Legitimar o recorte indicado como de relevância social foi posto como um
segundo desafio enfrentado durante o processo de elaboração deste estudo. Qual
seria a contribuição-intervenção da pesquisa para o campo da Educação Física? O
que um estudo sobre Copa do Mundo e Seleção Brasileira poderia oferecer de
significativo para a área? Quais as possibilidades de interações sociais que um
estudo como este pode ter? Como já afirmado anteriormente, durante o
acontecimento da Copa do Mundo, as relações entre Seleção Brasileira e povo
brasileiro são intensificadas. Toda uma movimentação publicitária, comercial,
industrial, mercadológica, cultural e emocional é agitada nutrindo o sentimento de
um determinado patriotismo e nacionalismo tanto daqueles que acompanham o
futebol em todas as suas vertentes quanto daqueles que, notadamente, são
torcedores de Copa do Mundo
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. Essa sensibilidade existente que nos joga – ou nós
mesmos nos jogamos – numa espécie de reunião nacional inequívoca de vibração e
passionalidade é característica dessa ocasião:
O tempo das Copas do Mundo é, assim, o tempo da nação, tal como ela se
apresenta através do futebol. E a imprensa esportiva opera com este
pressuposto, possibilitando a emergência de um nível mais englobante de
identidade social em que todas as diferenças (de classe, de posição, de
etnia, regionais etc.) são tornadas secundárias. (GUEDES, 1998, p.49)
Não obstante somos testemunhas participantes dessa mobilização, saindo
às ruas e bares ou nos reunindo em pequenos grupos nas casas ou locais de
trabalho para assistir aos jogos da Seleção Brasileira, carregando uma bandeira,
vestindo uma camiseta ou qualquer outro adorno com as cores verde-amarelo. Mas
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O debate envolvendo cultura e futebol no contexto brasileiro requer algumas indicações históricas
frente à representatividade adquirida por algumas produções. A começar pela década 1920, onde a
obra de Graciliano Ramos “Linhas Tortas” discute a noção de cultura, desconfiando do êxito de uma
apropriação cultural do futebol pelo povo brasileiro. Outra obra notabilizada em estudos acerca da
construção identitária do nosso futebol, com o viés de análise do papel do negro no processo de
popularização do futebol, é “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho, publicada em 1947, com
edições revisadas em 1964 e, depois, em 1998. Há ainda, as publicações do campo das Ciências
Humanas que emergem entre os anos 70 e 80, principalmente a partir de estudos de Da Matta, “O
Universo do Futebol” e, mais recentemente, os estudos acadêmicos mais pontuais, tanto os de um
determinado recorte histórico e geográfico em específico, como Pereira (2000) no Rio de Janeiro,
com o livro “Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro”, e Rigo (2001) sobre o
futebol em Pelotas, na obra “Memórias de um Futebol de Fronteiras”; quanto os estudos que tomam
como delimitação os clubes tradicionais do nosso futebol, como no caso de “A Construção Social da
Paixão no Futebol: o caso do Vasco da Gama” em Silva (2005); como ainda, os acontecimentos do
universo do futebol nas Copas do Mundo, por exemplo, “O Rio Corre para o Maracanã”, de Gisele
Moura (1998). Afora esses, existem outros estudos que tematizam o futebol associando-o a algum
elemento constituinte da cultura como Racismo e Futebol, Violência e Futebol, Profissionalização no
Futebol, Gênero e Futebol, entre outros.