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exploração sexual, voyeurismo, pornografia, exibicionismo, até o ato sexual com ou
sem penetração, com ou sem violência.
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A dominação sexual perversa é uma construção deliberada, paciente e ri-
tualizada de um relacionamento perverso, que se mantém através da dominação
psicológica de longa duração. Começa por um processo de sedução, que consiste na
conquista sutil, que anula a capacidade de decisão da vítima, e acaba em sua domi-
nação e aprisionamento.
Furnisss, Perrone e Nannini identificam nos abusos sexuais repetitivos uma
dinâmica que gera uma sorte de “enfeitiçamento” que mantém a pessoa vitimizada
como que “seqüestrada” e envolvida em uma armadilha da qual não pode e nem
sabe como se livrar.
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Esse processo de aprisionamento é construído através de uma
trama emocional contraditória de amor/ódio, sedução/ameaça, o que faz com que
a vítima, aterrorizada, permaneça imobilizada ou “anestesiada”. Essa trama se man-
tém e se solidifica através de rituais, do silêncio, da chantagem e de uma forma de
comunicação muito particular.
A comunicação perversa é uma anticomunicação, um monólogo que tem por
objetivo ocultar, confundir, amedrontar e manter o poder através de não-ditos, si-
lêncios, reticências, subentendidos. Suas formas preferenciais de “comunicar” são:
a mentira, o paradoxo, o sarcasmo, o desprezo, a desqualificação, as mensagens de
duplo sentido, a tonalidade de voz fria, a intriga, o olhar dominador, as ordens.
A dominação sexual perversa exercida por adultos contra crianças e adoles-
centes pode ser incestuosa ou não, heterossexual ou homossexual. Ocorre, geral-
mente, em lugares fechados (residências, consultórios, igrejas, internatos, hospitais,
escolas) e inclui diferentes e variadas formas de relações abusivas.
É incestuosa quando o violentador é parte do grupo familiar (pai, mãe, avós,
tios, irmãos, padrasto, madrasta, cunhados). Nesses casos, considera-se família não
apenas a consangüínea, mas também as famílias adotivas e substitutas. Os violen-
tados conhecidos da vítima e/ou de sua família aproveitam-se da confiança que
gozam, do status, do papel e do poder que possuem, do lugar de privilégio que os
põe em contato direto e continuado com a vítima, da cobertura legal e pouco sujeita
a suspeitas de que dispõem.
Nas situações em que o abusador é amigo da família, invariavelmente exerce
uma espécie de fascinação, tanto sobre sua vítima como sobre seus familiares, apre-
8 ABRAPIA. Maus tratos contra crianças adolescentes: proteção e prevenção. Guia de orientação para profis-
sionais de saúde. Rio de Janeiro: Autores e Agentes e Associados, 1992.
9 FURNISSS, Tilman. (1993) Abuso sexual da criança: uma abordagem multidisci
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plinar, manejo, terapia e intervenção legal integrados. Porto Alegre, Artes Médicas.
PERRONE, Reynaldo; NANNINI, Martine. Violence et abus sexuels dans la famille – Une approche sys-
témique et communicationnelle. Paris: ESF Éditeur, 1995.