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DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA
SÍNDROME DE LI-FRAUMENI
EM FAMÍLIAS BRASILEIRAS
MARIA ISABEL WADDINGTON ACHATZ
Dissertação de Mestrado apresentada à Fundação
Antônio Prudente para a obtenção do Grau de
Mestre em Ciências
Área de concentração: Oncologia
Orientador: André Luiz Vettore
São Paulo
2006
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FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do Centro de Tratamento e Pesquisa
Hospital do Câncer A.C. Camargo
Achatz, Maria Isabel Waddington.
Diagnóstico molecular da síndrome de Li-Fraumeni em famílias
brasileiras/ Maria Isabel Waddington Achatz -- São Paulo 2006.
102p.
Dissertação(mestrado)-Fundação Antônio Prudente.
Curso de Pós-Graduação em Ciências-Área de concentração: Oncologia.
Orientador: André Luiz Vettore
Descritores: 1. SÍNDROME DE LI-FRAUMENI. 2. GENES SUPRESORES
DE TUMOR. 3. GENES TP53/genética. 4. BIOLOGIA MOLECULAR. 5.
SÍNDROMES NEOPLÁSICAS HEREDITÁRIAS.
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DEDICATÓRIA
Aos meus filhos Thiago, Rafaela, Mariana e
Felipe, e ao Michael, meus amores e
grande motivo da minha Vida.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Agradeço aos meus filhos tão amados, Thiago, Rafaela, Mariana e Felipe, por
todas as vezes que abriram mão da minha presença, pela compreensão, carinho e
incentivo. Por terem me permitido levar adiante o meu sonho. Agradeço a Deus a
cada dia por vocês terem me escolhido.
Agradeço ao meu marido, Michael, pelo seu incentivo e confiança, por todos
os momentos em que me levantou, que torceu por mim e junto comigo, desde a
faculdade; pelo amor e atenção dado aos nossos filhos na minha ausência e,
principalmente, pela nossa família.
Agradeço a Yvonne, pela sua presença constante, por me guiar a cada passo,
pelo seu amor.
Agradeço aos meus pais, Ary e Maria Martha, por tudo o que vocês me
ensinaram, por tudo que investiram em mim, pela confiança e pelo carinho.
Agradeço aos meus irmãos Eduardo e Roberto, por sempre estarem do meu
lado, pela grande amizade que nos liga.
À Tereza, Joana e Alfredo, por me darem todo apoio e suporte para eu poder
trabalhar. Pelo amor que vocês têm pelos meus filhos.
À Lídia Aratangy, por ter me ajudado a manter a estrutura e pelo carinho.
Ao Fábio Carramaschi, pela grande amizade e apoio, por sempre me ajudar a
abrir meu caminho.
Às minhas amigas Lygia, Drika, Marisa, Alexia, Ana Luisa(s), Tisse e
Juliana, que tanto me acompanharam e torceram por mim quando eu mais precisava.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador neste trabalho, Dr. André Vettore, pela
disponibilidade, presteza e por me introduzir na Biologia Molecular.
Ao Dr. Pierre Hainaut por tudo que me ensinou. Obrigada por acreditar tanto
em meu trabalho e por sempre me mostrar que sou capaz.
Aos amigos do laboratório de Genética do Câncer: ao Fabrício pela amizade e
apoio molecular e psicológico, à Andréa Seixas, companheira de todos os momentos,
à Letícia por seu grande carinho e atenção, à Valeria Paixão pelos primeiros passos
no laboratório, ao Daniel pelas explicações e longas conversas, à Roberta Félix pelo
carinho, ao Fábio pelos momentos de força, à Mariana, pelas dicas, à Luciane pela
ajuda sempre pronta, à Fernanda, pelo apoio, Luciana e Benjamin pelas dúvidas
patológicas, à Dinamar, Roberta Lessa, Cláudia, Simone, Valéria e Manuella pela
simpatia diária, ao Alex e ao Emerson pelas ajudas informáticas, ao Luis e a Viviane
pelas dicas pediatricas, à Andréa Trevisan pelo alto astral e por todos aqueles do
laboratório que tem sempre uma palavra amiga.
Às Dras. Florence le Calvez, Magali Olivier, Ghyslaine Martel-Planche,
Emanuella de Morais, Emmanuelle Gormally e todos do MOC, por todo apoio e
amizade. Por terem me acolhido de braços abertos no IARC.
À Dra. Lygia da Veiga Pereira, pelo infindável incentivo, pela primeira porta
aberta, pelos conselhos e dicas sempre certeiras.
Ao Dr. Benedito Mauro Rossi, pela disponibilidade, pela sua orientação
sempre pertinente e pela sua amizade.
À Dra. Patrícia Aschton-Prolla por trazer resposta a cada uma de minhas
perguntas, pela confiança e ajuda e a Edenir Palmeiro pela presteza e carinho.
Ao Dr. Roberto Giulianni pelos controles de Porto Alegre.
Ao Dr. Fernando Regla Vargas pela confiança em me encaminhar as famílias
cariocas.
Ao Prof. Dr. Ricardo Renzo Brentani, pelo seu exemplo de força e coragem.
Ao Dr. HumbertoTorloni, pelo grande apoio e incentivo.
Ao Dr. Carlos Lotfi, pela confiança e apoio.
Ao Dr. Décio Brunoni por ter me dado a oportunidade de dar continuidade a
Oncogenética na UNIFESP, pelo seu apoio e discernimento.
Ao Dr. Alois Bianchi, pela sua atenção e exemplo de amor ao paciente.
À Dra. Ana Maria Camargo Aranha pela sua gentileza, apoio e compreensão.
Ao Dr. Luis Fernando Lima Reis, pela sua grande atenção e suporte.
Aos Drs. Vilma R. Martins, Dra. Luisa Lina Villa, Dra. Dirce Carraro, Dr.
Alex Fiorini e Dra. Adriana Abalen, pelos comentários e pela proximidade que vocês
nos propiciam.
Aos funcionários do Ludwig, Paulo Roberto, Birgit, Renata, Viviane, Carla,
Andréa, Erica, Roseli, Rubens, Isabel e Sirléia, um grande agradecimento pelo apoio
e dedicação.
À Dra Fernanda Lima, amiga e consultora, por toda base, apoio e amizade.
À Dra Simône Noronha por todas as dúvidas esclarecidas e pelo estímulo.
Ao Dr. José Cláudio Casali Rocha pelo ensino e introdução a Oncogenética.
Ao Prof. Dr. Fernando Soares, pela confiança e ajuda nos inúmeros pedidos
de lâminas.
À Dra. Isabela Werneck, pela sua animação e por estar sempre pronta a
ajudar.
A todos os funcionários do Departamento de Anatomia Patologia.
Ao Dr. Gustavo Guimarães, Dr. Luis Fernando Lopes, Dr. Stenio Zechi, Dr.
Bachega, Dra. Cecília, Dra. Suzana Malheiros e a todos os médicos que confiaram
em meu trabalho, encaminhando seus pacientes.
Ao Dr. André Lopes Carvalho pelas inestimáveis dicas estatísticas e
profissionais.
À Dra. Gilda, por todas as longas conversas sobre ADRs.
À Dr. André Montagnini, Dr. Luiz Paulo Kowalsky, Prof. Dr. Ademar Lopes,
Dra. Maria Tereza Cruz Lourenço, Dr. Mario Mourão, Dra. Beatriz de Camargo e
por todos os departamentos que aceitaram o desafio de acompanhar as famílias SLF.
À enfermeira Erica pelo seu auxílio na compreensão do Cyrillic.
À Dra. Rima Jbili, Dr. Danilo Pena e Dr. Israel Gomy pelo apoio na
investigação inicial dos pacientes.
À Dra. Ana Beatriz Perez pelo grande apoio, carinho e confiança, por tudo
que me ensinou na Genética Médica.
À Dra. Vera Meloni, pelas palavras sempre amigas, por todos ensinamentos
“dismorfológicos” e pelo teu exemplo.
Aos amigos do Centro de Genética Médica – UNIFESP: Dra. Mirlene
cernach, Dra. Ana Maria Martins, Dra. Cecília Micheletti, Dra. Sylvia Longhitano,
Dra. Leila Russowsky Brunoni, Dr. Luís Alonso, Dra. Ana Luisa Pilla, Dra. Nara
Sobrera, Dr. Pablo Domingues, Dra. Flavia Piazon, Dr. Fernando Ferreira Dr. Jordão
Correa Neto, Dr. Marco Ramos, Dra. Marli Rio, Dra. Tânia Seches, Dra. Sasndra
Kyosen e as amigas Naja Vergani, Mariana Picarelli e Jane Francis.A Karla, Cida e
Leandro pelo carinho e apoio.
Ao grupo do GBETH, meu agradecimento aos Dr. Gilles Landman, Dr. Fábio
Ferreira, Dr. Samuel Aguiar Jr, Dr. Wilson Nakagaua, Dr. Francisco Coelho e por
todos que contribuíram com criticas tão construtivas.
À Inês Nishimoto, por toda sua paciência na estatística e pela grande ajuda.
À psicóloga Christina Tarabay, por todo apoio que me deu ao aceitar
acompanhar meus pacientes no aconselhamento pós-teste, por sua presença sempre
alegre.
À Ana Maria Kuninari, a Márcia e Luciana, pelo apoio na pós-graduação.
Às bibliotecárias Suely Francisco, Rosinéia Carneiro e Francyne de Lima,
pelo apoio sempre carinhoso e bem-humorado.
Às secretárias da Oncogenética Luciele, Leda, Michelle e Thiara, pelo apoio.
Aos funcionários do Lavoisier que me auxiliaram na coleta de sangue dos
pacientes.
À FAPESP e ao National Cancer Institute (NCI /NIH - USA) pelo apoio
financeiro e pela bolsa de transferência tecnológica (ICRETT) do Union
Internationale Contre le Cancer (UICC).
RESUMO
Achatz MIW. Diagnóstico molecular da síndrome de Li-Fraumeni em famílias
brasileiras. São Paulo; 2006. [Dissertação de Mestrado-Fundação Antônio Prudente]
A Síndrome de Li-Fraumeni (SLF) é uma síndrome rara de predisposição ao
câncer associada a mutações no gene TP53. É transmitida de forma autossômica
dominante, predispondo indivíduos afetados ao risco aumentado de desenvolvimento
de tumores em idade jovem. Os objetivos deste trabalho são caracterizar mutações
germinativas no gene TP53 em famílias brasileiras com diagnóstico clínico de SLF e
de sua variante Li-Fraumeni like (LFL), avaliar o papel das mutações na síndrome e
estabelecer correlações genótipo-fenótipo. Foram incluídas 45 famílias brasileiras
que preencheram os critérios clínicos da síndrome. A metodologia incluiu a
amplificação dos dez éxons codificantes do gene TP53 por PCR no DNA genômico e
rastreamento de alterações por DHPLC, seguido de seqüenciamento das regiões
suspeitas. Foram encontradas 13 mutações germinativas (29.5%), sendo 12 mutações
missense e uma em sítio de splicing. A troca Arg337His (R337H), descrita
anteriormente como relacionada exclusivamente a carcinomas adrenocorticais
infantis, foi verificada em seis famílias com LFL. Foram detectadas três mutações
novas, Val173Met, Val197Met e Gly244Asp, duas mutações já descritas, Arg213Gly
e Gly245Ser, em famílias não relacionadas, e uma mutação em sítio doador de
splicing do íntron 6. Verificou-se baixa prevalência de mutações em famílias SLF
(11%). A mutação R337H ocorreu em freqüência elevada (46,1%) nas famílias SLF
brasileiras, predispondo ao amplo espectro tumoral. Tumores adrenocorticais foram
2,3 vezes mais freqüentes em famílias com a mutação R337H se comparado a
famílias com outras mutações, sugerindo efeito tecido-específico. Esta é a primeira
descrição da prevalência de mutações no gene TP53 nas SLF e LFL na América
Latina, representando 4,6% das mutações descritas na literatura.
SUMMARY
Achatz MIW. [Molecular diagnosis of Li-Fraumeni syndrome in Brazillian
families]. São Paulo; 2006. [Dissertação de Mestrado-Fundação Antônio Prudente]
Li-Fraumeni syndrome (OMIM #151623) (LFS) is a rare cancer
predisposition syndrome associated with germline mutations in the TP53 gene
(OMIM #191170). It is transmitted in an autossomal dominant pattern, which
predisposes affected individuals to an increased risk of developing a variety of
cancers at an earlier age. The objectives of this study were to analyze TP53
mutations in Brazilian families who received clinical diagnosis of LFS and its
variant, Li-Fraumeni-like syndrome (LFL). The molecular profile of the TP53 gene
was analyzed in 45 Brazilian unrelated individuals with family histories fulfilling the
clinical definitions of LFS or LFL. Analysis of TP53 exons 2 to 11 by PCR in
genomic DNA, screening by DHPLC and sequencing of abnormal profiles revealed
mutations in 13 patients (29.5%). Twelve missense mutations were detected and one
splice site mutation. Arg337His (R337H) mutations, previously described as related
only to adrenocortical tumors in children, were detected in 6 families. Three novel
germline mutations (Val173Met, Val197Met and Gly244Asp) and two already
described mutations (Arg213Gly e Gly 245Ser) were also detected in three families.
Families fulfilling the classical definiton of LFS presented a low detection rate
(11%). R337H mutations were frequent in Brazilian LFS families (46,1%),
predisposing to a wide tumour spectrum. Adrenocortical tumors are 2,3 times more
frequent among R337H carriers if compared to other mutations, suggesting a tumor-
specific effect. This is the first description of TP53 gene prevalence and mutation
pattern among SLF/LFL in Latin America, representing 4.6% of all mutations
described in scientific literature.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 O gene TP53 e a proteína p53. 13
Figura 2 Perfil de tumores das famílias brasileiras com mutações no gene
TP53 comparado ao perfil de tumores em outras famílias com a
mutação no gene TP53 depositadas no banco de dados do IARC. 46
Figura 3 Perfil de tumores das famílias brasileiras com mutações R337H no
gene TP53 comparado ao perfil de tumores em outras famílias com
a mutação no gene TP53 depositadas no banco de dados do IARC. 49
Figura 4 Digestão enzimática do códon 337 do éxon 10 do gene TP53 pela
técnica de RFLP. 55
Figura 5 Heredograma da família Y12. 61
Figura 6 Heredograma da família Y 27. 62
Figura 7 Heredograma da família Y49. 63
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfil clínico das famílias brasileiras com diagnóstico clínico de
SLF e LFL. 35
Tabela 2 Perfil tumoral de pacientes com diagnóstico clínico da SLF e LFL. 37
Tabela 3 Perfil de mutações das famílias brasileiras com mutações no gene
TP53. 40
Tabela 4 Espectro tumoral de 13 famílias brasileiras com mutações no gene
TP53. 44
Tabela 5 Idade de acometimento de tumores em de pacientes com diagnóstico
clínico da SLF e LFL. 48
Tabela 6 Espectro tumoral de 32 famílias brasileiras com diagnóstico clínico
da SLF e LFL sem detecção da mutação no gene TP53. 51
Tabela 7 Freqüência de polimorfismos no gene TP53 na população brasileira. 56
Tabela 8 Protocolo de rastreamento para pacientes portadores da SLF e
LFL adaptado à população brasileira. 65
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Tumores mais freqüentemente associados à SLF e LFL. 6
Quadro 2 Critérios diagnósticos da Síndrome de Li-Fraumeni. 8
Quadro 3 Protocolo de rastreamento na Síndrome de Li-Fraumeni-
National Comprehensive Cancer Network (NCCN). 22
Quadro 4 Seqüência de primers utilizados nas reações de PCR para
DHPLC e seqüenciamento. 30
Quadro 5 Descrição de linhagens celulares usadas como controles positivos
no DHPLC. 31
LISTA DE ABREVIATURAS
ADR Carcinoma adrenocortical
BSA Bovine serum albumin
CCR Câncer colorretal
DNA Ácido desoxiribonucléico
DHPLC Denaturing High Performance Liquid Chromatography
KD Quilodalton
IARC International Agency for the Research on Cancer
LFL-B Síndrome de Li-Fraumeni like, critérios de Birch
LFL-E1 Síndrome de Li-Fraumeni like, critérios de Eeles 1
LFL-E2 Síndrome de Li-Fraumeni like, critérios de Eeles 2
μL Microlitro
mL Mililitro
mM Milimolar
OMIM On-line Mendelian Inheritance in Men
pb Pares de base
PCR Polimerase chain reaction
PCR-RFLP Restriction fragment length polimerase chain reaction
Pellet Precipitado linfocitário
rpm Rotações por minuto
SLF Síndrome de Li-Fraumeni
SNC Tumores do sistema nervoso central
SNPs Single nucleotide polymorphisms
SO Sarcoma ósseo
SPM Sarcoma de partes moles
WHO World Health Organization
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Histórico 1
1.2 Herança genética e penetrância 3
1.3 Quadro clínico e critérios diagnósticos 5
1.4 Diagnóstico diferencial 9
1.5 O gene TP53 e proteína p53–estrutura e função 11
1.6 Mutações e polimorfismos no gene TP53 15
1.7 Envolvimento de CHEK2 com a SLF e LFL 17
1.8 Correlação genótipo-fenótipo 18
1.9 Aconselhamento genético e rastreamento 20
2 OBJETIVOS 25
2.1 Objetivo geral 25
2.2 Objetivos específicos 25
3 PACIENTES E MÉTODOS 26
3.1 Seleção dos pacientes 26
3.2 Extração de DNA 28
3.3 Identificação das mutações no gene TP53 29
3.4 Análise de alterações detectadas por PCR-RFLP 33
4 RESULTADOS 34
4.1 Caracterização clínica das famílias SLF e LFL avaliadas 34
4.2 Detecção de mutações germinativas em famílias brasileiras com o
diagnóstico clínico da SLF e LFL 39
4.3 Perfil tumoral em famílias brasileiras com mutações germinativas
e diagnóstico clínico da SLF e LFL 42
4.4 Perfil tumoral em famílias brasileiras sem a detecção de
mutações germinativas e com diagnóstico clínico da SLF e LFL 50
4.5 Avaliação dos polimorfismos encontrados no gene TP53 54
4.6 Aconselhamento genético e acompanhamento 57
4.7 Detecção de mutação em familiares sintomáticos e assintomáticos 59
4.8 Adaptação do protocolo de rastreamento clínico multidisciplinar 64
5 DISCUSSÃO 67
6 CONCLUSÕES 89
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91
ANEXOS
Anexo 1 Artigo original em peródico: “Achatz MIW, Olivier, Vettore A,
Hainaut P. Cancer letters, in press; MS. Ref. No: CAN-D-05-
00532R1. (Recebido em 15 de novembro de 2005; revisado em 22
de dezembro de 2005; aceito em 22 de dezembro de 2005.
Disponível online 21 de fevereiro de 2006.).
Anexo 2 Artigo de revisão em periódico: “TP53 gene and Li-Fraumeni
syndrome”. Achatz MIW and Hainaut P. Applied Cancer Research
2005; 25(2):51-57.
Anexo 3 Capítulo de livro: “Síndrome de Li-Fraumeni”. Organizadores:
Carlos Gil Ferreira e José Cláudio Rocha. In: Oncologia Molecular
(ISBN: 85-7379-692-8). Editora Atheneu, 2004.
Anexo 4 Ficha de avaliação clínica
Anexo 5 Consentimento informado
Anexo 6 Carta de Aprovação do comitê de ética
Anexo 7 Heredogramas
Anexo 8 Laudos fornecidos aos probandos
Anexo 9 Laudos fornecidos aos familiares
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 HISTÓRICO
Em 1969, os pesquisadores LI e FRAUMENI revisaram 280 prontuários e
418 atestados de óbito de crianças que tiveram o diagnóstico de rabdomiossarcoma.
Buscando informações sobre a história familial destes pacientes, verificaram que
dentre as famílias estudadas, cinco apresentavam um perfil de alta ocorrência de
tumores nas gerações avaliadas, incluindo familiares com diagnóstico de sarcoma na
infância e casos de câncer de mama em idade jovem. As famílias avaliadas relataram
ainda a presença de outras neoplasias em gerações precedentes. A partir da
observação do agrupamento pouco comum de tumores malignos em idade precoce,
que sugeria um padrão de transmissibilidade hereditária, os autores propuseram uma
nova síndrome de câncer familial relacionada a diversos tumores - a Síndrome de Li-
Fraumeni (SLF; OMIM #151623) (LI e FRAUMENI 1969).
A caracterização inicial do espectro tumoral da síndrome incluía como
critérios principais para o diagnóstico a presença de osteossarcomas, sarcomas de
partes moles, câncer de mama em mulheres na pré-menopausa, tumores cerebrais,
tumores adrenocorticais e leucemias agudas sendo inicialmente denominada SBLA
(sarcoma, breast, leukemia and adrenocortical tumor syndrome). No entanto, desde
a descrição inicial da síndrome, verificou-se um amplo espectro tumoral, incluindo
tumores primários malignos de estômago, cólon, pâncreas, esôfago, além de tumores
2
de células germinativas e melanoma (LI et al. 1988; HARTLEY et al. 1989;
VARLEY et al. 1997a).
Em 1990, a SLF foi associada a mutações germinativas no gene TP53
(OMIM #191170) (MALKIN et al. 1990). O gene TP53 foi escolhido como
candidato por ser o gene mais freqüentemente mutado na maior parte dos tumores
malignos esporádicos. Estudos subseqüentes demonstraram que a mutação no gene
TP53 estava presente em grande parte de famílias com o perfil clínico da síndrome
(SRIVASTAVA et al. 1990).
Em 1994, BIRCH et al. analisaram 21 famílias, sendo que 12 preenchiam os
critérios clássicos propostos por Li e Fraumeni, além de nove famílias que
apresentavam características semelhantes à síndrome, mas que, no entanto, não
preenchiam todos os pré-requisitos para receberem o diagnóstico clínico de SLF. Das
nove famílias que apresentavam perfil semelhante à SLF, sete tiveram a
caracterização da mutação germinativa no gene TP53. Visando definir o diagnóstico
clínico e molecular das famílias que não tinham a expressão completa do fenótipo
clássico da síndrome, mas que apresentavam tumores típicos em idade precoce, um
critério diagnóstico adicional ao da SLF clássica foi proposto, sendo denominado Li-
Fraumeni variante ou Li-Fraumeni Like (LFL) (BIRCH et al. 1994). Posteriormente,
EELES (1995) propôs a inclusão de critérios mais abrangentes para a variante da
SLF, incluindo famílias nas quais eram detectados pelo menos dois tumores típicos
do espectro da síndrome.
O espectro tumoral inicialmente relacionado à SLF e LFL foi revisto após a
descrição de diversos outros tipos de tumores ocorridos em famílias que receberam o
diagnóstico da síndrome. CHOMPRET et al. (2001) demonstraram a presença de
3
melanoma, tumores de células germinativas, tumores gástricos e tumores de Wilms
nas famílias portadoras da síndrome. NICHOLS et al. (2001) avaliaram 738 tumores
malignos provenientes de 45 indivíduos portadores da mutação em TP53 e em seus
familiares de primeiro grau, além de 140 casos relatados na literatura, e concluíram
que os seis tumores inicialmente descritos como critérios da SLF (mama, sarcoma.
SNC, leucemia, osteossarcoma e adrenocortical) correspondiam a 77% dos tumores
apresentados nas famílias portadoras das mutações germinativas no gene TP53.
BIRCH et al. (2001) descreveram o espectro tumoral de 28 famílias com a SLF e
LFL e referiram como tumores mais freqüentes o câncer de mama, sarcomas de
partes moles, tumores adrenocorticais, osteosarcomas, tumores cerebrais e tumores
de Wilms’.
1.2 HERANÇA GENÉTICA E PENETRÂNCIA
A SLF é uma síndrome rara de predisposição ao câncer de alta penetrância,
que apresenta caráter autossômico dominante. Estima-se que pacientes com SLF e
sua variante LFL apresentem 50% de chance de desenvolver tumores antes dos 40
anos de idade, comparados a 1% na população geral, e que 90% dos portadores
desenvolvam câncer até 60 anos de idade (BIRCH et al. 2001). LE BIHAN et al.
(1995) avaliaram a estimativa do risco de desenvolvimento de algum tumor maligno
associada à idade dos pacientes SLF e LFL. Os pesquisadores consideraram que do
nascimento até os 16 anos de idade o risco para o desenvolvimento de câncer era de
42%, de 17 a 45 anos o risco era de 38% e que após os 45 anos esse risco chegaria a
63%, sendo o risco total ao longo da vida de 85%. VARLEY et al. (1997b)
4
compararam as idades ao diagnóstico dos tumores em pacientes provenientes de
famílias com SLF e LFL. Na série estudada, dentre os pacientes com o diagnóstico
de SLF, 56% apresentaram tumores malignos antes dos 30
anos e 100% até os 50
anos. Na mesma série, avaliando-se os pacientes com o diagnóstico de LFL,
verificou-se que 44% dos apresentaram tumores malignos antes dos 30 anos e 78%
destes pacientes desenvolveram câncer antes dos 50 anos. Este fato demonstrou que
pacientes com o diagnóstico clínico de LFS apresentam um maior risco para o
desenvolvimento de tumores malignos.
Os pacientes portadores da SLF e LFL têm risco aumentado de
desenvolvimento de múltiplos tumores primários, sendo que os indivíduos portadores
que desenvolveram algum tumor na infância são mais susceptíveis a apresentar mais
de um tumor primário (HISADA et al. 1998). Neste estudo, realizado em famílias
residentes nos Estados Unidos da América com diagnóstico de SLF e LFL, HISADA
et al. (1998) avaliaram 200 membros de famílias SLF nos quais já havia sido
diagnosticado algum tumor e, dentre os indivíduos avaliados, 15% desenvolveram
um novo tumor primário, 4% apresentaram um terceiro tumor primário e 2 %
tiveram quatro tumores primários diagnosticados.
Alguns outros fatores demonstraram estar envolvidos no aumento de risco no
desenvolvimento de tumores na SLF e LFL. LIMACHER et al. (2001) sugeriram
haver uma maior incidência de tumores secundários em regiões tratadas por
radioterapia. Isto foi verificado em uma paciente portadora da mutação germinativa
no gene TP53 que havia apresentado um câncer de mama e que apresentou dois
novos tumores primários, sendo estes adenocarcinoma de células pequenas de
pulmão e adenocarcinoma de cólon, ambos os tumores ocorridos no campo
5
radioterápico da mamária interna e no campo envolvido na irradiação do ovário.
NUTTING et al. (2000) relataram a incidência de 17 tumores primários em uma
única paciente portadora da mutação germinativa característica da SLF que havia
sido submetida à radioterapia e a quimioprevenção com o uso do Tamoxifeno após
ter apresentado um câncer de mama. Além disso, a exposição à radiação ionizante,
radiação gama, raios UV, agentes oxidantes, drogas citotóxicas e agentes químicos
causadores de câncer podem aumentar o risco de desenvolvimento de tumores
relacionados à síndrome (HISADA et al. 1998; NUTTING et al. 2000; LIMACHER
et al. 2001).
Acredita-se que o risco de desenvolvimento de tumores nos portadores da
SLF e LFL seja maior em mulheres. CHOMPRET (2002) definiu o risco em
mulheres portadoras da síndrome de desenvolvimento de câncer de 100% enquanto
que em homens esse risco seria de 73%, sendo esta diferença atribuída, em parte, ao
alto risco de desenvolvimento de câncer de mama, no entanto outros estudos que
corroborem esta afirmação precisam ser realizados.
1.3 QUADRO CLÍNICO E CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
As manifestações clínicas da SLF e LFL são caracterizadas pela alta
incidência de tumores malignos de ocorrência em idade jovem. É uma doença
multissistêmica e de penetrância variável. Os tumores mais verificados na SLF e LFL
são sarcomas de partes moles (SPM), cânceres de mama, sarcomas ósseos (SO),
tumores do sistema nervoso central (SNC), tumores adrenocorticais (ADR) e
leucemias de início precoce. Devem-se relacionar ainda outros tipos de câncer que
6
podem ocorrer nesta síndrome, dentre eles tumores colorretais (CCR), estômago,
pulmão, melanoma e tumores de células germinativas (Quadro 1).
Quadro 1 - Tumores mais freqüentemente associados à SLF e LFL.
Tumores infantis
Sarcomas de partes moles e ósseos
Sistema nervoso central
Câncer adrenocortical
Linfoma / Leucemia
Tumor de células germinativas
Tumor de Wilms
Tumores em adultos
Câncer de Mama
Sarcomas de partes moles e ósseos
Sistema nervoso central
Câncer de pulmão
Linfoma / Leucemia
Câncer gástrico
Câncer de cabeça e pescoço
Câncer de próstata
Câncer de pâncreas
Câncer de ovário
Câncer de endométrio
A anamnese e história familial dos pacientes que desenvolveram tumores
típicos da síndrome devem ser minuciosas e seguidas da investigação sobre outros
casos de câncer na família. A SLF e LFL acometem várias gerações, sendo freqüente
o acometimento de tumores em múltiplos familiares em cada geração. O diagnóstico
da síndrome inicialmente é clínico, realizado a partir da observação e anotação dos
diversos casos relatados pelas famílias avaliadas. O diagnóstico clássico da SLF é
realizado a partir de um paciente índice, ou probando, que apresentou sarcoma em
idade jovem (antes dos 45 anos); com um parente de primeiro grau com qualquer
7
câncer em idade jovem (antes dos 45 anos) além de outro parente de primeiro ou
segundo grau com diagnóstico de câncer em idade jovem (antes dos 45 anos) ou
sarcoma em qualquer idade (LI et al. 1988) (Quadro 2).
BIRCH et al. (1994) sugeriram critérios diagnósticos mais abrangentes do que
a definição clássica da síndrome, que foram denominados critérios de Li-Fraumeni
like. Estes critérios sugerem que a variante da síndrome pode ser definida a partir da
existência de um probando com câncer infantil ou que apresentou sarcoma, tumor
cerebral ou carcinoma adrenocortical em idade jovem (antes dos 45 anos), associado
à presença de um parente de primeiro ou segundo grau com câncer típico da SLF
(sarcoma, câncer de mama, câncer do sistema nervoso central, carcinoma
adrenocortical ou leucemia) em qualquer idade e, além disso, mais um parente de
primeiro ou segundo grau com qualquer câncer antes dos 60 anos (Quadro 2).
Em 1995, EELES propôs critérios diagnósticos definindo a LFL a partir de
dois parentes de primeiro ou segundo grau com tumores relacionados à SLF em
qualquer idade (Quadro 2). Nestes critérios, foi proposta a inclusão de pacientes que
apresentam múltiplos tumores primários e que por si próprios preenchem os critérios
para SLF ou LFL, associados ou não a outros tumores na família. EELES (2000)
propôs ainda a inclusão de famílias nas quais tivesse ocorrido um sarcoma em
qualquer idade associado a outro caso de tumores típicos da síndrome em qualquer
idade.
Posteriormente, CHOMPRET et al. (2001) sugeriram critérios diagnósticos
que elegeriam pacientes para detecção de mutações no gene TP53. Estes critérios são
muito amplos e por este motivo não são freqüentemente empregados no diagnóstico
clínico da síndrome. Além disso, é verificada a baixa taxa de detecção de mutação
8
em pacientes que receberam o diagnóstico de SLF e LFL a partir destas definições
(VARLEY et al. 1997a) (Quadro 2).
Quadro 2 - Critérios diagnósticos da Síndrome de Li-Fraumeni.
Clássico
Li e
Fraumeni
Sarcoma na infância ou em idade jovem (antes dos 45 anos) e
Parente de primeiro grau com qualquer câncer em idade jovem (antes dos 45
anos) e
Parente de primeiro ou segundo grau que tenha o diagnóstico de câncer em
idade jovem (antes dos 45 anos) ou sarcoma em qualquer idade.
Birch
Câncer na infância ou sarcoma, tumor do sistema nervoso central ou câncer
adrenocortical antes dos 45 anos e
Parente de primeiro grau ou segundo grau com câncer típico da Síndrome de
Li-Fraumeni (sarcoma, câncer de mama, tumor do sistema nervoso central,
câncer adrenocortical ou leucemia) em qualquer idade e
Parente de primeiro ou segundo grau com qualquer câncer antes dos 60 anos.
Eeles
LFL-E1 presença de dois parentes de primeiro ou segundo grau com tumor
típico em qualquer idade (sarcoma, câncer de mama, tumor SNC, leucemia,
tumor adrenocortical, melanoma, câncer de próstata, câncer pancreático).
LFL-E2: sarcoma em qualquer idade no probando com dois dos seguintes
tumores (podendo estar presentes no mesmo indivíduo) câncer de mama <50
anos e/ou tumor SNC, leucemia, tumor adrenocortical, melanoma, câncer de
próstata, câncer pancreático aos <60 anos ou sarcoma em qualquer idade.
Chomperet
Sarcoma, tumor do sistema nervoso central, câncer de mama ou câncer
adrenocortical antes dos 36 anos e
a) Parente de primeiro grau ou segundo grau com câncer antes dos 46 anos
ou
b) Parente com múltiplos tumores primários em qualquer idade
Múltiplos tumores primários, incluindo dois tumores que sejam do tipo
sarcoma, tumor do sistema nervoso central, câncer de mama ou câncer
adrenocortical, com o primeiro tumor diagnosticado antes dos 36 anos,
independente da história familial.
Câncer adrenocortical em qualquer idade e independente da história familial.
9
1.4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Algumas famílias SLF e LFL apresentam quadros clínicos que se sobrepõe
aos de outras síndromes genéticas ligadas ao câncer. A alta incidência de tumores de
mama em idade jovem é uma característica marcante da SLF e LFL e também é
verificada em outras síndromes levando a dificuldade no diagnóstico preciso.
Aproximadamente 80 a 90% dos tumores da mama hereditários estão relacionados à
Síndrome do Câncer de Mama e Ovário Hereditário que está associada a mutações
nos genes BRCA1 e BRCA. Pacientes portadores desta síndrome apresentam um risco
de 87% de desenvolvimento de câncer de mama até os 70 anos de idade (THULL e
VOGEL 2004). Além dos tumores de mama, pacientes portadores de mutações nos
genes BRCA1 ou BRCA2 apresentam maior risco para o desenvolvimento de câncer
de ovário, que acomete 44% das mulheres portadoras da síndrome, além de
melanoma, tumores malignos de próstata, pâncreas e estômago (Breast Cancer
Linkage Consortium 1999).
Outra síndrome na qual é verificado o alto risco para o desenvolvimento de
câncer de mama é a Síndrome de Cowden, relacionada a mutações germinativas no
gene PTEN. Indivíduos portadores desta síndrome apresentam o risco de 22 a 50%
de desenvolvimento de câncer de mama em idade jovem, com o diagnóstico
ocorrendo entre 38 e 46 anos, além da ocorrência de outros tumores relacionados à
SLF e LFL, como o câncer de endométrio (BROWNSTEIN et al. 1978; STARINK et
al. 1986; BLACK et al. 2005).
A presença de casos de câncer gástrico difuso associado ao câncer lobular da
mama pode levantar a suspeita da Síndrome do Câncer Gástrico Difuso Hereditário,
10
causado pela mutação germinativa no gene CDH1. Em uma família portuguesa com
os critérios diagnósticos incompletos para o diagnóstico da Síndrome do Câncer
Gástrico Difuso Hereditário e sem mutação no gene CDH1 foi verificada a mutação
germinativa do gene TP53 característica da SLF (OLIVEIRA et al. 2004). KIM et al.
(2004) relataram a presença de uma mutação germinativa no gene TP53 em uma
família previamente descrita como portadora da Síndrome do Câncer Gástrico Difuso
Hereditário.
A Síndrome do Câncer Colorretal não Polipose (HNPCC) ou s[indrome de
Lynch, relacionada às mutações nos genes hMLH1, hMSH2, hPMS1,
hPMS2,
GTBP/hMSH6, é caracterizada pela presença de casos de tumores colorretais em
idade jovem podendo ser associada à presença de tumores de endométrio, bexiga e
mama, que também fazem parte do espectro da SLF e LFL (LYNCH 1994; ROSSI et
al. 2002; COURA et al. 2005). A presença de tumores malignos de outras etiologias
em idade jovem em famílias com este diagnóstico devem ser estudada
detalhadamente, aventando-se o diagnóstico diferencial com a SLF e LFL.
A presença de mutações germinativas no gene TP53 em pacientes que
apresentam tumores esporádicos, sem história familial de outros tumores, foi
verificada em diversos tipos histológicos. Este fato é verificado em portadores de
tumores adrenocorticais, nos quais se estima que 50 a 97% apresentem mutações
germinativas no gene TP53 (WAGNER et al. 1994; VARLEY et al. 1997a;
FIGUEIREDO et al. 2005). Estima-se que até 10% das crianças que apresentam
tumores de sistema nervoso central sem outros casos de câncer na família são
portadores da mutação germinativa no gene TP53 (FELIX at al. 1995; LI et al. 1995).
Acredita-se que pacientes com diagnóstico de rabdomiossarcoma serão portadores
11
em 9% dos casos de mutações germinativas no gene TP53, independente de terem ou
não história familial de outros tumores (DILLER et al. 1995). O mesmo pode ser
verificado em pacientes com osteosarcoma, nos quais se estima que 2 a 3% dos casos
apresentem mutações germinativas no mesmo gene (McINTYRE et al. 1994). A
ocorrência de mutações germinativas no gene TP53 nestes tumores isoladamente, na
ausência de história familial, pode ser explicada pela ocorrência de mutações de
novo. Em famílias nas quais múltiplos tumores precoces ocorrem, mas que não
apresentam, no entanto, os critérios diagnósticos da SLF e LFL, a taxa de detecção
de mutação é de 7 a 20% (MALKIN et al. 1992).
Frente ao fato de existirem diversas síndromes genéticas ligadas ao câncer
com quadros clínicos que podem se sobrepor e frente à presença da mutação
germinativa no gene TP53 em tumores esporádicos, torna-se fundamental a
realização de uma investigação mais aprofundada das famílias acometidas. A
obtenção da história familial de forma adequada, aprofundando-se quanto aos
detalhes sobre os tumores ocorridos e incluindo informações sobre familiares
provenientes de no mínimo três gerações deve ser sempre realizada, possibilitando a
realização do diagnóstico diferencial das diferentes síndromes.
1.5 O GENE TP53 E A PROTEÍNA P53 – ESTRUTURA E FUNÇÃO
O gene envolvido na SLF e LFL é o gene supressor de tumor TP53 (OMIM
#191170), localizado no braço curto do cromossomo 17 (17p13). Este gene tem o
tamanho aproximado de 20 kb, é composto por onze éxons, sendo o primeiro deles
não codificante, e produz um mRNA de 2.508 pb. O TP53 codifica a fosfoproteína
12
nuclear p53, formada por 393 aminoácidos e de peso molecular de 53 KDa, que se
liga a seqüências específicas de DNA e age como fator de transcrição dos genes
reguladores do crescimento celular (CRAWFORD et al. 1981; HAINAUT 1995)
A proteína p53 humana possui cinco domínios, cada um deles responsável
por funções específicas (MAY e MAY 1999). O domínio inicial (aminoácidos 1 a
62), ou amino terminal, é o domínio de transativação, no qual se encontra o sítio de
ligação à proteína Mdm2. É seguido por um domínio rico em resíduos de prolina
(aminoácidos 63 a 97) e pela região central da p53 (aminoácidos 102 a 292), que
abriga o domínio de ligação ao DNA. Este domínio de ligação ao DNA é alvo de
mais de 90% das mutações encontradas nos tumores humanos e na SLF e LFL. O
domínio de oligomerização (aminoácidos 323 a 356) é fundamental na configuração
espacial da proteína p53, responsável pela multimerização da proteína, que se unirá
em tetrâmeros. O domínio final é o de regulação (aminoácidos 363 a 393) (Figura 1).
A proteína p53 foi descrita por dois grupos distintos de pesquisadores em
1979, liderados por David Lane, da Universidade de Dundee, no Reino Unido (RU) e
Arnold Levine, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos da América
(EUA) (LANE e CRAWFORD 1979; REICH e LEVINE 1979). Inicialmente, foi
considerada como produto de um oncogene, porém no final dos anos 80 verificou-se
que esta propriedade devia-se a apenas algumas formas mutantes do gene, enquanto
que o gene selvagem tinha a capacidade de suprimir a transformação de um tumor,
seja in vitro ou in vivo (FINLAY et al. 1989).
13
Lege
dom
Figura 1
nda: (A): Representação dos éxons (cilindros) 1 a 11 do gene TP53; (B): Representação da proteína p53. As cores representadas nos éxons correspondem aos
ínios correlacionados na proteína.
2
4 6 5
3
7 8 11 9 10
Domínio de
transativação
(1-62)
Domínio
rico em
prolinas
(63-97)
Domínio de ligação
ao DNA
(102-292)
Domínio de
oligomerização
(323-356)
Domínio de
-C
regulação
(363-393)
III
- O gene TP53 e a proteína p53.
N-
I
II
IV
V
1
A
B
14
Em 1990, o gene TP53 foi apontado como gene candidato da SLF, uma vez
que mutações foram detectadas em pacientes com o diagnóstico clínico da síndrome
(MALKIN et al. 1990; SRIVASTAVA et al. 1990). Dois anos mais tarde foram
produzidos camundongos nocauteados (Trp53) ou knock-out, portadores de mutações
no gene TP53. Os camundongos apresentaram desenvolvimento físico normal, porém
apresentaram tumores múltiplos em idade precoce demonstrando, a partir de um
modelo animal, a importância da proteína p53 na etiologia dos tumores malignos
(DONEHOWER et al. 1992).
A proteína p53 é um fator de transcrição expresso constitutivamente nos mais
variados tipos celulares e tecidos. Danos ao DNA, tais como quebras ou oxidação do
DNA e hipóxia, emitem sinais que ativam a p53. Devido a seu reduzido tempo de
atividade, variando de cinco a 20 minutos, a proteína não se acumula no núcleo. Em
resposta a certos estímulos a sua produção aumenta e passa então a se acumular no
núcleo da célula. Desta forma, a p53 irá exercer o seu efeito através do controle
transcricional, ativando ou reprimindo genes específicos envolvidos em sua via,
promovendo a parada do ciclo celular, principalmente na fase G1, ou induzindo a
célula à apoptose (HAINAUT 1995). O papel fundamental da p53 na regulação do
ciclo celular, na apoptose e no reparo do DNA consagrou-a com a denominação de
“guardião do genoma” (LANE 1992).
O principal regulador da p53 é a proteína Mdm2, uma proteína que se liga à
região N-terminal da p53, formando o complexo p53/Mdm2. Este complexo
possibilita o redirecionamento da p53 do núcleo para o citoplasma, onde a p53 será
degradada pelos proteassomas. A extensão e conseqüências da ativação da p53 vão
depender da intensidade dos sinais de indução e da sua origem. No caso da resposta a
15
exposição à radiação ionizante, a ativação da p53 ocorrerá a partir da fosforilação de
sua região N-terminal por quinases tais como Atm e Chk2, quinases regulatórias do
ciclo celular. A fosforilação levará a dissociação do complexo p53/Mdm-2 e logo a
estabilização da p53 (MOLL e PETRENKO 2003).
1.6 MUTAÇÕES E POLIMORFISMOS NO GENE TP53
Mais de 18.000 mutações pontuais no gene TP53 foram detectadas, sendo
97% somáticas e 3% germinativas. Mutações somáticas no TP53 estão presentes em
mais de 50% de todos os tumores somáticos, podendo variar de 10 to 60%,
dependendo do tipo de tumor ou da população estudada, o que faz com que este gene
seja considerado um dos genes mais freqüentemente mutados em cânceres humanos
(LEVINE 1997; HAINAUT e HOLLSTEIN 2000).
As mutações germinativas encontradas no gene TP53 levam ao
desenvolvimento de câncer hereditário, representando um exemplo do primeiro passo
do modelo de KNUDSON (1971). Mutações germinativas no gene TP53 foram
encontradas em aproximadamente 71% das famílias com SLF clássica e em 8% a
22% a das famílias com LFL, de acordo com os critérios de Eeles e Birch
respectivamente (VARLEY et al. 1997b). Até o momento, foram identificadas 283
mutações germinativas no gene TP53 descritas em 280 indivíduos ou famílias,
depositadas no
banco de dados de mutações em TP53 da Agência Internacional para
Pesquisa do Câncer – International Agency for the Research on Cancer (IARC TP53
Database R10) (OLIVIER et al. 2002).
16
As mutações germinativas no gene TP53 tendem a ocorrer
predominantemente no domínio central de ligação ao DNA, codificado pelos éxons 5
a 8 e ainda nos éxons 4 e 9 (OLIVIER et al. 2003). Cerca de 75% destas mutações,
tanto somáticas como germinativas, são do tipo missense, ou seja, promovem
alterações que levam a troca de aminoácidos, ocorrendo principalmente transições
de guanina para adenina. As mutações frameshift (que alteram a janela de leitura)
ocorrem em 6% dos casos enquanto que alterações nos sítios de splicing representam
2% dos casos (IARC TP53 Database R10). Mutações non-sense, nas quais ocorre
uma inserção de um códon de terminação da tradução prematuro, podem ocorrer,
além de duplicações nas diferentes regiões (VARLEY 2003a). Deleções no gene
TP53 aparentemente não são freqüentes, porém já foram relatadas (BOUGEARD et
al. 2003).
A pesquisa por alterações na região promotora do gene é fonte de grande
interesse atual, sendo vislumbrada como possível sítio de alteração nos pacientes
com SLF e LFL sem a detecção da mutação no gene TP53. ATTWOOLL et al.
(2002) descreveram uma deleção na região promotora deste gene em dois probandos
dentre 18 indivíduos com diagnóstico SLF e LFL, mas concluíram que se tratava de
um polimorfismo raro.
O padrão ouro, ou gold standard, para rastreamento das mutações no gene
TP53 é o seqüenciamento direto de DNA genômico de todos os éxons codificantes
(exons 2 a 11), do primeiro éxon que não é codificante, da região promotora, da
região 3’ não traduzida e todos os sítios de junção de splicing (VARLEY 2003a).
Aproximadamente 95% das mutações podem ser detectadas pelo seqüenciamento
direto dos éxons 4 a 9, mas devem-se procurar alterações em todos os éxons
17
codificantes. Deve-se levar em conta que caso a alteração seja devida a inversões,
duplicações ou grandes deleções, a alteração poderá não ser detectada pela técnica de
seqüenciamento (BOUGEARD et al. 2003).
Mais de 30 polimorfismos no gene TP53 foram descritos até o momento
(IARC TP53 Database R10). Estes polimorfismos ocorrem tanto em regiões
intrônicas como nos éxons. A presença do polimorfismo no códon 72, localizado no
éxon 4 do gene TP53, já foi extensamente estudada e relacionada à maior incidência
de neoplasias de pulmão, esôfago, cérvix e estômago (SUL et al. 2005). Existem
diversas evidências de que este polimorfismo possa ter impacto funcional na
susceptibilidade ao câncer e na resposta à quimioterapia (BERGAMASCHI et al.
2003; XU et al. 2005). Outros polimorfismos vem sendo alvo de estudos recentes. O
polimorfismo 13964, no íntron 6, foi relacionado à maior incidência de câncer de
tireóide em crianças da Bielorússia e a câncer de mama familial, porém não foi
confirmado como fator determinante na SLF (HILLEBRANDT et al. 1997;
LEHMAN et al. 2000).
1.7 ENVOLVIMENTO DO GENE CHK2 COM A SLF e LFL
Alguns estudos foram realizados correlacionando as SLF e LFL e mutações
germinativas no gene CHK2. BELL et al. (1999) detectaram a presença de mutações
germinativas no gene CHK2 (Cell-cycle checkpoint kinase-2) (OMIM #604373) em
famílias com o fenótipo SLF e LFL e na ausência de mutações germinativas no gene
TP53. VAHTERISTO et al. (2001) verificaram a ocorrência de mutações
germinativas no gene CHK2 em duas dentre 44 famílias finlandesas com as SLF e
LFL que não apresentavam mutações germinativas no gene TP53. SIDDIQUI et al.
18
(2005) avaliaram a incidência de mutações germinativas no gene TP53 e da alteração
CHK2*1100delC no gene CHK2 (a mais freqüentemente relacionada ao aumento de
risco na síndrome) em 23 famílias com fenótipo SLF e LFL. Foram detectadas
mutações no gene TP53 em sete famílias e apenas uma delas apresentou a alteração
CHK2*1100delC.
Até o presente, cinco famílias com mutação germinativa no gene CHEK2
foram incluídas no banco de dados de mutações germinativas do IARC, todas com a
detecção da mutação no gene TP53 e sendo duas destas com o diagnóstico clínico de
SLF e três com LFL (IARC TP53 Database R10). Outra correlação foi estabelecida,
descrevendo uma maior predisposição ao desenvolvimento do fenótipo da síndrome
de câncer de mama e câncer colorretal hereditário em portadores da alteração
CHEK2*1100delC (MEIJERS-HEIJBOER et al. 2003).
Atualmente se acredita que mutações no gene CHK2 estejam envolvidas no
aumento da susceptibilidade para o câncer de mama sugerindo que este gene possa
exercer ação supressora de tumor (VAHTERISTO et al. 2002; INGVARSSON et al.
2002; SODHA et al. 2002; VARLEY et al. 2003b).
1.8 CORRELAÇÃO GENÓTIPO-FENÓTIPO
Várias tentativas foram feitas no intuito de correlacionar mutações
germinativas no gene TP53 à maior incidência de tumores em algum órgão alvo ou
célula alvo. Em estudo realizado por HORIO et al. (1994) foi verificada maior
incidência de tumores gástricos em uma família japonesa portadora de uma mutação
germinativa no códon 213 do gene TP53. LEHMAN et al. (2000) verificaram a
19
presença do polimorfismo 13964 no gene TP53 em três mulheres com câncer de
mama e história familial de câncer de mama, dentre 42 avaliadas, levantando a
possibilidade desta alteração ser uma mutação de baixa penetrância.
Em 2001, RIBEIRO et al. avaliaram a presença da mutação no gene TP53 em
36 crianças com tumores adrenocorticais, provenientes da região da periferia de
Curitiba, no Brasil. Dentre as 36 crianças avaliadas, 35 apresentavam a mesma
mutação germinativa específica no domínio de oligomerização da p53, no éxon 10,
com a troca de uma arginina por uma histidina (R337H – CGC para CAC no codon
337). Esta mutação só havia sido descrita anteriormente em uma família com SLF na
Inglaterra (IARC TP53 Database R10). Os autores relataram não haver história
familial documentada de outros tumores e referiram não haver a existência de efeito
fundador, a partir do qual um ancestral comum a todas essas crianças haveria levado
a preservação da alteração nas gerações seguintes. A partir destes resultados, os
autores propuseram que esta mutação era tumor-específica, ou seja, indivíduos
portadores apresentariam um risco aumentado para o desenvolvimento apenas um
tipo de tumor – o carcinoma adrenocortical.
Para confirmar esta hipótese, RIBEIRO et al. (2001) conduziram estudos
funcionais e estruturais, identificando que a mutação R337H
no gene TP53
apresentava um defeito pH-dependente na região de oligomerização, tornando o gene
inativo apenas em condições de aumento de pH intracelular. Segundo estes autores, a
troca da arginina 337 por uma histidina alteraria a capacidade de formação das
pontes de hidrogênio entre dois monômeros de p53, logo impedindo que a
dimerização ocorresse e que a forma ativa da p53 pudesse se formar. Quando a célula
tem um pH 7,0, a histidina está protonada, o que permite a formação das pontes de
20
hidrogênio, enquanto que em pH 8,0 a histidina se torna desprotonada, prevenindo a
formação deste tipo de ligação química. Com isso, a oligomerização da p53 não pode
ocorrer, levando à inativação da sua capacidade de se ligar nas regiões regulatórias
dos genes. Assim, especulou-se que a R337H seria uma mutação que predispõe
apenas ao desenvolvimento de câncer em tecidos que apresentariam um aumento do
pH intracelular. Esse aumento ocorre em células apoptóticas e pode estar envolvido
no extenso processo de remodelamento que ocorre na glândula adrenocortical nos
períodos de desenvolvimento pré e pós-natal.
1.9 ACONSELHAMENTO GENÉTICO E RASTREAMENTO
Aconselhamento genético é o processo de comunicação da presença de uma
síndrome genética aos portadores e a seus familiares. Neste momento devem ser
detalhadas informações sobre a origem, a herança e as implicações da doença,
possibilitando ao paciente tomar decisões médicas e pessoais (NUSSMAN et al.
2002).
Pelo menos 10% dos casos de câncer em tratamento hoje têm origem
hereditária. Famílias que apresentam múltiplos casos de câncer, ou a presença de
tumores em idades atípicas devem ser avaliadas. A possibilidade de identificar
familiares de elevado risco para o desenvolvimento de câncer torna possível o
emprego de uma abordagem preventiva e de detecção precoce do câncer. Os
indivíduos considerados de alto risco devem ser encaminhados para o
aconselhamento genético onde receberão todas as informações sobre a doença
21
diagnosticada, informações sobre a herança e suporte para o rastreamento precoce
(ROCHA et al. 2001).
A SLF é uma síndrome de difícil acompanhamento por apresentar um
espectro tumoral amplo e diversificado (VARLEY et al. 1997a). Até o momento,
existem poucas estratégias de rastreamento reconhecidamente eficazes. O
rastreamento de lesões em mama a partir de idade jovem apresentou-se como única
estratégia efetiva no acompanhamento destes pacientes (National Comprehensive
Cancer Network-NCCN 2005). (Quadro 3). Foi sugerido por THULL e VOGEL
(2004) que mulheres portadoras da mutação no gene TP53 deveriam considerar a
possibilidade da realização da mastectomia profilática bilateral para redução do risco
de desenvolvimento de câncer de mama.
Uma vez iniciado o acompanhamento aos pacientes com diagnóstico da SLF
e LFL, estes devem ser bem informados quanto à dificuldade do rastreamento. Deve
ser ressaltada a importância do acompanhamento clínico freqüente e especializado.
Os pacientes devem ter conhecimento do amplo espectro tumoral da síndrome, assim
como a sua expressão variável, e saber como detectar possíveis sintomas
relacionados a tumores, tais como emagrecimento repentino, hiperemias e pruridos
na região da mama ou sangramentos em mucosa gengival. O rastreamento baseado
nos tumores mais freqüentemente apresentados pelas famílias deve ser
implementado, ou seja, em famílias com alto índice de câncer colorretal, o exame de
colonoscopia deve ser realizado em todos os indivíduos em risco, e lesões suspeitas
devem ser acompanhadas por um proctologista. Pacientes portadores da síndrome
que sobreviveram à primeira neoplasia devem intensificar o rastreamento devido ao
alto risco de desenvolvimento de novas lesões primárias. (HISADA 1998)
22
Quadro 3 - Protocolo de rastreamento na SLF e LFL - NCCN.
Rastreamento Anual Semestral Mensal
Adultos em
risco
Exame clínico - foco na detecção de
tumores raros e novos tumores primários
Mamografia anual a partir de 20-25 anos
(M)
Acompanhamento direcionado aos
tumores ocorridos nas famílias
Exame clínico das
mamas a partir dos 20-
25 anos ou 5 a 10 anos
antes do tumor de mama
em parente mais jovem
(M)
Auto-
exame da
mama a
partir dos
18 anos (M)
Crianças em
risco
Exame clínico com foco na detecção de
tumores raros
Hemograma completo
Outras
possibilidades
de manejo
Esclarecer familias sobre limitações no
rastreamento de tumores relacionados à
síndrome
Informar sobre mastectomia profilática
bilateral (individualizar a cada família)
Informar pediatras sobre risco de
tumores infantis
Educação ao paciente e aos médicos
sobre possíveis sinais e sintomas de
câncer
Legenda: (M)- exame realizado em mulheres
O acompanhamento de crianças que são possíveis portadoras é controverso
devido ao fato de não existir nenhum exame específico que venha reduzir a
incidência ou mesmo levar ao diagnóstico precoce dos tumores relacionados à SLF e
LFL na infância. Os pediatras que acompanham crianças que são possíveis
portadores da síndrome devem ser informados sobre o diagnóstico e risco, e o
acompanhamento clínico deve ser freqüente (National Comprehensive Cancer
Network-NCCN 2005).
23
Os pacientes devem ser esclarecidos sobre a possibilidade de realização do
diagnóstico molecular da SLF e LFL. O teste genético deve ser oferecido como
confirmação do diagnóstico clínico, porém o paciente deve estar bem informado que
o resultado obtido no teste não irá mudar a conduta nem o diagnóstico clínico da
síndrome. Caso haja a detecção da mutação, esta poderá ser rastreada em seus
familiares possibilitando a identificação de indivíduos assintomáticos. No entanto,
caso a mutação não seja detectada pelos métodos utilizados, o paciente deve estar
ciente de que outros fatores não identificados podem ocasionar a síndrome e que,
mesmo sem o diagnóstico molecular, a família deverá continuar o rastreamento
clínico (HEMMINKI e ENG 2004).
Caso o paciente opte pela realização do teste genético, este deve ser realizado
mediante aconselhamento genético continuado. O aconselhamento genético pré-teste
fornecerá informações sobre a doença, esclarecendo os riscos e o benefício do teste.
Este deverá ser individualizado e não direcionado, de modo que o geneticista não
interferirá nas decisões do paciente. O paciente deve estar ciente que o teste genético
e a identidade do indivíduo são confidenciais, impedindo assim quaisquer
dificuldades relacionadas à discriminação e proporcionando uma relação de
confiança entre o paciente e o médico geneticista. O consentimento informado
contendo informações detalhadas sobre a síndrome e o teste a ser realizado deve ser
assinado pelo indivíduo candidato ao teste ou pelo seu responsável legal. Após a
realização do teste, o aconselhamento pós-teste fornecerá ao paciente as informações
sobre o risco, as opções terapêuticas e preventivas e o acompanhamento clínico
multidisciplinar adequado. O resultado é divulgado ao paciente que é orientado
24
quanto à importância de convocar seus familiares em risco para o aconselhamento
genético (ROCHA et al. 2001).
25
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho é avaliar o papel de mutações no gene TP53
na etiologia da Síndrome de Li-Fraumeni e, de sua variante Li-Fraumeni Like em
pacientes da população brasileira.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1- Caracterizar as mutações germinativas no gene TP53 em famílias brasileiras
com diagnóstico clínico das Síndromes de Li-Fraumeni e Li-Fraumeni Like;
2- Correlacionar a presença e a localização da mutação germinativa no gene
TP53 com o fenótipo apresentado pelo paciente e os familiares portadores das
Síndromes de Li-Fraumeni e Li-Fraumeni Like;
3- Correlacionar os genótipos e fenótipos encontrados com os dados de outras
famílias depositados no banco de dados de mutações em TP53 do IARC.
26
3 PACIENTES E MÉTODOS
3.1 SELEÇÃO DOS PACIENTES
Inicialmente, foram revisados 1.485 prontuários de pacientes atendidos no
Departamento de Oncogenética do Hospital do Câncer – A.C. Camargo, São Paulo,
no período de dezembro de 1999 a agosto de 2004. Os pacientes foram
encaminhados a este serviço por apresentarem agrupamento familial de tumores e
síndromes genéticas ligadas ao câncer. Dentre as famílias avaliadas, 32 foram
selecionadas de acordo com os critérios clássicos (LI et al. 1988), recebendo o
diagnóstico clínico de SLF e com os critérios variantes, de BIRCH et al. (1994) e de
EELES (1995), recebendo o diagnóstico clínico de LFL. Pacientes que fossem
portadores de tumores que por si próprios preenchessem um dos critérios da
síndrome também foram incluídos. Dez pacientes provenientes do Serviço de
Genética Médica - Hospital de Clínicas, Porto Alegre, e que preenchiam os critérios
da SLF e LFL foram adicionados a este grupo. Três famílias provenientes da Divisão
de Genética Médica –
INCA, Rio de Janeiro diagnosticadas como portadoras de SLF
ou LFL também foram incluidas, totalizando 45 famílias.
Os prontuários das famílias com diagnóstico clínico de SLF e LFL foram
revisados visando à obtenção das informações sobre os tumores familiares. A partir
de entrevista com cada paciente foi possível detalhar asr informações obtidas. Foram
solicitados aos pacientes comprovantes dos tumores ocorridos em seus familiares de
primeiro, segundo e terceiro graus. Foram aceitos como comprovantes relatórios de
27
anatomia-patológica ou relatório médico. Dados relacionados à idade de
acometimento do tumor, ao tipo de tumor e ao gênero do familiar foram incluídos
na ficha clínica do paciente sempre que estivessem disponíveis (Anexo 4). As outras
instituições que também incluíram pacientes neste estudo (Serviço de Genética
Médica - Hospital de Clínicas, Porto Alegre e Divisão de Genética Médica –
INCA,
Rio de Janeiro) forneceram as informações clínicas sobre os pacientes assim como
sobre suas famílias. Os heredogramas foram confeccionados na ficha clínica de cada
paciente na fase inicial do estudo visando compor um painel clínico dos tumores
apresentados pelas famílias. Após a atualização dos dados referentes aos tumores
apresentados nas famílias, novos heredogramas foram elaborados a partir do
programa Cyrillic 2 for pedigree drawing (Cherwell Scientific).
As famílias receberam aconselhamento pré-teste, no qual foram elucidados os
aspectos clínicos da doença e os potenciais benefícios do teste genético, assim como
suas limitações. O teste preditivo não foi oferecido para menores de 18 anos. Todos
os pacientes assinaram o termo de consentimento pós-informado antes de ser
realizada a coleta de sangue para a realização do teste genético (Anexo 5). O
acompanhamento clínico para rastreamento de tumores foi oferecido a todos os
familiares e o teste genético foi oferecido apenas aos familiares que tinham a
mutação no paciente índice da família detectada.
Amostras de DNA genômico de 53 voluntários saudáveis provenientes do
Serviço de Genética Médica, Hospital de Clínicas - Porto Alegre foram analisadas
buscando avaliar a presença das alterações encontradas na população deste estudo e
pouco descritas na literatura existente.
28
Este estudo, assim como o consentimento informado a ele relacionado, foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Antonio Prudente na
reunião realizada no dia 30.09.2003, sob o número 531/03 (Anexo 6).
3.2 EXTRAÇÃO DE DNA
Amostras de 20mL de sangue periférico dos pacientes foram coletadas de
maneira convencional em tubos contendo EDTA e estocadas a 4°C. A separação dos
linfócitos ocorreu em um período inferior a cinco dias após a data da coleta e foi
realizada conforme o método descrito por ENGLISH e ANDERSEN (1974). O
precipitado linfocitário (pellet) foi obtido a partir das amostras de sangue através de
centrifugação a 1.500rpm por 15 minutos, sendo o plasma sobrenadante transferido
para tubos de 1,5mL e estocado a –70
o
C. O sangue restante foi homogeneizado e
transferido para tubos Falcon de 50mL, aos quais foram adicionados 15mL
(aproximadamente o mesmo volume do sangue homogeneizado) de solução PBS 1X
pH 7,4 (123mM de NaCl; 2,7mM de KCl; 4,3mM de Na
2
HPO4; 1,4mM de
K
2
HPO4). Em seguida, foram adicionados 15mL de solução de Ficoll-Hypaque
(Amersham Biosciences). Após centrifugação a 1.200rpm por 30 minutos a 24
o
C, o
halo linfocitário foi aspirado com o auxílio de uma pipeta Pasteur e transferido para
um tubo Falcon de 15mL. Foi realizada lavagem com 10mL de PBS 1X seguida de
centrifugação por 15 minutos a 2.000rpm e descarte do sobrenadante. O pellet de
linfócitos foi ressuspendido em 1,5mL ml de PBS 1X e transferido para tubo 1,5mL.
Repetiu-se então o processo de lavagem das células com PBS 1X. Após
29
centrifugação por 4 minutos a 13.000rpm e aspiração do sobrenadante, os pellets de
linfócitos foram estocados a–70
o
C.
A extração de DNA foi feita com a utilização do Wizard Genomic DNA
Purification Kit (Promega) de acordo com as instruções do fabricante e o DNA assim
obtido foi quantificado em espectrofotômetro GeneQuant Pro (Amershan-Pharmacia
Biotech) e estocado a-20
o
C. No caso das amostras provenientes de outros estados do
Brasil, o DNA foi extraído no centro de origem e enviado através de empresas
privadas de transporte. As amostras levaram um período máximo de sete dias entre o
envio e o seu recebimento e quando recebidas foram estocadas a–20
o
C.
3.3 IDENTIFICAÇÃO DAS MUTAÇÕES NO GENE TP53
As etapas de identificação das mutações e comparação com o banco de dados
de mutações em TP53 foram realizadas pela pesquisadora na Unidade de
Carcinogênese Molecular, Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer -
International Agency for Research on Cancer (IARC - WHO), Lyon, França, sob a
orientação do Dr. Pierre Hainaut, diretor do laboratório.
As amostras de DNA foram amplificadas por PCR e os éxons codificantes 2 a
11 do gene TP53 foram analisados. Os éxons foram amplificados a partir da
utilização de primers intrônicos específicos (Quadro 4), a partir de 100ng de DNA
genômico, na presença da enzima Taq Platinum DNA polymerase (Invitrogen). As
condições da reação de PCR foram: 1,5mM de MgCl
2
, 0,2mM de dNTPs; 1,2μM de
cada primer; 1,25U de Taq Platinum DNA polymerase (Invitrogen); 2,5μL de tampão
30
de reação para Taq Platinum 10X (concentração final 1X) e água em quantidade
suficiente para 25μL.
Para todos os éxons a reação de amplificação foi realizada utilizando-se a
estratégia touchdown, iniciada a partir de uma etapa de desnaturação inicial de 94
o
C
por 2 minutos, seguida por 21 ciclos de desnaturação a 94
o
C durante 45 segundos,
anelamento a 63
o
C por 45 segundos e extensão a 72
o
C por 1 minuto. Nesta etapa, a
temperatura de anelamento foi reduzida de 0,5
o
C a cada 3 ciclos. Após esses 21
ciclos, seguiram-se 30 ciclos adicionais de desnaturação a 94
o
C durante 45 segundos,
anelamento a 60
o
C por 45 segundos e uma etapa final de extensão a 72
o
C por 10
minutos.
Quadro 4 - Seqüência de primers utilizados nas reações de PCR para DHPLC e
seqüenciamento.
Primer direto Primer reverso Fragmento (pb)
Éxons 2-3
p558: 5’-ccaggtgacccagggttgga-3’ p228:5’-agcatcaaatcatccattgc-3’
428
Éxon 4
p326:5’-tgaggacctggtcctctgac-3’ p327:5’-agaggaatcccaaagttcca-3’
412
Éxon 5-6
P236:5’-tgttcacttgtgccctgact-3’ p256:5’-cggagggccactgacaacca-3’
488
Éxon 7
p333:5’-cttgccacaggtctccccaa-3’ p313:5’-aggggtcagcggcaagcaga-3’
237
Éxon 8-9
p314:5’-ttgggagtagatggagcct-3’ p315:5’-acttgataagaggtcccaag-3’
372
Éxon 10
p10li:5’-caattgtaacttgaaccatc-3’ p563:5’-ctttccaacctaggaaggca-3’
191
Éxon 11
p564:5’-atctctcctccctgcttctg-3’ pE11Ri:5’-aggctgtcagtggggaacaa-3’
145
Para o rastreamento de alterações na seqüência de DNA, os produtos de PCR
contendo as regiões codificantes compreendidas entre os éxons 4 e 9 foram
analisadas por cromatografia líquida de desnaturação de alta performance
(Denaturing High Performance Liquid Chromatography - DHPLC) como descrito
31
por ATEENYI-AGABA et al. (2004). Em cada análise de DHPLC foi usado como
controle o DNA de linhagens celulares tumorais (controles positivos da presença de
alterações) (Quadro 5) e o DNA de linfócitos de indivíduos sem câncer (controles
negativos).
Os fragmentos que apresentaram suspeita de alteração na análise por DHPLC
foram reamplificados e submetidos à nova reação de PCR e analisados por
seqüenciamento automático em ambas as direções, direta e reversa. A reação de
amplificação para o seqüenciamento foi realizada utilizando-se 5pmol de primer
direto ou reverso para cada éxon e o kit BigDye 1.1 (Applied Biosystems) conforme
especificações do fabricante. O kit utilizado baseia-se no uso da metodologia do
seqüenciamento com dideoxinucleotídeos marcados com fluorescência, acoplado a
PCR com apenas um primer. O produto desta reação foi analisado no aparelho de
seqüenciamento automático ABI Prism 3100 (Applied Biosystems).
Quadro 5 - Descrição de linhagens celulares com diferentes mutações no gene TP53
usadas como controles positivos no DHPLC.
Linhagem
celular
Origem Éxon mutado Códon Nucleotídeo
Troca de
aminoácido
Hs578T Câncer de mama 5 157 GTC-TTC ValPhe
T47D Câncer de mama 6 194 CTT-TTT LeuPhe
TE11 Câncer de esôfago 7 237 ATG-ATT MetIle
TE6 Câncer de esôfago 7 248 CGG-CAG ArgGln
TE1 Câncer de esôfago 8 272 GTG-ATG ValMet
MDA-MB-231 Câncer de mama 8 280 AGA-AAA ArgLys
A reação de sequenciamento iniciou-se com etapa de desnaturação inicial a
95
o
C por 1 minuto, seguida de 35 ciclos de desnaturação a 95
o
C por 18 segundos,
anelamento a uma temperatura de 58
o
C por 12 segundos e extensão a 60
o
C por 4
32
minutos. É realizada então a precipitação na qual se adiciona 40 μL de isopropanol
65% às amostras, sendo a mistura mantida por 15 minutos a temperatura ambiente,
sem o contato com a luz. Em seguida as amostras foram centrifugadas por 20
minutos a 13.000rpm e o sobrenadante foi descartado. Adicionou-se 190μL de etanol
70% as amostras, que foram novamente misturadas e centrifugadas por 20 minutos a
13.000 rpm. O sobrenadante foi descartado e as amostras foram secas em estufa a
50
o
C.
Os éxons 2, 3, 10 e 11 foram analisados por seqüenciamento direto, por não
estarem disponíveis controles positivos (com alterações nestas regiões) para a
comparação na análise por DHPLC. Todas as mutações encontradas foram
confirmadas por uma nova reação de seqüenciamento.
Todos os pacientes foram convocados para divulgação do resultado do teste
genético, mediante o aconselhamento genético pós-teste. Os pacientes nos quais foi
encontrada a mutação no gene TP53 foram estimulados a contactar seus familiares
considerados em risco para que estes pudessem ser também submetidos ao
rastreamento para a detecção da mutação. Todos os familiares que se mostraram
interessados foram submetidos ao teste genético, após a realização do
aconselhamento genético e a assinatura do consentimento informado. O teste
genético para detecção de mutações nos familiares foi realizado no Laboratório de
Genética do Câncer do Instituto Ludwig, São Paulo, sob orientação do Dr. André
Luiz Vettore.
3.4 ANÁLISE DE ALTERAÇÕES DETECTADAS POR PCR-RFLP
33
A técnica de PCR-RFLP (polymerase chain reaction - restriction fragment
length polymorphism reação), ou reação com cadeia da polimerase associado à
análise do polimorfismo de tamanho dos fragmentos de DNA obtidos por enzimas de
restrição, foi empregada na avaliação da freqüência da alteração R337H no éxon 10
do gene TP53 em 53 voluntários saudáveis. Um fragmento de 238 pb contendo o
códon 337 foi amplificado a partir de DNA genômico com primers específicos para a
região (Quadro 4 – éxon 10) e digerido com a enzima de restrição HhaI. (
Amersham
Biosciences
). A 5μL do DNA amplificado, foi adicionado 1μL da enzima HhaI
(20.000U/mL) (New England Biolabs), 2μL de tampão de reação 10X, 2µl BSA 10X
e água para o volume final de reação de 20μL. A reação foi incubada a 37
o
C por 4
horas. O produto da digestão foi aplicado em gel de agarose 3% contendo 20μL de
brometo de etídio (1mg/mL), submetido a eletroforese (120 volts, por 30minutos
aproximadamente) e visualizado sob luz UV.
34
4 RESULTADOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA DAS FAMÍLIAS SLF E LFL
AVALIADAS
Foram incluídas neste estudo 45 famílias brasileiras sem parentesco e
residentes há pelo menos três gerações no país. Todas as famílias preenchiam
critérios clínicos para a definição da SLF ou pelo menos um dos outros critérios
correspondentes à LFL descritas por BIRCH et al. (1994) e por EELES (1995).
Dentre as 45 famílias avaliadas, 11 (24,4%) apresentavam os critérios diagnósticos
clássicos da SLF e 34 (75,6%) apresentaram critérios diagnósticos da LFL. Das 34
famílias LFL, 14 preenchiam os critérios de LFL-Birch e 20 preenchiam somente os
critérios de LFL-Eeles, dentre as quais apenas um indivíduo isolado com múltiplos
tumores preenchendo critérios (Tabela 1).
A maioria dos indivíduos portadores de tumores incluídos neste estudo era do
sexo feminino, sendo que 66,7% dos probandos (n=30) e 56,7% dos familiares
(n=140) eram mulheres. Todos os probandos referiram ser filhos de pais brancos ou
pardos e quando questionados sobre a qual raça pertenciam, optaram pela branca. A
maior parte das famílias avaliadas era proveniente das regiões sudeste (n=31, 68,9%)
e sul (n=11, 24,4%) do país. Dentre as famílias avaliadas, duas (Y14 e Y15)
relataram consangüinidade (4,5%), sendo que nas duas famílias os pais eram primos
irmãos.
35
Tabela 1 - Perfil clínico das famílias brasileiras com diagnóstico clínico de SLF e
LFL.
Probandos Familiares
Pacientes (n=292) 45 (100%) 247 (100%)
Diagnóstico
SLF 11 (24,4%) 52 (21,1%)
LFL 34 (75,6%) 195 (78,9%)
Gênero
Mulheres 30 (66,7%) 140 (56,7%)
Homens 15 (33,3%) 107 (43,3%)
Raça
Branca 45 (100%) N/D
Outras 0 N/D
Consangüinidade 2 (4,5%) N/D
Gerações acometidas
4 9 (20%) N/A
3 19 (42,2%) N/A
2 15 (33,3%) N/A
1 2 (4,5%) N/A
Origem geográfica
Sudeste 31 (68,9%) N/A
Sul 11 (24,4%) N/A
Nordeste 1 (2,2%) N/A
Tumores (n=338) 89 (100%) 249 (100%)
Mulheres 49 (55,1%) 142 (57,0%)
Homens 40 (44,9%) 107 (43,0%)
Legenda: N/D: não disponível; N/A: não aplicável.
O total de 338 tumores foi referido em 292 indivíduos pertencentes às
famílias estudadas. Dentre estes tumores, 46,1% foram confirmados a partir de
laudos histopatológicos, relatórios médicos ou atestados de óbito. Os tumores
ocorreram predominantemente em mulheres, sendo um total de 191 tumores
malignos no sexo feminino (56,5%) (Tabela 1). Dentre as famílias avaliadas, nove
relataram tumores acometendo quatro gerações, 19 relatavam o acometimento de três
36
gerações, 15 relatavam o acometimento de duas gerações e duas famílias tiveram
apenas uma geração acometida. O número de familiares acometidos por neoplasias
malignas variou de um a 18 membros por família. Uma das famílias avaliadas tinha
apenas um membro afetado, sendo que este paciente havia desenvolvido múltiplos
tumores do espectro da síndrome e por si próprio preenchia os critérios LFL-E1.
Dentre os 338 tumores relatados, 99,7% eram tumores malignos (n=337).
Apenas um tumor benigno foi incluído, sendo este um caso de mola hidatiforme que
apresentava um laudo histopatológico com áreas suspeitas de malignização, ocorrido
em um dos probandos (Y1). O total de 338 tumores presentes nas 45 familias foi
subdividido em 24 grupos, de acordo com o tipo e/ou sistema acometido para melhor
compreensão do espectro tumoral apresentado, seguindo o agrupamento utilizado
pelo banco de dados do IARC (IARC TP53 Database R10). Os tumores referidos
pelos familiares como originários de sítio inespecífico, por não terem indicações
precisas da origem ou por terem sido denominados como tumores generalizados,
foram classificados em um grupo suplementar de origem indeterminada (Tabela 2).
O tumor mais freqüente nas famílias incluídas neste estudo foi o tumor de
mama (21,3%), acometendo principalmente mulheres em idade jovem, antes dos 45
anos (idade pré-menopausal) (n=44, 61,1 %). Apenas um caso de câncer de mama foi
relatado em um paciente do sexo masculino aos 75 anos (Y20). Verificou-se alta
incidência de sarcomas de partes moles (n=37, 10,9%), segundo tumor mais
freqüente nas famílias estudadas, ocorridos predominantemente antes dos 45 anos
(n=28, 75,6%). O terceiro grupo de tumores mais freqüentes foi o de tumores de
estômago (n=30, 8,9%), acometendo principalmente adultos acima dos 46 anos. A
maior parte dos tumores de sistema nervoso central, quarto tumor mais freqüente,
37
ocorreram na infância, antes dos 15 anos de idade (n=9, 36,4%), sendo verificado um
segundo pico de incidência no adulto, entre os 31 e 45 anos (n=6, 23,1%). Foram
verificados oito casos de tumores de adrenocortical nas famílias brasileiras, sendo
que cinco destes tumores foram diagnosticados predominantemente em idade jovem,
antes dos 15 anos de idade (n=5, 62,5%).
Tabela 2 - Perfil tumoral de pacientes com diagnóstico clínico da SLF e LFL.
Tumores n 0-15 anos 16-30 anos 31-45 anos Acima de 46
anos
Idade
indeterminada
Total 338 (100%) 31 (9,1%) 49 (14,5%) 81 (23,9%) 125(37,0%) 52 (15,4%)
Mama 72 (21,3%) 0 13 (18,0%) 31 (43,1%) 24 (33,3%) 4 (5,5%)
Sarcoma de partes moles 37 (10,9%) 8 (21,6%) 8 (21,6%) 12 (32,4%) 8 (21,6%) 1 (2,7%)
Estômago 30 (8,9%) 0 2 (6,7%) 4 (13,4%) 18 (60%) 6 (11,5%)
Sistema nervoso central 26 (7,7%) 9 (34,6%) 4 (13,3%) 6 (23,1%) 3 (11,6%) 4 (7,7%)
Colorretal 21 (6,2%) 0 5 (23,8%) 5 (23,8%) 8 (25,8%) 3 (5,8%)
Leucemia/ Linfoma 21 (6,2%) 4 (19,0%) 5 (23,8%) 3 (14,3) 5 (23,8%) 4 (7,7%)
Pulmão 15 (4,4%) 0 2 (13,3%) 2 (13,3%) 9 (60,0%) 2 (3,8%)
Próstata 12 (3,5%) 0 0 1 (8,3%) 8 (6,7%) 3 (5,8%)
Trato genital feminino 11 (3,2%) 0 0 3 (27,3%) 6 (54,5%) 2 (3,8%)
Pele não melanoma 10 (2,9%) 0 0 4 (40,0%) 4 (40,0%) 2 (3,8%)
Esôfago 9 (2,7%) 0 0 0 6 (66,7%) 3 (5,8%)
Sarcoma ósseo 9 (2,7%) 0 4 (44,4%) 2 (22,2%) 1 (11,1%) 2 (3,8%)
Cabeça e pescoço 9 (2,7%) 0 1(11,1%) 1(11,1%) 5 (55,5%) 2 (3,8%)
Adrenocortical 8 (2,4%) 5 (62,5%) 2 (25,0%) 1 (12,5%) 0 0
Melanoma 7 (2,1%) 1 (14,3%) 0 2 (28,6%) 4 (57,1%) 0
Fígado 7 (2,1%) 0 1(14,3%) 1(14,3%) 3 (42,9%) 2 (3,8%)
Pâncreas 6 (1,8%) 0 0 2 (33,3%) 3 (50,0%) 1 (1,9%)
Tireóide 6 (1,8%) 0 1 (16,7%) 0 5 (83,3%) 0
Renal 4 (1,2%) 2 (50,0%) 0 0 2 (50,0%) 0
Bexiga 3 (0,9%) 0 0 0 2 (66,6%) 11 (1,9%)
Papila duodenal 2 (0,6%) 0 0 1 (50,0%) 1 (50,0%) 0
Wilms´ 1(0,3%) 1 (100%) 0 0 0 0
Ósseo 1 (0,3%) 1 (100%) 0 0 0 0
Mola Hidatiforme 1 (0,3%) 0 1 (100%) 0 0 0
Indeterminado 10 (2,9%) N/A N/A N/A N/A 10 (19,2%)
Legenda: N/A: não aplicável.
A ocorrência de múltiplos tumores primários também foi verificada em
algumas famílias. A incidência de dois tumores primários em um único paciente foi
38
verificada em 15 indivíduos (6,1%). Três tumores primários ocorreram em cinco
indivíduos (2,0%) com a SLF ou LFL, quatro indivíduos apresentaram quatro
tumores primários (1,6%), um indivíduo apresentou cinco tumores primários (0,4%)
e foi verificada ainda a ocorrência de um indivíduo que apresentou oito tumores
primários (0,4%). A associação entre tumores mais freqüentes foi a de tumores de
mama e sarcomas de partes moles, ocorrida em quatro indivíduos do sexo feminino,
pertencentes a famílias distintas.
Todos os probandos foram submetidos a um exame físico buscando avaliar a
existência de possíveis alterações dismorfológicas. Dismorfias foram detectadas
apenas na probanda Y15, filha de um casal consangüíneo (primos irmãos). A
paciente apresentou sinais de maturação sexual precoce, sendo verificada pilificação
pubiana e axilar aos 20 meses. Aos seis anos, um tumor adrenocortical esquerdo foi
diagnosticado e tratado. Aos sete anos foi diagnosticado um carcinoma de córtex
renal esquerdo e tratado. Aos oito anos a paciente apresentou a menarca. Ao exame
físico realizado após a avaliação clínica deste estudo, quando a probanda apresentava
21 anos, foram detectadas algumas importantes dismorfias. Além das alterações
esperadas relacionadas ao quadro endocrinológico que envolve o tumor
adrenocortical, tais como baixa estatura, fascies Cushingóide e hirsutismo, outras
dismorfias que puderam ser verificadas foram: macrocefalia, ponte nasal deprimida e
braquidactilia com a presença de hipoplasia de quarto e quinto metacarpos (mão
esquerda) e de quinto metacarpo (mão direita). Nenhum outro membro da família foi
avaliado para a presença de dismorfias.
Todos os pacientes e suas famílias foram questionados quanto à exposição
ambiental a pesticidas, venenos ou radiação. Cinco famílias (Y1, Y6, Y12, Y15 e
39
Y31) referiram exposição prévia a pesticidas, sem proteção física, em um período
que variou de oito a 30 anos. Os probandos não souberam referir a dose empregada a
cada aplicação e nem quantas vezes se submeteram à exposição direta, porém todos
referiram ao menos uma vez a cada ano. Apenas dois probandos (Y12 e Y31)
souberam definir qual pesticidas utilizados, referindo o uso em quantidade grande,
porém indeterminada, de Aldrin®, um composto organo-clorado e de fosfanil-
metabisulfito, um composto organo-fosforado.
Uma das famílias (Y38) referiu exposição intensa a Diazinon (Neocid®),
sendo o produto aplicado semanalmente no colchão e roupa de cama de cada
indivíduo, durante aproximadamente os 12 anos iniciais de vida de três irmãos que
apresentaram tumores típicos da síndrome em idade jovem. A família Y27 refere ter
vivido a menos de 300 metros de uma usina de energia nuclear por 20 anos.
Os probandos foram questionados quanto a tabagismo, atual ou pregresso.
Dentre os 45 pacientes, 22 (48,9%) referiram exposição prévia a tabaco, em um
período que variou de seis meses a 35 anos, com um consumo diário de cinco a 40
cigarros ao dia, porém apenas quatro (8,9%) mantinham o hábito tabagista na última
avaliação realizada.
4.2 DETECÇÃO DE MUTAÇÕES GERMINATIVAS EM FAMÍLIAS
BRASILEIRAS COM O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA SLF E LFL
Mutações germinativas no gene TP53 foram encontradas em
13 (28,9%) das
45 famílias avaliadas (Tabela 3). Todas estas mutações eram transições de G para A,
sendo que 12 (91,7%) eram do tipo missense e em uma família foi verificada a
40
presença de uma alteração no sítio doador de splicing do íntron 6. Dentre as 12
mutações missense encontradas em famílias SLF e LFL, seis ocorreram no segundo
par de bases do códon 337, especificando uma substituição de uma arginina por uma
histidina (R337H), na região de oligomerização da proteína p53. A ocorrência de
uma mutação específica, R337H, foi detectada em taxas elevadas nas famílias
brasileiras com LFL, representando 46% (6/13) de todas as mutações detectadas e
5,1% de todas as mutações já descritas em famílias LFL.
Tabela 3 - Perfil de mutações das famílias brasileiras com mutações no gene TP53.
SLF/LFL Brasil SLF/LFL - IARC
N SLF LFL SLF LFL
Famílias
45 148 118
Diagnóstico clínico 45 (100%) 11 (24,4%) 34 (75,6%) N/D N/D
Gene TP53 mutado 13 (28,9%) 1/11 (9,1%) 12/34 (35,3%) 148 118
Mutações
13 268*
Missense 12 (92,3%) 1 (8,3%) 11(91,7%) 111 (41,4%) 94 (35,1%)
Sitio de splicing 1(7,8%) 0 1 (100%) 5 (1,9%) 0
Outras 0 0 0 FS:16; S:8;
O:7; S:1
FS:9; NS:13;
O:2; S:2
Mutações (Bases trocadas)
V173M (
GTG > ATG) 1 (7,7%) 0 1 0 0
V197M (
GTG >ATG) 1(7,7%) 1 0 0 1
R213Q (C
GA > CAA) 1(7,7%) 0 1 4 4
G244D (G
GC > GAC) 1(7,7%) 0 1 0 0
G245S (
GGC >AGC) 2 (15,4%) 0 2 7 4
R337H(C
GC > CAC) 6 (46,1%) 0 6 0 1
Íntron 6 (sítio de splicing) 1(7,7%) 0 1 0 0
Legenda: N/D: dado não disponível, NS: Nonsense (sem sentido), FS: Frameshift (alteração na janela
de leitura), S:Silenciosa, O: Outras. * Dados disponíveis para famílias com diagnóstico de SLF e LFL
incluídas no banco de dados, excluindo mutações germinativas detectadas em tumores esporádicos
(n= 15).
41
A mutação no códon 245 (G245S), que leva a substituição de uma glicina por
uma serina, foi detectada em duas famílias distintas e não relacionadas. Esta é uma
mutação somática e germinativa comum, sendo que sete famílias já foram descritas
como portadoras desta mutação germinativa (IARC TP53 Database R10). Quatro
outras famílias avaliadas apresentaram mutações distintas: no códon 173 (V173M),
causando a substituição de uma valina por uma metionina, nunca descrita; no códon
197 (V197M), causando a substituição de uma valina por uma metionina, também
nunca descrita; no códon 213 (R213Q), causando a substituição de uma arginina por
uma glutamina, descrita em uma família com a SLF proveniente do Reino Unido e
rara em tumores esporádicos e no códon 244 (G244D), causando a substituição de
uma glicina por uma molécula de ácido aspártico, não descrita anteriormente. Estas
quatro mutações ocorreram no domínio de ligação ao DNA.
As mutações missense são as mais freqüentes tanto no banco de dados do
IARC (76,5%) como neste estudo (92,3%), porém sete das 13 mutações (53,8%)
estão localizadas no domínio de ligação ao DNA, região onde 95% das mutações
descritas pelo banco de dados estão localizadas. As mutações em sítio de splicing
representaram 7,8% das mutações detectadas neste estudo, enquanto que foram
detectadas em 1,9% das famílias com SLF e LFL do banco de dados do IARC.
Nota-se a ocorrência neste estudo das mutações V173M, V197M e G244D
que até o presente não foram descritas no banco de dados do IARC. Amostras de
DNA genômico de 53 voluntários saudáveis provenientes do Serviço de Genética
Médica, Hospital de Clínicas - Porto Alegre foram submetidas ao rastreamento por
DHPLC para se avaliar a freqüência das alterações V173M, V197M e G244D na
população brasileira. Este grupo controle foi escolhido por esta amostra ser
42
considerada semelhante à composta pelas famílias incluídas neste estudo, que eram
provenientes principalmente das regiões sul e sudeste, e por estar diponível para ser
implicado em pesquisas científicas. Nenhum caso dentre os controles apresentou o
perfil sugestivo das alterações V173M, V197M e G244D. Frente ao fato de ensaios
de transativação em levedura demonstrarem que estas alteraçõs proporcionam a
perda de função da p53 (KATO et al. 2003), as alterações G244D, V173M e V197M
foram consideradas mutações novas.
A detecção das mutações no gene TP53 ocorreu predominantemente em
famílias com o diagnóstico clínico de LFL. Foi detectada a presença de mutações no
gene TP53 em 12 das 34 famílias (35,3%) com critérios clínicos para LFL. As
famílias LFL que preenchiam os critérios de Birch (LFL-B) apresentaram a maior
taxa de detecção de mutações (41,8%) dentre a amostra avaliada. Aquelas que
preenchiam apenas os critérios de Eeles apresentaram uma taxa de detecção de
mutação de 31,8%. Das onze famílias que apresentavam os critérios clínicos para a
SLF clássica, apenas uma (9%) teve a presença de mutação no gene TP53 detectada.
No banco de dados do IARC verifica-se uma maioria de famílias com diagnóstico
clínico de SLF com a detecção de mutação (n=148) se comparado às famílias
incluídas com LFL e detecção da mutação (n=118).
4.3 PERFIL TUMORAL EM FAMÍLIAS BRASILEIRAS COM
MUTAÇÕES GERMINATIVAS E DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA SLF
E LFL
43
O espectro tumoral apresentado pelas famílias deste estudo com detecção da
mutação foi bastante amplo, incluindo a maior parte dos tumores relacionados às
SLF e LFL (Tabela 4). Foram relatados 119 tumores ocorridos nas 13 famílias que
tiveram a mutação no gene TP53 detectada, sendo possível a obtenção de
confirmações histopatológicas ou relatórios médicos de 64 tumores (53,8%).
O tumor que ocorreu em um maior número de famílias com a detecção da
mutação foi o tumor de mama, acometendo mulheres em 12 das 13 famílias afetadas,
não sendo detectado na família Y15 (Tabela 4). Em uma das famílias com mutação
detectada (Y12), verificaram-se dois casos de tumores de tireóide. Dois outros
probandos (Y1 e Y58) apresentaram carcinoma de papila duodenal, tumor nunca
antes descrito como parte do espectro da síndrome.
Os casos de carcinoma de papila duodenal ocorreram em duas famílias não
relacionadas entre si com o diagnóstico clínico de LFL. Na família (Y1) a probanda
também apresentou mola hidatiforme invasiva e dentre os familiares ocorreu um caso
de tumor de adrenocortical aos 11 anos, um caso de tumor de sistema nervoso central
aos 31 anos, um caso de câncer de mama aos 62 anos, dois casos de tumores
colorretais aos 38 e 39 anos, cinco casos de tumores de pulmão, todos acima dos 45
anos de idade e um caso de tumor de estômago aos 22 anos (Tabela 4). Na família
Y58 foram também descritos três casos de tumor de sistema nervoso central, sendo
dois antes dos 18 anos de idade; cinco casos de tumor de mama, três deles em idade
pré-menopausal (antes dos 45 anos de idade); além de um caso de tumor colorretal
aos 22 anos, um caso de tumor de próstata, um caso de tumor de esôfago e um caso
de sarcoma ósseo (Tabela 4).
44
Tabela 4 - Espectro tumoral de 13 famílias brasileiras com mutações no gene TP53.
Família Éxon Codon Tumores em probando
(Gênero-Idade de
acometimento, anos)
a
Tumores em familiares
(Genero-Idade de acometimento, anos)
a b
Classificação
Clinica
c
Y33 5 173 SPM (F-23*), Mama
(F-43*)
ADR (M-29), SNC (M-9), Mama (F-60), Fígado
(M-53), Estômago (F-N/D), Leucemia (M-N/D)
SLF
Y58 Íntron
6
Sítio
doador
Papila duodenal (F-
60*)
SNC (M-18, M-15, M-N/D
d
), Mama (F-55, F-35,
F-45, F-33, F-49), Próstata (M-57), Esôfago (M-
50), SO (M-N/D), CCR (F-22)
LFL-B
Y65 6 197 CCR (F-45*) ADR (F-18), Mama (F-54), CCR (F-24), C/P (M-
60)
LFL-B
Y1 6 213 Mola Hidatiforme (F-
23*), Papila duodenal
(F-41*)
ADR (F-11), SNC (M-31), Mama (F-62), CCR
(M-38, M-39), Fígado (M-28), Pulmão (F-60, M-
50, M-45, M-50, F-52), Estômago (M-22)
LFL-B
Y57 7 244 Mama (F-40*), CCR
(F-N/D*)
Ósseo (F-21), Mama (F-30), TGF (F-34), SPM
(F-21), C/P (M-59)
LFL-E1
Y53 7 245 Mama (F-36*) SNC (M-9), Mama (F-33), CCR (M-18), Esôfago
(M-50), Leucemia (M-45), Estômago (M-56), C/P
(M-50)
LFL-E1
Y59 7 245 Mama (F-26*) SPM (F-3, F- 4), Mama (F-27, F-27), SNC (M-
40), Fígado (F-36)
LFL-B
Y12 10 337 SPM (F-57*), Tireóide
(F-58*), Mama (F-
61*), Pulmão (F-62*)
ADR (F-1, F-13, F-36
), Mama (
F-35, F-35, F-
40, F-45, F-52, F-60, F-60
), Melanoma (F-80),
Estômago (M-61, F-62), Tireóide (F-25*)
LFL-B
Y15 10 337 ADR (F-7*), Renal
(F-8*)
ADR (F-3), SNC (M-3, M-5, M-50), Renal (M-
2), SPM (M-2)
LFL-B
Y27 10 337 Mama (F-36*) Mama (F-37, F-64), Estômago (M-59, M-69),
SPM (F-59), N/D (F-N/D)
LFL-B
Y35 10 337 SPM (F-50*), Pele (F-
58*)
SNC (M-39), Mama (F-41), SPM (F-38), TGF (F-
83)
LFL-E2
Y49 10 337 Renal (M-64*) Renal (F-9), Mama (F-44*, F-36), Pulmão (M-
72), Próstata (M-72, M-N/D, M-N/D), Pâncreas
(F-58), TGF (F-62), Estômago (M-60)
LFL-E1
Y60
10 337 SPM (F-44*) Mama (F-24, F-31, F-53), Esôfago (M-59), SNC
(M-2, M-N/D)
LFL-B
Legenda: (a): ADR: carcinoma adrenocortical; C/P:cabeça e pescoço; CCR: câncer
colorretal; SNC: sistema nervoso central; SO: sarcoma ósseo; SPM: sarcoma de partes moles; TGF:
Trato genital feminino; M: masculino; F: feminino. (b): Mais de um tumor pode ocorrer em um
paciente; (c): Critérios diagnósticos Clássico, de Birch e de Eeles da Síndrome de Li-Fraumeni; (d):
N/D: dado não disponível; (negrito): tumores confirmados por laudos histopatológicos ou relatório
médico; (*): tumores em indivíduos testados positivos para a mutação em TP53
45
O perfil de tumores das famílias brasileiras com mutações no gene TP53
comparado ao perfil de tumores em outras famílias com a mutação no gene TP53
depositadas no IARC é apresentado na figura 2. O tumor mais freqüente entre as
famílias acometidas pela mutação no gene TP53 foi o de mama em idade jovem
(27,7%) (Figura 2). Tanto neste estudo como no banco de dados do IARC, o segundo
tipo de tumor maligno mais freqüente foi o dos tumores de sistema nervoso central
(10,9% e 15,1% respectivamente). O mesmo se verificou quanto ao terceiro tipo de
tumor mais freqüente, constituído por sarcomas de partes moles, representado por
8,4% neste estudo e em 14,6% de acordo com os dados do IARC. Foi verificado um
aumento na presença de tumores adrenocorticais, representados por 6,7% neste
estudo e por 3,9% dos tumores do banco de dados do IARC. O aumento também foi
verificado nos tumores gástricos, presentes em 6,7% dos casos neste estudo e em
3,1% dos tumores do banco de dados. Tumores colorretais, ocorridos em 5,9% dos
casos neste estudo, foram verificados em 2,9% dos casos do IARC. Tumores de
pulmão e tumores do trato genital feminino estavam presentes em menor freqüencia
em ambos os grupos. A baixa freqüência de sarcomas ósseos (0,8%) e de tumores do
grupo das leucemias e linfomas (1,7%) diferiu dos dados do IARC (11,4% e 5,1%
respectivamente).
Todas as famílias avaliadas que apresentaram casos de tumores
adrenocorticais tiveram a mutação detectada. O mesmo ocorreu nas famílias que
apresentaram tumores renais (quatro casos), tumores de papila duodenal (dois casos)
e mola hidatiforme (um caso). Nenhuma das famílias nas quais houve a detecção de
mutação apresentou tumor de bexiga ou tumor de Wilms´, tumores estes presentes no
grupo sem detecção de mutações.
46
Mutações TP53
(IARC TP53 Database; N=1171)
Mutações TP53
(este estudo; N=119)
27,7%
26.6%
Mama
10,9%
15.1%
SNC
8,4%
14.6%
SPM
0,8%
5.1%
SO
11.4%
Leucemia/
Linfoma
1,7%
5,9%
4.3%
Pulmão
6,7%
3.9%
AD
R
3.6%
TGF
2,5%
6,7%
3.1%
Estômago
CC
R
5,9%
2.9%
21,9%
Outros
9.3%
0
25 20 15 10 5 5 1015202530
Legenda: (a): ADR: carcinoma adrenocortical; CCR: câncer colorretal; SNC: sistema nervoso central;
SO: sarcoma ósseo; SPM: sarcoma de partes moles; TGF: Trato genital feminino.
Figura 2 - Perfil de tumores das famílias brasileiras com mutações no gene TP53
comparado ao perfil de tumores em outras famílias com a mutação no gene TP53
depositadas no banco de dados do IARC.
A idade de acometimento dos diferentes tumores referidos pelas famílias
deste estudo foi predominantemente em idade jovem, com exceção dos tumores de
estômago, tumores colorretais e pulmão (Tabela 5). A idade de acometimento dos
tumores de mama e sarcomas de partes moles em famílias nas quais foi possível a
detecção da mutação foi semelhante àquelas sem a detecção da mutação. O mesmo
foi verificado nos tumores de estômago, tumores de cabeça e pescoço e tumores do
trato genital feminino.
47
Tabela 5 - Idade de acometimento de tumores em de pacientes com diagnóstico
clínico da SLF e LFL.
Total Idade média (anos)
Tumores 338 (100%) Mutação presente Mutação não detectada
Mama 72 (21,3%)d 43,5 44,9
Sarcoma de partes moles 37 (10,9%)a 30,1 31,8
Estômago 30 (8,9%)e 55,6 51,6
Sistema nervoso central 26 (7,7%)d 19 32
Colorretal 21 (6,2%)c 32,4 51,6
Leucemia/ Linfoma 21 (6,2%)c 45 33,2
Pulmão 15 (4,4%)b 55,9 46,6
Próstata 12 (3,5%)c 64,5 72
Trato genital feminino 11 (3,2%)b 59,7 54,2
Pele não melanoma 10 (2,9%)b 58 48,7
Esôfago 9 (2,7%)c 53 68,3
Sarcoma ósseo 9 (2,7%)b N/A 17,3
Cabeça e pescoço 9 (2,7%)b 54,5 48,8
Adrenocortical 8 (2,4%) 14,7 N/A
Melanoma 7 (2,1%) 80 47
Fígado 7 (2,1%)b 39 60,5
Pâncreas 6 (1,8%)a 58 47,5
Tireóide 6 (1,8%) 41,5 58
Renal 4 (1,2%) 20,7 N/A
Bexiga 3 (0,9%)a N/A 54
Papila duodenal 2 (0,6%) 49,5 N/A
Wilms´ 1(0,3%) N/A 1
Ósseo 1 (0,3%) 21 N/A
Mola Hidatiforme 1 (0,3%) 23 N/A
Legenda: (a) 1 tumor idade indefinida, (b) 2 tumores idade indefinida,(c) 3 tumores idade indefinida;
(d) 4 tumores idade indefinida; (e) 5 tumores idade indefinida; N/A: não aplicável.
Alguns tumores foram mais precoces em indivíduos pertencentes a famílias
com a detecção da mutação. Os tumores de sistema nervoso central ocorreram em
idade mais precoce nas famílias que tiveram a mutação detectada (19 anos) se
comparado às famílias sem mutação detectada (32 anos) (Tabela 5). O mesmo pode
48
ser verificado nos pacientes com tumores colorretais, que apresentaram idade média
de acometimento de 32,4 anos nas famílias com a mutação e 51,6 anos naquelas que
não tiveram a mutação detectada. Tumores de próstata, tumores de esôfago, tumores
de fígado, tumores de pulmão e tumores de tireóide também ocorreram mais
precocemente nas famílias com a detecção da mutação. O mesmo não foi verificado
em outros tipos tumorais. Pacientes com leucemias, tumores de pele, melanoma,
tumores de cabeça e pescoço e tumores de pâncreas foram acometidos mais
tardiamente quando pertencentes a famílias com a detecção da mutação.
A Figura 3 apresenta a comparação entre o espectro tumoral apresentado
pelas seis famílias com a mutação R337H detectada e os tumores apresentados pelas
famílias incluídas no banco de dados do IARC (IARC TP53 Database R10).
Foram descritos 57 tumores nas seis famílias brasileiras R337H, sendo que o
tumor mais prevalente foi o câncer de mama (29,8%), semelhante ao encontrado no
banco de dados do IARC (26,6%). A segunda maior prevalência de tumores foi
representada por tumores do sistema nervoso central (10,6%) e sarcoma de partes
moles (10,6%), dados também compatíveis com os dados do IARC (15,1% e 14,6%
respectivamente). Verificou-se alta prevalência de tumores adrenocorticais (8,8%)
nestas famílias, quarto tipo de tumor mais prevalente, sendo a sua freqüência 2,3
vezes maior nas famílias brasileiras portadoras da mutação R337H do que nas outras
famílias descritas no IARC (3,9%). Dentre os oito tumores adrenocorticais ocorridos
nas famílias R337H, sete ocorreram em mulheres, sendo que cinco deles antes dos 15
anos.
49
Mutações TP53
(IARC TP53 Database; N=1171)
Mutações R337H
(neste estudo; N=57)
30
25 20
15
10 5
O,4% 7,0%
17,4%
29,8%
10,6%
8,8%
3,5%
10,6%
3.6%
3.1%
8,8%
3,5%
3.9%
4.3%
5.1%
11.4%
14.6%
15.1%
26.6%
9.3%
510
15
20 25 30
0
Mama
SNC
SPM
SO
Leucemia/
Linfoma
Pulmão
AD
R
TGF
Estômago
CC
R
Outros
Legenda: ADR: carcinoma adrenocortical; C/P:cabeça e pescoço; CCR: câncer colorretal; SNC:
sistema nervoso central; SO: sarcoma ósseo; SPM: sarcoma de partes moles; TGF: Trato genital
feminino; M: masculino; F: feminino.
Figura 3 - Perfil de tumores das famílias brasileiras com mutações R337H no gene
TP53 comparado ao perfil de tumores em outras famílias com a mutação no gene
TP53 depositadas no banco de dados do IARC.
Os sarcomas ósseos, tumores típicos da síndrome e presentes em 11,4% dos
portadores de mutações do banco de dados do IARC, não foram verificados na
população brasileira com a mutação R337H. O mesmo foi verificado em casos de
leucemia, presentes em 5,5% no banco de dados do IARC e ausente na população
brasileira R337H. As famílias R337H apresentaram ainda tumores pouco freqüentes
na SLF, incluindo três casos de adenocarcinoma de células claras renais e dois casos
de tumores papilíferos de tireóide (Figura 3). Os tumores ocorreram
predominantemente em idade jovem, com distribuição entre homens e mulheres de
modo semelhante ao relatado na literatura.
50
4.4 PERFIL TUMORAL EM FAMÍLIAS BRASILEIRAS SEM A
DETECÇÃO DE MUTAÇÕES GERMINATIVAS E COM
DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA SLF E LFL
Em 32 famílias que preencheram pelo menos um dos critérios clínicos para
SLF e LFL não foi detectada a mutação no gene TP53 (Tabela 6). O perfil tumoral
destas famílias era constituído predominantemente de tumores relacionados à
síndrome e as idades de acometimento dos tumores eram precoces.
Frente ao amplo espectro tumoral verificado nas SLF e LFL, algumas
famílias acometidas por múltiplos tumores puderam ser classificadas a partir de
critérios caracter[isticos de mais de uma síndrome genética ligada ao câncer. Na
família Y36, na qual a mutação no gene TP53 não foi detectada, foram relatados
quatro casos de câncer colorretal sendo dois deles em idade jovem. A presença de
outros tumores em idade jovem foi verificada, sendo dois casos de tumor de mama,
um caso de linfoma e um tumor do trato genital feminino acometendo quatro
gerações consecutivas. Deste modo, esta família preencheu os critérios de Eeles 1 e
ao mesmo tempo poderia ser classificada como Síndrome do Câncer Colorretal não
Polipose (HNPCC) a partir dos critérios de Amsterdam II.
51
Tabela 6 - Espectro tumoral de 32 famílias brasileiras com diagnóstico clinico da
SLF e LFL sem detecção da mutação no gene TP53.
Família Tumores no probando
(Gênero-Idade de acometimento,
anos)
a
Tumores nos familiares
(Genero-Idade de acometimento,
anos)
a
Classificação
Clinica
b
Y2 SPM (F-42*) Leucemia (F-26, M-62), Estômago
(M-49)
LFL-B
Y3 Mama (F-44*) SNC (M-34), Mama (F-36, 43),
Bexiga (M-48)
LFL-E1
Y6 SO (F-15*), Mama (F-32*) LFL-E1
Y7 SPM (F-37*), Mama (F-40*) Mama (F-35), N/D (F-70) SLF
Y8 SNC (M-25*) SNC (M-28), Estômago (F-54, F-
N/D), N/D (M-N/D)
LFL-B
Y9 SPM (F-18*), Mama (F-46*) SPM (F-46), TGF (F-66), Pulmão
(M-55, F-66), Estômago (M-47, M-
50, F-65)
SLF
Y10 SPM (F-55*) CCR (F-50), Estômago (F- 38)
Pulmão (M-25, M-35) Mama (F-36)
LFL-E1
Y11 Tireóide (F-73*), Melanoma (F-75) Pele (M-72), Mama (F-42, F-53),
Melanoma (M-9), Pâncreas (F-63)
CCR(M-60)
LFL-E1
Y14 SPM (M-35*), Linfoma (M-55*),
Próstata (M-63*)
CCR (M-38), Mama (F-29) SLF
Y17 Mama (F-43, 46*) Mama (F-63), Linfoma (M-26),
Pele (F-N/D), Pulmão (F-N/D), SO
(F-63), C/P (F- N/D), TGF (F-
N/D), Próstata (M-43)
LFL-E1
Y20 Renal (M-1*), SPM (M-5, 11,16,
17*), SNC (M-15*), SO (M-18*)
Mama (F-60, M-75), Leucemia (F-
62, F-N/D)
SLF
Y21 SPM (M-39, 40, 41, 44, 45 *) Bexiga (M-60), Linfoma (M-20, F-
69), Melanoma (F- 40), Próstata
(M-78), Estômago (F- 63, F-64),
N/D (M-40, M-70)
SLF
Y22 SPM (F-14*) Estômago (M-21, M-45, M- N/D),
N/D (F- N/D)
SLF
52
Cont/Tabela 6
Y23 SNC (M-1*) Leucemia (M-34), Mama (F-66),
Esôfago (M-68, F-80), Tireóide (F-
47)*
LFL-B
Y24 Linfoma (F-73*), Mama (F-79*),
Pele (F-81*)
SNC (F-30), C/P (F- 45), Fígado (F-
57), TGF (F-32, F-78)
LFL-E1
Y29 SO (F-19*), SPM (F-23*), C/P (F-
24*), Mama (F-26, 26*)
Linfoma (M-N/D),C/P (F- 63),
Pâncreas (M-52), Mama (F-N/D)
SLF
Y30 Linfoma (F-25*) SPM (F-41), Mama (F-50), Próstata
(M-80), Pele (F- N/D), Pâncreas (F-
N/D)
LFL-E1
Y31 SNC (M-34, 34*) SPM (M-15), Linfoma (F-8) LFL-B
Y32 SPM (F-56*) CCR (F-28), Tireóide (F-58), Pele
(F-51, M-N/D), SNC (M-70, M-78),
SPM (F-56)
LFL-E2
Y36 Mama (F-44*) CCR (M-29, M-48, M-72, F-84),
Linfoma (F-23), Mama (F-44), TGF
(F-63)
LFL-E1
Y38 SPM (M-39*) Pâncreas (F-42)*, Melanoma (F-
35)*, Estômago (M-N/D), Fígado
(M-N/D M-N/D), Bexiga (F-N/D)
SLF
Y41 SO (F-8*), Mama (F-28*) Mama (F-40), Esôfago (F-N/D) SLF
Y42 Melanoma (M-51*), Pulmão (M-
52*), SPM (M-52*)
CCR (F-77, F-N/D), SPM (M-81),
Melanoma (M-72), Fígado (M-64),
Mama (F-N/D)
LFL-E2
Y43 SPM (M-22*) Leucemia (F-1), CCR (F-48),
Estômago (F-60, M-N/D)
LFL-E1
Y44 Pâncreas (M-33*) SO (M-16), Leucemia (F-32),
Estômago (M-56, M-67), Mama (F-
38, F-53,F-98), Tireóide (F-54),
Esôfago (M-57)
LFL-E1
Y46 SPM (M-25*), Pele (M-35*) Estômago (F-70), CCR (F-54),
Mama (F-40, F-40), Próstata (M-
72)
LFL-B
53
Cont/ Tabela 6
Y47 Linfoma (M-11*), SPM (M-18*),
Estômago (M-36*), Pele (M-33,
34*)
Mama (F-62) LFS
Y51 Mama (F-53*) SNC (M-3), TGF (F-52, F-N/D),
Mama (F-68), CCR (F-N/D),
Próstata (M-N/D), Estômago (M-
N/D), Esôfago (M- N/D, M-N/D)
N/D (F-N/D)
LFL-E1
Y52 Mama (F-48*) Mama (F-36), Leucemia (F-6),
Próstata (F-62)
LFL-E1
Y54 Mama (F-41*), TGF (F-44*) SNC (M-8), Estômago (F-38, M-
50), C/P (M-53, M-59)
LFL-E1
Y55 Mama (F-47*) Mama (F-27), Mama (F-29), SO (F-
N/D), SNC (M-N/D)
LFL-E1
Y56 Linfoma (M-24*), SO (M-24*) CCR (M-31) LFL-B
Legenda: (a): ADR: carcinoma adrenocortical; C/P:cabeça e pescoço; CCR: câncer colorretal; SNC:
sistema nervoso central; SO: sarcoma ósseo; SPM: sarcoma de partes moles; TGF: Trato genital
feminino. M: masculino; F: feminino. Mais de um tumor pode ocorrer em um paciente; (b): Critério
diagnóstico clássico, de Birch e de Eeles da Síndrome de Li-Fraumeni; (*): tumores em indivíduos
testados positivos para a mutação em TP53; (negrito): tumores confirmados por laudos
histopatológicos ou relatório médico; N/D: dado não disponível
A família Y3 foi encaminhada ao departamento de Oncogenética com o
diagnóstico de Síndrome do Câncer de Mama e Ovário Hereditário. Nesta família
haviam ocorrido três casos de adenocarcinomas ductais invasivos de mama em idade
jovem. A probanda apresentou câncer de mama aos 44 anos, sua irmã aos 35 anos e
uma tia paterna aos 43 anos. Além disso, foram relatados outros tumores, sendo um
irmão com câncer de bexiga aos 48 anos e um tio paterno com tumor de sistema
nervoso central aos 34 anos. Mediante o perfil tumoral apresentado, mesmo sem a
confirmação molecular, a família recebeu a hipótese diagnóstica de LFL de acordo
com os critérios de Eeles 1.
54
A família Y58, na qual a mutação no gene TP53 foi detectada, apresentou um
espectro muito amplo de tumores típicos da SLF e LFL, sendo 13 indivíduos
acometidos na mesma família em três gerações consecutivas. A presença de duas
irmãs com câncer de mama aos 35 e 45 anos, além da mãe com câncer de mama aos
55 anos, da tia materna aos 49 anos e da prima materna aos 33 anos, sugere o
diagnóstico da Síndrome de Mama e Ovário Hereditário. Desta forma, o diagnóstico
diferencial deve ser realizado em todos pacientes com as SLF e LFL nas quais não
foram encontradas mutações no gene TP53, visando a busca de alterações em outros
genes que possam estar envolvidos na etiologia dos tumores apresentados. No
entanto, apesar da mutação não ter sido detectada, o diagnóstico clínico da síndrome
permanece.
4.5 AVALIAÇÃO DOS POLIMORFISMOS ENCONTRADOS NO
GENE TP53
A freqüência da alteração no códon 10 (R337H) no DNA genômico de 53
voluntários saudáveis provenientes do Serviço de Genética Médica, Hospital de
Clínicas - Porto Alegre foi avaliada através de experimentos de PCR-RFLP.
A presença da troca de G para A no segundo par de bases do códon 337
impede o reconhecimento da seqüência GCGC pela enzima de restrição HhaI e,
conseqüentemente, não ocorre a digestão do DNA. Após a amplificação do DNA
com primers específicos para o éxon 10 e digestão com esta enzima de restrição, a
presença de dois fragmentos de DNA (92 e 146 pb), resultantes da ação da enzima de
restrição, indica que nenhum dos alelos possui a alteração. Por outro lado, a presença
55
de um terceiro fragmento (238 pb) demonstra que um dos alelos possui a alteração, o
que impediu que a digestão enzimática ocorresse.
Dentre as 53 amostras controle, referentes aos voluntários saudáveis testados,
nenhuma apresentou a alteração R337H (Figura 4). Esta alteração foi encontrada em
seis das 45 famílias que apresentavam o fenótipo da SLF e LFL neste estudo e já
havia sido descrita como mutação germinativa no banco de dados do IARC, podendo
ser classificada como uma mutação patogênica.
Y15 Y2 Y27 Y12 Y24 Y60 NO C1 Y27 C2 C3 C4 C5
238 pb
146 pb
92 pb
238 pb
146 pb
92 pb
B
A
Legenda: A: Y15, Y12, Y27, Y60: DNA genômico de probandos portadores da mutação R337H no
gene TP53; Y2, Y24: probandos sem a mutação germinativa no gene TP5; B: NO: controle sem DNA;
C1, C2, C3, C4, C5: DNA genômico de voluntários saudáveis da provenientes do Serviço de Genética
Médica, Hospital de Clínicas - Porto Alegre; Pb: pares de base.
Figura 4 - Digestão enzimática do códon 337 do éxon 10 do gene TP53 pela técnica
de RFLP.
Foram identificados polimorfismos no gene TP53 nas famílias brasileiras com
diagnóstico clínico de SLF e LFL incluídas neste estudo (Tabela 7). O polimorfismo
11827, no íntron 2, foi verificado em 20 famílias dentre as 45 estudadas. Esta
alteração já havia sido descrita previamente como um polimorfismo e faz parte do
banco de dados de polimorfismos encontrados no gene TP53. No íntron 3, na posição
11951, foi verificada a presença de uma inserção de 16 pares de base, presente em 13
das 45 famílias estudadas. Esta alteração também já havia sido descrita previamente.
56
Tabela 7 - Freqüência de polimorfismos no gene TP53 na população brasileira.
Éxon/
Íntron
Nucleotídeo Tipo Descrição Neste
estudo
Controles
saudáveis
Referências
Códon
(%)
Íntron 2 /
Silenciosa
e
ANSEN 1994
- 11827 Ponto C>G 20/45
(44,4)
- PLEASANTS
H
Íntron 3 - 11951 Inserção 16
base
+16 pb - LAZAR et al. 1993;
al. 1996
Éxon 4 72 12139 C>G - 86;
94;
Íntron 6 - 13964 Ponto/
sa
G >C 4/45 6
MALISZEWSKA et al.
pares de
Ponto/
13/45
(28,9)
23/45
SJALANDER et
HARRIS et al. 19
Silenciosa (51,1) BECKMAN et al. 19
THOMAS et al. 1999
Íntron 5 - 13311 Ponto/
Silenciosa
T>G 1/45
(2,2)
3 Nunca descrito
HILLEBRANDT et al.
Silencio (8,9) 1997; FISZER-
2003
Legenda: +16pb: inserção de 16 es.
esta amostra foi o localizado no éxon 4, no
códon 72, encontrado em 51,1% das famílias brasileiras avaliadas, sendo este o
polimo
pares de bas
O polimorfismo mais prevalente n
rfismo no gene TP53 mais freqüentemente descrito na literatura. A alteração
13964, localizada no íntron 6, foi verificada em 4 das 45 famílias avaliadas, e já
havia sido descrita previamente na literatura. A presença da alteração no nucleotídeo
13311 do íntron 5 nunca havia sido descrita em famílias SLF e LFL. Por isso a sua
freqüência foi avaliada nos 53 controles da população de Porto Alegre através de
seqüenciamento direto desta região. Esta avaliação demonstrou a presença da
alteração em três amostras (5,6%), podendo esta alteração ser considerada como um
polimorfismo.
57
4.6 ACONSELHAMENTO GENÉTICO E ACOMPANHAMENTO
Todos os pacientes selecionados foram submetidos ao aconselhamento
genético e assinaram o consentimento informado após receberem informações sobre
a SLF
da análise das
mutaçõ
do cada paciente atendido de forma individualizada e sem a presença de
acomp
(Anexo 5). O quadro clínico, história familial e o heredograma de todos os
pacientes foram registrados na ficha de avaliação clínica (Anexo 4).
Os resultados dos testes genéticos foram comunicados aos pacientes a partir
de laudos redigidos de forma a incluir os resultados provenientes
es, além de informações referentes ao teste genético (Anexo 8). Informações
publicadas na literatura científica sobre relatos anteriores das alterações encontradas
em cada probando também foram incluídas nos laudos. Todas as informações foram
apresentadas ao paciente de forma concisa e clara para que um médico clínico geral
pudesse compreender seu significado e buscar as informações se necessário. Foi
verificado o desconhecimento das características clínicas da síndrome por parte de
alguns médicos que já acompanhavam os probandos deste estudo demonstrando a
falta de informação sobre o assunto e por isso, possivelmente o subdiagnóstico da
síndrome.
Os resultados foram divulgados de forma confidencial durante uma consulta
clínica, sen
anhante. As famílias provenientes de colaborações com os serviços de
Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da Divisão de Genética
Médica do
INCA receberam resultados do teste molecular nos institutos de origem.
No momento da entrega, as características clínicas da doença, assim como os
conceitos de risco, penetrância e rastreamento foram relembrados visando uma
58
melhor compreensão do significado do resultado do teste molecular e das suas
implicações no seguimento clínico do indivíduo. O impacto psicológico da
comunicação da síndrome genética foi intenso, sendo experimentadas diversas
formas de reação por parte do paciente. Muitos referiram alívio, por terem
encontrado a razão pela qual a família vinha sendo acometida pela alta freqüencia de
tumores malignos.
Após receberem o resultado, os pacientes foram avaliados por uma psicóloga
com treinamento em acompanhamento de pacientes oncológicos, que oferecia apoio
especializado ao paciente. Os pacientes foram questionados quanto à compreensão
do diagnóstico, o impacto causado pelo resultado do diagnóstico molecular e
perspectivas futuras. A intenção desta consulta foi a de fornecer o apoio psicológico
necessário visando proporcionar amparo e redução da sobrecarga (burden), para que
os familiares pudessem tomar decisões mediante a situação de stress que representa a
comunicação do diagnóstico de uma doença genética a na família. A maior parte das
pacientes optou pela comunicação do resultado do teste genético aos familiares em
risco. Ao longo da realização deste estudo, foi oferecido acompanhamento clínico
semestral a todos os pacientes e seus familiares. Este acompanhamento era composto
por uma consulta com o geneticista responsável além da avaliação pelos especialistas
que pudessem estar envolvidos no seguimento das lesões encontradas no
rastreamento. Através das consultas foi possível atualizar o quadro clínico das
famílias, sendo incluídos nesta análise tumores que surgiram ao longo do período
deste estudo.
59
4.7 DETECÇÃO DE MUTAÇÃO EM FAMILIARES
O teste molecular para a detecção de mutações no gene TP53 foi oferecido a
todos
miliares provenientes de 3 famílias foram testados. Na
família
SINTOMÁTICOS E ASSINTOMÁTICOS
os familiares pertencentes às 13 famílias nas quais mutações foram
encontradas. Em uma primeira consulta com os membros da família, foram
fornecidas informações sobre a síndrome, risco de desenvolvimento de tumores e
conceitos como herança e penetrância. Todos foram informados sobre a importância
do acompanhamento clínico de possíveis portadores, mesmo se assintomáticos. As
consultas familiares foram seguidas de uma avaliação realizada pela psicóloga com
treinamento em acompanhamento de pacientes oncológicos. Todos os interessados
em fazer o teste molecular foram orientados a agendar uma consulta individual para
realização da avaliação clínica e aconselhamento pré-teste. O teste foi realizado após
a assinatura do consentimento informado. As informações fornecidas no
aconselhamento e o apoio psicológico permitiram a compreensão do risco aumentado
e da necessidade de acompanhamento, mesmo em indivíduos assintomáticos,
possibilitando a avaliação do perfil molecular de outros membros pertencentes às
famílias mutadas. Os resultados foram comunicados aos familiares através de laudos
contendo os resultados provenientes da análise das mutações, além de informações
referentes ao teste genético.
Até o momento, 15 fa
Y 12, na qual a mutação R337H foi detectada, os três filhos (Figura 5 - IV:1,
IV:2 e IV:3) da paciente índice foram testados. A mutação foi detectada apenas na
filha mais velha (Figura 5 - IV:1) que havia apresentado aos 25 anos um tumor
60
ília Y27 (Figura 6 - II:10, III:3, III:5, III:6,
e Porto Alegre, apenas a filha do
probando(Figura 7 - III:24), que apresentou câ
papilífero de tireóide. Dois sobrinhos (IV:5 e IV:6) também foram testados, ambos
negativos para a mutação R337H. É interessante notar que em uma das sobrinhas
testadas (IV:5), que havia apresentado um tumor papilífero de tireóide aos 28 anos,
não foi detectada a mutação R337H.
Oito indivíduos pertencentes à fam
III:8, III:11, III:14 e III:15) foram avaliados para a presença da mutação R337H,
sendo que a mutação estava presente em quatro deles. O tio materno avaliado (II:10)
e um de seus dois filhos (III:14) apresentaram a mutação R337H, ambos
assintomáticos; o outro filho também avaliado (III:15) não apresentou a mutação.
Dois outros primos também assintomáticos apresentaram a mutação (III:8 e III:11).
O irmão da paciente (III:3) e dois outros primos maternos (III:5 e III:6) não
apresentaram a mutação R337H.
Na família Y49, proveniente d
ncer de mama aos 44 anos, foi testada
e teve a mutação R337H detectada. Esta paciente é também portadora da Síndrome
de Down (trissomia do cromossomo 21) (Figura 7), sendo este o único caso
confirmado de outra síndrome genética associada ao SLF e LFL dentre os indivíduos
incluídos nesta amostra. Esta paciente teve o consentimento informado asssinado
pelo pai, seu responsável legal.
61
IV:5
*
IV:4
*
IV:3
*
*
IV:
*
IV:
III:2
*
III:1
V:1 V:2
II:1 II:2
III:4 III:5 III:8III:7
IV:10
III:3
IV:6
III:6
IV:7 IV:8 IV:9
I:1 I:2
II:3 II:5 II:7 II:9 II:10 II:12 II:14 II:15 II:17 II:18 II:19II:4
III:9 III:10 III:11 III:13III:14III:12
IV:11
II:6
III:15 III:16 III:17 III:18 III:19 III:20 III:21
II:8
III:23 III:22
IV:12 IV:13
II:11
III:24 III:25 III:26 III:27
II:13
III:28 III:29 III:30 III:31 III:32 III:33 III:34 III:35 III:36
II:16
III:38 III:39III:37
IV:14
A
DR
(
13
)
Tireóide
(
25
)
R337H/WT
Tireóide
(
28
)
WT/WT
SPM
(
57
)
Tireóide
(
58
)
Mama
(
61
)
Pulmão
(
62
)
R337H/WT
Mama
(52)
Mama
(60)
Mama
(
35
)
Mama
(60)
ADR
(36)
Estômago
(61)
Mama
(40)
Mama
(45)
Melanoma
(80)
Estômago
(62)
Mama
(35)
ADR
(1)
WT/WT WT/WT
Família Y12
Mutação Éxon 10,
R337H
,
CGC>CAC
Legenda: *Testado para mutação no gene TP53 - R337H no exon 10. =acometido por neoplasia maligna; Ø = óbito; :
indivíduos testados para a mutação no gene TP53. :portador assintomático da mutação R337H. R337H/WT: portador da mutação
em heterozigose R337H/ WT: Wildtype ou alelo selvagem. III:2: geração:número do indivíduo; Tumor (idade ao diagnóstico);
Abreviações: TGF: trato genital feminino. ADR: tumor adrenocortical; SPM: sarcoma de partes moles; N/D: não disponível.
Fi
g
ura 5 – Heredo
g
rama da família Y 12.
62
III:1
III:2
*
IV:1
II:1 II:2
III:3
*
III:4
IV:2 IV:
3
I:1 I:2
II:
3
II:4 II:7 II:
9
II:10
*
II:
5
III:5
*
III:6
*
II:
6
III:8
*
III:10
III:7
IV:4 IV:5
III:9
IV:
6
IV:7
II:
8
III:11
*
II
I:13
III:12
IV:
8
IV:9
II:11
III:14
*
III:15
*
Estôma
g
o
(
69
)
WT
/
WT
WT
/
WT
SPM
(
59
)
N/D
(
N/D
)
Estôma
g
o
(
59
)
M
a
m
a
(6
4
)
WT
/
WT R
33
7H
/
WT
R
33
7H
/
WT
R
33
7H
/
WT
Mama
(
36
)
R
33
7H
/
WT
R
33
7H
/
WT
WT
/
WT
M
a
m
a(3
7
)
Família Y27
Mutação Éxon 10, R337H,
CGC>CAC
Legenda: *Testado para mutação no gene TP53 - R337H no exon 10. =acometido por neoplasia maligna; Ø = óbito; :
indivíduos testados para a mutação no gene TP53. : portador assintomático da mutação R337H. R337H/WT: portador da
mutação em heterozigose R337H/ WT: Wildtype ou alelo selvagem. III: 2: geração: número do indivíduo; Tumor (idade ao
diagnóstico); Abreviações: TGF: trato genital feminino. ADR: tumor adrenocortical; SPM: sarcoma de partes moles; N/D: não
disponível.
Figura 6 – Heredograma da família Y 27.
63
I:
*
II:1
Renal
II:1
III:2
III:24
III:2III:2
IV:4 IV:
I:
II:1 II: II:4 II: II: II:1II:
III: III: III: III: III: III:8
III:
IV:
III:
IV: IV:
III:
II:
III:10 III:1 III:12
II:7
III:13 III:14 III:1
II:
III:1 III:1 III:1
II:14
III:19 III:2 III:2 III:22
Renal
TGF
(
62
)
Próstata
Mama
Pulmão
Próstata
(
N/D
)
Mama
(
44
)
Próstata
(
N/D
)
Pâncreas
Estôma
g
o
R337H/W
R337H/W
II:1
Família Y49
Mutação Éxon 10,
R337H, CG
C>CAC
Legenda: *Testado para mutação no gene TP53 - R337H no exon 10. =acometido por neoplasia maligna; = óbito;
: indivíduos testados para a mutação no gene TP53.:portador assintomático da mutação R337H. R337H/WT: portador da
mutação em heterozigose R337H/ WT: Wildtype ou alelo selvagem. III:2: geração:número do indivíduo;Tumor (idade ao
diagnóstico); Abreviações: TGF: trato genital feminino. ADR: tumor adrenocortical; SPM: sarcoma de partes moles; N/D:
não disponível.
Figura 7 – Heredograma da família Y 49.
64
Todos os familiares que apresentaram a mutação foram considerados
como portadores da síndrome e orientados a prosseguir o acompanhamento
multidisciplinar para rastreamento de possíveis lesões relacionadas. Os familiares
que não apresentaram a alteração relacionada ao probando receberam o resultado
negativo para a mutação avaliada e foram orientados quanto ao risco de
desenvolvimento de tumores semelhante ao da população em geral, logo sem
necessidade de rastreamento específico. Os resultados dos testes moleculares
realizados nos familiares foram informados após aconselhamento pós-teste.
4.8 ADAPTAÇÃO DO PROTOCOLO DE RASTREAMENTO
CLÍNICO MULTIDISCIPLINAR
Mediante a presença aumentada de tumores pouco descritos na síndrome nas
famílias brasileiras incluídas neste estudo, alguns exames diagnósticos e laboratoriais
foram incluídos no protocolo de rastreamento proposto pelo NCCN. Este protocolo
adaptado propõe, além dos exames de rastreamento já previstos, a inclusão de
exames focalizando a detecção precoce de lesões colorretais e no estômago, além da
avaliação renal por métodos de imagem e citologia oncótica (Tabela 8). Todos os
portadores da síndrome devem ser submetidos a uma endoscopia e a uma
colonoscopia a partir dos 35 anos. Outro exame que deve ser proposto é a
ultrassonografia de tireóide anual visando o rastreamento de tumores de tireóide. Os
tumores de papila duodenal são de difícil diagnóstico precoce, porém devem ser
considerados como diagnóstico diferencial.
65
Tabela 8 - Protocolo de rastreamento para pacientes portadores da SLF e LFL
adaptado a população brasileira.
Rastreamento Anual Semestral Mensal
Adultos em
risco
Exame clínico com foco na detecção de tumores
raros e novos tumores primários
Mamografia anual a partir dos 20-25 anos (M)
c
Ultrassonografia de vias urinárias
Ultrassonografia de tireóide
Colonoscopia aos 35 anos
a,c
Exame para detecção de sangue oculto nas fezes
Endoscopia digestiva alta aos 35 anos
b,c
Acompanhamento direcionado aos tumores
ocorridos nas famílias
Exame clínico das
mamas a partir dos
20-25 anos ou 5 a
10 anos antes do
tumor de mama em
parente jovem (M)
Citologia oncótica
Auto-
exame da
mama a
partir dos 18
anos
Crianças em
risco
Exame clínico com foco na detecção de tumores
raros
Exame para detecção de sangue oculto nas fezes
Hemograma completo
Outras
possibilidades
de manejo
Esclarecer famílias sobre limitações no
rastreamento de tumores relacionados à síndrome
Informar sobre mastectomia profilática bilateral
(individualizar a cada família
Informar pediatras sobre risco de tumores
infantis
Rastreamento baseado na história famílias
Educação sobre possíveis sinais e sintomas de
câncer
Legenda: (M) – exame realizado em mulheres; Negrito: novas propostas para rastreamento precoce
de lesões relacionadas à Síndrome de Li-Fraumeni.
c
ou 5 a 10 anos antes do tumor de mama em
parente mais jovem.
a
se presença de pólipos adenomatosos, repetir em 1 ano; ausência de pólipos
adenomatosos, repetir em 3 anos.
b
na presença de lesões suspeitas, como esôfago de Barret ou atipia,
repetir anualmente.
A alta incidência de tumores adrenocorticais na infância deve ser comunicada
ao pediatra responsável pelas crianças pertencentes a famílias portadoras da
síndrome, devendo estes ficar atentos quanto a sinais característicos deste tumor
como puberdade precoce, hirsutismo e acne infantil. A realização anual de um
66
hemograma completo deve ser sugerida como acompanhamento destas crianças,
porém elas não devem ser informadas sobre o diagnóstico da síndrome devido à falta
de discernimento e para ser evitada uma sobrecarga emocional desnecessária.
A aplicação destes métodos permitiu o diagnóstico precoce de um tumor
papilífero de tireóide na mãe do probando Y23 aos 47 anos. O probando Y10 foi
submetido à colonoscopia na qual foi verificado a presença de um pólipo
adenomatoso com atipia de alto grau, lesão que pode ser considerada como pré-
maligna. O retorno para a realização de avaliação clínica com o oncogeneticista
deverá ocorrer semestralmente e possibilitará a integração entre as diversas
especialidades envolvidas no acompanhamento do paciente portador da síndrome.
Deste modo, as informações e testes realizados nas diversas especialidades poderão
ser reagrupados para melhor acompanhamento não só do paciente, mas também de
sua família.
67
5 DISCUSSÃO
O câncer é uma doença de origem genética. É causada por alterações
ocorridas em genes relacionados aos processos de proliferação, diferenciação e morte
celular. Estas alterações podem ocorrer em células somáticas e/ou em células
germinativas. Indivíduos portadores de mutações germinativas em genes
relacionados à tumorigênese apresentam alta predisposição para o desenvolvimento
de neoplasias, podendo ser classificados com portadores de síndromes genéticas de
predisposição ao câncer. A maior parte das síndromes hereditárias de predisposição
ao câncer tem herança autossômica dominante, a partir da qual a presença de apenas
um alelo mutado leva a caracterização da síndrome e confere à prole destes
indivíduos um risco de 50% de serem portadores da síndrome (LYNCH et al. 2004).
A Síndrome de Li-Fraumeni (SLF) é uma síndrome rara de predisposição ao
câncer relacionada a mutações no gene supressor de tumor TP53. O diagnóstico
clínico da SLF e LFL, sua variante, pode ser feito a partir da ocorrência de tumores
típicos da síndrome, geralmente em idade jovem, preenchendo pelo menos um dos
critérios diagnósticos existentes na literatura (LI e FRAUMENI 1969, BIRCH et al.
1994, EELES 1995, CHOMPRET 2002). Diversos tumores estão relacionados a esta
síndrome e, por isso, é difícil definir um padrão no acometimento dos tumores e na
idade ao diagnóstico, o que dificulta a realização de estudos que visem correlacionar
os diferentes aspectos da síndrome (VARLEY 2003a).
Mediante o diagnóstico clínico da SLF e LFL, a adoção de medidas visando o
rastreamento precoce de tumores deve ser aplicada ao paciente e a seus familiares,
68
que passam a ser considerados como indivíduos de alto risco para o desenvolvimento
de neoplasias malignas. Através do processo de aconselhamento genético é possível
proporcionar ao paciente uma melhor compreensão das características da doença,
padrão de transmissão e prognóstico. Após iniciado o processo de informação e
aconselhamento, o paciente é esclarecido sobre a possibilidade de confirmação do
diagnóstico clínico da SLF e LFL através da análise molecular do gene TP53. A
presença da mutação no gene TP53 ocasionará a inativação ou produção anômala da
proteína p53, levando à falha no mecanismo de supressão tumoral e facilitando a
ocorrência dos tumores relacionados ao fenótipo da SLF e LFL. Com a detecção da
mutação, será possível a busca da mesma alteração em familiares assintomáticos que
apresentam risco aumentado para o desenvolvimento de neoplasias malignas e logo o
rastreamento precoce de tumores (SUTHERS et al. 2005).
Apesar da SLF e sua variante LFL serem consideradas raras, verificou-se a
alta incidência de famílias brasileiras que preenchiam os critérios da síndrome e que
foram encaminhadas ao departamento de Oncogenética do Hospital do Câncer - A.C.
Camargo, São Paulo. A partir da revisão ativa de prontuários de pacientes com
história famílias de múltiplos tumores atendidos neste departamento, foi possível
diagnosticar outras famílias que poderiam ser classificadas como SLF ou LFL. A
colaboração estabelecida com o Serviço de Genética Médica - Hospital de Clínicas,
Porto Alegre e com a Divisão de Genética Médica –
INCA, Rio de Janeiro permitiu a
inclusão de mais 13 famílias. Desta forma, 45 famílias brasileiras com o diagnóstico
clínico de SLF e LFL foram avaliadas neste estudo a partir da análise molecular de
toda região codificante do gene TP53.
69
Os critérios empregados para o diagnóstico da SLF e LFL foram três: o
critério clássico, inicialmente proposto por LI e FRAUMENI em 1969, o critério de
BIRCH et al. (1994), mais freqüentemente utilizado na identificação da LFL, e o
critério de EELES (E1 e E2) (1995), que caracteriza famílias LFL, mas que é pouco
utilizado devido à baixa taxa de detecção de mutações (VARLEY et al. 1997b). Os
critérios de CHOMPRET (2002) não foram utilizados por serem redundantes se
empregados juntamente aos demais critérios da síndrome. Logo, os critérios
empregados foram amplos, porém bem delimitados, visando à inclusão do maior
número de famílias com o perfil SLF/LFL. Entre as famílias selecionadas para este
estudo, a maior parte preencheu os critérios de LFL (75,6%), o que era esperado por
serem estes os critérios mais abrangentes.
O estudo foi conduzido no estado de São Paulo, incluindo pacientes oriundos
de três centros de referência no tratamento do câncer no país. Os três centros
localizavam-se nas regiões sudeste e sul do Brasil e por este motivo a maior parte das
famílias brasileiras com diagnóstico de SLF e LFL incluídas neste estudo era
proveniente destas regiões. Desta forma, é possível que esta amostra reflita apenas o
perfil parcial da população brasileira, com foco nas populações de origem européia
que foram predominantes na colonização destas regiões. Este dado é corroborado
pelo fato de não haver nenhuma família da raça negra, responsável por uma parcela
importante da população brasileira. Todas as famílias optaram pela raça branca
quando questionados quanto à etnia, sendo este dado subjetivo devido à composição
racial variada que constitui o povo brasileiro. ROSSI et al. (2002) relataram a
dificuldade de determinação da origem racial exata das famílias brasileiras devido a
heterogeneidade e miscigenação étnica no estudo das síndromes genéticas ligadas ao
70
câncer. Por este motivo, a classificação étnica das famílias não foi considerada para
análise. É interessante notar que não existem dados na literatura referindo a
ocorrência da SLF e LFL nos diferentes grupos étnicos, sendo a maior parte dos
registros de mutações germinativas do gene TP53 referentes a famílias de origem
caucasiana (IARC TP53 Database R10). Estudos futuros incluindo famílias
provenientes de outras regiões do país serão de grande importância para determinar a
freqüência destas mutações e avaliar o perfil tumoral da síndrome nas outras regiões
do país.
Os heredogramas foram constituídos a partir de todas as informações
referentes aos familiares do probando. Foram incluidos todos os familiares que
apresentaram tumores malignos, assim como os familiares saudáveis, provenientes
do maior número de gerações possível. Por se tratarem de famílias muito extensas,
com muitos indivíduos pertencentes às diversas gerações, não foi possível especificar
o número total de indivíduos que compunham cada geração. Por este motivo, não se
avaliou a porcentagem de indivíduos afetados em cada família ou em cada geração.
A presença de 338 tumores em 292 indivíduos de 45 famílias avaliadas neste
estudo reflete a alta incidência de neoplasias nos indivíduos com o diagnóstico
clínico da SLF e LFL. Além disso, a presença de uma grande variedade de tumores
que podem acometer os portadores pode ser verificada neste estudo a partir dos 25
grupos caracterizados para a classificação dos tumores. Como as SLF e LFL são
caracterizadas exclusivamente a partir da ocorrência de tumores malignos, os
tumores benignos não foram incluídos na análise, exceto pelo caso de mola
hidatiforme na probanda Y1, que apresentou caráter invasor descrito em relatório
médico fornecido pela paciente.
71
Dentre os tumores relatados, 46,1% puderam ser confirmados por meio de
relatório médico ou por laudo histopatológico. Esta taxa pode ser considerada alta se
for levada em conta à dificuldade de acesso aos registros médicos hospitalares no
país. Quando solicitados a buscar algum tipo de comprovante, os pacientes eram
orientados quanto ao seu direito por lei às informações sobre os tumores ocorridos
em seus familiares.
As famílias com o diagnóstico clínico da síndrome incluídas neste estudo
apresentaram de 1 a 18 membros, acometidos por 24 tipos diferentes de tumores,
além de 10 tumores de origem indeterminada. O espectro tumoral apresentado foi
bastante amplo, sendo mais prevalentes os tumores de mama, sarcomas, tumores de
estômago e sistema nervoso central e leucemias (Tabela 2). Dados semelhantes
foram verificados em estudo conduzido por NICHOLS et al. (2001), no qual 77%
dos 738 tumores avaliados em famílias com o diagnóstico molecular da mutação do
gene TP53 eram típicos da SLF (mama, tumores adrenocorticais, sarcomas, tumores
de sistema nervoso central e leucemias) enquanto que o restante era composto por
diversos tipos histológicos. Nas famílias brasileiras foram verificados tumores
descritos como freqüentes na SLF e LFL em porcentagens próximas às descritas no
banco de dados de mutações germinativas do TP53 do IARC (IARC TP53 Database
R10). No entanto, alguns tumores descritos ocasionalmente na síndrome foram
verificados em maior incidência nas famílias deste estudo, como os tumores
malignos de estômago e tumores colorretais. Os tumores gástricos constituíram o
terceiro grupo de tumores mais freqüentes (n=30, 8,9%) e os tumores colorretais, o
quinto grupo de tumores mais freqüentes. A alta incidência de tumores gástricos
pode ser devido a prevalência deste câncer na população brasileira, sendo o terceiro
72
tumor mais freqüente nos homens e quinto mais freqüente nas mulheres nas regiões
sul e sudeste do país (Ministério da Saúde 2006). A maior incidência de tumores
colorretais pode ser devido a sua alta incidência em países em deselvolvimento,
representando o segundo tumor mais freqüente nestas populações (STEWART e
KLEIHUES 2003). Desta forma a interação entre fatores ambientais e a presença da
alteração genética podem contribuir para o aumento destes tumores.
A idade de aparecimento dos tumores foi precoce conforme esperado para as
famílias SLF/LFL (Tabela 2). Em 61,1% dos pacientes observaram-se tumores de
mama em idade pré-menopausal. Esta idade é atípica para o desenvolvimento de
tumores desta natureza e deve levantar a suspeita de uma síndrome de predisposição
hereditária ao câncer. Dez casos de tumores colorretais ocorreram em idade jovem,
antes dos 45 anos, enquanto que apenas oito casos foram diagnosticados após esta
idade. Estes dados divergem das informações sobre a idade de acometimento de
tumores colorretais esporádicos na população brasileira, que possui maior incidência
na faixa entre 50 e 70 anos de idade (MALHEIROS et al. 2005).
A presença de mais de um tumor primário foi verificada em 15 dos 292
(5,1%) indivíduos com o diagnóstico clínico da síndrome incluídos neste estudo. A
associação mais freqüente foi a de sarcomas de partes moles e câncer de mama,
verificada em quatro indivíduos, seguida da associação de câncer de mama e
sarcomas ósseos, que ocorreu em três indivíduos. Estes dados diferem do estudo de
HISADA et al. (1998), que verificaram a multiplicidade de tumores em 21% de 200
indivíduos com diagnóstico da síndrome. A menor freqüência de indivíduos com
múltiplos tumores observada neste estudo pode ser devido à dificuldade do paciente
oncológico obter assistência médica especializada no país, levando ao diagnóstico
73
mais tardio da doença e a uma maior mortalidade relacionada a primeira neoplasia. A
associação de tumores de mama e sarcomas não é característica de famílias SLF e
LFL e a ocorrência desta associação enfatiza a necessidade de um rastreamento mais
intensivo em tumores de mama em pacientes portadores de sarcomas. No caso da
ocorrencia de tumores de mama, o inverso é mais difícil de ser realizado, devido a
dificuldade de rastreamento de sarcomas.
Alguns relatos na literatura descrevem a incidência de múltiplos sarcomas em
famílias portadoras da mutação germinativa no gene TP53. KING et al. (1993)
relataram o caso de um paciente do sexo masculino que apresentou três sarcomas
primários, além de ter história familial de diversos tumores e mutação detectada no
gene TP53. Em 2004, KHAYAT e JOHNSTON relataram a ocorrência de dois
sarcomas em uma criança portadora de mutação germinativa no gene TP53, sendo o
primeiro deles um rabdomiosarcoma do músculo escapular e o segundo um
osteosarcoma de mandíbula. Sem história familial de câncer, este mesmo paciente
apresentou posteriormente um tumor adrenocortical. Neste estudo, a presença de
duas famílias com indivíduos portadores de múltiplos sarcomas (Y 20 e Y21) e sem
diagnóstico molecular foi de grande interesse. Nas duas famílias ocorreram tumores
típicos da SLF nas linhagens materna e paterna, não havendo o predomínio da
ocorrência de tumores em apenas uma linhagem. Devido a este fato, os tumores
referentes a ambas linhagens destas famílias foram considerados para as análises
deste estudo, por não ter sido possível definir pelos métodos utilizados qual lado
segrega a alteração. Nos estudos de KING e KHAYAT e JOHNSTON, foi possível a
detecção molecular da mutação enquanto que nas famílias brasileiras que
apresentaram o mesmo perfil clínico, a mutação não foi verificada. A associação
74
entre a incidência de múltiplos sarcomas em famílias portadoras da SLF ou LFL e a
ausência da detecção de mutação germinativa no gene TP53 reforça a hipótese de
que a população brasileira pode apresentar alterações, sendo estas prováveis
mutações cromossômicas, que levem a inativação do gene TP53 distintas das demais
populações.
O uso de pesticidas vem sido relacionado ao aumento da incidência de câncer
em algumas populações. O programa Agricultural Health Studies, lançado em 1993
pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) (www.aghealth.org),
visa avaliar a exposição freqüente de fazendeiros a pesticidas e a sua relação ao
aumento de neoplasias malignas e outras doenças. Dados preliminares demonstram
que na população de fazendeiros expostos da região de Durham, no estado da
Carolina do Norte, foi verificada a alta incidência de tumores tais como sarcomas de
partes moles, tumores de sistema nervoso central, leucemia, linfoma, estômago,
próstata e pele, assim como a maior incidência de doenças não relacionadas ao
cancer, tais como Parkinson e doenças pulmonares. É de grande interesse notar que
estes tumores compõem o espectro SLF/LFL, sendo alguns dos tumores mais
freqüentemente descritos na síndrome. SANDRINI et al. (1997) levantaram a
hipótese de que a alta incidência de tumores adrenocorticais na região da periferia de
Curitiba poderia estar relacionada à forte exposição a poluentes ambientais, tais
como pesticidas, que são utilizados sem a vigência de normas de segurança.
Pesquisadores ingleses relacionaram o aumento de duas vezes na incidência de
tumores adrenocorticais na região noroeste da Inglaterra com a maior exposição a
pesticidas nesta área (BIRCH e BLAIR 1988). A exposição parental a pesticidas já
75
foi relacionada ao aumento da incidência de tumores em crianças de 0 a 4 anos na
Noruega (KRISTENSEN et al. 1996).
O uso indiscriminado de pesticidas foi descrito em 11,1% das famílias
brasileiras deste estudo (5/45 - 11,1%). Em três destas famílias (Y1, Y12, Y15) a
mutação no gene TP53 foi detectada, enquanto que nas duas restantes (Y6, Y31) a
mutação não foi encontrada. Chama a atenção o número relativamente alto de
famílias com exposição a pesticidas entre as 13 famílias que tiveram sua mutação
detectada (3/13 – 23,1%). Os relatos sobre a intensidade da exposição foram
inespecíficos, sendo observados desde o contato esporádico com venenos utilizados
em plantações próximas a suas moradias até o contato intenso, diário, por mais de
doze anos, com diversos tipos de venenos, sem utilização de proteção. Todos os
pacientes que referiram exposição a pesticidas relataram também a exposição
parental a pesticidas. Apenas informações referentes à coloração (“veneno azul”) ou
nomes vulgares foram fornecidas pelas famílias. Devido às imprecisões das
informações, não foi possível estabelecer qualquer correlação entre tipo, intensidade
ou período de exposição e a incidência de tumores na síndrome. Estes dados sugerem
a possível interação entre a exposição a pesticidas e a ocorrência de um fenótipo
SLF/LFL, ocorrendo tumores típicos da síndrome em membros expostos na família,
ou na sua descendência. Estudos para a avaliação da exposição a pesticidas e a
incidência de tumores característicos da SLF e LFL serão necessários para esclarecer
esta correlação.
Este estudo é a primeira descrição na América Latina da prevalência de
mutações germinativas no gene TP53 e dos perfis clínicos de famílias que preenchem
os critérios diagnósticos da SLF/LFL. Até o momento, estudos de mutações nas SLF
76
e LFL eram originários principalmente da Europa Ocidental e da América do Norte.
Mutações germinativas foram detectadas em 28,9% (13/45) das famílias brasileiras
avaliadas neste estudo. Estas famílias são provenientes de centros de referência no
tratamento de câncer no país e na avaliação de famílias portadoras de síndromes
genéticas ligadas ao câncer.
A maior parte das mutações encontradas foi verificada nos indivíduos com
diagnóstico de LFL (12/34 - 35,3%) (Tabela 3). As mutações germinativas no gene
TP53 encontradas nas famílias com diagnóstico clínico de LFL deste estudo
aumentam em 10,2% o número de todas as famílias LFL com a mutação detectada
descritas no banco de dados do IARC, somando 12 famílias as 118 já descritas na
LFL. Entre as famílias portadoras da mutação com diagnóstico de LFL, 41,8%
preenchiam os critérios de Birch e 31,8% que apresentavam somente os critérios de
Eeles. É importante lembrar que critérios de Birch são mais restritos e, por isso, todas
as famílias que os preenchiam, também preenchiam os critérios de Eeles. A taxa de
detecção de mutações em famílias LFL foi superior à relatada por VARLEY et al.
(1997b), que haviam verificado mutações em 22% das famílias com o diagnóstico de
LFL pelos critérios de Birch e em 8% das famílias com os critérios de Eeles. Devido
à maior taxa de detecção de mutações no gene TP53 nas famílias brasileiras com
perfil LFL, torna-se de grande importância à caracterização do diagnóstico da LFL
em famílias brasileiras a partir não somente dos critérios de Birch, mas também dos
critérios de Eeles, que devem ser aplicados na prática clínica.
Relatos da literatura demonstraram uma alta taxa de detecção de mutações em
TP53 nas famílias com os critérios clássicos da SLF. Dados publicados por
VARLEY et al. (1997b) e por VARLEY (2003a) demonstraram a presença de
77
mutações no gene TP53 em mais de 71% e 77% respectivamente das famílias com o
perfil clássico da SLF. As famílias brasileiras que preencheram os critérios clássicos
da síndrome tiveram uma taxa de 9% detecção de mutação no gene TP53, muito
abaixo da relatada pela literatura (Tabela 3). Uma possível explicação para a baixa
taxa de detecção de mutações poderia ser o fato de que outras alterações, não
detectadas pelos métodos utilizados neste estudo, que também podem causar a
inativação do gene TP53, tais como translocações, grandes deleções ou inserções, ou
mesmo alterações na região promotora do gene TP53, podem ser mais freqüentes na
população brasileira. BOUGEARD et al. (2003) avaliaram 98 famílias com critérios
para a SLF e LFL e 92 famílias que não preenchiam completamente os critérios, a
partir da técnica de PCR multiplex quantitativo de pequenos fragmentos (QMPSF) e
foi detectada a presença de uma deleção no gene TP53 em apenas uma família. Com
isso, os autores concluíram que rearranjos no gene TP53 que estejam envolvidos na
etiologia da SLF são raros. Como a população brasileira mostrou algumas diferenças
tanto no espectro tumoral como na predominância na localização das mutações,
deve-se considerar a possibilidade da busca da mutação no gene TP53 a partir de
outros métodos, visando à busca da detecção de grandes deleções, de alterações na
região promotora e no exón 1, que é considerado um exon não codificante. A
avaliação de outros genes diretamente envolvidos na via da p53, como o gene Mdm-
2, um dos principais reguladores desta proteína, poderia determinar alterações que
levariam ao funcionamento anômalo da p53. Uma outra possibilidade para a não
detecção de mutações no gene TP53 naquelas famílias brasileiras estudadas é que
outros genes estão envolvidos na SLF.
78
Dentre as 13 famílias que tiveram as mutações detectadas, 12 eram do tipo
missense e uma mutação foi encontrada no sítio doador de splicing do íntron 6
(Tabela 3). A presença de uma mutação germinativa no códon 245 (G245S) foi
detectada em 2 famílias distintas, descrita previamente em outros estudos
(BORRESEN et al. 1992; MACGEOCH et al. 1995; CORNELIS et al. 1997;
VARLEY et al. 1997b). A mutação R213Q, que foi descrita em uma família no
banco de dados do IARC, foi detectada em uma família brasileira. Três alterações
nunca descritas na literatura (V173M, V197M e G244D) foram verificadas,
detectadas em três famílias não relacionadas entre si e, por não causarem danos a
função da proteína p53 foram consideradas mutações novas relacionadas à SLF ou
LFL.
A maior parte dos polimorfismos encontrados neste estudo já haviam sido
descritos na literatura. O polimorfismo no intron 5, nunca descrito anteriormente, foi
encontrado em uma família na qual também foi detectada a mutação germinativa no
códon 173. Esta alteração foi considerada um polimorfismo e não uma mutação
patogênica por estar localizada em uma região intrônica que geralmente não é
codificante. Além disso, este polimorfismo foi verificado em 5% dos controles
saudáveis da população.
As outras seis mutações germinativas do tipo missense ocorridas em seis
famílias distintas e não relacionadas, foram idênticas, ocorrendo todas no éxon 10, no
códon 337, ocasionando a troca de uma arginina por uma histidina (R337H) no
domínio de oligomerização do gene (Tabela 6). Mutações germinativas e somáticas
do gene TP53 são raras neste domínio (IARC TP53 Database R10). Devido a isto,
estudos moleculares iniciais no gene TP53 nas famílias SLF e LFL buscavam a
79
detecção de mutações apenas no domínio de ligação ao DNA, compreendido entre os
éxons 4 e 9 (domínio de ligação ao DNA), sendo que 95% das mutações descritas
neste gene ocorrem neste domínio. No entanto, VARLEY (2003a) levantou a
possibilidade de serem encontradas mutações em outros domínios do gene TP53 e
passou a considerar como padrão ouro o sequenciamento de todos os 10 éxons
codificantes do gene.
A mutação germinativa no códon 337 do éxon 10 (R337H), encontrada em
maior freqüência nas famílias avaliadas neste estudo, já havia sido descrita em um
paciente que apresentou tumor adrenocortical e que apresentava história familial de
tumor de sistema nervoso central (IARC TP53 Database R10). A mesma mutação foi
detectada por RIBEIRO et al. (2001) em 35 dentre 36 crianças que apresentaram
carcinoma adrenocortical, todas provenientes da periferia de Curitiba no Paraná.
Estas crianças pertenciam a 28 famílias que não apresentaram história familial
documentada de outros tumores. Os pesquisadores levantaram a hipótese de que a
mutação R337H teria como efeito aumentar a predisposição exclusivamente a
tumores adrenocorticais, em contraste com as outras mutações no TP53 descritas
previamente. Desta forma, a mutação R337H exerceria uma ação tumor específica,
ocasionando exclusivamente o desenvolvimento de tumores adrenocorticais na
infância, excluindo desta forma o diagnóstico da SFL e LFL destas famílias. No
estudo descrito, marcadores polimórficos intragênicos foram avaliados nos
portadores de mutações, demonstrando diferenças que indicavam que os alelos
mutantes eram independentes, eliminando a possibilidade dos portadores desta
mutação apresentarem efeito fundador. No entanto, em estudo recente realizado pelo
mesmo grupo (FIGUEIREDO et al. 2005), verificou-se que o espectro tumoral
80
relacionado às famílias das crianças portadoras de mutações germinativas no gene
TP53 (R337H) era amplo tanto nas crianças como nos adultos, sendo semelhante às
famílias com outras mutações germinativas no TP53 compiladas no banco de dados
do IARC. A revisão do espectro tumoral pelo grupo curitibano, assim como o amplo
espectro tumoral apresentado pelas famílias portadoras da mutação R377H deste
estudo permite concluir que a R337H não é uma mutação tumor específica, sendo
responsável por um fenótipo típico da SLF e LFL. Desta forma, pode-se considerar
que a mutação R337H não é uma mutação tumor específica, podendo ser esta
responsável por um fenótipo típico da SLF e LFL.
Em um estudo realizado no estado de São Paulo, LATRONICO et al. (2001)
verificaram a presença da mutação R337H em 77,8% das crianças (14/18) e em
13,5% (5/37) dos adultos que apresentavam tumores adrenocorticais esporádicos, na
ausência de história familial significante de câncer. O mesmo grupo (PINTO et al.
2004) verificou a provável presença de um ancestral comum a estas famílias a partir
da análise de dois marcadores polimórficos intragênicos em 16 crianças e 6 adultos
que apresentaram carcinoma adrenocortical e que eram portadores da mutação
germinativa R337H no gene TP53. Os pesquisadores verificaram fortes evidências de
que havia co-segregação entre os marcadores polimórficos e a mutação germinativa
R337H, indicando que esta mutação de originou de um único ancestral e sugerindo a
existência de efeito fundador no grupo estudado ao contrário do citado no estudo
realizado em Curitiba por RIBEIRO et al. (2001).
As diferenças verificadas no espectro tumoral relacionado à mutação
germinativa R337H entre este estudo e os de RIBEIRO et al. (2001) e LATRONICO
et al. (2001) podem ser explicadas pelos diferentes desenhos experimentais.
81
Enquanto que neste estudo realizamos a detecção da mutação em famílias com um
perfil tumoral característico da SLF, RIBEIRO et al. (2001) e LATRONICO et al.
(2001) selecionaram casos esporádicos de tumores adrenocorticais sem história
familial, sendo o grupo de RIBEIRO et al. (2001) constituído exclusivamente de
crianças. A partir destes dados e dos diversos tumores do espectro da SLF e LFL
verificados neste estudo, pode-se supor que o aparecimento de outros tumores entre
os familiares dos pacientes incluídos nos estudos de RIBEIRO et al. (2001) e
LATRONICO et al. (2001) talvez seja apenas uma questão de tempo, indicando a
necessidade de um rastreamento mais intensivo nos possíveis portadores. A
identificação de um efeito fundador entre as famílias avaliadas por LATRONICO et
al. (2001) levanta a possibilidade de que o mesmo possa ocorrer nas famílias R337H
incluídas nesse estudo, apesar de não terem relatado parentesco conhecido entre si.
Estudos avaliando marcadores polimorficos para identificação de um possível efeito
fundador poderiam contribuir para a elucidação deste fato.
O perfil tumoral das famílias R337H neste estudo foi amplo, sendo
verificadas proporções semelhantes nos principais tumores relacionados à síndrome
(Figura 3). O tumor mais freqüente foi o câncer de mama (29,8% - 17/57), ocorrido
em 5 das 6 famílias com mutação no R337H. As incidências de tumores do sistema
nervoso central e sarcomas de partes moles foram de 10,6%, dados semelhantes aos
das outras famílias SLF/LFL. A incidência de tumores adrenocorticais em portadores
do R337H foi verificada numa proporção 2,3 vezes maior do previamente relatado na
SLF/LFL, demonstrando o maior risco de desenvolvimento de tumores
adrenocorticais nos portadores desta mutação. A incidência de tumores de estômago
também foi maior nos portadores do R337H do que em outras famílias SLF e LFL,
82
ocorrendo numa freqüencia 2,8 vezes maior do que nos portadores de outras
mutações (IARC TP53 Database R10).
A presença de tumores pouco relacionados à SLF e LFL foi observada nas
famílias estudadas portadoras da mutação R337H. Foi verificada a ocorrência de
carcinomas de células claras renais em duas famílias nas quais a mutação R337H foi
identificada e a ausência destes tumores nas demais famílias desta amostra. Este
tumor é pouco relacionado à síndrome e apenas outros três casos foram relatados na
literatura em famílias portadoras da SLF/LFL, correspondendo a 0,44% dos tumores
já descritos na síndrome. (IARC TP53 Database R10) Desta forma, portadores da
mutação germinativa R337H podem apresentar um risco aumentado para o
desenvolvimento de carcinomas de células claras renais e este tipo tumoral deve ser
investigado nos portadores desta mutação.
Alguns tumores apresentaram um padrão distinto nas famílias brasileiras com
diagnóstico da SLF e LFL se comparados às famílias pertencentes ao banco de dados
do IARC. Todas as famílias brasileiras com diagnóstico clínico da síndrome nas
quais ocorreu pelo menos um caso de carcinoma adrenocortical tiveram a detecção
da mutação no gene TP53 (Tabela 4). Este fato pode-se sugerir que a presença de
tumores adrenocorticais em famílias brasileiras com diagnóstico clínico de SLF e
LFL em famílias brasileiras representa um forte indicativo da presença da mutação
no gene TP53.
A presença de tumores de papila duodenal, nunca descritos na LFS e LFL, foi
verificada em indivíduos provenientes de duas famílias deste estudo nas quais foram
detectadas mutações no gene TP53 (Tabela 4). Em ambas as famílias foi relatada a
ocorrência de tumores de sistema nervoso central e tumores colorretais em outros
83
membros da família em idade jovem. Desta forma, o diagnóstico da SLF e LFL deve
ser considerado em famílias nas quais ocorram tumores de papila duodenal em idade
jovem associados a história familial de câncer em idade jovem. No entanto, como
cada família apresentou mutações diferentes, em domínios diferentes do gene, não
foi possível estabelecer uma correlação genótipo-fenótipo.
Tumores de tireóide, somente descritos no artigo original de LI e
FRAUMENI (1969), foram verificados tanto em portadores da mutação quanto nas
famílias brasileiras sem detecção da mutação (Tabela 4 e Tabela 6). Os tumores de
tireóide que acometeram os indivíduos deste estudo eram todos carcinomas do
subtipo papilífero, que são geralmente tumores pouco agressivos e com invasão
predominantemente local. Frente ao número expressivo de tumores de tireóide
encontrado nesta amostra, indica-se o rastreamento precoce que pode ser feito a
partir de uma ultrassonografia local e, caso haja suspeita, o diagnóstico pode ser feito
a partir de uma punção por agulha fina guiada, evitando diagnósticos tardios que
levariam a necessidade de cirurgias mutilantes. O amplo espectro tumoral presente
nas famílias deste estudo pode estar relacionado a uma possível maior exposição a
fatores mutagenicos, tais como pesticidas, relatados em famílias deste estudo, que
ocasionaria além do fenótipo característico da síndrome a ocorrência de outros
tumores nunca descritos.
Entre as famílias nas quais foram detectadas as mutações no gene TP53 foi
verificada a ocorrência de alguns tumores em idade mais precoce (Tabela 5). No
entanto, a média da idade de acometimento dos três tumores mais prevalentes nas
famílias deste estudo (tumores de mama, sarcomas de partes moles e tumores de
84
estômago) foi semelhante em ambos grupos. Este dado demonstra que possivelmente
estas variações foram encontradas devido ao pequeno número de tumores em alguns
grupos.
Dismorfias foram detectadas ao exame físico em uma das famílias com a
mutação R337H. A paciente Y15, que apresentou um tumor adrenocortical e um
tumor renal na infância, foi submetida a uma avaliação endocrinológica, na qual
algumas alterações, tais como a baixa estatura, o fascies Cushingóide e o hirsutismo,
foram relacionados ao quadro ocasionado pelas alterações endocrinológicas geradas
pelos tumores adrenocorticais. No entanto, as alterações esqueléticas, como ponte
nasal deprimida e braquidactilia com a presença de hipoplasia de quarto e quinto
metacarpos (mão esquerda) e de quinto metacarpo (mão direita), além de
macrocefalia, não eram correlacionadas a estas manifestações. A existência de
dismorfias relacionadas à SLF e LFL nunca havia sido descrita na literatura. Não foi
possível realizar a avaliação clinica dos familiares, para excluir dismorfias
semelhantes devido a distancia geográfica. No entanto, este relato é importante para
motivar outros médicos assistentes de famílias SLF/LFL a buscarem em seus
pacientes dismorfias semelhantes. É interessante ressaltar que a probanda Y15 é
proveniente de uma das famílias na qual foi relatado exposição a pesticidas. Como
dismorfias foram descritas em apenas uma paciente portadora da síndrome, não é
possível estabelecer correlações, no entanto demonstra a importância da realização
de um exame físico em todas famílias SLF/LFL buscando dismorfias.
Também é um fato inédito a detecção de mutação no gene TP53 em uma
paciente com síndrome de Down que apresentou um tumor de mama em idade
precoce, pertencente à família Y49 (Figura 7). Esta é uma associaçâo casual
85
envolvendo a síndome de Down, que é a mais freqüente causa de retardo mental
sindrômico, e a SLF (NUSSBAUM et al. 2002). Vale ressaltar que a paciente
apresentava somente dismorfias características da síndrome de Down. O aumento da
incidência de neoplasias malignas na síndrome de Down já foi descrito em diversos
estudos, sendo relatado maior acometimento de leucemias e tumores de testículo
(FERNANDEZ-PLAZA et al. 2004, GOLDACRE et al. 2004). No entanto, tumores
malignos de mama são menos freqüentes em mulheres portadoras da Síndrome de
Down do que na população feminina geral (SATGE et al. 2002). Estudos avaliando
interação da mutação germinativa no gene TP53 e a ocorrência da trissomia no
cromossomo 21 seriam de grande interesse na deteminação desta associação.
O fato de familiares de apenas três famílias com a detecção da mutação
buscarem a realização do teste molecular foi inesperado. A família Y49 demonstrou
o desejo de realização do teste em familiares desde o início do estudo. As famílias
Y12 e Y27 mostraram interesse imediatamente após a comunicação do resultado,
enquanto que as outras famílias solicitaram um tempo para reflexão. Isto demonstra a
dificuldade de aceitação por parte dos possíveis portadores frente ao comunicado do
diagnóstico molecular da síndrome genética. O fato de existirem portadores da
mutação assintomáticos demonstra a necessidade do rastreamento precoce. A
ausência de mutação na paciente IV:1 da família Y12 que já apresentou um tumor de
tireóide demonstra que nem todos os pacientes portadores de tumores em famílias
com a SLF/LFL são necessáriamente portadores da mutação germinativa.
A realização de rastreamento precoce de tumores na SLF e LFL constitui um
desafio. Para que as famílias possam ser corretamente diagnosticadas e
acompanhadas, os médicos devem ter conhecimento dos tumores relacionados à
86
síndrome, sobre os possíveis métodos de rastreamento e sobre a ocorrência na
população brasileira de tumores pouco descritos como relacionados à SLF e LFL. No
entanto, perante o amplo espectro tumoral que compõe a síndrome torna-se difícil
realização de exames específicos no rastreamento precoce de tumores. Em 2001,
FREBOURG et al. propuseram um protocolo de rastreamento pré-sintomático que
incluía o tumor de mama como principal sítio de acompanhamento, sugerindo que
outros tumores são de difícil rastreamento. VARLEY (2003a) propôs que o
rastreamento das famílias portadoras da SLF e LFL era complicado devido à
variação não apenas do tipo de tumor que pode ocorrer, mas da diversidade de idade
em que os tumores ocorrem. Logo, frente ao alto risco para tumores malignos e à alta
penetrância, devem-se utilizar todos os métodos disponíveis.
O acompanhamento de um oncogeneticista vai orientar os pacientes quanto
aos riscos da síndrome, vai possibilitar o rastreamento precoce de lesões malignas
relacionadas à síndrome e proporcionar alguma segurança de que o paciente está
sendo acompanhado com todos os recursos disponíveis para o seu caso. As famílias
incluídas neste estudo foram inicialmente submetidas ao rastreamento proposto pelo
NCCN (Quadro 3) após o diagnóstico. Todos os pacientes foram estimulados a trazer
seus familiares que pudessem ser portadores para que fossem também rastreados.
A única medida reconhecida como eficaz era o rastreamento de tumores de
mama, a partir da mamografia anual associada à ressonância magnética da mama
caso houvesse suspeita (LEACH et al 2005). A possibilidade de realização da
mastectomia profilática bilateral em mulheres portadoras da mutação germinativa no
gene TP53 foi proposta por THULL e VOGEL (2004), porém outros estudos não
foram feitos para avaliar o seu impacto. Neste estudo, as mulheres foram informadas
87
sobre a existência desta cirurgia como medida preventiva, porém a opção de realizar
a mastectomia profilática bilateral não foi aceita por nenhuma paciente. Devido à
variedade de tumores que podem acometer mulheres portadoras da síndrome, essa
estratégia foi considerada pelas pacientes como “mutilante” e “desnecessária”.
Os tumores pouco relacionados à síndrome, mas que ocorreram nas famílias
brasileiras também foram rastreados neste estudo. Foram realizados exames de
imagem e laboratoriais incluindo ultrassonografia de tireóide, exame considerado de
alta sensibilidade na detecção de nódulos suspeitos de tireóide, além de citologia
oncótica e ultrassonografia de vias urinárias, na busca de possíveis lesões renais. As
técnicas de endoscopia digestiva alta foram empregadas na busca de tumores
gástricos e colonoscopias foram realizadas visando à detecção precoce de pólipos
adenomatosos ou lesões malignas. A utilização destes métodos levou a detecção
precoce de um tumor de tireóide na mãe de um dos probandos deste estudo (Y23) e a
detecção de uma lesão pré-maligna colorretal (um pólipo com atipia de alto grau) no
probando Y10.
O rastreamento das crianças relacionadas às famílias deste estudo foi feito
pelos pediatras que acompanhavam previamente as crianças. O pediatra deve estar
ciente sobre o diagnóstico da família e da alta incidência de tumores na infância,
devendo adotar todas as medidas possíveis para o rastreamento de possíveis lesões
malignas que têm maior incidência na SLF e LFL na infância e adolescência, sem
que a criança seja submetida a estresse desnecessário. Apesar de ocorrerem tumores
malignos na infância, os testes genéticos para detecção da mutação no gene TP53
não são indicados para crianças ou adolescentes assintomáticos por não existirem
métodos para o diagnóstico precoce de tumores característicos desta síndrome nesta
88
faixa etária, sendo restritos para maiores de 18 anos (maioridade legal)
(ENSENAUER 2005).
Não foram verificadas intercorrências durante a realização dos exames de
rastreamento nos pacientes deste estudo e não foram realizadas cirurgias
desnecessárias devido a dúvidas diagnósticas. Com a utilização destes métodos
diagnósticos de forma adequada e a sua realização em laboratórios de alta
confiabilidade os riscos aos quais os pacientes estão submetidos tornam-se mínimos
perante as possibilidades do rastreamento precoce de tumores malignos.
Os dados expostos mostram a importância da realização da história familiar
detalhada em todos os indivíduos que apresentem neoplasias malignas e
principalmente uma investigação detalhada em famílias que apresentem múltiplos
tumores em idade precoce. A SLF e a sua variante LFL são consideradas raras e sua
incidência não é estimada na população, mas deve-se considerar a possibilidade de
um sub-diagnóstico. O estudo detalhado das famílias ao longo do tempo pode
aumentar seu diagnostico, esclarecer o espectro tumoral e fornecer informações
importantes sobre a evolução e historia natural dos tumores apresentados. O
aconselhamento genético e o rastreamento preventivo irão fornecer as famílias o
suporte necessário para lidar com a doença e poderão diminuir significativamente o
impacto e a morbimortalidade relacionada com tal entidade.
89
6 CONCLUSÕES
Este estudo é a primeira descrição na América Latina da prevalência de
mutações germinativa no gene TP53 e dos perfis tumorais de famílias que
preenchem os critérios diagnósticos da SLF/LFL.
Foram detectadas mutações germinativas no gene TP53 em 13 famílias
brasileiras (28,9%) com o diagnóstico clínico da SLF/LFL dentre as 45
estudadas, representando 4,6% de todas as mutações já descritas na literatura.
A taxa de detecção de mutações nas famílias que preenchiam os critérios
clássicos da SLF foi de apenas 11% (1/9), valor menor do que o relatado na
literatura (50 a 70%).
As mutações germinativas no gene TP53 encontradas nas famílias com
diagnóstico clínico de LFL deste estudo aumentam em 10,2% o número de
todas as famílias LFL com a mutação detectada descritas no banco de dados
do IARC. Verificou-se a alta incidência de mutações nas famílias que
preencheram os critérios de Birch (41,8%) e os critérios de de Eeles (31,8%).
Todas as 13 mutações germinativas encontradas eram transições de G para A,
sendo que 12 (91,7%) eram do tipo missense e uma em sítio doador de
splicing do íntron 6.
A mutação no códon 245 (G245S) foi detectada em duas famílias distintas e
não relacionadas. Quatro outras famílias avaliadas apresentaram mutações
distintas nos códons 173 (V173M), 197 (V197M), 213 (R213Q) e 244
(G244D).
90
Uma mutação específica, R337H, foi detectada em taxas elevadas nas
famílias brasileiras com LFL, representando 46% (6/13) de todas as mutações
detectadas e 5,1% de todas as mutações já descritas em famílias LFL. As
famílias acometidas pela mutação R337H apresentaram amplo espectro
tumoral em diversas idades, demonstrando que esta mutação não está
relacionada somente ao desenvolvimento de tumores adrenocorticais na
infância, mas também com o desenvolvimento dos múltiplos tumores
envolvidos na síndrome.
As famílias brasileiras portadoras da SLF e LFL apresentaram tumores
incomuns ao espectro tumoral desta síndrome. A ocorrência de carcinomas
papilíferos de tireóide e carcinomas de células renais, tumores pouco
freqüentes na SLF e LFL, e de tumores de papila duodenal e mola
hidatiforme, nunca antes relacionados como parte do espectro, foram
descritos nas famílias brasileiras, indicando a necessidade de inclusão destes
tumores como foco no rastreamento dessas lesões.
91
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ANEXOS
Anexo 1 Artigo original em peródico: “Achatz MIW, Olivier, Vettore A, Hainaut P.
Cancer letters, in press; MS. Ref. No: CAN-D-05-00532R1. (aceito em 22 dezembro
de 2005).
THE TP53 MUTATION, R337H, IS ASSOCIATED WITH LI-FRAUMENI
AND LI-FRAUMENI-LIKE SYNDROMES IN BRAZILIAN FAMILIES
Maria Isabel Waddington Achatz
1,2
, Magali Olivier
3
, Florence Le
Calvez
3
, Ghyslaine Martel-Planche
3
, Ademar Lopes
4
, Benedito Mauro
Rossi
4
, Patricia Ashton-Prolla
5-6
, Roberto Giugliani
5-6
, Edenir Inez Palmero
6
,
Fernando Regla Vargas
7
, José Claudio Casali Da Rocha
2
, Andre Luiz
Vettore
1
and Pierre Hainaut
3
¾
.
1
Ludwig Institute for Cancer Research, São Paulo, Brazil;
2
Department
of
Oncogenetics, Hospital A.C. Camargo, São Paulo, Brazil;
3
Molecular Carcinogenesis
Group, International Agency for Research on Cancer, Lyon, France;
4
Department
of
Pelvic Surgery, Hospital A.C. Camargo, São Paulo, Brazil;
5
Hospital das Clínicas,
Porto Alegre, Brazil;
6
Department of Genetics, Federal University of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brazil;
7
Genetics Division, INCA, Rio de Janeiro, Brazil.
¾
To whom requests for reprints should be addressed: P. Hainaut, Molecular
Carcinogenesis Group, International Agency for Research on Cancer, 150 cours
Albert Thomas, 69372 Lyon Cedex 08, France. Phone (33)-4-72 73 84 62; FAX
(33)-4-72 73 83 22; E-mail : [email protected]
Anexo 2 Artigo de revisão em periódico: “TP53 gene and Li-Fraumeni syndrome”.
Achatz MIW and Hainaut P. Applied Cancer Research 2005; 25(2):51-57.
TP53 Gene and Li-Fraumeni Syndrome
REVIEW ARTICLE
Maria Isabel Waddington Achatz,
1
MD; Pierre Hainaut,
2
PhD
1 Department of Oncogenetics, A.C. Camargo Cancer Hospital – São Paulo, Brazil
2 Chief of Molecular Carcinogenesis Cluster, International Agency for Research on Cancer - Lyon, France
Correspondence
Maria Isabel Waddington Achatz
Department of Oncogenetics
A. C. Camargo Cancer Hospital
Rua Professor Antonio Prudente 211
01509-900 São Paulo, Brazil
Tel: 55 11 32725181 Fax: 55 11 32077001
Applied Cancer Research 2005; 25(2):51-57
ABSTRACT
Cancer is a disease that strikes most families and its
devastating effects bring suffering and instability to both
patient and family. Clustering of cancers in certain
families is even more devastating, leading medicine to
study its origin and ways to prevent it. Many cancer
syndromes have been identified due to the repeated
occurrence of specific tumors over a certain age-range.
The rare cancer predisposition Li-Fraumeni syndrome
(OMIM #151623; LFS) is transmitted in an autosomal
dominant pattern, which predisposes affected
individuals to an increased risk of developing a variety
of cancers at an early age, including childhood. The most
characteristic forms of cancers in LFS include soft-tissue
sarcoma, breast cancers, brain tumors, and adrenocortical
carcinomas. LFS is a dominantly inherited syndrome,
frequently associated with germline mutations in the
TP53 gene (OMIM #191170), which encodes protein p53.
This protein regulates cell cycle, apoptosis, DNA repair,
differentiation, senescence and development. Activation
of p53 prevents DNA replication and cell proliferation
when cells are subjected to stress that may disturb genetic
or genomic integrity. Thus, TP53 acts as a major tumor
suppressor gene by exerting simultaneous control on
many components of the molecular mechanisms of
carcinogenesis. Loss of p53 function may favor cancer
development and explains predisposition in germline
TP53 mutation carriers. This review will discuss the main
characteristics of TP53, its regulation, the consequences
of its inactivation in cancer, the germline TP53 mutation
related to Li-Fraumeni syndrome and strategies for
surveillance.
Key words: Li-Fraumeni syndrome. Genes, TP53. Genes,
p53.
INTRODUCTION
Almost every form of cancer in humans
has been reported to aggregate in families. The
occurrence of cancer clustering in certain families
is devastating, leading medicine to study its
origin and ways to prevent it. These familial
clusters could be inheritable mutated cancer-
susceptible gene, though other explanations
include odds association and exposure to
environmental carcinogens.
1
Cancer
predisposition syndromes have been identified
by the repeated occurrence of specific tumors
over a certain age-range.
In recent years, advances on novel
techniques of molecular genetics have located
and mapped some cancer-predisposing genes,
including the hereditary retinoblastoma (Rb)
gene, WT1 gene for Wilms’ tumor, the APC gene
of familial polyposis coli, BRCA 1 and 2 for
Familial Breast and Ovarian Cancer Syndrome
and the TP53 tumor suppressor gene in Li-
Fraumeni syndrome.
2
Li-Fraumeni syndrome is
an autosomal dominant disorder of multiple
cancers that are difficult to treat and often lethal.
This review discusses the main characteristics
of TP53, its regulation, the consequences of its
inactivation in cancer, the germline TP53
mutation related to Li-Fraumeni syndrome and
to the main perspectives in the cancer
management.
LI-FRAUMENI SYNDROME
In 1969, Li and Fraumeni reviewed
medical files and death certificates from children
with a histopathological diagnosis of
Applied Cancer Research, Volume 25, Number 2, 2005
rhabdomiosarcoma and found a high early onset
cancer incidence among their relatives.
3
They
presented different tumor types occurring over
a wide age range, including childhood cancer.
The first definition of the syndrome derived
from Li and Fraumeni’s work in 1988.
4
The Li-
Fraumeni syndrome (LFS; OMIM# 151623) was
then proposed as a cancer predisposition
syndrome and it was subsequently confirmed
by a series of epidemiological studies that
detected a similar tumor pattern among family
members.
5,6
It was characterized by the incidence of a
sarcoma, diagnosed before the age of 45 years,
associated with the presence of other early onset
tumors in first and second degree family
members, which included breast cancers, brain
tumors, and adrenocortical carcinomas (ADR)
(Table 1). Other cancers, such as leukemia, lung
cancer, skin melanoma, gastric, pancreatic, and
prostate cancer were also described to be
overexpressed in some families. In some cases,
germcell tumors, choroid plexus papilloma, and
Wilms’ tumor have been reported as part of the
spectrum. However, population-based data on
tumor incidence in Li-Fraumeni families are still
scarce and the exact spectrum of cancer diseases
is still a matter of debate. A number of families
present a tumor pattern that is reminiscent of
LFS without matching the classical criteria and
are termed Li-Fraumeni like (LFL)
7
(Table 2).
Several definitions of LFL have been proposed
(LFL-E1 and LFL-E2) (Table 3).
8,9
Table 1 - Clinical criteria for Li-Fraumeni syndrome
Proband with a sarcoma diagnosed before 45 years of age
AND
First degree relative with any cancer under 45 years of age
AND
First- or second-degree relative with any cancer under 45
years or sarcoma at any age
Table 2 - Clinical criteria for Li-Fraumeni Like
syndrome (Birch)
Proband with any childhood cancer or sarcoma, brain
tumor, or adrenocortical tumor diagnosed before 45 years
of age
AND
First- or second-degree relative with a LFS cancer (sarcoma,
breast cancer, brain tumor, adrenocortical tumor, or
leukemia) at any age
AND
First- or second-degree relative with any cancer under the
age of 60
LFS is a highly penetrant cancer
syndrome. A segregation analysis conducted on
families with LFS revealed 50% increased chance
to develop a tumor before 40-year old,
compared to 1% of the general population. It
has also demonstrated that 90% of the carriers
might present a tumor at the age of 60.
10
Cancer
patients in these families who survive the first
neoplasm are prone to develop second cancers,
particularly within the field of radiation
therapy. The most common childhood cancers
have been soft-tissue sarcomas in the first 5 years
of life and osteosarcomas in adolescence. Acute
leukemia and brain tumors also occur
throughout childhood and young adulthood,
whereas adrenocortical carcinomas occur
primarily in infancy. In young adults,
premenopausal breast cancer is, by far, the most
common neoplasm.
5
Clinically, the entire range
of cancers in the syndrome remains to be
defined.
Table 3 - Clinical criteria for Li-Fraumeni Like
syndrome (Eeles)
Eeles 1
Two different tumors that are part of extended LFS in first
or second degree relatives at any age (sarcoma, breast
cancer, brain tumor, leukemia, adrenocortical tumor,
melanoma, prostate cancer, pancreatic cancer);
Eeles 2
Sarcoma at any age in the proband AND two of the
following: (may be in the same individual)
Breast cancer at <50 years and/or brain tumor, leukemia,
adrenocortical tumor, melanoma, prostate cancer,
pancreatic cancer at <60 years or sarcoma at any age
The molecular basis of this familial
alteration remained unknown until its
connection to the TP53 tumor suppressor gene.
In 1990, five families who received a clinical
diagnosis of the Li-Fraumeni syndrome were
reported to show germline mutations in the TP53
tumor suppressor gene.
11
Subsequent studies
have found germline TP53 mutations in many,
but not all, Li-Fraumeni families.
12
The mutations
typically cluster in sequences that code for the
DNA binding domain of the p53 protein (see
below). These sequences are also the most
frequent sites for somatic TP53 mutations in
sporadic cancers. Failure to detect TP53
mutations in some families with LFS could be
due in part to the fact that mutations may occur
outside the coding, “hotspot” regions, thus
TP53 Gene and Li-Fraumeni Syndrome
52
Applied Cancer Research, Volume 25, Number 2, 2005
escaping detection by standard methods.
Another explanation is that the syndrome is
genetically heterogeneous, with TP53 mutations
accounting for only a fraction of Li-Fraumeni
families. Recent data show that 70% of LFS
families are attributable to germline mutations
in TP53, whereas 20% of LFL had a mutation
detected.
13
So far 280 families have been
identified as carriers of germline p53
mutations.
14,15
Despite intensive search, no other
gene has been hitherto associated with LFS/LFL.
Earlier reports that the CHK2 gene may carry
germline mutations have not been substantiated.
These mutations are now considered as common
polymorphisms that may be associated with
predisposition to breast cancer.
THE TP53 GENE
The TP53 tumor suppressor gene
(chromosome 17p13; OMIM#191170) encodes a
ubiquitous phosphoprotein involved in many
overlapping cellular pathways that control cell
proliferation and homeostasis, such as cell cycle,
apoptosis, and DNA repair. The coding
sequence contains five regions showing a high
degree of conservation in vertebrates, and
comprises 10 coding exons.
16
The gene contains
a very long 5' region containing a non-coding
exon 1 and intron 1 over about 10 kilobase pairs.
TP53 mutations appear to be an important
alteration in the complex process of
carcinogenesis being the most common site of
somatic mutations in human cancers. Somatic
TP53 genetic alterations are frequent in a variety
of human sporadic cancers, with frequencies
varying from 10% to 60%, depending on the
tumor type or population group. They are
particularly frequent in cancers associated with
exposure to environmental or occupational
carcinogens (e.g. lung cancers in smokers,
bladder cancers in exposed industry workers,
among other events). Overall, the types and
distribution of germline and somatic TP53
mutations are very similar, with a majority of
missense mutations in the DNA-binding domain
encoded by exons 4 to 9 of the TP53 gene.
17
Splice-site mutations, large deletions and
complex insertion-deletion may also be
found.
18,19
When present in the germline, TP53
mutation is considered a first-hit in Knudson’s
two-mutation model of hereditary cancer
development. However, the fate of the
remaining, wild-type allele during tumor
development is poorly understood. In some
instances, this wild-type allele is lost or mutated
in cancers, fulfilling Knudson’s paradigm. In
other cases, this allele persists, but its biological
activity seems to be extinguished, perhaps as
the result of overexpression and stabilization of
the product of the mutant allele. This hypothesis
is supported by biological evidence showing that
accumulation of mutant p53 protein can
inactivate wild-type p53 in a dominant-negative
manner. There is emerging evidence that the
nature and position of the germline mutation in
TP53 may, to some degree, determine cancer
phenotypes in affected carriers. For example,
mutations in a specific region of the DNA
binding domain encoding protein loops in direct
contact with DNA seems to carry a significantly
higher predisposition to brain cancers. In
contrast, mutations that predispose to adrenal
cortical tumors are frequently located outside
of the major “hotspots” area. Moreover, it is
most likely that other, still unknown genes may
act as modifiers, explaining the variations in
tumor patterns.
Recently, a specific germline mutation
falling into exon 10, encoding the
oligomerization domain of p53, R337H (CGC to
CAC at codon 337), has been reported in
Brazilian children with ADR but no documented
familial history of other cancers.
20,21
Structural
and functional studies have identified that
R337H mutant proteins had a pH-dependent
defect in the oligomerization domain, making
them inactive only in conditions of increased
intracellular pH. It was postulated that arginine
337 is located in the dimerization motif of the
p53 protein. Its replacement by histidine alters
hydrogen bonding between two p53 monomers
and hampers dimerization in a pH-dependent
manner. At pH 7, the histidine is protonated
and participates in hydrogen bonding. At pH 8,
however, the histidine is deprotonated,
preventing formation of the hydrogen bond.
22
This would result in disruption of p53 oligomers
and inactivation of its binding ability capacity
to bind with high affinity to p53-response
elements in the regulatory regions of p53-target
genes. The unusual prevalence of this mutation
in Brazilian families appears to be due to a
founder effect.
Achatz and Hainaut
53
Applied Cancer Research, Volume 25, Number 2, 2005
This observation has led to the speculation
that R337H may predispose to cancer
development only in tissues in which a rise in
intracellular pH is a major growth or survival
regulatory signal. Such a rise in pH occurs in
apoptotic cells and may play a role in the
extensive tissue remodeling that occurs through
selective apoptosis in adrenal cortical glands
during pre- and post-natal development. It was
postulated that this conditional mutant might
only predispose to a narrow spectrum of cancers
within the LFS spectrum. However, so far no
studies have reported whether this mutant is
also present in families that match LFS or LFL
definitions. Interestingly, the same mutant has
been described in a British family matching
LFS/LF criteria.
Over 15 polymorphisms are identified in
human population, with allele frequencies that
vary with ethnic origin.
23
One of them affects
the coding sequence at codon 72, specifying
either an arginine or a proline. The Arg allele is
the most common in the western population
(allele frequencies ranging from 0.6 to 0.8) but
the prevalence of the Pro allele seems to increase
according to a North-South gradient, so that
the Pro allele is the most frequent one near the
equator and in indigenous populations of the
Southern hemisphere.
24
Increasing evidence
states that this polymorphism may have a
functional impact on cancer susceptibility and
response to therapy.
25
Two genes related to TP53
have been identified on chromosome 1p36
(TP73, OMIM 601990) and on chromosome 3p28
(TP63, OMIM 603273). Both genes encode
proteins with high homology to p53 in terms
of overall structure.
26
To date, no association
has been found between these genes and familial
cancer.
P53 PROTEIN
After 25 years since first described, the
p53 protein has been shown to play a key role
in both tumor suppression and aging and it has
been one of the main targets on molecular cancer
research. The p53 protein is a transcription
factor constitutively expressed in most cell types
and tissues and activated in response to various
stress signals, in particular genotoxic stress. Due
to its rapid turnover (5-20 minutes) the protein
does not accumulate unless it is stabilized in
response to a variety of intracellular and
extracellular stimuli.
Signals that activate p53 include diverse
types of DNA damage (strand breaks, bulky
adducts, oxidation of bases), blockade of RNA
elongation, hypoxia, depletion of microtubules,
ribonucleotides or growth factors, modulation
of cell adhesion and alteration of polyamine
metabolism.
27
Oncogenic, genotoxic, and non-
genotoxic stress interact with main p53 co-
factors. The main regulator of p53 protein
activity is Mdm-2, a transcriptional target of
p53. The p53/Mdm-2 complex is regulated by
p14
Arf
(Alternative Reading Frame), a 14 kD
protein encoded by an alternative reading
frame of CDKN2A, the gene that encodes the
Figure 1 - Pathways of p53 activation
TP53 Gene and Li-Fraumeni Syndrome
54
Applied Cancer Research, Volume 25, Number 2, 2005
tumor suppressor p16 (Figure 1).
Once activated, p53 exerts its effects
through two major mechanisms: transcriptional
control (activation or repression of specific
genes) and interference with the function of
other protein through complex formation. Over
4800 genes have been identified as containing a
p53-response element in regulatory regions.
28
At
the cellular level, activation of p53 generally
induces either cell-cycle arrest (mostly in G1
and/or G2/M) or apoptosis. However, it must
be realized that apoptosis is the preferential
response in primary cells and that when cell-
cycle arrest is induced, it is generally a
permanent one, followed by cell senescence.
29
In other words, activation of p53 in a normal
cell generally results in its permanent deletion
from the pool of cells with proliferative capacity,
providing a drastic way for suppressing any cell
that carries a risk of oncogenic transformation.
These functional and biological features
provide a rationale to understand the
consequences of inheritance of a germline TP53
mutation. Subjects with only one functional TP53
allele are at high risk of developing multiple
cancers when the remaining allele becomes
inactivated by various mechanisms. Loss of p53
function would then create a form of “mutator
phenotype”, allowing cells to replicate damaged
DNA and accelerating their progression towards
cancer.
SURVEILLANCE
Both patients with clinical diagnosis of
LFS/LFL and TP53 carriers should be advised
to seek early medical attention for signs and
symptoms of cancer. There are no established
surveillance measures or widely agreed
guidelines for mutation screening and
management of LFS/LFL patients but
surveillance strategies have been suggested for
individuals at risk.
30
Patients should be aware
of the limitations of screening for many cancers
associated with the syndrome. Breast cancer is
the most common tumor found in women with
LFL/LFS and breast monitoring has been shown
to be effective in reducing morbidity or
mortality among individuals at risk. Training
and education in breast self-exam should be
addressed at age 18. Regular semiannual clinical
breast exams should be performed starting at
age 20 to 25, or 10 years before the earliest
known breast cancer in the family; or yearly
since younger age. Routine annual mammograms
and mammary ultrasounds should begin in
women over age 25 years, but have not been
proven to be beneficial for younger women with
LFS/LFL.
31
Controversy exists regarding the use
of routine mammograms because of possible
radiation sensitivity associated with TP53
mutations.
32
A specialist on a case-by-case basis
should address other investigational breast
imaging possibilities such as MRI, as wells as
shorter intervals.
Furthermore, LFS/LFL patients and their
possible carriers must receive targeted
surveillance based on individual family
histories. Due to the multitude of tumors that
are included in the syndrome, patients should
be educated regarding signs and symptoms of
cancer and complaints should be thoroughly
investigated. Annual comprehensive physical
exam starting in younger adults with suspicion
for rare tumors and second malignancies in
cancer survivors should be addressed.
Additional organ-targeted surveillance based on
family history is of great value, such as
colonoscopies at regular intervals if a relative
has had colorectal cancer. Full-body MRI
examination or PET scan has been suggested.
However, no evidence supporting the benefit
of such testing exists and it is possible that it
may lead to unnecessary biopsies or other
follow-up tests. Perhaps most importantly, at-
risk individuals and their physicians are urged
to pay greater attention to lingering symptoms
and illnesses, particularly headaches, bone pain,
or abdominal discomfort, and to schedule
diagnostic tests promptly.
Patients should receive genetic counseling
and advice about risk to relatives and possibility
of genetic testing. In 1992, an International
Consortium of clinicians and researchers
convened and developed recommendations
regarding genetic testing for germline TP53
mutations.
6
These recommendations state that
testing should be done voluntarily with
appropriate pre- and post-test.
For at-risk children, pediatricians should
be warned about the syndrome and apprised
of the risk of childhood cancer in affected
families. They must be evaluated on annual com-
plete physical examination and an additional
Achatz and Hainaut
55
Applied Cancer Research, Volume 25, Number 2, 2005
organ-targeted surveillance based on family
history should be considered.
30
Individuals with TP53 mutations should
avoid or minimize exposure to radiation
whenever possible.
33
The TP53 gene is
recognized as playing a crucial role in genomic
repair.
34
TP53-deficient mice are prone to early
formation of multiple, spontaneous cancers and
p53-deficient mouse cells have been shown to
be radiation sensitive and prone to cancer.
35
Radiation-induced second malignancies have
been reported among individuals with TP53
mutations.
36-38
A high incidence of exposure to
genotoxic agents, such as to pesticides, has been
reported in some families but to date, no
correlation has been established.
17
CONCLUSION
After 25 years of research and over 30 000
publications, studies on TP53 have had a major
impact on our understanding on cancer
molecular biology . The challenge for the years
to come is to turn this knowledge into advances
in cancer prevention, detection, prognosis and
therapy. New discoveries about the function and
control of p53 continue to emerge every month
and attempts to exploit the system to develop
better therapeutics and diagnostics are
beginning to be successful in clinics. Current
understanding of LiFraumeni syndrome and its
association with germline p53 mutations is
incomplete. Additional studies are needed for
cancer spectrum in the syndrome, the role of
environmental carcinogens in cancer
development among family members, possible
genetic heterogeneity and other methods, age-
specific penetrance of the mutant gene, and rare
p53 polymorphisms that might be mistaken for
functional mutations.
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Achatz and Hainaut
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Anexo 3 Capítulo de livro: “Síndrome de Li-Fraumeni”. Organizadores: Carlos Gil
Ferreira e José Cláudio Rocha. In: Oncologia Molecular (ISBN: 85-7379-692-8).
Editora Atheneu, 2004. 2005).
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
315
Síndromes de Câncer Hereditário
Simone Noronha da Silva
29.1
Síndrome de Câncer de Mama e Ovário Hereditários
INTRODUÇÃO
Dentre todos os casos de câncer de mama, cerca de 10 a
20% dos tumores são hereditários. O BRCA1 e o BRCA2 são
genes supressores de tumor descritos como causadores da
síndrome do câncer de mama e ovário hereditários (SMOH).
Além deles, acredita-se que existam outros genes envolvidos
na etiologia da SMOH, pois uma percentagem das famílias
com diagnóstico clínico presuntivo da síndrome não apresen-
ta mutações no BRCA1 ou BRCA2.
O reconhecimento de grupos de alto risco é fundamental
para que estratégias de rastreamento, diagnóstico precoce e
prevenção possam ser desenvolvidas e oferecidas a estas
famílias. Mulheres portadoras de mutações no BRCA1 e
BRCA2 têm um altíssimo risco de desenvolverem câncer de
mama e de ovário. Homens portadores de mutações no
BRCA2 possuem um risco aumentado de desenvolverem cân-
cer de mama e de próstata em idade jovem
2,8
. Descreve-se
também um aumento da incidência de outros tumores nas fa-
mílias com mutações no BRCA2 como melanoma e câncer de
pâncreas
3
. Assim, as famílias de alto risco necessitam de pro-
gramas de rastreamento e prevenção específicos, conforme
descrito na Tabela 29.1.1.
DEFINIÇÃO DA SÍNDROME DE CÂNCER DE
MAMA E OVÁRIO HEREDITÁRIOS (SMOH)
A definição de SMOH varia de instituição para insti-
tuição. De acordo com a NCCN (National Comprehensive
Cancer Network), disponível na Internet no sitehttp://
www.nccn.org/physician_gls/f_guidelines.html, os critérios
para diagnóstico presuntivo da síndrome são os seguintes:
Membro de uma família com diagnóstico de certeza de
SMOH.
História pessoal de câncer de mama e mais uma das
características abaixo:
Diagnóstico com menos de 40 anos, com ou sem his-
tória familiar.
Diagnóstico com menos de 50 anos, com um parente
próximo com câncer de mama ou câncer de ovário.
Diagnóstico em qualquer idade, com pelo menos dois
parentes próximos com câncer de ovário em qualquer
idade ou câncer de mama especialmente se um dos
casos for diagnosticado antes dos 50 anos ou se o
tumor for bilateral.
Diagnóstico de câncer de mama masculino em um pa-
rente próximo.
História pessoal de câncer de ovário.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
316
Se for descendente de Judeus Ashkenazi com diag-
nóstico antes dos 50 anos, mesmo sem história fami-
liar; ou em qualquer idade se houver história de cân-
cer de mama e ovário em parentes próximos.
História pessoal de câncer de ovário e mais uma das
características abaixo:
Um ou mais parentes próximos com câncer de ovário.
Um ou mais parentes próximos com câncer de mama
com menos de 50 anos ou com tumor bilateral.
Dois ou mais parentes próximos com câncer de mama.
Um ou mais casos de câncer de mama em homens.
Caso seja descendente de Judeus Ashkenazi, não é
necessária história familiar.
História pessoal de câncer de mama em homem e mais
uma das características abaixo:
Um ou mais parente próximo com câncer de mama (ho-
mem ou mulher).
Um ou mais parente próximo com câncer de ovário.
Caso seja descendente de Judeus Ashkenazi, não é
necessária história familiar.
Apenas história familiar:
Um ou mais parentes próximos que preenchem os cri-
térios acima.
Nesta classificação, considera-se como parentes próximos
os parentes de primeiro, segundo e terceiro grau e deve-se
levar em conta sempre o mesmo lado da família (materna ou
paterna). Como os critérios são muito abrangentes, uma aná-
lise cuidadosa da história familiar deve ser feita para se reduzir
o número de casos com diagnóstico falso-positivo.
CARACTERÍSTICAS E FUNÇÃO DOS GENES BRCA1
E BRCA2
O gene BRCA1 está localizado no cromossomo 17, sen-
do um gene grande que contém uma região codificadora com
5.592 pares de bases. O gene BRCA2 está localizado no cro-
mossomo 13, e é maior ainda que o BRCA1, tendo uma região
codificadora com 10.254 pares de bases.
A função dos genes BRCA1 e BRCA2 ainda não é com-
pletamente conhecida. Sabe-se que o BRCA1 participa do
processo de proliferação das células epiteliais de mamíferos
em resposta à estimulação hormonal, no processo de apop-
tose, controle da recombinação e manutenção da integrida-
de do genoma após ligar-se com proteínas relacionadas a es-
tas atividades. Há evidências da interação da proteína
BRCA1 com o Rad51, que estaria relacionado com a função
de manter a integridade do genoma celular
17
.
O gene BRCA2 atua como um supressor de tumores com
atividades relacionadas à ativação da transcrição assim como
envolvimento no sistema de reparo do DNA
17
. A proteína
BRCA2 também interage com o Rad51
e a proteína Dss1. O
complexo BRCA2 e Dss1 se liga à hélice simples de DNA e
isto pode ser a maneira de transportar o Rad51 até os pon-
tos onde haja defeitos no DNA
16
.
MUTAÇÕES FUNDADORAS
Algumas mutações são altamente prevalentes em popu-
lações específicas, e são conhecidas como mutações funda-
doras. Estas mutações ocorreram há muito tempo (talvez sé-
culos) e se mantêm restritas até hoje a um determinado gru-
po étnico por motivos geográficos ou religiosos. Os judeus
Ashkenazi são o melhor exemplo disto, e possuem três mu-
tações fundadoras bem conhecidas que são 185 delAG e
538insC no BRCA1 e 6174delT no BRCA2
10
, porém cerca de
20% destes indivíduos são portadores de outras mutações
deletérias que não estas
6
. Na população holandesa, foram
descritas três mutações fundadoras que são grandes dele-
ções no BRCA1
15
. É interessante notar que grandes deleções
ou translocações não são diagnosticadas pelo método de
seqüenciamento, o que pode ser responsável pelo grande
número de famílias com diagnóstico clínico de SMOH, porém
sem a detecção de mutações no BRCA1 ou BRCA2.
Quando se pesquisa a presença de mutações em um gru-
po étnico onde as mutações fundadoras são muito prevalen-
tes, pode-se iniciar a pesquisa por elas para, em um segun-
do momento, caso não estejam presentes, fazer-se o estudo
do restante do gene.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 apresentam carac-
terísticas clínicas diversas, e estas características podem
orientar por qual gene deve-se iniciar a pesquisa de muta-
ções.
Mulheres portadoras de mutações no BRCA1 têm o ris-
co de 85% de desenvolvimento de câncer de mama até os 70
anos e 63% de risco de desenvolvimento de câncer de ová-
Tabela 29.1.1
Recomendações para Famílias Portadoras da Síndrome de Câncer de Mama e Ovário Hereditários
13
.
Orientação quanto ao teste genético e risco familiar.
Auto-exame das mamas a partir dos 18 anos.
Exame médico semestral a partir dos 20 anos (exame das mamas).
Mamografia a partir dos 25 anos (anual ou semestral).
Rastreamento anual para câncer de ovário a partir dos 30 anos.
Orientação quanto medidas preventivas (mastectomia profilática, ooforectomia profilática, tamoxifeno).
Orientação quanto ao exame das mamas em homens.
Rastreamento precoce para câncer de próstata.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
317
rio
11,14
. Os tumores causados por mutações no BRCA1 apre-
sentam uma maior incidência de receptores de estrógeno e
progesterona negativos e p53 positivos
12
. Mulheres portado-
ras de mutações no gene BRCA2 têm um risco de 85% de de-
senvolvimento de câncer de mama até os 70 anos e 27% de
risco de desenvolvimento de câncer de ovário
11,14
. Homens
portadores de mutações no gene BRCA2 têm aumento de in-
cidência de câncer de mama e estudos sugerem que também
exista um aumento na incidência de câncer de próstata
6,8
. As
mutações no BRCA2 estão presentes em cerca de 10% das
famílias com câncer de pâncreas hereditário, ou seja, famíli-
as com pelo menos dois parentes de primeiro grau com cân-
cer de pâncreas e que não preenchem os critérios para diag-
nóstico de outras síndromes hereditárias
9
.
Está descrito que há um efeito antecipatório no surgimen-
to dos tumores relacionados à SMOH, ou seja, a cada gera-
ção os tumores tendem a surgir em idade mais jovem. Em al-
guns casos de famílias de alto risco, recomenda-se que os
exames de rastreamento sejam iniciados dez anos antes do
caso mais jovem de câncer que ocorreu na família, devido a
este efeito antecipatório.
ACONSELHAMENTO GENÉTICO
O aconselhamento genético e a avaliação de risco são fei-
tos baseados na história pessoal e familiar do indivíduo, e
devem levar em conta não só dados referentes a tumores ma-
lignos porque algumas síndromes são caracterizadas por al-
terações benignas associadas às neoplasias.
Durante o processo de avaliação, alguns dados são su-
gestivos de que haja um componente hereditário na etiologia
dos tumores em determinada família: casos de câncer de in-
divíduos jovens, vários casos de câncer na família, agrupa-
mento de tumores raros. Além disto, existem outras síndro-
mes com alta incidência de câncer de mama que devem ser
lembradas no momento da análise do caso. A Tabela 29.1.2
resume alguns destes diagnósticos diferenciais.
Durante o processo de aconselhamento genético e ava-
liação de risco, podemos estimar a probabilidade de um indi-
víduo ser portador de uma mutação deletéria ou de vir a de-
senvolver câncer através de modelos matemáticos. Alguns
modelos como o modelo de Gail
7
e o modelo de Claus
4
foram
desenhados para a estimativa do risco de desenvolvimento
de câncer de mama. Já o BRCAPRO
1
, por exemplo, foi desen-
volvido para estimar a probabilidade de que o indivíduo seja
portador de uma mutação. Cada um destes modelos matemá-
ticos tem suas limitações e vantagens, e por isto a avaliação
do risco de cada indivíduo deve ser feita por um profissional
que esteja familiarizado com eles e que possa decidir qual o
melhor método a ser usado em cada caso. Além de modelos
matemáticos, existem também tabelas com a prevalência de
mutações em determinadas populações, que podem ajudar na
estimativa da probabilidade de o indivíduo ser portador de
uma mutação.
Indivíduos com alta possibilidade de serem portadores de
mutações devem ser orientados quanto à possibilidade de
realização do teste genético, seus riscos, benefícios e limita-
ções. Indivíduos considerados de alto risco, mas que por
qualquer motivo não façam o teste genético ou que recebem
resultados inconclusivos ou indeterminados do teste, devem
ser acompanhados como portadores de mutações.
Mulheres com alto risco para desenvolverem câncer de
mama, mesmo que consideradas como tendo baixa probabi-
lidade de portarem uma mutação, devem receber recomenda-
ções quanto às medidas de diagnóstico precoce e prevenção.
Tabela 29.1.2
Diagnóstico Diferencial entre SMOH e outras Síndromes de Predisposição Genética ao Câncer de Mama e Ovário de
Acordo com Tumores Apresentados na Família
13
Associação de tumores tipicamente relacionados ao
BRCA1
e
BRCA2
- Câncer epitelial de ovário em qualquer idade.
- Câncer de mama e de ovário em uma mesma pessoa.
- Câncer de mama em homens.
- Carcinomatose peritoneal como sítio primário e câncer de tuba uterina.
Outros tumores e diagnóstico diferencial com outras síndromes
- BRCA1
: colo-retal, melanoma, leucemia, linfoma.
- BRCA2: pân
creas, próstata, estômago, colo-retal, cabeça e pescoço, linfoma, melanoma.
- Li-Fraumeni (gene TP53):
qualquer caso de câncer de mama em idade jovem ( 25 anos) em uma família com sarcoma, tumor
cerebral, leucemia, linfoma, carcinoma de laringe, carcinoma de cortical da adrenal.
- Síndrome de Cowden (gene PTEN): qualq
uer caso de câncer de mama em idade jovem ( 25 anos) em família com história de
patologia benigna ou maligna de tireóide, meningeoma, leiomioma, câncer de endométrio; lesões características de pele como pápulas
faciais múltiplas, queratose acral e palmoplantar, triquelimomas faciais, lipomas subcutâneos. Hamartomas do cólon e doença mamária
benigna são achados comuns desta síndrome.
- Síndrome de Peutz-Jeghers
(gene
LKB1/STK11
): máculas pigmentadas nos lábios, mucosa oral, conjuntiva, área periorbital e
dedos. Os pacientes também apresentam múltiplos pólipos intestinais hamartomatosos, alguns dos quais com achados
adenomatosos, mas não há evidência suficiente para uma associação com câncer colo-retal. Existe um aumento do risco para
câncer de intestino delgado, principalmente duodeno, e também tumores do cordão sexual, melanoma, câncer de pâncreas, câncer
gástrico e câncer de mama. Alterações germinativas no gene
STK11/LB1
têm sido identificadas em algumas famílias.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
318
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Benedito Mauro Rossi
29.2
Câncer Colo-retal Hereditário sem Polipose  HNPCC
INTRODUÇÃO
O câncer colo-retal (CCR) é o sexto em incidência no Bra-
sil. Se considerarmos apenas a região Sudeste é o segundo
mais freqüente no homem e o terceiro na mulher
1
.
Não existem dados sobre a incidência da síndrome de
câncer colo-retal hereditário sem polipose (do inglês,
hereditary non-polyposis colon cancer ou HNPCC, também
conhecida como síndrome de Lynch) no Brasil. Porém, se
considerarmos a literatura internacional, esse número está
entre 3 e 12% de todos os casos de CCR
7,10
.
GENES ENVOLVIDOS
O HNPCC é causado pela ocorrência de mutação germi-
nativa transmitida de forma autossômica dominante em um
dos genes de reparo do DNA: hMSH2 (2p16); hMLH1
(3p21); hPMS1 (2q31-33); hPMS2 (7p22); hMSH6/GTBP
(2p16). Mais recentemente, relatos de outros genes de repa-
ro envolvidos têm sido descritos, como o hMSH3
4,6
.
Os genes de reparo agem como controladores de qualida-
de, mantendo a fidelidade do DNA na divisão celular, por
meio de mecanismos que identificam, retiram e corrigem os
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
319
erros nas seqüências de bases. Esses erros podem ocorrer
por pareamento errado entre as bases ou por falha da enzi-
ma DNA polimerase, causando alças de inserção/deleção de
bases (IDLs). As IDLs ocorrem por deslizamento errôneo da
enzima na fita molde de DNA, geralmente em seqüências de
bases repetitivas, como, por exemplo, os microssatélites. Por
isso, mais de 90% dos pacientes com CCR em famílias de
HNPCC apresentam instabilidade de microssatélites (do in-
glês, microsatellite instability ou MSI) nos tumores.
Dois grupos principais de proteínas estão envolvidos no
processo de reparo em humanos: mutSh e mutLh. O modelo
postulado para a correção dos erros consiste de três passos
básicos: reconhecimento do erro e formação do “reparosso-
mo”, degradação da fita de DNA contendo o erro, e, finalmen-
te, realização do reparo. Um primeiro heterodímero chamado
de hMutSa, formado por proteínas do grupo de homólogos
de mutS (MSH), hMSH2 e hMSH6, tem sua ação principal-
mente nos erros de pareamento entre as bases. Um segundo
heterodímero chamado de hMutSb, formado por hMSH2 e
hMSH3, também pode iniciar o processo; porém, com ação
principalmente nas IDLs. Por isso, os mecanismos de ação
desses dois heterodímeros são complementares
5
. O passo
seguinte nesse processo é desempenhado pela atividade da
enzima ATPase, codificada na metade carboxi-terminal dos
homólogos mutS. O ganho de um fosfato (ADP > ATP) no
heterodímero hMutSa causa uma mudança conformacional no
mesmo, transformando-o em uma espécie de braçadeira que
corre sobre a dupla fita de DNA a ser reparada (sliding
clamp) desempenhando assim sua função
3
. A proteína
hMSH6 parece ter papel fundamental nessa fase, que ainda
não é bem conhecida. Outras proteínas parecem também ser
parte do processo nessa fase, como as provenientes dos ho-
mólogos mutL (MLH) e dos PMS (postmeiotic segregation),
além dos antígenos nucleares de proliferação celular (PCNA)
RPA e RFC, e das exo/endonucleases EXO1 e FEN1
5
. Outro
heterodímero chamado hMutLα, formado pelas proteínas
hMLH1 e hPMS2, também parece estar envolvido com o me-
canismo de reparo, assim como o hMutLβ (proteínas hMLH1
e hPMS1); porém, ainda com mecanismos de ação pouco es-
clarecidos em humanos
6
. Caso os mecanismos de reparo não
sejam suficientes para corrigir os erros de replicação do DNA,
a maquinaria de apoptose é ativada, levando a célula à mor-
te
2
.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
O diagnóstico do HNPCC é clínico. Por isso, médicos que
lidam com pacientes portadores de CCR e tumores relaciona-
dos ao HNPCC devem conhecer as características clínicas da
doença.
As principais características do HNPCC são
7
:
Diagnóstico de câncer em idade precoce, em torno dos
47 anos de idade;
CCR com predominância pelo lado direito do cólon,
em torno de 70% dos casos;
Associação com CCR metacrônico, em torno de 45%
em dez anos, se houver cólon remanescente após a
primeira cirurgia;
Associação com tumores extracolônicos, incluindo
adenocarcinoma de endométrio, intestino delgado, es-
tômago e ovário, e carcinoma de células transicionais
de vias excretoras renais.
Além das características clínicas descritas, alguns acha-
dos anátomo-patológicos do CCR em HNPCC são comuns,
tais como: células em anel de sinete, componente mucinoso
e predomínio de lesões indiferenciadas.
Em 1991, com a intenção de padronização internacional
do diagnóstico clínico de HNPCC, o Grupo Colaborativo In-
ternacional (ICG/HNPCC) publicou os chamados Critérios de
Amsterdam I
11
(Tabela 29.2.1).
Os Critérios de Amsterdam I tiveram aceitação internacio-
nal e são de extrema valia para a padronização do diagnósti-
co clínico de HNPCC. Porém, também foram criticados pela
exclusão dos tumores extracolônicos. Por isso, em 1999, o
mesmo ICG/HNPCC acrescentou alguns tumores extracolôni-
cos nos Critérios iniciais
12
, chamados agora de Critérios de
Amsterdam II (Tabela 29.2.2).
Tumores de estômago e ovário não foram incluídos, se-
gundo os autores, por sua baixa incidência dentro da síndro-
me. É interessante notar que não há menção sobre a neces-
sidade do diagnóstico de CCR dentro de uma família para o
diagnóstico do HNPCC, bastando o preenchimento dos Cri-
térios de Amsterdam com tumores extracolônicos.
Claro que o espectro de diagnóstico do HNPCC foi am-
pliado com os novos Critérios de Amsterdam; porém, ainda
existem algumas críticas, e a principal delas é relativa à difi-
culdade de diagnóstico clínico principalmente em famílias
pequenas, com poucos descendentes, fato comum na Euro-
pa, por exemplo. Nesses casos, para o diagnóstico clínico ser
realizado, teríamos que esperar muito tempo, retardando, por-
tanto, a orientação e o acompanhamento familiar.
Dentro desse enfoque, o Instituto Nacional de Câncer
dos Estados Unidos (NCI) já havia publicado, em 1997, os
Critérios de Bethesda
9
, não com o intuito de caracterizar o
diagnóstico clínico de HNPCC, mas sim de indicar a pesqui-
Tabela 29.2.1
Critérios de Amsterdam I
Pelo menos três membros de uma mesma família com CCR.
Um dos membros parente em primeiro grau dos outros dois.
Pelo menos duas gerações acometidas.
Pelo menos um dos membros com CCR e idade menor que 50
anos.
Exclusão de polipose adenomatosa familiar.
Tabela 29.2.2
Critérios de Amsterdam II
Mesmos Critérios de Amsterdam I.
Adenocarcinoma de endométrio.
Adenocarcinoma de intestino delgado.
Carcinoma de células transicionais de vias excretoras renais.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
320
sa molecular da síndrome, por meio de MSI, em pacientes com
suspeita HNPCC, com ou sem antecedentes familiares. A pes-
quisa de MSI serve como um teste de rastreamento, para
posterior seqüenciamento dos principais genes de reparo
(MMR) nas famílias onde estiver presente, pois a instabilida-
de, como já vimos, ocorre na grande maioria dos casos de
HNPCC (Tabela 29.2.3).
INDICAÇÃO DE TESTES DE PREDISPOSIÇÃO
Pacientes com preenchimento dos Critérios de
Amsterdam para diagnóstico clínico de HNPCC, ou Critérios
de Bethesda e MSI, devem ter indicação de seqüenciamento
dos genes hMLH1 e hMSH2. Se estes forem normais, também
devem ter a indicação do seqüenciamento de hMSH6.
O primeiro teste de predisposição dentro de uma família
com diagnóstico clínico de HNPCC deve ser realizado em um
indivíduo com tumor (probando), de preferência o mais jovem
da família. Esse procedimento deve ser realizado porque, se
a família tem o diagnóstico clínico de HNPCC e aquele mem-
bro é portador de câncer, é nele que temos a maior probabili-
dade de detecção da mutação, ou seja, se a mutação for
detectável, será nesse indivíduo
7
. Seguindo ainda nesse
exemplo, se a mutação for detectada nesse indivíduo, teremos
um resultado positivo do teste genético, com uma família clí-
nica e molecularmente caracterizada como HNPCC. Nessa si-
tuação, poderemos pesquisar a mesma mutação, característica
dessa família, nos demais membros, e diagnosticar quais os
indivíduos assintomáticos, mas portadores da predisposição
ao câncer. Com isso, a indicação da realização dos exames de
seguimento fica restrita aos portadores de mutação nestes ge-
nes de predisposição. A penetrância descrita em HNPCC é em
torno de 80%, e essa é a probabilidade de o genótipo trans-
formar-se em fenótipo tumoral para os indivíduos portadores
da mutação
13
. Membros com teste negativo, ou seja, sem a pre-
disposição detectada na família, ficam liberados do seguimen-
to; porém, recomendamos uma colonoscopia a cada cinco
anos para esses indivíduos, principalmente após os 50 anos.
Se imaginarmos essa mesma família citada como exemplo,
mas sem a detecção da mutação nos genes de reparo no
probando (primeiro membro com câncer testado na família),
o teste de predisposição, nesse caso, é chamado de incon-
clusivo, pois não terá utilidade para rastrear os membros por-
tadores da predisposição e assintomáticos. Nessa situação,
a família continua sendo caracterizada clinicamente como
HNPCC, mas com teste de predisposição inconclusivo.
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES E SUAS
FAMÍLIAS
O seguimento de famílias com diagnóstico clínico de
HNPCC e com teste de predisposição inconclusivo, ou sem
o teste, deve ser realizado em todos os membros, pois todos
os descendentes são suspeitos de portarem a mutação pre-
disponente. Em famílias com mutação já identificada, somente
os membros portadores da mutação devem ser seguidos com
o programa especial de rastreamento. O seguimento deve ser
realizado com base nas seguintes orientações
7
:
Colonoscopia com um a dois anos de intervalo, com
início entre os 20-25 anos;
Ultra-sonografia transvaginal anual, com início entre
os 25-35 anos;
Ultra-sonografia abdominal e pélvica anual, com iní-
cio entre os 25-35 anos;
Exame de urina tipo I e citologia urinária anual, com
início entre os 25-35 anos, principalmente nas famíli-
as com carcinoma de células transicionais de vias
excretoras renais;
Endoscopia digestiva alta com um a três anos de in-
tervalo, com início entre os 25-35 anos, principalmen-
te nas famílias com tumores gástricos;
Dosagem de CA-125 anual, com início entre os 25-35
anos, principalmente nas famílias com câncer de ovário.
CIRURGIA
O ponto mais importante na indicação de cirurgias em
pacientes com CCR e HNPCC é a conduta diferenciada com
relação a pacientes com CCR esporádico. Pacientes com
câncer de cólon e HNPCC devem ser submetidos à colecto-
mia total e anastomose ileorretal, independentemente da lo-
calização do tumor no cólon. Essa conduta é indicada de-
vido à alta probabilidade de o indivíduo desenvolver nova
lesão colônica no decorrer de sua vida. Esses indivíduos
devem fazer retoscopias regularmente, com um a três anos
de intervalo. Pacientes com câncer de reto e HNPCC devem
ser submetidos à proctocolectomia total, se possível com
preservação esfincteriana, utilizando-se bolsa ileal e anas-
tomose anal na reconstrução. No caso de comprometimen-
to esfincteriano pelo tumor, deve-se realizar a amputação
abdômino-perineal do reto e ânus juntamente com a colec-
tomia total, e uma ileostomia definitiva, que pode ser con-
tinente. Em casos de tumores extracolônicos, a cirurgia deve
obedecer aos padrões clássicos da cirurgia oncológica para
o órgão acometido.
Existe controvérsia sobre a cirurgia profilática, ou seja,
remover cirurgicamente um órgão morfologicamente normal
de um indivíduo sabidamente portador da predisposição ge-
nética ao câncer (com teste positivo). Nosso ponto de vista
é que essa não deve ser uma cirurgia com indicação rotinei-
ra, mas deve ser oferecida como uma opção de prevenção aos
indivíduos assintomáticos com teste genético positivo
8
. As
Tabela 29.2.3
Critérios de Bethesda
Paciente dentro de família de HNPCC pelos Critérios de
Amsterdam.
Paciente com CCR e menos de 45 anos.
Paciente com tumor extracolônico relacionado ao HNPCC e
menos de 45 anos.
Paciente com adenoma colo-retal e menos de 40 anos.
Atenção para CCR em jovens, indiferenciados ou com células
em anel de sinete.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
321
duas cirurgias profiláticas que podem ser indicadas atualmen-
te são
7
: colectomia total com anastomose ileorretal; histerec-
tomia total com salpingo-ooforectomia bilateral em mulheres
pós-menopausadas ou após a idade reprodutiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cia à Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa da inci-
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(HNPCC, Lynch syndrome) proposed by the International
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116:1453-6, 1999.
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Griffioen G et al. Cancer risk in families with hereditary
nonpolyposis colorectal cancer diagnosed by mutation
analysis. Gastroenterology, 110:1020-7, 1996.
Bernardo Garicochea
29.3
Polipose Adenomatosa Familial
INTRODUÇÃO
A Polipose Adenomatosa Familial (FAP) é uma síndrome
hereditária rara que afeta uma em cada 30 mil pessoas e está
associada a menos de 1% dos casos de câncer colo-retal. A
FAP caracteriza-se pela predisposição hereditária ao desen-
volvimento de centenas a milhares de adenomas que se lo-
calizam especialmente no cólon e no reto, mas que podem
desenvolver-se também no intestino delgado e no estômago.
Praticamente todos os portadores apresentam adenomas aos
35 anos e cerca de 90% dos casos não tratados desenvolvem
câncer aos 45 anos. Os pólipos podem ser detectados tão
precocemente quanto na primeira década de vida, mas fre-
qüentemente aparecem na faixa dos 16 anos.
A idade média para o diagnóstico de câncer colo-retal é de
39 anos e os tumores são distribuídos preferencialmente no
terço distal do cólon. Suspeita-se que de 20 a 30% dos casos
de FAP sejam representados por mutações novas. A detecção
cada vez maior de variantes atenuadas de FAP (i.e. dez a 100
pólipos em contraste com os milhares vistos na FAP clássica)
e de famílias em que os fenótipos da doença são distintos em
portadores reforça a impressão de que FAP é subdiagnosticada
quando se baseia exclusivamente em critérios clínicos
1
.
Pacientes com FAP têm risco sete vezes maior de desen-
volverem câncer no sistema nervoso central e mais da meta-
de dos pacientes apresenta adenomas na ampola duodenal,
e 10 a 12% destes desenvolverão carcinoma periampular. Não
associado a câncer — mas relevante na avaliação clínica des-
tes pacientes — são a hipertrofia congênita de epitélio pig-
mentado retiniano (CHRPE), as lesões benignas, como
osteomas e odontomas, e outras não tão benignas como os
tumores desmóides.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
322
O caráter mendeliano da FAP é conhecido há pelo menos
um século. No entanto, os primeiros avanços significativos
feitos para se compreender as bases moleculares desta sín-
drome foram feitos somente na década de 1980. Em 1986,
Herrera e col. detectaram uma deleção no braço longo do cro-
mossomo 5 em um paciente com Síndrome de Gardner, que
hoje é considerada como uma forma de FAP. Este achado não
foi uma simples coincidência: o final da década de 1980 foi
uma época de grandes avanços nas técnicas de cariotipagem
de tumores sólidos. Nos anos seguintes à descrição do caso
de Herrera, surgiram diversos relatos de anomalias cariotípi-
cas em FAP, localizando o provável gene da síndrome na re-
gião 5q22, marginalmente à junção da banda 5q21.
O próximo passo era definir-se com maior precisão o lócus
do gene da FAP. Dois estudos publicados quase simultane-
amente foram fundamentais para que esta região fosse encon-
trada. Em 1987, Bodmer e Leppert, utilizando-se de diversas
sondas de DNA para regiões com alta taxa de polimorfismo
do cromossomo 5, obtiveram o mesmo resultado. Entre vári-
os marcadores de DNA testados, um em especial, denomina-
do C11p11, apresentava uma alta taxa de ligação com a heran-
ça do fenótipo FAP. Rapidamente, outros marcadores com al-
tas taxas de ligação foram também identificados permitindo o
mapeamento físico da região onde estaria localizado o gene
da FAP.
Durante alguns anos, estes marcadores polimórficos que
flanqueavam o gene APC foram utilizados para teste genéti-
co visando a detectar-se aqueles indivíduos de uma família
com FAP que haviam herdado a cópia alterada do gene.
Como já se dispunha de diversos marcadores com alta taxa
de polimorfismo, esta forma de teste era altamente informati-
va, permitindo o diagnóstico correto de portador de FAP em
virtualmente todos os casos onde não havia recombinação
entre os marcadores testados.
Estas sondas de DNA, todavia, tinham limitações. A mais
importante dizia respeito à baixa sensibilidade do método para
diagnóstico pré-sintomático. As razões para este problema
eram muitas — altas taxas de recombinação entre os marcado-
res, um número substancial de pacientes com mutações novas,
heterogeneidade genética, e em alguns grupos estudados, uma
taxa elevada de mosaicismo e de paternidade adulterada —, o
que confundia a análise de herança dos marcadores.
A prática de se utilizar marcadores de DNA para diagnós-
tico pré-sintomático de FAP só seria abandonada quando o
gene que estes marcadores flanqueavam fosse identificado.
E isto ocorreu em 1991, quando (mais uma vez) dois grupos,
simultânea e independentemente, reportaram a caracterização
do gene responsável pela FAP e de mutações responsáveis
por aberrações na proteína codificada pelo mesmo. Este gene
foi denominado APC (Adenomatous Polyposis Coli) para
evitar confusão com a sigla FAP (Familial Amyloid
Polyneuropathy) que já era utilizada no léxico genético.
O GENE APC
O gene APC é extenso. A sua porção codificante é com-
posta por 15 éxons com uma fase aberta de leitura de 8.535
nucleotídeos. Duas formas de transcritos podem ser geradas
a partir do éxon 9 (splicing alternativo), uma composta por
100 aminoácidos a mais que a outra. O éxon 15 deste gene é
um dos maiores éxons descritos até o momento no genoma
humano. Composto por mais de 6.500 nucleotídeos, é neste
éxon que grande parte dos sítios funcionais da proteína APC
são codificados
2
.
A PROTEÍNA APC
O produto predito para a proteína APC tem cerca de três
mil aminoácidos e a sua estrutura sugere tendências à homo
e dimerização, localização citoplasmática e expressão ubíqua.
A função da proteína APC ainda não foi totalmente elucidada,
mas o estudo de proteínas que interagem com ela pode for-
necer pistas importantes sobre o seu papel biológico.
A proteína APC liga-se com grande afinidade à beta-
catenina e gama-catenina. Estas proteínas participam de me-
canismos de adesão celular, atuando nos complexos desmos-
sômicos e de junção aderente. Estes complexos ligam-se ao
domínio citoplasmático da E-caderina, uma proteína da famí-
lia das moléculas de adesão cálcio-dependentes responsável
pela adesão célula-célula. As cateninas formam uma ponte
entre as caderinas e o citoesqueleto. A proteína APC não é
encontrada no complexo caderina, mas a sua associação com
componentes desta estrutura sugere que um possível meca-
nismo oncogenético de mutações no gene APC seria via in-
teração intercelular aberrante.
Além de interagir com o complexo caderina, a proteína
APC parece ser capaz de modular os níveis de beta-catenina.
Em outras palavras, a proteína APC teria um papel regulató-
rio na expressão de elementos responsáveis pela adesão ce-
lular. Regulando a expressão da beta-catenina que também
atua como ativador transcricional, a proteína APC, mesmo
não tendo função direta nas vias de sinalização celular, teria
um papel importante indireto.
Estudos de transfecção celular também sugerem que a
proteína APC desempenha um papel importante na regulação
da proliferação celular. Nestes estudos, APC foi capaz de inibir
a progressão das células da fase G1 para S. O mecanismo
mais provável envolveria a regulação negativa da função de
CDK2, uma ciclina-quinase fundamental na progressão de G1
para S durante a divisão celular
3
.
Portanto, a perda da função da proteína APC implicaria a
perda do controle de algumas funções importantes para a cé-
lula e poderia explicar o fenótipo da doença. A produção de
vegetações do tipo polipóide poderia refletir a perda da regu-
lação intercelular por alteração na expressão de beta-cate-
nina; a proliferação descontrolada, etapa fundamental no pro-
cesso de malignização, poderia refletir a menor repressão fun-
cional de CDK2 com o conseqüente incremento na taxa de
progressão das células acometidas de G1 para S. Desta for-
ma, o gene APC funcionaria aos moldes de um gene supres-
sor de tumor, já que a perda da sua função reflete em vanta-
gem proliferativa e predisposição à célula acometida de aqui-
sição de novos eventos genéticos que conduzirão ao fenó-
tipo maligno pleno (adenocarcinoma).
Se mutações no gene APC provocam funcionalmente um
efeito do tipo gene supressor, a forma como o gene APC pro-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
323
move este efeito não ocorre nos moldes clássicos dos genes
supressores. Uma única cópia mutada é capaz de iniciar os
eventos proliferativos, ao contrário dos genes supressores
em que a perda da função do alelo restante é necessária para
comprometer a função da proteína. O mecanismo pelo qual o
alelo intacto restante não é capaz de contrabalançar o efeito
produzido pelo alelo mutado é conhecido como “dominante
negativo”. A explicação para este fenômeno ainda não é cer-
ta, mas presume-se que, pela forte tendência a funcionar sob
forma de dímeros e tetrâmeros, a proteína APC encurtada pela
truncagem provocada pela mutação, ao se polimerizar com a
proteína APC normal, afetaria a função do polímero como um
todo, desestabilizando-o.
MUTACÕES NO GENE APC
Cerca de 300 mutações diferentes já foram identificadas
até o momento no gene APC em famílias portadoras de FAP.
Entre as mutações já descritas, uma em cada três são dele-
ções; a minoria dos casos consiste em inserções ou mutações
de ponto. No caso das deleções e das inserções, ocorre des-
locamento na fase aberta de leitura (frameshift
), gerando um
códon de parada precoce que promove a truncagem da pro-
teína.
As mutações de ponto respondem por um quarto a um
quinto das mutações já identificadas no gene APC. Em 95%
dos casos, a substituição de uma base por outra gera direta-
mente um códon de parada (mutação non-sense) promoven-
do a truncagem da proteína de maneira similar à observada
com mutações por deleção e inserção. Apenas em 5% dos
casos as mutações de ponto são do tipo missense, ou seja, a
substituição de uma base por outra não produz códons de pa-
rada que interrompem prematuramente a proteína, mas sim pro-
teínas com estruturas distintas da conformação original — ape-
sar do mesmo número final de bases. A proteína traduzida pelo
gene mutante será disfuncional se envolver regiões que codi-
ficam domínios funcionais importantes ou se for capaz de ge-
rar aberrações substanciais na sua estrutura terciária
4
.
Menos de 3% das mutações descritas encontram-se em
sítios de splicing. Este tipo de mutação também produz
códons de parada com conseqüente truncagem da proteína
APC.
Cerca de 4% dos casos constituem-se em grandes dele-
ções no gene APC. Estas aberrações podem ser observadas
por estudos citogenéticos e por hibridização in situ fluores-
cente, já que ocorre perda de grande quantidade de material
genético envolvendo a região 5q22.
DISTRIBUIÇÕES DAS MUTAÇÕES NO GENE APC
Um quarto das mutações foi descrita entre os éxons 1 e
14, geralmente envolvendo códons para o aminoácido
arginina (CGA). A vasta maioria das mutações no gene APC
é encontrada no éxon 15, e freqüentemente em dois sítios cor-
respondendo aos códons 1061 (ACAAA del) e 1309
(AAAGA del). Estas duas aberrações respondem por pelo
menos 30% de todas as mutações já descritas no gene APC.
As demais mutações descritas no éxon 15 (40 a 50% do total
de mutações no gene APC) encontram-se concentradas na
metade 5´ do mesmo. Menos de dez mutações foram descri-
tas na metade 3´ do gene. A maioria das mutações encontra-
das no éxon 15 é do tipo frameshift ou com deslocamento de
fase de leitura.
O conhecimento da distribuição das mutações no gene
APC é importante na medida em que se pode definir uma es-
tratégia de detecção em casos novos. Ou seja, a busca da
mutação deve iniciar-se na metade 5´ do éxon 15, focalizan-
do-se preferencialmente os dois códons mais comumente
afetados. Todavia, é importante lembrar que uma grande par-
te das mutações fora destes hot-spots distribui-se em um
fragmento de 4.500 pares de bases, tornando a sua busca
uma tarefa complicada para fins de rotina diagnóstica.
Uma quantidade pequena de casos de FAP ocorre por
mecanismos variados de inativação do gene APC que não
implicam mutações ou deleções do gene APC. Por exemplo,
foram descritas famílias com FAP onde se detectou ruptura
da seqüência normal do gene APC por meio da inserção de
um transposon (seqüência de DNA móvel que geralmente se
posiciona em áreas silenciosas do genoma). Transcrição in-
suficiente do gene APC pode também ocorrer por metilação
aberrante do promotor. Finalmente, é possível que casos de
FAP ocorram por anomalias herdadas em proteínas que regu-
lam a função da proteína APC, sem afetá-la estruturalmente.
DETECÇÃO DE MUTAÇÕES NO GENE APC
A regra de ouro para detecção de mutações em APC é o
seqüenciamento físico do gene. Como as mutações podem
encontrar-se em regiões distintas do gene em cada família
com polipose, o seqüenciamento integral do gene APC tor-
na-se uma tarefa tecnicamente complicada. Portanto, foi ne-
cessário desenvolver tecnologias alternativas para a detec-
ção de mutações em APC, tais como análise de heteroduple-
xes (HA), ensaio de proteção de RNAse, polimorfismo de
conformação de fita simples (SSCP), método de clivagem quí-
mica e eletroforese em gel com gradiente desnaturante
(DGGE). O teste mais utilizado em diversos centros do mun-
do e que basicamente tornou-se o método padrão de rastrea-
mento de mutações em FAP, pela sua simplicidade e alta sen-
sibilidade, é o teste de truncagem de proteína (PTT).
A vasta maioria das mutações no gene APC descritas até
o momento gera uma proteína encurtada (truncada), destitu-
ída de domínios funcionais importantes codificados na por-
ção mais a 3´ da mutação. O teste da PTT baseia-se na tra-
dução in vitro de uma proteína a partir de um fragmento de
DNA, visando à determinação da presença de mutações que
produzam códons de parada, por meio de um artifício bastante
engenhoso. O DNA é obtido de linfócitos do sangue perifé-
rico do paciente com polipose. Diversas regiões de cerca de
mil pares de bases são então amplificadas por meio de PCR.
No primer senso foi adaptada uma seqüência idêntica ao sí-
tio de ligação da T7 RNA-polimerase seguida de um códon
de iniciação. Neste caso, a seqüência amplificada é codifica-
da para RNA e imediatamente traduzida para proteína com
aminoácidos radiomarcados. Este material é submetido a uma
corrida eletroforética e as proteínas truncadas podem ser
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
324
distinguidas, dado o seu padrão aberrante de migração, das
proteínas normais.
A associação de PTT com análise de heteroduplexes foi
capaz de detectar 70% das mutações em famílias portadoras
de FAP em uma população finlandesa. Deve-se levar em con-
ta que o laboratório que executou o estudo é especializado
nestas técnicas e que as famílias estudadas eram altamente
selecionadas, o que sugere que outros laboratórios talvez não
atinjam estas taxas tão expressivas de positividade. Conse-
qüentemente, parece claro que tanto PTT como HA podem
ser métodos interessantes para rastreamento, mas que efeti-
vamente não substituem o seqüenciamento ou, no caso de
grandes deleções ou duplicações, o método de Southern-
blotting
4
.
CORRELAÇÃO GENÓTIPO-FENÓTIPO
A transição de pólipos até o aparecimento de adenocar-
cinoma na FAP envolve ganho de aberrações genéticas de
forma seqüencial no epitélio cólico. Da mesma forma que nos
adenocarcinomas esporádicos, a geração de fenótipo malig-
no na FAP obedece à hipótese de Knudson, em que a aqui-
sição de danos em genes regulatórios importantes no epité-
lio cólico produz um fenótipo cada vez mais instável, predis-
pondo esta(s) célula(s) ao acúmulo progressivamente mais
rápido de aberrações genéticas e conseqüentemente perda da
homeostase. Dentre as alterações genéticas consistentemen-
te descritas nos casos de FAP estão mutações no proto-
oncogene K-RAS, e anomalias nos cromossomos 17 (TP53)
e 18 (DCC). Além da inativação do gene APC, que é o even-
to primário da FAP e um achado também precoce nos carci-
nomas esporádicos, o envolvimento dos genes acima suge-
re que as vias de malignização do epitélio cólico observadas
na FAP e nos carcinomas esporádicos são similares. A con-
clusão de que estes tumores de história mórbida tão distinta
apresentam interfaces biológicas comuns tem implicações te-
rapêuticas, já que tratamentos futuros para câncer colo-retal
direcionados para proteínas aberrantes ou não funcionantes
destas células poderiam ser aplicados igualmente para casos
esporádicos ou com FAP.
A heterogeneidade clínica e anátomo-patológica da FAP
tem recebido grande atenção nos últimos cinco anos devi-
do às descrições concordantes de casos cujo fenótipo cor-
responde a mutações em regiões específicas no gene APC.
Mutações entre os códons 1215 e 1464, região que corres-
ponde à porção mais 5’ do éxon 15, associa-se aos quadros
de polipose mais severos, com formação profusa de microa-
denomas. Na variante atenuada de FAP (síndrome do ade-
noma plano), as mutações têm sido descritas entre os éxons
1 e 4 ou na porção 3’ do éxon 15 (códon 1597). Em ambas
as situações, o teste de PTT é de difícil interpretação, já que
os produtos destas mutações são proteínas de tamanho tão
pequeno que não são identificáveis no teste, ou de tama-
nho similar ao produto normal, não podendo ser diferenciá-
veis deste no gel de SDS-PAGE. Um relato de caso recente
implicou a presença de doença desmóide em pacientes com
uma mutação que produziu alteração de fase de leitura no
códon 1924.
Não se constitui surpresa o fato de que mutações distin-
tas no gene APC causem fenótipos distintos. A abolição de
domínios importantes da proteína APC por conta de termina-
ção precoce da proteína determina uma maior ou menor ca-
pacidade funcional da proteína com efeitos biológicos corres-
pondentes. O fato mais importante, no entanto, refere-se ao
achado de que truncagens nas porções inicial ou terminal da
fase de leitura do gene produzam fenótipos atenuados simi-
lares. Esta constatação confirma as evidências de que a pro-
teína APC funciona via formação de polímeros. Mutações em
regiões a 5’ do gene produzem fragmentos incapazes de se
dimerizar com a proteína APC produzida pelo alelo normal e,
portanto, as proteínas produzidas pelo alelo intacto conse-
guem dimerizar-se praticamente sem competição. Esta situa-
ção é também vista em mutações nas porções terminais da
fase de leitura, ou seja, a proteína truncada não perdeu seus
domínios de dimerização e consegue produzir polímeros com
algum grau de funcionalidade. Esta hipótese não foi comple-
tamente comprovada, mas existem forte evidências que apon-
tam para este mecanismo como o mais provável na geração
de fenótipos atenuados
5
.
TESTE GENÉTICO PARA FAP, QUANDO E EM
QUEM FAZER?
Na prática, nem sempre é necessário estudar a mutação
do gene APC para se confirmar o diagnóstico de FAP em um
determinado paciente, uma vez que o quadro clínico associa-
do à história familiar definem a situação na maioria dos casos.
No entanto, em alguns casos, a análise mutacional pode ser
crucial para a definição diagnóstica. Como, por exemplo, em
casos de mutações novas com fenótipo atenuado. Nestes
casos, a ausência de história familiar e o número limitado de
pólipos dificultam o diagnóstico definitivo, tornando a iden-
tificação da mutação um elemento diagnóstico importante. A
análise mutacional de FAP pode ser útil também em casos de
diagnóstico diferencial de síndromes polipóides, como entre
a síndrome de Gardner e Peutz-Jehgers, em que, naquela, a
mutação encontra-se no gene APC, e, na última, a mutação
pode ser detectada no gene PJS.
Se a aplicação dos testes de DNA é limitada a algumas
situações no caso de diagnóstico de FAP, isto não é verda-
de no que diz respeito a diagnóstico pré-sintomático da doen-
ça. Em outras palavras, o teste permite definir que membros
da família herdaram o gene mutado e que, portanto, vão de-
senvolver a síndrome (e, por isso, apresentam alto risco para
câncer colo-retal). De uma forma geral, o teste inicial é feito
em um portador conhecido de polipose na família. Uma vez
encontrada a mutação, recomenda-se submeter cada familiar
de risco (primeiro grau) deste portador à análise de DNA.
Como a mesma mutação segrega na família, basta abordar-se
diretamente a região mutada, não havendo necessidade de se
analisar integralmente o gene APC, reduzindo-se tanto o tem-
po como o custo da análise.
A análise deve ser feita o mais precocemente possível.
Como a mutação no gene APC tem 100% de penetrância e vir-
tualmente todos os pacientes que a herdarem desenvolverão
câncer colo-retal, a importância da detecção precoce da mu-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
325
tação é tão importante para os não portadores como para os
portadores. Para os primeiros, porque o fato de estarem livres
da síndrome terá um impacto psicológico enorme, especial-
mente durante a infância. O fato de se saber não portador não
implica somente poder evitar controles periódicos com
colonoscopias ou outros exames endoscópicos, mas acima de
tudo remove um estigma de “ser doente” e de uma série de
temores que envolvem idéias de mutilação e morte.
Para os indivíduos da família que apresentam mutação
genética e são ainda assintomáticos, uma série de medidas
podem ser tomadas no sentido de melhorar a qualidade de
vida antes e após o surgimento dos sintomas. É recomendá-
vel que estes indivíduos sejam abordados por grupos multi-
disciplinares, e que sejam acompanhados pelo menos até o
início da adolescência por grupos de suporte que os auxili-
em a entender e conviver de forma adequada com a síndro-
me e suas conseqüências, especialmente a tediosa e incômo-
da vigilância endoscópica necessária
6
.
O acompanhamento endoscópico de indivíduos assinto-
máticos deve seguir-se indefinidamente, iniciando-se no iní-
cio da adolescência nos portadores de mutação ou em indi-
víduos em risco que não se submeteram a testes de DNA. Na
Tabela 29.3.1 é apresentado um programa de seguimento exe-
cutado por vários serviços. As idades de início de investiga-
ção e de periodicidade de exames são arbitrárias e se basei-
am em experiências de outros grupos, mas não se constituem
em paradigmas. Em casos de polipose atenuada, os contro-
les poderiam ser mais espaçados, assim como, em caso de fa-
mílias com alta incidência de câncer duodenal ou gástrico, o
rastreamento destes órgãos em portadores assintomáticos,
ou com polipose cólica já instalada, deve ser mais agressivo
6
.
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Tabela 29.3.1
Programa de Seguimento de Membros de Famílias com FAP
Exame Início Periodicidade Objetivo
Retossigmoidoscopia ou colonoscopia 12-14 anos A cada 18 meses Identificar polipose
Gastroscopia Ao diagnóstico A cada três anos em casos Prevenção de câncer de
com pólipos gástricos estômago e duodeno
Avaliação oftalmológica Ao diagnóstico A cada três anos Identificar CHRPE
Maria Isabel Waddington Achatz
29.4
Síndrome de Li-Fraumeni
INTRODUÇÃO
Em 1969, Li e Fraumeni revisaram 280 prontuários e 418
atestados de óbito de crianças que tiveram o diagnóstico de
rabdomiossarcoma, analisando a historia familial destes pa-
cientes. Verificaram que cinco famílias dentre as estudadas
apresentavam irmãos ou primos de 1
o
grau com diagnóstico
de sarcoma na infância, um aumento significativo de casos de
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
326
câncer de mama em idade jovem, alm N.R.: ??? de outras neo-
plasias, tais como leucemia aguda, tumores de sistema nervo-
so central e carcinoma de pulmão, pâncreas, adreno-cortical
e pele nas famílias estudadas. A partir destas observações,
os autores propuseram uma nova síndrome de câncer fami-
lial relacionada a diversos tumores — a Síndrome de Li-
Fraumeni(LFS)
6
.
A LFS é uma síndrome rara de predisposição ao câncer
com caráter autossômico dominante com alta penetrância.
Estima-se que pacientes com esta síndrome apresentem 50%
de chance de desenvolver tumores antes dos 30 anos de ida-
de, comparados a 1% na população geral e que 90% dos por-
tadores desenvolvam câncer até 70 anos de idade
8
. Portado-
res que desenvolveram tumor na infância são mais susceptí-
veis ao desenvolvimento de tumores secundários. Observa-
se também maior incidência de tumores secundários em re-
giões tratadas por radioterapia. O risco aparenta ser maior em
mulheres, em parte devido ao alto risco de desenvolvimento
de câncer de mama
12
.
Diversos tipos de tumores malignos estão diretamente
relacionados a LFS (Tabela 29.4.1), tais como sarcoma, leuce-
mia, tumores do sistema nervoso central, tumores adreno-cor-
ticais, e câncer de mama de início em idade jovem. Deve-se
relacionar ainda outros tipos de câncer que são freqüentes
em famílias com LFS, dentre eles melanoma, tumores de cé-
lulas germinativas, tumores gástricos e tumor de Wilms, e
outros em casos individuais de LFS, como pâncreas, pulmão,
laringe, próstata e linfomas. Famílias que não apresentam a
expressão completa do fenótipo clássico da síndrome são
denominadas Li-Fraumeni-like (LFL) ou Li-Fraumeni varian-
te
2
(Tabelas 29.4.2 e 29.4.3).
QUADRO CLÍNICO E CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A anamnese e história familial de pacientes que desenvol-
veram câncer infantil devem ser sempre minuciosas, buscan-
do outros casos de câncer na família. O diagnostico clínico
da LFS é definido a partir de um probando que apresentou
sarcoma na infância ou em idade jovem (antes dos 45 anos),
associado a um parente de primeiro grau com qualquer cân-
cer em idade jovem (antes dos 45 anos) e a outro parente de
primeiro ou segundo grau que tenha o diagnóstico de cân-
cer em idade jovem (antes dos 45 anos) ou sarcoma em qual-
quer idade
7
(Tabela 29.4.2).
A LFL é definida pelo diagnóstico no probando de qual-
quer câncer infantil ou sarcoma, tumor cerebral ou carcinoma
adreno-cortical em idade jovem (antes dos 45 anos), associado
a um parente de primeiro ou segundo grau com câncer típico da
síndrome de Li-Fraumeni (sarcoma, câncer de mama, câncer do
sistema nervoso central, carcinoma adreno-cortical ou leucemia)
em qualquer idade e um parente de primeiro ou segundo grau
com qualquer câncer antes dos 60 anos (Tabela 29.4.3).
Outro critério diagnóstico mais abrangente foi proposto
por Eeles, definindo a LFL a partir de dois parentes de primei-
ro ou de segundo grau com câncer relacionado a LFS em qual-
quer idade
4
. Cabe ainda ressaltar a existência de pacientes que
por si próprios preenchem os critérios para LFS ou LFL, as-
sociado ou não a outros casos de câncer na família. Estes
pacientes preenchem todos os critérios acima descritos a par-
tir de uma história pessoal de múltiplos cânceres e são con-
siderados pacientes Li-Fraumeni ou Li-Fraumeni-like.
O GENE TP53
O gene envolvido na LFS e LFL é o gene supressor de
tumor TP53, que codifica a proteína p53. Mutações germina-
tivas no gene TP53 foram encontradas em aproximadamente
77% da LFS clássica e entre 40 a 20% das famílias com LFL,
podendo chegar a 8%
14
. O risco de câncer em portadores da
mutação germinativa mostrou-se mais alto no sexo feminino,
em parte devido à maior incidência de câncer de mama em ida-
de jovem. A exposição à radiação ionizante, radiação gama,
a raios UV, agentes oxidantes, drogas citotóxicas e agentes
químicos causadores de câncer aumentam o risco de tumo-
Tabela 29.4.1
Tumores mais Freqüentemente Associados a LFS e LFL
Tumores infantis Sarcoma
Leucemia
Tumor do sistema nervoso central
Câncer adreno-cortical
Tumor de Wilms
Tumores em adultos Câncer de Mama
Melanoma
Tumor de células germinativas
Câncer gástrico
Câncer de pâncreas
Câncer de pulmão
Câncer de laringe
Câncer de próstata
Linfoma
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
327
res. Outros agentes mutagênicos e carcinogênicos são fon-
tes atuais de estudos
9
. Suspeita-se de que haja ainda o en-
volvimento do gene CHEK2, que agiria como gene de sus-
ceptibilidade alternativa na LFS, porém recentemente levan-
taram-se dúvidas quanto à real participação deste gene
11
.
Mutações germinativas no gene CHEK2 foram encontradas
em apenas algumas famílias com LFS e LFL, no entanto sua
relação direta com a síndrome ainda não está confirmada.
A proteína p53 foi descoberta há 20 anos, e inicialmente
era considerada como um produto de um oncogene. No final
dos anos 80, verificou-se que esta propriedade devia-se a
apenas algumas formas mutantes do gene, enquanto o gene
selvagem, ou wild type, tinha a capacidade de suprimir a
transformação de um tumor, seja ele in vitro ou in vivo. Em
1990, o gene TP53 foi apontado como gene candidato, uma
vez que mutações foram detectadas nos pacientes com LFS.
Dois anos mais tarde, foram produzidos camundongos
nocauteados (trp53) ou knock-out, que são animais modifi-
cados geneticamente portadores dessas mutações. Os camun-
dongos apresentaram desenvolvimento normal, porém de-
senvolveram tumores múltiplos em idade precoce. Em estu-
dos mais recentes, os camundongos homozigotos trp53 tive-
ram morte precoce devido a linfomas enquanto heterozigotos
tiveram alterações fenotípicas, apresentando exencefalia, gas-
trosquise, polidactilia, edema cefálico e fenda palatina, sen-
do mais freqüente em fêmeas. Além disso, os tumores mais
verificados foram linfomas tímicos, sarcomas, carcinomas de
mama e bexiga
15
.
O papel do gene TP53 na regulação do ciclo celular e sua
participação direta no controle da apoptose é determinante,
recebendo por isso a denominação de “guardião do geno-
ma”
3
. O TP53 é um gene supressor de tumor localizado no
braço curto do cromossomo 17 (17p13.1), com 20kb e contém
11 éxons, e o primeiro não codificador. O gene TP53 huma-
no codifica uma proteína de 393 aminoácidos, a p53. A pro-
teína p53 liga-se a seqüências específicas de DNA e age
como fator de transcrição dos genes reguladores do cresci-
mento celular. A proteína p53 é rapidamente convertida a sua
forma ativa sob a ação de fatores que destroem o DNA. A
proteína p53 está inativa na maior parte de cânceres humanos
devido à mutação do gene TP53 ou por ação de proteínas
virais. Assim como em tumores esporádicos, a perda de he-
terozigosidade levando à inativação do alelo selvagem ocorre
nos tumores LFS.
Mais de 18 mil mutações pontuais foram detectadas, sen-
do 97% somáticas e 3% germinativas e são predominante-
mente do tipo missense, principalmente transições guanina
para adenina, porém todos os tipos de mutações podem ocor-
rer: mutações non-sense, deleções frameshift ou inserções de
seqüências repetidas. Há um caso de mosaico de LFS descrito
na literatura
5
.
Para seqüenciamento do gene, considera-se
como hot spot a região entre os éxons 5 e 8, no entanto deve-
se procurar a mutação em todos os éxons. O gold standard
para detecção das mutações pontuais é o seqüenciamento
direto de DNA genômico de todos os éxons, incluindo os sí-
tios de splicing.
CORRELAÇÃO GENÓTIPO-FENÓTIPO
Mutações germinativas no gene TP53 não são específi-
cas quanto a algum órgão-alvo ou célula-alvo. No entanto,
verifica-se o agrupamento de certos tumores, tais como tumo-
res gástricos no Japão e tumores adreno-corticais na região
da periferia de Curitiba, no Brasil
10
. As famílias brasileiras
apresentaram mutações no códon 337, nunca antes descrita
na literatura, em 35 crianças dentre as 36 estudas, não sen-
do identificado efeito fundador. Acredita-se que esta muta-
ção germinativa específica ocorreu devido à alteração do pH
em células adrenais apoptóticas no período pré- e pós-natal,
o que levou à inativação do TP53. Famílias com mutações do
tipo missense apresentaram tumores mais precocemente
1
.
Es-
tudos com famílias LFS, correlacionando os tipos de mutação
germinativa e os tipos de tumores encontrados, seriam
elucidativos.
RASTREAMENTO
O acompanhamento de famílias com história sugestiva de
LFS deve ser realizado como medida preventiva para o desen-
Tabela 29.4.2
Critérios Diagnósticos da Síndrome de Li-Fraumeni
Sarcoma na infância ou em idade jovem (antes dos 45 anos).
Parente de primeiro grau com qualquer câncer em idade jovem (antes dos 45 anos).
Parente de primeiro ou segundo grau que tenha o diagnóstico de câncer em idade jovem (antes dos 45 anos) ou sarcoma em
qualquer idade.
Tabela 29.4.3
Critérios Diagnósticos da Síndrome de Li-Fraumeni-
like
Câncer na infância ou sarcoma, tumor do sistema nervoso central ou câncer adreno-cortical antes dos 45 anos.
Parente de primeiro grau ou segundo grau com câncer típico da síndrome de Li-Fraumeni (sarcoma, câncer de mama, tumor do
sistema nervoso central, câncer adreno-cortical ou leucemia) em qualquer idade e parente de primeiro ou segundo grau com qualquer
câncer antes dos 60 anos.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
328
volvimento de possíveis tumores. Inicialmente, deve-se rea-
lizar um heredograma detalhado da família, tomando-se o cui-
dado de comprovar o tipo de tumor do paciente e dos fami-
liares por meio de laudo anátomo-patológico ou relatório mé-
dico. Uma vez preenchidos os critérios descritos anteriormen-
te, deve-se desenvolver um programa personalizado de ras-
treamento em parentes de primeiro e de segundo grau, mes-
mo assintomáticos. Pacientes com história pregressa de ou-
tros tumores devem ser avaliados não só para o aparecimento
de recidivas, mas também para novos tumores primários. De-
vido à diversidade de tumores passíveis de aparecimento na
síndrome, cada família deve ser avaliada inicialmente nos sí-
tios tumorais acometidos em outros membros da família.
Deve-se também investigar, por meio de exames periódicos,
o aparecimento dos tumores já descritos para LFS. O acom-
panhamento deve ser periódico, com realização de exames de
imagem.
O teste genético, feito através do seqüenciamento do
gene TP53, é indicado para pacientes que preencham os cri-
térios diagnósticos clínicos da LFS e LFL. Após detecção da
mutação, o exame deve ser oferecido aos familiares previa-
mente submetidos a aconselhamento oncogenético. No en-
tanto, até o presente, o seqüenciamento do gene TP53 não
é feito rotineiramente, e o seu estudo é oferecido apenas em
alguns centros de pesquisa.
PERSPECTIVAS
O diagnóstico da síndrome de Li-Fraumeni é de grande
importância clínica para a prevenção de neoplasias em famí-
lias que apresentam constitutivamente mais propensão ao seu
desenvolvimento. Como constitui uma entidade clínica pou-
co conhecida, é muitas vezes confundida com um agrupa-
mento casual de tumores ou mesmo com outras síndromes
genéticas, como a síndrome de mama e ovário hereditário,
quando mais se um familiar apresenta câncer de mama. O
diagnóstico correto desta síndrome vai permitir a detecção de
pacientes que apresentam alto risco para apresentar tumores
e que necessitam de rastreamento sistemático. Ao mesmo
tempo, através do aconselhamento genético, os familiares
serão informados do risco de transmissão à prole e estimu-
lados a sensibilizar o maior número de familiares possível.
Com isso, será possível avaliarmos os indivíduos assintomá-
ticos, poupando-os muitas vezes, devido à detecção preco-
ce, de complicações futuras. A importância do atendimento
multidisciplinar deve ser ressaltada, incluindo geneticista,
oncologista clínico, cirurgião, assim como avaliação psicoló-
gica e acompanhamento feito por enfermeira geneticista.
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FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
329
Mariana Morais Cajaiba
29.5
Síndromes de Cowden e Bannayan-Riley-Ruvalcaba
INTRODUÇÃO
A síndrome de Cowden é caracterizada pela predisposi-
ção a lesões hamartomatosas e neoplasias benignas e malig-
nas; tem herança autossômica dominante com mutações ger-
minativas encontradas no gene supressor de tumor PTEN
(10q22-23). Portadores da síndrome de Bannayan-Riley-
Ruvalcaba compartilham características fenotípicas da síndro-
me de Cowden e também apresentam mutações germinativas,
algumas idênticas, no gene PTEN. As duas síndromes são
consideradas por alguns autores como variação fenotípica
de uma mesma entidade (PTEN-Defined Syndromes ou
PTEN-Hamartoma Tumor Syndrome). Ambas são segrega-
das por herança autossômica dominante; a síndrome de
Cowden tem incidência estimada de 1:200.000 (provavelmente
subestimada)
4,7,9
.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
Clinicamente, a síndrome de Cowden apresenta lesões
mucocutâneas características, consideradas marcadores clí-
nicos da síndrome; tratam-se de triquilemomas faciais, pápu-
las de mucosa oral (fibromas) e lesões hiperqueratósicas de
extremidades. Os portadores da síndrome apresentam um ris-
co elevado em relação à população geral para o desenvolvi-
mento de neoplasias malignas, principalmente de mama e de
tireóide, e também é descrito câncer de endométrio, rim e
colo-retal. O carcinoma mamário, principalmente do tipo duc-
tal, é a neoplasia maligna mais relatada na síndrome, acome-
tendo até 50% das mulheres portadoras, com tumores bilate-
rais em um terço dos casos. Também estão presentes lesões
benignas de mama e tireóide, pólipos de trato gastrointesti-
nal, alterações ósseas, genitourinárias e neurológicas
2,3,6
. Os
achados clínicos descritos na síndrome estão sumarizados na
Tabela 29.5.1. A síndrome de Cowden mostra penetrância
completa aos quarenta anos de idade, com manifestações
presentes geralmente no início da terceira década de vida,
aparentemente acometendo mais mulheres do que ho-
mens
3,4,8,9
.
Já a síndrome de Bannayan-Riley-Ruvalcaba é descri-
ta como a associação de macrocefalia, múltiplos lipomas
(subcutâneos e viscerais), hemangiomas viscerais e de
partes moles, polipose gastrointestinal geralmente florida,
lentiginose de genitália externa (considerada uma das le-
sões mais marcantes da síndrome), retardo mental leve e
atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. As manifes-
tações geralmente ocorrem na infância, mas podem estar
presentes já ao nascimento, e são relatados casos de ma-
crossomia fetal. Inicialmente, a síndrome não foi conside-
rada como de risco elevado para desenvolvimento de neo-
plasias, assim como não constitui parte do espectro clíni-
co da síndrome a presença de alterações mucocutâneas
floridas como na síndrome de Cowden, porém são relata-
dos casos onde estas alterações estão presentes, além de
casos de bócio e fibroadenomas de mama, câncer de mama
e tireóide
5,7,8
.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
O diagnóstico da síndrome de Cowden é clínico, basea-
do em critérios bem definidos (Tabela 29.5.2)
7
que devem ser
pesquisados em todos os casos suspeitos.
Para se estabelecer o diagnóstico clínico da síndrome de
Bannayan-Riley-Ruvalcaba, é necessária a presença de ao
menos três dos quatro achados clínicos a seguir, considera-
dos os mais característicos da síndrome: macrocefalia, lenti-
ginose de genitália externa, lipomatose e hemangiomas
5,7
.
O GENE PTEN
O gene supressor de tumor PTEN está localizado em
10q22-23, contém nove éxons e codifica uma fosfatase cito-
plasmática com 403 aminoácidos. A principal ação desta fos-
fatase é a desfosforilação do segundo mensageiro PIP3
(fosfoinositol 3,4,5 trifosfato), inibindo a proteina AKT, uma
proteína-quinase responsável pela tradução de sinais de so-
brevivência e proliferação celulares e inibição de apoptose.
Assim, mutações deletérias na proteína PTEN levam à eleva-
ção nas concentrações intracelulares de AKT, com indução
de proliferação celular e inibição de apoptose
9
. Nas síndro-
mes de Cowden e Bannayan-Riley-Ruvalcaba, são descritos
em PTEN os seguintes tipos de mutações germinativas: de
ponto missense e non-sense, inserções e deleções frameshift,
e mutações em sítios de splicing; também já foram descritas
deleções grosseiras envolvendo todo o gene. A maioria das
mutações descritas nas duas síndromes leva à proteína
truncada, com perda ou redução da função. O éxon 5 é apon-
tado como região de hot-spot por conter a maior parte (30 a
40%) das mutações deletérias descritas, e é a região que co-
difica o cento ativo da enzima fosfatase; em seguida ao éxon
5, os éxons 7 e 8 apresentaram grande parte das mutações
deletérias
1,9
.
No gene PTEN, também foram encontradas mutações so-
máticas em tumores esporádicos (carcinomas de endométrio,
ovário, próstata, mama, rim e tireóide, astrocitomas e melano-
mas)
9
.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
330
CORRELAÇÕES GENÓTIPO-FENÓTIPO
A expressão das duas síndromes é bastante variável, e,
conforme dito acima, muitos dos casos descritos na literatu-
ra apresentam características de ambas as síndromes
5,7,8
. Fo-
ram encontradas mutações idênticas em famílias com diagnós-
ticos distintos de síndrome de Cowden e de Bannayan-Riley-
Ruvalcaba, e também foram descritas famílias que comparti-
lham os fenótipos das duas síndromes
1,7-9
.
A maioria dos pacientes do sexo feminino com síndrome
de Bannayan-Riley-Ruvalcaba que apresentou mutações ger-
minativas em PTEN (principalmente mutações levando à pro-
teína truncada) e desenvolveu fibroadenomas e/ou câncer de
mama, características da síndrome de Cowden mais relatadas
também em pacientes portadores desta com mutações iden-
tificadas. Também foi encontrada associação entre mutações
em PTEN e fenótipo de lipomatose; não foi possível estabe-
lecer uma relação fenótipo-genótipo para outras lesões, ma-
lignas e benignas, nas duas síndromes
7,9
.
De um modo geral, as mutações germinativas em PTEN
são mais freqüentes em famílias com síndrome de Cowden ou
com sobreposição das duas síndromes, e menos freqüentes
Tabela 29.5.1
Achados Clínicos mais Freqüentemente Descritos na Síndrome De Cowden
Pele
- Triquilemomas (principalmente face).
- Queratoses acrais (incluindo
pits
palmo-plantares).
- Fibromas (principalmente mucosa oral).
- Lipomas.
- Hemangiomas.
Tireóide
- Bócio multinodular.
- Adenomas.
- Carcinoma não medular (principalmente subtipo folicular).
Mama
- Doença fibrocística.
- Fibroadenomas.
- Hiperplasia ductal.
- Ginecomastia (homens).
- Hipertrofia virginal.
- Papilomas.
- Alterações de aréola e mamilos.
- Carcinoma ductal.
Trato digestivo
- Pólipos acometendo todo o tubo digestivo (hiperplásicos, hamartomatosos, inflamatórios, adenomatosos).
- Carcinoma colo-retal.
Sistema nervoso
- Doença de Lhermitte-Duclos (gangliocitoma cerebelar displásico).
- Retardo mental.
- Meningioma (geralmente associado à doença de Lhermitte-Duclos).
Trato genitourinário
- Irregularidades menstruais.
- Leiomiomas.
- Malformações uterinas/ureterais.
- Adenocarcinoma de endométrio.
- Adenocarcinoma de células renais.
Osteoarticular
- Macrocefalia.
- Pectus excavatum.
- Cistos ósseos.
- Palato arqueado.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
331
em famílias com fenótipo apenas de síndrome de Bannayan-
Riley-Ruvalcaba
4,7-9
. As mutações no éxon 5 foram mais fre-
qüentemente relacionadas à síndrome de Cowden e ao fenó-
tipo de neoplasia, sugerindo papel importante desta região na
função supressora de tumor do gene
8,9
. Devido a maioria de
as mutações germinativas estarem localizadas na porção C-
terminal do gene ou 5’ em relação ao centro ativo da enzima
fosfatase (éxons 5, 7 e 8), foi sugerido que esta região do
gene seria responsável por um fenótipo mais grave
7,9
.
RASTREAMENTO CLÍNICO E GENÉTICO
Não há consenso quanto aos exames de seguimento para
afetados, sua periodicidade e idade de início, assim como exa-
mes de rastreamento para suspeitos. A literatura sugere exa-
mes de tireóide (clínico e ultra-sonografia) e dermatológico
anualmente após os dezoito anos ou cinco anos antes do pri-
meiro caso de câncer de tireóide na família, e avaliação anu-
al de mamas (mamografia e/ou ultra-sonografia) após os trinta
anos ou cinco anos antes do primeiro caso
2,4
.
A indicação de teste genético (através do seqüenciamen-
to do gene PTEN) para confirmação de diagnóstico nas sín-
dromes de Cowden e/ou Bannayan-Riley-Ruvalcaba deve ser
feita em indivíduos que preencham os critérios diagnósticos
clínicos e em indivíduos com ao menos um parente de primeiro
grau afetado (seguindo os mesmos critérios). Após detecção
da mutação, o exame deve ser oferecido aos parentes de pri-
meiro grau adultos assintomáticos, previamente submetidos
a aconselhamento oncogenético e a termo de consentimen-
to informado, para excluirmos pacientes não-portadores do
processo de rastreamento e oferecermos acompanhamento
adequado aos portadores.
CONCLUSÃO
A importância clínica da síndrome reside principalmente
no risco elevado de desenvolvimento de neoplasias e possi-
bilidade de transmissão à prole, sendo necessário rastreamen-
to cuidadoso de indivíduos em risco e aconselhamento ge-
nético oncológico. Neste aspecto, o teste molecular preditivo
tem grande importância ao identificar os portadores, apresen-
tando sensibilidade de 13 a 80% segundo a literatura para a
síndrome de Cowden e aproximadamente 60% para a síndro-
me de Bannayan-Riley-Ruvalcaba
7-9
. É também importante o
reconhecimento das síndromes de Cowden e Bannayan-
Riley-Ruvalcaba como variações de um mesmo fenótipo, pes-
quisando alterações características de ambas nos pacientes
suspeitos, e levando em consideração o provável risco para
desenvolvimento de neoplasias na síndrome de Bannayan-
Riley-Ruvalcaba
5,7,9
.
Tabela 29.5.2
Critérios para Diagnóstico da Síndrome de Cowden
Critérios Patognomônicos Critérios maiores Critérios Menores
Lesões mucocutâneas Carcinoma de mama Outras lesões de tireóide (ex.: adenoma ou bócio
Triquilemomas faciais Carcinoma de tireóide (não medular) multinodular
Queratoses acrais especialmente carcinoma folicular Retardo mental ( QI 75)
Pápulas papilomatosa Macrocefalia (megalencefalia) Hamartomas gastrointestinais
Lesões mucosas Doença de Lhermitte-Duclos Doença fibrocística da mama
Carcinoma endometrial Lipomas
Fibromas
Tumores genitourinários (ex.: carcinoma de células
renais, fibróides uterinos ou malformações
Diagnóstico operacional em um indivíduo
1. Apenas lesões mucocutâneas se:
a) Seis ou mais pápulas faciais, das quais três devem ser triquilemomas ou
b) Pápulas cutâneas faciais e papilomatose de mucosa oral ou
c) Papilomatose de mucosa oral e queratoses acrais ou
d) Seis ou mais queratoses palmo-plantares
2. Dois critérios maiores, sendo um macrocefalia ou doença de Lhermitte-Duclos
3. Um critério maior e três menores
4. Quatro critérios menores
Diagnóstico operacional em uma família com um indivíduo diagnóstico
1. Critérios patognomônicos
2. Qualquer critério maior com ou sem critérios menores
3. Dois critérios menores
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
332
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Marilza Cristina Legrazie Ezabella
Adriana Bezerra Nunes
Delmar Muniz Lourenço Junior
Sergio Pereira de Almeida Toledo
29.6
Neoplasias Endócrinas Múltiplas
INTRODUÇÃO
As neoplasias endócrinas múltiplas são classificadas em
dois grupos: tipo 1 (NEM1) e tipo 2 (NEM2). São síndromes
complexas hereditárias caracterizadas pela ocorrência de dis-
túrbios proliferativos diversos no tecido endócrino, varian-
do desde hiperplasia até adenoma e carcinoma.
As glândulas envolvidas mais comumente nestas sín-
dromes são a paratireóide, a hipófise, o pâncreas, as célu-
las parafoliculares da tireóide e a supra-renal. Postula-se
que os tipos celulares envolvidos nos referidos tumores
tenham um precursor embriológico comum no neuroecto-
derma.
As síndromes da neoplasia endócrina múltipla são
transmitidas de modo autossômico dominante, mas pode
haver uma variabilidade considerável na penetrância e in-
cidências específicas do tumor entre famílias. As dosa-
gens hormonais são usadas em conjunto com as caracte-
rísticas clínicas no diagnóstico desses distúrbios. Agora
que alguns dos genes associados foram mapeados, exis-
te a possibilidade de usar o teste genético para aprimorar
o diagnóstico dos tumores endócrinos hereditários. Esta
revisão irá descrever os principais aspectos clínicos e os
avanços recentes no seu entendimento e estratégias tera-
pêuticas.
NEOPLASIA ENDÓCRINA MÚLTIPLA TIPO 1
CONCEITO
A Neoplasia Endócrina Múltipla Tipo 1 (NEM1) é doença de
ocorrência familiar ou pode apresentar-se como um caso “de
novo”, ocorrendo igualmente em todas as etnias, raças, áreas
geográficas e em ambos os sexos. A NEM1 é transmitida por um
padrão de herança autossômico dominante com elevada pene-
trância e expressividade clínica variável
13
. Os aspectos clínicos
e gênicos desta patologia foram recentemente revistos
11
. O diag-
nóstico clínico da NEM1 nos casos-índice requer o reconheci-
mento de tumores em pelo menos duas das três glândulas en-
dócrinas-alvo principais (paratireóide, pâncreas endócrino/duo-
deno e hipófise). Para o diagnóstico de NEM familiar, é neces-
sário o reconhecimento de um caso de NEM1, com, no mínimo,
um parente em primeiro grau com tumor em pelo menos uma des-
tas três glândulas endócrinas-alvo já citadas. Tumores neuro-en-
dócrinos tímico/brônquicos e das glândulas adrenais (tumores
não-secretores) também podem estar presentes
3,12
.
ETIOLOGIA
O gene da NEM1 foi clonado e seqüenciado em 1997
4
,
está localizado no cromossomo 11, tem 9Kb e dez éxons, e
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
333
tanto o éxon 1 como 832 bases do éxon 10 não são traduzi-
dos. O gene MEN1 codifica transcrito de 2,8Kb correspon-
dente à proteína menin, expressa em vários tecidos, de loca-
lização intranuclear, composta de 610 aminoácidos, não apre-
sentando homologia com qualquer outra proteína já conhe-
cida e que interage diretamente com o fator Jun-D
1
. Cerca de
300 mutações germinativas e/ou somáticas no gene MEN1
foram descritas, não havendo hot-spots ou qualquer correla-
ção genótipo-fenótipo. A maioria das mutações são non-
sense ou frameshift, gerando uma proteína anômala e com
perda de sua função supressora tumoral
2,7
(Fig. 29.6.1).
QUADRO CLÍNICO
Hiperparatireoidismo
O hiperparatireoidismo (HPT) é a manifestação clínica
mais freqüente da NEM1 (80-100%) e sua primeira manifesta-
ção clínica em 85 a 100% dos casos
15
. O HPT/NEM1 difere do
HPT esporádico por ser de aparecimento mais precoce, apre-
sentar hiperplasia das quatro glândulas, não ter preferência
sexual, estar associado a outros tumores e ter freqüente re-
cidiva pós-cirúrgica. Seu diagnóstico não difere do HPT iso-
lado
3
. O tratamento definitivo é cirúrgico; duas abordagens
são utilizadas: paratireoidectomia total seguida por auto-en-
xerto e paratireoidectomia subtotal, mantendo tecido
paratireóideo viável em região cervical
3,11
.
Tumores Neuroendócrinos Pancreáticos
São a segunda lesão mais freqüente na NEM1 com pre-
valência em rastreamento clínico variando de 30 a 75%
3
.
Gastrinoma
São tumores secretores de gastrina, podendo ser esporá-
dicos ou relacionados a NEM1. Cerca de 25% dos casos são
relacionados a NEM1
3
. É o tumor pancreático mais freqüen-
te na NEM1, com penetrância de 30-50% aos 50 anos de ida-
de. São malignos em pelo menos 60% dos casos. Os associa-
dos a NEM1 são considerados menos malignos que os espo-
rádicos. O gastrinoma/NEM1 apresenta múltiplas tumorações
pancreáticas, têm apresentação duodenal em 70% dos casos
e é mais precoce
13
. Um terço dos casos apresenta associação
de hipersecreção ácida gástrica (> 15mmol/hora) e hipergas-
trinemia (gastrina > 1.000pg/ml). Os dois terços restantes te-
rão valores intermediários gastrinemia (100-1.000pg/ml). Nes-
tes casos, a realização de testes funcionais provocativos
(secretina, infusão de cálcio e refeição-padrão) são úteis no
estabelecimento do diagnóstico
13
. No tratamento do
gastrinoma/NEM1, tem-se como fundamental: 1) a utilidade
do uso dos bloqueadores do receptor H-2 (para gastrinomas)
e dos análogos da somatostatina para vários tumores neu-
roendócrinos pancreáticos, na prevenção da morbidade desta
doença; 2) o tratamento cirúrgico é controverso devido à
multiplicidade de nódulos e à malignidade destes tumores;
seu estadiamento com exames de imagens é dependente da
escolha da intervenção cirúrgica
3
.
Insulinoma
É o segundo tumor pancreático mais prevalente (35%) na
NEM1
3
. Uma pequena minoria (< 10%) de pacientes com
insulinoma está relacionada a NEM1
13
. Eventualmente, pode
ser a primeira manifestação clínica de NEM,
11
usualmente é
multifocal, enquanto a forma esporádica em 90% é solitária.
Não há diferenças no diagnóstico clínico e laboratorial de
insulinoma/NEM1 e insulinoma esporádico
11
.
Adenomas Hipofisários
Os tumores hipofisários relacionados a NEM1 usualmen-
te são detectados entre 17 e 65 anos com predomínio na quar-
ta década, não diferindo assim dos tumores esporádicos (13-
75 anos). Em geral, menos de 5% dos adenomas hipofisários
e 2 a 3% dos prolactinomas são relacionados a NEM1
13
. Po-
dem ser a primeira manifestação clínica de NEM1 em 10 a 25%
dos casos
3,11
. A prevalência de tumores hipofisários na
Fig. 29.6.1
— Representação esquemática do gene MEN1. As áreas escuras representam porções do gene não traduzidas. Mutações
de 47 famílias com NEM1 e oito casos de NEM1 “
de novo
” são ilustrados, sendo 13 mutações
frameshift
e 11
non-sense
(acima do
diagrama) e três deleções
in-frame
e 13
missense
(abaixo do diagrama). Mutações em NEM1 “
de novo
” estão indicadas com asteris-
co. Oito mutações na NEM1 familiar foram encontradas mais de uma vez (modificado de Agarwal e col, 1997)
2
.
313delC*
357del4
416delC
K120X*
512delC
W183X
W198X
713delG
735del4
Q260X*
W265X*
S308X
Y312X
Y323X
1132delG
1202del2*
1280del G*
W436X
R460X
1484del8
1509Ins2
1650delC, 1650InsC
R527X
P12L
L22R
K119del
H139D, H139Y*
F144V
A160P
A176P
A242V
L286P
A309P
T344R
E363del
D418del
W436R
F447S*
10
9
8
7
65
4
3
2
1
100bp
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
334
NEM1 é variável. O diagnóstico de adenomas hipofisários/
NEM1 segue os mesmos padrões dos adenomas esporádi-
cos
13
. Os prolactinomas são os mais freqüentemente associa-
dos a NEM1 (76%), seguidos por somatropinomas (8%), de
ACTH (6%) e adenomas não-funcionantes (6%)
13
. Os tumo-
res relacionados a NEM1 diferem dos esporádicos por apre-
sentarem menor incidência de adenomas secretores de gona-
dotrofinas e de adenomas cromófobos; pela maior incidência
de prolactinomas e de adenomas plurihormonais; e por serem
multicêntricos
13
. O tratamento dos tumores hipofisários na
NEM1 não difere daquele empregado para tumores hipofisá-
rios esporádicos
3
.
Tumor Carcinóide Tímico e Brônquico
A maioria dos estudos revela uma incidência de 7% de
tumor carcinóide na NEM1. Quando consideramos os tumo-
res carcinóides tímicos em geral, observa-se que 25% deles
são relacionados a NEM1, o que sugere que todo paciente
com tumor carcinóide tímico deveria ser rastreado para
NEM1. O grau de malignidade dos tumores carcinóides brôn-
quicos é de 26%, não diferindo dos esporádicos (22%). Os
tumores carcinóides tímicos, tanto esporádicos quanto rela-
cionados a NEM1, apresentam elevado grau de malignidade
(90%). O tratamento de escolha é a cirurgia
13,16
.
RASTREAMENTO CLÍNICO
Recentemente, um protocolo de rastreamento clínico foi
sugerido, já considerando a descoberta do gene e o rastrea-
mento gênico dos familiares sob risco de NEM1. Este proto-
colo é direcionado a indivíduos portadores de mutação ger-
minativa no gene MEN1 e para aqueles sob risco nos quais
não se pôde detectar a mutação. Devido à elevada penetrân-
cia da doença, o rastreamento clínico é preconizado por toda
a vida para os portadores de mutação no gene MEN1. Este
rastreamento inclui dosagens anuais de: PTH, cálcio, gastri-
na, secreção ácida, glicose, insulina, glucagon, prolactina e
IGF-1. Além disto, a cada três anos há recomendação de es-
tudo por imagem: TC, RNM, octreoscan, ultra-som endoscó-
pico, dos órgãos de maior risco
15
.
RASTREAMENTO GENÉTICO
As recomendações para a realização de análise de muta-
ções no gene MEN-1 estão sendo desenvolvidas. Dentre os
candidatos devem ser incluídos: casos-índice de NEM1 e pa-
rentes sob risco, e neste último grupo a abordagem deverá ser
direcionada primeiramente para: a) parentes em primeiro grau;
b) casos-índice que tenham achados clínicos sugestivos de
NEM1, mas que não possam ser incluídos nos critérios diag-
nósticos de NEM1 como por exemplo: tumores múltiplos de
paratireóide antes da idade de 30 anos ou tumores neuroen-
dócrinos pancreáticos múltiplos em qualquer idade
15
.
Como exemplo de rastreamento gênico, estamos utilizan-
do em nosso meio o método do DGGE no estudo gênico da
NEM1
9-11
. Na Fig. 29.6.2 mostramos padrão eletroforético de
heterozigose por nós encontrado no éxon 2 do gene MEN1
de uma extensa família brasileira. O seqüenciamento gênico
revelou uma mutação gênica: uma deleção de citosina no
códon 67 do éxon 2 do gene MEN1.
Recentemente, Brandi e col.
3
relataram os resultados de
Consenso sobre NEM1 (e NEM2) que fixa as normas básicas
para o diagnóstico e tratamento. Propõe-se: a) seguimento
anual bioquímico associado a seguimento com exames de
imagem a cada três anos; b) paratireoidectomia total ou
subtotal, criopreservação das paratireóides e timectomia pre-
ventiva; c) uso de inibidores de bomba de próton no controle
da hipersecreção de gastrina e análogos da somatostatina
nos gastrinomas e em outros tumores pancreáticos relaciona-
dos a NEM1; d) cirurgia é o tratamento de escolha nos casos
de hipoglicemia devido à insulinoma; e) há controvérsias
quanto a indicação de tratamento cirúrgico e protocolo cirúr-
gico em relação aos gastrinomas, o mesmo ocorrendo com
pacientes assintomáticos com tumores êntero-pancreáticos
relacionados a NEM1; f) todos casos familiares de NEM1 pa-
recem ter mutação gamética inativadora no gene MEN1; g) a
caracterização gênica é fundamental, mas raramente orienta
para conduta cirúrgica (como ocorre na NEM2).
NEOPLASIA ENDÓCRINA MÚLTIPLA TIPO 2
CONCEITO
O termo Neoplasia Endócrina Múltipla do tipo 2 (NEM2) re-
fere-se a um grupo de síndromes tumorais, de herança autossô-
mica dominante, com alto grau de penetrância e expressividade
variável, que são clinicamente distintas. O aspecto comum a elas
é a presença do carcinoma medular de tireóide (CMT).
Essa variabilidade no fenótipo tornou necessária uma clas-
sificação operacional
6
com pelo menos três subtipos princi-
pais, baseando-se na ocorrência de outras patologias. Quan-
do a tendência ao CMT é expressa como o único fenótipo
tumoral na família, estando presente em mais de quatro indi-
víduos, denomina-se Carcinoma Medular de Tireóide Familiar
(CMT-F). Quando o CMT é, dentro de uma família, associa-
do a hiperparatireoidismo (HPT) e/ou feocromocitoma (FEO),
Fig. 29.6.2
— Gel de poliacrilamida a 7,5% ilustrando padrão de
bandas obtido ao DGGE: os casos afetados (AF) apresentam três
bandas eletroforéticas (padrão anormal). O indivíduo controle-nor-
mal (N) e o familiar não-portador (NP) da mutação gênica, ambos
apresentam uma única banda (padrão normal)
10,12
.
N
NP
AFAFAFAF
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
335
classifica-se como NEM2A. A NEM2B compartilha a predis-
posição herdada ao CMT e FEO que ocorre na NEM2A, po-
rém com diferenças clínicas: o paciente NEM2B tende também
a ter neuromas mucosos, ganglioneuromas intestinais, hábi-
to marfanóide e o HPT é raro. Nesta última manifestação fe-
notípica, o CMT costuma ser mais precoce e agressivo que
na NEM2A e CMTF.
A associação em algumas famílias entre NEM2 e doença
de Hirschsprung, bem como NEM2 e Líquen amilóide cutâ-
neo, propiciou a inclusão destas patologias dentro do espec-
tro NEM2.
A NEM2 é pouco freqüente: 20 a 25 casos novos/ano no
Reino Unido
17
.
Em geral, manifesta-se como NEM2A (60-
90%dos casos), sendo a NEM2B uma forma bastante rara (2-
5%). O diagnóstico de CMT-F é feito em 35% dos casos. O
diagnóstico de NEM2 é construído a partir da suspeita clinica
pela expressão dos tumores, história familiar e confirmado
pelo teste genético.
QUADRO CLÍNICO
Em geral, as características clínicas e bioquímicas dos tu-
mores componentes das síndromes NEM2 não diferem ex-
pressivamente daquelas de cada tumor quando este ocorre
isoladamente; por isso, esses aspectos serão citados apenas
brevemente. Por sua vez, a concomitância de múltiplas endo-
crinopatias pode ter implicações específicas para o tratamen-
to. A identificação de tumores familiares em uma faixa etária
inferior a dos casos esporádicos possivelmente decorre do
alto grau de suspeita clínica e triagem dos indivíduos sob ris-
co. Contudo, destaca-se na história familiar a detecção de
mutação “de novo” em 50% dos pacientes NEM2B, o que é
bem diferente dos 95% dos NEM2A que apresentam sempre
um dos pais afetados. Para o diagnóstico de CMT-F é fun-
damental o antecedente de, no mínimo, quatro casos de CMT
na família, e os achados genéticos justificam a preocupação
com esse critério.
Carcinoma Medular de Tireóide
O CMT desenvolve-se nas células C da tireóide, deriva-
das da crista neural e não relacionadas embriologicamente
com as células foliculares da tireóide. A hiperplasia de célu-
las C e a multicentricidade do CMT são características de dis-
tinção entre forma esporádica e hereditária. Vários hormônios
e aminas biogênicas são secretados pelo CMT, e o mais im-
portante é a calcitonina, cuja dosagem sérica serve como ex-
celente marcador tumoral para diagnóstico e acompanhamen-
to. Testes de estímulo para calcitonina são usados para de-
tectar a presença de hiperplasia de células C, a lesão primor-
dial
17
. A evolução de hiperplasia de células C para CMT mi-
croscópico tem duração de tempo variável, e não se sabe em
que ponto desta evolução as metástases iniciam. Cerca de
50% dos indivíduos com nódulos palpáveis já apresentam
metástases cervicais. Essas metástases podem ocorrer em lin-
fonodos cervicais e mediastinais ou em órgãos à distancia
principalmente cérebro, pulmões, fígado e ossos. É importante
ressaltar que 25% dos pacientes com metástases gangliona-
res cervicais, sem evidência de outras metástases à distância,
podem ser curados por uma ressecção cirúrgica com esvazia-
mento ganglionar cervical, salientando a importância nessa
doença do diagnóstico realizado num estágio precoce.
Feocromocitoma
O FEO ocorre em 50% dos pacientes NEM2A e NEM2B.
Algumas peculiaridades podem ter implicações na investiga-
ção diagnóstica e estratégia terapêutica. Quando associado
a NEM2, o FEO é bilateral em mais de 50% dos casos. Inclu-
sive, em virtude da multicentricidade característica da NEM2,
acredita-se que potencialmente todos os casos apresentari-
am envolvimento bilateral, embora não sincrônico entre as
glândulas. Outro ponto importante é a localização invariável
do FEO na medula adrenal. Os raros relatos de FEO extra-
adrenal nessa síndrome surgem de restos de tecido adrenal
ou representam recorrência de um FEO na região anatômica
da glândula adrenal. Este tecido expressa a enzima
feniletanolamina-N-metil-transferase, que catalisa a metilação
da noradrenalina para adrenalina. Por conseguinte, o tipo de
catecolamina mais produzido pelo FEO associado ao NEM2
é a adrenalina, ocasionando a clínica de palpitações, nervo-
sismo, inquietação e ausência de hipertensão. É incomum o
FEO preceder o desenvolvimento do CMT ou ser a manifes-
tação inicial do NEM2, e alguns autores sugerem que os FEO
familiares podem ter comportamento mais indolente e menos
sintomático que as variantes esporádicas. O rastreamento
deve ser feito anualmente até os 35 anos, basicamente com
dosagens urinárias de catecolaminas e metanefrinas, embo-
ra as medidas de metanefrinas e normetanefrina plasmáticas
sejam mais sensíveis
5
. A maioria dos autores concorda que
a avaliação por imagens (tomografia, ressonância magnética
e 131-meta-iodo-benzilguanidina) deve ser reservada para
quando existir alteração bioquímica.
Hiperparatireoidismo
A baixa freqüência — apenas 25% dos casos — torna di-
fícil estudar a história natural do HPT na NEM2. Clinicamen-
te, é semelhante ao HPT esporádico, embora seja observada
uma maior freqüência de HPT assintomáticos na NEM2. A
hiperplasia de múltiplas paratireóides é mais freqüentemente
encontrada que adenomas múltiplos. O diagnóstico é estabe-
lecido pelo achado PTH sérico alto ou inapropriadamente
normal na presença de hipercalcemia.
Líquen Amilóide Cutâneo
Lesão cutânea descrita como pruriginosa e pigmentada na
região interescapular ou superfícies extensoras da extremida-
de, com deposição amilóide no local. Talvez resulte de uma
neuropatia primaria.
Doença de Hirshsprung
Ausência congênita dos gânglios autonômicos intesti-
nais, que se apresenta geralmente como obstrução intestinal
neonatal grave.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
336
ASPECTOS GENÉTICOS
A causa genética dessas síndromes envolve mutações no
proto-oncogene RET, no lócus 10q11.2. O gene RET esten-
de-se por 50kb e contém 21 éxons, todos codificantes
8
. A
proteína RET é um receptor tirosina-quinase envolvido na
regulação do crescimento, sobrevida, diferenciação e migra-
ção de células da linhagem da crista neural. Vários fatores
neurotróficos têm sido identificados como ligantes de RET:
GDNF, Nerturina, Persepina e Artemina, e co-ligantes: GFR-
α1, GFR-α2, GFR-α3 e GFR-α4. Não obstante a necessidade
deste tetrâmero complexo para ativar a sinalização via RET, as
mutações associadas a NEM2 têm sido encontradas apenas
no gene RET (Fig. 29.6.3).
Apesar de todos os éxons serem codificantes, as muta-
ções ativadoras causadoras de NEM2 se agrupam em éxons
de regiões de particular importância para a função da molé-
cula. Assim, na região extracelular, o domínio rico em cisteí-
nas, fundamental para que ocorra a ligação ao ligante e
dimerização, pré-requisito para ativação, é onde estão 80%
das mutações relacionadas a NEM2. As demais mutações
descritas estão em sítios de função catalítica tirosina-quina-
se ou em alça de reconhecimento de substrato intracelular
A localização da mutação no gene RET apresenta uma re-
lação com a expressão do subtipo clínico. Deste modo, a
maioria das mutações relacionadas a NEM2A e CMT-F são
substituições das cisteínas nos éxons 10 e 11. Particularmen-
te, a mutação na cisteína 634, éxon 11, é a mais freqüentemen-
te encontrada e tem sido associada ao surgimento de FEO e
HPT
14
. A mutação Met918Thr, no éxon 16, localizada no do-
mínio tirosina-quinase alterando a especificidade do substra-
to intracelular, está associada às características fenotípicas
NEM2B. Mutações nos éxons 13, 14 e 15 (códons 768, 804,
891) têm sido descritas em fenótipos CMT-F.
A relação genótipo/fenótipo tem sido direcionada para a
idade ao diagnóstico e a presença de metástases, que são
importantes fatores prognósticos, conforme já descrito. Além
disso, estudos in vitro demonstram diferenças na ativação
oncogênica de acordo com o tipo de mutação. Isso permite
uma classificação na literatura das mutações como de alto ris-
co: 611, 618, 629 e 634, que são mutações nas quais se reco-
menda intervenção terapêutica mais precoce, e outras consi-
deradas de menor risco, nos códons 609, 768, 790, 791, 804 e
891, geralmente com início mais tardio da doença e, especu-
la-se, cuja tireoidectomia poderia ser postergada.
ASPECTOS TERAPÊUTICOS
No que diz respeito ao tratamento, continua válido que a
oportunidade de cura existe quando a cirurgia é realizada num
estágio precoce da doença. Os protocolos de radioterapia e
quimioterapia convencionais não alcançam boa resposta, bem
como alguns variantes. Expectativas promissoras em relação
à terapia gênica têm surgido com a divulgação de estudos
experimentais
18
.
A indicação de tireoidectomia em indivíduo portador de
mutação do gene RET tem sido muito discutida. A maioria
dos grupos recomenda a intervenção, apoiada pelos relatos
de metástases em crianças com idade inferior a cinco anos.
Esse argumento sobrepujou os receios pelo risco cirúrgico
nesta faixa etária. A indicação é preferencialmente baseada
em resultados de análise genética. Assim, para mutações de
alto risco, o último consenso define a idade ideal para cirur-
gia como cinco anos para NEM2A e um ano para NEM2B
3
.
Fig. 29.6.3
— Representação gráfica dos domínios da proteína RET e da localização das mutações mais freqüentes associadas a NEM2.
RET
N-Terminal
Domínio
extracelular
Domínio
transmembrana
Domínio
citoplasmático
918
768
804
C-Terminal
Núcleo catalítico
tirosina Kinase
634
620
618
611
609
Ligante
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
337
CONCLUSÕES
O modelo da NEM2 é ímpar, oferecendo vários aspectos
patogenéticos fascinantes dentro do contexto dos estudos
de oncogênese molecular. Certamente o que coloca a NEM2
numa posição especial em relação a outras síndromes gené-
ticas é a utilidade da informação molecular na decisão tera-
pêutica. Excluir do seguimento clínico 50% dos membros fa-
miliares sem a mutação é um aspecto muito importante, mas,
sem dúvida, a transformação do prognóstico da doença pela
identificação dos genótipos mutantes tem sido o resultado de
maior impacto
3
.
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José Cláudio Casali da Rocha
29.7
Doença de Von Hippel-Lindau
INTRODUÇÃO
Desde 1864, alguns oftalmologistas começaram a relatar
que lesões angiomatosas da retina podiam ocasionar a per-
da da visão e algumas vezes estavam associadas a lesões
semelhantes no cerebelo. Somente em 1904 a natureza fami-
lial dos angiomas de retina foi reconhecida pelo oftalmologis-
ta alemão Eugen von Hippel (1867-1938) que denominou es-
tas lesões de angiomatosis retinae. No entanto, foi o pato-
logista sueco Arvin Lindau que em 1927 relatou que o heman-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
338
gioblastoma (HB) de cerebelo e o angioma de retina (AR)
apresentavam a mesma morfologia sugerindo um mecanismo
patogênico semelhante, comum a esses tumores e de causa
hereditária. A associação com outros tumores, como carcino-
ma de células claras do rim (CR), feocromocitoma (FE), tumo-
res pancreáticos e cistoadenoma do epidídimo, entre outros,
vem sendo relatada na literatura apenas nas últimas décadas
do século XX. A primeira revisão da literatura veio com o clás-
sico estudo de Melbon e Rosen (1964) que estabeleceu os
critérios diagnósticos clínicos utilizados até hoje e descreveu
uma família extensamente afetada pela síndrome por eles de-
nominada de “Von Hippel-Lindau” (VHL)
11
.
A doença de Von Hippel-Lindau (VHL) é uma doença he-
reditária multissistêmica, causada por mutação no gene VHL
que predispõe o portador a manifestações benignas e malig-
nas em diversos órgãos. O início dos sintomas pode ocorrer
a partir dos primeiros anos de vida e inclui, entre outros,
angioma de retina; hemangioblastoma (HB) de sistema nervo-
so central (SNC); feocromocitoma (FE); carcinoma renal do
tipo células claras (CR) e cistos múltiplos renais, pancreáti-
cos, hepáticos e de epidídimo.
O diagnóstico clínico baseia-se em critérios que conside-
ram a história familial e a apresentação clínica das lesões.
Muitas vezes, o diagnóstico é dificultado ou retardado até
que estes critérios sejam preenchidos. A idade do início da
doença é variável e depende da expressividade da doença no
indivíduo e da intensidade do rastreamento de lesões assin-
tomáticas. Assim, um programa de rastreamento intensivo
pode aumentar significativamente o número de indivíduos
afetados na família. O aconselhamento genético e os avanços
dos métodos de diagnóstico e de tratamento vêm mudando
o curso desta enfermidade com a diminuição da morbidade e
da mortalidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de
vida das famílias afetadas por esse mal e para o entendimen-
to da doença
1
.
QUADRO CLÍNICO
A doença de VHL é uma doença multissistêmica e de apre-
sentação clínica variada. Uma característica peculiar desta
síndrome é a combinação de tumores malignos e benignos em
mais de dez órgãos-alvo diferentes. As manifestações clíni-
cas podem ocorrer ao longo de toda a vida do indivíduo.
Aproximadamente 60,2% dos pacientes desenvolvem HB ce-
rebelar; 41%, AR; 25,3%, carcinoma renal de células claras
(CR); 14,5%, HB espinhal e 14,5%, FE (Fig. 29.7.1). Relativa-
mente, poucos pacientes desenvolvem todas as manifesta-
ções da doença e cerca de 50% dos pacientes têm apenas
uma manifestação. Os cistos são, na grande maioria das ve-
zes, assintomáticos e representam os achados clínicos mais
freqüentes. Afetam principalmente o rim e o pâncreas e são
geralmente múltiplos
7
.
A seguir, são discutidas as manifestações mais caracte-
rísticas da doença de VHL.
ANGIOMA DE RETINA
O AR é geralmente a manifestação mais precoce da doen-
ça. O AR é indistinguível morfologicamente do HB do cere-
belo sendo de apresentação comum na doença VHL, com ida-
de média de diagnóstico aos 25 anos (variando de 1 a 67
anos). O oftalmologista tem um papel crítico no diagnóstico
da doença, uma vez que 43% dos pacientes apresentam AR
como primeira manifestação clínica. Apesar de ser freqüente-
mente assintomático, o AR pode causar danos visuais gra-
ves à medida que atinge maiores proporções ou quando está
Fig. 29.7.1
— Incidência cumulativa dos casos de angioma de retina (AR), hemangioblastoma (HB) do SNC e de carcinoma renal do
tipo células claras (CR) pela idade do diagnóstico destas lesões (adaptado de Choyke e col. (1995)
1
.
1,0
0.8
0,6
0,4
0,2
0,0
010
20
30
40
50
60 70
AR
HB
CR
Idade (anos)
Probabilidade
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
339
localizado centralmente. O tratamento consiste na fotocoagu-
lação a laser para lesões diagnosticadas precocemente, crio-
terapia para lesões maiores, e enucleação nos casos graves
8
.
HEMANGIOBLASTOMA DO SNC
Os HB do SNC localizam-se preferencialmente no cerebe-
lo, na medula espinhal e mais raramente no cérebro. Apenas
2% dos HB do SNC ocorrem no parênquima cerebral. Clini-
camente, o HB na doença de VHL desenvolve-se quase in-
variavelmente antes dos 50 anos, e a idade média de diagnós-
tico é aos 29 anos (variando de 11 a 78 anos). Os HB tendem
a ocorrer de forma múltipla, e freqüentemente apresentam
componentes císticos e sólidos. Devido ao seu crescimento
lento, muitas vezes são assintomáticos. Os sintomas podem
ser intermitentes como cefaléia, vertigem, vômito, ataxia, fala
arrastada, nistágmo, dismetria e paralisia do nono par crania-
no, até quadros neurológicos agudos graves com perdas
sensoriais e motoras dependendo da localização da lesão. O
tratamento primário das lesões sintomáticas consiste na
exérese cirúrgica da lesão. Em casos especiais, os tratamen-
tos com radioterapia ou radiocirurgia têm sido utilizados para
o controle da progressão das lesões
8
.
CARCINOMA RENAL
O tipo histológico dos CR de pacientes com VHL é tipi-
camente de células claras e em 35% das vezes se apresentam
clinicamente com componente cístico. A idade média do diag-
nóstico é aos 37 anos, variando de 16 a 76 anos. O CR, as-
sociado à doença de VHL, ocorre em uma idade menor quan-
do comparado com o seu correspondente esporádico (em tor-
no dos 62 anos), é mais freqüentemente bilateral (mais de
75% dos pacientes portadores de VHL) e multicêntrico em
87% dos casos. Além disso, o CR da doença de VHL parece
apresentar uma taxa de crescimento menor e metástase mais
tardia em relação à forma esporádica (não hereditária)
1,8
.
LESÕES PANCREÁTICAS
Lesões pancreáticas, incluindo cistos, cistoadenomas,
tumores neuroendócrinos, adenocarcinoma, hemangioblasto-
ma e metástase de carcinoma renal, têm sido descritas asso-
ciadas a VHL
1
. Recentemente, o envolvimento pancreático na
evolução da doença foi estudado em 158 pacientes consecu-
tivos pertencentes a 94 famílias francesas. O envolvimento
pancreático foi observado em 77,2% dos pacientes e incluíam
cistos pancreáticos (91,1%), tumores neuroendócrinos (12,3%)
e lesões combinadas (11,5%). O pâncreas foi o único órgão afe-
tado em 7,6% dos pacientes. As lesões pancreáticas necessi-
taram de intervenção cirúrgica em apenas 8,2%, quando sinto-
máticas ou para ressecção de tumores neuroendócrinos
5
.
FEOCROMOCITOMA
As famílias que apresentam fenótipo associado à FE fre-
qüentemente desenvolvem o FE antes de outras manifesta-
ções da doença. A média de idade ao diagnóstico do FE em
VHL é de 29 ± 14 anos (variando de 5 a 62 anos). Freqüente-
mente, o FE é bilateral (cerca de 42%), podendo apresentar-
se como tumor extra-adrenal (paraganglioma) ou mesmo como
um FE maligno
1
.
OUTRAS MANIFESTAÇÕES
O cistoadenoma do epidídimo ocorre em 10 a 26% dos
pacientes com VHL. Tumores de saco endolinfático têm sido
descritos em associação com VHL em 11% dos pacientes
ocasionando perda auditiva, zumbido e paresia (N.R.: não
seria paralesia?) facial e, portanto, devem ser considerados no
rastreamento clínico dos indivíduos com diagnóstico de
VHL
9
. Manifestações paraneoplásicas podem ocorrer, como
policetemia secundária associada ao HB do cerebelo (5 a
20%) ou ao tumor renal. Recentemente, a presença de muta-
ções germinativas no gene VHL em pacientes com policetemia
congênita sugerem que este quadro seja uma das formas va-
riantes da doença de VHL
13
.
ASPECTOS GENÉTICOS
A doença de VHL tem sido encontrada em todos os gru-
pos étnicos. Estudo epidemiológicos revelaram uma incidên-
cia de 1/39.000 a 1/53.000 nascimentos e uma prevalência de
1/31.000 a 1/85.000. Devido à raridade e à diversidade clínica
desta doença, é provável que muitos casos sejam subestima-
dos. A penetrância é de 97% em torno dos 60 anos. A sín-
drome VHL é hereditária e segue um padrão de herança au-
tossômico dominante, afetando igualmente ambos os sexos
e predispondo a prole a uma chance de 50% de herdar um
alelo com mutação de um dos pais com a doença.
Ocasionalmente, uma mutação de novo no gene ocorre na
ovogênese, espermatogênese ou mesmo nas fases iniciais da
embriogênese, dando origem a um indivíduo afetado cujos
pais não são afetados pela doença VHL. A incidência estima-
da de mutação de novo é menor que 5% das mutações detec-
tadas. Porém, estudos recentes com detecção de mutação
germinativa em tumores “aparentemente esporádicos” suge-
rem que este número seja maior.
A suspeita de que o gene implicado na doença de VHL
poderia estar situado no braço curto do cromossomo 3 veio
através do estudo de famílias com CR hereditário, cujos mem-
bros afetados apresentavam na análise do cariótipo uma que-
bra no braço curto do cromossomo 3 e translocação do seg-
mento quebrado para o cromossomo 8. Este achado levou
aos estudos genéticos de ligação (Linkage) com foco no cro-
mossomo 3 nas décadas de 1980 que resultaram na localiza-
ção do gene na região 3p25-26. Em 1993, o gene VHL foi iden-
tificado por pesquisadores no Instituto Nacional do Câncer
(NCI) nos Estados Unidos
6
. Desde então, enormes avanços
vêm sendo alcançados no entendimento da fisiopatologia e
da tumorigênese desta doença.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Embora muitas vezes os testes genéticos sejam de enor-
me valor para o diagnóstico de VHL, os critérios diagnósti-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
340
cos utilizados para a doença de VHL são essencialmente ba-
seados nos achados clínicos. Na presença de uma história fa-
milial positiva para a doença de VHL, o diagnóstico clínico
pode ser feito pela identificação de uma única manifestação
característica da síndrome: AR, HB do SNC, tumores renais, FE,
cistos pancreáticos múltiplos, ou cistoadenoma papilífero de
epidídimo. Na ausência de história familial, é necessário o diag-
nóstico de pelo menos duas lesões características, e uma de-
las deve ser AR ou HB do SNC
11
. Os cistos renais e de epidí-
dimo são muito freqüentes na população geral para serem con-
siderados sinais confiáveis para o diagnóstico de VHL e, por-
tanto, não devem ser considerados lesões características.
CLASSIFICAÇÃO DE VHL E CORRELAÇÃO
GENÓTIPO-FENÓTIPO
Em decorrência da sua enorme heterogeneidade clínica, a
síndrome VHL tem sido classificada pela ausência ou presen-
ça de FE na família em VHL tipo 1 e VHL tipo 2 (7 a 20%), res-
pectivamente. Posteriormente, a observação de que as famí-
lias com VHL tipo 2 (com FE) cursavam com espectros clíni-
cos diferentes dependendo do tipo de mutação permitiu a
subdivisão em: tipo 2A (com FE, com AR e/ou HB, sem CR);
tipo 2B (com FE, com AR e/ou HB, com CR); e tipo 2C (com
FE, sem AR e/ou HB, sem CR)
17
. A policetemia congênita as-
sociada com mutações germinativas no gene VHL tem sido
recentemente classificada como VHL tipo 3
13
.
As evidências que justificam esta classificação foram ba-
seadas na correlação entre o genótipo e o fenótipo apresen-
tado por estas famílias. As famílias com VHL tipo 1 freqüen-
temente apresentam grandes deleções e mutações pontuais
que causam uma terminação prematura da transcrição gênica
(microdeleções e inserções e mutações non-sense) resultan-
do em uma proteína truncada, enquanto 96% do grupo com
VHL tipo 2 apresentam mutações do tipo missense
3
.
O GENE VHL
O gene VHL (3p25-26) foi clonado em 1993, é composto
por três éxons e apresenta dois códons de início da transcri-
ção produzindo duas proteínas funcionais de 160 e 213 ami-
noácidos, respectivamente. O cDNA do gene VHL possui
1810pb em extensão com uma fase aberta de leitura (Open
Reading Frame) de 852pb. A expressão do gene VHL é ne-
cessária para a embriogênese, como foi demonstrado com ex-
perimentos em camundongos knock-out
4
.
Um maior entendimento do papel deste gene na tumori-
gênese foi alcançado com a identificação de alvos funcionais
da proteína VHL (pVHL). A pVHL é capaz de ligar-se forte e
especificamente com as subunidades B e C da Elongina SIII,
inibindo a sua atividade transcricional. Nos pacientes com
doença VHL, a mutação no gene VHL interfere com este me-
canismo de controle, acelerando o processo transcricional e
favorecendo o crescimento celular
2
. Aproximadamente 50%
das mutações no gene VHL afetam o domínio α da pVHL,
nos resíduos de contato com a Elongina C.
O papel da pVHL na angiogênese tumoral colocou o fa-
tor de crescimento vascular endotelial (VEGF) como um dos
possíveis alvos da pVHL. Foi demonstrado que a pVHL pode
inibir a transcrição do gene VEGF, e a presença da pVHL
intacta é necessária para a via de angiogênese induzida por
hipoxia. Desta forma, demonstrou-se que a hipoxia induzia a
transcrição de mRNAs, como o mRNA de VEGF, PDGF-B (ca-
deia B do fator de crescimento derivado de plaqueta) e de
GLUT1, através de uma via mediada pela pVHL. Além deste
efeito transcricional em VEGF, foi demonstrado que a pVHL
também age interferindo na estabilidade do mRNA de VEGF
tendo, deste modo, um efeito pós-transcricional. Assim, a
pVHL íntegra é necessária para a desestabilização do mRNA
de VEGF sob condições normóxicas. Maxwell e col. (1999)
demonstraram que o mediador da pVHL na regulação da res-
posta à hipoxia é o HIF1 (hipoxia-inducible factor-1)
10
. A
pVHL íntegra tem uma ação de ubiqüitinação das subunida-
des α de HIF1 (HIFα) na presença de oxigênio, marcando-a
para degradação pelo proteassoma 26S. Células deficientes de
pVHL são incapazes de degradar as subunidades HIFα pro-
duzindo a ativação constitutiva dos genes induzidos por HIF
e contribuindo para o fenótipo angiogênico dos tumores re-
lacionados ao VHL
16
.
TESTE GENÉTICO
Até hoje, aproximadamente 600 famílias com VHL já foram
identificadas na Europa, nos Estados Unidos e no Japão sen-
do caracterizadas mais de 200 mutações germinativas distin-
tas no gene VHL nestas famílias. O diagnóstico molecular da
doença baseia-se na aplicação de técnicas de biologia mole-
cular que visam à detecção de mutações germinativas no
gene VHL. Historicamente, a detecção de mutações variava
de 36 a 82%, dependendo das técnicas utilizadas. Mais re-
centemente, com os avanços na análise das mutações com a
combinação das técnicas de seqüenciamento, Southern-blot
quantitativo e FISH, tem sido possível detectar mutações ger-
minativas no gene VHL de 73 a 100% dos probandos
15,18
.
Aproximadamente 20% dos pacientes com mutações germi-
nativas do gene VHL apresentam grandes deleções detecta-
das por Southern-blot ou por FISH, 27% têm mutações tipo
missense e 27% mutações non-sense ou frameshift. Métodos
de pré-rastreamento de mutação têm sido propostos antes do
seqüenciamento de diversos genes, e o SSCP (single strand
conformational polymorfism) é uma das técnicas mais utili-
zadas. Recentemente, a técnica DHPLC (denaturing high
performance liquid chromatography) revelou-se um método
prático e bastante sensível.
O teste genético em pacientes com VHL permite avaliar a
amplitude do fenótipo da doença baseado no estudo de ou-
tras famílias com a mesma mutação. Também pode ser utilizado
como teste preditivo, selecionando os indivíduos considera-
dos como de alto risco e, portanto, candidatos ao programa
de rastreamento clínico de lesões. A pesquisa de mutação no
gene VHL é particularmente importante nos indivíduos com
lesões relacionadas a VHL sem história familial. Como todos
os tumores associados à doença de VHL também ocorrem de
forma esporádica, o diagnóstico clínico de casos de novo
pode ser dificultado ou mesmo pode ser retardado até que
critérios mínimos sejam conseguidos.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
341
No Brasil, o teste genético para pesquisa de mutação no
gene VHL está disponível desde 1998. Este estudo possibi-
litou a avaliação de 83 indivíduos pertencentes a 20 famílias
com diagnóstico clínico de VHL. A taxa de 100% de detecção
de mutação foi alcançada através da combinação das técni-
cas de seqüenciamento direto e de Southern-blot quantita-
tivo. Das mutações deletérias encontradas, oito nunca havi-
am sido descritas anteriormente em outras populações e cor-
respondem a 50% das mutações pontuais. A correlação en-
tre o genótipo e o fenótipo apresentado pelas famílias refor-
ça algumas observações descritas na literatura. O fenótipo de
VHL tipo 1 foi associado com mutações potencialmente de-
letérias à proteína VHL e o fenótipo VHL tipo 2 foi associa-
do a mutações do tipo missense. Especificamente, a mutação
no códon 167 do gene VHL se correlacionou com um alto ris-
co para o desenvolvimento de feocromocitoma apresentado
em duas famílias com VHL. O perfil clínico da doença de VHL
no Brasil mostra semelhanças de incidência e idade de apre-
sentação com outros países onde a doença foi estudada. No
entanto, 12 famílias (60%) foram caracterizadas como de alto
risco para o desenvolvimento de CR, baseado na ocorrência
familial e nas características intrínsecas das mutações. Três
das quatro famílias com grandes deleções apresentavam alta
incidência de HB do SNC. Também foi observada uma ten-
dência das mutações concentrarem-se principalmente nos
éxons 1 e 2 do gene VHL incluindo as regiões de emenda
(85,5%). Este estudo contribuiu para o entendimento da
doença de Von Hippel-Lindau no Brasil, possibilitou o diag-
nóstico precoce através do teste molecular, bem como inter-
veio na história natural da doença nas famílias com VHL atra-
vés do aconselhamento genético oncológico e do programa
de rastreamento de lesões
14
.
ACONSELHAMENTO GENÉTICO
O aconselhamento do risco de câncer familial serve tan-
to para analisar os fatores de risco para o desenvolvimento
dos tumores nos membros das famílias, bem como para infor-
mar as opções disponíveis para a prevenção e para o trata-
mento precoce das lesões. O aconselhamento genético fami-
lial é educativo no sentido que orienta os membros da famí-
lia a compreenderem os aspectos clínicos e hereditários rela-
tivos à doença e a escolherem alternativas de ação preventi-
vas e terapêuticas. São discutidos aspectos epidemiológicos
e genéticos da origem dos tumores e o espectro da apresen-
tação clínica, diagnóstico e tratamento da doença. O aconse-
lhamento também consiste na atuação direta do geneticista
sobre os aspectos psicossociais do paciente visando à redu-
ção da ansiedade, adaptação à carga de estresse relaciona-
da à doença, conforto no luto e ajuda na decisão sobre o teste
genético.
Nos membros assintomáticos da família, o enfoque prin-
cipal é o preventivo. A identificação dos indivíduos de alto
risco na família permite ao geneticista dirigir o programa de
rastreamento clínico para estes indivíduos. O rastreamento
clínico é um programa de prevenção e de detecção precoce
das lesões recomendado à população de risco, com impacto
positivo na redução da morbidade e na mortalidade da doen-
ça
12
. A estimativa do risco é baseada na análise do heredo-
grama, após cuidadosa coleta da história familial. Sempre que
possível é importante obter documentos que comprovem a
ocorrência das lesões nos familiares afetados. Os indivíduos
assintomáticos de primeiro e de segundo grau relacionados
ao paciente têm um risco de 50 e 25% respectivamente de se-
rem portadores da mutação germinativa no gene VHL e, por-
tanto, são considerados para avaliação molecular com o tes-
te genético.
O teste positivo define a população de alto risco para a
doença VHL que deve seguir um estreito acompanhamento
em programa especial de rastreamento clínico (Tabela 29.7.1).
Familiares de primeiro e de segundo grau que aguardam o re-
sultado do teste genético ou que não foram testados são
considerados clinicamente como alto risco e também devem
ser incluídos no programa de rastreamento clínico regular.
Mesmo os testes positivos não significam que o portador se
tornará sintomático no futuro. Por isso, é recomendado que
indivíduos sob risco sejam encaminhados para aconselha-
mento genético com um geneticista clínico, antes mesmo do
teste.
Como a doença de VHL é multissistêmica, é recomenda-
do que os pacientes e seus familiares de risco sejam acom-
panhados por uma equipe multidisciplinar constituída pelos
profissionais médicos e de apoio das diversas especialidades
relacionadas às manifestações clínicas da doença de VHL,
como geneticista clínico, urologista, neurocirurgião, oftalmo-
logista, endocrinologista, psicólogo, enfermeira, assistente
Tabela 29.7.1
Programa de Rastreamento Clínico de Lesões para Indivíduos Considerados como Alto Risco para a
Doença de VHL, de Acordo com o Consenso de Especialistas Reunidos no 5
o
Simpósio Internacional
da Doença de Von Hippel-Lindau, em Pádova (2002).
Exame Complementar Consenso de Especialistas em VHL
Catecolaminas urinárias. No mínimo uma vez ou se PA elevada.
Oftalmoscopia. A partir de seis anos anualmente.
Angiografia fluoresceínica. Não é rotina.
TC ou RM cerebral e espinhal. Iniciar aos 20 anos e repetir a cada três anos.
US ou TC ou RM abdominal. Iniciar entre 15-20 anos e repetir anualmente.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
342
social, nutricionista, entre outros. Logo que o diagnóstico de
VHL seja suspeitado, o geneticista clínico deve ser consul-
tado para coordenar os vários exames necessários para ava-
liar completamente o probando e também para identificar por-
tadores assintomáticos entre seus familiares.
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Fernanda Teresa de Lima
29.8
Neurofibromatose Tipo I
INTRODUÇÃO
As neurofibromatoses são doenças genéticas que afetam
primariamente o crescimento celular de tecidos neurais
16
. Fo-
ram descritas como doenças neurocutâneas, facomatoses,
neurocristopatias e defeitos mesodérmicos
17
, como uma sín-
drome de predisposição hereditária ao câncer
10
e como sín-
drome macrossômica
8
.
Constituem um grupo heterogêneo de doenças, sendo
a forma mais comum a neurofibromatose tipo 1 (NF1), tam-
bém conhecida como doença de Von Recklinghausen
1
. A
segunda forma mais freqüente é a NF2, caracterizada por
schwannomas vestibulares bilaterais. As formas alterna-
tivas da NF1 são definidas como condições que apresen-
tam algumas das características clássicas, mas não de
uma maneira típica, e incluem fenótipo de deleção total
do gene, forma mista e formas localizadas. Outras formas
representam variantes com manifestações adicionais atí-
picas, podendo ou não cumprir os critérios diagnósticos
da doença
1
.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
343
A NF1 afeta cerca de 1:3.500 indivíduos com uma preva-
lência variando de 2 a 4,6 em dez mil nascidos vivos em dife-
rentes estudos, sem diferir nas várias populações estudadas
8
.
Cerca de 50% de todos os pacientes com NF1 não têm historia
familial positiva, e, portanto, constituem casos de novo.
A NF1 é uma doença autossômica dominante com pene-
trância completa, com uma alta taxa de mutações
18
. O mosai-
cismo germinativo em portadores de NF1 pode sugerir não-
penetrância, e está associado à patogênese dos raros casos
de NF1 segmentar. A penetrância completa implica um baixo
risco de recorrência para a irmandade de afetados (portado-
res de uma mutação de novo) cujos pais são normais. Como
a doença apresenta uma grande variabilidade clínica, os pais
devem ser submetidos à avaliação clínica e complementar
antes de serem definidos como não-afetados
5
.
QUADRO CLÍNICO
A NF1 tem uma expressão muito variável, entre diferen-
tes famílias, entre diferentes indivíduos de uma mesma famí-
lia e entre diferentes segmentos de um mesmo indivíduo. É
progressiva, com diferentes manifestações clínicas nas dife-
rentes faixas etárias
1,6,18
. A seguir, são discutidas as principais
manifestações clínicas da NF1.
NEUROFIBROMAS
Os neurofibromas são tumores benignos que surgem da
bainha dos nervos periféricos, compostos principalmente por
células de Schwann e podem ser classificados como discre-
tos (cutâneos ou subcutâneos) ou plexiformes (nodulares ou
difusos)
8
.
Os neurofibromas cutâneos, sésseis ou pedunculados, se
movem quando a pele é movida e raramente causam dor. Os
neurofibromas subcutâneos geralmente são ovóides ou es-
féricos e pode-se deslizar a pele sobre eles, causando dor ao
comprimir os nervos
8
. Ambos se apresentam como massas
com margens bem definidas, raramente estão presentes ao
nascimento e podem estar associados a prurido
17
.
Os neurofibromas plexiformes são tumores que se esten-
dem ao longo do nervo, podendo crescer exageradamente e
causar desfiguração, apresentando ramificações digitiformes
que se insinuam nos tecidos adjacentes normais, tornando a
remoção cirúrgica completa praticamente impossível
8
. Ao en-
volver a pele, podem apresentar hiperpigmentação e
hipertricose. Os neurofibromas plexiformes difusos que en-
volvem a pele geralmente se tornam aparentes nos primeiros
dois anos de vida. Os neurofibromas plexiformes podem
malignizar, dando origem aos tumores malignos da bainha dos
nervos periféricos (TMBNP), antes denominados
neurofibrossarcomas ou schwannomas malignos
8
.
MANCHAS CAFÉ-COM-LEITE
As manchas café-com-leite típicas da NF1 são ovóides, de
cor uniforme e bordas bem definidas. Podem ocorrer em qual-
quer lugar do corpo. São caracterizadas histologicamente pela
presença de melanossomos gigantes dentro dos melanócitos
8
.
EFÉLIDES
As efélides, ou sardas, podem ser similares à cor das
manchas café-com-leite, mas geralmente tem entre 1 a 3mm de
diâmetro e ocorrem agrupadas. Podem aparecer de maneira
difusa sobre o tronco e extremidades proximais, mas geral-
mente estão restritas a regiões intertriginosas e de superpo-
sição de pele, especialmente regiões axilares, inguinais, pal-
pebrais superiores, cervicais e inframamárias. As efélides axi-
lares podem estar presentes ao nascimento, mas geralmente
aparecem na infância tardia, como as efélides nas outras re-
giões
8
.
NÓDULOS DE LISCH
Os nódulos de Lisch são hamartomas pigmentados pre-
sentes na íris, geralmente bilaterais. Não estão associados a
comprometimento visual e são observados por lâmpada de
fenda. Desenvolvem-se em função da idade, geralmente após
os 10 anos
8
.
GLIOMAS ÓPTICOS
Os gliomas ópticos são astrocitomas pilocíticos grau I
(WHO), ocorrendo normalmente nas vias ópticas anteriores,
geralmente benignos
15
. O período de maior risco para o de-
senvolvimento de gliomas ópticos sintomáticos é durante os
primeiros seis anos de vida e seu curso, na NF1, parece ser
mais benigno que nos casos esporádicos. Podem se compor-
tar de duas maneiras: nunca causar sintomas e serem desco-
bertos somente por neuroimagem, ou crescerem a ponto de
causar sintomas, até se estabilizarem, raramente progredindo.
Os gliomas ópticos, além dos sintomas visuais, podem cau-
sar puberdade precoce
15
. Nos negros com NF1, a ocorrência
de gliomas ópticos é menor
8
.
LESÕES ÓSSEAS
A escoliose displástica e a pseudoartrose tibial são as le-
sões ósseas mais graves da NF1. O abaulamento dos ossos
longos e afilamento dos córtex são lesões displásticas con-
gênitas e podem complicar com pseudoartrose e fraturas pa-
tológicas
8
.
OUTRAS MANIFESTAÇÕES E COMPLICAÇÕES
Outras manifestações e complicações estão apresentadas
na Tabela 29.8.1.
AVALIAÇÃO CLÍNICA E CONDUTA
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Os critérios diagnósticos estão listados na Tabela 29.8.2
16
.
Esses critérios têm alta especificidade e sensibilidade em adul-
tos11, mas, nos primeiros anos, as crianças podem não
preenchê-los, uma vez que os sinais da NF1 são idade-depen-
dentes
6
.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
344
Avaliação Clínica Inicial
A abordagem inicial de pacientes com NF1 deve constar
de detalhada anamnese, dando ênfase aos sinais e sintomas
da NF1; exame físico, com antropometria, medida da pressão
arterial (PA), avaliação da pele, inspeção dos ossos longos
e coluna; exame neurológico; exame oftalmológico e avalia-
ção de outros membros da família
6
.
É consenso que estudos de neuroimagem não precisam
ser realizados de rotina e que devem ser solicitados na pre-
sença de sintomas, como convulsões, macrocefalia, puberda-
de precoce, alterações da aprendizagem, ou sintomas oftalmo-
lógicos
11
. Outros exames complementares também devem ser
solicitados caso haja sintomas
2
.
História Natural da Doença, Acompanhamento e
Tratamento
O acompanhamento do paciente com NF1 deve ser mul-
tidisciplinar e anual
16
ou de acordo com os sintomas
11
. Huson
(1989) recomenda que seja semestral para crianças, uma vez
que a maior parte das complicações se desenvolve nessa faixa
etária
12
. Os principais sinais e sintomas que devem ser moni-
torados de acordo com cada faixa etária estão listados na Ta-
bela 29.8.3. Avaliações oftalmológicas devem ser realizadas
anualmente
2
. Existem recomendações especiais para o acom-
panhamento dos pacientes de acordo com a idade
2,11,12,16
. Na
presença de qualquer alteração, em qualquer faixa etária, o
paciente deve ser referido a um especialista, para realizar in-
vestigação e tratamento adequados
2,11
.
Não existe um tratamento específico para a NF1
12
. O tra-
tamento é voltado para as complicações, à medida que ocor-
rem, que são tratadas como o seriam se isoladas, e à sua an-
tecipação e prevenção
2,12
.
MORBIDADE E MORTALIDADE
A NF1 é uma doença progressiva, imprevisível e associa-
da com um aumento da mortalidade por causas relacionadas
à doença e diminuição da expectativa de vida. A maior cau-
Tabela 29.8.1
Complicações da NF1
7,9,12,17
Esqueléticas Neurológicas Endócrinas Neoplásicas Cardiovasculares
Displasia da asa do esfenóide Alterações de coordenação Puberdade precoce TMBNP HAS
motora ou tardia
Displasias craniofaciais Déficit cognitivo Gliomas Vasculopatias
Displasias vertebrais Alterações psiquiátricas Feocromocitomas Cardiopatias congênitas
Deformidades esternais Cefaléia Tumores derivados Estenose da artéria renal
de células da crista
neural
Genu varum/
valgum
Epilepsia Tumores carcinóides
Pseudoartrose Estenose de aqueduto Rabdomiossarcomas
Lesões líticas ósseas Alterações
cerebrovasculares
Baixa estatura
Macrocefalia
Escoliose
Tabela 29.8.2
Critérios Diagnósticos de NF1
16
NF1 está presente em um paciente com dois ou mais dos seguintes critérios:
Seis ou mais manchas café-com-leite > 5mm no maior diâmetro em indivíduos pré-puberais ou > 15mm após a puberdade.
Dois ou mais neurofibromas de qualquer tipo ou um ou mais neurofibromas plexiformes.
Sardas nas regiões axilares ou inguinais (sinal de Crowe).
Um tumor na via óptica.
Dois ou mais nódulos de Lisch (hamartomas da íris).
Uma lesão óssea distinta, como displasia da asa do esfenóide ou espessamento do córtex de ossos longos com ou sem pseudo-
artrose.
Um parente de primeiro grau com NF1 que preencha os critérios acima.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
345
sa de morte está relacionada à malignidade. A morbidade da
doença está relacionada à progressão dos vários sinais e sin-
tomas já descritos
8
.
GENÉTICA
ESTRUTURA E EXPRESSÃO GÊNICAS
O gene da NF1 está localizado em 17q11.2
14
e tem uma es-
trutura complexa. O cDNA contém 8.454 nucleotídeos e a re-
gião codificadora cobre cerca de 335kb de DNA genômico
14
.
É transcrito na direção centrômero-telômero. Foram identifi-
cados 60 éxons, numerados de 1 a 49, alguns subdivididos e
designados por letras
19
.
Existem vários locus homólogos ao lócus da NF1, que re-
presentam pseudogenes não processados causados por du-
plicações repetidas do lócus da NF1
19
. Foi sugerido que es-
tes pseudogenes fossem responsáveis pela alta taxa de mu-
tações encontradas no gene NF1, por conversão gênica en-
tre o lócus NF1 e os pseudogenes
19
.
Dentro do intron 27b existem três outros genes, cada um
com dois éxons, transcritos na direção oposta à transcrição
do gene NF1. O gene EVI2A codifica um peptídeo de 232
aminoácidos, expresso no cérebro e medula óssea, com um
domínio transmembrana. O gene EVI2B codifica um peptídeo
de 448 aminoácidos, de função desconhecida. O gene OMGP
codifica um peptídeo de 416 aminoácidos expresso na super-
fície celular de oligodendrócidos. Não foram identificados
fenótipos associados à inativação de qualquer um desses
genes
19
.
A região 3’ não traduzida se estende por 3,5kb após o si-
nal de parada da tradução e é altamente conservada, o que
sugere que seja importante na estabilidade do mRNA
14
. O
mRNA tem cerca de 12 a 14kb, identificado em todos os te-
cidos, em baixos níveis. Existem três isoformas geradas por
splicing alternativo, com diferentes padrões de expressão. A
forma mais comum inclui o éxon 23a, que está dentro do úni-
co domínio funcional identificado, apresenta diminuição da
atividade catalítica da enzima codificada
19
. A isoforma com o
éxon 48a é expressa em derivados musculares e a isoforma
com o éxon 9a é expressa somente no cérebro durante a em-
briogênese
19
. O mRNA também sofre um processo regulató-
rio pós-transcricional, onde a base 3.916 no éxon 23-1 é
deaminada de C para U, gerando uma parada prematura da
leitura no códon 1.303. Foram encontrados diferentes níveis
de mRNA editado em TMBNPs, neurofiromas benignos e as-
trocitomas, especulando-se que a inativação do alelo normal
por edição do mRNA leve a uma proliferação celular anor-
mal
19
.
FUNÇÃO PROTÉICA
O gene NF1 codifica a proteína neurofibromina, de 2.818
aminoácidos e 327kD, com uma região de homologia com a
família de proteínas ativadoras de GTPase (GAP), o domínio
relacionado a GAPs (GRD). O GRD pode estimular a ativida-
de GTPase intrínseca de ras
18,19
. O gene RAS é um proto-
oncogene que codifica a proteína RAS, membro de uma su-
perfamília de proteínas G que estão ativas quando ligadas a
GTP e inativas quando ligadas a GDP. Uma das vias de trans-
dução de sinal mediada por RAS é a via RAF-MAP quinases.
A proteína RAS-GTP ativada envia sinais, através de uma
fosfoinositol 3’quinase (PI3-quinase), que inibem a apopto-
se e, através da via RAF-MAP quinase, sinais que estimulam
a proliferação celular. A neurofibromina inativa RAS-GTP e a
diminuição de seus níveis levam a um aumento da sinalização
através da via RAF-MAP quinase e PI3 quinase, aumentan-
do a proliferação e a sobrevivência celular
19
.
MUTAÇÕES E FENÓTIPOS
A análise de mutações nos pacientes com NF1 é de difí-
cil execução devido ao grande tamanho do gene e à falta de
pontos quentes de mutação. Várias metodologias foram uti-
lizadas, tais como heteroduplex e SSCP para triagem de mu-
tações e análise por Southern blot e FISH para triagem de
grandes deleções. A maior parte dos estudos, baseados na
análise do DNA, encontrou mutação em cerca de 20% dos
pacientes e se concentrou no GRD. O método mais efetivo é
o teste da proteína truncada (PTT), que detecta mutações
confirmadas por seqüenciamento em cerca de 70% dos pa-
cientes
18,19
.
Vários tipos de alterações no gene foram encontrados,
incluindo anomalias cromossômicas; deleção de todo o gene,
de vários éxons ou pequenas deleções intragênicas; inser-
ções e mutações de ponto
19
. A maior parte das mutações re-
sulta em uma proteína truncada
18
. Mutações idênticas são
pouco comuns. A mutação mais comum identificada é a subs-
Tabela 29.8.3
Principais sinais/sintomas, de acordo com a faixa etária
2,11
.
Primeiros Dois Anos Pré-escolar Escolar Adolescência Adultos
neurofibromas plexiformes desenvolvimento puberal escoliose neurofibroma
estatura dificuldade de aprendizado neurofibroma HAS
perímetro cefálico gliomas DNMP neoplasias
displasias ósseas sardas alterações de comportamento
manchas café-com-leite cefaléia distúrbios do crescimento
escoliose
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
346
tituição C5839T no éxon 31
19
. A maior parte das mutações de
ponto tem origem paterna e a maior parte das deleções
intragênicas ocorre durante a ocogênese materna
18,19
.
A variedade de mutações encontradas sugere que sejam
geradas por muitos mecanismos diferentes. Não existe uma
correlação entre a mutação e o fenótipo resultante, excetuan-
do-se os fenótipos associados a grandes deleções do gene,
que sugerem que genes contíguos ao gene NF1 possam ser
importantes no desenvolvimento do fenótipo
19
.
A variabilidade clínica observada na NF1 é uma questão
intrigante, que pode ser em parte explicada por inativação do
alelo normal em células somáticas, o que está relacionado
com algumas neoplasias e com mosaicismo somático
1
. Outras
hipóteses levantadas, pela observação de agrupamento fami-
liar de algumas características da NF1, foi a existência de ge-
nes modificadores ou atuação de genes envolvidos em tra-
ços limitados ao sexo masculino
1
. Também foi sugerido que
fatores ambientais, como traumas mecânicos pudessem estar
envolvidos no desenvolvimento de neurofibromas cutâneos
1
.
NEOPLASIAS
Entre as neoplasias mais comuns estão os tumores malig-
nos de bainha do nervo periférico (TMBNP), tumores difíceis
de detectar e de mau prognóstico. Devem ser suspeitados
quando o paciente desenvolve intensa dor sem explicação
plausível, aumento rápido no tamanho ou mudança na con-
sistência de um neurofibroma plexiforme ou déficit neuroló-
gico
4
. Os TMBNPs devem ser biopsiados e removidos cirur-
gicamente com amplas margens livres sempre que possível.
O tratamento oncológico deve ser idêntico à de tumores de
tecidos moles de pacientes não-NF1. A radioterapia auxilia no
controle local e pode retardar o início de uma recidiva, mas
tem pouco efeito na sobrevida em longo prazo. Existem con-
trovérsias quanto ao uso de quimioterapia, que pode ser be-
néfica para tumores localizados em locais de difícil acesso à
radioterapia
4
. Foi demonstrado que esses tumores exibem
perda da expressão do gene NF1 e aumento da ativação do
ras, além de outras alterações genéticas (p27-Kip1, p53, p16).
Pacientes com microdeleções do gene NF1 tem um risco mai-
or de desenvolvê-los
4
.
Além dos gliomas ópticos, já discutidos anteriormente
nesse capítulo, os gliomas na NF1 podem ocorrer em qual-
quer ponto do neuroaxis e apresentam maior freqüência de
progressão maligna que tumores semelhantes na população
em geral, sem NF1
13
.
Os pacientes com NF1 apresentam um risco maior para
desenvolver neoplasias hematológicas, especialmente leuce-
mia mielomonocítica crônica, leucemia linfoblástica aguda e
linfoma não-Hodgkin. Foi relatado que pacientes com NF1 e
xantogranuloma juvenil podem apresentar um risco maior para
leucemia mielóide crônica juvenil, embora essa associação
não seja conclusiva
13
. As células leucêmicas nos pacientes
com NF1 apresentam perda de heterozigosidade do gene NF1
e a perda da neurofibromina foi associada com um aumento
da ativação do ras
13
.
Dentre as neoplasias, os feocromocitomas têm uma forte
associação com NF1. A maioria está na medula adrenal, 10%
são bilaterais e 10% são malignos. Geralmente, são detecta-
dos na idade adulta e os pacientes apresentam hipertensão
arterial sistêmica (HAS), agitação e ansiedade imotivadas, ta-
quicardia e sudorese excessiva. Níveis elevados de epinefri-
na estão associados com HAS intermitente e níveis elevados
de norepinefrina, com a HAS mantida. Além disso, pode ha-
ver alteração do metabolismo da glicose
10
. A glândula adre-
nal normal expressa o mRNA do gene NF1 contendo o éxon
23a, e os feocromocitomas expressam o mRNA sem esse éxon.
O significado deste fato não está ainda esclarecido, mas su-
põe-se que esteja relacionado com a patogênese tumoral
10
.
Outros tumores derivados de células da crista neural fo-
ram descritos, incluindo carcinoma medular de tireóide e me-
lanomas. A expressão do gene NF1 é alta nas células deriva-
das da crista neural, o que sugere que a perda da expressão
gênica desregule o crescimento desses tecidos, levando ao
aparecimento de neoplasias
10
.
Na NF1, tumores carcinóides ocorrem com maior freqüên-
cia na raça negra. Geralmente, são diagnosticados entre a
quarta e a sexta década de vida e aparecem na região da am-
pola de Vater. Quase todos contêm somatostatina. Os pacien-
tes com feocromocitoma são especialmente propensos a
desenvolvê-los e vice-versa
7
. Outros tumores endócrinos
descritos em pacientes com NF1 incluem adenomas de para-
tireóide e carcinomas de tireóide
7
.
Os rabdomiossarcomas ocorrem em 1 a 2% dos pacientes
com NF1, sendo a maioria embrionária. A distribuição dos
tumores não difere da distribuição na população sem NF1. À
existência de uma isoforma músculo-específica da neurofibro-
mina, sugere-se que o gene NF1 deva ter uma função espe-
cífica durante a diferenciação da célula muscular e que a per-
da da expressão protéica esteja associada a uma maior proli-
feração dessas células
10
.
A associação entre tumor de Wilms e NF1 é controversa
e não comprovada. No entanto, crianças com NF1 e tumores
embrionários parecem ser mais susceptíveis ao desenvolvi-
mento de neoplasias secundárias após quimioterapia e radio-
terapia
10
.
MODELOS ANIMAIS
Homólogos da neurofibromina foram estudados na leve-
dura e na Drosophila, mas foi o desenvolvimento de camun-
dongos transgênicos que possibilitou o seu estudo em um
sistema biológico semelhante ao humano
19
. Animais knock-
out convencionais possibilitaram o estudo da função gênica
e desenvolvimento de knock-outs condicionais permitiu o
estudo da função da neurofibromina em tecidos específicos,
o que é particularmente útil para o estudo da tumorigênese.
Outra abordagem para o estudo da formação tumoral envol-
ve a geração de animais heterozigotos para mutações no gene
nf1 e outros genes supressores de tumores relevantes. A
existência de isoformas da neurofibromina levou à constru-
ção de animais deficientes em éxons específicos relacionados
às isoformas. O estudo desses animais pode contribuir para
o entendimento de fatores genéticos e biológicos determinan-
tes da tumorigênese e fornecer informações cruciais que per-
mitam o desenvolvimento de alvos moleculares para o desen-
volvimento de potenciais drogas terapêuticas
3
.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
347
ACONSELHAMENTO GENÉTICO
O aconselhamento genético deve ser oferecido para todas
as famílias portadoras de NF1. O risco de NF1 para cada des-
cendente de um portador é de 50%, independente do sexo. É
importante ressaltar que existe uma grande variabilidade clí-
nica da doença e que não existem ainda maneiras de se pre-
ver a gravidade e a evolução
6
.
O diagnóstico pré-natal pode ser realizado por análise di-
reta de mutações, quando um dos pais já tem o diagnóstico
molecular ou por análise de ligação, se na família houver
membros afetados disponíveis e marcadores informativos
suficientes para sua realização
6
.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Hopkins University Press, Baltimore, 1999.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
348
INTRODUÇÃO
O retinoblastoma é o tumor intra-ocular maligno mais co-
mum da infância originando-se da membrana neuroectodér-
mica da retina embrionária. Pode ser unilateral ou bilateral,
unifocal ou multifocal. Ocorre na forma hereditária (40%) e
esporádica (não-hereditária) em 60% dos casos.
É creditado a Petrus Pawius a primeira descrição na lite-
ratura de um retinoblastoma. Ele descreveu um tumor ocular
maligno que invadia a órbita e a região temporal. Dunphy
acredita que a primeira descrição do sinal chamado reflexo de
olho de gato foi descrita por Hayes em 1767, porém outros
historiadores atribuem o termo a George Joseph Beer que en-
fatizou o sinal diagnóstico. Foi apenas em 1809 que o retino-
blastoma foi descrito como uma entidade por James
Wardrop
1
.
No Brasil, a incidência de retinoblastoma ainda é desco-
nhecida. Estudos realizados em outros países demonstraram
uma incidência em torno de 1/18.000-30.000 nascidos-vivos
dependendo do país. Não existe uma aparente predileção ra-
cial ou sexual. Cerca de 90% dos diagnósticos são feitos an-
tes dos sete anos de idade. Os tumores bilaterais são diag-
nosticados por volta de 13 meses de vida e os unilaterais por
volta de 24 meses
6
.
Cerca de 90% dos pacientes com retinoblastoma sobrevi-
vem ao tumor. Pacientes com tumores bilaterais ou unilate-
rais-multifocais apresentam uma predisposição genética ao
desenvolvimento de tumores secundários, e a mortalidade
nesses indivíduos é maior que naqueles que apresentam
mutações somáticas. O diagnóstico precoce torna maior a
possibilidade de cura e a conservação do globo ocular e da
visão.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
No Brasil, muitas vezes o diagnóstico é tardio fazendo
com que grande parte dos retinoblastomas tenham apresen-
tação extra-ocular, que é de pior prognóstico. As manifesta-
ções clínicas encontradas vão depender da localização do
tumor, do seu tamanho e da época do diagnóstico. A mani-
festação clínica mais freqüente nos retinoblastomas intra-
oculares é a leucocoria ( reflexo do olho de gato) que está pre-
sente em cerca de 70% dos casos e que geralmente é descri-
ta pelos pais. Outras manifestações clínicas podem ser encon-
tradas: estrabismo em 20% dos casos (divergente ou conver-
gente), protusão do globo ocular, hiperemia, glaucoma (10%),
heterocromia, dilatação pupilar. No retinoblastoma extra-ocu-
lar, as manifestações clínicas dependem de quais estruturas
Marli de Castro Pereira Rio
29.9
Retinoblastoma Hereditário
foram afetadas, podendo encontrar manifestações como uma
massa na região orbitária, proptose, sinais neurológicos fo-
cais, cefaléia, vômito. O retinoblastoma é considerado
unifocal se apenas um tumor está presente, e multifocal se
mais de um tumor está presente.
Pacientes com deleções envolvendo o cromossomo 13
podem apresentar algumas dismorfias faciais e malformações
características como: lóbulo da orelha antevertido e espesso,
testa alta, filtro proeminente e nariz curto
2
.
O diagnóstico clínico é feito através do exame de fundo
de olho por oftalmoscopia indireta. Outros exames podem ser
realizados com o intuito de encontrar outras alterações pre-
sentes nos quadros de retinoblastoma e servem para nos
mostrar quais estruturas foram acometidas e em que estágio
se encontra o tumor. A ecografia é precisa em detectar calci-
ficações intra-oculares quando comparada com raio X de crâ-
nio. A tomografia computadorizada de crânio é importante
para avaliar o envolvimento do nervo óptico, as estruturas
orbitárias ou metástases cerebrais. Raramente, o retinoblas-
toma bilateral pode estar associado ao envolvimento da hi-
pófise; neste caso, é referido como retinoblastoma trilateral
(retinoblastoma bilateral + pinealoma).
Para o estadiamento do tumor, os seguintes exames são
realizados: tomografia computadorizada de crânio e órbita;
mapeamento ósseo com tecnésio; ultra-sonografia abdominal;
punção lombar com exame citológico do líquor e mielograma
3
.
O diagnostico diferencial de retinoblastoma deve ser fei-
to com:
Doença de Coats (retinite exudativa);
Esclerose tuberosa;
Doença de Norrie;
Incontinentia pigmenti;
Vítreoretinopatia exudativa familial;
Manifestações oculares do Toxocara canis (granulo-
ma larval).
O tratamento varia de acordo com a extensão do tumor, as
estruturas acometidas e o estadiamento. Os tipos de trata-
mento utilizados incluem: quimioterapia, radioterapia, criote-
rapia, fotocoagulação e enucleação.
GENÉTICA DO RETINOBLASTOMA
Em 60% dos casos, o retinoblastoma é esporádico, sem
história familiar positiva e acomete apenas um dos olhos (uni-
lateral), fruto de duas mutações somáticas, não predispõem
a um risco aumentado de tumores extra-oculares. Cerca de
40% dos retinoblastomas são da forma hereditária. Destes
apenas ¼ apresentam um padrão familial (com outros familia-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
349
res afetados), e a maioria, ou ¾ dos casos, é considerada de
novo.
O retinoblastoma hereditário tem herança autossômica
dominante, isto é, existe um risco de 50% de transmitir a pre-
disposição ou o retinoblastoma para seus descendentes. A
penetrância, chance de um genótipo ter qualquer expressão
fenotípica, é maior que 90% (Fig. 29.9.1).
Os retinoblastomas hereditários podem acometer um olho
(unilateral) em 15% dos casos (geralmente multifocal), ou
dois olhos (bilateral) em 25% dos pacientes. Os tumores bi-
laterais são sempre hereditários. A distinção destas formas
do retinoblastoma tem importantes implicações para os pa-
cientes e suas famílias. A Tabela 29.9.1 mostra algumas carac-
terísticas que podem ajudar-nos na diferenciação.
Alguns casos de retinoblastoma hereditário com baixa
penetrância têm sido descritos na literatura. A penetrância
incompleta é acompanhada de baixa expressividade (retino-
blastoma unilateral). Alelos com baixa penetrância resultam
em inativação parcial da função do gene RB1.
O GENE RB1
Em 1971, Alfred Knudson postulou que duas mutações
no mesmo lócus eram necessárias para que o retinoblastoma
se desenvolvesse (hipótese de Knudson). Assim, na forma
hereditária, uma mutação no gene RB1 é herdada e a outra,
adquirida. A primeira mutação ocorre na célula germinativa e
está presente em cada célula do corpo humano. A segunda
mutação ocorre em células somáticas da retina desencadean-
do o aparecimento do tumor. O primeiro evento pode ser her-
dado de um dos progenitores, ou a mutação acontecer duran-
te a embriogênese, neste caso chamado de mutação de novo.
O alelo mutante, embora seja transmitido de forma autossô-
mica dominante, é recessivo ao nível celular, uma vez que é
um gene supressor de tumor. A segunda mutação, necessá-
ria para que o tumor se desenvolva, leva à perda ou inativa-
ção do alelo normal no homólogo RB1 remanescente, geral-
mente por perda da heterozigosidade (LOH). A perda da he-
terozigosidade pode ser resultado de deleções ou rearranjos
cromossômicos como não disjunção ou recombinação
mitótica.
Existe um balanço entre os sinais estimuladores e inibido-
res de crescimento interagindo todas as células que formam
o organismo. Uma perturbação desse balanço pode levar as
células a se proliferarem desordenadamente e fora de contro-
le, resultando em aparecimento de câncer. Múltiplos mecanis-
mos controlam a diferenciação e a proliferação, mas o gene
do retinoblastoma tem um papel importante nesse processo.
O retinoblastoma foi o primeiro câncer a ser relacionado com
um tipo de defeito genético específico
4
.
O gene RB1 é um gene supressor de tumor, e está locali-
zado no braço longo do cromossomo 13 (13q14). Da mesma
forma que outros genes supressores de tumor, o gene RB1
inibe a proliferação das células. O gene RB1 foi descoberto
em 1986 por Dryja e col., contém 27 éxons, ocupa uma exten-
são de 180kb do genoma e transcreve um RNA mensageiro
de 4,7kb, com uma fase aberta de leitura (ORF) de 2,7kb. A
proteína RB (pRB) apresenta 110KDa (p110), é uma fosfopro-
teína nuclear composta de 928 aminoácidos. Outros dois pro-
dutos do gene RB1, p107 e p130 foram identificados e tam-
bém estão envolvidos na indução de retinoblastoma em ca-
mundongos transgênicos. A pRB, p107 e a p130 constituem
uma pequena família de proteínas que compartilham seqüên-
cias similares
5
.
Os genes TP53 e RB1 participam na regulação da trans-
crição do DNA, impedindo que a célula saia do estágio G1 e
entre na fase S do ciclo celular. A pRB atua por regulação
negativa na progressão do ciclo celular, é hipofosforilada na
fase GO e início de G1, (mediado por uma quinase dependen-
te de ciclina — cdk2), e permanece fosforilada na fase S, G2
e durante a mitose. Durante a fase G1 do ciclo celular, a pRB,
forma hipofosforilada, liga-se a E2F causando a repressão da
transcrição dos genes mediados por estes genes. Quando a
pRB é fosforilada no final da fase G1, os fatores E2F são li-
Fig. 29.9.1
— Heredograma de uma família com retinoblastoma hereditário.
RB bilateral,
1ano
RB bilateral, 1 ano
Osteossarcoma, 16 anos
RB bilateral,
6 meses
RB bilateral,
6 meses
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
350
berados e promovem a expressão de genes que é necessária
para a divisão celular. A pRB fosforilada (resíduos de treoni-
na da pRB) encontra-se inativada por uma alteração da sua
estrutura conformacional que libera a proteína E2F, um impor-
tante fator de transcrição. A atividade da pRB é controlada
pelas cdk e inibidores de cdk
4
.
A inativação da regulação da pRB é um evento inicial ne-
cessário para o desenvolvimento do retinoblastoma e também
está envolvido com a tumorigênese de outras neoplasias
como os osteossarcomas e melanomas.
MUTAÇÕES GERMINATIVAS NO GENE RB1 E
CORRELAÇÃO GENÓTIPO-FENÓTIPO
O espectro das mutações do gene RB1 varia desde alte-
rações cromossômicas (deleções citogenéticas), genômicas
(deleções submicroscópicas), bem como intragênicas (muta-
ções de ponto). As mutações pontuais incluem tanto subs-
tituições de bases únicas, quanto pequenas deleções e inser-
ções, até mesmo mutações complexas (Tabela 29.9.2). Cerca
de 400 mutações germinativas distintas no gene RB1 já foram
relatadas em pacientes com retinoblastoma através do estu-
do do DNA. Cerca de 85-90% das mutações resultam de ter-
minação prematura de um códon, através de substituição úni-
ca de bases, mutações frameshift, ou mutações intrônicas em
sítios de splicing.
Na maioria das famílias com retinoblastoma, todos os
membros que herdaram a mutação germinativa desenvolvem
múltiplos tumores em ambos os olhos. Muitas dessas famíli-
as segregam alelos nulos que são alteradas por mutações
non-sense ou frameshift. Algumas famílias têm baixa pene-
trância com expressividade reduzida (prevalência aumentada
em retinoblastoma unilateral) e penetrância incompleta (25%
ou menos). Esta baixa penetrância parece estar associada com
uma mutação dos alelos RB1 mostrando mutação na região
promotora do gene RB1 ou mutação tipo missense na região
codificadora. Uma terceira categoria de famílias mostra pene-
trância reduzida, mas a expressividade não está reduzida em
membros de uma família com retinoblastoma
7
.
Deleções visíveis ao exame citogenético envolvendo 13q14
resultam em deleções de outros genes na mesma região cro-
mossômica podendo causar atraso de desenvolvimento e
dismorfismo facial moderado
2
. Pequenas deleções do 13q14
mostram reduzida expressividade, uma proporção considerável
destes pacientes mostram retinoblastoma unilateral apenas.
ACONSELHAMENTO GENÉTICO
É importante ressaltar que os pacientes que apresentam
a forma hereditária, com mutação germinativa RB1, têm risco
aumentado para desenvolvimento de tumores extra-oculares.
Outros tumores observados nestes pacientes são: osteossar-
Tabela 29.9.1
Características do Retinoblastoma Hereditário e do Não-hereditário
Hereditário (40%) Não-hereditário (60%)
Tipo de Tumor 25% bilateral 15% unilateral 100% unilateral
História Familiar 10% positiva 30% negativa (
de novo
) 100% negativa
Idade ao Diagnóstico < 1 ano ~24 meses
Tipo de Mutação Mutação germinativa Mutação somática
Risco para outros tumores Tumores ósseos Risco de osteossarcoma secundário
Câncer de pele (associado ao tratamento)
Pinealoma
Outros tumores
Tabela 29.9.2
Distribuição das Mutações Intragênicas do Gene
RB1
em 19 Relatos Internacionais pelo País de Origem
5
Tipo de Mutação Alemanha França Reino Unido Japão Argentina Estados Unidos Total (%)
Non-sense
41 14 25 2 1 0 83 ( 43)
Frameshift
27 20 12 5 3 0 67 ( 35)
Intron 9 5 4 4 0 1 23 (12 )
Missense
2 5 3 1 0 0 11 ( 6)
Deleção
in-frame
4 1 0 0 0 0 5 ( 3)
Promotor 0 0 1 0 0 2 3 ( 2 )
Total 83 45 45 12 4 3 192
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
351
coma, sarcoma de tecidos moles e melanoma. Estes tumores
geralmente se manifestam na adolescência ou na fase adul-
ta. A incidência de tumores secundários é aumentada em
mais de 50% em pacientes tratados com radioterapia.
Os familiares de primeiro grau (pais e irmãos) de pacien-
tes com retinoblastoma hereditário sem história familiar de-
vem ser investigados com fundo de olho. Nesses casos, há
indicação do exame oftalmológico dos pais à procura de
retinomas ou retinocitomas, que é a lesão cicatricial de um
retinoblastoma que sofreu regressão espontânea. Do ponto
de vista genético, tem o mesmo significado que o retinoblas-
toma causado por inativação do gene RB1.
Alguns exames laboratoriais estão disponíveis e nos au-
xiliam no diagnóstico e no aconselhamento genético. O es-
tudo citogenético dos linfócitos do sangue periférico (por
cariótipo ou por FISH) detecta deleções visíveis ou rearran-
jos envolvendo 13q14.-q14.2. É recomendado que esse estu-
do tenha resolução de cerca de 600-650 bandas e que pelo
menos 30 metáfises sejam analisadas. As alterações em mo-
saico estão presentes em cerca de 1% dos pacientes. No en-
tanto, estes exames só mostram anomalias cromossômicas em
apenas 7,5% dos pacientes com retinoblastoma bilateral. Isso
ocorre porque a análise citogenética tem baixa resolução e
detecta apenas as grandes alterações. A técnica de Southern-
blot pode detectar pequenos rearranjos do DNA em 16% dos
pacientes. Técnicas moleculares mais sofisticadas podem
detectar pequenas mutações e vêm sendo usadas, incluindo
o SSCP (single strand conformational polymorphism), aná-
lise por heteroduplex, e o seqüenciamento direto. Essas téc-
nicas são capazes de detectar mudanças de um único par de
bases, e identificam a mutação germinativa em ate 75% dos
pacientes com retinoblastoma hereditário
7
.
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7. Lohmann DR et al. Retinoblastoma. Disponível na Internet:
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Patricia Ashton-Prolla
Charles André Carvalho
29.10
Melanoma Familiar
INTRODUÇÃO
O primeiro relato de melanoma data de 1820 e descreve
uma família com suspeita de suscetibilidade hereditária à
doença. No entanto, somente a partir de 1983, análises gené-
ticas formais identificaram um padrão de herança autossômica
dominante em algumas famílias. Síndromes de suscetibilida-
de hereditária ao câncer (SSHC) podem ser definidas, no sen-
tido mais amplo, como agrupamentos de certos tipos de neo-
plasias em determinada família com uma freqüência maior do
que a esperada para a população em geral. Atualmente, a
grande maioria das SSHC está associada a mutações germi-
nativas em genes específicos, incluindo genes supressores
de tumor, oncogenes ou genes envolvidos com o reparo do
DNA. Nem sempre é fácil diagnosticar uma SSHC consideran-
do unicamente dados clínicos, já que tumores esporádicos
podem simular uma predisposição familiar
17
. Atualmente, o
melanoma é considerado um modelo de doença multifatorial,
onde fatores genéticos e ambientais estão envolvidos.
O melanoma é a primeira causa de morte por doenças de
pele e representa cerca de 1% de todos os tumores malignos.
Associado à elevada morbi-mortalidade, sua incidência tem
aumentado dramaticamente nas últimas quatro décadas em
diversos países industrializados. Nos EUA, 44.200 novos ca-
sos foram registrados em 1999, resultando em 7.300 mortes
13
;
para 2002, projetam-se 53 000 novos casos
14
. (N.R.: informa-
ção defasada; fala-se em projeção de 53 mil novos casos para
2002, ano passado!) Entre 1973 e 1998, a incidência e a mor-
talidade por melanoma neste país aumentaram continuamen-
te, em taxas superiores àquelas da maioria das outras neopla-
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
352
sias passíveis de prevenção
7
. Este aumento no número de
novos casos pode dever-se a um diagnóstico mais precoce
e eficaz e/ou a um aumento real na incidência. O envelheci-
mento marcado da população nos países industrializados ex-
plica grande parte deste fenômeno, associado ao aumento
genérico na incidência de outras neoplasias malignas. No
entanto, as mudanças culturais que levaram ao aumento na
exposição solar, particularmente a valorização crescente do
padrão de pele bronzeada, também podem ter contribuído
para o aumento das taxas de incidência de melanoma ao lon-
go de décadas. É fato que o diagnóstico do melanoma tem
ocorrido em estágios mais precoces, resultando em importan-
te redução na mortalidade, mas isso não parece ser o princi-
pal determinante da tendência secular de aumento na sua in-
cidência. No Brasil, estima-se que cerca de quatro mil novos
casos (INCA, 1999) sejam diagnosticados anualmente, o que
provavelmente é um sub-registro dos números reais
2,8
.
A idade média ao diagnóstico de melanoma na população
geral é de 57 anos para os homens e 50 anos para as mulhe-
res
15
. Por outro lado, em indivíduos de alto risco para mela-
noma hereditário, esta média se antecipa para 36 anos em ho-
mens e 29 anos em mulheres. Além da idade mais precoce ao
diagnóstico, os pacientes com melanoma familiar têm maior
incidência de múltiplos melanomas primários
6
.
Como a mortalidade por melanoma é diretamente propor-
cional ao estágio de desenvolvimento da doença, a identifi-
cação de indivíduos geneticamente predispostos poderá ser
importante para direcionar intervenções de vigilância, diag-
nóstico precoce e tratamento curativo.
GENES ASSOCIADOS AO MELANOMA FAMILIAR
Quatro a 15% dos indivíduos diagnosticados com mela-
noma apresentam história familiar positiva para esta neopla-
sia. Embora agrupamentos de casos de melanoma e/ou nevos
displásicos possam ocorrer em uma família devido a padrões
comuns de exposição solar e não a fatores genéticos, estima-
se que 5 a 7% de todos casos de melanoma sejam causados
por mutações germinativas em genes de suscetibilidade e se-
jam, portanto, hereditários. Até o presente momento, dois
genes associados a alto risco foram identificados: CDKN2A
e CDK4. Um terceiro gene — p14
ARF
— também poderá ser
enquadrado nesta categoria, bem como outros genes ainda
não identificados (em várias famílias com história compatível
há ausência de mutações nos genes descritos acima)
5
.
CDKN2A
Historicamente, análises de ligação, estudos citogenéti-
cos e de perda de heterozigosidade em indivíduos com forte
história familiar associaram o lócus 9p21 a um gene de sus-
cetibilidade ao melanoma. Este gene, p16
INK4A
/CDKN2A, foi
clonado em 1993 e formalmente associado a uma síndrome de
melanoma familiar em 1994. Ele codifica a proteína p16, que
inibe a atividade do complexo formado pela ciclina D1 com as
quinases ciclina-dependentes 4 (CDK4) ou 6 (CDK6). Este
complexo participa da fosforilação da proteína Rb, que per-
mite a progressão além da fase G1 do ciclo de divisão celu-
lar. A proteína p16, portanto, tem uma ação supressora de tu-
mor, através de regulação negativa do ciclo celular. A fre-
qüência de mutações no gene CDKN2A observada em vári-
os estudos de famílias afetadas com melanoma (América do
Norte, Austrália e Europa) varia de 5 a 50% (média 20%), de
acordo com os critérios de inclusão das famílias. A compila-
ção dos dados destes estudos indica que a freqüência de
mutações em CDKN2A aumenta com: a) o número de casos
de melanoma na família, b) a presença de indivíduos com múl-
tiplos melanomas primários e c) número de casos diagnosti-
cados antes dos 50 anos. Além disso, portadores de mutação
podem ter um risco aumentado de câncer de pâncreas e pro-
vavelmente de outros tumores também (carcinomas epider-
móides de cabeça e pescoço e tumores do sistema nervoso
central). Um excesso de casos de câncer de mama também
tem sido descrito em dois grupos de famílias (italianas e su-
ecas), mas esta observação aguarda confirmação em um nú-
mero maior de famílias. Além de famílias com múltiplos casos
de melanoma, mutações em CDKN2A têm sido identificadas
em 10% dos indivíduos com múltiplos melanomas primários
na ausência de história familiar. Deve ser ressaltado que a fre-
qüência de mutações neste gene na população geral não é
conhecida
9
.
CDK4
O gene CDK4 é um oncogene que está localizado no cro-
mossomo 12q13 e codificauma proteína quinase ciclina-de-
pendente do ciclo celular. Em todas as famílias de melanoma
que apresentam uma mutação (três descritas até o momento),
esta se localiza no códon 24 dentro do domínio que liga CDK4
à proteína p16
20
.
P14
ARF
O lócus p16 é peculiar pela sua capacidade de codificar
dois genes diferentes, a partir de quadros de leitura distintos.
O gene CDKN2A, que codifica p16, divide-se nos éxons E1a,
E2 e E3. O transcrito alternativo desta região inicia a partir do
éxon E1b (10 a 20 kb acima de E1a) e compreende também as
seqüências de E2 e E3, dando origem às proteínas p19
ARF
(em
camundongos) e p14
ARF
(em humanos), que não apresentam
homologia significativa de sua seqüência de aminoácidos
com p16, mas têm um papel importante de inibição do ciclo
celular
19
. Do ponto de vista funcional, ambos produtos
gênicos agem regulando negativamente a progressão do ci-
clo celular. A proteína p16 inibe competitivamente CDK4, que
é um fator necessário para a progressão das células através
de um ponto importante de transição do ciclo de divisão ce-
lular (após G1).
Alterações funcionais de p16 (por mutações de ponto ou
deleções) aumentam a probabilidade de que células com
DNA danificado escapem de processos de reparo antes da
divisão celular. A proteína p14
ARF
regula o crescimento celu-
lar através de efeitos independentes sobre a via regulatória
de p53. Sendo assim, p14
ARF
poderia ser um excelente candi-
dato à condição de terceiro gene associado com melanoma
hereditário. Recentemente, foram descritas quatro famílias
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
353
com múltiplos casos de melanoma e tumores do sistema ner-
voso central (SNC) que apresentavam mutações envolvendo
a perda funcional de p14
ARF
, associando de uma forma mais
definitiva esse gene à ocorrência de uma síndrome de mela-
noma e tumores do SNC
3
.
OUTROS GENES
A presença de mutações no gene BRCA2, associado à
síndrome de suscetibilidade hereditária ao câncer de mama e
ovário, também confere um risco aumentado de melanoma
16
,
assim como o diagnóstico de retinoblastoma, síndrome de Li-
Fraumeni, síndrome de Von Hippel-Lindau e xeroderma pig-
mentoso (Tabela 29.10.1)
12
.
OUTROS FATORES DE RISCO GENÉTICO PARA
MELANOMA
MC1R
Além das raras mutações deletérias em genes de alta pe-
netrância como CDKN2A e CDK4, variantes alélicas freqüen-
tes de genes de baixo risco estão provavelmente envolvidas
na suscetibilidade ao melanoma. Tais variantes alélicas pode-
riam agir como modificadores de genes de alto risco em famí-
lias afetadas ou como genes de suscetibilidade de baixa pe-
netrância em casos esporádicos ou famílias com poucos ca-
sos. Considerando a exposição à radiação ultravioleta e as
reações da pele a tal exposição como importantes fatores de
risco, é lógico pensar que alguns destes genes de baixa pe-
netrância estejam envolvidos com os processos de pigmen-
tação, reparo de DNA e metabolismo de carcinógenos. Nes-
se contexto, o único gene que confere um risco levemente
aumentado de melanoma até hoje identificado —
melanocortin-1 receptor gene (MC1R) — codifica uma pro-
teína que tem papel chave no processo de pigmentação da
pele. O gene, localizado em 16q24, é marcadamente
polimórfico em indivíduos brancos, com mais de 20 variantes
alélicas descritas. Estudos recentes mostraram que algumas
destas variantes modulam o tipo de pele, a capacidade de
bronzear, a cor do cabelo e o risco de melanoma, estabelecen-
do um elo de ligação entre estas características cutâneas e o
risco de desenvolver melanoma
5
.
NEUROFIBROMATOSE TIPO 1
Embora uma associação definitiva entre melanoma e neu-
rofibromas não tenha sido descrita até o momento, alguns
estudos sugerem tal possibilidade. Os melanócitos são res-
ponsáveis pelas características mais proeminentes da neuro-
fibromatose, (manchas café-com-leite e os nevos gigantes
congênitos) e, além disso, têm a mesma origem embrionária
da maioria dos tumores associados à neurofibromatose (neu-
roectoderma)
10
.
Uma observação interessante é a perda dos
dois alelos do gene NF1 na maioria das linhagens celulares
de melanoma, sugerindo que esse gene pudesse ter um pa-
pel importante no desenvolvimento ou na progressão do me-
lanoma
1
. Ainda, um estudo recente identificou uma mutação
germinativa afetando o processamento do RNA dos genes
CDKN2A e p14
ARF
em uma família com múltiplos casos de
melanoma e neurofibromas
18
.
INTERAÇÃO GENE-AMBIENTE
O risco que portadores de mutação em CDKN2A têm de
desenvolver melanoma (isto é, a penetrância) foi recentemen-
te estimado usando um total de 80 famílias provenientes da
Europa, América e Austrália. Esta análise, baseada em mode-
los de regressão logística, mostrou uma variação no risco de
melanoma de acordo com a origem geográfica: o risco cumu-
lativo de melanoma aos 80 anos de idade foi de 58% nas fa-
mílias européias, 76% nas famílias americanas e 91% nas fa-
mílias australianas. Estes achados sugerem uma interação de
CDKN2A com o grau de exposição solar, que por sua vez se
Tabela 29.10.1
Genes Associados a Melanoma Familiar
Gene Síndrome Locus
CDKN2A CDK4
Melanoma familiar 9p21 12q14
BRCA2
Síndrome de câncer de mama e ovário hereditários 13q12-q13
RB1
Retinoblastoma hereditário 13q14
TP53
Síndrome de Li-Fraumeni 17p13
VHL
Síndrome de Von Hippel-Lindau 3p25-p26
XPA
Xeroderma pigmentoso 9q34
XPB
2q21
XPC
3p25
XPD
19q13
XPE
11p12
XPF
16p13
XPG
13q32
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
354
correlaciona com a latitude. Este risco independe do sexo do
indivíduo e do efeito funcional das diferentes mutações (isto
é, se alteram ou não p16 e p14
ARF
simultaneamente) e sugere
que os mesmos fatores que afetam a incidência de melanoma
em diferentes populações possam também mediar a penetrân-
cia de mutações em CDKN2A
4
.
ASPECTOS PRÁTICOS DO DIAGNÓSTICO E
MANEJO DO MELANOMA FAMILIAR
O primeiro passo para identificação de indivíduos em ris-
co para o melanoma familiar é a revisão detalhada da histó-
ria familiar, com a construção de heredograma de pelo menos
três gerações e confirmação dos diagnósticos de neoplasia
com laudos anátomo-patológicos sempre que possível. Em-
bora os casos mais evidentes sejam aqueles com múltiplos
afetados por melanoma na família, esses não são os mais co-
muns. A presença de melanoma e outra neoplasia maligna
primária ou de múltiplos melanomas primários no mesmo indi-
víduo deve sempre levantar a suspeita de um fator genético
predisponente, especialmente se os diagnósticos forem em
idade precoce. A presença de outros tumores na família não
exclui a possibilidade de uma síndrome de predisposição he-
reditária ao câncer e o diagnóstico específico dependerá dos
tipos e idades em que esses tumores não-melanoma ocorreram.
O Consórcio de Genética e Melanoma, um grupo interna-
cional de estudo do melanoma hereditário, concluiu recente-
mente que o nível de evidência atual não permite ainda utili-
zar o diagnóstico de uma mutação em CDKN2A como deter-
minante absoluto de condutas de prevenção e rastreamento.
Este mesmo grupo sugere que estudos genéticos do melano-
ma familiar sejam ainda realizados somente no contexto de
pesquisa
11
. Mesmo assim, vários investigadores sugeriram
que estratégias de prevenção e rastreamento intensivo sejam
oferecidas a indivíduos de risco. Estas recomendações de
manejo, baseadas em evidências de nível IV apenas centrali-
zam-se em dois aspectos principais: a) modificação de fato-
res de risco para o melanoma e b) o rastreamento com o ob-
jetivo de otimizar detecção e exérese precoce do melanoma
(Tabela 29.10.2). Estudos adicionais de seguimento em longo
prazo com grupos maiores de pacientes de diversas popula-
ções serão necessários para determinar a real eficácia destas
medidas em indivíduos de alto risco para o melanoma here-
ditário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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the neurofibromatosis 1 gene in sporadic malignant melanoma
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11. Kefford R, Bishop JN, Tucker M et al. Genetic testing for
melanoma. Lancet Oncol,Nov, 3(11):653-4, 2002.
Tabela 29.10.2
Recomendações de Manejo de Pacientes de Alto Risco para Melanoma
Modificação de Fatores de Risco Rastreamento
- proteção solar intensa com vestuário apropriado e filtros - exame dermatológico de base aos 10 anos
solares (FPS > 15; UVA/UVB) - educação quanto ao auto-exame mensal
- evitar queimaduras solares - exame dermatológico semestral incluindo genitália e escalpo até
- evitar exposição a fontes intensas de radiação UV estabilização dos nevos (exclui puberdade e gestação)
(bronzeadores artificias, exposição ocupacional) - exame dermatológico anual após estabilização dos nevos
- evitar imunossupressão e exposição a psoraleno + UVA - remoção de toda lesão pigmentada suspeita
- US abdominal anual em indivíduos com HF de câncer de pâncreas*
- fundoscopia anual em indivíduos com HF de melanoma ocular*
(*) Não existe qualquer evidência quanto à eficácia destas medidas.
Abreviações: FPS: fator de proteção solar; UV: ultravioleta; US: ultra-sonografia; HF: história familiar.
FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
355
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FERREIRA ROCHA - ATHENEU - 1ª PROVA - 05/02/04 - PETRODADOS
356
Anexo 4 - Ficha de Avaliação Clínica
SÍNDROME DE LI-FRAUMENI
Identificação:
Nome: _____________________________________________________________________
Data de Nascimento: __________________Sexo: M/F Raça:_________ Religião_________
Endereço: _________________________________Cidade
: ________________Estado: ____
CEP:_________Telefone:
- _______ E-mail:
Manifestações Clínicas:
Tumores Único Múltiplo
ou bilat.
Idade ao
diagnóstico
Observações
( ) Sarcoma de partes moles
( ) Osteosarcoma
( ) Cancer adreno-cortical
( ) Tumor do sist. nervoso central
( ) Leucemia
( )Tumor de Wilms
( ) Câncer de mama
( ) Melanoma
( ) Câncer de pâncreas
( ) Tumor de próstata
( ) Linfoma
( ) Outros
Exames Realizados:
( )USG abdome. Data: __/__/__ Resultado: _____________________
( )USG tireóide Data:__/__/__ Resultado:_____________________
( )Mamografia/US de mama. Data: __/__/__ Resultado: _____________________
( )Biópsia de:_______________ Data: __/__/__ Resultado: _____________________
( )Outros: __________________Data: __/__/__ Resultado: _____________________
História Patológica Pregressa:
( ) Cirurgias:_____S/N. Qual:__________________________________Data:_______
( ) Doenças Prévias:_____S/N. Qual:____________________________Data:_______
( )Exposição ambiental:____________________________________Período: _______
Hábitos
( ) Tabaco:____S/N.N
o
de cigarros/dia: _________ Duração:_____________________
( ) Álcool:_____S/N.Doses/dia: _______________ Duração:_____________________
História Familial:
Heredograma:
Grau de
parentesco
Nome
(Iniciais)
Sexo Idade Atual Idade ao
diagnóstico
Tipo de Tumor
Anexo 5 Termo de Consentimento Pós-Informado
(Obrigatório para Pesquisa Clinica em Seres Humanos – Resolução CNS 196/96 e Resolução CNS 251/97 do
Ministério da Saúde)
.
Hospital do Câncer – A. C. Camargo – Fundação Antonio Prudente
Rua Prof. Antonio Prudente, 211 – Tel.3272-5000 – Fax. 3272-5088
I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE OU RESPONSÁVEL LEGAL
Nome do Paciente:_______________________________________________________________
Documento de Identidade: _________________________Data de Nascimento: _____/____/_____
Endereço:_____________________________________________N
o
______Complemento:______
Cidade:________________Estado:_____CEP:______-___Tel:(___)_________________________
II – DADOS SOBRE O ESTUDO
1- Título: “DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA SÍNDROME DE LI-FRAUMENI EM FAMÍLIAS
BRASILEIRAS”
2- Pesquisador: Dra. Maria Isabel Waddington Achatz CRM – 105322
no Laboratório de Genética do Câncer - Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer - São Paulo.
Telefone para contato: 9631-4796.
Início do Estudo: 15 de setembro de 2003.
III – EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRESENTANTE LEGAL
1- JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA: O diagnóstico da Síndrome de Li-Fraumeni é de grande
importância clínica para a prevenção de neoplasias em famílias portadoras, que apresentam maior propensão
ao desenvolvimento de múltiplos tumores. Este estudo visa realizar o diagnóstico molecular da Síndrome de
Li-Fraumeni, identificar e caracterizar as mutações no gene TP53 nos indivíduos portadores da doença.
2- PROCEDIMENTOS QUE SERÃO UTILIZADOS: Serão coletados 20 mL de sangue do paciente para
estudo de DNA. O gene TP53 será analisado por técnicas de biologia molecular visando a detecção da
mutação.
3- COMPLICAÇÕES E RISCOS ESPERADOS: A SLF é uma síndrome hereditária de predisposição ao
câncer. Estima-se que metade dos pacientes com Síndrome de Li-Fraumeni apresente desenvolva tumores
antes dos 30 anos de idade e que 90% dos portadores desenvolvam câncer até 70 anos de idade. O risco
aparenta ser maior em mulheres, em parte devido ao alto risco de desenvolvimento de câncer de mama.
Diversos tipos de tumores malignos estão diretamente relacionados à Síndrome de Li-Fraumeni, tais como
sarcoma, leucemia, tumores do sistema nervoso central, câncer adrenocortical e câncer de mama de início
em idade jovem. Estas lesões podem ser rastreadas e encontradas em estádios iniciais, permitindo
tratamento precoce e muitas vezes menos invasivo. O teste genético visa identificar a mutação no gene
TP53 e confirmar o diagnóstico clínico da doença. No entanto, em cerca de 30% dos casos na Síndrome de
Li-Fraumeni e em 50% dos casos na Síndrome de Li-Fraumeni like não é possível detectar a mutação pelos
métodos atuais.
4- BENEFÍCIOS QUE PODERÃO SER OBTIDOS: Este estudo permite o diagnóstico molecular da Síndrome
de Li-Fraumeni em famílias brasileiras, confirmando o diagnóstico clínico e caracterizando as mutações do
gene TP53. Uma vez identificada a mutação, o diagnóstico em familiares assintomáticos pode ser realizada,
seguida do aconselhamento genético das famílias acometidas. A realização do teste possibilita o
rastreamento de pacientes portadores da Síndrome de Li-Fraumeni que possivelmente desenvolverão algum
tumor típico, diminuindo desta forma os danos causados pelo tumor devido ao diagnóstico e tratamento
precoce. A caracterização da mutação no gene TP53 e a comparação com as mutações encontradas
anteriormente possibilitarão a melhor compreensão dos mecanismos da doença e o desenvolvimento de
estratégias de rastreamento mais eficazes. A detecção da mutação permite caracterizar o risco do paciente
como alto risco, quando o resultado for positivo, ou como baixo risco quando o exame for negativo (quando
não for encontrada a mesma mutação característica da família). Caso a mutação na família com o
diagnóstico clínico não seja encontrada, o teste será considerado inconclusivo.
5- Declaro ter sido esclarecido sobre a garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento
sobre procedimentos, riscos, benefícios ligados à pesquisa e ao tratamento e que serei informado quanto ao
desenvolvimento de novos exames relacionados.
SIM NÃO
6- Declaro estar ciente do meu direito de retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isso traga
prejuízo a continuidade do meu tratamento.
SIM NÃO
7- Declaro ter sido esclarecido que não receberei nenhum tipo de remuneração financeira.
SIM NÃO
8- Declaro ter sido esclarecida sobre a segurança de que minha identidade será preservada e que todas as
informações por mim fornecidas serão confidenciais.
SIM NÃO
9- CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO: Declaro ter sido esclarecido sobre as características da Síndrome
de Li-Fraumeni e sobre os benefícios e as limitações do teste genético ao qual serei submetido, conforme
definido nos itens 1 a 9, e consinto em participar na qualidade de paciente do projeto de pesquisa acima
descrito.
“Se o pesquisador principal não fornecer as informações/ esclarecimentos suficientes, por favor, entre em
contato com o Coordenador do Comitê de Ética do Hospital do Câncer – SP, pelo Telefone 2189-5000,
ramais 1113 ou 1117”.
São Paulo, ____de________________de______.
____________________________________ __________________________________
Assinatura do paciente ou responsável legal Assinatura e carimbo do pesquisador
Anexo 6 - Aprovação do Comitê de Ética
Anexo 7 - Heredogramas
Família Y1
Mutação Éxon 6,
R213Q, CG
Ampola de Vater (41)
III:23 III:1
II:5 II:6
III:2 III:3 III:4 III:5 III:6 III:7 III:8 III:9 III:10 III:11 III:12 III:13
IV:1
I:1 I:2
II:1 II:2 II:3 II:4
I:3 I:4
II:7 II:8 II:9 II:11 II:14 II:16 II:17 II:15
III:21 III:22 III:24 III:25 III:26
II:12
III:16 III:17
II:10
III:15
II:13
III:18 III:19 III:20
Mola Hidatiforme (23)
Estômago (22)
Pulmão (50)
ADR (11)
Pulmão (60)
Pulmão (50)
Pulmão (45)
Fígado (28)
SNC (31)
CCR (39)
Pulmão (52)
CCR (38)
Mama (62)
III:14
T>CAA
IV:
III:7 III:
IV: IV: IV: IV:
III:
II: II:
III:1 III:1 III:1 III:1 III:1 III:1 III:1III:1
IV:
III:18
IV:
III:1
IV:IV:
V:
IV:1
V:
II: II:
III: III: III: III:4 III: III:
ADR (7)
Renal
SNC
SNC
ADR (3)
Renal
SNC
SPM(2
I: I:
Família Y15
Mutação Éxon 10,
R337H, CG
C>CAC
III:2 III:1
IV:1 IV:2 IV:
II:5 II:6
III:3 III:4 III:5 III:6 III:7 III:8 III:9 III:10
I:
II:1 II:2 II:3 II:4
SPM
Mama
A
DR
SNC
Fígado (53)Mama (60) Estomago
Leucemia
Família Y33
Mutação Éxon 5,
V173M, G
TG>ATG
III:2
II:8 II:9
III:3 III:4 III:5 III:6 III:7 III:8
I:1 I:2
II:1 II:3 II:4 II:5 II:6 II:7II:2
III:1
SPM (50)
Pele (58)
Mama (41)
SPM (38)
SPM (83)
Família Y35
Mutação Éxon 10,
R337H, CG
C>CAC
II:9
III:6III:5
IV:1 IV:2
II:8
III:7 III:10III:8
IV:3 IV:4
III:9
IV:5
I:1 I:2
II:1 II:3 II:5 II:6 II:7 II:2
III:1 III:2
II:4
III:3 III:4
Esôfago (50)
C/P (50)
Estômago (56)
Leucemia (45)
Mama (33)
SNC (8)
CCR (18)
Mama (35)
Família Y53
Mutação Éxon 7,
G245S, G
GC>AGC
IV:9
III:2
II:1 II:2
III:3 III:5 III:6 III:8 III:10 III:12 III:13 III:15 III:17 III:1
IV:1 IV:2
I:1 I:2
II:3
I:3 I:4
III:11
IV:14
III:16
IV:16
III:14
IV:15
III:9
IV:12 IV:13
III:7
IV:10 IV:11
III:4
IV:3 IV:4 IV:5 IV:6 IV:7 IV:8
Mama (40)
CCR (N/A)
TGF (34) Mama (30)
Ósseo (21)
SPM (21)
C/P (50)
Família Y57
Família Y57
Mutação Éxon 7,
G244D, GG
C>GAC
III:22
III:2
II:1 II:2
III:3 III:5 III:6 III:8 III:10 III:11III:7
IV:1 IV:2 IV:3
III:9
IV:4
I:1 I:2
II:3 II:4 II:6 II:9 II:10 II:5
III:12 III:13 III:15III:14
IV:5 IV:6 IV:7
II:7
III:16 III:17
II:8
III:23
III:18 III:19 III:20 III:21
III:1
IV:8 IV:9 IV:10
III:4
IV:11 IV:12 IV:13
Mama (45) Prostate (57)
Papila
duodenal (60)
SNC (18)
Mama (35)
SNC (15)
Mama (55)
SNC (N/A)
SO(N/A)
CRC (22)
Mama (49)
Mama (33)
Esôfago (50)
Família Y58
Mutação Íntron 6,
sítio doador de
splicing
II:1 II:2
III:4 III:5
I:1 I:2
II:3 II:4 II:5 II:6 II:7II:8
III:6 III:7
II:9
III:8 III:9
II:10
III:10 III:11III:1III:2
IV:1
IV:2
III:3
Mama (26)
SPM (4)
Mama (27)
Fígado (36) SNC (40)
SPM (3)
Família Y59
Mutação Éxon 7, G245S,
G
GC>AGC
II:1 II:2
III:1 III:2 III:3 III:4 III:5 III:6
Mama (31) Mama (24) Mama (53) SPM (44) SNC (2) SNC (2)
Esofâgo (59)
III:7
IV:1 IV:2
Mama (31) Mama (24)
Família Y60
Mutação Éxon 10, R337H,
CG
C>CAC
III:1III:2
IV:1 IV:2
II:1 II:2
III:3 III:4 III:5 III:6 III:7
I:1 I:2
II:3
I:3 I:4
II:4 II:5 II:6
CCR(45)
A
DR(18)
Mama(54) CCR(24)
C/P(60)
Família Y65
Mutação Éxon 6, V197M,
G
TG>ATG
III:2
IV:1 IV:2 IV:3
II:3 II:4
III:3 III:4 III:6 III:1
I:1 I:2
II:1 II:2
III:5
IV:4 IV:5
SPM (42)
Estômago (49)
Leucemia (26)
Leucemia(62)
Família Y2
Sem detecção de mutação no
gene TP53
II:5
III:2
II:3 II:4
III:3 III:5 III:7III:1
IV:1
III:6
IV:4 IV:5
III:4
IV:2 IV:3
I:1 I:2
II:1 II:2
Mama (44)
Bexiga (48)
Mama (36)
SNC (34) Mama (43)
Família Y3
Sem detecção de mutação no
gene TP53
II:1
I:1 I:2
II:2 II:3 II:4 II:5 II:6
III:1 III:2
SO (15)
Mama (32)
Família Y6
Sem detecção de mutação no gene
TP53
III:2
II:1 II:2
III:3 III:4
I:1 I:2
II:3 II:4 II:5 II:6
III:1
IV:1 IV:2 IV:3
SPM (37)
Mama (40)
Mama (35)
N/D (70)
Família Y7
Sem detecção de mutação no
gene TP53
II:5II:4
III:2 III:3 III:4III:1
I:1 I:2
II:1 II:2 II:3
I:3 I:4
II:6 II:7 II:8
SNC (25)
SNC (28)
Estomago (N/D)
Estomago (54)
N/D (N/D)
III:2 III:1
IV:1 IV:2
II:5 II:6
III:3 III:5
I:3 I:4
II:7 II:8 II:9 II:10 II:11 II:12 II:13 II:14
I: I:2
II:1 II:2 II:3 II:4
III:4
IV:3 IV:4 IV:5
SPM
Mama
(
46
)
SPM
(
46
)
TGF
(
66
)
Estoma
g
o Estoma
g
o Estoma
g
o
(
65
)
Pulmão
Pulmão
Família Y9
Sem detecção de
mutação no gene TP53
III:2III:1
IV:1 IV:3 IV:4 IV:2
V:1 V:2 V:3
II:1 II:2
III:3 III:4 III:5
I:1 I:2
II:3 II:5 II:6 II:7 II:8 II:9 II:10 II:12 II:14 II:15II:11
III:7 III:8
II:13
III:9
II:4
III:6
SPM (55)
Mama (36)
Pulmão (25)
CCR (50)
Estomago (38) Pulmão (35)
Família Y10
Sem detecção de mutação
no gene TP53
III:1
IV:1 IV:2 IV:3
II:7 II:8
III:3 III:4 III:5 III:6
I:3 I:4
II:9 II:10 II:12
I:1 I:2
II:1 II:2 II:3 II:4 II:5 II:6 II:11
III:7 III:8III:2
Tireoide (73)
Melanoma (75)
Pele (72)
Pancreas (63)
Melanoma (9)
Ca mama (53)
Mama (42)
CCR (60)
Família Y11
Sem detecção de mutação no
gene TP53
IV:8 IV:9
V:1
III:6 III:7
IV:2 IV:3 IV:4 IV:5 IV:6 IV:7
II:1 II:2
III:1 III:2 III:3
II:5 II:6
III:8 III:9 III:10 III:11
I:1 I:2
II:3 II:4
III:5III:4
IV:1
CCR (38) SPM (35)
Linfoma (55)
Próstata (63)
Mama (29)
Família Y14
Sem detecção de mutação
no gene TP53
IV:1
III:1 III:2
IV:2 IV:3 IV:4 IV:5 IV:6 IV:7 IV:8 IV:10IV:9
V:1 V:2 V:3 V:4
II:1 II:2
I:1 I:2
II:5 II:7II:3
III:3
II:6
III:7III:6
IV:12
II:4
III:5III:4
IV:11
M
a
m
a
Mama
Próstata
Linfoma
SO
(
63
Pulmão
Mama
(
63 TGF
(
N/D C/P
P
e
l
e
Família Y17
Sem detecção de mutação no
gene TP53
IV:1
III:4 III:5
IV:2 IV:3
II:7 II:8
III:6 III:7 III:8
I:3 I:4
II:9 II:10 II:11II:5 II:6
III:1 III:2 III:3
I:1 I:2
II:1 II:2 II:3 II:4
Renal
(
1
)
SPM
(
5
)
SPM
(
11
)
SNC
(
15
)
SPM
(
16
)
SPM
(
17
)
Leucemia
(
62
)
Mama
(
60
)
Mama
(
73
)
Próstata
(
77
)
Leucemia
(
N/D
)
SO
(
18
)
Família Y20
Sem detecção de mutação
no gene TP53
IV:3
III:9 III:10
IV:6 IV:7 IV:8IV:4
V:1 V:2 V:3
IV:5
V:4 V:5
II:9 II:10
III:11 III:12 III:13 III:14
II:7 II:8
III:6 III:7 III:8
I:1 I:2
II:1 II:3 II:5 II:6
III:5
II:2
III:1 III:2
IV:1
II:4
III:4III:3
IV:2
SPM
(
39
)
SPM
(
40
)
SPM
(
41
)
SPM
(
44
)
SPM
(
45
)
Linfoma
(
20
)
Linfoma (69) 69
Bexi
g
a
(
60
)
Próstata(78)
Estoma
g
o
(
64
)
Estoma
g
o
(
63
)
Melanoma
(
40
)
40
N/D
(
40
)
N/D
(
70
)
Família Y21
Sem detecção de mutação
no gene TP53
IV:3
III:2 III:3
IV:4 IV:5
III:1
IV:2IV:1
II:1 II:2
III:4 III:5 III:6 III:7 III:8
I:1 I:2
II:3 II:4 II:5
SPM (14)
Estômago (21)
Estômago (45)
Estômago (N/D)
N/D (N/D)
Família Y22
Sem detecção de mutação
no gene TP53
Anexo 8 - Laudos fornecidos aos probandos
Paciente:
Gene analizado: TP53
Data de Coleta:
Médico: Maria Isabel Waddington Achatz
Análise de mutações no gene TP53
Exame Realizado: Após a coleta do sangue e extração do DNA dos linfócitos, os 10 exons
codificadores do gene TP53 (2 a 11) foram amplificados através da reação em cadeia da
polimerase (PCR). Os exons 4, 5, 6, 7, 8 e 9 do gene TP53 foram analisados através da
técnica de cromatografia líquida desnaturante de alta performance (DHPLC). Todos os
exons que apresentaram suspeita de alteração foram analisados por sequenciamento. Os
exons 2, 3,10 e 11 foram analisados por sequenciamento direto. Os relatos na literatura
indicam que mutações germinativas no gene TP53 devem ser encontradas em 77% das
famílias com síndrome de Li-Fraumeni clássica (LFS) e entre 20 a 40% das famílias com
síndrome de Li-Fraumeni like (LFL).
I
Resultado: Foi observada a presença das seguintes alterações:
R337H : C
GC (Arg) CAC (His) no codon 337 do exon 10.
Os demais exons estudados não apresentaram evidências moleculares de
polimorfismo ou mutação.
Interpretação: A análise de fragmentos de DNA por cromatografia líquida desnaturante de
alta performance (DHPLC – Denaturing High Performance Liquid Chromatography) é um
dos mais precisos métodos disponíveis para a detecção de alterações de sequência em
fragmentos de DNA, com sensibilidade de virtualmente 100% na região analisada.
A substituição de uma arginina por uma histidina no codon 337 já foi descrita como
relacionada à alta incidência de tumores adrenocorticais e em estudos funcionais foi
considerada como
mutação.
II, III
É descrita como mutação no Banco de Dados da
Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC/WHO).
IV
Esta
substituição altera a sequência de aminoácidos levando a produção anômala da
proteina p53 e caracterizando molecularmente a síndrome de Li-Fraumeni.
Fonte: Banco de Dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC/WHO) (IARC
TP53 Database R10).
http://www.iarc.fr/p53/Germline.htm
I
Varley JM, Evans DG, Birch JM. Li-Fraumeni syndrome--a molecular and clinical review. Br J Cancer 1997; 76:1-14.
II
Longui CA, Lemos-Marini SH, Figueiredo B, et al. Inhibin alpha-subunit (INHA) gene and locus changes in paediatric
adrenocortical tumours from TP53 R337H mutation heterozygote carriers. J Med Genet 2004; 41:354-9.
III
Pinto EM, Billerbeck AE, Villares MC, Domenice S, Mendonca BB, Latronico AC. Founder effect for the highly prevalent R337H
mutation of tumor suppressor p53 in Brazilian patients with adrenocortical tumors. Arq Bras Endocrinol Metabol 2004; 48:647-50.
IV
Olivier M, Eeles R, Hollstein M, Khan MA, Harris CC, Hainaut P. The IARC TP53 Database: new online mutation analysis and
recommendations to users. Version: R10, July 2005. Hum Mutat 2002; 19:607-14.
Anexo 9 - Laudos fornecidos aos familiares
Paciente:
Gene analizado: éxon 10 do gene TP53
Data de Coleta:
Médico: Maria Isabel Waddington Achatz
Análise da mutação R337H no éxon 10 do gene TP53
Exame Realizado: Após a coleta do sangue e extração do DNA dos linfócitos, o
éxon10 do gene TP53 foi amplificado através da reação em cadeia da polimerase
(PCR). Em seguida foi analisado por sequenciamento direto. Os relatos na literatura
indicam que mutações germinativas no gene TP53 devem ser encontradas em 77%
das famílias com Síndrome de Li-Fraumeni clássica (SLF) e entre 20 a 40% das
famílias com síndrome de Li-Fraumeni like (LFL).
Resultado: O éxon 10 não apresentou evidências moleculares de polimorfismo ou
mutação.
Interpretação: Não foram caracterizadas mutações germinativas pelos métodos
utilizados.
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