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respondeu: “Eu mesmo nunca poderia dizer (sabendo que sou homem): sou uma garota. [...] Mas
você disse, e você falou para ambas partes de mim” (Winnicott 1989vp [1959/63], p.135).
A análise desse caso deixou evidências de que a mãe do analisando “via um bebê menina
ao olhar para ele quando bebê, antes de vir a pensar nele como menino”. Segundo Winnicott,
este homem teve que se adaptar à idéia dela que seu bebê seria e era uma menina. E também
havia fortes indícios de que, no manejo inicial, a mãe o segurava e dele cuidava de todas as
maneiras físicas como se não conseguisse vê-lo como menino.
2.3 Elementos do Desenvolvimento Sexual
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Winnicott comenta que, diante do debate sobre o órgão sexual masculino e feminino, um
detalhe deve ser considerado como fazendo parte do processo necessário ao amadurecimento da
mulher - a qualidade que o órgão masculino tem de ser óbvio, em contraste com a qualidade do
órgão feminino de ser escondido. E para examinar o impacto da inveja do pênis sobre o
psiquismo feminino, recorre ao conceito freudiano de fase fálica
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, que precede a genitalidade
plena. A partir desse ponto, o autor passa a refletir sobre a condição feminina.
Para ele, as meninas sentem algum incômodo quando estão nesse período, ou seja, por
um instante, elas se sentem inferiores, ou mutiladas. As conseqüências disso dependem, entre
outros, de fatores externos como a posição na família, atitudes dos pais, dos irmãos. Mas destaca
um fato inegável, em suas palavras o menino tem e a menina não. Entretanto, a seqüência de
idéias que perpassa nas meninas sadias
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é a seguinte:
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Para iniciar a contextualização desse tema, cabe ressaltar que “na teoria de Winnicott do amadurecimento
humano, alteram-se todos os elementos teóricos que foi descrita a situação edípica pela psicanálise tradicional: no
lugar do sujeito com a constituição biológico-dinâmico-mental, o bebê que tem como única herança o processo de
amadurecimento (que não é nem biológico, nem dinâmico, nem mental); no lugar da mãe-objeto, a mãe-ambiente;
no lugar da experiência de satisfação instintual, as necessidades oriundas do próprio existir; no lugar da sexualidade
libidinal, a mãe da preocupação primária; no lugar da situação intramundana determinante a três, o bebê num mundo
subjetivo de dois-em-um, próximo do estado de não ser” (Loparic, 1996:47).
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Winnicott analisa nesse contexto três fases: pré-genitais, fálicas e genitais. Na primeira, observa no bebê todo tipo
de excitação, e até mesmo excitações genitais localizadas, mas não existe ainda a fantasia de natureza genital. Aqui,
menino e menina ainda não são precisamente desiguais. Na fase fálica, o genital masculino ocupa um lugar
principal, com suas ereções e sensibilizações periódicas. Segundo Winnicott aqui, o estágio feminino é um
fenômeno negativo, e essa fase marca a diferença entre o sexo masculino e o feminino. Na terceira fase – a genital,
no qual a fantasia se encontra por incluir tudo aquilo que no adolescente reaparece em termos de atos masculinos e
femininos. D. W. Winnicott, W18,1988, p.59
Para mais detalhes sobre o assunto em D.W. Winnicott, W14, 1968g [1964], “Este Feminismo”, p.183.
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Winnicott observa que se pode diferenciar entre meninos e meninas que alcançam a fase fálica, dois grupos:
aqueles que “depois de terem tido experiências plenas nos estágios mais primitivos, e aqueles que chegam a essa
fase com uma privação relativa ou muito pronunciada”. Sendo sentida de forma exagerada ou não, de acordo com
esses fatores mencionados. Cf. D.W. Winnicott, W14, 1968g [1964], p.189.