 2005).
Outro indicador do crescimento econômico local é o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). O IDH-M de Terra Roxa cresceu 11,86%
entre 1991 e 2000, passando de 0,683 para 0,764, respectivamente. Segundo o PNUD/Atlas
do Desenvolvimento Humano no Brasil (2005) o fator que mais contribuiu para este
crescimento foi a Renda, 39,0%, fazendo com que em 2000 Terra Roxa atingisse o IDH-M de
0,764, considerado de médio desenvolvimento humano pelo PNUD (IDH entre 0,5 e 0,8). Os
postos de trabalho gerados pelas indústrias de confecções de roupas infantis representaram,
em 2003, cerca de 26% da massa salarial total de Terra Roxa (IPARDES, 2005). Esta é uma
evidência contundente que comprova que as indústrias de confecções de roupas infantis estão,
efetivamente, interferindo na estrutura produtiva local, conforme fora mencionado na primeira
parte desta pesquisa.
Através do Gráfico 10 pode-se visualizar o PIB per capita do município de
Terra Roxa.
27
O Índice de Gini mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda
domiciliar per capita. Seu valor varia de zero, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem
o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade
e a renda de todos os outros indivíduos é nula) (IPEA, 2005).
133
Gráfico 10 – Produto Interno Bruto (PIB) per capita do município de Terra Roxa – 1970/2003
PIB per capita
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
1970 1980 1996 2000 2001 2002 2003
PIB per capita
Fonte: IPEA (2005)
O que se constata com o Gráfico 10 é que, apesar das mudanças ocorridas
no setor agrícola do município, o PIB per capita de Terra Roxa apresenta, desde a década de
1970, evoluções crescentes e ininterruptas. Do ano de 1970 a 1980, o PIB per capita cresceu
186,57%; de 1980 a 1996, 6,24%; de 1996 a 2000, 56,02%; de 2000 a 2001, 11,94%; de 2001
a 2002, 32,70%; e de 2002 a 2003, 53,94%. Considerando-se o período de 1970 a 2003, o PIB
per capita de Terra Roxa cresceu 986,16%. A explicação para essa evolução está no processo
de migração da população rural para a urbana, a qual, após o processo de êxodo, configurou-
se numa população menor, urbanizada (Gráfico 9). A redução da população total, o bom
desempenho da agropecuária (nas décadas de 1970 a meados de 1980 capitaneados pelo café,
e nos anos subseqüentes pela soja e trigo) a valorização do dólar, a estabilidade da economia
brasileira (1994) e a expansão do segmento têxtil e de vestuário na indústria local (a partir de
2000), foram os elementos que impactaram positivamente no crescimento do PIB per capita
de Terra Roxa. Segundo Besen (2005) somente o setor têxtil e de vestuário representou, em
2003, 44% do Valor Adicionado da indústria do município.
134
Em termos de PIB total (Gráfico 11), a partir de 2000 constata-se um
significativo crescimento na produção interna de Terra Roxa. Este crescimento foi
capitaneado pelo setor agropecuário, principalmente pelas safras recordes da soja e a sua
valorização comercial nos anos de 2002 e 2003. Neste período o preço médio de
comercialização da saca de soja chegou a alcançar um preço de U$ 17,00 a saca (na época
U$1,00 = R$3,00 o que correspondia a R$ 51,00 a saca), considerado excepcional para o
setor, uma vez que seu preço, historicamente, tem girado em torno de U$ 8,00. Constata-se
também o crescimento do setor terciário. O crescimento desse setor, segundo informações
obtidas junto à Prefeitura Municipal, está diretamente atrelado às indústrias de confecções de
roupas infantis, cuja expansão atraiu novos investimentos e ampliou os existentes. Quanto ao
setor industrial, percebe-se um leve, mas constante crescimento a partir de 1999. Esse fato
deve-se ao significativo número de indústrias informais que existiam no município, situação
alterada a partir de 2001, segundo dados da Prefeitura Municipal.
Gráfico 11 – Valor Adicionado e Produto Interno Bruto (PIB) do município de Terra Roxa,
em valores correntes (R$ 1.000,00) – 1997/2003
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
R$ 1.000,00
Agropecuária Indústria Serviços PIB Total
Fonte: IBGE (2005b)
135
Assim, os índices econômico-sociais, apresentados nos parágrafos acima,
confirmam que a emergência econômica que vem ocorrendo em Terra Roxa nos últimos 10
anos está relacionada ao surgimento das indústrias de confecções de roupas infantis. A
expansão dessas indústrias de confecções de roupas infantis foi o fator que interferiu e esta
provocando as mudanças na estrutura urbana, econômica e social do município, instigando
seu crescimento econômico recente. Por isso, conhecer o processo histórico de evolução
destas indústrias é imprescindível para o planejamento eficaz de uma estratégia de
desenvolvimento econômico que leve ao efetivo avanço da economia de Terra Roxa.
5.2 As Indústrias de Confecções de Roupas Infantis
Das 36 indústrias de confecções de roupas infantis em funcionamento em
Terra Roxa no segundo semestre de 2005, 18 foram os empresários entrevistados, conforme
explicitado na base metodológica (item 4.1). Através das entrevistas foram identificados os
elementos históricos que contribuíram para a formação da atual base industrial do município e
sua emergência econômica. Como forma de melhor dispor os dados da pesquisa, subdividiu-
se este tópico em subitens, os quais relatam: a) o perfil dos empresários e a origem da base
industrial de confecções de roupas infantis de Terra Roxa; b) o porquê investir em indústrias
de confecções de roupas infantis e c) a organização local e o desenvolvimento econômico-
social de Terra Roxa. Assim podem-se reunir os elementos históricos que construíram a base
industrial de Terra Roxa e o quanto esta base estimulou a emergência econômica do
município.
136
5.2.1 O Perfil dos Empresários e a Origem da Base Industrial de Confecções de Roupas
Infantis
Dos 18 empresários entrevistados, 49% nasceram em Terra Roxa e 36% já
estão no município entre 20 e 30 anos. Cinco por cento mudaram-se a partir de 1995 e 10%
fixaram residência há menos de cinco anos, atraídos pelo pólo de confecções de roupas
infantis. Assim, 85% dos empresários, por residirem em Terra Roxa há mais de três décadas,
acompanharam o processo de declínio e de crescimento econômico do município, ou seja,
vivenciaram o declínio dos cafezais, a modernização da agricultura e a formação da base
industrial de confecções de roupas infantis. O fato de residirem há tanto tempo em Terra
Roxa, e de não terem se evadido do local, indica que esses empresários conseguiram se
manter, do ponto de vista econômico, no município, mesmo estando este imerso na crise
econômica que perdurou desde a década de 1980.
Outro dado interessante sobre o perfil destes empresários é que 100% deles
não têm nenhum precedente na área industrial. Perguntados sobre qual era a profissão antes de
abrir as indústrias de confecções de roupas infantis, obtiveram-se os seguintes resultados:
40% eram agricultores, 11% foram funcionários da Paraíso Bordados, empresa pioneira no
ramo, 11% eram costureiras, 11% tinham comércio em Terra Roxa, 11% do lar no município,
11% bancário e/ou do comércio de outras cidades próximas e 5% eram funcionários públicos
estaduais. Através dessa questão, contatou-se que os empresários que compõem a base
industrial de Terra Roxa decidiram migrar de atividade ao perceber a rentabilidade da
especialização produtiva surgida em Terra Roxa. Assim, quatro empresas foram inauguradas
entre os anos de 1996 a 1998. Entre os anos de 1999 a 2000, mais oito empresas foram
abertas. Nos anos subseqüentes, de 2001 a 2005, tem-se o registro de outras cinco empresas
que entraram em funcionamento.
137
Essa base empresarial, formada entre 1995 e 2005, tem uma origem: ela
adveio da necessidade de uma moradora local em contribuir no aumento da renda doméstica,
num período em que o município se sobressaltava frente à conjuntura econômica.
Ao ficar grávida de seu primeiro filho, Celma Rossato, fundadora da
Paraíso Bordados, indústria pioneira no setor de confecções de roupas infantis, não tinha
dinheiro para o enxoval do bebê, tendo que ela própria confeccioná-lo. Ao fazê-lo, chamou a
atenção de algumas vizinhas, as quais encomendaram algumas peças. Com o crescimento dos
pedidos, uma de suas irmãs (atual proprietária da empresa Berço de Ouro) e uma vizinha
(atual proprietária da empresa Chik-Chik Bordados) vieram ajudá-la. Nesta época, 1989, o
trabalho de confeccionar roupas infantis bordadas era artesanal e a estratégia de vendas
adotada era participar de “chás de fraldas
28
” para mostrar as peças bordadas. Também havia
convites às gestantes para conhecerem o quarto dos filhos de Celma. À medida que Celma
percebeu que as roupas infantis bordadas eram as chances de renda para sair da crise
financeira; ela começou a viajar para Cascavel (140 km), Toledo (96 km) e Guaíra (25 km)
nos finais de semana e vendia as peças em lojas de aviamentos. Como o negócio foi
crescendo, houve a necessidade de se adquirir uma máquina de bordar, contratar mão-de-obra
e utilizar sua casa como linha de produção. A partir deste momento, as vendas cresceram
significativamente e foi preciso aumentar o volume de compras de matéria-prima, até então
comprada no comércio local (tecidos, fios, linhas...), as quais só eram possíveis mediante um
Cadastro Geral do Contribuinte
29
(CGC) próprio. Nesta época, o negócio já era rentável, pois
tinha um número de consumidores significativo e as receitas cobriam os custos de produção.
Por isso, fundou-se a Paraíso Bordados, em 1995, indústria pioneira em confecções de roupas
infantis no município de Terra Roxa.
Através desse histórico, duas análises podem ser feitas, quais sejam:
28
Encontro entre amigas e gestante, em que as amigas levam, sob a forma de presentes, utensílios para o bebê
que vai nascer, roupas, acessórios, produtos de higiene, fraldas, entre outros.
29
O CGC foi substituído pelo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
138
a) a primeira indústria de confecções de roupas infantis bordadas de Terra
Roxa surgiu ao acaso. Partiu da necessidade econômica pessoal de uma
moradora local. Foi a partir dessa necessidade que ela constatou um
mercado promissor a ser explorado. A partir desta constatação, a
precursora da idéia especializou a mão-de-obra no bordado, mostrando a
algumas moradoras que este ofício poderia lhes trazer vantagens
econômicas. Diante da perspectiva positiva de mercado, Celma descobriu
um segmento rentável, mas para que esse segmento pudesse desenvolver-
se era preciso mão-de-obra especializada. Desta necessidade, criou-se
uma nova atividade para o município, sendo que o resultado deste poder
de especialização do trabalho reverteu-se em vantagens financeiras tanto
para os empresários pioneiros quanto para as pessoas envolvidas em sua
idéia inovadora;
b) a decisão de Celma em investir no ramo de confecções de roupas infantis
bordadas adveio da constatação de existência de mercado em potencial.
Assim, a dona de casa se torna empresária, figura que na concepção de
Schumpeter (1984) é aquele que consegue combinar produção a partir de
uma ação realizada. Celma passou a ser a detentora do meio de produção,
confeccionar e bordar roupas infantis. Foi através desse “tino”
empreendedor que esta dona de casa transforma uma produção artesanal
em um ramo de produção de escala industrial, calcado na divisão do
trabalho.
139
5.2.2 Por que Investir em Indústrias de Confecções de Roupas Infantis?
À medida que as roupas infantis bordadas foram ganhando mercado, a
Paraíso Bordados foi crescendo e com ela a absorção e o treinamento de mão-de-obra local. A
especialização produtiva advinda da inovação introduzida por aquela indústria contribuiu para
uma nova divisão do trabalho em Terra Roxa, a qual transformou a população local nos
profissionais que a indústria de confecções precisava. A partir da necessidade de rentabilizar o
negócio e do interesse em progredir economicamente, a Paraíso Bordados transformou-se em
uma “empresa-escola”, colaborando para o surgimento e o crescimento de um novo conjunto
de ofícios, estimulando o avanço do setor no município.
Algumas pessoas que trabalharam na Paraíso Bordados decidiram sair da
empresa e abrir suas próprias indústrias. Este fato foi comprovado pela entrevista concedida à
autora pelo proprietário da Paraíso Bordados, senhor Eugênio Rossato, em novembro de
2005: “Para que a empresa desse certo, foi preciso treinar a mão-de-obra. Na cidade havia
apenas algumas costureiras, mas não bordadeiras. Começamos a empregar pessoas e treiná-
las. Algumas destas pessoas, vendo que o negócio dava certo, decidiram sair da Paraíso e
abriram seus próprios negócios, ou seja, um começou a imitar o outro e com isto outras
empresas foram surgindo”.
O depoimento colhido na pesquisa permite três análises:
a) a primeira, diz respeito à figura do “empresário-imitador”. Tendo na
Paraíso Bordados a figura do empresário inovador, seus precursores se
transformaram nos personagens-chave de um cenário de crescimento
econômico pessoal que chamou a atenção de outros empreendedores do
município. Essa ascensão pessoal estimulou outros a investirem no ramo,
140
surgindo a figura do empresário-imitador. Esse empresário-imitador é o
elemento que amplia a divisão do trabalho, constrói novas unidades
produtivas, expande a divisão social de trabalho e gera novos empregos.
A partir desse momento, a inovação é absorvida pela base produtiva local
alimentando, progressivamente, a expansão das indústrias em Terra Roxa
e o desenvolvimento econômico local.
b) a segunda, leva à confirmação de que a idéia comum em investir no ramo
de confecções de roupas infantis adveio da ampliação da especialização
da mão-de-obra necessária à linha de produção das indústrias. A partir
dos resultados da pesquisa, constatou-se que essa especialização foi
facilitada pelo grau de cooperação surgido entre os precursores do
segmento e os moradores locais, instigando a aprendizagem coletiva.
Essa aprendizagem estimulou o “espírito” empreendedor em alguns
trabalhadores da Paraíso Bordados. Esse processo de cooperação coletiva
formou o capital social. Foi através desse capital social que se
potencializou a cooperação entre empreendedores e trabalhadores. Estes,
inseridos num contexto de aprendizagem coletiva, iniciaram uma nova
mobilização produtiva, que está modificando e transformando a estrutura
produtiva local, de urbano-rural para urbano-industrial, confirmando a
conclusão de Lima et al. (2005). Essa mobilização produtiva se
configurou na multiplicação do número de indústrias de confecções de
roupas infantis (de 1, em 1995, para 12 em 2000), as quais, a partir do
ano 2000 formaram a base industrial de Terra Roxa. A idéia inovadora
preconizada pela empresária pioneira, além de introduzir um novo
produto na economia regional, conduziu a uma nova forma de produção e
141
de especialização da força de trabalho local, incentivando o crescimento
do ramo no município e contribuindo para encadeamentos produtivos na
sua estrutura econômica. Este resultado confirma a primeira hipótese
desta pesquisa. A mudança da estrutura urbano-rural para a urbano-
industrial, que está acontecendo em Terra Roxa, é decorrente de um
fenômeno local que surgiu “ao acaso”, conforme comentado no item
5.2.1. A estrutura urbano-industrial existente está alicerçada nas
indústrias de confecções de roupas infantis, que se multiplicaram pela
capacidade empreendedora e pela vontade da população local. Esta
capacidade de mudança decorreu da especialização obtida com a divisão
social do trabalho, que ampliou os processos de aprendizagem coletiva e
o “espírito empreendedor” surgido ao longo da última década no
município, estimulando o avanço da economia local.
c) a terceira confirma que o sucesso de uma idéia inovadora. Neste caso, o de
confeccionar roupas infantis bordadas, está, também, relacionado ao
processo de aprendizagem individual e coletivo. Foi através das indústrias
de confecções de roupas infantis que ocorreram duas das formas de
aprendizagem intra-firma propostas por Malerba (1992): a primeira
learning-by-doing”( conhecimento adquirido a partir do aprendizado
obtido no próprio processo produtivo), a segunda “learning-by-using”
(conhecimento adquirido a partir do aprendizado resultante do envolvimento
direto da pessoa no processo produtivo). Assim, foi através destes processos
de aprendizagem que se assegurou a expansão da divisão social do trabalho
e o crescimento do ramo em Terra Roxa.
142
A partir da percepção de alguns moradores de que produzir roupas infantis
bordadas era um ramo rentável, pois havia demanda para o produto e a especialização da
mão-de-obra necessária à produção, surgiu o estímulo necessário para que eles pudessem
investir no ramo. Estas constatações foram confirmadas pela pesquisa realizada. Segundo os
resultados, 50% dos empresários investiram diante do “crescimento econômico” da Paraíso
Bordados, fato de que os convenceu que o setor era lucrativo e rentável; 34% se decidiram por
necessidade de sobrevivência pois em Terra Roxa não havia trabalho e a agricultura,
mecanizada não absorvia mais mão-de-obra. Assim, era preciso encontrar outro meio de vida
e os bordados de roupas infantis foram uma maneira de “fugir” da crise; e, 16%, por já deter
algum capital, decidiram investir no setor que “estava tomando conta da cidade” e, por força
disso, detinha mão-de-obra em abundância e especializada, fator que diminuía o risco de
perda do capital investido.
A pesquisa também confirmou que a população de Terra Roxa não se
importou em “migrar” de profissão, nem com a formalidade exigida por essa mudança (a
maioria passou do trabalho informal, como “bóia fria”, por exemplo, para o formal
(indústrias)). Este fato comprova que a mudança na estrutura produtiva de Terra Roxa adveio
da necessidade e da capacidade da população local em adaptar-se a um novo ambiente
produtivo. O ambiente de inovação que se gerou no município possibilitou-lhes transformar-
se no “local aprendiz” preconizado por Boisier (1999); Coelho (2001) e Martinelli e Joyal
(2004) conforme exposto na base teórica. O crescimento do número de indústrias
especializadas em confecções de roupas infantis bordadas em Terra Roxa foi resultado do
conhecimento especializado advindo da divisão do trabalho, da rentabilidade do ramo
produtivo e do “espírito empreendedor”, estendido aos seus moradores pelas próprias
indústrias, cujas características tácitas, coletivas e cumulativas favoreceram a atual
composição da base industrial local.
143
5.2.3 A Organização Local e o Desenvolvimento Econômico Social de Terra Roxa
À medida que o número de empresas foi aumentando, os empresários
perceberam que detinham uma vantagem comparativa de mercado em termos de segmentação
de produto. A qualidade dos recursos humanos inerentes à linha de produção possibilitou-lhes
um diferencial de competitividade que deveria ser mais bem explorado. Os empresários
organizaram-se e uniram a categoria para tirar melhor proveito desta vantagem, revertendo-a
em benefícios comuns ao ramo. Entre as vantagens buscadas, pode-se citar: melhor preço na
compra de matérias-primas, atração de fornecedores para o município, uma unidade do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), ampliação da estrutura física e de
cursos profissionalizantes da escola do trabalho
30
e a inserção mais eficiente de seus produtos
no mercado nacional e, em médio prazo, internacional. Deste ideal, em 2004 nasce a
associação intitulada “Arranjo Produtivo Local (APL) de moda bebê de Terra Roxa
31
”, que
congrega cerca de 80% das indústrias do setor em funcionamento. Parte da viabilização do
“APL de moda bebê de Terra Roxa”, adveio da iniciativa de alguns empresários e do trabalho
realizado pelo SEBRAE-PR e da Associação Comercial, Industrial e da Agricultura de Terra
Roxa (ACIATRA), desde o ano de 2001.
Em 2003 o SEBRAE Nacional inicia um estudo de modelos de agrupamentos
produtivos: Clusters, APLs, editando o Termo de Referência em Arranjos. Com esta
proposta, ainda inovadora, se pesquisa no Brasil municípios em que havia
agrupamentos com as características de um Cluster ou APL. Constatando que em
Terra Roxa havia um agrupamento de mais de 40 empresas especializadas em um
único segmento, o SEBRAE/PR destaca consultores para formular um estudo que
pudesse transformar o Núcleo Setorial
32
, já existente, em um Arranjo Produtivo
Local (GUEDES; TEZZA, 2005).
30
Instituição mantida pela prefeitura municipal de Terra Roxa desde o ano de 1994. Sua finalidade é ofertar
cursos profissionalizantes em diversas áreas.
31
Detalhes sobre esta associação acessar o site www.aplterraroxa.com.br
32
As empresas do setor de confecções de roupas infantis de Terra Roxa haviam sido convidadas, a partir de
2001, pelo SEBRAE/PR e a ACIATRA a participar do Projeto Empreender (projeto que prevê a união de
empresários de um mesmo setor em Núcleos Setoriais, objetivando discutir problemas comuns e solucioná-los
de maneira conjunta, viabilizado no Paraná através de parcerias entre o SEBRAE e a Federação das
Associações Empresariais do Paraná (FACIAP)). Foi a partir desta iniciativa que o SEBRAE/PR constata o
grande número de empresas especializadas em confecções de roupas infantis que existiam em Terra Roxa, fato
144
Concomitantemente ao crescimento do número de indústrias de confecções
de roupas infantis, houve também um significativo aumento de estabelecimentos comerciais e
de prestação de serviços em Terra Roxa. Esta afirmação pôde ser confirmada através da
entrevista com o atual Prefeito Municipal, em novembro de 2005 e endossada pelos demais
entrevistados: “O grande impacto das indústrias de confecções de roupas infantis é que são
elas que geram emprego e injetam renda na população da cidade, isto reativou o comércio e
o setor de serviços”. Este depoimento esta comprovado no capítulo 2. Os gráficos 5 e 6
apontam o setor industrial, e mais especificamente a indústria têxtil, como o segmento que
mais absorveu mão-de-obra em Terra Roxa a partir de 1999. O gráfico 5 também mostra o
aumento da mão-de-obra ocupada no ramo comercial do município. O aumento na oferta de
empregos neste ramo denota a expansão do setor terciário, sendo que esta expansão está
diretamente relacionada ao aumento do emprego e da renda no município de Terra Roxa.
Outro benefício que as indústrias trouxeram para o município foi a
interrupção da evasão populacional. Este fato foi ressaltado por todos os entrevistados: “Com
as indústrias, a evasão da população estancou; não há mais motivos para sair daqui.
Famílias inteiras, que antes não viam motivos para ficar, hoje têm opção, podem permanecer
e crescer na cidade natal. Praticamente não há desemprego na cidade e as indústrias é que
foram as responsáveis por isso. As pessoas não querem mais sair daqui, aqui tem trabalho e
o povo tem orgulho de dizer que mora na capital nacional de moda bebê. Terra Roxa, através
das indústrias, resgatou seu prestígio regional”. A compilação das respostas comprova que o
êxodo populacional ocorrido em Terra Roxa foi reflexo do baixo dinamismo econômico e,
conseqüentemente, da queda na ocupação da mão-de-obra. A partir do momento em que a
produção das indústrias de confecções de roupas infantis foi sendo absorvida pelo mercado, a
linha de produção foi ampliada, demandando mais mão-de-obra especializada. Este fato
este que o leva a propor outro modelo de organização, o de APL. Ressalta-se que o Município de Terra Roxa
foi escolhido no Paraná como projeto piloto do Termo de Referência em Arranjos (GUEDES; TEZZA, 2005).
145
estimulou a divisão do trabalho e com a ela a ampliação do número de vagas nas indústrias.
Como havia no município, no final da década de 1990, um número significativo de
trabalhadores ociosos, a oferta de empregos gerada tornou-se atrativa para essas pessoas.
Através da Figura 6 pode-se visualizar, de forma resumida, o impacto
positivo que as indústrias de confecções de roupas infantis causaram na estrutura econômico-
social de Terra Roxa, segundo os resultados da pesquisa.
Figura 6 – Conseqüências econômico-sociais do surgimento das indústrias de confecções
infantis em Terra Roxa, a partir de 1995
INDÚSTRIAS DE
CONFECÇÕES DE
ROUPAS INFANTIS
EMPREGO
RENDA
Modificando a
estrutura produtiva
local (urbana rural
para urbana
industrial)
Dinamizou o
setor de
serviços e de
comércio
Especialização da
mão-de-obra local,
divisão social do trabalho
Mercado Disponível
Fonte: Resultados da pesquisa
A partir da Figura 6 é possível fazer algumas análises:
a) A expansão do mercado regional e a especialização produtiva local
advinda da divisão social do trabalho, gerada pelas indústrias de
confecções de roupas infantis, aumentaram a partir do momento que essa
especialização produtiva acarretou em maior produtividade, seus
proprietários conseguiram aumentar a margem de lucro dessas indústrias.
Com a produção gerando mais rendimentos, ampliou-se a linha de
146
produção, o que gerou ainda mais emprego e renda para a população
local. Este fato denota o quanto a expansão da estrutura industrial foi
importante para a inserção da população no mercado consumidor de
outros setores econômicos;
b) as indústrias de confecções de roupas infantis focaram um “nicho de
mercado”. A medida que seus produtos foram sendo comercializados, os
empresários perceberam que a aceitação por parte do mercado
consumidor era grande. A percepção em explorar comercialmente um
mercado ainda descoberto foi o estopim necessário que estimulou o
crescimento do número de indústrias em Terra Roxa;
c) como conseqüência das análises “a” e “b”, teve-se a geração do acúmulo
de capital que beneficiou, econômica e socialmente, a sociedade e a
economia de Terra Roxa. Esse acúmulo de capital adveio da expansão
das indústrias de confecções de roupas infantis. Essas indústrias foram
responsáveis pela seqüência de eventos de Hirschman (1974, 1996). Esta
seqüência de eventos ampliou a estrutura urbana de Terra Roxa. Este fato
é perceptível e foi comprovado no Gráfico 5, capítulo 2. O Gráfico 5
mostra o ano de 1999 como período de ruptura da estrutura urbano-rural
em direção a urbano-industrial. Esta ruptura esta diretamente relacionada
a demanda regional e ao capital injetado na economia local pelos
empresários das indústrias de confecções de roupas infantis, confirmando
a segunda hipótese da pesquisa, qual seja, a reestruturação produtiva de
Terra Roxa adveio de um processo de desenvolvimento endógeno.
Diante deste contexto, questionou-se aos empresários do setor de moda
bebê: Terra Roxa continua apresentando condições de manutenção para os seus negócios?
147
Quais são suas expectativas de futuro para as indústrias de confecções de roupas infantis?
Oitenta e oito por cento dos entrevistados disseram que não saem de Terra Roxa. Para eles
Terra Roxa está “colhendo os frutos de seu trabalho”, pois já é considerada a “Capital
Nacional de Moda Bebê”. Sua produção industrial tem na mão-de-obra especializada e
qualificada o diferencial de competitividade do município: “Aqui, homens, mulheres, jovens,
famílias inteiras trabalham nas indústrias. São pessoas que gostam do que fazem e que se
identificam com as funções das indústrias. Todos nós, empresários e população, passamos a
acreditar nessas indústria;, sem elas não haveria o emprego que as pessoas hoje têm e
grande parte estaria ainda trabalhando como ‘bóia fria’”.
No entanto, 12% destes empresários disseram que sairiam de Terra Roxa.
Eles apresentaram como motivos as dificuldades financeiras inerentes à administração das
indústrias, advindas das altas taxas tributárias e ao custo de manutenção e de
treinamento/aperfeiçoamento da mão-de-obra. Mesmo com a Escola do Trabalho, grande
parte do aperfeiçoamento dos funcionários ainda é custeado pelas indústrias, gerando uma
despesa significativa. Além disso, problemas com a saúde física dos funcionários também
foram destacados: “A maioria das pessoas que trabalham nas indústrias já está no ofício há
mais ou menos uns dez anos e no início não havia preocupações com a postura das
costureiras e bordadeiras; hoje vários são os problemas de saúde que este descuido
acarretou. Como não há como repor pessoal, pois praticamente não há desempregados na
cidade, fica difícil trabalhar quando tem muito atestado médico”.
O problema de reposição de pessoal apontado no depoimento acima se deve,
basicamente, a dois fatores: o primeiro está relacionado ao salário pago. A faixa salarial da
linha de produção das indústrias de confecções de roupas infantis em Terra Roxa gira em
torno de R$ 346,00. Se comparado com a média salarial do ramo de confecções no Estado do
Paraná, que gira em torno de R$ 437,00, constata-se uma diferença, para menos, de
148
aproximadamente 25%. Assim, o salário pago desestimula a vinda de outras pessoas. Este fato
agrava-se com o déficit habitacional existente no município. Segundo Besen (2005) esse
déficit está na ordem de 282 domicílios (tomando por base o Censo Demográfico de 2000),
cerca de 6,01%. Este fato encarece o setor imobiliário local, tanto para compra quanto para
locação de residências.
6 RESULTADOS DA PESQUISA
Da idéia inovadora de sua precursora ao processo de surgimento e de
expansão das indústrias, as confecções de roupas infantis bordadas de Terra Roxa
transformaram-se, em dez anos, num conjunto de indústrias. A junção dos elementos
históricos de formação dessa base industrial indica que a mudança na estrutura produtiva local
é conseqüência de uma trajetória endógena de desenvolvimento, cuja formação é resultado da
mobilização produtiva coletiva de seus moradores. Esta mobilização se explica diante a
identificação com o lugar que estes agentes sociais (empreendedores e população)
desenvolveram ao longo do tempo em que residem no município. A convivência com o
processo de ascensão, e posterior declínio econômico e populacional de Terra Roxa, os
instigou a buscar alternativas de sobrevivência, tanto para a população quanto para o
município. É nesse sentido que Woodward (2000) afirma que a identidade com o lugar facilita
a construção coletiva do tecido social que referenda as opções da coletividade, revertendo-se
em ações que transformam o local naquilo em que ele pode se tornar. Terra Roxa hoje é um
ponto de referência em confecções de moda bebê, segmento atípico ao seu entorno e que
mesmo assim desenvolveu-se e progrediu, tanto economicamente quanto socialmente.
Outra evidência que direciona a base industrial de Terra Roxa como centro
nodal de sua emergência econômica é sua base produtiva. Ela é formada, predominantemente,
por micro e pequenas empresas. Segundo Garofoli (1994) estes tipos de empresas representam
os casos mais promissores de mobilização produtiva que desencadeiam o crescimento
econômico local dos últimos tempos. A pesquisa confirmou a afirmação desse autor e de
Martinelli e Joyal (2004) e Terra Roxa é um exemplo do quanto as iniciativas locais podem,
efetivamente, desencadear o crescimento econômico de uma localidade.
150
Isto posto confirmou-se o que postula Hirschman (1974, 1996): o
desenvolvimento econômico é o resultado de uma seqüência de eventos, o qual induziu e
instigou mudanças estruturais em Terra Roxa. A industrialização foi o meio que propiciou
essa seqüência. A emergência econômica de Terra Roxa é o resultado direto do surgimento e
da expansão das indústrias de confecções de roupas infantis, a única base industrial local, bem
como das relações comercias e sociais que estas desencadearam a partir de seu surgimento.
Foram das relações de cooperação e de competitividade desenvolvidas entre as indústrias e os
demais segmentos produtivos do município que surgiu a diversificação produtiva, alavancou
seu crescimento econômico e ampliou o mercado consumidor de outros setores econômicos.
Essa seqüência de eventos pôde ser comprovada pelos resultados da
pesquisa de campo realizada em novembro de 2005, através da qual se destacaram os
elementos que estão contribuindo para as mudanças estruturais e sociais que estão
estimulando a emergência econômica de Terra Roxa. Esses elementos podem ser visualizados
na Figura 7
151
Figura 7 - Elementos da emergência econômica de Terra Roxa
Fonte: Resultados da pesquisa
Ca
p
ital Hu
m
ano
Empreendedorismo
(empresário-inovador)
Capital Social
Cooperação entre os
empreendedores
Base industrial em
confecções de roupas infantis
Está transformando a estrutura produtiva
de Terra Roxa
(urbano-rural para urbano-industrial)
Emergência econômica do
Município
Empresário
imitador
Mercado
potencial
O fenômeno de emergência econômica de Terra Roxa demonstra que o
desenvolvimento econômico local não depende apenas de se saber localizar as combinações
de recursos e de fatores de produção, mas de localizar aqueles recursos e capacidades ocultas.
A necessidade de “mudar” a situação econômico-social em que vivia a grande maioria da
população local foi o estímulo necessário para que essas pessoas “agarrassem” a idéia
inovadora de trabalhar com confecções de roupas infantis bordadas. Esse estímulo uniu a
comunidade local em torno das indústrias de confecções de roupas infantis dando início a uma
nova fase econômica para Terra Roxa.
Neste sentido, propõe-se potencializar o êxito do processo histórico e social
de formação da base industrial de Terra Roxa, ilustrado na Figura 6, com o processo de
planejamento de uma estratégia de desenvolvimento econômico que consolide essa trajetória
de sucesso, para que a mesma possa também ser reproduzida para outras localidades
empobrecidas economicamente. Para tanto, é preciso considerar as formas de organização
152
locais já existentes no município (o “APL de Moda Bebê de Terra Roxa” com as demais
entidades público-privadas
33
parceiras). Assim, o “boom” econômico de Terra Roxa será
definitivamente consolidado a partir do momento em que seus atores impulsionarem ações de
continuidade ao ambiente econômico-social já construído. Para tanto, é preciso que esses
atores participem e contribuam nesse processo estratégico, que deverá levar em consideração,
além de aspectos econômicos, as questões culturais, históricas, sociais e geográficas de Terra
Roxa.
Isso posto, a estratégia de desenvolvimento econômico para Terra Roxa
deverá ser planejada pela base, evidenciando o aglomerado industrial existente e o avanço que
esse aglomerado desencadeou na estrutura econômico-social do município ao longo da última
década. A opção pela base industrial de Terra Roxa, como centro nodal da estratégia de
desenvolvimento econômico, encontra respaldo empírico em vários exemplos de sucesso
registrados por pesquisas do gênero realizadas em várias partes do mundo e do Brasil
34
, as
quais obtiveram êxito partindo, principalmente, de bases industriais formadas por micro,
pequenas e médias empresas (MPMEs), situação semelhante a que se encontra nesse
município. Tendo definido a base industrial de confecções de roupas infantis como o foco de
ação da estratégia de desenvolvimento econômico para Terra Roxa, o próximo passo
constitui-se na identificação e na definição das etapas que nortearão a construção do
planejamento da estratégia.
33
Entre as entidades parceiras do APL de Moda Bebê de Terra Roxa, pode-se citar: Prefeitura Municipal,
ACIATRA, SEBRAE/PR, Serviço Social da Indústria (SESI), SENAI, Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal, BRDE, UNIOESTE, Campus de Toledo, entre outras.
34
Como exemplos, podem-se citar: Piore e Sabel (1984); Becattini (1994); Garofoli (1994); Amaral Filho
(2001); Buarque (2002); Cassiolato e Lastres (2002); Martinelli e Joyal (2004); Campos (2004), entre outros.
153
6.1 O Processo de Planejamento da Estratégia de Desenvolvimento Econômico de Terra
Roxa
O planejamento da estratégia de desenvolvimento econômico de Terra Roxa
seguirá o modelo apresentado por Martinelli e Joyal (2004) (Figura 8). A principal
característica desse modelo é o seu processo de planejamento, que parte de “baixo para cima”,
ou seja, pela base. A estratégia de desenvolvimento econômico pela base tem no processo de
desenvolvimento endógeno a estrutura de suporte necessária a sua execução.
Figura 8 - Etapas do planejamento da estratégia de desenvolvimento econômico de Terra
Roxa
VISÃO
“Consolidar a base industrial de
confecções de roupas infantis de
Terra Roxa.”
ANÁLISE DA SITUAÇÃO
Identificar os “gargalos” que
estão interferindo no processo
de consolidação da base
industrial de confecções de
roupas infantis de Terra Roxa.
ESCOLHA DOS EIXOS DE
ATUAÇÃO
Definir as diretrizes e metas que
nortearão a superação dos
“gargalos” detectados.
ADOÇÃO DO PLANO
DE AÇÃO
Rever e deferir os eixos prioritários
de atuação da estratégia.
EXECUÇÃO, CONTROLE
E AVALIAÇÃO DAS
DIRETRIZES E METAS
PLANEJADAS.
Fonte: Resultados da pesquisa a partir de Martinelli e Joyal (2004)
154
O modelo de planejamento estratégico proposto por Martinelli e Joyal
(2004) constitui-se de cinco etapas. Estas se interligam à medida que vão sendo executadas,
possibilitando a avaliação e a revisão constante das diretrizes e metas traçadas. Esse processo
de “feedback” entre as etapas é o que potencializa as chances de êxito da estratégia, pois
permite corrigir as distorções que venham a surgir ao longo da execução da estratégia.
Para que o modelo de planejamento estratégico proposto possa ser utilizado
em Terra Roxa, é preciso que suas etapas sejam ajustadas à realidade econômico-social do
município. Por isso, serão necessários dois pré-requisitos fundamentais para o início das
atividades, quais sejam:
a) organização local. Não existe desenvolvimento econômico local sem
organização. Essa organização deve estar interligada à estrutura
produtiva local. No caso de Terra Roxa, esse pré-requisito está suprido,
uma vez que já existe uma organização com essa característica, o “APL
de moda bebê de Terra Roxa”;
b) composição de um comitê executivo. A eficácia de uma estratégia de
desenvolvimento econômico local está diretamente relacionada à
eficiência operacional de seu comitê executivo, cuja composição deve
contemplar representantes das principais entidades público-privados
envolvidas na estrutura produtiva local. Em Terra Roxa existe, desde o
ano de 2004, o “Grupo Gestor do APL de moda bebê
35
”. Esse “Grupo
Gestor” é composto por empresários do ramo de confecções de roupas
infantis bem como por representantes dos principais órgãos públicos e
instituições privadas de Terra Roxa, como: Prefeitura Municipal,
Associação Comercial, Industrial e da Agricultura de Terra Roxa
35
Maiores detalhes acerca do “Grupo Gestor de moda bebê de Terra Roxa” acessar o site:
www.aplterraroxa.com.br
155
(ACIATRA), SEBRAE/PR, SESI, SENAI, Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, BRDE, UNIOESTE, Campus de Toledo.
Uma vez identificada a existência dos pré-requisitos acima descritos, é
possível iniciar o processo de planejamento da estratégia de desenvolvimento econômico
(Figura 8).
6.1.1 Visão
A meta do planejamento estratégico é consolidar a base industrial de
confecções de roupas infantis de Terra Roxa, através de uma estratégia de desenvolvimento
econômico local, objetivando alavancar os encadeamentos produtivos necessários às
mudanças estruturais locais que levarão ao desenvolvimento econômico do município.
6.1.2 Análise da Situação
O objetivo desta etapa é sistematizar o cenário de atuação da estratégia de
desenvolvimento econômico. Para tanto, é necessário identificar os “gargalos” que estão
interferindo no processo de consolidação da base industrial de confecções de roupas infantis
de Terra Roxa
36
. Para tanto identificaram-se os “gargalos” existentes tanto na estrutura
36
Parte dos elementos que compõem esta etapa resultam da compilação de dados extraídos pela autora com a
pesquisa de campo, e do planejamento estratégico para o biênio 2006/2007 elaborado pelo Grupo Gestor do
APL de moda bebê de Terra Roxa, realizado no início de dezembro de 2005.
156
econômico-social do município de Terra Roxa quanto da base industrial de confecções de
roupas infantis.
Quanto a estrutura econômico-social do município de Terra Roxa, os
gargalos detectados concentram-se nas áreas: econômica, de infra-estrutura urbana e rural e de
bem estar social e qualidade de vida (Quadro 5)
Quadro 5 – “Gargalos” detectados na estrutura econômico-social do município de Terra Roxa
ÁREAS
Econômica Infra-estrutura urbana e rural Bem estar social e
qualidade de vida
“Gargalos”
Baixa arrecadação
tributária.
Falta de casas e/ou apartamentos
para moradia.
Falta de creches.
Falta de conservação nas estradas
intermunicipais (zona rural).
Falta de um “parque industrial”.
Falta de um “centro de eventos”.
Péssimas condições de tráfego nas
rodovias de acesso ao município
(PRs 364 e 487).
O analfabetismo de
adultos.
Falta de espaços para
recreação e lazer.
Fonte: Resultados da Pesquisa
Para a base industrial de confecções de roupas infantis, os gargalos
detectados se concentram nas áreas da economia, de infra-estrutura e de bem estar e qualidade
de vida (Quadro 6).
157
Quadro 6 – “Gargalos” detectados na consolidação da base industrial de confecções de roupas
infantis de Terra Roxa
ÁREAS
Econômico e política Infra-estrutura Bem estar social e
qualidade de vida
“Gargalos”
Altas taxas tributárias
(nas três esferas de
governo) e de juros.
Dificuldades de acesso
às linhas de
financiamento e de
crédito para ampliação
das instalações físicas e
aquisição e
modernização de
máquinas e
equipamentos.
Aumento da produção
em função da
capacidade instalada,
principalmente para as
micro e pequenas
empresas.
Ausência de apoio e de
envolvimento do poder
público municipal.
Falta de mão-de-obra
qualificada para
reposição.
Falta de um centro tecnológico.
Falta de uma “incubadora de
empresas” que estimule a abertura
de novas empresas e concentre as
micro-empresas, principalmente
de serviços às indústrias.
Falta de um centro comercial para
a moda bebê.
Falta de um local para a
reciclagem e o aproveitamento de
resíduos industriais.
Falta de um centro de qualificação
profissional que atenda todos os
setores das indústrias.
Falta de creches.
Falta de casas e/ou apartamentos
para moradia.
Péssimas condições de tráfego nas
rodovias de acesso ao município
(PRs 364 e 487).
O analfabetismo e/ou
semi-analfabetismo da
mão-de-obra.
Alto índice de doenças
funcionais (relacionadas à
linha de produção).
Falta de espaços para
recreação e lazer.
Fonte: Resultados da pesquisa
6.1.3 Escolha dos Eixos de Atuação
Esta etapa consiste na definição das áreas de ação da estratégia de
desenvolvimento econômico. Essas áreas subdividem-se em diretrizes e metas de trabalho.
Seu processo de definição parte dos “gargalos” detectados na etapa anterior. Como se
detectaram alguns “gargalos” em comum à esfera municipal e da base industrial de
confecções de roupas infantis, optou-se pela conciliação dessas áreas de ação, potencializando
seus resultados.
a) Área de infra-estrutura:
158
Quadro 7 – Ações em obras públicas, habitação e rodovias de acesso ao município
DIRETRIZES METAS
Construção de moradias.
Construção de unidades de educação
infantil (creches).
Construção de um “parque industrial”.
Construção de um “centro de eventos”.
Elaboração de projetos que visam ao
fortalecimento das instituições locais
públicas e privadas.
Instalação de usinas de reciclagem de
lixo e resíduos industriais.
Negociação junto ao governo estadual
para recuperação das rodovias PR 364
(Palotina a Terra Roxa) e PR 487
(Guaíra a Terra Roxa).
Construir unidades habitacionais no município.
Construir unidades de educação infantil (creches) nas regiões do
município que concentram maior número de indústrias de
confecções de roupas infantis.
Construir um “parque industrial” com infra-estrutura de
barracões, transporte coletivo e praça de alimentação, para a
atração de novas indústrias de confecções de roupas infantis e/ou
transferir as indústrias de micro e pequeno portes da região
central do município.
Construir um “centro de eventos” para: a) a promoção e
comercialização dos artigos de vestuário das indústrias de
confecções de roupas infantis; b) lançamentos das coleções
outono/inverno e primavera/verão.
Modernizar a estrutura arquitetônica da região central do
município como estímulo a investimentos privados de ampliação
da rede comercial e de prestação de serviços.
Implantar uma usina de reciclagem de lixo e de resíduos
industriais.
Adquirir caminhões coletores para coleta seletiva de lixo e de
resíduos industriais.
Buscar apoio político junto à Associação dos Municípios do
Oeste do Paraná (AMOP) para a recuperação das rodovias PR
364 e 487.
Fonte: Resultados da pesquisa
Ações que visam à superação de “gargalos” na área de infra-estrutura são
imprescindíveis para o crescimento econômico de Terra Roxa. A infra-estrutura local deve ser
o elemento que minimiza custos para o setor industrial e demais investidores e empresários. A
definição de diretrizes que visam à superação de “gargalos” nesta área são vitais para o
estímulo ao investimento e à ampliação do capital investido pela iniciativa privada no
município. Quanto às rodovias de acesso ao município, PRs 364 e 487, sua manutenção é de
responsabilidade do Estado. Contudo é de competência do poder público municipal a busca
por parcerias de apoio político regional para a elaboração de projetos e de “ações” que
“pressionem” a manutenção, conservação e a recuperação destas rodovias, uma vez que, seu
estado de conservação interfere no escoamento da produção e no acesso ao mercado
consumidor, diminuindo a competitividade dos produtos locais.
Se a prefeitura municipal de Terra Roxa não intensificar a busca por
recursos financeiros para a melhoraria e a ampliação da infra-estrutura existente no município,
159
as probabilidades de manutenção das indústrias de confecções de roupas infantis no município
diminuirão. À medida que a demanda pelos produtos das indústrias aumentarem e a infra-
estrutura pública não for sendo ampliada, os custos de escoamento da produção se tornarão
inviáveis, favorecendo a migração das indústrias para municípios que atendam a essa
necessidade.
b) Área da educação, bem estar social e qualidade de vida:
Quadro 8 – Ações para a educação básica e capacitação profissional, para o bem estar social e
qualidade de vida
DIRETRIZES METAS
Erradicação do analfabetismo de
adultos.
Criação de programas de estímulo à
permanência dos adultos na escola.
Ampliação da “Escola do Trabalho”.
Criação de programas permanentes de
formação e de atualização de recursos
humanos para as áreas de produção
das indústrias.
Criação de programas de formação de
instrutores para a capacitação e
atualização profissional.
Construção de espaços públicos para
recreação e lazer.
Ampliação do número de
atendimentos ambulatoriais nos postos
de saúde e hospitais.
Ampliação do número de ambulâncias.
Criação e ampliação de planos de
assistência social.
Criação de programas sociais e
eventos que estimulem a recreação e o
lazer.
Criação de programas educativos
relacionados à qualidade de vida da
população e o bem estar social.
Criação de programas educativos na
área de saúde pública.
Criar programas de estímulo à alfabetização de adultos e de
valorização da educação continuada.
Qualificar docentes leigos para a educação de adultos.
Promover programas de capacitação profissional que se integrem
à base industrial de confecções de roupas infantis.
Ampliar as instalações físicas da “Escola do Trabalho” para que a
mesma possa atender a demanda existente para os outros setores
de produção das indústrias.
Qualificar e/ou atrair para Terra Roxa profissionais das mais
diversas áreas de produção das indústrias para que esses possam
se tornar instrutores no processo de atualização profissional.
Construir espaços públicos, como centros comunitários, para a
implantação de programas de recreação e de lazer.
Buscar junto aos órgãos de saúde pública recursos financeiros
para ampliar a estrutura física e humana dos postos de saúde e do
hospital público do município.
Buscar junto à Secretaria de Saúde do Estado a viabilização de
um veículo tipo ambulância equipada com equipamentos e
instrumentos de manutenção da vida da paciente.
Desenvolver e ampliar os programas de assistência social
direcionando-os as classes mais pobres do município, inclusive na
zona rural.
Estimular programas que resgatem a cultura e a tradição popular.
Capacitar monitores para a execução dos programas de recreação,
lazer e qualidade de vida da população.
Capacitar agentes de saúde para a execução de projetos de saúde
preventiva.
Fonte: Resultados da pesquisa
As ações na área da educação são cruciais para o desenvolvimento
econômico de Terra Roxa. A garantia de acesso e de permanência na escola é ponto
estratégico para o acesso e permanência no mercado de trabalho, bem como para a melhoria
160
da qualidade de vida da população local. Para tanto se deve priorizar a erradicação do
analfabetismo e do semi-analfabetismo ainda existente no município. Esta ação poderá ser
viabilizada através de parcerias firmadas entre a Secretaria Municipal de Educação, o Núcleo
Regional de Educação e as indústrias de confecções de roupas infantis, através das quais será
possível condicionar emprego com permanência na escola.
Quanto às ações na área de bem estar social e qualidade de vida, ressalta-se
que a qualidade de vida está diretamente ligada à educação. Assim, pensar a educação é
viabilizar o desenvolvimento econômico-social de Terra Roxa, pois é através dela que se
ampliam as chances de acesso ao mercado, de especialização da mão-de-obra e deste às
oportunidades de melhoria da qualidade de vida da população local.
Para a execução das diretrizes e metas que visam à superação dos “gargalos”
detectados à consolidação da base industrial de Terra Roxa, propõe-se:
a) para a área econômica e política:
161
Quadro 9 – Ações para a dinamização econômica e política das indústrias de confecções de
infantis
DIRETRIZES METAS
Transformação da base industrial de
confecções de roupas infantis de Terra
Roxa em um Arranjo Produtivo Local
(APL).
Consolidação do “APL de moda bebê
de Terra Roxa” enquanto entidade
representativa da categoria.
Formação de parcerias para a
ampliação de apoio político junto ao
governo estadual e federal.
Ampliação do mercado local, regional,
estadual e nacional.
Inserção dos produtos das indústrias
no mercado internacional.
Ampliação da estrutura física das
indústrias.
Ampliação e modernização do parque
de máquinas e de equipamentos,
visando à redução dos custos de
produção.
Redução da rotatividade da mão-de-
obra.
Ampliação de visitas e de
participações em feiras de moda
regionais, estaduais e nacionais.
Fortalecimento da marca “APL moda
bebê de Terra Roxa”.
Implantação de sistemas de gestão de
qualidade (Certificação ISO).
Inserir o aglomerado de indústrias de confecções de roupas
infantis nas ações da Política Pública Federal para Arranjos
Produtivos Locais (APLs).
Buscar a adesão de todas as indústrias e terceirizadas do ramo de
confecções de roupas infantis ao “APL de moda bebê de Terra
Roxa”.
Consolidar o “APL de moda bebê de Terra Roxa” enquanto
estrutura de governança local.
Estimular ações coletivas que gerem articulações políticas na
busca de soluções a problemas comuns.
Criar uma “rede de informações” mercadológicas entre os
empresários do ramo.
Criar uma unidade de gestão e de estudo de mercado para os
produtos das indústrias.
Buscar recursos financeiros junto a programas de financiamento e
de subsídios para a ampliação da estrutura física das indústrias e
ampliação e modernização do parque de máquinas e de
equipamentos.
Buscar linhas de crédito para capital de giro das micro e pequenas
indústrias.
Reduzir os custos de produção.
Aumentar a produtividade intensificando os fluxos de
informações e fortalecendo a aprendizagem coletiva das
empresas.
Revisar o plano de cargos e salários dos funcionários das
indústrias.
Estudar a viabilidade de implantar planos de saúde privados para
os funcionários.
Aumentar as visitas e a participação dos empresários e dos
produtos em feiras e exposições de moda, tanto as regionais e
estaduais quanto as nacionais e do MERCOSUL.
Confeccionar um catálogo coletivo de vendas dos produtos do
“APL moda bebê de Terra Roxa”.
Contratar consultoria especializada em implantação de sistemas
de gestão de qualidade.
Qualificar equipe interna da indústria para execução e
manutenção do sistema de gestão de qualidade.
Fonte: Resultados da pesquisa
Das diretrizes definidas para a dinamização econômica e política da base
industrial de confecções de roupas infantis de Terra Roxa, propõe-se a escolha de três alvos
principais: a ampliação de mercado, a transformação da base industrial de confecções de
roupas infantis em um arranjo produtivo local (APL) e a consolidação do “APL de moda bebê
de Terra Roxa” enquanto estrutura de governança local.
162
A ampliação de mercado é condição básica para a sustentabilidade
econômica das indústrias de confecções de roupas infantis a médio e longo prazo. Para tanto,
as indústrias devem priorizar investimentos que aumentem a capacidade instalada e reduzam
os custos de produção. Contudo, ampliar mercado não é tarefa simples, principalmente num
cenário econômico que dificulta os investimentos em função das altas taxas de juros
praticadas pela política macro-econômica brasileira. Assim, é preciso buscar alternativas que
possibilitem aos empresários essa ampliação de mercado. Uma destas alternativas é a
transformação da base industrial de confecções de roupas infantis em um arranjo produtivo
local de confecções de roupas infantis. As relações de cooperação características de um APL
favorecem a aprendizagem coletiva e a inovação de produtos, elementos que propiciam
ganhos de produtividade. É o que se chama de eficiência coletiva. É esta eficiência coletiva
que amplia a competitividade do arranjo, transformando-se num diferencial de
competitividade. É este diferencial que possibilitará a ampliação de mercado.
Pensando na competitividade das indústrias de confecções de roupas
infantis, a associação “APL de moda bebê de Terra Roxa”
37
, através de seu “grupo gestor”,
configura-se numa estrutura de governança local híbrida (denominação dada pela participação
de membros de entidades públicas, do ramo de confecções de roupas infantis e de entidades
de ação não governamental como SEBRAE, SENAI, entre outros). A presença deste tipo de
estrutura se transforma num elemento fundamental no planejamento de estratégias que vise à
consolidação de um APL. Assim, o fato dos empresários das indústrias de confecções de
roupas infantis de Terra Roxa já estarem se organizando em torno de estruturas próprias de
gestão coletiva indicam que a sobrevivência das indústrias dependem também da coordenação
coletiva de sua própria estrutura produtiva.
37
O processo de formação desta associação já foi comentado nesta pesquisa.
163
b) para as áreas de capacitação e atualização profissional, saúde do trabalho
e qualidade de vida:
Quadro 10 – Ações para a capacitação e atualização profissional, saúde do trabalho e de
qualidade de vida
DIRETRIZES METAS
Ampliação das parcerias firmadas com
o SESI, SENAI e SEBRAE para
aumentar o número de programas de
capacitação e atualização profissional.
Aproximação do “APL moda bebê de
Terra Roxa” com as universidades da
região como forma de atualização
técnico-científica e otimização do uso
dos recursos produtivos.
Fortalecimento da “Escola do
Trabalho”.
Criação de programas de prevenção a
doenças do trabalho.
Criação de programas educativos na
área de segurança do trabalho.
Instalação de Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA)
Capacitação de agentes de saúde do
trabalho.
Implantação de programas de
recreação e de lazer.
Ampliar o número de programas de capacitação da mão-de-obra
da linha de produção.
Trazer cursos de aperfeiçoamento profissional na área de criação
e desenvolvimento de moda, como: design, modelagem, desenho
computadorizado, entre outros,
Trazer cursos e programas de gestão de empresas, incluindo
marketing e negócios.
Promover, pelo menos um por semestre, seminários e palestras
nas áreas de desenvolvimento e gestão de moda.
Estudar formas de contribuir na ampliação da estrutura física e de
instrutores da “Escola do Trabalho”.
Criar uma comissão interna, multisetorial, para elaborar, executar
e manter projetos de prevenção de doenças funcionais, como
LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho).
Implantar horários semanais para ginástica laboral.
Promover, pelo menos duas vezes ao ano, palestras de educação
para a saúde do trabalho.
Capacitar agentes internos para a execução dos programas de
prevenção a doenças do trabalho e de segurança do trabalho.
Implantar CIPA.
Incentivar a formação de uma associação e/ou clube de
associados das indústrias de confecções de roupas infantis.
Incentivar momentos de confraternização: gincanas,
comemorações de datas festivas, concursos culturais, como forma
de estímulo ao lazer coletivo.
Fonte: Resultados da pesquisa
Investir na capacitação e atualização da mão-de-obra é fator estratégico para
o aumento da produtividade e da competitividade das indústrias de confecções de roupas
infantis. Contudo, o custo deste investimento onera significativamente as indústrias,
principalmente as micro e pequenas. Como forma de amenizar estes custos o “APL de moda
bebê de Terra Roxa” buscou firmar parcerias com o SESI, SENAI e SEBRAE no sentido de
viabilizar a vinda de cursos de capacitação e de aperfeiçoamento profissional nas áreas de
produção das indústrias de confecções de roupas infantis, sendo que estes cursos são
ministrados na Escola do Trabalho. Contudo estas parcerias conseguem atender apenas parte
164
da demanda existente, cabendo às indústrias o maior número de mão-de-obra a ser capacitada
e atualizada.
O que se percebeu com a pesquisa de campo é a inexistência de parcerias
técnico-científicas com as universidades da região. Uma maior aproximação da base industrial
de confecções de roupas infantis com este segmento da educação poderia trazer-lhes
benefícios econômicos que poderiam refletir diretamente na redução de custos e no aumento
da produtividade das indústrias.
Na região Oeste do Estado do Paraná existem várias universidades, entre as
quais se podem citar: a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), a
Universidade Paranaense (UNIPAR) e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC/PR). Citaram-se estas Universidades pela abrangência regional que elas detêm, fato que
amplia o leque de cursos oferecidos e com estes as linhas de pesquisa de seus docentes. As
parcerias técnico-científicas são viabilizadas através da assinatura de convênios de
cooperação técnico-científica, através dos quais poderão ser direcionados
professores/pesquisadores para as áreas de capacitação e atualização profissional, bem como
para a otimização dos recursos de produção. Ressalta-se que parcerias desta natureza são
apontadas na literatura de desenvolvimento econômico com fontes potencializadoras de
aumento da produtividade e da qualidade dos produtos, elementos essenciais para a
competitividade das indústrias e ampliação de mercados.
Quanto ao “gargalo” denominado “baixa arrecadação tributária” apontado
pela prefeitura municipal, propõe-se:
165
Quadro 11 – Ações para a dinamização econômico-financeira da secretaria da fazenda da
prefeitura municipal de Terra Roxa
DIRETRIZES METAS
Implantação de um sistema de
informações ao contribuinte.
Aumentar as receitas.
Implantar um sistema de informações ao contribuinte, o qual
poderá ser acessado via internet ou balcão de atendimento.
Criar programas de combate à sonegação, através de projetos de
incentivos, fiscalização e conscientização dos contribuintes.
Buscar parcerias com a iniciativa privada como forma de
aumentar e otimizar os recursos públicos.
Fazer parte de programas federais e estaduais de apoio a
pequenos municípios.
Oferecer condições de infra-estrutura básica para que a iniciativa
privada possa investir na infra-estrutura de pontos comerciais e de
prestação de serviços.
Promover, em parceria com o “APL de moda bebê de Terra
Roxa”, um plano publicitário que vise divulgar e potencializar o
título de “Capital Nacional de Moda Bebê”.
Fonte: Resultados da pesquisa
Nenhuma prefeitura poderá ser uma dinamizadora local se não possuir
recursos e capacidade para intervir. Por essa razão, a eficiência na arrecadação de tributos e na
gestão dos recursos públicos são elementos primordiais para que o município possa cumprir
com suas responsabilidades públicas. Para tanto, os investimentos públicos devem ser
norteados por metas bem definidas, cujo processo de direcionamento deve envolver a
população e a sociedade civil local organizada, como forma de endosso ao comprometimento
público em executá-las e de transparência das ações executadas.
As mudanças na legislação sobre a transferência dos recursos públicos do
país, e a carência desses recursos, instigam os prefeitos a buscar e a implantar mecanismos
que ampliam e fortaleçam as receitas do município, sendo que a chance de êxito desta busca
aumenta à medida que se firmam parcerias de apoio político com outras prefeituras da região
ou com associações que representam a categoria, como a Associação dos Municípios do Oeste
do Paraná (AMOP). Este tipo de parceria amplia e potencializa projetos regionais e locais que
dão acesso as linhas de ações públicas de políticas de apoio ao desenvolvimento econômico-
social dos municípios, principalmente os de pequeno porte como é o caso de Terra Roxa.
166
6.1.4 Adoção do Plano de Ação
O plano de ação consiste na confirmação dos eixos de atuação e das
diretrizes da estratégia. Nesta etapa, o comitê executivo avalia e prioriza os eixos selecionados
na etapa anterior, estipulando prazos para a sua execução. Em termos da base industrial de
confecções de roupas infantis o prazo definido para a execução das diretrizes é de 2 anos, de
janeiro de 2006 a dezembro de 2007 e da administração pública municipal de 3 anos, de
janeiro de 2006 a dezembro de 2008.
Ressalta-se que o êxito desta etapa consiste no estudo mais detalhado da
aplicabilidade dos resultados a ser alcançados com a execução de cada meta. O processo de
execução de cada meta deve possibilitar aos seus planejadores e executores parâmetros de
avaliação para toda a estratégia planejada. Cada ação executada deve ser avaliada, tornando-
se referência à solução de problemas que poderão surgir à medida que as demais metas
também vão sendo executadas.
6.1.5 Execução, Controle e Avaliação das Diretrizes e Metas Planejadas.
Como o processo de planejamento de uma estratégia de desenvolvimento
econômico pela base parte da união e cooperação dos agentes sócio-econômicos de uma
localidade, faz-se necessária a existência de uma estrutura organizacional local que tome para
si a responsabilidade pelo início de todo o processo coletivo de planejamento da estratégia.
Em Terra Roxa essa estrutura de apoio inicial foi o “APL de moda bebê de Terra Roxa” a
167
partir do qual nasceram as iniciativas pela busca de parcerias público-privadas que
contribuíram no planejamento da estratégia de desenvolvimento econômico. A execução das
diretrizes e metas de uma estratégia de desenvolvimento econômico demanda certo
contingente de pessoas e de tempo para a sua operacionalização. A delegação de tarefas e de
responsabilidades deve partir do conjunto de atores pertencentes ao contexto sócio-econômico
que arquitetou/planejou a estratégia.
Como a estratégia de desenvolvimento econômico planejada envolve vários
segmentos da sociedade local, propõe-se a criação de um Fórum de Desenvolvimento
Econômico Local multisetorial
38
. Este Fórum de Desenvolvimento Econômico Local será a
entidade responsável pela divisão de tarefas e pelo acompanhamento e avaliação dos
resultados alcançados, o qual dividirá responsabilidades com o Grupo Gestor do APL de
Moda Bebê de Terra Roxa, entidade já constituída e em funcionamento desde o ano de 2004.
A sugestão de criação de um Fórum de Desenvolvimento Econômico Local
se justifica pela idoneidade que o processo de execução da estratégia de desenvolvimento
econômico exige no sentido de não privilegiar um segmento em detrimento de outro(s), até
porque todos os segmentos econômicos locais são essenciais para o êxito de estratégias de
desenvolvimento econômico pela base. O que se propõe é que este Fórum seja o balizador, o
controlador e o avaliador das execuções das diretrizes, dando maior transparência e segurança
ao processo. O objetivo é evitar a “morte prematura” de algumas diretrizes, pela falta de
atenção às diferentes etapas de execução do processo estratégico advindas da
sobrevalorização de uma meta. Assim, acompanhar, avaliar e ajustar essas etapas é
imprescindível para o êxito da estratégia de desenvolvimento econômico planejada.
Outra atribuição deste Fórum será a busca, junto aos órgãos federais e
estaduais, por programas de incentivo ao desenvolvimento econômico local. Essa busca se
38
Este tipo de entidade já é utilizado no Canadá e na França com sucesso (MARTINELLI; JOYAL, 2004).
Também é defendida por Scott (1998 apud SUZIGAN, 2005).
168
justifica pela complementaridade que o poder público pode oferecer no sentido de fortalecer e
potencializar as iniciativas locais. Por mais endógeno que seja o processo de desenvolvimento
econômico de uma localidade (como foi o caso de Terra Roxa até o momento), o
planejamento de uma estratégia de desenvolvimento econômico não pode privar-se da figura
do poder público, uma vez que, “no desenvolvimento local, o Estado tem um papel a
desempenhar” (MARTINELLI; JOYAL, 2004, p. 295) assim, as parceiras técnico-financeiras
institucionalizadas
39
são imprescindíveis para o êxito de estratégias desta natureza.
Outra questão que deve ser considerada pelo Fórum de Desenvolvimento
Econômico Local de Terra Roxa é o planejamento de ações que se enquadrem nas políticas
industriais nacionais e estaduais. As pesquisadoras Souza e Botelho (2000), entre outros
pesquisadores brasileiros
40
, afirmam que o êxito das estratégias de desenvolvimento
econômico local também depende da sua inserção nas linhas de ação das políticas industriais
existentes no país.
As estratégias de desenvolvimento local baseadas na constituição de redes de PEs
são necessariamente de longo prazo e, como tal, têm de estar ancoradas em
estratégias de desenvolvimento global [...] a divisão de responsabilidades entre o
setor público e privado, a definição das instituições de desenvolvimento e difusão
tecnológicas bem como os instrumentos de apoio, a definição do montante de
recursos destinados a essa finalidade são tarefas impossíveis de serem realizadas em
nível regional (SOUZA; BOTELHO, 2000, p. 19).
Assim, se levado em consideração o processo endógeno de desenvolvimento
da base industrial de confecções de roupas infantis de Terra Roxa e o fato desta base ter se
desenvolvido independente da aptidão industrial dos municípios de seu entorno
(especializados em agroindústrias), a estratégia de desenvolvimento econômico planejada
poderá ser inviabilizada pela falta de recursos financeiros. O direcionamento de diretrizes às
39
Estas parcerias possibilitam e facilitam, por exemplo, o acesso da população empresarial local a mecanismos
de transferência de tecnologia, de reeducação e qualificação de mão-de-obra e da instalação de infra-estrutura
adequada a realidade do aglomerado de indústrias. O “APL de Moda Bebê de Terra Roxa” já vem firmando
algumas parcerias com entidades públicas no sentido de ter acesso a essas entidades, contudo o êxito destas
parcerias será potencializado com o “aval” de um Fórum de Desenvolvimento Econômico Local.
40
Como: Amaral Filho (2001); Martinelli e Joyal (2004); Suzigan et al (2003); Suzigan (2005).
169
linhas de ação contempladas por políticas industriais e/ou programas de apoio a este segmento
serão “vitais” à execução das diretrizes planejadas.
6.2 Viabilização da Estratégia de Desenvolvimento Econômico de Terra Roxa
A disponibilidade de recursos financeiros e de órgãos de apoio público-
institucional são fundamentais para o êxito das estratégias de desenvolvimento econômico que
tem como centro nodal MPMEs. Neste sentido, o governo federal institucionalizou alguns
órgãos de qualificação profissional e de fomento
41
que objetivam promover e apoiar
financeira e estruturalmente este segmento de empresas. Como exemplos
42
podem-se citar:
a) programa Verde Amarelo (Universidade-Empresa), advindo do Fundo de
Apoio ao Desenvolvimento Científico do Ministério da Ciência e
Tecnologia;
b) o Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas;
c) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
através da linha “Modernização e Ampliação da Estrutura Produtiva”;
d) os Consórcios Intermunicipais de Segurança Alimentar e
Desenvolvimento local – CONSAD’s
43
;
41
Estes órgãos poderão ser acessados pelos sites: www.mct.gov.br; www.bndes.gov.br; www.senai.org.br e
www.sebrae.org.br
42
Alguns dos exemplos citados foram extraídos de Campos (2004).
43
Segundo Mendonça e Ortega (2005), no quesito desenvolvimento local, o CONSAD’s tem uma formatação
semelhante ao Projeto de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS. Este projeto adveio do
Programa Comunidade Ativa (uma das linhas do Programa Comunidade Solidária, institucionalizado pelo
Governo Fernando Henrique Cardoso no final da década de 1990). Seu objetivo era combater a pobreza
através da indução do DLIS em espaços deprimidos do território nacional, visando a promoção do
desenvolvimento econômico nestes locais em parceria com os governos estaduais e municipais e com o
SEBRAE. É tido como um dos mais significativos e exitosos projetos de desenvolvimento local que o país já
teve (MARTINELLI; JOYAL, 2004; MENDONÇA; ORTEGA, 2005). Maiores detalhes acerca deste projeto,
consultar Franco (2002).
170
e) a Política Nacional de Apoio do Desenvolvimento de Arranjos Produtivos
Locais (APLs)
44
;
f) o SENAI;
g) o SEBRAE.
Em termos de Estado do Paraná, também existem algumas instituições
públicas de apoio técnico
45
, cuja contribuição se dá sob a forma de assessorias e consultorias
especializadas, como o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), a Fundação Araucária e
o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Com
configuração semelhante há também o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade
(IBQP), cuja finalidade é elaborar estudos e programas para o governo estadual, podendo
também prestar serviços às empresas localizadas no Estado (CAMPOS, 2004).
Em termos de programas que provêem incentivos financeiros através do
governo estadual pode-se citar: a) o programa “Bom Emprego” que busca a reativação de
empresas localizadas no Estado ou que venham a se estabelecer, oferecendo como atrativo a
redução do ICMS de 18% para 12%; b) o programa “Barracões Industriais” que repassa
recursos financeiros para a construção de barracões que se transformam em “incubadoras” de
micro e pequenas empresas (esse programa é executado em parceria com as prefeituras
municipais) (op. cit.).
Especificamente para aglomerados de indústrias têxteis, o governo do estado
do Paraná lançou no final de ano de 2005, através das secretarias estaduais do Planejamento,
do Emprego, de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o IPARDES, um programa que
44
A Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais foi incluída como política
de governo no Plano Plurianual 2004-2007 por meio do Programa 1015 – Arranjo Produtivo Local e nos
documentos que tratam de políticas nacionais de desenvolvimento. Para tanto foi institucionalizado em 2004 o
Termo de Referência para Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais.
Esse Termo de Referência constitui-se em uma das linhas de ação da estratégia do Governo Federal para o
desenvolvimento do país. Fazem parte desse Termo de Referência 23 instituições, sendo 11 ministérios e suas
vinculadas, além de instituições não governamentais de abrangência nacional. Mais detalhes acessar o site:
www.desenvolvimento.gov.br.
45
Estas instituições poderão ser acessadas através dos sites: www.tecpar.gov.br; www.parana.gov.br;
www.faraucaria.gov.br; www.ipardes.gov.br.
171
prevê a caracterização de arranjos produtivos industriais no Estado
46
. A finalidade deste
programa é a definição de políticas estaduais de apoio específicas aos arranjos industriais,
entre os quais está o têxtil e o de confecções. Entre as linhas de ação desta política podem-se
citar financiamentos juntos do BNDES e a criação da agência estadual de fomento a APLs.
Como a “espinha dorsal” da estratégia de desenvolvimento econômico local
de Terra Roxa é a consolidação da ampliação da base industrial de confecções de roupas
infantis, propõe-se ao Fórum de Desenvolvimento Econômico Local a elaboração de projetos
que enquadrem as diretrizes traçadas nas linhas de ação das políticas públicas de
desenvolvimento do governo federal e estadual, como os programas citados. Cabe ressaltar
que a base industrial de confecções de roupas infantis de Terra Roxa é uma das selecionadas
para o programa de caracterização de APLs no Estado do Paraná, lhe garantindo, num futuro
próximo acesso direto as vantagens financeiros e de apoio técnico-operacional que o
programa prevê.
46
Mais detalhes acerca deste programa acessar o site: www.redeapl.pr.gov.br.
7 CONCLUSÃO
O objetivo desta pesquisa foi analisar e definir uma estratégia de
desenvolvimento econômico que estimulasse a consolidação da emergência econômica do
município de Terra Roxa – PR.
A análise desenvolvida partiu da premissa teórica de Hirschman que a
industrialização é um processo de encadeamentos produtivos. Esses encadeamentos
promovem uma seqüência de eventos e mudanças estruturais necessárias ao processo de
desenvolvimento econômico.
O método de pesquisa adotado foi a abordagem qualitativa de análise dos
dados. Ele identificou a origem e as causas da emergência econômica de Terra Roxa. Para
tanto, foram utilizadas como técnica de coleta de dados entrevistas semi-estruturadas. Estas
entrevistas foram direcionadas ao grupo de empresários que compõem a base industrial do
Município, estendendo-se também a outros agentes econômicos locais que participaram do
processo de surgimento dessa base.
O estudo de caso revelou que a emergência econômica de Terra Roxa
adveio da base industrial formada por micro, pequenas e médias empresas especializadas no
ramo de confecções de roupas infantis, desenvolvidas a partir de 1995. É esta base industrial
que está estimulando modificações na estrutura econômica do município e promovendo sua
emergência econômica. Assim, a pesquisa de campo confirmou a emergência econômica de
Terra Roxa a partir de um fenômeno local, explicado pela teoria do desenvolvimento
endógeno. A decisão de se investir em confecções de roupas infantis surgiu ao “acaso” e se
proliferou diante da demanda regional existente, da capacidade empreendedora e da vontade
da população local. Esse resultado confirmou a primeira hipótese.
173
A necessidade da indústria pioneira no ramo de confecções infantis de
qualificar a mão-de-obra, a transformou em “empresa-escola”, propiciando o surgimento de
uma nova divisão social do trabalho no município. Através desta especialização um “espírito”
coletivo em aprender tomou conta de alguns empreendedores, desencadeando processos de
interação que incitaram o empreendedorismo local. As incertezas e os conflitos foram
diminuindo ao ponto de possibilitar a essas pessoas a cooperação coletiva e o surgimento da
base industrial local.
Desta forma, tanto o “espírito” inovador quanto o empreendedor, somados à
perseverança da população local, instigaram o surgimento de um meio inovador. Esse meio
inovador foi resultado da capacidade de parte da população local em se mobilizar e se
reestruturar em torno de uma nova atividade produtiva: confeccionar roupas infantis bordadas
em escala industrial. A inovação introduzida pela precursora das indústrias tornou-se num
fenômeno coletivo de estímulo da economia de Terra Roxa, pois as relações empresarias
foram favorecidas pela proximidade geográfica, formas de aprendizagem e de cooperação
coletiva que a própria sociedade local criou.
Outra característica que favoreceu a formação desta base industrial foi a
constituição das empresas que a compõem. Foi comprovado pela pesquisa de campo que essas
indústrias são de MPMEs. Já é amplamente reconhecida a capacidade que aglomerações
industriais formadas por MPMEs têm no processo de crescimento econômico de localidades
deprimidas. Assim, a reestruturação produtiva que esta ocorrendo em Terra Roxa, desde o ano
de 1995, é resultado direto da formação da base industrial de confecções de roupas infantis.
Além dos elementos obtidos, deve-se ressaltar que o crescimento da base
industrial também foi reflexo da expansão do mercado inter-regional. O resultado desse
crescimento melhorou o poder aquisitivo da população empregada (renda) e dos empresários
(lucro) do ramo de confecções infantis. Esse poder aquisitivo gerou o capital necessário aos
174
avanços na estrutura econômica do município, evidenciando o processo de desenvolvimento
endógeno ocorrido, o que confirma a segunda hipótese.
A transformação da estrutura urbano-rural para urbano-industrial, que está
ocorrendo em Terra Roxa, nada mais é do que o reflexo desse início de mudança do perfil
produtivo local, onde se fortalecem as atividades de manufatura e de serviços e se estimula o
crescimento das atividades urbanas secundárias e terciárias. Este resultado comprova os
postulados de Hirschman de que é a partir das mudanças estruturais, resultantes da “revolução
industrial” interna de cada localidade, que o desenvolvimento econômico é alavancado.
Os resultados da pesquisa de campo também possibilitou a identificação de
alguns elementos que podem contribuir na transformação desta base industrial em um Arranjo
Produtivo Local. Estes elementos foram: a) um significativo número de empresas
concentradas num mesmo território e especializadas num ramo específico de atividade; b) a
existência de mão-de-obra local qualificada e reconhecida por esta capacitação; c) a
articulação entre os empresários no sentido de se organizar para superar problemas comuns às
indústrias e para ampliar mercado (o “APL de moda bebê de Terra Roxa” é o resultado desta
articulação); d) a existência de uma comunidade que têm “forte” identificação com o local,
fato que favorece a cooperação, a confiança e a coletividade, elementos importantes na
formação de um APL; e) a existência de um sistema de governança (mesmo que este esteja
ainda em estágio inicial de formação). Estes elementos iniciais permitem o avanço da base
industrial em direção a um APL, usufruindo as vantagens que este tipo de mobilização
produtiva pode trazer, como por exemplo, eficiência coletiva e economia de escala.
A pesquisa de campo apontou ainda que, apesar dos empresários da base
industrial de confecções infantis terem consciência de seu papel no processo de geração de
emprego e renda para a população local, e conseqüente impacto no avanço da economia de
Terra Roxa, eles “sentem” o “peso” da manutenção desta base. O estímulo inicial de
175
sobreviver fez com que estes empresários migrassem de atividade por conta própria, sem a
interferência ou incentivos de apoio financeiro do poder público local. Atualmente, dez anos
após o início desse processo, a falta de infra-estrutura urbana e a dificuldade de acesso aos
órgãos de apoio e de recursos financeiros estão impactando negativamente na consolidação do
setor. Foi diante desta constatação que se propõe o resgate do “espírito empreendedor” que
germinou em Terra Roxa em 1995, para que o mesmo estimule e favoreça as ações coletivas
necessárias ao planejamento estratégico proposto na pesquisa.
A estratégia de desenvolvimento econômico pela base, proposta para Terra
Roxa, tem como centro nodal as ações de consolidação da base industrial de confecções
infantis. Esta base industrial terá como função “guia” estimular uma nova seqüência de
eventos que promoverá as mudanças estruturais necessárias à transformação da economia
local. Como processos dessa natureza requerem articulações estratégicas dos agentes
econômicos públicos e privados para a geração de institucionalidades territoriais que visam à
promoção empresarial e produtiva, o Fórum de Desenvolvimento Econômico Local proposto
na pesquisa deve integrar-se ao “APL de moda bebê de Terra Roxa”, potencializando o
sistema de governança existente e maximizando os resultados da estratégia traçada.
Assim, pode-se traçar três cenários prospectivos para o município de Terra
Roxa:
a) Se as administrações municipais de Terra Roxa não contemplarem a
base industrial de confecções infantis em seus planos de governo, as
indústrias deste ramo terão dificuldades em manter-se no município. A
falta de infra-estrutura urbana e de apoio ao acesso dos órgãos de
fomento e de organizações de apoio a MPMEs dificulta a expansão do
setor, encarecendo o produto final e diminuindo a competitividade das
indústrias. Com este cenário a probabilidade de essas indústrias
176
migrarem para outros municípios que atendam a essas necessidades
aumenta.
b) Com a intervenção do poder público municipal, no sentido de aumentar
a suas receitas e direcioná-las aos “gargalos” detectados por esta
pesquisa, as chances de sobrevivência das indústrias de confecções
infantis aumentam, passando a ser de responsabilidade de seus
empresários canalizarem investimentos na ampliação do seu mercado. A
longo prazo, este tipo de ação irá gerar mais empregos e aumentará a
arrecadação de impostos para o município. Também poderá melhorar a
remuneração dos trabalhadores. A melhora do quadro de salários
acarretará dois benefícios: o primeiro exercerá maior poder de atração de
profissionais para o ramo de confecções; e o segundo, o aumento da
renda desses trabalhadores ampliará o consumo interno e com ele a
expansão do setor terciário local.
c) Há a possibilidade de ocorrerem as mudanças estruturais necessárias
através do poder público, e a classe empresarial não responder a estas
mudanças. Esta situação poderá ocorrer na medida em que essas
indústrias não consigam ampliar seu mercado e/ou minimizar os custos
de produção. Se o produto das indústrias não for competitivo, eles serão
superados por outros que o serão e, neste caso, ocorrerá a estagnação do
setor e até mesmo sua extinção.
Uma das formas de se evitar a estagnação ou a extinção das indústrias de
confecções infantis em Terra Roxa é a concentração destas indústrias, onde as maiores
adquirem as menores e possibilita assim a sobrevivência do setor. Contudo, este cenário
177
poderá gerar desemprego e a ruptura na seqüência de eventos que estão levando ao
desenvolvimento econômico local. A concentração industrial leva a monopolização da
produção, a qual em médio espaço de tempo reorganizará a estrutura funcional das indústrias
e com esta a readequação de seu parque produtivo.
Com a base industrial de confecções infantis consolidada, através da
estratégia de desenvolvimento pela base proposta nesta pesquisa, será possível seu avanço no
sentido de transformar-se num APL. Com a otimização da estrutura industrial de confecções
infantis e a forte identificação social e cultural existente entre empreendedores e trabalhadores
do município, tem-se evidências empíricas suficientes que apontam para a sua transformação
em um APL. Ressalta-se que esta identificação é decorrente de um processo histórico
econômico-social específico, o que reforça sua possibilidade de transformação num APL.
Portanto, a consolidação de base industrial de Terra Roxa depende do êxito
das ações traçadas com a estratégia de desenvolvimento econômico pela base, da visão dos
empreendedores, da iniciativa de seus dirigentes, das parcerias com lideranças públicas locais
e órgãos de fomento e apoio às MPMEs e da utilização de redes de atuação comercial. Será
com o êxito operacional desta coletânea de ações que o município de Terra Roxa consolidará
ao longo do tempo seu desenvolvimento econômico.
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bebê Terra Roxa: a antivocação? In: ENCONTRO DE ECONOMIA PARANAENSE, 4º,
2005, Toledo. Anais ... Toledo, 2005. 1-CD-ROM.
SUZIGAN, W. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense,
1986.
SUZIGAN, W. et al. Sistemas produtivos locais no Estado de São Paulo: o caso da indústria
de calçados de Franca. In: TIRONI, L.F. (Coord.). Industrialização descentralizada:
sistemas industriais locais. Brasília: IPEA, 2001.
187
_____. Sistemas locais de produção: mapeamento, tipologia e sugestões de políticas.
ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 31º, 2003. Porto Seguro. Anais ... Porto
Seguro, 2003.
SUZIGAN, W. Aglomerações industriais; avaliações e sugestões de políticas. [mensagem
pessoal]. Mensagem recebida por ednilse@unioeste.br em 24 de junho de 2005.
TAYLOR, J. S.; BOGDAN, R. Introduction to qualitative research methods: the search
for meanings. 2. ed. New York: John Wiley & Sons, 1984.
TRINTIN, J. G. A experiência paranaense de desenvolvimento. In: ENCONTRO DE
ECONOMIA PARANAENSE, 4º, 2005, Toledo. Anais ... Toledo, 2005. 1-CD-ROM.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo: Atlas, 1987.
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Porto Alegre: FEE/UFRGS, 2001.
VEIGA, J. E. da. A face territorial do desenvolvimento. Interações: Revista Internacional de
Desenvolvimento econômico local, Campo Grande. v. 3, n. 5, p. 5-19. set. 2002.
VICECONTI, P. E. V.; NEVES, S. das. Introdução à economia. 5. ed. São Paulo: Frase
Editora, 2002.
VILLELA, A. V.; SUZIGAN, W. Elementos para discussão de uma política industrial
para o Brasil. Brasilia, DF: IPEA, 1996. (Texto para discussão, 421)
WOORWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T.
T. D. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes,
2000.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2001
YORY, C. M. La planificación estratégica y la participación de los actores sociales locales.
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188
ZAPATA, T. et al. Desenvolvimento econômico local: estratégias e fundamentos
metodológicos. In: SILVIERA, C.M.; COSTA REIS, L. (Orgs.). Desenvolvimento
econômico local: dinâmicas e estratégias. Rio de Janeiro: Comunidade Solidária – Governo
Federal, 2001.
ANEXO A – Roteiro das entrevistas
190
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ, CAMPUS DE TOLEDO.
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO
Roteiro das entrevistas destinadas aos Empresários da base industrial de Terra Roxa
ENTREVISTA REALIZADA EM NOVEMBRO DE 2005 Cód. empresa: 01
NOME EMPRESA: ________________________________________________
ENTREVISTADO: _________________________________________________
CARGO: _________________________________________________________
QUESTÕES:
1) O senhor reside em Terra Roxa há quanto tempo?
2) Quando inaugurou a empresa?
3) Por que o senhor resolveu investir no setor industrial? Mais especificamente em indústrias
de confecções de roupas infantis? (Foi com recursos próprios?)
4) Qual era a sua atividade profissional antes de ingressar neste ramo?
5) O senhor saberia dizer como surgiu a atual base industrial de Terra Roxa? De quem partiu
esta idéia?
6) O surgimento e a expansão destas indústrias foi resultado de alguma política de governo
local? Houve algum incentivo do governo municipal ou estadual?
7) Terra Roxa já possuía alguma experiência industrial antes de 1995?
8) O senhor tem conhecimento se atualmente há algum planejamento do governo local ou
estadual que incentive novas indústrias e/ou a permanência das já existentes em Terra
Roxa?
9) Do seu ponto de vista, qual é o impacto econômico e social destas indústrias para
Terra Roxa?
10) Quais são suas perspectivas de futuro para este negócio?Terra Roxa continua
apresentando condições de manutenção de seu negócio? (se tiver gargalos, explicitar)
11) Algumas empresas estão fazendo parte do “APL de moda bebê de Terra Roxa”. Sua
empresa faz parte desta associação? Por que o senhor se associou?
12) O senhor acredita que o “APL” em parceria com o governo local podem definir
estratégias que se revertam na consolidação do atual parque industrial de Terra Roxa?
Se “sim”, de que maneira? Se “não”, por quê?
191
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ, CAMPUS DE TOLEDO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO
Roteiro da entrevista destinada ao: Prefeito Municipal de Terra Roxa – gestão 05/08
Entrevista realizada em novembro de 2005.
QUESTÕES:
1) Que tipo de indústrias formam a atual base industrial de Terra Roxa e quantas são
atualmente?
2) Qual é o impacto econômico e social destas indústrias para Terra Roxa, em termos de:
arrecadação; representação do PIB; empregos (diretos e indiretos); renda; movimentação
do comércio, etc...;
3) Que fatores o senhor acredita que contribuíram para o surgimento e expansão destas
indústrias?
4) Qual foi o envolvimento do governo municipal neste processo?
5) Hoje, a Prefeitura oferece algum tipo de incentivo para a abertura de novas indústrias
neste ramo e/ou a permanência das existentes?
6) Terra Roxa participa de algum projeto do Governo Estadual ou Federal de apoio a
pequenos municípios? E de apoio aglomerados de MPMEs?
192
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ, CAMPUS DE TOLEDO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO
Roteiro da entrevista destinada ao: Proprietário do escritório contábil mais antigo de
Terra Roxa
Entrevista realizada em novembro de 2005.
QUESTÕES:
1) O senhor reside em Terra Roxa há quanto tempo?
2) O senhor saberia dizer como surgiu a atual base industrial de Terra Roxa? De quem partiu
esta idéia?
3) Terra Roxa já possuía alguma experiência industrial antes de 1995?
4) O senhor tem conhecimento se houve ou há algum planejamento do governo local ou
estadual que incentivou/e novas indústrias e/ou a permanência das já existentes em Terra
Roxa?
5) Do seu ponto de vista, qual foi e esta sendo o impacto econômico e social destas indústrias
para Terra Roxa?
193
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ, CAMPUS DE TOLEDO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO
Roteiro da entrevista destinada ao: Coordenador do “APL DE MODA BEBÊ DE TERRA
ROXA” e ao Consultor do SEBRAE/PR que
acompanha o “APL DE MODA BEBÊ DE TERRA
ROXA”
Entrevista realizada em novembro de 2005.
QUESTÕES:
1) O que é o APL DE MODA BEBÊ DE TERRA ROXA?
2) Por que surgiu o APL DE MODA BEBÊ DE TERRA ROXA?
3) Qual é o objetivo do APL?
4) Quantas empresas fazem parte deste APL?
5) Quais são as metas do APL para a próxima década?
6) Por que o SEBRAE/PR escolheu Terra Roxa como projeto piloto do “Termo de
Referência em Arranjos”?
194
Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária
UNIOESTE/Campus de Toledo.
Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB – 9/924
Willers, Ednilse Maria
W712e Estratégia de desenvolvimento econômico local : o caso do
município de Terra Roxa – PR. / Ednilse Maria Willers. – Toledo, PR : [s. n.],
2006
191 f.
Orientador: Dr. Jandir Ferreira de Lima, PhD.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio) -
Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
Campus de Toledo. Centro de Ciências Sociais Aplicadas
1. Desenvolvimento econômico 2. Desenvolvimento local 3. Economia urbana 4. Industrialização (Economia) 5.
Polos de desenvolvimento 6. Poder local 7. Promoção industrial -Terra Roxa (PR) 8. Terra Roxa (PR) - Aspectos
econômicos I. T
CDD 20. ed. 338.98162
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