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“Plantava mandioca, milho, feijão, batata, nhame, aquele feijão
grosso, eu lembro que a gente plantava e comia muito na (...). Nós
plantamo
s de tudo. Tudo, tudo, tudo...Cebola dava aquela cebola
cabeçuda assim, de folha verde. Queimava aquelas folhas de vara e
ali mesmo a gente juntava aquela cinza e plantava cebola. É o que a
gente comia na roça, às vezes não tinha mistura, agente levava uma
baciinha assim, fazia salada com o caldo do feijão pra nós comer na
roça pra trabalhar. E o pai estava pescando, meu pai era pescador
(..) trazia mantimento pra nós. O mantimento era o peixe, ele era
pescador. Quando ele não estava pescando, ele trabalhav
a na roça
.
(...) Meu pai trabalhava na roça, era trabalhador, pescador, caçador.
Agora ninguém pode matar nada lá,
mas nós vivíamos com a caça,
com mato e pesca. Às vezes para ter melhor de comer as coisas, a
gente secava o peixe, botava tudo na canoa de motor, porque não
tinha estrada. Botava tudo na canoa de motor pro mar, vendia o
peixe e comprava carne. Às vezes (...), macarrão, porque ninguém
sabia o que era arroz, nem macarrão, não via nada. Arroz nós tinha
em casa no tempo de Natal, Páscoa. Comprava arroz com casca,
socava no pilão, pra gente poder comer ali naquele dia, também
pronto: não tinha arroz, não tinha nada.
Agora milho, a gente tinha de
quantidade, a gente fazia de madrugada, quando tinha mexido meu
café, levantava, torrava o milho, socava, aquele que a gente
chamava
pixé
(?), aquele arroz amarelinho, socava no pilão, pra
mode a gente tomar café, pra depois ir para a roça.
Fazia aquela
farofa de (...) Ninguém sabia o que era pão na nossa vida
.
Comia
mandioca doce, era batata, nhame, isso aí era todo dia, todo dia nós
colhíamos um bocadinho de milho pra nós tomar com café
"
.
(Ant
ônia Miquelina Jacinta da Conceição, 79 anos, Olaria –
Caraguatatuba, 18 de novembro de 2006).
Se no passado existiam ausências de mantimentos, com a fala de D.
Anto
nia, percebemos que algumas delas eram superadas. Não existiam o pão, o
macarrão e o arroz, mas o nhame, o milho, a batata, a mandioca, a caça e a pesca
os substituíam. Já no presente, como podemos verificar nas falas dos sujeitos, as
ausências são mais difíceis de serem superadas, já que sofrem com a fiscalização
das instituições ambientais que não permitem o cultivo naquelas terras.