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alcançou seu triunfo com o imperador Teodósio
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, ao tornar-se religião oficial do
Império em 380. Nesse ambiente propício, os líderes do cristianismo assumiram a
condução da nova ordem social.
Depois da tempestade de três séculos, de perseguições e martírios, a
Igreja das catacumbas passou de uma relação desarmônica com o Império a uma
união com este, pelo menos no âmbito ocidental
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; com essa condição, assumiu o
status de instituição que orientou os homens na transição da Antigüidade para a
Idade Média. Acrescente-se a isto que, na medida em que o Estado romano a
estavam inscritas. Ao despertar, adotou a cruz, símbolo dos cristãos, como insígnia do seu
exército, mandando gravá-la em todos os escudos, e obteve a vitória da ponte Mílvio (312); a
seguir, com o reconhecimento ao Deus que lhe concedera essa vitória, aderiu decididamente à
causa cristã, pondo fim ao período de luta cruenta entre poder imperial e cristianismo. Lactâncio
(De moribus persecutorum, 44), aliás, diz que esse episódio aconteceu na noite anterior à batalha
decisiva contra Maxêncio, enquanto, segundo Eusébio, ele ocorreu antes e foi precedido por visão
análoga. Entre os historiadores permanecem dúvidas sobre o fato de que o estandarte em questão
representasse realmente um símbolo cristão: para alguns, ele simplesmente faria referência a um
culto solar” (TOSI, 1996, n. 1258, p. 567). O Imperador, um ano após sua conversão ao
cristianismo, baixou, em 13 de julho de 313, um edito de tolerância: o Edito de Milão (apesar do
nome, foi um escrito de Nicomédia), que concedeu aos cristãos a igualdade de direitos como as
outras religiões, e que nos chegou transcrito por Eusébio em sua História Eclesiástica (X, 5, 1-14).
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As decisões imperiais de Teodósio em prol do cristianismo fortaleceram ainda mais a Igreja
frente ao pensamento romano, principalmente ao tomar providências em favor daqueles que
consideraram como ortodoxos, enfraquecendo arianos e “pagãos”. Dentre as decisões de
Teodósio, duas assumem importância fundamental para os cristãos. A primeira foi o Édito de
Tessalônica de 380, quando o catolicismo foi adotado com religião oficial do Império: “Desejamos
que todos os povos que se encontram sob a branda autoridade de Nossa Clemência vivam na fé
que o santo Apóstolo Pedro transmitiu aos romanos, que é pregada até os dias de hoje, como ele
próprio a pregara, e que é seguida, como é do conhecimento de todos, pelo Pontífice Damaso e
pelo bispo Pedro de Alexandria [...]. Decretamos que só terão o direito de se dizer cristãos
católicos aqueles que se submeterem a essa lei e que todos os outros são loucos e insensatos
sobre os quais pesará a vergonha da heresia. Eles poderão contar, em primeiro lugar, com serem
o objeto da vingança divina e, em seguida, com serem castigados também por nós, segundo da
decisão que o céu nos inspirou” (Código Teodosiano, XVI, 1, 2, apud COMBY, 1997, p. 76). A
segunda se deu quando toda a prática religiosa pagã foi proibida, no Édito de Constantinopla de
392, o que significou o golpe de misericórdia na velha religião, aliás, “religião” que naquele
momento passa a ter o mesmo significado de cristianismo: “Se alguém depõe incenso para
venerar estátuas feitas pelo trabalho do homem [...], enfeita uma árvore com pequenas tiras, eleva
um altar por meio de placas de terra tiradas do solo [...], tal coisa configura um ataque e integral à
religião. Culpado de haver violado a religião, esse homem será punido com o confisco da moradia
ou da propriedade na qual se tiver mostrado escravo dessa superstição pagã” (Código
Teodosiano, XVI, 12, apud COMBY, 1997, p. 76). Essas decisões imperiais foram compiladas no
Código Teodosiano.
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Isto porque essa situação não se encontrava idêntica no Ocidente e no Oriente: “... no Oriente e
no Ocidente a figura do imperador e das suas relações com a Igreja foram interpretadas e
realizadas muito diversamente. Enquanto em Constantinopla o basileu se considerava chefe da
Igreja e do Estado, convocava concílios, depunha os patriarcas, e até prendia o Papa, no
Ocidente, onde o Estado quase não existia organizado, dava-se o inverso, porque a Igreja era o
único poder constituído, e era ao Papa que os reis e imperadores deviam obediência” (LUPI, 2000,
p. 130).