obviamente não nos detivemos em identificá-las por nomes, nem de forma
pseudônima, visto que nosso foco de estudo é o seu discurso e as relações entre
eles.
“Ingressei no curso de extensão em Alfabetização, Leitura e Escrita da
UFRJ por dois motivos fundamentais: o primeiro, porque sou uma
apaixonada por alfabetização e sempre ‘corro atrás’ desse assunto desde
que, é claro, mereça a minha credibilidade. Segundo, por ser um curso
oferecido pela UFRJ, universidade que sempre me seduziu e encantou.”
“Em 1977, designaram-me, em uma das escolas em que lecionava, a ser
alfabetizadora. Fui um rotundo fracasso. Em setembro daquele mesmo ano,
me demiti do magistério no município do Rio e no estado, mais pela
sensação da falha do que pela perspectiva de um salário menor, uma vez
que ser bancária também não era meu sonho dourado. Lembro-me do meu
esforço em fazer com que as palavras ‘entrassem’ nas cabeças daquelas
crianças. Lembro-me de ficar depois da hora com os alunos que tinham
mais dificuldades, nada adiantava. Nunca tinha alfabetizado, havia
solicitado à direção que não me desse uma turma de alfabetização, mesmo
assim, nova na escola, fiquei com a turma que ninguém queria, com um
método que não conhecia e do qual não gostei – ‘Pompom, meu gatinho’ –
palavração. Em 2001, já aposentada, retorno ao magistério e, procurando
desafios, peço para trabalhar com turma de Progressão – crianças oriundas
do Ciclo de Formação da XXX que não atingiram os patamares mínimos de
leitura, escrita e matemática para estarem aptas a cursar a terceira série. É
claro que o fantasma de 77 me perseguia e de cinco analfabetos, só
consegui resultado com dois.”
“Por volta do ano de 99 comecei a ler alguma coisa dos estudos de Emília
Ferreiro sobre Psicogênese da Língua Escrita. Nesta época ainda não tinha
me apropriado do assunto. Tudo era muito novo pra mim, ainda não
conseguia ver nas hipóteses sobre a escrita funcionavam na prática. Estava
lecionando em uma turma de série inicial (acho que 1ª série) que tinha
alunos já alfabetizados e outros ainda em processo. Usava uma
metodologia derivada da palavração e textos ‘meio modernos’, mas ainda
na linha dos escolarizados. No ano seguinte (2000), em abril, passei a
exercer a função de Coordenadora Pedagógica na escola onde lecionava o
que coincidiu com o ano da implantação do 1º Ciclo de Formação. Este fato
fez com que eu buscasse mais informações a respeito do processo de
alfabetização, porque não só a organização tempo/espaço teria outra lógica,
como a proposta curricular também teria que acompanhar essa nova lógica
em suas práticas de ensino e avaliação.”
“Ser professora, para mim, era como um caminho certo, algo que com
certeza eu gostaria de fazer. Para minha família era simplesmente uma
profissão cansativa e mal remunerada. [...] acabei o curso normal, fiz minha
graduação que para o espanto de todos, foi em pedagogia, isto é, dentro da
mesma área, pois eu ainda não havia desistido. Acabei a graduação e iniciei
uma pós em psicopedagogia que me ajudou a entender melhor o meu aluno
e suas necessidades, não só no que diz respeito ao seu cognitivo, mas sua
necessidade como pessoa inserida em um contexto.”