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O engajamento físico–corporal necessário ao mundo do trabalho conferiu um papel histórico à
educação física escolar e aos esportes, uma vez que a eles coube proporcionar ao cidadão
brasileiro uma boa preparação física e moral.
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A Educação Física, seguindo uma tendência
do campo educacional mais amplo, por sua vez, não ficou alheia às reordenações das
atividades produtivas. As novas necessidades advindas desse processo de mudanças pelo qual
passava a sociedade brasileira exigiam do sistema educacional uma postura diferente ante os
novos imperativos sociais. Nesse bojo, a Educação Física precisava reordenar seus propósitos
em função do ritmo geral dessa cultura, correspondendo quase que invariavelmente às idéias
sociais, econômicas e científicas vigentes nesse momento histórico,
[...] a verdadeira finalidade moderna da Educação Physica [...] não é mais crear
simplesmente homens fortes, mas homens aptos à vida social, capazes de se
engrenar útil, intelligente, fecundamente na collectividade. [...] a edade moderna
precisa de homens efficientes e optimistas. [...] Fará com que cada um dos seus
hábitos physicos contribua para o augmento da sua efficacia e não para a sua
diminuição. [...] A edade nova requer homens de iniciativa, viços, criteriosos [...]. A
nova Educação Physica pede homens equilibrados e senhores de si mesmos [...]. A
nova Educação Physica deve fazer os músculos, em vez de grandes, fortes. Não deve
consumir a energia nervosa, como o fizeram muitos dos nossos esportes athleticos.
Ao contrario, tratará de economizá-la e armazená-la porque a edade moderna precisa
muito desse valioso elemento. Procurará a maneira de evitar todo esforço violento e
fatigante, de exigir pouco a attenção e permitir o repouso, ensinando tanto o
descanso como o trabalho [...].
205
Essa preocupação com a cultura física ou, em outros termos, com o corpo do trabalhador, a
fim de torná-lo útil e produtivo para a Nação, pôde ser sentida em diversas áreas no período,
não só referente à Educação Física. Iniciativas de estender essa prática à classe operária
partira de órgãos oficiais e pontualmente das fábricas.
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[...] [Tais iniciativas] podem ser entendidas numa preocupação mais ampla de
garantir a saúde, rendimento e eficiência do trabalhador [...] contribuindo para a
204
Todavia, encontramos argumentações que relativizavam a importância da aptidão física para o processo
produtivo na fábrica; tais afirmações, como doravante veremos, baseavam-se na idéia de que a mecanização da
vida (devido à industrialização) permitia ao homem prescindir, em larga medida, da sua força física para a
realização do seu trabalho. Isso se, por um lado, relativizava a importância das práticas esportivas como
promotora da aptidão física, por outro, lhe conferia enorme importância por entender que o sedentarismo,
resultado da vida mecanizada, poderia ser combatido pela prática de exercício físico metodicamente realizado,
daí a importância de uma educação física racional, metódica e científica. O debate sobre a mecanização da vida e
do trabalho estendeu-se para além do recorte aqui realizado, ganhando grande notoriedade a partir dos anos
1940.
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FISHER, Irvining. A nova educação physica. Revista Educação Physica, Rio de Janeiro, n 4, p. 12, mar.
1934. Durante o período em que a revista esteve em circulação, essa foi uma matéria veiculada seis vezes,
demonstrando que, em certa medida, os editores concordavam com as idéias ali explicitadas. As revistas que a
publicaram foram: n. 4 (1934), n. 9 (1937), n. 13 (1937), n. 25 (1938), n. 32 (1939), n. 73 (1943).
206
BERCITO, Sonia de Deus Rodrigues. 'Ser forte para fazer a nação forte': a Educação Física no Brasil (1932-
1945). Dissertação (mestrado em História Social). FLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991. p. 141.