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No quadrado semiótico, o ator Cristo remete aos termos /libertação/, /vida/ e
ressurreição e poder divino, temas que os materializa. Essa constatação é embasada no
contexto dessa narrativa, segundo a qual o Cristo, oprimido fisicamente, inicia, no
entanto, sua libertação espiritual – e, conseqüentemente, o caminho para a vida eterna e
para a plena assunção de sua condição divina –, ainda que essa liberdade seja apenas
pressuposta: observemos que, embora preso, ele olha para o céu como que
transcendendo o seu estado de opressão. Já seus algozes remetem aos termos contrários
/opressão/ e /morte/, bem como aos temas do martírio e do poder humano, infligido ao
Cristo pelas leis romanas, como sanção por uma performance inadequada ou proibida.
Assim, no nível narrativo, temos, no episódio da crucificação, o sancionamento do
Cristo, enquanto um sujeito do fazer, por sua performance messiânica.
Para compreender devidamente a montagem do quadrado semiótico, devemos
retomar o contexto da narrativa bíblica, começando por enfatizar que estamos
analisando justamente a trajetória do ator Cristo. Segundo a concepção cristã, a morte
seria uma ante-sala para uma vida no Além, um momento de passagem pelo qual a alma
deixa o corpo rumo a uma outra existência. Também essa concepção poderia encontrar
justificativa nos evangelhos, como no trecho a seguir, no qual Jesus teria dito aos seus
apóstolos: “Pois quem quiser salvar sua vida, a perderá, e quem perder a vida por mim e
pelo evangelho, esse a salvará” (Marcos, 8,
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).
Trabalhamos com a categoria /morte/ vs /vida/ nessa tela e na anterior, mas, na
verdade, ela fica pressuposta também nas demais telas analisadas, parecendo constituir-
se também como uma macro-categoria. Senão, vejamos. No Batismo, Jesus é anunciado
por João Batista como o Cordeiro de Deus, o cordeiro que destinado à imolação para
redimir os pecados dos homens. Na Ceia, Jesus oferece seu corpo e seu sangue na forma
do pão e do vinho, representando, assim, seu sacrifício, que deve ser partilhado com os