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UNIVERSIDADE PAULISTA
ESTRATÉGIA AMBIENTAL E
SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DAS USINAS
PAULISTAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
CLAUDIA FERREIRA BUENO
SÃO PAULO
2008
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CLAUDIA FERREIRA BUENO
ESTRATÉGIA AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE:
UM ESTUDO DAS USINAS PAULISTAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Administração da
Universidade Paulista – UNIP para a
obtenção do título de mestre em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. Ralph Santos da Silva
São Paulo
2008
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Bueno, Claudia Ferreira
Estratégia ambiental e sustentabilidade: um estudo das
usinas paulistas de açúcar e álcool / Claudia Ferreira Bueno. –
São Paulo, 2008.
132 f.:il.
Dissertação (mestrado) Apresentada ao Instituto de
Ciências
Humanas
da Universidade Paulista, São Paulo, 2008.
Área de Concentração: Estratégias organizacionais
Orientação: Prof. Dr. Ralph Santos da Silva”
1. Cana de açúcar. 2. Agroindústria canavieira. 3.
Estratégia. 4. Sustentabilidade ambiental. 5. Capacitação
organizacional. I. Título.
CLAUDIA FERREIRA BUENO
ESTRATÉGIA AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE:
UM ESTUDO DAS USINAS PAULISTAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Administração da
Universidade Paulista – UNIP para a
obtenção do título de mestre em
Administração.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ __/__/___
Prof. Dr. Ralph Santos da Silva
Universidade Paulista – UNIP
_______________________________________________ __/__/___
Prof. Dr. Arnaldo Luiz Ryngelblum
Universidade Paulista – UNIP
_______________________________________________ __/__/___
Prof. Dr. Cláudio Antonio Pinheiro Machado Filho
Universidade de São Paulo - USP
AGRADECIMENTOS
Minha gratidão eterna vai para a minha família - meus pais, Isabel (in memoriam) e
Celso, e meus irmãos, Julio e Marco - pelo constante apoio e carinho, desde
sempre.
Ao meu irmão gêmeo Marco, com quem tenho uma relação especial, obrigada por
ter sido o meu inspirador.
Às minhas cunhadas, Profa. Dra. Cristina Yumie Aoki Inoue e Profa. Sandra
Aparecida Bueno, agradeço pela força e atenção dedicada, também na finalização e
revisão deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Ralph Santos da Silva o meu agradecimento sincero pela criteriosa
orientação.
Ao Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum e Prof. Dr. Marcelo Binder sou muito grata pela
valiosa contribuição na banca de qualificação.
Agradeço também, de forma muito especial, ao Prof. Dr. Jo Chang Jr. e à Profa.
Dra. Suzana Bierrenbach Souza Santos pelo inestimável apoio no processamento e
análise final dos dados.
Ao Jean-Pierre Lavigne agradeço por ter dado o apoio necessário para o início deste
projeto.
Aos meus colegas do mestrado agradeço pela parceria e amizade durante estes
anos que trabalhamos juntos.
Agradeço à CAPES e à Universidade Paulista pela concessão das bolsas de
mestrado que permitiram a conclusão deste trabalho.
Agradeço a Deus que tudo comanda no universo.
RESUMO
No século XXI, a busca da sustentabilidade por meio de um modelo de
desenvolvimento sustentável que seja capaz de assegurar a integridade dos
ecossistemas do planeta para as gerações futuras e de permitir a integridade social
e a continuidade do crescimento econômico, se mostra como grande desafio e
prioridade global. O declínio das reservas petrolíferas e a intensificação das
mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global, a qual tende a ameaçar os
diversos biomas e as condições de vida na Terra, tornam premente a necessidade
de alteração da matriz energética do planeta para uma base apoiada em fontes
renováveis. Atualmente, o etanol de cana-de-açúcar é considerado uma das
alternativas bioenergéticas mais viáveis, sob o ponto de vista ecomico e
ambiental, para responder à necessidade de redução do uso de combustíveis
fósseis e de minimizar os riscos das mudanças climáticas previstas. O Brasil vem se
consolidando como o maior produtor do mundo de etanol derivado da cana-de-
açúcar, tendo como principal lo produtor o estado de São Paulo. O processo de
expansão das atividades desta indústria tende a intensificar as discussões, por
diversos atores, sobre o seu padrão de sustentabilidade ambiental, em função do
potencial aumento das externalidades negativas já geradas por ela, no que diz
respeito aos impactos decorrentes do uso intensivo de recursos naturais, às
queimadas nos canaviais que contribuem para o aquecimento global e às emissões
e descarte de resíduos industriais no meio ambiente natural. É dentro deste
contexto que surge a necessidade de se analisar, mais atentamente, o padrão de
sustentabilidade ambiental desta instria e as suas capacitações para formular e
implementar estratégias ambientais que permitam que ela opere dentro de um
modelo considerado sustentável. Desta forma, objetivando investigar como as
capacitações organizacionais caracterizam a estratégia de sustentabilidade
ambiental adotada pelo setor sucroalcooleiro paulista, esta pesquisa foi
desenvolvida com base no modelo trico da Visão Baseada em Recursos
Naturaisque sugere conexões estratégicas ambientais apoiadas por capacitações e
recursos únicos, os quais podem se tornar valiosos e inimitáveis em uma sociedade
que demanda um meio ambiente natural sustentável. Para o desenvolvimento desta
pesquisa foi adotada a metodologia de estudo descritivo, visando verificar a validade
das proposições do modelo trico acima mencionado no setor sucroalcooleiro
paulista. Contando com a participação de 87 empresas, os resultados da pesquisa
revelaram que as capacidades baseadas na gestão da qualidade orientada ao meio
ambiente natural, em uma visão ambiental estratégica e na pró-atividade ambiental
constituem as capacitações centrais que direcionam as usinas sucroalcooleiras
paulistas para a formulação e implementação de estratégias que podem levar a um
padrão de sustentabilidade ambiental, confirmando parcialmente algumas
proposições da Visão Baseada em Recursos Naturais e contribuindo para uma
nova configuração deste modelo trico. Nesta nova configuração, as estratégias
voltadas para a prevenção da poluição, para a criação de produtos ambientalmente
responsáveis e para a promoção do desenvolvimento sustentável se mostram
integradas e levam à construção de uma estratégia maior voltada para a
sustentabilidade ambiental.
Palavras-chave: Cana-de-açúcar. Agroindústria canavieira. Estratégia.
Sustentabilidade ambiental. Capacitações organizacionais.
ABSTRACT
In the twenty-first century, a major and priority global challenge has been the search
for sustainability through a development model capable of ensuring the integrity of
Earths ecosystems for future generations and allowing social integrity and
continuous economic growth. The decline in oil reserves and the intensification of
climate change caused by global warming, which threatens different biomes and the
conditions for life on Earth, urge human societies to change the global energy matrix
into a renewable resource-based one. Currently, ethanol from sugar cane is
considered one of the most viable bioenergy alternatives, from both an economic and
environmental standpoint, to respond to the need for reducing fossil fuel use and
minimizing the risks of climate change. Brazil has consolidated as the world's largest
producer of sugar cane ethanol, being the state of Sao Paulo its major producer pole.
The expansion of such industry sector tends to intensify the debate on its
environmental sustainability standards due to potential increases in the already
negative externalities generated by it, i.e. the impacts caused by the use of natural
resources such as sugar cane burning emissions leading to global warming and
industrial waste disposal. It is within this context that the need arises to closely
analyze how environmentally sustainable this industry sectors activities are as well
as its capacity to formulate and implement environmental strategies that allow it to
operate within a sustainable model. This study investigated how the organizational
capacity characterizes the environmental sustainable strategies adopted by paulista
alcohol and sugar cane industry. The research has been based on the Natural-
Resource-Based View of the firm theoretical model which suggests strategic
environmental connections supported by unique capabilities and resources that may
become valuable and imperfectly imitative in a society that demands a sustainable
environment. The descriptive study has been chosen as the primary research method
aiming at verifying the validity of the abovementioned proposition in the paulista
alcohol and sugarcane industry. Eighty-seven companies have taken part in the
survey and results revealed that the capabilities based on Total Quality
Environmental Management, on strategic environmental vision and on pro-
environmental activities constitute the core competencies that direct the paulista
alcohol and sugarcane industry to formulate and implement strategies that can lead
to environmental sustainable patterns, partially confirming some Natural-Resource-
Based View of the firm” propositions, and contributing to a new configuration of this
theoretical model. In this new configuration, the prevention of pollution, the creation
of environmentally responsible products and the promotion of sustainable
development strategies are integrated and can lead to the construction of a larger
environmental sustainable strategy.
Keywords: Sugar cane. Sugar cane agroindustry. Sustainability. Environmental
Strategy. Organizational capabilities.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Interconexão entre as estratégias ambientais ........................................... 35
Figura 2: Relações entre as capacitações e as dimensões estratégicas que levam à
estratégia de sustentabilidade ambiental no setor sucroalcooleiro paulista ...... 74
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Modelo prático para análise e formulação da estratégia baseada em
recursos.................................................................................................... 15
Quadro 2: Resumo das estratégias e capacitações ................................................. 38
Quadro 3: Dimensões em que o agroindústria da cana-de-açúcar impacta no meio
ambiente natural....................................................................................... 43
Quadro 4: Relacionamento entre objetivos da pesquisa, proposições, variáveis
principais e questões do instrumento de coleta de dados. ....................... 53
Quadro 5: Formação de construtos e valor do Alfa de Cronbach............................. 60
Quadro 6: Escalas Likert adotadas no questionário ................................................. 80
Quadro 7: Variáveis e modalidades definidoras das classes de respondentes........ 80
Quadro 8: Análise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de
Prevenção da Poluição............................................................................. 84
Quadro 9: Análise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de Produto
Responsável............................................................................................. 91
Quadro 10: Alise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de
Desenvolvimento Sustentável................................................................ 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resultados da alise fatorial................................................................... 63
Tabela 2: Medida de adequabilidade........................................................................ 66
Tabela 3: Principais variáveis ligadas ao fator 1....................................................... 67
Tabela 4: Principais variáveis ligadas ao fator 2....................................................... 71
Tabela 5: Principais variáveis ligadas ao fator 3....................................................... 73
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Freqüência das autuações da CETESB aplicadas às usinas pesquisadas
(2007) ....................................................................................................... 77
Gráfico 2: Número de usinas autuadas por tipo de autuação................................... 78
Gráfico 3: Posicionamento das classes de usinas em relação ao conjunto de
variáveis ................................................................................................... 95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV Avaliação do Ciclo de Vida do Produto
APP Área de Preservação Permanente
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
EUA - Estados Unidos da América
IEA - International Energy Agency
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
ISO International Organization for Standardization
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NRBV- Natural-Resource-Based View of the firm
OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development
ONU - Organização das Nações Unidas
P+L - Produção mais Limpa
RBV - Resource-Based View of the firm
SIAESP Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de São Paulo
SIFAESP - Sindicato da Instria da Fabricação do Álcool no Estado de São Paulo
SMA - Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo
TQEM Total Quality Environmental Management
TQM Total Quality Management
UDOP - União dos Produtores de Bioenergia
UNICA União da Agroindústria Canavieira de São Paulo
WBCSD - World Business Council for Sustainable Development
WCED - World Commission on Environment and Development
WWF - Worldwide Fund for Nature
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1
2. REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 6
2.1. Recursos, capacitações e competências essenciais........................................... 6
2.1.1. Recursos ......................................................................................................... 7
2.1.2. Capacitações.................................................................................................... 8
2.1.3. Competências essenciais ............................................................................... 11
2.1.4. A formulação da estratégia baseada em recursos......................................... 14
2.2. Sustentabilidade ............................................................................................... 17
2.3. A Visão Baseada em Recursos Naturais......................................................... 23
2.3.1. Prevenção da poluição .................................................................................. 24
2.3.1.1. A estratégia de prevenção da poluição e as capacitações.......................... 25
2.3.2. Produto Responsável .................................................................................... 30
2.3.2.1. A estratégia de produto responsável e as capacitações.............................. 32
2.3.3. Desenvolvimento Sustentável........................................................................ 33
2.3.3.1. A estratégia de desenvolvimento sustentável e as capacitações ................ 34
2.3.4. A interconexão entre as estratégias .............................................................. 34
2.4. As capacitações e o meio ambiente natural ..................................................... 40
2.5. O setor sucroalcooleiro e as capacitações ambientais...................................... 41
3. TRABALHO DE PESQUISA DE CAMPO............................................................ 44
3.1. Objetivos da Pesquisa....................................................................................... 44
3.1.1. Objetivo geral.................................................................................................. 44
3.1.2. Objetivos específicos...................................................................................... 44
3.2. Problema de Pesquisa....................................................................................... 45
3.3. Proposições....................................................................................................... 45
3.4. Justificativa ........................................................................................................ 46
3.5. Metodologia...................................................................................................... 48
3.5.1. Tipo de pesquisa ............................................................................................ 48
3.5.2. Procedimento de pesquisa ............................................................................. 49
4. RESULTADOS ..................................................................................................... 57
4.1. Considerações sobre os critérios para avaliação das escalas de mensuração. 58
4.2. Alise Fatorial.................................................................................................. 61
4.2.1. Resultados da alise fatorial......................................................................... 62
4.2.2. Testes de adequabilidade dos dados para utilização da alise fatorial ........ 65
4.2.3. Alise fatorial das variáveis por fator............................................................ 66
4.2.3.1. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 1....................................... 66
4.2.3.2. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 2...................................... 71
4.2.3.3. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 3...................................... 73
4.2.4. Conclusão preliminar da análise fatorial......................................................... 74
4.3. Alise das autuações aplicadas pela CETESB ............................................... 76
4.3.1. Freqüência das autuações aplicadas pela CETESB ...................................... 76
4.4. Alise de correspondência .............................................................................. 78
4.4.1. Resultados da alise de correspondência .................................................... 79
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 96
5.1. Limitações do estudo....................................................................................... 101
5.2. Pesquisas futuras ............................................................................................ 102
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 105
APÊNDICE A Questionário utilizado na coleta de dados da pesquisa ................ 112
ANEXO A - Implementação de programa de Prevenção da Poluição (P2) e Produção
mais Limpa (P+L) - CETESB.................................................................................. 113
ANEXO B - Protocolo Etanol Verde Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo............................................................................................................... 115
1
1. INTRODUÇÃO
A busca da sustentabilidade e a adoção de padrões de desenvolvimento e
consumo capazes de permitir a integridade dos ecossistemas do planeta para as
gerações futuras têm se constituído como grandes desafios do século XXI,
juntamente com a sustentação da integridade social e a continuidade do crescimento
econômico.
Outro desafio está ligado à necessidade de alteração da matriz energética do
planeta para uma base apoiada em fontes renováveis, em função do declínio das
reservas petrolíferas e da intensificação das mudanças climáticas causadas pelo
aquecimento global, decorrente das emissões e poluição geradas pelo homem.
Estas mudanças climáticas têm sido documentadas nos relatórios publicados,
em 1990, 1995, 2001 e, o último, em 2007, pelo IPCC (
Intergovernmental Panel on
Climate Change),
ligado à ONU (Organização das Nações Unidas), grupo que reúne
2.500 cientistas de mais de 130 países para discutir temas relacionados ao clima do
planeta. Estes relatórios vêm alertando sobre o aquecimento global resultante da
atividade humana e a possibilidade de o mesmo causar uma série de mudanças
ambientais impactantes, que tendem a ameaçar os diversos biomas e as condições
de vida no planeta, até 2100.
É dentro deste contexto que o álcool combusvel, ou o etanol, aparece como
uma das alternativas para a crise energética do petróleo e como energia limpae
renovável, capaz de contribuir para a minimização das mudanças climáticas
previstas para o planeta.
O Brasil vem se consolidando como o maior produtor do mundo de etanol
derivado da cana-de-açúcar, em função da grande disponibilidade de terras
agricultáveis, dos seus recursos naturais, das favoráveis condições climáticas e do
domínio das usinas brasileiras sobre as técnicas agrícolas e de industrialização.
Apoiado pelo avanço tecnológico, o país poderá dobrar ou triplicar a produtividade
atual de etanol por hectare, de forma a possibilitar o atendimento ao potencial de
consumo no mercado interno, impulsionado pelo aumento da frota de carros
2
bicombustíveis, e no mercado externo. Cortez (2007) confirma que para substituir
10% da gasolina no mundo seria necessário aumentar a produção nacional atual de
etanol de 20 bilhões de litros para algo em torno de 200 bilhões, até 2025. Isto
demandaria a necessidade de expansão da área cultivada com cana-de-açúcar
para, no mínimo, 21 milhões de hectares e implantação de mais 600 novas usinas,
especialmente na região centro-sul brasileira, o que tende a gerar impactos sociais
e, sobretudo, ambientais no país como um todo.
Se por um lado, o uso de etanol é socialmente aceito e justificado pela
necessidade de minimizar os impactos ambientais decorrentes da queima de
combustíveis fósseis, por outro, há o contrapeso dos impactos da sua produção.
No Brasil, o desenvolvimento da indústria sucroalcooleira tem sido baseado
historicamente na monocultura da cana-de-açúcar e em um modelo de produção
gerador de externalidades negativas que envolvem a prática comum das queimadas
dos canaviais, que contribuem para colocar o país como o 4º. maior poluidor do
mundo em emissões e, contraditoriamente, colaborador do efeito estufa, antes
mesmo da cana ser transformada em energia limpa.
Estas externalidades negativas envolvem também outras ameaças ambientais
decorrentes da utilização intensa de recursos naturais e da degradação dos
mesmos, do uso intensivo de agrotóxicos, da contaminação das águas superficiais e
subterrâneas, da degradação e fragmentação das matas ciliares e do desmatamento
de florestas tropicais e outros ecossistemas.
Segundo Nepstad et al. (2006), parte expressiva do desmatamento na
Amazônia brasileira pode ser explicada pelo fato de pecuaristas e sojicultores do
centro-sul brasileiro terem sido deslocados para aquele bioma em virtude da
expansão dos canaviais que ultrapassaram as fronteiras do estado de São Paulo,
região que concentra 70% da produção nacional de açúcar e álcool.
Esta concentração é devida à presença de uma melhor infra-estrutura no
estado paulista no que diz respeito ao parque industrial, à logística e ao transporte,
em comparação com outras regiões brasileiras (FURTADO, 2007).
3
O conhecimento específico e tácito, e, por isso, de pouca mobilidade, gerado
em torno da indústria sucroalcooleira paulista também tem incentivado a
concentração da produção na região, assim como o processo de pesquisa, inovação
e desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas e industriais. No entanto, esta
concentração vem aumentando, de forma proporcional, os impactos socioambientais
(FURTADO, 2007).
Este processo de expansão da produção agrícola e industrial tende a
intensificar as discussões sobre a sustentabilidade ambiental do setor
sucroalcooleiro. A necessidade de se analisar de forma mais atenta este tema
motivou o desenvolvimento desta pesquisa, considerando que a economia global
necessitará fazer uma transição para um padrão ambientalmente sustentável
(SHRIVASTAVA, 1995) e que o diferencial de uma organização estará centrado nas
suas capacitações de formular e implementar estratégias que permitam que ela
opere dentro deste padrão de sustentabilidade (HART, 1995).
As capacitações são consideradas como a habilidade da empresa de reunir,
integrar e gerenciar os seus grupos de recursos tangíveis e intangíveis, de forma a
permitir que ela enfrente as mudanças institucionais e do ambiente de negócios
(TEECE et al., 1997) com sucesso.
Russo e Fouts (1997) destacam que a abordagem dos recursos para
avaliação das estratégias e políticas ambientais se concentrava basicamente em
análises internas.
Em 1995, Hart expandiu a Visão Baseada em Recursos para incluir as
restrições impostas e as oportunidades oferecidas pelo meio ambiente natural. Nesta
abordagem da Visão Baseada em Recursos Naturais, Hart (1995) sugere conexões
entre as estratégias de prevenção da poluição, produto responsável e
desenvolvimento sustentável, apoiadas pelas capacitações em gestão, relacionais,
inovação e visão de futuro, como elementos centrais que influenciam o
direcionamento das empresas para a sustentabilidade, fazendo-as desenvolver
recursos únicos, os quais podem se tornar valiosos e inimitáveis em uma sociedade
que demanda um ambiente natural mais limpo.
4
Com base no contexto acima apresentado, esta pesquisa busca responder à
seguinte questão:
Como as capacitações organizacionais caracterizam a estratégia de
sustentabilidade ambiental adotada pelo setor sucroalcooleiro paulista?
Para responder ao problema de pesquisa, as seguintes proposições foram
colocadas:
P1. As empresas com capacitação demonstrada em TQM
(Total Quality
Management)
, ou Gerenciamento da Qualidade Total, serão capazes de
acumular os recursos necessários para a prevenção da poluição, mais
rapidamente do que as empresas sem tal capacitação prévia;
P2. A estratégia da prevenção da poluição se moverá, ao longo do tempo, do
âmbito competitivo exclusivamente interno das empresas para uma atividade
externa baseada na legitimidade;
P3. A estratégia de produto ambientalmente responsável tende a tornar-se um
processo orientado para as partes interessadas e legitimado por elas,
considerando a inclusão dos seus interesses durante o desenvolvimento e
planejamento de novos produtos, e indo além da ACV (Avaliação do Ciclo-de-
Vida);
P4. As empresas que têm a capacitação de estabelecer uma visão compartilhada
de futuro comprometida com a responsabilidade socioambiental serão
capazes de acumular os recursos necessários para o desenvolvimento
sustentável mais rapidamente do que as empresas sem tal capacitação
prévia;
P5. As empresas que adotam estratégias de desenvolvimento sustentável podem
adquirir a capacidade de desenvolver novas tecnologias de baixo impacto
ambiental e novas competências ambientais;
5
P6. A estratégia de desenvolvimento sustentável se estenderá além dos limites
da empresa para incluir a colaboração dos públicos interessados, visando
realizar as mudanças tecnológicas de baixo impacto ambiental;
P7. O produto ambientalmente responsável de uma empresa é dependente de
sua capacitação prévia para prevenir a poluição;
P8. O desenvolvimento sustentável é dependente da capacitação de uma
empresa para promover a prevenção da poluição e desenvolver produtos
ambientalmente responsáveis;
P9. A estratégia de produto ambientalmente responsável facilita e acelera o
desenvolvimento da capacitação para a prevenção da poluição e vice-versa,
ou seja, a estratégia de prevenção da poluição também acelera o
desenvolvimento da capacitação para o desenvolvimento de produtos
ambientalmente responsáveis;
P10. A estratégia de desenvolvimento sustentável facilita e acelera o
desenvolvimento das capacitações para a prevenção da poluição e para o
produto responsável e vice-versa, ou seja, as estratégias de prevenção da
poluição e de produto responsável também facilitam e aceleram o
desenvolvimento das capacitações para a promoção do desenvolvimento
sustentável.
Esta pesquisa está estruturada da seguinte forma:
S Levantamento da literatura disponível, no capítulo 2, com o objetivo de fornecer
o arcabouço trico para o desenvolvimento da pesquisa, abrangendo temas
relacionados à Visão Baseada em Recursos, à sustentabilidade e à Visão
Baseada em Recursos Naturais, que introduz a importância das capacitações
no processo de construção da sustentabilidade ambiental;
S Definição do trabalho de campo, no capítulo 3, com apresentação do problema
de pesquisa, objetivos gerais e específicos, proposições, justificativas e a
6
metodologia, baseada em estudo descritivo, o qual abrangeu as usinas de
açúcar e álcool do interior do estado de São Paulo, principal região
sucroalcooleira nacional;
S
No capítulo 4 serão apresentados os resultados e análise dos mesmos,
visando identificar as evidências disponíveis, para responder aos objetivos e às
proposições desta pesquisa, o que dará base para as considerações finais da
dissertação, no capítulo 5.
2
. REFERENCIAL TEÓRICO
A fundamentação trica desta pesquisa aborda temas relevantes para a
estruturação da teia de conceitos que lhe darão suporte, tendo como base a escola
estratégica da Visão Baseada em Recursos” (BARNEY, 1991; GRANT, 1991;
TEECE et al., 1997) e da Visão Baseada em Recursos Naturais” (HART, 1995).
Por meio desta abordagem pretende-se contextualizar o estudo dos recursos,
das capacitações organizacionais e da estratégia ambiental, e abordar como os
temas interagem entre si.
2.1
. Recursos, capacitões e competências essenciais
De acordo com a Visão Baseada em Recursos,
ou Resource Based-View of
the firm
(RBV), os recursos e as capacitações organizacionais são os elementos
considerados centrais na formulação da estratégia de uma empresa (GRANT, 1991)
e são eles que interferem nos níveis do seu sucesso (HARRISON, 2005).
Antes de apresentar o processo pelo qual os recursos e as capacitações
utilizados na formulação da estratégia são capazes de gerar vantagens competitivas
a uma empresa, faz-se necessário destacar os seus conceitos teóricos, conforme
segue.
7
2.1.1. Recursos
Os recursos são considerados como as entradas no processo de produção da
empresa, podendo ser tangíveis e intangíveis (BARNEY, 1991; GRANT, 1991).
Harrison (2005) exemplifica estes recursos, como: (a) financeiros; (b) físicos (plantas
industriais e suas instalações, equipamentos, matérias-primas, produtos ou
serviços); (c) humanos; (d) organizacionais (marca e reputação, patentes, contratos
exclusivos, relacionamentos); (e) conhecimento e aprendizado. Os recursos
tangíveis são, portanto, bens físicos e quantificáveis e os intangíveis bens que se
encontram enraizados na empresa, no seu histórico, nos seus padrões únicos de
rotinas, na sua cultura e nas pessoas que nela trabalham (HITT, 2002).
Barney (1991) sugere que as empresas obtêm vantagens competitivas por
meio da implementação de estratégias que exploram as suas forças internas,
baseadas em seus recursos, as quais possibilitam a neutralização de ameaças
externas visando responder às oportunidades do ambiente. Grant (1991) corrobora e
destaca que os recursos compõem a base da lucratividade corporativa, a partir do
momento em que podem conferir à empresa que os possui vantagens competitivas
sobre os concorrentes e poder de mercado, por meio do levantamento de barreiras à
entrada na instria, as quais se baseiam em economias de escala, eficiência em
custos, patentes, experiência, reputação da marca e em outros recursos intangíveis,
de difícil acesso e caros para aquisição pela concorrência.
Porém, os recursos isoladamente não são capazes de gerar vantagem
competitiva. Hitt (2002) afirma que esta vantagem somente pode ser alcançada por
meio da combinação ímpar de vários recursos que possuem valor estratégico. Este
valor pode ser identificado de acordo com o grau com que os recursos contribuem
para o desenvolvimento de capacitações, competências e vantagens competitivas. É
a combinação exclusiva e a integração dos recursos tangíveis e intangíveis que
levam ao aumento do seu valor estratégico.
A despeito da importância dos recursos tangíveis, os recursos intangíveis
aparecem como a chave para a geração de vantagens competitivas sustentáveis,
pois representam as fontes de capacitações que dão base para o desenvolvimento
8
de competências essenciais, as quais, por sua vez, são as fontes destas vantagens.
Pelo fato de não poderem ser observados e compreendidos com facilidade pela
concorrência, os recursos intangíveis são considerados os de maior confiança das
empresas. A dificuldade de observação e compreensão também dificulta o processo
de aquisição destes recursos no mercado, sua imitação ou substituição pela
concorrência (HITT, 2002).
2.1.2
. Capacitações
As capacitações de uma empresa estão ligadas às atividades que ela pode
desempenhar como o resultado de grupos de recursos trabalhando em conjunto
(GRANT, 1991). Amit e Schoemaker (1993) complementam que as capacitações se
referem à capacidade da organização de empregar recursos, usando processos
organizacionais. Os autores afirmam que elas são baseadas em informações, são
processos tangíveis ou intangíveis específicos da organização e são desenvolvidas
ao longo do tempo, por meio de uma interação complexa entre os recursos
organizacionais. Representam, portanto, a habilidade que a organização tem de
organizar estes recursos, por meio de interações complexas entre eles, para
alcançar uma condição final desejada (HITT, 2002). Elas envolvem também a
habilidade de atingir a cooperação e a coordenação dentro dos grupos de recursos.
Estes padrões complexos de coordenação entre pessoas e entre estas e outros
recursos possibilitam a criação das capacitações e requerem o aprendizado por
meio da repetição, tomando, desta forma, a característica de rotina funcional
(GRANT, 1991).
Teece et al. (1997) afirmam que as rotinas são padrões de interação que
representam soluções bem sucedidas a problemas específicos, os quais fazem parte
de grupos de comportamento. A repetição e a experimentação geram aprendizado e
possibilitam que as tarefas sejam mais bem executadas e de forma mais rápida,
além de proporcionar novas oportunidades de produção. O processo de
aprendizagem envolve habilidades organizacionais e individuais que, juntas,
contribuem para o entendimento e solução de problemas complexos, o que leva a
geração de um novo conhecimento que fará parte de novos padrões de atividades,
novas rotinas ou de uma nova lógica organizacional.
9
Assim, Grant (1991) defende que as capacitações são rotinas que interagem
entre si e integram o grande grupo de rotinas presentes dentro da organização. As
rotinas permitem o desenvolvimento de habilidades individuais, que se constituem,
posteriormente, em experiência. Esta experiência permite que a empresa obtenha
vantagens sobre um novo entrante no mercado, por que está baseada nas rotinas
organizacionais que foram aperfeiçoadas, de forma complexa, ao longo do tempo. E
é esta complexidade que se mostra relevante para a sustentabilidade da vantagem
competitiva (GRANT, 1991).
Teece et al. (1997) complementam que a essência das capacitações e das
competências, tema que será tratado a seguir, está enraizada nos processos
gerenciais e organizacionais (rotinas, padrões de práticas e aprendizado), cujo
conteúdo e oportunidade de gerar vantagens competitivas são formados pelos ativos
da empresa (habilidade tecnológica, propriedade intelectual, ativos complementares,
base de clientes e rede de relacionamentos) e pelas alternativas estratégicas
adotadas por ela. Estes processos explicam a essência das capacitações dinâmicas.
Hitt (2002) destaca que as capacitações estão ligadas ao fluxo e intercâmbio
de informações e conhecimento por meio do capital humano da empresa.
Parte da base integradora dos recursos, conforme defendido por Harrison
(2005), o conhecimento é considerado como o mais importante recurso estratégico
da empresa, por estar incrustado em suas capacidades (GRANT, 1996; HITT, 2002),
ser intangível, não copiável e nem imitável, por não poder ser encontrado pronto no
mercado e não ser facilmente comercializado, em função da sua natureza tácita e
por estar centrado e incorporado em cada indivíduo da organização e nas rotinas
organizacionais (GRANT e BADEN-FULLER, 1995; GRANT, 1996; TEECE, 1998).
É a acumulação do conhecimento tácito e explícito, compreendendo a
informação, tecnologia,
know-how
(saber fazer),
know-who
(saber identificar quem
sabe fazer) e outras habilidades, que possibilita o desenvolvimento das capacitações
(GRANT, 1996; LUNDVALL, 1996).
10
Grant (1996) reforça que o conhecimento tácito é construído a partir da
combinação e recombinação de conhecimentos específicos dos indivíduos da
organização.
Ayuso et al. (2006), referindo-se a Grant (1996) e outros autores, afirmam que
o conhecimento e o aprendizado têm sido amplamente reconhecidos como os
principais fatores que influem na criação das capacitações dinâmicas.
Teece et al. (1997) definem que as capacitações dinâmicas são ativos-chave
da empresa e representam a sua habilidade de analisar o ambiente, avaliar
mercados e competidores e rapidamente construir, adaptar, integrar e reconfigurar
competências internas e externas, antes da concorrência, para enfrentar as
mudanças institucionais e ambientais. Representam também a consolidação do
processo criativo, da implantação, coordenação, integração e da transformação dos
recursos dentro de um contexto.
Hitt (2002) afirma que o desafio da empresa é criar um ambiente que permita
esta combinação de conhecimento entre os diferentes indivíduos para que,
coletivamente, cada funciorio domine a maior quantidade de conhecimento
organizacional possível, o que, conforme Grant (1991), pode levar a integração das
capacitações funcionais individuais. Hitt (2002) também destaca que esta
combinação de conhecimentos entre funcionários pode levar à alavancagem de
recursos intangíveis e à geração de novos conhecimentos, resultando em um
aumento do valor das competências essenciais, por meio do uso adicional.
Grant (1996) complementa que as redes de relacionamento, que vão além
dos limites da organização, possibilitam a criação de mecanismos eficientes para
acessar e integrar novos conhecimentos de forma rápida, o que leva a novas
capacitações dentro da empresa. O autor também coloca que esta capacitação
relacional da empresa é representada pela capacidade que ela tem de criar e manter
relacionamentos com
stakeholders
, sobretudo os
externos, de forma a interagir com
eles visando a cooperação, o aprendizado coletivo e a troca, combinação e
integração de recursos tangíveis, como tecnologia, produtos e serviços, e
intangíveis, como experiências, habilidades e conhecimento.
11
Hasegawa (2005), baseada em seus estudos, afirma que as redes de
relacionamentos podem gerar capacitações científico-tecnológicas, representadas
pela capacidade da empresa de desenvolver novas tecnologias e inovações em
produtos e serviços, assim como pela capacidade de utilizar novos conhecimentos
para adaptar os processos tecnológicos que já domina. Envolve a capacidade de
aprendizado (absorção) da empresa e de aquisição, acumulação e combinação de
novos recursos e capacitações, por meio da integração tecnológica e funcional.
2.1.3
. Competências essenciais
As competências essenciais são atividades que a empresa executa de forma
superior em comparação com a concorrência e adiciona valor a seus bens e serviços
por um longo período de tempo. É desenvolvida apenas a partir de recursos e
capacitações que possuem valor estratégico e o potencial de gerar vantagens
competitivas em áreas que a empresa atua de forma especialmente bem (HITT,
2002).
Para identificar este valor estratégico dos recursos, Barney (1991) propôs um
modelo de análise deles a partir de quatro atributos essenciais: que sejam recursos
de valor, raros, não imitáveis e não substituíveis. O autor detalha esses atributos,
conforme segue:
S
Recurso valioso:
Um recurso só tem valor se este possibilitar que a empresa
formule e implemente estratégias que sejam capazes de otimizar a sua eficácia
e eficiência. Combinado com outros atributos, como ser raro, não imitável e
insubstituível, este recurso de valor deve possibilitar a neutralização de
ameaças à organização e o aumento dos seus resultados na exploração de
oportunidades do mercado, o que pode levar a vantagens competitivas. Para
manter o seu valor, o recurso deve acompanhar a dinâmica do mercado, as
mudanças tecnológicas e da estrutura do setor.
S
Recurso raro:
A raridade do recurso é essencial para manter o seu valor, ou
seja, deve ser de difícil acesso e obtenção pelos concorrentes para que
12
possibilite a implementação de estratégias que possam conferir vantagens
competitivas à organização que o possui.
S
Recurso não imitável:
A dificuldade de se imitar um recurso controlado por
uma organização, em função da complexidade das variáveis que envolvem a
sua aquisição e manutenção e de custos não compensatórios para a
concorrência, complementa os seus atributos de valor e raridade. A
complexidade das variáveis envolve o
background
histórico da empresa (que é
único e exerce impacto significativo nas suas respostas ao ambiente), a
impossibilidade de o recurso e da vantagem competitiva serem totalmente
compreendidos pela concorrência (ambigüidade causal) e a complexidade
social que envolve os relacionamentos internos. Envolve também a reputação
da empresa frente às partes interessadas externas, a cultura organizacional e
faz com que um recurso seja explorado de forma única, dificultando a sua
imitação.
S
Recurso não substituível:
Um critério decisivo para que um recurso seja fonte
de vantagem competitiva é que não haja outros recursos estratégicos
equivalentes, raros e imperfeitamente imitáveis de posse da concorrência ou
potenciais concorrentes. Havendo equivalência, há a possibilidade de
substituição do recurso da empresa, dificultando a criação de vantagens
competitivas sustentáveis para ela, pois as suas estratégias poderão ser
igualmente criadas e implementadas pela concorrência, mesmo que de forma
diferente. Hitt (2002) afirma que quanto mais difícil for a possibilidade de
substituir os recursos e as capacitações, maior é o seu valor estratégico.
Grant (1991) complementa estes atributos dos recursos e das capacitações
com características que ele considera determinantes importantes da sustentabilidade
da vantagem competitiva: a durabilidade, a transparência e a transferência.
A durabilidade dos recursos refere-se à taxa sobre a qual os mesmos e as
capacitações se depreciam ou tornam-se obsoletos. Este fator interfere diretamente
na longevidade da vantagem competitiva da empresa. Fatores como a mudança
tecnológica crescente tende a encurtar cada vez mais a vida útil de ativos e recursos
13
tecnológicos, o que leva à perda de vantagens competitivas de empresas que estão
baseadas neles. No entanto, a reputação corporativa (baseada em responsabilidade
social, responsabilidade frente aos funcionários e solidez financeira) e da marca
(produtos confiáveis) de uma empresa tende a ter uma taxa de depreciação
relativamente mais lenta, quando bem administradas (GRANT, 1991).
A transparência dos recursos está ligada ao quanto os mesmos podem ser
observados, compreendidos e imitados pela concorrência. Grant (1991) afirma que
isto implica quanto pode ser imperfeita a informação no que diz respeito à
compreensão da vantagem competitiva pela concorrência, assim como dos recursos
e capacitações necessários para atingí-la ou imitá-la. A complexidade dos recursos e
capacitações dificulta a sua transparência, permitindo a sustentabilidade da
vantagem competitiva por mais tempo.
Um outro fator que determina a longevidade da vantagem competitiva está
relacionado ao quanto os recursos podem ser transferidos da empresa à
concorrência. Isto significa que quanto menos transferíveis são os recursos de uma
empresa, maiores dificuldades terão os concorrentes de adquirí-los para replicar a
sua vantagem competitiva (GRANT, 1991).
Quanto à questão da replicação, ou imitação, Grant (1991) tamm afirma
que as capacitações que envolvem grupos interativos de recursos mostram-se ainda
mais imóveis do que os próprios recursos. Estes grupos interativos de recursos
somente podem ser transferidos por inteiro. Mesmo assim, a replicação da vantagem
competitiva é incerta, em função da natureza das rotinas organizacionais que
envolvem o conhecimento tácito e o padrão complexo de coordenação de recursos
enraizados nas capacitações.
Concluindo, Grant (1991) confirma que a dificuldade de replicação de
recursos e capacitações, especialmente aqueles baseados em rotinas
organizacionais altamente complexas, limita a possibilidade da concorrência de
imitar o sucesso da empresa que os possui. O estoque de outros recursos e
capacitações permite à empresa se proteger” da imitação da concorrência, pois este
estoque pode oferecer outras vantagens a ela.
14
Hitt (2002) afirma que a partir dos critérios apontados por Barney (1991), as
empresas podem identificar quais de seus recursos e capacitações têm valor
estratégico e, portanto, quais podem constituir as suas competências essenciais. Se
não forem identificados de forma precisa, os recursos e as capacitações escolhidos
pela empresa podem dificultar ou evitar o desenvolvimento de uma competência
essencial, se representarem áreas competitivas nas quais a empresa não atua de
forma superior em relação aos seus concorrentes.
Porém, a tomada de decisões por parte dos administradores quanto à
identificação, desenvolvimento, distribuição e proteção de recursos, capacitações e
competências essenciais para desenvolver vantagens competitivas, tem se tornado
uma tarefa difícil (HITT, 2002).
Visando um modelo prático de análise e formulação da estratégia baseada
em recursos, Grant (1991) propôs um processo composto por cinco estágios,
descritos no quadro 1, conforme será tratado na seqüência.
2.1.4
. A formulação da estratégia baseada em recursos
Grant (1991) defende que a definição do negócio da empresa dentro do que
ela é capaz de fazer, com base em seus recursos e capacitações, permite a
formulação de estratégias mais duráveis para responder a um ambiente externo em
constate mudança. Para este autor, a identificação e classificação dos recursos pela
empresa e a avaliação das suas forças e fraquezas em relação aos concorrentes
representam o primeiro passo para a análise e formulação da estratégia. Faz parte
deste processo também a identificação das oportunidades para melhor utilização
desses recursos.
A estratégia bem sucedida é aquela que explora forças relativas, porém
sempre dentro do escopo de atividades que a organização realmente é capaz de
fazer. Identificar e avaliar as capacitações da empresa e aquelas que são distintas
em relação às capacitações da concorrência surgem como tarefas críticas para a
alta gerência. O processo de identificação pode ser obtido por meio da classificação
15
funcional das atividades da empresa, que deve revelar o que a empresa pode fazer
por meio de seus grupos de recursos integrados. A avaliação das capacitações pode
ser obtida por meio da mesma classificação, porém requer objetividade sobre a
diferenciação delas, inclusive em relação à concorrência (GRANT, 1991).
Quadro 1: Modelo prático para análise e formulação da estratégia baseada em
recursos
Este processo de identificação dos recursos para cada capacitação e
avaliação das mesmas, como o segundo passo para a análise e formulação da
estratégia (GRANT, 1991).
Grant (1991) afirma que os retornos dependem do quanto os recursos e
capacitações são capazes de sustentar a vantagem competitiva da empresa. Estes
retornos estão ligados à durabilidade dos recursos e capacitações, em relação à
manutenção dos seus atributos (valor, raridade, não imitável e não substituível), o
que dificulta o seu processo de desgaste, obsolescência e depreciação. Os retornos
Seleção de uma estratégia que
melhor explore os recursos e
capacitações da empresa
relativamente às oportunidades
externas.
Avaliação do potencial de geração
de resultados dos recursos e
capacitações, no que se refere:
a) Ao seu potencial de gerar
vantagem competitiva;
b) À apropriação de seus retornos.
Identificação das capacitações da
empresa: O que a empresa pode
fazer mais efetivamente do que seus
concorrentes? Identificação das
entradas de recursos para cada
capacitação e da complexidade de
cada capacitação.
Identificação e classificação dos
recursos da empresa. Avaliação das
forças e fraquezas relativas aos
concorrentes. Identificação das
oportunidades para melhor utilização
dos recursos.
Capacitações
Competitiva
Recursos
Estratégia
Identificação das lacunas de
recursos que precisam ser
preenchidas.
Investimento em reposição,
aumento e atualização da base de
recursos da empresa.
Fonte: Grant (1991)
16
dependem também da habilidade da empresa de se apropriar de resultados, como
marcas, patentes, tecnologias e outros direitos de propriedade.
Para Grant (1991), este processo de avaliação do potencial de geração de
resultados dos recursos e capacitações representa o terceiro passo para a alise e
formulação da estratégia.
Grant (1991) tamm destaca que há mercados em que a vantagem
competitiva é insustentável, em função dos recursos requeridos e das capacitações
exigidas. Um exemplo de mercado onde a vantagem competitiva é ausente é o de
commodities,
como é o caso do açúcar e, futuramente, o álcool combustível. Neste
tipo de mercado os preços refletem todas as informações disponíveis, se ajustam
instantaneamente às novas informações e os negociadores apenas podem esperar
retornos normais.
Grant (1991) considera que a escolha de uma estratégia que melhor explore
os recursos e as capacitações da empresa relativamente às oportunidades externas
representa o quarto passo da alise e formulação da estratégia. Isso significa que a
estratégia deve ser formulada em torno dos mais importantes recursos e
capacitações, limitando o escopo estratégico da empresa às atividades que
realmente é capaz de fazer, ou seja, onde possui de fato uma vantagem competitiva.
A identificação das lacunas de recursos que precisam ser preenchidas e o
investimento na reposição, aumento e atualização da base de recursos visando a
criação de vantagens competitivas representam o quinto passo para a análise e
formulação da estratégia (GRANT, 1991).
Grant (1991) afirma que o investimento na atualização do conjunto de
recursos e capacitações possibilita desenvolver uma base, ou estoque, onde os
mesmos são armazenados juntamente com outros ativos da empresa. Este aumento
do estoque de recursos e capacitações pode apoiar e estender a vantagem
competitiva da empresa, assim como ampliar o seu conjunto de oportunidades
estratégicas, possibilitando respostas mais eficientes ao mercado.
17
Este estoque de recursos também possibilita respostas mais rápidas ao
processo de imitação da vantagem competitiva, por meio da criação de novas
vantagens em uma velocidade mais rápida do que aquelas desgastadas pela
concorrência (GRANT, 1991).
Concluindo, Grant (1991) afirma que além do investimento em novos
recursos, a empresa deve atentar para a necessidade de aquisição externa de
recursos complementares, o que pode facilitar o desenvolvimento de vantagens
competitivas futuras.
2.2
. Sustentabilidade
O desenvolvimento industrial dos últimos 200 anos trouxe riqueza e
prosperidade, porém tamm trouxe degradação ambiental ao planeta (Shrivastava,
1995).
Considerando o período após a II Guerra Mundial, os impactos ambientais
associados à produção industrial também se multiplicaram em uma escala global. A
poluição do ar e da água, as emissões tóxicas, os acidentes industriais, a alteração
da atmosfera terrestre, decorrente do uso de combustíveis fósseis, das práticas
agrícolas e do desmatamento, vêm causando mudanças climáticas (HART, 1995), a
deterioração da camada de ozônio, a desertificação e o declínio da biodiversidade,
entre outros problemas ambientais (SHRIVASTAVA, 1995).
Corroborando as afirmações de Hart (1995) e Shrivastava (1995),
especialistas defendem que o meio ambiente natural corre o risco de entrar em
colapso até 2100, em função do nível de degradação mencionado e do uso
insustentável de cerca de 60% de todos os ecossistemas do planeta (WWF, 2006).
O consumo dos recursos naturais em proporção superior à sua capacidade de
renovação e a perda rápida e contínua da biodiversidade, conjuntamente com o
descontrole das emissões que contribuem para o aumento da temperatura da Terra,
tendem a ameaçar as mais diversas formas de vida no planeta (IPCC, 2007).
18
Outro problema que pode impactar ainda mais no meio ambiente natural está
relacionado à expectativa de aumento de população humana, ao longo dos próximos
40 anos, devendo alcançar a ordem entre 10 e 11 bilhões de habitantes, o que
exigirá um aumento da atividade econômica de no mínimo cinco vezes, podendo
chegar a 10 e até 35 vezes, em relação aos níveis atuais, apenas para proporcionar
condições sicas de vida a esta população (HART, 1995; SHRIVASTAVA, 1995),
como acesso à água potável, saneamento básico, eletricidade e sde.
O aumento do nível da produção ecomica, baseado na organização social
atual e na utilização das tecnologias, nas práticas e nos métodos produtivos
existentes, provavelmente não será ambientalmente sustentável, pois tenderá a
gerar um aumento proporcional na utilização de recursos e na geração de resíduos,
além da capacidade de recuperação dos sistemas naturais da Terra, levando a um
aumento proporcional da degradação ambiental (HART, 1995; SHRIVASTAVA,
1995).
Este quadro revela que a economia global necessitará fazer uma transição
para um estado ambientalmente sustentável (SHRIVASTAVA, 1995), por meio da
alteração da natureza da atividade ecomica, sob o risco de provocar danos
irreversíveis aos sistemas ambientais básicos do planeta (HART, 1995) nos
próximos 40 anos.
Este desafio tem motivado iniciativas a partir das diversas partes
interessadas, desde a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Ambiente
Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, que estabeleceu as diretrizes e os
princípios da harmonização do desenvolvimento econômico com a preservação e
conservação da natureza e serviu de base para a incorporação da tese ambientalista
da sustentabilidade pelo
World Commission on Environment and Development
(WCED), no âmbito do qual foi elaborado o Relatório de Brundtland, em 1987. Este
Relatório, que resultou de uma pesquisa realizada entre 1983 e 1987 sobre a
situação da degradação ambiental e econômica do planeta, ressaltou a
incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo vigentes e o
desenvolvimento sustentável, apontando para a necessidade de utilização racional
dos recursos naturais dentro da capacidade de suporte dos ecossistemas.
19
O Relatório de Brundtland serviu de ponto de partida para as discussões que
antecederam a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992, quando foi
consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável como uma diretriz para a
mudança dos rumos do desenvolvimento global. Shrivastava (1995) destaca que
esta conferência, também conhecida como Rio92, fortaleceu o compromisso
internacional para o desenvolvimento ambientalmente sustentável, por meio de
tratados para lidar com a degradação da camada de ozônio, o aquecimento global e
o declínio da biodiversidade global.
Conforme conceituado pelo Relatório Brundtland, o desenvolvimento
sustentável é aquele que atende às necessidades da geração atual, sem
comprometer a possibilidade das futuras gerações de atenderem às suas
necessidadese amplia o conceito como um processo de mudança na qual a
exploração de recursos, a direção de investimentos e desenvolvimento de
tecnologias e a mudança institucional são feitos de forma compatível com as
necessidades presentes, assim como com as necessidades do futuro(WCED,
1987).
O termo desenvolvimento ainda reflete um conceito mais amplo do processo
de mudança, conceituado pelo WCED, que deve gerar transformações com o
objetivo de construir um novo patamar nas relações sociais e de mercado (WBCSD,
2000).
As três dimensões do desenvolvimento sustentável econômica, social e
ambiental foram conceituadas por Elkington (2001) como
Triple Bottom Line,
ou
Teoria dos Três Pilares. Estas dimensões interagem entre si e são como pilares
interdependentes e que se reforçam mutuamente (SEGURA, 1999).
No entanto, a incorporação das três perspectivas na estratégia corporativa
como um processo essencial para a promoção do desenvolvimento sustentável é
complexa. A complexidade é notada a partir da definição sobre o que é
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.
20
Sob o ponto de vista ambiental, Shrivastava (1995) destaca que o conceito de
desenvolvimento sustentável o está livre de falhas, pois, entre outras questões, é
internamente contraditório por buscar a conservação da natureza sem reduzir
significativamente o consumo ou abster-se da expansão tecnológica e econômica.
Corroborando as colocações de Shrivastava (1995), Jennings e Zandbergen
(1995) afirmam que a definição da sustentabilidade defendida pelo WCED, que é a
mais reconhecida e aceita mundialmente, tem sido questionada por defender
objetivos aparentemente irreconciliáveis, por estar desconectada da ecologia natural
e por o possuir objetivos operacionais e guias de ação.
Outro nível de complexidade está relacionado com a visão de
sustentabilidade dos teóricos organizacionais.
Os tricos organizacionais e gerenciais vêem a sustentabilidade como um
subtópico da eficácia organizacional, no nível individual, que envolve inovações
técnicas, práticas específicas, estratégias e a mudança da cultura organizacional,
que pode ampliar a visão em torno do tema dentro da empresa. No outro extremo,
os ecologistas sugerem que as organizações não podem se tornar sustentáveis
individualmente, pois contribuem apenas para o grande sistema em que a
sustentabilidade pode ou não ser atingida, ao passo que as redes regionais de
organizações ou as instrias locais que objetivam melhorias ambientais contribuem
mais para atingí-la (JENNINGS e ZANDBERGEN, 1995).
Jennings e Zandbergen (1995) afirmam que na visão dos ecologistas, a
impossibilidade de as organizações se tornarem sustentáveis individualmente leva a
modelos mais complexos de sustentabilidade, que envolve a responsabilidade
ambiental e inovações tecnológicas ambientais promovidas com a participação dos
clientes e de outras partes interessadas (como organizações privadas e setores).
Egri e Pinfield (1999) sugeriram que a sustentabilidade requer sistemas
organizacionais apropriados dentro de sistemas sociais e ambientais mais amplos,
de forma que cada um contribua para a sustentabilidade. Corroborando as
afirmações destes autores, Jennings e Zandbergen (1995) defendem que a
21
sustentabilidade é um conceito que faz parte de uma teoria mais ampla que aborda
como os sistemas ambientais e sociais devem se relacionar com o objetivo de se
manterem intactos, ao longo do tempo.
Na visão dos institucionalistas, a sustentabilidadeé um termo socialmente
construído, ao longo do tempo, por meio de uma série de etapas progressivas
dependentes dos atores humanos que envolvem as suas políticas e o seu discurso.
As etapas se iniciam por meio do reconhecimento consciente da iia, no caso, da
sustentabilidade, pelas pessoas, em alguma parte de sua vida diária ou em suas
atividades diárias essenciais (JENNINGS e ZANDBERGEN, 1995). A partir daí, há a
habitualização dos comportamentos (ações tornadas habituais, quando adotadas por
um ator ou grupo de atores) e depois a objetificação (processo de generalização do
significado de uma ação ou comportamento) (CLEGG et al., 1999), quando itens e
ações são denominados como sustentáveise outros como insustentáveis
(JENNINGS e ZANDBERGEN, 1995). Após este processo, o conceito é tipificado
(desenvolvimento recíproco de significados ligados aos comportamentos que se
tornaram habituais) (SCHUTZ, 1962 apud CLEGG et al., 1999) e racionalizado, o
que aumenta a probabilidade de que alguns de seus componentes sejam aceitos e
legitimados pela ação na sociedade, incluindo as organizações (JENNINGS e
ZANDBERGEN, 1995).
Shrivastava (1995) afirma que as corporações são operacionalmente
importantes para atingir o desenvolvimento sustentável. Apesar de que as políticas e
os programas dos governos buscam a mitigação dos problemas ambientais, muitos
programas da mesma natureza, assim como muitas atividades econômicas, ocorrem
dentro das organizações. Para este autor, a união de esforços voluntários das
corporações com os esforços governamentais voltados aos problemas ambientais
gerados pela industrialização se mostram essenciais, pois são elas os instrumentos-
chave da produção econômica.
Jennings e Zandbergen (1995) também afirmam que os tricos ambientais
tendem a acreditar na responsabilidade de todos os atores, mais especialmente das
organizações, pois são elas algumas das principais fontes de extração,
22
processamento, consumo e degradação de muitos dos recursos que compõem o
capital natural.
No entanto, Shrivastava (1995) afirma que a academia necessita
compreender melhor o papel que as corporações podem desempenhar no
tratamento dos problemas ambientais e como devem ser reformuladas,
redesenhadas e reestruturadas para minimizar os seus impactos negativos no meio
ambiente natural.
Complementando o pensamento de Shrivastava (1995), Hart (1995) afirma
que, historicamente, a teoria do gerenciamento ignorou as restrições impostas pelo
ambiente natural.
Considerando que a tendência futura é que os negócios sejam cada vez mais
restringidos pelos ecossistemas e dependentes deles, Hart (1995) afirma que as
corporações serão desafiadas a criar novos conceitos de estratégia, e que,
provavelmente, a base para ganhar vantagem competitiva nos próximos anos estará
enraizada em um conjunto de capacitações que possam facilitar a atividade
econômica ambientalmente sustentável e que sejam voltadas para a minimização
dos resíduos e desperdícios para o desenvolvimento de produtos ambientalmente
responsáveis e para a cooperação tecnológica entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento. É de acordo com este conceito que o autor afirma que os
estrategistas e os tricos organizacionais devem começar a compreender como a
visão dos recursos, sob o ponto de vista ambiental, e as capacitações podem
produzir fontes sustentáveis de vantagem competitiva.
Esta visão dos recursos, sob o ponto de vista ambiental, levou Hart (1995) a
desenvolver a Visão Baseada em Recursos Naturais, que é uma teoria de
vantagem competitiva baseada no relacionamento da empresa com o ambiente
natural, tema que será abordado a seguir.
23
2.3. A Vio Baseada em Recursos Naturais
O meio ambiente natural é considerado como o maior ativo da humanidade,
aquele que fornece as condições exigidas para a sustentação da vida no planeta.
Nestas condições estão incluídos: o solo, a água, o ar, o clima, os nutrientes e
demais organismos que constituem o conjunto de recursos naturais físicos e
biológicos indispensáveis para o desempenho do ecossistema.
Os impactos ambientais mencionados anteriormente levam ao confronto entre
a continuidade do desenvolvimento econômico e a do sistema ambiental, sendo que
este último se impõe ao primeiro de forma compulsória, pois é a base essencial do
sistema de vida do planeta, exigindo alternativas dos atuais padrões para adaptá-los
às limitações da natureza (RIBEIRO, 1999).
É dentro deste cenário que os recursos naturais ganham importância
estratégica para as organizações e no qual emerge uma nova abordagem da Visão
Baseada em Recursos” (RBV), que trata o meio ambiente natural a partir de uma
nova perspectiva.
A Visão Baseada em Recursos Naturais, ou
Natural-Resource-Based View
of the firm
(NRBV) foi conceituada por Hart (1995) como uma proposta teórica de
formulação de estratégias baseada nos relacionamentos da organização com o
ambiente natural. Conforme comentado por Sharma e Vredenburg (1998), Hart
defende que a resposta corporativa que remete à proteção ambiental é um
importante domínio competitivo emergente para as empresas e pode ser mais bem
entendido por meio do RBV.
Para Hart (1995) as atividades das organizações serão limitadas pelos
ecossistemas, o que as colocarão em uma posição de depenncia deles. Desta
forma, o diferencial de uma organização estará centrado nas suas capacitações de
formular e implementar estratégias que permitam que ela opere dentro de um padrão
ambientalmente sustentável, por meio da (1) prevenção da poluição, (2) do
desenvolvimento de produtos ambientalmente responsáveis e (3) do
desenvolvimento sustentável, os quais serão destacados a seguir.
24
2.3.1
. Prevenção da poluição
Hart (1995) defende que a estratégia de prevenção da poluição,
diferentemente da estratégia de redução de poluentes, mostra-se como uma
alternativa para a minimização, mudança ou eliminação de emissões e descarte de
efluentes e resíduos no meio ambiente natural durante o processo de manufatura,
por meio da adoção de melhores rotinas e procedimentos de produção, da
substituição de materiais, da reciclagem ou da inovação de processos.
A redução da poluição, que também pode ser conseguida por meio do
controle das emissões e captura, armazenamento e tratamento para posterior
disposição dos efluentes, processo também chamado de
end-of-pipe
ou fim-de-
tubo, mostra-se como uma estratégia que requer equipamentos de controle não
produtivos e caros (HART, 1995).
Hart (1995) afirma que por meio da prevenção da poluição as companhias
podem obter economias em comparação às instalações e operações de controle
fim-de-tubo, e tamm o aumento da produtividade e da eficiência usando métodos
de melhoria contínua focados em objetivos ambientais, que envolvem a minimização
de desperdícios e utilização mais racional dos recursos (entradas), tendo como
resultado custos mais baixos de matérias-primas e de eliminação de resíduos.
Corroborando a colocação de Hart (1995), Porter e Linde (1995) e Young et
al. (2002) afirmam que a estratégia pró-ativa de redução ou eliminação das
emissões, resíduos e efluentes estimula também a inovação para uma produção
mais limpa (P+L), o que abre oportunidades para transformar a poluição em
produtos de valor comercial, além de proporcionar ganho de reputação, legitimidade
e imagem nos mercados. Hart (1995) afirma que, além disso, essa estratégia
também permite a redução de ciclos de tempos, simplificando ou eliminando etapas
desnecessárias em operações de produção. Estes aspectos levam a empresa a
obter vantagens de custos em relação aos seus concorrentes, o que pode resultar
em um maior fluxo de caixa e lucratividade para ela.
25
Entretanto, Aragón-Correa e Rúbio-Lopez (2007) afirmam que a possibilidade
de uma estratégia ambiental pró-ativa, neste caso proposto por Hart (1995), a de
prevenção da poluição, de aumentar o desempenho financeiro de uma empresa
constitui um mito. Estes autores revelam que, mais recentemente, trabalhos que
têm revelado relacionamentos nulos ou negativos entre o progresso corporativo
ambiental e desempenho financeiro.
Apesar das proposições de Hart (1995) e Porter e Linde (1995) e outras
publicações, as quais têm confirmado ligações diretas e indiretas entre estratégias
ambientais pró-ativas e desempenho financeiro, Aragón-Correa e Rúbio-Lopez
(2007) afirmam que se por um lado o progresso ambiental poderá ser
financeiramente favorável para muitas empresas, outras podem ter nenhum
incentivo financeiro para progredir além dos padrões legais. Eles afirmam que do
ponto de vista deles, algumas empresas podem aumentar este desempenho graças
a uma evolução no gerenciamento ambiental, porém outras podem obter
desempenho melhor apenas mantendo as suas atividades dentro dos requisitos
legais mínimos. Os autores defendem que o desempenho financeiro pode depender
de conjunturas internas, como recursos humanos qualificados para atingir altos
padrões de desempenho ambiental, e circunstâncias externas, como a sensibilidade
do negócio às questões e ao progresso ambiental. Estes fatores podem ampliar ou
limitar o potencial de retornos financeiros superiores baseados no progresso
ambiental.
2.3.1.1. A estratégia de prevenção da poluição e as capacitações
A estratégia de prevenção da poluição está baseada na construção de novas
capacitações em produção e operações, sendo intensiva em capital humano. Por
depender da habilidade tácita dos funciorios da empresa, esta estratégia leva ao
desenvolvimento de uma capacitação difícil de ser observada na prática e, por isso,
difícil de ser duplicada rapidamente (HART, 1995).
Hart (1995) afirma que a prevenção da poluição parece ter aspectos análogos
ao Gerenciamento da Qualidade Total, ou TQM.
26
Shrivastava (1995) aborda estes aspectos dentro do tema da sustentabilidade
ambiental e afirma que o Gerenciamento da Qualidade Total Ambiental, ou TQEM,
exige melhorias em cada estágio do projeto e do processo de produção, buscando a
otimização do desempenho ambiental de todo sistema corporativo. Baseada na
avaliação do ciclo-de-vida (ACV), o TQEM busca a identificação e a minimização dos
custos ambientais, desde o desenvolvimento do produto até o seu descarte, ao
mesmo tempo em que busca, de forma contínua, a eficiência produtiva, a redução
de emissões, resíduos, desperdícios e de custos.
Corroborando o que Shrivastava (1995) colocou, Porter e Linde (1995)
afirmam que em sistemas ineficientes muitos custos podem estar inseridos no ciclo-
de-vida dos produtos. A utilização incompleta de materiais e controles de processos
inadequados, a utilização pelos consumidores de produtos que poluem e
desperdiçam energia, assim como o descarte de produtos que contém materiais
reutilizáveis, resulta em desperdícios desnecessários que afetam a produtividade
dos recursos da empresa. Young e Lustosa (2001) também confirmam que o
desperdício de resíduos industriais que geram poluição tende a ser embutido nos
preços dos produtos, fazendo com que as empresas percam a oportunidade de
praticar preços mais baixos, além de arriscarem a sua imagem e reputação no
mercado.
Shrivastava (1995) também chama a atenção para as conseqüências destes
custos inseridos no ciclo-de-vida dos produtos. Segundo ele, os impactos ambientais
de um produto descartado, o pagamento de taxas por danos ao meio ambiente
natural, o aumento da responsabilidade da empresa por estes danos e a
conseqüente perda da qualidade ambiental levam ao aumento do custo do ciclo-de-
vida dos produtos, o que pode impactar nos fluxos de caixa das empresas. Assim,
Shrivastava (1995) defende que as decisões de desenvolvimento de um produto
devem levar em consideração também os custos futuros projetados, os quais podem
ser minimizados com a busca da melhoria contínua da qualidade ambiental, o que,
por sua vez, pode compor a base da vantagem competitiva da empresa.
Hart (1995) complementa que, analogamente ao gerenciamento da qualidade
total, a qual visa eliminar os desperdícios de tempo, esforço ou materiais dos
27
processos produtivos, o TQEM busca a qualidade por meio da redução ou
eliminação da poluição, que é considerada uma forma de desperdício.
Hart (1995) conclui que a estratégia de prevenção da poluição pode ser
facilitada em empresas que possuem processos de gerenciamento da qualidade
bem desenvolvidos, pois é igualmente intensiva em pessoas e requer o seu
envolvimento e esforços para a busca da melhoria contínua dos processos
produtivos. É desta forma que autor defende que este envolvimento das pessoas, as
quais possuem recursos tácitos enraizados e difíceis de ser copiados na prevenção
da poluição, pode proporcionar às empresas a oportunidade de conquistar
vantagens competitivas sustentáveis.
Baseado neste conceito, Hart (1995) propõe que as empresas com
capacitação demonstrada em TQM (habilidades tácitas) serão capazes de acumular
os recursos necessários para a prevenção da poluição, mais rapidamente do que as
empresas sem tal capacitação prévia.
No que diz respeito à eliminação de desperdícios dos processos produtivos,
Porter e Linde (1995), corroborando a afirmação de Hart (1995), complementam que
a utilização mais eficiente das entradas, a eliminação da necessidade de materiais
ambientalmente perigosos e de atividades desnecessárias, assim como a
viabilização econômica de subprodutos, levam ao aumento da produtividade e, em
uma perspectiva de longo prazo, podem levar ao aumento da competitividade da
empresa no mercado.
Esta afirmação de Porter e Linde (1995) está muito próxima do conceito de
ecoeficiência. Internacionalmente reconhecida como a forma por meio do qual os
negócios podem contribuir com a sustentabilidade da sociedade, a ecoeficiência traz
o conceito do desenvolvimento sustentável, que combina os objetivos econômicos
das organizações com a redução progressiva dos impactos ambientais de suas
operações, produtos e serviços (proteção do meio ambiente natural com o aumento
de lucros ou eficiência ambiental com eficiência ecomica), obtida com o uso
racional e eficiente de recursos, matérias-primas e energia (o que pode levar a um
aumento de produtividade e lucratividade), e com a redução dos riscos de acidentes
28
e melhoria da relação da organização com as partes interessadas, por meio da
governança corporativa (WBCSD, 1992).
Aragón-Correa e Rúbio-Lopez (2007) colocam, entretanto, que a geração de
vantagens competitivas por meio de atividades ecoeficientes constitui um mito.
Remetendo a alises anteriores, os autores argumentam que nem sempre as
empresas poluidoras são capazes de reduzir seus impactos ambientais sem perder
a eficiência. Da mesma forma, se a operação de uma empresa produz
externalidades negativas que não são cobertas por ela, a internalização destes
custos pode arriscar a sua lucratividade. Os autores ainda vêem que seria
necessário um passo adicional para garantir que as empresas que promovem
melhorias ambientais sejam também capazes de obter vantagens de custos acima
dos danos ambientais que causam. Concluindo, os autores afirmam que em
mercados nos quais os aspectos ambientais não são incluídos nos preços dos
produtos, as empresas que utilizam materiais (ou recursos) renováveis e aquelas
que usam os não renováveis podem ter taxas similares de eficiência, apesar dos
seus impactos ambientais serem diferentes.
Quanto às partes interessadas externas, Hart (1995) afirma que elas que têm
exigido, cada vez mais, maior transparência das empresas quanto às suas práticas e
operações.
Aragón-Correa e Rúbio-Lopez (2007) destacam que as pessoas interessadas
nos temas ambientais são muitas vezes céticas em relação às declarações das
empresas, em função dos inúmeros desastres ambientais causados pelas atividades
industriais e falta de transparência na comunicação, o que contribui para a falta de
confiança nelas. Os autores sugerem que o caminho para as empresas
conquistarem a confiança dos consumidores seria divulgar informações claras,
precisas e validadas externamente, por meio de selos de conformidade, sobre as
vantagens ambientais dos seus produtos e processos.
A publicação de relatórios e balanços ambientais anuais, a busca e
manutenção da certificação da série ISO 14.000 e de outros códigos voluntários de
conduta ambiental, possibilitam maior transparência das empresas e,
29
conseqüentemente, maior possibilidade de manter a sua legitimidade e reputação
frente às partes interessadas, o que pode contribuir para a sua vantagem
competitiva (HART, 1995).
No entanto, Aran-Correa e Rúbio-Lopez (2007) refutam que os padrões de
certificação de gerenciamento ambiental sejam bases confiáveis de diferenciação.
Eles afirmam que, apesar de pesquisadores sugerirem que as empresas deveriam
usar a certificação ambiental para gerar diferenciação por meio do desenvolvimento
de estratégias ambientais pró-ativas, a pesquisa acadêmica mostra evidências de
que os gerentes das empresas estão mais preocupados em aderir aos protocolos
ambientais do que em atingir os objetivos finais que estão por trás deles. Os autores
revelam que existem empresas certificadas com uma certificação de reconhecimento
internacional - a ISO 14.001 - que, no entanto, não são transparentes em relação ao
seu real desempenho ambiental, fazendo com que a mesma não lhes confira maior
confiabilidade. A falta de exigência da ISO 14.001 quanto à publicação de
informações sobre o desempenho ambiental das empresas certificadas dificulta o
acesso de agentes externos ao conhecimento sobre a evolução do seu impacto no
meio ambiente natural.
A ISO 14.001 indica que as empresas certificadas estão usando um processo
de gerenciamento ambiental consistente, porém não garante um determinado
padrão de desempenho ambiental por o requerer um resultado específico. Esta
certificação requer que as empresas certificadas tenham um sério comprometimento
com os requisitos legais, sem requerer, no entanto, que as empresas estejam
efetivamente em conformidade com as leis ambientais locais. Além disso, estudos
também revelam que não há diferenças estatisticamente significantes entre as
empresas certificadas e aquelas sem certificação, quanto ao nível de emissões, o
que confirma que um processo certificado talvez não tenha uma relação direta com
resultados ambientais diferenciados (ARAGÓN-CORREA e BIO-LOPEZ, 2007).
É importante lembrar que no setor sucroalcooleiro brasileiro, composto por
363 usinas, onde as empresas têm potencial de impactos ambientais por se
utilizarem intensamente de recursos naturais, pelo potencial de gerarem emissões e
resíduos, apenas sete empresas possuem a certificação ISO 14.001 (INMETRO,
30
2007). Este fato pode confirmar os pressupostos de Aragón-Correa e Rúbio-Lopez
(2007) quanto a impossibilidade da ISO 14.001 de gerar resultados diferenciados,
despertando menor interesse no setor em obter esta certificação.
De qualquer forma, Aragón-Correa e Rúbio-Lopez (2007) afirmam que os
padrões ambientais não podem ser rejeitados, pois é melhor ter padrões imprecisos
do que nenhum. No entanto, as empresas comprometidas com melhorias
ambientais precisam buscar padrões exigentes que sejam transparentes para que
sejam capazes de conquistar a confiança dos
stakeholders
. Outro aspecto é a
necessidade da inserção dos custos sociais nos preços dos produtos
ambientalmente não responsáveis (ou com baixo nível de responsabilidade), o que
poderia levar a indicadores de ecoeficiência consistentes e gerar esforços integrados
em torno de políticas sustentáveis, além de também contribuir para a conquista da
confiança dos
stakeholders
(ARAN-CORREA e BIO-LOPEZ, 2007), por meio
da imagem e reputação.
Remetendo a autores que tratam da Teoria Institucional, Hart (1995)
confirma que os efeitos proporcionados pela boa reputação pode diferenciar e
reforçar a posição da empresa no mercado, levando à criação de vantagens
competitivas construídas dentro de um escopo de legitimidade social. Assim, o autor
propõe que a estratégia da prevenção da poluição se moverá, ao longo do tempo, do
âmbito competitivo exclusivamente interno das empresas para uma atividade externa
baseada na legitimidade.
2.3.2
. Produto Responvel
Conforme colocado por Porter e Linde (1995), a poluição muitas vezes revela
falhas no projeto de produto ou no seu processo de produção.
De acordo com o conceito de Hart (1995), a estratégia de produto
ambientalmente responsável, ou apenas, produto responsável, permite que sejam
internalizados os impactos ambientais dos produtos, desde o acesso da matéria-
prima para produzí-los, passando pelos processos de produção, até o seu descarte
no meio ambiente natural, após o seu uso. É uma estratégia que envolve, desta
31
forma, a análise do ciclo de vida do produto” (ACV), que avalia a carga ambiental
criada por um sistema de produto, e a integração dos interesses das partes
interessadas no projeto e desenvolvimento de produto, visando um produto de baixo
impacto ambiental, de fácil compostagem, reuso ou reciclagem no fim de sua vida
útil.
Hart (1995) destaca que, por meio da estratégia de produto responsável as
empresas podem tamm obter vantagens de custos, por meio da minimização do
uso de recursos não renováveis, da minimização do uso de materiais tóxicos e da
utilização de recursos renováveis de acordo com a capacidade de reposição dos
mesmos pelo meio ambiente natural, levando as empresas a saírem de negócios
ambientalmente perigosos, à redução da responsabilidade e ao desenvolvimento de
novos produtos com custos mais baixos de ciclo de vida.
Outra vantagem desta estratégia destacada por Hart (1995) está voltada para
a preempção de competidores. Por meio do envolvimento das partes interessadas-
chave externas nos projetos de produtos responsáveis, as companhias podem
ganhar acesso preferido ou exclusivo a recursos limitados, como matérias-primas,
localização e clientes, ou estabelecer, antes dos competidores, regras, regulamentos
ou padrões adaptados à sua capacidade de operação no mercado, levantando
barreiras contra a concorrência.
Baseadas na pró-atividade, no envolvimento das partes interessadas e no
estabelecimento de padrões, as empresas podem criar uma base para diferenciar os
seus produtos como ecologicamente responsáveis e construir a sua reputação neste
domínio, o que pode levar à preempção dos concorrentes e a vantagens
competitivas (HART, 1995). Além da preempção da concorrência, os atributos
ambientais também possibilitam um aumento da lealdade às marcas da empresa,
permitindo que ela pratique um
overprice
, ou um preço acima,
dos produtos
diferenciados, pelo qual os clientes tendem a pagar (WHETTEN et al., 2002).
No entanto, Aragón-Correa e Rúbio-Lopez (2007) afirmam que a teoria do
comportamento social tem mostrado que um interesse social sincero nem sempre
significa uma inclinação para a ação, especialmente se uma despesa adicional está
32
envolvida. Produtos responsáveis tendem a ser mais caros do que os produtos que
geram poluição, não somente pelas questões colocadas acima, mas também em
função de que nos preços dos produtos poluidores os custos gerados à sociedade
(externalidades negativas) não são internalizados e pela falta de sensibilidade dos
clientes sobre as questões ambientais, tornando-os mais baratos. Além disso, os
autores também afirmam que nem todas as pessoas têm os mesmos interesses em
todos os aspectos da preservação ambiental, pois tendem a se preocupar mais com
as questões relacionadas ao seu próprio bem estar ou da sua comunidade, ou com
as questões que melhor compreendem.
2.3.2.1
. A estratégia de produto responvel e as capacitões
A estratégia de produto responsável implica a habilidade organizacional de
coordenar os grupos funcionais dentro da empresa e de integrar os interesses das
demais partes durante o processo de desenvolvimento do produto. Pressupõe
também que a ACV esteja igualmente integrada nele, abrangendo inclusive a
responsabilidade ambiental de seus fornecedores (HART, 1995).
Hart (1995) complementa que esta integração interna e externa no processo
de desenvolvimento do produto responsável e a habilidade de gerenciar pontos de
vista diferentes e de incorporar novas perspectivas na tomada de decisão pode
proporcionar vantagens competitivas sustentáveis à empresa, por meio da
acumulação de recursos sociais complexos. A integração das partes interessadas
externas também permite que o processo estratégico de desenvolvimento do
produto responsável seja aceito e socialmente legitimado.
Baseado nestes conceitos, Hart (1995) propõe que as empresas com
capacitação para o gerenciamento multifuncional (habilidades socialmente
complexas) serão capazes de acumular os recursos necessários para o
desenvolvimento de produtos responsáveis mais rapidamente do que as empresas
sem tal capacitação prévia. O autor também propõe que a estratégia de produto
responsável tende a tornar-se um processo orientado para as partes interessadas e
legitimado por elas, considerando a inclusão dos seus interesses durante o seu
desenvolvimento, planejamento e indo além da ACV.
33
2.3.3
. Desenvolvimento Sustentável
O desenvolvimento sustentável prevê que o crescimento econômico da
organização ocorra, no longo prazo, sem a degradação ambiental e social do local
onde opera, assim como de outros locais onde mantém operações, seja em outros
municípios, estados ou países, o que proporciona condições para que ela possa
competir nos mercados, no futuro.
Complementando as estratégias de prevenção da poluição, cujo objetivo
principal é de reduzir emissões, e de produto responsável, que visa a seleção de
matérias-primas e sistemas de produtos que minimizem o seu impacto no meio
ambiente natural, Hart (1995) defende que o compromisso das empresas com o
desenvolvimento sustentável, tanto no nível local como global, pode aumentar as
expectativas de obtenção de desempenho futuro em relação aos seus concorrentes,
por meio de ganhos de preço ou da proporção e valorização de seus ativos tangíveis
e intangíveis (
market-to-book ratios
”).
Desta forma, a estratégia de desenvolvimento sustentável implica
investimentos substanciais e o compromisso de longo prazo de desenvolvimento de
mercado. Por outro lado, as empresas (multinacionais ou locais) que buscam lucros
no curto prazo às custas do meio ambiente natural tendem a não conseguir
estabelecer posições de longo prazo nos países em desenvolvimento (HART, 1995),
o que, pode-se considerar, atualmente, que não estabelecerão estas posições
globalmente, pois os mercados tendem a exigir padrões sustentáveis de operação.
Hart (1995) também afirma que o desenvolvimento sustentável,
provavelmente, irá requerer um esforço conjunto e uma visão de longo prazo para
alavancar uma estratégia ambientalmente consciente nos países em
desenvolvimento, que inclui tecnologias de baixo impacto ambiental e produtos
responsáveis, como as bases para o desenvolvimento de mercados e entrada nos
mesmos.
34
2.3.3.1. A estratégia de desenvolvimento sustentável e as capacitões
A estratégia de desenvolvimento sustentável requer de toda organização uma
visão compartilhada do futuro, comprometida com prositos sócio-ambientalmente
responsáveis, que pode incentivar a inovação e a mudança (HART, 1995) em
direção à sustentabilidade. A partir deste princípio, Hart (1995) propõe que as
empresas que têm a capacitação de estabelecer esta visão compartilhada serão
capazes de acumular os recursos necessários (raros e específicos) para o
desenvolvimento sustentável mais rapidamente do que empresa sem tal capacitação
prévia.
Hart (1995) também propõe que as empresas que adotam estratégias de
desenvolvimento sustentável podem adquirir a capacidade de desenvolver novas
tecnologias de baixo impacto ambiental e novas competências ambientais.
Para Hart (1995) o desenvolvimento sustentável requer uma colaboração
mais ampla, como a cooperação tecnológica com governos e outras organizações,
visando aumentar a capacidade para alterar sistemas sociais e técnicos inteiros.
Assim, o autor propõe que a estratégia de desenvolvimento sustentável se
estenderá além dos limites da empresa para incluir a colaboração dos públicos
interessados visando adquirir as capacitações para realizar tais mudanças.
Concluindo, Hart (1995) defende que as três estratégias - prevenção da
poluição, produto responsável e desenvolvimento sustentável - estão enraizadas nos
recursos e nas capacitações internas da empresa, e propõe um modelo conceitual,
no qual elas estão interconectadas entre si, conforme é abordado a seguir.
2.3.4
. A interconexão entre as estratégias
Hart (1995) afirma que as três estratégias associadas com a visão baseada
em recursos naturais da empresa parecem estar interconectadas.
A interconexão consiste em duas dimensões, envolvendo:
35
(a) O Path Dependence entre recursos:
significa que a aquisição de um
certo recurso pode depender de a empresa já ter desenvolvido outros recursos
anteriormente ou que uma determinada capacitação depende da presença
simultânea de outros recursos adquiridos por ela, por meio de uma experiência única
vivida, ao longo de sua história (DIERICKX e COOL, 1989; BARNEY, 1991 apud
HART, 1995, p. 1004).
(b) O Enraizamento de recursos (Embeddedness):
que pode tornar mais
difícil o desenvolvimento de um novo recurso sem a presença de outros recursos na
empresa (HART, 1995).
Baseado nestas dimensões, Hart (1995) propõe interconexões hipotéticas
entre as estratégias ambientais relativas às três dimensões, conforme demonstrado
na figura 1:
Figura 1: Interconeo entre as estratégias ambientais
Fonte: Adaptado de Hart (1995)
Minimização de
emissões, efluentes
e resíduos
Minimização de
emissões, efluentes
e resíduos
Minimização dos
custos do ciclo
-
de
-
vida dos produtos
Minimização dos
custos do ciclo
-
de
-
vida dos produtos
Minimização do
impacto ambiental do
crescimento e
desenvolvimento da
empresa
Minimização do
impacto ambiental do
crescimento e
desenvolvimento da
empresa
As estratégias são
dependentes entre si.
(
path
dependent
)
Prevenção
da poluição
Produtos
limpos
Desenvolvimento
sustentável
Baixos custos
Preempção dos
competidores
Posição futura
As estratégias estão
enraizadas umas nas
outras e se sobrepõem.
(
embedded
)
I N T E R C O N E X Ã O
E S T R A T É G I A S A M B I E N T A I S
36
A dimensão do
path dependence
sugere que uma empresa poderia melhor se
posicionar na adoção de uma estratégia de produto responsável tendo progredido,
anteriormente, na estratégia de prevenção da poluição. Ou seja, não seria possível
diferenciar produtos baseados em atributos ambientais e continuar poluindo, o que
poderia levar à perda de reputação da empresa no mercado. Desta forma, Hart
(1995) propõe que o produto responsável de uma empresa é dependente de sua
capacitação prévia na prevenção da poluição (HART, 1995).
Da mesma forma, a busca da estratégia de desenvolvimento sustentável pela
empresa pode ser dependente da competência demonstrada nas estratégias de
prevenção da poluição e produtos responsáveis. Assim, o desenvolvimento
sustentável é dependente da capacitação de uma empresa em promover a
prevenção da poluição e desenvolver produtos responsáveis (HART, 1995).
A dimensão do enraizamento de recursos sugere que a empresa deve ter
capacitações simultâneas para promover as estratégias em paralelo. Hart (1995)
exemplifica, colocando que uma das maneiras para impedir a poluição é ir além das
mudanças de processo e alterar o projeto de produto. Da mesma forma, a prevenção
da poluição que envolve a eliminação de etapas do processo produtivo, poderia
facilitar e acelerar a adoção da estratégia de produto responsável, o que
possibilitaria uma resposta mais rápida ao mercado. A coordenação e a integração
multifuncional das partes interessadas com o processo de desenvolvimento de
produto responsável tamm poderia contribuir para a redução das emissões. A
partir deste conceito, Hart (1995) proe que a prevenção da poluição está
enraizada dentro do produto responsável. Isto é, uma estratégia de produto
responsável facilita e acelera o desenvolvimento da capacitação na prevenção da
poluição e vice-versa.
Da mesma forma, a visão compartilhada para a busca do desenvolvimento
sustentável poderia ajudar no foco e na aceleração da acumulação de recursos e do
desenvolvimento de capacitações para a promoção da estratégia de prevenção da
poluição e de produto responsável (HART, 1995).
37
Assim, considerando a acumulação simultânea de recursos para todas as três
estratégias, Hart (1995) propõe, finalmente, que a prevenção da poluição e o
produto responsável estão enraizados na estratégia de desenvolvimento
sustentável. Isto é, uma estratégia de desenvolvimento sustentável facilita e acelera
o desenvolvimento das capacitações para a prevenção da poluição e para o produto
responsável e vice-versa.
A partir destes conceitos, foi possível construir um resumo que rne as
estratégias e as capacitações sugeridas pelos autores, conforme segue no quadro 2.
38
Quadro 2: Resumo das estratégias e capacitões
ESTRATEGIA
CAPACITAÇÕES
OBJETIVOS
REQUISITOS / HABILIDADES
. TQM
.TQEM
. Reduzir entradas e desperdícios
. Reduzir ou eliminar a poluição
. Comprometimento da direção da empresa com a
prevenção da poluição (Hart, 1995);
. Envolvimento dos funcionários e esforços para a
busca de melhorias contínuas dos processos
produtivos e qualidade ambiental (Hart, 1995;
Shrivastava, 1995);
. Capital humano para a construção de novas
capacitações em produção e operações (Hart,
1995);
. Realizar ACV (Shrivastava, 1995; Porter e Van der
Linde, 1995).
. Dinâmicas internas
. Desenvolver estratégias ambientais pró-
ativas eficientes (com resultados
ambientais e manutenção de margens e/ou
custos e de acordo com a sensibilidade do
mercado)
. Inovação para P + L.
. Transformar poluição em produtos de
valor comercial
. Comprometimento da direção da empresa com a
prevenção da poluição (Hart, 1995);
. Integração sistemática das dimensões do meio
ambiente natural dentro das áreas funcionais da
empresa (Aragón-Correa e Rúbio-Lopez, 2007).
PREVENÇÃO DA
POLUIÇÃO
. Relacionais
. Legitimar os processos;
. Ganhar imagem e reputação.
. Atender aos requisitos ambientais mínimos legais
e voluntários (Hart, 1995; Aragón-Correa e Rúbio-
Lopez, 2007);
. Buscar padrões exigentes e selos de
conformidade reconhecidos e validados
externamente empresa (Aragón-Correa e Rúbio-
Lopez, 2007);
. Transparência (Hart, 1995; Aragón-Correa e
Rúbio-Lopez, 2007);
. Publicação de balanços sócio-ambientais (Hart,
1995; Aragón-Correa e Rúbio-Lopez, 2007).
39
ESTRATEGIA
CAPACITAÇÕES
OBJETIVOS
REQUISITOS / HABILIDADES
. Gerenciamento
multifuncional
. Acumular os recursos necessários para
desenvolver produtos responsáveis.
. Coordenar os grupos funcionais dentro da
empresa (Hart, 1995);;
. Gerenciar pontos de vista diferentes (Hart, 1995);;
. Incorporar novas perspectivas na tomada de
decisão (Hart, 1995);;
. Integrar a ACV no processo de desenvolvimento
de produto e a responsabilidade ambiental dos
fornecedores (Hart, 1995);.
PRODUTO
RESPONSÁVEL
. Relacionais
. Acumular recursos sociais complexos
para desenvolver produtos responsáveis;
. Legitimar o processo estratégico de
desenvolvimento do produto;
. Ganhar imagem e reputação.
. Integrar os interesses das demais partes
interessadas durante o processo de
desenvolvimento do produto (Hart, 1995);;
. Incorporar novas perspectivas na tomada de
decisão (Hart, 1995);;
. Gerenciar pontos de vista diferentes (Hart, 1995).
. Visão de futuro
comprometida com a
responsabilidade
socioambiental.
. Acumular os recursos necessários para o
desenvolvimento sustentável;
. Incentivar a inovação e a mudança em
direção à sustentabilidade;
. Adquirir a capacidade de desenvolver
novas tecnologias de baixo impacto
ambiental e novas competências
ambientais;
. Progresso ambiental.
. Estabelecer e compartilhar uma visão de futuro
comprometida com a responsabilidade
socioambiental (Hart, 1995);
. Aprendizado por meio de novas experiências e
utilização do mesmo para melhorias e inovações.
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
. Relacionais
. Aumentar a capacidade para alterar
sistemas sociais e técnicos inteiros.
. Incluir a colaboração dos PIs para realizar
mudanças (Hart, 1995);
. Cooperação tecnológica com governos, empresas
de pesquisa tecnológica ambiental, universidades e
demais partes interessadas (Hart, 1995).
Fonte: Elaborado pela autora
40
2.4. As capacitões e o meio ambiente natural
O estudo de Hart (1995) defende que estratégias ambientais inovadoras
podem levar ao desenvolvimento de capacitações organizacionais específicas, as
quais podem se tornar fontes de vantagens competitivas para as empresas
(SHARMA e VREDENBURG, 1998; ARAGÓN-CORREA e RUBIO-LÓPEZ, 2007).
No entanto, Sharma e Vredenburg, (1998) afirmam que estes argumentos
ligando as capacitações organizacionais e a responsividade ambiental são tricos.
Aragón-Correa e Rubio-pez (2007) também chamam a atenção para este aspecto
e afirmam que as práticas ecoeficientes são geralmente definidas como qualquer
uma que simultaneamente reduz custos e melhora o meio ambiente natural. Os
autores afirmam que seria necessário definir, de forma mais ampla, o que tais
práticas deveriam incluir, para que fosse possível diferenciar uma capacitação
específica da função ambiental e uma capacitação dimica, que pode ser um meio
para integrar sistematicamente as demandas de uma empresa e o meio ambiente
natural.
Sharma e Vredenburg (1998) afirmam que na falta de evidências empíricas
capazes de explicar os relacionamentos entre as capacitações e a responsividade
ambiental, os modelos de custo-benefício são predominantes e influenciam os
gerentes corporativos a fazer investimentos limitados apenas às práticas ambientais
capazes de trazer resultados monetários tangíveis dentro de um determinado tempo.
Aragón-Correa e Rubio-pez (2007) também afirmam que esta atitude caracteriza
medidas ambientais isoladas e comportamentos limitados de ecoeficiência. Os
autores defendem que uma abordagem mais ampla e sistemática da ecoeficiência
dentro da empresa pode produzir efeitos mais dimicos no desempenho ambiental
do que simples estratégias ecoeficientes, as quais são geralmente implementadas
(ARAN-CORREA e RUBIO-LÓPEZ, 2007).
Sharma e Vredenburg, (1998) propõem a necessidade de examinar as
ligações entre as estratégias ambientais e o desenvolvimento de capacitações,
assim como a ligação entre as estratégias ambientais responsivas e o surgimento
das capacitações organizacionais.
41
Estas constatações abrem a oportunidade para o direcionamento desta
pesquisa, conforme será descrito a seguir.
É importante ressaltar que a geração de vantagens competitivas pelas
estratégias ambientais, conforme proposto por Hart (1995), Porter e Linde (1995) e
demais autores, não será investigada nesta pesquisa considerando que uma
estratégia ambiental efetiva pode ou não afetar positivamente o desempenho
financeiro de uma empresa (ARAGÓN-CORREA e RUBIO-LÓPEZ, 2007) ou trazer
outros benefícios competitivos.
2.5
. O setor sucroalcooleiro e as capacitações ambientais
Hart (1995) e Shrivastava (1995) afirmam que para suprir a população
mundial que tende a crescer seria necessário aumentar a atividade produtiva de
forma mais rápida do que a capacidade própria de recuperação dos recursos
naturais do ecossistema. Esse processo tende a levar à exaustão destes recursos,
incluindo a água e a terra, considerando os padrões atuais insustentáveis de
utilização deles e as tecnologias de produção disponíveis, gerando um
trade-off
1
entre os mesmos e o crescimento econômico.
Assim, o desenvolvimento de capacitações tecnológicas e de processos que
permitem a adoção de modelos de produção dentro de padrões sustentáveis e a
gestão da sustentabilidade, tendem a criar condições mais adequadas para as
empresas que querem continuar acessando os mercados (GAVRONSKI, 2003).
Para Gavronski (2004) a curva do
trade-off
entre crescimento econômico e
recursos naturais deverá ser alterada no Brasil para que o país possa manter a sua
competitividade nos mercados e garantir o desenvolvimento sustentável. Ele
considera que o mapeamento dos recursos e das capacitações das empresas
1
Cordeiro (1994) afirma que
trade-off
exprime a idéia de que, para se obter algo que se deseja, é
necessário sacrificar ou abrir mão de alguma coisa que se tem.O autor sugere que as empresas
devem buscar o equilíbrio do
trade-off
. No contexto abordado por Hart (1995) e Shrivastava (1995),
o equilíbrio do
trade-off
poderia ser obtido a partir do aumento da atividade produtiva, para suprir a
população mundial em crescimento, porém sem onerar demasiadamente o meio ambiente natural e
sem exaurir os seus recursos naturais.
42
brasileiras é essencial para que seja possível avaliar as condições do país de
competir no mundo globalizado, sem exaurir os seus recursos naturais.
O caso brasileiro chama atenção, a partir do momento em que o país se
mantém como um importante fornecedor de
commodities
agrícolas para o mundo
2
, o
que demanda a utilização intensa de recursos naturais.
Considerando que a agricultura, por estar altamente disseminada no espaço
geográfico brasileiro, tem grande responsabilidade na conservação dos recursos
naturais, torna-se essencial o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam a
conservação da água, das florestas, da biodiversidade e da fertilidade natural das
terras (CONTINI et al., 2006).
O Brasil é considerado o país com o maior potencial do mundo para a
produção de biocombustíveis, nos quais se enquadram o etanol de cana-de-açúcar
e o biodiesel derivado de oleaginosas (IEA/OECD, 2006).
A decisão da OMC de proibir os subsídios ao açúcar europeu e o interesse
dos mercados dos EUA, Japão e Europa por biocombustíveis tendem a incentivar as
mudanças e a expansão que vêm ocorrendo no setor sucroalcooleiro brasileiro.
No entanto, corroborando a colocação de Gavronski (2004), Contini et al.
(2006) consideram que há a necessidade de se promover melhorias tecnológicas e
de infra-estrutura no Brasil, para a utilização sustentável dos recursos naturais, não
só da terra, mas também da água, sob o risco de se atingir um nível de escassez tal
capaz de reduzir as áreas agricultáveis irrigadas, o que ameaçará o
desenvolvimento do agronegócio brasileiro e a segurança alimentar do país.
Conforme informações baseadas em protocolos da SMA - Secretaria de Meio
Ambiente do Estado de São Paulo e da CETESB Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental, empresa governamental voltada para o controle da poluição
2
O Brasil é líder mundial na produção de açúcar, café e suco de laranja e ocupa o 2. lugar na
produção de carnes (bovina) e soja (grãos). Nas exportações, o Brasil lidera o ranking mundial dos
mesmos produtos em que lidera na produção, mas também de carnes (bovina e aves), ficando com o
2º.lugar no caso da soja (grãos, farelo e óleo) (MAPA, 2006).
43
e promoção da melhoria da qualidade do meio ambiente natural no estado de São
Paulo, ligada à SMA, as dimensões em que a agroindústria da cana-de-açúcar mais
substancialmente impacta no meio ambiente natural e as ações necessárias podem
ser verificadas no quadro 3.
Quadro 3: Dimensões em que o agroindústria da cana-de-úcar impacta no
meio ambiente natural
ÁREAS
NECESSIDADE
1. APPs ( Áreas de Preservação
Permanente)
Preservação
2. Matas ciliares
Recuperação, proteção e preservação.
3. Solo
Recuperação de solo contaminado,
prevenção de contaminação e
conservação.
4. Águas (subterrâneas, rios, córregos)
. Recuperação de águas contaminadas,
prevenção de contaminação e
conservação.
. Proteção das nascentes de água das
áreas rurais do empreendimento
canavieiro, recuperando a vegetação
ao seu redor.
5. Riscos de acidentes ambientais
Redução
6. Resíduos
. Redução
. Reciclagem e o reuso adequado dos
resíduos gerados (vinhaça, torta de
filtro, cinzas das caldeiras e a fuligem
da combustão do bagaço da cana).
7. Emissões
. Redução e eliminação das queimadas
e da poluição atmosférica (particulados)
8. Agrotóxicos
. Minimização de embalagens de
agrotóxicos e boas práticas de descarte
das mesmas
Fonte: CETESB (2002) e SMA (2007).
Estas dimensões estão incorporadas no trabalho dos dois órgãos
mencionados, para controlar a atuação das empresas do setor sucroalcooleiro
paulista, no que diz respeito à promoção da melhoria da qualidade do meio ambiente
no Estado de São Paulo.
44
Conforme adotado por Sharma e Vredenburg (1998), em seu estudo baseado
em recursos, capacitações e responsabilidade ambiental da instria petrolífera
canadense, estas dimensões específicas do setor sucroalcooleiros foram
incorporadas nesta pesquisa, visando complementar e ampliar as dimensões de
sustentabilidade apontadas pelos autores já contemplados, anteriormente.
Com base neste arcabouço teórico, foi possível traçar o plano de trabalho de
pesquisa de campo, que é tratado a seguir.
3
. TRABALHO DE PESQUISA DE CAMPO
3.1. Objetivos da Pesquisa
3.1.1. Objetivo geral
O objetivo geral desta pesquisa é de estudar e analisar as relações entre as
estratégias ambientais e as capacitações organizacionais nas usinas paulistas de
açúcar e álcool, visando à promoção da sustentabilidade ambiental.
3.1.2. Objetivos específicos
1. Identificar as estratégias ambientais adotadas pelas usinas de açúcar e álcool
que correspondam às estratégias de prevenção da poluição, produto
responsável e de desenvolvimento sustentável;
2. Verificar se as estratégias ambientais adotadas pelas usinas são
influenciadas por seus recursos e capacitações organizacionais;
3. Buscar se as relações entre as capacitações organizacionais e as estratégias
ambientais adotadas pelas usinas levam a construção de uma estratégia
voltada para a sustentabilidade ambiental;
4. Buscar a existência de ligações entre as estratégias ambientais.
45
3.2. Problema de Pesquisa
Considerando o atual modelo de desenvolvimento do setor sucroalcooleiro, o
problema de pesquisa foi formulado, conforme a seguinte questão:
Como as capacitações organizacionais caracterizam a estratégia de
sustentabilidade ambiental adotada pelo setor sucroalcooleiro paulista?
3.3. Proposições
Para responder ao problema de pesquisa, as seguintes proposições foram
colocadas:
P1. As empresas com capacitação demonstrada em TQM
(Total Quality
Management)
, ou Gerenciamento da Qualidade Total, serão capazes de
acumular os recursos necessários para a prevenção da poluição mais
rapidamente do que as empresas sem tal capacitação prévia;
P2. A estratégia da prevenção da poluição se moverá, ao longo do tempo, do
âmbito competitivo exclusivamente interno das empresas para uma
atividade externa baseada na legitimidade;
P3. A estratégia de produto responsável tende a tornar-se um processo
orientado para as partes interessadas e legitimado por elas, considerando
a inclusão dos seus interesses durante o seu desenvolvimento,
planejamento e indo além da ACV;
P4. As empresas que têm a capacitação de estabelecer uma visão
compartilhada de futuro comprometida com a responsabilidade
socioambiental serão capazes de acumular os recursos necessários para
o desenvolvimento sustentável mais rapidamente do que as empresas
sem tal capacitação prévia;
46
P5. As empresas que adotam estratégias de desenvolvimento sustentável
podem adquirir a capacidade de desenvolver novas tecnologias de baixo
impacto ambiental e novas competências ambientais;
P6. A estratégia de desenvolvimento sustentável se estenderá além dos
limites da empresa para incluir a colaboração dos públicos interessados,
visando realizar tais mudanças tecnológicas;
P7. O produto responsável de uma empresa é dependente de sua capacitação
prévia na prevenção da poluição;
P8. O desenvolvimento sustentável é dependente da capacitação de uma
empresa em promover a prevenção da poluição e desenvolver produtos
responsáveis;
P9. A estratégia de produto responsável facilita e acelera o desenvolvimento
da capacitação na prevenção da poluição e vice-versa;
P10. A estratégia de desenvolvimento sustentável facilita e acelera o
desenvolvimento das capacitações para a prevenção da poluição e para o
produto responsável e vice-versa.
3.4. Justificativa
A crise do petróleo e as mudanças climáticas que vêm ocorrendo no planeta
apontam para a necessidade de se encontrar alternativas energéticas baseadas em
fontes renováveis.
Cortez et al. (2003) afirmam que o uso do etanol de biomassa, também
chamado de bioetanol, como substituto à gasolina, se mostra como uma das
alternativas mais atrativas e exeqüíveis, no curto e médio prazo, para lidar com o
aquecimento global e atender à necessidade de redução do uso de combustíveis
fósseis. Na medida em que as preocupações com o meio ambiente natural crescem,
47
muitos países, como o Brasil, estão tamm aumentando os seus esforços para
consolidar os processos de produção e o fornecimento de bioetanol.
Apesar de o potencial que o bioetanol tem de melhorar os padrões de
sustentabilidade ambiental, o etanol brasileiro ainda não está livre de gerar
externalidades negativas, levantando o questionamento sobre a possibilidade, ou
não, de o produto ser produzido em larga escala de forma sustentável (CORTEZ et
al., 2003).
O debate sobre a sustentabilidade do etanol brasileiro já vem sendo ampliado
por diversos atores, incluindo governos, agências de pesquisa e tecnologia,
universidades nacionais e internacionais, associações do setor, organizações
privadas e não governamentais, entre outros. Este debate visa responder às
questões sobre a necessidade de se aumentar a oferta do produto final para o
abastecimento do mercado interno e os impactos que este aumento gera na
qualidade socioambiental do estado de São Paulo. A necessidade de minimizar as
barreiras sócio-ambientais que podem surgir contra as exportações do etanol, frente
a um modelo de produção adotado pelo setor sucroalcooleiro que ainda não é
ambientalmente sustentável, também está inserida nesta discussão.
É dentro deste contexto que a capacidade, ou as capacitações, de incorporar
os aspectos ambientais na definição da estratégia, na operação do negócio e nas
interações com as partes interessadas, surge como um desafio para a expansão e
crescimento sustentável do setor sucroalcooleiro.
Hart (1995) defende que uma das mais importantes forças propulsoras do
desenvolvimento de novos recursos e capacitações nas empresas serão as
restrições e os desafios impostos pelo ambiente natural. Porter e Linde (1995)
complementam que o mundo está se movendo rapidamente em direção à
valorização de produtos que poluam menos e sejam, sob o ponto de vista da
energia, eficientes, o que abre oportunidades para conquistar novos segmentos de
mercado. Dentro da mesma linha de raciocínio, Hart (1995) defende que a
sociedade industrial evoluirá para um padrão em que a sustentabilidade será a
norma a ser seguida e que os recursos tecnológicos, organizacionais e humanos
48
direcionados para atingir os objetivos ambientais da empresa serão ainda mais
valorizados. Teece et al. (1997) corroboram que se os recursos tecnológicos,
organizacionais e humanos forem bem explorados, poderão gerar capacitações
dinâmicas não facilmente duplicáveis pelos concorrentes.
Hart (1995) afirma que, historicamente, a teoria do gerenciamento ignorou as
restrições impostas pelo meio ambiente natural. Por isso, propôs um modelo de
interconexão de estratégias ambientais, baseadas em recursos tangíveis e
intangíveis e no desenvolvimento de novas capacitações no nível tecnológico,
humano e relacional para compor o relacionamento da empresa com o ambiente
natural e com o mercado globalizado.
Considerando que existem poucos trabalhos na literatura acadêmica e
pesquisas nacionais e internacionais que relacionam as capacitações com a
construção de estratégias visando a sustentabilidade ambiental, abre-se a
oportunidade de testar o modelo de Hart (1995) nas usinas paulistas de açúcar e
álcool, visto que possuem potencial para desempenhar um importante papel na
construção da sustentabilidade energética e ambiental do planeta.
3.5. Metodologia
3.5.1. Tipo de pesquisa
Esta pesquisa tem caráter descritivo. Conforme colocado por Cooper e
Schindler (2003), o estudo descritivo é utilizado quando o pesquisador tenta
descrever um assunto, criando um perfil de um grupo de pessoas, eventos ou
problemas. Estes estudos podem envolver a relação da interação de duas ou mais
variáveis e gerar inferências significativas.
O estudo descritivo permite descrever fenômenos ou características
associadas com a população-alvo, estimar proporções de uma população que tenha
estas características e descobrir associações entre as diferentes variáveis
(COOPER E SCHINDLER, 2003), mostrando adequação para responder ao
problema desta pesquisa e investigar o modelo de Hart (1995).
49
Para o desenvolvimento desta pesquisa será adotada a abordagem de
comunicação, por meio da condução de uma
survey
, ou pesquisa de opinião, que
será tratada adiante.
3.5.2
. Procedimento de pesquisa
Foi adotado um procedimento que baliza a condução da pesquisa, contendo
as etapas de desenvolvimento da mesma, instrumentos de coleta de dados e as
regras gerais seguidas, com o objetivo de conferir confiabilidade e qualidade ao
estudo, que é descrito a seguir.
3.5.2.1 Propósito
Levantar como as capacitações organizacionais se relacionam com as
estratégias ambientais adotadas pelas usinas paulistas de açúcar e álcool e as
caracterizam, visando à sustentabilidade ambiental, de acordo com o modelo
proposto por Hart (1995).
3.5.2.2 Organização do plano
A coleta de dados foi realizada nas usinas de açúcar e álcool do interior do
estado de São Paulo, região responsável por 70% da produção canavieira do país
(DIEESE, 2007) e incluiu as etapas descritas a seguir.
3.5.2.2.1 Levantamento das empresas pesquisadas
Foram levantadas as identidades das usinas de açúcar e álcool instaladas no
estado de São Paulo junto às seguintes fontes:
S SIAESP Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de São Paulo - e ao
SIFAESP - Sindicato da Instria da Fabricação do Álcool no Estado de São
Paulo ambos representantes dos interesses gerais de sua categoria
econômica e dos interesses individuais das unidades produtoras associadas;
50
S
UNICA União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, que representa mais
de 100 unidades produtoras (associadas) agrupadas nos dois sindicatos da
categoria (Siaesp e Sifaesp);
S
UDOP - União dos Produtores de Bioenergia, que representa as usinas de
açúcar e álcool (associadas) e produtores de biodiesel da região centro-sul
brasileira;
S
Foram realizados levantamentos de usinas de açúcar e álcool também junto ao
Anuário da Cana 2007, volume específico da região centro-sul brasileira,
publicado pela organização privada Procana, especializada no setor.
Este levantamento revelou a existência de 180 usinas de açúcar e álcool no
estado de São Paulo (safra 2006/2007).
Em função de que dentre estas 180 usinas de açúcar e álcool existem
unidades produtoras que pertencem a corporações sucroalcooleiras, houve a
preocupação de se considerar, prioritariamente, as matrizes, ou as unidades
corporativas dos mesmos, e se excluir as filiais. Este procedimento foi adotado
visando evitar replicação de respostas, considerando que nos grupos
sucroalcooleiros a política gerencial e a gestão das diversas áreas, incluindo a
ambiental, são definidos pela alta gestão das matrizes e seguidos pelas filiais. Isto
resultou na exclusão de 36 usinas filiais da lista de empresas que seriam abordadas
para participação na pesquisa.
No entanto, durante o processo de abordagem de algumas usinas, mais
especificamente, de 9 empresas, descobriu-se que as mesmas pertenciam a
determinados grupos, cujas matrizes já haviam sido abordadas e/ou já haviam
respondido à pesquisa. Esta descoberta revelou a velocidade com que vem
ocorrendo a concentração do setor sucroalcooleiro paulista, envolvendo fusões e
parcerias entre usinas, entre grupos, e incorporações de pequenas e médias usinas
por grandes grupos sucroalcooleiros.
51
Pelo fato de que algumas destas usinas ainda mantinham gestão ambiental
própria e por terem aceitado participar da pesquisa, os questionários respondidos
por elas foram considerados válidos.
3.5.2.2.2 Definição do método de amostragem
Visando tornar a coleta de dados mais objetiva, quanto ao custo, processo e
ao tempo para obtenção de resultados, foi adotada a amostragem não-probabilística
pelo método de conveniência.
A amostragem não-probabilística é aquela em que a amostra é composta por
elementos selecionados da população de acordo com um julgamento parcial do
entrevistador ou do pesquisador de campo (MATTAR, 1996), ou seja, é subjetiva,
pois a probabilidade de seleção dos mesmos é desconhecida (COOPER e
SCHINDLER, 2003).
Mattar (1996) destaca que o uso da amostragem não-probabilística se mostra
mais viável quando uma população como um todo não está disponível para ser
sorteada, como seria necessário no caso do uso de amostragens probabilísticas.
Esta falta de disponibilidade pode estar ligada, por exemplo, ao fato de empresas
apresentarem resistência para participar de uma pesquisa, baseadas em suas
políticas internas (de não participar) ou alegando sigilo de informações.
Considerando a natureza do tema desta pesquisa e o setor pesquisado, o
qual coloca restrições para participação de pesquisas, a decisão pela utilização da
amostragem não-probabilística se mostrou apropriada.
3.5.2.2.3 Definição do instrumento de coleta de dados
Para definição do instrumento de coleta de dados foi seguido um esquema
prático, apresentado no quadro 4, proposto por Mattar (1996), que permitiu
relacionar os objetivos da pesquisa, as proposições, variáveis principais, questões
do instrumento de coleta de dados (variáveis verificadoras).
52
3.5.2.2.4 Desenvolvimento do questionário
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi adotada a abordagem de
comunicação, por meio da condução de uma
survey
, como técnica de coleta de
dados primários, visando verificar as proposições de relacionamento entre as
estratégias ambientais e as capacitações organizacionais para promoção da
sustentabilidade ambiental, conforme a literatura pesquisada. Esta técnica tem como
ponto forte a versatilidade, eficiência na informação e economia na aplicação
(COOPER e SCHINDLER, 2003).
Cooper e Schindler (2003) destacam que a técnica de questionamento tem
pontos fracos, no que diz respeito à capacidade e à disposição dos respondentes
para cooperar, o que pode interferir na qualidade e na quantidade de informações
obtidas por meio da pesquisa. A resistência para cooperar pode ser devido ao
conceito, por parte dos entrevistados, quanto à natureza delicada do tema
pesquisado ou do quanto o mesmo é invasivo.
Para reduzir a dificuldade da falta de conhecimento referente ao tema
pesquisado ou à possibilidade de os respondentes não terem uma opinião formada
sobre o mesmo, problemas estes apontados por Cooper e Schindler (2003), foram
abordados profissionais da área de gestão ambiental, ou aqueles ligados a esta
função dentro das usinas de açúcar e álcool, para participação na pesquisa. Este
procedimento foi adotado visando também obter maior veracidade e confiabilidade
nas respostas dos participantes da pesquisa.
Para aplicação da
survey
foi desenvolvido um questiorio auto-administrável
do tipo
Likert
(constante do andice A), o qual foi enviado aos profissionais da área
de gestão ambiental, ou aqueles ligados a esta função dentro das usinas de açúcar
e álcool, por meio eletrônico, via rede mundial de computadores, com o objetivo de
expandir a sua cobertura geográfica. Nele foram consideradas as variáveis descritas
no quadro 4 que contemplam, além das dimensões para verificar as proposições
acima mencionadas, as dimensões em que a agroindústria da cana-de-açúcar
substancialmente causa impactos no meio ambiente natural, conforme quadro 3.
53
Quadro 4: Relacionamento entre objetivos da pesquisa, proposições, variáveis principais e questões do instrumento de
coleta de dados.
OBJETIVOS
PROPOSIÇÕES
VARIÁVEIS PRINCIPAIS
QUESTÕES (variáveis verificadoras)
Buscar a relação entre as capacitações presentes
nas usinas e a formulação e implementação de
estratégias de prevenção da poluição.
As empresas com capacitação demonstrada em TQM serão
capazes de acumular os recursos necessários para a prevenção
da poluição, mais rapidamente do que as empresas sem tal
capacitação prévia.
V
1
: TQM (Gerenciamento da Qualidade Total)
V1
Q1: Há uma equipe responsável pela melhoria de processos
dentro da usina.
V2
Q2: As pessoas desta equipe são constantemente treinadas em
produção e operações.
V3
Q3: A equipe envolve os funcionários de outras áreas em
programas de melhorias contínuas da produção e operações.
V4
Q4: A usina busca recursos externos para criar soluções em
produção e operações (contrata novos funcionários ou faz
parcerias).
V5
Q5: As intenções ambientais da usina são divulgadas
interna e externamente.
V6
Q6: Os objetivos, metas e prioridades ambientais da usina
são definidos com prazo para cumprimento.
V7
Q7: A usina realiza ACV (Avaliação do Ciclo de Vida) de todos os
produtos que produz.
V8.1
Q8.1: A usina empreende ações o requeridas para reduzir:
Resíduos
V8.2
Q8.2: A usina empreende ações o requeridas para reduzir:
Emissões
V8.3
Q8.3: A usina empreende ações o requeridas para reduzir:
Queimadas
V8.4
Q8.4: A usina empreende ações o requeridas para reduzir: Uso
de agrotóxicos
V9.1
Q9.1: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Empresas do setor
V9.2
Q9.2: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Empresas fora do setor
V9.3
Q9.3: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Fornecedores
V9.4
Q9.4: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Distribuidores
V9.5
Q9.5: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Associações do setor
V9.6
Q9.6: A usina forma parcerias para estabelecer padrões
ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
Governos
V10
Q10: A usina segue a risca as práticas ambientais
determinadas pelas leis federais e estaduais.
V11
Q11: A usina publica balanços ambientais.
Prevenção da Poluição
A estratégia da prevenção da poluição se moverá, ao longo do
tempo, do âmbito competitivo exclusivamente interno das
empresas para uma atividade externa baseada na legitimidade.
V
2
: Legitimidade social
54
OBJETIVOS
PROPOSIÇÕES
VARIÁVEIS PRINCIPAIS
QUESTÕES (variáveis verificadoras)
Buscar a relação entre as capacitações presentes
nas usinas e a formulação e implementação de
estratégias de produto responsável.
V13
Q13: A usina se baseia criteriosamente na ACV para
desenvolver novos produtos.
V14
Q14: O processo de desenvolvimento novos produtos
ocorre internamente, a partir das decisões da diretoria da
usina.
Buscar a relação entre as capacitações presentes
nas usinas e a formulação e implementação de
estratégias de desenvolvimento sustentável.
As empresas que adotam estratégias de desenvolvimento
sustentável podem adquirir a capacidade de desenvolver novas
tecnologias de baixo impacto ambiental e novas competências
ambientais.
V
5
: Conhecimento e experiência
V16
Q16: Os funcionários são constantemente treinados e
incentivados a inovar e promover melhorias das suas
atividades para o futuro.
As empresas que têm a capacitação de estabelecer esta visão
compartilhada serão capazes de acumular os recursos
necessários para o desenvolvimento sustentável mais
rapidamente do que empresa sem tal capacitação prévia.
V
4
: Visão
V17
Q17: As soluções ambientais do presente atendem à visão
futura de sustentabilidade da usina.
V18
Q18: As mudanças na usina são decididas internamente,
pela diretoria.
V19
Q19: A usina desenvolve tecnologias para o futuro de
forma independente.
Buscar a interconexão entre as capacitações para
prevenir a poluição, desenvolver produtos
responsáveis e promover o desenvolvimento
sustentável.
As estratégias estão enraizadas umas nas outras e são
inter-dependentes.
V
7
: Interconexão: Estratégias de
Desenvolvimento Sustentável, Produtos
Responsáveis e Prevenção da Poluição
V12
Q12: O padrão de produção e operações atual atende a
visão futura do negócio da usina.
V15
Q15: A criação de produtos + limpos está baseada nos
padrões de produção e operações atuais da usina.
V20
Q20: A visão futura de sustentabilidade da usina está
baseada nos seus padrões de produção e operações e
nos seus produtos atuais.
Interconexão estratégica
A estratégia de desenvolvimento sustentável se estenderá além
dos limites da empresa para incluir a colaboração dos públicos
interessados visando realizar tais mudanças tecnológicas.
V
6
: Capacidade relacional
Produto Responvel
Desenvolvimento sustentável
A estratégia de produto responsável tende a tornar-se um
processo orientado para as partes interessadas e legitimado por
elas, considerando a inclusão dos seus interesses durante o seu
desenvolvimento, planejamento e indo além da ACV (Avaliação
do Ciclo d
V
3
: Capacidade relacional
Legitimidade
Fonte: Baseado em esquema proposto por Mattar (1996) para facilitar a construção do instrumento de coleta de dados.
55
Conforme colocado por Cooper e Schindler (2003), a escala
Likert
é uma
variação freqüentemente usada da escala de classificação somatória que permite
classificar numericamente cada resposta e mensurar dados intangíveis, como as
atitudes favoráveis ou desfavoráveis dos respondentes em relação ao objeto de
estudo. A escala
Likert
produz dados intervalares e, conforme colocado por Soares
(1999), a partir de uma avaliação dos valores atribuídos às respostas, é possível
realizar testes estatísticos para determinar ou identificar o nível de correlação entre
elas.
Com o intuito de gerar uma medida quantitativamente mensurável para os
indicadores das variáveis descritas no quadro 4, foram adotadas no questionário tipo
Likert
escalas intervalares de 1 a 5, onde 1 corresponde à alternativa Discordo
totalmente, 5 corresponde à alternativa Concordo totalmentee as demais escalas
correspondem a níveis de concordância intermediária, como 2 para Discordo, 3
para Não concordo, nem discordoe 4 para Concordo.
3.5.2.2.5 Etapas do procedimento de pesquisa
As levantamento das usinas instaladas no estado de São Paulo a partir das
fontes acima citadas, 118 usinas foram listadas e contatadas por telefone, no
período de 05/11/2007 à 14/11/2007, inicialmente, para identificação dos
profissionais responsáveis pela gestão da área ambiental das usinas, ou aqueles
ligados à função correlata, e apresentação da pesquisa.
Logo após cada contato telefônico e nos casos em que não houve negativa
da usina para participação da pesquisa, cada profissional recebeu, por meio de
correio eletrônico, o questionário para resposta.
No período de 21/11/2007 à 29/11/2007, os profissionais que ainda não
haviam respondido o questionário foram contatados novamente, com o objetivo de
se obter retorno dos mesmos até 30/11/2007. Naquele momento, alguns dos
profissionais que haviam aceitado participar da pesquisa, inicialmente, se
posicionaram contrários à participação, alegando falta de autorização das diretorias
de suas empresas, o que diminuiu a expectativa de retorno.
56
Em 03/12/2007, as nova confirmação da impossibilidade de obter maior
mero de retorno, a pesquisa foi finalizada com um total de 87 questionários
válidos respondidos pelas usinas, que representa 48,33% do total das 180 empresas
sucroalcooleiras instaladas no estado de São Paulo e 60,4% das 144 unidades
principais (exclusas as 36 unidades filiais).
3.5.2.2.6 Tabulação e análise de dados
Os dados dos questionários respondidos entre o período de 05/11/2007 à
02/12/2007 foram tabulados no
software
Excel, imediatamente após o seu
recebimento, o que possibilitou, posteriormente, a exportação dos mesmos para um
instrumento estatístico que pudesse dar subsídio à pesquisa e consolidar os
resultados.
O instrumento escolhido para dar este subsídio foi o
software R Language
versão 2.1 que permite realizar diversos tipos de testes e análises estatísticos,
sendo capaz de lidar com grande volume de dados e com variáveis diferentes,
simultaneamente.
Com o objetivo de complementar a análise dos dados, foi realizada alise de
correspondência dos mesmos por meio do
software Système Portable pour L'Analise
de Données — SPAD
versão 3.6 que possibilitou discriminar as usinas pesquisadas
por classes e gerar um gráfico para visualização dos resultados.
No capítulo 4, a análise dos dados é apresentada.
3.5.2.2.7 Levantamento de dados de autuões junto à CETESB
Com o objetivo de obter dados que pudessem caracterizar o padrão geral do
impacto das atividades do setor sucroalcooleiro na meio ambiente natural, foi
realizado levantamento das autuações aplicadas às usinas pela CETESB.
Os dados foram obtidos entre outubro de 2007 e janeiro de 2008, por meio de
relatórios mensais de autuações aplicadas pela CETESB, o quais foram
57
disponibilizados por funcionários da companhia com base no artigo 4º, da Lei
Federal 10.650, de 16 de abril de 2003, que dispõe sobre o acesso público aos
dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente.
As acesso aos relatórios das autuações aplicadas às usinas
sucroalcooleiras paulistas, ao longo do ano de 2007, foi possível tabular os dados
referentes às usinas participantes da pesquisa, sendo que foi atribuído, em cada
mês, o valor 0 (zero) àquelas não autuadas no período, o valor 1 (um) àquelas que
receberam advertências no período e o valor 2 (dois) àquelas que receberam multas.
Estes valores foram atribuídos visando facilitar a tabulação dos dados para
inclusão posterior dos mesmos na alise de correspondência já citada, juntamente
com as demais variáveis da pesquisa. Esta tabulação também permitiu a construção
de gráficos de freqüência da ocorrência dos eventos.
A análise destes resultados também segue no capítulo 4.
3.5.2.2.8 Considerões finais
No capítulo 5 foram apresentadas as considerações finais, limitações do
estudo e proposições para futuras pesquisas.
4
. RESULTADOS
Para escolher o método de análise dos resultados da pesquisa foram levados
em consideração alguns critérios apontados por Mattar (1996), conforme segue:
1. O tipo de escala escolhida para a realização do estudo;
2. O nível de conhecimento dos parâmetros da população da qual a amostra foi
obtida, que levaram a escolha de técnicas estatísticas não-paramétricas;
3. O método de alise dos dados;
4. O número de variáveis que devem ser analisadas simultaneamente;
58
5. O mero de amostras que devem ser analisadas e o grau de relacionamento
entre elas;
6. A relação de dependência entre variáveis nos casos em que há mais de uma
variável que deve ser analisada simultaneamente.
Com base nestes critérios, foi possível definir os tipos de análises de dados
mais adequados para pesquisa, considerando:
S A escala Likert , que é, essencialmente, ordinal;
S O baixo nível de conhecimento dos parâmetros da população pesquisada,
levando à escolha de técnicas estatísticas o-paramétricas;
S A necessidade de traçar medidas de associação entre as variáveis. Conforme
colocado por Stevenson (2001), o estudo correlacional permite quantificar o
grau de relacionamento entre duas variáveis. O numero que representa este
coeficiente de correlação é o r de Pearsone varia de – 1,00 à + 1,00, sendo
zero um valor que não representa qualquer relação entre as variáveis. O
resultado pode ser positivo entre duas variáveis, o que representa uma estreita
relação entre elas, ou negativo, representando uma relação inversa.
S A possibilidade de escolher técnicas de análise multivariada, a análise fatorial e
a análise de correspondência, para verificar o nível de inter-relacionamento
entre as variáveis.
4.1
. Considerações sobre os critérios para avaliação das escalas de
mensuração
Segundo Cooper e Schindler (2003), uma mensuração legítima deve passar
pelos testes de validade e confiabilidade.
A validade mede o grau de eficiência de um instrumento de coleta de dados,
no que diz respeito ao objetivo da medição. (COOPER e SCHINDLER, 2003).
A confiabilidade contribui parcialmente à validade, sendo, portanto,
necessária, apesar de não ser condição suficiente para a validade e assume três
formas, como estabilidade, equivalência e consistência.
59
Com o objetivo de medir o desempenho de um instrumento utilizado em uma
pesquisa aplicada em uma dada população, faz-se necessário, portanto, realizar um
teste de confiabilidade e validade do mesmo (OLIVEIRA NETO e RICCIO, 2003).
Desta forma, antes de iniciar propriamente a análise dos dados coletados,
destacam-se algumas considerações a respeito do instrumento de coleta de dados
utilizado.
Como não foi encontrado nenhum questionário que tenha sido utilizado para
mensurar os construtos dimensionados neste trabalho, constatou-se a necessidade
de desenvolvê-lo. Essa necessidade impõe a avaliação das escalas de mensuração.
Ou seja, deve ser garantido que as variáveis (indicadores) selecionadas
representem e mensurem o conceito de maneira precisa e coerente. A precisão está
associada com o termo validade, enquanto que a coerência está ligada ao termo
confiabilidade (HAIR, BABIN, MONEY e SAMOUEL 2003).
A validade é o ponto até onde um construto mede o que deve medir,
conforme colocado por Cooper e Schindler (2003). Para avaliar a validade da
mensuração, pode ser utilizada uma ou mais das seguintes abordagens segundo
Hair et al (2003, p.202): validade de conteúdo, de construto e de critério. No caso em
questão, foi utilizada a validade de contdo, ou seja, foi feita uma consulta a alguns
professores se o questionário da forma em que se apresentava media o que se
pretendia. Algumas sugestões foram apresentadas no sentido de se ter uma melhor
adequação das questões do questionário projetado.
Em relação à confiabilidade, Hair et al. (2003, p. 198) afirmam que um
instrumento (questionário) é confiável se sua aplicação repetida resulta em escores
coerentes. Isso depende da definição do conceito não ser alterada de uma aplicação
à outra. As seguintes orientações podem ser usadas para garantir a confiabilidade
das escalas: o número mínimo de itens em uma escala para mensurar um
determinado conceito deve ser de pelo menos três; os itens incluídos na escala
devem estar correlacionados positivamente; os itens que são correlacionados com
60
outros itens na escala em um nível inferior a 0,3 devem ser avaliados para remoção
da escala.
Focando-se especificamente na confiabilidade de coerência interna, Hair et al.
(2003, p. 199) sugerem que esse tipo de confiabilidade seja usado para avaliar uma
escala somada em que várias afirmativas (itens) são somadas para formar um
escore total para um construto. Há dois tipos de confiabilidade de coerência interna.
O mais simples é a confiabilidade
split-half
. O segundo tipo de confiabilidade de
coerência interna é o coeficiente alfa, também chamado de alfa de Cronbach. O alfa
varia entre 0 e 1. Aceita-se um alfa de 0,7 como mínimo, embora coeficientes mais
baixos possam ser aceitáveis, dependendo dos objetivos da pesquisa (HAIR, BABIN,
MONEY e SAMOUEL, 2003). No quadro 5 são apresentados os respectivos alfas de
Cronbach para cada grupo de questões representativas de seus conceitos, as quais
foram utilizadas no instrumento.
Quadro 5: Formação de construtos e valor do Alfa de Cronbach
Variáveis verificadoras
Alfa de Cronbach
Grupo 1: V1 a V7
0,896
Grupo 2: V8.1 a V11
0,899
Grupo 3: V13 e V22
0,933
Grupo 4: V16 a V19
0,248
Grupo 5: V12, V15 e V28
0,709
Fonte: Gerado pelo
software
SPSS
®
versão 15.0
Por essas constatações, assume-se que o instrumento utilizado para coleta
de dados nesta pesquisa apresenta os requisitos mínimos para o fim em questão.
Por outro lado, também se reconhece a necessidade de aprimorá-lo, na
medida em que o grupo 4 não apresenta um valor de alfa de Cronbach mínimo
exigido para que se possa utilizar este grupo de questões relacionado-as com um
único conceito. Este resultado já era esperado, pois como pode ser verificado no
quadro 4, de fato as questões elaboradas atendem a conceitos diferentes. Assim,
utilizam-se essas questões como inicialmente havia sido concebido, ou seja, elas
61
não estão de fato associadas e medem aspectos distintos não correlacionados ao
mesmo conceito.
Tendo verificado a validade e confiabilidade do instrumento de coleta de
dados, os dados originais foram exportados para o software
R Language
v. 2.1 para
gerar uma matriz de intercorrelações entre as variáveis, com o intuito de verificar o
grau de relacionamento entre elas e, posteriormente, realizar a análise fatorial.
Posteriormente, os dados referentes às autuações aplicadas pela CETESB às
usinas paulistas de açúcar e álcool foram exportados para o
software Système
Portable pour L'Analise de Données — SPAD
v. 3.6, com o intuito de verificar a
existência de relações entre elas, por meio da distância entre os pontos desenhados
em um gráfico.
4.2
. Análise Fatorial
A Análise Fatorial é um termo que designa diversas técnicas computacionais
que têm o objetivo de reduzir múltiplas variáveis em grupos (Cooper e Schindler,
2003), ou conjuntos de fatores, o que facilita o processo de análise posterior das
mesmas.
Uma das formas mais freqüentemente usadas para a construção de um novo
conjunto de variáveis, a partir de uma matriz de correlação entre elas, é a análise
dos componentes principais. Este método possibilita gerar fatores a partir de
combinações lineares de variáveis e leva a um novo conjunto de variáveis
compostas ou componentes principais que não são correlacionados entre si. Isso
significa que a melhor combinação de variáveis gera um componente principal que é
um fator. O segundo componente principal gera um segundo fator e representa a
melhor combinação linear de variáveis que explica a variação que não é responsável
pelo primeiro fator gerado, e assim por diante (Cooper e Schindler, 2003).
O
software R Language
v. 2.1 possibilitou a realização automática da alise
dos componentes principais, levando aos resultados que deram base para proceder
a análise fatorial.
62
4.2.1. Resultados da análise fatorial
A análise fatorial foi processada visando identificar a concentração em grupos
do conjunto das nvariáveis pesquisadas, conforme similaridade das suas
características. Foram considerados três fatores nesta alise com o objetivo de
encontrar agrupamentos que pudessem corresponder às três dimensões
estratégicas apontadas por Hart (1995).
Para que fosse possível proceder a análise dos fatores com apresentação
detalhada de seus componentes, foi necessário realizar um estudo das saturações
fatoriais significativas de cada fator, o que permitiu destacar aquelas que
apresentaram valores com maior grau de correlação com os fatores.
De acordo com a verificação do conteúdo das variáveis que se destacaram,
foi possível identificar a natureza de cada uma delas, respaldada pelo referencial
trico e proposições de Hart (1995), e atribuir nomes a cada fator, o que facilitou o
processo de análise posterior. Os fatores foram identificados, conforme colocado na
tabela 1.
Com o objetivo de direcionar a análise fatorial foi considerado que valores
superiores ou iguais a 0,50 correspondem a uma correlação significativa entre as
variáveis e que valores menores ou iguais a -0,50 correspondem a uma correlação
inversa entre elas.
Os dados foram processados pelo software
R Language
v. 2.1 uma primeira
vez, quando foi possível obter as variáveis com coeficientes de correlação mais
significativa com os fatores, conforme o critério acima. Esses coeficientes de
correlação são chamados de carga” (COOPER e SCHINDLER, 2003).
63
Tabela 1: Resultados da análise fatorial
Gestão da qualidade orientada
ao meio ambiente natural
Visão ambiental estratégica
Pró-atividade ambiental
Factor1
Factor2
Factor3
V2
0,592
V3
0,763
V4
0,593
V5
0,565
V6
0,526
V7
0,669
V9.2
0,679
V9.3
0,757
V9.4
0,716
V9.5
0,625
V9.6
0,653
V11
0,642
V13
0,737
V16
0,755
V17
0,619
V12
0,646
V15
0,618
V20
0,677
V8.1
0,796
V8.2
0,822
V8.3
0,645
Factor1 Factor2 Factor3
SS loadings 6.412 2.171 2.077
Proportion Var 0.305 0.103 0.099
Cumulative Var 0.305 0.409 0.508
Test of the hypothesis that 3 factors are sufficient.
The chi square statistic is 273.33 on 150 degrees of freedom.
The p-value is 3.14e-09
Fonte: Gerado pelo software R Language versão 2.1.
Visando transformar o conjunto de variáveis em um grupo menor e mais
concentrado, as cargas menos significativas e que contribuíram pouco para a análise
fatorial, conforme critério acima, foram eliminadas da matriz, possibilitando o
reprocessamento dos dados pelo software. Este processo foi repetido três vezes
64
com o objetivo de se obter o máximo de concentração das variáveis, o que
possibilitou uma alise mais apurada dos fatores.
Os dados da tabela 1 são resultantes do último reprocessamento realizado
pelo software
R Language
v. 2.1. Verifica-se que algumas variáveis foram eliminadas
automaticamente pelo sistema, o que ocorreu devido à falta de representatividade
dos seus respectivos valores, inclusive sob o ponto de vista da correlação inversa.
Os valores apresentados na tabela 1 são coeficientes de correlação entre os
fatores e as variáveis, como, por exemplo, 0,592 é o
r
entre a variável V2 e o fator 1.
A soma das variâncias dos valores de cada fator é representada pelos
autovalores (
eingenvalues
). Conforme demonstrado na referida tabela, para o fator 1
o autovalor é 6,412.
Para que seja possível gerar uma estimativa da quantia de variação total
explicada por cada fator e, portanto, avaliar a sua importância, é necessário dividir
os autovalores pelo número de variância (Cooper e Schindler, 2003). Desta forma,
foi possível verificar na tabela 1 que o fator 1 apresenta um total de variância de
30,5%, o fator 2 de 10,3% e o fator 3 de 9,9% , resultando em um valor cumulativo
que representa 50,8% da variância total observada para os três fatores da amostra,
o que torna viável a realização da análise fatorial.
A referida tabela também
revela que as variáveis de V2 à V7, seguidas das
variáveis V9.2 à V9.6 e V11, concentradas no fator 1, indicam, basicamente, o
conteúdo dos indicadores relacionados à dimensão estratégica da prevenção da
poluição. Desta forma, foi possível identificar o fator 1 como Gestão da qualidade
orientada ao meio ambiente natural, que caracteriza a essência da referida
dimensão estratégica.
As variáveis V12, V15 e V20 foram formuladas objetivando identificar o
padrão de interconexão estratégica entre prevenção da poluição, produtos
responsáveis e desenvolvimento sustentável nas usinas sucroalcooleiras paulistas,
de acordo com o referencial trico. Ao analisar a concentração das variáveis e seu
65
conteúdo foi possível identificar o fator 2 como Visão estratégica orientada ao meio
ambiente natural, ou, simplesmente, Visão ambiental estratégica.
As variáveis de V8.1 à V8.3, relacionadas às dimensões de maior impacto
ambiental da indústria da cana-de-açúcar, revelam maior correlação com o fator 3,
apesar de que, originalmente, conforme o modelo trico de Hart (1995), poderiam
estar mais fortemente relacionadas à dimensão estratégica da prevenção da
poluição e, portanto, ao fator 1, identificado como Gestão da qualidade orientada ao
meio ambiente natural.
Assim, as análise do conteúdo dos indicadores que comem as variáveis
de V8.1 à V8.3, o fator 3 foi identificado como Pró-atividade ambiental.
4.2.2
. Testes de adequabilidade dos dados para utilização da análise fatorial
Visando avaliar se os dados originais viabilizariam a utilização da análise
fatorial com sucesso, foi realizado, por meio do
software
SPSS
®
versão 15.0, o teste
de
Kaiser-Meyer-Olkin (Measure of Sampling Adequacy MSA
).
Conforme afirmado por Corrar et al. (2007), a partir dos dados encontrados na
análise fatorial, o teste
KMO MSA
indica o grau de explicação dos dados. Havendo
indicação pelo
MSA
de um grau de explicação maior do que 0,50, significa que os
fatores encontrados na análise fatorial conseguem descrever, de forma satisfatória,
as variações dos dados originais.
O
software
SPSS
®
versão 15.0 também possibilitou realizar o teste de
Esfericidade de Bartlett. De acordo com Corrar et al. (2007), o teste de Bartlett indica
se há relação suficiente entre os indicadores para aplicação da alise fatorial. Os
autores afirmam que seja recomenvel que o teste de significância (valor de
Sig
.)
não ultrapasse 0,05. Havendo indicação de um valor maior do que este, os autores
colocam a probabilidade de que haja uma correlação muito pequena entre os
indicadores, impedindo, desta forma, a aplicação da análise fatorial.
66
As realização do teste de
KMO-MSA
e de Bartlett, os resultados mostraram o grau
de adequabilidade dos dados, conforme segue:
Tabela 2: Medida de adequabilidade
KMO and Bartlett's Test
,854
1158,170
210
,000
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling
Adequacy.
Approx. Chi-Square
df
Sig.
Bartlett's Test of
Sphericity
Fonte: Gerado pelo
software
SPSS
®
versão 15.0 de 2006
Verifica-se que o teste KMO alcançou 0,854, confirmando que os fatores
encontrados conseguem descrever, de forma satisfatória, as variações dos dados
originais, viabilizando a utilização da alise fatorial para tratamento dos dados.
O teste de esfericidade que apresentou um valor de
Sig.
< 0,05 também
confirmou a adequação do método de análise fatorial para tratamento dos dados.
4.2.3
. Análise fatorial das variáveis por fator
Procedendo a reordenação dos dados por fator em ordem decrescente, foi
possível encontrar a seguinte configuração, conforme segue na tabela 3.
4.2.3.1. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 1
Conforme citado por Cooper e Schindler (2003), a melhor combinação de
variáveis gera um primeiro componente, ou um fator, sendo este o mais importante
que dá base para a análise dos resultados.
Assim, pode-se afirmar que o primeiro fator, que aponta para o conceito de
Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, o qual está fortemente
relacionado com a prevenção da poluição, a primeira dimensão estratégica do
67
modelo de Hart (1995), predomina e, conforme já citado acima, caracteriza 30,5% da
variância total observada para os três fatores da amostra, sendo, portanto, o mais
importante.
Tabela 3: Principais variáveis ligadas ao fator 1
Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural
Conteúdo das variáveis
Factor1
V3
A equipe envolve os funcionários de outras áreas em programas de
melhorias contínuas da produção e operações.
0,763
V9.3
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de
processos, operações e materiais com: Fornecedores
0,757
V16
Os funcionários são constantemente treinados e incentivados a inovar e
promover melhorias das suas atividades para o futuro.
0,755
V13
A usina se baseia criteriosamente na ACV para desenvolver novos produtos.
0,737
V9.4
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de
processos, operações e materiais com: Distribuidores
0,716
V9.2
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de
processos, operações e materiais com: Empresas fora do setor
0,679
V7
A usina realiza ACV (Avaliação do Ciclo de Vida) de todos os produtos que
produz.
0,669
V9.6
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de
processos, operações e materiais com: Governos
0,653
V11
A usina publica balanços ambientais.
0,642
V9.5
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de
processos, operações e materiais com: Associações do setor
0,625
V4
A usina busca recursos externos para criar soluções em produção e
operações (contrata novos funcionários ou faz parcerias).
0,593
V2
As pessoas desta equipe são constantemente treinadas em produção e
operações.
0,592
V5
As intenções ambientais da usina são divulgadas interna e externamente.
0,565
V6
Os objetivos, metas e prioridades ambientais da usina são definidos com
prazo para cumprimento.
0,526
Fonte: Elaborado pela autora. Reordenação dos dados gerados pelo software R Language v. 2.1.
Essa constatação revela que há um movimento das usinas paulistas de
açúcar e álcool em direção à TQEM, indicado pelas variáveis que demonstraram
maior correlação com a Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural,
como o treinamento constante de equipes em produção e operações (V2), o
envolvimento de funcionários de outras áreas das usinas em processos de melhorias
contínuas (V3) e a realização de ACV dos produtos produzidos por elas (V7).
68
A variável V13 voltada para o desenvolvimento de novos produtos baseado
na ACV, coerentemente apresentou forte correlação (0,755) com as ações
relacionadas à Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, que é
inerente à estratégia de prevenção da poluição sendo, portanto, mais motivada por
ela, diferentemente da proposta de Hart (1995). Este autor defendeu que o
desenvolvimento de novos produtos com base na ACV poderia envolver a
capacitação relacional das usinas para incluir o interesse de outras partes, o que
levaria à legitimação do processo, fator que não se destacou na análise fatorial.
Desta forma, pode-se inferir que a estratégia de produto responsável adotada pelas
usinas paulistas, que inclui o desenvolvimento de novos produtos baseados na ACV,
pode estar mais fortemente apoiada na estratégia de prevenção da poluição e
integrada com ela, não sendo, essencialmente, uma estratégia independente.
O treinamento e incentivo de funcionários para a inovação e promoção de
melhorias das suas atividades para o futuro, representados pela variável V16, que,
conforme proposto por Hart (1995), são inerentes à estratégia de desenvolvimento
sustentável e visam à aquisição de capacitações para desenvolver novas
tecnologias de baixo impacto ambiental e novas competências ambientais,
aparecem como mais motivados pela intenção das usinas de gerir com qualidade o
meio ambiente natural do que por uma visão ambiental estratégica futura. Isto pode
indicar que a estratégia de desenvolvimento sustentável esteja integrada com a
estratégica da prevenção da poluição e não seja uma estratégia independente.
Os coeficientes de correlação das variáveis V9.2 à V9.6 confirmam que a
formação de parcerias das usinas com atores, como fornecedores, distribuidores,
empresas fora do setor, governos e associações do setor, para o estabelecimento de
padrões ambientais exigentes de processos, operações e materiais, mostra-se como
mais motivada pela Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, ou
seja, baseada no âmbito interno das usinas, do que em uma atividade externa
baseada, genuinamente, na legitimidade, diferentemente do que foi proposto por
Hart (1995) em seu modelo trico.
69
Um dos exemplos que pode ser relacionado ao esforço do setor
sucroalcooleiro paulista para a formação de parcerias com governos (V9.6, com
correlação de 0,653) e associações do setor (V9.5, com correlação de 0,625)
visando à prevenção da poluição é a adesão voluntária de 136 usinas, até janeiro de
2008, ao Protocolo Etanol Verde (SMA, 2008), promovido pelo Governo do Estado
de São Paulo em conjunto com a ÚNICA União da Agroindústria Canavieira de
São Paulo, entidade que reúne os principais produtores da região. Este protocolo
visa, declaradamente, estimular a produção sustentável do etanol, por meio do
respeito aos recursos naturais e controle da poluição, incluindo a eliminação das
queimadas no estado paulista, até o ano de 2017, e certificar com um selo as
unidades em conformidade. Este nível de adesão representa em torno de 75% das
180 unidades sucroalcooleiras em operação no estado paulista.
Com base neste exemplo, pode-se inferir que existe um movimento das
usinas sucroalcooleiras paulistas em direção à busca de um determinado nível de
conformidade, a partir da adesão voluntária delas a programas que visam à
prevenção ou controle da poluição.
No entanto, conforme já destacado anteriormente por Aragón-Correa e Rúbio-
Lopez (2007), a pesquisa acadêmica mostra evidências de que os gerentes das
empresas estão mais preocupados em aderir aos protocolos ambientais do que em
atingir os objetivos finais que estão por trás deles.
Vale destacar que, conforme afirmado por um dos entrevistados, o qual
também participou da elaboração do Protocolo Etanol Verde, o referido selo de
conformidade concedido pela SMA tem validade de 2 anos, com probabilidade de
ser estendido pelo mesmo período, visando conceder tempo às usinas
sucroalcooleiras para adequação de seus processos e métodos de produção aos
princípios do protocolo. Segundo o entrevistado, ao longo dos referidos 4 anos, não
haveria fiscalização formal da CETESB nas usinas sucroalcooleiras que aderiram ao
protocolo. As estes 4 anos e verificando-se falta de conformidade com os
princípios do protocolo, a CETESB passaria a autuar as usinas.
70
Estas informações levam à inferência de que, no caso do Protocolo Etanol
Verde, a adesão das usinas sucroalcooleiras paulistas pode estar sendo mais
motivada por fatores econômicos, para evitar futuras autuações, do que,
genuinamente, pela legitimidade social.
A variável V11 apresentou o mesmo tipo de comportamento das variáveis de
V9.2 à V9.6 e revela que as usinas vêm procurando publicar balanços ambientais
com maior motivação baseada na Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente
natural. Considerando as colocações de Porter e Linde (1995) sobre as
oportunidades econômicas que dirigem a responsabilidade ambiental, por meio da
melhoria de processos, redução do impacto no meio ambiente simultaneamente à
redução de custos de entradas no processo produtivo e disposição de resíduos, e de
Cordano (1993), sobre as receitas resultantes do marketing ambiental, também
chamado de
green marketing
, ou marketing verde, pode-se inferir que a
publicação de balanços ambientais pelas usinas sucroalcooleiras paulistas esteja, de
fato, não somente relacionada à TQEM, assim como ao interesse de promover uma
imagem ambientalmente responsável, porém mais fortemente baseado em
motivações econômicas do que, essencialmente, na legitimidade social.
A variável V4 revela a preocupação das usinas paulistas em ampliar a sua
base de recursos para a Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural,
por meio da contratação de novos funciorios e formação de parcerias com
empresas externas visando à criação de soluções em produção e operações.
Conforme colocado por Hart (1995), este processo pode levar à construção de novas
capacitações em produção e operações e ao acúmulo dos recursos necessários
para a prevenção da poluição.
As variáveis V5 e V6 revelam que há a intenção do corpo diretivo das usinas
em se comprometer com a prevenção da poluição, a partir do momento em que
declararam haver definição de prazo para cumprimento dos objetivos, metas e
prioridades ambientais e divulgação das intenções interna e externamente, no que
se refere ao respeito ao meio ambiente natural.
71
Concluindo, as variáveis que apresentaram altos coeficientes de correlação
com o fator 1 demonstraram que as usinas são motivadas pela busca de um padrão
de gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural para empreenderem
estratégias visando à prevenção da poluição, ao desenvolvimento e atuação com
produtos mais limpos e promoverem ações que possam levar a um determinado
nível de desenvolvimento sustentável.
4.2.3.2
. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 2
Tabela 4: Principais variáveis ligadas ao fator 2
Vio ambiental estratégica
Conteúdo das variáveis
Factor2
V20
A visão futura de sustentabilidade da usina está baseada nos seus padrões
de produção e operações e nos seus produtos atuais.
0,677
V12
O padrão de produção e operações atual atende a visão futura do negócio
da usina.
0,646
V17
As soluções ambientais do presente atendem à visão futura de
sustentabilidade da usina.
0,619
V15
A criação de produtos + limpos está baseada nos padrões de produção e
operações atuais da usina.
0,618
Fonte: Elaborado pela autora. Reordenação dos dados gerados pelo software R Language v. 2.1.
O fator 2, que aponta para o conceito de Visão ambiental estratégica,
caracteriza 10,3% da variância total observada para os três fatores da amostra.
A variável V12 revela que as usinas sucroalcooleiras vislumbram o futuro dos
seus negócios com base nos seus padrões de operação e produção atuais. Estes
padrões de operação e produção, conforme verificado a partir da análise das
correlações das variáveis ligadas ao fator 1, estão baseados essencialmente na
gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, a qual é inerente às
capacitações das usinas para prevenir a poluição. Isto leva à inferência de que a
visão futura do necio das usinas tende a ser sustentada pela estratégia de
prevenção da poluição.
72
A variável V15 revela que as usinas sucroalcooleiras tendem a basear a
criação de produtos mais limpos, ou produtos responsáveis, nos seus padrões de
operação e produção atuais, os quais incluem as capacitações para prevenir a
poluição, o que confirma os resultados da variável V13, relacionada fortemente com
o fator 1. Isto leva à inferência de que a estratégia de desenvolvimento de produtos
responsáveis também tende a ser sustentada pela estratégia de prevenção da
poluição.
A variável V20 aborda o mesmo tema da visão futura, porém de forma mais
ampla e focada na sustentabilidade. Nesta variável, as usinas sucroalcooleiras
paulistas revelam que a sua visão futura de sustentabilidade está baseada nos seus
padrões de produção e operações atuais e nos seus produtos correntes, os quais,
conforme já constatado, estão baseados na gestão da qualidade orientada ao meio
ambiente natural, ou seja, nas suas capacitações para prevenir a poluição. A
variável V17 confirma o resultado da V20, quando proe que as soluções
ambientais do presente (ou seja, processos e produtos) atendem à visão futura de
sustentabilidade das usinas. Estes resultados levam à inferência de que a estratégia
de desenvolvimento sustentável também tende a ser sustentada pela estratégia de
prevenção da poluição.
Considerando que as variáveis V13 e V16 sugerem que as estratégias de
produtos responsáveis e de desenvolvimento sustentável estejam integradas com aà
estratégia de prevenção da poluição, pode-se inferir, a partir da variável V20, que o
padrão de gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural tende a ser a
base da visão ambiental estratégica das usinas para o futuro.
De acordo com Hart (1995), as capacitações inerentes a estes padrões e
produtos que levam às estratégias de prevenção da poluição e produto responsável,
são as bases para a formulação e implementação da estratégia de desenvolvimento
sustentável. Os resultados da variável V20 tendem a confirmar o enraizamento
existente entre as três estratégias, confirmando, portanto, as proposições de Hart
(1995), porém tendo a estratégia de prevenção da poluição como integradora das
demais estratégias ambientais.
73
4.2.3.3. Análise das principais variáveis ligadas ao fator 3
Tabela 5: Principais variáveis ligadas ao fator 3
Pró-atividade ambiental
Conteúdo das variáveis
Factor3
V8.2
A usina empreende ações não requeridas para reduzir: Emissões
0,822
V8.1
A usina empreende ações não requeridas para reduzir: Resíduos
0,796
V8.3
A usina empreende ações não requeridas para reduzir: Queimadas
0,645
Fonte: Elaborado pela autora. Reordenação dos dados gerados pelo software R Language v. 2.1.
O terceiro fator que aponta para o conceito de Pró-atividade ambiental
caracteriza 9,98% da variância total observada para os três fatores da amostra.
É importante ressaltar que a formulação das afirmativas destas variáveis que
contemplou o termo ações não requeridasvisava detectar ações que foram
empreendidas pelas usinas sem a solicitação de quaisquer atores que se
relacionassem com elas, ou seja, ações pró-ativas.
As variáveis V8.1 à V8.3 revelam que as usinas sucroalcooleiras estão
buscando ações pró-ativas, indo além dos requisitos ambientais mínimos legais e
voluntários para reduzir as atividades que causam os tipos de poluição mais
impactantes no meio ambiente natural.
Conforme as proposições de Hart (1995), as ações pró-ativas também
caracterizam o direcionamento da estratégia de prevenção da poluição das usinas
para uma atividade externa baseada na legitimidade.
No entanto, as ações pró-ativas das usinas para prevenir a poluição podem
também estar mais fortemente baseadas em motivações ecomicas do que
naquelas que remetem, genuinamente, à legitimação social, conforme citado
anteriormente no exemplo sobre a adesão voluntária das usinas ao Protocolo
Etanol Verde.
74
4.2.4. Conclusão preliminar da análise fatorial
A análise preliminar leva à conclusão de que no setor sucroalcooleiro paulista
as capacitações ligadas à Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente
natural, assim como aquelas inerentes a atitudes que levam à uma visão ambiental
estratégica e aquelas voltadas para o desenvolvimento de ações ambientais pró-
ativas, formam o conjunto de capacitações que sustentam as estratégias de
prevenção da poluição, produto responsável e de desenvolvimento sustentável,
conforme proposto pelo esquema da figura 2.
Estas estratégias que se mostram
integradas, apresentam-se como a base para o desenvolvimento de uma estratégia
maior orientada à sustentabilidade ambiental nas usinas sucroalcooleiras paulistas.
Figura 2: Relões entre as capacitões e as dimensões estratégicas que
levam à estratégia de sustentabilidade ambiental no setor sucroalcooleiro
paulista
Fonte: Proposta da autora
Vale lembrar que as capacitações em Gestão da Qualidade orientada ao
meio ambiente natural, ou TQEM, que surgiram como o primeiro e mais importante
fator da alise fatorial, parecem sustentar a visão ambiental estratégica das usinas
Gestão da qualidade orientada
ao meio ambiente natural
Visão ambiental
estratégica
Pró
-
atividade
ambiental
CAPACITAÇÕES ORIENTADAS À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
ESTRATÉGIA ORIENTADA À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Prevenção da Poluição Produto Responsável Des
envolvimento Sustentável
75
e as suas capacitações para o desenvolvimento de ações pró-ativas que visam
controlar e prevenir a poluição.
Assim, pode-se inferir que as capacitações em TQEM nas usinas
sucroalcooleiras paulistas são centrais e servem de base para o desenvolvimento
das demais capacitações, o que leva ao desenvolvimento das estratégias de
prevenção da poluição, de produto responsável e de desenvolvimento sustentável.
Os resultados da alise fatorial também parecem ter confirmado a relação de
dependência (
path dependence
) entre as estratégias, que sugere que uma empresa
poderia melhor adotar uma estratégia tendo progredido, anteriormente, em outra. No
caso desta análise, a capacitação para desenvolver produtos responsáveis com
base na ACV parece ser dependente da capacitação prévia das usinas em TQEM,
inerente à estratégia de prevenção da poluição, que inclui a realização da ACV dos
seus produtos correntes.
No entanto, a relação de dependência entre as estratégias de
desenvolvimento sustentável e de produto responsável o ficou clara, evidenciando
apenas que a primeira também é dependente da estratégia de prevenção da
poluição, confirmando parcialmente a proposição de Hart (1995). Ou seja, nas
usinas sucroalcooleiras paulistas a adoção da estratégia de prevenção da poluição
demonstra potencial para acelerar a acumulação de recursos e as capacitações para
a promoção do desenvolvimento sustentável, a partir do momento em que a as
melhorias para o futuro, a criação de novos produtos e a visão futura de
sustentabilidade das usinas estão baseadas nos seus processos e operações atuais
que tendem a ser geridos com qualidade, sob o ponto de vista ambiental.
Levando em consideração que a alise dos resultados revelaram grande
ênfase das empresas pesquisadas na gestão da qualidade orientada ao meio
ambiente natural, que leva à redução de desperdícios e custos, pode-se inferir que é
esta a motivação principal que as direciona para uma estratégia orientada à
sustentabilidade ambiental, o que pode caracterizar um estágio inicial do movimento
do setor sucroalcooleiro paulista rumo à sustentabilidade.
76
Shrivastava (1995) afirma que a sustentabilidade ambiental das organizações
tende a requerer que elas tenham a capacidade de criar novos processos e sistemas
organizacionais que permitam a adoção de sistemas de produção ambientalmente
responsáveis, a adoção de estratégias para capturar mercados verdesemergentes,
a obtenção de resultados de longo prazo baseados em custos ambientais eficientes
e o desenvolvimento de programas ambientais visando uma melhor relação com as
partes interessadas e uma melhor imagem frente à comunidade. Considerando a
dificuldade de implementar estas mudanças simultaneamente, Shrivastava (1995)
sugere que as organizações deveriam tentar implementar, em um primeiro estágio,
mudanças mais fáceis, como sistemas de produção mais limpos e o TQEM. O
autor afirma que, a partir do momento em que estas mudanças puderem ser
amplamente implementadas, as organizações poderão lidar com mudanças mais
complexas, como aquelas acima citadas e outras relacionadas a tecnologia e
recursos.
4.3. Análise das autuões aplicadas pela CETESB
4.3.1. Freqüência das autuões aplicadas pela CETESB
Os dados que caracterizam o padrão de geral do impacto das atividades do
setor sucroalcooleiro no meio ambiente natural foram obtidos por meio da realização
de levantamento das autuações aplicadas às usinas pela CETESB.
Os dados fornecidos pela CETESB, as tabulação realizada dentro do
critério já mencionado no item 3.5.2.2.7, revelaram que, ao longo do ano de 2007, 85
autuações na forma de advertências e/ou multas foram aplicadas às usinas
sucroalcooleiras paulistas que participaram da pesquisa.
Não foi possível obter os motivos específicos que causaram as autuações. No
entanto, pode-se inferir que ocorreram em função do impacto das usinas
pesquisadas nas dimensões ambientais mais comumente afetadas pelo setor
sucroalcooleiro e riscos ambientais causados por elas, conforme colocado no quadro
3, como nas APPs, matas ciliares, solo, águas subterrâneas e superficiais, acidentes
77
ambientais, resíduos, emissões e uso de agrotóxicos, algumas delas, inclusive,
contempladas pela pesquisa.
O gráfico 1 apresenta a freqüência das autuações, conforme segue:
Gráfico 1: Freência das autuões da CETESB aplicadas às usinas
pesquisadas (2007)
1
2
2
3
1
1
1
4
4
3
10
2
10
4
7
6
6
3
11
2
2
0
2
4
6
8
10
12
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Advertência
Multa
Fonte: CETESB, 2008.
As 85 autuações foram aplicadas em 37 usinas participantes da pesquisa
(42,5% do total), subdividindo-se entre aquelas que apenas receberam advertência,
aquelas que apenas receberam multa e aquelas que receberam advertência e multa.
O gráfico 2 mostra a aplicação destas autuações, conforme abaixo.
Considerando que 50 das usinas pesquisadas (57,5% do total) não foram
autuadas, os dados revelaram, preliminarmente, que a maioria delas tem buscado
cumprir as exigências de redução do impacto das suas atividades no meio ambiente
natural, conforme determinações da CETESB.
78
Gráfico 2: Número de usinas autuadas por tipo de autuação
12
10
15
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Número de usinas autuadas
Advertência
Multa
Advertência e multa
Fonte: CETESB, 2008.
A análise de correspondência dos dados foi realizada para complementar esta
análise descritiva, conforme segue.
4.4
. Análise de correspondência
Objetivando complementar a alise do conjunto de variáveis que incluem
aquelas verificadoras do modelo de Hart (1995) e aquelas inerentes às autuações da
CETESB, foi realizada a análise de correspondência.
A análise de correspondência é um método estatístico não-paramétrico que
faz parte de uma das técnicas da análise multivariada de dados. Conforme afirmado
por Hair et al. (2005), a alise multivariada de dados é um método aplicado
basicamente para variáveis discretas, mas que, segundo Souza (1982), também
pode ser aplicado para variáveis contínuas, desde que estejam codificadas de
maneira apropriada. Segundo a autora, este método é geralmente utilizado para
estudar as relações existentes entre conjuntos de variáveis. Após a realização da
análise, e havendo relação entre os elementos de diferentes conjuntos de variáveis,
pode-se inferir que estes conjuntos estão em correspondência.
Souza (1982) complementa que a alise de correspondência é um algoritmo
de redução de dados cuja técnica é aplicada a cada conjunto de variáveis, com o
79
objetivo final de obter a melhor representação simultânea de dois ou mais conjuntos
delas por meio de gráficos. Após a verificação da dependência entre as linhas e as
colunas da tabela, o método de análise de correspondência fornece uma
representação simultânea, por meio de gráficos, dos dois conjuntos de variáveis
constituídos pelas linhas e colunas da tabela, onde aparecem nuvens de pontos-
linhas e nuvens de pontos-colunas nos planos de projeção formados pelos eixos
fatoriais.
A correspondência entre as variáveis pode ser mostrada em um
mapa bi ou tridimensional onde a semelhança entre elas coloca-as próximas
umas das outras.
Hair et al. (2005) afirmam que a alise de correspondência apresenta-se
como uma técnica de interdependência que facilita a redução dimensional da
classificação de objetos (produtos, pessoas etc.) em um conjunto de atributos,
facilitando tamm o mapeamento perceptual destes objetos relativamente a estes
atributos.
Havendo o envolvimento de dois conjuntos de variáveis cruzadas a análise de
correspondência é denominada binária. Havendo mais de dois conjuntos de
variáveis cruzadas é denominada análise de correspondência múltipla.
Assim, objetivando verificar a relação entre o conjunto de variáveis da
pesquisa e respondentes em grupos distintos, foi adotado o
software o Système
Portable pour l´Analyse des Données - SPAD
v. 3.6 para a realização do
procedimento não-paramétrico da análise de correspondência multivariada.
4.4.1
. Resultados da análise de correspondência
Conforme colocado anteriormente, o questionário foi respondido pelos
gerentes ambientais ou profissionais ligados à variável ambiental das 87 usinas
pesquisadas.
O resultado apontado pela descrição de partição da análise de
correspondência multivariada elaborada pelo programa SPAD 3 apontou 4 classes
distintas formadas pelas empresas.
80
Cada classe é discriminada por questões associadas a uma modalidade
(questões de 1 a 20), que representa os graus da escala
Likert
do questiorio,
conforme mencionado anteriormente, e que segue especificado no quadro 6:
Quadro 6: Escalas Likert adotadas no questionário
Escala do Tipo Likert
Modalidade
Discordo Totalmente
1
Discordo
2
Não Discordo, nem Concordo
3
Concordo
4
Concordo Totalmente
5
Fonte: Elaborado pelo autor
No quadro 7 é possível verificar as variáveis e modalidades definidoras das
classes com a separação dos respondentes em grupos distintos.
Quadro 7: Variáveis e modalidades definidoras das classes de respondentes
CLASSE 1 / 4
CLASSE 2 / 4
CLASSE 3 / 4
CLASSE 3 / 4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q9A
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com empresas do setor.
Q9A-2
Q9A-5
Q9F
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com governos.
Q9F-1
Q9F-2
Q9F-4
Q9F-5
Q15
-
A criação de produtos +
limpos está baseada nos padrões
de produção e operações atuais da
usina.
Q15-2
Q15-4
Q15-5
Q5
- As intenções ambientais da
usina são divulgadas interna e
externamente.
Q5-2
Q5-2
Q5-4
Q5-5
VARIÁVEIS DEFINIDORAS DAS
CLASSES
81
continuação...
CLASSE 1 / 4
CLASSE 2 / 4
CLASSE 3 / 4
CLASSE 3 / 4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q8B
-
A usina empreende ações
não requeridas para reduzir
emissões.
Q8B-2
Q8B-3
Q8B-4
Q8B-5
Q13
-
A usina se baseia
criteriosamente na ACV para
desenvolver novos produtos.
Q13-1
Q13-2
Q13-3
Q13-5
Q7
- A usina realiza ACV
(Avaliação do Ciclo de Vida) de
todos os produtos que produz.
Q7-1
Q7-2
Q7-4
Q12
-
O padrão de produção e
operações atual atende a visão
futura do negócio da usina.
Q12-2
Q12-4
Q12-5
Q9C
-
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com fornecedores.
Q9C-2
Q9C-3
Q9C-4
Q9C-5
Q6
- Os objetivos, metas e
prioridades ambientais da usina
são definidos com prazo para
cumprimento.
Q6-2
Q6-3
Q6-5
Q4
- A usina busca recursos
externos para criar soluções em
produção e operações (contrata
novos funcionários ou faz
parcerias).
Q4-2
Q4-5
Q1
- Há uma equipe responsável
pela melhoria de processos dentro
da usina.
Q1-3
Q1-4
Q1-5
Q17
-
As soluções ambientais do
presente atendem à visão futura
de sustentabilidade da usina.
Q17-2
Q17-5
VARIÁVEIS DEFINIDORAS DAS
CLASSES
82
continuação...
CLASSE 1 /
4
CLASSE 2 /
4
CLASSE 3 /
4
CLASSE 3 /
4
VARIÁVEIS DEFINIDORAS
DAS CLASSES
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q8A
- A usina empreende
ações não requeridas para
reduzir resíduos.
Q8A-2
Q8A-5
Q3
- A equipe envolve os
funcionários de outras áreas em
programas de melhorias
connuas da produção e
operações.
Q3-2
Q3-3
Q3-4
Q3-4
Q9B
- A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e
materiais com empresas fora do
setor.
Q9B-2
Q9B-4
Q9B-5
Q10
- A usina segue a risca as
práticas ambientais
determinadas pelas leis federais
e estaduais.
Q10-4
Q10-5
Q8D
- A usina empreende
ações não requeridas para
reduzir o uso de agrotóxicos.
Q8D-2
Q8D-4
Q8D-5
Q9D
- A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e
materiais com distribuidores.
Q9D-3
Q9D-4
Q9D-5
Q11
- A usina publica balanços
ambientais.
Q11-1
Q11-3
Q16
- Os funcionários são
constantemente treinados e
incentivados a inovar e
promover melhorias das suas
atividades para o futuro.
Q16-3
Q16-4
Q16-5
83
continuação...
CLASSE 1 /
4
CLASSE 2 /
4
CLASSE 3 /
4
CLASSE 3 /
4
VARIÁVEIS DEFINIDORAS
DAS CLASSES
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q8C
- A usina empreende
ações não requeridas para
reduzir queimadas.
Q8C-2
Q8C-4
Q8C-5
Q9E
- A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e
materiais com associação do
setor.
Q9E-3
Q9E-5
Q2
- As pessoas desta equipe
são constantemente treinadas
em produção e operações.
Q2-3
Q2-4
Q18
- As mudanças na usina
são decididas internamente,
pela diretoria.
Q18-3
Q20
- A visão futura de
sustentabilidade da usina está
baseada nos seus padrões de
produção e operações e nos
seus produtos atuais.
Q20-5
Fonte: Elaboração da autora a partir de relatório gerado pelo software SPAD v. 3.6.
Este quadro mostra que 6% das empresas entrevistadas se enquadraram na classe
1, 45% na classe 2, 33% na classe 3 e 16% na classe 4. Estas classes poderão ser
melhor visualizadas por meio do gráfico que foi gerado, o qual será apresentado
posteriormente.
Para facilitar a alise dos dados, o quadro 7 foi subdividido conforme segue.
84
Quadro 8: Análise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de
Prevenção da Poluição
CLASSE
CLASSE
CLASSE
CLASSE
1/4
2/4
3/4
4/4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q1-3
Não discordo,
nem concordo
Q1-5
Concordo
Total/e
Q2-3
Não discordo,
nem concordo
Q3-2
Q3-3
Discordo
Não discordo,
nem concordo
Q4-2
Q4-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q5-2
Q5-2
Q5-4
Discordo
Discordo
Concordo
Q6-2
Q6-3
Q6-5
Discordo
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q7-1
Q7-2
Discordo
Total/e
Discordo
Q8A-2
Q8A-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q7 -
A usina realiza ACV
(Avaliação do Ciclo de Vida) de
todos os produtos que produz.
Q7-4
Concordo
Q8A -
A usina empreende ações
não requeridas para reduzir
Resíduos
Q5 –
As intenções ambientais da
usina são divulgadas interna e
externamente.
Q5-5
Concordo
Total/e
Q6 -
Os objetivos, metas e
prioridades ambientais da usina
são definidos com prazo para
cumprimento.
Q3
- A equipe envolve os
funcionários de outras áreas em
programas de melhorias
connuas da produção e
operações.
Q3-4
Concordo
Q3-4
Concordo
Q4 -
A usina busca recursos
externos para criar soluções em
produção e operações (contrata
novos funcionários ou faz
parcerias).
Q2 -
As pessoas desta equipe
são constantemente treinadas em
produção e operações.
Q2-4
Concordo
VARIÁVEIS DEFINIDORAS DAS
CLASSES
Q1 -
Há uma equipe responsável
pela melhoria de processos
dentro da usina.
Q1-4
Concordo
85
Continuação...
CLASSE
CLASSE
CLASSE
CLASSE
1/4
2/4
3/4
4/4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q8B-2
Q8B-3
Q8B-4
Q8B-5
Discordo
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Concordo
Total/e
Q8C-2
Q8C-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q8D-2
Q8D-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q9A-2
Q9A-5
Discordo
Concordo
total/e
Q9B-2
Q9B-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q9C-2
Q9C-3
Q9C-5
Discordo
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q9B -
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com
Empresas fora do setor
Q9B-4
Concordo
Q9C -
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com
Fornecedores
Q9C-4
Concordo
Q8D -
A usina empreende ações
não requeridas para reduzir o
Uso de agrotóxicos
Q8D-4
Concordo
Q9A
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com empresas do setor.
VARIÁVEIS DEFINIDORAS DAS
CLASSES
Q8B -
A usina empreende ações
não requeridas para reduzir
Emissões
Q8C -
A usina empreende ações
não requeridas para reduzir
Queimadas
Q8C-4
Concordo
86
Continuação...
CLASSE
CLASSE
CLASSE
CLASSE
1/4
2/4
3/4
4/4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q9D-3
Q9D-5
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q9E-3
Q9E-5
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q9F-1
Q9F-2
Q9F-5
Discordo
Total/e
Discordo
Concordo
Total/e
Q10-5
Concordo
Total/e
Q11-1
Q11-3
Discordo
Total/e
Não discordo,
nem concordo
Q12-2
Q12-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q11 -
A usina publica balanços
ambientais.
Q12 -
O padrão de produção e
operações atual atende a visão
futura do negócio da usina.
Q12-4
Concordo
Q10 -
A usina segue a risca as
práticas ambientais determinadas
pelas leis federais e estaduais.
Q10-4
Concordo
VARIÁVEIS DEFINIDORAS DAS
CLASSES
Q9F
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com governos.
Q9F-4
Concordo
Q9D -
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com
Distribuidores
Q9D-4
Concordo
Q9E -
A usina forma parcerias
para estabelecer padrões
ambientais exigentes de
processos, operações e materiais
com
Associações do Setor
Fonte: Elaboração da autora a partir de relatório gerado pelo software SPAD v. 3.6.
87
Neste quadro, verifica-se que 78% dos entrevistados concordam que as suas
empresas possuem uma equipe responsável pela melhoria de processos, no entanto,
apenas 33% concordaram que as pessoas destas equipes sejam constantemente
treinadas em produção e operações. Este dado se contrapõe ao primeiro,
considerando que a TQM, assim como a TQEM, requerem treinamentos constantes
para que haja efetivas melhorias dos processos. As demais classes de empresas não
foram discriminadas por esta variável e a classe 2 se mostrou neutra.
Os dados também revelaram que 49% dos entrevistados (classes 3 e 4)
concordam que as equipes responsáveis pela melhoria de processos de suas
empresas envolvem funcionários de outras áreas. Este resultado leva à inferência de
que as melhorias connuas sejam mais efetivas nestas usinas, o que tende a afetar
positivamente a TQEM, a partir do momento que são mais abrangentes e vão além
das áreas responsáveis pela qualidade de processos. No entanto, os dados também
revelam que 45% dos entrevistados (classe 2) são neutros quanto a esta variável,
levando à inferência de que o envolvimento de funcionários de outras áreas em
melhorias contínuas destas usinas não seja um procedimento comum interno e
evidente para os respondentes. 6% discordaram quanto a esta variável, ou seja, nas
suas usinas a TQM provavelmente é limitada a áreas específicas e não envolve outras
áreas.
A variável 4 revelou resultados extremos nas classes 1 e 4 e não discriminou as
demais. Os resultados mostram que 16% dos entrevistados colocaram que as suas
empresas buscam ampliar a sua base de recursos para criar soluções em produção e
operações por meio da contratação de novos funcionários ou parcerias. Conforme
colocado por Hart (1995), a ampliação do capital humano pode levar à construção de
novas capacitações em produção e operações, o que tende a afetar positivamente a
TQM e a TQEM. Neste caso, apenas 16% dos entrevistados parecem estar buscando
a construção destas novas capacitações, contra 6% deles que discordaram e 78% que
não foram discriminados pela variável.
Quanto à divulgação interna e externa das intenções ambientais das usinas, os
resultados se equilibraram, sendo que 49% dos entrevistados concordaram com a
questão (classes 3 e 4) e 51% não (classes 1 e 2). Conforme colocado por Hart (1995)
88
esta variável está ligada ao nível de comprometimento da direção das empresas com
a prevenção da poluição.
Os dados da variável 6 confirmam parcialmente os resultados acima, no que diz
respeito ao comprometimento da direção das usinas com a prevenção da poluição.
6% (classes 1) dos entrevistados discordam que os objetivos, metas e prioridades
ambientais das suas empresas sejam definidos com prazo para cumprimento. 45%
deles se posicionaram de forma neutra, o que pode revelar que este procedimento
o seja comum nestas usinas ou evidentes para o entrevistados. A classe 3 não foi
discriminada por esta variável e 16% concordaram com a questão. Estes resultados
levam à inferência de que as usinas paulistas de açúcar e álcool talvez não estejam
buscando resultados ambientais de forma sistemática e/ou comprometida.
A variável 7 discriminou 51% dos entrevistados no que diz respeito à falta de
realização de ACV dos produtos das usinas. Conforme Hart (1995), a ACV está
diretamente ligada a TQEM. Neste caso, fica claro que nas usinas sucroalcooleiras
paulistas a TQEM ainda é uma atividade incompleta ou em estágio de
desenvolvimento. 33% concordaram com a questão (classe 3), no entanto a classe 4
16%) não foi discriminada por esta variável.
A variável 8A, que no questionário está representada pela variável 8.1, também
revela resultados extremos entre as classes 1 e 4, no que diz respeito ao
empreendimento pelas usinas de ações o requeridas (ou pró-ativas) para reduzir
resíduos. Neste caso, 6% discordaram e 16% concordaram, não havendo
discriminação das demais classes. Este dado pode significar que a maioria das usinas
não vem buscando empreender ações pró-ativas para reduzir resíduos, podendo
significar também que, pelo menos, vem buscando atender aos requisitos ambientais
legais mínimos. Conforme colocado por Hart (1995), o atendimento a requisitos
mínimos legais, mas também voluntários, pode levar ao desenvolvimento de
capacitações relacionais visando à legitimidade social da empresa. Neste caso, pode-
se inferir que as usinas sucroalcooleiras paulistas não vêm buscando a legitimidade
por meio do empreendimento de ações pró-ativas visando à redução de resíduos.
89
A variável 8B, representada no questionário pela variável 8.2, revela que 49%
das usinas (classes 3 e 4) declararam empreender ações pró-ativas para reduzir
emissões, contra 45% (classe 2) que se posicionaram de forma neutra e 6% (classe 1)
que discordaram. Isto revela um esforço de parte das usinas paulistas no que diz
respeito à redução da poluição causada por emissões.
As usinas que se enquadraram nas classes 3 e 4 também declararam agir pró-
ativamente no que diz respeito à redução das queimadas e uso de agrotóxicos
(variáveis 8C e 8D, que correspondem às variáveis 8.3 e 8.4 do questiorio,
respectivamente). Nesta variável as usinas da classe 2 (45%) não concordaram com a
questão, o que pode significar que, no mínimo, reduzem a prática das queimadas de
acordo com as exigências legais, não indo além delas. As usinas da classe 1 (6%) não
foram discriminadas por esta variável.
As variáveis de 9A à 9F, que correspondem às variáveis de 9.1 à 9.6 do
questionário, discriminaram o posicionamento das usinas no que diz respeito à
formação de parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de processos,
operações e materiais com atores. Os resultados que mais se destacaram revelam
que as usinas sucroalcooleiras paulistas das classes 3 e 4 (49%) buscam parcerias
para estabelecer os referidos padrões principalmente com empresas fora do setor,
fornecedores, distribuidores e governos. De acordo com a proposição de Hart (1995),
a busca de padrões ambientais exigentes reconhecidos e validados externamente
pelas empresas está relacionada com a busca da legitimidade social. No entanto,
estas questões se apresentaram mais fortemente relacionadas às capacitações em
TQEM na análise fatorial, sugerindo que a busca por padrões mais exigentes seja
mais motivada por este fator do que, genuinamente, pela possibilidade de legitimidade
social. As demais usinas que se enquadraram nas classes 2 e 3 (51%) se
posicionaram de forma neutra ou discordante da questão sobre parcerias visando
padrões ambientais exigentes.
A variável 10 discriminou as usinas de apenas duas classes, 4 (16%) e 2 (45%),
no que diz respeito à adoção de práticas ambientais que atendam às leis federais e
estaduais, o que pode significa a predisposição destas empresas à atender os
requisitos ambientais mínimos. A não discriminação das usinas da classe 3 nesta
90
variável sugere uma contradição, considerando que as mesmas se posicionaram
positivamente no que diz respeito ao empreendimento de ações pró-ativas para
reduzir emissões, queimadas e uso de agrotóxicos (impactos ambientais controlados
por leis), conforme já citado anteriormente na análise das variáveis 8.2 à 8.4.
Quanto à publicação de balanços ambientais, representada pela variável 11,
houve discriminação neutra das usinas da classe 3 (33%) e negativa da classe 2
(45%), não havendo discriminação das usinas das classes 1 e 2. Conforme proposto
por Hart (1995) a publicação de balanços sócio-ambientais, que possibilita maior
transparência das empresas frente às partes interessadas, está ligada às
capacitações relacionadas à legitimidade social. Desta forma, pode-se inferir que a
maior parte das usinas sucroalcooleiras paulistas não é motivada a publicar balanços
ambientais visando maior transparência e legitimidade social.
A variável 12 que visava identificar se o padrão atual de produção e operações
das usinas atendia a visão futura de seus negócios discriminou as usinas das classes
3 e 4 (49%) de forma positiva. As usinas da classe 2 (45%) não foi discriminada por
esta variável e as da classe 1 (6%) se posicionaram negativamente, o que pode
significar que estas vêem um padrão de produção e operações diferente do atual para
o futuro de seus negócios.
91
Quadro 9: Análise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de
Produto Responvel
CLASSE
CLASSE
CLASSE
CLASSE
1/4
2/4
3/4
4/4
05 empresas
(6 %)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q13-1
Q13-2
Q13-3
Q13-5
Discordo Total/e
Discordo
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q15-2
Q15-5
Discordo
Concordo
Total/e
VARIÁVEIS DEFINIDORAS
DAS CLASSES
Q13 -
A usina se baseia
criteriosamente na ACV para
desenvolver novos produtos.
Q15
A criação de produtos +
limpos está baseada nos
padrões de produção e
operações atuais da usina.
Q15-4
Concordo
Fonte: Elaboração da autora a partir de relatório gerado pelo software SPAD v. 3.6.
OBS: A variável Q14 não foi significativa para discriminar as classes.
A variável 13 discriminou 51% das usinas (classes 1 e 2) que discordaram
sobre a realização criteriosamente na ACV para desenvolver novos produtos, o que
corrobora os resultados da variável 7, citada anteriormente, sobre a realização da
ACV dos produtos correntes delas.
61 % das usinas entrevistadas (das classes 2 e 4) concordaram que a criação
de produtos mais limpos está baseada nos seus padrões de produção e operações
atuais, não havendo discriminação das usinas da classe 3.
Quanto às classes, percebe-se claramente que as usinas da classe 4 (16%)
concordam plenamente com as duas questões que envolvem o desenvolvimento de
produtos responsáveis, enquanto que a classe 1 discorda. Isto parece indicar que
enquanto as usinas da classe 4 buscam desenvolver produtos que poluam menos ou
92
sejam mais limpos, as usinas da classe 1 parecem não levar em consideração estes
padrões no desenvolvimento de seus produtos.
Já a classe 2, que representa 45% das usinas, mostra que no desenvolvimento
de novos produtos elas não se baseiam na ACV, mas que a criação de produtos mais
limpos está baseada nos seus padrões atuais de produção e operações. Isso pode
levar à inferência de que dependendo dos padrões de produção e operações destas
usinas, os novos produtos desenvolvidos serão mais ou menos responsáveis.
93
Quadro 10: Análise de correspondência das variáveis ligadas à estratégia de
Desenvolvimento Sustentável
CLASSE
CLASSE
CLASSE
CLASSE
1/4
2/4
3/4
4/4
05 empresas (6
%)
39 empresas
(45 %)
29 empresas
(33 %)
14 empresas
(16 %)
Q16-3
Q16-5
Não discordo,
nem concordo
Concordo
Total/e
Q17-2
Q17-5
Discordo
Concordo
Total/e
Q18-3
Não discordo,
nem concordo
Q20-5
Concordo
Total/e
Q16 -
Os funciorios são
constantemente treinados e
incentivados a inovar e
promover melhorias das
suas atividades para o
futuro.
Q16-4 Concordo
Q20 -
A visão futura de
sustentabilidade da usina
está baseada nos seus
padrões de produção e
operações e nos seus
produtos atuais.
Q18 -
As mudanças na usina
são decididas internamente,
pela diretoria.
VARIÁVEIS DEFINIDORAS
DAS CLASSES
Q17 -
As soluções
ambientais do presente
atendem à visão futura de
sustentabilidade da usina.
Fonte: Elaboração da autora a partir de relatório gerado pelo software SPAD v. 3.6.
OBS: A variável Q19 não foi significativa para discriminar as classes.
A variável 16 discriminou 49% das usinas (classes 3 e 4) que concordaram que
seus funcionários são constantemente treinados e incentivados a inovar e promover
melhorias das suas atividades para o futuro, revelando que elas podem estar
predispostas a aumentar a sua base de recursos (conhecimento e experiência) para
desenvolver capacitações visando inovações, conforme proposições de Hart (1995).
94
A variável 17 apresentou resultados extremos de discriminação das usinas das
classes 1 e 4. Assim, 6% das usinas discordam que as soluções ambientais do
presente atendem à sua visão futura de sustentabilidade, contra 16% das empresas
que concordam plenamente com esta assertiva. Isso parece indicar que as usinas da
classe 1 vêem um padrão soluções ambientais diferente do atual para o futuro de seus
negócios, enquanto as usinas da classe 4 vislumbram um futuro sustentável baseado
nos seus padrões atuais.
A classe 2 não obteve nenhuma resposta significativa neste bloco, indicando
que as 39 usinas que a compõem (45%) não apresentam resultados semelhantes
nestas questões, ou seja, os fatores que agregaram estas empresas na classe não
se relacionam às questões ligadas ao Desenvolvimento Sustentável (as respostas
devem ter sido muito dispersas nas 5 modalidades de
Likert
).
Quanto à classe 3 os resultados apesar de parecerem contraditórios indicam
que na questão 20 há uma concordância total, ou seja, 33% das empresas que
compõem esta classe concordam plenamente que a visão futura de sustentabilidade
da usina está baseada nos seus padrões de produção e operações e nos seus
produtos atuais. Isto leva à inferência de que existam outros fatores (provavelmente
externos à usina) que orientam a sua tomada de decisão quanto a mudanças
internas.
Finalizando, é importante ressaltar que a variável denominada CETESB, sob
o código V21 nesta alise de correspondência, não discriminou significativamente
qualquer usina. Isto leva à inferência de que outros fatores, e não a conformidade
com as regulamentações ambientais, influem nas atitudes das usinas no que diz
respeito à redução de seu impacto no meio ambiente natural.
Para que fosse possível melhor visualizar as classes de usinas e seu
posicionamento no que diz respeito ao conjunto de variáveis, foi gerado um gráfico
representativo da análise de correspondência, conforme segue:
95
Gráfico 3: Posicionamento das classes de usinas em relação ao conjunto de
variáveis
Fonte: Gerado pelo software Système Portable pour L'Analise de Données SPAD
Por meio deste gráfico é possível verificar o posicionamento das classes de
usinas, sendo que aquelas que se localizam do lado direito do mesmo (classes 3 e
4) são as que, conforme resultados da pesquisa, se posicionam mais positivamente
em relação às variáveis medidas. Aquelas localizadas do lado esquerdo do gráfico
(classes 1 e 2) se posicionam menos positivamente.
Vale destacar algumas características das usinas classificadas.
A classe 1 reúne 5 empresas de médio porte, sendo uma unidade pertencente
a um grupo e duas usinas de origem nacional, todas localizadas no pólo de Ribeirão
Preto e Sertãozinho. A quarta empresa pertence a um grupo internacional e está
localizada na região de Presidente Prudente.
A classe 2, composta por 39 empresas, se mostra mais concentrada e reúne
13 unidades pertencentes a grandes grupos sucroalcooleiros, localizados nas
regiões tradicionais produtoras de açúcar e álcool, como no pólo de Ribeirão Preto,
96
Sertãozinho, Araraquara, Assis, Bauru, entre outras. Foram identificadas também 5
filiais pertencentes a grandes grupos sucroalcooleiros, cujas matrizes estão
classificadas na classe 3.
A classe 3, composta por 29 empresas, rne 6 corporações sucroalcooleiras,
também localizados nas regiões tradicionais produtoras de açúcar e álcool. Nesta
classe também se enquadram 2 grandes usinas que tradicionalmente vêm se
posicionando como ambientalmente responsáveis, seja por certificação ISO 14.001,
seja pelos produtos certificados com selos verdes.
A classe 4 reúne 14 usinas de médio para grande porte, as quais foram
discriminadas como mais positivamente posicionadas em relação às variáveis
mensuradas do que as outras.
Neste capítulo foram analisadas as variáveis e os fatores que caracterizam o
setor sucroalcooleiro paulista e as suas estratégias, sob o ponto de vista da
sustentabilidade ambiental das.
No capítulo 5 seguem as considerações finais sobre a pesquisa, as limitações
do estudo e as sugestões para pesquisas futuras.
5
. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de evidenciar as relações entre
capacitações organizacionais e as estratégias ambientais no setor sucroalcooleiro
paulista visando à sustentabilidade ambiental, a partir do modelo baseado na NRBV
de Hart (1995).
Com o objetivo de compreender os recursos e as capacitações que estão
envolvidos na construção da sustentabilidade ambiental no setor sucroalcooleiro
paulista, as variáveis principais relacionadas aos aspectos da Gestão da Qualidade
Total, à legitimidade social, à capacidade relacional, ao conhecimento e experiência,
à visão de futuro sustentável e à interconexão entre as estratégias de prevenção da
poluição, produtos responsáveis e desenvolvimento sustentável, foram identificadas.
97
Foram estudadas 87 usinas de açúcar e álcool do estado de São Paulo que
representam 48,33% das 180 unidades instaladas na região.
Os dados da pesquisa obtidos por meio um questionário estruturado em
escala
Likert
de 5 pontos foram processados e analisados. A alise fatorial permitiu
aprofundar nos estudos das correlações entre as variáveis, o que levou à
caracterização de alguns aspectos envolvidos na construção da sustentabilidade no
setor sucroalcooleiro paulista e a algumas respostas às proposições colocadas.
Em resposta à proposição 1, os resultados apontaram que as usinas
sucroalcooleiras paulistas estão direcionando grande parte dos seus esforços para a
Gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, mediante a sua
preocupação em estabelecer objetivos, metas e prioridades ambientais, assim como
em formar e capacitar equipes multifuncionais visando às melhorias contínuas dos
processos do presente e do futuro e em ampliar a sua base de recursos, por meio de
novas contratações de funciorios ou parcerias, para criar soluções em produção e
operações.
A adoção da ACV, requisito inerente às capacitações para prevenir a
poluição, aparece como processo também adotado para o desenvolvimento de
novos produtos, o que leva à criação de produtos mais limpos, ou responsáveis.
A velocidade com que as usinas, com capacitações em TQM, adquirem
recursos para a prevenção da poluição em comparação com aquelas que não
possuem tais capacitações, não foi medida. O que pode ser afirmado é que,
corroborando o que Hart (1995) colocou, as usinas com capacitações em TQM
parecem adquirir os recursos necessários para a gestão da qualidade orientada ao
meio ambiente natural, o que pode levar à prevenção da poluição.
Os resultados também revelaram, em resposta à proposição 2, que as usinas
empreendem ações pró-ativas para reduzir o seu impacto no meio ambiente natural
com motivações ecomicas, seja por meio do estabelecimento de padrões
ambientais exigentes com atores que estão ligados direta ou indiretamente com as
98
suas atividades, visando à conformidade para evitar autuações futuras, seja por
meio da publicação de balanços ambientais, visando ao
green marketing
que pode
gerar receitas decorrentes de uma imagem ambientalmente responsável. Conclui-se,
portanto, que no setor sucroalcooleiro paulista a estratégia de prevenção da
poluição, que se apóia fortemente nas capacitações para a gestão da qualidade
ambiental, ainda se mantém, parcialmente, no âmbito competitivo interno das usinas,
não confirmando a proposição de Hart (1995).
A proposição 3 – A estratégia de produto responsável tende a tornar-se um
processo orientado para as partes interessadas e legitimado por elas, considerando
a inclusão dos seus interesses durante o seu desenvolvimento, planejamento e indo
além da ACV - não foi respondida, considerando que a variável verificadora V14
O processo de desenvolvimento de novos produtos ocorre internamente, a partir
das decisões da diretoria da usina” - não apresentou correlação significativa com
nenhum dos três fatores da análise fatorial, apesar de ter tido a intenção de captar a
capacitação das usinas de integrar os interesses das demais partes interessadas
durante o processo de desenvolvimento de novos produtos.
O que pôde ser verificado é que, conforme citado acima, os resultados
revelaram que as usinas estão direcionando esforços em direção à prevenção da
poluição, a partir do momento que adotam a ACV para desenvolver produtos
responsáveis, porém com motivação baseada na gestão da qualidade orientada ao
meio ambiente natural.
Referente à proposição 4, foi constatado que as usinas possuem uma visão
futura de sustentabilidade baseada nas suas soluções ambientais do presente, ou
seja, baseada nos processos e nos produtos correntes que produzem. Considerando
que as usinas empreendem grandes esforços para a gestão da qualidade orientada
ao meio ambiente natural visando melhorias dos processos e produtos correntes,
que as intenções ambientais das usinas são divulgadas interna e externamente e
que possuem objetivos, metas e prioridades ambientais definidos com prazo para
cumprimento, o que pode demonstrar um esforço em direção à responsabilidade
ambiental, pode-se inferir que elas possuem uma visão ambiental estratégica de
99
sustentabilidade futura baseada na estratégia de prevenção da poluição, o que
tende a representar um estágio inicial rumo ao desenvolvimento sustentável.
A velocidade com que as usinas, com capacitação em estabelecer uma visão
compartilhada de futuro, adquirem recursos para o desenvolvimento sustentável em
comparação com aquelas que não possuem tal capacitação prévia, não foi medida.
O que pôde ser verificado é que, diferentemente do que foi colocado por Hart (1995),
a estratégia de desenvolvimento sustentável parece estar inserida na estratégia de
prevenção da poluição e não se apresenta, necessariamente, no estágio superior
proposto no seu modelo evolucionário. Pode-se inferir, portanto, que as
capacitações para a promoção do desenvolvimento sustentável são inerentes às
capacitações para a promoção da prevenção da poluição.
Os resultados também revelaram que as usinas vêm direcionando esforços
para promover o conhecimento e experiência, por meio do treinamento e incentivo
aos funciorios, visando à inovação e melhorias das atividades para o futuro,
respondendo à questão 5. No entanto, no setor sucroalcooleiro paulista, este
processo de treinamento e incentivo de funcionários vem ocorrendo com motivações
baseadas na gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural e não em uma
visão ambiental estratégica. Isto leva à inferência de que a capacidade de
desenvolver novas tecnologias de baixo impacto ambiental e novas competências
ambientais podem ser adquiridas a partir da adoção de uma estratégia de prevenção
da poluição, não confirmando, portanto, a proposição de Hart (1995).
A proposição 6 – A estratégia de desenvolvimento sustentável se estenderá
além dos limites da empresa para incluir a colaboração dos públicos interessados
visando realizar tais mudanças tecnológicas” - não foi respondida pelos resultados,
em função do baixo nível de correlação das variáveis formuladas com os fatores da
análise fatorial. Estas variáveis visavam verificar não só a inclusão dos públicos
interessados nos processos de mudanças, mas também captar o interesse das
usinas em cooperar tecnologicamente com eles.
A dependência do desenvolvimento de produtos responsáveis das
capacitações prévias para prevenir a poluição foi confirmada pela pesquisa,
100
respondendo à proposição 7, considerando os resultados das variáveis que
revelaram que as capacitações relacionadas à gestão da qualidade orientada ao
meio ambiente, a qual é inerente à estratégia de prevenção da poluição, servem de
base e motivação às usinas sucroalcooleiras paulistas para o desenvolvimento de
produtos responsáveis e ações relacionadas a esta dimensão estratégica.
Os resultados tamm revelaram que no setor sucroalcooleiro paulista as
capacitações relacionadas à gestão da qualidade orientada ao meio ambiente
natural, a qual é inerente à estratégia de prevenção da poluição, também servem de
base para a sua visão ambiental estratégica, que é inerente à estratégia de
desenvolvimento sustentável, a partir do momento em que baseiam a sua visão
futura de sustentabilidade nos seus padrões de operação e operações e nos seus
produtos correntes. Desta forma, a oitava proposição de Hart (1995) é confirmada
parcialmente.
As respostas às proposições 7 e 8 levam à inferência de que a estratégia de
prevenção da poluição é integradora das demais estratégias de produto responsável
e desenvolvimento sustentável, sendo estas inerentes à primeira e não estratégias
separadas. Dentro deste conceito, pode-se inferir que as capacitações em promover
a prevenção da poluição é que possibilitam o desenvolvimento das capacitações
para promover as outras dimensões estratégicas.
Considerando o exposto acima, as respostas às proposições 9 A estratégia
de produto responsável facilita e acelera o desenvolvimento da capacitação na
prevenção da poluição e vice-versae 10 – A estratégia de desenvolvimento
sustentável facilita e acelera o desenvolvimento das capacitações para a prevenção
da poluição e para o produto responsável e vice-versa, ligadas à interconexão entre
as estratégias de prevenção da poluição, produto responsável e desenvolvimento
sustentável, não foram confirmadas pela pesquisa, pois são as capacitações em
gestão da qualidade orientada ao meio ambiente natural, a qual é inerente à
prevenção da poluição, que parecem facilitar o desenvolvimento das capacitações
para a criação de produtos responsáveis e para a promoção do desenvolvimento
sustentável, porém a recíproca não se mostrou claramente verdadeira.
101
Conforme os resultados colocados acima, foi proposta uma nova organização
de atividades que caracterizam as capacitações, voltadas para a gestão da
qualidade orientada ao meio ambiente natural, para uma visão ambiental estratégica
e para pró-atividade ambiental, as quais parecem sustentar a construção de uma
estratégia maior orientada à sustentabilidade ambiental.
A análise de correspondência discriminou as usinas quanto ao seu
posicionamento em relação às variáveis, as quais foram complementadas com mais
uma, ligada às autuações da CETESB. Esta variável não discriminou
significativamente qualquer usina, levando à inferência de que outros fatores que
vão além da conformidade com as regulamentações ambientais influem nas atitudes
das usinas no que diz respeito à redução de seu impacto no meio ambiente natural.
Esta pesquisa mostrou a complexidade que existe entre as relações das
capacitações organizacionais com a construção de estratégias ambientais e, por não
haver outros estudos da mesma natureza focados no setor sucroalcooleiro paulista,
este, naturalmente, o esgota o assunto.
Acredita-se que os resultados desta pesquisa tenham contribuído para uma
reflexão quanto aos caminhos atuais que levam à construção da sustentabilidade
ambiental no setor sucroalcooleiro paulista e aos caminhos futuros, no que diz
respeito ao desenvolvimento ou reconfiguração de recursos e capacitações que
possam mantê-lo inserido no contexto bioenergético global, de forma
ambientalmente sustentável.
5.1
. Limitões do estudo
Embora a pesquisa tenha sido abrangente, pois obteve retorno de 87 usinas
do total de 180 unidades em operação no estado de São Paulo, representando uma
amostra significativa da população-alvo, não foi possível contar com um número
maior de usinas participantes, acarretando em resultados que não podem ser
generalizados para o setor sucroalcooleiro paulista.
102
Outra limitação foi a metodologia de aplicação da pesquisa que contemplou
questionários estruturados em escala
Likert
, os quais não permitiram maior
aprofundamento nas questões, além de terem dependido do nível de transparência e
franqueza dos respondentes.
A análise quantitativa dos dados também se mostrou como um limitador, visto
que as organizações e os contextos no quais se inserem não se apresentam como
uma ciência exata, não sendo possível ser utilizada, portanto, como única avaliação.
Apesar dos cuidados metodológicos descritos, verificou-se tamm que há
necessidade de aprimoramento do instrumento de coleta de dados, visto que um
grupo de variáveis verificadoras não foram validadas pelo alfa de Cronbach, o que
pode ter limitado os resultados da pesquisa.
Os vieses pessoais dos pesquisados e do pesquisador no processo de coleta
e análise dos dados, tamm pode representar um limitador.
Outro fator que pode ter limitado os resultados da pesquisa empírica é que ela
se baseia apenas na percepção dos dirigentes. No caso desta pesquisa, ela foi
baseada na percepção dos gerentes ambientais e profissionais ligados à esta função
dentro das usinas pesquisadas, não envolvendo outras áreas que poderiam
apresentar pontos de vista diferentes.
5.2. Pesquisas futuras
Apesar de a pesquisa ter contado com a participação de um mero de
empresas significativo em relação à população-alvo, o envolvimento de um número
maior delas em uma pesquisa futura poderia contribuir para a ampliação dos
resultados.
A inclusão intencional das filiais das usinas em uma pesquisa futura tamm
permitiria uma alise mais profunda quanto à existência ou não de diferenças entre
elas e suas matrizes corporativas, no que diz respeito aos recursos e capacitações
103
para a formulação e implementação de estratégias ambientais que contribuam para
a construção da sustentabilidade ambiental.
Da mesma forma, a inclusão de profissionais de outras áreas das usinas
poderia trazer novas perspectivas de análise, no que diz respeito às suas
percepções e capacitações para a formulação e implementação de estratégias que
possam contribuir com a área ambiental das usinas, e respectivos profissionais, na
construção da sustentabilidade ambiental.
A busca de respostas a alguns aspectos das proposições, cujas variáveis
formuladas não apresentaram forte correlação com os fatores, também contribuiria
para a ampliação dos resultados desta pesquisa. Esta busca pode ser possível por
meio da reformulação destas variáveis verificadoras visando obter resultados que
sejam mais expressivos para proceder novas análises.
A ampliação das variáveis para verificação mais profunda das capacitações
relacionadas ao desenvolvimento de produtos responsáveis e à promoção do
desenvolvimento sustentável poderia igualmente contribuir para os resultados desta
pesquisa.
Apesar de permear toda a proposta de Hart (1995) a sugestão de que as
estratégias ambientais e as interconexões entre elas proporcionam o aumento do
desempenho ambiental e de retornos às empresas, levando ao aumento da
competitividade delas nos mercados, esta questão não foi abordada nesta pesquisa.
Assim, a investigação junto ao setor sucroalcooleiro sobre esta possibilidade
contribuiria com novas perspectivas de alise.
Conforme sugerido por Hart (1995) em seu ensaio trico, novas pesquisas
poderiam contemplar estudos comparativos entre empresas que estejam se
movendo rumo à sustentabilidade ambiental e outras que estejam resistindo à
mudança. Estes estudos permitiriam diagnosticar a existência ou não de diferenças
entre elas, no que diz respeito aos
recursos e capacitações. Esta sugestão poderia
ser adotada para a realização de novos estudos comparativos entre as empresas do
setor sucroalcooleiro.
104
E por fim, pesquisas futuras poderiam investigar mais profundamente a nova
organização de capacitações e estratégias proposta nesta pesquisa, quanto à
confirmação dos fatores ou inclusão de novos que possam contribuir para a
construção de uma estratégia de sustentabilidade ambiental orientadora nas usinas
sucroalcooleiras paulistas.
105
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 6023:
Informação e
documentação – Referências Elaboração. Rio de Janeiro: Ago, 2002.
________________.
NBR 14724:
Informação e documentação Trabalhos
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112
APÊNDICE A Questionário utilizado na coleta de dados da pesquisa
1. QUESTIONÁRIO
Responda as questões abaixo, indicando em uma escala de 1 a 5 com quais afirmações você discorda ou
concorda, sendo: 1 para DISCORDO TOTALMENTE (mínimo) e 5 para CONCORDO TOTALMENTE (máximo) e
as demais escalas para intensidades intermediárias de concorncia.
Discordo
totalmente
Discordo
Não
discordo,
nem
concordo.
Concordo
Concordo
totalmente
1
Há uma equipe responsável pela melhoria de processos dentro da
usina.
1
2
3
4
5
2
As pessoas desta equipe são constantemente treinadas em
produção e operações.
1
2
3
4
5
3
A equipe envolve os funcionários de outras áreas em programas
de melhorias contínuas da produção e operações.
1
2
3
4
5
4
A usina busca recursos externos para criar soluções em produção
e operações (contrata novos funcionários ou faz parcerias).
1
2
3
4
5
5
As intenções ambientais da usina são divulgadas interna e
externamente.
1
2
3
4
5
6
Os objetivos, metas e prioridades ambientais da usina são
definidos com prazo para cumprimento.
1
2
3
4
5
7
A usina realiza ACV (Avaliação do Ciclo de Vida) de todos os
produtos que produz.
1
2
3
4
5
8.1. A usina empreende ações não requeridas para reduzir:
8.2. Resíduos
1
2
3
4
5
8.3. Emissões
1
2
3
4
5
8.4. Queimadas
1
2
3
4
5
8
8.5. Uso de agrotóxicos
1
2
3
4
5
A usina forma parcerias para estabelecer padrões ambientais exigentes de processos, operações e materiais com:
9.1. Empresas do setor
1
2
3
4
5
9.2. Empresas fora do setor
1
2
3
4
5
9.3. Fornecedores
1
2
3
4
5
9.4. Distribuidores
1
2
3
4
5
9.5. Associações do setor
1
2
3
4
5
9
9.6. Governos
1
2
3
4
5
10
A usina segue a risca as práticas ambientais determinadas pelas
leis federais e estaduais.
1
2
3
4
5
11
A usina publica balanços ambientais.
1
2
3
4
5
12
O padrão de produção e operações atual atende a visão futura do
negócio da usina.
1
2
3
4
5
13
A usina se baseia criteriosamente na ACV para desenvolver novos
produtos.
1
2
3
4
5
14
O processo de desenvolvimento de novos produtos ocorre
internamente, a partir das decisões da diretoria da usina.
1
2
3
4
5
15
A criação de produtos + limpos está baseada nos padrões de
produção e operações atuais da usina.
1
2
3
4
5
16
Os funcionários são constantemente treinados e incentivados a
inovar e promover melhorias das suas atividades para o futuro.
1
2
3
4
5
17
As soluções ambientais do presente atendem à visão futura de
sustentabilidade da usina.
1
2
3
4
5
18
As mudanças na usina são decididas internamente, pela diretoria.
1
2
3
4
5
19
A usina desenvolve tecnologias para o futuro de forma
independente.
1
2
3
4
5
20
A visão futura de sustentabilidade da usina está baseada nos seus
padrões de produção e operações e nos seus produtos atuais.
1
2
3
4
5
Nome:
Função:
Data: / /2007
Questionário:
113
ANEXO A - Implementação de programa de Prevenção da Poluição (P2) e
Produção mais Limpa (P+L) - CETESB
Comprometimento da direção da empresa com a prevenção da poluição, contando
com:
S
A existência de uma ‘Declaração de Intenções, que deve ser divulgada às
partes interessadas, como funcionários, fornecedores e clientes;
S
Os objetivos e as prioridades gerais do programa devem estar inseridos nesta
declaração de intenções.
Definição de uma equipe de P2:
S
Formada por pessoas de diferentes setores da empresa, considerando que a
troca de experiências e a integração dos funcionários são fundamentais para o
planejamento e implantação do programa;
S
Deve haver a escolha de um líder para coordenar o programa e o seu o bom
andamento do programa;
S
Os membros da equipe deverão ter atribuições definidas.
Estabelecimento de prioridades, objetivos e metas:
S
A equipe de P2 deve definir as ações prioritárias, os objetivos e metas
quantificáveis e exeqüíveis dentro de um prazo determinado (cronograma).
Disseminação de informações sobre P2:
S
A equipe deve desenvolver um plano de treinamento e de comunicação para
que os funcionários possam acompanhar o desenvolvimento do programa na
empresa e incorporar o assunto no dia-a-dia do trabalho, bem como aumentar
a conscientização e a participação deles no programa.
114
Levantamento de dados:
S
Visando a caracterização do processo industrial. Estas informações devem
abranger as etapas análogas à ACV. Estes dados também possibilitam , avaliar
os custos envolvidos no tratamento e disposição dos resíduos gerados e
verificar o retorno financeiro de um investimento em P2.
Definição de indicadores de desempenho:
S
Devem ser definidos indicadores de desempenho quantificáveis e medidos
antes e as a implantação do programa de P2. Permite uma avaliação
comparativa entre a situação da empresa antes e as a implementação do
programa, bem como uma análise dos ganhos obtidos em termos ambientais e
econômicos.
Identificação de oportunidades de P2:
S
A avaliação detalhada dos processos produtivos da empresa com ênfase nos
pontos que contribuem para a geração de resíduos, permite a identificação das
melhores opções para redução ou eliminação dos poluentes gerados.
Levantamento de tecnologias:
S
Levantamento das tecnologias disponíveis no mercado e viáveis para a
implementação de ações de P2. Devem ser adequadas às necessidades da
empresa, à legislação na alteração dos equipamentos e processos. Os
efluentes gerados pelas novas tecnologias também devem ser caracterizados e
avaliados.
115
ANEXO B - Protocolo Etanol Verde Secretaria do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo
Os objetivos principais do Protocolo Etanol Verdede junho2007 prevê:
S
Antecipar a eliminação da queimada da cana de açúcar para até 2017;
S
Não utilizar a prática da queima da cana-de-açúcar para fins de colheita nas
áreas de expansão de canaviais (novas áreas de cultivo de cana-de-açúcar
cujo plantio for efetuado a partir de 1º de novembro de 2007);
S
Adotar ações para que o ocorra a queima do bagaço de cana ou de qualquer
outro subproduto da cana-de-açúcar a céu aberto;
S
Proteger as áreas de mata ciliar das propriedades canavieiras, devido à
relevância de sua contribuição para a preservação ambiental e proteção à
biodiversidade;
S
Proteger as nascentes de água das áreas rurais do empreendimento
canavieiro, recuperando a vegetação ao seu redor.
S
Recuperar a vegetação das APPs das áreas rurais do empreendimento
canavieiro que estejam degradas;
S
Implementar Plano Técnico de Conservação do Solo, incluindo o combate à
erosão e a contenção de águas pluviais nas estradas internas e carreadores;
S
Implementar Plano Técnico de Conservação de Recursos Hídricos,
favorecendo o adequado funcionamento do ciclo hidrológico, incluindo
programa de controle da qualidade da água e reuso da água utilizada no
processo industrial.
S
Adotar boas práticas para descarte de embalagens vazias de agrotóxicos;
S
Implementar as medidas de minimização de embalagem;
S
Adotar boas práticas destinadas a minimizar a poluição atmosférica de
processos industriais e otimizar a reciclagem e o reuso adequados dos
resíduos gerados na produção de açúcar e etanol incluindo:
S
Controle e redução das emissões de particulados (bagaço de cana)
116
S
Uso racional da vinhaça na fertirrigação da lavoura de cana, atendendo
plenamente a NT Cetesb P4.231
S
Uso dos resíduos orgânicos e inertes para adubação e condicionamento do
solo agrícola (torta de filtro).
S
Retornar a terra de lavagem de cana ou da limpeza a seco para o solo agrícola.
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