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Universidade de Brasília
Instituto de Psicologia
Curso de Pós
-
Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações
A Formação da Intenção em Duas Culturas: Um
E
studo com o
Turi
s
mo de Aventura
Hugo Rodrigues
B
RASÍLIA
-DF
2007
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Universidade de Brasília
Instituto de Psicologia
Curso de Pós
-
Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações
A formação da intenção em duas culturas: Um estudo com o turismo de aventura
Hugo Rodrigues
Brasília, DF
200
7
Universidade de Brasília
Instituto de Psicologia
Curso de Pós
-
Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organiz
a
ções
A Formação da Intenção em Duas Culturas:
Um estudo com o Turismo de
A
ventura
Hugo Rodrigues
Dissertação apresentada ao
Pr
ograma de
Pós
-Graduação em Psicologia Social, do
Trabalho e das Organizaç
ões,
como requis
i-
to pa
r
cial à obtenção do título de Mestre em
Psicologia
social, do Trabalho e das O
rg
a-
nizações
Orientador: Cláudio Vaz To
r
res
Brasília-
DF
Abril de
2007
U
NIVERSIDA
DE DE
B
RASÍLIA
I
NSTITUTO DE
P
SICOLOGIA
D
EPARTAMENTO DE
P
SICOLOGIA
S
OCIAL
O
RGANIZACIONAL E DO
T
RABALHO
A F
ORMAÇÃO DA
I
NTENÇÃO EM
D
UAS
C
ULTURAS
:
U
M ESTUDO COM O
T
URISMO DE
A
VENTURA
Dissertação defendida em 05 de abril de 2007
B
ANCA
E
XAMINADORA
:
Prof. Dr. Cláudio Vaz Torres
Orientador
Universidade de Brasília
Prof. Dr. Ronaldo Pilati
Membro
Universidade Caxias do Sul
Prof. Dr. Fabio Sager
Membro
Universidade de Caxias do Sul
Prof. Dr. Elaine Rabelo Neiva
Suplente
Universidade
de Brasília
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Érica. Minha amada e linda namorada, comp
a-
nheira de todas as horas, sem a qual esse trabalho nunca poderia ter sido concluído.
Em seguida tem o meu orientador e amigo, que me ajudou a encontrar o c
am
i-
nho para escrever esta dissertação e me ajudou em mais vezes do que ele mesmo imagina.
Também agradeço ao meu pai, que me ajudou não na alimentação, mas na
compreensão e apoio que me deu na maioria das v
e
zes.
Também agradeço aos meus ex-colegas de trabalho (“ex” de trabalho, mas não
de colegas): Susana, Paulo, Fernando, Maria e t
o
dos que conheci.
De resto agradeço a quase todos que conheci durante a minha graduação. Mu
i-
tos professores, amigos e colegas ajudaram, direta ou indiretamente, na minha formação, a
maioria sem nem saber. Também agradeço a todos os que repassaram os e-mails necess
á-
rios a realização da minha pesquisa, sem vocês isso não seria possível.
E finalmente agradeço a quem estiver lendo a essa dissertação, conseguir te
r-
minar e gostar. Ca
so o contrário, ignore esse parágr
a
fo.
Sumário
AGRADECIMENTOS
IV
LISTA DE T
ABELAS
VII
LISTA DE F
IGURAS
X
RESUMO
XI
ABSTRACT
XII
1. IN
TRODUÇÃO
1
2. OBJETIVO GERAL
7
2.1.
O
BJETIVOS
E
SPECÍFICOS
7
3. C
ONTEXTUALIZAÇÃO
8
4. REFERENCIAL TEÓRI
CO
13
4.1
C
ULTURA
13
4.1.1
D
EFINIÇÃO
13
4.1.2.
M
ÉTODOS DE PESQUISA TRANSCULTURAL
16
4.1.3.
M
ODELOS
19
4.1.5
N
ÍVEL DE
A
NÁLISE
35
4.2.
TEORIA DO COMPORTAMEN
TO PLANEJADO
TEORIA DA AÇÃO RACION
AL
37
4.2.1
A
TITUDES
43
4.2.2.
N
ORMA SUBJETIVA
52
4.2.3.
C
ONTROLE PERCEBIDO SO
BRE O COMPORTAMENTO
63
4.2.4.
I
NTENÇÃO
66
4.3.
T
EORIA DO
C
OMPORTAMENTO
P
LANEJADO E
A
ÇÃO
R
ACIONAL NO
B
RASIL
67
5. A PRESENTE PESQUI
SA
73
6. ESTUDO 1
ELICIAÇÃO
77
6.1.
M
ETODOLOGIA
77
6.1.1
I
NSTRUMENTO
77
6.1.2.
P
ROCEDIMENTO
79
6.1.3.
S
UJEITOS
80
6.2.
R
ESULTADOS DO
E
STUD
O
1
81
6.2.1.
F
ASE
N
ACIONAL
82
6.2.2.
F
ASE
ESTADUNIDENSE
85
6.3.
D
ISCUSSÃO
92
7. ESTUDO 2
“SURVEY”
95
7.1.
M
ETODOLOGIA
95
7.1.
1.
S
UJEITOS
95
7.1.2.
P
ROCEDIMENTOS
96
7.1.3.
I
NSTRUMENTO
97
7.2
. R
ESULTADOS
101
7.2.1.
L
IMPEZA DO
B
ANCO DE DADOS
101
7.2.2.
C
ORRELAÇÕES
M
ÚLTIPLAS NO MODELO
112
7.2.3.
TESTE DAS HIPÓTESES
113
7.3.
D
ISCUSSÃO
120
8. COMENTÁRIOS FINAI
S
125
9. REFERÊNCIAS
128
10. ANEXOS
142
A
NEXO
1.
C
ONVITE PARA PARTICIP
AÇÃO DO
E
STUDO
1 F
ASE NACIONAL
143
A
NEXO
2.
C
ONVITE PARA PARTICIP
AÇÃO DO
E
STUDO
1 F
ASE
E
STADUNIDENSE
145
A
NEXO
3.
I
NSTRUMENTO
N
ACIONAL
- E
STUDO
1
147
A
NEXO
4.
I
NSTRUMENTO
N
ACIONAL
- E
STUDO
1 (
SCREENSHOT
)
149
A
NEXO
5.
I
NSTRUMENTO
E
STADUNIDENSE
- E
STUDO
1
151
A
NEXO
6.
I
NSTRUMENTO
E
STADUNIDENSE
- E
STUDO
1 (
SCREENSHOT
)
153
A
NEXO
7.
C
ONVITE PARA PARTICIP
AÇÃO NO
E
STUDO
2 F
ASE
E
STADUNIDENSE
155
A
NEXO
8.
I
NSTRUMENTO NACIONAL
- E
STUDO
2
157
A
NEXO
9.
I
NSTRUMENTO ESTADUNID
ENSE
E
STUDO
2
158
A
NEXO
10.
I
NSTRUMENTO
E
STADUNIDENSE
E
STUDO
2 (
SCREENSHOT
)
159
Lista
de
Tabelas
T
ABELA
1 - D
IMENSÕES
C
ULTURAIS DE
H
OFSTEDE
................................
..............................
20
T
ABELA
2 - COMPARAÇÃO ENTRE O BRASIL E OS E
STADOS
UNIDOS COM RELAÇÃO AO
S
ESCORES INDICADOS PO
R
H
OFSTEDE
................................
................................
21
T
ABELA
3 - S
ÍNDROMES
C
ULTURAI
S
................................................................
....................
26
T
ABELA
4 - V
ALORES NO NÍVEL NACI
ONAL
................................
................................
..........31
T
ABELA
5 - C
ORRELAÇÕES ENTRE AS
DIMENSÕES PROPOSTAS
POR
H
OFSTEDE E
SCHWARTZ
32
T
ABELA
6 - COMPARAÇÃO DO BRASIL E DOS
EUA
COM BASE NA ESTRUTURA DE VALORES
NACIONAL DE
S
CHWARTZ
................................................................
.................
33
T
ABELA
7 - COMPARAÇÃO ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS DE ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA
MENSURAR ATITUDES
................................
................................
........................
47
T
ABELA
8 - CORRELAÇÃO ENTRE INTENÇÕES E COMPORTAMENTOS SOB O CONTROLE
VOLICIONAL
................................
................................
................................
......66
T
ABELA
9 - CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS DOS MODELOS EM SUAS APLICAÇÕES NO
B
RASIL
................................................................
................................
..............67
T
ABELA
10
- COMPARAÇÃO SUMARIZADA ENTRE O BRASIL E OS
EUA
NOS DIFERENTES
MODELOS
APRESENTADOS
................................................................
.................
74
T
ABELA
11
- CRENÇAS MAIS SALIENTES SOBRE O RESULTADO DO COMPORTAMENTO NA
AMOSTRA NACIONAL
................................
................................
.........................
83
T
ABELA
12
- C
RENÇAS
MAIS SALIENTES SOBRE OS R
EFERENTES
NORMATIVOS NA AMOSTRA
NACIONAL
................................................................
................................
.........84
T
ABELA
13
- FATORES DE CONTROLE ASSOCIADO A PRÁTICA DE TURISMO DE AVENTURA NA
AMOSTRA NACIONAL
................................
................................
.........................
85
T
ABELA
14
- CRENÇAS MAIS SALIENTES SOBRE O RESULTADO DO COMPORTAMENTO NA
AMOSTRA ESTADUNIDENS
E
................................................................
...............
87
T
ABELA
15
- CRENÇAS MAIS SALIENTES SOBRE OS R
EFERENTES
NORMATIVOS NA AMOSTRA
NACIONAL
................................................................
................................
.........88
T
ABELA
16
- FATORES DE CONTROLE ASSOCIADO A PRÁTICA DE TURISMO DE AVENTURA NA
AMOSTRA ESTADUNIDENS
E
................................................................
...............
90
T
ABELA
17
- COMPARATIVO ENTRE OS QUESTIONÁRIOS ELIMINADOS POR EXCESSO DE
CASOS
OMISSOS
.
................................................................
................................
.........102
T
ABELA
18
- D
ISTRIBUIÇÃO DAS OBSE
RVAÇÕES DESVIANTES N
A AMOSTRA NACIONAL
......102
T
ABELA
19
- SKEWNESS E KURTOSIS PARA AS VARIÁVEIS ATITUDE, NORMAS INJUNTIVA E
DESCRITIVA
,
CONTROLE PERCEBIDO
E INTENÇÃO
,
NA AMOSTRA NACIONAL
....104
T
ABELA
20
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE ATITUDE NA AMOSTRA NACIONAL
................................
................................
................................
.......................
105
T
ABELA 21
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE NORMA INJUNTIVA NA AMOSTRA
NACIONAL
................................................................
................................
.......105
T
ABELA
22
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE NORMA DESCRITIVA NA AMOSTRA
NACIONAL
................................................................
................................
.......106
T
ABELA
23
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS
DE
CONTROLE PERCEBIDO N
A
AMOSTRA NACIONAL
................................
................................
.......................
107
T
ABELA
24
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE INTENÇÃO NA AMOS
TRA
NACIONAL
................................................................
................................
.......107
T
ABELA
25
- SKEWNESS E KURTOSIS PARA AS VARIÁVEIS ATITUDE, NORMAS INJUNTIVA E
DESCRITIVA
,
CONTROLE PERCEBIDO
E INTENÇÃO
,
NA AMOSTRA NACIONAL
....109
T
ABELA
26
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE ATITUDE NA AMOST
RA
ESTADUNIDENSE
,
APÓS A RETIRADA DE
ITENS
.
................................
................
110
T
ABELA
27
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE NORMA INJUNTIVA NA AMOSTRA
ESTADUNIDENSE
................................
................................
.............................
110
T
ABELA
28
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE NORMA DESCRITIVA NA AMOSTRA
ESTADUNIDENSE
................................
................................
.............................
111
T
ABELA 29
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE CONTROLE PERCEBIDO NA
AMOSTRA ESTADUNIDENS
E,
APÓS RETIRADA DE IT
ENS
................................
....111
T
ABELA
30
- CORRELAÇÃO ITEM-TOTAL PARA OS ITENS DE INTENÇÃO NA AMOST
RA
ESTADUNIDENSE
................................
................................
.............................
111
T
ABELA
31
- CORRELAÇÕES BIVARIADAS ENTRE AS VARIÁVEIS DO MODELO NA AMOSTR
A
NACIONAL E ESTADUNID
ENSE
................................................................
.........
113
T
ABELA
32
- REGRESSÃO MÚLTIPLA HIERÁRQUICA DAS VARIÁVEIS DO MODELO NA AMOSTRA
NACIONAL
................................................................
................................
.......114
T
ABELA
33
- REGRESSÃO MÚLTIPLA HIERÁRQUICA ENTRE ATITUDES E NORMA SUBJETI
VA
, NA
AMOSTRA NACIONAL
................................
................................
.......................1
15
T
ABELA
34
- REGRESSÃO MÚLTIPLA HIERÁRQUICA DAS VARIÁVEIS DO MODELO NA AMO
STRA
ESTADUNIDENSE
................................
................................
.............................
117
T
ABELA
35
- REGRESSÃO MÚLTIPLA HIERÁRQUICA ENTRE ATITUDES E A NORMA SUBJE
TIVA
NA AMOSTRA ESTADU
NIDENSE
................................................................
........
117
T
ABELA
36
- C
OMPARAÇÃO DAS REGRES
SÕES HIERÁRQUICAS NA
S DUAS AMOSTRAS
.........119
Lista de Figuras
F
IGURA
1 -
MODE
................................
................................................................
.................
4
F
IGURA
2 - E
STRUTURA DE VALORES
DE
S
CHWARTZ
-
NÍVEL INDIVIDUAL
............................
30
F
IGURA
3 - F
ALÁCIA
E
COLÓGICA
................................
................................
.........................
36
F
IGURA
4 - TEORIA DA AÇÃO RACIONAL E A RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS EXTERNAS E
INTERNAS
................................
................................................................
............
38
F
IGURA
5 - T
EORIA DO COMPORTAMEN
TO PLANEJADO
................................
.........................
40
F
IGURA
6 - T
EORIA DO COMPORTAMEN
TO PLANEJADO E DA AÇ
ÃO RACIONAL
......................
42
F
IGURA
7 - M
ATRIZ DE
S
CATTERS ENTRE TODAS
AS VARIÁVEIS
,
NA AMOS
TRA NACIONAL
.
108
F
IGURA
8 - MATRIZ DE SCATTERS ENTRE TODAS AS VARIÁVEIS, NA AMOSTRA
ESTADUNIDENSE
................................
................................
...............................
112
Resumo
Este trabalho c
ompar
ou
a importância
do
s construtos da Teoria do Comport
a-
mento Planejado na intenção de
se
praticar turismo de aventura nas culturas nacional e
estadunidense.
A
principal hipótese
é que,
na amostra nacional, norma subjetiva é a princ
i-
pal preditora. estadunidense, atitude terá a maior
importância.
Foram realizados dois
estudos.
Primeiramente
um de eliciação
qu
e
coletou
crenças salientes sobre o objeto, v
i-
sando construção
de
itens
. Após foi
realiz
ada
uma comparação da importância de atitu
de,
norma subjetiva e controle percebido, na forma
ção da intenção
em cada
cultura
. R
esu
l
tados
indicam que, na amostra nacional, norma subjetiva seria o melhor preditor, seguidos por
atitude.
Na
amostra estadunidense, atitude foi a melhor, seguida de controle perce
bido.
Este trabalho contrastou as diferenças na formação da intenção
destas
culturas, indi
cando
que a
nacional
tem a intenção mais baseada em aspectos normativos e a
estadun
i
dense
em
aspectos mais atitud
i
nais.
Trazendo implicações para diversas áreas da psicologia nacional.
Palavras Chaves:
Atitu
des, Normas Subjetivas, Cultura, Coletivismo
-
Individualismo
The formation of intention in two cultures: A study with Adventure Tourism
Hugo Rodrigues
Abstract
This work had as main objective to compare the importance of the core var
i-
ables of the Theory of Planned Behavior (attitudes, subjective norm and perceived control)
in the formation of the intention of engage in adventure tourism in the next vacations in the
Brazilian and United States cultures. As major hypothesis is be lived that in the Brazilian
sample the subjective norm will be a larger importance, than the other variables, and in the
Unites States sample attitudes will be more important in the formation of the intention. To
realize this objective two studies had been conducted. The first collect the most salient
believes about the outcome’s behavior, normative references and control factors, in each
culture. The data of this study provide the standards that had uses to build the items of the
second study and showed that translate of the one of the instruments will not be an ad
e-
quate strategy to this research. The second study made a comparison between the impo
r-
tance of attitudes, subjective norm and perceived control in each one culture. The results
showed that in the Brazilian sample the subject
ive norm was the most important antecedent
of intentions, followed by attitudes. In the United States sample attitudes has the most i
m-
portant antecedent, followed by the perceived control. This work contrasted the main di
f-
ferences in the formation of intention between the Brazilian and United States cultures.
Point the in the last intentions are more guide by attitudes, and in the first, are more guide
by subjective norm.
Keywords:
Attitudes, Subjective Norms, Culture, Collectivism
-
Individualism
1.
Introd
ução
Na psicologia, e em diversas outras ciências sociais (aplicadas ou não), é c
o-
mum a utilização de modelos desenvolvidos em outros países, que não o Brasil (Camargo
& Contel, 2004). Esse tipo de prática leva à criação de intervenções inadequadas para a
nossa realidade e mesmo o diagnóstico de uma situação acaba ficando prejudicado, pois,
variáveis que deveriam ser consideradas como prioritárias acabam muitas vezes recebendo
pouca ou nenhuma atenção (Dimenstein, 2000; Araújo, Castanha, Barros & Castanha,
2007). Isso ocorre porque tais modelos são desenvolvidos para culturas específicas, que
possuem suas próprias peculiaridades, e geralmente não levam em consideração a cultura
de outros países. Esse etnocentrismo acadêmico é muito bem retratado por Smith, Bond e
Kagitçibasi (2006) quando, após analisarem a produção da literatura na psicologia social,
concluíram que ela é quase toda de origem estadunidense, o que faz com que surja um ce
r-
to viés cultural no corpo teórico utilizado tanto na prática da psicologia do dia-a-dia, qua
n-
to no ensino da me
s
ma.
Considerando essa problemática, esse trabalho vem com o intuito de auxiliar na
(re)construção de um corpo teórico aplicado à realidade e cultura brasileira, que, por ser
uma cultura moderadamente coletivista (Hofstede, 1982), difere qualitativamente de cult
u-
ras tais como a estadunidense e de outros países europeus (e.g. França, Inglaterra), onde a
maioria dos estudos publicados e livros utilizados são constru
í
dos.
Entretanto, esse trabalho não tem a intenção de propor uma nova visão de ps
i-
cologia. Ao contrário, o que está sendo sugerido é a utilização dos atuais modelos para
investigar as diferenças culturais entre uma cultura mais hegemônica no caso os Estados
Unidos
e a nossa cultura, buscando, com isso, entender essas diferenças e auxiliar na
compreensão da cultura brasileira. Para tanto, será adotado um pequeno recorte tanto da
realidade quanto da própria psicologia
– onde serão abordados conceitos básicos e seu fu
n-
cionamento nessas duas diferentes cultura
s.
A razão da escolha dos Estados Unidos como país a ser comparado com o Br
a-
sil se encontra no próprio fundo teórico desse trabalho, pois, como citado anteriormente,
é nesse país que se desenvolve a maioria da produção científica de psicologia social, l
e-
vando com isso a um certo viés cultural tanto na hora de conceitualizar o corpo teórico
utilizado quanto na própria idéia de Ser Humano, que geralmente é entendido num conte
x-
2
to cultural individualista e estadunidense (Dimenstein, 2000; Araújo, Castanha, Barros &
Castanha, 2007)..
Os Estados Unidos são considerados na literatura como um exemplo prototíp
i-
co de cultura individualista (Triandis & Suh, 2002), que os indivíduos nessa cultura têm
o seu comportamento muito mais ligado a aspectos atitudinais do que normativos (Tria
n-
dis, 1995; Triandis & Suh, 2002). Nesse tipo de cultura, a constância cognitiva é muito
mais relevante do que em culturas coletivistas, onde a adaptação ao contexto (e as suas
normas) é um aspecto muito mais valorizado e desejado (Smith, Bond e Kagitçibasi, 2006;
Smith & Bond, 1998; Triandis & Suh, 2002,).
o Brasil é considerado um país de cultura moderadamente coletivista (Hof
s-
tede, 1981) ou protoindividualista (Gouveia, Andrade, Milfont, Queiroga, Santos, 2003),
que possui uma população que dá maior ênfase a aspectos grupais e normativos do que os
EUA. No entanto, essa diferença não seria tão marcante quanto é em algumas culturas asi
á-
ticas. A idéia defendida aqui é que o brasileiro presta mais atenção nos aspectos relacionais
dos grupos do que nos aspectos individuais, sendo que estes também exercem uma certa
influência no pensamento e comportamento do brasileiro, mas não com a mesma força do
que os aspectos relacionais.
O foco principal do presente trabalho é comparar os aspectos qu
e influenciam a
formação da intenção no Brasil e nos EUA, visando, com isso, traçar um plano de comp
a-
ração que sirva de heurística para analisar e intervir em algumas situações, baseado na cu
l-
tura nacional predom
i
nante em cada país
Para atingir tal objetivo, a Teoria do Comportamento Planejado (TCP Ajzen,
1991) foi escolhida pelo fato de ser um dos modelos mais utilizados na psicologia (Ajzen
2001) e por ser considerada um dos modelos mais influentes na predição de comportame
n-
to (White, 2005), sendo utilizada com sucesso tanto para predizer quanto para entender o
funcionamento de diversos comportamentos (e intenções) em diferentes ocasiões e conte
x-
tos (Ajzen, 2001; Armitage & Conner, 2001; Sheeran Norman & Orbell, 1999). Desde
1990, foram publicados mais de 700 estudos que utilizaram com sucesso esse mode
lo
(White, 2005).
Como objeto, foi escolhido um comportamento que não estivesse ligado dir
e-
tamente a nenhum tipo de instituição (i.e. empresas, escolas e igrejas), evitando assim que
as normas e valores d
as culturas desses tipos de organizações pudessem interferir de algum
modo nos resultados dos estudos. Dessa forma, foi escolhido um objeto de lazer - mais
precisamente uma modalidade de turismo uma vez que, segundo Berno e Ward (2005),
3
as pessoas em sit
uação de lazer são mais influenciadas pelos seus valores culturais e pess
o-
ais do que pelos organizacionais, fazendo com que estas situações sejam bastante adequ
a-
das para comparações culturais. Evidências de que durante as atividades de lazer os indiv
í-
duos
estão sob um menor controle das normas de instituições estão presentes também na
literatura de psicologia clínica, onde diversos autores (e.g. Winnicott, 1990) apontam que,
apenas quando está bri
n
cando, o indivíduo está sendo ele mesmo.
Outra condição para a escolha do objeto é que ele estivesse sujeito à influência
atitud
inal. Para tanto, foi levado em consideração as prescrições do MODE (Fazio, 1990),
que é um acr
ô
nimo para “
M
otivation and
O
pportunity act as
DE
terminants of spontaneous
versus deliberative
attitude
-
to
-
behavior process
1
. Conforme demonstrado na Figura 1, em
uma situação onde uma maior oportunidade e capacidade para o processamento da i
n-
formação, esta é processada através de um processo mais deliberativo e, por isso, mais
condizente com as crenças e afetos que o indivíduo tem com relação ao objeto em questão.
Nessa situação, a atitude passa a exercer mais influência na situação e por isso o compo
r-
tamento seria mais consistente com a atitude que os indivíduos ma
n
tém.
Com base nos argumentos acima, o objeto de estudo selecionado foi a intenção
de se praticar turismo de aventura nas próximas férias, pois além de ser uma situação de
lazer presente em ambas culturas, sua realização está, quase que necessariamente, ligada a
algum tipo de planejamento e, portanto, mais sensível a algum tipo de processamento del
i-
berativo. Por isso, é possível supor uma maior possibilidade de que o comportamento seja
influenciado por atitudes do que por algum tipo de “autom
a
tismo”.
1
Motivação e oportunidade agindo como determinantes de processos atitude
-
comportamento deliberativos
versus e
s
pontâneos.
4
Figura
1 -
MODE
Fazio (1990)
Ainda, uma outra razão para escolha do Turismo de Aventura como objeto para
esse e
s
tudo é o fato dessa atividade de lazer ser popular nas duas culturas, estando presente
em praticamente todos os estratos
cio
-demográficos (mesmo com seus elevados custos),
e ser relativamente padronizada, devido às normas de segurança. Trata-se também de um
dos tipos de turismo que mais cresce no mundo (Schneider & Heyni
ger, 2006).
Esse trabalho pretende realizar uma compara
ção transcultural entre Brasil e E
s-
tados Unidos com relação ao funcionamento da teoria do comportamento planejado na
predição de inte
n
ções quanto a praticar turismo de aventura nas próximas férias.
A formação da intenção é campo de estudos que contribui muito para o ente
n-
dimento de como as pessoas se comportam em determinadas situações. Ajudando a ente
n-
der quais são os antecedentes dessa disposição, como eles se relacionam e como podem ser
control
ados, é possível criar estratégias de intervenção nas mais diversas áreas, tais como:
adesão à tratamentos, combate a comportamentos anti-sociais (tais como alcoolismo, co
m-
portamento agressivo, etc), estratégias de marketing, planejar políticas públicas e até me
s-
mo entender relações entre as nações. No caso desse estudo, podem ser criadas estratégias
Não
Sim
Motivação e
cap
a
cidade para
processar a i
n-
form
a
ção
Modo de
process
a
mento
deliberativo
Atitude é
ativada e
in
fluencia a
definição da
situação
Modo de
process
a
mento
espontâneo
Forte ace
s-
sibilidade
cr
ô
nica de
atitudes
Comportame
n-
to consistente
com atitude
Atitude é
ativada aut
o-
maticamente e
influencia a
definição da
s
ituação
Comportame
n-
to consistente
com atitude
Atitude não é
ativada
Comportame
n-
to não relaci
o-
nado com
atitude
5
de comunicação destinadas tanto ao público interno quanto ao público estadunidense, v
i-
sando, com isso, adequar as atrações às expectativas nacionais, melhorar a confiança de
possíveis praticantes com relação à possibilid
ade de práticas e, sobretudo, fornecer maiores
in
formações de como ocorre a formação da intenção no individuo brasileiro.
A escolha da formação da intenção como principal aspecto desse trabalho se
deve a dois principais motivos. O primeiro é que ela seria o preditor mais proximal de
comportamento (Fishbein & Ajzen, 1975; Ajzen & Fishbein, 1980, Ajzen, 2005; Ajzen
1992), e o segundo está no fato de que ela é constituída, principalmente, da interação entre
atitudes e norma subjetiva, cuja influência no comportamento é um dos definidores de se
uma cultura é classificada como coletivista ou individualista (Triandis & Suh, 2002). Sobre
esse aspecto, é importante considerar que, em culturas mais individualistas, a maioria de
seus membros tem o comportamento influenciado por atitudes, enquanto nas culturas mais
coletivistas o comportamento sofre uma influência mais normativa (Bomtempo & Rivero,
1992).
Em segundo lugar, está o fato da influência que intenções tem na realização do
compo
rtamento. Ajzen, Brown e Carvajal (2004) colocam que altas intenções apresentam
uma elevada correlação com a realização do comportamento, enquanto baixas intenções
estariam correlacionadas com a não realização do comportamento, havendo, no entanto,
problemas na relação intenção-
comporta
mento quando esta tivesse um valor medi
a-
no/ambíguo. Além disso, a relação intenção/comportamento tem surgido como confiável
em diversos estudos (e.g. Armitage & Conner, 2001; Ajzen, Brown & Carvajal, 2004),
apesar de não ser pe
r
feita.
Desta forma, essa pes
quisa irá comparar o funcionamento da teoria do compo
r-
tamento planejado (Ajzen, 1991) em duas culturas diferentes, visando identificar de que
modo as culturas nacionais influenciam as variáveis desse modelo na formação de praticar
ou não turismo de aventura nas próximas férias. De modo geral, espera-se que haja uma
maior prevalência de atitudes na formação da intenção estadunidense e uma maior influê
n-
cia normativa na amostra nacional. Além disso, a relação entre intenção e controle perc
e-
bido é esperada para ser maior na amostra estadunidense (entretanto, essa relação é mais
complexa e será melhor discutida nas próximas sessões).
Esse trabalho busca ainda realizar uma síntese dos achados recentes na área da
psicologia social sobre cultura; formação da intençã
o na perspectiva da Teoria do Compo
r-
tamento Planejado; atitudes; influência normativa; e percepção de controle sobre o co
m-
portamento; todos num contexto transcultural. Em seguida será apresentado o presente
6
trabalho, que irá realizar a comparação dessas duas culturas com relação a influência das
variáveis do modelo na formação da intenção de se praticar turismo de aventura nas pr
ó-
ximas férias.
Para tanto, serão realizados 2 estudos, sendo um qualitativo, para analisar as
crenças mais salientes, e o outro quantitativo, para analisar as relações entre os construtos.
A parte qualitativa desse estudo foi chamada de fase de eliciação, onde o obj
e-
tivo foi levantar quais seriam as crenças mais salientes com relação ao objeto desse estudo
para cada uma das 4 escalas (atitudes; norma subjetiva
descritiva
; norma subjetiva
injuntiva
; co
n-
trole sobre o comportamento), para, com isso, gerar escalas mais confiáveis, uma vez que
estas seriam baseadas nas crenças da população, e não arbitrariamente. Em seguida foram
construídas
escalas que foram aplicadas em cada um dos países. Cada uma dessas etapas
será melhor descrita ou outras sessões.
7
2.
Objetivo Geral
Comparar
a diferença em importância dos antecedentes da formação da inte
n-
ção de se praticar turismo de aventura nas próximas férias com base na Teoria do Co
m-
portamento Planejado (Ajzen, 1991)
em dois países com culturas distintas, visando apo
n-
tar como essas diferenças culturais podem influenciar o processo de tomada de decisão
através da importância que cada um dos construtos do modelo assume na formação da i
n-
tenção em cada cultura.
2.1.
Objetivos Específicos
Cria
r um instrumento que identifique: as crenças quanto ao resultado do
comportamento, os referentes normativos e os fatores que controlam o
comportamento p
a
ra ca
da uma das culturas;
Cria
r um instrumento objetivo para cada país que avalie as relações
entre as v
a
riáveis e a importância de cada construto em cada cultura;
Coleta
r
os
dados em cada País;
Compara
r os resultados dos instrumentos de cada país, com base na teoria
do co
m
portamento planejado.
8
3. Contextualização
Como fica claro pela observação do modelo, o objeto de estudo é a formação
de intenção de se praticar turismo de aventura em duas culturas distintas. Todavia, é int
e-
ressante contextu
a
lizar o obj
eto da intenção nas duas culturas.
De acordo com o
site
da Organização o Mundial do Turismo do (UNWTO,
2006) esti
ma
-se que o crescimento do turismo em todo o mundo é em torno de 5% a cada
ano, sendo este responsável por 251,9 milhões de empregos até o ano 2010. Cruz (2000)
relata que a indústria do turismo supera os recursos econômicos advindos da industria bél
i-
ca e que, em breve, deve atingir patamares superiores ao da industria petrolífera, a primeira
no ranking mu
n
dial.
Mesmo com o atual cenário de ataques terroristas ao redor do mundo, em 2006
foi registrado um recorde de crescimento no mercado de turismo internacional, principa
l-
mente para destinos onde uma menor prevalência de ataques ou conflitos, como a Áfr
i-
ca Sub-Saariana, que apresentou um crescimento de 8,1 %. As Américas como um todo
tiveram o pior desempenho, com um aumento de apenas 2%, provavelmente devido à e
s-
tagnação do turismo para a América do Norte (CNN, 2007). As Américas apresentam ta
m-
bém o pior prospecto, com a menor predição de cresc
i
mento para 2010 (UNWTO, 2007)
Nesse cenário, o Brasil, como um enorme país com grandes atrações em sua
geografia única, pode e deve desfrutar de suas características naturais e gerar recursos com
atividades, tais como o ecoturismo e o turismo de aventura.
O turismo de aventura está fortemente associado à prática de atividade ao ar l
i-
vre, aquelas conhecidas como
outdoor
pelo grande público, tais como escalada, cano
a-
gem, “mountain bikee até caminhadas (trekking). A principal idéia é realizar alguma at
i-
vi
dade física ao ar livre e longe da cidade, onde seja possível aproveitar as paisagens da
natureza (Ministério do Turismo, 2005b).
Esse tipo de atividade é tido como excitante e arriscado, e alguns autores col
o-
cam que a noção de desafio é uma das principais características do turismo de aventura
(Filho, 2000). No entanto, mesmo caminhadas um programa oferecido por uma grande
quantidade de pacotes e em
presas
são consideradas como um roteiro válido, pois, nesse
caso, pode-se inferir a idéia de que conhecer uma paisagem nova também traz algum tipo
de excit
a
ção.
9
O Ministério do Turismo (2005b) traz duas definições para o turismo de ave
n-
tura. A primeira é a mais utilizada pelos operadores e agências, e surgiu a partir de uma
oficina realizada para a elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável do
Turismo de Aventura (Realizada em Caeté- MG, em abril de 2001). Ela tem a seguinte
redação: “Segmento de mercado turístico que promove a prática de atividades de aventura
e esporte recreacional, em ambientes naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam
riscos controlados, exigindo o uso de práticas e equipamentos específicos e adoção de pr
o-
cedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros a respeito do patrimônio amb
i-
ental e sociocultural (Ministério do Turismo, 2005b, pg 9)”. Entretanto, a definição utiliz
a-
da pelo Ministério do Turismo seria: “Atividades turísticas decorrentes da prática de ativ
i-
dades de aventura de caráter não competit
i
vo
(Ministério do Turismo, 2005b, pg 9)”.
Esse trabalho segue a definição proposta pelo Ministério do Turismo (2005b
subl
inhada), uma vez que ela é mais alinhada com os pacotes que são vendidos nacional e
internaci
o
nalmente.
Nos Estados Unidos, as pessoas que buscam esse tipo de atividade geralmente
o
fazem para férias de curta duração e na maioria das vezes buscam algum serviço de guias
locais, mas gostam de ter uma certa independência para com o agendamento das ativid
a-
des. Além disso, geralmente procuram os seus roteiros e pacotes através da Internet (70%
planejam seus roteiros apenas por esse meio, e 83% fazem pelo menos metade das ativid
a-
des, contra apenas 29% em 2003) e são turistas que apresentam uma elevada preocupação
com o valor do dinheiro gasto (Schneider & He
y
niger, 2006).
Desde o ano 2000, aproximadamente 7% de todas as viagens internacionais
(entre 4 e 5 milhões) são para a prática desse tipo de turismo (Millington, 2001); nesse
período, a média gasta por pessoa foi de US$ 1.500,00. Estudos recentes vêm indicando
uma tendência desse valor a
ume
ntar ainda mais a cada ano (Schneider & Heyniger, 2006;
UNWTO, 2007; CNN, 2007).
Nesses roteiros, 10% dos turistas declararam gastar US$ 5.000,00 ou mais de
n-
tro dos países de destino, e a média de gastos com roupas, guias (livretos) e outros objetos
é d
e US$ 500 (Schneider & He
y
niger, 2006).
A maior parte desses turistas são norte-americanos (estadunidenses e canade
n-
ses) ou europeus, apesar de haver um crescimento de outros grupos. Em 2005, a Outdoor
Industry Association (OIA) realizou uma pesquisa que indicou que 1 entre 4 estadunide
n-
ses com mais de 16 anos realizou pelo menos uma viagem exclusivamente para realizar
atividades “outdoor”, e que, de todas as viagens de lazer, pelo menos 23% incluem algum
10
tipo de atividade ao ar-livre (OIA, 2006). Schneider e Heyniger (2006) apontam que para
os estadunidenses três tipos de viagens se destacariam em relação ao t
u
rismo de aventura.
Experiencial
Viagens que buscam levar o turista ao limite do que é exót
i-
co, educacional, autêntico, com o máximo de aventu
ra
e o mínimo de risco.
Quem busca esse tipo de turismo não se importa com hotéis elegantes ou cr
u-
zeiros, e tendem a não fazer pacotes.
Pequenas explorações Viagens que buscam levar o turista a algo mais do
que apenas “sol e surf”. A idéia é experiênciar a
cu
ltura, o meio ambiente e
os esportes de l
o
cais exóticos e distantes.
Ferias como voluntários (Volunteer Vacations) Mais freqüente entre
a-
queles com idades entre 35
-
54 anos (representando 47% dos que buscam esse
tipo de viagem nos Estados Unidos). São viagens onde o indivíduo busca
prestar algum tipo de serviço no local de destino, tais como ajudar os pobres,
prestar serviços médicos, etc.
Nas viagens para praticar turismo de aventura, as principais atividades seriam:
Andar de bicicleta (38,2%), Pescar (34,5%), hiking
2
(34,2%), acampar (30,4%) e correr
trilhas (18%).
O relatório da OIA (2006) indicou que entre os estadunidenses que buscam e
s-
se tipo de turismo 58% são homens, 32% tem mais de 45 anos, 52% são casados, 52% tem
filhos com menos de 18 anos, 42% tem uma renda familiar anual entre US$ 40.000 e US$
79.000 e 79% são caucasianos. Apesar de jovens até 25 anos representarem apenas 20% do
mercado, esse número tende a subir devido à grande quantidade de propaganda e progr
a-
mas de TV direcionadas aos jovens, que os incentivam a buscar esse tipo de atividade. No
entanto, os “babyboomers” continuam sendo maioria nesse mercado (Schneider & Heyn
i-
ger, 2006).
Dados da Adventure Collection Survey (2005 apud Schneider & Heyniger,
2006) indicam que os praticantes desse tipo de atividade aceitam gastar 10% ou mais se
tiverem garantias de que suas atividades não irão prejudicar o meio ambiente; 61% buscam
empresas que tenham um maior compromisso com a preservação do meio ambiente e ace
i-
tam pagar mais caro por isso e 62% buscam aprender sobre a cultura local e consideram
isso importante. Entretanto, uma vez no roteiro escolhido, mesmo após reconhecer que
2
Um tipo de caminhada de longa duração cujo objetivo é observar a paisagem
11
essas características não estão presentes, eles dificilmente mudam seus planos ou até me
s-
mo de hotel (Schneider & He
yniger, 2006).
Schneider e Heyniger (2006) apontam que os locais que mais recebem esse tipo
de turista seriam: Ásia (particularmente o nordeste, sudeste e o sul); as Américas como um
todo e o norte da África.
Com relação ao Brasil, 40 a 60% das viagens de
lazer estão relacionadas a vis
i-
tas a áreas de conservação, parques, trilhas, cachoeiras e fazendas, geralmente na perspe
c-
tiva de usufruir o potencial dos recursos naturais (Marcondes & Mota, 1986). Nesta per
s-
pectiva, destaca-se o ecoturismo. Esta modalidade tem como motivação principal viajar
para áreas naturais, pouco modifica
das e livres de contaminação, com o objetivo específico
de estudar, admirar e desfrutar ativamente de suas paisagens, plantas e animais silvestres,
assim como das manifestações culturais existentes nessas áreas (Lindenberg & Hawkins,
1995). Assim, o turismo de aventura aparece como variante do ecoturismo e se destaca por
ser aquele programa que se desenvolve em contato com a natureza, requerendo esforço
físico, assumindo a conotação de desafio e envolvendo expedições em áreas acidentadas
com viagens arrojadas e com resultados imprevistos (Filho, 2000). Na prática, a principal
dif
erença entre o ecoturismo e o turismo de aventura é o fato deste último envolver algum
tipo de excitação.
Ent
retanto, não existem dados sobre o comportamento nem demografia do t
u-
rista de aventura no Brasil. Em consulta informal a donos de operadoras de turismo e
membros da Associação Brasileira das Empresas Turismo de Aventura (ABETA), obteve-
se a informação de que trata-se de um turista jovem e com um elevado poder aquisitivo,
uma vez que as campanhas de
marketing
direcionadas para esse tipo de turismo acabam
por apresentar exatamente esse tipo de indivíduo. Contudo, vale lembrar que tais dados
ainda são apresentados de forma intuitiva na área, que não foram encontradas pesquisas
empíricas que confirmem essa população.
A maior parte da literatura nacional é relativa à certificação de segurança e re
s-
ponsabilidade sobre a percepção do risco que o t
u
rista corre (
e.g. Spink, Galindo, Cañas, &
Souza, 2004), e a maior parte do pacotes são literalmente traduzidos para o português se
n-
do pensados principalme
n
te para estadunidenses e europeus.
Assim, o presente trabalho aborda quais são os antecedentes da formação da i
n-
tenção de se praticar (ou não) o turismo de aventura nas próximas férias, comparando ju
s-
tamente com o “principal público”, e partindo do princípio que diferenças culturais infl
u-
enciam tanto qualitativamente (i.e. quais crenças os grupos teriam com relação ao turismo
12
de aventura) quanto quantitativamente (i.e. que peso determinados construtos m na fo
r-
mação da intenção).
13
4.
Referencial Teórico
4.1
Cultura
Agora será apresentada uma revisão dos principais conceitos e modelos sobre o
tema cultura, visando clarificar a importância deste construto para os objetivos desse est
u-
do.
4.1.1
Definição
Existe uma grande variedade de definições para cultura. Ela pode ser consid
e-
rada a parte do ambiente feita pelos humanos (Herkovits, 1995 apud Gelfand, Erez & A
y-
can,
2007); um conjunto de reforçamentos (Skinner, 1981); o programa da mente (Hofst
e-
de, 1981); uma configuração de cognições, emoções e hábitos, ativados quando situações
estimulam a sua expressão (Triandis & Suh, 2002); comportamentos, práticas, valores,
cren
ças e representações simbólicas compartilhadas por um coletivo (Wan, Chiu, Peng &
Tam, 2007), para citar apenas algumas.
Cultura influencia o desenvolvimento e a manifestação da personalidade (Tr
i-
andis & Suh, 2002). É para a sociedade o que memória é para os indivíduos (Kluckhohn,
1954 apud Triandis & Suh, 2002). É nela que está inserido como e o quê vai ser transmit
i-
do para as novas gerações. É na cultura de um povo que está incrustada a definição do que
é ser humano (DaMatta, 1991).
Virtualmente, toda definição de cultura sugere que ela representa uma coleção
de normas comportamentais e cognições
compart
i
lhadas
por indivíduos dentro de alguma
população com algum grau de consenso, que são distintos daqueles que compartilham
comportame
ntos e/ou cognições de outra população (Lehman, Chiu & Schaller, 2004;
Wan, Chiu, Peng & Tam, 2007; Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006). Essas crenças normat
i-
vas fornecem recursos para a realização de objetivos individuais e coletivos. Muitas vezes,
são institucionalizadas de modo formal (i.e. leis e regulamentos) e informal (i.e. tradição
oral) (Cialdini & Trost, 1998, Lehman, Chiu & Schaller, 2004, Feldman, 1984, Prentice &
Miller, 1996), e existem diversos mecanismos para que a norma seja transmitida para os
novos membros (Cialdini & Trost, 1998, Lehman, Chiu & Schaller, 2004, Feldman, 1984,
14
Prentice & Miller, 1986) garantindo assim a sobrevivência da cultura. As normas de uma
cultura podem durar por muito tempo (Lehman, Chiu & Schaller, 2004), desde que não
haja fatores externos
que alterem o equilíbrio dos p
a
drões culturais (Hofstede, 1981).
Uma metáfora para se entender cultura é que ela seria como o sistema oper
a-
cional de um computador. A personalidade seria um dos programas que precisam desse
sistema para poder “rodar” e os i
ndivíduos são o aspecto físico dessa arquitetura (Hofstede,
1981). Enquanto personalidade pode ser conceitualizada como uma configuração de cogn
i-
ções, emoções e hábitos ativados quando situações estimulam a sua expressão (Triandis &
Suh, 2002), cultura seria quando essas cognições, emoções e hábitos são compartilhadas
por um grupo/coletivo (Smith, Bond & Kagitçib
a
si, 2006).
Existem variações universais e culturais no desenvolvimento da personalidade
(Tria
ndis, 1995, Triandis & Suh, 2002). De acordo com Triandis & Suh (2002), algumas
dessas características dependentes da cultura são correspondentes a diversas síndromes
culturais, tais como coletivismo e individualismo. Smith, Bond e Kagitçibasi (2006) ta
m-
bém colocam essas síndr
o
mes como orientações culturai
s.
Os autores colocam ainda que, desde o século passado, existe um grande deb
a-
te dentro das ciências sociais a respeito do conceito de cultura. No caso da antropologia,
Herskovits (1948 apud Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006) resume cultura como a parte do
ambiente humano feita pelo homem, incluindo tantos os artefatos físicos quanto os seus
sistemas sociais e significados associados aos mesmos. no caso da Sociologia, há uma
maior confluência com a psicologia sócio-cognitiva; entretanto, nessa ciência a crença
de que a cultura é mais complexa do que os psicól
o
gos consideram (DiMaggio, 1997).
DiMaggio (1997) coloca que as teorias sobre cultura têm ficado cada vez mais
sofist
icadas e menos operacionais, enquanto Smith, Bond e Kagitçibasi (2006) salientam
para o fato de que diferentemente das outras ciências sociais (sobretudo da antropologia)
que buscam estudar grupos “primitivos”, a psicologia busca lidar mais com a cultura do
mundo “moderno”.
Apesar dessas divergências, implícito em quase todas as definições de cultura
está o fato de que ela é compartilhada pelos indivíduos que a constituem e é através dela
que os grupos e indivíduos interpretam o mundo a sua volta (Lehman, Chiu & Schaller,
2004; Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006; Wan, et. al., 2007). Se as similaridades de um
grupo são numerosas, pode
-
se dizer que esse grupo constitui uma cultura, pois esta só pode
ser definida coletivamente (Smith, Bond & Kagitç
i
basi, 2006).
15
É
importante diferenciar cultura de sistema social. Smith, Bond e Kagitçibasi
(2006) colocam que o último é definido em termos de padrões de comportamento, e não
em termos dos significados atribuídos a eles, que seriam associados à definição de cultura.
Aind
a de acordo com esses autores, sistemas sociais têm cultura, mas culturas não têm
sistemas sociais; elas os tornam compreensivos, pois é através da cultura que os diferentes
comportamentos recebem alguma atribuição e um sign
i
ficado.
Na psicologia, a maior parte dos estudos sobre cultura envolvem o estudo de
valores. Definidos rapidamente como características motivacionais relativamente estáveis
que mudam pouco durante a fase adulta, representariam objetivos maiores, que são aplic
á-
veis através do tempo e de diferentes contextos (Bardi & Schwartz, 2003). Eles fornecem
os princípios que norteiam as buscas dos principais valores na vida de um indivíduo. Se um
sistema social é caracterizado pelo compartilhamento de crenças e valores, é bem provável
que os comportamentos e objetos do dia-a-dia sejam interpretados de modo semelhante
pelos seus membros, indicando
com uma razoável segurança
a existência de uma cult
u-
ra (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006).
Considerando as informações acima, de que cultura depende de um coletivo
que compartilha valores, crenças e sistemas simbólicos de modo diferente de um outro
coletivo que compartilha outros valores, crenças e sistemas simbólicos, é possível pensar
em classificar essas culturas de acordo com algum tipo de orientação cultural, que pode ser
definida como uma certa propensão dos indivíduos em interpretar o mundo a sua volta de
um modo que seja consistente com uma ou outra dimensão de cultura. A orientação cult
u-
ral dos indivíduos é proveniente do resultado conjunto da criação e do contexto social im
e-
diato, em diferentes momentos da vida (Smith, Bond & Ka
gitç
i
basi, 2006).
Smith, Bond e Kagitçibasi (2006) colocam que atualmente uma das terminol
o-
gias mais utilizadas para lidar com orientação cultural é a construção do
self
como ind
e-
pendente ou interd
e
pendente, proposta inicialmente por Markus e Kitayama (199
1). Apesar
de não terem originalmente o objetivo de descrever culturas, e sim descrever os dados de
uma revisão de literatura que comparava principalmente os Estados Unidos com países do
Oriente Distante (e.g. China, Japão), esses autores optaram por não generalizar os seus
achados com alguma orientação cultural específica. Entretanto, esses termos tendem a ser
usados na literatura quase como uma espécie de sinônimo para coletivismo (self interd
e-
pendente) e individualismo (self independente). A idéia é que
indiv
íduos com o self mais
independente teriam a construção da sua auto-categorização independente de grupos ou
pessoas, e que indivíduos com o self mais interdependente teriam na sua categorização
16
características impossíveis de existir sem a presença de um grupo, ou da percepção de a
l-
gum sent
i
mento que o grupo possa ter sobre ele.
Como pode ser observado no que foi apresentado até agora, cultura é um
conceito capaz de lidar com uma grande gama de variação do comportamento e pensame
n-
to humano. No en
tanto
, qual aspecto da cultura é responsável pela variação em uma parte
específica do comportamento humano? Afirmar que qualquer diferença entre dois grupos
específicos é devido à cultura é de pouca utilidade prática e científica, pois no final não se
sabe o que realmente causou a diferença (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006; DiMaggio,
1997).
Devido a essa grande “aplicabilidade” do conceito de cultura (tanto no meio c
i-
entífico quanto na própria linguagem do dia-a-dia), faz-se necessário “desempacotar” este
conceito em várias facetas específicas que possam ser controladas e em alguns casos
até manipuladas. Dessa forma, usando-se medidas mais específicas de orientação cultural,
pode
-se chegar a conclusões mais precisas de qual faceta da cultura causou a difere
n-
ça/variação no comportamento (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006). Por ser a cultura um
construto muito abrangente, a idéia por trás da metáfora “desempacotar” é a de retirar aqu
i-
lo que no momento não faz parte dos interesses do pesquisador. A medida especí
fica
mais utilizada para a realização desse desempacotamento é o contínuo coletivismo-
individualismo, considerado o responsável pelas mais profundas diferenças culturais (Gr
e-
enfield, Keller, Fuligni & Maynard, 2003).
Culturas precisam ser “desempacotadas” devido ao fato destas diferirem em
su
a complexidade (Triandis & Suh, 2002). Para isso, existem diversos tipos de variáveis
culturais. Hofstede (1981), um dos primeiros a salientar esse tipo de variável no estudo da
psicologia, em seu trabalho seminal identificou quatro variáveis culturais: distância de p
o-
der; individualismo; evitação de incerteza e masculinidade. O Modelo de Hofstede (1981)
e de Triandis (1995) não são os únicos, e posteriormente outros modelos, tais como o de
Schwartz (1994), serão m
e
lhor discutidos.
Entretanto, justamente devido a essa complexidade, uma pesquisa transcultural
aprese
n
ta algumas peculiaridades com relação ao modo como ela deve ser conduzida, a fim
de evitar erros de med
i
da e interpretação.
4.1.2.
Métodos de pesquisa transcultural
17
O principal erro cometido em pesquisas cujo objetivo seja realizar a compar
a-
ção de culturas é a utilização de instrumentos construídos e validados para uma cultura
específica em uma outra, geralmente realizando apenas uma mera tradução (Bond e Kagi
t-
çibasi, 2006). Chama
-
se este tipo err
o de ética imposta (
imposed
e
thic
).
Apesar do nome, esse tipo de erro não é relativo à área de estudos da filosofia.
Essa terminologia advém da lingüística, como uma espécie de metáfora da terminologia
fonética (Phone
tic
), que é uma área de lingüística que estuda os sons fundamentais da fala
humana; e da fonêmica (Phon
emic
), que é a área da lingüística que estuda os sons que
constituem as palavras de um idioma especifico. A lógica dessa metáfora é que quando um
instrumento de medida é construído numa cultura, ele é baseado nas características pr
ó-
prias destas, e de modo similar às palavras de um idioma, que é adequado àquela cultura
mas pode não significar nada, ou significar outra coisa, em uma outra. A esse tipo de in
s-
trumento chamamos de “emico” ou do tipo
emic
(emic
-
phon
emic
).
Harris (1980) coloca que esses neologismos foram desenvolvidos pelo antrop
ó-
logo lingüista Kennneth Pike que, como já colocado acima, fez uma analogia com a fonét
i-
ca e a fonêmica. De acordo com esse autor, uma pesquisa que se baseie numa perspectiva
mais emica se foca nos aspectos intrínsecos de uma cultura em particular, enquanto uma
pesquisa mais ética se foca em aspectos universais.
A ética imposta ocorre quando um instrumento emico é aplicado numa outra
cultura, pois, dessa forma, a universalidade sugerida pela metáfora da fonética (dos sons
fundamentais da fala humana, do estudo do aparelho fonador, dos sons que somos capazes
de produzir) não é alcançada. Do mesmo modo, os estudos de fonêmica no Brasil (por
e-
xemplo) não são aplicáveis nos Estados Unidos. Um instrumento que meça atitude (ou
auto
-estima, comprometimento, e até mesmo cultura) no Brasil terá pouca ou nenhuma
chance de refletir o mesmo construto em outra cultura. Por esta razão existe a idéia de ética
imposta, já q
ue essa “universalidade” está sendo “forçada”, não existi
n
do na realidade.
Para que não haja a ética imposta é preciso que os instrumentos de medida que
forem utilizados numa pesquisa sejam adequados para medir o construto (atitude, por
e-
xemplo) e sejam equivalentes, ou seja, emicamente válidos (Smith, Bond & Kagit
çibasi,
2006). Uma das maneiras de se obter esse critério é a criação e validação de instrumentos
em cada uma das culturas. Nesse caso, a idéia é adequar a medida 100% à realidade do
local, basea
ndo
-se no fato de que indivíduos colocados em ambientes de socialização dif
e-
rente desenvolvem estruturas e habilidades cognitivas diferentes (Triandis & Suh, 2002;
18
Lehman, Chiu & Schaller, 1994; Greenfield et. al., 2003). Sendo assim, são necessá
rios
inst
rumentos diferentes para se medir o mesmo construto.
Entretanto, muitas vezes não existem recursos suficientes para esse tipo de e
s-
tratégia. A primeira solução para o problema da éti
ca
-imposta é a tradução-
retradução.
Nesse tipo de técnica, o instrumento original é primeiramente traduzido por um indivíduo
bilíngüe da língua original para a que se pretende traduzir (tradução reversa). Em seguida,
essa nova versão é traduzida novamente para a língua original. Essas duas versões são e
n-
tão comparadas e, caso elas sejam equivalentes, o instrumento será considerado apto para
ser aplicado (Brislin, 1990 apud Smith, Bond e Kagitç
i
basi, 2006).
A primeira falha desse tipo de estratégia é que, apesar do instrumento ser li
n-
güisticamente adequado, ele pode não o ser psic
olog
icamente (Byrne & Campbell, 1999).
Isso se pelo fato de que mesmo que os itens tenham o mesmo significado em ambas as
culturas, o instrumento pode acabar não refletindo todos os aspectos do construto na cult
u-
ra para qual ele foi traduzido.
Lehman, Chiu e Schaller (1994) exemplificam uma situação onde isso ocorreu
quando se começou a comparar a auto-estima em culturas individualistas e coletivistas. A
princípio, os individualistas apresentavam sistematicamente escores maiores do que os
coletivistas; entretanto, os coletivistas não apresentavam as conseqüências da baixa auto-
estima. Isso se deve ao fato de que a medida de auto-estima não levava em consideração a
percepção do indivíduo coletivista do quanto ele é valorizado pelo seu grupo de referência.
Uma vez isso sendo considerado, as pesquisas que comparavam os escores de auto-
estima
em coletivistas e em individualistas passaram a não enco
n
trar diferenças significativas.
Byrne e Campbell (1999) colocam que diversos especialistas em psicometria
vêm alertando que a tradução-retradução não é o método mais adequado (apesar de ser o
mais utilizado) para garantir que o instrumento seja conceitual e psicometricamente equ
i-
valente ao instrumento original. Van de Vijver e Tanzer (1997) apontam que essa técnica
leva a um viés de construto, uma vez que, com base nessas técnicas, os itens não necessar
i-
amente refletem o contexto e a equivalência entre as palavras, e acabam até representando
construtos diferentes. Esses autores colocam que a tradução reversa gera 3 ti
pos de itens:
Os que representam uma parte invariante do construto em cada cultura
Os que representam parcialmente o construto em cada cultura
Os que falham em representar algum aspecto relevante do construto em pelo
menos uma das culturas.
19
Uma outra estratégia seria a utilização da comparação com um grupo específ
i-
co (Heine, Lehman, Peng & Greenholtz, 2002). A idéia dessa técnica é criar um instrumen-
to baseado em comparações explícitas entre os grupos. Neste caso, um exemplo de item
seria: “Chineses são mais emotivos do que americanos”. O principal objetivo dessa técnica
é criar um padrão de comparação no qual as respostas dos indivíduos se baseariam. No
entanto, essa técnica apresenta o problema de trabalhar com estereótipos, e não com a pe
r-
cepção real dos
indiv
íduos. Outro problema que pode surgir é que geralmente os itens são
os mesmos para os dois grupos, gerando os mesmos inconvenientes que a tradução re
versa
pode ocasionar.
Outra abordagem utilizada é a padronização dos dados (Hofstede, 1981; Bond,
1988
). Nesta cnica, os resultados são padronizados dentro de cada cultura para retirar
algum tipo de viés que surja no estilo de resposta (e.g. viés de condescendência). Essa e
s-
tratégia pode ser aplicada ju
n
tamente com todas as outras apresentadas acima, uma
vez que
é aplicada no Banco de dados, e não no questionário em si.
Com base nos dados apresentados acima, o autor desse trabalho decidiu por r
e-
alizar uma pesquisa do tipo
etic
, tendo por base a construção de dois instrumentos do tipo
emic
, bem como padronizar os resultados obtidos com esses instrumentos, visando prod
u-
zir resultados mais adequados para os objetivos desse trab
a
lho.
4.1.3.
Modelos
Diversos modelos foram desenvolvidos na psicologia para analisar as difere
n-
tes facetas de cultura e para comparar países com base nessas facetas. Abaixo, serão disc
u-
tidos alguns modelos que apresentaram comparações explícitas entre o Brasil e os Estados
Unidos. Estes modelos não são os únicos, mas são os mais citados na literatura e aprese
n-
tam escores que comparam a posição de cada um dos países abordados nesse trabalho, em
cada uma das variáveis levantadas em cada mod
e
lo
Dimensões Culturais de Hofstede
Diversos autores (e.g. Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006; Triandis, 1995; etc.)
apontam para o caráter seminal do trabalho de Gertz Hofstede, uma vez que ele foi o pr
i-
meiro a trabalhar com dimensões culturais que podiam ser medidas e comparadas. Em seu
trabalho, Hofstede (1980) analisou aproximadamente 116.000 questionários vindos de
20
mais de 70 países, propiciando a id
ent
ificação de algumas dimensões que pudessem ser
utilizadas para comparar as culturas de diferentes nações. Smith, Bond e Kagitçibasi
(2006) colocam que o objetivo de Hofstede era estabelecer, na área de estudos sobre cult
u-
ra, dimensões que fossem comparadas àquilo que a latitude e longitude são para a geogr
a-
fia.
Dimensão Cultural
Definição
Exemplo de item
3
Distância de Poder
O grau em que o comportamento de
um subordinado é determinado por
um chefe e a extensão na qual o co
m-
portamento de um chefe é determin
a-
do pelos empregados. O nível de ace
i-
tação de que o poder nas instituições e
organizações seja distribuído de modo
desigual .
Empregados têm receio
de discordar dos seus
gerentes.
Evitação de Incert
e
zas
O grau no qual os membros de uma
cultura tendem a evitar a ambigüid
a-
de. É diferente de evitação de risco,
uma vez que nem sempre uma situ
a-
ção de risco envolve ambigüidade e a
percepção de amb
i
güidade.
Eu pretendo ficar nessa
companhia por pelo m
e-
nos 5 anos
Individualismo
O grau em que os membros de uma
cu
lt
ura percebem a si mesmos como
tendo uma identidade relativamente
separada do pertencimento a um gr
u-
po
É importante que eu t
e-
nha um tempo para mim
mesmo
Masculinidade O grau em que os membros de uma
cult
ura valorizam a assertividade, em
detrime
nto de apoio na tomada de
decisão (
nurt
u
rance
). É o grau no
qual existe uma maior meta de real
i-
zação versos criar/manter relacion
a-
mentos. Também esassociado com
o quanto os papéis masculinos e f
e-
mininos são bem definidos.
Não é importante pra
mim ter boas relaçõe
s
com o gerente
Tabela 1 -
Dimensões Culturais de Hofstede (1981)
Hofstede (1981) encontrou em suas análises 4 dimensões: distância de poder,
evitação de incertezas, individualismo e masculinidade. Essas definições estão melhor de
s-
critas n
a Tabela
1
.
Apesar de sua inegável importância para a psicologia, o trabalho de Hofstede
(1981)
apresenta diversas falhas metodológicas, tais como: problemas de escala (pois os
3
Traduções livres dos itens
não validados para
o contexto nacional
21
itens não foram inicialmente construídos para analisar culturas); a presença de uma ética
imposta, pois os itens refletiam as preocupações de uma companhia estadunidense (IBM),
que naquela época tinha a intenção de criar uma cultura global uni
fo
rme para as suas sedes
(Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006); e o fato de que o tamanho das amostras de cada país
não era homogêneo.
A despeito dessas falhas, Hofstede (2001 apud Smith, Bond & Kagitçibasi,
2006) revisou a edição original do seu livro e apontou inúmeros estudos em que os escores
que ele encontrou para os países de suas análises se mostraram preditores significativos em
pesquisas de outros aut
o
res, mesmo 30 anos depois, indicando a robustez de seus achados.
No que se refere aos objetivos desse tr
abalho
comparar o Brasil e os Estados
Unidos quanto aos antecedentes da formação de in
tenção
a Tabela 2 abaixo fornece uma
comparação dos e
s
cores dos 2 países nas dimensões encontradas.
País
Dimensão Cultural
Brasil
Estados Unidos
Distância de Poder
69
40
Evitação de Incertezas
76
46
Individualismo
38
91
Masculinidade
49
62
Tabela 2 -
Comparação entre o Brasil e os Estados Unidos com relação aos escores indicados por Hof
s-
tede (1981)
De acordo com
a Tabela
2, o Brasil (40
do ranking) valoriza mais que haja uma
distância entre um subordinado e seu superior (i.e. pai e filho; funcionário e chefe) do que
os EUA (16 do ranking), indicando que o comportamento do brasileiro é mais influenciado
pela sua percepção das expectativas de um superior do que nos EUA. Essa dimensão tende
a apresentar uma correlação negativa com a autonomia afetiva (Pasa, 2000), que é correl
a-
cionada com conformidade a grupos ou normas organizacionais (Lu, Rose & Blodgett,
1999). Sue
-
Chan e Ong (2002) coloc
am que a auto
-eficácia tem um papel mediador entre a
motivação de alcançar uma meta e a performance no trabalho apenas para indivíduos com
uma baixa distância de poder.
Com relação a evitação de incertezas, a população brasileira ocupa o 32º lugar
do ranking, tendendo muito mais a evitar ambigüidades do que os EUA (11º do ranking).
Isso significa que o brasileiro valoriza, mais do que americanos (e me
nos do que os Gregos
- que estão em 53 no ranking por exemplo), que outras pessoas tomem decisões por eles
,
22
retirando assim a responsabilidade de um possível erro e diminuindo a ansiedade, por dif
u-
são de responsabilidade. Os brasileiros tendem a preferir chefes mais autoritários e a co
n-
siderar mais ansiogênicas as situações onde haveria um líder que utilizasse uma estratégia
mais participativa. Johnson et. al. (2005) aponta que culturas com altos escores nessa d
i-
mensão tendem a ter muitas regras e uma baixa tolerância à ambigüidade. Lu, Rose e
Blodgett (1999) colocam ainda que os indivíduos com altos escores nessa dimensão, além
de buscarem obedecer a normas e padrões, tendem a ser extremamente intolerantes com
quem não o faz.
Klassen (2004) considera que indivíduos com um alto escore nessa dimensão
tendem a depender mais de uma eficácia social do que de uma aut
o-
eficácia no que se ref
e-
re às suas estratégias regulatórias, ao passo que aqueles com baixo escore nessa dimensão
tendem a preferir a auto
-
eficácia.
No ranking da variável masculinidade, o Brasil ocupa o 27º lugar, enquanto os
EUA ocupam o 39º, indicando que existe uma maior preferência em manter os relacion
a-
mentos ao invés de buscar realização, sendo que nos EUA uma maior divisão entre os
papéis masculinos e fem
i
ninos.
Com relação à dimensão Individualismo, o Brasil ocupa o 27º lugar, ao passo
que os EUA ocupam o 53º (ultimo da lista). Essa é a dimensão mais estudada (Triandis,
1995, Triandis & Suh, 2002; Gouveia et. al., 2003, Gouveia e Clemente, 2000). Indivíduos
com um baixo escore nessa dimensão tendem a se categorizar com base nos seus grupos de
re
ferência. Ao contrário, indivíduos com um alto escore nessa dimensão tendem a ter a sua
auto
-categorização baseada mais na sua auto-percepção, sentem necessidade de manter
uma constância entre suas crenças e ações e valorizam seu espaço pessoal. Além disso, a
tomada de decisão nos indivíduos com escores altos nessa dimensão tende a ser mais co
n-
dizente com as atitudes do que com normas sociais, a não ser que estas se façam salientes e
haja alguma motivação em demonstrar um comportamento mais socialmente aceito (Bo
m-
tempo, Lobel, & Triandis, 1990).
De modo semelhante à evitação de incertezas, os indivíduos com escores alto
nessa dimensão tendem a elaborar as suas estratégias regulatórias com base na auto-
eficácia, ao passo que os com baixo escore tendem a montar essas estratégias com base
numa eficácia coletiva (Gelfand, Erez & Aycan, 2007). Bernardi (2006) indica também
que a desejabilidade social é positivamente correlacionada com individualismo e evitação
de incertezas
23
Síndromes Culturais de Triandis
Gouve
ia et. al.(1998) coloca que, em 1998, Harry Triandis recuperou dados de
pesquisas que ele realizou anteriormente sobre tradição e modernidade, e as adequou ao
novo paradigma da psicologia social transcultural, principalmente no que se refere ao col
e-
tivismo
e individualismo.
De acordo com Triandis (1995), síndromes culturais são padrões caracterizados
por crenças, atitudes, normas, regras e valores compartilhados por um grupo organizado
em torno de um tema, que podem ser encontrados numa certa região geográf
ica durante um
período histórico específico (Triandis, 1995). Coletivismo-Individualismo seria a mais
básica síndrome cultural, responsável pelas mais profundas diferenças culturais existentes
(Triandis & Suh 2002; Greenfield, Keller, Fuligni, & Maynard 20
03).
Triandis (1995) afirma que os termos coletivismo e individualismo foram us
a-
dos pela primeira vez em meados do século XVIII, por filósofos políticos ingleses. Na oc
a-
sião, individualismo era sinônimo de liberalismo e liberdade individual, enquanto colet
i-
vismo estava ligado à idéia de autoritari
s
mo e submissão às autoridades, como uma espécie
de necessidade que visava evitar o caos e a anarquia. É possível identificar nessa época as
tendências culturais em questão apresentando conflitos na filosofia (John Locke Vs. Rou
s-
seau), economia (Adam Smith Vs. Karl Marx) e política (capitalismo/democracia Vs. soc
i-
alismo/facismo). Diferentes ciências sociais trabalharam de modo semelhante com a dic
o-
tomia col
e
tivismo
individualismo.
No ocidente, os primeiros defensores das idéias de cunho coletivista foram os
filósofos gregos Platão e Aristóteles que, apesar de não utilizarem essa terminologia, d
e-
fendiam a existência de normas e padrões de conduta que deveriam ser universais. Triandis
(1995) descreve a República de Pl
atão como um documento coletivista e paternalista. Co
n-
temporâneos a esses dois filósofos estavam os sofistas, que pregavam a importância do
sucesso individual e a adaptação da conduta ao contexto (em Creta faça como os Crete
n-
ses). Apesar da adaptação do comportamento ao contexto ser uma característica mais c
o-
mumente encontrada em culturas coletivistas, o sucesso individual é um dos aspectos ce
n-
trais nas culturas individualistas (Triandis, 1995, Triandis & Suh 2002, Gouveia, et. Al.,
2003). No ocidente, o em
bate entre essas duas correntes acabou pendendo mais para o lado
24
do individualismo
4
(sobretudo nos países industrializados). no oriente, houve uma vit
ó-
ria praticamente indiscutível de idéias com conteúdo coletivista, principalmente devido a
Confúcio (551 a.C.
- 479 a.C.), que defendia idéias semelhantes às de Sócrates e Platão.
Durante a dinástica Ming (de 1368 a 1644), houve filósofos que defenderam ideais com
conteúdo individualista, mas estes foram subjugados. (Triandis, 1995). Entretanto, uma
discussão sobre o porque de uma tendência ter prosperado com maior sucesso no oriente e
não no ocidente não faz parte dos objetivos desse trabalho. O principal aspecto defendido
até aqui é que essa dicotomia está presente em diferentes correntes de pensamento e esteve
presente em muitos locais do globo, em diversos momentos históricos, indicando a unive
r-
salidade desse conce
i
to.
At
ualmente, a tipologia proposta por Triandis é a mais utilizada nos estudos
transculturais (Gouveia, Andrade, Milfont & Queiroga, 2003; Gouveia & Clemente, 2000).
Diversos autores (Greenfield, 1999, apud Triandis & Suh, 2002; Greenfield, Keller, Fuligni
& Maynard, 2003; Lehman, Chiu & Schaller, 1994) apontam que essas variáveis são cap
a-
zes de explicar uma grande gama de diferenças entre as culturas e podem ser consideradas
como as mais profundas diferenças cult
u
rais.
Triandis (1995) destrinchou e dividiu a variável individualismo da tipologia
proposta por Hofstede (1981), criando a dicotomia individualismo-coletivismo e acresce
n-
tando os subtipos horizontalismo-verticalismo, também herdados da definição de Hofstede
(1981) de di
s
tância de poder.
Como colocado, o primeiro a salientar a dimensão individualismo-
coletivismo na psicologia foi Hofstede (1981). Essa dimensão se refere principalmente à
impo
rtância que o grupo e seus membros (
endo
-
grupo
), versus os não membros dos seus
grupos (
exo
-
grupo
), têm em sua cognição, auto-percepção, emoção, resolução de probl
e-
mas e outras esferas do dia-a-dia. É interessante fazer uma referência entre endo e exo-
grupo com os pronomes nós e eles, no que se refere à opinião do indivíduo com relação aos
membros do seu grupo (nós
endo
-
grupo
) e com os membros de outros grupos (e
les
exo
-
grupo
).
A dimensão horizontalismo-verticalismo foi desenvolvida por Singelis e Tria
n-
dis (1995) para definir melhor os tipos de individualismo que estavam sendo encontrados.
Descendente direta da definição de distância de poder (Hofstede, 1981), essa variável refl
e-
te o quanto os indivíduos aceitam (e desejam) algum tipo de hierarquia e também o quanto
4
Entretanto, não se deve colocar esse fato histórico como uma causa desse dado. Esse fato é apresentado
apenas como uma curiosidade histórica.
25
toleram as iniqüidades. Em culturas mais verticalistas uma maior aceitação e busca por
hierarqui
a, enquanto nas horizontalistas a igualdade entre os seus membros é mais valor
i-
zada.
Triandis (1995) afirma que existe uma correlação entre individualismo-
coletivismo e horizontalismo-verticalismo. De acordo com este autor, uma maior pr
o-
babilidade de que um país que tenha um escore elevado em individualismo também tenha
um escore elevado em horizontalismo. Esse autor coloca que essas dimensões não são pe
r-
feitamente ortogonais, uma vez que mesmo uma cultura coletivista-horizontalista seria
mais verticalis
ta do que uma cultura individualista
-
verticalista.
Apesar de ser pensada primeiramente como uma dimensão bipolar, pesquisas
recentes vêm mostrando que existem diversos tipos de coletivismos e individualismo, se
n-
do que os membros de todas as culturas (coletivistas ou individualistas) são capazes de
apresentar uma conduta mais ou menos individualista (ou coletivista) dependendo das d
e-
mandas da situação (Triandis, 1995; Trafimow, Triandis & Goto, 1991). Mesmo assim,
espera
-se que uma das dimensões seja predominante e tenha uma maior ocorrência
em
rel
ação à outra, numa “média geral”.
De acordo com Triandis (1995), a dimensão horizontalismo-verticalismo, rec
u-
perada da noção de distância de poder de Hofstede, ajudaria a identificar os principais tipos
de coletivismo e individualismo. Mais precisamente, os tipos de dimensões culturais mais
freqüentes seriam o ind
i
vidualismo vertical, individualismo horizontal, coletivismo vertical
e coletivismo horizontal, sendo que o autor entende vertical e horizontal como o modo
como as relações de poder ocorrem numa determinada cultura. Neste sentido, relações
mais verticais valorizam a hierarquia, enquanto as mais horizontais valorizam a igualdade.
Gouveia et. al. (1998) coloca ainda que em culturas mais horizontais haveria uma
maior
preferência por liberdade e igualdade, ao passo que em culturas mais verticais essas cara
c-
terísticas não seriam tão valorizadas, uma vez que nestas culturas a hierarquia é valorizada
e a desigualdade é tolerada.
Além dessas quatro síndromes culturais, Triandis (1995) reconhece que exi
s-
tem outras facetas dessa noção de individualismo que não seriam tão bem explicadas pelo
acréscimo da noção de verticalismo-horizontalismo. Uma delas é o protoindividualismo,
um tipo de individualismo mais associado à sobrevivência. No protoindividualismo, as
principais relações grupais adotam uma postura mais coletivista, ao passo que, em situ
a-
ções de sobrevivência, uma postura individualista é mais adequada (Tria
n
dis, 1995).
26
Gouveia et. al. (1998) coloca que esse é o caso do Brasil, onde a melhor e
x-
pressão que pode definir um indivíduo com essa orientação cultural é “ser batalhador”.
Sugere
-se que esse tipo de orientação seja mais comum em sociedades onde as pessoas
exercem suas atividades de subsistência com uma certa independência dos demais, mas
ainda mantêm relações significativamente fortes com seus grupos.
Síndrome
Cu
l
tural
Definição
Individualismo
ho
rizontal
Indivíduos que querem ser distintos dos outros do grupo. Possuem uma auto
-
percepção em que se consideram similares aos outros a sua volta (no que se ref
e-
re ao status) e se percebem c
o
mo indivíduos separados dos seus grupos, ou seja,
não precisam deles para se definir. Tendem a ter como um de seus objetivos s
e-
rem considerados como únicos.
Individualismo
Ve
r
tica
l
Indivíduos que se consideram em algum “degrau” de uma hierarquia, reconh
e-
cem e aceitam um certo grau de iniqüidade em busca da manutenção desse sist
e-
ma e se consideram como indivíduos em separado do grupo. São mais competit
i-
vos e orie
n
tados ao êxito
Col
etivismo
Hor
i
zontal
Indivíduos que consideram o grupo um dos seus elementos de auto
-
categorização
e que consideram que todos os membros são relativamente iguais. Tendem a bu
s-
car cooperação entre os seus membros.
Coletivismo
Vert
i
cal
Indivíduos que conside
ram o grupo uma das características da sua auto
-
categorização, valorizam e ace
i
tam a hierarquia dentro do grupo e inclusive o
fato do seu grupo estar numa hierarquia. Tendem a ter como uma de suas princ
i-
pais metas cumprir todas as normas e exigências perce
bidas como expectativas
do seu grupo.
Proto
-
individualismo
Um tipo de individualismo que estaria mais associado à sobrevivência, sendo que
nas principais relações grupais adotar
-
se
-
ia uma postura mais coletivista e em
situações de sobrevivência uma postur
a mais individualista seria mais ad
e
quada.
Individualismo
-
expressivo
Os indivíduos valorizam mais as relações de seus grupos próximos, mas manter
i-
am relações instrumentais com outros indiv
í
duos.
Tabela 3 -
Síndromes Culturais (Tr
iandis, 1995)
Triandis (1995) também cita o individualismo expressivo, uma dimensão que
enfoca uma tendência a dar maior importância aos relacionamentos, principalmente no
âmbito familiar e da comunidade local, desestimando as orientações instrumentais. Es
te
tipo de individualismo tem como atri
buto
-chave ser expressivo, como, por exemplo, os
hispano
-
americanos (Gouveia et. al., 1998).
A Tabela
3 ilustra melhor esses construtos.
Individualistas e coletivistas estão prontos para buscar diferentes tipos de obj
e-
tivos. Em culturas coletivistas, espera-se um modo de vida mais centrado nos grupos ao
27
qual o indivíduo pertence, enquanto nas culturas individualistas o modo de vida é mais
centrado no ind
i
víduo (Gouveia, et. al., 2003; Triandis, 1995, Triandis & Suh, 2002).
Em culturas coletivistas, as pessoas são muito interdependentes de seus grupos
(família, tribo, nação, etc), sendo que estes podem ser mais importantes do que o próprio
individuo. Além disso, mais importância é dada aos objetivos dos seus
endo
-
grupos
, e os
indivíduos baseiam o seu comportamento principalmente nas normas sociais, sendo mot
i-
vados pelos deveres impostos pelos seus grupos e se comportando de um modo comunal.
Por outro lado, culturas individualistas são mais independentes dos seus
endo
-
grup
os
, dão
mais importância aos seus próprios objetivos do que aos membros de seus grupos, baseiam
o seu comportamento principalmente em suas atitudes, e buscam relações que possam tr
a-
zer lucro pessoal imediato (Triandis, 1995, Triandis & Suh, 2002). Em um nível de análise
onde o
N
é o número de culturas, o individualismo é o outro pólo do coletivismo (Triandis
& Suh, 2002).
Markus e Kitayama (1991) afirmam que coletivistas tendem a apresentar uma
noção de
self
mais interdependente do grupo a que pertencem. Suas metas e objetivos te
n-
dem a se alinhar com os objetivos do grupo, e suas cognições estão mais focadas em no
r-
mas e nas suas tarefas e deveres. Já individualistas apresentam uma construção de
self
mu
i-
to mais independente do grupo e seus objetivos não são,
necessar
iamente, alinhados com
os do grupo (a não ser que haja interesse ou acordo prévio). Bomtempo e Rivero (1992) e
Miller (1994) colocam que o comportamento dos coletivistas é muito mais guiado por suas
normas e deveres, enquanto individualistas são mais sensíveis às suas atitudes e necessid
a-
des.
Diversos trabalhos utilizam essa dimensão comparando as culturas nos mais d
i-
ferentes contextos e objetos, por exemplo: Bullying
5
(Nesdale & Naito, 2005), autoritari
s-
mo (Kemmelmeier et. al., 2003), atitudes com relação ao trabalho (Bochner & Hesketh,
1994), pr
ocessos de aprendizagem (Hwang, Francesco & Kessler, 2003), escolha e conflito
em crianças (Han & Park, 1995), percepção de velocidade de fala (Lee & Boster, 1992),
necessidades psicológicas (Hui & Villareal, 1989), atitudes com relação a gênero (Shafiro,
Himelein & Best, 2003); entre centenas de o
u
tros estudos.
Triandis (1995) coloca que a dimensão coletivismo-individualismo deve ser
u-
tilizada quando a unidade de análise são culturas, pois, em se tratando de indivíduos, a n
o-
menclatura adequada seria alocêntricos (indivíduo de uma cultura coletivista) e idiocêntr
i-
5
Construto sem tradução para o português. No inglês é associado com comportamentos agressi
vos e de de
s-
moralização entre alunos de escolas
popularmente os “vale
n
tões”.
28
cos (indivíduo de uma cultura individualista). O primeiro enfatiza a interdependência, s
o-
ciabilidade e integridade familiar, se preocupa com os desejos e necessidades dos
endo
-
grupos
e criam relações mais próximas com os mesmos. os idiocêntricos enfatizam a
auto
-confiança e independência, competição, uniquissidade, hedonismo e uma maior di
s-
tância dos seus
endo
-
grupos
(Tr
i
andis & Suh, 2002)
.
Enquant
o pessoas em culturas coletivistas pertencem aos grupos devido a na
s-
cimento ou casamento, membros de culturas individualistas precisam ganhar a sua associ
a-
ção no gr
upo. Isso propicia que alocêntricos dificilmente desenvolvam grandes habilidades
para entrar em novos grupos, enquanto idiocêntricos tem uma maior facilidade para isso
(Triandis & Suh, 2002)
.
Triandis (1995) apresenta dois casos que exemplificam a influência dessas duas
variáveis culturais e o seu poder explicativo. Primeiramente temos o exemplo de um biól
o-
go japonês
6
chamado Imanishi, que acredita estar a teoria de Darwin incorreta ao afirmar
que os “indivíduos” lutam pela sobrevivência. Para ele, o correto seria que as “espécies”
lutam pela sobrevivência, indicando um claro viés da sua percepção de mundo, no caso,
coletivista. Outro exemplo interessante é a apresentação de Kausikan (1993) na conferê
n-
cia das nações unidas sobre direitos humanos
7
, na qual ela afirmou que a noção de direitos
humanos defendida no ocidente estaria equivocada ao colocar as maiores preocupações no
bem
-estar do indivíduo, e não do grupo. Kausikan era a representante de Singapura
8
e, n
a-
quele momento, defendia que a noção de direitos humanos deveria se adequar aos padrões
asiáticos, onde o bem estar do grupo estaria acima do bem estar do indivíduo. Esses dois
exemplos demonstram, respectivamente, a percepção do mundo e a noção de justiça a pa
r-
tir de uma perspectiva mais coletivi
s
ta.
Entretanto, não se deve ser taxativo na hora de classificar uma cultura como
individu
a
lis
ta ou coletivista. Em todas as culturas é possível encontrar tanto idiocêntricos
quanto alocêntricos, em diferentes proporções. Triandis (1995) coloca que culturas colet
i-
vistas são compostas de pelo menos 40% de idiocêntricos e culturas individualistas são
compostas de pelo menos 40% de alocêntricos. Alocêntricos em culturas individualistas
geralmente se agrupam em gangues e sindicatos, enquanto idiocêntricos em culturas col
e-
tivistas tendem a se sentir oprimidos pela cultura e manifestam um maior desejo de
aba
n-
doná
-la (Triandis & Suh, 2002)
.
Mesmo os alocêntricos presentes em culturas cole
tivistas
6
Um país coletivista, de acordo com Triandis (1995), Hofstede (1980) entre outros.
7
Realizada em 1993, Viena.
8
Outro país coletivista (Triandis, 1995)
29
podem ter um padrão de comportamento mais idiocêntrico, devido ao contexto (Hui,
1988). Trafimow, Triandis e Goto (1991) realizaram um experimento no qual foram sel
e-
cionados quatro grupos, dois grupos de individualistas e outros dois de coletivistas, e fez
um procedimento no qual eles teriam que tomar uma decisão após a leitura de um texto
cujo objetivo era fazer um
primming
, ativando uma estrutura cognitiva mais coletivista ou
individualista, dependendo do delineamento. Seus resultados indicaram que coletivistas e
individualistas poderiam ter padrões de comportamentos diferentes dos seus padrões cult
u-
rais habituais, dependendo do
primming
realizado. Contudo, cabe
ressa
ltar que, apesar de
terem conseguido fazer com que coletivistas tivessem respostas individualistas e vice-
versa, o índice de individualismo foi maior entre os que eram inicialmente individualistas e
o índice de coletivismo foi maior entre os que eram inicialmente coletivistas, ou seja, as
duas estruturas cognitivas estão presentes nos 2 grupos, mas uma é mais acessível do que a
outra. Triandis (1995) afirma que todos nascemos coletivistas. São fatores como a nossa
criação, recursos disponíveis, possibilidade de mobilidade, exemplos e outros que definem
uma prope
n
são maior para o coletivismo ou individualismo.
É importante ressaltar que existe uma grande diferença no que se refere ao tipo
de
se
t
ting
onde ocorre o comportamento público e privado entre coletivistas, sendo esta
diferença menor entre os individualistas (Triandis, 1995). Essa diferença se deve ao fato de
coletivistas serem mais sensíveis às pistas do ambiente e fatores situacionais do que os
individualistas (Triandis, 1995, Triandis & Suh, 2002). Entretanto, os individualistas são
melhores para lidar com situações novas e com ambigüidades (Tr
i
andis, 1995).
Com base no exposto acima, é plausível a afirmar que no Brasil as intenções
seriam melhores preditas por uma influência normativa do que por atitudes, mas, como se
trata de uma país moderadamente coletivista, atitudes ainda continuariam sendo capazes de
predizer intenção/comportamento. nos Estados Unidos, atitudes teriam um maior poder
preditivo do que no
r
mas sociais.
Entretanto, um estudo que tenha esse tipo de abordagem precisa dar conta de
certos cuidados metodológicos para garantir que os construtos estarão sendo medidos co
r-
retamente tanto em sua estrutura (i.e. crenças modais mais salientes), quanto em seus val
o-
res.
Estrutura de Valore
s Nacionais de Schwartz
30
Diferentemente de Gertz Hofstede, Shalom Schwartz desenvolveu uma tipol
o-
gia baseada na análise de valores individuais e depois as agrupou em um nível nacional. A
grande vantagem dessa abordagem é diminuir os efeitos de uma ética i
mposta, pois o resu
l-
tado é baseado na estrutura de valores de cada cultura, gerando assim um resultado mais
etic.
Com base em seus estudos, Schwartz (1994) desenvolveu uma tipologia de 10
valores individuais: Universalismo, Benevolência, Conformidade, Tradição, Segurança,
Poder, Realização, Hedonismo, Estimulação e Auto-determinação; que podem ser agrup
a-
dos em duas dimensões bipolares: Auto-
transcendência/Auto
-promoçao e Abertura à m
u-
danças/Conservadorismo, conforme pode ser observado na Figura 2 a seguir.
Figura
2 -
Estrutura de valores de Schwartz (1994)
-
nível individual
31
Valor
Definição
Conservadorismo
Em culturas onde esse valor se sobressai, existe uma maior
ênfase cultural na manutenç
ão do status, propriedade e sa
n-
ções contra ações ou inclinações que podem quebrar a ordem
do grupo ou sua integr
i
dade.
Harmonia Intelectual
Em culturas onde esse valor é mais saliente, é desejável que
seus membros busquem de modo independente as suas idéi
as
e tenham as suas próprias direções intelectuais. Atributos c
o-
mo curiosidade, “mente aberta” e criatividade são muito val
o-
rizados.
Harmonia Afetiva
Nas culturas onde esse valor é mais enfatizado, seus membros
são encorajados a seguir e buscar, de modo i
ndependente do
grupo, suas próprias experiências afetivas positivas, tais como
prazer, uma vida excitante e uma vida variada.
Hierarquia
Em culturas onde esse valor é mais enfatizado, uma alocação
diferenciada e relativamente fixa dos recursos é o modo le
g
í-
timo e des
e
jado de regular as relações de interdependência. As
pessoas são soc
i
alizadas para cumprir com as obrigações e
regras, e punidas se não o fizerem. Nessas culturas há uma
maior busca de poder social, autor
i
dade e humildade.
Igualitarismo
Em cul
turas com um alto escore nesse valor, os indivíduos são
vistos como moralmente iguais, que compartilham de intere
s-
ses básicos e são socializados com uma ênfase em transcender
interesses egoístas, cooperar voluntariamente com os outros e
demonstrar interess
e pelo bem estar dos membros de seu gr
u-
po. Características como iguald
a
de, justiça social, liberdade,
responsabilidade e honestidade estão entre as mais valorizadas
Dominação
Culturas que enfatizam esse valor acreditam que indivíduos e
grupos devam manter
um controle sobre as mudanças nos a
m-
bientes social e natural de modo assertivo, com o intuito de
preservar interesses pe
s
soais ou grupais. Há uma ênfase em
ambição, sucesso, desafio e competência.
Harmonia
Em culturas onde esse valor é saliente há a cren
ça de que o
mundo deve ser aceito do modo como ele é. Grupos e indiv
í-
duos devem se adequar harmoniosamente dentro do mundo
social e natural, evitando mudá
-
lo.
Tabela 4 -
Valores no nível nacional (Schwartz, 1999)
Um aspecto importante da teoria de Valores de Schwartz e captada com s
u-
cesso por esse gráfico
está na proximidade de a
l
guns valores (e.g. poder com realização e
segurança) e sua oposição a outros (e.g. poder e universalismo). Schwartz (1994; 1999;
Schwartz, et. al., 2001) analisou diversas culturas e encontrou uma estrutura semelhante
em todas, mudando apenas a importância de cada valor em diferentes culturas. Poucas m
u-
32
danças na estrutura principal foram encontradas, indicando uma certa universalidade em
sua estrutura (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006). Devido ao fato dos objetivos desse trab
a-
lho terem um foco em diferenças culturais, uma descrição pormenorizada da estrutura i
n-
dividual se faz desnecessária, uma vez que a sua apresentação teve como objetivo apenas
ilustrar a “
matéria prima” para a construção da estrut
u
ra de valores em nível nacional.
Com base em seus achados, Schwartz (1999) realizou uma análise em nível n
a-
cional dos valores de cada cultura, gerando uma estrutura um pouco semelhante, mas com
algumas diferenças. A
Tabela
4, mostra a estrutura de valores, em nível nacional, de aco
r-
do com a te
o
ria de Schwartz (1999).
Essa estrutura de valores se agrupa em 3 dimensões bipolares: Autonomia-
Depêndencia, Hierarquia
-
Igualitarismo e Dominância
-
Harmonia.
A primeira dimensão é composta pelos valores de Conservadorismo e Harm
o-
nia intelectual e afetiva. A segunda é composta pelos valores Hierarquia e Igualitarismo, e
a terceira, pelos v
a
lores Dominação e Harmonia.
O leitor atento pode perceber que existe uma certa semelhança com a estrutura
proposta por Hofstede (1981). Esta semelhança não é mera coincidência, uma vez que as
dimensões, além de trazerem semelhanças semânticas, apresentam uma boa correlação,
como ilustrado pela pel
a Tabela
5.
Hofstede
Schwartz
Distância de
Po
der
Evitação de
in
certezas
Individualismo
Masculinidade
Autonomia (ve
r-
sus Dependência).
-
,52***
,64***
Hierarquia (ve
r
sus
Igualitarismo)
,41**
-
,29*
-
,50***
Dominância (ve
r-
sus Harmonia)
,29*
Tabela 5 -
Correlações entre as
dimensões propostas por Hofstede e Schwartz (Smith, Bond & Kagi
t-
çibasi, 2006)
Entretanto, apesar de haver uma elevada correlação entre as variáveis apont
a-
das por e
s
ses 2 autores, não se deve cair à tentação de considerá
-las equivalentes. Mesmo a
correlação
de ,64 apenas conta de aproximadamente 41% da variância. Os dados apr
e-
sentados acima indicam apenas uma assoc
i
ação.
Smith, Bond e Kagitçibasi (2006) chamam atenção para a tentação de realizar
esse tipo de inferência, apontando que muitos autores tendem a considerar que crenças e
33
valores estariam apontando para uma única dimensão cultural. Entretanto, essa postura
seria muito simplista e red
u
ziria demais o fenômeno.
Com relação à classificação do Brasil e dos EUA nesse modelo, a Tabela 6, a
seguir, forne
ce uma boa ilustração.
Países
Dimensão
Brasil
EUA
Mais próximo de Autonomia
do que de Dependência.
Mais próximo de Autonomia
do que Dependência; mais
próximo de Autonomia do que
o Brasil.
Autonomia
-
Dependência
Ambos valorizam mais a Autonomia afetiva
do que a intelect
u-
al, se
ndo o escore dos EUA bem superior ao do Brasil, que é
mais próximo de Autonomia intelectual
Hierarquia
-
Igualitarismo
Valoriza Hierarquia
Valoriza Hierarquia, mas está
um pouco mais próximo de
igualit
a
rismo do que o Brasil
Dominânc
ia
-
Harmonia
Valoriza Dominância, mas está
mais próximo de Harmonia do
que o EUA
Valoriza Dominância
Tabela 6 -
Comparação do Brasil e dos EUA com base na estrutura de valores nacional de Schwartz
(1994 apud Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006)
O fato do Brasil estar mais do lado da dependência do que da autonomia indica
que normas sociais provavelmente terão uma maior importância do que atitudes na form
a-
ção da intenção, pois, nas culturas onde esse valor é endossado, uma maior tendência
em se pre
o
cupar com a opinião dos outros e de se comportar de acordo com esta opinião.
Com relação à dimensão Hierarquia-
Igualita
rismo, de modo semelhante à d
i-
mensão ver
ticalismo
-horizontalismo de Triandis (1995), pode-se inferir que culturas que
valorizam mais a hierarquia terão as suas intenções mais baseadas nas normas sociais, uma
vez que estas funcionam como um modo de controle
social para diversas situações (Ciald
i-
ni & Goldstein, 2004; Prentice & Miller, 1996).
Já no que se refere à dimensão de dominância e harmonia, uma vez que o brasi-
leiro valoriza mais a harmonia nas relações sociais do que manter algum tipo de dominâ
n-
cia, as normas sociais auxiliam esse processo tanto auxiliando na manutenção e criação de
relações sociais (Cia
l
dini & Goldstein, 2004; Cialdini & Trost, 1998) quanto fornecendo os
critérios e prescrições do modo como elas devem ocorrer (Prentice & Miller, 1996; Torres,
1999).
34
Esses dados indicam que a intenção do brasileiro é mais influenciada por no
r-
mas sociais do que por atitudes. Tal diferença traz uma diferença extremamente signific
a-
tiva no que se refere aos processos cognitivos e de tomada de decisão envolvidos no dia-a-
dia. Contudo, esses dados estão sendo analisados em um nível de análise nacional, e não
individual. Essa distinção é importante, pois, uma vez que seja adotado um determinado
nível de análise, certos cuidados devem ser tomados na hora de realizar inferências sobre
os resultados. Este tema será melhor discutido, em uma sessão mais a frente.
Outros Modelos
Os modelos citados anteriormente não são os únicos disponíveis na literatura.
Existem diversos outros, que não são citados com tanta freqüência, muito menos possuem
dados para se realizar uma comparação entre os EUA e o Brasil. Um exemplo será brev
e-
mente disc
u
tido abaixo.
Trompenaars
Apesar de pouco citado na literatura, Fon Trompenaars (Trompenaars & Tu
r-
ner, 2000) criou um modelo baseado na premissa de que cada cultura se distinguiria das
outras pelo modo como soluções específicas o escolhidas para resolver certos dilemas
que surgem no seu dia a dia. Seu modelo é composto de sete d
i
mensões:
Universalismo
Particularismo: O quanto as regras são mais importantes do
que rel
a
cionamentos;
Individualismo
Comunitarismo: O quanto os indivíduos de uma cultura v
i-
vem em função de grupos ou de si mesmos;
Neutro
Afetivo: O quanto os membros de uma cultura demonstram suas
em
o
ções;
Status conquistado herdado: O grau no qual o status dos membros de uma
determinada cultura é adquirido via esforço ou he
r
dado;
Orientação Interna ou externa: Grau no qual os membros de uma cultura
controlam o ambiente ou trabalham com ele.
Orientação temporal: O quanto é valorizado que os membros de uma cultura
façam uma ou várias coisas ao mesmo tempo. Essa dimensão pode ser orie
n-
35
tada com relação ao passado, presente ou futuro e também a partir de uma
perspectiva de tempo seqüenc
i
al ou sincronizada.
Apesar desse modelo apresentar similaridade com diversos modelos apresent
a-
dos, ele tem poucas confirmações empíricas, sendo muito citado em livros de administr
a-
ção com enfoque globalizado, principalmente devido ao argumento de que não existe uma
maneira un
i
versalmente adequada
de se administrar/gerenciar.
Um dos poucos aspectos do seu modelo que foram testados se refere à questão
da orientação interna vs. externa. Smith, Trompenaars e Dugan (1995) realizaram um est
u-
do comparando o lócus de controle de estadunidenses e asiáticos e verificaram que indiv
í-
duos de culturas ocidentais apresentam um lócus de controle mais interno, enquanto nas
culturas orientais, os indivíduos apresentam um lócus de co
n
trole mais externo.
Os modelos apresentados acima dão exemplos de como a cultura pode ser “d
e-
sempacotada” para facilitar a sua análise. No entanto, é preciso ter cuidado na hora de se
analisar os dados ou de se formular perguntas de pesquisa. A seguir, serão apresentados
dados relativos à maior fonte de equívocos nessa área.
4.1.5
Nível d
e Análise
Em relação à pesquisa transcultural, é importante ressaltar o nível de análise.
Uma nação classificada como coletivista o é composta apenas por indivíduos alocêntr
i-
cos ou que tenham uma construção de self mais dependente. Esse é um erro muito
comum,
quando se generaliza um achado a nível nacional/cultural para os indivíduos. Diversos a
u-
tores (e.g. Triandis, 1995; Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006) colocam que, numa cultura
(por exemplo) classificada como coletivista, é possível encontrar indivíduos que aprese
n-
tem
em uma escala de individualismo escores maiores do que indivíduos provenientes
de uma cultura classificada como individualista, e vice-versa. A Figura 3 ilustra essa situ
a-
ção.
36
Figura
3 -
Falácia Ecológica
A Figura 3 acima representa a distribuição dos escores de duas nações disti
n-
tas. Uma (representada em vermelho) tem a maioria dos seus escores distribuídos no “l
a-
do” mais coletivista da escala. A outra (representada em azul) tem a maioria dos escores
individuais distribuídos sobre o “lado” mais individualista da escala. Naturalmente, a pr
i-
meira nação é
descrita como coletivista, enquanto a segunda é descrita como individualista.
Entretanto, como pode ser ilustrado por H
I
e H
C
, alguns escores se sobrepõem. Mesmo H
I
sendo membro de uma cultura classificada como individualista, a sua média individual o
colo
ca no lado coletivista da escala, e sua estrutura de
self
(por exemplo) pode ser muito
mais interdependente do que H
C
, que foi considerado membro de uma cultura coletivista e
provavelmente apresenta uma construção de
self
muito mais independente do que H
I
. Os
escores das nações são baseados em distribuições estatísticas. Logo, é possível esperar e
n-
contrar indivíduos que não representem os achados em nível nacional.
Devido a esse fato, muitas vezes pesquisas realizadas num nível individual não
têm os seus resultados replicados em um nível nacional, ou vice-versa. Generalizações do
nível nacional para o individual são cham
adas de falácia ecológica. Smith, Bond e Kagitç
i-
basi (2006) definem esse conceito como a falsa crença de que a relação entre duas vari
á-
veis irá ser a mesma em diferentes níveis de análise. Um bom exemplo para isso está na
estrutura de valores nacionais pro
posta por Schwartz (1999) que, além da estrutura de val
o-
res não permanecer exatamente a mesma no nível de análise individual e nacional, certos
itens, que originalmente faziam parte de um determinado cluster, foram agrupados em o
u-
tros, aos quais não eram a
ssociados no nível individual de anál
i
se.
H
C
H
I
MN
I
MN
C
Cultura Individualista
Cultura Coletivista
Coletivismo
Individualismo
Escala de
Coletivismo
-
Individu
a
lismo
37
De forma a resolver esse problema, alguns autores (e.g. Schwartz, 1999; Tria
n-
dis, 1995) tentam dar nomes diferentes às suas variáveis/dimensões no nível individual e
no nível nacional. Entretanto, em certos modelos essas terminologias acabam não sendo
adotadas e os conceitos são tratados com o mesmo nome tanto no nível individual, quanto
no coletivo (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006), aumentado a dif
i
culdade de entendimento.
O erro na hora de se levar em conta o níve
l de análise pode levar à falhas na i
n-
terpret
ação e concepção da pesquisa, invalidando horas de trabalho e esforço, e levando a
conclusões que podem estar inadequadas.
Uma vez estabelecido que em diferentes culturas, diferentes variáveis podem
influenciar
o pensamento e o comportamento, surge a necessidade de se testar o modo
como isso ocorre. Como o objetivo desse estudo é verificar os efeitos da cultura na form
a-
ção da intenção, foi escolhido um dos modelos mais populares na psicologia para o estudo
desse
con
s
truto.
4.2.
Teoria do comportamento planejado
Teoria da ação raci
o-
nal
A Teoria do comportamento planejado (Ajzen, 1991) é uma “evolução” da T
e-
oria da Ação Racional (Fishbein & Ajzen, 1975). Em ambas teorias, a intenção é colocada
como o mais próxim
o pr
e
ditor de comportamento.
Essa teoria (TCP) afirma que as intenções para realizar diferentes tipos de
comportamentos podem ser preditas, com uma alta precisão, a partir das atitudes com rel
a-
ção à realização do comportamento, norma subjetiva e controle percebido (Ajzen, 1991).
Esses conceitos têm um reconhecido papel nas tentativas de explicar e predizer o compo
r-
tamento humano (Ajzen, 2005; She
r
man & Fazio, 1983).
Antes de se aprofundar no funcionamento da Teoria do Comportamento Plan
e-
jado (TCP), é interessante uma breve descrição da Teoria da Ação Racional (TAR), uma
vez que uma é a evolução da outra e a segunda não nega nada da primeira, apenas acre
s-
centa uma nova variável.
Essa teoria (TAR) postula que a intenção comportamental é a mais próxima a
n-
tec
e
de
nte de comportamento e que este pode ser predito, com bastante precisão, se forem
levados em consideração a atitude dos indivíduos com relação ao resultado do comport
a-
mento em questão e a normas subjetiva com relação ao mesmo (Ajzen & Fishbein, 1980).
A es
colha dessas variáveis – chamadas pelos autores de variáveis internas – está no fato de
38
que, numa última instância, variáveis como personalidade, gênero, etc, influenciariam o
comportamento através da importância desses construtos (quantitativamente) e da
estrutura
e conteúdo dos mesmos (qualitativamente), conforme demonstra a Fig
u
ra 4 abaixo.
Figura
4 -
Teoria da ação racional e a relação entre variáveis externas e internas (Ajzen & Fishbein,
1980)
É interessante lembrar que comportamentos guiados (prioritariamente) por
normas ou atitudes são uma das características que diferenciam culturas coletivistas e ind
i-
vidualistas. Logo, cultura é uma das variáveis externas, sendo considerada como um ant
e-
cedente d
e atitudes
,
no
r
ma subjetiva
e controle percebido
.
Vale ressaltar que desde a origem dessa teoria os autores afirmavam que a
TAR não seria capaz de lidar com comportamentos fora do controle volicional (Ajzen &
Fishbein, 1980), apesar de não fazerem nenhum comentário sobre como solucionar o pr
o-
blema naquela época. A Teoria da ação racional (Ajzen, 1991) vem justamente na tentativa
de sanar essa deficiência, trazendo a noção de crença de controle percebido, que seria o
grau do quanto o sujeito acredita que a realização de um determinado comportamento d
e-
pende de si mesmo (Ajzen, 1991,2002).
Existe na literatura uma certa discussão de qual das duas teorias apresentaria
maior p
oder preditivo. Entretanto, após uma análise desses modelos, essa discussão passa a
perder o sentido, uma vez que, de acordo com Madden, Ellen e Ajzen (2002), não haveria
Variáve
is exte
r
nas
Demogr
áficas
Idade
Sexo
Ocupaç
ão
Status Sócio demogr
áf
i
co
Religi
ão
Educa
ç
ão
Atitudes espec
íficas
Com
rela
ção a pessoas
Com relação a
institu
i
ç
ões
Tra
ços de
personali
dade
Introvers
ão
-Extrovers
ão
Neuroticismo
Autoritarismo
Dominancia
Crença de que o
comport
a
mento
vai trazer certos
result
a
dos
Avaliação dos
resu
l
tados
Crenças de que
referentes espec
í-
ficos pensam que
eu dev
e
ria ou não
realizar o compo
r-
tame
n
to
Motivação para se
conformar com
esses ref
e
rentes
Atitude com
relação ao co
m-
port
a
mento
Relativa impo
r
tância
dos co
m
ponentes
atitudinais e normat
i-
vos
Normas Subjet
i
va
Inte
n
ção
Comportamen
to
Possível explicação pelas relações observadas entre as variáveis externas e comport
a
mento
Estáveis relaç
ões teóricas entre crenças e comportamento
39
muita diferença entre a TAR e TCP em comportamentos com um alto controle comport
a-
mental percebido (e.g. escovar os dentes), pois mesmo as pessoas com alta e baixa inte
n-
ção, atitude ou norma subjetiva perceberiam aproximadamente o mesmo controle sobre o
comportamento. Todavia, conforme a realização do comportamento foge ao controle vol
i-
cional (e.g. um estudante de pós-graduação ter uma boa noite de sono no final do prazo
de
entregar a tese; comprar um carro, uma casa), o controle percebido passaria a exercer a
l-
guma diferença na predição do comport
a
mento.
Diversas meta-análises (Ajzen 1991; Armitage e Conner 2001; Hagger &
Chatziarantis 2005) vêm indicando que a TCP possui um bom poder preditivo, apresenta
n-
do correlações múltiplas de .20 a .78 (média de .51) na predição de comportamento. Ela
tem sido utilizada com sucesso nas mais diversas áreas, tais como: aceitação de novas te
c-
nologias (Adams, Nelson & Todd, 1992), consumo de tabaco por adolescentes (Maher &
Rickwood, 1997), escolha de lazer (Ajzen & Driver, 1992), participação em férias de ciê
n-
cias (Czerniak & Lumpe, 1996), intenção de professores em motivar alunos (Jesus &
A-
breu, 1994), prática de exercícios em mulheres c
om câncer de mama (Courneya & Friede
n-
reich, 1999), intenção de trabalhadores braçais de praticarem exercícios (Blue, Wilbur &
Martson
-Scott, 2001) e intenção de enfermeiras relatarem abuso sexual em crianças inte
r-
nadas sob os seus cuidados (Feng & Wu, 2005
), para citar apenas alguns.
A Figura 5 mostra como a percepção de controle percebido foi adicionada à
TAR, dando assim origem à TCP. É interessante notar que, como na teoria original, inte
n-
ções têm um papel central na realização de um determinado comportamento, e presume-
se
que a mesma é capaz de capturar os fatores motivacionais que influenciam o comport
a-
mento, funcionando como um indicador do quanto os indivíduos estariam dispostos a te
n-
tar (ou não) e/ou quanto de esforço eles pretendem gastar na realização desse comport
a-
mento (Ajzen,1991). Como uma regra geral, quanto maior for a intenção, mais provável é a
realização do comportamento. Esse assunto irá receber uma maior ate
n
ção adiante.
40
Figura
5 -
Teoria do comportamento planej
ado
O leitor atento percebeu que a Figura 5 mostra que a Percepção de Controle i
n-
fluencia tanto a formação da intenção, quanto a realização do comportamento. Ajzen
(1991, 1992, 2005) coloca que a realização do comportamento depende de modo conjunto
da intenção e da habilidade (controle comportamental). Existe, inclusive, um grande corpo
teórico de estudos que utiliza apenas intenção e crença de controle comportamental para
realizar predições de diversos comportamentos (Ajzen, 1992; Armitage & Cornner, 2001)
.
Entretanto, esse estudo tem como foco a formação da intenção, e não vai se aprofundar na
relação desses construtos com a predição do comportamento. Uma maior revisão sobre
esse tema específico pode ser encontrada no trabalho de Armitage e Co
n
ner, (2001).
Ainda de acordo com essa Figura, é interessante verificar que essas teorias não
lidam apenas com os construtos atitudes, norma subjetiva e controle percebido (no caso da
TCP). Ajzen (1991) enfoca que seus antecedentes (crenças) teriam um papel fundamental
,
pois numa análise final, essas seriam quem realmente determina a intenção e o comport
a-
mento. No seu nível mais básico, comportamento e intenção são funções das informações e
crenças mais salientes com relação à realização de um determinado comportamento
(A
j-
zen, 1991; Armit
a
ge & Conner, 2001).
Esse é um aspecto da teoria que merece uma grande atenção. Diversos autores
(Miller, 1956; Ajzen & Fishbein, 1980; Ajzen, 1996) colocam que as pessoas não o c
a-
pazes de manter muitas crenças com relação a um determinado objeto, pois geralmente são
capazes de ate-se apenas a um pequeno grupo de crenças num determinado momento, se
n-
do essas as crenças que realmente influenciam pensamento e ação (Ajzen, 1991, 2005).
Esse dado é condizente com os achados de Higgins (1996), que coloca que as crenças mais
salientes teriam um maior impacto no comport
a
mento.
41
Higgins (1996) e diversos outros autores (e.g. Bargh, 1996; Carlston & Sm
i-
th,1996; Best, 1992) vêm demonstrando que as crenças mais salientes têm um maior efeito
em processos psicológicos, tais como: atenção, memória, atribuição de causa, tomada de
decisão, entre outros. De acordo com Ajzen (1991), no caso da Teoria do Comportamento
Planejado, as crenças observadas são: (a) as crenças comportamentais, que se referem ao
res
ultado da realização do comportamento e que formam as atitudes; (b) crenças normat
i-
vas, que refletem a pressão social em se realizar ou não determinado comportamento e
formam a norma subjetiva; e (c) as crenças de controle, que são o resultado da percepção
dos fatores que possam auxiliar ou dificultar a realização desse comportamento, e que fo
r-
mam a pe
r
cepção de controle percebido.
Ainda com relação à crenças, é importante citar Ajzen e Fishbein (1980), que
afirmam que é possível usar uma medida direta de atitudes ou norma subjetiva ao invés de
usar medidas baseadas em crenças, que teriam como objetivo predizer o valor real desses
construtos (desde que sejam tomados cuidados específicos com relação as técnicas utiliz
a-
das na mensuração). Sobre esse aspecto, todas as medidas em crenças (sejam de atitudes,
norma subjetiva ou controle percebido) devem se referir especificamente à mesma ação,
conte
x
to, alvo e objeto.
Concluindo, a Teoria do Comportamento Planejado afirma que a intenção pode
ser predita com base em três diferentes determinantes: atitude com relação à realização do
comportamento, norma subjetiva e controle percebido, sendo que é esperado que a impo
r-
tância desses construtos varie de acordo com as situações, comportamentos e pessoas (A
j-
zen, 1991).
em relação à intenção comportamental, neste trabalho ela é entendida como
uma di
s
posição para se realizar um comportamento que, uma vez que surja a oportunidade,
pode se transformar em ação. (Ajzen, 2005). Desta forma, intenção é tida como o preditor
mais
proximal de comportamento (Fishbein & Ajzen, 1974; Ajzen & Fishbein, 1980; A
j-
zen 1991; Ajzen 2005).
Apesar de muitas vezes ser considerada como um dos componentes da atitude
(Ajzen, 2005; Eagly & Chaiken, 1998), o presente trabalho vai adotar uma perspecti
va
mais baseada nos modelos que consideram intenção comportamental como uma disposição
para se comportar –
quando possível
– de uma determinada maneira. Disposição esta infl
u-
enciada por atitudes e outros construtos, tais como: aspectos normativos, a percepção do
indivíduo de que ele seja capaz de realizar o comport
a
mento, entre outras variáveis.
42
Figura
6 -
Teoria do comportamento planejado (Ajzen, 1991) e da ação racional (Fishbein & Ajzen,
1974)
Nessa linha de pensamento, serão apresentados alguns achados relativos à Te
o-
ria da Ação Racional (TAR Fishbein & Ajzen, 1974; Ajzen & Fishbein, 1980) e Teoria
do Comportamento Planejado (TCP Ajzen, 1991). Conforme colocado anteriormente,
a TCP é uma evolução da primeira, tendo sido criada para poder lidar com comportame
n-
tos cuja realização não estivessem sobre controle volicional do indivíduo e, por isso, fora
do controle de apenas atitudes e norma subjetiva. Ou seja, a Teoria do Comportamento
Planejado não nega a Teoria da Ação Racional, pelo contrário, ela surge para resolver pr
o-
blemas que a sua antecessora não era capaz de lidar. A Figura 6 ilustra uma com
paração
entre os dois modelos, no que se refere à predição de intenções.
A Figura 6 acima ilustra o funcionamento das teorias irmãs TAR e TCP. Na
á-
rea azul e verde estão os construtos da TAR, e na parte amarela e verde estão os construtos
da TCP.
Nela, pode-se notar que ambas se preocupam com a formação da intenção e
consideram as mesmas variáveis como fatores de fun
do. A única dif
erença está na inclusão
da noção de controle percebido sobre o comportamento - lembrando que isto é relativo
apenas à predição de intenções pois, no caso da predição de comportamento, existem
mais diferenças sobre o modo como o controle percebido funcionaria (conforme ilustrado
na Figura 5). Uma maior revisão pode ser encontrada em Ajzen (1991) e Armitage & Co
n-
nor (2001)
43
Conforme ilustrado pelas Figuras 4, 5 e 6, a intenção pode ser predita, com r
a-
zoável precisão, desde que levados em conta atitudes, norma subjetiva (tanto para TAR
quanto para TCP Fishbein & Ajzen, 1974; Ajzen & Fishbein, 1980) e controle compo
r-
tamental (apenas para TCP Ajzen, 1991, 2005). Essas variáveis seriam as variáveis prim
á-
rias e influenciariam a intenção de modo direto, enquanto
vari
áveis como cultura, idade,
valores, etc, seriam fatores de fundo e influenciariam a intenção através da influência nas
variáveis primárias, conforme ilustra a Figura 6. Além disso, os fatores de fundo (ou vari
á-
veis secundárias Ajzen & Fishbein, 1980) influenciam diferentemente os construtos, d
e-
pendendo da situação e cultura na qual eles ocorrem.
Quanto à eficácia da TCP, Armitage e Conner (2001) realizaram uma meta-
análise onde diversos aspectos da teoria foram analisados, apresentando vários pontos q
ue
indicam a validade do modelo, tanto na predição de intenções quanto de com
portamentos.
Entretanto, apesar do relativo sucesso desses modelos, ele foi desenvolvido e testado em
uma cultura predominantemente individualista, com base nos tipos de
self
”, cognições e
valores disponíveis nessa cultura. Smith, Bond e Kagitçibasi (2006) alertam que esse tipo
de modelo pode sofrer um viés na hora de ser aplicado em outras culturas, uma vez que as
variáveis selecionadas podem ser adequadas para uma cultura espe
fica, mas inadequadas
para outra(s). Contudo, esse não parece ser o caso desse modelo, que vem apresentando
dados adequados tantos em culturas individualistas quanto coletivistas (Hoof, Born, Taris
& Der Flier, 2006; Hagger et. al., 2007), sendo que a importância de cada uma das vari
á-
veis principais aumenta ou diminui dependendo do tipo de cultura (Bomtempo & Rivera,
1992).
A seguir serão discutidas as principais variáveis do modelo, bem como aspe
c-
tos relat
i
vos a sua operacionalização.
4.2.1
Atitudes
Ajzen
e Fishbein (1980) afirmam que Herbert Spencer foi o primeiro psicólogo
a empregar o termo atitude. Esses autores colocam que, em 1862, Spencer teria afirmado
que julgamentos e discussões dependem de uma certa atitude da mente que mantemos e
n-
quanto estamos nessas situações. De acordo com este autor, os julgamentos de algumas
que
stões dependem das atitudes da mente com relação aos argumentos que recebemos ou
damos. Spencer colocou que: Chegar a julgamentos corretos em questões disputadas d
e-
44
pende em grande parte da atitude da mente que nos mantemos enquanto escutamos, ou
tomamos parte na controvérsia
9
(Spencer, 1982 apud Ajzen & Fishb
e
in, 1980 pg 13).
setenta anos esse construto vem sendo considerado central no estudo da
psicologia social (Crano & Prislin, 2006; Ajzen, 2001; Wood, 2000). Rodrigues, Assmar e
Jablonski (2002) consideram atitude como uma organização duradoura de crenças e
cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, que
predispõe a uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a este objeto (Rodr
i-
gues, Assmar & Jablonski, 2002, pg 98)”. Esta definição é derivada de um estudo de Al
l-
port (1935, apud Rodrigues, Assmar & Jablonski, 2002), que categorizou mais de cem d
e-
finições de atitude vigentes
na
quela época. A definição proposta por esses autores leva em
consideração três componentes: afetivo, cognitivo e comportamental. No entanto, o ultimo
componente
comportamental vem sido sistematicamente deixado de lado na mai
oria
das definições e operacionalizações modernas desse conceito, que atualmente vem sendo
definido como uma integração avaliativa de crenças e afetos experienciados com relação a
um objeto específico (Crano & Prislin, 2006; Ajzen 2001; Ande
r
son, 1996, 1981, 2001).
Apesar de haver um grande histórico do modelo tripartite de atitudes (Hoyland,
1960 apud Ajzen, 2005) - onde atitudes seriam o resultado da interação dos componentes
afetivo, cognitivo e comportamental - evidências na área de integração de informação,
memória e sobre como as atitudes são aprendidas, recuperadas e colocadas em ação (e.g.
Anderson, 1996, 1981, 2001; Best, 1996) sugerem que seria mais adequado considerar
atitudes como o resultado de considerações cognitivas e afetivas que influenciam a inte
n-
ção (Ajzen, 2005, Ajzen & Fishbein, 1980). Entretanto, os defensores dessa posição não
eliminam o componente comportamental, apenas o separam em um outro construto a ser
predito por atitudes.
Anderson (1996, 1981, 2001) e Ajzen (2005) afirmam que também existiram mod
e-
los de atitude que consideravam apenas um dos componentes - geralmente apenas cognit
i-
vo ou apenas afetivo. Anderson (1996, 1981, 2001), em seu trabalho sobre integração da
informação, e Forgas (1995; Forgas, Chan & Lahan, 2002), com seu trabalho sobre a infl
u-
ência
do afeto na realização do comportamento, vêm demonstrando que esses tipos de e
s-
tratégias são bastante inadequadas. Isto se deve ao fato de que dificilmente uma inform
a-
ção é aprendida ou recuperada sem o menor traço de informação afetiva (seja pelo
pri
m-
min
g que a informação disparou ou pelas emoções que já estavam atuando) e, a não ser em
9
Tradução livre
de: “
Arriving at correct judgments on disputed questions, much depends on the attitude of
mind we preserve while listening to, or taking part in, the co
n
troversy”
45
situações muito específicas, dificilmente uma emoção ou afeto surge sem passar pela pe
r-
cepção do indivíduo.
Assim, considerando o aspecto motivacional das atitudes (Anderson, 1996,
1981, 2001), a ativação de crenças no contexto (Higgins, 1996), e que atitudes podem var
i-
ar tanto em intensidade quanto em valência (Allen & Ng, 1999), esse trabalho considera
atitude como uma integração avaliativa de crenças e afetos experienciados com relação a
um objeto específico para uma determinada ação, num determin
a
do contexto e numa época
específica, podendo variar em intensidade e valê
n
cia.
É importante ressaltar que diversos autores (e.g. Ajzen, 1991; Sheeran, Norman
& Orbell, 1999) vêm colocando atitudes como o principal componente do modelo, muitas
vezes utilizando como preditores de intenção apenas atitudes e controle percebido. Essa
postura faz todo o sentido numa cultura individualista, onde é esperado que esses dois
construtos tenham um maior poder de predição. Todavia, é interessante colocar que dive
r-
sos autores reconhecem o fato de que, mesmo nessas culturas, tanto atitudes quanto o pr
ó-
prio comportamento podem sofrer influências normativas (Wood, 2000; Armitage & Co
n-
nor, 2001). Além disso, uma recente meta-análise (Wallace, Paulson, Lord & Bond Jr,
2005) identificou na cultura estadunidense que o fato do comportamento acontecer num
setting
mais público – e por isso mais sensível às normas sociais – diminui o poder predit
i-
vo de ati
tu
des.
Para trabalhar com atitudes no modelo da Teoria do Comportamento planejado,
além de se levar em conta esses aspectos teóricos, é preciso levar em conta os aspectos
metodológicos de
s
critos a seguir.
Medindo Atitudes
O primeiro aspecto que deve ser
levado em conta para se mensurar atitudes é se
estamos considerando atitude como resposta ou como sistema de conhecimentos. Anderson
(1996, 1981, 2001) coloca que, como sistema de conhecimentos, a atitude pode ser co
m-
preendida como o modo pelo qual as informações interagem e são armazenadas na mem
ó-
ria. Pesquisas que utilizam essa perspectiva geralmente tentam identificar quais tipos de
informações podem alterar a atitude final ou como elas interagem entre si e a sua estrutura.
Destacam
-se, neste caso, os estudos com análises fatoriais. Considerando atitude como
uma resposta, o objetivo desse estudo é verificar justamente como esse sistema de conh
e-
cimento i
n
fluencia a relação do indivíduo com o ambiente a sua volta.
46
Com relação à mensuração de atitudes, consi
dera
-se que atitudes têm seus a
s-
pectos avaliativos e instrumentais como principais forças motivacionais na relação atitude-
comportamento e atitude-intenção. Entretanto, uma operacionalização completa do con
s-
truto inviabilizaria a coleta de dados, devido ao tamanho que o questionário alcançaria.
Assim, esse trabalho se focou no aspecto avaliativo do construto, uma vez que essa seria
sua principal faceta (Ajzen & Fishbein, 1980).
A medida de atitude deve ser específica à realização do comportamento, e não
me
ramente ao objeto (Ajzen & Fishbein, 1980). Por exemplo, uma mulher querendo e
n-
gravidar pode ter uma atitude positiva com relação à prática do aborto como instrumento
de planejamento familiar, mas pode ter uma atitude negativa quanto a ela realizar o abort
o
de uma criança planejada para aquele momento de sua vida. Esse cenário exemplifica uma
situação onde um item muito genérico sobre a atitude com relação ao aborto (e.g. De um
valor de 0 a 5m indicando o quanto você é a favor do aborto) não apresentaria uma corr
e-
lação positiva com o comportamento, pois a resposta seria positiva e o comportamento não
ocorreria.
Existem diversas maneiras de se medir atitudes.
A Tabela
7 ilustra algumas das
principais estratégias. A divisão utilizada aqui é meramente didática. É obvio que uma m
e-
dida pode ser classificada em mais de uma categoria.
Para a realização dessa pesquisa, foi decidido que seria utilizado um modelo
que fosse multi-item, explícito e direto. Dentre os modelos que poderiam se adequar (e.g.
Avarege Law Anderson, 1996, 1981, 2001; Diferencial Semântico, Osgood, 1962, apud
Ajzen 2005), destaca-se a teoria da expectância (Fishbein, 1963 apud Ajzen 1991, 2001),
que continua sendo um dos modelos mais populares de mensuração e conceitualização de
at
i
tudes (Ajzen,
2001).
47
Estratégias
Definição
Principais
Vantagens
Principais
Desvantagens
Diretas
São aquelas estratégias
onde a atitude é pergunt
a-
da diretamente ao su
jeito,
e ele sabe o que está re
s-
po
ndendo. São as mais
utiliz
a
das .
São simples de anal
i-
sar, e condizentes
com v
á
rias teorias.
Sujeitas a vários tipos
de vieses, que podem
comprometer os objet
i-
vos da pesquisa.
Indiretas
São aquelas onde a at
i
tude
é inferida com base em
observação do comport
a-
mento do indivíduo, ou de
outros indicadores assoc
i-
ados à manifestação da
atitude.
Pelo fato dos indiv
í-
duos não saberem o
que está sendo rea
l-
mente pesquisado, a
presença de viés se
torna mais difícil.
Elas precisam ser bas
e-
adas numa teoria, e em
muitas vezes não o são.
O resultado pode ser
enganador. O compo
r-
tam
ento é multi-
determinado, e o critério
observado pode estar
sofrendo influência de
outros construtos.
Explícitas
Muito semelhante às e
s-
tratégias diretas, as expl
í-
citas envolvem os auto-
relatos e questio
nários
auto
-aplicáveis. Não
uma necessidade de que o
sujeito saiba com cert
e-
za
a que está respo
n-
dendo.
São simples de anal
i-
sar, e condizentes
com v
á
rias teorias.
Sujeitas a vários tipos
de vieses, que podem
comprometer os objet
i-
vos da pesquisa.
Implícitas
São novas no mundo da
psicologia. São basea
da
s
nas relações entre dive
r-
sas avaliações que o suje
i-
to faz, com o tempo de
resposta e outras me
didas
que o indivíduo teria uma
razoável dificuldade em
contr
o
lar.
Menos sujeitas à vi
e-
ses. Seus defensores
acred
itam que seria
uma medida da real
atitude.
Ainda
não existe um
fundo teórico adequado
tanto para a sua mens
u-
ração quanto para se
explicar os resultados.
Não há certeza do que
está sendo med
i
do.
Mono item
Medidas de atitudes bas
e-
adas em um único item.
Fáceis de analisar.
São muito compromet
i-
das pelas ex
igências
sociais. Podem (e g
e-
ralmente o fazem) não
refl
etir a real natureza
do construto
Multi
-
item
Baseadas em um con
junto
de itens.
uma maior chance
de refletirem uma
maior parte do con
s-
truto, bem como a
sua nat
u
reza.
Muitas vezes são cans
a-
tivas para os sujeitos
responderem, levando à
omissão de respostas em
diversos itens.
Tabela 7 -
Comparação entre os principais tipos de estratégias utilizadas para mensurar atitudes
48
A teoria de expectância considera que as atitudes se desenvolvem a partir das
crenças que as pessoas mantém sobre o objeto da atitude (Ajzen, 1991). De acordo com
essa teoria, as pessoas formam crenças associando certos atributos relacionados à realiz
a-
ção do comportamento com objetos, características ou eventos, de modo que cada atributo
possa ser associado a um certo custo (ou ganho) causado pela realização do comportame
n-
to (Ajzen, 1996). Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que essas crenças são integradas simu
l-
taneamente e de modo automático, formando a atitude com relação ao comportamento.
Esses autores colocam ainda que o valor subjetivo (i.e. avaliação afetiva) contribui com a
formação da atitude de modo diretamente proporcional à força dessa crença (i.e. probabil
i-
dade subjetiva), conforme ilustrado na Equação 1, onde Atitude (A) é diretamente propo
r-
cional ( ) ao somatório da força de cada crença saliente (b) vezes sua avaliação subje
tiva
(e).
A
S b
i
e
i
(1)
A principal vantagem desse modelo está no fato dele trabalhar com um agreg
a-
do de crenças mais salientes e
m relação à realização desse comportame
n
to.
Wicker (1969, apud Ajzen 1991) indica que a utilização de atitudes/crenças g
e-
rais com relação a um determinado comportamento, tanto para predizê-lo quanto para e
n-
tendê
-lo, revelou-se um fracasso. Como uma proposta de correção, Fishbein e Ajzen
(1975) propõem a utilização de agregados de comportamentos específicos com relação ao
objeto final. A principal idéia por trás de agregar esses comportamentos numa operacion
a-
lização da mensuração de atitudes, está no fato de que esse tipo de medida não leva em
conta apenas uma ou outra disposição geral relevante para a formação da atitude. Agrega
n-
do todas essas fontes de influência, elas tendem a se cancelar, resultando numa me
dida
mais válida do que a medida com relação a um simples comportamento (Ajzen, 1991,
2005).
Um grande número de estudos têm testado com sucesso essa forma de mens
u-
ração, e seus resultados têm suportado a relação predita entre crenças salientes e atitudes
(Ajzen, 1991, 2005). Além disso, sua estrutura vem sendo replicada em outras cultuas que
não a estadunidense (Lee & Green, 1991). Entretanto, a magnitude da correlação entre
esse modelo e intenção/comportamento muitas vezes tem sido “decepcionante” (Ajzen,
1991). Alguns autores creditam esses resultados à combinação multiplicativa (e.g. Val
i-
quette, Valois, Desharnais, 1988; Sjoeberg & Montgomery, 1999; Anderson, 1996) e ao
fato dessa medida não conter aspectos não cognitivos (e.g. Haugtvedt,1997), enquanto o
u-
49
tros autores afirmam que seria inc
o
erente co
nsiderar que todos os produtos (entre crenças e
afetos) teriam o mesmo peso (e.g. Pligt & Vr
i
es, 1998).
Muitas vezes, o motivo dessas baixas correlações entre atitudes e inte
n-
ção/comportamento
nesse tipo de mensuração é devido à falhas metodológicas. A
jzen
(2001) aponta que diversos estudos utilizam crenças sem realizar um levantamento das
crenças mais salientes, contaminando o índice com informações que não fazem parte da
estrutura de conhecimentos do indivíduo. Desta maneira, a avaliação dessa informação não
refletiria nenhum aspecto da atitude, entrando como uma espécie de interferência na med
i-
da. Por exemplo: por mais real que seja o fato de que a carne de soja contenha compostos
multienzimáticos
e que isso faça bem para a saúde, isso dificilmente fa
ria parte das crenças
mais salientes de um indivíduo comum em relação a comer comida à base de soja. Incluir
um item do tipo: “acredito que comer compostos multienzimáticos é bom” contaminaria o
índice com informações inadequadas e, com isso, atrapalharia as correlações e a confiabil
i-
dade do índice. Entretanto, a crença de que praticar exercícios pode ajudar uma pessoa a
emagrecer tem uma grande probabilidade de fazer parte do sistema de conhecimentos de
um indivíduo acima do peso e infeliz com a sua aparência em relação a praticar ou não
exercícios, e a avaliação dessa crença é mais provável de fazer parte da atitude que um
indivíduo teria com relação à prática de exerc
í
cios.
As crenças mais importantes para os indivíduos tendem a ser as mais acessíveis
na
memória (Higgins, 1996). Logo, são as mais prováveis de guiar a atenção e o process
a-
mento de informação de um indivíduo (Best, 1992). Utilizar crenças sem uma análise pr
é-
via das crenças mais salientes não vai gerar um índice que mensure atitude, o que por si
já justificaria as fracas correlações encontradas na literatura. Outra dificuldade em se anal
i-
sar a qualidade das escalas produzidas nesses estudos é que a maioria dos trabalhos o
relata a confiabilid
a
de desses índices (Armitage & Conner, 2001).
Um outro problema relativo ao modelo é o fenômeno da negação dupla (Sjo
e-
berg & Montgomery, 1999). Este fenômeno seria o resultado da utilização de escalas bip
o-
lares para se avaliar tanto crenças quanto avaliações subjetivas. Por exemplo, uma pessoa
pode dizer que não existiriam momentos prazerosos na prática do turismo de aventura
avaliando com um baixo valor – e responder que não gosta de momentos de prazer no co
n-
texto do turismo de aventura. Assim, o resultado desse tipo de resposta indicaria uma re
s-
post
a positiva ou pouco negativa.
Apesar da utilização de escalas bipolares ser indicada por Ajzen e Fishbein
(1980) e Ajzen (1991), e gerar correlações maiores entre o índice e medidas de diferencial
50
semântico, esse estudo vai utilizar uma escala monopolar para a avaliação de crenças e
uma bipolar para avaliações subjetivas, evitando, com isso, o fenômeno da dupla negação.
Considera
-se que, desse modo, o índice vai apresentar um comportamento mais condizente
com a teoria originalmente proposta por Fishbein e (Fishbein& Ajzen, 1975; Ajzen & F
i-
shbein, 1980), onde a avaliação afetiva moderaria o efeito das crenças nos termos da soma
que seria integrada na form
a
ção da atitude.
Na visão do autor desse trabalho, o maior problema desse tipo de mensuração
de atitu
des
está no fato de todos os termos terem o mesmo peso. A Teoria de integração de
informação e sua principal ferramenta, a álgebra cognitiva (Anderson, 1996, 1981, 2001),
vem demonstrando que, na formação da atitude, mesmo as crenças mais salientes diferem
com
relação ao peso que elas tem na formação da atitude e na resposta atitudinal (Ande
r-
son, 1996).
Apesar do modelo proposto por Anderson (1980 apud 1996) apresentar estudos
com correlações muito superiores ao modelo de expectância (r = .98; um verdadeiro re
co
r-
de nos estudos com atitudes Anderson,1996) e desse modelo ser capaz de lidar com o
u-
tros problemas, tais como porque em alguns contextos a mesma mensagem persuasiva p
o-
de causar um aumento, diminuição ou mesmo não influenciar a resposta avaliativa (mesm
o
com argumentos a favor do objeto); essa teoria também é mais adequada às evidências de
como o sistema cognitivo trabalha com informações, seja na atenção, memória, construção
dos sistemas de conhecimento e tomada da ação.
Contudo, essa teoria é possível apenas através de metodologias específicas que
inviabilizariam os objetivos desse trabalho, pois o valor dos estímulos, respostas e pesos
são inferidos com base em delineamentos fatoriais, o que aumentaria exponencialmente o
tamanho do instrumento para ca
da crença adicion
a
da.
Apesar de todos esses problemas, o modelo de expectância-valor é um dos m
o-
delos mais utilizados na literatura de atitudes e tem contribuído tanto com o entendimento
de como funcionam as atitudes quanto na predição de comportamento. Sem dúvida, não se
trata de um modelo sem falhas, mas que permite o cálculo de um índice razoavelmente
adequado
desde que sejam tomadas as devidas precauções meto
dológicas
podendo ser
utilizado com sucesso para os objetivos de
s
se trabalho.
Desta forma,
nesse trabalho a atitude será mensurada de acordo com essa teor
i-
a, , onde atitude é igual ao somatório da força das crenças salientes (naquele contexto) v
e-
zes a avaliação afetiva dada a cada crença. No instrumento, cada crença será avaliada com
relação à sua força (o quanto é verdadeira) e à sua resposta avaliativa (o quanto gosta ou
51
não). Com isso, espera-se utilizar um índice confiável para a mensuração do construto,
aval
iar a sua relação com as outras variáveis e, principalmente, o efeito que a cultura
vai
ter nesses construtos.
Atitudes e sua relação com cultura
No que se refere à interação entre cultura e atitudes, sua relação com
a
norma
subjetiva é tão complementar que é quase impossível falar de uma sem falar da o
u
tra.
Bomtempo e Rivero (1992), em uma meta-análise da importância das variáveis
primárias da Teoria da Ação Racional , identificaram que existe uma “troca” na magnitude
da importância de atitudes e norma subjetiva na formação da intenção. A complementar
i-
dade desses construtos é tanta que Triandis (1995, Triandis & Suh, 2002) a coloca como
uma das características definidoras de o que seria uma cultura coletivista ou individu
a
lista.
A princípio, o comportamento em culturas coletivistas é guiado prioritariame
n-
te pela norma subjetiva, ao passo que culturas individualistas são guiadas mais por atit
u-
des (Bomtempo & Rivero, 1992; Triandis & Suh, 2002; Armitage & Conner, 2001; Loken,
2006; Bomtempo, Lobel, & Triandis, 1990). Armitage e Conner (2001) afirmam que, d
e-
vido a esse fato, alguns pesquisadores chegam ao ponto de retirar dos seus instrumentos a
parte da norma subjetiva, mantendo apenas atitudes ou atitudes e crenças de controle pe
r-
cebido quando estão realizando pesquisas utilizando a Teoria do Comportamento Planej
a-
do como fundo teórico. Esses autores apontam para o erro de se pensar que mesmo em
culturas extremamente individualistas não haveria uma influência do componente normat
i-
vo na formação da intenção, e colocam que a baixa e às vezes nula correlação com i
n-
tenção é muitas vezes devido a problemas de medida. Como já mencionado, Wallace et. al.
(2005), numa meta-análise com estudos estadunidenses, categorizou comportamentos num
contínuo que ia do setting
publico ao privado, e
n
contrando que quanto mais a realização do
comportamento fosse num
setting
público menor era a influência da atitude, fornecendo
assim indícios de que, mesmo nessa cultura, normas teriam uma influê
n
cia.
Esses dados são condizentes com os de Bomtempo, Lobel e Triandis (1990),
que mostraram que indivíduos idiocêntricos EUA tendem a realizar mais comport
a-
mentos pró-sociais num
setting
público do que privado (a não ser que haja uma atitude
prévia positiva com relação ao comportamento), e não foram encontradas diferenças qua
n-
do foram estudados indivíduos alocêntricos (no caso do estudo em questão, o Brasil). A
principal hipótese lançada na explicação dos resultados é que os indivíduos alocêntricos
52
internalizaram a norma, enquanto os idiocêntricos agiram com base na desejabilidade soc
i-
al daquele contexto.
Outro dado que indica a prevalência de atitudes sobre
a
norma subjetiva em
culturas individualistas, é que os indivíduos nessa cultura têm uma menor tolerância à di
s-
sonância gerada pela diferença entre a atitude mantida e o comportamento realizado do que
em culturas coletivistas (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006; Fiske, Kitayama, Markus &
Nisbet, 1998).
Desta forma, atitudes passam a perder poder explicativo conforme há um a
u-
mento de poder das normas sociais no contexto. Uma maneira de observar e mensurar essa
influência
social é através da norma subjetiva.
4.2.2.
Norma subjetiva
Fishbein e Ajzen (1974; Ajzen e Fishbein, 1980) afirmam que normas subjet
i-
vas não são iguais à normas sociais, mas sim uma pressão social percebida, e que, apesar
de geralmente estarem em consonâ
ncia com atitudes, muitas vezes elas entram em conflito.
Normas sociais seriam mais adequadas se consideradas como um contínuo de comport
a-
mentos com as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização (Jackson,
1966, 1975; Torres, 1999), e que podem ser de natureza descritiva e prescritiva (Jackson,
1966, 1975; Cialdini, Reno & Kallgrenn, 1991; Cialdini & Trost, 1998; Torres, 1999; Ka
l-
lgren, Reno & Cialdini, 2000; Reno, Cialdini & Kallgren, 1993; Cialdini, 2003; Cialdini &
Goldst
e
in, 2004).
Con
tudo, apesar de não serem o mesmo construto, a semelhança entre normas
sociais e a norma subjetiva extrapola a semelhança de nomes. Como
a
norma subjetiva é
relativas à realização de um único comportamento, pode-se dizer que as normas socia
is
é
constituída
de diversas pequenas normas subjetivas. Contudo, diferentemente de normas
sociais, a norma subjetiva assume um aspecto muito mais prescritivo do que descritivo,
uma vez que como colocado a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo
com relação à aprovação/reprovação de se realizar um comportamento, ao passo que a
norma social também serve como um padrão de comparação para decidir se algo é ou não
adequado, ou pertencente a um determinado grupo ou categoria (Pre
n
tice & Miller, 1996).
A operac
ionalização originalmente proposta por Fishbein e Ajzen (1974; Ajzen
e Fishbein, 1980) reflete principalmente o aspecto prescritivo da norma, mais conhecido
como norma injuntiva (Hagger & Chatziarantis, 2005). Como colocado anteriormente, a
53
norma não depende apenas de aspectos injuntivos, pois, como apontado por Cialdini e
Goldstein (2004) e Cialdini e Trost (1998), principalmente em situações de ambigüidade, o
indivíduo busca realizar o comportamento mais realizado (popular), com base na crença de
que e
ste seria o comportamento mais socialmente aceito. Esse f
e
nômeno é conhecido como
heurística de maioria (Anderson, 1996), ou norma descritiva.
Devido a essa confusão sobre os diferentes tipos de normas,
a
norma subjetiva m
e-
rece uma discussão mais a fundo. Ajzen (1991) mantém a definição de norma subjetiva do
modelo anterior (TAR Fishbein & Ajzen, 1975), que as coloca como a percepção da
pressão percebida em realizar ou não um determinado comportamento (Fishbein & Ajzen,
1975). Cialdini e Trost (1998) acrescentam que são cognições compartilhadas que p
o-
dem afetar o comportamento de um indivíduo, dependendo de características pessoais (i.e.
auto
-monitoramento, lócus de controle), situacionais (Ehrhart & Naumann, 2004) e da cu
l-
tura (Bomtempo & Rivero, 1992)
.
Entretanto, conforme apontado por outros autores (e.g. Lapinsky & Rimal,
2005, Fekadu & Kraft, 2002), o conceito não é capaz de lidar com todos os aspectos da
influência normativa. Ajzen (1991, 2002) afirma que a norma subjetiva é o somatório do
produto
entre a percepção das crenças mais salientes da probabilidade de que um certo
comportamento seja aprovado ou desaprovado, por uma pessoa ou grupo referente, com a
motivação que o indivíduo tem em se conformar nesse referido comportamento. Apesar
dessa definição ser realmente mais semelhante à definição de normas injuntivas, Ajzen
(2002) considera que
a
norma subjetiva deve incluir aspectos das normas sociais propos
tos
por Cialdini (Cialdini& Goldstein, 2004, Cialdini & Trost, 1998, Cialdini et al, 1991, Ren
o
et al, 1993, Kalgreen et al, 2000), que sugere que estas são baseadas tanto no aspecto inju
n-
tivo (i.e. o que deve ser feito) quanto no aspecto descritivo (i.e. o que todos estão faze
n
do),
sendo que pode haver uma maior prevalência de uma sobre a outra.
A seguir, serão discutidos alguns aspectos das normas (sociais
e
subjetivas),
tais como transmissão, sua conseqüência para relaci
onamentos e principais motivos para se
conformar. É importante lembrar que, como são construtos com uma grande sobreposição
e que compartilham dos mesmos antecedentes, a maior diferença está em sua operacional
i-
zação.
Transmissão da Norma
54
Normas não existem se não forem compartilhadas com outros (Cialdini &
Trost, 1998). Sobre esse aspecto, Prentice e Miller (1996), Cialdini e Tro
st (1998) afirmam
que normas são comunicadas de modos diretos (i.e. expressas) ou indireto (i.e. implícitas).
No nível mais simples, normas são expressas através de descrições diretas que as pessoas
fazem delas mesmas. Lapinsky & Rimal (2005) colocam que a mídia também provê um
suprimento constante de informações sobre o que as pessoas fazem e pensam, e também
sobre o que devem fazer e pensar. Esses autores colocam que a mídia deve, inclusive, ser
analisada como componente importante de qualquer intervenção ou estudo baseado em
normas.
A despeito de todas as falhas de percepção que podem ocorrer nesse processo,
essa comunicação direta também sofre o efeito da desejabilidade social. Muitos sujeitos
podem rejeitar a norma comunicada por não se identificarem com o emissor da norma, não
observarem o ambiente como forte o suficiente para gerar conformidade ou com a mens
a-
gem da norma em si. Como resultado, algumas normas são mais visíveis (salientes) do que
outras e servem mais como padrões do que outras. Analisando a definição de normas gl
o-
bais e locais de Prentice e Miller (1996), onde normas globais são aquelas que permeiam
os contextos (e.g. não se deve matar, ou roubar; requisitos mínimos para algo ser consid
e-
rado adequado) e as locais são aquelas que estão tendo o seu efeito apenas naquele conte
x-
to (e.g. opinião de um grupo de pertencimento), perdendo a sua força conforme uma nova
situação se afasta da original (não podem mais ser generalizadas), pode-se inferir que no
r-
mas locais são muito mais salientes do que normas globais, embora normas globais ainda
possam ter seu efeito. Ajzen (2002, 1991) coloca que essas normas mais salientes são as
que têm uma maior probabilidade de influenciar o comportame
n
to.
As normas também podem ser comunicadas de modo indireto, já que a maioria
das normas e padrões culturais são comunicados através do que não é dito, e sim inferido
(Cialdini & Trost, 1998). Esta inferência pode gerar erros de percepção e uma influ
ência
incorreta das normas. De fato, muitas vezes a norma pode surgir na tentativa de diversos
ind
ivíduos realizarem uma ação bem sucedida, onde pode-se simplesmente imitar o que
foi feito por outros (Cialdini & Goldstein, 2004). Prentice e Miller (1996) colocam também
que as pessoas podem realizar inferências inadequadas sobre a observação do comport
a-
mento alheio na hora de inferir o que seria a norma.
É importante notar que, mesmo com o fato das normas serem culturalmente
compartilhadas, indivíduos podem ter problemas em perceber a norma ou até mesmo im
a-
ginar normas que não existem. Daí a importância de se estudar a norma do ponto de vista
55
grupal e individual, como indicado por Cialdini e Trost (1998), Ajzen (2002) e Lapinsky e
Rimal (2005).
Normas sociais e Relacionamentos
Uma das maiores vantagens em se viver em sociedade é que, além de termos
comp
anhia no nosso ambiente social, muitas vezes precisamos da assistência de outros
para a realização das nossas necessidades (Cialdini & Trost, 1998). Clark e Mills (1993)
propõem que existem dois tipos de relacionamentos na sociedade: Comunal e De Troca,
cada uma com regras específicas no que se refere a dar e receber recursos. A primeira se
caracteriza por estar relacionada com aqueles mais próximos, mais íntimos e com um rel
a-
cionamento mais antigo. Há uma preocupação pelo bem estar do outro. Já relacionamentos
de troca estariam relacionados mais a estranhos, ou aqueles de quem esperamos algo em
troca (material); seriam relações “toma da cá” , onde apenas a preocupação de devo
l-
ver a obrigação. Em ambos os tipos de relacionamentos existem normas de conduta e p
a-
drões que dizem o que se esperar, e como se comportar em cada situação.
Objetivo de Efetividade
Cialdini e Goldstein (2004) colocam que acertar, dar a melhor resposta ao a
m-
biente com o mínimo de processamento é uma
mot
ivação central para se conformar às
normas.Diversos autores ligados ao estudo do processamento de informação (e.g. Barg,
1999) compartilham dessa p
o
sição.
Cialdini e Trost (1998) e Cialdini e Goldstein (2004) defendem que, em situ
a-
ções onde é salientado o objetivo de acertar e está disponível uma maioria a qual os indiv
í-
duos possam observar, os sujeitos tendem a seguir essa maioria, mesmo quando eles estão
obviamente errados, como no famoso experimento realizado por Solomon Ash (1952, apud
Bond & Smith, 1996; Cialdini & Goldstein, 2004). Neste experimento, os sujeitos tinham
que estimar o tamanho de uma linha de luz junto com uma platéia (composta inteiramente
por confederados), onde todos davam uma resposta errada, porém constante (i.e. a linha
media quatro cm e a platéia dizia que ela tinha sete) (Bond & Smith, 1996b). Cialdini e
Trost (1998) afirmam ainda que o ser humano é motivado desde o seu nascimento a t
o-
mar/realizar decisões acuradas e efetivas, de interagir de modo eficaz com o ambiente com
o mín
imo de custo cognitivo. Nessas situações, ele tende a seguir a norma descrit
i
va.
56
Normas Descritivas
Uma das fontes na qual as pessoas olham em buscam maximizar a efetividade
de seu comportamento social é a norma descritiva operando naquela situação (Ciald
ini&
Goldstein, 2004, Cialdini & Trost, 1998, Cialdini et al, 1991, Reno et al, 1993, Kalgreen et
al, 2000, Borsari & Carey, 2003). Normas descritivas são derivadas da percepção de o que
as pessoas fazem numa determinada situação. Observar o comportamento dos outros fo
r-
nece bons indicadores de efetividade, principalmente quando a situação é nova ou amb
í-
gua, e o comportame
n
to apropriado não está claro (Cialdini & Trost, 1998).
Diversas pesquisas indicam que, quanto maior o número de pessoas agindo de
uma mesma maneira, maior é a chance do indivíduo acreditar que aquela resposta é corr
e-
ta. Cialdini e Trost (1998) colocam que, quando sentimos um forte suporte por um compo
r-
tamento específico, tendemos a seguir a heurística de aprovação pessoal, buscando salvar
t
empo e esforço no process
a
mento de informações disponíveis no ambiente.
A ambigüidade presente no ambiente também favorece a conformidade às
normas descritivas. No entanto, a ambigüidade sozinha não é suficiente para gerar essa
conformidade. É preciso, pois, que o indivíduo também não tenha recursos para inferir a
resposta adequada (Lapinsky & Rimal 2005).
Apesar de parecer que escolher, seguir um comportamento ou ter a atitude que
os outros demonstram em determinados contextos é um processo consciente, Chartrand e
Barg (1999) afirmam que esse tipo de conformidade pode ser também o resultado de uma
ativação com menor esforço cognitivo, e que esse tipo de processamento seria um atalho
adaptativo que maximizaria a probabilidade de uma ação efetiva, com um míni
mo de gasto
dos recursos cogn
i
tivos.
É interessante ressaltar que, quando um comportamento é repetido várias v
e-
zes, ele tende a formar traços de memória que pode levar a uma automatização do compo
r-
tamento (Logan, 1988), diminuindo ainda mais o gasto cognitivo associado à ação, sendo
que a ativação dessa automaticidade é fortemente associada à saliência desses traços de
memórias (Higgins, 1996).
Além disso, a influência da norma descritiva é fortemente marcada pela simil
a-
ridade com o grupo de pessoas que se está observando. Em situações onde não identif
i-
cação ou uma identificação oposta, tendemos a ter atitudes muitas vezes na direção
o-
posta do gr
u
po.
57
Objetivo de Construir e Manter Relações Sociais
Normas sociais têm poder de influenciar porque elas podem tornar mais co
m-
preens
ivos os comportamentos que são esperados em cada cultura (Cialdini & Trost,
1998).Os indivíduos freqüentemente se engajam em comportamentos mais conscientes na
busca de aprovação social, principalmente em países coletivistas (Bomtempo & Rivero,
1992), onde a relação com o grupo é um componente da auto-
estima (C
ialdini& Goldstein,
2004, Bond, Smith, 1996). Nessas situações, a norma injuntiva tende a ter um maior peso
e, conseqüent
e
mente, ser mais saliente.
Normas Injuntivas
Geralmen
te, quando as pessoas se referem ao conceito de norma, elas estão se
referindo às normas injuntivas. É nelas que estão embutidas as noções de aprov
a-
ção/desaprovação da sociedade, bem como a noção de moral (Lapinsky & Rimal 2005). De
acordo com Cialdini e c
olaborad
ores (Cialdini & Goldstein, 2004; Cialdini & Trost, 1998;
Cialdini et al, 1991; Reno et al, 1993; Kalgreen et al, 2000), normas injuntivas são aquelas
que se referem ao que deve ser feito; são as regras morais, as leis. Desviar-se dessas no
r-
mas faz com que os indivíduos recebam punições e sanções sociais. Diferentemente das
normas descritivas, onde o seu desvio traz sanções indiretamente, (e.g. não obter o result
a-
do esperado), a punição ou o reforço das normas injuntivas tende a ser imediato (Lapins
ky
& Rimal 2005).
Newcomb (1943, apud Cialdini & Trost 1998) descreve que normas injuntivas
são a base da popularidade no contexto de faculd
a
des estadunidenses.
Entretanto, muitas vezes é difícil diferenciar entre as normas injuntivas e de
s-
critivas de um contexto (Cialdini et al, 1991, Reno et al, 1993, Kalgreen et al, 2000), pois
elas podem estar sobrepostas ou até mesmo serem confusas, exigindo um grande esforço
por parte do pe
s
quisador para diferenciá
-
las.
Assim como as normas descritivas, normas injuntivas também estão sujeitas à
ativ
ação/supressão automática, e a sua saliência tem um papel crucial na influência que ela
pode ter sobre o co
m
portamento.
Ehrhart e Naumann (2004) descrevem um mecanismo onde normas descritivas
podem se tornar injuntivas. Conforme mais pessoas executam um determinado comport
a-
me
nto, as pessoas que chegam nesse grupo e m uma forte intenção de pertencer a ele,
58
e/ou uma forte identificação, tendem a considerar a norma descritiva não apenas como o
comportamento mais popular, mas também como o que deve ser feito, com o que é certo.
O caminho oposto também pode ocorrer, pois, se um comportamento indicado por uma
norma injuntiva for muito executado (seja por características do ambiente forte vs. fraco
seja por características das
pessoas
coletivistas vs. individualistas), ele pode vir a se
tornar uma norma descritiva. Esse mecanismo pode explicar por que muitas vezes as no
r-
mas descritivas e injuntivas se sobrepõem, conforme indicados por muitos estudos (Ciald
i-
ni & Goldstein, 2004, Cialdini & Trost, 1998, Cialdini et al, 1991, Reno et al, 1993, Ka
l-
green et al, 2000, Lapinsky & Rimal, 2005).
Evidentemente, a transformação da norma descritiva em injuntiva não é a única
maneira de fazer com que a ela seja criada. Ehrhart e Naumann (2004) colocam que, em
situações onde um forte líder ou uma maioria obriga um grupo, a norma injuntiva pode ser
criada. Sua aceitação nesta situação está fortemente associada ao desejo de permanecer no
grupo e de que o mesmo sobreviva à dificuldades externas
- um mecanismo muito presente
em culturas colet
i
vistas verticalistas.
Objetivo de Manter um Auto
-
Conceito Positivo
Pessoas freqüentemente são motivadas a conformar suas crenças, comport
a-
mentos e atitudes com o objetivo de melhorar, proteger ou reparar seu auto-conceito (Cia
l-
dini & Trost, 1998).
Arndt et. al. (2002) realizaram um estudo indicando que pessoas com a auto e
s-
tima mais instável e mais focada em atributos extrínsecos à pessoa tendem a se conformar
mais à opinião da maioria e, muitas vezes, chegam a se desvalorizar para se adequarem à
norma. O ser humano emprega uma grande variedade de estratégias para se proteger, c
o-
mo, por exemplo, o falso consenso, que é uma maneira de proteger o self (Berkowitz,
2004). Prentice e Miller (1996) afirmam também que existem situações onde o indivíduo
diminui as realiz
a
ções de um objeto de comparação para poder manter a sua auto
-
estima.
Conflito de Objetivos: O Papel da Saliência da Norma.
Cialdini e Trost (1998) afirmam que a maior crítica direcionada às normas s
o-
ciais como um construto extremamente específico da situação é que, muitas vezes, o me
s-
59
mo ambiente pode suportar normas opostas. Essa competição entre as normas abre a poss
i-
bilidade de que qualquer compo
r
tamento possa ser atribuído à mesma causa: a norma.
Staub (1972, apud Cialdini & Trost, 1998) afirma que toda situação tem uma
multiplicidade de normas gerais e de pistas situacionais que podem acionar o comport
a-
mento apropriado para cada situação. Esse ponto de vista é defendido também por Cialdini
e colabo
radores (Cialdini et al, 1991, Reno et al, 1993, Kalgreen et al, 2000), em uma série
de estudos de campo e
n
volvendo jogar lixo no chão (littering). Sua hipótese central era que
a norma (não importa o tipo) não irá afetar o comportamento, a não ser que ela seja feita
saliente na situação, ou seja, ela é dependente da ativação no ambiente. Uma explicação
que é coerente com a definição de ambientes fortes e fracos, mencionada anteri
ormente,
é a definição de normas globais e locais (que seriam construídas
ativadas/tornadas salie
n-
tes
– de acordo com as pistas encontradas no ambiente).
Esses pesquisadores encontraram que, tornando a norma injuntiva saliente (
a-
través da manipulação de placas e cartazes), a quantidade de lixo jogada no chão diminuía,
não importando a quantidade de lixo no ambiente. Entretanto, tornando a norma descritiva
mais saliente (através da manipulação da quantidade de lixo no ambiente), só conseguiram
diminuir a ocorrência desse comportamento em ambientes limpos quando um confederado
jog
ava lixo no chão, pois, em situações onde o ambiente estava sujo, jogar lixo no chão
aumentava a quantidade de lixo jogado no chão. Os autores justificam este fato hipotet
i-
zando que a tentativa do confederado de salientar o comportamento (i.e. jogar lixo n
o
chão) trouxe a atenção para a norma seguida, aparentemente, pela maioria, que era refletida
pelo estado do ambiente.
Esses autores também observaram que a ativação das normas tinha um certo
caráter transsituacional, pois a norma ativada num cenário continuava efetiva num outro
cenário. Esses dados são semelhantes aos encontrados por Solomon Ash (apud Cialdini &
Goldstein, 2004; Bond, Smith, 1996) nos seus estudos sobre conformidade. Lá, os sujeitos
que se conformaram à posição dos confederados continuaram a ter mesmo erro em outros
gr
u
pos.
Mesmo a norma subjetiva exercem algum tipo de influência quando são at
i-
vadas ou tornadas salientes no ambiente (Ajzen, 2002), principalmente quando são coloc
a-
das em foco através de alguma técnica que coloque o foco da ão no indivíduo (Kalgreen
et. al., 2000). Esse resultado é compatível com a pesquisa de Arndt et. al. (2002), que afi
r-
mam que técnicas que facilitam o foco em atributos internos da pessoa diminuem a chance
que ela se conforme a uma fonte e
x
terna de influência.
60
Cialdini e Trost (1998) afirmam que normas descritivas podem ativar a norma
injuntiva. Neste caso, a execução de um comportamento pela maioria (e.g. dar descarga)
ou então a inferência de que todos fazem podem ativar a norma injuntiva (principalmen
te
por salientar as desaprovações encadeadas pelo seu comportamento). Cialdini (2003) r
e-
comenda que todas as mensagens com algum conteúdo normativo se refiram tanto à norma
injuntiva quanto à descritiva, para que uma potencialize o efeito da outra. De acordo com
esse autor, apresentar um aspecto da norma (mesmo que de modo negativo) pode salientar
um outro aspecto.
A ativação automática de normas é explicada por Aarts e Dijksterhuis, (2003),
que defendem que as representações do comportamento (nesse caso o ideal para o ambie
n-
te
normativo) são ativadas automaticamente quando os objetivos relacionados ao amb
i-
en
te estão ativados e uma forte relação entre o comport
a
mento e a norma foi estabelecida.
A Relação entre Norma Subjetiva, Injuntiva e Descritiva.
Conf
orme exposto, diversos autores (e.g. Lapinsky & Rimal, 2005, Fekadu
& Kraft, 2002) tendem a considerar
a
norma subjetiva como um sinônimo de norma inju
n-
tiva. Ajzen (1991, 2002), entretanto, coloca que esse índice deve ser capaz de lidar com
normas injuntivas e descritivas. Esse autor reconhece ainda que pode haver uma maior
prevalência de uma sobre a outra.
Desta forma, para resolver o problema de como integrar as informações dos
dois tipos de normas em um único índice, capaz de capturar tanto a norma descritiva qua
n-
do a injuntiva, esse estudo vai considerar
a
norma subjetiva como um modelo linear co
m-
posto por normas injuntivas e descritivas. Esse tipo de estratégia considera o peso (betas)
numa equação de regressão para inferir quais dos componentes teria uma maior influência
na variável a ser predita (no caso desse estudo, a intenção), refletindo, com isso, qual das
normas vai ser mais saliente. A lógica é que a norma mais saliente influenciará mais a i
n-
tenção, e essa influência será capturada pelos coeficientes de regressão. Ajzen (1996), c
o-
loca esse tipo de procedimento como uma “solução elegante” para esse tipo de problema.
Essa solução foi aplicada com sucesso por Fishbein e Ajzen (1974), na Teoria
da Ação Racional, onde a importância de atitudes e
da
norma subjetiva também são infer
i-
das com base n
u
ma equação de regressão.
61
Medindo
a
Norma Subjetiva
Diversas pesquisas têm apontado para o fraco poder preditivo de normas soc
i-
ais (e.g. Sheeran, Norman, & Orbell, 1999). Até mesmo Ajzen (1991), quando descreve o
seu modelo, coloca que na maioria das vezes atitudes e crenças de controle percebido ser
i-
am sufic
i
entes para predizer intenção. A desconsideração desse construto tem sido tão forte
que diversos autores têm delib
e
radamente retirado esse componente
na hora de se trabalhar
com a teoria do comportamento planejado, substituindo ou não por outro construto cons
i-
derado semelha
n
te (Armitage & Connor, 2001).
Entretanto, outros autores (e.g. Armitage & Conner, 2001; Hagger & Chatzi
a-
rantis, 2005) vêm defendendo o construto e colocam que o primeiro motivo pelo qual ele
não tem apresentado sucesso está nos métodos de mensuração, pois quase a totalidade dos
estudos trabalha com normas sociais com itens muito gerais (e.g. todas as pessoas que são
importante pra mim aprovam/desaprovam que eu pratique turismo de aventura nas minhas
próximas férias), e a maioria utiliza apenas um único item. Armitage e Connor (2001),
testando a hipótese de que o fraco poder preditivo da norma subjetiva era devido à potenc
i-
almente fraca confiabilidade do tipo de medida utilizada, realizaram uma meta-análise o
n-
de o tipo de mensuração utilizado foi considerado como uma variável moderadora entre
a
norma subjetiva e intenção/comportamento. Eles encontraram que, quando eram uti
lizadas
medidas com apenas um item, a média das correlações múltiplas ficou em .28, ao passo
que quando foram utilizados múltiplos itens, esse média foi para .38, indicando que, pelo
menos parcialmente, o baixo poder preditivo era devido ao método de mensuração utiliz
a-
do.
Outros fatores estão no contexto no qual o comportamento está sendo realizado
e na cultura onde os indivíduos estão inseridos. Wallace et. al. (2005) realizaram uma m
e-
ta
-análise tentando verificar em que situações atitudes prediriam comportamento, util
iza
n-
do como variável dependente o quanto que o comportamento estava sobre algum tipo de
pressão social. Os resultados mostraram que, em situações onde havia uma pressão social
maior, atitudes apresentavam um baixo poder preditivo. Essa pesquisa foi realizada apenas
com estudos publicados em língua inglesa, e apesar do poder preditivo de atitudes ter d
i-
minuído nessas situações de forte poder normativo (de .41 para .30, para cada desvio p
a-
drão acima de média de pressão social), atitude continuou apresentando correlações. Desta
forma, mesmo em uma cultura individualista a influência normativa apresenta algum tipo
62
de influência. Esse tipo de dado é interessante, pois, apesar de ser óbvio (Hagger, Nikos &
Chatziarantis, 2005), vem sendo sistematicamente ignorado nos estudos que utilizam a
teoria do comportamento planejado (Armitage & Connor, 2001).
Bomtempo e Rivero (1992) realizaram uma meta-análise comparando os pesos
obtidos na predição de intenção, utilizando a teoria da ação racional (TAR), e verificaram
que
havia uma troca da magnitude entre atitudes e
a
norma subjetiva na extensão de que as
culturas eram classificadas como mais ou menos individualista, com base nos estudos de
Hofstede (1980). Conforme a cultura era tida como mais coletivista menor era o peso de
atitudes e maior o da norma subjetiva. Infelizmente, eles não controlaram o tipo de co
m-
portamento realizado e, por isso, os resultados dessa meta-análise podem estar enviesados.
Entretanto, são mais um indício de por que
a
norma subjetiva
vem
apresen
ta
do um baixo
poder preditivo na literatura internacional, que geralmente os estudos são realizados em
culturas individualistas, onde se espera que atitudes tenham um maior poder preditivo. Se
os dados de Bomtempo e Rivero (1992) estiverem corretos, um aumento no poder predit
i-
vo de um levaria a uma diminuição do poder predi
tivo de outro.
A partir desses dados, surge a necessidade de se utilizar uma medida de norma
subjet
i
va que seja mais confiável e adequada com a literatura.
O Primeiro problema a ser resolvido é de que modo medir os dois compone
n-
tes. De modo semelhante com atitudes,
a
norma subjetiva também será mensuradas, em
parte, de acordo com a teoria da expectância. Uma vez que a literatura reconhece que a
definição originalmente proposta por Fishbein e Ajzen (1974) reflete mais o componente
injuntivo, este será mensurado de acordo com os critérios apontados por Ajzen (1991),
ilustrados na Equação 2 a seguir - onde a Norma Injuntiva (NI) é diretamente proporcional
( ) ao somatório da importância da opinião de grupos/ indivíduos que são salientes na t
o-
mada de decisão (m), vezes a motiv
ação em se conformar a essa opinião (n).
NI
S m
i
n
i
(2)
as normas descritivas serão mensuradas apenas perguntando-se aos sujeitos
o quanto eles acreditam que os mesmos indivíduos ou grupos listados na escala de normas
injuntivas irão realizar o comportamento. A Equação 3 ilustra esse procedimento, onde a
Norma Descritiva (ND) seria diretamente proporcional à percepção do sujeito do quanto as
pessoas próximas a ele realizam o comportamento (q).
ND
S q
i
(2)
63
Para resolver o problema de qual norma seria a mais saliente e de que modo
e-
las contribuiriam em conjunto na formação da intenção, o escore d
a
norma subjetiva será
inferido do escore predito por normas injuntivas e descritivas com base numa equação de
regressão. A idéia é que a magnitude dos betas de cada uma das variáveis vai indicar qual
se
ria o componente mais saliente, uma vez que a norma mais saliente (por ter uma maior
capacidade de influenciar o comportamento) vai ser responsável por uma maior parte da
variância da variável dependente (no caso desse estudo intenção). Logo, a inclusão
de
norma injuntiva e descritiva, entrando de uma vez num bloco de uma regressão, irá refletir
um escore razoavelmente preciso da norma subjetiva. Tal procedimento não é novo, e e
s-
tratégias semelhantes foram utilizadas por autores como Fishbein e Ajzen (1974) na sua
Teoria de ão Racional, onde uma regressão era utilizada para inferir se atitudes ou
a
norma subjetiva teria uma maior influência em intenção. Ajzen (1996) coloca que tal estr
a-
tégia é uma solução elegante para esse tipo de problema, apesar de reconhecer que ela é
mais descritiva do que preditiva, pois ela seria inferida com base nos dados, e não na pop
u-
lação como um todo.
Entre as principais limitações desse procedimento é que ele não leva em cons
i-
deração aspectos de a
uto
-
identidade/auto
-
categ
orização que, de acordo com Armitage,
Conner e Norman, (1999) é uma importante variável moderadora nessa relação, pois dela
depe
n
deria a conformidade e até mesmo a saliência da norma.
Com base nesse procedimento, espera-se que seja possível mensurar a n
orm
a
subjetiva com uma razoável precisão. Entretanto, apesar da n
orma
subjetiva e atitudes d
a-
rem conta da formação da intenção em diversos comportamentos, existem aqueles que e
s-
tão fora do controle volicional e, por isso, fora do controle de atitudes e normas. Para isso,
Ajzen (1991) propõem a utilização de um construto: o Controle Percebido sobre o compo
r-
tamento.
4.2.3.
Controle percebido sobre o comportamento
Controle percebido sobre o comportamento (CPC) é a diferença entre a TCP e
a TAR. Essa variável foi desenvolvida para lidar com aspectos volicionais do comport
a-
mento, pois, de acordo com Ajzen (2005), quando o comportamento (e.g. comer batatas)
está sob forte controle volicional, o haveria diferenças entre a TCP e a TAR. Contudo,
essas diferenças ficam evidentes em comportamentos onde não esse controle (e.g. co
m-
prar um carro, uma casa), pois, por mais que o indivíduo mantenha uma forte atitude e per
64
ceba uma forte aprovação social, se ele não se sentir capaz ele não realizará o comport
a-
mento.
A importância de controle na realização é evidente, uma vez que os recursos
disponíveis e a capacidade de se realizar um determinado comportamento ditam a probab
i-
lidade se conseguir realizar esse comportamento (Ajzen, 1991).
Entretanto, Ajzen (2002a, 2002b) aponta que os estudos têm confundido o seu
conceito de crenças de controle com lócus de controle. De acordo com o autor, não existe
uma relação entre alta e baixa crença de controle com lócus de controle interno e externo.
Crenças de controle são
cre
nças sobre a presença ou ausência de fatores que podem
promover ou retardar a realização do comportamento (Ajzen, 2002b, pg 32). Ajzen
(2002b, 2005) coloca também que este conceito estaria mais relacionado com a auto-
eficácia, que pode ser definida como “
crenças q
ue os indivíduos têm em organizar e exec
u-
tar cursos de ação requeridos para produzir determinados níveis de realização”
(Bandura,
1998, pg 624). No entanto, auto
-
eficácia não seria suficiente para lidar com todos os aspe
c-
tos das crenças de controle percebido. Como se pode notar, sua definição e até o próprio
nome
é focada no indiv
í
duo.
A definição proposta por Ajzen (1991, 2002) é relativa a todo e qualquer fator
que possa ajudar ou prejudicar a realização de um determinado comportamento. Ajzen
(2002b)
sugere ainda que as crenças de controle percebido sejam um modelo hierárquico
composto de auto-eficácia e controlabilidade, que pode ser definida como as crenças rel
a-
tivas à capacidade do indivíduo de exercer controle sobre o quanto o comportamento está
sob o seu controle. De acordo com esse autor, a maior diferença entre auto-eficácia e co
n-
trolabilidade está no fato da primeira ser relativa aos fatores que possam facilitar ou dif
i-
cultar presentes no indivíduo, e da segunda ser mais ligada aos fatores do a
mbiente que não
estejam no ind
i
víduo.
Não existe um corpo teórico consistente a respeito de CPC e individualismo-
coletivismo, ou outros modelos de cultura. Por esta razão, esse estudo vai apresentar alguns
achados sobre essa dimensão e auto-eficácia, pois, conforme colocado por Ajzen (2002b),
a auto-eficácia representa uma parcela importante desse construto, e medidas de auto-
eficácia devem apresentar uma forte correlação teórica com controle percebido de compo
r-
tamento. Além disso, Armitage e Connor (2001) demonstram que diversos autores vêm
utilizando apenas auto
-
eficácia para lidar com essa variável.
Gelfand, Erez e Aycan (2007) afirmam que o funcionamento da auto-
eficácia
sob a intenção seria universal, e o que variaria seriam seus antecedentes (e.g. tipo de
fee
d-
65
back
recebido na primeira tentativa). Entretanto, esses autores mostram estudos que apo
n-
tam que, em culturas coletivistas, uma esp
é
cie de eficácia coletiva seria mais adequada.
Sue
-Chan e Ong (2002) colocam que a auto-eficácia tem um papel mediador
entre a motivação de alcançar uma meta e o desempenho no trabalho apenas para indiv
í-
duos em culturas com uma baixa distância de poder, mas não foram investigados os efeito
da eficácia social.
Klassen (2004) coloca ainda que indivíduos com um alto escore e
m evitação de
incertezas tendem a depender mais de uma eficácia social do que de uma auto-eficácia, no
que se refere às suas estratégias regulatórias, ao passo que aqueles com baixo escore nessa
dimensão tendem a pr
e
ferir a auto
-
eficácia.
Todos esses dados apontam para o fato de que, no Brasil, uma medida de co
n-
trole percebido de comportamento que englobe também uma espécie de eficácia social
seria mais adequada do que uma que não o fizesse. Além disso, Bandura (2002) entende
que, muitas vezes, a eficácia social seria tão importante quanto a auto-eficácia, e os dados
apontam que isso seria especialmente verdadeiro em culturas onde haveria um maior í
n
dice
de coletivismo e verticalismo, como no caso do Brasil.
Entretanto, uma medida de eficácia social necessita que um grupo seja explic
i-
tado, dificultando a seleção de um objeto de estudo mais abrangente, uma vez que praticar
turismo de aventura nas próximas férias com os seus amigos de trabalho é diferente de
praticar turismo de aventura nas suas próximas férias com a sua família. Por esse motivo,
mesmo reconhecendo a importância da eficácia coletiva na percepção de controle sobre o
comportamento, este aspecto do construto (efic
á
cia coletiva) não será mensurado.
Este estudo vai se focar, portanto, apenas na auto
-
eficácia, se
n
do esta mais uma
de suas limitações. inclusive o risco de uma certa ética imposta nesse aspecto do est
u-
do, mas que será mant
i
da a título de comparação.
Medindo Controle Percebido de Comportamento
Nesse trabalho, crenças de controle percebido serão medidas de acordo com as
indicações propostas por Ajzen (1991), que diz que controle percebido (CPC) seria diret
a-
mente proporcional (
) ao somatório da força da crença que os indivíduos têm sobre a pr
e-
sença de fat
o
res que podem facilitar ou dific
ultar a realização do comportamento (p), vezes
o quanto eles acreditam ter controle sobre esses fatores (c), conforme ilustrado na E
quação
3.
66
CPC
S p
i
c
i
(3)
Desse modo, a escolha da Teoria do Comportamento Planejado se justifica pelo
fato de suas variáveis principais serem capazes de fornecer indicadores capazes de mapear
tanto a presença de um
“self”
que apresente uma construção mais interdependente do que
relaci
onal/coletivo (por intermédio de uma maior importância das atitudes sobre à norma
subjetiva) quanto um
self
mais autônomo (através do co
n
trole percebido).
4.2.4.
Intenção
Nesse trabalho, a intenção comportamental é entendida como uma disp
osição
para se realizar um comportamento que, uma vez que surja a oportunidade, pode se tran
s-
formar em ação. (Ajzen, 2005). Intenção é tida como o preditor mais proximal de compo
r-
tamento (Fishbein & A
j
zen, 1974; Ajzen & Fishbein, 1980; Ajzen 1991; Ajzen 20
05).
Conforme já colocado, diversos autores tendem a considerar intenção como um
dos componentes da atitude (Ajzen, 2005; Eagly & Chaiken, 1998). Contudo, esse trabalho
vai adotar uma perspectiva mais baseada nos modelos que consideram intenção comport
a-
men
tal como uma disposição para se comportar quando possí
vel
de uma determinada
maneira. Disposição essa influenciada por atitudes e outros construtos tais como aspectos
normativos; a percepção do indivíduo de que ele seja capaz de realizar o comport
a
ment
o.
Comportamento
Correlação entre intenção e
comportamento
Comprar ações da British Electric
,82
Usar pílulas anticoncepcionais
,85
Amamentar no seio vs. mamadeira
,82
Usar ecstasy
,75
Realizar um aborto
,96
Respeitar os limites de velocidade
,69
Fr
eqüentar a igreja
,90
Doar sangue
,75
Usar medicamentos homeopáticos
,75
Votar numa eleição presidencial
,80
Tabela 8 -
Correlação entre intenções e comportamentos sob o controle volicional (Ajzen, 2005)
Uma das justificativas para se considerar intenções como um construto à parte
de atitudes é a boa correlação que intenção sozinha consegue manter com comportamento,
conforme ilustra
a Tabela
8.
Ajzen, Brown e Carvajal (2004) colocam que altas intenções apresentam uma
elevada correlação com a realização do comportamento, enquanto baixas intenções estar
i-
am, do mesmo modo, correlacionadas com a não realização do comportamento (havendo,
67
porém, problemas na relação intenção-comportamento quando a intenção tiver um valor
mediano/ambígu
o). Mesmo assim, a relação intenção-comportamento tem surgido como
confiável em diversos estudos (Armitage & Conner, 2001; Ajzen, Brown e Carvajal, 2004;
Ajzen 2005).
Para sua mensuração, serão utilizados os critérios indicados por Madden, Ellen
& Ajzen (2002) e Armitage & Conner (2001), onde uma média entre os principais aspe
c-
tos da intenção será considerada como representativa desta.
Os achados apresentados até agora são, em sua maioria, baseados na literatura
internacional, sobretudo a estadunidense. A seguir, serão apresentados alguns estudos rel
a-
tivos à área no Brasil.
4.3.
Teoria do Comportamento Planejado e Ação Racional no
Brasil
Intenção
Aut
o
res
Objeto R
2
Atit
u
de
N. Subjet
i
va
Tan
i
zaki (1984)
Sexo pré
-
marital
,44
,58**
,04
Lima (1982)
Se cada
strar como doador de sangue
voluntário e peri
ó
dico
,504
,67***
,25*
Usar camisinha
,44
,56**
,287**
Dias (1995)
Diminuir o núm
e
ro de parceiras(os)
,40
,458**
,457**
Aderir a uma dieta de redução de peso
,231
,231***
,413
***
Cavalcanti, D
i
as
& Costa (2005)
Aderir a uma dieta de redução de peso
renda f
a
miliar menor do que 1 salário
mín
i
mo
,387
,547***
,294***
D’Amorim
(1993)
Realização do auto
-
exame de mama
NA
NA
,412***
D’Amorim, T
o-
rós & Ferre
i
ra
(1996)
Candidatar
-se a um cargo govername
n-
tal elet
ivo
,392
,497***
,561***
Rodrigues &
To
r
res (2006)
Intenção de se praticar turismo de ave
n-
tura
Est
u
do piloto com a teoria do
comportamento pl
a
nejado
,231
,263***
,337***
Tabela 9 -
Correlações entre as variáveis dos modelos em su
as aplicações no Brasi
l
-
* p < ,05; ** p < ,
01; *** p < , 001
68
Poucos estudos que utilizam a teoria do comportamento planejado e da ação
racional foram encontrados nos principais periódicos nacionais. A Tabela 9 mostra um
sumário das pesquisas que utilizaram pelo menos um dos modelos para a predição de a
l-
gum comportamento. Os critérios para inclusão nesse trabalho eram que os estudos prec
i-
savam ser realizados no Brasil, com uma amostra nacional e publicado em um periódico
nacional.
Na Tabela 9 estão apenas a magnitude de variância explicada p
ela
norma su
b-
jetiva e atitudes, e a correlação entre cada um dos construtos com intenção, pois, até a pr
e-
sente data, foi achado apenas um estudo que mensurasse controle percebido e, por não ser
possível realizar compar
a
ções, esse construto foi omitido nest
a
Tabela
.
Infelizmente, existem poucos estudos realizados (ou publicados) no Brasil com
a TAR ou TCP. Apesar de não fazer parte do escopo desse trabalho argumentar o porque
desse fato, uma possível explicação está no fato de que, em muitos estudos, o componente
normativo apresentou um maior poder explicativo do que atitudes, fato não previsto pela
literatura internacional.
Na Tabela 9, o primeiro estudo a ser apresentado é o de Tanizaki (1984), que
utilizou a teoria da ação racional (TAR) para explicar as intenções de jovens universitários
em ter relações sexuais antes do casamento. Como pode ser observado na Tabela, esse e
s-
tudo é condizente com a literatura internacional, onde atitudes seriam as melhores predit
o-
ras de intenções, com
a
norma subjetiva influenciando intenções apenas indiretamente
a-
través das atitudes (r = ,41; p<01). Uma possível explicação para o baixo desempenho da
n
orma
subjetiva nesse estudo pode estar no índice utilizado. A autora utilizou o índice or
i-
ginalmente proposto por Fishbein e Ajzen (1975) que, de acordo com est
u
dos recentes (e.g.
Hagger e Chatziarantis, 2005), está mais ligado ao aspecto injuntivo da norma/influência
no
rmativa. Como reconhecido pela autora, na data da realização do estudo, o sexo pré-
marital estava recebendo cada vez mais aceitação, principalmente pelos mais jovens; logo,
tanto aqueles com uma baixa intenção quanto com uma alta intenção teriam escores simil
a-
res nesse aspecto da norma. Entretanto, a faixa et
á
ria da amostra em qu
estão (16
25 anos)
coloca esses adolescentes onde o sexo é uma coisa nova, podendo gerar situações de amb
i-
güidades.
Nestas situações, Cialdini e Goldstein (2004) colocam que as normas descrit
i-
vas têm um poder de influenciar muito mais do que as injuntiv
as, uma vez que a realização
do comportamento não estaria mais sujeito a sanções sociais tão severas quanto nos anos
anteriores, e a percepção dos sujeitos de o quanto seus pares realizam esse comportamento
69
ajuda na escolha da ação a ser tomada - fato este reconhecido por Tanizaki (1984) quando
coloca que esse grupo seria homossocial, apontando a importância do comportamento do
grupo (que não foi av
a
liado).
Em 1982, Lima realizou um estudo tentando identificar as intenções de se c
a-
dastrar como doador de san
gue voluntário e periód
i
co. Como pode ser observada n
a Tabela
9, a intenção é mais dependente das atitudes do que da norma subjetiva. Entretanto, assim
como no estudo anterior, o comportamento analisado não é uma atividade corriqueira, e a
própria autora levantou diversos estudos que apontam para a existência de medos e amb
i-
güidades relativas a doar sangue, que novamente são mais influenciados pelo aspecto de
s-
critivo da norma (Cialdini & Goldstein, 2004)
que
não foi considerado. Mesmo assim, a
n
orma
subje
tiva
apresentou alguma importância. Cabe ressaltar que nesse es
tudo
, a n
orma
subjetiva não influenci
ou
indiretamente a partir das atitudes (r = 0,01).
Em 1995, Dias realizou dois estudos para verificar o quanto à formação da i
n-
tenção de dois comportamentos
de prevenção à AIDS (usar camisinha e diminuir o número
de parceiros) era mais dependente de atitudes ou normas. Como pode ser observado n
a
Tabela
9, o primeiro comportamento (usar camisinha) é realizado num
setting
muito mais
privado, fazendo sentido atitudes terem um maior papel na determinação das intenções.
Apesar de apenas o componente descritivo ter sido utilizado na mensuração da n
orma
su
b-
jetiva (fato que não ocorreu em nenhum dos 2 estudos), essa variável ainda conseguiu co
n-
tribuir significativamen
te na formação da intenção. Já o segundo comportamento (diminuir
o número de parceiras) está mais sensível às normas sociais do que o primeiro, sendo real
i-
zado num
setting
muito mais público e, por isso, mais sensível à influência normativa
(Wallace et. al., 2005) - fazendo com que a n
orma
subjetiva apresentasse uma maior ma
g-
nitude e uma influência praticame
n
te igual à de atitudes.
Desta forma, assim como nos outros estudos, a não consideração do aspecto
descritivo coloca em jogo as conclusões desse estudo, pois se trata de um comportamento
fortemente influenciado pela percepção do agente de o quanto seus pares realizam o me
s-
mo comportamen
to
- fato que, apesar de reconhecido pelo autor, também não é mensurado
(botar referencia).
Em 2005, Cavalcanti, Dias e Costa realizaram um estudo tentando identificar
quais seriam os melhores preditores para pessoas com problemas de obesidade apresent
a-
rem uma boa intenção de aderir a uma dieta redutora de peso. No estudo, foram avaliados
indivíduos que tinham uma renda familiar de até 2 salários mínimos. Esse estudo apresenta
70
uma peculiaridade com relação aos apresentados acima, pois 98% da amostra é constituída
de mulheres, deixando baixa a sua capac
i
dade de generalização.
Em seus resultados, esses autores encontraram que a intenção de aderir a uma
dieta depende largamente mais da norma subjetiva do que de atitudes, mesmo com o co
m-
ponente descritivo sendo ignorado, demonstrando o quanto esse comportamento está lig
a-
do à fortes forças sociais. Entretanto, como se trata de uma país moderadamente coletivi
s-
ta, atitudes ainda são um bom preditor (assim como em todos os outros estudos). Numa
segunda fase do estudo, a amostra foi dividida e foram analisados apenas os respondentes
que tinham rendas familiares inferiores a 1 salário mínimo (n=46), fazendo com que o p
o-
der de generalização caísse ainda mais. Desta vez, atitudes apresentaram uma maior cap
a-
cidade preditiva, apesar do tamanho da amostra dificultar a realização de inferências mai
o-
res do que para a
a
mostra utilizada.
Em 1993, D’Amorim realizou um estudo que utilizava a teoria da TCP como
espinha dorsal para identificar quais seriam os preditores da intenção, junto com variáveis
de personalidade, chegando a conclusão que
a
n
orma
subjetiva teria
u
m o maior peso. Ap
e-
sar da atitude ser também significativa, devido a algum erro de impressão o coeficiente de
correlação não foi apresentado. Além disso, a autora realizou uma análise comparando as
variáveis do estudo e identificou que todas as variáveis contidas na TAR e na TCP seriam
adequadas para discriminar entre o grupo que pratica o ex
a
me e o que não pratica.
Em 1996, D’Amorim, Torós e Ferreira realizaram um estudo onde foram i
n-
ve
stigados os antecedentes da formação da intenção de jovens universitários em se cand
i-
datar para um cargo público, mostrando que a intenção sofre mais influência da n
orma
subjetiva do que
de
at
itudes. Todavia, assim como nos outros estudos, o índice
utilizado
para avaliar a
n
orma
subjetiva não reflete a totalidade da influência no
r
mativa, ignorando o
aspect
o descritivo.
Por fim, Rodrigues e Torres (2006) realizaram uma pesquisa sobre a intenção
de se praticar turismo de aventura nas próximas férias e, de acordo com seus dados,
a
no
r-
ma subjetiva apre
sent
ou
uma influência maior do que de atitudes, mesmo com o
objeto
sendo ligado a um objeto de lazer e por isso com uma motivação mais ligada ao prazer.
A explicação para isso está no fato dessa pesquisa levar em consideração tanto o aspecto
injuntivo quanto descritivo na mensuração da norma subjetiva. Entretanto, esse estudo foi
o que apresentou o menor R
2
dos estudos apresentados, indicando que apenas atitudes e
n
orma
subjetiva seria pouco para se tentar explicar a intenção de se praticar turismo de
aventura.
71
Após uma analise dos estudos acima, percebe-se que a utilização desses est
u-
dos para se traçar o quanto à intenção no Brasil é mais guiada por atitudes ou normas é
prejudicada por uma série de fatores. O primeiro é que praticamente a maioria dos compo
r-
tamentos analisados é relacionado à área de saúde, restringindo em demasia a realidade
nacional para um
setting
razoavelmente padr
o
nizado.
Em segundo lugar está o fato de que o índice utilizado para mensurar
a
norma
subjet
iva foi inadequado, pois praticamente todos ignoram a existência do componente
descritivo,
e mesmo a me
n
suração do componente injuntivo é prejudicada, uma vez que, na
maioria dos estudos, esta é avaliada com itens únicos ou no máximo com 2 itens (para se
mensurar a partir da expectância valor). Armitage & Conner (2001) realizaram uma meta-
anális
e que utilizou como variável moderadora o tipo de mensuração usado para se avaliar
a
norma subjetiva. Eles encontraram que estudos que utilizavam esse tipo de estratégia
apresentavam pouca ou nenhuma correlação com os outros construtos do modelo, indica
n-
do
que essa metodologia não é adequada para a realização desse tipo de est
u
do.
Apesar de haver um razoável consenso a respeito do funcionamento da TCP e
da TAR nas culturas individualistas, esses modelos ainda carecem de muitos estudos em
culturas coletivistas, e assuntos como a estrutura dos construtos (e.g. tipo de norma e sua
mensuração, auto/coletiva eficácia, etc.) ainda precisam de avanços. Contudo, mesmo em
culturas coletivistas, esses modelos vêm apresentado bons resultados, indicando que são
adequado
s para a elaboração de diagnósticos
-
desde que certos cuid
a
dos sejam levados em
consideração. Os achados na literatura de psicologia transcultural também permitem que os
modelos sejam usados como uma espécie de heurística para a tomada de decisão na hora
de se realizar uma inte
r
venção ou de se planejar uma ação.
O principal problema das pesquisas nessa área no Brasil é o fato de que a mai
o-
ria dos estudos encontrados são muito antigos, e mesmo os atuais não refletem os achados
recentes da literatura, como a necessidade de se avaliar
a
norma subjetiva com base nos
componentes injuntivos e descritivos. Além disso, na área de atitudes, seu aspecto instr
u-
mental e expressivo é geralmente ignorado. Apesar dos determinantes de intenção e a rel
a-
ção atitude-
comportam
ento serem dois objetos de estudos extremamente analisados na
literatura nacional e de vital importância para a compreensão do comportamento humano,
no Brasil essa área tem recebido pouca atenção, e os achados relativos à percepção de co
n-
trole sobre o comp
ortamento são praticamente inexistentes.
72
Sendo assim, são necessários mais estudos com diferentes objetos em difere
n-
tes esferas do dia-a-dia, pois, apenas dessa forma será possível mapear adequadamente os
determinantes da intenção no Brasil.
Com esse objetivo em mente, a presente pesquisa pretende realizar uma co
m-
paração entre as culturas nacional e estadunidense com relação à formação da intenção sob
o fundo teórico da Teoria do Comportamento Planejado (Ajzen, 1991).
73
5.
A presente pesquisa
Conforme apresentado no capítulo anterior, pode-se notar o quanto a cultura
brasileira é diferente da cultura estadunidense. A utilização de modelos importados sem
uma devida ada
p
tação ao nosso contexto cultural pode levar a erros de análise e a um gasto
indevido de r
ecursos como tempo e dinheiro. As conseqüências do fato de que cada cultura
apresenta diversas diferenças que podem influenciar no processamento das informações
obtidas no ambiente são sistematicamente ignoradas; por exemplo, a importância que dif
e-
rentes tipos de crença têm na formação da intenção não são levadas em consideração na
maioria dos trabalhos. É comum o uso, sem ao menos uma reflexão crítica, de mo
delos
advindos de culturas com um viés mais individualista e menos ligadas ao tipo de cognição
predo
minante na nossa cultura, e que não se assemelham ao modo como as relações sociais
se estabel
e
cem.
Desta forma, esse trabalho tem como objetivo verificar a importância dos ant
e-
cedentes da formação da intenção de se praticar turismo de aventura nas próximas férias
com base na Teoria do Comportamento Planejado (Ajzen, 1991), em dois países com cu
l-
turas distintas. Visa-se, com isto, apontar como as diferenças culturais podem influenciar o
processo de tomada de decisão nessas duas culturas, através da importância que cada um
dos construtos do modelo assume na form
a
ção da intenção em cada uma.
A principal idéia por trás desse estudo é que conforme colocado no fundo t
e-
órico do mo
delo
a cultura, como uma variável de fundo, vai influenciar diferentemente
os 3 construtos do modelo (atitudes, norma subjetiva e controle percebido). Para facilitar a
compreensão do leitor, a Tabela 10 a seguir fará um resumo dos achados sobre cultura no
Brasil e nos EUA, de acordo com os m
o
delos apresentados.
74
País
Modelo
Brasil
EUA
Hofstede
Buscam e valorizam a distância entre superior e subordinado,
val
o
rizando hierarquias e buscando se conformar às normas e à
opinião de quem é consid
e
rado importante. Evitam o contato
com as amb
i
güidades da tomada de decisão, utilizando
-
se de
recu
rsos que pe
r
mitam uma certa difusão de responsabilidade.
Possuem uma estrutura menos indiv
i
dualista, tendo o grupo
seu bem estar e coesão
como aspectos relevantes do seu self. É
uma cultura menos assertiva, que valoriza mais aspectos relaci
o-
nais do que
de desempenho.
É o país mais individualista, onde a opinião e a necessidade de
co
esão no grupo não são aspectos principais. Buscam uma maior
consistência e
n
tre suas crenças e comportamento, e uma maior
semelhança (de status) entre superior e subordinado.
Poss
u
em
menos pr
o
blema em lidar com a ambigüidade de uma decisão,
são mais assertivos e consideram mais os aspectos de desemp
e-
nho do que manter uma relação.
Triandis
É um país moderadamente coletivista vertical. Seus habitantes
prezam pelo bem estar e coesão do grupo, entendendo e obed
e-
cendo as suas normas e aceitando a desigualdade como no
r
mal,
e até desej
a
da, pelo bem estar da ordem. Possuem as normas e
papéis sociais como principais aspectos mot
i
vadores, mas, por
ser um país apenas moderadamente coletiv
ista, at
i
tudes ainda
têm um papel importante na m
o
tivação. Também considerado
como protoindividualista, ou seja, em situação de suste
n-
to/trabalho, o brasileiro tende a aprese
n
tar um comportamento
mais individualista.
É tido como exemplo de país indiv
i
duali
sta horizontal. Seus
habitantes têm uma necessidade por individu
a
lidade como um
dos seus principais motivadores e não se importam mu
i
to com a
opinião do grupo, a não ser que haja algum ganho explícito a
s-
sociado. Poss
u
em atitudes como um motivador mais fort
e do
que normas sociais e tendem a se perceber como razoavelme
n
te
semelhantes (em st
a
tus) aos seus endo
-
grupos.
Schwartz
Apesar de valorizar a autonomia, o faz com menos intensidade
do que nos EUA. Seus habitantes valorizam mais a autonomia
afetiva do que
intelectual, e prezam pela manutenção da hiera
r-
quia, valor
i
zando
-
a mais do que nos EUA. Além disso, apesar de
valorizarem a dominância, o fazem com menos i
ntensidade do
que nos EUA
Encontra
-se numa posição próxima ao Brasil, quando os dados
são transforma
dos em gráfico. Ambos valorizam a mesma pol
a-
ridade do valor, mas os EUA possuem um escore maior do que o
Brasil em todas as variáveis.
Tabela
10
-
Comparação sumarizada entre o Brasil e os EUA nos diferentes modelos apresentados
75
Com base na Tabela 10, é possível considerar que no Brasil a norma subjetiva
te
um peso maior do que atitudes, sendo capazes de explicar uma maior parcela da var
i-
ância na intenção. Assim, ba
seando
-se na literatura apresentada, segue-se a elaboração das
h
ipóteses do estudo.
H
1
Na amostra nacional,
a
norma subjetiva te
um peso maior
na predição de intenção do que atit
u
des.
Resumindo o que fora apresentado, o Brasil é mais coletivista e verticalista,
tendo a coesão do grupo como um aspecto relevante da sua auto-percepção. Além disso,
possui uma menor valorização de autonomia (intelectual e afetiva), apresenta um maior
desejo por hierarquia (bastante associada com conformidade) e uma maior dificuldade em
lidar com situações onde a sua ação é antecedida por um sentimento de ambigüidade com
relação aos resultados do comportamento. Ele também apresenta uma menor abertura a
mudanças, tendendo a se manter com o que já tem e evitar o novo.
Ainda de acordo com o que fora anteriormente descrito, Normas Sociais (e
por
conseqüência, a subjetiva) possuem um papel importante na realização dessas disposições,
uma vez que o seu componente injuntivo é capaz de auxiliar na manutenção da coesão e
hierarquia dentro do grupo e seu componente descritivo auxilia a lidar com situações de
ambigüidade. Além disso, como refletem o que as pessoas estão fazendo naquele mome
n-
to, também fo
r
necem as ferramentas de conduta mais adequadas.
Portanto, como extensão da Hipótese 1, esse trabalho considera que a norma
s
ubjetiva
terá
um maior p
oder pred
i
tivo na amostra nacional do que na estadunidense.
H
1a
Na amostra nacional,
a
norma subjetiva ser
á
capaz de explicar
uma maior v
a
riância em intenções do que na amostra estadunidense.
Os EUA, por ser um país mais individualista e horizontalista,
e com uma maior
valor
ização de autonomia e dominância do que o Brasil, não terão as suas intenções tão
baseadas
na
no
r
ma subjetiva quanto o Brasil.
Entretanto, uma vez que os EUA também valorizam a hierarquia, a norma su
b-
jetiva
será
capaz de explicar algu
ma parte da vari
a
ção do comportamento.
Quase como uma hipótese irmã, tem-se a predição de que, na amostra estad
u-
nidense, atitudes terão um ma
i
or peso do que
a
norma subjetiva na predição de intenção.
76
H
2
Na amostra estadunidense, atitudes terão um peso ma
ior na
predição de i
n
tenção do que
a
norma subjetiva.
E, do mesmo modo que a norma subjetiva no Brasil, as atitudes serão capazes
de explicar uma maior magnitude de variância na amostra estadunidense do que na naci
o-
nal.
H
2a
Na amostra estadunidense, ati
tudes serão capazes de explicar
uma maior variância em i
n
tenções do que na amostra nacional.
Com relação ao controle percebido sobre o comportamento, o fato da medida
não ter s
i
do capaz de comportar um componente que abordasse a eficácia coletiva fará com
que ele provavelmente seja capaz de explicar melhor a variância na amostra estadunidense
do que nacional. Entretanto, isso não significa que o controle percebido do comportamento
não seja eficaz na amostra nacional também. De fato, isto não pode ser verificado, uma vez
que essa medida é um exemplo de ética imposta.
H
3
Controle percebido sobre o comportamento explicará uma
maior parcela da variância na amostra estadunidense do que na
amostra n
a
cional.
Para propiciar o teste das hipóteses, foram realizados dois estudos, cada um
com duas fases (uma para cada cultura). O primeiro teve como objetivo levantar as crenças
mais salientes com relação aos construtos abordados nesse estudo (atitude, norma subjetiva
e controle percebido de comportamento) e o segundo, identificar as relações entre os con
s-
trutos nas duas diferentes culturas.
Em seguida, serão descritos os dois estudos, incluindo seus resultados, que s
e-
rão discutidos individualmente, seguindo-se de uma discussão geral dos resultados finais
da pesqu
i
sa.
77
6.
Estudo 1
Eliciação
Uma vez que esse estudo realiza a comparação de um mesmo modelo (Teoria
do comportamento planejado Ajzen, 1991) em duas culturas diferentes, com histórias e
peculiaridades próprias, e pelo fato da metodologia utilizada para a construção das escalas
de atitudes, norma subjetiva e controle percebido se basear nas crenças mais salientes de
cada cultura, a realização de um único instrumento mesmo que traduzido e retraduzido
provavelmente levaria a conclusões equivocadas (ou inadequadas). Isto poderia ocorrer
devido ao fato de que, por mais que seja esperada uma certa homogeneidade por parte das
crenças relativas ao turismo de aventura (já que a mídia que o aborda é predominant
e
mente
internacional), é possível (e esperado) que a cul
tura de cada nação tenha servido como uma
espécie de filtro, dando maior ou menor importância para cada faceta do objeto, e cons
e-
qüentemente gerando percepções e crenças diferentes sobre o turismo de aventura, que
precisam ser investigadas.
Por se tratar d
e um estudo transcultural, esse trabalho irá partir de uma perspe
c-
tiva
emic
-
ethic
, onde cada etapa da metodologia será aplicada igualmente em cada nação
(Brasil e Estados Unidos). Existem algumas diferenças na metodologia em cada situação,
mas elas serão d
iscr
i
minadas em cada sessão.
Essa etapa visa levantar quais são as crenças mais salientes com relação ao t
u-
rismo de aventura nos quatro tipos de construtos utilizados nesse estudo, tendo como pri
n-
cipal orientação seguir a recomendação de Ajzen (1991, 2002a, 2005) de que todas as m
e-
didas devem corresponder ao mesmo comportamento. No caso, praticar turismo de avent
u-
ra nas próximas f
é
rias.
6.1.
Metodologia
6.1.1
Instrumento
O instrumento foi baseado nas recomendações propostas por Ajzen (2001,
2002a), que coloca que a melhor maneira de se abordar a maior quantidade possível de
crenças relativas a um objeto é perguntar quais seriam os aspectos positivos e negativos
com relação ao mesmo. Esse procedimento é coerente com o que Higgins (1996) coloca
sobre disponib
ilidade de crenças.
78
Os
instrumento
(anexos 5 e 6)
, foi composto de 9 questões abertas, sendo que 3
são rel
a
tivas ao resultado do comportamento, 3 aos referentes normativos e 3 aos fatores de
contr
o
le.
No caso de resultado de comportamentos, foi utilizada
uma questão relativa aos
aspectos positivos de se praticar turismo de aventura nas próximas férias, uma sobre os
aspectos negativos e outra perguntando se havia mais alguma coisa que as pessoas se le
m-
brassem.
Para referentes normativos, foi perguntado se havia grupos ou pessoas que
a-
provar
iam a pratica turismo de aventuras nas próximas férias, se havia grupos ou pessoas
que desaprovariam e se havia mais alguém que viesse à mente quando eles pensassem s
o-
bre praticar turi
s
mo de aventura nas próximas férias.
Para acessar quais seriam os fatores de controle, foi feita uma pergunta sobre a
perce
pção de fatores ou condições que pudessem facilitar a prática de turismo de aventura
nas próximas férias do respondente, uma sobre fatores ou condições que pudessem dificu
l-
tar, e mais uma perguntando se havia mais alguma coisa que viesse à mente deles quando
pensassem em praticar ou não turismo de ave
n
tura.
Além dessas perguntas, foi acrescentada uma parte sócio-demográfica que pe
r-
guntava idade, país de nascimento, escolari
dade e sexo.
Esse tipo de instrumento foi utilizado com sucesso em diversas pesquisas e
com diferentes objetos, tais como: escolha de atividades de lazer (Ajzen & Driver, 1992),
tabagismo entre ad
o
lescentes (Maher & Rickwood, 1997), entre outros.
Para cumprir com os objetivos desse trabalho, foram desenvolvidas duas ve
r-
sões de instrumento, uma em português e outra em inglês. Além disso, aspectos de cor,
tamanho de fonte e contraste foram construídos de modo a facilitar a compreensão dos
itens e preenchiment
o do quest
i
onário.
Instrumento nacional
O instrumento nacional foi baseado nas recomendações de Ajzen (2002a).
A-
pós a sua construção, ele foi testado primeiramente com 20 alunos de uma classe de psic
o-
logia social (graduação), onde foi pedido para eles avaliarem a clareza dos itens e se de
fato eles eram relativos aos constr
utos em questão. Posteriormente, o mesmo procedimento
foi utilizado em uma amostra com 6 doutorandos de psicologia da Universidade de Bras
í-
lia. Em ambos os casos, houve uma concordância de 100% de que os itens eram relativos
79
aos construtos que pretendiam mensurar e de que os itens eram adequados aos seus objet
i-
vos.
Instrumento estadunidense
Assim como o instrumento nacional, esse instrumento também foi baseado nas
recomendações de Ajzen (2002a). Devido à dificuldade de acesso à população estadun
i-
dense, não foi possível testar o instrumento em um grupo tão grande quanto na amostra
nacional. Nesse caso, o instrumento foi testado primeiramente com dois estadunidenses
nativos, residentes no Brasil, que estavam realizando intercâmbio estudantil. Em seguida,
foi solicitado a uma lista de discussão estadunidense sobre psicologia social (Society for
the Psychological Study of Social Issues SPSSI) que alguns voluntários avaliassem o
instrumento.
No total, cinco doutores em psicologia e dois psicólogos (todos estadunide
n-
ses nativos) avaliaram o instrumento quanto à clareza e objetivo dos itens. A partir dessa
avaliação, surgiram algumas modificações com relação ao tempo verbal utilizado nos itens
p
ositivos, e essas modificações foram ace
i
tas.
Posteriormente, um estudo piloto “on
-
line” com uma amostra de 10 sujeitos (de
cada país) indicou que o instrumento era adequado aos objetivos da pesquisa. Ambos os
instrumentos encontram
-
se anexos a esse trabal
ho
(anexos 5 e 6)
.
6.1.2.
Procedimento
Fase nacional
A versão nacional do questionário foi transformada em um formulário de pr
e-
enchimento eletrônico, criado para que os respondentes pudessem receber um link por e-
mail e responder ao instrumento on-
line.
Depois de preenchido, este formulário enviava os
dados diret
a
mente para um banco de dados MySQL, em um servidor nacional.
Foram enviados e-mails para diversas listas de discussão de praticantes de t
u-
rismo de aventura no Brasil, solicitando que estes, após responderem, repassassem o que
s-
tionário a todas as pessoas que pudessem. Devido a esse processo, não como calcular
percentual de re
s
posta.
80
Tal procedimento gerou uma lista de crenças, em que cada uma das crenças foi
avaliada por cinco juizes diferentes (alunos de graduação, após um treinamento). Para ser
categorizada em uma das categorias, foi adotado o critério de concordância de 80%.
Fase estadunidense
A versão estadunidense do questionário também foi transformada em um fo
r-
mulário de preenchimento eletrônico criado para que os respondentes pudessem receber
um link por e
-
mail e responder ao instrumento on
-
line. A única diferença entre os 2 form
u-
lários foi o idioma utilizado, pois todas as outras cara
c
terísticas foram mantidas idênticas.
Foram enviados e-mails para professores, pesquisadores, alunos e grupos de e-
mails nos EUA. O e-mail dos professores e pesquisadores foi encontrado nos seus respe
c-
tivos sites e em alguns artigos, onde o e-mail dos autores estava disponível. De forma a
evitar algum tipo de viés, não foi solicitado à eles que respondessem ao instrumento, mas
que repassassem o email para quem eles pudessem, solicitando a resposta. Também foram
enviados e-mails para grupos de escoteiros e grupos de atletas nos Estados Unidos. Devido
a este proc
edimento, não há como calcular o percentual de re
s
posta.
Assim como na fase nacional, este procedimento gerou uma lista de crenças,
onde cada uma delas foi avaliada por cinco juizes diferentes (alunos de graduação, após
um treinamento). Para ser categorizada em uma das categorias foi adotado o critério de
concordância de 80% .
6.1.3.
Sujeitos
Fase Nacional
Nessa fase foram utilizados 67 sujeitos, com idades entre 14 e 59 anos (m=
29.10; dp = 10.57). Desses sujeitos, 50.7% são do sexo feminino; 1.5% têm apenas o pr
i-
meiro grau completo; 16.4%, possuem o segundo grau completo; 43.4% possuem uma
graduação incompleta, 20.9% possuem a graduação completa; 13.4% possuem mestrado
incompleto e 1.5%, um doutorado incompleto. Além disso, um total de 74,6% têm algum
ti
po de emprego e 67,2% praticou alguma modalidade de turismo de aventura pelo m
e-
nos uma vez.
81
Fase Estadunidense
Nesta parte, foram utilizados 53 sujeitos, com idades entre 19 e 67 anos (m=
35.07; dp = 14.44). O Sexo feminino representou 62.8% da amostra. Além disso, 2.3% da
amostra possui ap
e
nas o “
high School,
58.1% estava ao menos cursando o “College”, 4.7%
possui um “Graduated Degree”, 20.9% possui o “Master’s Degree” e 14.4% possui o PhD.
No total, 83,7% têm algum tipo de emprego e 83.7% prati
cou
alguma modalidade de
turismo de aventura pelo menos uma vez.
6.2.
Resultados do Estudo 1
Após a coleta, todos as respostas (crenças) foram agrupadas quanto aos seus
temas, e suas freqüências foram registradas. A idéia por trás deste procedimento é que as
crenças que fossem mais citadas seriam as mais salientes, e mais facilmente recuperadas da
memória pela população (Ajzen, 2002a).
A seguir, estão os Quadros que sumarizam o resultado do primeiro estudo (
E-
tapa de eliciação) nas amostras nacionais e estadu
ni
denses.
82
6.2.1.
Fase Nacional
Crenças sobre o resultado do comportamento
A Tabela 11, a seguir, mostra quais foram as crenças sobre o resultado do comportamento na amostra nacional (CRN). Estão regi
s-
trados a sua defin
i
ção, freqüência e um exemplo de ve
rbalização.
Resultado
do compo
r-
tame
n
to
Definição
F%
Exemplo de verbal
i
zação
CRN1
O Turismo de Aventura (TA) fornece roteiros e oportunidades que as outras m
o-
dalidades de turismo não são c
a
pazes de oferecer.
43,28
Permite uma maior liberdade de r
o
teiros
C
RN2
TA é capaz de fornece um maior contato com a natureza.
35,82
Conhecer melhor a natur
e
za
CRN3
A prática de TA propicia fortes emoções e excit
a
ção.
35,82
Sensação de liberdade
CRN4
O TA envolve algum tipo de risco ou per
i
go.
35,82
Perigoso
CRN5
Pratic
ar o TA é bom, agradável.
34,33
É divertido
CRN6
Praticar TA alivia o estresse e renova as energ
i
as.
31,84
Retira o estresse do dia a dia
CRN7
O TA têm muitos custos.
31,84
É muito caro
CRN8
A prática de TA f
a
z bem a saúde.
19,4
É uma atividade sa
u
dável
CRN9
Os roteiros de TA não fornecem boas acomodações; são desconfort
á
veis.
14,93
Falta de estrutura
CRN10
Praticar TA desafia limites, físicos e psicológ
i
cos.
10,45
Oportunidade de desafiar os meus lim
i
tes
CRN11
Envolve atividades com um alto esforço f
ísico, gera muito cansaço.
8,96
É um tipo de férias de que não de
s
cansa
CRN12
Praticar TA fornece algum tipo de material que permita contar algum tipo de
va
n
tagem (tirar onda).
5,97
Posso tirar onda com os meus
a
migos que
não foram
CRN13
Durante a Prátic
a de TA há a oportunidade de aprender novas h
a
bilidades.
2,99
Chance de aprender novas hab
i
lidades
CRN14
A prática de TA é permite conhecer n
o
vas pessoas.
2,99
Posso conhecer novas pess
o
as
83
Resultado
do compo
r-
tame
n
to
Definição
F%
Exemplo de verbal
i
zação
CRN15
Praticar TA pode fazer mal para quem não tem uma boa sa
ú
de.
2,99
Não é adequado para quem tem probl
e
mas
de coração
CRN16
Em locais onde ser pratica TA não há multidões.
1,49
Não tem gente demais
CRN17
Durante a prática do TA não há muitas chances de se conhecer alguém para f
i-
car/namorar.
1,49
Não dá pra conhecer
muitas g
a
rotas
CRN18
Empresas que fornecem pacotes de TA não oferecem muita flexibilidade. Pac
o-
tes muito fechados.
1,49
Os pacotes são muito fech
a
dos
CRN19 Há muitos insetos nos locais onde ser pratica TA
1,49
Os lugares onde se pratica esse tipo de
ati
vidade têm muitos i
n
setos
CRN20
As atividades realizadas durante a prática do TA não são capazes de proporci
o-
nar emoção durante muito te
m
po
1,49
Enjoa rápido
Tabela
11
-
Crenças mais salientes sobre o resultado do comportamento n
a amostra nacional
Os dados apresentados acima indicam que quando as pessoas pensam em turismo de aventura, características ligadas ao diferente,
contato com a natureza e excitação são as crenças mais salientes. Indo de acordo com a visão que os donos de operadora tem sobre as crenças que
os pratica
n
tes teriam.
Referentes normativos
A seguir, a Tabela 12 mostra quais as crenças sobre quem seriam os principais r
eferentes
normativos, na amostra nacional (RNN).
Es
te Qu
a
dro mostra a definição dos referentes, s
ua freqüência e um exemplo de verbalização.
Referente
Normativo
Definição
F%
Exemplo de verba
lização
RNN1
Am
i
gos/namoradas e colegas próximos.
61,19
Minha namorada
84
Referente
Normativo
Definição
F%
Exemplo de verba
lização
RNN2
Parentes próximos.
52,24
Minha família
RNN3
Pessoas estereotipadas como “natur
e
bas”
e/ou “Bichos
-
grilo”
26,87
“Naturebas”
RNN4
A mãe do praticante.
14,93
Minha mãe
RNN5
Pessoas, com atitudes contrárias ao TA.
11,94
Pessoas que não gostam
RNN6
Personagens e atores que aparecem na grande mídia.
7,46
Personagens de filmes
RNN7
A equipe
que organiza a atividade.
7,46
A equipe que está organizando a ativ
i-
dade
RNN8
Pessoas com “atitudes joviais”.
7,46
Pessoas jovens de espírito
Tabela
12
-
Crenças mais salientes sobre os Referentes Normativos na amostra nacional
É interessante notar que a amostra nacional apresentou “mãe” como um referente separado de parentes próximos, indicando o ca
ráter
ún
ico desse referente na cultura nacional. Os referentes mais salientes são os amigos e parentes próximos, o que era esperado pelo fato de ser
uma cult
u
ra coletivista.
Fatores de Controle
A Tabela 13, a seguir, mostra quais seriam as crenças relativas aos fatores que poderiam ajudar ou atrapalhar a prática do turismo de
aventura nas próximas férias, na amostra nacional (FCN). A Tabela 13 abaixo mostra os fatores, a definição, a freqüência e um exemplo de ve
r-
balização.
Fator de
Controle
Definição
F%
Exemplo de verbalização
FCN1
Ter dinheiro disponível pode facilitar que se pratique TA
71,64
Não ter dinheiro suficiente
FCN2
Ter
companhia facilitar a prática de TA
28,36
Poder contar com os meus am
i
gos
FCN3
TA gasta muito tempo e que isso pode dificultar a prática de TA
26,87
Eu não tenho tempo suf
i
ciente
85
Fator de
Controle
Definição
F%
Exemplo de verbalização
FCN4
A facilidade de acesso aos locais pode facilitar a pr
á
tica de TA
25,3
7 É muito difícil chegar nos lugares ad
e-
quados
FCN5
Determinadas características climáticas podem facilitar ou dificultar a pr
á
tica
de TA
23,88
Às vezes o clima não permite
FCN6
Uma divulgação mais adequada dos roteiros pode facilitar a prát
i
ca de TA
14,93
Os roteiros são pouco divulg
a
dos
FCN7
Ter uma orientação técnica adequada para a atividade pode facilitar a prát
i
ca
de TA
11,94
Os guias são mal prepar
a
dos
FCN8
A ausência ou presença de equipamentos adequados pode dificultar a prát
i
ca
de TA
11,94
Não
da pra fazer algumas coisas se o
“cara” não tiver o equip
a
mento
FCN9
Uma infra
-
estrutura adequada facilitar ou dificultar a pr
á
tica de TA
11,94
Esses lugares não têm um bom hotel.
FCN10
Não ter uma saúde adequada pode dificultar a prática de TA
8,96
Ter uma saúde adequada
FCN11
Existe uma habilidade mínima pode a prática de TA
7,46
Não sei se conseguiria fazer as ativid
a-
des
FCN12
A disponibilidade de um roteiro pode facilitar ou dificultar a prát
i
ca de TA
7,46
Lugares onde é possível praticar são
mu
i
to
longes.
FCN13
É preciso ter um certo espírito de aventura/ser corajoso para praticar TA
2,99
Ser um espírito aventure
i
ro
FCN14
Necessidade de ficar próximo à família pode dificultar a prática de TA
2,99
Não posso levar meus filhos
FCN15
Não ter a permi
ssão dos pais pode impedir a prática de TA
1,49
Minha mãe não deixaria
FCN16
Gostar de TA é um fator facilitador para a prática desse tipo de turismo
1,49
Tem que gostar
FCN17
Ter medo das atividades dificultaria a prática de TA
1,49
Não pode ter medo
T
abela
13
-
Fatores de controle associado a prática de turismo de aventura na amostra nacional
Na amostra nacional, as crenças que mais se destacam são as relativas a custo e a necessidade de companhia. O primeiro foi levant
a-
do junto com os operadores de agências de turismo e o segundo é uma característica de uma cultura coletivista. Nesse tipo de esporte não a
necessidade da prática em grupo, já que muitas atividades são pensadas para desafiar os limites individuais.
6.2.2.
Fase Estadunidense
86
Crenças sobre o resultado do comportamento
A Tabela 14, a seguir, enumera as crenças sobre o resultado do comportamento na amostra estadunidense (CRE). Igualmente aos
quadros anteriores, estão contidas nesse quadro: a definição das crenças
, sua freqüência e um exemplo de verbalização.
Resultado
do compo
r-
tamento
Definição
F%
Exemplo de verbal
i
zação
CRE1
Durante a pratica turismo de aventura é possível experiênciar momentos excita
n-
tes
50,94
exciting thrills that you often would not
experienc
e otherwise.
CRE2
A prática de TA envolve atividades per
i
gosas
37,74
Danger to ones self
CRE3
O TA é divertido
30,19
Very fun
CRE4
Durante a prática de TA é possível experiênciar coisas novas
26,42
Do something new
CRE5
TA proporciona desafios fís
i
cos
24,53
Physically challenging
CRE6
A prática de TA pode
ou não
proporcionar momentos relaxantes.
22,64
not necessarily a "relaxing" v
a
cation
CRE7
Praticar TA envolve custos elevados
18,87
Costs
CRE8
O TA envolve risco
13,21
Physical danger/risk.
CRE
9
Praticar TA permite escapar do usual
7,55
see and experience new and unusual
things
CRE10
Praticar TA permite manter a forma
7,55
Advantages include staying in shape
CRE11
Quando se pratica TA é possível admirar belos locais na natureza
5,66
appreciat
ing the nat
u
ral beauty of diverse
ecologies
CRE12
O TA propicia ao praticante uma chance de superar os seus m
e
dos
5,66
learning how to go against your fears
CRE13
Quem pratica TA tem uma maior chance de se machucar
3,77
You could get hurt
CRE14
O TA pod
e gerar histórias para se contar aos amigos
3,77
That it would be a good story to tell your
friends about
CRE15
É possível se aprender novas habilidades quando se pratica TA
3,77
knowledge of new sports skills
CRE16
A pratica de TA melhoraria a saúde dos
seus praticantes
3,77
Promoting active leisure time (with ove
r-
all improvement in health)
CRE17
O TA envolve experiência ún
i
cas
3,77
Unique experiences
87
Resultado
do compo
r-
tamento
Definição
F%
Exemplo de verbal
i
zação
CRE18
Boas memórias são criadas quando se pratica TA
3,77
Exciting memories
CRE19
A prática de TA pode afetar negativamente o ambiente
3,77
risk of harming env
i
ronment
CRE20
A prática de TA envolve uma certa falta de conforto
3,77
possibly not quite the same quality of food
or comfort, but that is to be expected
CRE21
Quando se pratica TA há uma maior c
hance de morrer
3,77
You could get hurt or even die
CRE22
É possível conhecer pessoas quando se pratica TA
1,89
meeting new people
CRE23
Quando se pratica TA há uma maior chance de sofre uma exper
i
ência ruim
1,89
to have a bad experi
ence and end up being
more afraid of doing these activities in the
fu
ture
CRE24
A prática de TA pode elevar a ansi
e
dade
1,89
Risk of getting injured and po
s
sibly death,
and anxiety
CRE25
O TA permite que se conheça novas paisagens
1,89
opportunity to see new lan
d
scapes
CRE2
6
Praticar TA aumenta as chances de se fazer novos amigos
1,89
knew friends
CRE27
A prática de TA estimula a economia local
1,89
stimulating the local economy
CRE28
Praticar TA faz bem ao “ego”
1,89
Sort of a ego benefit
CRE29
TA é um tipo de turismo qu
e pe
r
mite evitar multidões de turistas
1,89
Something that not everyone does, and
that would be away from the masses of
other tourists
CRE30
Praticar TA auxilia a cria uma consciência ambiental
1,89
... which might promote env
i
ronmental
concern for such
a
r
eas
CRE31
Durante a prática de TA, existe uma certa dificuldade em lidar com os locais
1,89
locals do not unde
r
stand our needs
CRE32
A prática de TA propicia mai
o
res momentos de medo
1,89
FEAR
Tabela
14
-
Crenças mais salien
tes sobre o resultado do comportamento na amostra estadunidense
É interessante citar, que na amostra estadunidense, as crenças relativas aos resultados do comportamento são semelhantes a aqu
e
las
enco
n
tradas na amostra nacional, destacando
-
se as crenças rel
ativas ao diferente e ao risco/excitação.
88
Referentes normativos
Na Tabela 15
, abaixo, mostra quais as crenças sobre quem seria os principais r
eferentes
n
ormativos na amostra
e
stadunidense (RNE).
Ess
a Tabela
mostra o nome dos referentes, a freqüência um exe
mplo de verbalização.
Referente
Normativo
Definição
F%
Exemplo de verbalização
RNE1
Amigos
54,72
Friends would approve
RNE2
Família e
s
tendida (
relatives
).
52,83
My aunts and uncle
RNE3
Membros do núcleo fam
i
liar (
parents
)
28,30
My parents definitely wo
uld not want me
to do anything too e
x
treme
RNE4
Colegas
16,98
Colleagues
RNE5
Mãe
15,09
My mother
RNE6
Parceiros (namorada, noivo, esposa, etc.).
15,09
My fiance would approve and join in
RNE7
Pares (
peers
)
11,32
My dive buddies
RNE8
Pare
n
tes mais ve
lhos.
11,32
Maybe my Grandma.
RNE9
Pessoas em geral.
9,43
…almost everyone I know would a
p
prove
RNE10
Filhos.
7,55
My 3 sons
RNE11
Crença de que mentores e professores a
provariam a prática de TA pelo indivíduo
3,77
My mentor who is about 35 at the mom
ent
RNE12
Organizações ambientais.
3,77
Zen Peacmaker Order assoc
i
ates.
RNE13
Pess
o
as que se importam com a saúde
3,77
Persons who care about health
RNE14
Membros do sexo oposto poderiam ou não aprovar a prática de TA pelo indiv
í-
duo
3,77
Girls
RNE15
P
raticante de turismo de aventura
1,89
People who practice Adve
n
ture Tourism
RNE16
Os órgãos de turismo do l
o
cal
1,89
Department of tourism of the country in
question
RNE17
Escote
iros
1,89
Boy scouts
RNE18
Indivíduos de mesma idade
1,89
Other people
of my age
RNE19
Estadunidenses/europeus
1,89
Wealth and bored Americans and Europ
e-
ans
Tabela
15
-
Crenças mais salientes sobre os Referentes Normativos na amostra nacional
89
Apesar de as duas crenças mais salientes sobre quem seri
am os referentes normativos na amostra estadunidense serem semelhantes às
aquelas também encontradas na amostra nacional, as semelhanças acabam nesse ponto. A amostra estadunidense apresentou muito mais refere
n-
tes, e eles são grupos muito mais difusos do q
ue aqueles encontrados na amostra nacional.
Fatores de Controle
A Tabela 16, abaixo, mostra quais são as crenças sobre os fatores que poderiam ajudar ou atrapalhar a prática do turismo de aven
tura
nas próximas férias na amostra estadunidense (FCE).
A Tabel
a
abaixo mostra a def
i
nição, a freqüência e um exemplo de verbalização.
Fatores de
controle
Definição
F%
Exemplo de verbaliz
a
ção
FCE1
A prática de TA envolve muitos custos
45,28
If the price to engage in the a
c
tivity was
low
FCE2
Para praticar turismo de
aventura é preciso ter tempo “sobrando”
41,51
having a tight schedule
FCE3
Para se praticar TA é preciso se ter dinheiro “sobrando”
30,19
not having disposable income
FCE4
A prática de TA envolve atividade com um alto nível de perigo, sem segura
n-
ça
24,5
3
if the danger level was low
FCE5
A presença de um grupo de am
i
gos pode ajudar facilitar a prática de TA
24,53
If I have more friends who are willing to
engage in this adve
n
ture
FCE6
A facilidade de acesso a locais onde se pode praticar esse tipo de ati
vidade
pode facilitar a prática de TA
13,21
ease of access
FCE7
Certas características da família poderiam dificultar a prática de TA
13,21
Already having a child of my own di
s-
courages me
FCE8
Ter interesse em praticar pode facilitar a prática de TA
13,2
1
I have no interest at all
FCE9
A proximidade de locais adequ
a
dos pode facilitar a prática de TA
11,32
Location
FCE10
Uma infra
-
estrutura adequada no local pode facilitar ou dificultar a prática de
TA
11,32
Places where the medical infrastru
c
ture
is lim
ited
FCE11
Idade como um fator que pode ajudar ou atrapalhar a prática de TA
11,32
Age
FCE12
A saúde física pode ser um facilitador ou um empecilho para a prát
i
ca de TA
9,43
Physical health
90
Fatores de
controle
Definição
F%
Exemplo de verbaliz
a
ção
FCE13
Um treinamento adequado/inadequado pode facilitar ou difi
cultar a pr
á
tica de
TA
7,55
adequate training for whatever adve
n-
ture I wanted to do
FCE14
Ter medo pode dificultar a prática de TA
5,66
balls (lack of fear),
FCE15
Estar em boas condições físicas (em forma) pode facilitar a prática de TA
5,66
lack of phy
sical condition to partic
i
pate
FCE16
CA estabilidade político
-
econômica do local pode ser um facilitador ou um
empec
i
lho para a prática de TA
3,77
Political stability of a region.
FCE17
O clima como obstáculo à realização de certas tarefas
3,77
certain w
eather not permitting the activ
i-
ties
FCE18
Uma alta quantidade de pessoas no local pode dificultar a prática de TA
3,77
the place being too crowded
FCE19
A sensação de segurança, de que não se vai morrer durante as atividades, c
o-
mo facilit
a
dora da prátic
a
3,77
If there was a somewhat assur
ance that I
wouldn't die
FCE20
Saber que outros já fizerem (e com sucesso) pode facilitar a prát
i
ca de TA
3,77
more and more people successfully
completing the same task you are thin
k-
ing about doing
FCE21
Uma certa gar
antia de que a atividade não prejudicaria o meio ambiente fac
i-
lit
a
ria a prática do TA
3,77
did not damage the env
i
ronment in any
way.
FCE22
Obrigações com trabalho e/ou estudo como empecilhos para a prática de TA
3,77
Sometimes work obligations do not
mak
e it po
s
sible for me to schedule
things
FCE23
A presença de um bom instrutor pode facilitar a pratica de TA
1,89
with a certified instructor
FCE24
Possibilidade de se trazer os filhos como condição para a prática de TA
1,89
I would have to be able to br
ing my son
FCE25
Ter um espírito/humor aventure
i
ro facilitaria a prática de TA
1,89
have an adventurous mood
FCE26
A possibilidade de um choque cultural pode dificultar a pr
á
tica de TA
1,89
… and culture shock
FCE27
Crença de que se houver uma maior pos
sibilidade/facilidade de praticar TA
facilitaria a pr
á
tica do mesmo
1,89
Feasibility
FCE28
Temas da literatura podem f
a
cilitar a prática de TA
1,89
Literature
FCE29
A presença de belezas naturais no local poderia facilitar a prática de TA
1,89
natural be
auty
FCE30
Certas promoções de marketing poderiam facilitar a prática de TA
1,89
A promotion
Tabela
16
-
Fatores de controle associado a prática de turismo de aventura na amostra estadunidense
91
Cabe colocar que as crenças sobre qu
ais seriam os fatores de controle na amostra estadunidense são semelhantes àqueles levant
a
dos
na
a
mostra nacional. Contudo, ele é mais característico dessa cultura, sendo condizente com os fatores já levantados na literatura.
92
6.3.
Discussão
Apesar de o principal objetivo desse estudo ser a obtenção de critérios para a
criação dos itens, ele trouxe alguns dados que merecem ser melhor discutidos, pois contr
i-
buem significativamente para os objetivos deste trabalho no que se refere às diferenças
culturais entre esses dois países e principalmente em relação à utilização de modelos est
a-
dunidenses sem uma análise crítica
Como pôde ser observado, existe uma certa homogeneidade em relação à s
e-
mântica das verbalizações estadunidense e nacional relativas ao resultado do comport
a-
mento. Isso provavelmente se deve a propagandas e filmes, que expõem o indivíduo à i
n-
formações similares sobre o que seria turismo de aventura. Conforme colocado anter
i-
ormente, o próprio turismo de aventura é relativamente padronizado, pois depende de a
s-
pe
ctos da natureza e de segurança. Por isso, essas semelhanças, no que se refere às crenças
sobre o resultado do comportamento, são esperadas. Mesmo assim, houve um tema que
surgiu em mais de 5% das verbalizações na amostra nacional e não apareceu tantas vezes
na amostra estadunidense, que é a utilização da prática do turismo de aventura como um
instr
u
mento de status (contar vantagem).
Como levantado na revisão teórica deste trabalho, o Brasil apresenta uma
cultura mais verticalista do que a dos EUA. Nesse tipo de cultura, existe uma maior nece
s-
sidade de manter o status e as hierarquias; logo, faz sentido que, na cultura nacional, certos
indivíduos pres
tem mais atenção e busquem atributos que sirvam a esse tipo de estrutura de
valores. Contudo, este foi o único tema desta natureza que se destacou na amostra naci
o-
nal, e mesmo na amostra estadunidense surgiu um tema semelhante, mas que foi citado
menos vezes.
A partir do que foi exposto acima, uma escala de atitudes que fosse traduzida
(e retraduzida) provavelmente seria a mais adequada neste estudo, pois, devido à sem
e-
lhança semântica das crenças das duas culturas, uma adequação de ordem lingüística pod
e-
ria trazer bons r
e
sultados.
Em relação às crenças que apresentaram menor homogeneidade, estas foram
aquelas a respeito de quem seriam referentes normativos. Na amostra nacional, os refere
n-
tes são grupos facilmente identificáveis, e até estereótipos surgiram como referentes. na
amostra estadunidense, os grupos são mais difusos. O referente que
talvez melhor exempl
i-
fique essa diferença está entre as verbalizações da amostra estadunidense, onde pessoas
93
em geral” surgiu como um referente, ao passo que na amostra nacional isso não foi sequer
citado, refletindo o fato de que, em culturas individual
istas
-
horizontalistas, os indivíduos se
percebem como mais semelhantes aos demais. Neste tipo de cultura (indi
vidualista
-
horizontalista), as diferenças entre os indivíduos, e até entre os grupos, é tida como mais
difusa do que em culturas coletivistas-
vert
icalistas, onde os grupos são bem definidos, a
s-
sim como os papéis sociais que eles e os indivíduos que os compõem representam. O maior
reflexo disso é que uma escala de normas baseadas em referentes normativos é válida ap
e-
nas na cultura onde foi desenvolvida, pois uma tradução não levaria em conta aspectos
societais e culturais da construção dos relacionamentos e, por isso, não refletiria o mesmo
con
s
truto.
As crenças sobre os fatores de controle também não apresentam uma homog
e-
neidade tão grande quanto as crenças sobre o resultado do comportamento. Contudo, não é
tão heterogenia quanto as crenças sobre os referentes normativos. A principal diferença
está no fato de que, na amostra estadunidense, uma maior preocupação com aspectos
ambientais, pois, conforme apontado na revisão de literatura, um dos critérios que os
estadunidenses levam em conta na hora de escolher um roteiro ou aceitar o preço de um
pacote é a questão ambiental, sendo que eles preferem pagar mais caro se lhes forem ofer
e-
cidas garantias
de que a atividade não irá afetar o meio ambien
te.
No caso de uma escala de controle percebido, a tradução-retradução de uma
escala nacional para ser aplicada nos EUA não abordaria alguns aspectos do construto ne
s-
sa cultura, ao mesmo tempo em que a realização de uma tradução-retradução de um in
s-
trumento baseado nas crenças estadunidense que fosse aplicado no Brasil teria itens que
não refletiriam o construto, entrando como algum tipo de “ruído” na escala. Em ambos os
casos, os resultados obtidos seriam enviesados, o que poderia levar à conclusões inadequ
a-
das sobre os resultados.
Com bases nesses dados, esse estudo confirma a necessidade da criação de in
s-
trumentos específicos (emic) para avaliar um construto universal (etic). Como Van de Vi
j-
ver e Tanzer (1997) colocam, uma mera tradução criaria itens que: representariam uma
parte invariante do construto, representariam apenas uma parcela do construto ou não r
e-
presentariam o construto em pelo menos uma das cult
u
ras.
É importante ressaltar que esse estudo levantou crenças que se encaixam em
cada um dos tipos de itens colocados por esses autores. Assim, a tradução de uma escala
baseada nas crenças sobre o resultado do comportamento levantadas nesse estudo traria
consigo uma boa parcela de itens representando uma parcela invariante do construto nas
94
duas culturas, ao passo que a tradução de uma escala baseada nas crenças sobre os fatores
de controle traria itens que representariam apenas uma parcela do construto. Além disso,
em uma escala baseada nas crenças sobre quem seriam os referentes normativos, os itens
não representar
i
am o construto em pelo menos uma das culturas.
Por fim, a comparação das crenças de cada cultura com relação aos construtos
do modelo levantadas nesse estudo confirma os argumentos de Van de Vijver e Tanzer
(1997), pois foram levantadas diversas diferenças com relação às crenças sobre o objeto
desse estudo que não seriam capturadas por uma tradução ou entrariam como interferência,
por não fazerem parte das crenças originais de cada cultura.
A seguir, será apresentado o Estudo 2 - Survey - que tem como objetivo retr
a-
tar as rel
a
ções entre os diferentes construtos em cada cultura.
95
7.
Estudo 2
“Survey”
O objetivo dessa fase foi coletar dados que permitam comparar como as vari
á-
veis primárias da Teoria do Comportamento Planejado (atitudes, norma subjetiva e contr
o-
le percebido) interagem para formar a intenção de praticar turismo de aventura nas próx
i-
mas férias. Para isso, foi confeccionado um instrumento para cada nação, cada um conte
n-
do cinco escalas: atitudes, normas injuntiva e descritiva, controle sobre o comportamento e
intenção.
7.1.
Metodologia
7.1.1.
Sujeitos
Fase Nacional
Nessa fase, foram utilizados 552 sujeitos, com idades entre 16 e 46 anos (m=
21,5; dp = 3,859). Desses sujeitos, 50.6%
são do s
e
xo feminino; 20.4% possuem o segundo
grau completo, 73.9% possuem graduação incompleta, 2% possuem uma especialização
incompleta, 2,9% possuem um mestrado incompleto e 0.8% possui um doutorado inco
m-
pleto. Além disso, 59,2% praticou alguma modalidade de turismo de aventura pelo m
e-
nos uma vez.
Os sujeitos foram recrutados nos corredores da Universidade de Brasília e no
Parque Sarah Kubitschek. A participação foi volu
n
tária.
Fase Estadunidense
Para essa parte do estudo, foram utilizados 478 sujeitos, com idades entre 17 e
80 anos (m= 34,44; dp = 11.98). Desses sujeitos, 58,7% são do sexo feminino; 3.8% po
s-
suem apenas o “High School” completo, 18.7% estavam cursando o “College”, 36,4% po
s-
suem um “Graduated Degree”, 22% possuem o “Master’s Degree” e 19,1% possuem o
96
PhD. Além disso, 63% praticou alguma modalidade de turismo de aventura pelo menos
uma vez.
Os sujeitos foram recrutados pela Internet, através de um convite (anexo 7) e
n-
viado por e-mails à diversas listas de discussão sobre os mais variados assuntos possíveis,
solicitando colabor
ação na pesquisa.
Para selecionar as listas de e-mails, foi utilizado como critério que elas dever
i-
am ser relativas a algum assunto dentro dos Estados Unidos (e.g. ex-alunos do highschool,
associações de esporte amador de futebol americano, organizadores de feiras de ciên
cias),.
De modo semelhante à primeira fase, foi solicitado que os sujeitos re-enviassem esse e-
mail para outras pessoas, fato que tornou impossível calcular o índ
i
ce de respostas.
O leitor atento percebeu que existe uma diferença entre as médias das idades
nas amostras estadunidense e nacional; entretanto, elas são comparáveis às médias das f
a-
ses qualitativas.
7.1.2.
Procedimentos
Fase Nacional
Nessa fase, foi utilizado um instrumento auto-
aplicáv
el, do tipo lápis e papel.
Os sujeitos eram abordados enquanto realizavam alguma atividade ou pareciam estar esp
e-
rando por algo/alguém, em situações onde preencher a um questionário não fosse desco
n-
fortável (de preferência sentados). Após a abordagem, era entregue o questionário (anexo
s
9 e 10). Este tinha o formato de um livreto, era do tamanho de uma folha de papel A4 e
estava dobrado ao meio, sendo possível, deste modo, entregar um questionário de 4 pág
i-
nas em apenas uma folha.
Fase Estadunidense
Devido
à distância entre os 2 países, não foi possível realizar a coleta dos d
a-
dos do mesmo modo em que foi realizada no Brasil. Para contornar esse problema, foi el
a-
borado um questionário baseado num sistema de preenchimento on-line, no qual o sujeito
só precis
aria clicar com o mouse nas respostas.
97
Trata
-se de um formulário de banco de dados baseado num sistema
PHP/MySQL. À todos os participantes, foi solicitado que respondessem ao questionário,
evitando deixar respostas em branco. Para evitar que pessoas de outros países responde
s-
sem ao questionário, havia um pequeno
script
10
que reconhecia o endereço IP do comput
a-
dor que estava acessando a página. Assim, caso esse endereço não fosse dos EUA, as re
s-
postas eram redirecionadas para um outro banco de dados. Não havia nenhum sistema de
avisos para caso o sujeito não responde
s
se ao questionário, evitando, com isso, “assustar” o
respondente e visando maxim
i
zar a quantidade de respostas.
7.1.3.
Instrumento
No total, cada instrumento continha cinco escalas. As quatro primeiras (atit
u-
des, normas injuntiva e descritiva, e controle sobre o comportamento) foram baseadas nas
crenças mais salientes coletadas na primeira etapa (eliciação). Como critério básico para
todas as amostras, foi escolhido como ponto de corte a freqüência de 5% para que uma
crença fosse considerada na construção dos itens. Na amostra nacional, devido à grande
facilidade de contato com os sujeitos, foram criados dois itens por categoria, visando
a-
branger uma maior parcela do construto. Este procedimento não foi realizado na amostra
estadun
i
dense.
Ambos instrumentos encontram
-
se anexos a esse trabalho
(anexos 8, 9 e 10)
.
Fase Nacional
Atitudes
Como colocado anteriormente, essa escala foi baseada nas crenças relativas
ao resultado do comportamento, coletadas no Estudo 1. Para retirar algumas idiossincras
i-
as, apenas os itens que tiveram uma ocorrência superior a 5% foram mantidos, totalizando
doze categ
o
rias.
Para gerar os itens, cada categoria foi transformada em dois itens, sendo que
um era o título da categoria e o outro era o seu oposto semântico (negativo), gerando um
10
Termo técnico na área
de informática. Refere
-
se a uma pequena série de instruções que o computad
or re
a-
liza quando o script é ativado.
98
total de 24 itens. Este procedimento foi realizado pelo fato de Ajzen (2001, 2002a) apontar
que a melhor maneira de abordar uma maior parte do construto é perguntar sobre seus a
s-
pectos p
ositivos e negativos.
Como os construtos foram avaliados de acordo com a teoria da expectância-
valor, todos eles foram avaliados quanto à probabilidade percebida pelos respondentes de
encontrar as caract
e
rísticas descritas pelos itens quando eles pensam em
praticar turismo de
aventura nas próximas férias (numa escala de 0 a 6), e quanto à avaliação afetiva que eles
fazem dessas mesmas características (numa esc
a
la de
-
3 a +3).
Norma ubjetiva
Para se mensurar a norma subjetiva, foram construídas 2 escalas. Ambas foram
baseadas nas crenças sobre quem seriam os referentes normativos coletados no Estudo 1.
Para retirar algumas idiossincrasias, apenas os itens que tiveram uma ocorrência superior a
5% foram mantidos. No caso da amostra nacional, como todas as categorias apresentaram
uma ocorrência superior a 5% (a menor teve 7,46%), todas foram mant
i
das.
Para gerar os itens, cada categoria foi transformada em 2 itens, sempre col
o-
cando referentes que fossem similares e tendo como base para estabelecer similaridade à
s
verbalizações dos sujeitos. O único referente que gerou apenas um item foi “Mãe”, pela
ausência de um referente similar. Este pr
o
cedimento totalizou em quinze itens.
Componente injuntivo
Como esse construto está sendo avaliado de acordo com a teoria da
expectância
valor, cada item foi avaliado duas vezes. A primeira foi com base no quanto o sujeito pe
r-
cebe que os grupos ou indivíduos levantados no Estudo 1 aprovam que ele realize o co
m-
portamento de praticar turismo de aventura nas próximas férias (numa escala de +3 a -
3).
Em seguida, o sujeito avaliou o quanto ele considera importante a opinião desses grupos ou
pessoas (n
uma escala de 0 a 6).
Componente descritivo
Para essa escala, foi solicitado que o indivíduo indicasse, numa escala de 0 a 6,
o quanto
ele percebia que os mesmos indivíduos ou grupos usados na escala do compone
n-
te injuntivo real
i
zam o comportamento de praticar turismo de aventura.
99
Controle percebido sobre o comportamento
Essa escala foi baseada nas crenças, coletadas no Estudo 1, sobre quais seriam
os fatores que facilitariam ou dificultariam a prática do turismo de aventura. Para se retirar
algumas idiossincrasias, apenas os itens que obtiveram uma ocorrência superior a 5% f
o-
ram mantidos, totalizando em doze categor
i
as.
Do mesmo modo que em atitudes, cada categoria deu origem a 2 itens: um que
representasse o tema da categoria, e o outro, seu oposto semântico (negativo). Esse proc
e-
dimento resultou em 24
i
tens.
Como esse construto foi avaliado de acordo com a teoria da expectância-
valor,
t
odos os itens foram avaliados duas vezes. Na pr
i
meira vez, com relação à probabilidade de
que esses fatores fossem encontrados durante a prática de turismo de aventura (numa esc
a-
la de 0 a 6). Em seguida, esses itens foram avaliados a respeito da percepção do quanto
esses fatores podem facilitar ou dificultar a prática do turismo de aventura. (numa esc
a
la de
-
3 a +3).
Intenção
Apesar dessa escala ter sido pensada para funcionar com apenas três itens, que,
de acordo com Madden, Ellen & Ajzen (2002) e Armitage & Conner (2001), refletiriam
aspectos da intenção (I expect that I will...; I want to...; I intend...), no estudo piloto, os
sujeitos da amostra nacional apontaram dificuldades em entender o “I expect”, que foi de
s-
trinchado em dois itens (“é provável” e
“pretendo”).
Fase Estadunidense
Atitudes
Do mesmo modo que na amostra nacional, essa escala foi baseada nas crenças
relativas aos resultados do comportamento. Para retirar algumas idiossincrasias, apenas os
itens que obtiveram uma freqüência superior a 5% foram mantidos, totalizando doze cat
e-
gorias.
100
Para gerar os itens, foi selecionada uma frase/palavra que melhor resumisse a
categoria, r
e
sultando em 12 itens.
Como os construtos serão avaliados de acordo com a teoria da expectância-
valor, todos eles serão avaliados quanto à probabilidade percebida pelos respondentes de
encontrar as caracterí
s
ticas descritas pelos itens quando eles pensam em praticar turismo de
aventura nas próximas férias (numa escala de 0 a 6), e quanto à avaliação afetiva que eles
fazem
dessas mesmas características (numa esc
a
la de
-
3 a +3).
Norma subjetiva
A construção das escalas para se medir
a
norma subjetiva seguiu um proced
i-
mento similar ao adotado na amostra nacional. Foram construídas duas escalas, ambas b
a-
seadas nas crenças sobre quem seriam os referentes normativos. Para retirar as idiossincr
a-
sias, apenas os itens que obtiveram uma freqüência superior a 5% foram mantidos, total
i-
zando em 10 categorias, que foram transformadas em itens que refletiam quem são os ref
e-
rentes..
Compon
ente injuntivo
Como esse construto está sendo avaliado de acordo com a teoria da expectância
valor, cada item será avaliado duas vezes. Primeiramente, com base no quanto o sujeito
percebe que os grupos ou indivíduos levantados no Estudo 1 aprovam que ele realize o
comportamento de praticar turismo de aventura nas próximas férias (numa escala de +3 a -
3). Em seguida, o sujeito avalia o quanto ele considera importante a opinião desses grupos
ou pessoas (n
u
ma escala de 0 a 6).
Componente descritivo
Para essa escala, foi solicitado que o indivíduo indicasse, numa escala de 0 a 6,
o quanto ele percebia que os mesmos indivíduos ou grupos, usados na escala do comp
o-
nente injuntivo, real
i
zam o comportamento de praticar turismo de aventura..
Controle percebido sobre
o comportamento
101
Do mesmo modo que na amostra nacional, esta escala também é baseada nas
crenças sobre quais seriam os fatores que facilitavam ou dificultavam a realização do co
m-
portamento. Para retirar algumas idiossincrasias, apenas os itens que tiveram uma ocor
n-
cia superior a 5% foram mantidos, totalizando 15 categor
i
as.
Para gerar os itens, foi selecionada uma frase/palavra que melhor resumisse a
categoria, r
e
sultando em 15 itens.
Como esse construto foi avaliado de acordo com a teoria da expectância-
valor,
todos os itens foram avaliados duas vezes. Na primeira vez, com relação à probabilidade
desses fatores serem encontrados durante a prática de turismo de aventura (numa escala de
0 a 6). Em seguida, esses itens foram avaliados a respeito da percepção do quanto esses
fatores podem facilitar ou dificultar a prática do turismo de aventura. (numa escala de -3 a
+3).
Intenção
Esse construto foi avaliado com três itens (I expect that I will...; I want to...; I
intend...), que de acordo com Madden, Ellen
& A
j
zen (2002) e Armitage & Conner (2001),
refletiriam aspectos importantes da inte
n
ção.
7.2.
Resultados
7.2.1.
Limpeza do Banco de dados
Fase Nacional
Visando traçar uma estratégia para lidar com os casos omissos, primeiramente
foram identificados todos os questionários que tivessem 10% ou mais de respostas em
branco. Isso significa que, nas escalas de atitude e controle percebido (ambas com 24
i-
tens), foram identificados todos os questionários que deixaram pelo menos cinco respostas
em branco (não respondendo a nenhuma das duas avaliações) ou deixaram de responder
pelo menos dois itens (não respondendo a dois pares de avaliações). Para norma injuntiva
(15 itens), foram identific
ados os questionários que tivessem pelo menos três respostas em
102
branco ou pelo menos um item sem responder. com relação à variável dependente desse
estudo (intenção 4 itens), foram identificados todos os questionários que tivessem pelo
menos um item deixado em branco.
O objetivo desse procedimento foi verificar se houve uma grande quantidade
de questionários com casos omissos, o que poderia dificultar as análises. A Tabela 17
,
a-
baixo, indica o resultado de
s
se procedimento.
At
i
tudes
Norma
Inju
n
tiva
Norma
Descrit
i
va
Controle
Perc
e
bido
Intenção
Atit
u
des
4 1
Norma
Injunt
iva
Norma
Descr
i
tiva
Controle
Perceb
i
do
1 5
Inte
n
ção
Tabela
17
-
Comparativo entre os questionários eliminados por excesso de casos omissos.
Conforme pode ser observado neste Quadro, o procedimento citado anter
io
r-
mente levou à eliminação de apenas nove questionários, o que corresponde a uma redução
de 1,63%, que foram eliminados das próximas análises por não representarem um número
significativo de questionários. Este procedimento não eliminou todos os casos omi
ssos,
apenas aqueles que deixaram de responder 10% ou mais dos itens de cada escala. Uma
melhor análise dos casos omissos será realizada post
e
riormente.
Com relação às observações desviantes (
outlayers
), primeiramente todos os e
s-
cores foram convertidos ao
ScoreZ.
Tabachnick e Fidel (2000) apontam que, uma vez que
essa transformação seja realizada, os escores que estiverem fora do intervalo +3,29 e -
3,29
serão observações desviantes em potencial. A Tabela abaixo mostra a distribuição desses
casos desviantes
em c
ada uma das variáveis.
Atitudes
Norma
Inju
n
tiva
Norma De
s-
crit
i
va
Controle
Perc
e
bido
Intenção
Atit
u
des
5
Norma
Inju
n
tiva
3
Norma
Descr
i
tiva
1
Controle
Perceb
i
do
1 2
Inte
n
ção
Tabela
18
-
Distribuição
das observações desviantes na amostra nacional
103
Como pode ser observado na Tabela 18, esse procedimento resultou em onze
observações que podem ser consideradas como desviantes. Com exceção de normas inju
n-
tivas, que apresentou apenas um item abaixo de
-
3,29
, todas as outras observações desvia
n-
tes foram acima de 3,29. Houve apenas um caso com observações desviantes em mais de
uma escala (Controle Percebido e Atit
u
des).
Devido ao fato desses onze questionários representarem apenas 1,99% dos s
u-
jeitos da amostra original e 2,03% da amostra após a eliminação dos questionários com
uma quantidade excessiva de casos omissos, eles também foram eliminados das próximas
análises.
Após a realização de todos esses procedimentos, foram identificados mais 20
question
ários que tinham pelo menos uma resposta em branco. Para estabelecer a melhor
estratégia para lidar com esses casos omissos, o banco foi analisado com relação à distrib
u-
ição aleatória dos destes. Seguindo as recomendações de Hair, Anderson, Tathm e Black
(2005),
foi criada uma nova variável para cada variável onde houvesse pelo menos um
item em branco, tendo por objetivo separar o banco em 2 grupos (os que responderam dos
que não responderam em cada uma das variáveis). A lógica por trás dessa técnica é que,
caso
haja uma diferença significativa entre a média dos grupos nas outras var
i
áveis que não
aquela que está sendo analisada, os casos omissos podem não estar distribuídos aleatori
a-
mente, indicando um viés no instrumento de medida. Felizmente, esse não é o caso
desta
amostra, pois nenhuma das médias foi significativamente diferente em nenhum dos gr
u
pos.
Uma vez verificado que os casos omissos estão distribuídos aleatoriamente, é
possível a utilização de estratégias para preencher tais casos. A estratégia mais popular é a
substituição pela média (Tabachnick & Fidell, 2000), que possui a vantagem de não red
u-
zir a média final da escala. Contudo, esse procedimento reduz a variância e a magnitude
das correlações entre as variáveis. Para lidar com os casos omissos, esse estudo escolheu o
EM (expectation maximization), que é um procedimento estatístico baseado em duas et
a-
pas. Na primeira expectativa é encontrada uma expectativa condicional de qual seria o
valor omisso, tendo como base a atual estimativa dos parâmetros, tais como correla
ções.
Na segunda etapa – maximização – é calculada a maior probabilidade de qual seria o valor
omisso se ele tivesse sido respondido. Este processo é repetido até que seja obtida uma
convergência entre a primeira e a segunda etapa. A principal vantagem do EM está no fato
de que este método evitar a construção de matrizes impossíveis, além não permitir que a
solução pareça ser melhor do que realmente é, e produzir estimativas mais realistas de v
a-
riância (Tabachnick & Fidell, 2000; Hair, An
derson, Tathm & Black, 2005).
104
Visando identificar as observações desviantes multivariadas, primeiramente foi
calculada a distância mahalanobis. Utilizando como ponte de corte
2
= 18.467 (p = .001,
com 4 graus de liberdade - Tabachnick & Fidell, 2000; Hair, Anderson, Tathm & Black,
2005), foram identificados 2 sujeitos, que representam 0,36% da amostra original e 0,38%
da amostra após as outras eliminações. A eliminação desses dois questionários, em conju
n-
to as eliminações anteriores, levou a uma redução total de 3,99% da amostra, resultando
em 530 questionários a serem analisados.
Após essas mudanças, foi possível calcular a normalidade de cada uma das e
s-
calas
. Na Tabela 19
podem
ser encontrados os valores de Skewness e Kurtosis (já divid
i-
dos pelo erro). De acordo com Byrne e Campbell (1999), escores de Skewness e Kurtosis
indicam uma distribuição normal quando estiverem no intervalo entre +1,5 e -1,5. Confo
r-
me
observado, todas as variáveis apresentam uma distribuição razoavelmente normal, não
sendo necessária nenhuma transformação para realizar as análises de
s
se estudo.
Escala
Skewness
Kurtosis
Atitudes
-
1,192
-0
,025
Normas injuntivas
0
,445
0
,007
Normas desc
ritivas
-0
,043
-0
,26
Controle percebido
0
,807
-0
,372
Intenção
-0
,561
-
1,387
Tabela
19
-
Skewness e Kurtosis para as variáveis atitude, normas injuntiva e descritiva, controle pe
r-
cebido e intenção, na amostra nacional
Uma vez que estes procedimentos foram realizados, foi calculada a confiabil
i-
dade das escalas. A Tabela 20 mostra a correlação item-total dos itens da escala de atit
u-
de,após a retirada de alguns itens para melhorar a confiabilidade da escala, reduzindo a
quantidade de
i
tens de 24 para 19. Essa escala apresentou um alfa de ,755.
105
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se
o item for
de
letado
atit
u
de01
0
,356
0
,742
atit
u
de02
0
,609
0
,721
atit
u
de05
0
,470
0
,731
atit
u
de06
0
,582
0
,720
atit
u
de08
0
,621
0
,719
atit
u
de09
-0
,015
0
,763
atit
u
de10
0
,246
0
,750
atit
u
de11
0
,140
0
,755
atit
u
de12
0
,018
0
,762
atit
u
de13
0
,463
0
,732
atit
u
de14
0
,275
0
,749
atit
u
de15
0
,210
0
,753
atit
u
de16
0
,487
0
,730
atit
u
de18
0
,219
0
,760
atit
u
de19
0
,229
0
,752
atit
u
de20
0
,224
0
,753
a
tit
u
de22
0
,106
0
,758
atit
u
de23
0
,440
0
,735
atit
u
de24
0
,123
0
,756
Tabela
20
-
Correlação item
-
total para os itens de atitude na amostra nacional
A Tabela 21
,
a seguir, mostra o mesmo procedimento para a escala de normas
injuntiva
s. No caso dessa escala, não foi preciso excluir itens. O alfa de normas injuntivas
ficou em ,750.
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se
o item for
de
letado
N.Injunt
i
va01
0
,443
0
,728
N.Injunt
i
va02
0
,424
0
,729
N.Injunt
i
va03
0
,421
0
,730
N.Inju
nt
i
va04
0
,408
0
,731
N.Injunt
i
va05
0
,301
0
,743
N.Injunt
i
va06
0
,397
0
,732
N.Injunt
i
va07
0
,074
0
,755
N.Injunt
i
va08
0
,160
0
,750
N.Injunt
i
va09
0
,471
0
,726
N.Injunt
i
va10
0
,400
0
,733
N.Injunt
i
va11
0
,381
0
,736
N.Injunt
i
va12
0
,408
0
,731
N.Injunt
i
va13
0
,376
0
,736
N.Injunt
i
va14
0
,087
0
,753
N.Injunt
i
va15
0
,430
0
,730
Tabela
21
-
Correlação item
-
total para os itens de norma injuntiva
na amostra nacional
106
A Tabela 22, abaixo, mostra as correlações item –total para norma descritiva.
O alfa obtido nessa escala foi de 0,713, e mesmo a retirada de algum item não melhoraria
sua consistência inte
r
na.
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se
o item for
de
letado
N. Descritiva01
0
,239
0
,706
N. Descritiva02
0
,293
0
,701
N. Descritiva03
0
,260
0
,704
N. Descritiva04
0
,324
0
,698
N. Descritiva05
0
,291
0
,704
N. Descritiva06
0
,081
0
,720
N. Descritiva07
0
,200
0
,710
N. Descritiva08
0
,172
0
,713
N. Descritiva09
0
,467
0
,684
N. Descritiva10
0
,429
0
,684
N. Descritiva11
0
,523
0
,672
N. Descritiv
a12
0
,351
0
,695
N. Descritiva13
0
,417
0
,685
N. Descritiva14
0
,315
0
,699
N. Descritiva15
0
,336
0
,696
Tabela
22
-
Correlação item
-
total para os itens de norma descritiva na amostra nacional
A escala de controle percebido apresentou um alfa de 0,719. Assim como no
r-
mas descritivas, a retirada de algum item não melhora significativamente a consistência
interna da escala
, conforme pode ser visto na Tabela 21
.
107
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
de
letado
Controle Perceb
i
do01
0
,164
0
,718
Controle Perceb
i
do02
0
,122
0
,720
Controle Perceb
i
do03
0
,172
0
,717
Controle Perceb
i
do04
0
,336
0
,704
Controle Perceb
i
do05
0
,291
0
,708
Controle Perceb
i
do06
0
,344
0
,703
Controle Perceb
i
do07
0
,342
0
,704
Controle
Perceb
i
do08
0
,204
0
,714
Controle Perceb
i
do09
0
,280
0
,709
Controle Perceb
i
do10
0
,327
0
,704
Controle Perceb
i
do11
0
,319
0
,706
Controle Perceb
i
do12
0
,278
0
,709
Controle Perceb
i
do13
0
,150
0
,717
Controle Perceb
i
do14
0
,318
0
,706
Controle Perceb
i
do15
0
,180
0
,717
Controle Perceb
i
do16
0
,272
0
,709
Controle Perceb
i
do17
0
,241
0
,711
Controle Perceb
i
do18
0
,218
0
,713
Controle Perceb
i
do19
0
,253
0
,711
Controle Perceb
i
do20
0
,166
0
,718
Controle Perceb
i
do21
0
,249
0
,711
Controle Perceb
i
do22
0
,319
0
,705
Controle Pe
rceb
i
do23
0
,366
0
,701
Controle Perceb
i
do24
0
,374
0
,701
Tabela
23
-
Correlação item
-
total para os itens de controle percebido na amostra nacional
A melhor consistência interna foi obtida na escala de intenção, com um alfa de
0,899
, co
n
forme ilustra
a Tabela 24
.
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
Intenção01
,711
,892
Intenção02
,803
,859
Intenção03
,760
,875
Intenção04
,829
,849
Tabela
24
-
correlação item
-
total para o
s itens de intenção na amostra nacional
108
Intenção
comportamental
Controle
Percebido
Norma
Descritiva
Norma Injuntiva
Atitudes
Intenção
comportamental
Controle
Percebido
Norma
Descritiva Norma Injuntiva Atitudes
Figura
7 -
Matriz de Scatters entre todas as variáveis, na amostra nacional
Com relação à linearidade, a Figura 7 uma matriz de
scat
t
ers
mostra que
todas as relações bivariadas desse estudo apresentam uma estrutura linear. Os dados apr
e-
sentados indicam que o banco de dados é adequado à realização dos testes estatísticos sel
e-
cionados para esse trabalho.
Agora, serão apresentados quais foram os procedimentos utilizados para a li
m-
peza do
banco de dados da amostra estadun
i
dense.
Fase Estadunidense
Para lidar com os casos omissos, foi utilizado o mesmo procedimento que na
amostra nacional, ou seja, Identificar e eliminar os questionários onde havia pelo menos
10% de casos omissos em qualquer uma das escalas, desde que esse número não fosse si
g-
nificativamente alto. Com este procedimento, foram eliminados 6 sujeitos, que deixaram
praticamente todos os itens em branco. Com exceção desses questionários, não foi obse
r-
vado mais nenhum outro questionário com algum caso omisso, lembrando que a fase est
a-
dunidense foi coletada via formulário eletrônico e havia menos itens, o que sem dúvida
109
influenciou nesse procedimento. O total da amostra ficou em 472, uma redução de 1,255%
em relação à amostra origin
al.
Para identificar observações desviantes univariadas, todas as variáveis foram
convertidas ao
scoreZ,
do mesmo modo que na amostra na
cional. Com essa transformação,
foi identificado apenas um questionário que satisfez a condição de estar fora do interva
lo
+
3,29 (Z = -
3,86
escala de atitudes), fazendo com que este fosse eliminado das análises
subseqüentes.
As observações desviantes multivariadas foram identificas com base na distâ
n-
cia mahalanobis, e foi utilizado como ponto de corte o valor de
2
= 18.467 (p = .001, com
4 graus de liberdade). Devido ao fato de nenhum dos questionários se encaixar nessa co
n-
dição, não houve nenhuma eliminação. No banco de dados estadunidense foram elimin
a-
dos apenas sete questionários, totalizando uma redução de 1,46% em relação à amostra
original.
Com relação à normalidade, a Tabela 25, a seguir, mostra que todos os valores
de skewness e kurtosis (já divididos pelo erro padrão) estão dentro do limite da normalid
a-
de (
+
1.5).
Escala
Skewness
Kurtosis
Atitudes
-
1,248
0
,075
Normas injuntivas
0
,24
0 0
,841
Normas descritivas
0
,698
-0
,355
Controle percebido
0
,294
-0
,243
Intenção
1,226
-
1,455
Tabela
25
-
Skewness e Kurtosis para as variáveis atitude, normas injuntiva e descritiva, controle pe
r-
cebido e
intenção, na amostra nacional
A Tabela 26, abaixo, mostra a correlação item-total para os itens da escala de
atitude na amostra estadunidense. Essa escala apresentou um alfa de ,842 e, apesar de ter
orig
i
nalmente 12 itens, um item foi retirado para melhora
r a consistência interna.
110
Itens
Correlação
I
tem
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
Atit
u
de01
0
,660
0
,819
Atit
u
de02
0
,540
0
,827
Atit
u
de03
0
,285
0
,847
Atit
u
de04
0
,605
0
,824
Atit
u
de05
0
,656
0
,816
Atit
u
de06
0
,222
0
,851
Atit
u
de08
0
,544
0
,827
Atit
u
de09
0
,641
0
,819
Atit
u
de10
0
,509
0
,830
Atit
u
de11
0
,479
0
,833
Atit
u
de12
0
,626
0
,819
Tabela
26
-
correlação item
-
total para os itens de atitude na amostra estadunidense, após a retirada de
itens.
A Tabela 27, a seguir, mostra a correlação item-total para os itens da escala de
normas i
n
juntivas (a = 862).
Itens
Correlação Item
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
N. Inju
n
tiva01
0
,529
0
,853
N. Inju
n
tiva02
0
,790
0
,829
N. Inju
n
tiva03
0
,732
0
,834
N. Inju
n
tiva
04
0
,455
0
,858
N. Inju
n
tiva05
0
,733
0
,834
N. Inju
n
tiva06
0
,528
0
,856
N. Inju
n
tiva07
0
,453
0
,858
N. Inju
n
tiva08
0
,643
0
,844
N. Inju
n
tiva09
0
,556
0
,852
N. Inju
n
tiva10
0
,374
0
,864
Tabela
27
-
correlação item
-
total para os itens
de norma injuntiva na amostra estadunidense
Na próxima Tabela estão as correlações item-total para os itens de norma de
s-
critiva (a = ,828).
111
Itens
Correlação Item
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
N. Descrit
i
va01
0
,535
0
,810
N. Descrit
i
va02
0
,661
0
,797
N. Descrit
i
va03
0
,617
0
,803
N. Descrit
i
va04
0
,496
0
,814
N. Descrit
i
va05
0
,567
0
,808
N. Descrit
i
va0
6 0
,430
0
,827
N. Descrit
i
va07
0
,517
0
,812
N. Descrit
i
va08
0
,571
0
,810
N. Descrit
i
va09
0
,542
0
,811
N. Descrit
i
va10
0
,377
0
,831
Tabela
28
-
correlação item
-
total para os itens de norma descritiva na amostra estadunidense
Na Tabela 29, a seguir, pode-se observar as correlações item-total para os itens
de controle percebido (a = ,763). Para melhorar a consistência interna, um dos itens foi
eliminado da esc
a
la, resultando em 14 itens.
Itens
Correlação Item
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
Controle Perceb
i
do02
0
,396
0
,747
Controle Perceb
i
do03
0
,360
0
,753
Controle Perceb
i
do04
0
,115
0
,770
Controle Perceb
i
do05
0
,351
0
,751
Controle Perceb
i
do06
0
,272
0
,758
Controle Perceb
i
do07
0
,129
0
,769
Controle Perceb
i
do08
0
,455
0
,741
Controle Perceb
i
do09
0
,467
0
,740
Controle Perceb
i
do10
0
,414
0
,745
Controle
Perceb
i
do11
0
,524
0
,735
Controle Perceb
i
do12
0
,542
0
,731
Controle Perceb
i
do13
0
,488
0
,738
Controle Perceb
i
do14
0
,165
0
,767
Controle Perceb
i
do15
0
,536
0
,732
Tabela
29
-
correlação item
-
total para os itens de controle percebido
na amostra estadunidense, após
retirada de itens
E, por ultimo, na Tabela 30 estão as correlações item-total para os itens de i
n-
tenção (
a = ,956).
Itens
Correlação Item
-
total
Alfa de Cronbac
h
se o item for
delet
a
do
Intenção01
0
,912
0
,931
Intenção02
0
,867
0
,966
Intenção03
0
,943
0
,908
Tabela
30
-
correlação item
-
total para os itens de intenção na amostra estadunidense
112
Com relação à linearidade, a Figura 8, a seguir, mostra as relações bivariadas
com todas as variáveis do modelo. Como pode ser observado, todas as variáveis aprese
n-
tam relações line
a
res com as variáveis do modelo.
Intenção
comportamental
Controle
Percebido
Norma
Descritiva
Norma Injuntiva
Atitudes
Intenção
comportamental
Controle
Percebido
Norma
Descritiva Norma Injuntiva Atitudes
Figura
8 -
Matriz de Scatters entre todas as variáveis, na amostra estadunidense
Uma vez que os bancos de dados nacional e esta
dunidense satisfazem as cond
i-
ções para a realização das análises, os resultados podem, então, começar a ser apresent
a-
dos.
7.2.2.
Correlações Múltiplas no modelo
A tabela a seguir mostra as correlações bivariadas entre os construtos na amo
s-
tra nacional e n
a amostra e
s
tadunidense.
A Tabela 31 mostra que, na amostra nacional, Norma Injuntiva tem a melhor
correlação com intenção, explicando individualmente 11,49%(R
2
) da variância de intenção
e indicando que, no caso da amostra naci
o
nal, esse tipo de norma a ma
is saliente.
113
A
TIT
U
DE
N.
I
NJUNT
I
VA
N.
D
ESCRIT
I-
VA
CON
TROLE
P
ERC
E
BIDO
A
TITUDE
1
N.
I
NJU
N
TIVA
0
,460***
1
N.
DES
CRITIVA
0
,008
0
,180***
1
C
ONTROLE
P
ERC
E-
BI
DO
0
,299***
0
,195***
0
,073
1
AMOSTRA
NACIONAL
I
NTENÇÃO
0
,252***
0
,339***
0
,266***
0
,033
A
TITUDE
1
N.
I
NJU
N
TIVA
0
,299***
1
N.
DES
CRITIVA
0
,185***
0
,474***
1
C
ONTROLE
P
ERC
E-
BI
DO
0
,355***
0
,359***
0
,344***
1
AMOSTRA
ESTADUNIDENSE
I
NTENÇÃO
0
,445***
0,
180***
0
,205***
0
,301***
Tabela
31
-
Correlações bivaria
das entre as variáveis do modelo na amostra nacional e estadunide
n-
se(** Corr
e
lação significante com p < 0.01; *** p < 0.001
bicaldal)
Em seguida, as melhores correlações são de Norma Descritiva, com 7,07%, e
atitudes, com 6,35%. Controle percebido não se correlacionou com intenção, apenas com
atitudes e Norma Injuntiva. Norma Descritiva se correlacionou apenas com intenção e
Norma injuntiva, que se correlacionou significativamente com todas as variáveis. Todas as
correlações são positivas e significat
i
vas
, com p <,001.
na amostra estadunidense, a correlação entre atitude e intenção é a de maior
magnit
ude, explicando 19,8% da relação, seguida por controle percebido (9,06%), Norma
Descritiva (4,2%) e Norma Injuntiva (3,24%). Todas as variáveis se correlacionaram pos
i-
tivamente entre si.
Diferentemente da amostra nacional, a Norma Descritiva aparentemente seria a
mais salie
n
te mas, mesmo assim, sua correlação é bem inferior à de atitude.
7.2.3.
Teste das Hipóteses
Nas próximas sessões, serão realizadas análises mais adequadas e específicas
para o te
s
te das hipóteses.
H
1
Na amostra nacional,
a
norma subjetiva ter
á
um peso maior na pr
e-
dição de i
n
tenção do que atitudes.
114
Para testar esta hipótese, foi realizada uma regressão múltipla hierárquica entre
as variáveis atitude, normas injuntiva e descritiva (como variáveis independentes), e inte
n-
ção (como variável depe
n
dente). A Tabela
3
2, a seguir, sumariza os resultados obtidos.
Intervalo de conf
i-
ança
do valore de ß
(95%)
Bloco
Variáveis
Inferior
Superior
Sig.
R
2
Aj.
Mudança
no R
2
Significância
da Mudança
1
Atitude
0
,252
0,135
0
,407
0
,001
0,059
0,064
<
0
,000
Atitude
0
,122
-0,017
0
,280
0
,083
2
N.Injuntiva
0
,283
0,159
0
,462
0
,001
0,119
0,063
<
0
,000
Atitude
0
,143
0,008
0
,299
0
,038
N.Injuntiva
0
,233
0,105
0
,407
0
,001
3
N. Descr
i-
tiva
0
,223
0,102
0
,350
0
,001
0,163
0,048
<
0
,000
Atitude
0
,165
0,027
0
,327
0
,021
N.Injuntiva
0
,238
0,110
0
,412
0
,001
N. Descr
i-
tiva
0
,227
0,107
0
,355
0
,000
4
Controle
Perc
e
bido
-
0
,079
-0,227
0
,051
0
,215
0,165
0,006
0
,215
Tabela
32
-
Regressão múltipla hierárquica das variáveis do modelo na amostra nacional
Como pode ser observado, a norma injuntiva foi a me
lhor preditora de intenção
na amostra nacional. Essa variável é a melhor preditora em todos os Blocos que entrou,
sendo responsável por um aumento de 6,3% no R
2
(p < 0,000). Esses dados indicam que a
norma injuntiva seria mais saliente, apesar de que o efeito de normas descritivas é muito
próximo, havendo uma certa equiv
a
lência.
O segundo Bloco reflete a maioria dos estudos da Teoria da Ação Racional,
possuindo apenas atitudes e norma injuntiva como variáveis independentes. Nesse Bloco, a
norma injuntiva ap
rese
ntou um beta 231,96% vezes maior = 0,283; p < 0,000) do que
atitudes = 0,122; p < 0,083). É interessante notar o beta de atitudes é apenas margina
l-
mente significativo. A queda no valor tanto do beta de atitudes quanto no valor do beta de
norma injuntiva (menor do que na correlação bivariada) reflete o fenômeno da redundâ
n-
cia, onde a parcimônia da explicação é prejudicada pelo fato das duas variáveis compart
i-
lharem uma parcela da variância explicada (Abbad & Torres, 2002). Esse fenômeno é e
s-
perado
e previsto no modelo, pois este coloca que as variáveis seriam correlacionadas e
n-
tre si (Ajzen, 1991).
O terceiro Bloco reflete uma versão mais adequada da norma subjetiva (por i
n-
cluir tanto a norma injuntiva quanto a descritiva). Nele, os dois tipos de norma apresentam
115
betas superiores ao de atitudes. Para facilitar o entendimento dos dados, foi realizada mais
uma regressão hierárquica, onde norma injuntiva e descritiva entram juntas no primeiro
Bloco (representando, assim, a norma subjetiva) e atitudes, no segundo. A Tabela 33, a
seguir, ilustra os resu
l
tados.
Intervalo de co
n-
fia
n
ça
do valore de ß
(95%)
Bloco
Variáveis
ß
Inferior
Superior
Sig.
R
2
Aj.
Mudança
no R
2
Significância
da Mudança
N.Injuntiva
0
,301
0
,196
0
,465
0
,001
1
N.Descrit
i-
va
0
,212
0
,090
0
,339
0
,001
0,151
0,151
<
0,000
N.Injuntiva
0
,233
0
,105
0
,407
0
,001
N.Descrit
i-
va
0
,223
0
,102
0
,350
0
,001
2
Atitude
0
,143
0
,008
0
,299
0
,038
0,163
0,016
0
,038
Tabela
33
-
Regressão múltipla hierárquica entre atitudes e norma subjetiva, na amostra nacional
Apesar da norma descritiva
se correlacionar significativamente com normas i
n-
juntivas (Tabela
3
1), a Tabela
3
3 mostra que a r
e
dundância gerada por isso não é suficiente
para diminuir o poder preditivo da norma injuntiva a ponto deste construto não ser mais o
melhor preditor. Essa tabela indica novamente que, na amostra nacional, a norma injuntiva
seria mais saliente, mas não nega a importância da norma descritiva. O segundo Bloco
mostra que o acréscimo de atitude eleva o R
2
em apenas 0,16 (p = 0,038), que pode ser
considerado muito ba
ixo, se comparado à magnitude do R
2
causado p
ela
norma su
b
jetiva.
A diminuição nos valores dos betas, em comparação com os “R’s” das correl
a-
ções bivariadas, é devido ao fenômeno da redundância, um fenômeno esperado nesse
modelo.
As tabelas 31, 32 e 33 apresentam dados que suportam a Hipótese 1, onde
a
norma subjetiva teriam um maior poder explicativo do que atitudes. De fato, qualquer tipo
de norma, injuntiva ou descritiva, apr
e
senta
sozinha
um maior poder explicativo do que
atitudes.
H
1a
Na amostr
a nacional,
a
norma subjetiva ser
á
capaz de explicar uma maior
variância em intenções do que na amostra e
s
tadunidense.
Um indício para a aceitação dessa Hipótese está nos R’s obtidos nas correl
a-
ções bivariadas (Tabela
3
1). Na amostra nacional, as normas i
njuntiva e descritiva aprese
n-
116
tam R’s maiores do que o de atitude (0,339 e 0,266 contra 0,252), que, apesar se correl
a-
cionar significativamente com normas injuntivas, não se correlaciona o suficiente para d
i-
minuir o poder preditivo desta variável (por meio da redundância) a ponto desse construto
não ser mais o melhor preditor. Já atitudes e normas descritivas não se correla
cionam.
Analisando as equações de regressão pode-se ver que, enquanto na amostra n
a-
ci
onal (Tabela 33) a norma subjetiva (descritiva e injuntiva) foram capazes de explicar
apenas
15,1% da variância, na amostra estadunidense (Tabela 35) elas foram capazes de
explicar apenas 5,1% (aproximadame
nte 3 vezes menos).
Portanto, os dados acima fornecem indícios para aceitar a Hip
ó
tese 1 e 1
a
.
H
2
Na
amostra estadunidense, atitudes terão um peso maior na pred
i-
ção de i
n
tenção do que a norma subjetiva.
A título de comparação, é interessante notar que o R
2
da mostra estadunidense
obtido é de
0,214 ( p <
0
,000), enquanto o R
2
da amostra nacional foi de
0,
165.
Na
T
abela
34, o Bloco 4 coloca atitudes como o melhor preditor de intenção, e
todos os tipos normas não apresentam sequer uma única relação significativa com a vari
á-
vel dependente, mesmo com todas apresentando uma correlação bivariada significativa.
Em parte, esse fato também pode ser explicado pelo fenômeno da redundância, assim c
o-
mo na amostra nacional.
É interessante notar que, apesar da norma injuntiva e descritiva apresentarem
uma correlação bivariada positiva e significativa com intenção, isso não ocorre na correl
a-
ção múltipla, se
n
do que nos Blocos 2 e 3 o intervalo de confiança
(95%)
nas duas variáveis
incluem o valor 0 e em nenhum dos casos as variáveis são significativas ou fazem alguma
contribuição significativa na ma
g
nitude do R
2
.
117
Intervalo de conf
i-
ança
do valore de ß
(95%)
B
loco
Variáveis
ß
Inferior
Superior
Sig
R
2
Aj.
Mudança
no R
2
Significância
da Mudança
1
Atitude
0
,445
0
,321
0
,567
0
,001
0,195
0
,198
0
,000
Atitude
0
,430
0
,300
0
,558
0
,001
2
N.Injuntiva
0
,051
-0
,078
0
,180
0
,435
0,193
0
,002
0
,435
Atitude
0
,424
0
,294
0
,551
0
,001
N.Injuntiva
-
0
,009
-0
,152
0
,134
0
,904
3
N. Descr
i-
tiva
0
,131
-0
,009
0
,270
0
,066
0,202
0
,013
0
,066
Atitude
0
,387
0
,253
0
,518
0
,001
N.Injuntiva
-
0
,034
-0
,179
0
,110
0
,640
N.
Descr
i-
tiva
0
,101
-0
,040
0
,242
0
,161
4
Controle
Perc
e
bido
0
,141
0
,003
0
,288
0
,046
0,214
0
,015
0
,046
Tabela
34
-
Regressão múltipla hierárquica das variáveis do modelo na amostra estadunidense
Do mesmo modo que na amostra nacional, foi realizada mais uma análise de
regressão, utilizando a norma subjetiva no primeiro Bloco e atitudes no segundo. A Tabela
3
5, a seguir, ilustra esses resu
l
tados.
Intervalo de co
n-
fia
n
ça
do valore de ß
(95%)
Bloco
Variáveis
ß
Inferior
Superior
Sig
R
2
Aj.
Mudança
no R
2
Significância
da Mudança
N.Injuntiva
0
,170
-0,046
0
,259
0
,170
1
N.Descrit
i-
va
0
,154
0,002
0
,307
0
,048
0,051
0,051
0
,005
N.Injuntiva
-
0
,009
-0,152
0
,134
0
,904
N.Descrit
i-
va
0
,131
-0,009
0
,270
0
,066
2
Atitude
0
,424
0,294
0
,551
0
,001
0,202
0,163
0
,000
Tabela
35
-
Regressão múltipla hierárquica entre atitudes e
a
norma subjetiva na amostra estadun
i-
dense
Apesar de atitude se correlacionar significativamente com a norma injuntiva e
descrit
iva (Tabela 31), as T
abelas
34 e 35 mostram que essa redundância não é suficiente
para diminuir o seu poder pr
e
ditivo a ponto desse construto não ser mais o melhor preditor.
118
Como pode ser observado, a mudança no R
2
causada pelo acréscimo de atit
u-
des (
0,
163; p < 0,000) é maior do que o próprio R
2
obtido no Bloco 1 (0,051; p = 0
,005),
fornecendo indícios que suportam a Hipótese 2.
H
2a
Na amostra estadunidense, atitudes serão capazes de explicar uma maior
variância em intenções do que na amostra n
a
cional.
Assim como na amostra nacional, o primeiro indício para a aceitação dessa h
i-
pótese está nos R’s obtidos nas correlações bivariadas. Na amostra estadunidense, atitudes
apresentam um R muito maior do que na amostra nacional (
Tabela
31
0,445 contra
0,252) e explicam 19,8%, enquanto na amostra nacional, explicam apenas 6,35% (aprox
i-
madame
n
te 3 vezes menos).
Em segundo lugar, temos os resultados obtidos nas equações de regressão (T
a-
belas
35
, 34, 33 e
32
), onde atitudes apresentam um poder explicativo muito baixo na
a-
mostra nacional e acrescentam muito pouco na magnitude do R
2
, ao passo que, na amostra
estadunidense, essa variável é tida como a principal preditora.
Os dados acima, portanto, fornecem indícios para aceitar a Hipótese 2
a
.
H
3
Controle percebido sobre o comportamento
explicará uma maior
parcela da variância na amostra Estadun
i
dense do que na Nacional.
Observando a Tabela
31
, pode-se verificar que controle percebido é capaz de
explicar uma parcela muito maior de variância na amostra estadunidense (9,06%) do que
na nacional (0,1%), sendo que esta ultima não foi significativa (p = 0,622). Quando col
o-
cado em conjunto com as outras variáveis (Tabelas
32
e
34
) na amostra nacional, o contr
o-
le percebido não acrescenta predição e seu beta não é significativo = -0,079; p = 0,215),
enquanto na amostra estadunidense ele entra como um preditor significativo (mudança no
R
2
de
0
,015; p =
0,046).
Esses dados indicam que controle percebido é capaz de explicar uma maior v
a-
riância na amostra estadunidense do que na naci
o
nal, apoiando a
Hipótese 3.
119
Intervalo de confiança de
valores de
ß
(95%)
Amo
s
tra
Bloco
Variáveis
ß
Inferior
Superior
Sig
R
2
Aj.
Mudança
no R
2
Significâ
n-
cia
da Mudança
1
Atitude
0
,252
0
,135
0
,407
0
,001
0
,059
0
,064
<
0,000
Atitude
0
,122
-0
,017
0
,280
0
,083
2
N.Injun
tiva
0
,283
0
,159
0
,462
0
,001
0
,119
0
,063
<
0,000
Atitude
0
,143
0
,008
0
,299
0
,038
N.Injuntiva
0
,233
0
,105
0
,407
0
,001
3
N. Descrit
i
va
0
,223
0
,102
0
,350
0
,001
0
,163
0
,048
<
0,000
Atitude
0
,165
0
,027
0
,327
0
,021
N.Injuntiva
0
,238
0
,110
0
,412
0
,001
N. Descrit
i
va
0
,227
0
,107
0
,355
0
,000
Nacional
4
Controle
Perc
e
bido
-0
,079
-0
,227
0
,051
0
,215
0
,165
0
,006
0
,215
1
Atitude
0
,445
0
,321
0
,567
0
,001
0
,195
0
,198
0
,000
Atitude
0
,430
0
,300
0
,558
0
,001
2
N.Injuntiva
0
,051
-0
,0
78
0
,180
0
,435
0
,193
0
,002
0
,435
Atitude
0
,424
0
,294
0
,551
0
,001
N.Injuntiva
-0
,009
-0
,152
0
,134
0
,904
3
N. Descritiva
0
,131
-0
,009
0
,270
0
,066
0
,202
0
,013
0
,066
Atitude
0
,387
0
,253
0
,518
0
,001
N.Injuntiva
-0
,034
-0
,179
0
,110
0
,640
N. Descritiva
0
,101
-0
,040
0
,242
0
,161
Estadunidense
4
Controle
Perc
e
bido
0
,141
0
,003
0
,288
0
,046
0
,214
0
,015
0
,046
Tabela
36
-
Comparação das regressões hierárquicas nas duas amostras
120
7.3.
Discussão
Todas as hipóteses desse estudo foram confir
madas.
indicações de grandes diferenças na formação da intenção na cultura est
a-
dunidense e nacional. O principal aspecto dessas diferenças foi o fato da influência norm
a-
tiva (norma subjetiva) ter tido um efeito muito maior na formação da intenção na am
ostra
nacional do que atitudes, ao pa
s
so que, na amostra estadunidense, ocorreu o oposto.
Como colocado anteriormente, o Brasil é um país moderadamente coletivi
s-
ta
-verticalista (apesar de também ser considerado como proto-
individualista). Isso significa
que a sua população valoriza mais a opinião do grupo e prefere manter uma coesão entre
seus membros, buscando pelo menos manter a sensação de que seus membros são sem
e-
lhantes entre si (a não ser em situações onde a subsistência e sustento estejam envolvid
as).
Além disso, também significa que os membros da cultura brasileira acreditam que deve
haver uma certa ordem e hierarquia dentro dos grupos, geralmente mantida pelas normas
sociais presentes naquele co
n
texto.
O Brasil apresenta também uma cultura menos assertiva e com papéis sociais
mais rígidos do que os dos EUA. Apresenta também uma maior evitação de incertezas,
buscando, assim, um maior suporte nas normas e padrões culturais. A revisão da literatura
também apontou que o Brasil valoriza menos a autonomia do que os EUA, principalmente
a a
u
tonomia intelectual.
Desta forma, as características apresentadas acima propiciam que haja uma
maior influência de normas sobre atitudes na formação da intenção da amostra nacional,
conforme visto nos resultados. Sendo assim, essa pesquisa indicou que, na formação da
intenção de se praticar ou não turismo de aventura nas próximas férias, o brasileiro apr
e-
senta uma preocupação muito maior com a opinião dos membros de seus grupos e com a
imagem que passam pra eles do que c
om os atributos do local
.
Os dados indicaram também que o suporte social fornecido pelas normas é um
determinante muito mais forte do que atitudes na formação da intenção da amostra naci
o-
nal do que da amostra estadunidense. De fato, manter uma atitude positiva ou negativa
apresentou po
u
co impacto na formação da intenção na amostra nacional.
O brasileiro, por apresentar uma construção de
self
mais interdependente, tem
como um dos aspectos motivacionais mais importantes o reconhecimento e a aceitação.
121
Deste
modo, valorizar os aspectos normativos do comportamento a ser realizado auxilia na
obtenção de aceitação e status dentro do grupo ao qual ele faz parte, ou gostaria de fazer.
Num tipo de cultura como a brasileira mais coletivista e verticalista uma maior pre
o-
cupação com si mesmo do que com o grupo e a busca de uma satisfação mais imediata no
próprio resultado do compo
r
tamento muitas vezes são tidas como algo negativo, passivo de
sanções sociais que podem inclusive afetar a auto-estima e auto-
categoriz
ação (Greenfield
et. al., 2004).
A influência do grupo é tanta, que até mesmo a capacidade de individualmente
realizar esse comportamento (controle percebido) não é levada em consideração pela
a-
mo
stra nacional. Assim, uma medida que levasse em consideração ou fosse baseada em
aspectos do grupo (i.e. eficácia coletiva) provavelmente apresentaria um desempenho m
e-
lhor. na amostra estadunidense, foi identificado que uma preocupação muito maior
com os atributos que serão encontrados no local e com a capac
idade individual
percebida
de se realizar o comportamento, apresentando pouca ou nenhuma preocupação com os
membros de seus gru
pos.
Na amostra nacional, uma análise maior da influência normativa indica que
normas injuntivas apresentam uma influência um pouco maior do que descritivas. Como
colocado por Cialdini e Trost (1998) e Cialdini e Goldstein (2004), normas injuntivas estão
mais associ
adas à motivação de pertencer a um grupo, sendo que é neste tipo de norma que
estão as regras de comportamento mais
gerais. Os dados apo
ntam que uma maior aceitação
normativa leva a uma maior intenção; logo, a prática dessa atividade além de não sofrer
sanções sociais provavelmente leva a algum tipo de status dentro do grupo, através da
realização de um comportamento tido como aceitável.
As normas descritivas foram o segundo melhor preditor na amostra nacional.
Esse tipo de norma tem uma maior probabilidade de ser mais forte em situações onde exi
s-
ta uma maior motivação em “emitir a resposta correta” e “fazer a coisa certa”. Diferent
e-
mente de normas injuntivas, onde a conformidade implica em uma certa mudança de atit
u-
de (Cialdini & Trost, 1998; Cialdini & Goldstein, 2004; Prentice & Miller, 1996), a co
n-
formidade a esse tipo de norma é local, sendo apenas um compor
tame
nto a ser emitido
numa determinada situação. Por isso, não é surpresa o fato de que, na amostra nacional,
atitudes se correlacionem com a norma injuntiva, mas não apresentem uma correlação si
g-
nificativa com a norma descritiva. As normas descritivas dão pistas sobre o que fazer, e
refletem apenas aquilo que a maioria está fazendo naquele momento, naquele contexto.
Portanto, serão salientes se houver uma motivação em realizar um comportamento co
n-
1
22
siderado certo por um grupo que o indivíduo se identifique, ou seja, se auto-categorize c
o-
mo semelhante.
Conforme já colocado, o brasileiro tem a motivação de se perceber como sem
e-
lhante aos membros do seu endo-grupo. Logo, a percepção de que seus membros praticam
ou não
a atividade afetará a sua intenção na mes
ma direção, sem necessariamente afetar
a sua atitude sobre o comportamento, uma vez que esta constância não é importante para
coletivistas. Isso ocorre em contraste com os EUA, que têm a constância cognitiva como
uma das principais características na cognição do dia-a-dia (Anderson, 2005). Nesta amo
s-
tra, um mero comportamento de lazer não foi capaz de fazer com que essa necessidade por
constância cognitiva fosse subjugada pela conformidade a um grupo, pois, para isso, seria
preciso um comportamento cuja a não realização trouxesse uma imagem negativa, na qual
ele não se identificaria (i.e. roubar).
E seja por este dado, ou seja pelo fato de que dados em pesquisas em amostras
estadunidenses indicam que seus membros se atentam mais e memorizam melhor as info
r-
mações condizentes com suas atitudes (Best, 1992), é possível acreditar que os indivíduos
com uma atitude positiva percebam que os referentes normativos praticam mais o turismo
de
aventura do que aqueles com uma atitude negativa. Já a amostra nacional não d
epende
dessa constância, e a sua percepção é mais focada nas expectativas do outro. Logo, mesmo
uma elevada atitude (negativa ou positiva) tenderia a influenciar menos a percepção do
quanto os referentes normativos praticam ou não o comportamento em questã
o.
Ainda com relação aos EUA, é interessante ressaltar que os dados foram co
n-
dizentes com os resultados obtidos em outras pesquisas, onde apenas atitudes e controle
percebido foram bons preditores de comportamento (Armitage & Conner, 2001). Apesar
de normas apresentarem uma correlação bivariada significativa com intenção, na equação
de regressão apenas a norma descritiva apresentou um resultado que fosse significativo,
mas extremamente inferior à magnitude apresentada por atitudes. Nesse caso, a correlação
bivariada entre normas e intenção que praticamente desaparece na regressão provave
l-
mente é resultado da prevista correlação entre as principais variáveis do modelo (atit
u-
des, normas e controle percebido). Seja por constância cognitiva ou por qualquer outra
variável não analisada nesse estudo, esses fatores acabaram levando à uma cova
riância
entre as variáveis, gerando a redundância apontada pelos resultados. Nesse caso o da
amostra estadunidense a variável principal foi atitude, e com base em outros estudos s
o-
bre atitudes e memória na formação da atitude e da intenção, bem como na tomada de d
e-
cisão (e.g. Best, 1992; Forgas, 1995; Anderson, 2005), é possível considerar que o efeito
123
das outras atitudes na intenção é o resultado do efeito de atitudes na interpretação da real
i-
dade (tanto da aprovação social, quanto dos recursos di
s
poníveis).
com relação ao controle percebido do comportamento, essa variável foi bem
correlacionada com intenção apenas na amostra estadunidense, conforme havia sido pr
e-
vi
s
to. A idéia por trás desses resultados é que devido à relação do controle percebido com a
auto
-eficácia e pelo fato da medida utilizada não conseguir levantar aspectos grupais e c
o-
letivos da eficácia, a relação ente esse construto e intenção seria significativa apenas na
amostra estadunidense. Infelizmente, não é possível afirmar com certeza que uma medida
de eficácia grupal/coletiva realmente se correlaciona com intenção, sendo esta apenas uma
hipótese plausível que deve ser investigada em outros estudos.
Os dados obtidos nesse estudo apontam para diferenças no modo como a inte
n-
ção é formada nas duas amostras. Esse estudo argumenta que essas diferenças são o efeito
da cultura na cognição desses indivíduos e nos próprios grupos a que eles pertencem. Dif
e-
ren
ças, estas, que ocorrem tanto na percepção do objeto quanto nos próprios processos
envolvidos na tomada de decisão. Os resultados indicam ainda que intervenções e estrat
é-
gias de comunicação destinadas à amostras nacionais devem ser primeiro analisadas com
base nas características da população.
Uma intervenção baseada em uma estratégia que funcionou numa determinada
cultura (e.g. uma propaganda) não apresentaria os mesmo resultados numa outra, represe
n-
tando um gasto desnecessário de tempo e dinheiro. Por exemplo, uma propaganda que visa
atrair mais público a um parque onde seja possível a prática de turismo de aventura, me
s-
mo que mostre as atrações e atributos deste, terá um menor impacto do que uma outra pr
o-
paganda que mostre a prática dessas atividades por pessoas que sejam semelhantes àquelas
que se pretende atrair, e que deixe pelo menos implícito a aprovação dos grupos que o p
ú-
blico alvo considera impo
r
tante.
Os resultados desse estudo indicam que os achados na área de psicologia tran
s-
cultural podem servir como uma boa heurística na predição do comportamento e pens
a-
mento.
A comparação entre culturas forneceu os critérios para as elaborações das hipóteses
desse estudo, ajudando tanto na compreensão do fenômeno quanto na predição dos result
a-
dos.
A psicologia nacional carece de mais estudos comparando os antecedentes da
realização do comportamento. A utilização de mod
e
los importados pode levar a conclusões
inadequadas, seja por se basear numa teoria que seja específica de uma cultura (cuja gen
e-
124
ralização para o Brasil não seria válida), seja por utilizar instrumentos que não foram d
e-
senvolvidos com base no funcioname
n
to da nossa população.
O Estudo 1 trouxe exemplos de que algumas escalas não são culturalmente
e-
quivale
ntes. Mesmo procedimentos como a tradução-retradução e a padronização inter-
item não seriam capazes de corrigir as falhas que surgiriam nesse estudo, caso fosse util
i-
zado a tradução de alguma das versões dos instrumentos. Até mesmo o uso de um grupo de
referência poderia ser inadequado, pois essa técnica partiria do princípio que os grupos se
conhecem.
O Estudo 2 trouxe indícios de que a formação da intenção na cultura brasileira
não obedece às mesmas regras que a cultura estadunidense. Enquanto os resultados na
a-
mostra nacional sugerem que a formação da intenção no Brasil é mais guiada por normas
do que atitudes (fato ignorado em diversos trabalhos e intervenções realizados no Brasil),
na cultura estadunidense ela é pr
e
dominantemente baseada em atitudes.
Esse trabalho apontou para a necessidade da realização de outros estudos, não
apenas relativos à formação da intenção, mas que comparem como certos processos oco
r-
rem no Brasil e nos países onde os modelos foram originalmente desenvolvidos. Essa
comparação pode auxiliar no desenvolvimento da psicologia sócio-cognitiva nacional e
facilitar tanto a atuação do profissional quanto a própria compreensão que se tem do bras
i-
leiro.
125
8. C
omentários Finais
Apesar dos bons resultados desse trabalho, existem certas dificuldades relativas
à generalização dos resultados. A primeira, e mais evidente, é com relação à coleta de d
a-
dos. Apesar de na etapa qualitativa (Estudo 1 Survey) os procedimentos terem sido os
mesmos nas duas culturas, isso não ocorreu na etapa quantitativa (Estudo 2). Nesta etapa, a
coleta da amostra nacional foi feita com lápis e papel, havendo um aplicador que incent
i-
vava os sujeitos que não queriam responder a colaborar com a pesquisa, enquanto na amo
s-
tra estadunidense houve apenas um convite solicitando a participação dos sujeitos na pe
s-
quisa.
Entretanto, Birnbaum (2004) comparou estudos que analisavam se havia alg
u-
ma diferença significativa entre estudos que utilizavam amostras “presenciais” e “virtuais”
e encontrou que ambas as amostras tendem a chegar a conclusões semelhantes. No entanto,
c
onforme o comportamento sofre mais sanções sociais (e.g. preconceito e discriminação), a
anonimidade fornecida pela
Internet
parece afetar a resposta, fornecendo respostas muitas
vezes diferentes das que seriam dadas ao vivo. Felizmente, esse não é o caso desse estudo,
uma vez que não existe uma forte sanção social com relação à prática de turismo de ave
n-
tura que seja comparável à realização de um comportamento como discriminar um grupo
de minoria ou outros tipos de comportamentos tidos como anti
-
sociais.
Outra limitação relevante está no fato desse estudo utilizar apenas um modelo
para estudar a formação da intenção. Para as conclusões levantadas nesse estudo serem
generalizadas com uma maior segurança, é necessário que se chegue a conclusões sem
e-
lhantes m
esmo com a utiliz
a
ção de outros modelos e metodologias.
A diferença na média das idades é outro fator que prejudica os dados, princ
i-
palmente pelo fato de existirem pesquisas que indicam haver um certo efeito das variáveis
demográficas nos construtos que balizaram a formulação das hipóteses desse trabalho. Por
exemplo, autores como Long, Ziller e Henderson (1966), Gouveia e Clemente (2000) e
Freeman (1997) apontam para uma relação positiva entre idade e individualismo. No caso
desse estudo, isso implicaria em um viés justamente nos argumentos que embasam a hip
ó-
tese, pois a amostra estadunidense é mais individualista, e é justamente a amostra mais
velha, Assim, a diferença entre a importância de atitudes nas duas amostras pode ter sofr
i-
do efeito dessa variável, gerando um outro obstáculo para a generalização dos resultados
do e
s
tudo.
126
Como última limitação para a generalização do estudo há o fato de que apenas
um comportamento foi analisado: um objeto de lazer realizado num contexto específico. É
possível, desta forma, que em outros comportamentos as diferenças defendidas aqui não
ocorram. Neste sentido, é importante lembrar que o Brasil pode ser conceitualizado (ta
m-
bém) como uma cultura proto-individualista, o que significa que, em situações onde o su
s-
tento está envolvido, o indivíduo passa a ter um funcionamento mais individualista (Tria
n-
dis, 1995). Por exemplo, num comportamento onde o sustento esteja envolvido (e.g. co
m-
prometimento organizacional), é provável que a intenção dos brasileiros não seja tão gui
a-
da
por normas. Este fato traz consigo a necessidade da replicação desse estudo com dive
r-
sos outros objetos que ocorram em várias esferas do dia-a-dia, para que se possa mapear o
funcionamento da formação da intenção do brasileiro.
Apesar de todas as limitaçõe
s apresentadas, esse estudo trouxe dados que apo
n-
tam para a necessidade de se realizar mais estudos a respeito de como ocorre a tomada de
decisão do brasileiro, pois esta não seria igual e provavelmente não teria os mesmos pr
o-
cessos realizados na cultura estadunidense. Esse estudo trouxe também algumas evidências
de que a formação da intenção não é tão dependente de atitudes, e sim de normas sociais.
Existiram outras variáveis? Qual o processo pelo qual as informações são julgadas? Que
tipos de informação são levados em consideração? Essas perguntas precisam ser feitas e
respondidas.
Os resultados dessa pesquisa possuem diversas aplicações. A primeira e mais
óbvia
é a criação de estratégias de comunicação que tenham como objetivo aumentar o
número de praticantes de turismo de aventura ou a aumentar a freqüência dos que prat
i-
cam. Para isso, uma estratégia válida seria a criação de uma comunicação persuasiva bas
e-
ada nos achados desse trabalho. Ajzen (1992) coloca que esse tipo de comunicação é bas
e-
ada numa mensagem com 3 componentes: (1) uma posição defendida, (2) argumentos s
o-
bre a posição defendida e (3) evidências factuais que maximizariam o poder dos argume
n-
tos. Nesse caso, a posição defendida seria a prática do turismo de aventura. os argume
n-
tos
– no caso do Brasil – devem focar aspectos normativos, tais como aceitação de refere
n-
tes, ou seja, pessoas semelhantes ao público alvo praticando o turismo de aventura. As e
s-
tratégias de focar aspectos do local, as atividades em si e outros atributos seriam
adequ
a
dos
à culturas como as do EUA, e podem não apresentar um resultado adequado na cultura
brasileira. Quanto ao terceiro componente, podem ser utilizadas imagens das pessoas prat
i-
cando, depoimentos ou alguma outra coisa que max
i
mizasse os efeitos dos a
rgumentos.
127
Estratégias semelhantes podem ser utilizadas para outros objetos, como carros,
viagens, videogames etc. Desta forma, propagandas e estratégias de marketing destinadas
ao público nacional podem ter a sua eficiência melhorada se forem embasadas em arg
u-
mentos normativos. Até mesmo certos tipos de treinamentos e estratégias que visam m
u-
danças organizacionais podem alcançar seus objetivos se levarem em conta aspectos no
r-
mativos.
Contudo, esse trabalho não nega o efeito de uma argumentação baseadas e
m
a-
tributos que possam melhorar a atitude, apenas a
ponta que argumentos de cunho normativo
podem ser mais eficientes. É importante lembrar que uma propaganda com enfoque norm
a-
tivo d
e
ve focar tanto o aspecto injuntivo quanto descritivo, conforme apontado por Cialdini
(2003), pois ,caso contrário, ela pode perder a sua efic
á
cia.
Por fim, esse trabalho trouxe indícios de que a formação da intenção na cultura
brasileira apresenta aspectos bem diferentes da cultura estadunidense, de onde diversos
modelos são importados, muitas vezes sem muitos critérios. Entretanto, a generalização
desses resultados depende da replicação sistemática desse estudo com outros modelos e
outros objetos. Deste modo, será possível mapear em que situações a intenção é mais ou
menos influenciada por atitude, normas ou controle percebido, e com isso montar um co
r-
po teórico capaz de fornecer indícios mais adequados para a predição da intenção e do pr
ó-
prio co
mportamento humano na nossa cultura.
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-
31
142
143
Anexo 1. Convite para
participação do Estudo 1
– Fase nacional
144
click here to english version/clique aqui para versão em inglês
Caro Amigo, Colega, Professor ou Parente,
Estou enviando esse e
-
mail para solicitar a sua participação em um projeto de
pesquisa o qual
é parte da coleta de dados para o meu mestrado em psicologia na
Universidade de Brasília.
Um dos objetivos dessa pesquisa é identificar de que modo as pessoas decidem
como passar suas próximas férias. Para isto, estou pedindo a sua colaboração
para preenc
her um pequeno questionário "on
-
line" relacionado com o tema: "T
u-
rismo de Aventura".
Eu preciso que aqueles que respondam esse questionário NÃO SEJAM estuda
n-
tes de psicologia, NEM psicólogos.
Caso você se enquadre nessa descrição, por favor clique no link
abaixo para
a-
cessar o questionário. Se possível, eu gostaria que, após responder ao question
á-
rio, você enviasse essa solicitação para colegas, amigos, ou parentes.
Caso você não se enquadre nessa descrição, eu gostaria que você enviasse esse
e-
mail para se
us amigos, colegas e parentes. Novamente, eu seria muito grato.
Você achará o questionário muito fácil de ser respondido, e o tempo necessário
não é superior a 10 minutos.
Muito obrigado pela sua colaboração
Clique aqui para ir ao questionário
Atenciosamente,
Hugo Rodrigues
Psicólogo
-
Principal pesquisador
CRP
-
10841/01
Universidade de Brasília
-
UnB
Brasília, DF -
Brasil
Group Consuma
-
Pesquisa em Comportamento do Consumidor
145
Anexo 2. Convite para
participação do Estudo 1
– Fase Estadunidense
146
Clique aqui para a versão em português/Click here to portugues version
Dear Colleague, Professor, Relative or Friend,
I am sending this e
-
mail
to request your participation in a research project,
which is part of the data collection for my graduate degree in Consumer Beha
v-
ior.
One of the objectives of this research is to identify how people decide on a pa
r-
ticular way to spend his or hers next va
cation, that is, Adventure Tourism. Thus,
I am asking for your collaboration in order to answer a brief online questionnaire
addressing this matter. I need respondents that are NOT psychology students
NOR psychologists.
If you fit in this description, plea
se click on the link below to access the que
s-
tionnaire. If possible, I would really appreciate if after responding the questio
n-
naire, you could send this invitation for research collaboration along with the
link to colleagues, friends or relatives.
If you
do not fit in this description, I would like to ask you to send this e
-
mail for
yours friends, colleagues and relatives. Again I will be very grateful.
You will find that the questionnaire is quite easy to be answered, and that the
time needed to respond t
o all questions is no longer than 10 minutes.
Thanks a lot for your collaboration
Click here to go to the questionnaire
Sincerely,
Hugo Rodrigues
Social Psychologist
-
Principal Researcher
University of Brasilia
-
UnB
Brasília, DF -
Brazil
Group Consuma
-
Research in Consumer Behavior
147
Anexo 3. Instrumento
Nacional - Estudo 1
148
Turismo de Aventura
Uma das modalidades de turismo que mais cresce no mundo é o turimo de aventura. Nessa
modalida
de, o turista procura por atividades que irão trazer emoções fortes, exitação e "
a-
drenalina", atr
a
vés da prática de atividades conhecidas como "radicais", tais como: rafting
(descer rios em botes), escalada, bunggie jumping, mergulho, montain bike (andar d
e bic
i-
cleta em terreno montanhoso e/ou acidentado) entre outras.
Mantendo essa definição de turismo de aventura em mente, por favor leia as questões aba
i-
xo e de a resposta apropriada a cada questão no espaço apropriado:
Quais são as vantagens de realiza
r turismo de aventura nas suas próximas férias?
Quais são as desvantagens de realizar turismo de aventura nas sua próximas férias?
Na sua percepção, existe mais alguma coisa que você associa com realizar turismo de
a-
ventura nas suas próximas férias?
----
----------------------------------------------------------------------------
Existe algum indivíduo ou grupos que aprovariam a realização de turismo de aventura nas
suas pr
ó
ximas férias?
Existe algum indivíduo ou grupos que desaprovariam a realização de
turismo de aventura
nas suas próximas férias?
Existe qualquer outro tipo de indivíduo ou grupo que vem à sua mente quando você pensa
em real
i
zar turismo de aventura nas suas próximas férias?
----------------------------------------------------------------
----------------
Quais fatores ou circuntâncias poderiam facilitar a realização de turismo de aventura nas
suas pr
ó
ximas férias?
Quais fatores ou circuntâncias poderiam dificultar a realização de turismo de aventura nas
suas pr
ó
ximas férias?
Existe algu
m outro assunto que vem à mente quando você pensa sobre a dificuldade de
realizar t
u
rismo de aventura nas suas próximas férias?
--------------------------------------------------------------------------------
Dados Demográficos
Idade ____ Anos
Sexo
( )feminino ( ) masculino
Escolaridade ( )Primeiro Grau ( )Segundo Grau ( )Graduação ( )Especialização ( )Me
s-
trado
( )Doutor
a
do
Você esta atualmente empregado? ( )Sim ( )Não
País onde você nasceu
País de residência
Ja realizou tu
rismo de aventura? ( )Sim ( )Não
149
Anexo 4. Instrumento
Nacional - Estudo 1 (s-
creenshot)
150
151
Anexo 5. Instrumento
Estadunidense - Estudo
1
152
Adventure Tourism
One of the tourism modalities that have the biggest growth in the whole world is the A
d-
venture Tourism. In this
modality, the tourist looks for activities that bring then strong
emotions and excitement, through the practice of activities called “extreme” (such as raf
t-
ing, climbing mountains, bunggie jumping, diving, mountain bike and so fourth).
Keeping this defin
ition of Adventure Tourism in mind, please read the following questions,
and give your answer in the appropriate space:
What do you believe would be the advantages of engaging in adventure tourism during
your next vacation?
What do you believe would be t
he disadvantages of engaging in adventure tourism during
your next vacation?
Is there anything else you associate with your perception of engaging in adventure tourism
during your next vacation?
-----------------------------------------------------------
---------------------
Are there any individuals or groups who would approve of you engaging in adventure tou
r-
ism in your next vacations?
Are there any individuals or groups who would disapprove of you engaging in adventure
tourism during your next vacatio
n?
Are there any other individuals or groups who come to mind when you think about enga
g-
ing adve
n
ture tourism in your next vacations?
--------------------------------------------------------------------------------
What factors or circumstances would e
nable or encourage you to engage in adventure tou
r-
ism du
r
ing your next vacation?
What factors or circumstances would make it difficult or discourage you to engage in a
d-
venture tourism during your next vacation?
Are there any other issues that come to mind
when you think about the difficulty of enga
g-
ing in adventure tourism in your next vacations?
--------------------------------------------------------------------------------
Demographics
Age ____years
Gender ( )female ( )male
Education ( )E
lementary School ( )High School ( )College or Undergraduate Degreee (
)Grad
u
ate Degree ( )Masters Degree ( )Ph.D
Are you currently employed? ( )yes ( )no
Country where you were born
Country of Residence
Already engage in Adventure tourism?
( )Yes ( )No
153
Anexo 6. Instrumento
Estadunidense - Estudo
1 (screenshot)
154
155
Anexo 7. Convite para
participação no Estudo 2
– Fase Estadunidense
156
Hello
I am sending this e
-
mail in order to invite you to participate in a
brief survey about adventure tourism
(a.k
.
a.
outdoor activities)
,which is part of a research project that is one of the requirements
to achieve my master ’s degree in social psychology at the Unive
r-
sity of Brasilia
– Brazil
M
y name is
Hugo Rodrigues
, and thi
s research is about how pe
o-
ple from two different national cultures do to decide how to spend
or not
their vacation in a particular way. In this case, Adve
n-
ture tou
r
ism.
To help me in this endeavor all that you need is to go to the link
below and answe
r a
brief questionnaire
in the link bellow
http://www.psybr.web.br.com/turismoave1.htm
It´s not necessary for you to have ex
perienced or even to like
Extreme Sports in order to understand or answer
this que
s-
tionnaire
. Yet, you participation is extremely important!
If you have any more interest in my research you can fo
und more
inform
a
tion in
this site
or asking directly to me
I would like to ask you to forward this invitation to any people that
you know
Your collaboration will help the development of the psychological
science in Brazil
Thank you all
Sincerely,
Hugo Rodrigues
Social Psychologist
-
Principal Researcher
University of Brasilia
-
UnB
Brasília, DF -
Brazil
Group Consuma
-
Research in Consumer Behavior
157
Anexo 8. Instrumento
nacional - Estudo 2
158
Anexo 9. Instrumento
estadunidense Estudo
2
159
Anexo 10. Instrumento
Estadunidense Estudo
2 (screenshot)
160
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