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seqüência do tempo cronológico.
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É nesse sentido que a lendária fundação de Israel traduz
essa realidade.
No que tange à interpretação arendtiana referente ao recurso feito pelos Pais
Fundadores à tradição grega,
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nos parece à primeira vista algo de pouca importância para a
análise da tópica da fundação do corpo político, uma vez que a influência romana no caso das
Revoluções Americana e Francesa foi muito maior. Hannah Arendt faz referência a Thomas
Paine como alguém que “costumasse pensar que aquilo que Atenas foi em miniatura, a
América será em magnitude.”
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Essa é uma prova que nos é apresentada para manifestar a
relevância do referencial ateniense no processo de fundação do corpo político em termos de
paradigma para iluminar os acontecimentos ocorridos na América do Norte.
Percebe-se que a movimentação e a vitalidade política da antiga cidade-estado grega,
bem como, o conjunto de suas virtudes,
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constituiu-se como uma tradição capaz de
contribuir com a busca de modelos práticos e de fundamentação teórica desejados pelos Pais
Fundadores. Os axiomas políticos da antiga experiência da polis
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grega não deixaram de se
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ARENDT. The Life of the Mind, p. 205; A vida do espírito, p. 339.
385
ARENDT. The Life of the Mind, p. 208; A vida do Espírito, p. 341- 342.
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Em Arendt, no que diz respeito à configuração do corpo político, o recurso à tradição da prática política,
principalmente a da antiga polis grega, é assinalado em suas análises. Isso porque o espaço oferecido pela polis
grega era um lugar em que a experiência política se manifestava de forma significativa. Francis Wolff comenta
esse destacado papel da polis: “O terreno político pertence, para os gregos, ao Koinon, o comum, e ‘abarca todas
as atividades e práticas que devem ser partilhadas, isto é, que não devem ser o privilégio exclusivo de ninguém,’
‘todas as atitudes relativas a um mundo comum,’ por oposição àquelas ‘que concernem à manutenção da vida.’
Assim, ‘fazer política,’ isto é, participar da vida comum, não é, na época clássica, uma atividade entre outras
possíveis: é a atividade nobre por excelência, a única que vale o sacrifício de sua vida.” (WOLFF. Aristóteles e a
Política, p. 11-12).
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ARENDT. Da Revolução, p. 157.
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A respeito da abordagem em torno de como as virtudes políticas eram concebidas na Antigüidade Grega e
Romana, nos adverte Hannah Arendt: “Da Ética a Nicômaco até Cícero, a ética ou a moral era parte da política,
aquela parte que não tratava das instituições, mas do cidadão, e todas as virtudes na Grécia ou em Roma são
definitivamente virtudes políticas. A questão nunca é se um indivíduo é bom, mas se a sua conduta é boa para o
mundo em que vive. No centro do interesse está o mundo, e não o eu. Quando falamos sobre as questões morais,
inclusive a questão da consciência, queremos dizer algo completamente diferente, algo, na verdade, para o qual
não temos uma palavra pronta. Por outro lado, como usamos essas palavras antigas em nossas discussões, essa
conotação muito diferente está sempre presente.” (ARENDT. Responsabilidade Coletiva. Responsabilidade e
Julgamento, p. 218).
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A relevância do referencial da cultura grega para a filosofia política ocidental é destacada por Francis Wolff,
que diz: “Já se conseguiu dizer que a filosofia fala grego. É possível. Em todo caso é certo que a política, sim,
fala grego. Não se pode, com efeito, falar acerca da política sem a língua grega: ‘Tirania’, ‘monarquia,’
‘oligarquia’ ‘aristocracia’, ‘plutocracia’...Todo o nosso vocabulário político saiu dela. E, em primeiro lugar, a
própria palavra política.” (WOLFF. Aristóteles e a Política, p. 7).