Referencial Teórico
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Kóvacs (2003) enfatiza que nos programas de Cuidados Paliativos, fala-se
abertamente sobre o tema da Morte, e a equipe discute longamente se o paciente
deve ou não ser informado sobre a gravidade do seu quadro. O paciente dá sinais
do quanto quer saber e até quanto ele suporta saber.
Esconder a verdade do paciente não é uma mentira piedosa, na realidade é
uma falácia (FIGUEIREDO, 2003a). Ela é cruel, pois com o evoluir da doença a sua
própria natureza põe a descoberto uma suspeita que destrói a confiança do paciente
no médico, na equipe e, o que é mais doloroso, na família.
Demo (2004) cita o gesto crítico que está contido em todo diagnóstico médico,
em particular quando descobre uma doença grave, não adianta esconder, é melhor
enfrentar; no entanto, como enfatiza o autor, o médico pode agir “pedagogicamente”,
ou seja, utilizar formas educativas eficientes e efetivas de passar uma informação.
Se souber agir adequadamente, comunicará a doença grave com tato, fará deste
diagnóstico o primeiro degrau de uma escalada para a possível cura ou convivência
adequada com a enfermidade, e mostrará que o paciente, acima de tudo, pode
contar com o médico irrestritamente. Se não tiver tino pedagógico, pode usar o
diagnóstico para matar mais depressa. Muitas pessoas morrem literalmente de
diagnóstico (CARVALHO, 1994).
Esses profissionais precisam ficar atentos, em seu trabalho, ao não dito, às
metáforas, às linguagens simbólicas, à linguagem corporal, criando um clima de
confiança. A morte pode ser aterradora, desencadeando forças ainda não
conhecidas vivenciadas pelos pacientes. Por isso, segundo Montigny (1993), cuidar
de doentes terminais pode ser uma aventura e requerer dos profissionais novas
forças, trabalho com o inesperado, com fantasias de imortalidade, com o desejo de
sobrevivência e com a sobrevivência dos desejos.
Os cursos na área de saúde, fundamentalmente para médicos e enfermeiros,
têm enfatizado os procedimentos técnicos em detrimento de uma formação mais
humanista. A peregrinação de cada médico na abordagem da doença grave é fazer
o diagnóstico, planejar e efetuar a cura específica. A essa peregrinação Nuland
(1995) denominou de “A Charada”. A satisfação de resolver a charada é a própria
recompensa, é o combustível que faz funcionar a maquinaria clínica dos
especialistas mais bem treinados da medicina. É a medida da capacidade de cada
médico; é o ingrediente mais importante de sua auto-imagem profissional.