necessária sobre a existência especial dos corpos vivos. A Astronomia constitui necessariamente, a todos
os respeitos, o elemento mais decisivo desta teoria preliminar do mundo exterior, quer por ser mais
suscetível de plena positividade, quer na medida em que caracteriza o meio geral de quaisquer de nossos
fenômenos, e ainda por manifestar, sem nenhuma outra complicação, a simples existência matemática,
isto é, geométrica ou mecânica, comum a todos os seres reais. Mesmo, porém, quando condensássemos o
mais possível as verdadeiras concepções enciclopédicas, não poderíamos reduzir a filosofia inorgânica a
este elemento principal, porque ela ficaria então completamente isolada da filosofia orgânica. O seu laço
fundamental, científico e lógico, consiste sobretudo no ramo mais complexo da primeira: o estudo dos
fenômenos de composição e de decomposição, os mais eminentes daqueles que a existência universal
comporta e os mais próximos da ordem vital propriamente dita. É assim que a filosofia natural, encarada
como preâmbulo necessário da filosofia social, decompondo-se a princípio em dois estudos extremos e
um intermediário, compreende sucessivamente estas três grandes ciências, a Astronomia, a Química e a
Biologia, das quais a primeira se liga imediatamente à origem espontânea do verdadeiro espírito
científico e a última ao seu destino essencial. Seu surto inicial respectivo refere-se historicamente à
antigüidade grega, à Idade Média e à época moderna.
72. Semelhante apreciação enciclopédica não preenche ainda as condições indispensáveis de
continuidade e de espontaneidade peculiares a tal assunto: por um lado deixa uma lacuna capital entre a
Astronomia e a Química, cuja ligação não poderia ser direta; por outro não indica suficientemente a
verdadeira origem deste sistema especulativo, como simples prolongamento abstrato da razão comum,
cujo ponto de partida científico não podia ser diretamente astronômico. Para completar, porém, a fórmula
fundamental, basta nela inserir, em primeiro lugar, entre a Astronomia e a Química, a Física
propriamente dita, que só adquiriu existência distinta sob Galileu; em segundo lugar, colocar, no começo
deste vasto conjunto, a Ciência Matemática, único berço necessário da positividade racional, tanto para o
indivíduo como para a espécie. Se, por uma aplicação mais especial do nosso princípio enciclopédico, se
decompuser, por sua vez, esta ciência inicial em seus três grandes ramos, o Cálculo, a Geometria e a
Mecânica, determinar-se-á enfim, com a última precisão filosófica, a verdadeira origem de todo o
sistema científico, saído a princípio, com efeito, das especulações puramente numéricas, que, sendo as
mais gerais, as mais abstratas e as mais independentes de todas, quase se confundem com a irrupção
espontânea do espírito positivo nas inteligências mais vulgares, como o confirma ainda, sob os nossos
olhos, a observação, diária do desenvolvimento individual.
73. Chega-se, assim, de modo gradual, a descobrir a invariável hierarquia, a um tempo histórica e
dogmática, igualmente científica e lógica, das seis ciências fundamentais, a Matemática, a Astronomia, a
Física, a Química, a Biologia e a Sociologia, das quais a primeira constitui necessariamente o ponto de
partida exclusivo e a última o fim único e essencial de toda a filosofia positiva, encarada daqui por diante
como formando, por sua natureza, um sistema verdadeiramente indivisível, onde toda decomposição é
radicalmente artificial, sem ser, aliás, de nenhum modo, arbitrária, pois tudo nele se refere enfim à
Humanidade, única concepção plenamente universal. O conjunto desta fórmula enciclopédica,
exatamente conforme às verdadeiras afinidades dos estudos correspondentes, compreendendo, além
disso, sem nenhuma dúvida, todos os elementos de nossas especulações reais, permite enfim a cada
inteligência renovar à sua vontade a história geral do espírito positivo, ao passar, de modo quase
insensível, das mais insignificantes idéias matemáticas aos mais altos pensamentos sociais. É claro, com
efeito, que cada uma das quatro ciências intermediárias se confunde, por assim dizer, com a precedente
quanto aos seus fenômenos mais simples e com a seguinte quanto aos mais eminentes. Esta perfeita
continuidade espontânea se tornará sobretudo irrecusável a todos que reconhecerem, na obra acima
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