Perplexos, em razão dos discursos oficiais que se apresentam com "conteúdo sério e rigoroso",
ao propor políticas e soluções aos problemas da população rural. Desafiados, quando
constatamos, através de nossa vivência e dos depoimentos recolhidos, que as políticas propostas
não passam de discursos e promessas; quando aplicadas, são paliativas e descoladas da
realidade. Assim, o discurso oficial, que propõe solucionar problemas e ampliar os horizontes dos
produtores familiares, continua frustrando a população rural que continua sem solução para as
dificuldades enfrentadas, e cada vez mais distanciada da realização do sonho de viver e trabalhar
na terra.
Com toda certeza, a dimensão e complexidade dos problemas devem provocar nos atores sociais
a busca de soluções alternativas. No caso específico da educação rural, que vem ocorrendo de
forma desarticulada por falta de um projeto comprometido com a especificidade do homem e do
ambiente rural, o processo a ser construído, necessariamente, deve ser original e coletivo, tanto
em sua formulação, quanto na execução e avaliação. Comungamos com o ponto de vista dos
educadores Francisco Gutiérrez e Cruz Prado, quando afirmam: "Nenhuma educação e, menos
ainda, aquela orientada a trabalhar com os setores populares, pode desvincular-se do pedagógico
entendido como promoção da aprendizagem produtiva."(5)
Mas, o que significa promoção de aprendizagem produtiva? Respondem Gutiérrez e Prado:
"Facilitar, acompanhar, possibilitar, recuperar, dar espaço... inquietar, problematizar, relacionar,
envolver, comunicar, reconhecer, comprometer, entusiasmar, apaixonar, amar."(6)
O projeto "Educação Rural", que está sendo desenvolvido em Mato Grosso, vem assimilando, no
processo de sua execução, os componentes teóricos e metodológicos acima propostos. O
processo integra os prefeitos municipais, os secretários municipais de educação e sua equipe
técnica, os professores rurais, os alunos, a comunidade, a Secretaria Estadual de Educação e a
equipe de projetos do Escritório Regional da UNESCO de Mato Grosso.
O objetivo da proposta consiste na construção coletiva do projeto de escola rural. Projeto que se
afirma a partir da edificação da identidade da escola e da emancipação da comunidade. Projeto
que se faz através da universalização do acesso, da permanência e da continuidade dos alunos
nos sistema escolar. Faz-se, também, na busca de conquista permanente de valorização dos
profissionais da educação, na conquista de um currículo que incorpore em sua matriz os valores,
os conhecimentos e as habilidades que garantam a evolução dos alunos e da comunidade. Mas,
a construção deste projeto exige alternativas diferenciadas de organização escolar, de
investimento dos recursos financeiros e materiais e de compromisso dos profissionais da
educação.
Em São Félix do Araguaia esta proposta está sendo construída, com êxito, há um ano e meio. O
tempo ainda é curto para avaliar, com profundidade, até onde os atores envolvidos no projeto já
assimilaram a proposta em sua plenitude, para comprovar que os ganhos são significativos.
Contudo, os resultados preliminares comprovam conquistas relevantes neste curto tempo de vida.
A reflexão e o debate liderado pela escola nas comunidades rurais suscitou uma revisão do
projeto político de desenvolvimento do município: hoje se discute em São Félix do Araguaia um
plano estratégico de desenvolvimento colado com as necessidades vitais da população. Na
mesma ordem das conquistas iniciais, verifica-se uma mudança de postura pedagógica,
envolvendo os pais de alunos, os professores, os "co operadores" – aqueles que operam juntos -,
os técnicos e as autoridades. Em São Félix do Araguaia, o Projeto Rural alterou a organização
das escolas: o calendário escolar assumiu as demandas especificas das comunidades, o Ensino
Fundamental passou a atender os alunos a partir de seis anos de idade, passando de oito para
nove anos a duração do Ensino Fundamental. As classes escolares são organizadas por faixa
etária, e por ciclos de formação. Foi eliminada a reprovação do aluno, valendo-se de uma nova