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Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
MARCELO MORENO
ESPECTROSCOPIA RAMAN EM CÂNCER DE MAMA
São José dos Campos, SP
2006
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MARCELO MORENO
ESPECTROSCOPIA RAMAN EM CÂNCER DE MAMA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Biomédica
da Universidade do Vale do Paraíba, como
complementação dos créditos necessários
para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia Biomédica.
Orientador: Prof. Dr. Airton Abrahão
Martin.
Co-orientador: Profa. Dra. Emília Ângela
Loschiavo Arisawa.
São José dos Campos, SP
2006
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DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a todas as pacientes que contribuíram para que houvesse o
desenvolvimento de uma técnica diagnóstica que futuramente poderá auxiliar
tantas outras.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à Deus por possibilitar condições de luta e perseverança
nos meus ideais, pois desde jovem tive o espírito investigativo, e apesar das
dificuldades, permitiu-me concluir o ensino médio, fundamental, graduação e pós-
graduação. Agradeço à minha família que sempre me entendeu e apoiou e à pessoa
especial que me acompanha há 8 anos, entendendo os momentos em que devia me
dedicar à leitura de artigos e construção de textos. À Universidade do Vale do
Paraíba, por oferecer a oportunidade de desenvolvimento de pesquisa básica, sob a
forma de pós-graduação stricto sensu. Ao Professor Airton A. Martin, por ter
aceitado ser meu orientador, colocando o laboratório de Espectroscopia
Vibracional à disposição para o desenvolvimento deste estudo, e aos momentos
em que pôde compartilhar seus conhecimentos. À Profa. Emília Ângela L.
Arisawa pela co-orientação e pelo cuidado especial na correção do texto.
Agradeço a dedicação dos profissionais técnicos dessa instituição, principalmente
à Sra. Valéria e a Sra. Ivone, secretárias do IP&D e à Sra. Rúbia bibliotecária da
Biblioteca Setorial do IPD. Agradeço aos colegas e amigos patologistas: Cíntia
Lopes, Jerso Menegasi e Rosane Aguiar pela disponibilidade para a realização dos
exames anátomo-patológicos. Ao colega e amigo cirurgião oncológico Benito
Bodanese que sempre esteve disposto a ajudar nas coletas e armazenamento das
amostras. Faço também um agradecimento especial à colega e agora amiga Renata
Bitar, pois sem os seus conhecimentos, paciência e dedicação, não seria possível
alcançar objetivos propostos.
ESPECTROSCOPIA RAMAN EM CÂNCER DE MAMA
RESUMO
Com o objetivo de avaliar o diagnóstico vibracional molecular de doenças mamárias,
foram coletados espectros Raman de 82 amostras de lesões mamárias de 82 pacientes
com diferentes tipos de diagnósticos, durante o período de abril de 2005 a março de
2006. Com um total de 859 espectros foi formada uma “livraria espectral”, incluindo
diagnósticos como tecido mamário normal, alterações funcionais benignas da mama
(AFBM), fibroadenoma (FBD), neoplasia intra-epitelial ductal e diferentes tipos de
carcinomas mamários. Carcinoma ductal invasor (CDI) representou o maior número dos
espectros (46%), seguido de outras doenças malignas (21%), tecido mamário normal
(14%), doenças benignas (13%) e doenças mamárias pré-malignas (6%). A utilização da
Análise de Componentes Principais e Dispersão Binominal permitiu a análise estatística
multivariada. As variáveis escolhidas para representar os diagnósticos, foram aquelas
que tiveram uma diferença estatística menor que 5% e os espectros escolhidos
representaram o padrão “ouro”. Espectroscopia Raman diferenciou com uma
sensibilidade e especificidade de 100%, as seguintes doenças: CDI de carcinoma ductal
in situ; carcinoma ductal inflamatório de carcinoma medular e mucinoso; CDIS de
Doença de Paget mamária; CDIS de AFBM; CDIS de FBD e mama normal de AFBM e
FBD. Espectroscopia Raman também diferenciou os diagnósticos: Doença de Paget e
AFBM de CDI; FBD de CDI; CDIS de CDI com sensibilidade e especificidade de
95,24 % e 100%; 94,92 % e 81,82 %; 100 % e 93,02 %; 99,58 % e 85,19 %,
respectivamente. O Diagrama de Dispersão, que incluiu todos os agrupamentos deste
estudo, foi dividido em quatro “regiões diagnósticas”: 1- tecido mamário normal; 2
doença benigna; 3 doenças pré-malignas e 4 doenças malignas. Esses resultados
confirmam que a Espectroscopia Raman é um método com alta acurácia para o
diagnóstico de doenças mamárias podendo ser considerado para o uso in vivo.
PALAVRAS-CHAVE: Espectroscopia Raman; Câncer de mama; Diagnóstico;
Biópsia óptica.
RAMAN SPECTROSCOPY IN BREAST CANCER
ABSTRACT
The aim of this study was evaluate the vibrational molecular diagnosis of malignant and
benign breast diseases, Raman spectra of 82 mammary gland samples were collected
from 82 patients with different kinds of breast diseases during the period of April 2005
to March 2006. A total of 859 spectra have constituted a “spectral library” including
diagnosis like normal breast, aberrations of normal development and involution
(ANDI), fibroadenoma (FBD), ductal intraepithelial neoplasia and different kinds of
breast carcinoma. Ductal carcinoma invasive (DCI) represented the major number of
spectra (46%), followed by others malignant neoplasms (21%), breast normal tissue
(14%) and benign diseases (13%) and pre-malignant breast diseases (6%). The
multivariate statistical evaluation was done using Principal Component Analysis and
Binominal Dispersion. The variables chosen to represent the diagnostic were those
having statistical difference less than 5%. These spectra represented the gold standard.
Raman spectroscopy differentiated with sensibility and specificity of 100% the
following diseases: DCI from ductal carcinoma in situ (DCIS); ductal carcinoma
inflammatory from medullary and mucinous carcinomas; DCIS from mammary Paget’s
Disease; DCIS from ANDI; DCIS from FBD and normal breast tissue from ANDI and
FBD. The Raman spectroscopy was able to discriminate Paget’s Disease from DCI;
ANDI from DCI; FBD from DCI; and DCIS from DCI with sensibility and specificity
of 95,24 % and 100%; 94,92 % and 81,82 %; 100 % and 93,02 %; 99,58 % and
85,19 %, respectively. The Dispersion Diagram, which included all sample clusters of
this study, was divided in four “diagnostics regions”: 1- normal breast tissue; 2 benign
disease; 3 pre-malignant diseases and 4 malignant diseases. These results support
that Raman spectroscopy is a method with high accuracy for breast diseases diagnosis
could be considered to use in vivo.
KEY WORDS: Raman spectroscopy; Breast cancer; Diagnosis; Optical biopsy.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Morfologia macroscópica da glândula mamária humana feminina. 7
Figura 2 Morfologia microscópica mama feminina humana 8
Figura 3 Aspecto microscópico dos ductos mamários 8
Figura 4 Drenagem linfática da glândula mamária humana 9
Figura 5 Achados microscópicos de alterações fibrocísticas benignas 11
Figura 6 Morfologia microscópica do fibroadenoma 12
Figura 7 Morfologia macroscópica do fibroadenoma 13
Figura 8 Aspecto microscópico do carcinoma ductal in situ 16
Figura 9 Aspecto microscópico do CDIS cribiforme. 16
Figura 10 Aspecto microscópico do CDIS tipo comedo. 17
Figura 11 Aspecto microscópico do CLIS.17
Figura 12 Aspecto macroscópico do CDI sem outra especificação 19
Figura 13 – Aspecto microscópico do CDI sem outra especificação 20
Figura 14 Êmbolo neoplásico no interior de um canal linfático 20
Figura 15 RX de tórax mostrando múltiplas lesões metastáticas. 21
Figura 16 Aspecto clínico do CDI inflamatório. 21
Figura 17 Aspecto histológico do CLIS 23
Figura 18 Aspecto histológico do carcinoma tubular de mama 24
Figura 19 Morfologia microscópica do carcinoma medular mamário 24
Figura 20 Morfologia microscópica do carcinoma mucinoso 25
Figura 21 Morfologia microscópica da Doença de Paget mamária. 25
Figura 22 Mamografia mostrando uma lesão nodular 26
Figura 23 Aspecto citológico do carcinoma ductal mamário. 28
Figura 24 Técnica de Core Biopsy 29
Figura 25 Demarcação pré-operatória pela técnica de agulhamento 31
Figura 26 ROLL 33
Figura 27 Fotografia do gama probe Navigator GPS
®
33
Figura 28 Efeito Raman 39
Figura 29 Espectro Raman infravermelho-próximo do colesterol 39
Figura 30 Dispositivo para Raman com Transformada de Fourier . 41
Figura 31 Média dos espectros TF-Raman do tecido mamário normal 44
Figura 32 Média dos Espectros TF-Raman dos diferentes tecidos mamários 46
Figura 33 Material utilizado para armazenar e preparar a amostra para a leitura.
49
Figura 34 Espectrômetro TF-Raman RFS 100, Bruker.. 49
Figura 35 – Porta-amostras. 50
Figura 36 Posicionamento da amostra 51
Figura 37 Posicionamento da amostra utilizando o estágio motorizado. 52
Figura 38 Dendograma representando o agrupamento sucessivo 54
Figura 39 Média dos espectros TF-Raman de amostras de tecido mamário normal
60
Figura 40 Dendograma representativo dos espectros de mama normal. 61
Figura 41 Média dos espectros TF-Raman de amostras de AFBM 63
Figura 42 Dendograma representativo dos espectros de AFBM. 64
Figura 43 Média dos espectros TF-Raman de amostras de fibroadenoma 66
Figura 44 Dendograma representativo dos espectros de Fibroadenoma. 67
Figura 45 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDIS. 68
Figura 46 Dendograma representativo dos espectros de CDIS 69
Figura 47 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDIS comedo 70
Figura 48 Dendograma representativo dos espectros de CDIS tipo comedo. 71
Figura 49 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDI SOE 73
Figura 50 Dendograma representativo dos espectros de CDI SOE 74
Figura 51 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDI inflamatório 76
Figura 52 Dendograma representativo dos espectros de CDI inflamatório. 77
Figura 53 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDI medular 78
Figura 54 Dendograma representativo dos espectros de CDI medular 79
Figura 55 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CDI mucinoso 80
Figura 56 Dendograma representativo dos espectros de CDI mucinoso 81
Figura 57 Média dos espectros TF-Raman de amostras de CLI 83
Figura 59 Média dos espectros TF-Raman de amostras de Doença de Paget 84
Figura 60 Dendograma representativo dos espectros de Doença de Paget. 85
Figura 61 Média dos espectros TF-Raman de amostras CEC mamário 87
Figura 62 Dendograma representativo dos espectros de CEC de mama 88
Figura 63 Média dos espectros TF-Raman de todas as amostras 90
Figura 64 Dendograma representativo do cálculo dos espectros das 82 pacientes
incluídas do estudo. 91
Figura 65 Dispersão Binominal dos espectros de mama normal, AFBM e
fibroadenoma. 93
Figura 66 Dispersão Binominal dos espectros de CDIS e fibroadenoma. 94
Figura 67 Dispersão Binominal dos espectros de CDIS e AFBM. 95
Figura 68 Dispersão Binominal dos espectros de CDI e fibroadenoma. 96
Figura 69 Dispersão Binominal dos espectros de CDI e AFBM. 97
Figura 70 Dispersão Binominal dos espectros de mama normal, CDIS e CDI. 99
Figura 71 Dispersão Binominal dos espectros de CDI, CDIS e CDIS comedo. 101
Figura 72 Dispersão Binominal espectros de CDI, CDI inflamatório, CDI medular e
CDI mucinoso. 102
Figura 73 Dispersão Binominal dos espectros de CDI inflamatório, CDI medular e
CDI mucinoso. 103
Figura 74 Dispersão Binominal dos espectros de CDI e CLI. 104
Figura 75 Dispersão Binominal dos espectros de CDI e Doença de Paget. 106
Figura 76 Dispersão Binominal dos espectros de CDIS e Doença de Paget. 107
Figura 77 Dispersão Binominal dos espectros de todas as amostras 109
Figura 78 Separação dos agrupamentos em quatro regiões diagnósticas 110
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Marcadores prognósticos para metástases de CM 35
Tabela 2 Tipos histopatológicos de CM. 36
Tabela 3 Modos vibracionais e biomoléculas referentes aos picos Raman de tecido
mamário humano.. 45
Tabela 4 - Parâmetros ajustados com auxílio do Software OPUS 4.2 para a aquisição
dos espectros no TF-Raman Spectrometer RFS 100. 51
Tabela 5 Distribuição do número de pacientes de acordo com o diagnóstico
histopatológico e o número de espectros TF-Raman gerados. 57
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACP análise dos components principais.
ANDI aberrations of normal development and involution aberrações de
desenvolvimento normal e involução.
BRCA1 gene de suscetibilidade para o desenvolvimento de câncer de mama,
quando mutado. Quando normal tem o papel de reparar danos do DNA.
CDI carcinoma ductal invasor.
CDIS carcinoma ductal in situ.
CDISOE carcinoma ductal invasor sem outra especificação.
CEC carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide.
CLI carcinoma lobular invasor.
CM câncer de mama.
DP desvio padrão.
ER espectroscopia Raman
ERUV espectroscopia Raman ressonante ultravioleta.
MT metástases.
Nd:YAG laser de Neodímio: Ítrio - Alumínio -Granada.
NID neoplasia intraepitelial ductal.
NIL neoplasia intraepitelial lobular.
PAAF punção aspirativa com agulha fina.
PET positron emission tomography- tomografia por emissão de pósitrons.
PC componentes principais.
ROLL radioguided occult lesion localization localização radioguiada de lesão
oculta.
TF Transformada de Fourier.
US ultra-sonografia.
UV ultravioleta.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 1
2 OBJETIVOS 3
2.1 Geral 3
2.2 Específicos 3
3 REVISÃO DA LITERATURA 4
3.1 Morfologia mamária 5
3.1.1 Anatomia e Histologia 5
3.2 Patologia mamária 9
3.2.1 Doenças Benignas 9
3.2.1.1Alterações funcionais benignas da mama11
3.2.1.2 Lesões benignas esclerosantes 11
3.2.1.3 Fibroadenoma 11
3.2.2 Câncer de mama 13
3.2.2.1 Carcinoma não invasivo 13
3.2.2.2 Carcinoma invasor 18
3.3 Diagnóstico 25
3.4 Tipos de Biópsia 26
3.4.1 PAAF 26
3.4.2 Core Biopsy
®
28
3.4.3 Mamotomia 29
3.4.4 Biópsia cirúrgica sem demarcação 30
3.4.5 Agulhamento pré-operatório 30
3.4.6 ROLL 32
3.5 Fatores prognósticos do câncer de mama 34
3.6 Espectroscopia Raman 36
3.6.1 Histórico e princípios 36
3.6.2 ER com transformada de Fourier 40
3.6.3 ER e câncer 42
3.7 ER e câncer de mama 43
3.7.1 Caracterização do epitélio mamário normal na ER 43
3.7.2 Caracterização do epitélio mamário neoplásico na ER 45
4 METODOLOGIA 47
4.1 Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa 47
4.2 Obtenção das amostras de tecido mamário 47
4.3 Obtenção dos espectros TF-Raman 48
4.3.1 Espectrômetro TF-Raman 48
4.3.1.1 Laser Nd: YAG (Neodímio: Ítrio Alumínio Granada) 50
4.3.1.2 Parâmetros do equipamento 50
4.3.2 Preparação das amostras de tecido mamário 52
4.3.3 Número de espectros por amostra 52
4.3.4 Análise dos dados espectrais 53
4.3.5 Análise dos componentes principais 55
4.3.6 Diagnóstico histopatológico 56
5 RESULTADOS 57
5.1 Análise de todas as amostras mamárias 58
5.2 Tecido mamário normal 58
5.3 AFBM 62
5.4 Fibroadenoma 65
5.5 CDIS 68
5.6 CDIS tipo comedocarcinoma 70
5.7 CDI 72
5.8 CDI tipo inflamatório 75
5.9 CDI tipo medular 78
5.10 CDI tipo mucinoso 80
5.11 CLI 82
5.12 Doença de Paget 84
5.13 CEC 86
5.14 Dispersão Binominal entre espectros 92
5.14.1 Dispersão Binominal considerando doença mamária benigna 93
5.14.2 Dispersão Binominal considerando doença mamária benigna, pré-maligna e
maligna....... 94
5.14.3 Dispersão Binominal entre os espectros de todas as amostras analisadas 109
6 DISCUSSÃO 111
7 CONCLUSÕES 118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 121
Apêndice A Termo de consentimento livre esclarecido. 125
ANEXO A Certificado do comitê de ética em pesquisa da UNIVAP. 127
1 INTRODUÇÃO
Câncer de mama (CM) é a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres dos
países ocidentais. Estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tantos nos
países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Segundo a
Organização Mundial da Saúde, nas décadas de 60 e 70 foi verificado um aumento
de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de
Base Populacional de diversos continentes (KOPANS, 1997; VERONESI, 2002;
BURSTEIN, 2004). No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2005)
prevê 472.050 casos novos de câncer diagnosticados, sendo que o CM será o
segundo mais incidente entre a população feminina (49.930 casos novos).
Atualmente, para detecção precoce do CM, é realizada a combinação do exame
físico e mamográfico anuais a partir dos 40 anos para todas a mulheres, e acima
dos 35 anos para mulheres com alto risco para desenvolvimento da doença tais
como câncer hereditário, doenças pré-malignas, entre outros, (KOPANS, 1997;
VERONESI, 2002). Para a confirmação diagnóstica são necessários métodos
como a punção por agulha fina (PAAF), biópsia incisional (Core Biopsy
®
ou
cirúrgica) - guiadas ou não por métodos de imagem -, Radioguied Occult Lesion
Localization (ROLL), biópsias excisionais com agulhamento prévio e mamotomia.
Todas as técnicas são realizadas com acesso direto à lesão mamária suspeita,
necessitando auxílio de procedimentos que variam de anestesia local até
internação hospitalar com emprego de anestesia geral (HARRIS, 2000;
VERONESI, 2002), que muitas vezes, pode ser traumático para o paciente. Além
disso, o exame histológico leva, em média, uma semana para ser liberado pelos
laboratórios de patologia e o sistema público e convênios de saúde têm que arcar
com custos médico-hospitalares altos (BEITLER; HURD; EDGE, 1997;
MORROW, 2001).
Espectroscopia Raman (ER) é um método clínico potencialmente importante no
diagnóstico de doenças em tempo real (SHAH, 2001; KRAFFT, 2003; BOERE et
al., 2003). Desde a descrição do efeito Raman, em 1928, inúmeros estudos têm
sido realizados empregando a propriedade da interação entre a luz e a matéria
(HANDLON, 1999; SHAH, 2001; KRAFFT, 2003). Espectros Raman de
moléculas biológicas contêm numerosas bandas que representam modos normais
de vibração molecular servindo como impressões digitais de sua estrutura,
composição, interação e dinâmica. Qualquer condição patológica é acompanhada
por mudanças na composição molecular e/ou estrutura molecular comprometendo
um tecido ou uma célula. Essas mudanças são refletidas no espectro Raman
(HANDLON, 2000; BIGIO, 2000; SHAH, 2001; KRAFFT, 2003). A morfologia
da glândula mamária humana é relativamente simples, (KOPANS, 1997;
HARRIS, 2000; VERONESI, 2002), tornando-se viável a avaliação de
transformações malignas do tecido epitelial desse órgão, utilizando ER
(HANDLON, 2000; SHAH, 2001). O futuro do emprego da ER como método
diagnóstico, depende do conhecimento das características espectrais específicas de
cada doença, e então, desenvolver um dispositivo para a caracterização
diagnóstica in vivo do CM.
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Construir banco de dados espectrais de doenças mamárias benignas e malignas
para estudos comparativos com fatores prognósticos, análises histopatológicas e
diagnósticos clínicos.
2.2 Específicos
Obter e diferenciar espectros Raman em amostras de tecido mamário humano
normal e com alterações patológicas.
Qualificar os espectros Raman obtidos através da análise de suas variações
correlacionando-os com os achados histopatológicos das amostras de tecido
mamário.
3 REVISÃO DA LITERATURA
CM é o segundo tipo de câncer mais comum entre toda a população mundial, com
um milhão de casos novos por ano. Atualmente, no Brasil, há um risco estimado
de 53 casos a cada 100 mil mulheres, enquanto para cada 100 casos de câncer em
mulheres é estimado um caso no sexo masculino. Seu prognóstico é relativamente
bom quando diagnosticado nos estágios iniciais. Estima-se que a sobrevida média
geral cumulativa após cinco anos seja de 65%, variando de 53 a 74% nos países
desenvolvidos, e de 56%, com variação entre 49 e 51% para os países em
desenvolvimento. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de
61% (KOPANS, 1997; HARRIS, 2000; VERONESI, 2002; INCA, 2005). Não
existem medidas práticas específicas de prevenção primária do CM aplicável à
população, embora estudos observacionais sugiram que a prevenção do tabagismo,
alcoolismo, obesidade e sedentarismo reduzam o risco de desenvolvimento da
doença. Avanços tecnológicos têm sido direcionados para diagnóstico precoce e
tratamento visando melhorar a qualidade da sobrevida dos pacientes (INCA,
2005). As taxas de mortalidade por CM continuam elevadas no Brasil, muito
provavelmente porque a doença ainda seja diagnosticada em estádios avançados.
Com base nas informações disponíveis dos Registros Hospitalares do INCA, no
período 2000/2001, 50% dos tumores de mama foram diagnosticados nos estádios
III e IV. Em países desenvolvidos, a taxa de mortalidade tem diminuído devido à
implementação do rastreamento com exame mamográfico, resultando em
diagnóstico cada vez mais precoce. CM é uma doença clinicamente heterogênea, e
esta característica pode dificultar não só a definição de cura, como a avaliação do
risco para o desenvolvimento de metástases. Aproximadamente 10-15% dos
pacientes com CM apresentam o curso da doença de forma mais agressiva,
evoluindo rapidamente com metástases à distância e conseqüentemente à morte, o
que ocorre principalmente nos três primeiros anos após o diagnóstico (WEIGETL
et al., 2005; INCA, 2005).
Para entender os tipos de lesões mamárias estudadas neste trabalho, será feita, a
seguir, uma descrição da morfologia e das principais doenças que acometem a
mama humana.
3.1 Morfologia mamária
A região mamária pode ser definida como a parte da parede torácica ocupada pela
mama. A glândula mamária é considerada um anexo cutâneo especializado dessa
região, que adquiriu alta diferenciação. É quase insignificante no sexo masculino,
mantendo-se em estado rudimentar. Na mulher possui importância fisiológica e
patológica pelo desenvolvimento glandular importante secundário aos níveis
aumentados de estrógenos circulantes sendo capaz de secretar leite (TESTUT,
1951; KOPANS, 1997).
3.1.1 Anatomia e Histologia
A mama adulta feminina localiza-se entre a segunda e a sexta costela no eixo
vertical e entre a linha axilar média no eixo horizontal, possuindo diâmetro médio
de 10 a 12cm. O parênquima mamário estende-se até a axila, (prolongamento
axilar de Spence). É composta por três estruturas anatômicas principais: pele,
tecido subcutâneo e parênquima mamário (TESTUT, 1951; HARRIS et al., 2000)
(Fig. 1). A pele da mama é fina e contém folículos pilosos, glândulas sebáceas e
glândulas sudoríparas. No mamilo é encontrada grande quantidade de terminações
nervosas sensoriais, corpos de Ruffini e os corpúsculos de Krause, além de
glândulas sudoríparas apócrinas e glândulas sebáceas. A aréola é circular e
pigmentada, com 15 a 60 mm de diâmetro e possui os tubérculos de Morgagni
localizados na periferia, elevações formadas por aberturas dos ductos das
glândulas de Montgomery, apresentando 10 a 15 glândulas sebáceas em estágio
intermediário entre glândula sudorípara e mamária. O parênquima mamário é
dividido em 15 a 20 segmentos, chamados lobos, que convergem radialmente para
o mamilo (TESTUT, 1951; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). Não há cápsula e
cada lobo é separado por septos de tecido conjuntivo que contêm tecido adiposo
Os ductos coletores que drenam cada segmento têm 2 mm de diâmetro, sendo que
na porção subareolar apresentam dilatação de 5 a 8 mm região da ampola ou seio
lactífero, onde se comunicam com o mamilo através de 5 a 10 ductos coletores.
Cada ducto coletor drena um lobo que é formado por 20 a 40 lóbulos. Cada lóbulo
é formado por 10 a 100 alvéolos (Fig. 2) (TESTUT, 1951; COTRAN; COLLINS;
KUMAR, 2000; HARRIS et al., 2000; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). O
ducto lactífero principal é formado pela junção de ductos intralobulares (Fig. 3).
Os ductos menores são revestidos por células epiteliais colunares e, mais
externamente, apresentam uma camada de células mioepiteliais sobre a lâmina
basal. Ductos maiores são revestidos por duas camadas de células epiteliais. Não
há alvéolos secretores na glândula mamária em repouso, mas as células que
fecham o fundo cego de cada ducto intralobular aumentam durante a segunda
metade do ciclo menstrual. Quando ativadas por hormônios, estas células podem
se transformar em alvéolos. A maioria do estroma mamário é formada por um
tecido conjuntivo fibroso ou denso em permeio ao tecido adiposo, estroma
interlobular, contendo fibras elásticas que sustentam os ductos mamários. Os
lóbulos são sustentados por um estroma mixomatoso delicado, com linfócitos em
permeio, denominado estroma intralobular (Fig. 2). O suprimento sangüíneo da
mama é dado principalmente pelas artérias mamárias interna e torácica lateral. Já a
drenagem linfática é feita principalmente para linfonodos axilares (97%) e o
restante para a cadeia linfonodal mamária interna (Fig. 4), (HARRIS et al., 2000;
JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Figura 1 Morfologia macroscópica da glândula mamária humana feminina.
Adaptação do Netter (2003).
Figura 2 Morfologia microscópica mama feminina humana (H&E 200X).
Figura 3 Aspecto microscópico dos ductos mamários (H&E 100X).
Figura 4 Drenagem linfática da glândula mamária humana. Adaptado do Netter (2003).
3.2 Patologia mamária
A mama é um sítio sujeito ao desenvolvimento de uma série de doenças. Muitas
vezes o que é traduzido clinicamente como doença mamária é, na verdade, uma
expressão de processos dinâmicos que ocorrem na mama normal durante a vida de
uma mulher. Para melhor entendimento da grande variedade na patologia
mamária, optou-se por dividir a descrição conforme o que segue, considerando as
doenças mamárias mais comuns.
3.2.1 Doenças Benignas
3.2.1.1 Alterações funcionais benignas da mama
Há uma ampla variedade de terminologia para a definição desse grupo de doenças.
Segundo Hughes et al (1987), a melhor definição para todo esse grupo de doenças
seria: aberrações do desenvolvimento normal e involução ou ANDI. No Brasil, a
maioria dos patologistas e mastologistas as denominam como alterações
funcionais ou benignas da mama - AFBM, (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
MASTOLOGIA, 2006). Cerca de 50% das pacientes atendidas em ambulatórios
de mastologia, com queixas referentes à glândula mamária, não apresenta achado
expressivo após o emprego racional de métodos diagnóstico, tendo um pico de
incidência entre os 25 e os 45 anos. Algumas das lesões elementares (que
representam o substrato morfológico) como cistos, fibrose e adenose, devem ser
interpretadas como um exagero ou um desvio das modificações fisiológicas que o
parênquima mamário sofre durante o ciclo menstrual. A variável morfológica que
delineia a passagem da fisiologia para patologia é dada pelo grau e aspecto da
hiperplasia epitelial. Considerando esse conceito, são achados comuns: cistos,
metaplasia apócrina (cistos revestidos com epitélio apócrino), fibrose, infiltrado
inflamatório, hiperplasia, adenose (hiperplasia com um aumento da unidade
lobular sem alterações citológicas), entre outros (Fig. 5). Um dos problemas
enfrentados é a distinção entre benignidade absoluta e um tumor maligno, sendo,
muitas vezes necessário recorrer a um procedimento cirúrgico. Além disso, há a
necessidade de avaliar as entidades benignas que podem se apresentar e
sucessivamente desenvolver um câncer (HARRIS et al., 2000; VERONESI, 2002).
Figura 5 Achados microscópicos de alterações fibrocísticas benignas da mama (H&E
400X).
3.2.1.2 Lesões benignas esclerosantes
São lesões benignas que simulam malignidade, podendo criar dificuldade no
diagnóstico tanto no âmbito clínico, radiológico como na histologia. Há formação
de adenose, proliferação do estroma e fibrose, resultando em uma lesão sem
limites precisos, de consistência aumentada e multinodular. Adenose esclerosante,
lesão escleroelastósica, adenoma ductal e a adenose microglandular são incluídas
neste grupo de doença mamária (HARRIS et al., 2000).
3.2.1.3 Fibroadenoma
Considerado uma forma localizada de hiperplasia nodular do tecido estromal e do
componente glandular da mama. O componente glandular é constituído por
túbulos revestidos por um epitélio cúbico ou cilíndrico com núcleos redondos e
camada mioepitelial evidente. O estroma é formado por tecido conjuntivo frouxo
de aspecto mixóide semelhante ao do estroma do lóbulo mamário (Fig. 6). Devido
a esta constituição, alguns autores sugerem que seja uma variante da doença
fibrocística. Geralmente ocorre em mulheres entre 25 e 30 anos, podendo ocorrer
com o crescimento da mama durante a gestação e apresentar fenômenos
regressivos depois da menopausa. Clinicamente, apresenta-se como um nódulo
isolado, podendo ser múltiplo em 20% - na mesma mama ou bilateralmente, com
margens arredondadas e lisas, de consistência fibroelástica, móvel, com tamanho
variando entre 2 e 4 cm (Fig. 7). A possibilidade de malignização de um
fibroadenoma é praticamente nula (0,1 a 0,3%) (COTRAN; COLLINS; KUMAR,
2000; VERONESI, 2002).
Figura 6 Morfologia microscópica do fibroadenoma (H&E 100X).
Figura 7 Morfologia macroscópica do fibroadenoma.
3.2.2 Câncer de mama
3.2.2.1 Carcinoma não invasivo
1
Compreende duas entidades: carcinoma ductal in situ (CDIS) e carcinoma lobular
in situ (CLIS); por não serem invasivas, não apresentam o risco de enviar
metástases. CDIS é definido como uma proliferação de células epiteliais
1
Recentemente foi proposto por Veronesi et al. (2006), a adoção de uma nova
nomenclatura para neoplasias não invasivas da mama. O CDIS seria denominado NID (neoplasia
intraepitelial ductal) e o CLI de NIL (neoplasia intraepitelial lobular). Essa nomenclatura é baseada
nas observações publicadas por Tavassoli em 1998. Foi decidido, manter a nomenclatura antiga,
pois até o término do texto desta dissertação, não houve pronunciamento oficial da Sociedade
Brasileira de Mastologia nem da Sociedade Brasileira de Patologia sobre a nova classificação.
confinadas ao ducto mamário, não ultrapassa a membrana basal, originando-se do
epitélio ductal na região da unidade ducto-lobular terminal. Provavelmente
representa um estágio intermediário entre uma hiperplasia ductal atípica e um
carcinoma invasor (Fig. 8). Há um grupo heterogêneo de lesões com arquitetura
histológica variável e comportamento clínico diferente. Células malignas que
proliferam dentro do ducto podem obstruí-lo, ser associar-se a uma reação
inflamatória, à reposta estromal e à infiltração linfóide periductal. CDIS é
classificado em 5 subtipos
2
(MERIC et al., 2003):
Comedo: presença proeminente de necrose, que pode ser observada no exame
macroscópico da lesão pela presença decordões de material pastoso branco-
amarelado. Na histologia são verificadas células grandes e pleomórficas. Mitoses
anômalas são numerosas. Muitos dos espaços envolvidos contêm debris celulares
e necrose central (Fig. 10). O material necrótico freqüentemente calcifica,
podendo ser observadas, no exame mamográfico, microcalcificações lineares e
ramificadas.
Sólido: células tumorais preenchem e distendem o lúmen ductal, não apresentado
necrose significativa, fenestrações ou papilas (Fig. 8).
2
Muitas vezes, os diversos padrões arquiteturais podem coexistir em uma mesma
neoplasia.
Cribiforme: proliferação fenestrada das células neoplásicas dentro do ducto com
células pequenas com núcleos monomórficos (Fig. 9).
Micropapilar: possui pequenos tufos de células que são orientadas
perpendicularmente à membrana basal dos espaços envolvidos, projetando-se para
dentro do lúmen ductal. A região apical dessas pequenas papilas geralmente é
mais larga do que sua base e as micropapilas não possuem hastes fibrovasculares.
Possui características celulares semelhantes ao cribiforme.
Papilar: apresenta-se com projeções de células intraluminais, apoiadas em uma
base fibrovascular, constituindo papilas verdadeiras.
Considerando algumas características como citologia, histologia e clínica, alguns
autores preferem dividir o CDIS com base exclusivamente na presença de necrose
do tipo comedo em três grupos: tipo comedo puro, CDIS com necrose comedo
não puro e o CDIS sem necrose. Também pode ser feita a classificação utilizando
as características nucleares - dimensão, pleomorfismo, disposição, contornos,
característica da cromatina e posição do nucléolo onde o CDIS pode ser incluído
no grupo de alto grau nuclear ou G3 (núcleos grandes, pleomórficos, irregulares,
cromatina grosseira e nucléolos proeminentes); grau intermediário ou G2
(pleomorfismo leve a moderado, sem a uniformidade vista no de baixo grau); e o
de baixo grau ou G1 (monomorfismo, núcleos grosseiros e redondos, de posição
central e nucléolos pouco evidentes) (COTRAN; COLLINS; KUMAR, 2000;
HARRIS, 2000; MERIC et al., 2003).
CLIS é determinado pela proliferação de células confinadas nos lóbulos, com
arquitetura intacta na unidade ducto-lobular terminal. As células possuem uma
morfologia homogênea e não apresentam cromatina proeminente. A relação do
tamanho do núcleo/tamanho do citoplasma é normal, com mitoses raras e ausência
de necrose na maioria dos casos (Fig. 11) (MERIC et al., 2003).
Figura 8– Aspecto microscópico do carcinoma ductal in situ. Notar os ductos mamários
totalmente preenchidos por células neoplásicas, no entanto, não há invasão da membrana
basal ductal (H&E 400X).
Figura 9 Aspecto microscópico do CDIS cribiforme. Notar os ductos, em corte transversal,
totalmente preenchidos por células neoplásicas e com distribuição fenestrada (H&E 200X).
Figura 10 Aspecto microscópico do CDIS tipo comedo. Notar material necrótico no interior
do lúmen preenchido por células neoplásicas (H&E 200X).
Figura 11 Aspecto microscópico do CLIS. Notar o confinamento das células neoplásicas no
interior dos lóbulos mamários (H&E 400X).
3.2.2.2 Carcinoma invasor
O CM possui várias apresentações histológicas. São considerados
adenocarcinomas, pois são originados em tecido epitelial glandular
(SOLORZANO et al., 2003). Os cinco tipos principais de adenocarcinomas
mamários são:
Carcinoma ductal infiltrante (CDI): corresponde a 75% dos CM, apresentando
ausência de uma característica histológica especial, ou sem outra especificação
(SOE). Macroscopicamente apresenta-se como qualquer outra neoplasia maligna
sólida: invasão dos tecidos adjacentes, imprecisão dos limites, podendo estar
associado a áreas de necrose e a vários graus de resposta fibrótica. Muitas vezes
pode ter CDIS no interior da lesão. Diferentemente do CDIS, possui células
neoplásicas em diferentes graus de diferenciação, fora do ducto mamário ou
infiltrando o parênquima glandular. A avaliação histológica das características
como formação de túbulos, atipias nucleares e índice mitótico, permite classificar
os CDIs em três grupos: neoplasias bem diferenciadas ou grau 1 (G1),
moderadamente diferenciadas ou grau 2 (G2) e pouco diferenciadas (G3). Esta
classificação representa um dos fatores prognósticos mais importantes
relacionados ao tipo morfológico (VERONESI et al., 2002). Pode metastatizar
para os linfonodos axilares, considerando fatores prognósticos associados. O
prognóstico tende ser pior, quando comparado ao de pacientes que possuem outro
subtipo histológico de CM. Quando compromete órgãos à distância, possui
preferência por ossos, pulmão, fígado e cérebro (COTRAN; COLLINS; KUMAR,
2000; SOLORZANO et al., 2003), (Figs. 12 a 15).
CDI inflamatório: considerado separadamente dentro do grupo de CDI, uma vez
que apresenta características clínicas e histológicas bem definidas. Representa
uma forma avançada de CM e, consequentemente, com prognóstico reservado.
Clinicamente, a paciente com essa doença possui edema e hiperemia difusos na
porção cutânea da mama, dando um aspecto erisipelóide, usualmente sem massa
palpável associada (Fig. 16). Essa apresentação clínica peculiar é devida à
embolização tumoral dos vasos linfáticos da derme, o que é bem característico
histologicamente (HARRIS et al., 2000).
Figura 12 Aspecto macroscópico do CDI sem outra especificação (SOE).
Figura 13 Aspecto microscópico do CDI sem outra especificação (SOE). Nota-se o
potencial de invasão das células neoplásicas (setas azuis) em permeio ao parênquima
mamário (setas verdes) (H&E - 400X).
Figura 14 Microscopia mostrando êmbolo neoplásico no interior de um canal linfático
(H&E 400X).
Figura 15 RX de tórax mostrando múltiplas lesões metastáticas (M), no parênquima de
ambos os pulmões.
Figura 16 Aspecto clínico do CDI inflamatório.
Carcinoma lobular infiltrante (CLI): é visto em 5 a 10% dos casos de CM. À
microscopia, esse tipo de neoplasia possui pequenas células arranjadas em fila
única, com tendência de crescimento ao redor dos ductos e lóbulos (Fig. 17).
Multicentricidade é observada mais freqüentemente do que no CDI. Além do
padrão de metástase dos outros subtipos histológicos de CM, possui tendência
maior de enviar metástase para locais não usuais como meninges e superfícies
serosas (COTRAN; COLLINS; KUMAR, 2000; SOLORZANO et al., 2003).
Carcinoma tubular: ocorre em 2% dos CM, e seu diagnóstico é considerado
quando mais de 75% do tumor possui formação tubular (Fig. 18). Metástases
axilares são incomuns e o prognóstico é consideravelmente melhor em relação aos
outros subtipos de CM (VERONESI, 2002).
Carcinoma medular: corresponde de 5 a 7% dos subtipos histológicos de CM.
Histologicamente, são caracterizados como neoplasia com células contendo
núcleos pobremente diferenciados, e padrão de crescimento sincicial (Fig. 19).
Apresenta margem bem circunscrita e intensa infiltração de pequenos linfócitos e
plasmócitos. O prognóstico tende a ser favorável se todas estas características
estiverem presentes (SOLORZANO et al., 2003).
Carcinoma mucinoso ou colóide: É caracterizado por acúmulo abundante de
mucina extracelular envolvendo agrupamentos de células neoplásicas (Fig. 20) e
representa 3% dos casos de CM. Possui crescimento lento e tende a ser volumoso.
Se o CM é predominantemente mucinoso, o prognóstico é favorável (COTRAN;
COLLINS; KUMAR, 2000).
Doença de Paget mamária: Compreende até 5% de todas as neoplasias malignas
da glândula mamária. Quase sempre é associada com um carcinoma mamário
subjacente (95%), que pode ser invasor ou in situ (90% dos casos quando a lesão
não é palpável). As células de Paget geralmente se apresentam grandes,
arredondadas ou ovóides dentro da epiderme, com um citoplasma claro e
abundante contendo um núcleo hipercromático e pleomórfico (Fig. 21). Ainda não
está definido se a manifestação cutânea, com aparência eczematóide, se deve à
multiplicação celular, que por continuidade intraductal de uma lesão neoplásica do
parênquima mamário atinge a epiderme, ou se as células de Paget teriam origem
na porção terminal dos ductos lactíferos - na junção com o epitélio cutâneo
sendo células epidérmicas que sofreram metaplasia para células epiteliais ductais
(FARLEY et al., 2001).
Outros tipos de neoplasias malignas mamárias: Existem inúmeras neoplasias
malignas que podem acometer a glândula mamária. Podem ser provenientes tanto
do estroma quanto do tecido epitelial, sendo classificados em sarcomas
(leiomiossarcoma, rabdomiossarcoma), carcinomas cribiformes, carcinomas com
diferenciação neuro-endócrina, carcinomas epidermóides primários de mama (CDI
com metaplasia para células escamosas) ou lesões metastáticas de outras
neoplasias sistêmicas (KOPANS, el al, 1997; HARRIS et al, 2000).
Figura 17 Aspecto histológico do CLIS. Notar a infiltração no parênquima mamário pelas
células neoplásicas (H&E 300X).
Figura 18 Aspecto histológico do carcinoma tubular de mama. Observar as estruturas
tubulares em meio ao tecido conjuntivo amorfo (H&E 300X).
Figura 19 Morfologia microscópica do carcinoma medular mamário. Notar a formação de
estruturas sinciciais (setas) (H&E 100 X).
Figura 20 Morfologia microscópica do carcinoma mucinoso ou colóide mamário. Notar a
quantidade de mucina (setas) associada a grupos de células epiteliais neoplásicas (H&E 200
X).
Figura 21 Morfologia microscópica da Doença de Paget mamária. Células de Paget em
permeio a epiderme areolar (setas) (H&E 400 X).
3.3 Diagnóstico
O diagnóstico de CM passou por uma mudança importante nos últimos anos.
Previamente, cerca de 50 a 70% dos CM eram diagnosticados pelo exame físico.
Com o advento da mamografia como exame de rastreamento houve um aumento
considerável no diagnóstico de lesões sub-clínicas (Fig. 22). A partir disso, houve
a necessidade do desenvolvimento de técnicas de biópsia (KOPANS et al., 1997).
Figura 22 Mamografia mostrando o aspecto radiológico de uma lesão nodular (seta) sub-
clínica.
3.4 Tipos de Biópsia
A obtenção de material biológico para o diagnóstico da lesão mamária, pode ser
feita de várias formas. A lesão pode ser retirada totalmente (biópsia excisional) ou
parcialmente (incisional). Também pode ser obtida somente uma amostra celular,
do conteúdo tumoral, através da biópsia aspirativa com agulha fina (PAAF). Para
isso, há diferentes técnicas descritas abaixo relatadas.
3.4.1 PAAF
PAAF tornou-se um método útil para obter amostra tecidual na grande maioria dos
sítios do corpo humano, sendo uma prática comum na rotina da mastologia. Foi
usada primeiramente na década de 30 por Hayes e difundida a partir da década de
60 por Franzén (Suécia) e Zajicek (França) (BOFIN et al., 2004). Apresenta
resultados falso-negativos em até 15% dos casos, enquanto que resultados falso-
positivos são irrelevantes representando, abaixo de 1% na maioria das séries. No
entanto, um exame citológico negativo em lesões clínica e mamograficamente
benignas não deve excluir a realização de biópsia histológica, antes da realização
do procedimento definitivo (Fig. 23). Uma lesão sólida que surge após os 30 anos,
mesmo com todas as características de benignidade, deve ser sempre submetida à
PAAF e depois avaliar a necessidade de excisão cirúrgica. Para sua realização, são
necessários materiais simples: material para a assepsia, lâminas de vidro para o
esfregaço, fixador, seringa de plástico de 20ml, dispositivo em forma de pistola
para fixar a seringa e agulhas “finas” (calibre de 22G e 23G). O procedimento
pode ser realizado “às cegas”, quando a lesão é palpável, ou dirigida por exame de
imagem, quando a lesão for subclínica. O risco biológico de disseminação
neoplásica durante a realização do procedimento, praticamente inexiste
(SCHILLER et al., 2001) Complicações hemorrágicas, como hematoma e
equimose podem ocorrer principalmente se a PAAF for realizada em locais onde a
mama é mais vascularizada na superfície. O risco de infecção é o mesmo da
injeção intramuscular. Pneumotórax pode ser provocado pela penetração excessiva
da agulha com perfuração da parede torácica (1 caso em 10.000 punções),
(KOPANS et al., 1997).
Figura 23 Aspecto citológico do carcinoma ductal mamário. Não é possível determinar se a
neoplasia é invasora ou in situ.
3.4.2 Core Biopsy
®
(CB)
CB é realizada para obter um fragmento pequeno do tecido tumoral. Quando
realizada corretamente, o diagnóstico histológico pode ser feito da mesma maneira
que na lesão retirada totalmente. A amostra tecidual é obtida com agulhas de
calibre grosso (14G ou 16G) e por isso, é necessário utilizar anestesia local. Por
fornecer uma amostra tecidual considerável (Fig. 24), permite o diagnóstico
diferencial entre carcinomas invasores de CDIS e diagnóstico específico de lesões
benignas, muitas vezes difícil de realizar em esfregaços citológicos provenientes
de PAAF (BOFIN et al., 2004). Assim como qualquer técnica de biópsia, CB
possui a chance de não conter amostra tumoral, ou não conter porção suficiente do
tumor e do parênquima mamário adjacente dificultando o diagnóstico de lesões
que necessitam da avaliação do tecido peritumoral para fazer o diagnóstico,
podendo resultar em casos falso-negativos. A movimentação do dispositivo
interno da agulha pode romper a membrana basal ductal e prejudicar a avaliação
da presença de invasão na amostra histológica. O risco de hematoma é maior que
na PAAF, devido ao calibre da agulha. Também há risco de pneumotórax. Assim
como na punção aspirativa, a CB pode ser realizada utilizando, ou não, orientação
radiológica (KOPANS et al., 1997).
Figura 24 Técnica de CB. A amostra neoplásica é retirada em forma de pequenos cilindros
com espessura de acordo com o calibre da agulha. A técnica de mamotomia utiliza um
dispositivo que além de cortar o fragmento aspira o conteúdo selecionado. Modificado de
Netter (2003).
3.4.3 Mamotomia
É um sistema que associa o princípio da CB com sucção assistida da lesão
orientada por imagem. Através do mamótomo é possível remover toda a lesão, que
é fragmentada pela agulha e aspirada continuamente, sem a remoção do
dispositivo, servindo tanto como procedimento de diagnóstico como de tratamento
para lesões benignas. Todos os fragmentos são enviados para exame histológico
(Fig. 24). Este método diminui a probabilidade de erro amostral. No entanto, é
uma técnica cara, pois necessita de vários equipamentos e equipe
multiprofissional. Também não exclui complicações como hematoma e infecção e
requer que o paciente permaneça em posição desconfortável, na maioria das vezes,
para a sua execução (VERONESI et al., 2002; DREW; IWUAGWU, 2004).
3.4.4 Biópsia cirúrgica sem demarcação
Pode ser excisional ou incisional, sendo muito utilizada em centros de saúde onde
não há disponibilidade de outras técnicas de biópsia, devido à falta de recursos
materiais ou humanos, ou quando os outros métodos não obtiveram amostra
histológica adequada. Só pode ser realizada se a lesão mamária for palpável.
Possui o inconveniente de grande manipulação da área lesional, o que pode ser
prejudicial para o paciente se a lesão for uma neoplasia maligna, pois o parâmetro
de localização tridimensional da mesma é perdido, dificultando uma re-
intervenção para ampliação de margens (HARRIS et al., 2000; VERONESI et al.,
2002).
3.4.5 Agulhamento pré-operatório
Também conhecido como demarcação pré-operatória com agulha. Para sua
realização, é necessário o uso de uma agulha maleável, que possui um “arpão” na
extremidade distal que é “armado” dentro da área do parênquima mamário a ser
retirada (Figs. 25A e B). A colocação da agulha é realizada sob a orientação de
imagem e o paciente permanece com o dispositivo no interior da mama até a
realização da excisão cirúrgica. Possui o risco de deslocamento da agulha durante
o período entre sua colocação e a retirada, principalmente em glândulas mamárias
com componente adiposo predominante. Também já foram descritos casos de
pneumotórax e transecção da agulha durante o procedimento cirúrgico. Além
disso, o procedimento de retirada da lesão, na maioria das vezes, é realizado sob
anestesia geral, pois a movimentação da agulha durante a cirurgia, pode ser
desagradável (KOPANS et al., 1997).
(A)
(B)
Figura 25 Demarcação pré-operatória de lesão mamária não palpável pela técnica de
agulhamento (A), peça cirúrgica contendo microcalcificações supeitas na proximidade da
extremidade da agulha (B).
3.4.6 ROLL
A localização radioguiada de lesão oculta (ROLL), é um método que vem sendo
muito usado na prática da mastologia desde 1996, quando foi desenvolvido no
Instituto Europeu de Oncologia (ZURRIDA et al., 1998). Um material radioativo
3
é injetado na lesão não palpável, seja agrupamento de microcalcificação, nódulo
ou outra apresentação radiológica, utilizando um método de imagem auxiliar como
estereotaxia, ecografia, entre outros (Fig. 26). Durante o procedimento cirúrgico, a
lesão é localizada com a utilização de um gama probe manual, que orienta a
incisão cutânea e a localização da lesão (Fig. 27). Após a excisão, pode ser
verificada a radiação residual no leito cirúrgico e se há ou não necessidade de
ampliação de margem. O método é melhor que a demarcação com agulha, pois
evita o uso do arpão de metal (GRAY et al., 2001). Outra característica que deve
ser considerada na utilização do ROLL é a diminuição dos custos em relação ao
agulhamento, pois não requer o uso de anestesia geral nem de internação
hospitalar. Mesmo assim requer a participação de uma equipe multiprofissional,
incluindo o mastologista, o radiologista e o médico nuclear além dos profissionais
de apoio (ZURRIDA et al., 1998; VERONESI, 2002).
3
0.1mCi de Tc
99
em partículas de albumina sérica humana (com 10-150 µm de diâmetro),
perfazendo um total de 0,5mg de micro-agregado que é diluído em 0,2ml de soro fisiológico, para
então ser injetado (GRAY et al., 2001).
(A)
(B)
Figura 26 ROLL - MMG mostrando o momento de injeção do Tc
99
juntamente com
contraste iodado (A), cintilografia mamária evidenciando o local exato da lesão que será
retirada (B).
Figura 27 Fotografia do gama probe Navigator GPS
®
, utilizado para ROLL no trans-
operatório.
3.5 Fatores prognósticos do câncer de mama
O risco de desenvolvimento de metástases aumenta com o número de linfonodos
comprometidos pela lesão primária, tamanho maior do tumor mamário e com o
grau de perda da diferenciação celular, que são fatores prognósticos estabelecidos
e independentes. Fatores de risco apresentados na Tabela 1, como invasão
angiolinfáfica (Fig. 14), são importantes quando considerados em associação com
outros fatores como o comprometimento metastático dos linfonodos. Os subtipos
histológicos de CM também influenciam no prognóstico e estão listados na Tabela
2, (VERONESI et al., 2002; WEIGELT et al., 2005).
Tabela 1 Marcadores prognósticos para metástases de CM
Marcador Uso clínico Determinante metástico Observação
Tamanho do tumor
(diâmetro)
Estabelecido
< 2cm: risco menor
2-5 cm: risco alto
> 5 cm: risco muito alto
Marcador
prognóstico
independente
Comprometimento
metastático em
linfonodo axilar
Estabelecido
Sem comprometimento: baixo risco
com comprometimento: risco alto
> 4 linfonodos: risco muito alto
Relacionado ao
tamanho do tumor
primário
Grau histológico Estabelecido
Grau 1: baixo risco
Grau 2: risco intermediário
Grau 3: risco muito alto
Relacionado ao
tamanho do tumor
primário
Invasão vascular
Estabelecido em
pacientes com
linfonodos sem
metástases
Presença de êmbolo tumoral em
mais de 3 vasos é associada com
MT
*
Em pacientes com
linfonodos sem
metástases
Nível de proteínas
uPA/PAI1
**
Estabelecido
Índices elevados de proteínas uPA
and PAI1 são associados com risco
aumentado de MT
Marcador
prognóstico
independente
Receptor de
estrogênio
Estabelecido para
decisão de terapia
adjuvante
Baixos níveis de receptores são
associados com metástases
Relacionado com o
grau histológico
Expressão proteica e
amplificação do gene
ERBB2
Estabelecido para
decisão de terapia
adjuvante
Amplificação/superexpressão são
associadas com MT
Em pacientes com
linfonodos positivos
Perfil de expressão
gênica
Atualmente sendo
avaliado
Uma “assinatura boa” de 70 genes é
associada com risco baixo de MT.
Uma “assinatura ruim” de 70 genes
é associada a um alto risco de MT.
Testado em
pacientes com
linfonodos não
comprometidos
Tabela modificada de Weigelt et al (2005).
*
Metástases.
**
PAI 1 inibidor ativador do plasminogênio; uPA ativador do plasminogênio tipo
uroquinase.
Marcadores que podem predizer o local de metástases são escassos. Foi
verificado que CM que possui receptor de estrogênio positivo tem predisposição a
desenvolver metástases em ossos, enquanto carcinomas lobulares recidivam com
uma freqüência maior em trato gastrointestinal e ovários. Atualmente, marcadores
prognósticos tradicionais são capazes de identificar um grupo de
aproximadamente 30% dos pacientes que provavelmente terão um curso favorável
ou desfavorável da doença. Para os 70% restantes, novos marcadores prognósticos
são necessários para identificar grupos de baixo e alto risco, e direcionar o melhor
tratamento sistêmico adjuvante (HARRIS et al., 2000; WEIGELT et al., 2005).
Tabela 2 Tipos histopatológicos de CM.
Histologia Freqüência
Índice de sobrevida
em 10 anos
Carcinoma ductal invasivo SOE
50-80% 35-50%
Carcinoma lobular invasivo
5-15% 35-50%
Tipo misto (ductal + lobular)
4-5% 35-50%
Carcinoma cribiforme
invasivo/tubular
1-6% 90-100%
Carcinoma mucinoso
<5% 80-100%
Carcinoma medular
1-7% 50-90%
Carcinoma papilar invasivo
<1-2% desconhecido
Carcinoma micropapilar invasivo
<3% desconhecido
Carcinoma metaplásico
<5% desconhecido
Carcinoma adenóide cístico
0,1% desconhecido
Carcinoma apócrino invasivo
0,3-4% desconhecido
Carcinoma neuroendócrino 2-5% desconhecido
Carcinoma secretório
0,01-0,15% desconhecido
Carcinoma rico em lipídio
<1-6% desconhecido
Outros
1-3% desconhecido
Tabela modificada de Weigelt et al, 2005.
3.6 Espectroscopia Raman
3.6.1 Histórico e princípios
O efeito Raman foi descrito em 1928 por Chandrasekhara Venkata Raman, que lhe
rendeu o prêmio Nobel da física em 1930 (RAMAN, 1930; SINGH, 2002). Assim
como várias descobertas importantes da humanidade, foi através da observação de
um fenômeno natural que Raman formulou a hipótese do efeito. Após verificar o
espalhamento da luz solar na água do oceano
4
(the colour of the sea), ele notou
que se tratava de um fenômeno comum que pode ser visto não somente em gases
ou vapores como também em líquidos e estruturas sólidas amorfas e cristalinas. É
um efeito originário do desarranjo molecular e flutuações da densidade óptica do
material observado. Com exceção do material sólido amorfo, o desarranjo pode ser
caracterizado como uma agitação térmica. Como as moléculas são opticamente
anisotrópicas, podem ser orientadas livremente em material líquido, produzindo
assim um tipo adicional de espalhamento. Quando a luz incide sobre um material
pode ocorrer absorção ou espalhamento da mesma. A maior parte da luz espalhada
apresenta a freqüência da luz incidente e uma pequena parte da luz incidente
interage com as moléculas do material exposto produzindo vibração molecular.
Uma vez que a energia da luz é proporcional à freqüência, a alteração da
freqüência da luz espalhada será igual à freqüência vibracional das moléculas em
espalhamento. O processo de troca de energia entre as moléculas espalhadas e a
luz incidente é denominado de efeito Raman (Fig. 28). A luz espalhada pode ser
coletada por um espectrômetro e demonstrada como um “espectro”, em que a
4
A cor azul do mar, apesar da absorção de comprimentos de onda grandes, é causada pelo
espalhamento molecular da luz na água, e não reflexão da cor do céu, como a maioria das pessoas
imaginava (MANOHARAN; WANG; FELD, 1995).
intensidade evidenciada está em função da sua mudança de freqüência (Fig. 29).
Partindo do princípio de que cada espécie molecular possui uma única
configuração de vibração molecular, o espectro Raman de uma espécie particular
será constituída de um conjunto de picos ou bandas para cada uma das ligações
moleculares (MANOHARAN; WANG; FELD, 1995).
Durante muito tempo, a ER foi usada para análise molecular e química, sendo que
recentemente vem sendo utilizada para avaliação de compostos biológicos com
aplicação biomédica como método diagnóstico (FRANK et al., 1994; FRANK;
MCCREERY, 1995; HUONG, 1996; PILOTTO et al., 2001; EIKJE, 2005).
O espalhamento Raman é originariamente fraco, com 10
-9
a 10
-6
de intensidade, o
que torna necessário o uso de detectores sensíveis e uma luz monocromática
intensa de excitação encontrada nos lasers modernos. Além disso, a utilização de
ER em tecidos biológicos possui certas particularidades não aplicáveis a outros
materiais, pois o tecido biológico tem uma composição não homogênea. Essa
heterogeneidade resulta em diferentes formas de interação com a luz (KORTUM;
MURACA, 1996).
Figura 28 Efeito Raman: excitação utilizando UV, luz visível e infravermelho próximo. S
0
-
estado fundamental; S
1
e S
2
- estados eletrônicos excitados. As linhas horizontais indicam os
níveis vibracionais de energia. ν
Ex
indica a freqüência de excitação do laser enquanto que, ν
R
indica a freqüência da luz espalhada (Raman). Adaptado de Manoharan; Wang ; Feld, 1996 ;
Hanlon et al., 2000.
Figura 29 Espectro Raman infravermelho-próximo do colesterol indicando as curvas
(bandas) das ligações entre os elementos moleculares. Adaptado de Hanlon et al., 2000.
O fato de que a emissão da fluorescência, através de um tecido, ser na ordem de
um milhão de vezes maior do que o espalhamento Raman, provoca uma severa
interferência no sinal Raman quando usados comprimentos de onda UV próximo e
da região visível. No entanto, se o comprimento de onda excitante for maior que
700 nm, utilizando infravermelho próximo (IR), ou menor que 300 nm, esta
interferência não ocorre. Radiação IR geralmente não induz excitação dos estados
eletrônicos (Fig. 28), portanto a maioria dos materiais, principalmente material
biológico não exibe fluorescência. Outra forma de evitar o efeito da fluorescência
no espectro Raman, é a utilização de comprimento de onda menor que 300 nm,
processo conhecido como espectroscopia Raman ressonante UV (ERUV). A luz
IR penetra profundamente (>1 mm) no tecido e portanto, pode ser utilizada em
amostras teciduais grandes, sendo possível analisar componentes que se
encontram abaixo da superfície da amostra. Já a penetração da luz UV é pequena
(< 50 µm), podendo ser utilizada no estudo superficial das amostras biológicas,
além disso, o fato da ERUV ser ressonante facilita o estudo de constituintes
presentes em baixa concentração na amostra (MANOHARAN; WANG; FELD,
1995; KORTUM; MURACA, 1996).
3.6.2 ER com transformada de Fourier (TF)
5
ER com TF utiliza como fonte de excitação o laser de Nd: YAG (1064 nm), que
mantém a maioria das bandas de absorção dos fluoróforos fora do espectro
Raman; um interferômetro de Maxwell e um detector Ge para a coleta de sinais
Raman livres de fluorescência (Fig. 30). Possui a capacidade de coletar vários
comprimentos de onda em um curto período de tempo. A excitação no
infravermelho próximo a 1064 nm também minimiza a degradação fotolítica da
amostra, permitindo que uma maior potência de incidência do laser seja utilizada
para compensar a redução da seção de espalhamento Raman. No entanto, o
detector Ge produz ruídos eletrônicos, necessitando um tempo maior de exposição
5
O espectro de freqüências ou TF foi desenvolvido por Jean Fourier em 1822. A TF é uma
ferramenta matemática de aplicabilidade na resolução de problemas de processamento digital de
imagens podendo ser utilizada para a análise ou reconstrução bi-dimensional de imagens em geral,
devido sua facilidade e rapidez de cálculo (REZA, 1999).
para a coleta dos dados, normalmente 10 minutos, para poder adquirir espectro
Raman de boa qualidade de sinal/ruído (MANOHARAN; WANG; FELD, 1996;
HANLON et al, 2000).
Figura 30 Representação esquemática do dispositivo para Raman com Transformada de
Fourier (TF). Adaptado de Manoharan; Wang; Feld, 1996.
3.6.3 ER e câncer
Considerando que o surgimento do câncer é dado por alterações na composição
bioquímica da célula
6
e que a ER é sensível a essas alterações moleculares, pode-
se dizer que é uma técnica em potencial para ser utilizada no diagnóstico de lesões
malignas e pré-malignas. A utilização do ER neste tipo de material é possível
graças ao grande número de moléculas teciduais específicas. Proteínas, lipídeos e
ácidos nucléicos apresentam “assinaturas” Raman distintas (Fig. 29) (DACOSTA
et al., 2002; BIGIO; BOWN, 2004). A quantidade destes elementos se encontra de
forma diferenciada em tecido neoplásico e no tecido biológico normal. Em estudos
prévios, alguns metabólitos presentes em determinadas neoplasias apresentaram
significância diagnóstica na ER (MANOHARAN; WANG; FELD, 1996;
NIJSSEN et al., 2002; MARTINS et al., 2004; HAMMOND et al., 2004;
PEREIRA et al., 2004).
Além disso, outras modificações bioquímicas de conteúdo, aneuploidia e
hipometilação do DNA, podem ser caracterizadas em espectros de neoplasias
6
Composição celular é dada principalmente por água (90%). O restante das moléculas presentes
(peso seco) é composto aproximadamente por: 50% proteína,15% carbohidrato, 15% ácido
nucléico, 10% lipídio, 10% outros. Considerando o elemento químico, a composição aproximada é:
60% hidrogênio, 25% oxigênio, 12% carbono, 5% nitrogênio. Outros elementos significantes que
constituem estruturas moleculares da célula são o fósforo (P) e o enxofre (S). Em adição há traços
de sódio (Na), magnésio (Mg), cloro (Cl), potássio (K), cálcio (Ca) e ferro (Fe) e em menor
freqüência outros metais (KRAFFT, 2003).
(ALLAIN; VO-DINH, 2001; CASPERS; LUCASSEM; PUPPELS, 2003; GÃO;
BUTLER; KREMER, 2003).
3.7 ER e câncer de mama
3.7.1 Caracterização do epitélio mamário normal na ER
Conforme visto no item 3.2.2, o CM se caracteriza pela proliferação de células
ductais epiteliais. Conhecer as características do espectro do epitélio normal
mamário é de fundamental importância antes da caracterização deste componente
neoplásico. Em estudos prévios (SCHAEBERLE et al., 1996; KNEIPP et al.,
2003; BITAR et al., 2005; HAKA, 2005), essa caracterização foi, de um modo
geral, facilmente feita quando realizada a comparação visual. O tecido mamário
normal possui grande quantidade de lipídios identificada por intensas bandas
Raman: 1270 cm
-1
do modo vibracional de estiramento ν(CN) e de dobramento
δ(NH); 1304 cm
-1
e 1446 cm
-1
do modo vibracional de dobramento δ(CH
2
); 1645
cm
-1
do modo vibracional de estiramento da ligação C=C e 1745 cm
-1
do modo
vibracional de estiramento da ligação C=O (FRANK et al., 1994; FRANK;
MCCREERY, 1995; HUONG, 1996; BITAR et al., 2004) (Fig. 31; Tab. 3).
Figura 31 Média dos espectros TF-Raman não normalizados do tecido mamário normal
representados entre 1200 a 1800 cm
–1
. (Modificado de Bitar et al., 2005).
Tabela 3 Modos vibracionais e biomoléculas referentes aos picos Raman de tecido
mamário humano. Adaptado de Bitar et al., 2005.
Picos
Modos Vibracionais Biomoléculas
1 (S-S), (-CO) e (-NO), (O-P-O)
Cisteína, Hemoprotéinas, Ácidos Nucléicos
2
?(C-C), d(CCH), Anel Aromático, (O-P-
O)
Prolina, Tirosina, Polissacarídeos, Ácidos Nucléicos
3
?(C-C), a-helix, (O-P-O)
Prolina, Valina, Colágeno, Desoxirribose
4
?
s
(C-C), Anel Aromático, (C-CH
3
)
Fenilalanina, Carotenóides
5
? (C-C) ou ?(C-O), (-CH OH)
Fosfolipídios, Carboidratos
6
?(CN), d(NH), Amina III, a-helix, (=C-H)
Colágeno, Triptofano, Lipídios
7
d(CH
2
),(dCH
3
)
Colágeno, Fosfolipídios, Triglicérides
8
d(CH
2
), d(CH
3
), (O-P-O)
Colágeno, Fosfolipídios, Desoxirribose,
Carboidratos
9
?(C=O), Amina I, a-helix, (C=C)
Colágeno, Elastina, Lipídios
10
?(C=O)
Fosfolipídios
11
(C-O)
Proteínas, Ácidos Nucléicos
12 C=O/ C-N/ C-O Proteínas, Ácidos Nucléicos
3.7.2 Caracterização do epitélio mamário neoplásico na ER
Manoharan, Wang e Feld (1996) conseguiram obter o diagnóstico diferencial entre
mama normal daquelas com alterações benignas e malignas, obtidas de amostras
citológicas, utilizando a técnica de Espectroscopia Micro-Raman, com o objetivo
de melhorar a exatidão do diagnóstico. Desde então, vários trabalhos utilizando
ER caracterizaram diferentes condições neoplásicas mamárias, sendo possível
identificar diferenças espectrais entre CDI, CDIS e subtipos, além de AFBM e
neoplasias benignas como fibroadenoma (Fig. 32), (BITAR et al., 2005; HAKA et
al., 2005).
1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800
1270cm
-1
1747cm
-1
1657cm
-1
1446cm
-1
1304cm
-1
Tecido Mamário Normal
Doença Fibrocística
Carcinoma Ductal in Situ
Carcinoma Ductal in Situ Comedo
Carcinoma Ductal Infiltrante
Carcinoma Ductal Infiltrante Inflamatório
Carcinoma Ductal Infiltrante Medular
Carcinoma Ductal Infiltrante Mucinoso
Carcinoma Lobular Infiltrante
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Figura 32 Média dos Espectros TF-Raman não-normalizados dos diferentes tecidos
mamários representados entre 1200 a 1800cm
-1
. (BITAR et al., 2005).
4 METODOLOGIA
4.1 Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
O levantamento e análise dos dados foram realizados seguindo as diretrizes e
normas que regulamentam pesquisas envolvendo seres humanos, conforme
Resolução n
o
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP)
(017/2000/CEP anexo A). Todas as pacientes foram informadas sobre a pesquisa
e assinaram um termo de consentimento para utilização do material coletado
(apêndice A).
4.2 Obtenção das amostras de tecido mamário
As amostras de tecido mamário foram obtidas de 82 pacientes do gênero feminino,
sendo 60 delas submetidas à cirurgia no Hospital Regional do Oeste, Chapecó-SC,
e 22 pacientes do Ambulatório de Mastologia do Hospital do Câncer A. C.
Camargo, São Paulo-SP. O período de coleta estendeu-se de abril de 2005 a março
de 2006. As amostras compreenderam tecido mamário normal
7
, tecido mamário
7
Todas as amostras de tecido mamário normal foram provenientes de mamas de pacientes
submetidas à mamoplastia redutora.
com doença benigna, doença pré-maligna e diferentes tipos de neoplasias malignas
mamárias.
Todas pacientes com lesão possuíam diagnóstico cito ou histopatológico da
doença mamária no momento da primeira consulta obtido através de uma das
técnicas descritas no item 3.4. A coleta das amostras foi realizada após a ressecção
da lesão, dentro do bloco cirúrgico. As amostras apresentaram diferentes tamanhos
e formatos, com dimensões variando de 0,3 x 0,5 x 0,3 cm a 0,5 x 1,5 x 0,5 cm.
Todas as amostras foram identificadas e colocadas em tubos criogênicos Nalgene
®
(Fig. 33), sendo armazenadas em nitrogênio líquido a –196
o
C até o momento da
realização da análise por ER no Laboratório de Espectroscopia Vibracional
Biomédica (LEVB) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) em São José
dos Campos, São Paulo.
4.3 Obtenção dos espectros TF-Raman
4.3.1 Espectrômetro TF-Raman
O equipamento utilizado neste estudo para aquisição dos espectros Raman das
amostras de mama humana foi o espectrômetro TF-Raman RFS 100 da Bruker
®
Alemanha, instalado no LEVB (Fig. 34). A seguir é descrito a composição do
espectrômetro:
Figura 33 Material utilizado para armazenar e preparar a amostra para a leitura: tubos
criogênicos Nalgene (1), cabo de bisturi com lâmina n
o
15 (B), tesoura de íris (3), pinça
anatômica simples oftálmica (5), lamínula com o porta amostra(6).
Figura 34 Espectrômetro TF-Raman RFS 100, Bruker. (1) detector de Germânio resfriado
por nitrogênio líquido, (2) caixa óptica corpo do equipamento, (3) estágio motorizado-
controlador dos eixos “x”, “y” e “z” do porta-amostra do equipamento, (4) micro-Raman, (5)
porta-amostra (6) câmara do porta-amostra.
4.3.1.1 Laser Nd: YAG (Neodímio: Ítrio Alumínio Granada)
O laser de Nd: YAG usado no espectrômetro TF-Raman emite alta intensidade de
radiação, em 1064 nm. A potência do laser deste equipamento é de, no máximo,
500 mW; podendo ser eletronicamente ajustada para cada tipo de amostra. Neste
experimento, a potência ajustada na amostra foi de 235 mW, para que ocorresse a
coleta dos sinais com melhor razão sinal/ruído, sem que houvesse aquecimento ou
degradação do material biológico exposto à luz.
4.3.1.2 Parâmetros do equipamento
A geometria de espalhamento utilizada foi de 180
o
e a amostra foi fixada em um
suporte de alumínio pressionado contra uma lamínula (Figs. 35 e 36).
Figura 35 Porta-amostras: 0,5cm de diâmetro com porção central de 1 mm.
Figura 36 Posicionamento da amostra entre o porta-amostra e a lamínula de vidro. O
conjunto é fixo manualmente.
Com o software instalado no TF-Raman Spectrometer RFS 100 (OPUS 4.2
Copyright
©
Bruker Optik GmHb 1997-2002) todos os parâmetros do
equipamento foram ajustados (Tabela 4), além do armazenamento e manipulação
dos dados espectrais, análises quantitativas e armazenamento dos resultados em
forma de biblioteca.
Tabela 4 - Parâmetros ajustados com auxílio do Software OPUS 4.2 para a aquisição dos
espectros no TF-Raman Spectrometer RFS 100.
Espectrômetro TF-Raman RFS 100
Tecido Mamário
Espera antes das medidas 05 segundos
Espera para Estabilização 10 segundos
Número de Varreduras 300
Resolução
4 cm
-1
Tempo total de Varreduras (médio)
5 minutos por ponto
Abertura da fenda 7 mm
Potência do laser Raman 300 mW
Potência do laser na Amostra 235 mW
Velocidade da Varredura 5.0 KHz
Lente Objetiva 180
o
Porta amostra alumínio + lamínula de vidro
Número de pontos por amostra 3 pontos
Centro de interferograma 58057
4.3.2 Preparação das amostras de tecido mamário
Imediatamente antes da análise espectral, a amostra era descongelada em soro
fisiológico (0,9%) em temperatura ambiente. Depois de cortada em fragmentos de
2 mm utilizando um bisturi lâmina número 15, a amostra era posicionada na
porção central do porta-amostra de alumínio para proceder a leitura no
espectrômetro (Figs. 33 e 35).
4.3.3 Número de espectros por amostra
O número de amostras por paciente variou entre 3 a 9. Cada amostra foi submetida
a leitura de 3 pontos, sendo que cada ponto resultou em um espectro. Para o
posicionamento dos pontos foi utilizado o estágio motorizado, onde os eixos “y” e
“z” foram mantidos fixos em 100 e 102 respectivamente, enquanto o eixo “x” foi
alterado em 100, 90 e 110 resultando em pontos A, B e C de leitura (Fig. 37).
Figura 37 Posicionamento da amostra utilizando o estágio motorizado.
4.3.4 Análise dos dados espectrais
A avaliação da qualidade do espectro pode ser feita de duas formas: com um
dendograma (análise clustering) ou com um teste de identidade. Optou-se pela
primeira forma de análise por ser um método de simples compreensão. A análise
clustering é realizada quando se possui n itens (objetos/variáveis), estruturando
uma matriz de distâncias entre os elementos e é usada para estabelecer
similiraridades. Os dois elementos mais próximos, de menor distância, são
unificados formando uma nova matriz (dimensões (n-1)x(n-1)), gerando com isso
um novo objeto ou grupo (MILLIGAN; COOPER, 1988). Isso se repete até
formar um grupo somente, e todas as etapas são registradas pela construção de um
dendograma
8
.
O dendograma é apresentado graficamente com uma raiz principal formada pela
união de dois grupos principais que por sua vez foram formados por outros dois e
assim por diante. Apresenta uma escala de distâncias que indica o nível em que
dois grupos tornam-se um (Fig. 38).
8
Diagrama em forma de árvore, bastante usado pelos taxonomistas (MILLIGAN;
COOPER, 1988).
Figura 38 Dendograma representando o agrupamento sucessivo dos objetos A, B, C, D, E e
F. Notar que as distâncias d
1,
d
2,
d
3,
d
4
e d
5
representam os pontos em que os agrupamentos
foram formados.
Dependendo do nível e da quantidade de agrupamentos desejada, pode-se tomar
um determinado valor para se estabelecer a resposta de quais objetos estão
contidos em quais agrupamentos. Por exemplo, um valor entre d
1
e d
2
na Fig. 38,
haverá dois agrupamentos: {C,D} e {E}. Com isso, devem ser medidas a distância
entre dois objetos individuais e a distância entre dois grupos de objetos. O grau de
diferença entre dois grupos, medido através de sua distância, sugere algum tipo de
média das distâncias individuais ou soma das distâncias entre os centros dos
conglomerados.
Os espectros foram agrupados através do software MINITAB
®
versão 14.20,
utilizando o cálculo do coeficiente de correlação entre os dados apresentados
posteriormente na forma de dendogramas. Os espectros escolhidos para o cálculo
da média de cada grupo tiveram similaridade maior ou igual a 95 %.
4.3.5 Análise dos componentes principais
Análise de componentes principais (ACP) é usada para reduzir dimensionalmente
uma quantia de dados através de uma análise de covariância
9
entre fatores
diferentes. Assim, grande quantidade de dados como resultante de um estudo de
expressão gênica, por exemplo, pode ser organizada em pequenos grupos de
componentes semelhantes dentro da amostra (SMITH, 2002).
Nesta etapa do estudo, a classificação dos espectros Raman de tecido mamário
humano normal e com doença é o ponto mais importante, pois evidencia o
potencial discriminativo e a especificidade dos sinais Raman coletados. Desta
maneira, os espectros a serem classificados foram submetidos à ACP através do
software MINITAB
®
Release 14.20. As informações sobre esta análise foram
obtidas através dos quatro primeiros componentes principais (PC1, PC2, PC3 e
PC4). Posteriormente, foram relacionados os componentes principais PC2 e
PC3 de cada agrupamento através da construção de gráficos de Dispersão
Binomial, onde foram obtidas as classificações dos espectros. Nesta classificação
9
Covariância é sempre medida entre dois fatores. Quando mais de dois fatores são
envolvidos, os valores de covariância podem ser colocados em uma matriz. É quando a ACP torna-
se útil.
foi traçada uma linha reta aleatória (guia visual) entre os agrupamentos de
interesse para calcular a sensibilidade e especificidade dos achados
10
, utilizando o
software ORIGIN 7.0. Os grupos escolhidos para realização da análise foram
propositalmente selecionados devido à importância da discriminação clínica e
histopatológica entre os mesmos. Para análise classificatória foram realizadas as
seguintes combinações: CDI versus CDIS, CDI SOE versus CDI subtipos
especiais (CDI inflamatório, medular e mucinoso), lesões benignas (AFBM e
fibroadenoma) versus CDI e CDIS.
4.3.6 Diagnóstico histopatológico
O diagnóstico histopatológico das lesões mamárias foi realizado em dois
laboratórios de patologia conveniados aos serviços de oncologia citados
anteriormente. Os laudos foram assinados por três médicos patologistas (C.L., J.M
e R.A.), que seguiram os critérios de diagnóstico para CM da Sociedade Brasileira
de Patologia.
10
Sensibilidade= casos verdadeiro-positivos/(número de verdadeiro-positivos + falso-
negativos) e especificidade= casos verdadeiro-negativos/(número de verdadeiro-negativos + falso-
positivos).
5 RESULTADOS
Foram incluídas amostras de tecido mamário de 82 pacientes. A idade das
pacientes variou entre 15 a 80 anos, com média de 49,5 anos (DP=14,65 anos).
Os diferentes diagnósticos histológicos de tecido mamário que variaram desde
parênquima mamário normal, até subtipos especiais de câncer de mama estão
relacionados na Tabela 5.
A análise das amostras resultou em 859 espectros Raman, sendo que cada amostra
resultou em média 79 espectros, considerando 3 pontos de leitura (Fig. 37) em
cada fragmento da amostra. Cada fragmento do tecido mamário, com ou sem
lesão, foi dividido em amostras menores, produzindo uma média de 3,4 amostras
por paciente.
Tabela 5 Distribuição do número de pacientes de acordo com o diagnóstico histopatológico
e o número de espectros TF-Raman gerados.
Diagnóstico
Amostras
(pacientes)
f Espectros f
Espectros
(dendograma)
f
CDI 44 54% 395 46% 236 46%
Mama Normal 10 12% 121 14% 25 5%
AFBM 6 7% 50 6% 22 4,3%
CD in situ* 5 6% 53 6% 48 (27+21*) 9,4%
CDI Medular 5 6% 52 6% 35 6,8%
CLI 4 5% 47 5% 31 6%
CDI Mucinoso 3 4% 17 2% 6 1,2%
Fibroadenoma 2 2% 57 7% 43 8,4%
Doença de Paget 1 1% 20 2% 20 4%
CDI Inflamatório 1 1% 13 2% 13 2,5%
CEC de Mama 1 1% 34 4% 33 6,1%
TOTAL 82 100% 859 100% 512 100%
inclui dois casos de CDIS tipo comedocarcinoma.
5.1 Análise de todas as amostras mamárias
Para obtenção das médias espectrais, todos os dados foram, de acordo com o
grupo diagnóstico, separadamente agrupados de acordo com seu coeficiente de
correlação e projetados os dendogramas. Os dados escolhidos para representarem
o grupo diagnóstico foram aqueles que se agruparam com uma diferença
estatística menor que 5%. Estes espectros representam o grupo diagnóstico para a
obtenção do padrão espectral ouro.
As médias dos espectros TF-Raman também foram obtidas separadamente (Figs.
ímpares de 39 a 61) sendo depois agrupadas em um diagrama para verificação do
padrão de deslocamento Raman (Fig. 63).
5.2 Tecido mamário normal
Na Figura 39, pode ser observado o espectro característico do tecido mamário
humano normal. Conforme descrito anteriormente, há um aspecto peculiar devido
a formas arredondadas das bandas e intensidades aumentadas resultantes do
conteúdo lipídico (comparar com Figura 31). No entanto, no procedimento de
preparação das amostras para aquisição dos espectros Raman, foi retirado o
excesso de tecido adiposo de algumas amostras, na tentativa de se obter o espectro
do tecido epitelial e conjuntivo fibroso. Sendo assim, foram obtidos dois grupos de
espectros de tecido de mama normal: um grupo com todos os componentes do
tecido normal, e o segundo sem o componente adiposo (macroscópico). Essa
correspondência histológica também ocorre no agrupamento realizado através do
cálculo do coeficiente de correlação.
Foram obtidos 121 espectros TF-Raman de tecido mamário normal. Os dois
maiores grupos encontrados através do índice de correlação separaram grupos sob
as condições citadas anteriormente. Sob o aspecto histopatológico, o grupo que
apresentou todos os componentes tissulares foi o agrupamento 1, representado na
Figura 40 pela cor laranja, enquanto o agrupamento 2, representado pela cor verde,
apresentou todos os componentes tissulares presentes na mama normal, exceto
tecido adiposo (Fig. 40). O sinal do tecido adiposo obscurece o sinal dos
componentes restantes, sendo este o aspecto fundamental de diferenciação
espectral entre o tecido normal e patológico da mama (BITAR et al., 2006). Desta
maneira o agrupamento 1 foi selecionado para representar o grupo diagnóstico
para a obtenção do padrão espectral ouro do tecido mamário normal.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Mama Normal
Figura 39 Média dos 25 espectros TF-Raman de amostras de tecido mamário humano
normal entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de
máxima intensidade.
Figura 40 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de mama normal; (1): todos os componentes histológicos; (2):
sem tecido adiposo.
5.3 AFBM
Dentre os 50 espectros obtidos pela análise das amostras de AFBM, 22 foram
selecionados devido à correlação de 95 % e foram utilizados para os cálculos
estatísticos e de média (Fig. 41). O dendograma da Figura 42 representa o cálculo
do coeficiente de correlação dos espectros destas amostras. A variabilidade de
diagnósticos, como cistos simples, metaplasia apócrina, fibrose, calcificação,
processo inflamatório, entre outros pode ter sido a responsável pela grande
quantidade de variáveis representadas no coeficiente de correlação. A
individualização de cada diagnóstico seria importante para uma melhor
caracterização espectral dessa entidade.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
AFBM
Figura 41 Média dos 22 espectros TF-Raman de amostras de AFBM entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 42 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de AFBM.
5.4 Fibroadenoma
Dentre os 57 espectros obtidos, 43 foram selecionados devido à correlação de
95 % e foram utilizados para os cálculos estatísticos e de média (Fig. 43).
Histologicamente, as amostras associadas a esses espectros apresentaram dois
componentes em abundância da mama normal: estroma e tecido epitelial.
Considerado uma forma localizada de hiperplasia nodular do tecido estromal e do
componente glandular da mama, poderia haver sugestão do cruzamento das
médias espectrais dessa doença com as médias do tecido mamário normal. Na
Figura 44, pode ser observado o dendograma representando o cálculo do
coeficiente de correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como
fibroadenoma.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Fibroadenoma
Figura 43 Média dos 43 espectros TF-Raman de amostras de fibroadenoma entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 44 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de Fibroadenoma - agrupamento selecionado compreendendo as
variáveis da esquerda do gráfico.
5.5 CDIS
Dentre os 30 espectros obtidos, 27 foram selecionados devido à correlação de
95 % e foram utilizados para os cálculos estatísticos e de média (Fig. 45). A
Figura 46 mostra o dendograma representando o cálculo do coeficiente de
correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como CDIS. Os espectros
selecionados estatisticamente, corresponderam histologicamente às amostras desta
lesão que apresentaram tecido epitelial, com células apresentando alteração
correspondente à lesão epitelial neoplásica, lâmina basal e tecido conjuntivo
adjacente. Os demais espectros representam seções normais da amostra e de tecido
conjuntivo.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CD in situ
Figura 45 Média dos 27 espectros TF-Raman de amostras de CDIS entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 46 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDIS (agrupamento selecionado demarcado pela seta).
5.6 CDIS tipo comedocarcinoma
Dos 23 espectros obtidos, 21 foram selecionados devido à correlação de 95 % e
foram utilizados para os cálculos estatísticos e de média (Fig. 47). O dendograma
representando o cálculo do coeficiente de correlação dos espectros das amostras
diagnosticadas como CDIS tipo comedocarcinoma (Fig. 48), mostra que além dos
achados do CDIS sem comedo, a representação gráfica pode corresponder à
grande quantidade de necrose celular associada.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CD in situ comedo
Figura 47 Média dos 21 espectros TF-Raman de amostras de CDIS tipo comedocarcinoma,
entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima
intensidade.
Figura 48 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDIS tipo comedocarcinoma.
5.7 CDI
Foram obtidos 395 espectros TF-Raman desta doença. Devido ao grande número
de amostras medidas, provenientes de diferentes pacientes e com diferentes
características biológicas
11
, foi verificado diversidade entre os espectros.
Histologicamente, essa diversidade pode ser explicada em termos da porcentagem
de tecido ductal propriamente normal e alterado, em relação ao tecido conjuntivo,
como reação desmoplásica, reação inflamatória e necrose. Os dois maiores
agrupamentos encontrados através do índice de correlação acabaram separando
grupos sob as condições citadas. Sob o aspecto histopatológico, o grupo que
apresentou maior porcentagem de tecido epitelial com CDI, foi o agrupamento 2,
representado pela cor azul que continha 236 espectros, selecionados para serem os
representantes o grupo diagnóstico para a obtenção do padrão espectral ouro
(Fig. 49). Na Figura 50 observa-se o dendograma representando o cálculo do
coeficiente de correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como CDI.
11
Por exemplo, neoplasias G1, G2 e G3 foram analisadas no mesmo conjunto de amostras.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CDI
Figura 49 Média dos 236 espectros TF-Raman de amostras de CDI SOE, entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 50 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDI SOE; (2): agrupamento selecionado para representar a
amostra.
5.8 CDI tipo inflamatório
Todos os espectros coletados são provenientes de uma única paciente
12
e
apresentaram um coeficiente de correlação maior 95 %, e por isso, todos foram
selecionados para classificação (Fig. 51). Para o CDI inflamatório, foi observado
13 espectros representando o cálculo do coeficiente de correlação dos espectros
das amostras diagnosticadas (Fig. 52).
12
O número de amostras disponíveis é menor porque essa neoplasia é geralmente tratada
previamente com quimioterapia e a cirurgia é reservada para os casos com necessidade de terapia
local paliativa.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CDI Inflamatório
Figura 51 Média dos 13 espectros TF-Raman de amostras de CDI inflamatório, entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 52 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDI inflamatório, agrupamento selecionado inclui todas
variáveis, exceto as de número “1” e “6”.
5.9 CDI tipo medular
Dentre os 52 espectros obtidos, 35 foram selecionados devido à correlação de
95 % e foram utilizados para os cálculos estatísticos e de média (Fig. 53). Os
espectros de CDI medular, selecionados estatisticamente, corresponderam
histologicamente às características estruturais específicas desta lesão. Na Figura
54, pode ser observado o dendograma representando o cálculo do coeficiente de
correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como CDI medular.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CDI Medular
Figura 53 Média dos 35 espectros TF-Raman de amostras de CDI medular, entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 54 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDI medular e destacando o agrupamento selecionado para a análise
espectral.
5.10 CDI tipo mucinoso
Na histologia das amostras obtidas para este estudo, foram evidenciadas diferentes
parcelas de tecido epitelial, conjuntivo e mucina. O grupo de seis espectros, dentre
os 17 adquiridos, representa o componente mucinoso dessa neoplasia (Fig. 55). Na
Figura 56, pode ser observado o dendograma representando o cálculo do
coeficiente de correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como CDI
mucinoso.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CDI Mucinoso
Figura 55 Média dos 6 espectros TF-Raman de amostras de CDI mucinoso, entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 56 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CDI mucinoso agrupamento indicado pela seta foi utilizado
para cálculo das médias espectrais.
5.11 CLI
Os espectros de CLI, selecionados estatisticamente, correspondem à descrição
histopatológica e geraram uma média espectral verificada na Figura 57. O
dendograma representando o cálculo do coeficiente de correlação dos espectros
das amostras diagnosticadas como CLI mostra que entre os 47 espectros obtidos
(Fig. 58), 31 foram selecionados devido à correlação de 95 % e foram utilizados
para os cálculos estatísticos e de média.
800 1000 1200 1400 1600 1800
11,5
12,0
12,5
13,0
13,5
14,0
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CLI
Figura 57 Média dos 31 espectros TF-Raman de amostras de CLI, entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 58 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CLI.
5.12 Doença de Paget
Todos os 20 espectros Raman obtidos da lesão intramamária de uma única
voluntária, foram selecionados por terem apresentado coeficiente de correlação de
95 % (Fig. 59). A Figura 60 representa o dendograma com o cálculo do
coeficiente de correlação dos espectros das amostras diagnosticadas como Doença
de Paget. Para a análise foram consideradas amostras da neoplasia intra-
parenquimatosa somente.
800 1000 1200 1400 1600 1800
11,0
11,5
12,0
12,5
13,0
13,5
14,0
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Doença de Paget
Figura 59 Média dos 20 espectros TF-Raman de amostras de Doença de Paget mamária
lesão intra-parenquimatosa, entre 800 e 1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e
normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 60 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de Doença de Paget.
5.13 CEC
Histologicamente, as características encontradas desta amostras coincidiram com
as transformações neoplásicas que ocorrem nos queratinócitos da camada
espinhosa do epitélio. Desta maneira, os espectros (Fig. 61) apresentaram
características de célula epitelial ductal com transformação neoplásica para tecido
epitelial cutâneo. O cálculo do coeficiente de correlação dos espectros das
amostras diagnosticadas como CEC de mama está representado na Figura 62. Este
tipo raro de neoplasia mamária foi incluído no estudo, pois foi diagnosticada
durante o período de coleta de amostras. Apesar de ser proveniente de uma única
paciente, foram obtidos vários espectros. Dentre os 34 espectros obtidos, apenas
um não apresentou coeficiente de correlação de 95 % entre os demais (variável 29
do dendograma), sendo este excluído da classificação.
800 1000 1200 1400 1600 1800
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
CEC de mama
Figura 61 Média dos 33 espectros TF-Raman de amostras CEC mamário, entre 800 e
1800 cm
-1
com linha de base corrigidas e normalizados pelo pico de máxima intensidade.
Figura 62 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre os espectros de CEC de mama somente a variável “29” não foi incluída nos cálculos
estatísticos.
Para cálculos das médias espectrais foram utilizados 512 espectros que
apresentavam coeficiente de correlação de 95 % (Fig. 63). Na Figura 64, é
possível observar o cálculo do coeficiente de correlação dos espectros de todas as
amostras mamárias utilizadas neste estudo, com a separação dos agrupamentos em
2 grandes partes: mama normal/doenças benignas mamárias e doenças pré-
malignas e malignas.
1000
Intensidade (u.a.)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Mama Normal
Condição Fibrocística
Fibroadenoma
CD in situ
CD in situ Comedo
CDI
CDI Inflamatório
CDI Medular
CDI Mucinoso
CLI
Doença de Paget
CEC de Mama
Figura 63 Média dos 512 espectros TF-Raman de amostras de tecido mamário humano normal e patológico entre 800 e 1800 cm
-1
com linhas de base corrigidas e normalizadas
pelo pico de máxima intensidade.
Figura 64 Dendograma representativo do cálculo do Coeficiente de Correlação entre todos os espectros das 82 pacientes incluídas do estudo. Notar a separação dos
agrupamentos de dividindo em dois grupos: mama normal e lesões benignas (1,2 e 3) e doenças pré-malignas e malignas (4 a 11).
5.14 Dispersão Binominal entre espectros
Com a finalidade de automatizar o processo de avaliação dos espectros, e seguir
um protocolo sistemático de coleta foram obtidos resultados da ACP e dispersão
binomial entre PC2 versus PC3, para evidenciar o potencial discriminativo. Os
grupos escolhidos para realização da análise foram propositalmente selecionados
devido à importância da diferenciação clínica entre os mesmos e agrupados em
diagramas de dispersão, conforme especificado no item 4.3.5 desta dissertação.
5.14.1 Dispersão Binominal considerando doença mamária benigna
Na Figura 65, pode ser observado facilmente a separação dos agrupamentos que
representam o tecido mamário normal, da AFBM e do fibroadenoma, o que seria
esperado uma vez que a composição celular predominante nessas 3 condições
possuem características específicas conforme revisado no item 3.2, sendo assim,
tanto a sensibilidade quanto a especificidade foram de 100%.
-0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15
-0.25
-0.20
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
PC3
PC2
Normal
Condição Fibrocística
Fibroadenoma
Figura 65 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de mama normal, AFBM e
fibroadenoma.
5.14.2 Dispersão Binominal considerando doença mamária benigna, pré-
maligna e maligna.
A diferenciação entre os espectros das amostras de fibroadenoma e CDIS resultou
em 100% de sensibilidade e especificidade respectivamente conforme observado
na Figura 66. O mesmo foi observado quando comparados os espectros da AFBM
e CDIS (Fig. 67).
-0.25 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
PC3
PC2
CD in situ
Fibroadenoma
Figura 66 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDIS e fibroadenoma.
-0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
PC3
PC2
CD in situ
Condição Fibrocística
Figura 67 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDIS e AFBM.
A dispersão binominal representada na Figura 68 mostra que a sensibilidade do
método em diferenciar fibroadenoma de CDI foi de 100 %, enquanto que a
especificidade foi de 93,02 %. A sensibilidade e especificidade da espectroscopia
Raman em diferenciar AFBM de CDI foi de 94,92 % e 81,82 %, respectivamente
conforme verificado na Figura 69.
-0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15
-0.25
-0.20
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
PC3
PC2
Fibroadenoma
CDI
Figura 68 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI e fibroadenoma.
-0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20
-0.20
-0.16
-0.12
-0.08
-0.04
0.00
0.04
0.08
0.12
PC3
PC2
Condição Fibrocística
CDI
Figura 69 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI e AFBM.
Na dispersão binominal entre os espectros do tecido de mama normal, CDIS e
CDI, foi possível observar uma sensibilidade e especificidade de 100%
respectivamente para diferenciar o tecido normal do neoplásico. Já a diferenciação
entre o CDIS e o CDI a apresentou uma sensibilidade de 99,58 % e especificidade
de 85,19 % (Fig. 70).
-0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20
-0.20
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
PC3
PC2
Mama Normal
CD in situ
CDI
Figura 70 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de mama normal, CDIS e CDI.
Na Figura 71, é possível observar a separação nítida entre o CDI e o CDIS,
diferença de dispersão importante uma vez, que uma representa uma doença
neoplásica invasora e a outra restrita à membrana basal ductal. A interface entre o
CDIS e o CDIS tipo comedocarcionoma é difícil de ser visualizada, fato que pode
estar relacionado com as características histológicas de ambas lesões. O mesmo
foi verificado quando comparados os espectros de CDI e CDI sub-tipos especiais
conforme Figura 72, ou quando compararmos CDI com CLI (Fig. 74).
Individualizando os sub-tipos de CDI: medular, mucinoso e inflamatório,
verificou-se uma interface entre os três grupos (Fig. 73). Com isso, a sensibilidade
e a especificidade da espectroscopia Raman em diferenciar o CDI mucinoso do
inflamatório e em diferenciar o CDI medular do inflamatório foram de 100%
respectivamente. A mesma observação foi verificada quando comparados CDI
mucinoso e CDI medular. No entanto, se considerarmos esses tipos de CDI,
juntamente com o CDI SOE, a interface entre os agrupamentos, não fica clara,
havendo uma concentração dos mesmos na parte central da dispersão (Fig. 72),
correspondendo, aos componentes em comum dessas neoplasias.
-0.12 -0.08 -0.04 0.00 0.04 0.08 0.12
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
PC3
PC2
CDI
CD in situ
CD in situ comedo
Figura 71 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI, CDIS e CDIS comedo.
-0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15
-0.20
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
PC3
PC2
CDI
CDI Inflamatório
CDI Medular
CDI Mucinoso
Figura 72 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI, CDI inflamatório, CDI medular e CDI mucinoso.
-0.30 -0.24 -0.18 -0.12 -0.06 0.00 0.06 0.12 0.18 0.24 0.30
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
PC3
PC2
CDI Inflamatório
CDI Medular
CDI Mucinoso
Figura 73 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI inflamatório, CDI medular e CDI mucinoso.
-0.16 -0.12 -0.08 -0.04 0.00 0.04 0.08 0.12
-0.20
-0.15
-0.10
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
PC3
PC2
CLI
CDI
Figura 74 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI e CLI.
Na Figura 75, pode ser observado o PCA realizado entre os dados de CDI e
Doença de Paget de mama. A sensibilidade e a especificidade da espectroscopia
Raman em diferenciar essas duas doenças foram de 95,24 % e 100 %,
respectivamente. Já quando compararmos o CDIS e a Doença de Paget a acurácia
do método é de 100% (Fig. 76).
-0.12 -0.08 -0.04 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20
-0.12
-0.08
-0.04
0.00
0.04
0.08
0.12
0.16
0.20
PC3
PC2
Doença de Paget
CDI
Figura 75 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDI e Doença de Paget.
-0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
PC3
PC2
CD in situ
Doença de Paget
Figura 76 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de CDIS e Doença de Paget.
A partir da dispersão binominal verificada da Figura 77, onde todos os espectros
incluídos na análise foram relacionados, houve uma separação visual entre 4 regiões,
que incluíram agrupamentos de mama normal, doença benigna (AFBM e
fibroadenoma), lesões pré-malignas (CDIS e CDIS tipo comedo) e lesões malignas
(CDI, sub-tipos de CDI, Doença de Paget e CEC de mama). Foi possível, construir um
diagrama, a partir do binominal, que representasse de forma esquemática as regiões que
correspondem a cada grupo de diagnóstico das amostras incluídas no estudo (Fig. 78).
5.14.3 Dispersão Binominal entre os espectros de todas as amostras analisadas
-0.10 -0.08 -0.06 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12
-0.12
-0.10
-0.08
-0.06
-0.04
-0.02
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
PC3
PC2
Mama Normal
Condição Fibrocística
Fibroadenoma
CD in situ
CD in situ comedo
CDI
CDI Inflamatório
CDI Medular
CDI Mucinoso
CEC de mama
CLI
Doença de Paget
Figura 77
Figura 78 Dispersão Binominal PC2 versus PC3 dos espectros de mama normal, AFBM, Fibroadenoma CDI, CDL, CDIS, sub-tipos de CDI, Doença de Paget e CEC de mama.
Figura 79 Separação dos agrupamentos em quatro “regiões”: região 1 -
mama normal, região 2 doença benigna, região 3 lesões pré-malignas e
região 4 lesões malignas.
6 DISCUSSÃO
MMG é utilizada largamente como rastreamento diagnóstico de lesões mamárias pré-
malignas e malignas. Esse exame possui papel limitado em mamas densas
principalmente em mulheres com menos de 50 anos onde o tecido glandular mamário
encontra-se denso, prejudicando a identificação de lesões em 30 a 60% das vezes.
Devido a incorreções relacionadas à própria densidade da mama, os resultados podem
apresentar até 22 % de índices falso-negativos, assim como uma alta taxa de resultados
falso-positivos; apresentando risco cumulativo de 56 % depois de 10 exames, em
mulheres com idade inferior a 50 anos (SHAH et al., 2001). Técnicas como a ultra-
sonografia (US), cintilografia mamária e ressonância magnética nuclear (RMN), e mais
recentemente a PET-scan, são utilizadas como procedimentos de imagem
complementares, mas apresentam alto custo e baixa especificidade ou ainda baixa
sensibilidade em lesões precoces que se apresentam como microcalcificações. Além
disso, não fornecem o diagnóstico histo ou citológico da lesão mamária. Procedimentos
invasivos como a PAAF, Core Biopsy
ou biópsias cirúrgicas, incisionais ou
excisionais, guiadas por agulhamento prévio ou por material radioativo (ROLL) são
implementadas para se obter o diagnóstico cito ou histológico. PAAF possui resultados
falso-negativos de até 15%, considerando um operador experiente e, dependendo se o
procedimento é realizado guiado por imagem, em lesões não palpáveis, este índice pode
aumentar (BIGIO et al, 2000). No entanto, os resultados falso-positivos são irrelevantes,
chegando a 1% em serviços de referência. A acurácia é operador dependente, e pode ser
modificada se o próprio médico patologista executar o método, pois o diagnóstico
definitivo depende muito das informações clínicas e radiológicas, o que muitas vezes
são perdidas quando não há comunicação entre o profissional que executa a PAAF e o
médico que fará a leitura das lâminas. Essa técnica representa um “divisor de águas”,
dentro da propedêutica mastológica, ou seja, classifica a lesão mamária em maligna ou
não-maligna, a partir disso o médico escolhe a conduta associando os achados clínicos e
radiológicos. No entanto, quando a citologia é inadequada ou inconclusiva, ou mesmo
quando for positiva para células malignas
13
, é necessária a utilização de outra técnica
para obter uma amostra tecidual maior.
Core Biopsy
guiada ou não por métodos radiológicos, assim como os demais exames
utilizados para a obtenção de amostra tecidual da lesão mamária, requerem uma incisão
cutânea e uma abordagem incisional ou excisional diretamente na lesão glandular. Além
dos custos elevados relacionados a essas técnicas, que muitas vezes requerem ambiente
hospitalar, é necessário o envolvimento de uma equipe multiprofissional para a
execução de técnicas como o agulhamento e o ROLL.
Com a possibilidade de utilização de métodos espectrais vibracionais moleculares para
análise de componentes biológicos, a ER vem sendo estudada como método diagnóstico
em várias áreas da Medicina. É um método com potencial para ser utilizado para o
diagnóstico em tempo real de algumas doenças e com o mínimo de invasão da área em
questão.
13
Não é possível diferenciar CDIS de CDI pela citologia, pois é necessária a presença da
membrana basal ductal. Pode ser considerado diagnóstico de CDI nos casos em que a citologia foi
positiva e o quadro clínico e radiológico favorecem esse diagnóstico juntamente com a citologia. Além
disso, a técnica de imunohistoquímica é mais aceita do que a imunocitoquímica para a verificação de
receptores celulares (CIPOLLA et al., 2006).
O uso da ER para verificar as características espectrais do parênquima mamário humano
vem sendo descrito principalmente a partir da década de 90. A maioria dos estudos era
de caráter experimental, apresentando número pequeno de espectros, mesmo assim
caracterizaram e diferenciaram os componentes vibracionais dos principais picos dos
espectros de tecido mamário normal e doente (FRANK et al., 1994; SCHRADER et al.,
1995; FRANK; McCREERY, 1995; MANOHARAN; WANG; FELD, 1996). A partir
disso, outros estudos foram publicados relacionando análise bioquímica do tecido
mamário, o desenvolvimento de dispositivo de análise in vivo, a caracterização de
neoplasia maligna, a verificação de acurácia diagnóstica em linfonodos axilares
metastásticos de CM, e, até mesmo, caracterização do gene BRCA1 por ER de
espalhamento (SHAH et al., 2001; ALLAIN; VoDINH, 2002; KNEIPP et al., 2003;
SMITH et al., 2004; HAKA et al., 2005). Entretanto, em todos esses trabalhos não
foram realizados estudos sistemáticos de lesões mamárias analisando de um grande
número de dados espectrais provenientes de uma população maior e diferentes
diagnósticos visando formar uma biblioteca ou banco de espectros; com intenção de
diagnóstico diferencial entre os principais conjuntos de alterações do parênquima
mamário. Também não houve comparação de grande número de espectros de doenças
mamárias com o tecido glandular normal.
Os espectros encontrados, neste estudo, foram compostos pelos diversos tipos de tecido
que compõe a glândula mamária humana. Portanto, não existem espectros Raman dos
tecidos biológicos certos ou errados”, e sim a representação de um padrão ouro
espectral para cada diagnóstico e permitindo desenvolver um algoritmo estatístico
adequado visando a diferenciação entre um tipo espectral e outro. Desta maneira, foi
realizada a adequação e a escolha de um modelo espectral mais adequado para análise
estatística.
Neste estudo foi possível identificar e catalogar um grande número de espectros: 859
espectros provenientes de amostras mamárias de 82 pacientes. O maior número de
amostras coletadas, e em conseqüência o maior número de espectros, foi proveniente de
lesões de pacientes com CDI SOE de mama (Tab. 5).
Em todas as análises, nas quais as variáveis relacionadas ao CDI foram incluídas, foi
possível realizar observações importantes. A acurácia em diferenciar CDI de doença
benigna foi elevada (Figs 68 e 69). A pequena interface entre as variáveis da AFBM e
do fibroadenoma poderia ser explicada pela presença de CDI bem diferenciados na
amostra. Quando relacionadas variáveis do CDI SOE com os demais CDIs foi possível
notar uma interface importante que poderia traduzir os aspectos biológicos comuns
dessas doenças como, por exemplo a presença de invasão e a capacidade de enviar
metástases. Além disso, a grande maioria de lesões, como CDI medular ou mucinoso,
não se apresenta como forma pura, contendo também componentes de CDI clássico em
sua arquitetura (Figs. 72 a 74). O número de amostras desses CDI sub-tipos especiais
incluídos neste estudo compreendeu a percentagem média de pacientes encontrada em
séries da literatura (WEIGELT et al., 2005). A diferenciação entre estes tipos de
neoplasias malignas da mama foi possível (sem relacionar as variáveis de CDI SOE); e
com sensibilidade e especificidade de 100% (Fig. 73). Essa caracterização pode ser
explicada pelos componentes biológicos predominantes em cada uma dessas doenças,
como a mucina em abundância no CDI mucinoso. No entanto, há necessidade de obter
mais amostras de CDI mucinoso, para a construção de diversos padrões
espectrais/estruturais que compõe esta doença, decorrentes da sua composição
histológica específica, valendo o mesmo para o CDI inflamatório.
Na Figura 74, pode ser observado o PCA realizado entre os dados de CDI e CLI. O
padrão histológico destas neoplasias apresenta células provenientes da mesma estrutura
glandular, embora a arquitetura de distribuição das células neoplásicas seja diferente.
Isso pode explicar a sobreposição dos espectros em função da dispersão dos PCs.
Amostras de CDIS foram provenientes de 5 pacientes com neoplasias clinicamente
palpáveis
14
e resultaram em 48 espectros para análise estatística. Foi feita a opção de
análise separada do CDIS sem necrose e do CDIS com necrose ou tipo comedo (Figs 45
a 48), uma vez que possuem comportamento biológico diferente. Sob ponto de vista
espectral essas duas doenças apresentaram uma interface com algumas variáveis, no
entanto, houve dispersão de variáveis em ambas as neoplasias (Figs 68 e 74), fato este
que poderia estar relacionado com a presença de necrose, no CDIS comedo, ou ausência
de necrose no CDIS. No entanto, houve diferença estatisticamente significante entre as
variáveis de CDIS (comedo e não comedo) e as de CDI SOE, conforme demonstrado
nas Figuras 70 e 71. Isto reflete que, sob ponto de vista molecular, existem várias
diferenças que ocorrem no processo de transformação de uma neoplasia não invasora
para uma neoplasia com capacidade de destruição da membrana basal ductal. Esse
achado é de fundamental importância, pois se a ER poderá ser usada para diagnóstico in
vivo, o método será capaz de diferenciar entre um CDIS de um CDI, o que a citologia,
por exemplo, não é capaz de realizar. Foi possível verificar a separação completa
estatisticamente significante - entre os agrupamentos do CDIS e doenças benignas da
14
O diagnóstico de CDIS, é realizado na grande maioria das vezes após mamografia de
rastreamento (1 caso para cada 1300 mamografias), onde são identificadas lesões subclínicas e excisadas
por métodos indiretos de localização e sendo necessária a análise de toda a lesão devido ao tamanho
pequeno da amostra (BURTEIN et al., 2004) , o que justifica poucos casos desta lesão no presente estudo.
mama (Figs. 66 e 67), mostrando que o método pode diferenciar doença pré-maligna de
doença benigna (AFBM e fibroadenoma).
CDI inflamatório, Doença de Paget da mama e carcinoma epidermóide de mama foram
incluídos na análise por caracterizarem doenças neoplásicas malignas mamárias, que
apesar de apresentação clínica, tratamento e evolução peculiares, poderiam apresentar
relações espectrais interessantes com os casos de CDI e de doenças benignas.
No caso da Doença de Paget, foi possível observar características interessantes, uma vez
que sua relação com CDI e CDIS é controversa na literatura, principalmente no que se
diz respeito à sua origem: as células de Paget teriam crescimento nos ductos mamários
prosseguindo nos sinusóides lactíferos até a epiderme do mamilo. Outra hipótese sugere
que as células de Paget teriam origem na porção terminal dos ductos lactíferos - na
junção com a epiderme ou seja, seriam células epidérmicas que sofreram metaplasia
para células epiteliais ductais (LUCAROTTI; JENKINS; WEBB, 1995; FARLEY et al.,
2001). Os achados mostrados nas Figuras 75 e 76 suportam a segunda teoria.
Por outro lado, as amostras das doenças benignas de mama utilizadas neste estudo,
AFBM e fibroadenoma, foram provenientes de pacientes com lesões palpáveis e
citopatologia pré-operatória não conclusiva para diagnóstico sendo necessário a excisão
das mesmas
15
. Observou-se a separação das variáveis dessas duas doenças (Fig. 65),
15
Tanto fibroadenoma quanto AFBM, na grande maioria das vezes, são diagnosticados em
exames de imagem de rastreamento, sendo necessário retirá-los para diagnóstico histológico quando a
citologia é duvidosa, ou quando não é possível PAAF.
além de haver distinção entre essas patologias mamárias e doença pré-maligna e maligna
(Figs. 66 a 69), conforme já discutido anteriormente.
Para caracterização do tecido mamário normal, foram utilizadas amostras de tecidos
provenientes de mamoplastia redutora. Sendo assim, as amostras obtidas eram
compostas pelos tecidos glandulares propriamente ditos e de sustentação, favorecendo
uma abordagem mais real do que possivelmente será encontrado caracterizado ao se
realizar ER in vivo. Em todas as comparações de variáveis em que os espectros de tecido
mamário normal foram incluídos, houve diferença estatística significante entre mama
normal mama com doença, seja ela benigna ou maligna (Figs. 65, 70 e 78).
Observando as Figuras 78 e 79 foi possível verificar a distribuição dos agrupamentos de
acordo com o diagnóstico histológico. Houve separação clara entre o tecido mamário
normal e demais amostras analisadas (região 1). As doenças benignas, que neste estudo
incluiram AFBM e fibroadenoma, ficaram posicionadas periférica e inferiormente no
diagrama (região 2), enquanto que as lesões pré-malignas (CDIS e CDIS tipo comedo)
apresentaram-se periférica e superiormente (região 3). Todas as doenças malignas
mamárias (CDI SOE, CDI sub-tipos especiais, CEC, Doença de Paget) ficaram
posicionadas na parte central do diagrama (região 4). A interface entre a região 2 e 4
poderia ser explicada pelas lesões malignas bem diferenciadas que possuem
componentes histológicamente semelhentes ao tecido mamário com doença benigna. Por
outro lado, a interface entre a região 3 e 4 poderia ser explicada pelos CDIs com maior
quantidade de componente in situ associada. Todas essas observações poderão ser
comprovadas através do cruzamento dos dados histopatológicos das amostras das
pacientes com os respectivos espectros. Além disso, utilizando Distância de
Mahalanobis e Redes Neurais Artificiais poderá ser verificado a significância estatística
desses achados.
7 CONCLUSÕES
Os grupos escolhidos para realização deste estudo foram propositalmente selecionados
devido à importância da discriminação clínica entre os mesmos. Os cálculos de
coeficiente de correlação entre os espectros de cada grupo, serviram para identificar as
variáveis que possuíam correlação maior que 95 %. Estes espectros, sob aspecto
histopatológico, foram obtidos de amostras que continham as principais estruturas
características de cada lesão. Os dados foram posteriormente utilizados, como sucesso,
na realização da ACP, como finalidade classificatória.
Os resultados, obtidos através da ACP e dispersão binomial dos PC2 e PC3,
demonstraram compatibilidade entre os achados espectrais, clínicos e histológicos,
demonstrando alta sensibilidade e especificidade da técnica Raman.
Foi possível observar sensibilidade e especificidade de 100 % quando comparados os
espectros através da dispersão binominal PC2 versus PC3:
- de CDI, CDIS e CDIS comedo;
- de CDI inflamatório, CDI medular e CDI mucinoso;
- de CDIS e Doença de Paget;
- de CDIS e AFBM;
- de CDIS e fibroadenoma;
- e de mama normal, AFBM e fibroadenoma.
A comparação dos espectros através da dispersão binominal PC2 versus PC3 das
seguintes variáveis apresentou sensibilidade e especificidade, respectivamente:
- Doença de Paget e CDI: 95,24 % e 100%;
- CDI e AFBM: 94,92 % e 81,82 %;
- CDI e Fibroadenoma: 100 % e 93,02 %;
- CDIS e CDI: 99,58 % e 85,19 %.
A comparação entre CDI e CLI resultou em alta sobreposição dos dados,
impossibilitando o cálculo da sensibilidade e especificidade. Neste caso seria necessário
identificar outras variáveis em ambas as neoplasias que pudessem distingui-las pela
técnica Raman, o que poderia ser realizado individualizando um estudo que incluísse
maior número de amostras de CLI.
Também foi possível, utilizando dispersão binominal PC2 versus PC3 dos espectros de
todas as amostras mamárias, separar os agrupamentos em quatro regiões bem definidas
que representam os achados histológicos: tecido mamário normal, tecido mamário com
doença benigna, tecido mamário com doença pré-maligna e tecido mamário com doença
maligna. Essa caracterização foi visual, sendo necessário verificar a acurácia dos
achados através da sensibilidade e especificidade que em continuidade deste estudo
poderão ser realizadas utilizando treinamento de redes neurais ou Distância de
Mahalanobis.
Estes resultados deixaram clara a possibilidade da aplicação da ER para o diagnóstico
diferencial de doenças mamárias, podendo ser considerados estudos utilizando a técnica
Raman in vivo, ao mesmo tempo em que a lesão seria clínica ou radiologicamente
avaliada.
Além disso, é possível uma análise individualizada dos casos de CDI, para verificação
de diferenças espectrais entre os fatores prognósticos histopatológicos e clínicos. Se
considerarmos o método como uma forma de diagnóstico, em nível molecular, em
tempo real, características como presença de receptores hormonais, oncogenes, ou
alterações citogenéticas poderiam ser analisadas sem a necessidade da retirada de
fragmento da lesão. Além disso, durante o tratamento cirúrgico a ER seria um método
potencial para a verificação das margens do leito tumoral, bem como da presença de
lesão metastática em linfonodo sentinela. Outras aplicações que poderiam ser
consideradas, e necessitariam de verificação, seriam o uso da ER para determinar a
ocorrência de reposta ao tratamento neoadjuvante e para determinar as características da
biologia celular das lesões metastáticas e da lesão mamária primária.
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ZURRIDA, S. et al. Radioguided localization of occult breast lesions. The Breast. v.7, p.11-
13, 1998.
APÊNDICES
Apêndice A Termo de consentimento livre esclarecido.
Para obter um maior conhecimento clínico e científico do câncer, o Corpo Clínico deste
Hospital (médicos e pesquisadores) desenvolvem pesquisas clínico-científicas, as quais
possibilitam conhecer melhor os mecanismos da doença, oferecendo novas
possibilidades de diagnóstico e tratamento. Estes estudos são realizados em fragmentos
de tumores removidos em cirurgias. Você está sendo admitido (a) neste Hospital para
estabelecimento de diagnóstico e tratamento de alguma forma de tumor. Para fins de
diagnóstico, fator prognóstico e/ou como parte de seu tratamento, há necessidade da
remoção do tumor para exames clínicos laboratoriais, necessários para um diagnóstico
definitivo, principalmente o diagnóstico histopatológico. O restante do tumor que é
retirado, não é utilizado, sendo descartado, conforme Legislação Sanitária regulamenta
sobre o assunto.
Um fragmento do tumor será encaminhado para um projeto de pesquisa, previamente
submetido à apreciação da Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital, através da
utilização da Espectroscopia Raman e de Infravermelho com Transformada de Fourier
para estudos de materiais biológicos, com ênfase em tecidos com câncer de mama, a
qual fornece informações bioquímicas detalhadas, diferenciando tecidos benignos de
tecidos malignos, através de alterações microscópicas detectadas por espectroscopia
óptica. O fragmento do tumor será identificado no laboratório por um código formado
por números e letras e, portanto, sua publicação científica será feita de modo a manter o
anonimato do paciente.
Concordamos com o uso do material para fins acima descritos, é necessário esclarece-
lo (a) que não existem quaisquer benefícios ou direitos financeiros a receber sobre
eventuais resultados decorrentes da pesquisa. Se você não concordar em doar materiais
para pesquisa, sua decisão não influenciará, de modo algum, no seu tratamento.
Dúvidas ou questões sobre o Termo de Consentimento poderão ser esclarecidas pelo
seu médico.
Você receberá uma cópia deste documento e o original será arquivado em seu
prontuário.
Somente assine este termo, se consentir.
DECLARAÇÃO
Declaro estar ciente das informações ora prestadas, tendo lido atentamente e
concordando com o teor.
_________,_____de_______de 200__.
Responsável ou Paciente
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ANEXO A Certificado do comitê de ética em pesquisa da UNIVAP.
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