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A hipótese desta pesquisa é de que as atrações que contam com cenas
impróprias, excesso de violência (explicita e implícita) e a falta de controle dos pais
sobre os programas que os filhos prestigiam, podem exercer grande influência nos
hábitos dos jovens, desencadeando um comportamento inadequado (por vezes
agressivo) em sala de aula. De acordo com a visão de alguns teóricos
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, a
onipresença da “babá eletrônica” é uma das possíveis causas do aumento da
violência junto a crianças e adolescentes em idade escolar. Por vezes, esta
agressividade é desencadeada contra o professor, em manifestações de
comportamento inadequado que variam da indisciplina à violência corporal.
Vejamos um trecho do artigo escrito por Gilberto Dimenstein publicado no
caderno cotidiano do jornal “Folha de São Paulo” de 14 de outubro de 2007:
O artigo de Dimenstein mostra um dos muitos casos de professores que
sentem dificuldades para controlar uma sala de aula com educandos que parecem
ter perdido os seus limites. Não é possível ignorar a mudança do comportamento da
criança e do adolescente em fase escolar. Diante da ausência de pais e
responsáveis, a televisão ocupa um espaço significativo na formação moral, social e
intelectual dos jovens que, cada vez mais mostram-se indiferentes aos problemas
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No artigo “A violência urbana e os donos da mídia”, publicado no site Observatório da Imprensa em agosto de 2006, o Prof.
Dr. Venício A. de Lima relembra a pesquisa do Prof. Jo Groebel e assume o pensamento sobre a relação entre a
predominância da violência apresentada na programação televisiva e o aumento da agressividade entre os jovens. Seguindo o
pensamento, o estudioso reforça que a televisão faz com que as pessoas acreditem que a violência é algo normal e quanto
maior a desigualdade, maior é o impacto da violência. O crime organizado já faz uso da mídia televisiva e o seu
sensacionalismo, no entanto existe uma “recusa dos donos da mídia no Brasil em reconhecer que ela própria é também parte
do problema – e da solução -, e não apenas uma instituição que assiste à escalada da violência e reclama providências das
autoridades”.
A tragédia dos professores enlouquecidos
O choque de vítimas é visível quando uma professora agride um garoto que passou a vida sendo agredido
Depois de pegar um de seus estudantes mais indisciplinados e agressivos pela gola e rasgar sua camisa, Sirley
Fernandes da Silva, professora de uma escola estadual na periferia de São Paulo, pediu licença médica e resolveu
procurar um psiquiatra – já não sabia lidar com tanto desrespeito em sala de aula. “O aluno era terrível, mas depois fiquei
com pena dele. Quando chamamos os pais e percebemos como são ausentes da vida dos filhos, vemos que o garoto
também é uma vítima. O garoto fica em casa abandonado e, muitas vezes, vai para a escola só para comer.”
Depois de um ano de terapia, Sirley não abandonou o magistério, apenas trocou de série. Passou a dar aulas no
ensino médio, onde, segundo ela, havia uma “vantagem”: “Os alunos do ensino médio podem ser mais agressivos
verbalmente, mas os do fundamental partem para a agressão física”.
Difícil saber o que é mais dramático: A professora descontrolada pedindo socorro ao psiquiatra ou a “vantagem”
que ela encontrou ao dar aulas para estudantes mais velhos e apenas ser xingada.
O caso de Sirley faz parte de uma tragédia conhecida quase exclusivamente por especialistas: a epidemia de
distúrbios mentais dos professores brasileiros, provocados, entre outros motivos, pela violência e pelas condições de
trabalho ruins. Diante desse massacre psicológico, um minuto de silêncio seria uma forma apropriada de comemorar,
amanhã, o Dia do Professor.