42
serem analisadas a fim de, posteriormente, construir uma proposta de intervenção
43
que
possibilite ao educando lidar melhor com os desafios que subjazem a sua existência.
Nessa etapa ainda cabe ao educador:
aprender a acreditar profundamente no educando em situação de rua, como
devir existencial
44
, para que este se sinta acolhido e amado como sujeito
histórico;
identificar e valorizar os sonhos , os valores e os desejos instituintes das
crianças e adolescentes;
provocar fome de conhecimento
45
no educando para que este lute e acredite
em si a ponto de se perceber como capaz de ir além dos fatores obstaculizadores.
É no namoro pedagógico que o educador consegue, às vezes junto com os
aprendentes, mapear a sua área de atuação, identificando nela a quantidade de meninos, os
tipos de contatos que eles mantêm no espaço rua, refletir criticamente com eles sobre a rua e
as possibilidades de se viver fora dela e identificar as instituições de encaminhamento.
Nessa etapa, as atividades lúdico-pedagógicas como roda de capoeira, teatro de
bonecos e contação de história visam promover o desejo do educando em querer transitar da
43
Entende-se que esses sentimentos, se deixados de lado pelo educador, podem trazer conseqüências terríveis
para o educando, dentre elas o suicídio.
44
Inspiro-me em Sartre (1987), no seu trabalho intitulado o Existencialismo é um humanismo, em que o autor
defende a idéia de que o ser humano é possibilidade de invento de si mesmo. É um projeto existencial que se faz
e refaz constantemente. Há várias críticas a esse pensamento, pois muitos estudiosos
compreendiam/compreendem que Sartre enfatizou de forma exacerbada o poder do sujeito, deixando de lado os
fatores sócio-político-econômico e sociais que o condicionam. Diante dessa consideração, o autor existencialista
defendeu-se de seus opositores na obra citada, afirmando que de forma alguma negava os fatores condicionantes,
porém entendia que o sujeito não era determinado por eles e nem por um Ser supremo (Deus) e, por isso mesmo,
combatia a idéia fatalista de mundo. Mesmo com as suas justificativas, parece que Sarte (1987) exagerou
quando entendeu que a liberdade do sujeito dependia mais dele do que da sociedade. Talvez esse seja o aspecto
em que, neste trabalho dissertativo, diferencia-se do autor, uma vez que se entende a liberdade relativa dos
sujeitos sociais como uma conquista que não é resultado apenas de uma subjetividade desejante, mas também da
sua interação com a dimensão social já instituída por códigos de condutas. Nesse caso, a hominização
compreendida como um processo pelo qual o filhote humano apreende, internaliza e ressignifica o estilo de vida
no contexto social do qual faz parte, é conflituoso, porque se dá numa luta intensa e permanente entre a
subjetividade (sonhos, desejos e valores peculiares de cada sujeito) e a objetividade ( idéias, normas e condutas
instituídas pelo grupo social). É nesse embate entre viver o que se quer e o que se deve é que o sujeito social tece
a sua autonomia relativa, assim também como a sua liberdade que exige limites e responsabilidades
compartilhadas com outros sujeitos. Dessa forma, compartilha-se com Sartre da idéia de que o humano é um
projeto existencial paradoxal na medida em que é condicionado e condicionante, porém se diferencia do autor na
medida em que se compreende a liberdade como um construto social que depende tanto da dimensão subjetiva
quanto da objetiva. Percebe-se que, mesmo adotando essa compreensão, o assunto é complexo e não está isento
de polêmicas, porém a concepção do humano como devir torna-se de suma importância para o educador atuante
no espaço rua, que tem como compromisso histórico acreditar nos sujeitos como possibilidade de ser.
45
Conhecimento entendido aqui em seu sentido pleno, que envolve as dimensões cognitiva, emocional e
espiritual.