Download PDF
ads:
EDUCAÇÃO RURAL:
DAS EXPERIÊNCIAS À
POLÍTICA PÚBLICA
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ads:
Francisca Maria Carneiro Baptista
EDUCAÇÃO RURAL:
DAS EXPERIÊNCIAS À
POLÍTICA PÚBLICA
2003
série
DEBATES
e
AÇÃO
Volume 2
Ficha Bibliográfica
Baptista, Francisca Maria Carneiro, 2003
Educação rural: das experiências à política pública/
Francisca Maria Carneiro Baptista, Brasília : Núcleo de Estu-
dos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD / Conselho
Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável / Ministério
do Desenvolvimento Agrário, Editorial Abaré, 2003.
96 p.
1. Educação. 2. Escola(A). I. Núcleo de Estudos Agrários e
Desenvolvimento Rural – NEAD. II. Conselho Nacional de
Desenvolvimento Rural Sustentável. III. Ministério do Desen-
volvimento Agrário. IV. Editorial Abaré. V. Francisca Maria Car-
neiro Baptista. VI.Título.
CDU 370
371
A responsabilidade pelas opiniões contidas nos livros, artigos e outras contribuições cabe
exclusivamente ao(s) autor(es), e a publicação dos trabalhos pelo NEAD não constitui
endosso das opiniões neles expressa e sim exclusivamente o cumprimento do papel de
fomentador de debates e estudos das realidades territorial e agrária.
Da mesma forma, a referência a nomes de instituições, empresas, produtos comerciais e
processos não representam aprovação pelo NEAD, bem como a omissão do nome de
determinada instituição, empresa ou produto comercial ou processo não deve ser interpretada
como sinal de sua aprovação por parte do NEAD.
A reprodução total ou em parte deste livro, por qualquer meio, somente pode ser feita com
a expressa e formal autorização do(s) autor(es) e informada aos editores. Em qualquer hipótese
deve-se citar a fonte.
SCN • Quadra 1 • Bloco C
Edifício Trade Center • 5º andar • conjunto 512
70710-902 • Brasília-DF
Telefone: (61) 328-8661 • Fax: (61) 328-8661 ramal 216
www.nead.org.br
Sumário
Prefácio 7
I – Introdução 13
II – Educação rural – seu momento atual 16
III – Um olhar sistematizador sobre as
experiências do MOC e do Serta 35
IV – Novos desafios na construção de políticas
de educação para o campo 63
V – Reflexões conclusivas 66
VI – Bibliografia consultada 68
Anexo 1 71
Anexo 2 78
Sobre os autores 94
Serta 97
MOC 98
7
Prefácio
C
onhecer – Analisar – Transformar refere-se à ação pe-
dagógica sobre o meio social em ambiente rural, na
região de Feira de Santana, Bahia (NE). Mas, a experi-
ência que ora se registra para conhecimento e análise
de um ciclo bem mais vasto, nacionalmente, não o é
por falta de modéstia, embora não seja modesta.
É uma experiência de transformação de sujeitos
que se envolvem com a educação, que poderia ser dita
escolar, se a vida for entendida como escola de
humanização, com o desejável tempero lúdico de suas
lições, numa jornada ampliada, não só de horas ou
mesmo períodos, mas sobretudo de todos os sujeitos
que nela interagem, em sua vontade de bem-querer e bem-
fazer! Envolvem-se, e se percebem em transforma-
ção. E nisso não se sentem sós, isolados: como apren-
dizes do mundo, vivem em estado de comunicação e per-
muta, sensibilizados e em sintonia com outros sonhado-
res com pé no chão... Afinal os sujeitos são culturalmente
o mesmo homo sertanejo... De Pernambuco (Serta) e
alhures vozes se fazem ouvir seguindo e sugerindo outra
8
canção (não a de ninar, perenizada no excludente berço
esplêndido), a daqueles que sabem e fazem a hora acontecer.
(Embora tanto se espere que até a voz de um Rui Barbo-
sa se perde no deserto da indiferença oficial, desde
1882, quando apresentou na Assembléia, a pedido de
D. Pedro II, o Projeto de Reforma do Ensino Secundá-
rio e Superior, e, entre outras colocações, dizia: “A civi-
lização do país, seja qual for o aspecto sob que a encaremos, tem
por principal motor o adiantamento intelectual de todas as clas-
ses da população” (citando um pronunciamento do cons.
Paulino, na Câmara dos Deputados, em 1870), e conti-
nuava: Se, numa frase hoje [!] impopular, somos um país es-
sencialmente agrícola, e, apesar de não sermos, nem devermos
ser, uma nação militarizada... lembremo-nos de que uma coisa
há que mais pode em favor da lavoura do que a própria
fecundidade do solo e em sua sustentação da integridade nacio-
nal do que os exércitos numerosos: é a ciência ... que ensina a
não empobrecer o torrão fértil, e a converter a esterilidade mais
ingrata na mais opulenta uberdade...” (p.11
*
).
Dar maior e mais geral publicidade a estas múltiplas
experiências, centradas todas na vivência do campo e na
perspectiva de sua sustentabilidade em prol da
ecumene; explicitar os sinais de que o próprio Conse-
lho Nacional de Educação reconhece a especificidade da
cidadania para o/a trabalhador/a rural, sua família e
sua escola, e de que isso é de interesse e responsabilida-
* Rui Barbosa. Reforma do Ensino Secundário e Superior (1882). Vol. IX,
tomo I. Min. da Educ. e Saúde. Rio de Janeiro 1942.
9
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
de nacionais; re-afirmar que o Nordeste, mais ainda
em seu recorte de semi-árido, tem uma maioridade
própria de consciência, reflexão e perspectivas den-
tro de sua realidade e potencialidades – eis o sentido
deste depoimento para a história em construção,
costurado no dia-a-dia das várias comunidades rurais,
e cujos vetores foram e são apresentados, avaliados e
dinamizados em reiterados encontros e fóruns sindi-
cais e de ONGs, com universidades e setores também
governamentais nos níveis municipais, estaduais e fe-
derais, mais do que oportuno neste momento especi-
al de encontro do país com suas raízes populares, do re-
encontro mesmo com um sonho oficialmente inter-
rompido, a partir de 1964 e por longos 20 anos, pelo
pesadelo da intervenção pró-Ordem Constituída na ótica
das elites, alérgicas sempre a iniciativas como as do
mestre Paulo Freire...
O melhor de um prefácio, porém, é acabar e ter tor-
nado o leitor impaciente pelo que se segue, e que será
incitante se você, leitor, é daqueles que gosta de conhe-
cer, analisar e transformar(-se também). Apostemos, en-
fim, como ainda reza a Constituição cidadã em seu artigo
193, em que “A ordem social tem como base o primado
do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça so-
ciais” – a começar pelo campo, alavancado por uma EDU-
CAÇÃO em tudo e por tudo democrática.
José Jerônimo de Morais
Temos uma preocupação prioritária com a escolarização da
população do campo. Mas para nós, a educação compreende todos
os processos sociais de formação das pessoas como sujeitos de seu
próprio destino. Neste sentido, educação tem relação com cultura,
com valores, com jeito de produzir, com formação para o trabalho
e para a participação social.
13
I
Introdução
A
o falar em educação referimo-nos a processos
os mais variados, enfatizando sua dimensão for-
mal, informal e outras. Efetivamente, ela acontece em
casa, em reuniões, nos sindicatos, nas igrejas, no inter-
relacionamento das pessoas. E, naturalmente, acon-
tece também na escola.
Convencionou-se, por isso, tratar de educação
formal a ministrada e trabalhada pelas escolas, pela
rede de ensino; e de educação informal, as outras for-
mas de educação.
Neste texto, trabalharemos com o corte de refletir
a educação formal, especialmente, aquela ministrada
nas escolas rurais. É verdade que falar de educação rural
é algo conflituoso. Alguns educadores e teóricos da
educação argumentam que a escola e a educação de-
vem ser trabalhadas sem cortes específicos, atingindo
a todos e todas na mesma perspectiva. Assim, ela é
cidadã, questionadora, fornece às pessoas os conheci-
mentos de que necessitam para fazer frente e transfor-
mar a realidade em que vivem. Alguns outros reco-
14
nhecem a dimensão geral da educação, mas enfatizam
a necessidade de certos ajustes pedagógicos, sociais
e políticos, por meio dos quais se possa materializar
a inserção das pessoas e grupos na sociedade, na
produção do conhecimento e no fazer concreto da
cidadania. Assim, segundo essa visão, a educação se
deve realizar como um instrumento do desenvolvi-
mento e este se concretiza e materializa no dia-a-dia
dos homens e mulheres, na realidade onde vivem.
A perspectiva de trabalho que vamos assumir nes-
te texto – enfatizar a necessidade do corte pedagógi-
co e político da educação rural.
Resgataremos experiências e lutas do movimento
social em busca de uma educação rural de qualidade,
assim como refletiremos sobre as condições e pro-
cessos dessa educação tal qual ela é ministrada hoje,
na grande maioria das escolas rurais brasileiras; em
seguida, resgataremos os elementos principais dos
últimos documentos oficiais sobre educação, onde,
justamente, se enfatiza a necessidade do corte peda-
gógico e político em relação à educação do campo;
num terceiro momento, relataremos a experiência
desenvolvida pelo MOC e pelo Serta
2
, na região de
Feira de Santana, Bahia e, de Glória do Goitá e
2 Partilhamos com o prof. Abdalaziz de Moura os conteúdos e reflexões básicas,
máxime, quando fazemos o relato das experiências do MOC e Serta para o
Seminário da Contag, na construção de um texto básico para subsidiar os debates
da Audiência Pública sobre Educação Rural, realizada pelo Conselho Nacional de
Educação, em 2001.
15
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
adjacências, em Pernambuco; finalmente levantaremos
alguns desafios que, hoje, se colocam para a
implementação das Diretrizes Operacionais para
Educação Básica nas Escolas do Campo.
O convite para relatar e refletir a experiência foi
feito ao MOC. Nós, no entanto, achamos por bem
ampliar a questão, já que inserindo a experiência do
Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa – ONG de
Pernambuco e com história de inserção conseqüente
na busca de uma educação rural de qualidade), o rela-
to ficará mais rico e mais amplo e demonstrará sua
possibilidade real de atingir a área urbana de municí-
pios rurais, e ir além da quarta série. Além disso, já
tínhamos, em conjunto, um amplo material de siste-
matização de nossas práticas, textos esses adaptados
e aprofundados neste momento.
16
II
Educação rural – seu momento atual
1. A educação rural e uma crítica à sua
concepção
Discutir a escola, especialmente no interior dos es-
tados, até pouco tempo era um tabu. De um lado, as
autoridades por ela mais responsáveis consideravam
uma ofensa qualquer debate mais crítico sobre a ques-
tão; e, de outro, os próprios movimentos sociais não
tinham a escola como um dos centros de seu debate;
de outro, ainda, a própria sociedade não olhava a edu-
cação e sua dimensão de qualidade como uma tarefa
também sua. Outras reflexões, ainda, dão conta de
que, na medida em que a escola se abriu para todos,
especialmente para as classes populares, decresceu em
qualidade e em interesse do próprio poder público.
Esse quadro, gradativamente, foi levando a uma
deteriorização da escola, nas suas mais variadas maneiras.
Num olhar sobre as escolas do interior, especial-
mente aquelas do Nordeste, vamos nos defrontar com
escolas ou salas de aula funcionando em casebres, em
ruínas, com professores e professoras sem acesso a
17
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
processos sistemáticos de formação, com uma utili-
zação político-partidária do sistema escolar, entre
outras coisas. A prática desenvolvida, embasada na-
turalmente numa proposta política, indica que, para a
área rural, qualquer serviço educacional que seja ofe-
recido, já é coisa boa demais.
No entanto, uma análise da educação rural não
se pode satisfazer apenas com os elementos acima
aventados. Há que se ir mais fundo e buscar, na
prática de cada dia, no processo pedagógico mi-
nistrado, na metodologia utilizada, nos conteúdos
veiculados, a concepção política de educação, sua
inserção ou não a serviço de um desenvolvimento
includente e para todos.
Nesse sentido, o professor Abdalaziz de Moura,
do Serta, assim se expressa, em palestra proferida em
painel do IV Fórum Contag de Cooperação Técnica,
denominado Educação para o Desenvolvimento Sustentá-
vel, realizado em Recife, em novembro de 2000:
A escola e a educação que são proporcionadas aos alunos do
meio rural não produzem os conhecimentos necessários, para
que os mesmos com suas famílias, possam aumentar a pro-
dução e produtividade, agregar valor aos seus produtos, me-
lhorar as tecnologias, aumentar sua renda”.
Não valorizam os conhecimentos que os alunos já trazem da
experiência de seus familiares, para interagir com conheci-
mento mais técnico, escolar e científico, nem levam em conta a
sua realidade. O aluno entra na escola como se nada tivesse
18
aprendido com seus pais e como se, ao longo da escolaridade,
nada pudesse aprender com os pais.
Os valores cultivados na escola estigmatizam a agricultura e o
agricultor, retiram-lhe a sua auto-estima, desvalorizam sua
identidade camponesa e de classe social.
O papel que a escola exerce, por meio de seu “currículo ocul-
to”, é de ensinar que, se o agricultor quiser melhorar de
vida, ele tem de sair da agricultura, tem de vir morar na
cidade, tem de arrumar outro emprego. A escola identifica
melhorar de vida com deixar a agricultura. “Vocês precisam
estudar para não ficar como os pais de vocês!”
A identidade conhecida pela escola é a de “matuto, pé-racha-
do, brocoió” em oposição ao urbano, desinibido, comunicati-
vo, sabido, esperto e com o futuro garantido. Ou, então, dis-
farça os preconceitos: “ela é do sítio, mas é tão bonita”, como
se as meninas do sítio fossem feias e as da cidade bonitas.
“É um matuto, mas é educado”, “é pobre, mas, pense num
sujeito decente”, ou “é do sítio, mas não é rude”.
A educação e a escola consideram o trabalho dos pais como
pesado, amaldiçoado e que ficou para analfabetos, para quem
não teve chance de progredir, para quem não teve iniciativa
de sair. Em seguida, os alunos que entram para estudar
começam a esquecer o que aprenderam em casa; e, na escola,
não aprendem outras coisas para interagir. Passam a ter
vergonha de sua condição de filhos de agricultor.
Todas essas coisas já foram identificadas,
criticadas, analisadas pela educação popular, pela
19
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
pedagogia crítica, pelos movimentos sociais, pelos
que estudaram a pedagogia da exclusão, a
pedagogia da reprodução. Não há novidade nessas
constatações. O movimento sindical está apenas
confirmando o que já é óbvio. Porém, existe uma
grande novidade. Qual é ela? É que, apesar dessas
limitações, se começa a acreditar que esse papel
exercido pela escola até agora pode ser revertido,
que existem experiências bem-sucedidas nesse
campo e que essa questão está começando a ser
pauta e agenda, não só do movimento sindical
rural, como de todos que querem construir a
sustentabilidade do desenvolvimento. Não se trata
de uma ingenuidade pedagógica de esperar da
escola o que ela não pode dar, mas de redesenhar
um outro papel para as sociedades que querem
optar por outro modelo de desenvolvimento,
diferente do que nos tem sido proporcionado.
Por conseguinte, fica óbvio que os problemas
da escola e especialmente da escola rural não são
apenas aqueles de móveis, carteiras, instalações,
ou falta de dinâmicas de grupos. É evidente que
todas essas coisas são importantes e que delas
não podemos prescindir. Trata-se, no entanto, de
conferir a esses problemas uma importância se-
cundária, visto que é mais necessário um debate
profundo em relação ao papel político da escola,
na construção de um modelo diferente de desen-
volvimento, sustentável e includente.
20
2. Movimentos, iniciativas e novas perspecti-
vas para a educação no campo
2.1 A história e as múltiplas experiências
Refletindo a problemática acima delineada, es-
tudiosos, integrantes de movimentos sociais, igre-
jas, ONGs, algumas universidades e prefeituras co-
meçaram a se lançar na construção de opções dife-
rentes de educação para o campo, a maioria delas
centradas numa concepção que parte da realidade
rural para a construção do conhecimento pelos pro-
fessores, pais e alunos, valorizando a cultura local,
incentivando a auto-estima e colocando a escola e a
educação formal a serviço do desenvolvimento sus-
tentável e includente.
Tais experiências sempre buscaram criar uma
nova educação rural, quer forçando o surgimento
de novas leis, quer buscando implementar aspectos
da legislação que, embora existentes, eram ignora-
dos pelas autoridades encarregadas de implementá-
los. Isso é uma constatação histórica que não pode
ser negada, mas que nos impulsiona a dar um passo
à frente.
De fato, apesar de o Brasil ser um país de origem
eminentemente agrária, a educação rural aqui nunca
foi alvo de interesse dos governantes, ficando sempre
relegada a segundo ou terceiro plano, “apêndice” da
educação urbana. Foi e é uma educação que se limita
à transmissão de conhecimentos já elaborados e leva-
21
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
dos aos alunos da zona rural com a mesma
metodologia usada nas escolas da cidade.
Não se faz relação com a vida dos alunos e de sua
família, com o trabalho agrícola nem com o meio
ambiente em que a escola está inserida. Não se co-
nhece, não se respeita, nem se valoriza a cultura das
famílias e da comunidade onde a escola se encontra e
aí se excluem os pais do processo educacional e igno-
ram-se os conhecimentos que as crianças já trazem
consigo para a escola.
As constituições brasileiras, desde a primeira, de
1824 até a de 1988, nunca se referiram à educação
rural, como uma forma específica de trabalhar na sala
de aula, valorizando diferenças étnicas e culturais, tra-
balho agrícola e a vida de população do campo.
Só a Constituição de 1988, no seu artigo 212, pro-
clama a educação como “direito de todos e dever do
Estado”, transformando-a, assim, em direito públi-
co subjetivo, independentemente de se residir na área
urbana ou rural. Desse modo, os princípios e precei-
tos constitucionais da educação abrangem todos os
níveis e modalidades do ensino ministrado em qual-
quer parte do país.
Assim, deixa brecha para que se adapte a educa-
ção à realidade de cada escola. Partindo daí, grupos
organizados da sociedade civil começaram a pensar
numa educação mais adequada para as escolas rurais
e procuraram contribuir com propostas mais concre-
22
tas para a nova LDB. Oito anos depois de promulga-
da a nova Constituição, em dezembro de 1996, surge
a nova LDB (Lei 9.394), dando um tratamento peri-
férico à educação rural, pois só no seu artigo 28 trata
diretamente da mesma.
Art. 28 – Na oferta de educação básica para a po-
pulação rural, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias à sua adequação às peculiarida-
des da vida rural e de cada região, especialmente:
I conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
II organização escolar própria, incluindo adequação do calen-
dário escolar às fases do trabalho agrícola e às condições
climáticas;
III adequação à natureza do trabalho na zona rural.
Baseada na Constituição de 1988, que trata a edu-
cação rural no âmbito de igualdade de direito e do
respeito às diferenças, a LDB também abre espaço
para uma adequação da escola à vida da população
rural quando se refere às diferenças regionais, como
dita o artigo 26.
Art. 26 – Os currículos do ensino fundamental e
médio devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
23
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
A Lei 9.424 (Fundef) valoriza o professor, inde-
pendentemente do local de atuação, e prevê diferen-
ça valor/aluno rural (o que nunca foi cumprido pelo
governo). Mesmo assim, a educação no campo conti-
nua com um tratamento periférico.
O que relatamos aqui, por conseguinte, é a
constante tentativa da sociedade de fazer valer as
leis e/ou forçar o surgimento de novas leis, na
busca de construir uma educação do campo
efetivada com e pela população local. Não é nosso
intuito, portanto, fazer um levantamento exaustivo
das mesmas, dado que não é esse o intuito deste
texto, mas apresentar experiências alternativas, na
busca de uma educação mais adequada aos anseios
e necessidades do aluno do campo. Eis, pois,
algumas delas:
a) Escola Família Agrícola e experiências a ela
agregadas, centradas na pedagogia da alternância,
as quais valorizam imensamente a realidade rural,
despertam vocações a ela atinentes e atuam,
preponderantemente, com jovens e suas famílias.
Essas experiências se espalham pelo Brasil afora,
com uma história de sucesso no seu trabalho.
b) Os mais variados encontros de movimentos
e organizações sociais Por uma educação do
campo, que agregam os grupos sociais e igrejas,
ao redor da temática educação do campo, numa
perspectiva já de sistematização de experiências
24
prestes a projetar uma interferência mais
consolidada em políticas públicas de educação
do campo; está havendo uma articulação de
cunho nacional, projetando-se para coletivos de
nível estadual (os Fóruns de Educação no
Campo) onde se discutem experiências, se
sistematizam práticas, se aprofundam temas e
se busca construir uma interferência coletiva em
regulamentações e políticas oficiais de
educação no campo.
c) No âmbito do semi-árido, cresce e toma corpo o
debate denominado Educação para o semi-árido brasileiro
uma espécie de corte mais específico da questão da
educação no campo, dado que a proposta é colocar
a escola a serviço de um desenvolvimento sustentável
e de uma vida digna no semi-árido, para o que não
apenas são necessárias metodologias adequadas de
tratamento da questão, como também a inserção,
como conteúdo escolar, de temas específicos que
dizem respeito, incentivam e capacitam para uma
convivência sadia com o semi-árido; na prática, quase
todos os estados do semi-árido estão se inserindo,
aos poucos, na articulação que se denomina Rede
de Educação no Semi-Árido Brasileiro – Resab com
coordenações estaduais e incentivadas pelo IRPAA
e a Universidade do Estado da Bahia, campus
Juazeiro da Bahia. O esforço da Resab já não é mais
e apenas de se voltar à sociedade civil, mas envolver
secretarias municipais de Educação, universidades,
25
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
ONGs, União Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação – Undime e todos aqueles que estão
buscando e experimentando algum processo prático
de construir uma proposta de educação mais
adequada ao semi-árido.
d) Experiências de alguns movimentos da sociedade
civil, embasados nos artigos 26 e 28 da LDB (já
citados) que incentivam adaptações regionais dos
currículos e que falam, explicitamente, da necessi-
dade de se ter uma adequação para a área rural,
propuseram, às Câmaras Municipais, conteúdos
específicos a serem veiculados na escola e que dão
conta da realidade rural e do semi-árido e, mais
ainda, propõem uma capacitação especial para os
professores, nesse particular.
e) Prefeituras municipais também experimentam,
como acontece em Curaçá, BA, em Vicência, em
PE, todo um currículo adequado à área rural e à
valorização da cultura de sua população, desen-
volvendo também processos de capacitação espe-
cífica nesse campo; para professores/as das esco-
las do campo.
f) ONGs como o Serviço de Tecnologia Alternativa
– Serta, de Pernambuco, e o Movimento de Orga-
nização Comunitária – MOC, em Feira de Santana,
BA, desenvolvem em parceria com universidade e
prefeituras municipais uma proposta sistematiza-
da e fundamentada de educação rural, inclusive já
26
com publicações didático-pedagógicas.
3
Essa ex-
periência denomina-se Proposta de Educação
Rural – PER, em Pernambuco, e Conhecer, Anali-
sar e Transformar a realidade rural – CAT, na
Bahia. A proposta se centra, basicamente, nos mes-
mos pilares e vem se ampliando para mais e mais
municípios. Na Bahia, além de oito municípios que
vivenciam tal proposta, ultimamente, a mesma está
sendo aplicada nas Jornadas Ampliadas do Pro-
grama de Erradicação do Trabalho Infantil, capa-
citando as crianças para um maior conhecimento
de sua realidade e desenvolvendo a capacidade ci-
dadã de interferir para modificá-la.
g) Coordenado pelo IRPAA, desenvolve-se na
Bahia e no Nordeste um esforço de elaboração
de materiais didáticos com conteúdos específi-
cos sobre o semi-árido. Alguns já foram publi-
cados e a elaboração do livro Convivência com o
semi-árido para alunos e professores de 1ª a 4ª
série está sendo discutida.
h) A Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura – Contag já colocou em sua agenda,
como dimensão de prioridade, a questão da edu-
cação rural, fato este que vem se desdobrando
3 Escola Rural, uma Experiência uma Proposta – livro feito com a participação das
duas organizações citadas acima e a contribuição de professores que vivenciaram
a proposta. O boletim A Voz do CAT, editado pela Coordenação Geral do CAT, à
razão de três números por ano, proposta pedagógica que explicitaremos mais
adiante e produzido com base em experiências de professores e professoras rurais
e textos de alunos.
27
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
nas duas federações e sindicatos, alguns dos quais
já começam a trabalhar mais concretamente essa
problemática.
i) O Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária – Pronera há tempos vem desenvolven-
do experiências e processos de uma educação
adequada à realidade dos assentamentos de re-
forma agrária.
Pode-se dizer, conseqüentemente, que de Norte a
Sul aparecem e são sistematizadas experiências, de-
bates e teorizações que expressam o desejo, o anseio
e a busca de uma educação adequada à realidade do
campo e que seja instrumento de um desenvolvimen-
to includente de todos.
Todas essas experiências têm, aproximadamente,
algo em comum: consideram que a questão da
educação rural vai muito além de mudanças didáticas,
de melhoria de equipamentos, de capacitação de
professores. O importante é discutir a concepção de
educação e sua inserção ou não a serviço de um modelo
sustentável e justo de desenvolvimento e que tal
concepção se reflita no planejamento pedagógico dos
sistemas de ensino e das escolas rurais de todo o país.
Como bem explicita o professor Abdalaziz de
Moura:
Somos muito tentados a pensar que o problema da escola em
relação à realidade rural é só de condições. Melhorando-as, a
educação vai melhorar. Nós também, quando começamos em 1992
28
a enfrentar o desafio de uma escola para o meio rural, pensamos
que era por aí. Era uma questão didática, de temas, de dinâmi-
cas, dos conteúdos curriculares, de capacitação das professoras.
Entramos mexendo nisso tudo. Porém, quando entramos mesmo
no sistema de ensino, descobrimos um rombo maior.
A dificuldade era o que a escola incutia na cabeça dos alu-
nos, dos pais, dos próprios educadores, sobre qual era o papel
da escola, qual era a finalidade da mesma para as pessoas,
para a comunidade, para o município. A professora era forma-
da e trabalhava para incutir, na cabeça de todos, que a escola
era para ensinar a ler, escrever, calcular, aprender línguas, pas-
sar para as gerações novas o saber organizado, programado,
que as gerações anteriores já sistematizaram.
Nesse sentido, a escola não tinha nada a ver com o avanço
da cana ou sua decadência, com a seca ou com o inverno, com o
subdesenvolvimento. A professora passava 25 anos ensinando
numa comunidade, mas não precisava produzir conhecimento
sobre essa comunidade, sobre a produção das famílias, sobre os
animais que são criados ali, sobre os rios que são poluídos,
sobre as carências que a população tem, sobre as potencialidades
de mudança. Não interessava se haveria safra ou não, se have-
ria terra e semente para as pessoas plantarem ou não.
O produto dessa escola é um cidadão adulto individual,
que aprendeu a ler e foi embora para uma cidade maior. A
escola ensinou o que tinha de ensinar, a professora sente-se
satisfeita, porque preparou gerações inteiras que foram ganhar
a vida em outro local melhor. O sistema municipal esforça-se
para pôr os alunos nas escolas. São dois mil, três, quatro,
seis, oito, dez mil alunos, cada um com 4 horas/dia dedicadas
29
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
ao estudo. São cem, duzentas, trezentas professoras, dedicando
o mesmo ou mais tempo. Chega a quatro, cinco, milhões de
horas durante o ano letivo! O recurso que paga toda essa
mobilização é público. Perguntamos: o que a escola produziu,
construiu sobre a realidade, sobre o município? Que pesquisa
realizou? Que diagnóstico apresentou? Que ação provocou nas
famílias? Que aumento de produção induziu? Que organização
fortaleceu? Se fosse uma marca de cerveja que pagasse tantas
horas de capacitação para os seus vendedores, que serviço
esperaria dos mesmos?
As professoras têm surpreendido com tais perguntas. Não
imaginavam que a escola poderia ter esse papel, que a escola
poderia rediscutir sua finalidade, seu papel social, político e
pedagógico. Achavam que só seria possível discutir as didáticas, as
formas de passar os conteúdos, as dinâmicas para os alunos, ou
então as coisas que vem do MEC, da Secretaria Estadual e
Municipal de Educação. Pode discutir Parâmetros Curriculares,
Avaliação da Aprendizagem, Formação em Serviço. Mas a fina-
lidade da educação, nada! Nem pensar!
2.2 O Conselho Nacional de Educação e a educa-
ção no campo
Assim, a busca de leis que explicitassem formas de
atuação específica para a escola rural foi-se encaminhan-
do até que surgiram as Diretrizes Operacionais para
Educação Básica nas Escolas do Campo – na Reso-
lução nº 01, de 3 de abril de 2002, da Câmara de Ensino
Fundamental do Conselho Nacional de Educação.
30
Tal resolução traz princípios e procedimentos,
para que a educação rural tenha uma identidade, re-
fletindo a peculiaridade constitutiva da população
campesina, a quem essa educação se destina. Ela, ini-
cialmente, nos três primeiros artigos, assim define a
educação rural:
É toda ação educativa desenvolvida junto às populações rurais
e fundamenta-se nas práticas sociais constitutivas dessas populações:
os seus conhecimentos, habilidades, sentimentos, valores, modo de
ser e de produzir, e formas de compartilhar a vida.
Em seguida, apresenta elementos essenciais para
que tal educação aconteça.
Como se trata de educação rural, a prof
a.
Socorro
Silva, da UnB, a comparou com uma árvore e fize-
mos juntas a seguinte representação, para facilitar o
entendimento das pessoas.
31
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Esta é a Educação rural que queremos construir no terri-
tório brasileiro.
As raízes são os princípios pedagógicos, políticos filosóficos e
metodológicos que fundamentam as decisões sobre educação/esco-
la. O tronco é a escola que prepara os alunos em habilidades huma-
nas comuns a todas as escolas (lado direito) e em habilidades especí-
ficas do campo (à esquerda).
Os galhos representam os cinco elementos essenciais, para que a
escola rural cumpra bem o seu papel de “inserção cidadã da popula-
ção rural na definição dos rumos da sociedade brasileira” (introdu-
ção da Resolução n
o
1).
32
Estes elementos são:
1. Proposta pedagógica e organização curricular
(arts. 4º e 5º).
2. Organização do sistema de ensino e estrutura es-
colar (art. 7º).
3. Gestão escolar participativa e valor das parcerias
(arts. 8º e 9º).
4. Formação inicial e continuada dos professores
(arts. 12 e 13).
5. Financiamento da educação nas escolas do campo
(arts. 14 e 15).
O bom ou mau funcionamento da escola depende
da qualidade e seriedade desses elementos, que
precisam ser bem estudados, pensados, planejados
coletivamente e implementados. Não basta incluir no
curso temáticas de agricultura ou meio ambiente. É
preciso haver um planejamento pedagógico enraizado
na especificidade rural.
Essa lei confirma e aprofunda o que já fazíamos com
o CAT, o que o Serta faz com a PER e o que as múltiplas
experiências espalhadas pelo Brasil já tentavam:
partindo da realidade, construir conhecimentos
localizados, para a seguir chegar-se ao conhecimento
universal. Agora, no entanto, o debate se amplia, porque
atinge o sistema de ensino, reforça a necessidade de
uma gestão participativa – de formação continuada e
específica dos professores, – de um planejamento
33
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
pedagógico coerente com a realidade, – de um
financiamento também específico, e, mais do que nunca,
– de a educação se inserir, de verdade, na construção
do desenvolvimento sustentável.
Sim, a escola rural que queremos tem de ser:
• propulsora e estimuladora da agricultura, do desen-
volvimento da comunidade;
• provocadora e construtora de conhecimentos no-
vos que possam interagir com o conhecimento que
as famílias têm;
• intérprete da realidade local;
• capaz de construir nova identidade para quem tra-
balha na agricultura, na pecuária, nas agroindústrias;
• o sistema de ensino tem de ultrapassar as paredes
da escola e se encontrar com inúmeros espaços pe-
dagógicos existentes e disponíveis nas proprieda-
des rurais, nas comunidades, nas roças, nos rios,
nas aguadas, nos sindicatos e associações.
Sim! É necessário imprimir uma identidade na edu-
cação rural, para que se:
• resgate, valorize e respeite a sua cultura;
• incentive a preservação do meio ambiente;
• aproveitem os conhecimentos e experiências do
homem e da mulher do campo, valorizando o seu
trabalho e o seu viver;
• criem, a partir daí, novos conhecimentos para am-
34
pliar nos alunos a visão da agricultura, como meio
de melhorar as condições de vida da população
camponesa;
• descubram com os alunos e familiares formas de
captação e conservação da água no semi-árido, bem
como da convivência sustentável nessa região com
criatórios e plantas adequadas.
Finalmente: que se interfira na transformação de
hábitos e técnicos que tragam mais saúde, vida e con-
forto à população e um desenvolvimento sustentável
para todos, ou seja, que tal educação seja um eficaz
“instrumento de participação democrática e de luta
pela justiça social e pela emancipação humana”.
4
4 Por uma Educação do Campo – Declaração 2002, item 11, do Seminário Nacional
por uma Educação do Campo – Brasília, 26 a 29/11/2002.
35
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
III
Um olhar sistematizador sobre
as experiências do MOC e do Serta
O MOC e o Serta vêm desenvolvendo, há anos,
experiências de educação rural. A caminhada dessas
duas organizações tem sido rica em mútuas
aprendizagens. O MOC bebeu a inspiração
metodológica (entendendo-se que nenhuma
metodologia se debate e aplica sem uma concepção
política que a embase) na experiência do Serta. A partir
daí, foi desenvolvendo o trabalho, adequando-o à sua
realidade. Freqüentemente, representantes das duas
ONGs se sentam, refletem o que fazem, aprofundam
processos, explicitam aspectos políticos e metodológicos
de suas práticas, desenvolvem novas metodologias.
As reflexões a seguir retratam a análise que as
duas ONGs fazem de sua trajetória no campo da
educação rural. Tais reflexões foram feitas como sub-
sídio à Audiência Pública do Conselho Nacional de
Educação sobre a Educação Rural que discutiu e
originou a Resolução nº 01, de 3/4/2002 sobre Di-
retrizes Operacionais e enriquecidas, posteriormen-
te, com novas práticas.
36
1. O que levar em conta quando se fala em edu-
cação rural
1.1 A situação da educação rural
Já existe, como já nos referimos antes, um consenso
sobre as precariedades da educação e da escola rural:
elementos humanos disponíveis, processos de forma-
ção, supervisão e monitoramento, alto nível de evasão
escolar e repetência, defasagem idade–série, turmas
multisseriadas, infra-estrutura e espaço físico insufici-
entes, salários desestimulantes. Além dessas condições,
impera o preconceito de que a escola rural é para o
pobrezinho, o matuto, a criança conformada com a
pouca aprendizagem, incapaz de ser avaliada com
rigor. O currículo oculto passa a idéia de que o mun-
do rural precisa ser deixado por quem quer vencer na
vida, uma vez que ali não há chance de progredir. Ar-
gumentam que os pais são pobres porque são agricul-
tores e não por outras razões. O papel que a escola
exerce é destruidor da auto-estima do agricultor. Fa-
vorece o êxodo, como bem diz o texto abaixo:
É necessário e possível, portanto, se contrapor à lógica de
que a escola do campo é escola pobre, ignorada e marginaliza-
da, numa realidade de milhões de camponeses analfabetos e
de crianças e jovens condenados a um círculo vicioso: sair do
campo para continuar a estudar e estudar para sair do campo.
Reafirmamos que é preciso estudar para viver no campo.
5
5 Declaração 2002 já citada, item 2.
37
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
1.2 Tentativas de intervenção para melhorar a
escola rural
Boa parte das intervenções para modificar a
realidade da escola rural baseia-se no princípio de que
os seus problemas estão nas carências de infra-
estrutura e materiais. A solução, então, é atender às
mesmas. Não se busca noutros âmbitos, como:
adaptação dos currículos à realidade rural, aumento
de material didático, jornada complementar ou
integral, além da melhoria da infra-estrutura, reforço
da merenda escolar, aquisição de equipamentos,
auxílio econômico às famílias, formação de
professores etc. Mas isso também não basta. Os
programas governamentais do tipo Peti, Bolsa-Escola
e similares não avançam além dessas soluções. Muitos
municípios, quando reivindicam uma melhor educação
rural, cobram essas iniciativas. Gestores, beneficiários
e participantes de programas desse porte satisfazem-
se com o alcance desses resultados. Claro que são
condições que vêm ajudar a escola a fazer melhor o
papel que sempre fez: ensinar a ler, escrever e contar.
1.3 Nossos referenciais para pensar a educação
rural
Pensamos, também, que essas carências fazem parte
do problema. Porém, não constituem a parte mais
importante. Há questões que estão no alicerce dessas
carências. Precisam ser atingidas onde estão, na base,
38
nas raízes, nas causas. Quando se atua apenas nas
carências, acaba-se camuflando, se escondendo as
questões mais profundas. Cria-se um campo de
intervenção tão amplo, são mobilizadas tantas energias
e recursos, gratificam-se tantas pessoas, são trazidos
tantos dividendos políticos, que as pessoas ficam
impermeabilizadas, impedidas de mergulharem mais
fundo na análise da educação e escola rurais. Não se
discute o papel que a educação vem exercendo no meio
rural. Não se discute qual a cultura e o modelo de
desenvolvimento que criaram essa educação e essa
escola, e que são alimentados por elas. Não se questiona
sobre os fins, os porquês, os qualitativos. Apenas sobre
os meios, o como, o onde, os quantitativos.
Para nós, é preciso pensar e fundamentar melhor a
educação que queremos, mudar os princípios filosó-
ficos e políticos que orientam a educação no campo.
É aí que se baseia e se diferencia a experiência do MOC
e do Serta.
2. A nossa concepção de educação
2.1 Educação e cultura
Tanto a escola como a educação rural existem den-
tro de uma cultura. É dentro da cultura existente que
a escola e a educação são construídas. A educação
favorece e reforça a cultura. Segundo Durkheim, “a
educação é o que os mais velhos ensinam aos mais
39
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
moços, para esses se comportarem como aqueles”.
Esse tem sido o grande papel tradicional da educa-
ção. A recíproca é verdadeira, a cultura favorece e
reforça os modelos de educação e de escola.
A cultura é o que está mais profundo nas pessoas e
grupos, representa o inconsciente coletivo. É ela que
determina os hábitos e costumes. No entanto, a cultura
tradicional e vigente exige da escola apenas um papel
pedagógico, didático, de ensinar a ler, escrever, calcular,
como se, aprendendo essas coisas, as pessoas estivessem
aptas para viver bem no mundo atual. Os esforços
convencionais por uma educação de qualidade reforçam
esse papel. Queremos uma educação que respeite e
valorize a cultura dos camponeses.
2.2 Educação e modelos de desenvolvimento
Desenvolvimento com sustentabilidade é hoje um
grande consenso. O MOC e o Serta estão
trabalhando educação para que a escola ajude,
reforce, contribua para a criação desse novo modelo.
E também pela recíproca, para que esse novo modelo
inspire a educação e a escola. Acreditamos, ainda,
que, se não for assim, a educação estará trabalhando
para outros modelos de desenvolvimento e por eles
sendo, reciprocamente, reforçada. Nem a educação,
nem a escola são neutras diante dos modelos de
desenvolvimento. Elas são fruto e semente, ao
mesmo tempo, dos modelos vigentes nas culturas.
40
Em outras palavras, elas são políticas, elas exercem
um papel político, elas ajudam a construir ou a
modificar os modelos que as inspiram. A educação
e a escola que temos no meio rural reforçam o
modelo insustentável de desenvolvimento. Não dá
para pensar sustentabilidade com essa educação.
Buscamos outra!
2.3 Educação x Educação rural
Só podemos distinguir educação rural de educa-
ção urbana levando em conta essas premissas. Se o
papel da escola, na área rural, for só o de ensinar a
ler, escrever e contar, o que se tem a acrescentar na
escola rural é apenas no nível das adaptações didáti-
cas e do atendimento às carências, para que a mes-
ma possa viabilizar melhor o seu papel. Mas, se for
para a escola ajudar a construir outro modelo de
vida e de desenvolvimento e por ele se inspirar, al-
gumas tarefas específicas justificam a distinção en-
tre educação rural e urbana. Entre elas, o resgate e
o fortalecimento da auto-estima do agricultor
familiar. Descobrir o que existe também de
prazeroso em ser agricultor, pois o que, até agora,
a escola fez foi insistir no vergonhoso e pesaroso.
Não se trata apenas de adaptações curriculares,
de didática, mas de postura, de filosofia, de vi-
são de mundo, de tarefa política específica no
meio rural.
41
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
3. Concepção teórico-metodológica
As duas entidades pontuam, cada vez que
fortalecem mais a sua prática, que a riqueza da proposta
educacional está na concepção filosófica, teórico-
metodológica. As ações didáticas, as dinâmicas, os
conteúdos são resultados dessa concepção. Não dá para
separar essas dimensões da concepção. Em outras
palavras, a proposta educacional prevê um novo e
inovador papel para a educação. Poder-se-ia até dizer
que, historicamente, esse papel não é novo, a escola já
o exerce nas culturas onde se situa. Novo seria o
contexto, isto é: se antes, a escola reforçou sempre o
modelo de desenvolvimento vigente e por ele foi
reforçada, é chegada a hora de fazer o mesmo com o
desenvolvimento sustentável, reforçá-lo e por ele ser
reforçada. Seria apenas fazer o que sempre fez, mas
com outra concepção de desenvolvimento.
Esse raciocínio é correto, mas, um detalhe: os modelos
tradicionais de desenvolvimento já estão incorporados
à cultura, já fazem parte dela. Assim, a escola já atua
reforçando-os ou sendo reforçada, quase que de forma
inconsciente. Como um católico, que é católico
simplesmente por conta da família ter sido e não por
opção de fé. Esse papel, a educação já exerce de forma
tão arraigada e incorporada, que os estudiosos da
sociologia do currículo, chamam de currículo oculto.
Em nossa visão, essa tarefa teria de ser explícita e
consciente. O novo modelo de sustentabilidade está
42
longe da nossa cultura, da nossa economia, da nossa
política, da nossa gestão. Os modelos tradicionais, ao
contrário, já estão incorporados, aculturados. Para
criar nova cultura e novo modelo, só com outros pa-
péis inovadores, com mudança de postura dos(as)
educadores(as).
3.1 Princípios básicos da educação assessorada
pelo MOC e Serta
a) A escola tem um papel junto aos modelos de
desenvolvimento e à cultura, que precisa ser ex-
plícito. Sem explicitar esse papel, as iniciativas para
melhorar a educação rural arriscam-se a perma-
necer na superfície. Nos meios e não nos fins.
Arrisca-se a fugir e passar ao lado daquilo que,
de fato, pode fazer mudanças.
b) O conhecimento não é neutro e é instrumento
privilegiado de intervenção na realidade para
modificá-la. Há um modelo novo de desenvolvi-
mento que ainda não está incorporado à cultura e
precisa ser construído. O conhecimento é uma
ferramenta que deve ser usada a favor da incorpo-
ração desse modelo na cultura.
c) Conhecimento, todas as pessoas possuem e po-
dem construí-lo melhor ainda. Sendo assim, a es-
cola precisa levar em conta os conhecimentos que
os pais e os alunos já dominam. Todos são aprendi-
43
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
zes e mestres, cada um em seu lugar social. Ninguém
é dono do conhecimento. Essa convicção muda a
postura dos envolvidos no processo.
d) A construção do conhecimento passa por ou-
tros paradigmas diferentes daqueles a que
estamos acostumados: compartimentados, se-
parados. Sem uma visão holística e interdisciplinar
não é possível entender a sustentabilidade do de-
senvolvimento e a ligação da educação com as
interfaces do mesmo.
e) Os espaços pedagógicos de formação não são
apenas os espaços de sala de aula, mas tam-
bém aqueles da produção agropecuária, da
família, da convivência social, da cultura, dos
serviços. A sala de aula é um espaço específico de
sistematização, de análise e de síntese.
f) A pesquisa não é só uma ferramenta de constru-
ção de conhecimento, mas é uma postura dian-
te da realidade. Educando e educador precisam
assumir essa postura, com senso crítico, curiosida-
de e “questionamento reconstrutivo” (Pedro
Demo), e ao mesmo tempo, cultivar essa ferramen-
ta como metodologia de ensino e aprendizagem.
g) Educação não se faz sem cidadania, sem par-
ticipação política, sem envolvimento dos sujei-
tos sociais no projeto de vida das comunidades.
O desenvolvimento com sustentabilidade exige
44
construção, implementação e controle social de po-
líticas públicas sociais básicas e para o desenvolvi-
mento. Tudo isso começa na escola, exercitando a
solidariedade, a participação, o respeito pelo outro,
pelo diferente.
h) A avaliação do ensino e aprendizagem engloba
não só os conhecimentos, como conteúdos, nem
só os instrumentos, como também os processos, os
produtos, numa dimensão permanente e sistemáti-
ca, em formas de hétero e auto-avaliação.
i) Os conhecimentos novos construídos de forma
inovadora provocam e conduzem os participan-
tes do processo a novas ações e posturas. A
aprendizagem consiste em “aprender a aprender, a
ser, a fazer, a conviver” como diz a Unesco. Nós
acrescentamos “aprender a compartilhar”.
j) Os paradigmas da sustentabilidade supõem no-
vas relações entre pessoa e natureza, entre os se-
res humanos e os demais seres dos ecossistemas.
A educação para o desenvolvimento leva em conta a
sustentabilidade ambiental, agrícola, agrária, econô-
mica, social, política, cultural e intergeracional.
3.2 Metodologia
Nossa metodologia busca efetivar e viabilizar esses
princípios. É construída em função deles, ou seja, em
45
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
função dos fins da educação. Precisa identificar e res-
peitar as crenças, os valores presentes nos municípios.
Na proposta educacional das duas entidades só há uma
metodologia. Para desenvolvê-la, existem mil técnicas,
dinâmicas, variações, adaptadas às circunstâncias locais,
ao campo formal e não-formal. O MOC desenvolve a
proposta na região sisaleira da Bahia, da primeira a
quarta série. O Serta, na zona da mata, do agreste e de
transição das duas, em Pernambuco, no meio rural e
urbano, mais com alunos do ensino médio – já no Es-
tado de Rondônia, a mesma proposta é aplicada no
garimpo de cassiterita, município de Ariquemes. Ambas
as entidades utilizam a proposta em parceria com os
municípios, tanto no campo formal da jornada regu-
lar, como naquele não-formal, da jornada ampliada.
No entanto, essas adaptações são feitas dentro de um
roteiro metodológico básico que inclui quatro etapas.
Essas etapas não são cronológicas, isto é, não vêm,
obrigatória ou isoladamente, uma depois da outra. São
ontológicas e dialéticas. Há uma predominância circuns-
tancial de uma sobre outra, no momento em que se
desenvolve cada uma, mas são entrelaçadas e indepen-
dentes. Vejamos!
3.2.1 Primeira etapa
Utilizamos vários verbos para indicar essa etapa.
Cada verbo explicita uma dimensão. Conhecer, ver,
levantar dados ou informações, observar,
pesquisar por meio de perguntas, de observação, de
“tempestade de idéias”. É a primeira aproximação
46
que os educandos fazem entre o tema escolhido para
aquele período escolar e a realidade a ser estudada. A
construção do conhecimento é feita a partir do que
as pessoas já vivenciam, experimentam, sentem ou
sabem. Essa primeira aproximação é imprecisa,
particular, sensível. Corresponde a um levantamento
inicial de saberes, de práticas, dados e informações.
O(a) educador(a) passa como tarefa, como dever de
casa, como trabalho escolar, na medida do possível,
envolvendo outras pessoas, que não só os educandos,
na geração desses dados. Daí percebe-se a importân-
cia fundamental dessa tarefa do envolvimento da
família e da comunidade.
6
Nesse passo metodológico, as crianças são incen-
tivadas e orientadas, como trabalho escolar, a de-
senvolver pesquisas sobre a realidade local, a partir
de um tema gerador (p.ex., água para consumo
humano: quem tem acesso, que tipo de acesso, que
tipo de tratamento é dado à água etc.; serviços públi-
cos: que tipo de serviços existem – escola, postos de
saúde, telefone, estradas; sua qualidade e tipo de aten-
dimento; cultura: festas, músicas, tradições, remédios
caseiros, história da própria comunidade).
Trata-se de um momento ímpar de inter-relação
da escola com a comunidade e de produção inicial
de conhecimento. Esse momento tem operado, tam-
bém, como aproximador dos pais para com a esco-
6 Ver Conhecer nas fichas pedagógicas, em anexo, ou no livro Escola Rural, uma
Experiência, uma Proposta, MOC. Feira de Santana, BA, 2. ed., 1999.
47
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
la. De fato, quando as crianças levam para casa “de-
veres de casa” que dizem respeito à vida concreta
das famílias e seus problemas, os pais, mesmo anal-
fabetos, têm condições reais de ajudar seus filhos na
sua realização. Isso os aproxima da escola, os torna
co-responsáveis pelo processo de ensino/aprendi-
zagem, além de oportunizar mais diálogo entre pai/
mãe e filhos.
3.2.2 Segunda etapa
Com os resultados apresentados pelos educandos
em sala de aula, o/a educador/a passa a processar os
dados, as informações e os conhecimentos trazidos
pelas pesquisas e tarefas dos educandos. Usamos os
verbos analisar, desenvolver, desdobrar, julgar,
aprofundar, registrar e computar os dados para
análise. Nessa etapa, o conhecimento avança para
outro patamar, o/a educador/a junta, tematiza, acres-
centa, enriquece, desdobra em conteúdos curriculares
de matemática, português, ciências, história, cultura e
arte. Dependendo do assunto pesquisado pelo aluno,
o/a professor/a busca ampliar mais os conteúdos,
porém, sempre de maneira interdisciplinar. Nesse pro-
cesso de análise e aprofundamento, o/a educador/a
faz uso de novas pesquisas. É a primeira etapa sendo
usada dentro da segunda. Também avalia-se como foi
a pesquisa, as dificuldades que os alunos encontra-
ram, como se sentiram, como foram acolhidos. É a
quarta etapa dentro da segunda. A predominância,
porém, é de aprofundamento.
48
Nesse momento pedagógico com os alunos, o(a)
professor(a) processa uma síntese e uma reflexão
sobre a realidade pesquisada. É o momento de
entender criticamente a realidade e de construir/
ampliar o conhecimento. Inserem-se os conteú-
dos curriculares, ou seja, a partir da realidade co-
nhecida, as crianças aprendem ciências, geogra-
fia, matemática, história.
3.2.3 Terceira etapa
Os conhecimentos, uma vez desdobrados,
aprofundados e analisados, serão sintetizados, arruma-
dos para serem apresentados pelos educandos para as
famílias ou outros grupos que participaram da cons-
trução inicial desse conhecimento. Os educandos e o/
a educador/a vão dar uma satisfação, fazer uma pres-
tação de contas do que foram capazes de fazer com as
informações iniciais que colheram. E vão provocar as
pessoas, com o novo conhecimento adquirido, para
uma ação. Usamos os verbos transformar, agir, in-
tervir na realidade. Se partimos do princípio que o
conhecimento não deve ser uma mera construção
intelectual, e que a escola tem um papel político/
pedagógico para com os educandos e a comunidade,
é a hora de provocar essa ação, essa mudança. Os
educandos procuram enriquecer essa devolução com
recursos artísticos culturais, como poesia, teatro, grá-
ficos, desenhos, apresentações animadas. É uma forma
de reconstruir os conhecimentos, de apropriar-se, e
49
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
também uma forma prazerosa de apresentar aos pais
o que conseguiram descobrir, construir e aprender.
Esse é o momento pedagógico onde, a partir do
analisar, as crianças e professores definem sobre que
aspectos da realidade estudada a escola e a comu-
nidade podem intervir naquele momento, para
modificá-la. Por exemplo, melhor conservação dos
bens públicos; diálogo com o poder público na busca
de serviços; melhores mutirões de solidariedade.
3.2.4 Quarta etapa
No decorrer de um mês ou mais, a escola já passou
por essas três etapas. Já pesquisou, já aprofundou os
dados, já devolveu e envolveu a comunidade, ou a
escola ou a turma, em ações concretas. É chegado o
momento de dar um balanço, de avaliar os
processos vivenciados, os conteúdos construídos e
assimilados, as habilidades desenvolvidas e/ou
exercitadas (participação, interesse, solidariedade,
respeito etc.), os sujeitos que participaram do
processo, e os resultados alcançados. As formas e os
instrumentos para fazer a avaliação são as mais
variadas, como auto e héteroavaliação. Cada ator avalia
o seu envolvimento e aprendizado e avalia os demais.
O educando avalia a sua participação, a das famílias e
a do(a) educador(a); o(a) educador(a), a mesma coisa,
e as famílias também.
Não dá para pensar novo papel da escola sem o
seu envolvimento com as famílias e vice-versa. Nessa
50
proposta, todos aprendem e ensinam, todos são co-
responsáveis pelo crescimento uns dos outros. Toda
essa descrição está exemplificada nas fichas pedagó-
gicas em anexo.
3.3 Conteúdos
Se a escola e a educação passam a exercer novo pa-
pel na comunidade, elas também precisam de novos
conhecimentos, novas ferramentas. Para se tornarem
cidadãos, os educadores e educadoras precisam ter
outros domínios, além dos códigos formais da escrita,
do cálculo, da leitura e da matemática. Precisam domi-
nar novas habilidades e passar por novas vivências. A
escola necessita criar novas atividades, além da docência.
Levando em consideração a LDB, as Diretrizes
Operacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais,
assim com as recomendações da Comissão Interna-
cional de Educação da Unesco (aprender a aprender, a
ser, a fazer, a conviver e partilhar), podemos sugerir
algumas temáticas, conscientes de que devem ser ajus-
tadas, de acordo com os níveis dos educandos, o local
da escola, as condições subjetivas e objetivas de cada
situação. Todas essas temáticas incluem os conhecimen-
tos disciplinares. Vejamos:
a) Os ecossistemas locais: as relações homem, planta,
solo, água, animais, clima, temperatura,
microorganismos etc.
b) Manejo sustentável das culturas (plantações) e
criatórios locais/regionais.
51
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
c) Matéria orgânica, técnicas de conservação, corre-
ção e adubação do solo.
d) Controle natural (orgânico) de praças e doenças
das plantações e dos animais.
e) Agregação de valor aos produtos, mercado e
marketing.
f) Empreendedorismo e negócios (cultural, econô-
mico financeiro e social).
g) Formas de organização do trabalho
(associativismo, cooperativismo, empresas).
h) Cultura local: história, tradição, festas, lutas, con-
quistas, valores, identidade étnica, política, soci-
al, ambiental, inclusive relações sociais de gênero
e geração.
i) Direitos (códigos do consumidor, das águas, fauna
e flora...).
j) Constituição e leis orgânicas de saúde, assistência
social e educação.
k) Terra, produção e produtividade.
4. Práticas e experiências em parcerias
Toda essa proposta vem sendo vivenciada desde
1994, com um crescente e contínuo aperfeiçoamento.
Inicialmente, foi pensada apenas como uma Propos-
ta de Educação Rural – PER, para as escolas de pri-
52
meira até quarta série. O Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil – Peti, como viabilizou uma
jornada a mais, foi uma oportunidade para a ampli-
ação do número de municípios que passaram a uti-
lizar tal metodologia tanto em Pernambuco, como
na Bahia. Todos os relatórios avaliativos do Peti
colocam as duas experiências como um grande di-
ferencial inovador na exercitação educacional do
Programa. Tem sido um exemplo de como, em pro-
gramas sociais, compensatórios, paliativos, podem
ser incorporadas dimensões mais estruturadoras,
desde que haja decisão política e concepção peda-
gógica, que incluam reflexos e mudanças de modelos
de desenvolvimento. Não é uma proposta só para a
sala de aula formal. Tem outros usos.
4.1 O formal
Esse trabalho é, via de regra, desenvolvido entre
ONGs e prefeituras municipais e, no caso da Bahia, en-
volve a Universidade Estadual de Feira de Santana. As
ONGs e universidade centram-se na formação, asses-
soria ao planejamento das atividades dos e com os pro-
fessores, cabendo às prefeituras a execução direta do
trabalho, monitoramento e supervisão. É desenvolvi-
do em escolas da rede municipal de ensino, sobretudo
da alfabetização à quarta série, nas seguintes regiões:
a) Zona da mata e agreste em Pernambuco.
53
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
b) Região semi-árida (sisaleira), da Bahia, com incur-
sões no recôncavo.
c) Região do garimpo Bom Futuro de Cassiterrita –
Ariquemes – Rondônia.
d) Regiões urbanas de pequenas cidades da zona da
mata de Pernambuco.
4.2 O não-formal
Essa proposta está sendo aplicada em Jornadas Am-
pliadas, no Peti, nas mesmas áreas acima pontuadas. O
sucesso acontece quando o município entende que o
ideal não é se fazer duas jornadas, onde uma é regular
e outra não, onde uma é oficial, permanente, garantida
pelo sistema municipal de ensino, e outra é passageira,
dependente da Secretaria de Assistência Social. O ideal
é uma proposta com jornada completa de oito horas,
que distribui suas atividades de acordo com uma só con-
cepção, um só monitoramento e uma supervisão.
Na microrregião da Bacia do Goitá, em
Pernambuco, o Serta utiliza no curso de formação de
agentes de desenvolvimento local, um curso
profissionalizante, que prepara jovens para serem pro-
tagonistas das mudanças pessoais e sociais do seu en-
torno. Os alunos estudam durante uma jornada nas es-
colas dos quatro municípios (Feira Nova, Glória do
Goitá, Lagoa de Itaenga e Pombos), zona de transição
entre a mata e o agreste. São jovens que cursam o ensi-
54
no médio, de 15 a 19 anos. Iniciada a experiência em
abril de 2000, esta já tem provocado muitos impactos
positivos nas famílias, nos negócios, nas propriedades,
nas escolas, nas igrejas e grupos de jovens, bem como
no município. Do total, 30% são educandos de área
urbana, e 70%, de área rural. Pela manhã, estudam no
espaço cedido pelo Ministério de Agricultura e Prefei-
tura Municipal de Glória do Goitá; à tarde ou à noite,
nas escolas municipais ou estaduais. A experiência tem
sido considerada por todas as pessoas visitantes como
um referencial, tanto para a formação da juventude e
do protagonismo juvenil, como para criação de polí-
ticas públicas para os adolescentes.
É uma parceria com a Aliança com o Adoles-
cente pelo Desenvolvimento do Nordeste, inicia-
tiva de quatro instituições: Instituto Ayrton Senna,
Fundação Kellogg, Fundação Odebrecht e Área So-
cial do BNDES. Hoje, a proposta amplia-se na for-
mação de outros atores sociais, como produtores,
conselheiros, lideranças de associações, artistas,
artesãos, empresários, com as devidas adaptações e a
referência aos mesmos princípios fundamentais e
metodológicos. Varia intensamente, em termos de
técnicas, dinâmicas e conteúdos. A Proposta em
Pernambuco passou a ser chamada de Proposta Edu-
cacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável
– Peads, por conta dos diversos usos (rural-urbano,
ensino fundamental, profissionalizante, formação de
lideranças). Antes era PER – Proposta de Educação
55
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Rural. Na Bahia, é conhecida como CAT – Conhe-
cer, Analisar e Transformar a realidade rural, as três
primeiras letras das etapas do processo metodológico.
No município de Vicência, em Pernambuco, a par-
ticipação das famílias exprime-se não só no processo
de aproximação mútua entre escola e pais, mas tam-
bém no planejamento da gestão da escola. O planeja-
mento da escola já é discutido com pais, professores
e outros agentes do processo educativo.
Na Bahia, especialmente na área sisaleira, tal con-
cepção de trabalho e sua metodologia foram aplica-
das em 2002, de modo bem mais sistemático, nas
Jornadas Ampliadas do Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil.
Inicialmente, debateu-se com os monitores e, de
modo especial, com os coordenadores de monitores,
a problemática da Jornada Ampliada não apenas
como espaço lúdico, artístico e de reforço escolar,
mas como instrumento e serviço para uma dimensão
sustentável de desenvolvimento. Nessa perspectiva,
foram se descobrindo ações por meio das quais isso
se poderia concretizar. Priorizou-se o tema “água”,
pela sua importância especial para a região. As crian-
ças, orientadas pelos monitores, realizaram um levan-
tamento em mais de 28 mil famílias, sobre as condi-
ções da água consumida pelas famílias, pesquisando
quais famílias têm cisternas de placas, quais famílias
tratam a água antes de consumir; que tipo de trata-
mento é dado; quais famílias têm e utilizam filtros etc.
56
O resultado desse trabalho com as crianças e seus
desdobramentos, na Jornada Ampliada e fora dela
pode ser conferido na tabela que se segue.
7 Tabulação e síntese feitas por Vera Maria Oliveira Carneiro, coordenadora-pedagógica do MOC, dos Cursos
de Formação de Monitores da Jornada Ampliada da Bahia.
57
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
5. Resultados
Há resultados que são comuns aos sujeitos
envolvidos: a auto-estima pela identidade, pela cultura,
a valorização de si mesmo, do seu ambiente, a crença na
possibilidade de mudar alguma coisa na comunidade, a
consciência coletiva, o enfrentamento coletivo dos
problemas que atingem a comunidade e as pessoas, a
solidariedade e o companheirismo, o novo olhar sobre
as potencialidades, a formação de conselheiros escolares
com participação dos pais. Além desses resultados, há
aqueles específicos para alunos, professores,
comunidades. E há também outros resultados que se
podem identificar, do ponto de vista político, de
empoderamento das populações, de construção de
políticas envolvendo ONGs, prefeituras e universidades.
5.1 Nos alunos
• Melhoria da aprendizagem, da comunicação, vitó-
ria sobre a timidez de falar em público;
• Trabalho em equipe desenvolvido com mais serie-
dade e responsabilidade;
• Descoberta de que a educação não se dá apenas na
sala de aula. A aprendizagem de matemática, por-
tuguês, ciências etc. a partir de vivências concretas
da realidade, de observação do que há no entorno
e/ou do que acontece na comunidade;
• Projeção de uma visão de futuro;
58
• Desenvolvimento de potenciais artístico-culturais;
• Maior valorização dos pais e do seu trabalho;
• Valorização do conhecimento dos mais velhos; pro-
dução de conhecimento em relação à comunidade
(o que cria, o que faz, como faz, com quem faz, o
que produz, serviços existentes).
5.2 Nos educadores
• Compromisso com a realidade rural, ao assumir o pa-
pel de agente de desenvolvimento na área rural;
• Valorização dos conhecimentos prévios dos alunos;
• Crença e valorização das próprias práticas, debati-
das e vivenciadas em sala de aula;
• Descoberta da prática de pensar a escola, coletiva-
mente, e não, apenas, a sua sala de aula;
• Professores passam a aprender com os alunos e pais,
inclusive com aqueles “analfabetos”;
• Maior curiosidade em perguntar, pesquisar mais e
estudar;
• Busca de novas adesões;
• Desenvolvimento de um novo olhar sobre a escola e
a realidade, gerando um interessar-se pela vida eco-
nômica das famílias, pelo aproveitamento dos ter-
renos e pelo equilíbrio do meio ambiente;
59
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
• Crescimento da dimensão cidadã do professor, ao
sentir-se responsável pela transformação da reali-
dade, assumindo a dimensão de que para essa trans-
formação há a perspectiva estrutural e a parte do
poder público, mas há também a responsabilida-
de pessoal.
5.3 Na família/na comunidade
• Resgate, pela família, da importância da escola e
do estudo, e valorização de espaço cultural (seu
trabalho, sua vida);
• Maior interesse dos pais pela escola;
• Maior aproximação entre pais e filhos (geração);
• Aumento do criatório, da produção agrícola, utili-
zação de novas técnicas de manejo do plantio e
criatórios, difusão de galinhas caipiras, de raças e
linhagens melhoradas;
• Organização de associação;
• Preservação do meio ambiente, tratamento do lixo.
5.4 No município
Na Zona da Mata (PE), incentivadas pela escola,
as crianças vêm realizando um censo agropecuário,
um senso populacional e um ambiental, o que tem
levado a iniciativas de reflorestamento, de tratamen-
60
to do lixo, de incentivo à criação de animais, prote-
ção das matas, despoluição de rios etc. A proposta
serviu aos gestores como um referencial para pensar
o desenvolvimento sustentável.
A pesquisa sobre a água a que nos referimos anteri-
ormente mostra um resultado fora de série, no qual os
alunos e a escola, a partir do conhecimento construído
sobre sua própria realidade, não só aumentaram a pró-
pria aprendizagem nas variadas disciplinas, como, por
meio dos seminários, vêm interferindo na realidade do
município, transformando-a para melhor, na linha de
um desenvolvimento integrado.
6. Aspectos inovadores e empoderamento
6.1 Elementos metodológicos importantes
a) construir e transmitir o conhecimento a partir da
realidade do aluno e de sua família. A realidade,
assim, invade a escola, que se torna viva, atraen-
te. A realidade da vida é objeto de pesquisa. A
escola sai de dentro dos seus muros;
b) desenvolver o senso crítico do aluno e do profes-
sor, por meio do processo de conhecimento e
análise da realidade. Formação e exercício da
cidadania efetiva e concreta;
c) envolver a família na ação educativa da escola; são
três os sujeitos da ação educativa: professor, alu-
no e pais (família);
61
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
d) mudanças na comunidade provocadas pela análise
das pesquisas feitas pelas crianças, que conduzem à
melhoria de qualidade de vida das pessoas;
e) proposta metodológica que se adequa a qualquer
realidade, seja ela urbana ou rural;
f) projeto desenvolvido entre ONGs, prefeituras
municipais e universidades, planejado, construído,
executado e avaliado em parceria, prolongando-
se por três diferentes gestões municipais e uni-
versitárias.
6.2 Elementos de empoderamento político-
pedagógico das crianças e da comunidade
a) uma educação de qualidade leva ao empoderamento
das pessoas e grupos que dela participam. Isso está
acontecendo na experiência. Pais e crianças que ex-
perimentam o CAT ou o PEADS, ou a Jornada
Ampliada, exigem de professores novos ou
monitores que se integrem ao mesmo; recuperam
sua auto-estima de ser camponeses;
b) crianças são empoderadas quando conhecem me-
lhor sua própria realidade e descobrem sua capa-
cidade, em conjunto, de modificá-la para melhor;
quando descobrem o papel da escola na melhoria
concreta das condições de vida;
c) pais e mães se aproximam da escola, acompanham
e controlam seu funcionamento e seu serviço;
62
d) o desenvolvimento do senso crítico das pessoas é
elemento fundamental de empoderamento e vem
acontecendo com essa metodologia;
e) a escola descobre seu papel a serviço de um desen-
volvimento sustentável, includente, para todos.
7. Educação e interfaces
Os processos acima debatidos e refletidos mos-
tram claramente as várias interfaces que existem, de-
vem e podem existir no âmbito da educação.
• Educação e meio ambiente
• Educação e saúde
• Educação, produção, renda e trabalho
• Educação, arte e cultura
• Educação, biociência e bioética
• Educação, democracia e gestão da comunidade
• Educação, justiça, direito e cidadania
63
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
IV
Novos desafios na construção de
políticas de educação para o campo
Dispomos hoje, em termos de legislação, além da
LDB, de uma resolução com Diretrizes Operacionais
a qual caracteriza a educação rural com identidade pró-
pria, especificidades, merecendo tratamento especial e
colocando-a como um serviço ao desenvolvimento.
O que se nos apresenta, no entanto, como desafio é
como transformar essas leis e instruções em realida-
de. Como agir para que ela saia do papel e passe a
fazer parte do dia-a-dia do professor, do diretor da
escola, da Secretaria de Educação, dos Conselhos de
Educação, no âmbito do município, Estado e nação.
Se não formos capazes de dar esses passos, tere-
mos mais uma legislação bonita e interessante, po-
rém inútil.
Diante disso, alguns desafios nos são colocados
como passos a serem dados, conscientemente e com
segurança, como:
64
1. Em âmbito oficial
a) as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
nas Escolas do Campo precisam chegar, em ter-
mos de conhecimento, proposta política,
metodológica, aos Conselhos de Educação nos
seus mais variados níveis.
b) tais diretrizes precisam chegar, mais
profundamente, ao conhecimento dos professores
e professoras, especialmente àqueles e àquelas que
lidam com a educação rural. Somente a partir desse
conhecimento e informação, eles poderão estar
instrumentados para a ação. Por conseguinte, são
cursos e mais cursos e um processo sistemático de
formação que precisam ser lançados, programados,
efetivados.
c) na realidade, o sistema de educação precisa ser ade-
quado a essa nova regulamentação, para que não se
torne um empecilho à sua implementação.
d) os diretores ou diretoras de escolas e
secretários(as) de Educação dos municípios pre-
cisam estar informados e agindo na perspectiva
da nova regulamentação.
8
8 O município de Vicência, PE, já iniciou a implementação dessa resolução, dando-
nos testemunho vivo de sua aplicabilidade. A Undime (em alguns Estados) e sua
direção nacional está se movimentando também e tem um papel importantíssimo
na implantação dessas diretrizes.
65
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
2. Em âmbito da sociedade civil
Todos nós sabemos, no entanto, que o governo e
as instâncias oficiais não conseguem fazer nada sozi-
nhos. Tanto porque a educação é tarefa de todos, so-
ciedade civil e poder público, como também porque
o poder público, para ser mais ágil e eficiente, precisa
estar sendo cobrado, monitorado, instigado pela so-
ciedade civil organizada.
É papel fundamental da sociedade civil cobrar,
propor, participar dos conselhos, fazer da proposta
para a educação do campo uma bandeira de luta.
Isso cabe especialmente ao movimento sindical
rural. De fato, são os filhos e filhas dos sindicalistas
rurais a maioria das crianças que, hoje, são vítimas
de uma escola/educação que os desvaloriza,
desenraiza de sua realidade e não contribui para o
desenvolvimento sustentável do município/país
onde vivem. Chegou a hora de agir com mais cora-
gem e segurança, apoiados numa lei que precisa ser
vida da e na escola!
66
V
Reflexões conclusivas
Vivemos, em termos de educação rural, um
momento privilegiado. De fato, oriundo de estu-
dos e de toda uma movimentação social e políti-
ca, possuímos hoje documentos oficiais que re-
conhecem a necessidade de uma educação rural
com características específicas.
Por outro lado, as múltiplas experiências existen-
tes e já sistematizadas mostram que é plenamente
possível dar à educação um enfoque de serviço ao
desenvolvimento sustentável, aliado à dimensão de
respeito à realidade rural, sua cultura e vida, como
pontos de partida da construção do conhecimento e
da utilização do mesmo para modificar a realidade
para melhor.
Tais experiências mostram a sede de saber e o gran-
de grau de compromisso dos professores e professo-
ras rurais que, mesmo mal pagos e desrespeitados
profissionalmente, estão prontos e abertos a caminhar
por novas estradas que apresentem melhores pers-
pectivas para seus alunos.
67
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Muitos caminhos já estão trilhados. E trilhados por
ações parceiras entre sociedade civil e poder público
e, em certas experiências, a universidade. Precisam
continuar e ampliar...
Os documentos básicos do Plano Nacional de
Desenvolvimento Rural Sustentável – cuja conferência
nacional estava marcada para dezembro e infelizmente
não aconteceu – dão uma ênfase especial à educação
como instrumento de desenvolvimento.
Resta-nos estudar como operacionalizar
esses processos, para implementá-los pelo
Brasil afora.
Aqui, o desafio dos desafios: qual conselho vai
tomar a si a concretização dessas diretrizes? O de
Educação? Aquele de Desenvolvimento Rural
Sustentável? Um misto dos dois?
A nós, da sociedade civil organizada, ao movimento
sindical, aos movimentos sociais cuja história se
identifica, também, com a luta por uma educação do
campo com qualidade, cabe a tarefa de não deixar que
essa conquista se torne letra morta, seja modificada – a
não ser para melhor – e a tarefa maior ainda de que ela
se torne ação concreta em nossas escolas.
Hoje, nos move a esperança no interesse, compro-
misso e luta de todos, cada um fazendo seu pedaço,
por um Brasil rural melhor, porque a educação estará
contribuindo para isso, e assumida, conscientemente,
pelo poder público e pela sociedade civil, como nos
orienta os primeiros artigos da LDB.
68
VI
Bibliografia Consultada
BAPTISTA, Francisca M. C. e outros. Escola Rural: uma Expe-
riência, uma Proposta. 2. ed., Feira de Santana, 1999.
BAPTISTA, Francisca M. C. Educação rural de inclusão, sonho ou
realidade, mimeo. Feira de Santana, 2002.
__________ Adequação curricular no semi-árido da Bahia. Artigo
publicado na revista Alfabetização e Cidadania, n. 11 –
RAAAB – São Paulo, abril de 2001, pp. 61-73.
___________ Política municipal de educação – Uma experiência
que está dando certo – mimeo – texto apresentado na
mesa-redonda Cidadania e Políticas Públicas, no Se-
minário Cidadania e Poder Local – Salvador, UFBA,
1º e 2 de dezembro de 1999.
Constituição Brasileira de 1988. Leis 9.394 – LDB (de-
zembro 96) e 9.424 (Fundef)
MOURA, Abdalaziz. Proposta para educação do campo (doc. do
Serta/MOC para a Audiência Pública do CNE), mimeo.
Recife, 2001.
__________ Texto mimeografado apresentado no Seminário
da Contag sobre Educação para o Desenvolvimento
69
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Sustentável. Recife, 2001.
Por uma Educação do Campo: Declaração 2002 – Documento
tirado no final do Seminário Nacional por uma Edu-
cação do Campo, mimeo. Brasília, 26 a 29 de novem-
bro de 2002.
Relatórios anuais do CAT e do MOC, de 1994 a 2001.
Relatório/Parecer da profa. Edla de Araújo Soares sobre
proposta da Câmara de Educação Fundamental do
CNE para as Diretrizes Operacionais para uma Edu-
cação Básica nas Escolas do Campo. Brasília, 2001.
Resolução nº 01 de 3/4/2002 – Diretrizes Operacionais para
Educação Básica nas Escolas do Campo – CNE.
Brasília, 2002.
70
ANEXO
Apresentaremos, a seguir, alguns exemplos de fi-
chas pedagógicas, um tipo de roteiro para o trabalho
do(a) professor(a) com os alunos em cada unidade
letiva. Tais fichas são elaboradas bimestralmente por
grupo de professores/as que deverão aplicá-las em
sala de aula. O tema é único para todas as séries o
que facilita o trabalho com classes multisseriadas –
realidade comum nas escolas rurais – o objetivo e o
transformar são os mesmos para todas as séries (da
alfabetização à 4ª), variando apenas a dosagem do
conhecer (perguntas) e do analisar (reflexões) de
acordo com o nível dos alunos.
Vamos relacionar, a seguir, dois temas que foram
trabalhados em 2002: um, apenas, a ficha da 3ª e 4ª
séries e o outro, integral, para que os leitores tenham
uma idéia mais exata de nossa experiência.
71
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Anexo 1
Tema: O homem e a mulher rurais no exercício
da cidadania
• Eleições
• Políticas Públicas
• Violência
(para ser vivenciado em agosto e setembro)
Objetivo: refletir com os alunos e a comunidade
sobre a situação da população do campo e suas ações
de cidadania nas políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento local sustentável (cultural, político,
agrícola, econômico etc.)
3ª e 4ª séries
1. Conhecer
Trabalhar uma questão de cada vez. Só passar à
seguinte, quando terminar o analisar da anterior.
1.1 Que dificuldades sua família enfrenta (mora-
dia, terra, trabalho etc.)?
1.2 a) Quais os tipos de organização existentes em
sua comunidade?
72
b) Sua família participa de alguma? De qual?
1.3 a) O que sua família observa para escolher seus
representantes nas eleições?
b) Como era a forma de votar antigamente? E hoje?
1.4 a) Quais os serviços públicos existentes em sua
comunidade?
b) Estão funcionando?
1.5 Na sua comunidade acontece falta de respeito
entre as pessoas? Qual? (ou quais?) Quando?
2. Analisar
2.1 Listar no quadro as dificuldades das famílias
identificadas pelos alunos na questão 1.1 e refletir so-
bre as causas das mesmas e a necessidade da união
das pessoas e da organização da comunidade para
buscar soluções para tais problemas.
2.2 Partindo das dificuldades encontradas na falta
de trabalho e de terra, discutir com os alunos o porquê
dessas dificuldades, analisando os direitos e deveres
do cidadão. A partir daí, confeccionar um cartaz
ilustrado, explicando com frases tais situações.
Estudar capitanias hereditárias. Aproveitando as
frases, rever separação de sílabas e classificação das
palavras de acordo com o número de sílabas.
2.3 Refletir sobre as razões de as famílias não te-
73
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
rem moradia x terra. Estudar a contradição de lati-
fúndio e minifúndio. Sugerir que os alunos produzam
um texto em grupo. Apresentar à classe observando-
o. Trabalhar estrutura do texto, artigo e pontuação.
2.4 Ouvir as respostas do item 1.2, listar as
organizações citadas e discutir com os alunos o que essas
entidades têm feito ou contribuído na busca de políticas
públicas voltadas para a agricultura. Produzir versos
sobre isto, fazer um recital e deixar exposto na sala.
2.5 Refletir sobre as formas de participação da
família (analisando as respostas do item 1.2b).
Observar as que os homens participam mais que as
mulheres e vice-versa, em seguida, discutir relações
sociais de gênero, direitos iguais para ambos os sexos.
2.6 Explicar o termo “cidadania” e debater o seu
exercício na mobilização da comunidade, na busca
da melhoria da qualidade de vida das famílias, da co-
munidade e do Desenvolvimento Local Sustentável
(DLS). Discutindo com os alunos o que eles sabem e
pensam sobre isso, explicar o papel do Estado na
garantia dos direitos individuais do cidadão e dos da
coletividade, aplicando bem o dinheiro dos impos-
tos pagos por nós.
2.7 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.3 e
listar num papel ou cartolina os critérios dos pais
para escolher os representantes (= candidatos numa
eleição). Fazer com os alunos uma eleição para es-
colher o líder da sala. Comparar os critérios usados
74
nas duas escolhas, refletindo sobre os mais válidos
(não se visa ao interesse pessoal, mas ao coletivo).
Completar o cartaz com os critérios discutidos e
deixar afixado na sala.
2.8 Partindo do item anterior, refletir sobre a
importância do voto. Direitos e deveres de escolha
do cidadão para que possa ser eleito o melhor
candidato para a comunidade. Registrar num cartaz
as qualidades que se desejam em um bom
administrador, ler e expor na sala. Estudar os três
poderes, produzir frases e estudar classificação dos
adjetivos pátrios e as principais cidades brasileiras,
localizando-as no mapa e na região.
2.9 Após a reflexão do item 2.8, estudar as formas
de governo no Brasil e como se deu e se dá a
participação política da população nesse governo,
estudando também Independência do Brasil.
2.10 A partir da resposta 1.3, ver o nome das
pessoas que ocupam atualmente no Brasil o Poder
Executivo nos três níveis (municipal, estadual e
federal), discutir com os alunos as formas de se
ocupar um cargo político (eleições, concursos,
heranças etc.), estabelecendo também a distinção
entre os três poderes.
2.11 Ouvir as respostas do item 1.4, listar os servi-
ços públicos que existem na comunidade, desenhan-
do os mesmos, identificando-os em seguida, fazendo
sua leitura. Partindo dos desenhos, estudar: formas
75
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
geométricas, medidas de áreas (metro quadrado), de
volume (metro cúbico) e perímetro.
2.12 Refletir sobre as formas de fiscalização e
conservação dos serviços públicos da comunida-
de e comentar sobre as atribuições dos governantes
em nos fornecer serviços públicos de qualidade,
aplicando melhor os recursos arrecadados pelos
impostos. Trabalhar problemas envolvendo multi-
plicação e divisão.
2.13 Ao identificar, por meio das respostas do item
1.4b, que algum serviço não funciona ou atende mal,
discutir com os alunos o porquê disso e o que se
poderia fazer para voltar a funcionar melhor. A partir
daí, construir um diálogo em grupo sobre os cuidados
que se deve ter com os prédios e objetos públicos
(escola, posto, telefone). Preparar uma dramatização
com tais textos, apresentar na sala e escolher um para
apresentar na reunião dos pais. A partir desses textos
estudar pronomes. E a partir dos desenhos, estudar
corpo humano (sistemas).
2.14 Registrar as respostas do item 1.5, refletir so-
bre a falta de respeito entre as pessoas, atrapalhando
a promoção da união, da solidariedade e do amor
como forma de se evitar a violência e o egoísmo.
Analisar o comportamento das pessoas e seu relacio-
namento em época de eleição. Mostrar a importância
de participar das atividades na comunidade. Estudar
espaço rural e urbano, costumes e cultura popular.
76
2.15 Comentar com os alunos que violência não é
só física, mas todo desrespeito aos direitos do outro,
como o de escolher o candidato que se quer, o de ter
condições de uma vida digna e de trabalhar na terra e
colher produtos agrícolas para melhorar a vida da
família. A implementação de políticas públicas para
o agricultor.
2.16 A partir do item 2.15, pedir aos alunos que,
em dupla, façam uma carta ao prefeito apresentando
as dificuldades das famílias da comunidade
(identificadas no item 2.1 e 2.2) e pedindo solução
para os problemas que dependem do poder público.
Apresentar na sala, comentar e após o professor cor-
rigir, deixar exposta.
3. Transformar
3.1 Convidar os pais para uma discussão na escola
sobre o dever e o direito do voto e os aspectos que
devem ser observados nos candidatos, comentando
ou apresentando os trabalhos das crianças no item
2.7 e 2.8. Essa reunião poderá ser na semana do fol-
clore, associando a alguma apresentação dos alunos.
3.2 Convidar os pais e a comunidade para uma
reunião, no final da unidade, a fim de:
a) Conhecer e apreciar os trabalhos dos alunos nessa
unidade (2.2, 2.3, 2.4, 2.11, 2.14, 2.17);
77
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
b) Assistir e comentar a dramatização do item 2.14;
c) Participar de uma discussão sobre o papel e a con-
tribuição das entidades para a população local. Para
isso o(a) professor(a) deverá convidar antes repre-
sentantes das entidades citadas no item 2.4, para que
falem sobre sua organização e debatem com os pais
o que têm feito e podem fazer pela comunidade.
Provocar uma discussão com os representantes
dessas entidades sobre a atuação e o funcionamento
dos serviços públicos locais, listando também as ne-
cessidades da comunidade, para que sejam encami-
nhadas ao poder público por meio de uma comissão
escolhida e constituída ali entre os presentes (apro-
veitar as cartas do item 2.16).
78
Anexo 2
Tema: Terra, Saúde e Vida
• Colheita ou não-colheita
Nutrição e desnutrição – Segurança Alimentar –
alimentação equilibrada x vida mais longa
• DLS – como tudo isso contribuirá ou não para
melhorar as condições de vida.
(para ser vivenciada em outubro e novembro/2002)
Objetivo: refletir com os alunos e a comunidade
sobre a importância da terra para a comunidade, e
sobre como valorizar e aproveitar os produtos colhi-
dos para a melhoria da alimentação, saúde e vida da
família e da comunidade, percebendo a contribuição
de tudo isso para o desenvolvimento sustentável da
comunidade e do município.
Alfabetização
1. Conhecer
Trabalhar uma questão de cada vez e só passar à
seguinte após analisar tudo da anterior. Não tenha
79
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
pressa, faça tudo que puder para que as crianças en-
tendam e criem conhecimento ou tenham visão cor-
reta do tema.
1.1 Sua família colheu este ano? O quê? E quanto?
1.2 Quais os alimentos consumidos por sua famí-
lia? São comprados ou produzidos por ela?
1.3 O que sua família faz para ter uma boa saúde?
1.4 O que sua família vem fazendo para o desen-
volvimento de sua comunidade?
2. Analisar
2.1 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.1,
pedir que eles desenhem os produtos colhidos pela
família, escrevendo embaixo o nome e fazendo a lei-
tura dos mesmos. A partir das ilustrações, criar frases
no quadro sobre a utilidade desses produtos. Em se-
guida, os alunos lêem as frases e copiam no caderno.
Aproveitar essas frases e fazer um jogral para a festa
do Dia das Crianças.
2.2 Fazer um quadro com o tipo e a quantidade de
produtos colhidos por cada família. Trabalhar, a par-
tir daí, noções de quantidade, pequenos problemas
de adição e subtração. Refletir sobre os motivos de
terem ou não colhido, estudar clima e comentar a
questão da terra, mostrando, pelo quadro, que alguns
não têm ou têm pouca terra e, por isso, não planta-
ram, ou colheram pouco.
80
2.3 Comentar a importância desses produtos co-
lhidos para a alimentação da família, para a melhoria
da saúde e da vida das pessoas, acrescentando no qua-
dro feito no item 2.2 mais uma coluna com a classifi-
cação desses alimentos em frutas, verduras, legumes,
cereais etc., mostrando a importância destes para o
desenvolvimento do nosso corpo e preservação da
nossa saúde.
2.4 Ouvindo as respostas dos alunos à questão 1.2,
registrar no quadro os produtos consumidos pela famí-
lia, numerando-os, e fazer a leitura. Comparar com o
quadro já feito no item 2.2, verificando com os alunos a
qualidade dos alimentos. Trabalhar ordem crescente e
decrescente. Fazer um texto coletivo, registrar num pa-
pel metro e expor na sala. Fazer a leitura, em seguida,
trabalhar vogais, consoantes e separação de sílabas.
2.5 A partir das respostas do item 1.2, dividir os
alunos em grupo para produzirem cartazes com rótu-
los, embalagens dos produtos comprados e amostras
dos produtos colhidos pela família, monstrando assim
os que são comprados e os que são resultado do traba-
lho agrícola da família. Comentar a diferença entre eles
em qualidade e economia para as pessoas. Trabalhar
noções de alimentos industrializados, derivados de ani-
mais e de vegetais e sua contribuição para a saúde e o
desenvolvimento humano.
2.6 Ouvir e registrar no quadro as respostas da
questão 1.3. Pedir, depois, que os alunos registrem
81
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
suas respostas em forma de desenho e apresentem
aos colegas, explicando. Deixar expostos tais traba-
lhos na sala.
2.7 Comentar a importância da higiene nos alimen-
tos e a necessidade de alimentar-se bem, para ter um
bom desenvolvimento físico e mental. Comentar a ques-
tão de desnutrição de crianças que até morrem ou fi-
cam raquíticas por falta de boa alimentação. (Observa-
ção: convém ter na sala um quadro sobre os tipos de nutrientes
necessários ao corpo humano e mostrá-lo quando oportuno ).
2.8 Ouvindo as respostas do item 1.4, registrar no
quadro. Fazer a leitura, comentar como cada família,
ao produzir, mesmo que seja para ela comer, está
contribuindo para a renda familiar e para o desenvol-
vimento da comunidade e do município.
2.9 Aproveitar a discussão do item 2.8 e mostrar,
no mapa do município, onde fica a sua comunidade e
que ela é uma entre outras, ali, que se dedicam à agri-
cultura familiar e, portanto, que utilizam a terra para
melhorar sua saúde e vida, bem como de outras pes-
soas (quando vendem algum produto).
3. Transformar (igual para todas as séries)
82
1ª e 2ª Séries
1. Conhecer
Trabalhar uma questão de cada vez e só passar à
seguinte após analisar tudo da anterior. Não tenha
pressa, faça tudo que puder para que as crianças en-
tendam e criem conhecimento ou tenham visão cor-
reta do tema.
1.1 a) Sua família colheu este ano? O quê? E quanto?
b) Qual o destino dos produtos colhidos?
c) Se foram armazenados, como foi feito?
1.2 a) Quais os alimentos consumidos por sua fa-
mília? São comprados ou produzidos por ela?
b) Quais os cuidados que sua família tem com
os alimentos que consome?
1.3 O que sua família faz para ter uma boa saúde?
1.4 O que sua família vem fazendo para o desen-
volvimento de sua comunidade?
2. Analisar
2.1 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.1a,
fazer um quadro que registre o tipo e a quantidade de
produtos colhidos por família. Comentar o quadro,
fazendo comparação entre as quantidades. Em segui-
da, trabalhar medidas de capacidade e de massa, re-
forçar o exercício das quatro operações.
83
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
2.2 A partir do quadro do item 2.1, refletir com os
alunos sobre o porquê de algumas famílias colherem
mais e outras menos ou nada (trabalhar valorização
da terra e a questão do clima). Relembrar a questão
da má distribuição da terra no Brasil e a necessidade
da reforma agrária.
2.3 Ouvir os relatos da questão 1.1b, analisar o
destino dos alimentos produzidos (se foram vendi-
dos ou utilizados para consumo da família), mostran-
do valor nutritivo de cada produto citado no item
2.1 e comentar que há em todo o Brasil produção de
subsistência e produção para o comércio, citando
outros exemplos disso, na Bahia.
2.4 Comentar a importância desses produtos colhidos
para a alimentação da família para melhoria da saúde e
da vida das pessoas, acrescentando no quadro feito no
item 2.2 mais uma coluna com a classificação desses
alimentos em frutas, verduras, legumes, cereais etc.,
mostrando a importância deles para o desenvolvimento
do nosso corpo e para uma vida saudável.
2.5 A partir da discussão do item 2.4, pedir aos
alunos que, em grupo ou dupla, criem versos sobre
“a criança e a alimentação”, “a criança, a saúde e a
vida”. Preparar com esses versos um recital dos alu-
nos para o Dia das Crianças.
2.6 Ouvindo as respostas do item 1.1c, listar os tipos
de armazenamento existentes na comunidade, citados
pelas várias crianças. Em seguida, pedir que elas dese-
84
nhem o(s) tipo(s) que foi(foram) usado(s) na sua casa.
Expor os desenhos na sala, cada um explicando o seu.
2.7 Convidar uma pessoa da comunidade para fa-
zer uma palestra sobre armazenamento e tipos de
conservantes orgânicos e químicos, fazendo o comen-
tário das vantagens e desvantagens de cada um. Em
seguida, construir um texto coletivo sobre a produ-
ção e a alimentação da família. Fazer a leitura e deixar
exposto na sala. A partir desse texto, trabalhar tipos
de frases e pontuação ali utilizada.
2.8 Ouvindo as respostas dos alunos à questão 1.2,
registrar no quadro os produtos consumidos pela fa-
mília. Fazer a leitura, comparar com o quadro já feito
no item 2.1, verificando com os alunos a qualidade
desses alimentos.
2.9 Pedir que os alunos tragam rótulos de alimentos
comprados e amostras dos produtos colhidos pela
família, monstrando, assim, os que são comprados e os
que são resultado do trabalho agrícola familiar e, em
grupo, fazer cartazes identificando cada um. Em seguida,
comentar a diferença deles em qualidade nutritiva e
economia para as pessoas. Trabalhar noções de alimentos
industrializados, derivados de animais e de vegetais, e
sua contribuição para a saúde e desenvolvimento
humano. Comentar, também, a diferença entre alimentos
industrializados e aqueles produzidos na comunidade e
seus valores e contravalores nutritivos. Exemplificar com
alimentos de origem animal e vegetal.
85
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
2.10 Estudar, a partir de um quadro que deve ha-
ver na sala, nutrientes e sua importância para uma
alimentação equilibrada e para a saúde física e
mental das pessoas, e seu desenvolvimento normal,
evitando anemia, desnutrição, raquitismo e outras más
conseqüências.
2.11 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.2b,
listar no quadro os cuidados citados, fazendo a leitura.
Em seguida, construir com os alunos um cartaz para
deixar na sala, com os tipos de cuidados que devemos
ter com os alimentos. Comentar a necessidade da
higiene na alimentação para a saúde, citar doenças
causadas pela falta de higiene e como evitá-las.
2.12 A partir do cartaz do item anterior, observar
e comentar a origem dos alimentos, identificando
quem os trouxe para nós (como o milho, a mandio-
ca), valorizando as influências indígenas, africanas e
portuguesas, na cultura alimentar brasileira e baiana.
2.13 Ouvir as respostas do item 1.3, registrar no
quadro ou papel metro. Em seguida, refletir e
comentar com os alunos o que as famílias fazem e/ou
precisam para ter boa saúde. A partir daí, o professor
discutir com os alunos o que é uma alimentação
equilibrada e sobre outros elementos necessários para
uma boa saúde (habitação limpa, lazer, música, dança,
prática de esporte, dormir bem etc.), alertando que
ter boa saúde não significa só ausência de doença, mas
equilíbrio físico, psíquico e mental.
86
2.14 A partir das reflexões do item 2.13, pedir para
que os alunos façam um texto coletivo (1ª série) ou
em dupla (2ª série) ilustrando-o. Ler e fazer a exposi-
ção dos textos na sala. Com base neles, trabalhar no-
ções de verbo.
2.15 Ouvir as respostas do item 1.4, registrar no
quadro. Fazer a leitura, comentar como cada família,
ao produzir, mesmo que seja para ela comer, está
contribuindo para a renda familiar e para o
desenvolvimento da comunidade e do município.
Aproveitar e mostrar no mapa do município onde
fica a sua comunidade e que ela é uma entre outras,
ali, que se dedicam à agricultura familiar e portanto
que utilizam a terra para melhorar sua saúde e sua
vida, bem como as de outras pessoas (quando
vendem algum produto).
2.16 Agrupar as contribuições que as famílias dão,
citadas no item anterior, especificando os diferentes
tipos de atividades econômicas e sociais desenvolvidas
na comunidade pelas famílias. Deixar num cartaz na
sala, comentar a importância dessa participação e
contribuição para o desenvolvimento da comunidade
e do município.
2.17 A partir desses comentários, estudar seu
município (2ª série), história, localização no Estado
da Bahia e economia. Ver outros produtos que nele
se cultivam e outras atividades econômicas de sua
população rural e urbana (mostrar a importância de
87
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
todas elas, que se complementam e se integram para
o desenvolvimento sustentável do município).
2.18 Comentar com os alunos que: como há varia-
das formas de se contribuir para o desenvolvimento
do município, também há várias formas de governo.
Em seguida dar noções de Monarquia, Império e Re-
pública (explicando o feriado de 15 de novembro e
comentando as eleições).
3. Transformar (igual ao da 3ª e 4ª séries)
3ª e 4ª Séries
1. Conhecer (igual ao das 1ª e 2ª séries)
2. Analisar
2.1 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.1a,
fazer um quadro que registre o tipo e a quantidade de
produtos colhidos por família. Comentar o quadro,
fazendo comparação entre as quantidades. Em segui-
da, trabalhar medidas de capacidade e de massa, refor-
çar o exercício das quatro operações e frações.
2.2 A partir do quadro do item 2.1, refletir com os
alunos sobre o porquê de algumas famílias colherem
mais e outras menos ou nada (trabalhar valorização da
88
terra e a questão do clima no Brasil e sub-regiões do
Nordeste – zona da mata, agreste, sertão, meio norte e
litoral). Relembrar a questão da má distribuição de ter-
ra no Brasil e a necessidade da reforma agrária.
2.3 Ouvir os relatos da questão 1.1b, analisar o
destino dos alimentos produzidos (se foram vendidos
ou utilizados para consumo da família), mostrando o
valor nutritivo de cada produto citado no item 2.1,
mostrando a importância de se aproveitar os produtos
colhidos na alimentação familiar. Estudar importação
e exportação agrícolas e cartografia (escala). Rever
medidas de comprimento (distâncias).
2.4 Comentar a importância desses produtos co-
lhidos para melhoria da saúde e da vida das pessoas,
acrescentando no quadro feito no item 2.1 mais uma
coluna com tipos de nutrientes que eles contêm, mos-
trando a importância deles para o desenvolvimento
do nosso corpo e para uma vida saudável.
2.5 A partir da discussão do item 2.4, pedir aos
alunos que, em grupo, criem histórias com diálogo
sobre “a criança e a alimentação”, “a criança, a saúde
e a vida”. Dramatizar para os colegas sua história na
Semana da Criança (de 6 a 12/10).
2.6 Ouvindo as respostas do item 1.1c, listar os tipos
de armazenamento existentes na comunidade citados
pelas várias crianças. Em seguida, pedir que elas dese-
nhem o(s) tipo(s) que foi(foram) usado(s) na sua casa.
Expor os desenhos na sala, cada um explicando o seu.
89
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
2.7 Convidar uma pessoa da comunidade para fazer
uma palestra sobre armazenamento e tipos de
conservantes orgânicos e químicos, fazendo o
comentário das vantagens e desvantagens de cada um.
Em seguida, pedir que os alunos, em grupo, façam o
relato da palestra. O(a) professor(a) recolhe, corrige e
ao comentar o texto, dar noção de relatório e estudar
preposição (liga o complemento do verbo e dos nomes).
2.8 Ouvindo as respostas dos alunos à questão 1.2a,
registrar no quadro os produtos consumidos pela fa-
mília. Fazer a leitura, comparar com o quadro já feito
no item 2.1, verificando com os alunos a qualidade
desses alimentos.
2.9 Pedir que os alunos tragam rótulos de alimen-
tos comprados e amostras dos produtos colhidos pela
família, e, em grupo, fazer cartazes identificando cada
um. Em seguida, comentar a diferença entre eles em
qualidade nutritiva e economia para as pessoas. Tra-
balhar classificação dos alimentos.
2.10 Estudar, a partir de um quadro que deve ha-
ver na sala, nutrientes e sua importância para uma
alimentação equilibrada e a saúde física e mental
das pessoas, e seu desenvolvimento normal, evitan-
do anemia, desnutrição, raquitismo e outras más con-
seqüências.
2.11 Ouvindo a resposta do item 1.2b, refletir so-
bre critérios para compra de alimentos pelas famílias,
que deve ser sempre pela qualidade.
90
2.12 Fazer uma entrevista com uma pessoa mais
velha da comunidade para conhecer os hábitos ali-
mentares de antigamente, comparando-os com
os atuais.
2.13 Pedir que os alunos criem versos sobre “nu-
trição e desnutrição” e preparar com eles um recital
para apresentar tais versos na sala. Escolher um para
apresentar na reunião com os pais. A partir desses
versos, trabalhar verbo.
2.14 Ouvir as respostas dos alunos à questão 1.2c,
listar no quadro os cuidados citados, fazendo a leitura.
Em seguida, construir com os alunos um cartaz para
deixar na sala, com os tipos de cuidados que devemos
ter com os alimentos. Comentar a necessidade da
higiene na alimentação para a saúde (citar doenças
causadas pela falta de higiene e como evitá-las) e a
necessidade de alimentar-se bem para o bom
desenvolvimento corporal. Trabalhar fases da vida.
2.15 A partir do cartaz do item anterior, observar
e comentar a origem dos alimentos, identificando
quem os trouxe para nós (como o milho, a mandio-
ca), valorizando as influências indígenas, africanas e
portuguesas, na cultura alimentar brasileira e baiana.
2.16 Ouvir as respostas do item 1.3, registrar no
quadro ou papel metro. Em seguida, refletir com os
alunos sobre o que as famílias fazem e/ou precisam
fazer para ter boa saúde. A partir daí, discutir o que é
uma alimentação equilibrada e sobre outros elementos
91
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
necessários para uma boa saúde (habitação limpa, lazer,
música, dança, prática de esporte, dormir bem etc.),
alertando que ter boa saúde não significa só ausência
de doença, mas equilíbrio físico, psíquico e mental.
2.17 A partir das reflexões do item 2.16, pedir para
que os alunos façam, em grupo, um texto ilustrado.
Ler e fazer a exposição dos textos na sala. Partindo
dos mesmos, continuar trabalhando verbo.
2.18 Ouvir as respostas do item 1.4, registrar no
quadro. Fazer a leitura, comentar como cada família,
ao produzir, mesmo que seja para ela consumir, está
contribuindo para a renda familiar e para o
desenvolvimento da comunidade e do município.
Aproveitar e mostrar no mapa do município onde
fica a sua comunidade e que ela é uma entre outras,
ali, que se dedicam à agricultura familiar e, portanto,
que utilizam a terra para melhorar sua saúde e sua
vida, bem como as de outras pessoas (quando vendem
algum produto).
2.19 Agrupar as contribuições que as famílias dão,
citadas no item anterior, especificando os diferentes
tipos de atividades econômicas e sociais desenvolvidas
na comunidade pelas famílias. Deixar num cartaz na
sala, comentar a importância dessa participação e
dessa contribuição para o desenvolvimento da
comunidade e do município, da Bahia e do Brasil,
buscando reduzir as desigualdades sociais, ou maior
oportunidade de vida mais digna para todos.
92
2.20 A partir desses comentários, estudar seu
município, história, localização no Estado da Bahia
e economia. Ver outros produtos, da Bahia (3ª série)
e do Brasil (4ª série), e outras atividades econômicas
da população rural e urbana (mostrar a importância
de todas elas, que se complementam e se integram
para o desenvolvimento sustentável e melhoria de
vida da população).
2.21 Comentar com os alunos que: como há
variadas formas de se contribuir para o
desenvolvimento sustentável, também há várias
formas de governo. Em seguida, estudar Monarquia,
Império e República (explicando o feriado de 15 de
novembro e comentando as eleições).
3. Transformar
3.1 Fazer uma reunião com os pais e mães para:
a) Apresentar e comentar os trabalhos produzidos
pelos alunos durante a unidade (2.1, 2.6, 2.7. 2.9,
2.12, 2.14, 2.17 e 2.19).
b) Ouvir a dramatização do item 2.5 e o recital de
versos preparados no item 2.13.
c) Servir um almoço ou lanche (aproveitando, quem
sabe, o Dia das Crianças ou da família na escola)
para os pais, com um alimento típico da região,
devendo ser escolhido entre os que foram produ-
93
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
zidos pelas famílias no ano, aproveitando para
mostrar o seu valor nutritivo (mungunzá, bolo de
milho, canjica, bolo de aipim, bolo ou mingau de
tapioca etc.).
d) Realizar um debate com os pais sobre os valores
nutritivos dos alimentos produzidos na própria
comunidade, sobre a valorização da terra, e a
importância da alimentação para a saúde e a vida
das pessoas (se possível convidar alguém da área
de saúde e comentar os trabalhos dos alunos que
houver na sala, sobre este assunto).
Observação: Durante esta unidade poderá haver
duas ou mais reuniões com os pais: no Dia das
Crianças, no encerramento da unidade e no
encerramento do ano letivo. O(a) professor(a) vai
aplicando o transformar, de acordo com a data e o
que já trabalhou.
94
Sobre os autores
Prefácio
José Jerônimo de Morais é professor titular e emérito
da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS),
tendo nela ensinado Língua e Literatura Latinas, desde a
sua fundação.
É pernambucano de nascimento e baiano de vida mais
intensa e cidadã, pois dedicou à juventude baiana a maior
parte do tempo de sua vida profissional.
Na UEFS, sempre se destacou pelo seu talento e dispo-
nibilidade.
Na sociedade feirense é também reconhecido pela sua
visão humanista, e justa da sociedade, sendo convidado a
fazer palestras para grupos das várias gerações (jovens, pro-
fessores, grupos de casais, adolescentes). Foi presidente do
MOC (Movimento de Organização Comunitária) por duas
gestões e faz parte ainda da sua diretoria, estando sempre
disposto a comemorar e somar forças para que se consiga
reduzir o número de “excluídos” em nossa sociedade.
Tendo estudado em Roma e vivido alguns anos na Euro-
pa, dedica-se muito a estudos clássicos e humanistas que
enraízam a nossa civilização.
95
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Texto
Francisca Maria Carneiro Baptista é professora de
Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Feira de
Santana, Bahia, UEFS – Departamento de Letras. Sua vida
se identifica com o texto que aqui escreve:
• filha de agricultores familiares do sertão da Bahia, municí-
pio de Riachão do Jacuípe, foi alfabetizada em casa por
uma irmã.
seus estudos se desenvolveram inicialmente na cidade natal e
posteriormente em Salvador, com “bolsa de estudos”.
• os resultados apresentados no colégio em Salvador lhe va-
leram uma bolsa para a Faculdade de Filosofia Ciências e
Letras Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, onde concluiu em
1962 o bacharelato e licenciatura em Letras Clássicas.
• retornou à Bahia e optou por ensinar na sua terra natal,
durante cinco anos.
• concursada no Estado da Bahia, Secretaria de Educação
do Estado, lecionou Língua Portuguesa em escolas
estaduais de Salvador e Feira de Santana.
Na UEFS atuou, e ainda atua, em Programas de Extensão,
todos voltados para a formação de professores do ensino
fundamental em cidades do interior, como expressão e
concretização da responsabilidade social e política da
Universidade para com a sociedade/comunidade em que
vive. Entre outros:
cursos de formação de diretores sem formação superior;
• formação de professores da quinta série e segundo grau.
Como professora da UEFS e técnica da Equipe de Edu-
cação do MOC – Movimento de Organização Comunitá-
ria, desde 1994, ano em que nasceu o CAT – Programa de
96
Capacitação de Professores Rurais em Metodologias Ade-
quadas à Área Rural atua:
• na coordenação geral do CAT;
• na capacitação específica dos professores em Língua
Portuguesa;
• elaboração e publicação de textos sobre o programa
CAT, entre os quais:
– Adequação curricular no semi-árido da Bahia, publi-
cado em Alfabetização e Cidadania – Revista de Edu-
cação de Jovens e Adultos n.11 – abril de 2001 –
RAAAB (Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora no
Brasil) –- pp.61-74.
– Escola Rural: uma experiência, uma proposta
(Organizadora): livro texto publicado pela
Universidade Estadual de Feira de Santana, MOC e
prefeituras municipais de Retirolândia, Santa Luz, Santo
Estevão e Valente, contendo a fundamentação
metodológica e pedagógica do CAT, assim como
orientações de ação para os professores. Segunda
Edição – 1999.
• atualmente dedica-se, na UEFS e no MOC, integral-
mente a este projeto.
97
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
Serviço de Tecnologia Alternativa
O Serta foi criado em 3 de agosto de 1989, por um grupo
de produtores rurais, técnicos e educadores. O objetivo inicial
foi criar um espaço próprio e autônomo de ação, reflexão e
proposição sobre as questões ambientais, técnicas e políticas
ligadas à Agricultura Familiar. Seus sócios fundadores foram
45 pessoas dos municípios de Tacaimbó, Gravata, Chá Grande,
Surubim, Orobó, João Alfredo e Bom Jardim.
A partir de 1992, o Serta passou a desenvolver propostas
de Políticas para o Desenvolvimento Rural e Municipal e
iniciou a construção de uma proposta educacional de apoio
ao desenvolvimento sustentável, que proporcionou muita
articulação com os espaços públicos municipais.
A partir de 1996, a equipe técnica do Serta e sua diretoria
passaram a atuar em municípios da zona da mata, primeiro
numa parceria com o Centro das Mulheres do Cabo e
participando da Articulação de Entidades na Mata Sul de
Pernambuco. Nesses espaços, o Serta estruturou mais sua
equipe técnica, que passou a produzir e sistematizar sua
metodologia de trabalho, seus princípios filosóficos e investiu
em sua capacidade instalada, em parcerias com instituições
do terceiro setor e governamentais.
Atualmente, o Serta está com sua sede instalada no Cam-
po da Sementeira, espaço cedido pela prefeitura de Glória
do Goitá e desenvolve a maioria das suas atividades em par-
ceria com prefeituras e sociedade civil dos municípios de
Feira Nova, Glória do Goitá, Lagoa de Itaenga e Pombos,
microrregião batizada pelo nome de Bacia do Rio Goitá,
por conta desse rio banhar os 4 municípios; e com a Aliança
98
com o Adolescente pelo Desenvolvimento do Nordeste, uma
articulação do Instituto Ayrton Senna, Fundação Kellogg,
Fundação Odebrecht e área social do BNDES.
Os campos de atuação mais comuns são na área de for-
mação de educadores e técnicos, formação de adolescentes
na perspectiva do empreendedorismo juvenil, agricultura
orgânica, organização comunitária, associativismo, gestão de
políticas públicas, empreendimentos culturais sempre numa
perspectiva holística para o desenvolvimento sustentável.
O Serta está na raiz da proposta educacional adequada à
realidade do campo aqui descrita e foi a partir da experiência
do Serta que o MOC também iniciou suas atividades de
capacitação de professores rurais na metodologia aqui descrita.
Movimento de Organização Comunitária
O MOC é uma entidade criada há mais de 37 anos. Sem-
pre atuou na região sisaleira da Bahia.
A história do MOC demonstra uma ação voltada para os
mais pobres e especialmente para os agricultores familiares.
São muitos os programas e projetos desenvolvidos pelo
MOC nas suas linhas de trabalho; no início com recursos da
cooperação internacional e, atualmente, acessando também
recursos governamentais.
As áreas básicas de ação do MOC são as seguintes:
Educação Básica Rural – capacitação de monitores da
jornada ampliada do Programa de Erradicação do Traba-
lho Infantil, com ênfase para a experiência das malas de lei-
99
Educação Rural: das Experiências à Política Pública
tura; capacitação de professores rurais em metodologias ade-
quadas e respeitadoras da realidade rural. Destaque para o
Projeto CAT, descrito neste texto.
Gênero – assessoria ao movimento de mulheres trabalha-
doras rurais e dimensão de gênero para os programas do
MOC.
Apoio á Viabilização da Agricultura Familiar no
Semi-Árido – este programa procura viabilizar a agricultora
familiar por meio de três ações básicas: assistência técnica e
capacitação; acesso ao crédito oficial pelos bancos oficiais
ou pelas cooperativas de crédito; acesso á água e
comercialização.
Políticas Públicas – capacitação de pessoas e organizações
para interferir em políticas públicas municipais e regionais, por
meio da participação em conselhos, interferência em
orçamentos e fiscalização de projetos e políticas da região.
A estratégia básica de ação do MOC é o desenvolvimen-
to de projetos inicialmente em escala micro, como escola de
aprendizagem e teste de experiências, para daí se projetar
para a interferência em políticas públicas.
Decorrente desta filosofia muitos projetos do MOC, a
exemplo dos de educação, já são desenvolvidos em parceria
com prefeituras e até o Estado, após terem sido experimen-
tados em escala menor na esfera do próprio movimento.
Projeto Gráfico
Tereza Vitale
Diagramação e Capa
Daniel Dino
SCS · Quadra 6 · Bloco A
Edifício Presidente · sala 309
tel. (61) 321-3363
fax. (61) 223-5702
www.editorialabare.com.br
PRODUÇÃO EDITORIAL
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo