Gerir é prever, organizar, racionalizar, categorizar, submeter a critérios
homogêneos. O ideal da gerência é o da perfeita transparência e do total
domínio. Ora, por sua própria natureza, o ato de ensino implica em outra
lógica: o professor não pode gerir racionalmente um ato cujo sucesso
depende da mobilização pessoal do aluno, mobilização cujas forças são
sempre um tanto obscuras.
Percebemos que existe uma condição de gerir, mas ela não acontece como se
espera, pois há várias questões implicadas, sendo de um lado o professor tentando
abordar questões que julga pertinentes e do outro os alunos dispostos ou não a receber
tais questões, pois se encontram, também, imersos numa sociedade que lhes traz várias
situações que algumas vezes se encaixam com a abordagem do professor, porém
outras não. Às vezes o que está bom para um, não está para o outro, e vice-versa.
Observamos que o professor e as situações pelas quais ele passa são muito
similares nos mais variados países, nas mais variadas culturas e que apesar de toda a
dedicação, é muito difícil ensinar, existindo vários obstáculos a serem superados, no
cotidiano do trabalho docente, obtendo sucessos algumas vezes e fracassos em outras.
Para Charlot (2005, p 78-79)
...o ensino é feito em uma situação de tensão. Ensinar não é uma tarefa
serena, não há idade de ouro do professor (exceto por ilusão
retrospectiva)...esses universais nos permitem compreender melhor porque,
no mundo inteiro e em todas as épocas, os professores vivem como
legítimos e, ao mesmo tempo, sempre ameaçados. São profundamente
legítimos, pois são transmissores da humanidade, portadores do essencial.
Sentem-se, porém, ameaçados, malconsiderados, injustamente suspeitos,
culpabilizados, pois são, por própria situação, tomados em um conjunto de
imposições contraditórias e de tensões que os fragilizam. Estas tensões e
contradições fazem parte da própria situação de ensino.
O professor, na verdade é mencionado pelos autores (Charlot, 2005; Hargreaves,
2001) como vítimas, por estarem no centro de uma realidade dura, brutal, que os
condena pelo insucesso de seus alunos, esquecendo-se de visualizar tantas outras
questões, sócio-político-culturais, envolvidas no mesmo processo. Então, o professor
vem se tornando o foco central das indagações referentes ao fracasso escolar, sendo
considerado um dos únicos responsáveis por tal situação.
O cotidiano escolar vem sofrendo alterações em decorrência das transformações
ocorridas na sociedade como um todo, ou seja, estruturas familiares, relações de
convivência e poder, mercado de trabalho, entre outras. Estas questões vêm afetando
drasticamente o comportamento das pessoas envolvidas na cultura escolar:
professores, gestores, pais, alunos. Então, observamos pessoas cada vez mais
insatisfeitas, desistentes e mais agressivas, como os professores que vêm sofrendo
uma série de tensões, provenientes do cotidiano escolar. Dentre as tensões apontadas
por Nacarato, Varani e Carvalho (2001, p.83), destaca-se, inicialmente, a questão das