Diante disso, o principal mecanismo responsável por propagar esta ideologia é o meio
de comunicação de massa
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, que atualmente vem produzindo amplas mudanças no
comportamento da sociedade, ocasionando o que alguns historiadores chamam de aceleração
na história
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.
“A televisão tornou-se uma mídia realmente ágil e, pela mediação dos satélites, de
alcance planetário” [...]. Encontramo-nos na virada da história da informação. No
conjunto da mídia [...] A televisão conquistou o poder. De agora em diante ela dá o
tom, determina a importância das novidades, fixa os temas da atualidade. (IANNI,
1992, p. 114, destaque do autor).
Perante todas estas transformações, vem acontecendo na contemporaneidade o próprio
desencantamento do mundo
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, concretizado na generalizada racionalização das ações e
relações, processos e estruturas, coisas, gentes e idéias, atingindo o indivíduo na sua essência.
Com isso, os modos de vida e trabalho do homem parecem impregnar-se da racionalidade
enraizada na produção de mercadorias materiais e culturais, que atendem às necessidades reais
e imaginárias, manipuladas pela publicidade, a indústria cultural, o jogo das imagens coloridas,
pasteurizadas e fugazes. Com isso, o mundo tem sido racionalizado em tal extensão, e esta
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O termo meio de comunicação de massa refere-se ao instrumento ou à forma de conteúdo utilizado para a
realização do processo comunicacional, quando referido á comunicação de massa, pode ser considerado
sinônimo de mídia. Uma das principais características é a possibilidade que apresentam de atingir
simultaneamente uma vasta audiência, que além de heterogênea e geograficamente dispersa, é por definição,
constituída por membros anônimos para a fonte, ainda que a mensagem esteja dirigida a uma parcela
específica de público.
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Para o historiador francês Pierre Nora (1993), o termo aceleração na história se refere: “a toda a distância entre a
memória verdadeira, social, intocada, aquela cujas sociedades ditas primitivas, ou arcaicas, representaram o modelo
e guardaram consigo o segredo - e a história que é o que nossas sociedades condenadas ao esquecimento fazem do
passado, porque levadas pela mudança entre uma memória integrada, ditatorial e inconsciente de si mesma,
organizadora e toda poderosa, espontaneamente atualizadora, uma memória sem passado que reconduz eternamente
a herança, conduzindo o antigamente dos ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e do mito – e a
nossa, que só é história, vestígio trilha. Distância que só se aprofundou à medida em que os homens foram
reconhecendo como seu um poder e mesmo um dever de mudança, sobretudo a partir dos tempos modernos.
Distância que chega hoje, num ponto convulsivo.”
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Esse termo utilizado por Max Weber (2004) tem dois sentidos. O primeiro deles é o sentido religioso de
desencantar o mundo através da religião. O novo modelo religioso determina o “modus vivendi” dos seres
humanos reformulando sua visão e principalmente a postura em relação ao mundo. O segundo diz respeito ao
fato de que a ciência não consegue dar sentido ao todo do mundo e sim a cada parte de maneira casualística,
portanto, tira o sentido do mundo como todo, enveredando em explicações que apresentam causas dos
fenômenos que ocorrem. Para Gabriel Cohn, (2003, on-line) um dos principais estudiosos do pensamento
weberiano, “quando aborda esse assunto, Weber compara o mundo de hoje com épocas antigas, bíblicas, nas
quais havia um universo restrito de ação, mas nesse universo o homem sentia-se pleno. Agora, por conta das
inúmeras opções que se colocam diante do homem, viver pleno é algo inimaginável nos dias de hoje. Saciar-
se não faz parte das sociedades complexas contemporâneas. O que há, mais uma vez, é uma disputa
permanente de uns para atrair a atenção de outros e ganhar espaços na sociedade. Na perspectiva de Weber,
está definitivamente sepultada a era em que homens chegam aos 90 anos tendo vivido tudo o que queriam. É
uma espécie de Éden que não tem retorno, supondo que fosse o paraíso.”