terras e destruindo suas casas. E assim pensam os cristãos acreditando e
afirmando que nós matamos seu Deus.
Eis entre quais pessoas temos que errar sem destino, em quais protetores
precisamos confiar, obrigados que somos a colocar nossas vidas nas mãos
de nossos inimigos.
Também o sono que conforta nossos corpos é para nós inquieto e cheio de
temores. Dormindo, tememos os passos que se aproximam e o punhal que
ameaça nossas gargantas. Para viajar precisamos pagar caro preço os
guias nos quais não podemos confiar e cara também a proteção dos
príncipes donos das terras em que moramos. Sabemos bem que eles
desejam nos matar para apropriar-se dos nossos bens.
As leis nos proíbem de possuir terras e casas e assim, para viver, nos resta
apenas o lucro que conseguimos emprestando algum dinheiro a outros
povos. E isto nos torna ainda mais odiosos: nosso estado, mais do que
qualquer palavra, mostra com evidência a todos quanto nossa vida é dura e
infeliz.
23
Então, já na Modernidade, mesmo antes que o Partido Nacional-Socialista
ascendesse ao poder instituído, os judeus eram submetidos a toda variedade de
infortúnios devido às idéias de serem perigosos engenheiros do Mal, destruidores da
ordem moral, demonizados (pensamento mítico que contesta o princípio da
racionalidade, norteador da Modernidade), em clara correspondência ao testemunho
do judeu do século XII. Eles sofriam, social, psicológica e fisicamente, por serem
considerados negativamente opostos aos alemães. A situação de disparidade
agravou-se e oficializou-se, com o apoio de programas e instituições
governamentais, quando Hitler assumiu e implantou o Nazismo. Identificados por
sua “natureza criminosa, raízes criminosas, demônio terrestre, astuto e cruel,
históricos malfeitores mundiais, depravados, subumanos, pseudo-povo reunido”
(GOLDHAGEN, 1997:420), relacionados com “vermes, doença virulenta e mortal no
corpo da Alemanha” (grifo nosso), não é de surpreender que as agressões verbais e
físicas infligidas aos judeus fossem tão corriqueiras e aceitas amplamente, que
23“Non conosco un altro popolo che abbia sopportato tante prove dolorose in nome di Dio quante noi
ne sopportiamo ogni giorno. La fornace del nostro dolore ha senz'altro cancellato qualsiasi peccato
dalla nostra anima. Siamo dispersi in tutte le regioni del mondo, privi della guida di un sovrano, siamo
oppressi da gravi tributi e paghiamo per salvare la nostra miserabile vita un prezzo esorbitante. Tutti
pensano che sia giusto odiarci e disprezzarci e quando qualcuno ci reca offesa è persuaso di
compiere un atto di giustizia... I nostri persecutori sono convinti che la nostra disgraziata schiavitù sia
la conseguenza dell'odio che Dio ha per noi e giudicano che le crudeltà che ci sono inflitte siano una
giusta punizione divina. Così pensano i pagani [i musulmani, i "fratelli della tribù di Ismaele", a mio
parere] ricordando la oppressione che noi esercitavamo un tempo su di loro occupando la loro terra e
distruggendo le loro case; così pensano anche i cristiani che affermano che abbiamo ucciso il loro Dio.
Ecco fra quale gente erriamo senza meta, in quali protettori dobbiamo confidare, costretti a mettere la
nostra vita nelle mani dei nostri nemici. Anche il sonno che conforta le membra stanche è per noi
inquieto e pieno di paura: dormendo temiamo i passi che si avvicinano e il pugnale che minaccia la
nostra gola. Per viaggiare dobbiamo pagare cara la scorta della quale poi non possiamo fidarci e cara
paghiamo anche la protezione dei principi delle terre dove abitiamo: sappiamo bene che desiderano
ucciderci per impadronirsi dei nostri beni... Le leggi ci proibiscono di possedere campi e case e così
per vivere ci resta solo il guadagno che otteniamo prestando denaro agli altri popoli. E questo ci rende
ancora più odiosi : il nostro stato più che qualsiasi parola mostra con evidenza a tutti quanto la nostra
vita è infelice."