19 Imre Hermann. L'instinct filial. Precedido de uma Introduction à Hermann,
por Nicolas Abraham. Paris: Denoèl, 1972.
20 Embora as palavras "fantasia" ou "assombração" se impõem por vezes para
designar os habitantes da cripta no interior do ego (mortos vivendo como
"corpos estranhos no sujeito"), é preciso distinguir rigorosamente o estra-
nho incorporado na cripta do ego e a "fantasia" que vem assombrar a partir
do Inconsciente de um outro. A "fantasia" tem seu lugar no Inconsciente, e
não é o efeito de um recalcamento "próprio" ao sujeito que ela vem assom-
brar com toda espécie de ventriloquices, mas "próprio" a um inconsciente
parental. O retorno da "fantasia" não é um retorno do recalcado. Donde a
singularidade de sua análise, a inutilidade ou a impotência, por vezes, da
transferência. Nenhum efeito de "fantasia" é verificado no Verbier. Resta
que, apesar de sua diferença estrita, os efeitos de "fantasia" e os efeitos de
cripta por incorporação foram descobertos quase simultaneamente, no mes-
mo espaço problemático e as mesmas articulações conceituais: trata-se de
um segredo, de uma tumba e de um enterro, mas a cripta de onde retorna a
"fantasia" é a de um outro. Poder-se-ia dizer que se trata aí de uma exocríp-
tica, de uma heterocríptica. Essa heterocríptica requer um escuta completa-
mente diferente da incorporação críptica no ego, mesmo se ela se opõe tam-
bém à introjeção e se as palavras "fantasmógenas", sob sua forma verbal ou
não-verbal, fazem também o desvio dos alosemas. O "ventríloco" hetero-
críptico fala a partir de uma tópica estranha ao sujeito. A metapsicologia do
efeito "fantasia" foi abordada nos seguintes textos: Nicolas Abraham. Notu-
les sur le fantôme. Études Freudiennes, v.9-10, abril 1975; Maria Torok:
Histoire de peur, Le symptôme phobique: retour du refoulé ou retour du
fantôme?, ibidem; L'objet perdu -Moi, op. cit., principalmente p.410, n.l,
e desenvolvido no decorrer de um Seminário sobre a Unidade Dual a partir
de 1974 (Institut de Psichanalyse).
21 O Fantôme d'Hamlet ou Le V Acte, precedido por L'entr'acte de Ia "vérité"
(inédito). "O 'segredo' revelado pelo "fantasma" de Hamlet e comportando
uma ordem de vingança só saberia ser um logro. Ele mascara um outro segre-
do, este, real e verdadeiro, uma ignomínia não dizível que, na ignorância do
filho, pesa na consciência do pai." "O enigma da fascinação secular de Ham-
let deve-se referir à perenidade em nós do "efeito de 'fantasma'" e de nosso
desejo sacrílego de reduzi-lo..."
22 Nicolas Abraham. Le temps, le rythme et 1'inconscient, Réflexions pour une
esthétique psychanalytique. Revue Française de Psychanalyse, julho 1972. É a
versão completa de uma conferência pronunciada em Cerisy-la-Salle em se-
tembro 1962, por ocasião do Colóquio que se deu sobre o tema Arte e psica-
nálise. Esse ensaio dialoga com todos os motivos que nos ocupam aqui. Uma
elaboração psicanalítica examina toda sua coerência através de um rico mate-
rial (Narciso, Ulisses, Kafka, a "assombração de Hamlet", a rítmica de Apren-
diz de feiticeiro de Goethe, ou o Corvo de Poe etc), para formular a questão
da gênese "fictiva", do autor "fictivo", do autor "induzido pelo poema" e do
inconsciente da obra. A "obra" "autêntica", se lê nesse ensaio, está à altura de
seu inconsciente. Tal é seu preço (a pagar sobretudo pelo autor). Eu acrescen-
tarei a taxa, à medida de seu inconsciente.