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depende da produtiva para integrar o ciclo da reprodução do capital
291
. Talvez se possa falar em
uma transferência da estrutura industrial para o setor de serviços ou de uma composição, mas
não em substituição da base industrial pela de bens e serviços.
As inovações tecnológicas criam e recriam novos horizontes na organização da
produção material da sociedade, criando, conseqüentemente, novas formas de relação com o
trabalho e com o tempo. Entretanto, até agora não se pode falar em desaparecimento da classe
assalariada, pois o sistema está organizado em bases materiais híbridas, complexas e diferentes
das anteriores, onde o proletariado não se encaixa mais no perfil do operário clássico, mas que
também não desapareceu, talvez só tenha tomado novas formas na luta de classes.
As novas tecnologias ainda não viabilizaram o fim da sociedade do trabalho e
tampouco a superação da sociedade capitalista por outra forma objetiva de sociabilidade
emancipada, pelo contrário, assiste-se cotidianamente a potencialização do trabalho alienado na
totalidade do modo de sociabilidade capitalista
292
. Talvez o proletariado seja uma classe em
constante transformação e expansão, não só porque a base produtiva industrial ainda existe como
também porque a migração do proletariado para outros setores, como o de serviços, acompanha o
processo de intensificação da precariedade do trabalho.
291
Segundo Marx: “A própria circulação é somente um momento determinado da troca, ou ainda, é a troca considerada em sua
totalidade. [...] A troca aparece como independente junto à produção e indiferente em relação a ela, na última etapa, quando o
produto é trocado, de imediato, para o consumo. Mas, primeiro, não existe troca sem divisão de trabalho, quer natural, quer como
resultado histórico; segundo, a troca privada supõe a produção privada; terceiro, a intensidade da troca, do mesmo modo que sua
extensão e tipo, são determinadas pelo desenvolvimento e articulação da produção. [...] A troca aparece, assim, em todos os seus
momentos diretamente compreendida na produção ou por ela determinada”. MARX, K. Para a crítica da economia política. In: Os
Pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999. p. 38.
292
Outra discussão que surgiu no campo das novas tecnologias e que deve ser aprofundada é a proposta por Lazzarato, Negri,
Hardt e Gorz, onde a evolução do setor de bens e serviços teria tomado impulso com a tecnologia de comunicação e constituído
um novo tipo de subjetividade capaz de superar as contradições do modo de sociabilidade capitalista antes de suplantar
completamente sua base produtiva. As crises atuais do modo de produção seriam reflexos de um período de transição para o modo
de produção comunista, que em si, já existiria subjetivamente como “estilo de vida” na medida em que trabalho produtivo e
improdutivo teriam se convertido em uma forma genérica chamada pelos autores de “trabalho imaterial”. A discussão é complexa
e não há espaço para debatê-la no escopo deste trabalho, mas vale ressaltar que sua crítica foi realizada por Lessa, que afirma que
os “delírios” do trabalho imaterial seriam a deturpação de categorias objetivas como trabalho, trabalho abstrato, produtivo e
improdutivo, que identificariam capital e sociedade, transferindo o plano da superação para o político-subjetivo, o que justificaria
a crise atual do capital, a inevitabilidade de uma ordem social comunista já em curso e a não necessidade de uma ruptura material
com a lógica capitalista, portanto, a não necessidade de uma revolução. Para aprofundar o debate vejam-se LAZZARATO, M.;
NEGRI, A. Trabalho imaterial. Formas de vida e produção de subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, HARDT, M.; NEGRI,
A. Império. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Record, 2001, GORZ, A. O Imaterial. Conhecimento, valor e capital. São Paulo:
Annablume, 2005 e LESSA, S. Para além de Marx? Crítica da teoria do trabalho imaterial. São Paulo: Xamã, 2005.