Santo
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com o sugestivo título “O Espírito Santo na Tri-Unidade Divina” que constitui ao
mesmo tempo um programa e uma necessidade para a compreensão da ação do Espírito
Santo. Partindo da revelação bíblica e da liturgia
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constata, como princípio, que os textos
referentes ao Espírito e ao Filho pertencem a um mesmo plano, o da economia.
É por isso que, considerando uma atitude constante dos cristãos passarem da economia
à teologia
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, vê perfeitamente enquadrado o “axioma fundamental” (Grundaxiom) de Karl
Rahner: “A Trindade econômica é a Trindade imanente, e vice-versa”.
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No entanto,
considerando a primeira parte da proposição indiscutível, Congar sugere matizações a respeito
do “e vice-versa”
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através de dois questionamentos básicos:
1) Podemos identificar o mistério livre da economia e o mistério necessário da tri-
unidade de Deus? Não. Pois não podemos afirmar que “Deus compromete e revela todo seu
mistério na ‘autocomunicação’ que faz de si mesmo.”
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de Saint-Jacques, em Paris. Sua saúde – infelizmente – degrada-se progressivamente . Em 1984, com a saúde já
bem deteriorada, passa a residir no Hôpital Militaire des Invalides, em Paris. Sendo indicado ao episcopado, é
dispensado do recebimento da consagração devido à idade e à má saúde. Em 27 de novembro de 1994, é
elevado à dignidade cardinalícia pelo Papa João Paulo II; tinha 90 anos de idade e nunca teve o direito de
participar do conclave. Aos 22 de Junho de 1995 morre no supracitado hospital, seu funeral é realizado no dia
26 na igreja de Notre-Dame de Paris e, em seguida, é enterrado no túmulo da Ordem Dominicana, no
Cemitério de Montparnasse, também em Paris.” (MORAES, E.A.R. Yves Marie-Joseph Congar: 100 anos. In.:
Revista Eclesiástica Brasileira, p. 866-867). É necessário notar que o termo francês Journal refere-se aqui aos
diários pessoais que Congar escreveu e que retratam diferentes momentos de sua vida como a Guerra e o
Concílio Vaticano II. Não trata-se, portanto, de Jornal no sentido de impresso com larga tiragem e
periodicidade como é tomado em português.
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CONGAR, Yves. El Espírito Santo. Barcelona: Herder, 1991. 2ed. A edição espanhola é adotada nesse estudo
porque a tradução brasileira só veio a público em 2005 (Coleção Creio no Espírito Santo, em três volumes – cf.
Bibliografia) quando a presente pesquisa já ia avançada. O original tem mais de duas décadas: CONGAR, Y.
Je crois en l´Esprit Saint. Paris: Éditions du Cerf, 1980.
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Recorda as principais imagens do Espírito apresentadas pela Escritura: sopro, ar, vento, água, fogo, línguas de
fogo, pomba, unção, dedo de Deus... Outras ainda como selo, amor, dom, paz, sem esquecer aquelas utilizadas
pela liturgia no hino Veni Creator: “Veni Creator Spiritus/ Mentes tuorum visita/ Imple superna gratia/ Quae tu
creasti pectora” e os trechos “Qui diceris Paraclitus/ Altissimi donum Dei/ Fons vivus, ignis, caritas/ et
spiritalis unctio./ Tu septiformis munere/ Digitus paternae dexterae/ Tu rite promissum Patris/ Sermone ditans
guttura.” (LITURGIA HORARUM, Vol. II: Tempus Quadragesimae, Sacrum Triduum Paschale, Tempus
Paschale, p. 834.) O hino inteiro poderia ser considerado um desfilar das imagens mais recordadas pela
tradição a respeito do Espírito. Congar refere o texto e sua origem histórica (também do Veni, Sancte Spiritus:
CONGAR, Y. El Espíritu Santo, p. 138 – 142). Por fim, um estudo baseado nessa Seqüência pode ser
encontrado em CANTALAMESSA, R. O canto do Espírito Santo: meditações sobre o Veni Creator.
Petrópolis: Vozes, 1998.
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Os padres gregos pensam: “como poderiam Eles nos divinizar se não fossem Deus?” Também os ortodoxos
com a teologia das “energias incriadas” apresentam-nas como manifestações luminosas de Deus na vida do
mundo. Mas, mais claro ainda aparece na doutrina latina das missões divinas: o Pai envia o Verbo-Filho ao
mundo e ambos enviam juntos o Sopro-Espírito. A primeira missão acontece em decorrência da emissão eterna
do Verbo pelo Pai; a segunda, como extensão da sempiterna processão do Espírito ex Patre Filioque. (Cf.
NOGUEIRA, L.E. O Espírito e o Verbo, p. 31).
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Congar sintetiza o pensamento de Rahner a esse respeito em: CONGAR, Y. El Spíritu Santo, p. 454-462.
11
CONGAR, Y. El Espíritu Santo, p. 457.