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mercadoria da circulação para ocupar seu espaço, e com isso, segundo Marx, distancia-se de
seu próprio ponto de partida.
A circulação do dinheiro oculta relações importantes que a economia política vulgar
não reconhece. A primeira etapa da circulação de mercadoria, M – D, é visível, mas a segunda
etapa, D – M, só é visível analisando a própria circulação do dinheiro. O dinheiro se
autonomiza constantemente da mercadoria para reinar sozinho na circulação.
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Na aparência, tem-se simples troca material, M – D – M, intermediada pelo dinheiro.
O movimento da mercadoria esconde as relações mais concretas presentes na troca. Na
essência, o dinheiro cria seu próprio movimento. Assim, a economia política vulgar não
reconhece a autonomização do dinheiro na circulação, pois apenas reconhece o dinheiro como
simples intermediário das trocas.
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Considerando apenas a forma simples de circulação de mercadoria, o dinheiro é o
valor autonomizado e por isso seu movimento cumpre a função como meio circulante, logo:
Se, no entanto, só têm lugar metamorfoses unilaterais de mercadoria, meras
compras ou meras vendas, como se queira, o mesmo dinheiro também só
muda uma vez de lugar. Sua segunda mudança de posição expressa sempre a
segunda metamorfose da mercadoria, sua reconversão em dinheiro. Na
repetição freqüente (In der häufigen Wiederholung) da troca de posição das
mesmas moedas reflete-se não (spiegelt sich wider nicht) somente a série de
metamorfoses de uma única mercadoria, mas também o entrelaçamento das
inumeráveis (zahllosen) metamorfoses do mundo das mercadorias, em geral.
É facilmente compreensível que tudo isso é válido apenas para a forma
simples da circulação de mercadorias, aqui considerada (OC I, p. 102;
MEW 23, p. 130 – negritos RM).
Observa-se que Marx para manter seu método expositivo, não abandona o processo de
circulação simples de mercadoria, mesmo que nesta altura do desenvolvimento dialético da
mercadoria, já se observa a circulação autônoma do dinheiro. Ora, admitindo-se que
acontecem incontáveis trocas de mercadorias e o dinheiro funciona como meio circulante,
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“Quanto mais a produção voltada para o valor de troca se desenvolve, mais se desenvolve junto com ela a
autonomia do dinheiro frente às necessidades dos produtores independentes. Quantos mais o dinheiro se converte
em meta e finalidade exclusiva da produção, mais aumenta a dependência dos produtores privados frente o poder
universal do dinheiro, por um lado e, por outro, simultaneamente, mais se desenvolve a autonomia do dinheiro
frente aos produtores. Quanto mais a produção se subordina ao valor de troca e ao dinheiro mais este domina e
determina as necessidades da produção” (ANTUNES, 2005, p. 122).
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“[...] a economia política vulgar e o insosso Jean Baptiste Say, e ainda o grande Ricardo seguindo
ingenuamente as pegadas de Say, conceberam a troca simples como uma troca realizada diretamente de produto
por produto. Abstraindo a formalidade mediadora do dinheiro a economia política vulgar acredita que o linho
troca-se diretamente por Bíblia. Dessa concepção absurda Say e Ricardo acreditavam ser impossível um
desequilíbrio entre produção e consumo e daí, a superprodução de mercadoria, pois para ambos, produtos se
trocam diretamente por produtos, apesar da mediação formal do dinheiro” (ANTUNES, 2005, p. 127).