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ELSI DO ROCIO CARDOSO ALANO
ESPAÇO RURAL E SUAS POSSIBILIDADES EMPREENDEDORAS:
O Assentamento Nhundiaquara no Litoral Paranaense
CURITIBA
2008
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ELSI DO ROCIO CARDOSO ALANO
ESPAÇO RURAL E SUAS POSSIBILIDADES EMPREENDEDORAS:
O Assentamento Nhundiaquara no Litoral Paranaense
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Ciências,
Programa de Pós-Graduação em Agronomia, área
de concentração em Produção Vegetal, Linha de
Pesquisa Desenvolvimento Rural Sustentável, do
Setor de Ciências Agrárias, da Universidade
Federal do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Flávio Zanette
Co-Orientadores: Prof. Dr. Valdo José Cavallet
Prof. Dr. Edimilson César Paglia
CURITIBA
2008
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Alaide e Antonio Joaquim
Cardoso, pelo apoio e incentivo em todas
as minhas decisões.
Aos meus filhos Renan e Jéssica, pelo
diálogo constante e amor incondicional.
Ao Ademilson, pela compreensão e
companheirismo.
À comunidade Pantanal, pela
perseverança.
AGRADECIMENTOS
Às minhas irmãs Neide, Noeli, Nanci e Nilce, verdadeiras amigas;
aos demais familiares que de forma indireta acompanharam esta trajetória;
ao Prof. Dr. Flávio Zanette, pelo carinho, sabedoria e dignidade;
ao Prof. Dr. Valdo José Cavallet, pela amizade e por acreditar que fosse possível;
ao Prof. Dr. Edmilson Paglia, incentivo;
à Profª Drª Nilce Nazareno da Fonte, pelo esclarecimento metodológico;
ao Prof. Diomar Quadros, pelo apoio nos momentos precisos;
à Profª Cristiane Rocha Silva, pelas contribuições;
ao Ricardo Borsatto, pelas sugestões;
à EMATER - Morretes e Paranaguá-PR, INCRA e IAP, pela receptividade;
aos membros do Instituto Agroecológico, pela atenção;
à Lucimara, pelas informações e atendimento na Pós-Graduação;
aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, pelas
contribuições para o meu aprendizado;
aos Professores e Servidores Técnico-administrativos da UFPR Litoral, pelo carinho;
aos amigos e amigas que sempre se fizeram presentes;
em especial, à Deus por permitir todos estes encontros na minha vida.
“Deficiente é aquele que não consegue
modificar sua vida, aceitando as
imposições de outras pessoas ou da
sociedade em que vive, sem ter
consciência de que é dono de seu
destino.”
Mário
Quintana
RESUMO
O espaço rural contempla uma série de fatores, compreendidos nas questões
sociais, políticas, ambientais e econômicas. Diante das novas tendências de
produção e mercado, o empreendedorismo passa a ser uma possibilidade para o
desenvolvimento do trabalho nas diversas atividades que o espaço agrário
proporciona. Há uma grande necessidade de analisar as questões que envolvem a
educação e o trabalho nos assentamentos. Neste contexto, delimita-se a pesquisa
com as famílias do Assentamento Nhundiaquara Gleba Pantanal, no litoral
paranaense, com objetivo de analisar o espaço rural e suas possibilidades
empreendedoras. Parte-se do pressuposto de que a problemática existente
evidencia-se nas competências produtivas, organizacionais e na ausência de
interação da agricultura familiar com as demais atividades desenvolvidas, a
pluriatividade. O presente estudo visa conhecer a situação local da agricultura, os
arranjos produtivos locais, o papel desempenhado pelas famílias, seus desafios e
suas potencialidades, considerando as histórias de vida e expectativas destas
famílias. Pretende-se estabelecer relações com o empreendedorismo associadas a
gestão de produtividade, qualidade, gestão social e cooperativismo, para a geração
de renda e desenvolvimento local. Busca-se identificar as questões de infra-estrutura
que lhes é proporcionada e/ou estabelecida e a existência de recursos naturais.
Verifica-se a composição e divisão do trabalho por atividade, tendo como base de
análise as ações empreendedoras, alicerçadas no desenvolvimento sustentável. A
metodologia utilizada foi, pesquisa qualitativa para a qual se realizou a análise
documental, o levantamento de dados bibliográficos e a pesquisa de campo com
entrevistas semi-estruturadas, considerando suas histórias de vida. Foram 11 (onze)
famílias pesquisadas, as quais compreendem um total de 35 pessoas, em que foi
possível trazer como resultado as seguintes afirmações: as tarefas e atividades são
exercidas pelas próprias famílias; suas produções se destinam ao consumo e ao
mercado, desenvolvem atividades de agricultura, pecuária, artesanato. Também foi
possível perceber a realidade de alguns fatores socioeconômicos destas famílias. O
presente estudo pautou-se na perspectiva de ter uma relevância social, tanto para a
comunidade como para a sociedade. O grau de importância para a comunidade
científica é bastante vasto; pois o fato de não haver insipiência de pesquisas nesta
localidade, uma diversidade de linhas de pesquisas que podem ser delineadas a
partir do presente estudo.
Palavras-chave: assentamento, ações empreendedoras, agricultura familiar,
pluariatividade.
ABSTRACT
The rural ground covers a range of factors included in social, political, environmental
and economical aspects. In front of the new tendencies of production and market,
enterprise becomes a possibility to develop work in the different activities the rural
ground provides. There is a great necessity to analyze the matters which involve
education and work in the settlements. This context, delimits the research with the
families at Nhundiaquara Settlement Pantanal Turf, at the seashore of Paraná, the
object is to examine the rural ground and its enterprising possibilities. Presumably,
the existing problems become evident in the productive and organizational areas and
in the lack of interaction between the family agriculture and the other performed
activities, the pluriactivity. This study has the purpose to know the local agriculture
condition, the local productive arrangements, the part played by the families, their
challenges and their potentialities, considering these families life history and
expectations. It is intended to establish relations with the enterprise associated with
the productivity management, quality, social management and cooperativism, for the
making of profit and local development. What is sought is to identify the infrastructure
aspects, which is given and/or settled and the existence of natural resources. The
composition and division of labor by activity is verified, taking as analysis base the
enterprising actions, founded on the sustainable development. The methodoly used
was, qualitative research for which a documental analysis was conducted,
bibliographic data survey and the field research with semi-structured interviews,
considering their life history. There were 11 (eleven) interviewed families, with 35
(thirty-five) people in all, and it was possible to achieve as results the following
affirmations: the tasks and activities are done by the families themselves; their
productions are intended for the consumption and market; they develop activities in
agriculture, livestock and crafts. It was also possible to notice the reality of some of
these families’ socioeconomic factors. This study was guided in perspective of having
a social relevance, both for the community and the society. The importance level for
the scientific community is fairly wide, for there is no ignorance of researches in this
locality, there is a diversity of research lines, that can be traced from this study.
Key- words: settlement, enterprising actions, family agriculture, pluriactivity
LISTA DE SIGLAS
CONCRAB - Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil
EMATER - Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
FASE - Federação de Órgão para Assistência Social e Educacional
IAP - Instituto Ambiental do Paraná
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MASTEL - Movimento de Agricultores Sem Terras do Litoral
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MST - Movimento dos Sem terra
PPI - Projeto Político Institucional
PPP - Projeto Político Pedagógico
PROCERA - Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária
PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com
a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SBCS - Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
SEAB - Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná
UFPR - Universidade Federal do Paraná
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a
cultura
UNICAFES - União de Cooperativas de Reforma Agrária e Economia Solidária
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – MAPA DO LITORAL PARANAENSE SITUANDO A REGIÃO
DE MORRETES ..........................................................................
23
QUADRO 1 – CENSO 2007- RESULTADOS PRELIMINARES – MORRETES-
PR ...............................................................................................
68
FIGURA 2 – USINA DE AÇÚCAR– ÁREA DESTINADA PARA O
PROGRAMA DE REFORMA AGRÁRIA: ASSENTAMENTO
NHUNDIAQUARA – MUNICÍPIO DE MORRETES-PR ..............
71
FIGURA 3 – ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES ............................................
73
FIGURA 4 – REUNIÃO NA ASSOCIAÇÃO PROSPERIDADE SOLICITAÇÃO
PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA .........................................................
74
FIGURA 5 – VIVENCIAS: IAPAR E PROPRIEDADES DE PRODUTORES
DE MORRETES ..........................................................................
75
QUADRO 2 – FAIXA ETÁRIA E GÊNERO DOS MEMBROS QUE COMPÕEM
AS FAMÍLIAS ENTREVISTADAS................................................
76
FIGURA 6 – LOCAL DE TRABALHO ...............................................................
77
FIGURA 7 – LOCAL DE RESIDÊNCIA (Nº DE PESSOAS). ............................
78
FIGURA 8 – ESCOLARIDADE .........................................................................
79
FIGURA 9 – ACESSO À SERVIÇOS TÉCNICOS E DE SAÚDE POR
FAMÍLIA .......................................................................................
79
FIGURA 10 – POSTO DE SAÚDE E MORADIAS: CONSTRUÇÃO DAS
CASAS DOS ASSENTADOS DO NHUNDIAQUARA DA GLEBA
PANTANAL- MORRETES-PR .....................................................
80
QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO E SUAS
FINALIDADES ............................................................................
81
FIGURA 11
– PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS FAMÍLIAS ENTREVISTADAS
NO ASSENTAMENTO NUNDIAQUARA –
GELBA PANTANAL
MORRETES-PR ..........................................................................
82
FIGURA 12 – PISCICULTURA - ALTERNATIVA DE ALGUMAS FAMÍLIAS
PESQUISADAS NA GLEBRA PANTANAL – ASSENTAMENTO
NHUNDIAQUARA – MORRETES-PR .........................................
83
FIGURA 13 – PRODUÇÃO ARTESANAL DE ALGUMAS DAS FAMÍLIAS
ENTREVISTADAS NA GLEBRA PANTANAL DO
ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA EM MORRETES-PR .......
84
QUADRO 4 – EXPECTATIVAS EMPREENDEDORAS E COOPERATIVISMO
85
86
QUADRO 5 – ANÁLISE DAFO DE AVALIAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO ..
87
FIGURA 14 – ANÁLISE DAFO ...........................................................................
88
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
..............................................................................................
11
2 UMA REFLEXÃO VOLTADA PARA A COMPREENSÃO DA MINHA
HISTÓRIA DE VIDA E A MINHA TRAJETÓRIA ATÉ O PRESENTE
ESTUDO .......................................................................................................
13
2.1 FRAGMENTOS DE MINHA HISTÓRIA DE VIDA ......................................
13
2.2 A UFPR E A MINHA VIDA .........................................................................
14
2.3 SER EDUCADOR: O PENSAR E O AGIR ................................................ 16
2.4 EXPERIÊNCIAS COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA E O CAMINHO PARA
O MESTRADO ...........................................................................................
17
3 METODOLOGIA
...........................................................................................
20
3.1 EMPREENDER COM EDUCAÇÃO RUMO AO DESENVOLVIMENTO
NO ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA ..................................................
20
3.2 AS ENTREVISTAS: UM UNIVERSO DE SONHOS E REALIDADES .......
23
3.2.1 Eixos condutores para a construção do roteiro das entrevistas .............
25
3.2.2 Aplicação das Entrevistas: a dimensão de uma realidade e seus atores
25
4 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................
27
4.1 EDUCAÇÃO – A PROPOSTA DO SETOR LITORAL DA UFPR................
27
4.1.1 Projeto Político Pedagógico: um horizonte para a reflexão coletiva .......
28
4.1.2 Construção do Projeto Pedagógico: o repensar, o agir e sua
intencionalidade ......................................................................................
30
4.1.3 Trabalho por Projetos: um processo de aprendizagem por
protagonismo .........................................................................................
33
4.1.4 O Papel da Universidade no Desenvolvimento Local .............................
36
4.1.5 Universidade e Inovação: O Curso de Gestão e Empreendedorismo da
UFPR ......................................................................................................
37
4.2 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL – DRS ...........................
39
4.2.1 Assentamento e Desenvolvimento .........................................................
42
4.3 AGRICULTURA BRASILEIRA: UMA BREVE INTRODUÇÃO ...................
43
4.3.1 A Questão Ambiental: uma mostra de quem se preocupa com a
natureza ..................................................................................................
43
4.3.2 A Questão Social: um Olhar de quem se Preocupa com a Comunidade
Rural .......................................................................................................
44
4.4 AGRICULTURA FAMILIAR: UMA LUZ QUE NÃO SE APAGA .................
45
4.4.1 Organização Nacional da Agricultura Familiar na Década de 1990 47
4.4.2 A Agricultura Familiar como Opção de Desenvolvimento .......................
49
4.5 PLURIATIVIDADE: COMPLEXIDADE DO MEIO AGRÁRIO .....................
51
4.5.1 Possibilidades Empreendedoras: facilitando caminhos ..........................
51
4.5.1.1 O viés empreendedor no meio rural: autonomia para a
sustentabilidade ...................................................................................
53
4.5.2 A Agroecologia como Ensino Superior: o Desencadear para uma
Transformação necessária diante da construção do PPP do Setor
Litoral ......................................................................................................
56
4.5.3 Perspectiva para a Possibilidade do PROEJA em Agroecologia ...........
60
4.6 COOPERATIVISMO DA AGRICULTURA FAMILIAR ................................
62
4.6.1 A Produção Artesanal e seu Devido Valor ..............................................
64
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 65
5.1 A REGIÃO DE MORRETES ......................................................................
65
5.2 OS AGRICULTORES FAMILIARES DO LITORAL PARANAENSE ..........
66
5.2.1 Os Agricultores de Morretes ...................................................................
66
5.3 A LINHA DE PESQUISA: DESENVOLVIMENTO RURAL
SUSTENTÁVEL ..........................................................................................
68
5.4 O ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA ..................................................
70
5.4.1 História da área da Gleba Pantanal .......................................................
71
5.4.2 A Associação Prosperidade da Comunidade Pantanal ..........................
71
5.5 MOMENTOS IMPORTANTES DA PESQUISA DE CAMPO .....................
73
5.6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................................
75
5.6.1 Composição Familiar, Educação e Serviços Técnicos ...........................
76
5.6.2 Atividade dos Entrevistados – A Produção e a Comercialização ...........
81
5.6.3 Visão Empreendedora e as Ações Cooperativistas ................................
84
6 CONSIDERÕES FINAIS E
PROPOSIÇÕES
..........................................
89
REFERÊNCIAS
...............................................................................................
93
ANEXO
1
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
.......................
100
ANEXO 2
MAPA DO ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA
GLEBA
PANTANAL .................................................................................
101
ANEXO 3 ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO PROSPERIDADE DA
COMUNIDADE PANTANAL NO MUNICÍPIO DE MORRETES ESTADO
DO PARANÁ....................................................................................................
102
ANEXO
4
PORTARIA CONJUNTA MDA E INCRA
....................................
107
11
1 INTRODUÇÃO
Conforme a percepção geral e de diversos especialistas no assunto, uma
grande necessidade de se analisar as questões que envolvem a educação e o
processo de trabalho nos assentamentos. Estes dois pilares de sustentação para o
desenvolvimento das famílias assentadas emergem da necessidade mais
globalizada que atingem desde o desenvolvimento humano até o desenvolvimento
sustentável. Este entendimento passa pela compreensão de que o Desenvolvimento
Rural Sustentável é o eixo norteador para tratar as multidimensões que incidem
diretamente nas diferentes classes sociais.
Assim, considerando estes pilares, que se refletir sobre as mudanças no
que concerne as questões culturais geradas a partir das práticas desenvolvidas.
Atualmente, tem se observado uma tendência a adoção de sistemas
econômicos ancorados em pequenos negócios altamente produtivos. O
ressurgimento do espírito empreendedor é um dos movimentos mais importantes da
história recente, e se consolida nas ações empreendedoras que viabilizam que os
trabalhadores introduzam produtos e serviços inovadores, ampliando assim, as
fronteiras tecnológicas e criando novas formas de trabalho abertos a novos
mercados locais e globais.
O empreendedorismo passa a ser grande fonte para se fomentar agentes
nas diversas atividades que o espaço agrário proporciona, que se soma às questões
que envolvem, desde a sobrevivência das pessoas que vivem nesse espaço aa
produtividade, a rentabilidade e a competitividade que possam ser geradas pelas
famílias rurais.
O Curso de Gestão e Empreendedorismo, do Setor Litoral da UFPR, criado
no ano de 2006, além de propiciar espaços de produção de conhecimento e de
reflexão entre os discentes, docentes e comunidade, tem em sua concepção o
reconhecimento de que as atuais condições de vida como: desemprego e
desigualdade, degradação e riscos ambientais, padrões insustentáveis de consumo,
entre outras, colocam diversos desafios e impõem a necessidade de busca e
implementação de alternativas que promovam a sustentabilidade ambiental,
econômica e social.
12
Neste contexto, delineou-se a pesquisa com as famílias do assentamento
Nhundiaquara Gleba Pantanal, no litoral paranaense, foco do presente estudo,
com objetivo de analisar o espaço rural e suas possibilidades empreendedoras.
Parte-se do pressuposto de que a problemática existente evidencia-se
nas competências produtivas, organizacionais e na ausência de interação da
agricultura familiar com as demais atividades desenvolvidas nesta Gleba.
O que de novo na comunidade Gleba Pantanal é não ter sido estudada
ainda por instituições e/ou organizações que tenham como objetivo central da
pesquisa contribuir para o desenvolvimento sustentável da região.
Com o presente estudo, pretende-se conhecer a situação local em que
encontra-se a agricultura (arranjos produtivos locais e gestão de recursos comuns),
o papel desempenhado pela família nesse contexto, seus desafios e suas
potencialidades, na perspectiva de fortalecer as capacidades empreendedoras e a
agricultura local, considerando as histórias de vida e expectativas destes
assentados.
Concomitantemente, pretende-se analisar as ões desenvolvidas no que
diz respeito às iniciativas no sentido de apresentar sugestões de ações que possam
reverter em benefícios para a coletividade de forma mais cooperada. Explorar as
vertentes empreendedoras e estabelecer relações com o empreendedorismo
associadas a gestão de produtividade e qualidade, gestão social e cooperativismo,
para a geração de renda e desenvolvimento da economia local.
O presente projeto de pesquisa constitui o Projeto de Ação Docente da
pesquisadora, o qual está inserido no contexto do Projeto Político Pedagógico do
Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná.
Face ao exposto, a escolha pelo município de Morretes, localizado no litoral
paranaense, configura-se como um grande laboratório de estudo nos aspectos:
homem/natureza. Pode-se dizer que é uma região instigadora, por ser ela mesma
composta por uma diversidade cultural, humana e biológica, portanto, cheia de vida
– no mais profundo significado da palavra.
13
2 UMA REFLEXÃO VOLTADA PARA A COMPREENSÃO DA MINHA HISTÓRIA
DE VIDA E A MINHA TRAJETÓRIA ATÉ O PRESENTE ESTUDO
2.1 FRAGMENTOS DE MINHA HISTÓRIA DE VIDA
Meus pais foram e são pessoas que sempre lutaram na perspectiva de
conseguir uma educação melhor para as filhas. Hoje reaplicam a forma de educar,
com maior experiência de vida, aos seus netos e netas que convivem mais
próximos, sempre procurando enfatizar que o futuro é conseqüência do passado e
da vida presente.
Minha mãe, filha de descendentes de italianos, uma mulher forte,
perseverante e corajosa, desde sua infância, foi colocada em prova para superar
grandes desafios a ela foi delegada a responsabilidade de auxiliar na criação de
seus irmãos. Nascida em Curitiba, porém com grande parte de sua família
estabelecida em Campo Largo. Meu pai, baiano, descendente de português, com
sua educação rigorosa, conseguiu transmitir muitos valores e princípios que
permeiam minha construção de vida até os dias de hoje. Homem bastante pró-ativo
e decidido, o qual veio para o Paraná muito cedo.
Nasci na cidade de Curitiba e tenho quatro irmãs maravilhosas. Aprendemos
a compartilhar e a conviver com nossas diferenças, sempre fomos muito unidas.
Temos como referência religiosa nossos pais que nos ensinaram e nos ensinam
muito.
Meu pai serviu no exército e, depois, entrou para a Polícia Militar, fato este
que mudou significativamente o rumo de nossas vidas e contribuiu para que não
fossemos apenas curitibanas, mas paranaenses com muito orgulho. Agregamos
valores em nossas estadas em muitas cidades do Paraná, seja por moradia em
algumas delas, seja por visitas aos novos amigos e ao nosso pai que percorreu
várias cidades durante um período de sua vida.
Minha mãe, sempre caridosa, exerceu seu voluntariado com muita
dedicação, vindo a trabalhar, inclusive em um posto de saúde em uma das cidades
que residimos. E foi com este cuidado ao próximo, prática constante nas ações de
meus pais, que me constitui como pessoa.
Nesta trajetória de mudanças constantes, enfrentamos muitos desafios,
porém tornavam-se pequenos quando, nós irmãs, nos apoiávamos umas nas outras.
14
Sabíamos que iríamos para o desconhecido, mas confiantes na decisão de nossos
pais, os quais conseguiam transmitir segurança mesmo quando de fato elas não
existiam.
Vivi parte de minha infância em cidades do interior do Paraná. Conheci uma
diversidade enorme de pessoas. As brincadeiras mais simples foram as experiências
mais marcantes em minha vida. Adquiri alguns hábitos e costumes neste período,
como o café, o qual torrávamos e moíamos em casa; era tudo muito artesanal.
O mesmo lugar, as mesmas paradas para se alimentar, os grandes amigos
que fez, os mesmos horários do dia, eram rotinas que identificavam o perfil de meu
pai e caracterizava, por assim dizer, o cotidiano de nossa família.
Foi em Curitiba que conheci o meu companheiro, pessoa que mantém
comigo a cumplicidade de uma nova construção com muita amizade e respeito e
que soube ter a paciência necessária para o convívio a dois. Temos dois filhos
maravilhosos, Jéssica e Renan, sou muito apaixonada por eles e aprendo cada vez
mais junto aos dois, os quais me ensinam muito a cada dia, de uma forma muito
peculiar, porém cada um a sua maneira.
Tenho a certeza e a confiança de que minhas atitudes para com eles têm um
grau elevado em seus processos educativos e tento orientá-los sempre, na certeza
de estar contribuindo para suas vidas.
Encontro-me hoje num momento de muitas mudanças comigo mesma,
construção de novos conhecimentos, agregação de novos valores, numa
interiorização maior; conhecendo-me e reconhecendo mais do que em tempos
passados.
2.2 A UFPR E A MINHA TRAJETÓRIA
Ao estudar no Colégio Estadual do Paraná, mantive, durante três anos, um
trajeto que passava em frente ao prédio Central da UFPR. Naquele período tinha
aquele prédio como significante para meu ingresso em um curso superior e sempre
comentava com a minha irmã Nanci que um dia subiria aquelas escadas. Mal sabia
eu que subiria por muito mais tempo que imaginei, pois foi o local em que ingressei
na UFPR, não como estudante, mas como servidora pública na carreira técnico-
administrativa, no ano de 1991. Também foi neste local em que encerrei minha
15
carreira técnica, no ano de 2006. Apesar de ter trabalhado em diversas instâncias da
Instituição, em outros campi, o início e o final de uma carreira aconteceu no mesmo
local: Prédio Central da UFPR.
Sinto-me feliz e gratificada por ter exercido meu papel de servidora técnica,
que sempre contemplo com um grau elevado de satisfação, pois pessoas
maravilhosas passaram por mim e me influenciaram significativamente para que eu
fosse em busca de uma maior realização pessoal e profissional. Foi o começo e final
de uma carreira para um novo começo.
Ter experimentado a UFPR enquanto servidora técnico-administrativa foi
extremamente válido, pois paralelamente pude me preparar e me construir na
formação docente, o que me deu muita base para enfrentar os novos desafios.
Após minha aprovação no concurso para docente, no ano de 2005, a qual foi
comemorada e partilhada com todos que torciam por mim, não foi difícil minha
tomada de decisão; pois era a concretização de um sonho já muito sonhado. Porém,
o grande desafio era deixar parte da família em Curitiba e passar maior parte do
tempo no litoral do Parapara desenvolver minhas atividades no Setor Litoral da
UFPR.
Não medi esforços para contribuir com a nova proposta pedagógica que se
desenhava nos cursos ofertados neste novo campus. Acredito na mudança para que
realmente se faça obter o ensino-aprendizagem e compreendo o comprometimento
necessário para que se alcance o objetivo para uma educação consciente e de fato.
Trabalhei durante 15 (quinze) anos com a educação, em situações de
interfaces com os professores e dirigentes da UFPR, além da contribuição
educacional da vida que é educar os próprios filhos. Estes sim me ensinaram e me
ensinam muito, pois educar é um grande aprendizado.
A recente mudança em minha vida trouxe algo de muito bom, que é uma
constante reflexão sobre cada ação tomada, sobre cada desafio superado, sobre
cada momento de tristeza e sobre os muitos momentos de alegrias que tive e tenho.
Quanto ao processo de minha escolha profissional, deve-se a um desejo
interior, o qual foi desvelado na medida em que fui me constituindo como pessoa e,
sem dúvidas, às contribuições e incentivos que tive das pessoas que se
aproximaram de mim, as quais conseguiram me incentivar para que eu retomasse
meus estudos em busca de uma realização pessoal e profissional.
16
Neste retomar aos estudos, o papel de meus pais foi muito importante.
Quando ingressei no serviço público, percebi uma outra realidade, muito
diferente da qual eu estava acostumada, ou melhor, o que todos percebem diante de
uma empresa pública e uma privada, em um olhar muito superficial, pois por traz da
falta de infra-estrutura adequada, salário menor, e tantos outros, existe algo que nos
faz estar aqui, algo que vai além do material e nos move a desempenhar um papel
voltado para a sociedade.
Ser servidora pública é desafiador, porém instiga, no mesmo tempo que
decepciona. O que me impulsiona a buscar atingir o propósito de uma cidadã, com o
compromisso social de estar compondo um quadro de profissionais que tem como
missão atender a sociedade.
Assim, me constituo como profissional, como servidora pública, como
educadora, enfim como ser humano diante das diversas situações que a vida nos
proporciona, sejam elas boas ou ruins.
2.3 SER EDUCADOR: O PENSAR E O AGIR
Ao cursar a disciplina de Docência Superior, em momento extremamente
oportuno, foi importante para avaliar e reavaliar as questões que permeiam a
formação docente. O que me fez rever com mais clareza a educação básica e a
forma como se constroem os possíveis futuros educadores.
Perceber esta relação foi um grande aprendizado para mim, contudo, o
significado se intensificou e se ampliou quando me deparei com a nova proposta
pedagógica do Setor Litoral da UFPR.
A Teoria Dialética do Conhecimento, aponta para a síntese do
conhecimento, em que o estudante “tendo percorrido as etapas anteriores de
aproximação e análise do objeto de conhecimento, deve ter oportunidade de
sistematizar o conhecimento que vem adquirindo e expressá-lo concretamente, seja
de forma oral, gestual, gráfica/escrita ou prática” (VASCONCELLOS 1995, p. 39).
Contudo, o método dialogado, utilizado para nos diversos âmbitos da
educação, possibilita melhor exploração no campo educacional, em que a teoria e
prática possam ser avaliadas e reavaliadas constantemente.
17
Considerar a troca existente na relação professor/aluo, é um fator que
merece maior atenção, pois estabelece confiança entre as partes, e, é nessa troca
que se pode atingir o aprendizado.
Assim, ser educador, exige uma constante reflexão a respeito das ações
humanas. A docência não fica restrita a construir o conhecimento em conjunto com
os alunos e no contexto educacional, ela vai muito mais além, ultrapassa fronteiras.
A preocupação que se deve ter com cada aluno que se tem contato,
desperta um olhar mais lapidado, pois requer um auto-conhecimento para que
realmente se possa reconhecer no outro e perceber que o ser humano é um ser em
desenvolvimento constante.
Este cuidado com o outro, que se pode obter através da relação
professor/aluno, como também o auto-cuidado é que viabilizam formas de se obter o
ensino-aprendizagem.
Uma das questões que ressalto, e que aprendi, é perceber os diversos
tempos existentes em cada pessoa, avaliando constantemente o meu tempo, para
poder administrá-lo conjuntamente.
Pensar ou refletir sobre estas questões, faz com que eu diminua as
frustrações que possam advir desta relação professor/aluno em que cada tempo dos
acontecimentos serve para buscarmos, talvez, um significado maior para o momento
em que aquilo está acontecendo ou vivendo.
2.4 EXPERIÊNCIAS COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA E O CAMINHO PARA O
MESTRADO
Fui aluna da educação pública desde o Ensino Fundamental a a Pós-
Graduação e durante a educação básica passei por diversos processos, os quais
sempre foram muito diversos.
Sou graduada em Letras, especialista em Administração e agora me
encontro em fase final de Mestrado na linha de Pesquisa Desenvolvimento Rural
Sustentável, todos cursados na Universidade Federal do Paraná.
Em 2004, participei de alguns programas realizados na Instituição, os quais
estavam relacionados à Educação Básica, mais precisamente de a série. No
ano de 2006, no município de Morretes/PR, momento em que iniciamos parte do
Projeto do Setor Litoral que é a inserção nas comunidades e escolas públicas do
18
litoral do paranaense, houve o primeiro encontro com os professores da Rede
Municipal deste município.
Por conseguinte, durante os três dias de intensa integração e interação,
além do aprendizado que tive, me aproximei desta região por um significado, a
primeiro momento, pessoal, pois pude remeter minhas lembranças a meu passado
no momento em que coletivamente nos deleitávamos com cantigas de roda, as
quais me remeteram às lembranças de minha infância.
Foi neste momento que tive vontade de desempenhar meu plano de ação
docente naquele município. Além disso, o fato de grande parte das escolas serem
rurais me impulsionou a pensar mais sobre essa população, a qual vive em
pequenas comunidades.
Ao refletir sobre as questões acima fui imediatamente conduzida a ligar a
forma de como poderia operacionalizar o Projeto de Ação Docente e
consequentemente passei a voltar alguns estudos relacionados ao desenvolvimento.
Concomitantemente, para que as questões que permeiam este universo de
desenvolvimento fossem estudadas e avaliadas, tentei traçar um projeto condizente
com a nova realidade em que me inseria, buscando, mesmo que de forma indireta o
aprendizado desta população rural do município de Morretes/PR.
Assim, se constituiu, o início de um Projeto de Pesquisa para o qual foi
extremamente oportuna buscar desenvolver um projeto que ao mesmo tempo
possibilitasse minha qualificação enquanto professora do Setor Litoral.
A escolha pela linha de pesquisa em Desenvolvimento Rural Sustentável do
Programa de Pós-Graduação em Agronomia, foi muito válida, pois possibilitou o
entrelaçamento entre a pesquisa, o projeto, a qualificação, a formação profissional e
humana durante todo o processo do Mestrado, além de poder resgatar um pouco a
minha história de vida.
Ressalto aqui, um momento importante para os novos desafios que
instituições educacionais enfrentam, nos mais diversos níveis de ensino, enfatizando
como positivo o planejamento para os Concursos, na carreira Docente, realizados no
Setor Litoral da UFPR.
Referido Setor, quando estabeleceu a abertura do processo de seleção, de
forma abrangente e inclusiva, possibilitou o ingresso de professores com diferentes
níveis de titulação e experiência, de tal forma que, oportunizou um espaço para
19
àqueles que quisessem se qualificar dentro da proposta institucional, pudessem
desenvolver suas pesquisas na região litorânea, para a qual teria um resultado
positivo tanto para o Setor como para o pesquisador.
Assim, o docente, além de traçar o seu Projeto de Ação concomitantemente
com sua qualificação profissional, e/ou projetos de pesquisa, fortalece a proposta do
setor, amplia o conhecimento da região por parte das pessoas envolvidas neste
processo bilateral, comunidade interna e comunidade externa da UFPR,
consequentemente abre novos espaços para os projetos de aprendizagem dos
estudantes.
Segundo Alano; Cunha; Hamermüller (2007, p. 3-4)
Professores, técnicos e alunos trabalham projetos em parcerias com a
comunidade local. (...) Tal envolvimento permite pensar a educação como
ação social e política que extrapola os limites constitutivos de uma ordem
hierárquica.... Na leitura da realidade, esse projeto político pedagógico que
vem sublimando-se como desenvolvimentista, passa a integrar cada vez
mais os meios locais que fomentam a educação como um todo. (...)
Inserido numa comunidade especifica antecedido por termos culturais,
políticos, sociais e econômicos esse projeto flexiona seu objetivo, seus
propósitos, suas metas (ALANO; CUNHA; HAMERMÜLLER, 2007, p. 3-4).
Por conseguinte, pautado nas prerrogativas mencionadas acima, o presente
estudo, fruto de uma dissertação de Mestrado, configura o cumprimento do
compromisso social assumido conjuntamente com a Instituição, a luz do regime de
trabalho de Dedicação Exclusiva, o qual fomentou meu Projeto de Ação Docente.
Por muitas vezes pensei na sociedade que queria e sempre me remetia à
ela como se não fizesse parte. Hoje, sabendo que a sociedade que
queremos depende exclusivamente das ações das pessoas, faço desta
dissertação um pequeno ato de contribuição para com a sociedade, através
da Comunidade Pantanal, a qual, em um determinado tempo e espaço, me
instigou a buscar algumas respostas e me moveu a traçar algumas metas
para tentar encontra-las. Porém, neste exercício, ao mesmo tempo ousado
e desafiador, percebi que as respostas estão em nossas próprias ações, na
vida e para a vida e isto nos constitui como ser humano.
Elsi Alano.
20
3 METODOLOGIA
3.1 EMPREENDER COM EDUCAÇÃO RUMO AO DESENVOLVIMENTO NO
ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA
Devido ao fato da recente regularização do Assentamento Nhundiaquara
Gleba Pantanal, mais precisamente em agosto de 2007, o presente estudo baseou-
se também na realização de uma pesquisa exploratória, pois se pode constatar a
ausência de dados sistemáticos de estudo. Os documentos existentes na
Associação Prosperidade e os dados fornecidos pela EMATER do município de
Morretes-PR e pelo INCRA Curitiba-PR, foram o que pautaram a análise
documental. O trabalho de campo realizado no assentamento, através de entrevistas
semi-estruturadas, contemplou as histórias de vida desta comunidade, o que
propiciou maior interação com a realidade local e com as lideranças locais.
A revisão de literatura foi fundamental para dar o embasamento teórico e
subsidiar cientificamente a elaboração das hipóteses e a construção do roteiro para
a realização das entrevistas que seriam realizadas junto às famílias. A abordagem
da pesquisa objetivou diagnosticar a identificação do lote, a composição familiar
(educação e saúde), moradia, instalações rurais, saneamento, agricultura, pecuária,
organização rural, composição de renda familiar, atividade de agricultura familiar e
demais atividades.
A metodologia usada foi o levantamento de dados bibliográficos, ou seja, de
fontes secundárias, por meio de revisão de livros, periódicos e revistas, em que
foram pesquisados temos como: a agricultura familiar, a pluriatividade, a
agroecologia, o empreendedorismo.
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda
bibliografia tornada pública em relação ao tema de estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação
orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e
televisão.Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com
tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive
conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma
forma, quer publicadas, quer gravadas (LAKATOS; MARCONI, 1991 p. 66).
Num segundo momento foi desenvolvida uma etapa exploratória,
objetivando a entrada na comunidade para realização da pesquisa de campo.
21
A pesquisa realizada foi qualitativa e nela procurou-se reduzir a distância
entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, usando a lógica da análise
fenomenológica, isto é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e
interpretação. As experiências pessoais do pesquisador são elementos importantes
na análise e compreensão dos fenômenos estudados (LAKATOS; MARKONI, 1996).
De acordo com Thiollent (2007), a pesquisa qualitativa traz um estudo de
reflexão a partir de concepções teóricas e pesquisas semi-estruturadas, dentro de
uma metodologia que possibilite a aproximação com a realidade. Tal pesquisa
possibilita um trabalho em um universo amplo de significados que se inter-
relacionam entre si.
Oportuniza maior compreensão e interações entre homem e natureza
(MINAYO, 2007). Esse tipo de pesquisa tem as seguintes características, segundo a
autora citada:
O pesquisador observa os fatos sob a óptica de alguém interno à
organização.
A pesquisa busca uma profunda compreensão do contexto da
situação.
A pesquisa enfatiza o processo dos acontecimentos, isto é, a
seqüência dos fatos ao longo do tempo.
O enfoque da pesquisa é mais desestruturado, não hipóteses
fortes no início da pesquisa. Isso confere à pesquisa bastante
flexibilidade.
A pesquisa geralmente emprega mais de uma fonte de dados
(MINAYO, 2007).
As vantagens da pesquisa qualitativa apresentada por Lakatos e Marconi
(1996) podem ser aproveitadas como metodologia neste processo, como por
exemplo, as possibilidades que a pesquisadora tem, por meios diretos para estudar
uma ampla variedade de fenômenos e ao mesmo tempo compreender a realidade
do cotidiano da comunidade estudada. As dificuldades encontradas quando da
opção pela pesquisa qualitativa ficam por conta da coleta dos dados e da análise
dos resultados.
Seguindo o ciclo da pesquisa qualitativa, sob a abordagem de Minayo
(2007), atribui-se os seguintes procedimentos:
FASE I - Fase exploratória “produção do projeto de pesquisa e de
todos os procedimentos necessários para preparar a entrada em campo
FASE II - O trabalho de campo “levar para a prática empírica a
construção teórica elaborada na primeira etapa. Essa fase combina
instrumentos de observação, entrevistas e outras modalidades de
comunicação e interlocução com os pesquisadores, levantamento de
material documental e outros”.
22
FASE III - Análise e tratamento do material empírico e documental é
um conjunto de procedimentos que podem ser subdivididos em: a)
ordenação dos dados; b) classificação dos dados e c) análise
propriamente dita (MINAYO, 2007).
Já com relação à pesquisa-ação, segundo Thiollent (2007, p. 16)
(...) é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2007).
O trabalho com a pesquisa-ação, segundo o autor, possui três propósitos a
serem alcançados: a resolução de problemas, a tomada de consciência e a
produção de conhecimento, existindo realmente uma ação por parte das pessoas ou
dos grupos implicados nos problemas sob observação e ainda o tipo de ação que é,
de fato, uma ação problemática, merecendo investigação para ser elaborada e
conduzida.
Dessa forma, esta estratégia metodológica não se limita a investigar e
desenvolver conhecimento. Ao contrário, ela pressupõe uma abordagem
colaborativa para a pesquisa que fornece às pessoas envolvidas os meios para
realizarem ações sistemáticas para resolução de problemas.
Assim, identifica-se a partir desta estratégia, quatro aspectos que devem
estar inseridos no projeto de desenvolvimento local das possibilidades
empreendedoras para a comunidade pesquisada e que dialogam diretamente com
os princípios da pesquisa-ação:
- o conhecimento das necessidades e potencialidades locais (Pesquisa);
- o envolvimento de pessoas e instituições locais (participação da UFPR,
EMATER e IAP);
- a melhoria das condições de vida para a população local (Ação);
- a valorização da cultura e potencialidades locais (conhecimento tácito +
conhecimento técnico + conhecimento empírico).
A área de estudo, o Assentamento Nhundiaquara Gleba Pantanal
está situada nas unidades fisiográficas: Planície Litorânea, Serra do Mar e Primeiro
Planalto, localizada geograficamente entre as coordenadas de latitudes 25°32’41’’S
e 26°00’29’’S e longitudes 49°08’22’’W e 48°32’18’’W, conforme Figura 1.
23
FIGURA 1 – MAPA DO LITORAL PARANAENSE SITUANDO A REGIÃO DE MORRETES
FONTE: IAP - Instituto Ambiental do Paraná (2007).
3.2 AS ENTREVISTAS: UM UNIVERSO DE SONHOS E REALIDADES
As vantagens da entrevista estão calcadas na possibilidade de se obter os
dados mais diversos sob os aspectos da vida social, sendo ela uma técnica eficaz
para obter-se dados que compreendem a realidade das pessoas considerando seu
cotidiano.
Enfatizando os aspectos que envolvem a escrita, há uma predisposição
maior dos entrevistados em apresentar os dados quando se utiliza esta prática, pois
é permitido que todos participem, letrados ou não letrados.
A opção pela forma semi-estruturada foi escolhida visto a compreensão de
que seria mais espontânea; pois não é presa ao modelo pré-estabelecido. Além da
entrevista semi-estruturada, também se realizou em alguns momentos a entrevista
informal como forma de se obter dados sobre a comunidade em geral.
O objetivo da metodologia utilizada como forma de inserção no cotidiano das
famílias assentadas e a realização das entrevistas contribuíram para a construção
24
da dissertação, a qual compreende um texto proveniente também de algumas
narrativas, para as quais a forma de compreensão não tem um sentido único e sim
um sentido plurivalente, pois a palavra escrita já vem imbuída de um sentido
dialético.
Vendo os códigos culturais como 'programas' de
comportamento, podemos concluir que eles dão ordem e
direção à vida. A afirmação garante a inexistência de
neutralidade e acrescenta a idéia de que em qualquer obra
narrativa não apenas convenções e convicções para
dissolver, mas ambigüidades e perplexidades. Não é local de
entendimento único. A palavra, vista como um signo que
compõe a obra narrativa, traz embutida seu sentido dialético,
dinâmico, vivo, plurivalente. (SOUZA, 2005, p. 3).
Para o desenvolvimento da pesquisa de campo foi estabelecido o contato
inicial em outubro de 2007, conhecendo as principais pessoas que seriam: o
Presidente da Associação Prosperidade, a Secretária e mais um dos membros com
representação efetiva. O primeiro contato foi extremamente amistoso e nele
estabeleceu-se que um vínculo em que haveria a necessidade de aceitação do
grande grupo para que fosse iniciada a primeira entrevista. Assim, marcou-se uma
reunião e, em assembléia, foi apresentado o mesmo documento entregue ao
Presidente para que em público fosse lido e analisado pelos membros da
associação.
O documento esclarecia quem era o responsável pela pesquisa; qual a sua
procedência; qual o Programa e Instituição em que estava envolvido; qual era o tipo
de pesquisa; a finalidade; qual era o objetivo de estudo e de que forma a pesquisa
poderia ser aplicada; além do retorno que seria feito para a comunidade. Enfatizou-
se a importância da colaboração pessoal dos entrevistados. Foi acordado que a
entrevista teria um caráter analítico em que as informações serviriam como parte
integrante da pesquisa.
Após todas as falas questionamentos e esclarecimentos, foi solicitado que
os interessados em participar da pesquisa optassem livremente bastando dar seu
nome, número do lote e dia em que a entrevista pudesse ser realizada, portanto as
entrevistas foram feitas somente para os assentados que se predispuseram a
participar, sendo assim, de forma voluntária.
25
Apesar da aceitação ter sido unânime e constar em ata, estabeleceu-se uma
forma de autorização individual como Termo de Consentimento Esclarecido que
antecedeu a cada entrevista realizada.
O contato prévio foi extremamente válido, pois facilitou a interação entre as
partes, pesquisadora e pesquisados, no entanto, o cuidado devido foi tomado visto
que a comunidade foi extremamente cativadora e acolhedora, de forma a manter
uma abordagem para as entrevistas o mais igualitária possível até o final da
pesquisa.
3.2.1 Eixos condutores para a construção do roteiro das entrevistas
Características da Família: Composição Familiar, Faixa Etária e Gênero
Educação: Escolaridade
Acesso a Serviços Técnicos e de Saúde
Trabalho e Geração de Renda: Local de Trabalho, Atividades, Produção e
Comercialização
Visão empreendedora e das Ações Cooperativistas
Expectativas e Sonhos: Modo de Vida
3.2.2 Aplicação das Entrevistas: a dimensão de uma realidade e seus atores
Houve o que se pode dizer de validação do roteiro da entrevista. Em um
primeiro momento, o primeiro roteiro produzido foi realizado como teste, após
aplicação houve necessidade de adaptá-lo e aplicá-lo novamente, visto a
necessidade que sentiam em contar suas histórias de vida. Foram 3 (três)
entrevistados com roteiro de entrevistas reaplicados em que procurou-se
estabelecer maior clareza dos termos utilizados, a forma, o desmembramento e a
ordem das questões. Assim, sucederam-se as demais aplicações de forma mais
condizente com a realidade daquela comunidade com intuito de que as perguntas
viessem contribuir eficazmente para a identificação do objetivo da pesquisa dentro
de uma dimensão viável e facilitadora que possibilitasse obter um embasamento
teórico coerente com as hipóteses apresentadas do desenvolvimento da pesquisa.
26
Em todas as entrevistas as anotações aconteciam após a fala dos
entrevistados e, em cada família visitada houve uma apresentação da atividade que
desenvolvia, da construção da casa. Todos de certa forma queriam agradecer a
visita com uma fruta, um café, um bolo, enfim com algo que era de sua rotina
quando recebiam alguma visita.
Houve, também, o registro fotográfico que foi bem aceito e até solicitado
pelos entrevistados quando se dava o início da entrevista como uma das falas que
apresento a seguir:
Seria tão bom que a senhora tirasse uma foto de nossas casas agora
porque queríamos ver o antes e o depois. Tivemos momentos de lona
embaixo de chuva e agora que estamos nas casas 'velhas' queríamos ter
essa foto para ver o depois. As histórias que temos desde o começo de
nosso assentamento estão nos nossos pensamentos, mas queríamos ter
como mostrar para os outros, filhos, netos como foi o nosso progresso aqui
no assentamento (ASSENTADO, 2008).
Apesar, das questões estarem pré-estabelecidas foram muitas as
digressões e voltas em torno do assunto que de certa maneira respondia algumas
das questões; pois as suas histórias foram consideradas no roteiro de entrevista e
ao contá-las já esclareciam alguns de outros questionamentos.
27
4 REVISÃO DA LITERATURA
4.1 EDUCAÇÃO - A PROPOSTA DO SETOR LITORAL DA UFPR
As políticas educacionais que conduziram à implantação do Setor Litoral da
UFPR, foram resultantes da gestão participativa das três esferas governamentais,
Federal, Estadual e Municipal (UFPR LITORAL, 2008).
Os princípios que nortearam o Projeto Pedagógico deste Setor pautaram-se
no reconhecimento de ações que viabilizem o desenvolvimento sustentável da
região. Contudo a proposta pedagógica tem por objetivo a indissociabilidade entre
ensino pesquisa e extensão deste o início dos cursos (UFPR LITORAL, 2008).
A inserção dos estudantes na realidade local desde o início de sua
formação, são advindas da união entre teoria e prática nas diversas ações didáticas,
planejadas pela equipe docente (UFPR LITORAL, 2008).
Assim, ao mesmo tempo os estudantes são preparados para a pesquisa
científica de caráter interdisciplinar e multidisciplinar, e preparados com formação
política, filosófica e humana, objetiva-se assim capacita-los para atuar em situações
concretas preconizadas pela sociedade (UFPR LITORAL, 2008).
A construção do projeto pedagógico, somado aos saberes necessários e
diante às necessidades de uma sociedade democrática, não como simplesmente
realizar uma implementação passiva das diretrizes curriculares, pois atrelado a este
desenvolver do projeto pedagógico, há que se refletir de fato o seu retorno na
contemporaneidade. Portanto, é direito do estudante ter a educação que necessita
para sua formação humana concomitantemente à sua formação profissional. (UFPR
LITORAL, 2008).
Segundo consta no PPP da UFPR Litoral, faz-se necessário o
desenvolvimento psico-social dos estudantes, daí a abrangência para a construção
coletiva de um projeto político pedagógico, em que todos participam também da
avaliação em todos os momento e dimensões da construção deste projeto, o qual
em sua organização, permite a construção e reconstrução continuamente,
executada e avaliada pelos integrantes deste Setor. Em que, estes integrantes,
possam sentir-se com ideais comuns, os quais conduzem para a busca de uma
28
sociedade mais justa que possa proporcionar conhecimento a todos que dele
necessitam.
4.1.1 Projeto Político Pedagógico: um horizonte para a reflexão coletiva
De acordo com Veiga (2004) o projeto pedagógico da escola é, antes de
tudo, o reflexo de sua identidade, de seus propósitos. É o roteiro de sua atuação
formativa singular. É, antes de tudo, uma definição de caráter antecipatório.
Convém explicar que o se trata de entender o projeto pedagógico como
até pouco tempo se entendia, como sendo um conjunto de objetivos, metas,
procedimentos, programas e atividades determinados e explicitamente pensados e
propostos, tecnicamente bem organizados e explicitamente bem fundamentados
numa prática de educação desejada e posta como ideal a todas as instituições de
ensino (VEIGA, 2004).
Segundo Padilha (2001) a organização e o planejamento são, nesta postura
(racionalidade), instrumentos de hierarquização e ritualização, resultando na
fragmentação dos tempos e espaços escolares, na dispersão de energias e esforços
e na descontinuidade dos processos educacionais. As atividades deixam de ser
criativas para seguirem orientações externas e exteriores à escola.
Esta é uma prática que rias décadas ocupa o cenário da educação.
Todavia, não se trata de negá-las pura e simplesmente. Trata-se sim de entendê-las
em sua historicidade e apurar a sua insuficiência, na organicidade de seu modelo,
para as novas exigências da cidadania, cujas características extrapolam as
possibilidades de educação científica dos modelos prontos. É a partir da
consideração e da interpretação dessas práticas que o projeto pedagógico, fundado
na reflexão coletiva, é construído no interior da singularidade de cada instituição de
ensino e não mais como algo que está, mas como algo que está sempre fazendo
de novo (PADILHA, 2001).
Logo, é preciso entender o projeto político-pedagógico como um situar-se
num horizonte de possibilidades na caminhada, no cotidiano, imprimindo uma
direção que se deriva de respostas a um feixe de indagações, tais como: que
educação se quer? Que tipo de cidadão se deseja? Para qual projeto de sociedade?
A direção se fará ao se entender e propor uma organização que se funda no
29
entendimento compartilhado dos professores, dos alunos e demais interessados em
educação (VEIGA, 2004).
É o projeto pedagógico um permanente processo de discussão das práticas,
das preocupações (individuais e coletivas), dos obstáculos aos propósitos da escola
e da educação e de seus pressupostos de atuação (VEIGA, 2004).
Pode ser entendido nesse contexto, para Padilha (2001), como a "marca da
escola", sua vida concretizada na dinâmica curricular, que institui no âmbito do
instituído, dilatando-o em espaços de possibilidades, motivações e ações concretas,
otimizando seus tempos, seus recursos, meios e procedimentos.
O projeto pedagógico é a expressão operativa, a intencionalidade da
educação desejada pelos sujeitos da ação, que estabelecem seus planos e seus
compromissos num processo em que estão auto-implicados nos propósitos que
definem e projetem (PADILHA, 2001).
Em suma, em seu projeto pedagógico, consubstancia-se a instituição de
ensino em sua especificidade do conjunto das condições para a organização do
coletivo dos educadores e dos educandos em relação de reciprocidade e como
condução de ações sistemáticas de contínua reflexão sobre processos da educação
e revisão permanente dos objetivos pretendidos, das práticas em desenvolvimento e
da processual apreciação e avaliação da aprendizagem coletiva e individual
(PADILHA, 2001).
O Projeto Político Pedagógico do Setor Litoral da UFPR, foi proposto para
desencadear um processo de Desenvolvimento Sustentável na região, a partir de
Projetos de Ação Docente dos Professores e dos Projetos de Aprendizagem dos
discentes, calcados na indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão,
desenvolvidos nos municípios do Litoral Paranaense. Tais projetos viabilizam ações
imediatas, progressivas e permanentes.
Dentro desse contexto,
No ano de 2006, buscando integrar-se ao Programa Agenda XXI UFPR, o
Campus Litoral, resolveu estimular os acadêmicos dos vários cursos a
pensarem como os seus projetos de pesquisa na comunidade tinham a ver
com os temas da Agenda XXI. Assim, para que a UFPR pudesse levar o
máximo de informações e discussões sobre esse tema, ficou definido que
em todos os cursos os acadêmicos teriam aula de Introdução a Agenda 21,
que esse assunto não se esgota e o pode ser tratado como uma
disciplina, pela sua própria transdisciplinaridade. Nessa perspectiva, optou-
se pelo cadastro de projetos na Intranet da instituição para que estudantes
30
e professores possam apresentar à comunidade o que fazem sobre este
tema na UFPR. (FERREIRA; ALANO, 2007, p.4-5).
Desta forma, as autoras citadas acreditam que a universidade tem que
assumir seu papel enquanto local privilegiado para a discussão de projetos voltados
à sociedade que realmente possam interferir no futuro. E isso se pode iniciar por
meio de um projeto político pedagógico direcionado ao desenvolvimento sustentável
capaz de realizar as mudanças necessárias, considerando assim, o contingente
humano como veículo transformador da sociedade.
4.1.2 Construção do Projeto Pedagógico: o repensar, o agir e sua intencionalidade
Segundo Padilha (2001) a educação é um processo a longo prazo, por isso
o projeto pedagógico das escolas está sempre em construção, pois mesmo estando
pronto todos os anos o projeto é revisto para que sejam feitas mudanças, pois se
sabe que a clientela muda e junto com ela as necessidades da escola. Isso requer
um novo modo de ver e de fazer escola. Propõe que o educador redefina a sua
atenção no entendimento da mesma, como ação integrada com seus iguais e numa
perspectiva interdisciplinar.
Significa repensar e abrir-se a novas formas de organização para as práticas
pedagógicas. Uma organização para a prática e integração. Cumpre, também, o
delineamento da direção a ser dada ao processo educativo.
Não um esquema ou um modelo fechado, ou instituído que conta
disso. Mas algumas diretrizes e alguns pressupostos que, se compreendidos
pelos educadores, podem representar uma proposta possível.
Para Veiga (2004) ao se construir o Projeto Político Pedagógico - PPP é
fundamental que se tenha em mente a realidade que circunda a instituição de
ensino; realidade que se expressa no contexto macro da sociedade: econômico,
político e social; e aquela que se verifica no entorno da mesma. A realidade macro
da sociedade, certamente, afeta a vida da escola, assim como também a afetam a
sua realidade interna específica, o seu funcionamento, possibilidades e limites. Não
levar em consideração os aspectos sociais que envolvem a escola no planejamento
educacional, mesmo em nível micro, pode fazer com que o planejamento falhe em
seus resultados.
31
Os pressupostos que podem ser considerados na construção de um projeto
político-pedagógico são denominados por Aguilar (1997, p. 7-10) como dimensões
ou elementos constitutivos de um Projeto Político Pedagógico.
A primeira dimensão a considerar é aquela que se chama de Estrutural e
Conjuntural da sociedade, que refletirá a visão do contexto macro da sociedade em
seus aspectos econômicos, políticos e sociais. Em função da atual conjuntura sócio-
política, de acordo com o autor, alguns fatores devem ser levados em consideração:
exclusão social e educacional; desemprego; desvalorização do trabalho humano;
bolsões de riqueza e miséria existindo simultaneamente; ausência de políticas
públicas sociais; falta de recursos materiais e profissionais para a gestão da escola.
Sobre a dimensão Estrutural e Conjuntural assim se expressa Aguilar (1997,
p. 8):
Para consolidar a relação entre instituições educacionais e sociedade é
necessário conhecer os determinantes que condicionam sua organização
no âmbito econômico e político. Esses determinantes devem ser
contemplados se queremos responder a seguinte pergunta: que indivíduos
estamos formando para viver nessa sociedade? (AGUILAR, 1997, p. 8).
Complementando o pensamento acima exposto, um questionamento que
deve estar sempre presente, implícita e explicitamente, em toda a construção do
Projeto Político Pedagógico: que sociedade se quer construir?
A segunda dimensão considerada é a Ética Valorativa que se reveste de
fundamental importância para a formação da cidadania. Responde a seguinte
questão: que valores-guias devem ser constituídos para a construção e valorização
de um Projeto Político Pedagógico? Aguilar (1997, p. 8), destaca para a formação da
cidadania os seguintes valores: tolerância radical - supõe a preocupação com os
outros e se opõe ao individualismo da postura liberal; valentia cívica - disposição de
luta das pessoas para causas que julgam corretas e justas; solidariedade - envolve
sentimento de irmandade, como também ações nesse sentido; justiça - orienta a
valentia cívica e a solidariedade. O justo e o injusto, como todos os outros valores,
são definidos nas inter-relações de toda a escola e famílias que atende.
A terceira dimensão a ser analisada na construção de um projeto político-
pedagógico é a Historicidade da Instituição ou realidade interna. Isso significa
"resgatar o passado, desvelar o presente e projetar o futuro" (AGUILAR, 1997, p. 9).
32
Portanto, com a experiência do passado, as lições, aplicadas ao presente, pode-se
projetar o futuro com mais precisão.
Nessa terceira dimensão é importante, considerar as esferas espaciais,
temporais e culturais que toda instituição desenvolve em sua existência, formando
assim sua identidade. Ao se considerar essas esferas, pode-se construir um Projeto
Político Pedagógico em harmonia com a história e a identidade da instituição,
perguntando: que cara tem a escola pretendida? (AGUILAR, 1997)
A quarta dimensão apresentada pelo autor é o Processo do Conhecimento,
que se reveste de uma importância especial, uma vez que se trata do conteúdo, dos
conhecimentos que a escola quer socializar e produzir. Responde a questão: que
conhecimentos se quer socializar e produzir na escola?
A dimensão do processo do conhecimento vai além da obediência ao
currículo oficial, se a linha constitutiva do Projeto Político Pedagógico estiver
assentada na análise do macro contexto sócio-político e na realidade interna de
cada escola. Sobre esse aspecto assim se posiciona Aguilar (1997, p. 10):
Sistematizar um Projeto Pedagógico em um contexto institucional "cria espaços para
que os agentes do processo educativo definam o conhecimento a ser produzido e
socializado, assim como as metodologias mais apropriadas para seu
desenvolvimento".
Assim, o Projeto Político Pedagógico do Setor Litoral da UFPR, por ser inédito
na educação universitária, sendo ele um trabalho em construção, o qual pressupõe
o engajamento de todos os atores educacionais nesta construção, compreende
também o conhecimento da comunidade da região litorânea através das ações e
projetos desenvolvidos pela comunidade universitária.
Sendo o Litoral do Paraná, o foco Institucional do Projeto Político Pedagógico
do Setor Litoral da UFPR, enfatiza a abrangência de estudos sob uma nova
perspectiva para essa região.
A proposta pedagógica a que se refere o capítulo abaixo, fundamentada no
Trabalho por Projetos, favorece uma forte interação das ações e atividades
formativas da instituição com a comunidade e a realidade regional, expandindo sua
área de conhecimento e ao mesmo tempo integrando ações como o presente
estudo.
33
4.1.3 Trabalho por Projetos: um processo de aprendizagem por protagonismo
De acordo com Barthes (1998), uma das características básicas do
trabalho por projetos é a participação do grupo de alunos nas definições dos
objetivos a serem pesquisados. O autor coloca a necessidade da relação entre o
pesquisador e o objeto de pesquisa como uma relação de paixão. Esta relação
pode acontecer quando o pesquisador se apropria da pesquisa como sua, sendo
então indispensável a participação dos alunos-pesquisadores nas definições das
metas do trabalho.
Autran (2001), corrobora com esta posição apontando a possibilidade de
escolha de qualquer tema para o trabalho, desde que este seja escolhido em comum
acordo com o professor e alunos.
Também Hernández (2000, p. 43), coloca que a construção da trajetória do
desenvolvimento do projeto deve ser feita durante o projeto, ou seja, “de uma
trajetória que nunca é fixa, mas que serve de fio condutor para a atuação do docente
em relação aos alunos”. Para o autor, a construção dos caminhos a serem
percorridos pelo grupo deve ser feita em conjunto entre o professor e os alunos.
Duarte (1998), argumenta que existe a necessidade de se desenvolver
uma concepção afirmativa sobre o ato de ensinar, deixando para traz as antigas
concepções pedagógicas, que podem ser caracterizadas como sendo concepções
negativas em relação ao ensino como transmissão de conhecimento, tais como as
idéias escolanovistas e construtivistas. Para o autor, a Escola Nova e o
Construtivismo estabelecem uma dicotomia entre a transmissão de conhecimentos
pelo professor e a conquista da autonomia intelectual pelo aluno, secundarizando,
assim, o ensino e descaracterizando o papel do professor.
Para o desenvolvimento de um trabalho por projetos, o professor deve
buscar e selecionar fontes de informação juntamente com o grupo. Além de,
também, ser necessário que sejam definidos critérios para organização e
interpretação dessas fontes (HERNÁNDEZ, 2000).
Entende-se que no trabalho por projeto, tanto a aprendizagem como o
processo de pesquisa deve ocorrer dentro e fora da sala de aula, assim sendo, é
atribuição do professor acompanhar constantemente este processo e o
desenvolvimento do projeto como um todo, para que possa ser criado um ambiente
34
desafiador, com um vel adequado de problematização e interesse por parte do
grupo.
Segundo Hernández (1998), arquitetos, artistas e outros profissionais fazem
uso de projetos profissionalmente. Nessa perspectiva, o projeto passa a ser
apresentado como um procedimento, que dialoga constante com o contexto, as
circunstâncias e os indivíduos envolvidos no processo, mesmo que se possa admitir
que este tenha modificações, em função das variáveis envolvidas.
Da mesma forma que existe a utilização profissional do procedimento de
projetos, este tipo de trabalho no contexto de sala de aula deve considerar as
diversas variáveis envolvidas no desenvolvimento da atividade, tais como, contextos,
conhecimentos prévios, fontes de pesquisa, intervenções do professor, colaboração
e interações entre os participantes, entre outras. Mantendo-se o foco em todas estas
variáveis, entende-se a qualidade que o desenvolvimento do projeto poderá trazer
para a aprendizagem do grupo. Assim, deve-se considerar a importância do
processo de desenvolvimento do trabalho, além do produto final gerado
(HERNÁNDEZ, 2000).
Diante disso, Hernández (2000), mostra que trabalhar por projetos trará um
grande desenvolvimento ao aluno, que participa de um processo de pesquisa,
utilizando-se de diversas estratégias, principalmente as que façam sentido para ele.
Além disto, este aluno também poderá participar do processo de planejamento da
sua própria aprendizagem e, pelos relacionamentos no grupo, terá condições de
reconhecer o papel de cada um dos participantes, compreendendo seu próprio meio
pessoal e cultural.
Completando essa importância Cunha (1998, p. 15) coloca que
Experiências que transgridem o espaço acadêmico são, normalmente,
também transgressoras do tempo, tendo um caráter muito mais policrônico,
pois o mundo é complexo, denso, multidisciplinar, exigindo a solução de
muitas coisas ao mesmo tempo. É um mundo em que se pode e deve
desenvolver projetos e onde que se jogar com os imprevistos e
singularidades do momento. Talvez sejam estes os elementos que
compuseram, para os alunos respondentes, o quadro de significação.
Trabalhar com estas categorias e aprofundá-las analiticamente pode trazer
benefícios para a reconfiguração da didática construída no campo reflexivo
da formação de professores. Uma didática que se estabeleça na própria
flexibilidade que o paradigma emergente está exigindo. Muito mais do que
prescritiva, deve ser compreensiva; muito mais do que reguladora, precisa
ser incluidora de novas racionalidades. (CUNHA, 1998, p. 15).
35
Nesse contexto, a autora coloca a mediação, que pode ser entendida
como o espaço das relações que envolvem professor, aluno e conhecimento. Esta
mediação deve incluir prazer e entusiasmo como elemento chave de recuperação
das subjetividades dos envolvidos no processo.
Reforçando o conceito de trabalho por projetos Cunha (1998, p. 197) coloca
que
o conceito de aprendizagem, sustentado por esta concepção, parte do
pressuposto de que primeiro o sujeito deve ‘adquirir conhecimentos para
depois poder aplicá-los na prática e em situações específicas. Entende,
também, que a melhor forma de aprender é pela audição e registro das
verdades científicas reconhecidas que, para serem adquiridas, precisam de
exercícios de experimentação e memorização. (CUNHA, 1998, p. 197).
Diante disso, a prática pode ser entendida como comprovação da teoria,
sendo que seu sucesso depende do grau de aproximação com o conhecimento
construído, possibilitado pelo trabalho por projetos.
Segundo Hernandez e Ventura (1998) ao contrário, o que se tem visto é a
prática de alterar currículos, utilizada de forma constante no ensino superior,
motivada, especialmente, pela expansão do conhecimento. Nem bem se desenvolve
uma proposta curricular nova e os agentes envolvidos no processo de
aprendizagem acadêmica sugerem novas alterações. Existem casos que, num
mesmo período, um curso conviva com três propostas curriculares em andamento,
quase nunca se chegando a uma situação satisfatória.
Por causa disso, a emergência de indissociar ensino, pesquisa e extensão
deve-se ao fato de estar relegada apenas ao plano do discurso legal, não sendo
sequer claro o conceito de indissociabilidade para aqueles que compõem a
comunidade universitária. Ainda segundo Cunha (1998, p. 198) para alguns
membros dessa comunidade, este conceito
“[...] se centra no professor e quando este realiza tarefas das três
naturezas, se afirma haver indissociabilidade. Para outros, o conceito mais
ainda se amplia: localizam na instituição, entendendo estar respondendo a
este desafio se a universidade abriga experiências nas três esferas,
mesmo que em espaços, locais e áreas diferentes”. (CUNHA, 1988, p.
198).
Percebe-se que estas compreensões levam a um distanciamento da idéia de
ensino indissociado da pesquisa e da extensão, que tem como sujeito o aluno.
36
Exceção apenas no caso de estudantes bolsistas, que são reconhecidamente
beneficiados com a possibilidade científica, contudo nem sempre encontram
respaldo e valorização de sua experiência na prática cotidiana em todas as aulas.
No Setor Litoral da UFPR, há um pressuposto de que os servidores
técnicos e docentes e a coletividade acadêmica compreendam o professor como
mediador de conhecimento, o que consequentemente afirma a concepção do
modelo de ensino-aprendizagem por projetos.
A proposta pedagógica deste Setor, é baseada no Trabalho por Projetos e
é desenvolvida junto às comunidades locais, buscando contribuir decisivamente para
o desenvolvimento científico, econômico, ecológico e cultural, o que propicia uma
forte interação entre a comunidade da UFPR Litoral e a comunidade litorânea.
4.1.4 O Papel da Universidade no Desenvolvimento Local
Sempre que se fala em universidade, citam-se as três atividades fins:
ensino, pesquisa e extensão. É de consenso geral, que a atividade base é o ensino,
que deve ser reforçado pelas atividades de pesquisa e de extensão, onde a
universidade cumpre outro papel social importante, que é o auxiliar por meio de sua
produção educacional, científica e tecnológica, o desenvolvimento das empresas e
população em geral, visando o benefício comum (BAIARDI, 2003).
Segundo Baiardi (2003), o meio rural é um local desafiador para o ensino
universitário. Por um lado, é um espaço no qual a universidade encontra dificuldades
para se inserir e, por outro lado, abriga populações fortemente marginalizadas.
Acredita-se que o papel da universidade brasileira seja trabalhar
principalmente no sentido de colaborar para a solução dos problemas do Brasil, seja
em nível nacional ou, mais especificamente, no âmbito regional. Isto significa formar
profissionais com boa qualificação para as indústrias, empresas de serviços e a
própria universidade; identificar os problemas existentes e desenvolver pesquisa e
tecnologia para resolvê-los, repassando essa produção para a comunidade
(BAIARDI, 2003).
A missão de contribuir para a transformação da sociedade, por meio do
envolvimento da comunidade acadêmica em projetos que ampliem e consolidem a
integração universidade-sociedade devem fazer parte das ações extensionistas
37
pensadas de forma estratégica, inovadora e comprometidas com as transformações
sociais. Compreendem a cultura como fator de inclusão social e desenvolvimento
integrado e sustentável. O reconhecimento e a valorização da comunidade local é
uma das premissas para o desenvolvimento de projetos que promovam os diferentes
saberes e as diversas manifestações culturais, como forma de promover o
desenvolvimento. As articulações com as comunidades, as organizações
governamentais e não governamentais são condições indispensáveis (UFPR Litoral,
2007).
De fato, concorda Rocha (2001), ainda que atualmente existam pesquisas
técnico-científicas, políticas públicas e ões de organizações civis voltadas para o
fomento da agricultura familiar no Brasil, a disseminação dessas iniciativas entre os
principais interessados é limitada em virtude, fundamentalmente, da falta de um
espaço de intercâmbio de experiências entre os agricultores familiares e suas
lideranças com cientistas, professores, técnicos, organizações, instituições e demais
agentes devotados à reflexão, à elaboração e à implementação de políticas e ações
para o desenvolvimento rural sustentável.
Segundo Wachowicz (2006, p.45), no que se refere a criação da
Universidade Federal do Paraná, afirma que “uma Universidade seria a solução”,
tendo como missão interferir na realidade de seu Estado.
4.1.5 Universidade e Inovação: O Curso de Gestão e Empreendedorismo da UFPR
É importante destacar que o primeiro curso na área de empreendedorismo
de que se tem noticia, no Brasil, foi em 1981, na Escola de Administração de
Empresas da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo e que a partir daí o
empreendedorismo vem sendo estudado e aperfeiçoado em diversos campos da
economia nacional. Enfatiza-se que o empreendedorismo assumiu uma posição
destacada no aprimoramento do trabalho das pessoas.
O ensino do empreendedorismo, no Brasil, é um fenômeno que apresenta
algumas características próprias, como inovação tecnológica, criação de
oportunidades e visão ampliada, entre outros. Contudo, segundo Dolabela (1999, p.
53),
38
uma grande preocupação no ensino do empreendedorismo deve ser os
aspectos éticos que envolvem essa atividade. Por sua grande influencia na
sociedade e na economia, é fundamental que os empreendedores como
qualquer cidadão sejam guiados por princípios e valores nobres.
(DOLABELA, 1999, p. 53).
Partindo desses princípios e valores nobres, o Curso de Gestão e
Empreendedorismo da Setor Litoral da UFPR foi criado no ano de 2006, como uma
oportunidade de se propiciar espaços de produção de conhecimento e de reflexão
entre os discentes, docentes, comunidade interna e externa da instituição.
Em uma concepção de proposta que visa a interação, foi pertinente a constituição da
Câmara do Curso com professores de diversas áreas de formações, que possibilitou
uma reflexão sobre a construção do curso e o perfil do egresso condizentes com as
diretrizes curriculares e os saberes necessários à profissão, tendo como viés o
desenvolvimento regional.
Nas câmaras se discute, constantemente, quais conhecimentos devem
participar de uma formação que quer se distanciar cada vez mais dos
condicionantes das especificidades. A gestão dos cursos e benefícios de
um ensino superior que desconcentra o funil formador e conduz para o
aniquilamento uma perspectiva linear quando assume uma multiplicidade
de enfoques como fomentadores ou colaboradores de cada carreira ou
bloco de carreiras em questão, ativa uma complexidade de elementos
dispares em nome da formação. (ALANO; CUNHA; HAMERMULLER,
2007, p. 1).
No desenrolar deste currículo em movimento, os saberes necessários à
profissão e as condições de atuar como um agente importante para o
desenvolvimento regional são características fortes desse curso.
Ainda de acordo com Alano, Cunha; Hamermüller (2007, p. 2), o produto
fruto das Câmaras interdisciplinares
1
, no que diz respeito a operacionalização do
currículo dos cursos, emerge em uma complexidade de elementos. Assim
“[...]
Tendo por pano de fundo um Projeto Político Pedagógico construído
no contexto da expansão da educação superior pública presente nas
políticas implantadas a partir de 2004 no Brasil ampara o desafio de pensar
uma ação educacional que fomente a região na qual se instala. Questiona
os que operam em seu quadro sobre como significam as inovações que
atravessam esse desenho curricular e essa gestão universitária. Esses
últimos estando em processo metamórfico constante, modificam
pressupostos tradicionais através de elementos que os particulariza”.
(ALANO; CUNHA; HAMERMULLER, 2007, p. 2).
1
Câmaras dos Cursos compostas por professores de diferentes áreas de formação e conhecimento.
39
Aliado à abertura desse curso há o reconhecimento de que as atuais
condições de vida desemprego e desigualdade, degradação e riscos ambientais,
padrões insustentáveis de consumo, entre outras colocam diversos desafios e
impõem a necessidade de busca e implementação de alternativas que promovam a
sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Para Alano, Cunha; Hamermüller (2007, p. 2)
Toda ação educativa enquanto projeto possui um significado primeiro sobre
o qual quer se multiplicar. Entretanto, a regionalização vindo a ser operada
por um modelo novo aparece como unidade que corresponde à
multiplicidades sobrepostas. (...) O tradicional desafia o atual e vice-versa,
como cultura, padrão, valores, de modo que tudo isso se reúne de modo
singular. (...) Edificando-se uma formação sempre diferenciada, de traços
cada vez menos definidos e mais por se definir. (ALANO; CUNHA;
HAMERMULLER, 2007, p. 2).
4.2 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL - DRS
A idéia de sustentabilidade teve sua origem no entendimento de que os
impactos ambientais gerados pelo desenvolvimento da sociedade aceleraram-se a
partir de meados da metade do século XX seguindo a partir daí uma trajetória
crescente ao longo dos anos. Assim, o termo sustentável refere-se somente ao
plano ambiental, "indicando a necessidade de as estratégias de desenvolvimento
rural (como antes definido) incorporarem uma apropriada compreensão das
chamadas 'dimensões ambientais'" (NAVARRO, 2001, p. 89).
Para que se possa falar em sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável,
em qualquer situação, é importante ressaltar o significado do termo e como ele está
ligado ao meio social e ambiental, às comunidades, ao país e ao planeta.
De acordo com Navarro (2001, p. 97)
Desenvolvimento rural, portanto, não se restringe ao rural estritamente
falando” famílias rurais e produção agrícola nem exclusivamente ao
plano das interações sociais, também principalmente rurais – comunidades,
bairros e distritos rurais, por exemplo –, mas necessariamente abarcam
mudanças em diversas esferas da vida social as quais, se têm por limite
mais imediato de realização o município, podem estender-se para
horizontes territoriais mais extensos, como provavelmente ocorrerá em
curto prazo. Parecem assim desaparecer definitivamente o corte rural-
urbano e as formas de sociabilidade, igualmente demarcadas por tal
segmentação.(NAVARRO, 2001, p. 97).
40
Navarro (2001), complementa que para melhor caracterizar o
desenvolvimento sustentável também é preciso conceituar o desenvolvimento rural.
O autor aponta uma característica específica que o diferencia dos demais conceitos
tratados acima que é o fato de tratar-se de uma ação articulada previamente que
tende a levar às mudanças em um determinado ambiente rural.
Finalmente para Navarro (2001, p. 89), um último conceito deve ser
entendido, o desenvolvimento rural sustentável, que segundo o autor
“[...], surgiu em meados dos anos 80 a partir da crescente difusão da
expressão mais geral, 'desenvolvimento sustentável' (apoiada em
crescente e copiosa literatura). Embora muitos autores e instituições
pretendam atribuir a esta um sentido politicamente mais conseqüente do
que a anterior (desenvolvimento rural), incorporando noções, por exemplo,
de eqüidade social ou, mais ambiciosamente, atribuindo alguma suposta
relação entre formas de organização social das famílias rurais mais pobres,
fruto de “conscientização”, e desenvolvimento rural sustentável, o foco
central, neste caso, é bastante claro e mais limitado”. (NAVARRO, 2001, p.
89).
Segundo Almeida (2002), define sustentabilidade como sendo o respeito à
interdependência dos seres vivos entre si e em relação ao meio ambiente. Assim,
sustentabilidade significa operar um empreendimento sem causar danos aos seres
vivos e sem destruir o meio ambiente, ao contrário, é fundamental enriquece-lo e
renová-lo. Por essa razão o desenvolvimento sustentável está ligado aos elementos
da sociedade entre si e em relação ao tecido social e ao reconhecimento das
necessidades e interesses de todas as partes envolvidas (grupos comunitários,
instituições educacionais e religiosas, forças de trabalho e políticas).
Para Almeida (2002), o conceito de desenvolvimento sustentável é formado
por princípios que regem a produção e consumo de bens e serviços no presente, de
modo a não comprometer as necessidades e escolhas das futuras gerações,
promover o bem-estar e relações de qualidade dos atores dos sistemas
agroindustriais relacionados à produção de alimentos das comunidades que com ele
interagem; promover o consumo consciente; manter e melhorar o solo, a água e a
biodiversidade; promover o uso de energias renováveis e evitar e prevenir a poluição
por meio da redução dos efluentes dricos, resíduos sólidos e emissões
atmosféricas.
41
Entretanto, as mudanças significativas ocasionadas na região litorânea em
virtude das questões, sociais, políticas, ambientais e inclusive acessibilidade
geográfica, contribuem para o estímulo de novas formas de empreender a região.
Assim, segundo Borsatto et al. (2007, p. 422)
Novas transformações significativas na realidade agrária do litoral
paranaense começaram a ocorrer a partir do final da década de 1960 e
início da de 1970. Contribuíram para estas mudanças uma série de
intervenções dos poderes públicos, tais como: políticas de incentivos fiscais
para estabelecimentos de atividades agroflorestais, políticas públicas de
incentivo à pecuária, abertura da BR 277 que liga Curitiba a Paranaguá e
da BR 405 entre Antonina e Guaraqueçaba. Este processo estimulou o
estabelecimento de grandes latifúndios no litoral paranaense, por meio da
apropriação de terras devolutas ou cuja posse era dos agricultores locais
(que foram obrigadas a migrar para as cidades) onde foram desenvolvidas
novas atividades econômicas. (BORSATO ET AL, 2007, p. 422).
Para que o desenvolvimento sustentável, ou sustentabilidade, esteja ligado a
projetos de desenvolvimento de empresas e comunidades, é preciso que se
satisfaçam alguns itens como: analisar as necessidades dos clientes; trabalhar com
uma cadeia de suprimentos; antecipar mudanças iminentes vislumbrando novas
oportunidades e, talvez o mais importante capacitar as pessoas envolvidas, pois
só os indivíduos motivados são capazes de fazer a diferença.
De acordo com Borsatto et al. (2007, p. 422)
Apesar do litoral paranaense se encontrar próximo à região metropolitana de
Curitiba, que por sua vez pode ser considerada o maior lo estadual de
recursos econômicos e científicos para lidar com a questão agrária, é de fácil
percepção a grande quantidade de problemas que persistem em seu meio
rural e a sua incapacidade de encontrar soluções que levem a um
desenvolvimento sustentável da região. (BORSATO ET AL, 2007, p. 422).
Considerando os recursos naturais existentes e a diversidade cultural, pode-
se concluir que a integração e interação entre homem e natureza seriam
suficientemente positivos para o sucesso das atividades desenvolvidas nesse
espaço em que se encontram as comunidades litorâneas.
Contudo, segundo os autores
Atualmente, o meio rural do litoral paranaense se caracteriza pelos seus
paradoxos, que possui grandes riquezas ambientais e culturais, mas ainda
apresenta graves problemas sociais; apresenta valiosos remanescentes
naturais com crescentes níveis de degradação; e permanece
subdesenvolvido apesar de seu potencial econômico (BORSATTO ET AL,
2008, p. 423).
42
4.2.1 Assentamento e desenvolvimento
De acordo com Ferreira (2007)
A temática da reforma agrária no Brasil tem sido uma constante desde os
anos 50. A questão agrária no Brasil é complexa e encerra aspectos
diversos sobre posse e uso da terra. aspectos legais, econômicos,
históricos e culturais a serem observados. A Reforma Agrária, que propõe o
acesso às terras não exploradas aos trabalhadores rurais que desejem
cultivá-las, é necessária e útil à Nação. Isto é reconhecido em todos os
segmentos da sociedade, porém o que não se conseguiu ainda foi
implementá-la na amplitude necessária e desejada, até porque nem o
governo e nem a sociedade, através de suas instituições, desenvolveu um
projeto coerente, eficaz e viável que fosse capaz de atender aos interesses
divergentes dos segmentos envolvidos e do próprio Governo Federal. Mas o
projeto está sendo executado e as áreas de terras recebidas do governo,
portanto legalizadas e em definitiva posse individual ou coletiva dos
trabalhadores rurais “sem-terra”, passam à condição de Assentamento, que
doravante se constitui em uma nova comunidade que passa a ter
responsabilidades e funções específicas, quer sejam de ordem legal, social
ou econômica (FERREIRA, 2007).
Segundo Pereira (2007), com relação a renda das famílias assentadas,
houve uma elevação da mesma, principalmente onde a presença das agroindústrias
é desenvolvida. Para o autor, conforme dados de pesquisa da FAO, a média de
renda nos assentamentos é de 3,7 salários mínimos mensais por família. Onde
existem agroindústrias essa média sobe para 5,6 salários mensais.
Fernandes (2004, p. 42) traz que:
Um estudo da FAO, a entidade da ONU que cuida de assuntos agrários,
mostra que a renda das famílias instaladas em assentamentos promovidos
em nome da reforma agrária chega a 3,7 salários mínimos. É mais do que
a renda de 53% dos brasileiros. O estudo tem falhas, não inclui um número
razoável de assentamentos, mas não deixa de ser um sinal do que os
assentamentos podem fazer por quem vive hoje na periferia das cidades
(FERNANDES, 2004, p. 42).
No período compreendido entre 1927 até 2003 o governo promoveu 1000
assentamentos no país distribuindo terra para 330 000 famílias, contudo Fernandes
(2004) acredita que este é um número muito pequeno em face das estimativas de 5
milhões de famílias que poderiam receber sua fatia. "Nós induzimos os
assentamentos a se organizar em cooperativas para obter maior lucro. Estamos
buscando a agroindústria", enfatiza Alceu Fernando de Azevedo, diretor de
assentamento do Incra.
43
Conforme Portaria do INCRA/P 571, o Assentamento Nhundiaquara foi
criado com previsão inicial para 77 famílias e posteriormente redimensionado para
145 famílias, é subdividido em áreas que se constituem como Glebas, com as
seguintes denominações: ÁREA I Colônia Sesmaria Capituva, ÁREA II Colônia
Marques, ÁREA III Esperança, ÁREA IV Rio do Pinto, ÁREA V Pantanal e
ÁREA VI Central. O nome “NHUNDIAQUARA” foi designado pelo fato do rio que
corta esta região ter este nome.
4.3 AGRICULTURA BRASILEIRA: UMA BREVE INTRODUÇÃO
Apesar de o Brasil ter se transformado em país urbano-industrial, o setor
agrícola continua desempenhando importante papel na economia do país. Fazendo-
se um retrospecto, verifica-se que a produção total da agricultura sofreu grande
aumento. Em 1987, por exemplo, o Brasil ocupou o lugar na produção mundial de
cereais, segundo informações do Ministério da Agricultura (2006).
País de dimensões continentais e apresentando um dos maiores espaços
agricultáveis do mundo, favorecido por boas condições de pluviosidade e boa
diversidade climática, o Brasil reúne excepcionais condições para se tornar uma
verdadeira potência agrícola. A realidade, porém é outra, pois existem milhões de
pessoas sem terra para cultivar, quando é sabido que há muita terra ociosa; o Sul do
país oferece condições naturais favoráveis ao cultivo de produtos próprios da zona
temperada como trigo, centeio, maçã, uva etc., de acordo com o Ministério da
Agricultura (2006).
4.3.1 A Questão Ambiental: uma mostra de quem se preocupa com a natureza
Segundo Cavallet (1999), na história da evolução do homem, este passou de
ser coletor a indivíduo produtor através de suas ações sobre a natureza, de maneira
a condicioná-la de forma adequada para que pudesse explorar espécies animais e
vegetais em diferentes níveis de intensidade. Porém, neste processo, ao privilegiar
uma determinada espécie tendo em vista o aumento da sua produtividade, o homem
também passou a alterar o equilíbrio natural, agindo na transformação do
44
ecossistema, antes estável, de alta diversidade e baixa produtividade, para um
ecossistema instável de baixa diversidade e alta produtividade.
Corroborando com tais afirmações, Cavallet (1999, p. 46) ressalta que
Durante toda a história da agricultura aa época da Revolução Industrial,
na medida que haviam terras disponíveis, o homem atenuou a degradação
dos recursos naturais, abandonando as áreas desgastadas e trocando-as
por áreas conservadas e férteis. O processo de desgaste dos recursos
naturais era relativamente lento, pois o sistema de produção integrava a
produção animal e a vegetal, possibilitando a reciclagem de diversos
elementos da fertilidade (CAVALLET, 1999, p. 46).
O autor mencionado anteriormente, mostra que o sistema produtivo agrícola
aproveita-se do potencial oferecido pelos recursos naturais, entre eles, a fauna, a
flora, o solo, a água, de maneira a obter o máximo de produtividade para a espécie
que deseja produzir.
4.3.2 A Questão Social: um olhar de quem se preocupa com a comunidade rural
Para Cavallet (1999), o homem do campo tem na agricultura o seu único
meio de vida, é por isso se obrigado a produzir para viver. Como forma de
respaldo para desenvolver sua produção conta apenas com seu saber empírico da
história, sendo desprovido de informações e saberes atualizados, estando
desamparado e impossibilitado de conseguir assessoria especializada. A partir desta
realidade passa a transformar sua atividade econômica básica numa aventura
colocada diante da força de uma economia que a cada dia que passa se encontra
mais globalizada.
Para o autor, as oportunidades de lucro na grande agricultura intensiva estão
diretamente relacionadas à conjuntura e políticas do comércio internacional. A partir
de uma conjuntura mercadológica favorável, a lucratividade fica diretamente
proporcional à produtividade. Os empresários, ao buscarem taxas crescentes de
produtividade, acabam por necessitar de recursos tecnológicos de última geração,
praticando assim, a agricultura de precisão, e, esta agricultura demanda
trabalhadores escolarizados e capazes de usar, com habilidade, tecnologias cada
vez mais complexas.
45
Para atender a esta demanda por trabalho cada vez mais especializada, são
cada vez mais freqüentes as posturas que defendem e exigem políticas
educacionais para o meio agrário, conforme enfatiza Cavallet (1991, p.78)
A solução do meio agrário não pode ser buscada apenas pela via da
eficiência produtiva. O processo produtivo agrícola, como fim em si próprio,
tem dificultado que o homem do campo se realize como homem. Para que
seja possível uma nova opção do agricultor e de sua família, é condição
indispensável que, juntamente com a formação para o trabalho, haja um
processo educativo que lhe permita autoconhecer-se como homem,
desvelar sua realidade e usufruir do tempo livre possibilitado pelo avanço
tecnológico na busca da qualidade de vida. Ou seja, este processo deve
constituir-se numa formação libertadora, que permita entender, optar e
construir, dentro ou fora do paradigma vigente, alternativas de modo de vida
que melhor lhe convenham (CAVALLET, 1999, p. 78).
.
4.4 AGRICULTURA FAMILIAR: UMA LUZ QUE NÃO SE APAGA
Segundo Carmo (1998), agricultura familiar é um termo que começou a
incorporar-se ao vocabulário acadêmico, dos movimentos sociais e das políticas
públicas, a partir de meados dos anos de 1990. Até então se falava em “pequena
produção”, “pequena agricultura”, “agricultura de baixa renda” ou até “de
subsistência”. Estas expressões indicam, mais que fragilidade, uma espécie de
julgamento histórico: estes empreendimentos serão eliminados socialmente pelo
próprio processo competitivo ligado ao crescimento agrícola.
Podem ser definidas como familiares àquelas unidades onde a gestão, o
trabalho e a propriedade dos principais meios de produção (mas não
necessariamente da terra) pertencem ao produtor. Por trás da unidade da expressão
é evidente a heterogeneidade social de seus componentes (CARMO, 1998).
Para Guanziroli e Cardim (2000), a discussão sobre a importância e o papel
da agricultura familiar no desenvolvimento brasileiro vem ganhando força nos
últimos anos, impulsionada pelo debate sobre desenvolvimento sustentável, geração
de emprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimento local. A elevação do
número de agricultores assentados pela reforma agrária e a criação do PRONAF -
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar refletem e alimentam
este debate na sociedade.
Segundo Tedesco et al (1999), o universo agrário é extremamente
complexo, seja em função da grande diversidade da paisagem agrária (meio físico,
46
ambiente, variáveis econômicas, etc.), seja em virtude da existência de diferentes
tipos de agricultores, os quais têm interesses particulares, estratégias próprias de
sobrevivência e de produção e que, portanto, respondem de maneira diferenciada a
desafios e restrições semelhantes. Na verdade, os vários tipos de produtores são
portadores de racionalidades específicas que, ademais, se adaptam ao meio no qual
estão inseridos, fato que reduz a validade de conclusões derivadas puramente de
uma racionalidade econômica única, universal e atemporal que, supostamente,
caracterizaria o ser humano. Daí a importância de identificar os principais tipos de
produtores.
Conforme aponta Ferreira (2002), os agricultores têm suas estratégias de
reprodução:
O rural brasileiro é perpassado pelas diversas estratégias dos seus principais atores
– os agricultores – para permanecerem neste espaço social. Trata-se também de um
rural dinamizado por movimentos sociais que propugnam a volta à terra, tanto para
os agricultores que não a possuem, como para os migrantes rurais nas cidades, de
primeira, segunda e terceiras gerações (FERREIRA, 2002).
De acordo com Guanziroli e Cardim (2000), a escolha de um conceito para
definir os agricultores familiares, ou a definição de um critério para separar os
estabelecimentos familiares dos patronais não é uma tarefa fácil, ainda mais quando
é preciso compatibilizar esta definição com as informações disponíveis no Censo
Agropecuário do IBGE, sabidamente não elaborado para este fim.
Segundo Perondi (2007, p. 25)
As novas alternativas produtivas resultaram da capacidade de inovação da
agricultura familiar e as novas organizações resultaram da sua capacidade
de mobilização. Entrementes, deve-se também reconhecer que estas
“virtudes” são na verdade, duas dimensões das reações ao processo de
transformação mais geral da sociedade. Reações que fazem frente à crise
econômica e social, provocada pelo processo de mercantilização, e que,
acabaram por pressionar a reorganização dos seus próprios meios de vida
(PERONDI, 2007, p.25).
Adicionalmente, ainda de acordo com Perondi (2007), foi estabelecida uma
área máxima regional como limite superior para a área total dos estabelecimentos
familiares. Tal limite teve por fim evitar eventuais distorções que decorreriam da
47
inclusão de grandes latifúndios no universo de unidades familiares, ainda que do
ponto de vista conceitual a agricultura familiar não seja definida a partir do tamanho
do estabelecimento, cuja extensão máxima é determinada pelo que a família pode
explorar com base em seu próprio trabalho associado à tecnologia de que dispõe.
Em 1995/1996 os agricultores familiares representavam 85,2% do total de
estabelecimentos, ocupavam 30,5% da área total e eram responsáveis por 37,9% do
Valor Bruto da Produção Agropecuária Nacional, recebendo apenas 25,3% do
financiamento destinado à agricultura (GUANZIROLI E CARDIM, 2000).
O papel da agricultura familiar no Brasil pode ser entendido a partir dos dados
a seguir (EVANGELISTA, 2000):
84% do total de estabelecimentos rurais (4,1 milhões);
77% d trabalho das pessoas do campo (13,3 milhões de ocupações
diretas);
produz em todo o país o dobro da renda/hectare comparada a
agricultura patronal por região;
década de 90 - a agricultura familiar teve aumento de produtividade
maior que a patronal;
entre 1989 e 1999, aumentou sua produção em 3,79%, apesar de ter
tido uma perda de renda real de 4,74%;
a agricultura patronal, no mesmo período, teve perda menor (2,56%),
mas aumentou a produção em apenas 2,60% (EVANGELISTA,
2000).
Os dados e fatos anteriormente apresentados, demonstram a potencialidade
da agricultura familiar como geradora de renda e de trabalho. A persistência dos
atores que dela sobrevivem faz com que a chama encontre-se acesa por dedadas e
décadas.
4.4.1 Organização Nacional da Agricultura Familiar na Década de 1990
Segundo informações apontadas no texto da Fase (2000), sem que se
empreenda alterações macroeconômicas que sejam capazes de reverter o quadro
de adversidade para a viabilização econômica da agricultura familiar, programa de
crédito, tais como o Pronaf, a repercussão ficará restrita apenas à publicidade oficial
acerca da suposta prioridade social do projeto político do governo.
O ano de 1999 foi caracterizado pelo "empenho" obstinado do governo em
tentar impor a idéia da ocorrência de pretendidos fenômenos no agrário nacional que
lhe reconfigura as bases de organização sócio-econômica à semelhança do que
48
sucede em áreas rurais dos países mais desenvolvidos. De acordo com o discurso
governamental estaríamos vivenciando, no Brasil, um "novo mundo rural" (FASE,
2000).
O texto da Fase (2000), mostra que antes do "novo mundo rural", os sem
terra, trabalhadores rurais e pequenos proprietários rurais sempre foram colocados à
margem das ações do Estado e atualmente o estado os exclui sob o argumento de
que o mercado representa o caminho "supremo e contemporâneo" para a redenção
desses setores.
De acordo com as formulações do "novo mundo rural", o progresso técnico
na agricultura tem levado a uma crescente sobra de tempo nas atividades agrícolas.
Em função disso, os agricultores familiares, no caso, passaram a desenvolver outras
atividades, não agrícolas, como forma de evitar o ócio e de aumentar a renda
familiar.
Assim, progressivamente, segundo o texto da Fase (2000), o agrícola perde
importância na determinação do rural e, devido a diversificação econômica deste, a
categoria deixa de ter sentido já que o rural encontra-se indivisível do urbano,
passando a prevalecer a perspectiva territorial. Isto porque os espaços rurais
também experimentam nova fisionomia enquanto espaços de lazer e moradia dos
urbanos entediados.
De quebra, a estratégia de municipalização das decisões da "reforma
agrária", tenderia a desarticular a organização nacional do MST, que as
demandas pela reforma agrária e pelo próprio crédito à agricultura familiar
passariam para a esfera local.
Houve a adesão de muitos governadores e prefeitos a este programa, sendo
que muitos deles estavam verdadeiramente preocupados em desenvolver a reforma
agrária nos seus territórios; e outros visando apenas à expectativa de um recurso
federal extra; outros ainda por pura ingenuidade. Contudo, havia a consciência da
irresponsabilidade dos discursos do governo federal (FASE, 2000).
A busca por complementação de renda, no âmbito da agricultura familiar,
resulta, sim, de tempo excedente, mas não por conta da incorporação de novas
tecnologias no processo produtivo mas, pelo abandono da atividade face o
processo, em curso, de inviabilização econômica do setor (FASE, 2000).
49
Nos países ricos, a pluriatividade resulta de políticas deliberadas de
compensação à liberação de pessoas da atividade agrícola, conscientemente
bancadas pelo conjunto da sociedade tendo em vista a viabilização da permanência,
no campo, dos pequenos agricultores (FASE, 2000).
No Brasil, o tempo não trabalhado na atividade agrícola e a busca de novas
atividades pelos agentes da agricultura familiar decorrem de contingências de
desemprego no campo e nas cidades; portanto, de uma política deliberada de
desconstrução, sem qualquer compensação pelo Estado (FASE, 2000).
Portanto, os adaptadores do novo mundo rural no Brasil’ valem-se de
similaridades de comportamentos estatísticos do caso brasileiro em relação ao que
ocorre nos países ricos para, equivocadamente sustentarem conclusões sobre
fenômenos sociais, políticos e econômicos verdadeiramente distintos em sua
gênesis e em suas resultantes e, dessa forma, impossíveis de qualquer paralelo
(FASE, 2000).
Além de desnudar as intenções do governo de livrar-se das
responsabilidades pela reforma agrária e de conspiração contra a mesma, essa
medida é sugestiva, também, das intenções de subordinação da reforma, ao
latifúndio, que controla as administrações municipais, na maioria dos casos (FASE,
2000).
4.4.2 A Agricultura Familiar como Opção de Desenvolvimento
Para Perondi (2004, p. 15), em relação à
(...) valorização da produção orgânica e das paisagens rurais diversificadas
recuperam a identidade e a humanidade do homem. Primeiro quando o
interesse próprio pela qualidade do alimento não é diluído pela existência
de uma demanda em massa e a inconseqüente oferta de commodities.
Segundo, porque o modo de vida comunitário das comunidades rurais
humaniza o pertencimento integrado ao “meio de vida” social e econômico
do indivíduo na sociedade. (...) Assim, de forma diversa, a
multifuncionalidade da agricultura parece se contrapor ao processo de
individualização do homem, o que significa reaproximar a sociedade da
natureza (PERONDI, 2004, p.15).
Certamente existem vantagens de se adotar estratégias de desenvolvimento
rural que priorizem a promoção da agricultura familiar. Esta opção pela agricultura
familiar como base de uma proposta de desenvolvimento rural brasileiro deve
50
focalizar os desafios que cercam a produção e distribuição de produtos dessa
produção diante do mecanismo de produção e distribuição cada vez mais
globalizado, contudo, a agricultura familiar se apresenta como uma opção de
desenvolvimento menos excludente e ambientalmente mais equilibrada, ou seja,
está intimamente ligada a questão da agroecologia.
Segundo Fonte et al. (2005):
A agroecologia consiste em uma nova ciência dentro do meio agrário,
fundamentada em princípios semelhantes aos da complexidade, sendo um
desafio, não uma receita, não produzindo respostas prontas e tendo a sua
base na permanente construção. Concebe o homem como parte da
natureza, fazendo as inter-relações entre seres vivos, entrelaçando a
diversidade dentro de um contexto que considera o todo e não a
fragmentação dos objetos e saberes. Ela é uma ciência interdisciplinar e
transdisciplinar que nos permite estudar, criticar, questionar, dirigir,
desenhar e avaliar os agroecossistemas (FONTE ET AL, 2005).
Diante das diversas perspectivas da agroecologia, os autores acima citados
destacam um dos objetivos principais que é a otimização do equilíbrio dos
agroecossistemas como um todo. Para que isso ocorra é necessário que o
conhecimento seja repensado, visando a interpretação das complexas relações
inerentes à vida na Terra. Por isso mesmo, as pesquisas realizadas em laboratórios
ou em estações experimentais não são suficientes, que não conseguem se
aproximar dos diferentes agroecossistemas e do enfoque ecossistêmico. São essas
relações complexas que compreendem a noção de sustentabilidade que têm sido
objeto de estudo também no século XXI. A concepção de agroecologia vai muito
além dos aspectos de produção e técnica, passando a incorporar dimensões amplas
e complexas, que incluem variáveis econômicas, sociais, culturais, políticas e éticas.
Corroborando com esta visão Caporal e Costabeber (2002) reiteram que a
agroecologia não pode ser confundida com um estilo de agricultura. Também não
pode ser confundida simplesmente com um conjunto de práticas agrícolas
ambientalmente amigáveis, surgindo uma dimensão muito maior, agricultura,
sociedade e sustentabilidade.
Segundo Navarro (2001), o debate gerado pelas demandas sociais como
foco na noção de agricultura familiar tem levado a uma tendência de reivindicação
por novos padrões de desenvolvimento rural que possam incluir mecanismos de
repercussão local.
51
4.5 PLURIATIVIDADE: COMPLEXIDADE DO MEIO AGRÁRIO
Segundo Silva (1996), diante dessas novas condições e perspectivas que se
abrem para o espaço agrário, surge a necessidade de se reconceituar as
compreensões consagradas historicamente sobre agrário, rural, agrícola, homem do
campo e agricultor. Atualmente, o meio agrário não pode mais ser visto como,
apenas um meio agrícola devido à complexidade e heterogeneidade de suas
atividades. Hoje em dia, a composição social do campo não se restringe mais a
pessoas que se ocupam da agricultura apenas, mas que desenvolvem outras
atividades.
Para Schneider (1994), a partir do crescente desenvolvimento de atividades
não-agrícolas no campo, surge uma nova área de pesquisa: a pluriatividade, que se
dedica ao estudo do conjunto das atividades realizadas no espaço agrário, bem
como suas interações e inter-relações.
As novas ruralidades aproveitam e expandem novas funções e atividades no
campo, integrando e envolvendo as famílias rurais com o poder público e a iniciativa
privada. É a conhecida pluriatividade ou multifuncionalidade do campo, como é
classificado esse novo momento no meio rural brasileiro, onde as atividades não
agrícolas assumem um papel destacado para a sobrevivência das pessoas e para a
geração de renda das famílias (SCHNEIDER, 2003).
Quando um membro, pelo menos, de uma família rural exerce alguma
atividade o-agrícola, seja atividade principal seja secundária, fica caracterizada a
pluriatividade. Desse modo, as atividades que estão sob o conceito de pluriatividade
servem como complemento à renda total da família rural, criando uma nova
dinâmica no campo. Dependendo do que a região tem a oferecer, várias ocupações
remuneradas podem ser consideradas pluriatividades, como as atividades da
construção civil ou do comércio em geral (SCHNEIDER, 2003).
4.5.1 Possibilidades Empreendedoras: facilitando caminhos
Segundo Dolabela (1999), o empreendedorismo é a chave do crescimento.
Compreender o fenômeno é essencial para traçar políticas e programas para o
fortalecimento dos negócios e o conseqüente desenvolvimento socioeconômico da
52
sociedade, por meio da geração de auto-emprego (trabalhador autônomo),
empreendedorismo comunitário (como as comunidades empreendedoras).
Com base nisso, podemos dizer que empreendedorismo é fazer diferente, é
valorizar as quatro qualidades humanas que são iniciativa, criatividade, ousadia e
responsabilidade. Assim, ser empreendedor é, também, ser inédito, estar à frente de
seu tempo, gerar riquezas, progredir, em suma: criar vida, a partir daquilo que outras
pessoas veriam como algo sem perspectiva (DOLABELA, 1999).
De acordo com o autor anteriormente mencionado, o empreendedorismo é
um fenômeno regional, ou seja, existem cidades, regiões, países mais, ou menos,
empreendedores do que os outros. Porém, as possibilidades empreendedoras
consistem nas características comportamentais básicas do ser humano.
Entretanto, o empreendedorismo é considerado como sendo um novo
paradigma, assim como o Desenvolvimento Rural Sustentável, que parte dos
pressupostos das diferentes propostas de modificação da agricultura que tem, como
perspectiva, a sustentabilidade em sua produção, como a agroecologia. Nesse
contexto, podemos entender a questão do desenvolvimento sustentável no meio
rural como uma nova preocupação que envolve os produtores rurais, engenheiros
agrônomos, biólogos, e todos aqueles que estão diretamente envolvidos nos meios
de produção, armazenamento e distribuição dos produtos produzidos no meio rural.
De acordo com Donelas (2003), embora o empreendedorismo apareça como
uma característica individual, quando as pessoas se associam, novas perspectivas
de crescimento podem aparecer. Quando as pessoas se unem, em uma associação
por exemplo, acabam por trabalhar as principais características individuais, quais
sejam: solidariedade, respeito, amor, laços familiares, além de levar em conta que
existem certos conflitos, inerente aos grupos. No entanto, em lugar de esses
conflitos serem negativos, eles podem contribuir significativamente para o
desenvolvimento da associação.
Em se tratando de agroecologia, por exemplo, ela pode servir como
impulsionadora para que se viabilize a adesão dos agricultores familiares às
propostas institucionais advindas de diversas entidades públicas como SEAB,
EMATER, INCRA, MDA, PRONAF entre outros, além de instituições blicas ou
privadas voltadas para o meio rural.
53
É nesse contexto que se insere o Curso de Gestão e Empreendedorismo do
Setor Litoral da UFPR, o qual busca por meio de seus atores, dar suporte às ações
que vem sendo desenvolvidas no litoral paranaense e, nesta pesquisa, o foco
concentra-se na Comunidade Pantanal do Assentamento Nhundiaquara do litoral
paranaense.
4.5.1.1 O viés empreendedor no meio rural: autonomia para a sustentabilidade
Antes de se falar no viés empreendedor do meio rural, é interessante colocar
questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Assim, segundo Sachs
(2004, p. 35), o desenvolvimento sustentável assume a função de habilitar os
indivíduos a manifestarem suas potencialidades, talentos e imaginação, procurando
a auto-realização e a felicidade, adquiridos a partir de empreendimentos individuais
e coletivos, "numa combinação de trabalho autônomo e heterônomo e de tempo
dedicado a atividades não produtivas".
Para o autor anteriormente mencionado, a boa sociedade deve prover
oportunidades, enquanto cria, concomitantemente, um ambiente de convivência e
condições para que se desenvolva a produção de meios de existência viáveis, que
sejam capazes de suprir as necessidades materiais básicas da vida, quais sejam,
comida, abrigo, roupas, tanto no âmbito familiar, quanto no âmbito comunitário.
Para Navarro (2001), existem algumas diferenças conceituais relacionadas
com o termo desenvolvimento sustentável, sendo que a primeira que se deve definir
é o desenvolvimento agrícola ou agropecuário, que segundo o autor refere-se
exclusivamente às condições da produção agrícola/agropecuária e suas
características produtivas existentes nas tendências em determinado período de
tempo. Desta forma, relaciona-se à base material da produção agrícola/agropecuária
e suas características, tais como, área plantada, produtividade, tecnologia utilizada,
e rendimento econômico, entre outras.
Ainda de acordo com Navarro (2001), é necessário, no contexto do
desenvolvimento sustentável, entender o que é desenvolvimento agrário, que para
ele pode ser relacionado ao entendimento do mundo rural dentro do âmbito da
sociedade em todas as suas dimensões, também em determinado período de
tempo. O foco de convergência do desenvolvimento agrário se faz nas instituições,
54
políticas atuantes no período de tempo estudado, disputas entre classes sociais,
condições existentes de acesso e de uso da terra, nos conflitos sociais gerados, etc.
Segundo Sachs (2004, p. 35), deve-se combinar alguns elementos que
possibilitem a produção de meios de sobreviver dela. O autor os lista como:
Acesso a ativos requeridos para a produção de bens e serviços para
autoconsumo, no âmbito da economia doméstica;
Acesso ao treinamento, técnicas e ativos necessários para a produção
de bens e serviços orientados para o mercado mediante auto-emprego;
Disponibilidade de trabalho decente, de tempo integral ou parcial, para
os membros da família que o desejam;
Acesso universal aos serviços públicos;
Acesso a habitação autoconstruída, alugada ou adquirida mediante
esquemas subsidiados de moradia popular;
Disponibilidade de tempo livre para atividades não produtivas (SACHS,
2004, p.35).
Dentro dessa lógica também são necessários aspectos qualitativos,
traduzidos como formas viáveis de produção de meios de existência, que não devem
estar atrelados aos gastos de esforços excessivos por parte dos produtores, em
atividades mal remuneradas e realizadas em condições insalubres, na provisão
inadequada de serviços públicos e em condições indignas de habitação.
Face ao exposto, de acordo com Tedesco (2003), a partir do alto grau de
competitividade e das dificuldades econômicas pelas quais tem passado a economia
brasileira, tem havido um redirecionamento das atividades, gestões, informações e
encargos, que se traduzem como expressões da modernidade econômica em
relação à conjuntura atual.
uma tendência de interiorização de empresas para o meio rural que tem
significado a adoção de processos e relações de trabalho que muitas vezes não
seriam possíveis no espaço da fábrica urbana.
Segundo Schneider (1994), a prática da terceirização pelas empresas-mãe
problematiza a articulação espacial entre o rural e o urbano. Existe a atração da
população rural para o trabalho no estilo urbano; o local, comunidade/família, passa
a atender as necessidades do processo de fabricação urbano, utilizando esta força
de trabalho, fazendo crer em um processo de proteção da continuidade da
reprodução social da família, ou seja, os membros da família continuam trabalhando
juntos, só que agora na fábrica. Desta forma, não a necessidade de um aumento
55
proporcional da quantidade de terra disponível para atender as necessidades dos
mesmos.
Contudo, é necessário que se faça a identificação dos aspectos motivadores
externos que tem levado muitas empresas localizadas na região urbana a se
constituírem também no meio rural com grande possibilidade de buscar pessoas
para o trabalho rural (CERIOLI E MARTINS, 1997).
Para os autores anteriormente citados, a CONCRAB - Confederação das
Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil - assumem um caráter político que deve
ser trabalhado para que haja a conscientização e politização dos seus membros e
um caráter da empresa econômica, cujo objetivo é promover a organização da
produção, a resistência dos assentados no campo, o crescimento econômico e o
desenvolvimento ou melhoria da qualidade de vida dos assentados, utilizando para
isso uma lógica de organização de massa buscando alcançar a eficiência econômica
sem entrar em conflito com o aspecto político.
Para que haja o estabelecimento do empreendedorismo no meio rural o
necessários alguns recursos, como apoio do INCRA - Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária - e o pessoal destinado a mobilização e luta política
visando a reforma agrária e a transformação da sociedade, sem, contudo, descuidar
dos aspectos produtivos (CERIOLI E MARTINS, 1997).
De acordo com Cerioli; Martins (1997), existem alguns obstáculos no
ambiente externo que devem ser enfrentados pelas cooperativas no que se refere às
questões sobre política agrícola. O Brasil é um país capitalista, neoliberal, que
possui como uma das prioridades não manter subsídios agrícolas e que não objetiva
garantir a segurança alimentar dos seus habitantes.
Assim, a constituição do viés empreendedor da área rural vai contra forças
maiores, porque não haverá garantia de preços condizentes com os custos de
produção, não haverá seguro agrícola e o volume de recursos para o crédito rural
tenderá a diminuir (CERIOLI E MARTINS, 1997).
O planejamento e a organização da produção, continuam a ser o maior
problema do empreendedorismo no meio rural, em que se fez necessário adotar
posturas para o planejamento da produção nos assentamentos e cooperativas em
vista da sustentação de alimentação e da garantia de uma renda mínima para cada
um dos assentados (CERIOLI E MARTINS, 1997).
56
Os autores anteriormente mencionados, enfatizam a necessidade de
perceber as partes integrantes do processo, a relação entre elas e a relação com
todos, de compreender a atividade agropecuária em todas as suas relações, do
manejo adequado das diversas atividades, tendo em vista de um melhor
aproveitamento dos subprodutos.
Com relação ao aspecto econômico, a postura adotada pelo assentado é de
que vai conseguir ficar rico individualmente ou através de sua unidade de produção,
passando assim, a priorizar apenas o econômico, deixando de apoiar e participar
das lutas dos trabalhadores (CERIOLI E MARTINS, 1997).
De acordo com Perondi (2007, p. 174), outro desafio que necessita de
solução:
(...) de forma geral, também é possível concluir que além de procurar
fortalecer as atividades agrícolas no interior das propriedades familiares,
via os programas do Pronaf, por exemplo, existe ainda, uma necessidade
não atendida, por políticas de diversificação do meio rural. Políticas que
tenham o objetivo de diferenciar e verticalizar a produção agrícola, como
também estimular a formação de um ambiente (no sentido social e
econômico) propício ao desenvolvimento de atividades o-agrícolas no
meio rural (PERONDI, 2007, p. 174).
4.5.2 A Agroecologia como Ensino Superior: o Desencadear para uma
Transformação necessária diante da construção do PPP do Setor Litoral
Segundo Baiardi (2003), o meio rural é um local desafiador para o ensino
universitário. Por um lado, é um espaço no qual a universidade encontra dificuldades
para se inserir e, por outro lado, abriga populações fortemente marginalizadas
O termo agroecologia, de acordo com Gliessman (2000), foi proposto pelos
ecologistas nos anos 30 como ecologia aplicada na agricultura, contudo, ganhou
força após o advento da Revolução Verde a partir de 1950, juntamente com a
Revolução Industrial, quando a agricultura tornou-se o braço da indústria no campo.
A associação dessas duas revoluções foi impulsionada pelo capital voltado para
gerar lucros através da produção e produtividade, e também por uma visão
reducionista e disciplinar que serviu de base para alavancar a produção e passar a
implementar a utilização de fertilizantes químicos, maquinários e defensivos.
Pode-se obter uma das definições mais amplas dentro do contexto da
agroecologia a partir de Guzmán e Molina (1996, p. 12), que afirmam que:
57
A Agroecologia constitui um campo de estudos que pretende o manejo
ecológico dos recursos naturais, para através de uma ação social coletiva
de caráter participativo, de enfoque holístico e de uma estratégia sistêmica,
reconduzir o curso alterado da co-evolução social e ecológica, mediante
controle das forças produtivas que estanque seletivamente as formas
degradantes e expoliadoras da natureza e da sociedade (GUZMÁN E
MOLINA, 1996, p.12).
Segundo Hoeller (2006), a agroecologia, dentro do campo das ciências, é
derivado da ecologia e da agronomia. Durante todo o período da Revolução Verde,
incluindo o período atual, essas duas ciências tiveram um contato muito tenso. Por
um lado a agronomia se dedicou a aplicar metodologias científicas no campo
agrário, por outro lado a ecologia somente tem se preocupado em investigar temas
de sistemas naturais.
A agroecologia pode ser entendida como sendo uma ciência interdisciplinar
e transdisciplinar que possibilita o estudo, a crítica, o questionamento, a direção, o
desenho e a avaliação dos agroecossistemas. A autora define os agroecossistemas
como sendo as inter-relações existentes entre os sistemas, que possibilita o estudo
do todo com uma visão na utopia do desenvolvimento sustentável” (HOELLER,
2006, p. 23).
Assim, pode-se dizer que a agroecologia é uma nova abordagem da
agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e
socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção
de alimentos e na sociedade como um todo.
Aprofundando-se nessa abordagem de agrossistemas, Hoeller (2006, p. 23)
afirma que
Na perspectiva agroecológica, um dos objetivos é a otimização do equilíbrio
dos agroecossistemas como um todo, o que significa a necessidade do
repensar o conhecimento, para a interpretação das complexas relações
existentes na vida do planeta Terra. Por esta razão que as pesquisas
realizadas em laboratórios ou em estações experimentais não são
suficientes, pois, não conseguem se aproximar dos diferentes
agroecossistemas e do enfoque ecossistêmico. Essas relações complexas
alimentam a noção de sustentabilidade que permeia as discussões da
humanidade no século XX (HOELLER, 2006, p.23)I.
Para Gliessman (2000), o conceito de agroecologia quer sistematizar todos
os esforços em produzir um modelo tecnológico abrangente, que seja socialmente
58
justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável; um modelo que seja o
embrião de um novo jeito de relacionamento com a natureza, onde se protege a vida
toda e toda a vida, estabelecendo uma ética ecológica que implica no abandono de
uma moral utilitarista e individualista e que postula a aceitação do princípio do
destino universal dos bens da criação e a promoção da justiça e da solidariedade
como valores indispensáveis. A rigor, pode-se dizer que agroecologia é a base
científico-tecnológica para uma agricultura sustentável e modo de vida sustentável
para o espaço agrário.
De acordo com Assad e Jalcione (2004), o modelo de agricultura sustentável
são os conhecimentos empíricos dos agricultores, acumulados através de muitas
gerações, ao conhecimento científico atual para que, em conjunto, técnicos e
agricultores possam fazer uma agricultura com padrões ecológicos (respeito à
natureza), econômicos (eficiência produtiva), sociais (eficiência distributiva) e com
sustentabilidade a longo prazo.
Segundo Bonilla (1992), a agroecologia somente pode ser entendida na sua
plenitude quando relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade e justiça
social. Nesse sentido, a agroecologia se concretiza quando, simultaneamente,
cumpre com os ditames da sustentabilidade econômica, ecológica, social, cultural,
política e ética. Desta maneira, a Agricultura Ecológica nasceu da necessidade da
incorporação da dimensão ecológica à produção agrícola e implica na coexistência
de várias correntes que propõem a aplicação de princípios ecológicos à produção
agropecuária. Enfim, é um conjunto de princípios gerais aplicáveis aos sistemas
agropecuários sustentáveis.
Deve-se ressaltar que a agroecologia atribui grande importância à agricultura
familiar tradicional, indígena, quilombola ou camponesa, como espaço destacado
para o desenvolvimento de uma racionalidade ecológica. No entanto, não significa a
exclusão de outros setores envolvidos com a produção agrícola, como a agricultura
de grande escala, que pode assumir passos da Transição Agroecológica. Neste
sentido, pode-se tomar como base a proposição de Francis et al. (2003), que
sugerem a agroecologia como o estudo integrativo da Ecologia do sistema alimentar
como um todo, isto é, da apropriação da natureza ao consumo. E ainda cabe
destacar que a agroecologia opera na perspectiva da Transição Agroecológica ou
seja, na migração gradual para modelos de Agricultura de Base Ecológica não
59
somente como estratégia econômica (afinal, a longevidade da produção depende da
capacidade de renovação dos recursos naturais), mas também por entender que
não é mais pertinente produzir dentro de novos princípios produtivos.
Assad e Jalcione (2004), colocam que, se a agroecologia se propõe a
desenhar e manejar agroecossistemas sustentáveis e construir estratégias de
desenvolvimento rural sustentável englobando as dimensões ecológicas, sociais,
culturais e econômicas, pode-se afirmar que a mesma serve a sociedade como um
todo, às gerações atuais e futuras, aos atores do mundo rural e urbano.
Para Riechmann (2002), produzir, comercializar e consumir alimentos são
atividades com profundo conteúdo ético, sistêmico e político que dizem respeito não
apenas aos agricultores, mas a toda cidadã e a todo cidadão, sendo uma questão
para toda a sociedade, com sérias implicações para as gerações futuras.
No contexto da agroecologia, a interdisciplinaridade é muito importante e de
acordo com Morin (2003), a ciência ecológica é constituída em cima de um objetivo
e de um projeto multi e interdisciplinar, utilizando os serviços de diferentes
disciplinas, além de ter competência para desenvolver e resolver os problemas
fundamentais desse tipo de organização.
Nesta perspectiva, associar num mesmo projeto, a agricultura familiar, o
empreendedorismo, o desenvolvimento sustentável e a educação direcionada,
abrange áreas que além de importantes individualmente, são imprescindíveis para a
humanidade.
Assim, o Setor Litoral da UFPR, cujo compromisso está ancorado aos ideais
e valores oriundos da concepção da educação, em que desenvolve seu Projeto
Político Pedagógico pautando-se nas necessidades da região, consolidou-se neste
ano de 2008, a criação do curso de nível superior em Agroecologia.
A atividade agrícola no litoral é marcada por duas características
importantes, a predominância de pequenos produtores, próximos à lógica de
sobrevivência através do que produzem e, em grande parte, com práticas de manejo
convencional e tradicional. O processo de urbanização, revelado na taxa de
crescimento urbano dos municípios do litoral, cuja performance excede à média do
estado do Paraná, bem como à própria média brasileira.
60
Sendo assim, percebe-se a relevância propositiva de um curso superior de
Agroecologia que contribua para a construção de uma nova realidade regional e de
um desenvolvimento sustentável.
O curso superior em Agroecologia, criado no Setor Litoral no ano de 2008,
constituí-se como alternativa de qualificação profissional para as comunidades
locais. Tem como princípios o uso sustentável dos recursos naturais, a proteção do
meio ambiente e o desenvolvimento sócio-econômico, principalmente da agricultura
familiar que estimula a produção diversificada e amplia a capacidade de consumo de
alimentos e de outros bens pelas famílias rurais, mas também da agricultura
camponesa, de comunidades ribeirinhas, caiçaras e de famílias que vivem da pesca
e artesanato, contribuindo com a promoção da segurança alimentar e nutricional
destes povos.
4.5.3 Perspectiva para a Possibilidade do PROEJA em Agroecologia
De acordo com Carneiro (2005), aproximadamente 32 milhões de pessoas
que vivem na zona rural encontram-se em desvantagem no que se refere ao acesso
aos recursos financeiros e quanto ao acesso e freqüência à escola quando
comparadas à população urbana. Especificamente na questão relacionada na
segunda constatação o nível de instrução e o acesso à educação desta parcela da
população evidenciam a desigualdade social existente entre o campo e a cidade.
Deve-se manter em mente que o campo constitui-se um universo integrado a
sociedade brasileira e ao contexto atual das relações internacionais. Este não é um
universo isolado, autônomo no que se refere a sociedade brasileira e que possui
uma lógica exclusiva de funcionamento e reprodução, mesmo que este apresente
particularidades históricas, sociais, culturais e ecológicas, que o torna diferente
(MEC, 2005).
Neste contexto, o campo é por si rico e diversificado, que também
assume o papel de produto e produtor de cultura. Constitui-se como um espaço
propício a construção da democracia e da solidariedade, quando passa de simples
palco das lutas pelo direito a terra, para lugar onde se exige o direito à educação, à
saúde, à organização da produção, entre outras coisas (MEC, 2005).
61
Diante do paradigma da sustentabilidade, a educação com foco no
desenvolvimento deve considerar tanto a sustentabilidade ambiental, quanto as
agrícola, agrária, econômica, social, política e cultural. Assim, pensar a educação e
sua relação com o desenvolvimento sustentável é partir da idéia de que o local, o
território pode ser reinventado através das suas próprias potencialidades. Uma das
maneiras de se fazer aflorar essas potencialidades reside no reforço da idéia da
importância do coletivo, visando obter a participação popular nas questões políticas,
sociais e educacionais da comunidade (MEC, 2005).
Segundo da II Conferência Nacional de Educação do Campo (2004), a
implementação de um programa voltado para a educação de jovens e adultos com
foco na agroecologia deve se orientar por alguns parâmetros básicos:
A educação de jovens e adultos como um direito dos povos do campo;
A educação de jovens e adultos como política pública nos sistemas de
ensino;
A educação de jovens e adultos como estratégia de fortalecimento do
desenvolvimento sustentável com enfoque territorial;
O trabalho e a qualificação profissional como direito dos povos do
campo;
A educação como afirmação, reconhecimento, valorização e legitimação
das diferenças culturais, étnico-raciais, de geração, de gênero, de
orientação sexual e sócio-ambiental;
A existência de sujeitos sociais que possuem projetos políticos e
pedagógicos próprios.
A perspectiva de um programa de PROEJA deve se pautar pelo
desenvolvimento de uma política que possa estimular e ampliar o acesso e a
permanência de jovens agricultores familiares no sistema formal de ensino,
possibilitando-lhes oportunidades de elevação de escolaridade, qualificação social e
profissional.
Levando-se em conta as necessidades que se encontra no campo, a
proposta pedagógica deve se fundamentar num eixo curricular articulador que
enfoque a agricultura familiar e a sustentabilidade, que certamente beneficiará os
agricultores familiares, além de promover o desenvolvimento sustentável e solidário
na região, na perspectiva de re-significação do trabalho e da vida no campo.
Compreendendo a missão do Setor Litoral da UFPR, estuda-se a
possibilidade a criação do PROEJA em Agroecologia como proposta de educação e
desenvolvimento, amparada no pressuposto de que as estatísticas apresentadas até
62
então trazem uma problematização fundamentada o êxodo rural que se justifica pela
falta de oportunidade e conhecimento.
4.6 COOPERATIVISMO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Nesta tarefa tão importante e urgente, é que o cooperativismo muito tem a
contribuir para o fomento e a geração de pólos micro-regionais e locais de
desenvolvimento integral, humano e sustentável. A importância da coletividade está
em somar as habilidades de cada um para o desenvolvimento conjunto. Os sócios
de uma cooperativa são membros ativos daquela comunidade, nelas têm fincadas
suas raízes (PINHO, 2000).
De acordo com o autor anteriormente mencionado, na cooperativa exercitam a
democracia e decidem coletivamente sobre os destinos do excedente gerado pela
empresa. Os associados priorizam também a reaplicação da maior parte dos
excedentes gerados pela cooperativa dentro do próprio município ou da Região.
Cite-se também o exemplo das cooperativas de produtores rurais, que
enquanto tais e sendo razoavelmente geridas, são importantes geradoras de
produção mais qualificada e de renda adicional para os produtores associados de
cada localidade e região (LAIDLAW, 1981).
Com a sua assistência técnica e os serviços de infra-estrutura, tendem a
obter uma boa produtividade média por produtor, comparativamente a produtores
não associados, muitas beneficiam o produto agregando valor ao mesmo e criam
melhores canais de comercialização da produção (LAIDLAW, 1981).
Sabe-se, segundo informações do Ministério da Agricultura (2006), que
somente 5% das propriedades rurais brasileiras têm infra-estrutura de
armazenamento, enquanto na Argentina, a relação sobe para 25%. E, seguramente,
grande parte dos produtores rurais que dispõem da infra-estrutura mencionada, deve
isso a suas cooperativas.
Analisando-se o lado social das cooperativas, Laidlaw (1981, p. 55),
conceitua a cooperativa como “um grupo de pessoas, grande ou pequeno,
comprometido na ação conjunta, baseadas na democracia e no esforço próprio,
visando prestar um serviço ou concretizar um acordo econômico, que seja
socialmente desejável e proveitoso para todos os seus participantes”.
63
Para Namorado (2001), as cooperativas o organizações que existem em
primeiro lugar em benefício de seus associados. Devido a essa sólida vinculação
com os associados, com freqüência em um espaço geográfico específico, em geral
as cooperativas passam a ter estreitos vínculos com a comunidade local ou regional.
As cooperativas m igualmente a responsabilidade de trabalhar
constantemente pela proteção do meio ambiente dessas comunidades. Compete
aos associados decidir o grau de intensidade e a maneira específica que uma
cooperativa deverá e poderá efetuar suas contribuições à sua comunidade (ACI,
1996, p. 46).
Para Sabourin (2006, p. 8), é fala recorrente dos agricultores que as
cooperativas têm dono específico. De acordo com o autor, "(...) em tais condições,
quando os coletivos de camponeses são afastados da administração, a cooperativa
torna-se uma nova autoridade gestora dos bens comuns (água, perímetro irrigado)
ou um novo intermediário para o acesso ao mercado".
Segundo coloca a União de Cooperativas de Reforma Agrária e Economia
Solidária,
Por conta deste processo, as nossas tradicionais cooperativas tornaram-se
de modo geral representantes do poder econômico. As “cooperativas
empresariais” passaram a enfrentar a concorrência através do aumento da
renda e do seu patrimônio e não por meio da organização, da educação, da
participação e da inclusão cio-econômica dos seus associados. Como
resultado muitas cooperativas se tornaram grandes empresas, ao mesmo
tempo se distanciaram do seu quadro social - legítimo responsável pelo
destino da cooperativa – reduzindo a atuação dos cooperados a uma
participação passiva, não ativa (UNICAFES ,2005).
A Federação propõe modos inovadores de comercialização, a partir da
criação das micro-cooperativas, e apóia à criação de feiras municipais e mini-ceasas
para abastecer os mercados regionais. Os sindicatos rurais também apóiam a
formação de parcerias entre os produtores rurais e as escolas públicas da região, a
fim de prover à merenda escolar com a produção familiar. Essa medida seria muito
interessante, pois além de ser uma forma de escoar a produção, levaria produtos
com alto valor nutricional aos alunos (FIALHO E ANDRADE, 2007).
Conforme destaca Sabourin (2006), o movimento de renovação do
cooperativismo para agricultura familiar se iniciou a partir das cooperativas de
crédito, cujo objetivo de criação era substituir a falta de atendimento ou a ausência
física dos bancos oficiais no que se refere ao financiamento.
64
Para Magalhães (2005), o sucesso e o rigor das cooperativas de crédito
estão relacionadas às relações de reciprocidade que provem das práticas solidárias
religiosas, que tiveram origem nas Comunidades Eclesiais de Base.
A partir disso, surge uma questão teórica colocada por essa hipótese, que o
autor destaca que é, "(...) a utilização de estruturas de reciprocidade dependendo do
plano simbólico (a religião) para práticas econômicas no plano do real e até para
práticas de intercâmbio capitalista (crédito bancário para investimentos produtivos)"
(MAGALHÃES, 2005 apud SABOURIN, 2006, p.8).
4.6.1 A Produção Artesanal e seu Devido Valor
De acordo com Schneider (2003), as atividades produtivas da população
mais pobre no Brasil, geralmente, são marcadas por baixos investimentos de capital,
precária qualificação do trabalho das pessoas e o alto grau de informalidade. As
principais áreas são a agricultura familiar tradicional, o extrativismo, o artesanato, a
reciclagem e os serviços e comércio informal nas áreas urbanas.
Para Silva (1997), um dos maiores obstáculos à produção familiar é o seu
caráter artesanal. Como não há uma produção regular e padronizada, não é possível
atender à demanda gerada pelo mercado tradicional, dificultando bastante a
comercialização e o escoamento da produção familiar.
De acordo com o autor anteriormente mencionado, o que à primeira vista
poderia ser uma barreira à agricultura familiar e a produção artesanal, passa a ser
uma solução para atender um nicho de mercado que consome esses produtos, pois
esses bens possuem alto valor agregado em relação à qualidade nutricional (isentos
de agrotóxicos) e ao cuidado na preparação quanto a higiene, no caso de doces,
biscoitos, compotas e outros.
Logo, essas qualidades inerentes à produção artesanal, quando se compara
à produção industrial, criam um diferencial marcante e estabelecem um nicho de
mercado altamente promissor (SILVA, 1997).
65
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 A REGIÃO DE MORRETES
A fundação do povoado de Morretes foi em 1721, contudo houve
ocupação efetiva do seu território por mineradores e aventureiros paulistas, no ano
de 1646, período no qual foram descobertas jazidas de ouro na região (CARNEIRO,
2007).
A partir de meados do século XVIII, os parnanguaras, capitão Antônio
Rodrigues de Carvalho e sua mulher Maria Gomes Setúbal, estabeleceram-se em
Morretes, onde construíram uma capela dedicando-a a Nossa Senhora do Porto e
Menino Deus dos Três Morretes, abençoada pelo .padre Francisco de Meira Calassa
em 21 de julho de 1769.
No período de 1811 a 1832, o comércio e a indústria, particularmente o
beneficiamento de erva-mate e a indústria de aguardente, sobrepujavam as demais
atividades.
Em de março de 1841, através da Lei Provincial n.º 16, Morretes foi
elevada à categoria de município, com território desmembrado de Antonina. A
instalação oficial se deu no dia 05 de julho de 1841. A partir da Lei Provincial n.º 188,
de 24 de maio de 1869, Morretes foi elevado à categoria de cidade, porém sua
denominação foi alterada para Nhundiaquara, mas, pela Lei Provincial n.º 277, de 07
de abril de 1870, voltou a denominar-se Morretes (CARNEIRO, 2007).
A denominação Morretes é de origem geográfica e refere-se aos pequenos
morros (morretes) que circundam toda a cidade. Este nome é conhecido desde o
tempo de sua primitiva colonização (CARNEIRO, 2007).
De acordo com Marchioro (1999), Morretes historicamente, tem sido ponto
de parada da rota comercial entre o Porto e a cidade de Curitiba. Nos primórdios a
cidade era utilizada por tropeiros para se abastecerem antes de seguir viagem. Após
1830 foram instalados engenhos para beneficiar a erva-mate que vinha do planalto,
em direção ao porto.
66
5.2 OS AGRICULTORES FAMILIARES DO LITORAL PARANAENSE
A característica predominante no meio rural no litoral do Para é que as
famílias de agricultores desenvolvem suas atividades, mesmo sendo diversificadas,
baseadas no trabalho das famílias, sendo que alguns contratam esporadicamente
pessoas externas à família em momentos de picos de trabalho.
Outra característica comum das famílias desta região é a diversidade de
espécies cultivadas/criadas simultaneamente em suas áreas.
O princípio de integração entre produção animal e vegetal, discutido pela
agroecologia não é praticado pela maioria dos agricultores, sendo que poderia ser
mais aprofundada a construção coletiva da proposta entre os agricultores, com o
apoio dos técnicos responsáveis pelas áreas produtivas da região.
Foi possível constatar que a distribuição geográfica da região litorânea,
condiciona, de certa forma, as lógicas de produção dos agricultores, diante das
diferenças culturais existentes entre a população desta região (MARCHIORO, 1999).
5.2.1 Os Agricultores de Morretes
Com relação as características de Morretes, no que diz respeito a
agricultura, Marchioro (1999), destaca:
Exploração familiar mercantil (43,1%): dominância do trabalho familiar;
contrata mão-de-obra; dependência do mercado; usa crédito rural;
valoriza trabalho familiar.
Exploração familiar de subsistência (27,6%): não contrata mão-de-obra;
trabalho familiar é fundamental; não usa crédito; pouca relação com o
mercado; nível de intensificação das explorações é baixa.
Exploração mercantil autônoma (12,1%) citrus, maracujá, acerola,
milho e feijão: presença de mão-de-obra familiar; crédito é importante;
produzir para família é mais importante (cauteloso com o mercado); tem
outras rendas (aposentados, aluguel de imóveis).
Exploração agrícola empresarial (17,2%) olericultura (gengibre),
pecuária (búfalo): a terra é um bem negociável; mão-de-obra contratada;
solo intensivamente cultivado; crédito é fundamental; 100% produção
para o mercado; possuem recursos naturais privilegiados
(MACRCHIORO, 1999).
Os agricultores do município de Morretes/PR, quando comparados com os
agricultores de outras regiões, apresentam um maior grau de envolvimento na
economia de mercado. Utilizando a classificação de Marchioro (2002), eles podem
67
ser tipificados como: “exploração familiar mercantil, pois dependem do mercado
para adquirir grande parte de seus insumos e para vender os seus produtos, sendo
importante o papel da família, em torno da qual se dá a organização do trabalho”.
O modelo de agricultura praticado pelos agricultores os torna dependentes
das culturas desenvolvidas no município, fato que segundo Rosset e Altieri (2002, p.
321-322), “diminui substancialmente o potencial da agricultura sustentável de
enfrentar, com sucesso as causas básicas da crise socioeconômica e ambiental que
atingem a agricultura”.
Outra característica dos agricultores é que algumas das famílias não são
nativas da região, e, provavelmente este é um dos fatores que influenciam na
escolha das culturas cultivadas pelos mesmos.
A maior parte da produção destes agricultores de Morretes, de modo mais
geral, é destinada à comercialização, índice que varia de 80% a 95% segundo os
relatos coletados, e destinados majoritariamente para outras regiões do estado
(principalmente Curitiba), ou exportação, como o caso do gengibre exportado para a
Europa (MARCHIORO, 2002).
Segundo Marchioro (2002), os agricultores relataram que os principais
fatores para desenvolverem um modelo orgânico de produção, se devem a:
a) preocupação com o meio ambiente;
b) preocupação com a sua saúde e de seus familiares;
c) preço mais alto pago pelos produtos orgânicos.
Ainda de acordo com os resultados obtidos pela pesquisa de Marchioro
(2002), interesse de permanência no trabalho com a terra, apesar das
dificuldades enfrentadas pelos agricultores, estes ainda acreditam que a vida no
campo possa ser o futuro de seus filhos.
Considerando que o Censo Agropecuário 2007 está em vias de apresentar
seu resultado final, para o qual as coletas de dados foram realizadas pelo IBGE em
estabelecimentos agropecuários, de 01/01 a 31/12/2006, o quadro 2, apresenta,
como resultado preliminar, alguns dados do município de Morretes-PR (QUADRO 1).
68
Número de
estabelecimentos
agropecuários
689 estabelecimentos Área dos
estabelecimentos
agropecuários
14.113 hectares
Número de
estabelecimentos com
lavouras permanentes
450 estabelecimento Área de lavouras
permanentes
2.350 hectares
Número de
estabelecimentos com
lavouras temporárias
481 estabelecimentos Área de lavouras
temporárias
1.860 hectares
Área de pastagens
naturais
121 estabelecimentos Número de
estabelecimentos com
pastagens naturais
1.853 hectares
Área de Matas e
florestas
459 estabelecimentos Número de
estabelecimentos com
matas e florestas
7.087 hectares
Total de pessoal
ocupado com laço de
parentesco com o
produtor
1351 pessoas Total de pessoal
ocupado sem laço de
parentesco com o
produtor
380 pessoas
QUADRO 1 - CENSO 2007- RESULTADOS PRELIMINARES – MORRETES-PR
FONTE: Censo Agropecuário (2006)
Assim, pode-se considerar que o Censo Agropecuário supre a carência de
informações sobre os aspectos econômicos, sociais e ambientas das atividades
agropecuárias, seja da produção agrícola ou da pecuária brasileira que pode auxiliar
nas pesquisas como forma de constituição de dados quantitativos.
5.3 A LINHA DE PESQUISA: DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL
De acordo com Costabeber; Caporal (2002, p. 2), extrai-se um conceito
oficial de Desenvolvimento Sustentável do Relatório Brundtland elaborado em 1987,
que enfatiza que o crescimento econômico deve estar presente na noção de
sustentabilidade, e assim, para que o desenvolvimento possa ser sustentável deve
estar atrelado ao crescimento econômico, a distribuição da riqueza e a preservação
ambiental. Dessa constatação os autores afirmam que o “desenvolvimento
sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias
necessidades”.
Considerando os autores acima citados, no que se refere a agroecologia, a
sustentabilidade deve ser vista como uma maneira de buscar constantemente novos
pontos de equilíbrio para os possíveis conflitos existentes no contexto concreto.
Diante disso, a sustentabilidade em agroecossistemas é algo relativo que pode ser
69
medido somente no futuro, e por isso mesmo quando se constrói o DRS deve-se
enfatizar a busca de contextos de maior sustentabilidade, apoiados em algumas
dimensões básicas.
No que se refere a agricultura familiar, ainda Costabeber; Caporal (2002, p.
10) apontam três características essenciais que a definem:
a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são
executados por indivíduos que mantêm entre si laços de parentesco ou de
matrimônio; b) a maior parte do trabalho é igualmente proporcionado pelos
membros da família; e c) a propriedade dos meios de produção (embora
nem sempre a terra) pertence à família, e é em seu interior que se efetua
sua transmissão em caso de falecimento ou aposentadoria dos
responsáveis pela unidade produtiva (FAO/INCRA, 1996). A agricultura
familiar é, ao mesmo tempo, unidade de produção, de consumo e de
reprodução e, portanto, funciona mediante uma lógica de produção
combinada de valores de uso e de mercadorias, objetivando sua
reprodução. Obviamente, se trata de uma lógica diferente daquela que
impulsiona a agricultura capitalista (COSTABEBER; CAPORAL, 2002, p.
10).
Para Xavier; Dolores (2001), a agricultura depende dos recursos naturais,
dos processos ecológicos, do desenvolvimento técnico humano e do trabalho. Desta
forma, a sustentabilidade na agroecologia se desenvolve a partir de dois
componentes essenciais: a ambiental e a social. Do que se pode entender que
depende tanto dos recursos físicos quanto dos recursos humanos.
Para o desenvolvimento rural sustentável, a partir da agroecologia, que não
pretende ser hegemônica para todas as comunidades rurais do mundo,
pelo contrário, a sustentabilidade e a estratégia de desenvolvimento rural
devem ser definidas a partir da participação e da identidade
etnoecossistêmica de cada localidade a ser considerada. Tal estratégia,
para tanto, deve “nascer desde dentro”, ou seja, de forma endógena, pelo
fortalecimento dos mecanismos de resistência ao discurso hegemônico da
modernização agrária, tão comum nas zonas rurais.(MOREIRA; CARMO,
2004, p. 41).
Desta forma, segundo os autores, o conceito de desenvolvimento rural deve
estar baseado no descobrimento, sistematização, análise e fortalecimento dos
elementos que possam oferecer resistência local ao processo de modernização
agroecológico, de maneira que possa ser fortalecido pela ação social coletiva.
Apesar do conceito de sustentabilidade estar em alto grau de uso e tão
divulgado na contemporaneidade a utilização do termo desenvolvimento sustentável
na agricultura ainda está um tanto obscuro o seu significado. Porém, o que reflete é
70
que problemas de sustentabilidade da agricultura junto aos assentados da
reforma agrária na região litorânea do Paraná, neste caso, mais precisamente em
Morretes-PR, no Assentamento Nhundiaquara, Gleba Pantanal.
5.4 O ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA
Segundo arquivos da EMATER, Morretes-PR, a constituição e os motivos de
criação do Assentamento Nhundiaquara se deram a partir da desapropriação das
áreas de terra que constituíam a ex- Usina de açúcar de Morretes S/A de
propriedade da Companhia Comercial São Paulo Paraná, terras estas que foram
arrendadas pelos ex-funcionários da Usina e pequenos agricultores da região.
Considerando, que o município de Morretes-PR teve posição de destaque no
comércio, na indústria e no entroncamento rodoferroviário, devido aos dois Portos de
relevância do Sul do País, que funcionavam no passado, e, que acabou por um
esvaziamento econômico, desarticulando assim os planos, programa e projetos
governamentais para o desenvolvimento sócio-econômico de todo o litoral, os
agricultores sem terra do município partiram para a implantação de um Projeto de
Reforma Agrária.
Segundo Borsatto (2007), na década de 40, instalou-se, no Município de
Morretes-PR, a usina de açúcar, cuja Figura 6, apresenta a estrutura centra da
referida usina.
A usina mencionada anteriormente, empregou mais de 1.600 (um mil e
seiscentas) pessoas, porém ao final dos anos 60, este estabelecimento foi fechado.
Posterioremte, a área foi desapropriada e destinada ao Instituto de
Colonização e Reforma Agrária para o Projeto de Assentamento, denominado
Assentamento Nhundiaquara.
Os responsáveis pelo Programa de Assentamento da Reforma Agrária
MDA/INRA, ao estabelecerem o Assentamento Nhundiaquara, subidividiu-o em
cinco glebas, tendo como uma destas glebas a Gleba Pantanal, de acordo com a
área delimitada no mapa elaborado pelo INCRA-PR (ANEXO 2).
71
FIGURA 2 USINA DE AÇÚCAR– ÁREA DESTINADA PARA O PROGRAMA DE REFORMA
AGRÁRIA: ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA – MUNICÍPIO DE MORRETES-PR
FONTE: Borsatto (2007, p. 52)
Assim, conforme informações do INCRA-PR, o projeto de Assentamento
Nhundiaquara, iniciou com a desapropriação através do decreto lei 90.114 de
28/08/84 e teve emissão de posse judicial em outubro de 1985. A área do
assentamento é de 1.274,20 hectares, sendo que a reserva legal é coletiva e possui
249,00 hectares. No inicio foram divididos 77 lotes e assentadas igual número de
famílias. A ocupação dos lotes ocorreu a partir de novembro de 2005. As famílias
foram selecionadas através do cadastro do Movimento de Agricultores Sem Terras
do Litoral - MASTEL (extinto) e outra parte por arrendatários fixados na área,
trabalhadores rurais da ex-proprietária e caseiros de chácaras de lazer. A origem
das famílias inicialmente assentadas era variada, sendo 40% de nativos da região e
o restante nordestinos, paulistas, mineiros e de outras regiões do Paraná, mas que
já residiam na região, não havendo problemas de adaptação.
Os principais problemas iniciais do assentamento foram a presença de gado
da empresa ex-proprietária do imóvel, resistência de arrendatários o beneficiados
em desocupar a área, falta de infra-estrutura (moradia, estradas, energia,
alimentação).
72
A divisão inicial dos lotes obedeceu critério baseado na aptidão dos solos e
de acordo com levantamento do quadro natural foi divididos lotes com média de 8,5
hectares para olericultores e lotes com 16,5 hectares para outras explorações como
fruticultura e pecuária.
Em 1986 iniciou-se o processo de organização dos assentados, com a
fundação da Associação de Assentados do Assentamento Nhundiaquara com
finalidade de representar e prestar serviços aos assentados. Dois anos após, por
discordâncias entre associados, surge uma dissidência e fundam a Associação
Terra Tombada.
Atualmente o Projeto de Assentamento Nhundiaquara conta com 145 lotes e
três associações de assentados, entre elas a Associação Prosperidade da
Comunidade Pantanal.
5.4.1 História da área da Gleba Pantanal
Durante a ocupação do Assentamento Nhundiaquara, ficou a Gleba
Pantanal sem divisão de lotes por apresentar problemas de alagamento e não ter
sido disponibilizado recursos para drenar a área e com isto uma área de 234,53
hectares ficou abandonada. A partir de 2001 iniciou-se uma invasão da área por
famílias principalmente da região metropolitana de Curitiba, com uma ocupação
desordenada. Em 2005, por pressão da constituída Associação Prosperidade,
desta gleba, o INCRA resolveu regularizar a área e assentar estas famílias. Foram
criados 42 lotes que hoje se encontram em fase de estruturação. Conforme Mapa
(Anexo 2).
5.4.2 A Associação Prosperidade da Comunidade Pantanal
Conforme registro em ATA, a constituição da Associação Prosperidade, bem
como a aprovação do Estatuto e a Eleição de seus representantes legais, foi
realizada no dia 14 de dezembro de 2003. A comunidade Pantanal, conjuntamente
com os Diretores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Morretes-PR, aprovaram
por unanimidade a constituição da associação, o estatuto e os representantes
73
inscritos. Houve, previamente, o Edital de convocação elaborado para a apreciação
e análise antecipada do tema em pauta.
A Associação Prosperidade, conforme apresentado na figura 3, tem também
um caráter educativo e cooperativo, pois ao mesmo tempo em que realiza suas
reuniões para socializar informações importantes para os associados assentados
que vão desde a socialização política até algumas práticas relacionadas ao
Programa do Incra, sistematizam documentos que são necessários para alguns
programas como O PRONAF, junto à Emater de Morretes-PR, assim propiciam um
espaço para a elaboração de propostas, as quais são construídas coletivamente.A
Gleba, foco do presente estudo, foi denominada de Pantanal devido ser uma área
sujeita a alagamento. No período em que pertencia a usina de Morretes e o plantio
da cana-de-açúcar era uma das alternativas dessa época, em toda a extensão da
área havia canais de drenagem para viabilizar a prática desta cultura, os quais foram
obstruídos no decorrer do tempo e hoje há a dificuldade de drenagem do solo por
parte dos assentados.
FIGURA 3 - ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES
FONTE: A autora (2008)
5.5 MOMENTOS IMPORTANTES DA PESQUISA DE CAMPO
As reuniões foram marcadas com o Presidente e a Secretária da Associação
Prosperidade, para os quais foi entregue um ofício contendo o teor da pesquisa que
seria realizada.
Assim, os representantes da associação puderam levar o assunto para o
conhecimento da comunidade. Houve um espaço de tempo para que a nova
74
reunião fosse marcada o que permitiu que os envolvidos pudessem discutir o
assunto entre eles.
Tão logo houve o interesse pela própria Associação em pautar o assunto em
assembléia, deu-se início a mais uma nova abordagem que seguiria com um novo
planejamento. Em reunião realizada com a parte interessada, com membros da
comunidade e com o encarregado da EMATER em acompanhar a Gleba, foi
apresentado no coletivo a pesquisa e seu objetivo.
Após a aprovação de todos para que o trabalho fosse realizado, a
participação se deu de forma voluntária em que puderam escolher a data mais viável
para realização das entrevistas. A autorização da pesquisa também aconteceu de
forma conjunta com a EMATER de Paranaguá em que o esclarecimento se deu
entre as partes interessadas.
Momento da apresentação da carta de solicitação para realização da
pesquisa de campo, junto ao pessoal da associação. A interação e o esclarecimento
sobre o trabalho que seria realizado junto a comunidade Pantanal (FIGURA 4).
FIGURA 4 REUNIÃO NA ASSOCIAÇÃO PROSPERIDADE SOLICITAÇÃO PARA
REALIZAÇÃO DA PESQUISA
FONTE: A autora (2008)
A exposição a seguir, apresenta fragmentos das vivências realizadas na
IAPAR e nas propriedades vizinhas de alguns produtores de Morretes-PR (FIGURA
5), em 24 de abril de 2008 que contribui para a análise do ambiente pesquisado.
75
FIGURA 5 – VIVENCIAS: IAPAR E PROPRIEDADES DE PRODUTORES DE MORRETES
FONTE: a autora (2008).
5.6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Como amostragem utilizada foram entrevistadas 11 (onze) famílias num
universo de 42 (quarenta e duas) famílias pertencentes a Gleba Pantanal do
Assentamento Nhundiaquara, do Município de Morretes/PR.
Algumas entrevistas foram feitas individualmente, outras com a presença de
vários integrantes da mesma família. O tempo dispensado para as entrevistas
variaram de acordo com cada entrevistado.
76
5.6.1 Composição Familiar, Educação e Serviços Técnicos
No quadro a seguir (quadro 4), apresenta as 35 pessoas que compõem as
11 famílias pesquisadas, as quais possuem idades variando entre 0 a mais de 60
anos, sendo 16 do sexo feminino e 19 do sexo masculino.
Considerando os membros das famílias e sua faixa etária, podemos
perceber que o índice maior de pessoas compreende as idades entre 36 a 59 anos,
um fator positivo para o desenvolvimento das diversas atividades que permeiam a
vida destas famílias.
Nesta amostragem, cinco pessoas encontram-se com 60 anos ou acima,
porém desempenham um papel importante na comunidade, visto que contribuem
com suas experiências e seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida, o que
supostamente dá sustentação e fortalecimento para os mais jovens (QUADRO 2).
Membros das famílias
pesquisadas
Faixa etária
0 a 7 8 a 14 15 a 18 19 a 35 36 a 59 60 ou mais
1 Feminino 1
Masculino 1 1
2 Feminino 2 1
Masculino 1
3 Feminino 1 1
Masculino 1
4 Feminino 1
Masculino 1
5 Feminino 1
Masculino 1
6 Feminino
Masculino 1 2
7 Feminino
Masculino 1
8 Feminino 1
Masculino 4
9 Feminino 1 1
Masculino 1 1
10 Feminino 1 1 1
Masculino 1
11 Feminino 1 1
Masculino 1 1
QUADRO 2 – FAIXA ETÁRIA E GÊNERO DOS MEMBROS QUE COMPÕEM AS
FAMÍLIAS ENTREVISTAS
FONTE: A autora (2008)
77
Das 35 pessoas que compõem as onze famílias (FIGURA 6), apenas 18
trabalham no lote, dez trabalham fora e sete são crianças fato este que
aparentemente “impede” o desenvolvimento de atividades relacionadas ao trabalho
diante das leis existentes que amparam a criança e o adolescente no que diz
respeito ao trabalho infantil. As dez pessoas que trabalham fora do lote buscam
trazer sustentação para as famílias, seja por serviços de diárias ou outros, enquanto
os demais membros da família procedem com o processo de construção das casas,
fator este que dificulta a produção e as demais atividades de geração de renda.
Além do trabalho, há que se refletir sobre as condições que o meio urbano
proporciona para estes jovens, que podemos relaciona-las à educação, lazer,
transporte, infra-estrutura básica, serviços de comunicação e outros.
FIGURA 6 – LOCAL DE TRABALHO
FONTE: A autora (2008)
A figura 7, representa o local de residência por número de pessoas, assim,
constata-se que a maioria dos pesquisados residem no lote, devendo-se destacar
que os membros das famílias pesquisadas que não moram no lote, trabalham fora,
em outras localidades, por este motivo não residem nos lotes. Esta situação
comprova que os jovens tendem a sair do campo em busca de trabalho em outras
localidades, enfraquecendo assim o desenvolvimento deste assentamento, pois se a
população se constituir somente de crianças e idosos o desenvolvimento é
prejudicado, visto que os jovens possuem mais energia e mais saúde para o
trabalho.
0
7
18
10
0
5
10
15
20
nº de pessoas
não trabalha (invalidez)
não trabalha (outros motivos)
trabalha no lote
trabalha fora do lote
78
Contudo, não como impedir que estes jovens saiam do assentamento,
seja por necessidade de trabalho, de estudo ou até mesmo pela busca de novas
conquistas.
25
10
reside no lote reside fora do lote
FIGURA 7 – LOCAL DE RESIDÊNCIA (Nº DE PESSOAS)
FONTE: A autora (2008)
A maioria dos pesquisados possuem o primeiro grau (ensino fundamental)
incompleto e 20% das pessoas pertencentes às 11 (onze) famílias não ingressaram
no sistema escolar, o que enfatiza a preocupação no campo educacional para esta
população (FIGURA 8).
A agregação de valores novos não substitui a cultura e o saber local que as
pessoas mais enraizadas no processo de agricultura familiar dominam, contudo,
para um desenvolvimento sustentável e faz-se necessário a inserção, principalmente
os jovens e adultos no mundo do conhecimento e da educação, por isso quando se
pensa na organização do trabalho pedagógico visando a educação de jovens e
adultos, deve-se englobar conhecimentos da educação geral, formação inicial e
continuada por meio de metodologias adequadas aos tempos e espaços pertinentes
a realidade desta comunidade.
Podemos atribuir ao resultado abaixo, o diagnóstico inicial para a criação do
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA - em Agroecologia,
para esta região, pois contribuirá para o desenvolvimento das pessoas, para a
permanência dos jovens nos assentamentos, para a multiplicação de conhecimento
entre os adultos e para o fortalecimento dos diversos tipos de atividades praticadas
79
atualmente e para a criação de novas frentes de trabalho e renda, sejam elas
ligadas diretamente a agricultura ou em atividades relacionadas.
Assim, o Setor Litoral da UFPR, pautado nas questões paradigmáticas que
envolvem as preocupações históricas do litoral paranaense, tal qual, as questões
históricas colocadas na obra de Wachowicz, assume uma proposta emancipatória
de forma desafiadora, porém com característica totalmente inclusiva em suas
múltiplas dimensões.
FIGURA 8 – ESCOLARIDADE
FONTE: A autora (2008)
Algumas deficiências que os assentados enfrentam (FIGURA 9), como a
ausência de atendimento médico e veterinário. Contudo destaca-se, nas 11 (onze)
famílias pesquisadas um total de 15 atendimentos, sendo: 7 famílias atendidas pelo
técnico da EMATER, 5 famílias atendidas por sanitaristas e três famílias atendidas
por agrônomos. É importante ressaltar que os atendimentos podem ser um, nenhum
ou mais de um por família.
3
0
0
5
7
0
1
2
3
4
5
6
7
nº de fam ílias por s e r viços
Agrônom o V e te r inário M é dico Sanitaris ta Té cnico Em ate r
FIGURA 9 – ACESSO A SERVIÇOS TÉCNICOS E DE SAÚDE POR FAMÍLIA
FONTE: A autora (2008)
8,57%
54,28%
2,86%
14,29%
0,00%
0,00%
20,00%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
%
grau com
1º grau incom
2º grau com
2º grau incom
superior com
superior incom
não estudada
80
A figura abaixo apresenta o posto de saúde, assim é perceptível relacionar a
proximidade com o referido posto de saúde, o que de certa forma facilita o
atendimento em casos de consulta médica, para casos simples, pois o
assentamento não conta com a presença médica periodicamente.
Entretanto, que se refletir sobre as situações de casos de saúde mais
graves.
Na figura 10 Moradias apresenta-se positivamente, pois a chegada dos
recursos para a construção das casas é muito bem vinda, porém existe uma
contradição: enquanto o Programa da Reforma Agrária solicita produção nos lotes,
também cobra-se a construção das casas.
Assim, o desenvolvimento das atividades dos assentados na construção de
suas moradias dificulta o desenvolvimento das outras atividades que dão
sustentação para alimentação, vestuário e outros.
FIGURA 10 – POSTO DE SAÚDE E MORADIAS: CONSTRUÇÃO DAS CASAS
DOS ASSENTADOS DO NHUNDIAQUARA DA GLEBA PANTANAL-
MORRETES-PR
FONTE: A autora (2008)
81
5.6.2 Atividade dos Entrevistados – A Produção e a Comercialização
Verifica-se que a maioria dos pesquisados se dedicam a atividades de
agricultura, pecuária e artesanato (QUADRO 3). As culturas mais desenvolvidas
pelos pesquisados são: mandioca, banana, pimenta, milho, feijão, hortaliças e outras
frutas. Poucos possuem água encanada e a luz elétrica encontra-se em fase de
instalação.
Assent
Atividade
desenvolvida
Culturas
Infraestrutura
Processamento
Comercialização
1 Agricultura e
pecuária
Mandioca,
pimenta,
maracujá, cana
Água encanada
sim luz 2
vezes por
semana
Geléia, doce de
banana e
conserva de
pimenta
Caminhões do
Ceasa e mercado
de Morretes
2 Agricultura e
pecuária
Mandioca,
quiabo, arroz,
banana, feijão e
milho
sim Melado Curitiba
3 Artesanato Banana,
mandioca,
batata-doce,
cana, hortaliças
Água encanada
e o tem luz
elétrica
Artesanato Morretes e
Paranaguá
4 Agricultura Maracujá,
mandioca e
banana
Não Sucos
engarrafados
Banca e feira
livre em Morretes
5 Agricultura e
pecuária
Acerola e maçã Água de poço e
sem luz elétrica
Mel e queijo Cooperativa e no
próprio lote
6 Agricultura Aipim, banana,
abóbora,
maracujá
Luz elétrica e
água de poço
Sucos Vende para
repossadores
7 Pecuária de leite
e agricultura
Maracujá Sim Não Cooperativa Agro
Pec. Mata
Atlântica
8 Pecuária de leite
Feijão, mandioca
Sim Não Comata
9 Agricultura Arroz, batata-
doce, palmito,
mandioca, milho,
pepino,feijão,
banana,
mimosa, fruta do
conde, mamão
Sim Não -
10 Agricultura Banana,
mandioca, milho,
pimenta
Sim Conserva de
pimenta e doce
de banana
Próprio lote
11 Agricultura e
pecuária
Banana, milho,
mandioca,
pimenta,
maracujá
Não Não -
QUADRO 3 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO E SUAS FINALIDADES
FONTE: A autora (2008)
82
Abaixo a exposição da produção existente no assentamento, as quais
demonstram a produção agrícola nos lotes das famílias entrevistadas, que são:
mandioca, maracujá, milho, arroz, banana, etc (FIGURA 11).
FIGURA 11 – PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS FAMÍLIAS ENTREVISTADAS NO
ASSENTAMENTO NUNDIAQUARA – GELBA PANTANAL –
MORRETES-PR
FONTE: A autora (2008)
83
A piscicultura, conforme apresentado (FIGURA 12), vem como uma
alternativa a mais para a geração de renda, traz consigo um novo hábito de
alimentação, que é o peixe de água doce (carpa e tilápia), principalmente por ser
uma região litorânea.
Percebe-se, portanto, a existência da pluriatividade no desenvolvimento das
atividades pelas famílias entrevistas deste assentamento, cujo caráter inicial é para
suprir suas necessidades básicas, porém se bem explorado, poderá caminhar para
novas oportunidades de geração de trabalho e renda.
As demais famílias desta Gleba também desenvolvem atividades como esta.
FIGURA 12 – PISCICULTURA – ALTERNATIVA DE ALGUMAS FAMÍLIAS
PESQUISADAS NA GLEBRA PANTANAL - ASSENTAMENTO
NHUNDIAQUARA – MORRETES-PR
FONTE: A autora (2008)
Fortalecer o desenvolvimento de várias atividades na unidade familiar
possibilita a diminuição dos riscos e o melhor aproveitamento da capacidade
produtiva dos lotes, além de gerar um fluxo mais regular de renda da família.
Por isso, a criação das cooperativas é de fundamental importância para a
comercialização da produção familiar, devido ao seu caráter não-industrial. Os
produtores rurais também se beneficiam com a venda direta de seus produtos em
suas propriedades, evitando a ão dos atravessadores e intermediadores. Os
sindicatos locais de trabalhadores rurais incentivam a criação dessas cooperativas.
84
Outra maneira de comercialização é através da criação de eventos
socioculturais que divulgam e valorizam a produção local.
A produção artesanal se concentra na produção de cestarias, de doces, de
compotas, de farinha, de mel, arroz integral, os quais são comercializados em
Morretes, Curitiba, regiões próximas e na própria propriedade. Conforme
apresentado na (FIGURA 13)
FIGURA 13 PRODUÇÃO ARTESANAL DE ALGUMAS DAS FAMÍLIAS
ENTREVISTADAS NA GLEBRA PANTANAL DO ASSENTAMENTO
NHUNDIAQUARA EM MORRETES-PR
FONTE: A autora (2008)
5.6.3 Visão Empreendedora e as Ações Cooperativistas
As ações cooperativistas nos assentamentos podem ser consideradas em
sua total abrangência, as quais podem ser entendidas como um dos princípios da
educação que pode advir das discussões sobre os limites e possibilidades das
formas associativistas e cooperativistas relacionadas ao aprendizado do cotidiano, a
chamara educação não-formal.
85
A iniciativa e/ou necessidade da constituição de uma associação tem seu
viés empreendedor. Entretanto, o empreendedor se identifica por meio de ações e
atitudes comportamentais acerca das oportunidades e necessidade, principalmente
aos que necessitam sobreviver no mercado informal.
O mercado informal se aproxima a realidade da comunidade do Pantanal,
por conseguinte suas ações o condizentes com ações cooperativistas o que
remete a compreender suas reflexões sob empreendedorismo, no que diz respeito a
visão empreeendedora, no meio em que vivem e se relacionam.
O quadro 4, demonstra as expectativas empreendedoras e cooperativismo
dos pesquisados diante dos desafios e possibilidades existentes.
Assentado
Pretende
investir
no lote
Perspectivas
da atividade
agrícola
Utilização
dos recursos
naturais
agroindustrialização
dos produtos
Associativismo
e
cooperativismo
Perspectivas
futuras
1 Sim Produção
orgânica
para melhoria
da
remuneração
e da
qualidade de
vida
Coerentemente
pois mantem
as APPs e
RLs
Como forma de
aumentar a
agregação de valor
ao produto
Conhece
associativismo,
sendo
participante da
estrutura e
organização
Formar os
filhos e
encaminhá-
los nos
estudos e
trabalho
(não os
filhos
trabalhando
na lavoura)
2 Sim Contribuição
para a
educação
das pessoas
e
desenvolver
o artesanato
Uso
consciente da
água
Somente avalia a
perspectiva diante
de grandes
extensões de terra
Tentou reunir os
vizinhos para
trabalhar em
associação. Não
deu certo por
isso acredita
que é difícil
Investir na
criação de
carneiros e
na
agrofloresta
na
montanha
3 Sim Drenar o
banhado
para fazer
horta e
plantar arroz
Uso
consciente da
água de
nascente e
do tanque de
peixes
Não sabe Tem
conhecimentos
de
associativismo
(na igreja)
Investir no
plantio de
arroz e na
piscicultura
4 Sim Acredita na
agricultura
Uso
consciente da
água
Boa forma de
agregar valor aos
produtos da terra
Não conhece Investir no
lote numa
roça de
pupunha
5 Sim É uma
atividade
difícil mais
com
perspectivas
futuras
Uso
consciente da
água,
tanques de
peixes e
pastagem
para os
animais
Beneficia o leite
porque acredita
que agrega mais
valor ao produto
Conhece o
cooperativismo
Resolver a
situação do
lote com o
INCRA e
investir na
criação de
abelhas,
fazer a casa
e esperar a
chegada da
luz elétrica
86
CONTINUAÇÃO
Assentado
Pretende
investir
no lote
Perspectivas
da atividade
agrícola
Utilização
dos recursos
naturais
agroindustrialização
dos produtos
Associativismo
e
cooperativismo
Perspectivas
futuras
6 Sim Continuação
da atividade
agrícola
(maracujá,
banana,
pepino e
vagem)
Uso
consciente da
água (poço)
Fez cursos para
fazer alguns
produtos como,
detergente,
xaropes, conserva
e pomadas
Não conhece
bem mas,
acredita que se
todos se
agruparem será
mais fácil
Investir
numa
farinheira
nova e
preparar os
filhos para
assumirem
as terras
7 Sim Muita boa
para os
outros
- É necessário para
aumentar a
qualidade e como
forma de trabalho e
de mais renda
Dentro do
possível assiste
palestras,
seminários,
Aumentar a
área do lote
e construir
uma casa
boa e
investir na
criação de
animais de
qualidade
8 Sim Acredita que
se investir o
retorno é
bom
Uso
consciente da
água e das
matas
Pode aumentar o
valor da produção
do lote
Não conhece
bem
Investir na
melhoria da
produção do
lote
9 Sim Precisa de
mais
investimento
para dar mais
lucro
Uso
consciente da
água
Agrega valor ao
que se produz nas
terras
Conhece o
cooperativismo
pois já trabalhou
desta forma
Aumentar a
participação
dos
produtores
nas
cooperativas
10 Não Não tem
futuro
- É melhor para
vender os produtos
(mais rentável)
Não conhece Continuar
vivendo da
terra
11 Sim Aumentar os
investimentos
e assim
aumenta a
quantidade e
qualidade da
produção
Uso
consciente da
água e dos
produtos
nativos
Aumenta o valor
final da produção
Conhece os dois
e acredita que
podem ajudar
no
desenvolvimento
da agricultura
familiar
Investir na
terra,
ampliar o
viveiro e a
produção
QUADRO 4 – EXPECTATIVAS EMPREENDEDORAS E COOPERATIVISMO
FONTE: A autora (2008)
Utilizando a técnica de análise que procura descrever as Dificuldades,
Ameaças, Fortalezas e Oportunidades (DAFO), no cenário pesquisado, procurou-se
evidenciar as possibilidades futuras da comunidade diante das possibilidades
empreendedoras e ações educativas, as quais foram possíveis destacar durantes as
entrevistas, conforme apresentado (QUADRO 5):
87
D
IFICULDADES (PONTOS FRACOS)
A
MEAÇAS
(D1) Apresentam angústias e descrenças com o
futuro e com a realidade local
(A1)Demonstram desinteresse político
(D2) Ausência de condições para a sustentabilidade
(A2)Morosidade na chegada dos recursos do
MDA
(D3)População apresenta falta de e
ducação sanitária
e ambiental
(A3)Falta de metodologia aplicável à drenagem
do solo
(D4)Deficiências no cuidado às crianças: educação,
vacinação, nutrição
(A4)Falta de coleta de lixo
(A5)Falta de redes de água e de esgoto
(A6)Falta de iluminação pública
(A7)Necessidade de melhoria nas vias de
(A8)acesso
(A9)Falta de transporte coletivo
(A10)Necessidade de desenvolvimento de
técnicas de proteção ao solo e manejo
F
ORTALEZAS (PONTOS FORTES)
O
PORTUNIDADES
(F1)Desenvolvimento do artesanato local (O1)Melhorar as condições
da capacidade
produtiva local
(F2)Região turística com foco na gastronomia (O2)Melhoria da geração de renda através
de
cooperativas
(F3)Produção frutífera em grande escala
(O3)Desenvolvimento da articulação de
políticas públicas
(F4)Beneficiamento e processamento de produtos
(O4)Estimular o fomento às iniciativas
empreendedoras (capacitação, apoio)
(F5)Produção artes
anal de farinha, doces, geléias,
vinhos, balas com conseqüente aumento no valor
agregado do produto e aumento da renda familiar
(F6)Existência de associação como arranjo
institucional
(F7)Presença de desenvolvimento diversificado
(F8)Presença de desenvolvimento da piscicultura
(F9)A não utilização de agrotóxicos pela comunidade
(F10)A comunidade conta com apoio da Emater
(F11)Produção de leite com venda direta
(F12)Proximidade com a cidade
QUADRO 5 – ANÁLISE DAFO - ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO
FONTE: A autora (2008)
A figura 14, apresenta os dados positivos e negativos como forma de
desenvolver, explorar, ultrapassar e minimizar as questões para a promoção do
desenvolvimento da comunidade. Baseada na técnica de análise DAFO, os fatores
externos e internos não são controláveis, contudo contribuir, positivamente ou
negativamente, para se alcançar os objetivos.
88
FIGURA 14 – ANÁLISE DAFO
Fonte: A autora (2008)
Sabendo que o Pronaf é o um órgão de financiamento rural, faz-se
necessário que a comunidade seja assistida pela EMATER e/ou o responsável direto
do Pronaf para instruí-los com as informações necessárias para utilização de
recurso, tais como o preenchimento do cadastro necessário para os agricultoras
familiares junto ao banco.
Também é necessário que as famílias discutam e troquem idéias
conjuntamente com o Técnico da Emater a respeito do tamanho da terra, das
pessoas que irão trabalhar na terra, os recursos relativos às despesas, o pagamento
do financiamento do Pronaf e o possível “lucro” das famílias. Com isto é possível
explorar a capacidade produtiva da família assentada e dar início às iniciativas
empreendedoras.
INTERNO
EXTERNO
P
O
S
I
T
I
V
O
N
E
G
A
T
I
V
O
FORÇAS
DIFICULDADE
S
OPORTUNIDADES
AM EAÇAS
DESENVOLVER
ULTRAPASSAR
EXPLORAR
MINIMIZAR
-
A
rtesanato
local
- Beneficiamento e
processamento de produtos
- Associativismo e
cooperativismo
-
A
ngústias
e descrenças com o
futuro e com a realidade local
- Falta de educação saniria e
ambiental
- Ausência de condições
efetivas para a sustentabilidade
-
C
apacidade
produtiva
local
- Melhoria da geração de
renda através de
cooperativas
- Fomento às iniciativas
empreendedoras
(capacitação, apoio)
-
F
alta
de infraestrutura
d
e
água, esgoto, luz e
transporte
- Morosidade na chegada
dos recursos do MDA
89
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES
No decorrer de todas as fases da pesquisa, foi possível observar, perceber,
chegar a algumas considerações e proposições, as quais estão fundamentadas nas
análises das entrevistas semi-estruturadas, aplicadas junto às famílias, e no
embasamento teórico fundamentado diante dos temas propostos no decorrer da
dissertação.
É importante ressaltar que as demais famílias deste assentamento possam
encontrar-se nas mesmas situações ou parecidas, visto que o percentual da
amostragem contemplou as diferentes situações e realidades em um determinado
espaço rural.
Considerando as 11 (onze) famílias pesquisadas, no espaço delimitado para
o presente estudo, o Assentamento Nhundiaquara Gleba Pantanal, o qual
constituí-se por 42 famílias assentadas, percebe-se que o desenvolvimento das
tarefas e atividades são exercidas pela própria família.
O uso exclusivo do trabalho familiar é permeado de atos de solidariedade e
cooperação, pois a troca de dias de trabalho entre os vizinhos é uma prática comum
para as famílias que não têm filhos em idade de desenvolver atividades mais
pesadas.
Foi possível observar, no comportamento dos assentados, que há muita
expectativa com relação ao Programa do INCRA, porém ainda falta mais
credibilidade, pois não vêem a concretização de forma expressiva nas ações mais
simples, por exemplo, melhorar as vias de acesso, internas ao próprio
assentamento, para facilitar a entrada nos próprios lotes. Diante de fatores como
este, as famílias pesquisadas apresentam angústias e descrenças com a realidade
local.
O estudo de campo possibilitou perceber a organização dos assentados, a
qual se configura pela existência da associação, porém ainda no que diz respeito às
produções coletivas, que se desenvolver e aprofundar temas como o
associativismo e o cooperativismo com foco na melhoria de geração de renda. A
organização interna, realizada através da associação Prosperidade, pode assumir a
iniciativa para o investimento do cooperativismo.
90
Diante das principais atividades desenvolvidas pelas famílias entrevistadas,
o cultivo, a piscicultura, a criação de pequenos rebanhos, a produção frutífera e o
beneficiamento e o processamento de produtos, a venda direta da produção de leite,
possibilitou traçar uma abordagem em torno da agricultura familiar e da
pluriatividade. Também existe uma diversificação no que diz respeito às fontes de
renda destes assentados comprovado pela produção artesanal de farinha, doces,
vinhos, entre outros.
Suas produções destinam-se ao consumo e ao mercado, porém, ambas, em
pequena escala, conforme destacado nos resultados, o que contribui para melhorar
as condições da capacidade produtiva local e estimula o fomento às iniciativas
empreendedoras.
Um fator relevante e altamente promissor é a proximidade entre a cidade e a
comunidade, fator este que contribui positivamente para a comercialização de seus
produtos, principalmente por Morretes ser uma cidade turística em que a
gastronomia é um atrativo constante na região, conforme itens apresentados na
discussão dos resultados.
Nos relatos da maioria dos entrevistados, apresentou-se uma carência
bastante considerável relativa à infra-estrutura, apesar de demonstrarem
consciência da necessidade de utilização racional dos recursos naturais.
Caracteriza-se assim, a falta de educação sanitária e ambiental, falta de coleta de
lixo, falta de redes de água e esgoto, falta de iluminação pública, necessidade de
melhoria nas vias de acesso e necessidade de desenvolvimento de técnicas de
proteção ao solo e manejo, justificados pela ausência de Políticas Públicas para esta
comunidade.
No entanto, o diagnóstico apresentado da situação escolar da comunidade
pesquisada, propicia a uma investigação para verificar a possibilidade de
implementação do PROEJA em Agroecologia, ficando como proposição do presente
estudo, como o acesso viável à educação, para os assentados do Nhundiaquara,
esta modalidade de ensino.
A introdução de práticas sociais é uma alternativa que pode contribuir para a
estimulação de novos valores e hábitos e para a articulação do desenvolvimento de
políticas públicas.
91
A perspectiva em manter atividades de agricultura é grande, porém sendo a
área passível de inundações ocasionadas pelas chuvas. Como proposta, há a que
se rever o motivo da desativação do sistema de drenagem antes da desapropriação
da área, a qual foi destinada ao Programa de Reforma Agrária. Após, solicitar junto
aos responsáveis pelo programa a viabilização da drenagem do solo, para, o
possível plantio de arroz, considerando as questões ambientais que poderão advir
neste processo.
Percebe-se também, a necessidade de investimentos para aumentar a
quantidade e qualidade da produção destas famílias, as quais acreditam na
produção orgânica como forma de aumento da renda e qualidade de vida, e que
este tipo de produção poderá aumentar a capacidade produtiva local.
A agroindustrialização dos produtos também é bem vinda como proposta
para geração de trabalho e renda; pois agrega valor à produção final e valoriza a
comunidade, apesar da área ser pequena.
A EMATER subsidiou alguns cursos de produção artesanal, como compotas
e outros, e esta é a visão que alguns têm sobre industrialização de produtos,
constatado através dos relatos e de certificados pertencentes às famílias
pesquisadas.
necessidade de um trabalho de formação contínua que envolva e
incentive a comunidade a conhecer melhor seu agrossistema com objetivo de
valorizar o assentado na perspectiva de que tenham mais iniciativas e liberem suas
criatividades a partir de experiências em seu próprio lote.
É preciso ressaltar que o que se busca é despertar o entusiasmo para o
desenvolvimento de atividades empreendedoras que possam levar ao
desenvolvimento sustentável por meio de produtos que agreguem valor às
atividades rurais – tão necessárias para o sustento das áreas urbanas.
As perspectivas futuras vão desde criação e formação dos filhos, até a
criação de uma agrofloresta. Seus sonhos e anseios visualizam que ainda se têm
muita perseverança e persistência em permanecer no assentamento, pois quando
dizem que querem investir na criação de carneiros, no plantio de arroz, na
piscicultura, em roças de pupunha, numa farinheira nova, na ampliação de viveiro e
poder preparar melhor os filhos para assumir a terra, caracteriza que suas relações
92
com a terra são muito fortes e que o espírito de luta pela conquista da terra tem um
grau elevado de comprometimento com ela.
As famílias entrevistadas, demonstraram um determinado carinho pelas
atividades que desenvolvem e em seus relatos percebe-se um conhecimento
passado por gerações e gerações. Este é o valor que não está agregado ao produto
final, o valor do trabalho humanizado, do trabalho pelo conhecimento gerado através
da experiência e que tem o seu valor.
Apesar de não terem um retorno financeiro viável, ou mesmo representativo
pelo tempo e esforço despendido, as famílias não desistem e alimentam seus
sonhos diante daquilo que conhecem e que sabem fazer com naturalidade e
simplicidade.
Seus desgastes físicos são recompensados pelo prazer da realização de
uma atividade que tem um valor maior que o financeiro, o valor do conhecimento
repassado pelos seus familiares. Esta é a identidade que estas pessoas cultivam
que apesar de muitos não terem a identidade com a região ou mesmo com a terra
em que tiveram o direito de posse, constituem-se como famílias que possuem a
identidade do valor humano que está centrado na transferência de saberes entre os
familiares e até mesmo entre a própria comunidade.
O Planejamento faz parte desta discussão e pode desenvolver o
associativismo e até mesmo o cooperativismo, assim, a melhoria da geração de
renda pode ser melhor explorada, utilizando-se positivamente das Forças e
Oportunidades da comunidade.
A possibilidade de se obter crédito para as famílias assentadas nos lotes de
reforma agrária pode viabilizar também as criações de animais, o investimento para
a modernização e adequação das propriedades e o beneficiamento da produção.
No entanto, para a inclusão social, estas famílias necessitam de ações de
políticas públicas eficazes e coerentes com a realidade em que a comunidade está
inserida, considerando suas oportunidades e limites, objetivando o desenvolvimento
sustentável.
Assim, conclui-se que os objetivos da pesquisa, ora apresentada, foram
atendidos, entretanto, é prudente enfatizar que a dissertação não apresenta toda a
emoção que estas famílias repassaram no decorrer das entrevistas e das vivências,
a qual está no espaço existente entre o ver e o sentir.
93
REFERÊNCIAS
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pedagógicas institucionais. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE
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100
ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
Eu, __________________________________, abaixo assinado, autorizo a
inclusão das informações por mim fornecidas junto à pesquisa sobre
“ESPAÇO AGRÁRIO E SUAS POSSIBILIDADES EMPREENDEDORAS: O
Assentamento Nhundiaquara no Litoral Paranaense”, estando ciente de que
os dados serão analisados e publicados e que, de acordo com a legislação
específica sobre Ética em pesquisa, deverá ser resguardado o meu
anonimato enquanto parte da amostra pesquisada.
Pelo exposto, firmo o presente.
______, ____ de _______________ de 2008.
___________________________
RG:
CPF:
Telefone de contato:
101
ANEXO 2 MAPA DO ASSENTAMENTO NHUNDIAQUARA
GLEBA
PANTANAL
102
ANEXO 3 ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO PROSPERIDADE DA COMUNIDADE
PANTANAL NO MUNICÍPIO DE MORRETES – ESTADO DO PARA
CAPÍTULO I
SEÇÃO I
DAS PRERROGATIVAS E CONSTITUIÇÃO
Art. - A Associação dos Produtores Rurais da Comunidade Pantanal, entidade de
primeiro grau sem fins lucrativos, com sede e fórum na Comarca de Morretes,
constituída para fins de coordenação, proteção, defesa e representação da
categoria, assim compreendidos os que exerçam atividades rurais, bem como
pequenos proprietários, arrendatários, posseiros, que trabalham em regime de
economia familiar.
SEÇÃO II
DAS CONDIÇÕES PARA FUNCIONAMENTO
Art. 2º - São condições para funcionamento desta associação;
a) consciência dos deveres e direitos;
b) acatamento das leis deste estatuto;
c) consciência dos direitos políticos.
CAPÍTULO II
DAS QUESTÕES ADMINISTRATIVAS
DA ADMINISTRAÇÃO
Art. 3º - Esta associação é administrada pela diretoria executiva.
Art. 4º - As contas em bancos são em conjunto, sendo a assinatura de cheques pelo
Presidente e tesoureiro ou Presidente e Secretário.
Art. 5º - Nenhuma iniciativa de decisão terá valor sem assinatura do Presidente.
SEÇÃO III
DOS SERVIÇOS PRESTADOS POR DIRETORES
Art. - Nenhum Diretor pode ser remunerado pela associação, poderá ser pago
despesas; através de notas ou recibos à serviços prestados à associação.
SEÇÃO IV
DAS CONTRIBUIÇÕES DOS ASSOCIADOS
Art. - O pagamento das contribuições sociais serão mensais, sendo pagas todos
os meses. Valor a ser aprovado em assembléia e lavrado em ata.
103
SEÇÃO V
DA FISCALIZAÇÃO
Art. - A fiscalização da associação referente a contabilidade será efetuada pelo
conselho fiscal.
Art. - Os boletins caixa, as prestações de contas, as previsões orçamentárias e
outros documentos inerentes à contabilidade, serão assinados pelo Presidente,
Secretário e Tesoureiro com aval do Conselho Fiscal.
CAPÍTULOIII
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS DOS DIREITOS E
DEVERES
Art. 1 - Todo indivíduo que provar enquadramento como produtor rural, poderá ser
admitido nesta associação, como sócio autêntico desde que possua idoneidade
moral e será conveniente.
Art. 11º - Perderão a condição de sócio autêntico, os que deixarem o exercício da
categoria, exceto nos casos de aposentadoria ou convocação para o serviço militar.
SEÇÃO VI
DAS PENALIDADES E FALTA GRAVE
Art. 1 - As penalidades serão determinadas e executadas pela diretoria executiva
aos sócios que a praticarem.
Art. 13º - Membros da Diretoria Geral poderão ser punidos pela própria Diretoria.
Podendo qualquer das partes recorrer ao Poder Judiciário se julgar conveniente.
Art. 14º - Constitui falta grave:
a) O não cumprimento deste Estatuto;
b) Desobediência à hierarquia administrativa;
c) Atraso da contribuição social por 90 (noventa) dias;
d) O não comparecimento nas Assembléias sem justificação;
e) Falatórios caluniosos referente à Diretoria;
f) Traição, infidelidade e desonestidade;
g) Causar prejuízo financeiro à Associação.
104
CAPÍTULO IV
DA COMPETÊNCIA DOS DIRETORES
Art. 15º - Compete ao Presidente:
a) Convocar e presidir reuniões em assembléias;
b) Representar em juízo ou fora dele;
c) Determinar, sancionar ou vetar;
d) Delegar poderes à Diretores e a sócios;
e) Administrar e coordenar os trabalhos do Secretário e Tesoureiro.
Art. 16º - Compete ao Secretário:
a) Elaborar os trabalhos burocráticos da Associação;
b) Guardar o material inerente à secretaria;
c) Expor o material sempre que for necessário.
Art. 17 º - Compete ao Tesoureiro:
a) Elaborar a contabilidade da Associação;
b) Guardar o material inerente à tesouraria;
c) Expor sempre que for necessário, assinar cheques em conjunto com o
Presidente.
CAPÍTULO V
DAS ASSEMBLÉIAS GERAIS, SOBERANIA E QUORUM
Art. 18 º - As Assembléias Gerais são soberanas nas deliberações das questões
apresentadas pela Diretoria Executiva.
Art. 19 º - As Assembléias são soberanas nas deliberações de reformulação do
Estatuto, destinação do patrimônio, em caso de dissolução ou extinção desta
Associação observando as leis vigentes no País.
Art. 20 º - As Assembléias Gerais são realizadas em primeira convocação com
qualquer número de associados presentes, quites com suas contribuições sociais.
Art. 21 º - As Assembléias Gerais Ordinárias são duas: uma em dezembro para
previsão orçamentária e outra em junho para prestação de contas.
Art. 22 º - As Assembléias Gerais Ordinárias e Extraordinárias, serão convocadas
formalmente com 10(dez) dias de antecipação da data da realização, quando não se
trata de Assembléia para eleição de renovação de mandato.
Art. 23 º - As Assembléias por requerimento terão que ser requeridas oficialmente
por comissão de 05(cinco) pessoas que estejam em dia com suas contribuições
sociais.
Art. 24 º - As Assembléias por requerimento terão que contar com 50%(cinqüenta
por cento) + 1(mais um) dos associados em condições de votar e será realizada em
primeira convocação com despesas de viabilização pagas pelos requerentes.
105
CAPÍTULO VI
DAS ELEIÇÕES E DAS CHAPAS
SEÇÃO VII
Art. 25 º - As chapas serão montadas com 03(três) quadros de Diretores com
respectivos suplentes, Executivos e suplentes, Conselho Fiscal e suplentes.
Art. 26 º - As chapas serão o seguinte:
1 º quadro: Presidente, Secretário e Tesoureiro;
2 º quadro: 1º, 2º e 3º conselho fiscal e 03(três) suplentes.
Art. 27 º - A Diretoria desta Associação será eleita e tomaposse conforme ordem
e contagem da maioria dos votos e assumirá no mesmo dia.
DAS ELEIÇÕES
Art. 28 º - O mandato da Diretoria é de 02(dois) anos, podendo ser reeleito por mais
um mandato de 02(dois) anos.
Art. 29 º - As eleições para renovação de mandato serão convocadas por edital de
convocação publicado com 30(trinta) dias de antecedência do término da gestão em
exercício.
Art. 30 º - O prazo para registro de chapas é de 10(dez) dias a contar da data de
publicação do edital de convocação, vencido o prazo o Presidente determinará a
lavratura da ata de encerramento de prazo.
Art. 31 º - As eleições poderão ser realizadas por assinatura em folha de votação,
quando ser tratar de chapa única. Se houver mais de uma chapa será por escrutino
secreto.
Art. 32 º - A documentação exigida para candidatura será informada em data prévia
às eleições pela Diretoria Executiva vigente, o Presidente determinará as questões
relativas ao pleito.
Art. 33 º - O pedido de registro de chapa será feito oficialmente ao Presidente em
exercício, se houver irregularidade, o registro pode ser indeferido.
Art. 34 º - Não pode ser eleitor, nem permanecer no exercício de cargos na
Diretoria, os que houver lesado o patrimônio da Associação e os que tenham sido
punidos.
Art. 35 º - Será eleita a chapa que obter 50%(cinqüenta por cento) + 1(mais um) dos
votos apurados.
Art. 36 º - Havendo obstrução total o Presidente constituirá uma junta governativa
que convocará novas eleições no prazo de 06(seis) meses.
106
Art. 37 º - Só podem permanecer no recinto de votação os candidatos, os elementos
nomeados pelo Presidente em exercício e os eleitores identificados pela lista de
votantes.
Art. 38 º - Qualquer recurso inerente ao processo eleitoral referente a direitos
violados, será dado entrada no poder judiciário por advogado devidamente habilitado
no prazo de 10(dez) dias a contar da data das eleições.
Art. 39 º - A Diretoria anterior terá um prazo de 30(trinta) dias para acerto de conta
com a Diretoria eleita.
CAPÍTULO VII
DA CONCLUSÃO E APROVAÇÃO
Art. 40 º - Os processos judiciários relativos à diretoria e a administração serão
pagos pela associação inclusive os honorários de advogados.
Art. 41 º - As eventuais omissões deste Estatuto serão dirimidas pela Diretoria ou
em Assembléia Geral.
Art. 42 º - As questões de empate de votos nas reuniões de diretores serão
decididas através de voto minerva do Presidente em exercício.
Art. 43 º - A reformulação deste Estatuto não invalida as resoluções e
determinações tomadas pela diretoria com base no Estatuto anterior.
Art. 44 º - Este Estatuto entrará em vigor a partir da data da aprovação da
Assembléia Geral, e pode ser reformulado no todo ou em parte, quando necessário.
Art. 45 º - A revisão do aspecto jurídico deste Estatuto pode ser analisado por
advogado que assina o mesmo juntamente com a Diretoria Executiva.
Morretes, 14 de dezembro de 2003.
107
ANEXO 4 – PORTARIA CONJUNTA MDA E INCRA
PORTARIA CONJUNTA MDA INCRA n.º 14, DE 16 DE AGOSTO DE 2002
OS SECRETÁRIOS DE AGRICULTURA FAMILIAR E DE REFORMA AGRÁRIA DO
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, E O PRESIDENTE DO
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA, no
uso de suas respectivas atribuições legais,
Considerando a autorização ministerial contida no art. 12, inciso II, da Portaria MDA
154, de 2 de agosto de 2002, publicada no Diário Oficial da União do dia 5 dos
mesmos mês e ano; e
Considerando os termos da Resolução 3.001, de 24 de julho de 2002, do
Conselho Monetário Nacional - CMN, consolidada no Capítulo 10 do Manual de
Crédito Rural - MCR.10, que dispõe sobre alterações no regulamento e nas
condições estabelecidas para as operações de crédito de custeio e investimento no
âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf,
resolvem:
Art. Estabelecer que cabe ao Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural
Sustentável - CEDRS, ou instituição equivalente, a partir de estudo e proposta da
sua Câmara Técnica de Crédito Rural, definir os Projetos de Assentamento do
INCRA - ou Projetos Estaduais e Municipais de Assentamento por este reconhecidos
-, e as famílias beneficiárias dos Programas Banco da Terra, Cédula da Terra,
Projeto de Crédito Fundiário e Combate à Pobreza Rural, que devem receber os
financiamentos do Grupo "A" do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar - Pronaf.
Art. O CEDRS, ou instituição equivalente, efetivará o que determina o art. 1º,
observando os seguintes fatores e critérios:
I - o volume de recursos disponibilizados e informados pela Secretaria da Agricultura
Familiar - SAF, e pelo INCRA, é suficiente para atender, no período determinado, a
todos os potenciais mutuários dos financiamentos do Grupo "A" do Pronaf que se
pretende beneficiar;
II - os beneficiários potenciais atendem as diretrizes nacionais e estaduais da política
agrária e de reordenamento fundiário;
III - existe e é conhecido e reconhecido pelos beneficiários o estudo básico de
viabilidade agro-edafo-climática;
IV - o serviço de assistência técnica e extensão rural tem capacidade operacional e
qualidade suficiente para garantir o desenvolvimento sustentado dos
empreendimentos familiares, e a correta aplicação dos financiamentos;
V - os beneficiários potenciais residem e trabalham na propriedade;
VI - a concessão do crédito é oportuna;
VII - os beneficiários têm relação efetiva e positiva com o mercado de insumos,
serviços e produtos, e com os que adquirem a produção;
VIII - os beneficiários dos Programas Banco da Terra, dula da Terra, Projeto de
Crédito Fundiário e Combate à Pobreza Rural, com financiamento já contratado para
aquisição da terra e da infra-estrutura básica, e devidamente instalados no imóvel
financiado, poderão ser definidos como possíveis mutuários do crédito produtivo do
Grupo "A" do Pronaf.
§ A Câmara Técnica de Crédito Rural, ou instituição equivalente, deve definir
Relação dos Projetos de Assentamento e dos programas de crédito fundiário
prioritários para a elaboração dos projetos técnicos de crédito rural com vistas ao
108
Grupo A do Pronaf, e submetê-la à aprovação do CEDRS, ou de instituição
equivalente.
§ 2° Aprovada a Relação, o CEDRS, ou instituição equivalente, deve encaminhá-la à
instituição de assistência técnica, autorizando a elaboração dos projetos técnicos de
crédito rural, e também ao agente financeiro, autorizando o recebimento, análise e
contratação dos projetos técnicos de crédito rural.
§ 3° As informações necessárias à determinação dos Projetos de Assentamento que
devem ser priorizados pelos projetos técnicos de crédito rural serão fornecidas pela
Superintendência Regional do INCRA ou pelo Órgão Estadual de Terras, nos casos
de Projetos Estaduais reconhecidos pelo INCRA.
§ Para os beneficiários dos programas de reordenação fundiária, as informações
devem ser fornecidas pela Agência do Banco da Terra e Unidade Técnica Estadual
do Projeto de Crédito Fundiário e Combate à Pobreza Rural.
Art. O CEDRS ou instituição equivalente, em ação conjunta com o Secretário
Executivo Estadual do Pronaf, encaminhará ao Secretário de Agricultura Familiar,
mediante ofício, até o dia 10 (dez) de dezembro de cada ano, a demanda qualificada
de recursos que serão destinados aos financiamentos do Grupo "A" do Pronaf, com
o respectivo cronograma mensal de aplicação para o exercício fiscal seguinte.
§ Demanda qualificada de recursos é aquela em que os potenciais beneficiários
dos financiamentos cumprem os critérios estabelecidos no art. 2º, incisos II a VIII.
§ O cronograma de aplicação mensal para o exercício fiscal seguinte deve conter
os nomes do Projeto de Assentamento e do município onde está localizado, o
número de famílias que serão beneficiadas, e o volume de recursos necessários
para satisfazer a demanda qualificada.
Art. A SAF, em conjunto com a SRA e o INCRA, definirá e informará até o dia 5
(cinco) de janeiro de cada ano, às Unidades da Federação, o volume de recursos
financeiros destinados aos financiamentos do Grupo "A" do Pronaf para aplicação
naquele exercício fiscal, respeitados os limites definidos pelos Fundos
Constitucionais de Desenvolvimento Regional e pelo Orçamento Geral da União.
Art. Na ausência do CEDRS ou de instituição equivalente, e até a sua criação,
cabe à Unidade Estadual de Articulação do Grupo "A" do Pronaf - UA, as
providências indicadas nesta Portaria.
§ 1° A Unidade Estadual de Articulação do Grupo "A" do Pronaf - UA, será instituída,
nos casos em que houver necessidade, por ato normativo do Superintendente
Regional do INCRA.
§ A Unidade Estadual de Articulação do Grupo "A" do Pronaf - UA, terá como
membros natos o Secretário Executivo Estadual do Pronaf, um representante da
Superintendência Regional do INCRA, um representante da Secretaria Estadual que
trata das questões agrárias, um representante da instituição estadual oficial de
assistência técnica e extensão rural, um representante da Agência do Banco da
Terra, um representante da Unidade Técnica Estadual do Projeto de Crédito
Fundiário e Combate à Pobreza Rural, e dois representantes de cada um dos
movimentos sociais representativos, em âmbito estadual, dos agricultores
assentados.
§ O Superintendente Regional do INCRA, após deliberação com o Secretário
Executivo Estadual do Pronaf e com os representantes dos movimentos sociais
estaduais dos agricultores, poderá incluir outros membros na UA.
§ 4° O regimento interno, a periodicidade das reuniões, e as demais questões
pertinentes serão definidas pelo colegiado da UA.
109
Art. Para a contratação do crédito do Grupo "A" do Pronaf pelas famílias
assentadas em Projetos de Assentamento do INCRA, ou por este reconhecidos,
deve ser observado ainda que é de responsabilidade da Superintendência Regional
do INCRA:
I - efetivar o enquadramento dos beneficiários dos Projetos de Assentamento
priorizados pelo CEDRS, de acordo com o MCR, as disposições legais, e as
orientações instituídas pelo INCRA, SAF e SRA;
II - verificar, junto aos agentes financeiros operadores do Programa, a existência de
operações anteriores realizadas ao amparo do Procera ou Pronaf, bem como os
respectivos somatórios dos valores contratados, para cada assentado;
III - emitir a Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP, em conformidade com o que
dispõe a Portaria MDA 154, de 2 de agosto de 2002, para os beneficiários de
assentamentos que tenham sido objeto das seguintes ações:
a) concessão e correta aplicação dos créditos de instalação;
b) demarcação dos lotes;
c) efetiva residência no lote;
d) adequação às normas ambientais.
IV - acompanhar e supervisionar a efetiva aplicação dos créditos e os trabalhos de
assistência técnica.
§ O profissional ou instituição de assistência técnica escolhida pelo agricultor
assentado para elaborar o projeto de crédito rural do Grupo "A" do Pronaf observará
o que determina o Manual de Crédito Rural do Banco Central do Brasil, e as normas
e orientações do Ministério do Desenvolvimento Agrário e/ou de suas Secretarias e
autarquia vinculada.
§ 2° Cabe ao agente financeiro operador do Programa:
I - informar à Superintendência Regional do INCRA, sempre que solicitado, o
somatório dos valores dos empréstimos contratados no âmbito do Procera e/ou
Pronaf, pelos assentados priorizados no CEDRS para recebimento do financiamento
do Grupo "A" do Pronaf;
II - receber as Declarações de Aptidão e os projetos técnicos de crédito rural;
III - cumprir e fazer cumprir as determinações contidas no MCR para a contratação e
efetiva aplicação dos financiamentos.
Art. 7° A contratação do crédito pelas famílias beneficiárias dos Programas Banco da
Terra, Cédula da Terra, Projeto de Crédito Fundiário e Combate à Pobreza Rural
deve observar, no que for cabível, os procedimentos explicitados no art. desta
Portaria e também que:
I - o projeto técnico, enquanto parte integrante da Proposta de Financiamento, é o
instrumento balizador para o acesso ao crédito;
II - é necessário adequar o projeto técnico às diretrizes da política fundiária
constantes do Programa de Reordenação Fundiária, aprovado pelo Conselho
Curador do Banco da Terra;
III - a proposta de financiamento deve ser devidamente aprovada quanto aos
aspectos técnicos, econômico-financeiros, e ambientais.
Art. 8° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
ALOÍSIO LOPES PEREIRA DE MELO
Secretário de Agricultura Familiar-Substituto
EDSON LUIZ VISMONA
Secretário de Reforma Agrária
SEBASTIÃO AZEVEDO
Presidente do INCRA
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