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Em termos ideais, a própria família, desde a infância inicial, deveria ser uma
Comunidade de Investigação, uma comunicação lingüística, que no contexto familiar prepara
as crianças aos poucos para pensarem na linguagem da sala de aula, e isto significa por sua
vez, que as prepara para pensar nas linguagens das disciplinas. Mas, visto que a comunicação
familiar raramente é o que deveria ser, a conversa disciplinada e coerente na sala de aula
deve ser oferecida como seu substituto. O papel do professor é assim relevante na medida em
que ao oportunizar e instigar o diálogo, possibilita aos educandos sua passagem gradativa do
ninho familiar à sociedade, seja a da escola, seja a da nação ou do mundo. "O grupo de
conversação é a chave para a transição suave da vida familiar para a vida governada pelas
normas da sala de aula” (LIPMAN, 1995, p. 54).
É neste convívio da sala de aula e com seu cultivo do diálogo que a criança, da melhor
maneira possível, fortalece suas habilidades, não apenas para as demonstrar numa prova, ou
no vestibular, mas para pensar e viver competentemente e feliz. Para este objetivo
educacional Lipman esclarece as áreas de habilidades mais relevantes:
As áreas de habilidades mais relevantes para os objetivos educacionais são
aquelas relacionadas com os processos de investigação, processos de
raciocínio, organização de informações (formação de conceitos, é bom
lembrar) e tradução. É provável que crianças muito pequenas possuam todas
essas habilidades de maneira ainda rudimentar. A educação não é, portanto,
uma questão de aquisição de habilidades cognitivas, mas de fortalecimento e
aperfeiçoamento de habilidades. Em outras palavras, as crianças estão
naturalmente inclinadas a adquirir habilidades cognitivas, do mesmo modo
que adquirem naturalmente a linguagem; e a educação é necessária para
fortalecer o processo (LIPMAN, 1995, p. 65).
Considerando o exposto neste capítulo, suficiente para evidenciar uma nova visão da
formação do professor de filosofia para as aulas com crianças e jovens, sinto, não obstante, a
necessidade de caracterizar mais sucintamente possível o paradigma que deve orientar a
mentalidade e metodologia pedagógica, o saber profundo e complexo da filosofia e a didática
específica e eficiente que a formação necessária deve propiciar, exigir e levar à competência.
Neste sentido ouso afirmar:
Propostas avançadas, como esta de Matthew Lipman ou a de Paulo Freire, entre
outros, demonstram que o novo paradigma de educação, não pode ser de instrução unilateral,
mas deve ser do diálogo, não da receptividade passiva, mas da atividade do aluno, não da
submissão ao autoritarismo, mas sim da autonomia do pensar e da investigação crítico-