JOSÉ JOAQUIM DE CAMPOS LEÃO QORPO-SANTO
sam! e a falta de seu contacto muitas vezes os
potrifica!. . .
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Vive certo indivíduo em Porto
Alegre, como viveu um ano ou mais em uma
das vilas desta Província, sempre pensando
em mulheres; em umas para se entreter, em
uma para casar. Ora esta, ora aquela, era
objeto de seu pensar. Devia desde logo tentar
o casamento, e, se o não realizasse, buscar
então alguma com que se entreter. Note-se:
procurava sempre mulheres desembaraçadas,
isto é, que não viviam com seus maridos, por
sua infidelidade, solteiras ou viúvas. E agora
vive sempre a pensar com qual se há-de entre-
ter, para não entristecer nas longas noites de
luar. E assim há-de passar longo tempo sem
casar, quem sabe! E se ele for casado, como
há-de ser?! Ai, nisso é que está a questão ou a
dúvida. Quanto ao mais, seria nada. E se ele
tiver filhos, filhas? Então parece-me ainda
mais difícil e intricado o negócio. Realmente,
é mui recente o amigo que assim há tanto
tempo vive! É tão célebre... e, finalmente,
extraordinário! Mas não pode ter marcha certa
ou regularidade em seu viver; é este, sem a
menor dúvida, anômalo. E isto convirá? Pa-
rece que não. Ora não pode vestir certa calça
(se ele é prudente); ora não pode comer pão;
ora não pode beber chá, ora faz-lhe mal o
sair à rua; ora incomoda-se, porque está em
casa; ora enjoa as mulheres; ora se aborrece
da comida; ora pode escrever; ora o não pode
fazer. . . Pergunto: isto convirá? Certo que
não. E o que me parece pior é o tal indivíduo
ter vontade de prender a seus amores quantas
bonitas encontra: casadas, solteiras e viúvas!
15 um estado anormal do homem, que entre-
tanto, não praticando atos de escândalo, em
nada o estorva da normalidade para por todos
ser considerado em seu estado normal ou de
perfeita saúde. E as razões mais fortes e pode-
rosas para assim ser considerado é não haver
em si má intenção, nem ter culpa alguma desse
viver! Ninguém, pois, o pode condenar; mas
sim todos louvar. Algumas mulheres são
ideias; outras, inteligência; muitas, ilusões; a