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Sobre a escritora Rachel de Queiroz
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, cabe ressaltar que, sendo
descendente da estirpe de José de Alencar, tentou, como ele, durante toda a sua
vida, incorporar a linguagem que falava e que escutava em seu ambiente nativo à
língua com que ganhava a vida nas folhas impressas que, segundo ela, não fazia
por novidade, mas sim, por necessidade. Mesmo escrevendo romances, literatura
infanto-juvenil, teatro e crônica, Rachel chegou aos noventa anos afirmando que não
gostava de escrever e, se o fazia, era apenas para se sustentar.
No entanto, apesar das declarações da autora, toda a sua produção
atingiu uma posição considerável na esfera literária. E, no caso do trabalho em
questão, suas crônicas foram de extrema importância para que a situação dos
idosos fosse analisada e estudada dentro do contexto social diário.
Frente ao fato de repugnar o termo “terceira idade”, a escritora
deixa transparecer a sua posição diante da senilidade: não gosta dessa condição e
desse momento que vive. O que se pode perceber, a partir de algumas crônicas da
autora e de suas colocações a respeito dessa fase da vida, é que ela vive em meio a
sua ranzinzice, ao seu descontentamento e a sua constante indagação diante da
questão de “ser uma pessoa velha”. E, apesar de não ser essa uma característica
exclusiva dos idosos, que pode se manifestar em qualquer idade, é diante das
dificuldades de adaptação ao ambiente social em que vivem que os senis
apresentam essa particularidade (a ranzinzice) com mais freqüência. No caso de
Rachel, sua intolerância, sua irritação, seu mal-humor e seu constante
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Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE) em 17 de novembro de 1910. Formou-se no
curso normal aos 15 anos de idade, e sua formação escolar encerrou-se aí. No entanto,
dedicou-se inteiramente à leitura, hábito estimulado por sua mãe, que a mantinha atualizada
com lançamentos nacionais e estrangeiros, especialmente os franceses. O constante
contato com a leitura a estimulou aos primeiros escritos. Submetida a um rígido tratamento
de saúde em 1930, em função de uma congestão pulmonar e suspeita de tuberculose, a
autora se viu obrigada a fazer repouso e resolveu escrever um livro sobre a seca, O Quinze,
obra que logo a transformou em uma personalidade literária. Depois disso, a escritora
publicou mais sete romances, entre eles, o Memorial de Maria Moura (1992), que dois anos
mais tarde viria a tornar-se uma minissérie transmitida pela Rede Globo de Televisão. Além
dos romances, Rachel escreveu literatura infanto-juvenil, teatro, antologias, livros em
parceria, traduções e crônicas (obras que serão elencadas no apêndice desta dissertação).
Iniciou seu livro de memórias, em 1995, escrito em colaboração com a irmã Maria Luíza,
que foi publicado posteriormente com o título Tantos Anos. Pelo conjunto de sua obra,
recebeu, em 1996, o Prêmio Moinho Santista. Faleceu no dia 04 de novembro de 2003,
dormindo em sua rede na cidade do Rio de Janeiro e deixou aguardando publicação o livro
Visões, uma fusão de imagens do Ceará fotografadas por Maurício Albano com textos de
Rachel.