109
Coronel Manoel Nonato do Amaral, Vicente Candido Penedo, Francisco
Antônio Romão e Manoel Sanches de Magalhães. Eis aí os votados pelo
eleitorado de Olivença, cujos poderes foram reconhecidos pela junta
competente, que diplomou os ditos eleitos,
não havendo o menor protesto, e
não se falando que Paulino, que na ocasião da eleição se achava preso na
Cadeia de Condeúba, serviria de instrumento do Ilmo. Adami, para assaltar no
dia da posse, a 1º de janeiro de 1904, a Intendência, guarnecido por capangas e
praças de policia fornecidas pelo jamais esquecido Cap. Galdino Soares da
Fonseca, outro instrumento passivo do Sr. Adami, o qual depois, teve de
deixar, repelido, como um intruso, pelo povo.
234
(Grifos meus).
Na nota citada, Manoel Nonato expôs os procedimentos legais para a realização da
eleição. A legislação eleitoral republicana conservou a base da Lei Saraiva de 1881,
235
modificando alguns artigos: aboliu a exigência de renda para ser eleitor, reduziu a idade para
21 anos, porém manteve a exclusão do direito de voto para as mulheres e analfabetos.
Segundo Eul Soo Pang,
236
a luta pela vitória eleitoral começava com os registros dos eleitores:
cada município ou comarca
237
organizava três comissões para promover as eleições: a junta de
alistamento, a mesa eleitoral e de apuração. As comissões eram formadas pelo Juiz de Direito
da Comarca, (nomeado pelo governador), um Juiz municipal eleito e por munícipes
escolhidos dentre o eleitorado local. Era uma prática comum dos membros do Conselho e dos
Intendentes em exercício integrar essas juntas, ditando o procedimento e o resultado, como,
por exemplo, alistar apenas aqueles eleitores que votariam no candidato do grupo, incluindo
mortos, analfabetos e pessoas de outros municípios.
238
Realizada a votação e a contagem dos votos, a junta revia os resultados e dava
certificado (diplomas) para todos os candidatos, atestando o número de votos obtidos. Os
candidatos a cargos municipais tinham ainda que submeter os diplomas ao senado estadual
para o escrutínio final. O senado instituía então uma comissão de reconhecimento que
proclamava o vencedor. Até essa proclamação final, cada candidato podia se arvorar como
eleito, podendo inclusive tomar posse e assumir o cargo, caracterizando uma duplicata de
eleitos,
239
como aconteceu nas eleições de 1898, em Ilhéus. A demora da decisão final do
Senado permitiu que o candidato da oposição (coronel Antônio Pessoa), como mais votado
234
APEB. Translado crime político, 1906: Anexo I.
235
Sobre as eleições no período Imperial ver, NICOLAU, Jairo Marconi. História do voto no Brasil. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002; sobre a Lei Saraiva,cf. Leal, V. N. Coronelismo... 1975, p. 10-26 e o Capítulo II
dessa dissertação.
236
Eul-Soo Pang, Coronelismo e Oligarquias... 1979, p. 31-34.
237
Uma comarca formava um distrito judicial que abrangia dois ou mais municípios.
238
UESC/CEDOC. A Gazeta de Ilhéus, Ano I, janeiro de 1903. Segundo uma publicação, o município de
Olivença estava divido em 4 (quatro) seções eleitorais, somando um total de 951 eleitores registrados.
239
Eul-Soo Pang, Coronelismo e Oligarquias... 1979, p. 34.