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autoria – para publicação no jornal Diário da Noite, conclamando os
compatriotas portugueses a demonstrarem apoio à luta contra as potências do
Eixo
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. Desse modo, a publicação do manifesto ocorreu antes mesmo do
anúncio do ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, de rompimento
das relações diplomáticas do Brasil com a Alemanha, a Itália e o Japão.
O manifesto, como era de se imaginar, origina uma série de reações no
país – mesmo com a diretriz de neutralidade imposta por Salazar –, pois muitos
portugueses escrevem ao jornal Diário da Noite oferecendo a sua solidariedade
para com o Brasil. O apelo do referido jornal é tanto que eles chegam a
reproduzir uma suposta carta, atribuída a uma criança de apenas 11 anos:
Eu, uma criança portuguesa de 11 anos de idade, que há
meses deixei o meu querido Portugal, sentindo pulsar
dentro do meu peito um grande amor pelo Brasil e pela
liberdade dos povos, pedi autorização a meus pais para,
pelo meu próprio punho, escrever estas linhas. Pois bem,
sr. Redator, quero que o DIÁRIO DA NOITE, se for
possível, transmita meu apelo no sentido de que todos os
portugueses e brasileiros, velhos, jovens ou crianças, se
unam nesta hora de incertezas, fraternalmente, para
defender, quando necessário, este idolatrado Brasil.
Subscrevo-me muito respeitosamente, desejando muitas
felicidades para o DIÁRIO DA NOITE. Esmeralda Pinto
dos Santos. Rua Dr. Bulhões, 170
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.
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O manifesto, na íntegra, compreendia o seguinte texto: “AOS PORTUGUESES DO BRASIL
– Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1942 – Portugueses residentes no Brasil, somos solidários,
como D. Pedro IV, de Portugal, com os princípios que, desde a Declaração de Independência
dos países americanos, têm marcado a posição da América, na defesa da liberdade dos povos,
como neste momento, em que a unidade política do Continente, proclamada na Conferência do
Rio de Janeiro, perante o ato de agressão das potências totalitárias, traduz a concordância da
América com os fundamentos humanos e políticos do acordo Roosevelt-Churchill, consignado
na Carta do Atlântico, garantia única da liberdade de todos os povos, sem exceção. Quando,
neste momento, a unidade americana ainda mais se reveste de significação, por ter estado
ameaçada, concitamos todos os portugueses do Brasil a dirigirem a sua ex. o sr. Presidente da
República, dr. Getúlio Vargas, a manifestação dos nossos sentimentos de portugueses pondo-
nos incondicionalmente à disposição do Brasil, prontos a lutar, ao lado dos brasileiros, pelo
futuro da nossa civilização comum e pelos princípios de dignidade e de liberdade humana,
pelos quais sempre se bateram nossos maiores, donde nos vem a honra de sermos
portugueses. Todo português que estiver de acordo com esta declaração de princípios, em
todo o território do Brasil, aderindo, de coração, ao puro sentido lusíada da manifestação,
deverá dirigir, desde hoje, pelo correio, à Secretaria do Palácio do Catete, espontaneamente,
sua declaração de português, nos termos do coupon que vai publicado na segunda página”.
Jornal Diário da Noite, Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1942, p. 1.
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Idem, p. 2.