Somente esta dialética de uma socialização do Estado que se
impõe, simultaneamente com a estatização progressiva da
sociedade, é que pouco a pouco destrói a base da esfera pública
burguesa: - a separação entre Estado e sociedade. Entre ambos
e, ao mesmo tempo, a partir de ambos, surge uma esfera social
repolitizada, que escapa à distinção entre “público” e “privado”. Ela
também dissolve aquela parte específica do setor privado em que
as pessoas privadas reunidas num público regulam entre si as
questões gerais de seu intercâmbio, ou seja, a esfera pública em
sua configuração liberal. A decomposição da esfera pública, que é
demonstrada na alteração de suas funções políticas, está fundada
na mudança estrutural das relações entre esfera pública e setor
privado (HABERMAS, 1984, p. 170-171).
Para o pensador, em nome dessa nova configuração, a era liberal marcha
rumo a seu fim. O modo de produção capitalista cria antagonismos, demonstrados
pelos conflitos sociopolíticos, o que requer o poder coercitivo do Estado. Também
são feitas algumas reformas eleitorais. Os trabalhadores organizam-se em
instituições de representação, como os sindicatos, e tentam influenciar na
legislação. As intervenções estatais, de modo geral, visam assegurar o status
quo; surgem conexões entre essas intervenções e a tendência à concentração de
capital. Além de guardar a ordem, elas adotam, através da polícia, da justiça e de
uma política de impostos, uma função de estruturação. Têm poder de influenciar
investimentos privados e de regular transações públicas, ou seja, controlam o
equilíbrio da economia política. As prestações de serviços, antes a cargo da
esfera privada, passam ao seu controle. O Estado, agora social, é produtor e
distribuidor de serviços públicos.
[...] a “influencia democrática” sobre o ordenamento econômico
não pode ser negada: a massa dos não-proprietários conseguiu,
através de intervenções públicas no setor privado agindo contra a
tendência à concentração de capital e à organização oligopólica,
fazer com que a sua participação nos rendimentos do povo não
pareça ter diminuído a longo prazo, mas, até a metade do nosso
século, também não ter aumentado de modo essencial
(HABERMAS, 1984, p. 176).