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a enfrentar o desafio de uma escola para o meio rural, pensamos
que era por aí. Era uma questão didática, de temas, de dinâmi-
cas, dos conteúdos curriculares, de capacitação das professoras.
Entramos mexendo nisso tudo. Porém, quando entramos mesmo
no sistema de ensino, descobrimos um rombo maior.
A dificuldade era o que a escola incutia na cabeça dos alu-
nos, dos pais, dos próprios educadores, sobre qual era o papel
da escola, qual era a finalidade da mesma para as pessoas,
para a comunidade, para o município. A professora era forma-
da e trabalhava para incutir, na cabeça de todos, que a escola
era para ensinar a ler, escrever, calcular, aprender línguas, pas-
sar para as gerações novas o saber organizado, programado,
que as gerações anteriores já sistematizaram.
Nesse sentido, a escola não tinha nada a ver com o avanço
da cana ou sua decadência, com a seca ou com o inverno, com o
subdesenvolvimento. A professora passava 25 anos ensinando
numa comunidade, mas não precisava produzir conhecimento
sobre essa comunidade, sobre a produção das famílias, sobre os
animais que são criados ali, sobre os rios que são poluídos,
sobre as carências que a população tem, sobre as potencialidades
de mudança. Não interessava se haveria safra ou não, se have-
ria terra e semente para as pessoas plantarem ou não.
O produto dessa escola é um cidadão adulto individual,
que aprendeu a ler e foi embora para uma cidade maior. A
escola ensinou o que tinha de ensinar, a professora sente-se
satisfeita, porque preparou gerações inteiras que foram ganhar
a vida em outro local melhor. O sistema municipal esforça-se
para pôr os alunos nas escolas. São dois mil, três, quatro,
seis, oito, dez mil alunos, cada um com 4 horas/dia dedicadas