Ouve, em vez da minha, as mil vozes hostis
Em que buscam, os teus, nos infligir a pena
De curvarmos a alguém, humildes, a cerviz,
Tu, que foste, que ainda és e que serás, por certo,
Aquela que, jamais, do interesse ouve a voz
Mais longe estás de mim quando de ti estou perto!
Deves, porém, saber que, quando fico a sós,
A própria multidão, para mim, é um deserto,
Porque o mundo não és nem eu sou: somos nós!
A Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro (2):22, 15 jun. 1909.
Tu, só tu, podes dar nesta miséria,
Neste declive das paixões humanas,
Ao amor a pureza ideal, aérea,
Na pomba com que os versos engalanas.
Ele te foge aos estos da matéria
E, da arte, ao esplendor de que te ufanas,
Ascende, e corta a vastidão etérea
Da rima sobre as asas soberanas.
Tu, só tu, vencerás porque derivas
Do árduo labor, triste e enfadonho,
A melhor sobra de energias vivas
Para o castro remanso o olhar risonho
Onde não chegam doestos e invectivas
Onde tudo está dentro do teu sonho.
A essa, imponderável Beleza, inexcedível de
Bondade e altíssima de Espíríto, ? dona
de uns grandes olhos indefiníveis, que
me trazem subjugados, arrastando pela
Vida misérrima os destroços do meu
orgulho, ? ofereço estes quatorze versos,
feitos para molestar aqueles que à
nossa Felicidade se têm querido opor.
Rompe mais clara que até então, Aurora!
Vai cobrir?te de galas, Natureza!
Céu! da ampla face a límpida turquesa
Mostra, coberta de esplendor, agora!
Toda de festas, sejas, Terra, presa!
Astros! brilhai?me, pelo céu em fora!
E tu minh'Alma, onde o prazer não mora,
Canta o hino da graça e da beleza!
Tudo que eleva, tudo que arrebata,
Deve vibrar numa explosão divina,
Por noites de ouro em bergantins de prata!