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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
A EXPERIÊNCIA E A PEDAGOGIA QUE NÓS SURDOS QUEREMOS
Tese de doutorado apresentada ao
Programa de Pós – Graduação em Educação da
Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Orientador Prof. Dr. Carlos Bernardo Skliar
Wilson de Oliveira Miranda
Porto Alegre, 2007
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Livros Grátis
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO (CIP)
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AGRADECIMENTOS
HOMENAGEM:
- Especialmente aos Professores surdos:
que dedicaram-se a minha pesquisa, as mesmas preocupações, os mesmos
sentimentos de hesitação, de decepção, de desejo de mudança, ...
AGRADECIMENTOS:
- a Deus:
pela minha vida.
- à minha família:
pelo sustento, ajuda mútua e amor.
- à minha esposa e a filha:
pela paciência, compreensão e, acima de tudo, carinho e amor.
- a Carlos Skliar:
pelas orientações e pelos livros entranháveis com seriedade e carinho.
- a Gládis:
como minha irmã, pelo apoio acadêmico entranhável com seriedade e carinho.
- à PPGEDU e colegas do (ex-) NUPPES
pela formação e pela construção intelectual acadêmica.
- ao CMET
pelas boas experiências do trabalho pedagógico e da dedicação.
- às Associações, Federações de surdos e aos surdos
pelas experiências vibratórias dos contatos / construções intelectuais e de
identidade lingüística e cultural.
4
- à FENEIS
pelas experiências políticas do povo surdo.
- à SME
pelas experiências dos contatos da alteridade, e pela dedicação profissional.
- aos intérpretes:
que mostraram-me as experiências concretas e sentimentais do mundo dos outros.
5
A valorização da pedagogia surda enfatiza-se a imersão da filosofia da
vida do Ser Surdo.
6
RESUMO
Esta tese aborda com o tema ”A Experiência e a Pedagogia que nós surdos queremos”.
Pesquiso as ferramentas dos Estudos Surdos, juntamente com o pensamento teórico pós -
estruturalista de Derrida, da experiência de Joan Mèlich, fez-se criar as experiências dos
professores surdos sobre a Pedagogia (dos Surdos), transcritas de filmagens, narradas: com o
obstáculo e a volta epistemológica, que enfatiza-se com o desejo, os olhares e as necessidades.
Com a conclusão enunciadas: Os surdos que estudam o Magistério de Ouvintes (Inclusão): “Não
conheciam a História dos Surdos, nem Arte-Educação pois eram os currículos ouvicêntricos,
baseados em Língua Portuguesa até os literários, com repetições monolíngüísticas ouvicêntricas.
Rotulados de deficientes, retardados, coitados. Sentimentos de decepção e angustia pelos
conhecimentos, de depressão, de vida vazia.
Com o Magistério dos Surdos: Aprendiam observando os professores surdos (modelo)
comunicando em LS, ministrando a História dos surdos, Arte-educação e Didática de LS.
Sentiam sem reclamações no currículo feito pela visão epistemológica dos surdos. Ficaram com
os parceiros da mesmice a construir a identidade surda. É a pedagogia que volta e reverbera
permanentemente. Ainda sentem o desejo de traçar a Pedagogia Surda.
Concepção - Base: Experiência; Estudos Surdos; Pedagogia dos Surdos; Pós-Estruturalismo;
7
ABSTRACT
This thesis approaches with the subject” the Experience and the Pedagogy that deaf we
want”. I search the tools of the Deaf Studies, together with the theoretical thought post -
structuralist of Derrida, of the experience of Joan Mèlich, one became to create the experiences of
the deaf professors on the Pedagogy (of the Deaf people), solo transcribing of filmings, told: with
the obstacle and the epistemological return, with that it is emphasized with the desire, the looks
and the necessities. With the conclusion declared: The deaf people who study the Teaching of
Listeners (Inclusion): “They did not know the History of the Deaf people, nor Art-Education
therefore were the ‘listenercenter” curriculums, based in Portuguese Language until the literary
ones, with “listenercenter” monolinguistics repetitions. Friction of deficient, been late, poor.
Feelings of disillusionment and distress for the knowledge, of depression, empty life.
With the Teaching of the Deaf people: They learned observing the deaf professors (model)
communicating in LS, giving the History of the deaf people, Art-education and Didactics of Sign
Language. They felt without claims in the resume made for the “epistemological” vision of the
deaf people. They had been with the partners of the mesmidade to construct the deaf identity. It is
the pedagogy that comes back and reverberates permanently. Still they feel the desire to trace the
Deaf Pedagogy.
Conception - Base: Experience; Deaf Studies; Pedagogy of The Deaf People; Post-Structuralism;
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 9
2 COMPROMISSO COM A TEORIA - A EXPERIÊNCIA 17
2.1 NOSTALGIA DO ABSOLUTO 11
2.2 EXPERIÊNCIA E APRENDIZAGEM 17
2.3 EXPERIÊNCIA E NARRAÇÃO 19
2.4 POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA 24
3 COMPROMISSO COM A MINHA PESQUISA 28
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO 28
3.2 QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS 34
3.3 AS TESSITURAS DO OLHAR HISTÓRICO DA PEDAGOGIA
DOS SURDOS 50
3.4 REFERENCIAL METODOLÓGICO 58
3.5 QUESTÕES DA PESQUISA 61
4 AS EXPERIÊNCIAS DOS PROFESSORES SURDOS 63
5 ANÁLISE DOS DADOS 119
5.1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS 119
5.2 A PEDAGOGIA DOS SURDOS 120
5.3 A ARTE-EDUCAÇÃO 123
5.4 SOBRE A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 127
5.5 SOBRE A POLÍTICA E MOVIMENTO SURDO 129
5.6 NA ÉTICA 131
5.7 DIREITOS HUMANOS 133
5.8 A REALIDADE DA FORMAÇÃO E DA
UNIVERSIDADE/ESCOLA 134
5.9 PROBLEMAS NA VIDA 137
5.10 A SOLUÇÃO EXPERIENCIAL 139
5.11 OS CRITÉRIOS 141
5.12 TRAÇAR PARA O AMANHÃ 142
6 CONCLUSÕES 145
7 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 152
8 ANEXOS 155
9
1 INTRODUÇÃO
De que amanhã a pedagogia dos surdos se trata? Penso eu.
Em minha tese “A Experiência e a Pedagogia que nós surdos queremos”, foi originalmente
tema de uma tese que pesquiso no Curso de Pós – Graduação em Educação da UFRGS.
“De que amanhã se trata?pergunta Vitor Hugo em um de seus poemas de Cantos do
crepúsculo.
E como introdução, assinala: “Tudo hoje em dia, nas idéias como nas coisas, na
sociedade como no indivíduo, encontra-se em estado de crepúsculo. De que natureza é
esse crepúsculo, o que virá depois?” como pensa Vitor Hugo.
Este foi nosso ponto de partida (DERRIDA & ROUDINESCO, p. 7).
Vejo que aqui tem cursos de Pedagogia, mas não a Pedagogia dos Surdos. entrevisto
professores surdos que atravessaram a formação do outro com o sofrimento”, porque como eu
não formei bem, delimito esses para a minha pesquisa.
Conforme o compromisso da minha pesquisa, utilizo o referencial teórico que tomei de
empréstimo a autores cuja reflexão teórica poderia contribuir para o desvelamento deste intricado
processo de desconstrução, as teorias pós - estruturalista do desconstrutor Derrida e das
experiências de Joan Mèlich. Para efetivar esta pesquisa, uma reflexão preliminar sobre o
conceito de pedagogia dos surdos se impôs.
O fruto de uma longa história das experiências: uma troca de seis discursos narrativos que se
cruzam jamais se fundirem e se responderem sem verdadeiramente se opor. Assim enunciam-se
diferenças, pontos de convergência, descobertas de um pelo outro, surpresas, interrogações, etc.
A palavra viva foi primeiramente captada pela filmagem, e depois foi transcrita a fim de
tornar possível uma primeira passagem do oral silencioso, a Língua de Sinais, para o escrito.
Trabalhei o material escrito para que se fundisse num verdadeiro texto, um texto a minha própria
mão e minha mente onde coabitasse dois “idiomas”, duas maneiras singulares de se exprimir
numa língua da fronteira.
10
Privilegiei doze questões. Cada uma delas me parece a sede de uma ou várias das grandes
interrogações que perpassam nossa época. Respondem a eles por meio de uma reflexão em que se
misturam abordagens diversas: filosófica, histórica, literária, política, poética, ética, pedagógica,
explicitadas com o “obstáculo e a volta epistemológica” como o desejo: os olhares para si, para o
olhar histórico, as necessidades essenciais e a nostalgia lingüística.
11
2 COMPROMISSO COM A TEORIA - A EXPERIÊNCIA
1
Desde o ponto de vista de uma filosofia da finitude, a experiência que o único tem do
mundo dos outros e dele mesmo sempre resulta inevitavelmente e irrevogavelmente uma
experiência da contingência, que é uma experiência da indisponibilidade, da fragilidade e da
vulnerabilidade.
“O que chamo experiência da contingência não é mais que a experiência daquele que sabe
que não é amo e senhor do tempo, pôs o homem experimentado conhece os limites de toda
previsão e a inseguridade de todo plano”. (H.G.GADAMER, Verdade e Método, Salamanca,
Segue-me, 1997,443).
Este ponto de vista tem a meu entender, umas conseqüências éticas e políticas de grande
importância, porque a experiência da contingência é também experiência do limite de todo
dogmatismo.
A Verdadeira Experiência, escreve Gadamer, “é aquela na que o homem se constrói
consciente de sua finitude. Nela encontram seu limite o poder construir / produzir e a
autoconsciência de uma razão planificadora.
2.1. A NOSTALGIA DO ABSOLUTO
Uma experiência básica dos seres humanos no mundo é a experiência da contingência, da
provisionalidade, do passo do tempo, da morte. A experiência da contingência nos mostra que
vivemos num universo no que não há, ao menos depois da morte de Deus (Nietzsche), pontos de
referência fixos e imutáveis. Os horizontes absolutos se hão borrado, e este não provoca angustia.
1
Texto de Joan-Carlés Mèlich (2002),compilado parcialmente e traduzido por mim em Português. Não consto na
referência bibliográfica os autores neste texto que Mèlich citou.
12
Sem dúvida, aos seres humanos nos custa enormemente viver na complexidade e na carência de
pontos de referência estáveis e imóveis.
O filósofo alemão Hans Blumenberg tem mostrado em sua obra capital, Arbeit na Mythos
(1979) como o universo se converte ante do foco humano em algo completamente infundado.
uma espécie, diz ele, de absolutismo da realidade.
Para Blumenberg, o absolutismo da realidade é um problema ao que tem de construir frente
continuamente toda a humanidade em geral, e ao que faz referência todos os relatos míticos e, em
parte, também as construções científicas.
Do que se trata sempre e inevitavelmente ao largo de toda a história da humanidade não é de
dominar o universo senão de distanciar-se dele. A experiência humana do cosmos não é de
admiração senão de medo, de angústia, de desconfiança.
O universo aparece como contingente, como algo desordenado, anônimo. Este desperta um
temor insuportável aos seres humanos. Então, o homem intenta configurar seu campo de
experiência desordenado e indeterminado e buscar um horizonte de sentido. O mito é, para
Blumenberg, a elaboração transformadora do horror em direção ao desconhecido e o prepotente.
Neste sentido, como tem assinalado Odo Marquard, o título com o que Wilhelm Nestlé
(1865-1959) descreveu a cultura grega Vom Mytos zum Logos”, tem superado seu referente
originário para acabar caracterizando o recorrido universal da consciência. Dito de outro modo: a
história da humanidade seria, desde esta perspectiva, um incessante processo de
desmitologização.
Segundo Marquard, este é uma falácia. O ser humano não pode viver sem mitos, e a morte
do mito significa ela mesma um mito. Sem o mito o ser humano não suportaria a experiência da
contingência. Os seres humanos não podem viver sem mitos, pôs o mito é um relato, uma
história.
13
Viver sem mitos é o mesmo que viver sem histórias, e isso é impossível: narrare necesse
este. Toda desmitologização é um processo compensatório: quanto mais procuramos desfazermos
dos mitos, mais mitos aparecem.
Deste é do que George Steiner trata em suas conferências lidas no outono de 1974 e
tituladas “Nostalgia do Absoluto”. Segundo Steiner as fontes vitais da teologia, de uma convicção
doutrinal sistemática e transcendente se haveriam esgotado. Assim, “a história política e
filosófica do ocidente ao largo dos últimos 150 anos pode ser entendida como uma série de
intentos – mais ou menos conscientes, mais ou menos sistemáticos, mais ou menos violentos – de
encher o vazio deixado pela erosão da teologia. Este vazio, esta obscuridade no mesmo centro,
era deixada a “la muerte de Dios”. Por segue Steiner: “as mitologias fundamentais elaboradas no
Ocidente desde começos do século XIX não são intentos de encher o vazio deixado pela
decadência da doutrina Cristã e o dogma cristão. São uma espécie de teologia substituta”.
Creio em conseqüência, que se abre uma situação de ambivalência. Por uma parte, como diz
Blumenberg haveria um intento de distanciar-se de uma realidade absoluta, prepotente,
silenciosa. “O silêncio eterno destes espaços infinitos me aterroriza” (Pascal). Porém, por outra,
uma vez que há tendo lugar a separação e a distância, aparece a nostalgia do Absoluto, o medo do
relativismo. Este produz um novo processo de reencantamento do mundo.
Mas de que tipo? Penso que aqui a pergunta de Steiner resulta muito pertinente: Pode a
ciência satisfazer a nostalgia do Absoluto? Em boa medida, creio que sim. Me explicará.
Quero dizer que a ciência, o logos, pode satisfazer a nostalgia do Absoluto a condição de
envolver-se um mitos, um monomito poderoso que trata que os seres humanos recuperem a
confiança e a tranqüilidade. Mas como diz Odo Marquard, todo monomito é perigoso. E nesta
situação nos encontramos agora. “Naturalmente, não se pode generalizar, mas me parece quase
uma obviedade assinalar que estamos vivendo uma época de fundamentalismo científico”
(também se poderia chamar “fundamentalismo tecnológico”). Valores como a “velocidade”, por
exemplo, são próprios de uma cultura tecnológica, de uma cultura na qual a tecnologia não é
um instrumento como se diz muitas vezes, que pode ser utilizado bem ou mal, a favor ou na
14
contra dos seres humanos. A tecnologia não é um instrumento senão um sistema, um sistema
social, uma forma de vida, uma concepção do mundo. No sistema tecnológico não nenhuma
classe de nostalgia do Absoluto, pois é a mesma tecnologia a que se tem absolutizado.
Se como veremos, uma íntima relação entre experiência, contingência e mito, então o
processo de desmitologização comporta finalmente uma crise da experiência e uma crise da
linguagem narrativa.
Como tem estabelecido Jacques Derrida ao longo de suas obras, a filosofia ocidental tem
sido freqüentemente uma metafísica da presença, é dizer, se tem estabelecido todo um sistema de
conceitos de hierarquias, de oposições: presença / ausência, inteligível / sensível, dentro / fora,
razão / experiência, logos / mitos. Nesta cadeia hierarquizada, o termo, o termo “superior”,
pertence a presença e ao logos, enquanto que o segundo denota invariavelmente uma caída, uma
perda de presença e de racionalidade. Este, me parece, é o que tem passado com a experiência.
Tradicionalmente, e nas linhas gerais, poderíamos dizer que a experiência tem sofrido um
desprestígio na filosofia. Tradicionalmente a Metafísica busca verdades que serão válidas com
independência de qualquer experiência. Ou bem a tem convertido em experimento. Pelos
experimentos tem de ser revisáveis, tem de poder ser submetidos a controle. Enquanto que na
experiência se a surpresa e a novidade, se dá a imprevisibilidade, no experimento estas
características são vistas negativamente. No experimento se busca a confirmação, enquanto que
na experiência se busca a aventura.
A experiência, segundo Aristóteles, é apreensão do singular, e sem este não pode haver
ciência, mas a ciência pode sê-lo do universal. A experiência é unicamente sua contribuição à
formação dos conceitos. A experiência, segundo Aristóteles, é apreensão do singular, e sem este
não pode haver ciência, mas a ciência só pode sê-lo do universal. Aristóteles diz claramente que a
experiência (empeiría) parece, em certo modo, semelhante à arte (técnica) e à ciência (epistéme),
que a arte e a ciência se chega através da experiência, que na vida prática a experiência não é
inferior à arte (techné), e que este é assim porque a experiência é o conhecimento das coisas
singulares e a arte (techné) o é das coisas universais. Portanto, a experiência é muito importante
em algumas profissões. Aristóteles põe o caso da Medicina. Mas, sem embargo, acrescenta que o
15
saber está mais próximo à arte (techné) que a experiência, e que é mais sábio o que conhece a arte
(techné) que o que possui um conhecimento “experiencial”. È necessário advertir que Aristóteles
fala aqui de “experto” como aquele que possui um conhecimento por experiência.
Assim como assinala Gadamer, o que lhe interessa a Aristóteles na experiência é
unicamente sua contribuição à formação dos conceitos. Cremos que este conceito, hoje em dia, já
não tem sentido. O experto se tem perplexo da experiência, no sentido no que falamos neste livro,
e se tem aproximado à técnica. O experto é, agora, um técnico, alguém que resolve eficazmente
problemas.
Cremos que este conceito, hoje em dia, não tem sentido. O experto se tem perplexo da
experiência, no sentido no que falamos neste livro, e se tem aproximado à técnica. O experto é,
agora, um técnico, alguém que resolve eficazmente problemas. Vê-se Aristóteles, Metafísica I,
981b. Sobre a interpretação da experiência em Aristóteles, vê-se Gadamer, Verdade e Método
citado 425-428,– Gadamer, Verdade e Método, 428 – O cursiva é minha.
Segundo Francis Bacon, a experiência é o fundamento último do conhecimento. Mas talvez,
noutra linguagem, a apologia da experiência que faz Bacon, no fundo, está mais cercada a uma
apologia do experimento ou da experimentação. Por outro lado, os autores qualificados de
racionalistas se bem não pode dizer-se que estão em contra a experiência, sim que consideram que
é um acesso confuso à realidade. Descartes, por exemplo, ao final do capítulo de Discurso do
método, depois de falar da educação recebida e das viagens realizadas pelo mundo, diz que uma
vez se tem intentado alcançar algumas experiências, resulta igualmente necessário estudar,
indagar, no interior de um mesmo, e este, acrescenta, “me saiu muito melhor, segundo creio, que
se não me houve-se nunca afastado da minha terra e de meus livros”.
Descartes considerava que a verdadeira compreensão filosófica nunca era o resultado de
acumular experiência sobre determinados indivíduos ou casos específicos. Para Descartes e a
filosofia pós-cartesiana, às questões temporais não tem nenhuma importância em filosofia. O que
lhes interessa é a permanência.
16
Os problemas, filosóficos de enunciar-se com independência de qualquer situação
histórica concreta, e há de poder resolver-se com métodos independentes do contexto.
Para uma filosofia da finitude não existe possibilidade de “pureza” de nenhuma classe, nem na
razão teórica nem na razão prática. Sempre conhecemos desde um tempo e desde um espaço que
nós não temos escolhido. Toda teoria, todo conhecimento, toda ética, toda estética estão,
portanto, não evitado, não enganado, contaminadas por nossa experiência, pela nossa e pela de
nossos antepassados e contemporâneos que configuram a tradição simbólica no que temos
nascido.
Nunca nada, nem nenhuma afirmação nem nenhuma teoria, nem nenhum princípio, nem
nenhum valor, que este completamente livre do contexto. Este é um dos postulados fundamentais
da filosofia da finitude: não texto sem contexto. Como tem escrito Stephem Toulmin, quando
nos enfrentamos a problemas intelectuais ou práticos nunca podemos borrar do todo quadro negro
nem começar do zero, como exige Descartes no Discurso do Método (S. Toulmin, Cosmopólis.
El trasfondo da modernidade já citado 125)
O único que podemos construir (produzir) como seres humanos é reconhecer nosso tempo e
nosso espaço, e começar desde aqui, desde donde estamos, desde nossa tradição, desde nossa
época. Não teremos nenhum tipo de possibilidade de escapar de nossa herança conceitual, ou
lingüística, ou simbólica. Para os seres humanos não existe nenhuma possibilidade extracultural.
Toda situação humana está historicamente condicionada, (ibid, 250). E se esta é uma posição
cética não permanece outro remédio que aceitar que a filosofia da finitude encontra seu suporte
na filosofia cética.
Embora este não quer dizer que se deva renunciar ao universal, senão mais bem que ao
universal só se pode chegar desde ao particular. Este é um princípio básico desde o ponto de vista
literário. Enquanto que a ciência tende à abstração do particular para alcançar ao universal, a
literatura sabe que só desde ao particular se pode chegar ao universal.
17
2.2 EXPERIÊNCIA E APRENDIZAGEM
Entre as diversas acepções que tem, entenderá, em geral, por experiência a aprendizagem,
que se tem adquirido com a prática. Haverá, portanto, um nexo inseparável entre experiência e
aprendizagem. Ferrater Mora distingue cinco sentidos da palavra experiência ao longo da história
da filosofia.
(1) A, uma forma de ser ou uma maneira de viver antes de todo juízo formulado sobre aquele que
é aprendido, é dizer de forma imediata.
(2) A apreensão sensível da realidade externa, prepredicativamente.
(3) O ensino que se tem adquirido com a prática.
(4) A confirmação dos juízos sobre a realidade mediante a verificação.
(5) O fato de suportar ou de padecer algo, como quando se diz que se experimenta uma dor, uma
alegria, etc.
Agora bem, como igualmente assinala o mesmo Ferrater Mora, de fato duas grandes
concepções do conceito de experiência. A primeira se refere à confirmação e à possibilidade de
confirmação empírica (ou sensível) de dados ou enunciados, e a segunda ao fato de viver algo
prévio à reflexão ou predicação. Vê-se Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, já citado. Nós nos
inclinamos pela segunda das acepções.
A experiência não nos faz expertos no sentido de que não nos ajuda a resolver
definitivamente os problemas, porque os problemas fundamentais da vida não se podem resolver.
A experiência não é um manual a consultar quando se tem um problema por solucionar. Mas,
apesar deste, a experiência é uma fonte de aprendizagem, de formação. A experiência é uma
verdadeira fonte de aprendizagem da vida humana, uma fonte de aprendizagem que não nos
permite no absoluto solucionar problemas senão encará-los / enfrentá-los. A experiência nos
um saber singular que ninguém pode fazer por nós, um modo de situarmos ante um problema,
mas jamais nos dá uma solução (ao menos uma solução definitiva). “Ter experiência” não
significa de nenhuma das maneiras possuir a chave para resolver as questões que nos assaltam em
nossa vida cotidiana. Por isso diz com Gadamer que:
18
(...) a verdade da experiência contém sempre a referência a novas experiências. Neste
sentido a pessoa à que chamamos experimentada não é alguém que se tem feito o que
é através de experiências, senão também alguém que está aberto a novas experiências.
(H.G.Gadamer, Verdade e Método, p.431).
Alguém experimentado não é uma pessoa que o sabe todo o que mais que ninguém. Ao
contrário “o homem experimentado é sempre o mais radicalmente não dogmático, que
precisamente porque tem feito tantas experiências e tem aprendido de tanta experiência está
particularmente capacitado para voltar a produzir / construir experiências e aprender delas”. (ibid
432). H.G. Gadamer. Verdade e Método. A ninguém se lhe pode privar de produzir / construir
uma experiência, nem ninguém pode construir uma experiência no lugar do outro. A experiência
tem de ser rememorada e renovada.
Neste sentido, está claro que a experiência está ancorada no tempo e espaço. Em toda
experiência recordação do passado. E na recordação da experiência passada uma nova
experiência, diferente, única. Mas em toda experiência da finitude também futuro,
possibilidade de ser de outro modo, mudança e inovação.
Construímos ou padecemos experiências, aprendemos das experiências que padecemos,
mas podemos estabelecer relações com as experiências que em cada momento de nossas vidas
nos fazem ser diferentes de quem éramos antes. Nunca experiências idênticas, assim como
tampouco há identidade invariável.
Padecemos uma experiência, aprendemos das experiências e esperamos com freqüência
mudar nossas vidas. Mas na medida em que expectativa também frustração e fracasso. Por
isso toda experiência é também a experiência da decepção. Com Fernando Bárcena temos tratado
esta questão na última parte de nosso livro: A educação como acontecimento ético. Natalidade,
narração e hospitalidade citadas. Deveria remarcar-se suficientemente esta idéia: a decepção é
uma importante fonte de aprendizagem. (Vê-se F. Bárcena, La esfinge muda El aprendizaje del
dolor después de Auschwitz, Barcelona, Antropos, 2001).
19
A experiência da finitude é a experiência dos limites da existência humana, é a experiência
daquele que descobre que não é totalmente nem amo nem senhor de sua vida, que tem nascido
em um momento histórico, em um tempo e em um espaço, e que morrerá.
Creio que esta é uma experiência comum a muitas pessoas diferentes. Desde diversas
culturas e tradições simbólicas dos seres humanos temos feito a experiência da finitude, é dizer, a
experiência que nos ensina os limites da planificação, os limites da inovação e da mudança, é
necessário repeti-lo uma vez mais: inovação e mudança, certamente, porém sempre desde a
contingência, desde aquela indisponível da existência.
Queria agora recordar uma idéia importante que preside todo esse ensaio: não definimos a
finitude, por suposto como morte. A finitude é, sobre todo, uma experiência que expressa o
tempo vivido entre o nascimento e a morte. Diz de outro modo: antes, não existíamos e algum
dia, deixaremos de existir. Somos historicidade, contingência e inovação, passado e futuro no
presente. E a experiência da contingência, é dizer, o fato de descobrirmos em um tempo e num
espaço que nós não temos escolhido, supõe pouco ou mito um certo desgosto, mágoa,
indisposição.
2.3 EXPERIÊNCIA E NARRAÇÃO
Acabamos de ver que a experiência, de um modo ou outro, é sempre experiência da
finitude, porque a experiência como acontecimento propriamente humano, se inevitavelmente
em um tempo e em um espaço concretos e, portanto, finitos.
A experiência é uma fonte de aprendizagem que mostra ao ser humano singular ou própria e
iniludível finitude. Subjetividade, transmissão, narração, testemunho e, finalmente,
aprendizagem. Estas são algumas características fundamentais de toda experiência humana.
Em nossa vida cotidiana os seres vivos constroem conhecimentos constantemente. Embora
talvez, mais que falar de construir uma experiência deveríamos dizer padecer uma experiência.
20
Creio que as experiências, mais que construir-se /produzir-se, se “padecem” (E por isso também,
mais adiante, falará da ética como po-ética, como pat-ética do testemunho).
Assim desde esta perspectiva? Como definir experiência? Segundo o modelo metodológico
que tem utilizado no presente ensaio, fugirá de qualquer definição substancial, e sugerirá que
“padecer uma experiência”, é como sair de viagem é como sair de um mesmo e ir em direção ao
outro para o outro.
A experiência rompe todo solipsismo, toda afirmação absoluta, todo posicionamento
absoluto sobre uno mesmo. Quando alguém padece uma experiência, se de verdade é uma
experiência, e não um experimento, padece uma saída de si mesmo em direção ao outro, ou em
direção a si mesmo como outro, ante outro, frente a outro (vê-se Larrosa, La experiência de
leitura. Estudos sobre literatura e formação. Barcelona, laertes, 1996, p.23.)
E neste sair de um mesmo uma transformação. A experiência nos forma e nos
transforma. (Em uma entrevista do ano 1978, Michel Foucault dizia que uma experiência é algo
de onde um mesmo sai transformado). (Vê-se M.Foucault “Entretien Michel Foucault”, em Dits
et érits (1954-1988), volumen IV, Paris, Gallimard, 1994, p.41).
Nesta entrevista Foucault relaciona o conceito de experiência com o de escritura. Escrever
um livro é construir / produzir uma experiência e, portanto, ele não sabe que dirá no momento de
começar. Pelo mesmo, um livro o transforma e transforma aquele que ele pensa. Foucault se
autodefine como um “experimentador” e de nenhum modo como um teórico.
A experiência, a diferencia da vivência, supõe construir um trajeto em direção de fora, um
trajeto no que um se encontra a si mesmo na medida no que se encontra respondendo a outro, na
medida no que é responsável de outro e tem cuidado dele. (L.Duch, “El valores, entre
fonamentalisme i “nova era”, em: Trípodos, num.9, Facultad de Ciências de La Comunicación
Blanquerna, Universital Ramon Llull, 2000, p.17.)
21
A experiência, pois, é inseparável da exterioridade e, portanto, da ética. Uma experiência da
contingência que não será uma fonte de aprendizagem ético, de posicionamento ético, pode
converter-se perigosamente, como veremos mais adiante, em um artefato ao serviço do mal. Com
este não querera dizer, em nenhum caso, que uma experiência que não suponha um
posicionamento ético, que não estabeleça relações éticas (ou de diferença) com os outros, será
uma experiência perversa. O que me gostaria advertir é que sempre que o outro não se tem
presente, sempre que não se cuida do outro, sempre que o outro resulta indiferente, existe o
perigo totalitário.
É certo que se me pude acusar de subjetivismo, até de relativismo. O assumo. É evidente
que a experiência sempre é subjetiva. Não tem pretensões de objetividade. Não pode tê-las. A
experiência é incontestável, não pode validar-se, não depende de nenhum tipo de estudo
estatístico, não possui valor científico. Seu valor é unicamente testemunhal. E esta experiência
pode dar-se ao outro, não no sentido de que o outro pode construir minha experiência ou eu pude
construir a experiência do outro, senão no sentido de que se pode transmitir para que o outro pode
reconstruí-la. Dito clara e brevemente: o outro pode aprender de minha experiência a condição de
que ele mesmo construa a sua.
Transmitir uma experiência, condição pelo outro lado de toda experiência verdadeira
significa dar uma abertura a uma experiência nova, uma experiência diferente, pois toda
experiência é diferente.
Ao construir, ao padecer-se e ao transmitir-se, a experiência necessita de linguagem. Mas?
Que linguagem? Qual é a linguagem da experiência? Como estabeleceu há muitos anos Walter
Benjamin, a linguagem da experiência é a linguagem literário, mais concretamente, a linguagem
da narração? Renunciar à literatura como fonte de conhecimento prático supõe renunciar à
experiência e, portanto, ao tempo e ao espaço, à história, à finitude, em definitivo.
Mas também suporia uma renúncia à individualidade, ao ser humano de carne e osso, que
nasce, vive, padece, goza e morre, sobre todo morre (unamuno??). Desde meu ponto de vista,
22
a literatura é sensível à subjetividade, à particularidade e a singularidade da experiência.
Recordemos que de singularibus non est scientia.
A experiência tem de ser narrada, necessita da linguagem da narração, da linguagem
literária. A moderna crise da experiência, sua perda, que pôs de manifesto com sua habitual
agudeza Walter Benjamin em Experiência e pobreza (1933) e em El narrador (1936), significa a
irrelevância crescente da exterioridade como espaço e tempo públicos (L.Duch. Llums i ombres
de la ciutat, já citado, 377)
No mundo moderno caracterizado pela sobreaceleração do tempo em todas as atividades
humanas, em um mundo donde o cálculo e a precisão, donde o ideal de objetividade e de
cientificidade, donde a utilidade, o intercâmbio e o economicismo o invadem todo, a experiência
tem deixado de ter relevância.
Como diz Walter Benjamin, vivemos uma época pobre em experiência e o declinar da
experiência leva consigo a crise da narração. A crise da experiência é inseparável de declinar da
palavra, especialmente da palavra narrada, porque o objetivo do narrador não é comunicar um
fato (esta seria a tarefa da informação), senão a transmissão de uma experiência e o dar-se ele
mesmo no testemunho, para que aqueles que recebem a transmissão podem refazê-la e podem
aprender. (D. Frisby, Fragmentos de la modernidade. Teorias de la modernidade em la obra de
Simmel, Krakauer y Benjamin, Madrid, Visor, 1992, p.466).
Segundo Walter Benjamin uma coisa está clara: “avaliação da experiência tem
baixado/diminuído e precisamente em uma generação que de 1914 a 1918 vem tendo uma das
experiências mais terríveis da história universal”. (W.Benjamin - Experiência y pobreza”, em
Discursos interrumpidos I. Madrid, Taurus, 1989, 167-168.) La gente volta “muda” dos campos
de batalha de Guerra Mundial. Mas esta mesma idéia, embora expressada de outra maneira, a
encontramos em um dos sobreviventes dos campos de concentração nazista. Me refiro a Roberto
Antelme. No livro donde recolhe suas experiências, La espécie humana, escreve:
Pero acabávamos de voltar, traríamos com nós nossa memória, nossa experiência totalmente viva e
sentíamos um desejo frenético de dizê-la com fios e sinais. Sem embargo, desde os 1ºs dias, nos
parecia impossível acumular a distancia que descobríamos entre a linguagem de que disporíamos e
esta experiência que para a maioria de nós outros, continuava em nosso corpo. (...)
23
Esta desproporção entre a experiência que havíamos vivido e o que podíamos relatar acerca dela
não fez mais que confirmar-se a continuação. Assim que efetivamente nós a teríamos que ver com
uma dessas realidades das que dizemos que superam a imaginação (R. Antelme, La espécie
humana, Madrid, Arenas libros, 2001, p.9).
Uma experiência de poder ser comunicável. Se não é assim, está morta. Toda
experiência se dirige a outro, a um interlocutor. Resulta interessante comprovar como, a meu
entender o mesmo que Walter Benjamin ou Roberto Antelme dizem em seus livros resulta
aplicável ao contexto atual. No mundo (pós) moderno e grande desenvolvimento da técnica e dos
meios de comunicação tem trazido uma nova pobreza aos seres humanos: a pobreza da
experiência.
Recordemos as palavras de W. Benjamin em El Narrador e pensemos em que medida ainda
seguem vigentes. Em primeiro lugar Benjamin contraporá “narração” e “novela”: O narrador
toma o que narra da experiência; a sua própria ou a transmitida. E a torna a sua vez, na
experiência daqueles que escutam sua história. O novelista, por sua parte, se tem segregado. A
câmara de nascimento da novela é o individual em sua solidão. (...) (W. Benjamin, “El
Narrador”, em Para uma critica de la violencia y otros ensayos Iluminaciones IV, Madrid,
Taurus, 1998,115).
Mais adiante, analisará a questão da “informação”. Este aspecto resulta especialmente
relevante no momento presente. Benjamin contrapõe a aparição da “informação” com o declinar
da narração, de arte de narrar. Segundo ele, a informação vive da novidade, da proximidade e da
rápida verificabilidade (Ibid., 116).
Não é este o caso da narração. Esta nunca se esgota de todo, não necessita nem da novidade,
nem da proximidade, e muito menos da verificabilidade pois, não se pode verificar. Vivemos em
um mundo no que a importância da informação não enganada (não evitado) ligada a declinar
da narração. Mas com o declinar da narração da experiência perde importância e, com ela, todo
um continuo de questões que veremos mais adiante, como é o caso do testemunho, do
esquecimento, do silêncio.
24
2.4 POR UMA PEDAGOGIA DA EXPERIÊNCIA
lhe digo antes que não nos seres humanos nenhum tipo de possibilidade extra cultural
ou metahistórica, é dizer, que os seres humanos não somos nada mais além do espaço e do tempo.
Portanto, é impossível o ideal de “pureza”, tanto na razão teórica como na razão prática. A
questão que agora quer pôr sobre a mesa é a da relação entre experiência e ética, assim como sua
implicação com a educação. O tema é imenso, naturalmente, assim que me limitará a assinalar
aqueles aspectos que me parecem mais relevantes.
Creio que tem permanecido claro que o mais importante é o fato de que a narração nasce de
uma experiência (de uma experiência própria ou de outro), e que se dirige a outra pessoa, alguém
que de novo a reelaborará, a reviverá, e a reinterpretará. Desde o ponto de vista narrativo, não
interessa a objetividade do relato senão a subjetividade de narrador. É a partir desta subjetividade
narrada, desta experiência, que quer repensar a ética.
É evidente que desde a perspectiva de uma filosofia da finitude, a ética, como todo aquele
que pertence à condição humana, também está imersa em um trajeto histórico, é dizer, está
ineludivelmente “contaminada” pela experiência individual ou coletiva. A ética resulta
impensável à margem da cultura, da tradição simbólica. Não em nenhum caso algo assim
como uma razão pura prática.
Este quer dizer que minha proposta de construir a experiência o ponto de partida da ética,
assim como também da educação, não tem medo de aceitar que arranca de uns pressupostos
histórico-culturais
2
.
2
Todavia mais: se a experiência humana não pode iludir a experiência da contingência, é a partir desta experiência que pode
iniciar-se uma viagem de formação. Portanto, resulta evidente que toda educação (e talvez deveríamos dizer também toda
pedagogia, entanto que teorização e normativização da educação) têm um componente "experiencial” e, por conseguinte,
subjetivo, testemunhal, incontrolável para os poderes institucionais.
25
Assim, pois, desejaria fugir daquelas éticas “transcendentais” (razão pura antes da
experiência) inspiradas em Kant. A ética que defendo não é uma ética que surge atrás a
“imparcialidade” de um véu de ignorância “(Rawls) ou de um diálogo “transcendental”
(Habermas), senão uma ética negativa é dizer, uma ética que nasce da experiência histórica do
mal radical, e que luta sobre todo para evitar uma repetição deste”. Dito este, haveria que
acrescenta que desde meu ponto de vista, o mais decisivo de ocupação educativo é evitar uma
repetição de Auschwitz
3
.
Mas outros aspectos que são igualmente decisivos em uma Pedagogia da experiência.
Toda educação, por dizê-lo com Hannah Arendt, traça também indefensivelmente um reto entre o
que é velho e o que é novo, entre um mundo pré-dado, já constituído, velho e pré-existente, e a
chegada do objetivo de um recém chegado. Para Hannah Arendt, a educação é uma das atividades
mais elementares e mais necessárias da sociedade humana, a qual não se mantém nunca tal como
é, senão que se renova continuamente pelo nascimento, pela chegada de novos seres humanos (H.
Arendt, a crisis em la educación, em Entre el pasado y el futuro, Barcelona, Península, 1996).
Pelo nascimento, os pais têm introduzido o recém chegado em um mundo antigo e, na
educação assumem a responsabilidade da vida e o desenvolvimento de seu filho e a da
perpetuação do mundo.
Estas das responsabilidades não são coincidentes e, sem dúvida, podem entrar em conflito
uma com outra. A responsabilidade de desenvolvimento do menino em certo sentido é contrária
ao mundo: o pequeno requere uma proteção e um cuidado especiais para que não resulte invalido
e destruído pela investida dos novos que caem sobre ele com cada nova geração. Ibid, p.197-198.
Assim, a educação tem de proteger a recém chegada da experiência da contingência, uma
experiência a menos dramática e angustiante. A educação tem de ser uma práxis (sempre
provisório) de domínio da contingência
4
.
3
Me tem ocupado desta questão em outros lugares. Vê-se J.C. Mèlich, Totalitarismo e fecundidade, Barcelona, Anthropos, 1998; La ausencia del
testimonio, Barcelona, Anthropos, 2001; La Lliçó d’ Auschwitz, Barcelona, Publicaciones de I’ Abadia de Montserrat, 2001.
4
Esta idéia tem sido sobre todo desenvolvida por L. Duch em seu livro, especialmente em La Educación y la crisis de la modernidad, Barcelona,
Paidos, 1997. Duch se inspira na definição que é filósofo alemão Hermann Lubbe da da religião em seu livro Religión nach Aufklarung: “uma
práxis de domínio da contingência”.
26
Toda práxis pedagógica tem, desde esta perspectiva, a função de dotar ao recém chegado de
um aparato simbólico com o que pode fazer frente ao indisponível da existência humana, a todas
aquelas questões impossíveis de iludir que nunca podem responder-se tecnicamente: o dor, a
morte, o mal, o sentido da vida, é dizer, a contingência.
Porém ao mesmo tempo, e recuperando a idéia de Hannah Arendt, diria que a educação tem
o reto de velar pela transformação do mundo, pela radical novidade que cada nascimento leva
nele mesmo. Por isso a educação tem de ser renovadora e conservadora à primeira vez, tem de
mirar o passado e o futuro desde o presente. Este diz Arendt:
Precisamente por ele bem do que de novo e revolucionário em cada menino, a
educação de ser conservadora: tem que preservar esse elemento novo e introduzi-lo
como novidade em um mundo velho que por muito revolucionárias que serão suas ações
sempre é antiquado e está cerca da ruína desde o ponto de vista da última geração. (H.
Arendt, “A crise na educación”, em Entre el pasado y el futuro, já citado, p.204-205).
Em definitiva, uma filosofia da finitude defende que o educador lhe corresponde ser ele
nexo entre o velho e o novo, respeitar o passado, pois nunca se pode inovar de todo e com
independência da tradição na que se tem nascido, e respeitar o futuro, a novidade, a radical
novidade e mudança que cada recém chegado traz em si mesmo. Porém tampouco pode ficar-se
fixada no passado como se o passado determina-se o presente e o futuro até o ponto de que nada
novo poderá suceder.
A educação, segue Arendt, é o ponto no que decidimos se amamos o mundo o bastante
como assumir a responsabilidade por ele e assim salvá-lo da ruína que de não ser pela renovação,
de não ser pela chegada de novos e jovens, seria inevitável. Também mediante a educação
decidimos se amamos a nossos filhos o bastante como para não lançá-los de nosso mundo e livrá-
los a seus próprios recursos nem quitá-los das mãos a oportunidade de empreender algo novo,
algo que nós não imaginamos, o bastante como para prepará-los com tempo para a tarefa de
renovar um mundo comum. (H. Arendt, La crisis em la educación, em Entre el pasado y el
futuro, já citado, p.208).
27
Talvez seria interessante, para acabar, recordar neste contexto aquele que Elias Canetti dizia
em outro lugar a propósito dos escritores. Para Canetti, o escritor devia ser um guardião da
metamorfose, devia velar pelas transformações.
Estou completamente convencido de que aquele que Canetti atribue aos escritores deveria
ser igualmente aplicável aos educadores. Deste modo, educar também seria, ineludivelmente,
velar pelas transformações. Precisamente porque os seres humanos somos seres finitos, as
transformações que padecemos em nossas vidas são infinitas. O fim da transformação seria a
morte do ser humano. (E. Canetti, La profesion de escritor”, em la conciencia de las palabras,
já citado, p.355).
28
3 COMPROMISSO COM A MINHA PESQUISA
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO
Os fundamentos para essa abordagem encontram-se nos campos dos Estudos Surdos, com
ênfase no conceito sobre a pedagogia da política da “différance” e da filosofia das diferenças,
entendido, neste trabalho, como um processo de construção de um conhecimento específico sobre
a pedagogia dos surdos pelos nossos movimentos intelectuais / acadêmicos surdos.
Utilizo as ferramentas, de empréstimo a autores cuja reflexão teórica, que poderia
contribuir para o desvelamento deste intricado processo de desconstrução
5
, as teorias pós -
estruturalista do desconstrutor Derrida.
A différance como define Derrida, durante a entrevista feita por Elisabeth Roudinesco
(2004, p. 33):
(...)Em primeiro lugar, se me permite, algumas proposições abstratas sobre a différance
(com “a”) e as diferenças (com “e”). O que o motivo da différance tem de
universalizável em vista das diferenças é que ele permite pensar o processo de
diferenciação para além de qualquer espécie de limites: quer se trate de limites
culturais, nacionais lingüísticos ou mesmo humanos. Existe a différance desde que
exista traço vivo, uma relação vida / morte ou presença / ausência. Isso se atou muito
cedo, para mim, à imensa problemática da animalidade. Existe a différance desde que
haja o vivo, desde que haja o traço, através e apesar de todos os limites que a mais forte
tradição filosófica ou cultural acreditou reconhecer entre “o homem” e “o animal”.
portanto aí claramente uma potência de universalização. Depois, a différance não é
uma distinção, uma essência, uma proporção, mas um movimento de espaçamento, um
5
Desconstrução: Em sentido estrito, procedimento de análise empregado pelo filósofo francês Jacques Derrida. Em
sentido amplo, qualquer análise que questione operações ou processos que tendam a ocultar ou olvidar o trabalho
envolvido em sua construção social, tais como a naturalização, o essencialismo, a universalização ou o
funcionalismo. Na concepção de Derrida, a desconstrução envolve ler um texto, buscando suas contradições e
ambigüidades internas. Uma operação típica da desconstrução feita por Derrida consiste em focalizar as oposições
binárias estabelecidas num texto, nas quais, também tipicamente, se privilegia um dos termos em detrimento do
outro, para mostrar que certos elementos contidos no próprio texto, mas reprimidos, minam e desestabilizam tanto
aquelas oposições quanto os privilegiamentos que elas estabelecem. Em seu livro Gramatologia, por exemplo,
Derrida focaliza a oposição estabelecida na tradição filosófica ocidental entre a forma escrita e a forma oral da
linguagem, na qual esta última é privilegiada relativamente à primeira, por supostamente coincidir com o
pensamento, a interioridade ou o significado. Em sua longa e detalhada análise, Derrida demonstra que esta oposição
não se sustenta, na medida em que, tanto quanto a escrita, a voz também é feita de significantes. (SILVA, 2000, p.
36)
29
“devir-espaçodo tempo, um “devir-tempo” do espaço, uma referência à alteridade, a
uma heterogeneidade que não é primordialidade oposicional. Daí uma certa inscrição
do mesmo, que não é idêntico, como différance. Economia e aneconomia ao mesmo
tempo. Tudo isso era também uma meditação sobre a questão da relação do significado
com o significante (e portanto de uma certa lingüística saussurana tal como dominava,
em sua forma esquemática e freqüentemente simplificada, muitos discursos da época).
Na seqüência, meu trabalho se desdobrou num longo requestionamento de todas as
diferenças consideradas simples oposições. Eu insisto, a différance não é uma oposição,
tampouco uma oposição dialética: é uma reafirmação do mesmo, uma economia do
mesmo em sua relação com o outro, sem que seja necessário, para que ela exista,
congelá-la, ou fixá-la numa distinção ou num sistema de oposições duais. Podemos, é
claro, tirar dessa proposição de aparência abstrata todos os motores necessários ao
questionamento das éticas ou das políticas que a senhora classifica sob o rótulo de
comunitarismo.
De uma maneira geral, e por mil razões que explico em outros lugares, em particular
em O monolingüísmo do outro, sempre desconfiei do culto do identitário, bem como do
comunitário, que lhe é tão freqüentemente associado. Procuro sempre lembrar a
dissociação cada vez mais necessária entre o político e o territorial... Compartilho de
sua preocupação diante da lógica comunitária, diante da compulsão identitária, e
resisto, como a senhora, a esse movimento que tende para um narcicismo das minorias
que vem se desenvolvendo por toda parte _ inclusive nos movimentos feministas. Em
certas situações, deve-se todavia assumir responsabilidades políticas que nos ordenem
uma certa solidariedade para com aqueles que lutam contra esta ou aquela
discriminação, e para fazer reconhecer uma identidade nacional ou lingüística
ameaçada, marginalizada, minorizada, deslegitimizada, ou ainda quando uma
comunidade religiosa é submetida a repressão.
A Pedagogia significa, conforme Dicionário Prático da Língua Portuguesa, (Houaiss,
2005):
1- Estudo teórico ou prático das questões da educação;
2- Arte de instruir, ensinar ou educar as crianças;
3- Conjunto das idéias de um educador prático ou teorista em Educação.
As formações da pedagogia que os surdos atravessaram / atravessam: a pedagogia de
sempre: a pedagogia da alteridade, que deve ser apagado; a pedagogia da alteridade, da
hospitalidade e da hostilidade, da perplexidade; a rara pedagogia da mesmidade, que volta e
reverbera permanentemente, como escreve Skliar em seu livro: A Pedagogia (improvável) da
Diferença (2003, p. 200).
30
Indicamos para os surdos, que, dentro da educação e da escolarização, foram capturados,
ignorados, mascarados, massacrados, vibrados com o outro, amordaçados da sua língua e da
identidade.
Então essa crise pedagógica nos permite refletir sobre o processo da diferenciação
lingüística ou mesmo pedagógica, fez-se surgir o NUPPES UFRGS. Agimos seguindo com a
différance, existe o traço vivo em relação ao desejo em educação / pedagogia, se atou desde
através da tradição filosófica acreditou reconhecer a unidade lingüística narcisista.
Temos trabalhado uma forte potência de universalização, desconstrução e construção,
acreditamos que a différance não é uma distinção, uma essência, uma proporção, mas um
movimento do espaçamento, um devir-espaço do tempo, um devir tempo do espaço, uma
referência à alteridade surda, uma heterogeneidade, que não é idêntico ao ouvinte, como ser
diferente.
Fez-se uma meditação sobre a questão dos discursos das experiências surdas.
Como Nídia Limeira de (1998, p. 5) em suas abordagens dos Estudos Surdos,
afirma:
Este texto tem a intenção de abordar algumas formas através das quais a sociedade
define as identidades consideradas “normais” e as “anormais”, acabando, geralmente,
por oprimir um grupo em benefício de outro, pelo uso arbitrário dos poderes e saberes
que nela se enfrentam. Destaca a situação dos Surdos - um grupo que tem sido definido
socialmente, antes de qualquer outra definição possível, como um grupo “deficiente”,
“menor”, “inferior” - um grupo “desviado da norma”. Em direção contrária, este trabalho
junta-se a vários outros reafirmando um movimento que visa reconstituir a experiência
da surdez como um traço cultural, tendo a ngua de sinais como elemento significante
para esta definição. Refere-se a trabalhos que têm contribuído para os chamados Estudos
Surdos. Os Estudos Surdos têm surgido nos movimentos Surdos organizados e no meio
da intelectualidade influenciada pela perspectiva teórica... Dos Estudos Surdos pois
enfatizam as questões das diferenças e das lutas por poderes e saberes.
Como o surgimento dos “Estudos Surdos” na UFRGS onde cursei como relata Lulkin
(2000, p. 15) em seu livro “O Corpo Disciplinado”:
(...)uma série de produções do Núcleo de Pesquisas em Políticas Educacionais para
Surdos (NUPPES/UFRGS), criado em 1996 no Programa de Pós Graduação da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do qual
31
comecei a fazer parte desde a sua fundação. Coordenado pelo prof. Dr. Carlos Skliar, o
NUPPES abriu o espaço para as discussões contemporâneas sobre educação, em geral,
e para as relações com a educação de surdos, em particular. As propostas pedagógicas
para surdos e as problematizações em torno da educação em geral situam-se dentro de
um campo mais abrangente de investigação denominado Estudos Surdos (Deaf Studies,
na literatura angloxônica), se articulando com outras áreas do conhecimento que
contribuem para uma visão mais contemporânea sobre as comunidades e a vida das
pessoas surdas. Conforme descreve Skliar (1998
a
), os Estudos Surdos abarcam
pesquisas sobre as identidades, as línguas, os projetos educacionais, as histórias, as
artes, as comunidades e culturas surdas, focalizados e entendidos a partir de um
posicionamento político que luta por uma nova “territorialidade”: um espaço
constituído pelas problematizações sobre a normalidade, pelos embates com as
assimetrias de poder e saber, pelas diferenças construídas histórica e socialmente.
Na seqüência dos estudos e pesquisas no NUPPES, o nosso trabalho se desdobrou numas
longas requestões de todas as diferenças consideradas simples oposições. Assinala que a
différance não é uma oposição, é uma reafirmação do mesmo, uma economia do mesmo em sua
relação com o outro. Tiramos dessa proposição de aparência abstrata todos os motores
necessários à questão das éticas ou das políticas.
De uma maneira geral, sempre desconfiamos do culto do identitário, do comunitário ouvicêntrico,
do monolingüísmo nacional. Procurando sempre lembrar a dissociação cada vez mais necessária
entre o político e o territorial.
Compartilhamos de nossas preocupações diante da lógica comunitária, diante da
compulsão identitária ouvintista, e resistimos a esse movimento. Em certas situações, assumimos
responsabilidades políticas que nos ordenem uma certa solidariedade para com aqueles que lutam
contra esta ou aquela discriminação, e para fazer reconhecer uma identidade surda ameaçada,
marginalizada, minorizada, deslegitimizada, ou ainda quando um povo surdo é submetido a
repressão, como Lulkin define em Educação:
Os Estudos Surdos em Educação delineiam, entre outras intenções, aquela de
desmascarar as relações de poder existentes na educação dos surdos. Temos utilizado em
outros trabalhos (Skliar, 1997, 1998) o termo “ouvintismo
6
”, para descrever práticas
6
Sobre Ouvintismo: o termo utilizado por Skliar (1997 / 1998).
Quero escrever conforme combinação, utilizando o termo Ouvinticentrismo, (termo utilizado por Perlin, em sua tese:
O Ser e o Estar Sendo Surdo: Ensaio. Ou resume-se em Ouvicentrismo, ouvicêntrico, (como por ex. outros termos
europocentrismo, etc.) Políticas ouvicêntricas,...
32
discursivas e dispositivos pedagógicos colonialistas, em que o ser/poder/conhecer dos
ouvintes constituem uma norma, não sempre visível, por meio da qual tudo é medido e
julgado. O “ouvintismo”, entre outros mecanismos, traduz uma pedagogia delimitada, em
meio a outros fatores, pela onipresença da língua oficial, pela regulamentação e
burocratização da língua de sinais, pela separação entre a escola e a comunidade surda,
pela sub-utilização dos adultos surdos no contexto pedagógico e pelo amordaçamento da
cultura surda na escola. Lacerda & Góes (2000, p. 13).
Com NUPPES
7
, têm contribuído muito com vibrações positivas em estudos e pesquisas
divulgados no Brasil até mesmo no exterior, as suas dissertações e teses: as Políticas de Educação
dos Surdos, Filosofia da Diferença, e do Outro (Carlos Skliar); Identidades Surdas (Gládis
Perlin); Silêncio Disciplinado (Sérgio Lulkin); História dos Surdos (Gisele Rangel); Escrita de
Sinais (Marianne Stumpf); Língua de Sinais na Educação dos Surdos (Lodenir Karnopp e Ronice
Quadros); Formação das Comunidades Surdas e Educação de Surdos no Interior (Ricardo
Martins, Gládis Perlin e eu); Currículo e Relações de Poder (Marcia Lunardi); Letramento na
Educação dos Surdos (Liliane Giordani); Estereotipo e Representação Surda (Maura Lopes);
Inversão Epistemológica da Anormalidade Surda na Pedagogia do Cinema (Adriana Thoma);
Cultura Surda e Inclusão no Mercado de Trabalho (Madalena Klein).
Bem como em extensão: realizados fóruns de discussão de Políticas de Educação dos
Surdos mensalmente, encontros municipais, estaduais, internacionais sobre a Educação dos
Surdos, Bilingüísmo, Direitos Humanos dos Surdos, etc.; Em parceria com a FENEIS: projetos
do curso de capacitação, de especialização da educação dos surdos, de intérpretes, de LIBRAS,
de intervenção na Educação de Surdos e animação cultural no Interior; congresso e encontros
com palestras de convidados docentes de renome internacional; tanta muita gente querendo
trocando experiências.
Sobre as relações do poder e saber do Currículo no processo da Educação / Pedagogia,
que intervêm na constituição das identidades surdas? Skliar e Lunardi no livro Surdez –Processos
Educativos e Subjetividade (2000): sobre os Estudos Surdos e Estudos Culturais), perguntam-se:
33
A noção de poder é central na teorização crítica do currículo, e é o elo que nos permite
relacionar tal teoria com os estudos Surdos. A pergunta fundamental nesse sentido
seria: que forças contribuem para que o currículo oficial seja hegemônico e reproduza
identidades sociais que ajudam a prolongar essas relações de poder? Como essas forças
intervém na constituição das identidades surdas? (LUNARDI, p. 13).
O currículo nas escolas de surdos também é uma artefato cultural pelo qual o
ouvintismo se atualiza e se reforça; assim, no marco do último século foram
estabelecendo-se, sucessivamente, diferentes mecanismos e ‘textos” de colonização
curricular: o currículo para deficientes mentais, para deficientes da linguagem, para
ouvintes com a multiplicação das séries curriculares, para aprender somente técnicas e
ofícios saturados pelo desemprego, para aprender a falar, etc. constituem apenas alguns
exemplos dessa “ouvintização” curricular (SKLIAR p.13).
Nós surdos, sentimos que dentro da educação, ainda somos rotulados de deficiente,
doente, ser inferior, com currículo ouvicêntrico, com burocratização da Língua de Sinais,
privados dos nossos desejos, nossas experiências surdas, negam ou desconhecem as nossas visões
epistemológicas feitas por nós, como Sá redefine o conceito deste termo:
Os Estudos Surdos se lançam na luta contra a interpretação da surdez como deficiência,
contra a visão da pessoa Surda enquanto indivíduo deficiente, doente e sofredor, e,
contra a definição da surdez enquanto experiência de uma falta. Ora, os Surdos,
enquanto grupos organizados culturalmente, não se definem como “deficientes
auditivos”, ou seja, para eles o mais importante não é frisar a atenção sobre a falta /
deficiência da audição - os Surdos se definem de forma cultural e lingüística (Wrigley,
1996, p. 12). Qualquer pessoa que tenha relativo conhecimento da comunidade Surda
sabe que a definição da surdez pelos Surdos passa muito mais por sua identidade grupal
que por uma característica física que pretensamente os faz “menos” (ou “menores”)
que os indivíduos ouvintes.
O conceito de surdez, como qualquer outro conceito, sofre mudanças e se modifica no
transcurso da história. Estamos atravessando um momento de redefinição deste
conceito (Behares, 2000, p. 1). Historicamente se sabe que a tradição médico-
terapêutica influenciou a definição da surdez a partir do déficit auditivo e da
classificação da surdez (leve, profunda, congênita, pré-lingüística, etc.), mas deixou de
incluir a experiência da surdez e de considerar os contextos psicossociais e culturais
nos quais a pessoa Surda se desenvolve; é justamente destes aspectos, dentre outros,
que os Estudos Surdos passam a se ocupar.
Tem uma pesquisa sobre a pedagogia da diferença para o surdo
8
: Qual a pedagogia? Qual
o currículo? Qual o modelo de formação do professor surdo hoje? que devem nortear a formação
do professor surdo. (RANGEL & STUMPF , 2004, p. 86)
7
NUPPES se fechou pois os membros foram, cada um, em outras universidades trabalharem, inclusive Skliar.
8
Feita por Gládis Perlin, Marianne Stumpf, Gisele Rangel.
34
Além desta pesquisa, essa definição de Sá me faz refletir e escrevo as questões
epistemológicas no capítulo seguinte.
3.2 QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS
No presente vejo que pedagogias para os surdos com formas perplexas, obscuras,
equivocas, impróprias e “vazias”, não seguem necessariamente explicitas as ações pedagógicas
específicas devido às questões epistemológicas feitas pela alteridade do surdo - os ouvintes,
portadores de outras questões, outros significados lingüísticos e culturais.
Por isso, sinto a instabilidade e com a insistência da mudança dessas crises pedagógicas,
quero pesquisar logo isto. Nós surdos conseguimos, através do processo de mudança da educação
pelas experiências, identificar o que é ser surdo e temos que “desconstruir” as visões
epistemológicas feitas pelos outros ouvintes, em todos os tempos e espaços dos olhares
históricos, e mostrar e construir mais as nossas próprias limitações epistemológicas. Este faz
funcionar como surdos nos permite tomar consciência de nossos mesmos e respaldar nossos
iguais. Eles também são como eu, digo para mim. E assim me defendo deles. E assim me defendo
de mim. Skliar (2003, p. 195) em seu livro: A pedagogia (improvável) da diferença: E se o outro
não estivesse aí?
uma história, uma herança, um monumento testamentário (Laréz, 2001) naquilo que
chamamos de educação. E, nessa história, a pergunta pela educação se volta sobre nós
mesmos para nos obrigar a olhar bem. Olhar melhor nossa pergunta, pois toda
pergunta pode ser também um abandono, uma obstinação, ou então um cruel convite `a
sinceridade.
Então: o que é que perguntamos sobre a educação? Ou melhor: Porque perguntamos
pela educação?
Uma das primeiras respostas que nossa história nos sugere é que, na realidade, não
estamos nos perguntando por ela, mas pela instabilidade e pela insistência de suas
mudanças e de suas transformações, isto é, nós nos perguntamos para suspender,
apanhar e capturar aquilo que pensamos que é a educação.
Como diz Baudrillard (2002, p. 83): Da mudança sem origem: disso se trata. E questões de
mudança, tudo é possível: “O que é preciso é uma metamorfose e um devir”.
35
Olho para o livro “De que amanhã”... Diálogo. De Derrida e Roudinesco, que esses autores
pegaram emprestado o texto das reflexões de Vitor Hugo:
“De que amanhã se trata? Pergunta Vitor Hugo em um de seus poemas de Cantos do
Crepúsculo. E como introdução, assinala: “Tudo hoje em dia, nas idéias como nas
coisas, na sociedade como no indivíduo, encontra-se em estado de crepúsculo”. De que
natureza é esse crepúsculo, o que virá depois?” Este foi nosso ponto de partida.
E penso em traçamento: “De que amanhã a pedagogia dos surdos se trata?”.
Como Skliar (2003, p. 20) se medita sobre como o futuro traçamento:
Que continuo pensando que para falar de mudanças na educação é necessário,
primeiro, um profundo silêncio, uma longa espera, uma estética não tão pulcra, uma
ética mais desalinhada, deixar-se vibrar pelo outro mais do que pretender
multiculturalizá-lo, abandonar a homodidática para heterorelacionar-se.
E se declara afirmando em como a volta epistemológica para o nosso tempo possível:
E que logo em seguida é preciso voltar a olhar bem aquilo que nunca vimos ou que
vimos, mas desapaixonadamente.
Voltar a olhar bem, isto é, voltar a olhar mais para a literatura do que para os
dicionários, mais para os rostos do que para as pronúncias, mais para o inominável do
que para o nominado. E continuar desalinhados, desencaixados, surpresos, para não
continuar acreditando que nosso tempo, nosso espaço, nossa cultura, nossa língua,
nossa mesmidade significam todo o tempo, todo o espaço, toda a cultura, toda a língua,
toda a humanidade.
Voltar a olhar bem como diz Nuria Pérez de Lara (2001), para não ter essa sensação de
tópicos vazios, encobridores de realidade, que não deixam marca alguma a não ser
aquela da vacuidade, da infertilidade, da solidão a sós.
Conforme já temos o texto publicado sobre a visão epistemológica feita por mim e pela
surda, professora e doutora Gládis Perlin, (Miranda e Perlin, 2003, p. 217): “Surdos: o narrar e a
política”.
Estou consciente de lo que es ser sordo y estamos orgullosos de nosotros mismos como
personas sordas, orgullosas de nuestra lengua y de nuestra cultura. Nuestra función
como sordos nos permite tomar consciencia de nosotros mismos y respaldar a nuestros
iguales. Juan Eugenio Ravelo, de Mendoza (2003, p.217).
36
Significado de ser surdo”: esta colocação de Juan Eugênio foi propositadamente
colocada como uma excelente oportunidade para a discrição referente ao objeto final de interesse
deste artigo: ser surdo
9
. As identidades essenciais, imanentes ao ser surdos mostram narrativas
constantes e idênticas a de Juan Eugênio. As pesquisas que vimos colhendo desvendam a
intenção referente a estas identidades orientadas no sentido de ser. Igualmente o produto nestas
pesquisas que em sua maioria deve se fazer presente mostra a diferença. Inclusive exibe o
conceito ser surdos como um conceito fluido onde a Epistemologia esgota o conhecimento
presente na essencialidade da comunidade surda (sem esquecer hibridismos) e não mais o
conceito da deficiência, da clinicalização, da cura, da incapacidade... Não mais o conceito de ser
surdo falante ou não falante, mas exclusivamente que pode utilizar-se da fala ou da língua
portuguesa para intermediar o intercâmbio cultural
10
.
Também se sugere que com a pesquisa continuamos a aprofundar mais e mais os níveis de
compreensão do ser surdo ou o conceito de ser surdo. Temos ultimamente a pesquisa do Dr.
Paddy (2002) surdo, orientador na Pós-graduação na Universidade de Bristol, Inglaterra onde ele
tem inclusive uma nova palavra para o ser surdo: Deafhood, palavra nova que não significa
“surdez”, mas ser surdo. Este termo concorre não somente para mover-se e ligar-se à
comunidade surda, mas pode-se continuar a explorar e encontrar novos níveis deste significado.
O que concorreu para a formação da palavra deafhood? O inglês tem substantivos como
manhood, ou seja, ser homem ou o estado de passagem; womanhood, ou seja, mulher ou o estado
de ser ou atingir. Então os surdos ingleses tiveram o espaço criativo para a invenção da nova
palavra em que atribuem significados diferentes, significados para os tempos atuais.
Gládis Perlin
11
, uma das primeiras surdas no Brasil até mesmo na América Latina a ter
concluído o curso de mestrado e doutorado: “Consegui concluir minha tese onde escrevo em
português
12
sobre o ser surdo como diferença possível para nosso tempo
13
.
9
Ser surdo implica em uma resposta aqueles que se refugiam comodamente sob a palavra deficiência e a nomeiam
em sua epistemologia, recusando a ser na diversidade e assumindo a diferença
10
A identidade surda existe desde que a pessoa passa a se utilizar dos olhos para fazer interação com o semelhante.
Perlin, 1998
1111
Perlin é surda, doutora em Educação pela UFRGS. Hoje atua como professora adjunta no Centro de
Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua como orientadora de pesquisas, dissertações
e teses em pedagogia de surdos nesta Universidade.
37
A Volta Epistemológica se destina nos olhares do nosso tempo possível, olhamos bem
em experiências atuais desde o olhar histórico do passado até o presente, que registra as
experiências pedagogias com referência aos surdos, mesmo durante nas colonizações
ouvicêntricas, mesmo no que impõe uma única língua ouvicêntrica. Analiso essa instabilidade,
defino esta “volta” que divide-se em: a) um desejo, b) uma necessidade essencial, c) um olhar
para si, d) um olhar para o olhar histórico, e) uma nostalgia.
a) Um desejo:
Silva explicita o que é “desejo”, em seu livro Teoria cultural e educação, um vocabulário
crítico, 2000, p. 37:
Na crítica cultural contemporânea, a idéia de “desejo” remete, quase sempre, para o
tratamento que lhe foi dado pela Psicanálise, sobretudo por Freud e Lacan. O conceito
tem, entretanto, na tradição filosófica ocidental, uma história bem mais antiga,
remontando pelo menos a Platão e recebendo a atenção de filósofos tão diversos quanto
Agostinho, Hegel e Spinoza. Nesta tradição, a idéia de “desejo” esrelacionada, em
geral, à idéia de “carênciaou “falta”: deseja-se, sempre, algo que não se tem, algo,
em geral, difícil de ser obtido. Além disso, o desejo é, nos termos colocados pela
fórmula lacaniana, “desejo do outro”, no sentido duplo e ambíguo de desejo pelo
outro” e desejo do desejo do outro”. Numa tendência que foi continuada pela
Psicanálise, o conceito de “desejo” remete, nessa mesma tradição, a algum impulso
primordial, original, em geral de ordem biológica. Dada a separação entre política e
desejo que tradicionalmente tem caracterizado as teorias sociais mais politizadas, como
o marxismo, por exemplo, tem –se buscado, de um lado, “politizar o desejo e, de outro,
“erotizar” a política, destacando-se, nesse sentido, as teorizações de Wilhelm Reich e
Herbert Marcuse. Por outro lado, teóricos como Michel Foucault, por exemplo,
recusam-se, preliminarmente, a conceder qualquer status teórico ao conceito de
“desejo”, por suas conotações claramente psicológicos ou amesmo biológicas. Mais
geralmente, no contexto da chamada “virada lingüistica” que caracteriza o s -
estruturalismo, a questão está em como conceber o desejo em termos de discurso e
linguagem, sem lançar o de qualquer idéia sobre alguma suposta “força” que seja
anterior ou transcendente à sua formulação lingüística ou discursiva. Mais
recentemente, Gilles Deleuze e Félix Guattari, desenvolveram, no livro O anti-Édipo,
uma tentativa de síntese teórica entre, de um lado, a dinâmica da produção econômica
que está no centro das teorias sociais ”politizadas”, sobretudo as marxistas, e, de outro,
a dinâmica do desejo, interpretando-o, entretanto, de uma forma completamente
diferente das tradições que o vêem como carência e como impulso biológico ou
psicológico primordial.
12
O português a língua do outro ouvinte, é para nós segunda língua, estrangeira e difícil, é quase inacessível, apesar
de ser a de nosso país. Dentro da universidade as redes de poder e saber da língua nos fez obrigar a escrever em tese
13
Entrevista publicada na Internet/FENEIS. www.feneis.com.br/Educacao/artigos_pesquisas/gladis.htm - 6k -
38
A discussão da idéia de “desejo” também tem sido central às
vertentes feministas da crítica cultural, as quais colocam em questão, sobretudo, as
perspectivas psicanalíticas que concebem a mulher como objeto ou produto do desejo
masculino. Por outro lado, pode-se interpretar a conhecida palavra de ordem feminista
”o pessoal é político” como uma tentativa de integrar questões relativas ao poder com
questões relativas ao desejo. É óbvia a ausência de qualquer teorização sobre a questão
do desejo na chamada “teoria educacional crítica”. Mais recentemente, sob a
influência da Psicanálise, das teorias feministas e da crítica pós- estruturalista, a teoria
educacional crítica tem-se mostrado mais permeável à discussão sobre questões
relacionadas ao desejo, como se pode ver, por exemplo, nas recentes preocupações com
questões relativas ao corpo e a sexualidade na educação. Em geral, entretanto, a teoria
pedagógica crítica tem permanecido cartesianamente pouco simpática à introdução de
qualquer discussão sobre a questão do desejo em educação.
Conforme a citação acima, olho no vocabulário de Silva, defino em resumo o significado
“o desejo” que está relacionado dividindo em:
1- Questão da “carência” ou a “falta”:
"Na vida há muitas coisas que não são rápidas. Porém quando se trata de uma
criança não se pode esperar. Agora é o momento em que seus ossos estão se
constituindo, seu sangue está sendo produzido, sua mente se está formando. Seu nome
não é amanhã. É hoje". Gabriella Marcella
Como Gabriella Marcella, uma surda argentina que define o desejo como a relação com a carência
ou a falta, não podemos esperar, temos que deixá-lo ou fazê-lo se construi, se forma, se funciona, se muda,
se repara logo.
Como segundo Celeste Azulay, a professora do Instituto de Psicologia da UnB, em sua
tese de doutorado, preocupava-se refletida como tratar da inclusão de crianças surdas na escola:
A maioria dos professores que estão sendo capacitados ainda é ouvinte, o que
prejudica o aprendizado. “Mesmo o intérprete traduzindo em LIBRAS, o conteúdo deixa
a desejar”.
Cerca de 90% das crianças surdas nascem de pais ouvintes, são estrangeiras dentro do
próprio lar.
É na escola que elas vão aprender a LIBRAS”.
“Por isso, é necessário que educadores surdos sejam personagens e atores do ensino da
língua de sinais. E não é isso que está acontecendo”.
39
Bem como a gerente de Apoio à Aprendizagem do Surdo, da Secretaria de Educação,
Elen Morais, conta que São Sebastião e Paranoá são atualmente as únicas cidades que não têm
professores surdos atuando em escolas, comemora:
“O convívio com o professor surdo no aprendizado faz com que colhamos os frutos de alunos
chegando ao ensino superior, virando pedagogos, matemáticos, professores de letras”. no
primeiro semestre de 2006, a Secretaria promoveu 12 cursos de capacitação de professores.
“Estamos caminhando para que o surdo aprenda bem o português na escola e adquira a libras
na sua formação e no convívio com os outros surdos”.
2- Questão do “impulso de ordem biológica ou psicológica”:
Nós surdos nascemos mesmo sermos surdos biológicos ou acidental, outros depois de
nasceram também biológico ou acidental, acabam sendo surdos. Como a der surda Carilissa
Dall´Alba afirma divulgando pela Internet www.surdos.pel.surdos: “A natureza me tirou a
audição e trouxe a visão e a inteligência”.
Bem como Nídia Sá conceitua:
Quanto ao termo “Surdo”, podemos dizer que é o termo com o qual as pessoas que não
ouvem referem-se a si mesmos e a seus pares. Podemos definir uma pessoa Surda como
aquela que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira
natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua
identidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias
cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria das
pessoas que ouvem.
Nos estudos Surdos não se utiliza a expressão “deficiente auditivo” numa tentativa de
re-situar o conceito de surdez, visto que esta expressão é a utilizada, com preferência,
no contexto médico-clínico, enquanto que o termo “Surdo” está mais afeito ao marco
sócio-cultural da surdez. Nestes Estudos se enfatiza a diferença, e não a deficiência,
porque “cremos que é nela que se baseia a essência psicossocial da surdez: ele (o
Surdo) não é diferente unicamente porque não ouve, mas porque desenvolve
potencialidades psicoculturais diferentes das dos ouvintes” ((Behares, 2000, p. 2)). Ora,
a distinção entre Surdos e ouvintes envolve mais que uma questão de audiologia, é uma
questão de significado: os conflitos e diferenças que surgem referem-se a formas de ser.
Esta questão é tão séria que Wrigley nos impacta com uma questão: Por que muitos
Surdos alegam que nasceram Surdos, mas, na verdade, tornaram-se Surdos como
resultado de alguma doença ou outras razões? Comenta o autor: “O ouvinte de
pensar que isto tem algo a ver com a idéia de ter estado doente, ou com o sentimento de
perda, ou senso de culpa, pois, para o ouvinte, a surdez representa perda de
40
comunicação, exclusão, banimento, solidão, isolamento. Para os Surdos a explicação é
totalmente diferente: alegar uma surdez de nascença significa não estar “contaminado”
pelo mundo dos ouvintes e suas limitações epistemológicas de som seqüencial” (1996, p.
39).
3- Questão da “virada lingüística”:
Que Silva (2000, p. 111), em seu livro “Teoria Cultural e Educação”, define:
Na análise pós estruturalista, o momento no qual o discurso e a linguagem passaram
a ser considerados como centrais na teorização social. Com a chamada “virada
lingüística” ganha importância a idéia de que os elementos da vida social são
discursiva e lingüisticamente construídos. Noções como as de “verdade”, “identidade”
e sujeito” passam a ser vistas como dependentes dos recursos retóricos pelos quais elas
são construídas, sem correspondência com objetos que supostamente teriam uma
existência externa e independente de sua representação lingüística e discursiva. “Os
limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”.
Ludwig Wirtgenstein.
Na opinião da professora Celeste, apesar de tantos avanços, a inclusão do surdo na educação é
uma utopia, conclui: “Como toda utopia, a gente vai sempre perseguindo, mas nunca chega lá. O
importante é caminhar passo a passo e garantir o respeito à diversidade”.
Os sujeitos surdos têm em suas representações lingüísticas e discursivas independentes na
vida social, sua primeira língua, a LIBRAS bem como dentro da questão do desejo em sua
educação.
4- A questão do desejo em educação:
A Faculdade de Educação da UnB lançou um curso de extensão gratuito para que a professora
Celeste transmita as estratégias voltadas para a educação dos surdos, identificadas, ao longo do
doutorado, defende:
Entre elas, estão a valorização do aspecto visual no ensino e a flexibilização do espaço
físico das salas de aula: “Também é necessário dar voz ao surdo. Por exemplo, fazer
com que um colega ouvinte leia o texto dele. Não basta incluir a criança, ela tem que ter
condições de acompanhar o conteúdo escolar”. (Do Correio Web 18/08/2006)
41
Como Klein (1966) aconselha:
“A criança normal adquire a linguagem, sua
primeira língua (ou língua nativa), nos primeiros anos de vida”.(p.3)
É uma necessidade essencial, que será explicita em baixo, dentro da questão do desejo em
educação.
a) Uma necessidade essencial:
Conforme as exigências da Federação Mundial de Surdos, WFD - World Federation of
the Deaf
14
, filiada às federações nacionais representativas de vários países do planeta, durante
o Comitê Especial da Convenção da ONU sobre os Direitos Humanos;
La WFD –exige a la ONU la promoción de la identidad sorda
La Convención de la ONU sobre los Derechos de las Personas com Discapacidad em su
Comité Especial, que tendrá lugar del 14 al 25 de agosto de 2006 incluirá la necessidad
de “facilitar el aprendizaje de la lengua de signos y la promoción de la identidad
lingüística de la comunidad sorda”.
Entre las aportaciones sordas a esta declaracion de las naciones unidas se diferencia
entre “comunicación” entendida como la lengua oral y de signos, la visualización de
textos, y las comunicaciones por el sistema Braille, los métodos táciles, el tipo de
imprenta grande, los dispositivos multimedia de fácil acceso, el idioma común, los
medios de lectura em voz alta y otros métodos, medios y formatos aumentativos o
alternativos de comunicación, incluida la tecnología de la información y las
comunicaciones de facil acceso.
Por “lengua” se entenderá tanto las lenguas orales como de signos y otras formas de
lenguage no oral.
Observación: En este artículo la lengua de signos aparece mencionada dos veces: en la
definición de “comunicación” y en la definición de “lengua”. Estas definiciones
todavia se están elaborando, pero deberia incluirse la lengua de signos en este articulo.
14
WFD – An International Non Governmental Organisation in official liaison with ECOSOC, UNESCO, ILO and
WHO. Legal Seat – Helsinki, Finland. www.wfdeaf.org
42
Conforme verifico as exigências dessas necessidades essenciais, defino entendidas como:
a) Identidade lingüística e cultural b) Uso e desenvolvimento da Língua de Sinais.
5- Identidade lingüística dos Surdos:
Os surdos necessitam estar com seus pares ou parceiros da mesmidade, formam
construindo a Identidade lingüística, é coletivo, é como convívio / comunidade lingüístico dos
surdos, é o espaço ou território essencial do contato cultural dos surdos. O escritor ouvinte
Mottez, (1992, p. 5) escreve narrando com o título: “Os banquetes de surdos mudos e o
nascimento do movimento surdo
15
, como a importância desse, desde o olhar histórico da Era das
Luzes:
Nos banquetes se falava muito do povo surdo mudo, de nação surdo
muda. Hoje se diz comunidade de surdos para falar deles em outra
forma que como uma simples coleção de indivíduos. Porém mais nos
termos Povo e Nação que no de Comunidade. Os banquetes, como o
esporte, tomam um lugar importante na maneira de viver dos surdos.
Quero dizer o que significa para mim, ouvinte, participar a um desses
banquetes. Quando estou convidado na casa de amigos surdos, digo que
vou donde fulano ou sutano a casa de amigo, que por acréscimo são
surdos.
Porém não digo que vou donde os surdos. Quando vou a um banquete. É
completamente distinto.Os surdos formam um povo sem território. Seus
clubes tomam esse lugar (com freqüência devem de recordá-lo aos
ouvintes demasiado propensos a querer intervir). Os banquetes são
também seu território. Me sinto realmente em terra estrangeira. Rodeado
de uma língua curiosa da que quisera nesses momentos ser um locutor
nativo. Ressinto todos os prazeres que se mal sentem em outros países.
Quando somos bem recebidos. É um dos raros lugares e momentos em
que as relações surdos e ouvintes são os surdos quem recebem e são eles
quem mandam. Ainda mais. Sempre pensou que havia nessa apetência
43
pelo banquetes como uma revanche sobre a vida cotidiana. As comidas,
para nós, ouvintes, são sempre momentos agradáveis. É um prazer
cortar-se mutuamente a palavra, falando de todo e de nada, passando de
uma coisa a outra. É por excelência o lugar donde os surdos construem a
experiência da exclusão. Que tem escolhido precisamente para
recebermos essa situação donde somente excluí-los me parece de uma
grande elegância.
O Uso e desenvolvimento de Língua de Sinais:
Para os surdos, necessitam perceber a importância da LS, com sua influência sobre a
felicidade moral e social e a capacidade de levar o pensamento a intelectualidade. O encontro
dos pares haverá o uso da língua.
“É impossível para aqueles que não conhecem a língua de sinais perceberem sua
importância para os surdos, sua enorme influência sobre a felicidade moral e social dos
que são privados da audição e sua maravilhosa capacidade de levar o pensamento a
intelectos que de outra forma ficariam em perpétua escuridão. Enquanto houver dois
surdos no mundo e eles se encontrarem, haverá o uso de sinais." (J.Schuylerhong).
E necessitam, com seus pares, facilitar a desenvolver e aprimorar a seu nível máximo em seu
ambiente escolar dos surdos a sua língua, a LS. " Tove Skutnabb, de Kangas - Suécia (2003), se
questiona a essa importância: "Como as crianças surdas não compartilham a língua materna com
seus pais, dependem completamente da educação formal para realmente desenvolver a língua de
sinais a seu nível máximo”.
b) Um olhar para si:
Os surdos necessitam olhar-se em si ou voltar a olhar em si, em sua filosofia de vida. Com
o olhar e o coração abertos a dar a palavra com escritos a ter também a partir da necessidade de
ler na escritura.
15
Grifo meu em tradução.
44
Voltar o olhar a si, como Nuria Pérez de Lara Ferre no prefácio do livro de Carlos Skliar:
Pedagogia (improvável) da diferença: E se o outro não estivesse aí? (2003, p. 13) se refere:
Voltar o olhar para si mesmo. Repensar tudo o que nos foi pensado a partir da
academia, a partir dos textos especializados, a partir dos discursos politicamente
corretos, a partir das consciências acomodadas daqueles que se conhecem como parte
da normalidade, do racional, do democrático, do verdadeiramente humano, é o que
provoca a relação direta e aberta com aqueles que não fazem parte de todas essas
certezas. Mas isso também pode ser provocado pela leitura de um livro escrito a partir
da verdade da própria experiência, escrito a partir da verdade de uma relação, escrito a
partir do saber-se alguém que está sendo entre os outros, com o olhar e o coração
abertos ao que a relação possa dar, escrito também a partir da necessidade de ler a si
mesmo na escritura, buscando as palavras que nos ajudem também a ler-nos.
É um livro escrito a partir da experiência, de uma experiência que, como diz María
Zambrano, não só “não se deixar arrebatar pelo céu da objetividade, mas também
reage diante dela”. Dessa reação nutre-se a maioria das linhas do texto que trato de
prefaciar, mas é uma reação na qual não se produz um movimento contrário, de
oposição reflexa, e sim um movimento diferente, o de pensar de outro modo, o de buscar
nas palavras que o geram uma filosofia que possa iluminar, ainda que somente por um
momento, a experiência da qual elas nascem.
Cameron Crowe, o escritor e diretor do cinema, escreve seu próprio sentimento conforme o
filme de “Vanilla Sky” (pesquisa na Google, da Internet):
“Abra os olhos. Não é só para ver, sim como viver”. Tem uma trama, fiz os personagens
para olhar como sentem, sofrem cheio de tramas, vazios, que brincadeiras de mau
gosto, recebem conhecimentos frios, sem experiências. Essa idéia de dar a vida a
alguém que não tem, eles engolem e não percebem.. Quero que sintam melhor a
experiência.
Juan Eugenio Ravelo, de Mendoza (2003, p. 217),declara seu olhar em si, afirmando:
Estou consciente de lo que es ser sordo y estamos orgullosos de nosotros mismos como
personas sordas, orgullosas de nuestra lengua y de nuestra cultura. Nuestra función
como sordos nos permite tomar consciencia de nosotros mismos y respaldar a nuestros
iguales.
45
c) O olhar para um olhar histórico:
Como o autor francês ouvinte Mottez (1992, p. 5) que narra com escrito sobre o povo surdo,
que explicita nos tempos das Luzes aos atuais:
Nos banquetes se falava muito do povo surdo mudo, de nação surdo
muda. Hoje se diz comunidade de surdos para falar deles em outra forma que
como uma simples coleção de indivíduos. Porém mais nos termos Povo e
Nação que no de Comunidade. Uma explosão de cólera:
Porém é dos banquetes do tempo passado que quero tratar. Dos
primeiros. Quero compartir a admiração que tive ao descobri-los. que se
conservados os traços, sabemos em detalhe todo o que neles aconteceu. Quero
convidá-los a escrever o ano 1834 como uma das grandes datas da história dos
surdos.Com o banquete comemorando seu nascimento (1834) começa o culto
I’ Abbé de L’Epée. Para mim é a data de nascimento da nação surda. É o ano
em que pela primeira vez os surdos mudos se outorgam uma espécie de governo.
Este nunca tem deixado de existir.
“Ele fez que nós surdos, o povo surdo, olhássemos bem o nosso olhar histórico sobre: A
decadência da educação dos surdos por opções oralistas, educadores oralistas ocupam o lugar que
era dos educadores surdos”.
Porém votamos um tempo atrás:
Sicard, sucessor de I’Abbé de L’Epée, morreu em 1822. Deixa o Instituto de
Paris, em um estado lamentável. Sua sucessão é problemática. Durante quase
10 anos o conselho de Administração assume praticamente a direção do
estabelecimento. Dito conselho obviamente pouco competente na educação de
surdos mudos toma ademais opções oralistas. Estas opções comprometem o uso
da mímica na educação e como conseqüência o lugar que ocupam os
educadores surdos. As duas coisas vão relacionadas estreitamente porque, por
exemplo, a introduzir o ensino da palavra falada nas funções dos professores
implica automaticamente a retrogradação dos professores surdos ao grau de
repetidor.
46
Os que foi o que aconteceu outras medidas do mesmo tipo foram preconizadas.
Ao absurdo delas, e à resistência de maestros e alunos, se deveu o não haver
sido aplicadas.
Existia uma discórdia endêmica.
Em conseqüência dessas, surgiu um líder surdo que mobiliza-se:
Em 1834, Ferdinand Bertier, professor surdo mudo do Instituto de Paris e
alguns de suas colegas, Lenoir, Forestier, futuro diretor da escola de Lyon,
decidiram mobilizar-se.
Criaram o Comitê de Surdos-mudos.
Entre os 10 membros deste comi estavam Fréderic Peysson de Montpelier,
pintor, autor alguns anos depois do célebre quadro “os últimos momentos de
I’Abbé de L’ Epée; um italiano do Instituto de Torino, Mosca, também pintor”.
Primeira decisão do comitê: -festejar com um banquete do momento em diante,
(frente) o aniversário do nascimento del Abbé de L’Epée.
Com o nosso tempo, nós os movimento surdos, fizemos os documentos testamentários
mais importantes da história gaúcha surda:
1- “A Educação Que Nós Surdos Queremos” durante o Pré e V Congresso Latino - Americano de
Educação Bilingüe para Surdos em Porto Alegre, 1999, com passeata e entrega desse documento
ao Governo do Estado. Revista da FENEIS, Edição Especial –Ano V nº25 Abril Setembro,
2005 p. 25.
2- “Surdos: Um Olhar sobre as Práticas de Educação”. Seminário Nacional em Caxias do Sul –
RS em 2001. Revista da FENEIS –Ano IV Nº 13 Janeiro - Março, 2002 p. 29, Edição Especial
3- As Políticas Educacionais Para Surdos no RS: A Educação Que Nós Surdos Queremosem
Porto Alegre RS, em 10 de outubro de 2005, com passeata e entrega desse documento ao
Governo e Secretarias do Estado.
47
5- Uma nostalgia:
Uma nostalgia por certas coisas nossas que desejaríamos “ter, ser e fazer” como fala Madan
Sarup, a partir de nosso ser outro como a reverberação epistemológica dentro da Pedagogia dos
Surdos.
A reverberação surge uma verdade, um brilho, uma luz como um sujeito líder surdo,
intelectual e acadêmico que narra olhando a si mesma como: Berthier, Clerc, Huet, Ravelo-
Mendoza, Perlin, Ladd, e alguns surdos no Brasil e no Exterior.
Bem como a construção ou a conquista dos espaços como:
a)Com o professor Carlos Skliar, o grande professor que luta pelas Políticas Educacionais para
Surdos no PPGEDU da UFRGS, abriu espaços para os surdos participarem o curso de Mestrado
e Doutorado, também abriu o NUPPES / UFRGS, para discussões, pesquisas, com projetos.
b)Pós –Graduação de Mestrado e Doutorado para Surdos na UFSC (Ronice Quadros e Gládis
Perlin).
c)Escola de Surdos- Magistério para Surdos em Santa Maria - RS.
d)Curso LIBRAS / LETRAS na UFSC com pólos em algumas capitais do estado e um no
interior: UFSM.
e)Colônia de Férias de Capão da Canoa (visitas dos alunos surdos de várias escolas de surdos).
f) Professores surdos e intérpretes nas universidades.
a- Ter o território (espaço) da pedagogia dos Surdos que no momento está em pesquisa....
b- Ter a própria língua na pedagogia.
A regulamentação da Língua Brasileira de Sinais (Libras), em dezembro do ano passado,
é apontada por especialistas como a principal responsável pela reviravolta no processo de
inclusão dos deficientes auditivos.
O decreto 5.626 tornou obrigatória a inclusão da Libras como disciplina curricular nos cursos de
formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos
de fonoaudiologia.
48
A assessora técnica da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação
SEESP / MEC, Marlene Gotti afirma: “A regulamentação mudou a forma de ver o aluno surdo.
Justamente porque deixou claro que, para ele, o português é uma língua estrangeira”.
E o Ensino: este ano, nove universidades – entre elas, a Universidade de Brasília (UnB)
darão início ao primeiro curso de graduação em Libras. Ao todo, 500 vagas foram abertas. Houve
mais de quatro mil inscrições. Em outubro, o governo pretende selecionar pessoas que dominam
a linguagem de sinais para atuar na rede pública. Os testes serão aplicados em todo o país. Para a
presidente da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Físicos do DF –APADA / DF,
Rosana Cipriano Jacinto, o principal desafio é conscientizar a população de que o problema do
surdo é essencialmente lingüístico. “O surdo não é deficiente mental, ele se desenvolve
normalmente e não é inferior a ninguém por ser surdo”, lembra. Segundo ela, as escolas ainda
não estão preparadas para lidar com os surdos: “Desde o porteiro que não recebe esse aluno bem
porque não se consegue se comunicar com ele até o professor que não conhece o universo desse
aluno”, justifica Rosana. (Do CorreioWeb 10/08/2006).
c- Ser e Estar sendo surdo? lingüístico?:
Bernard Mottez (p.5) escreve querendo dizer como os termos corretos?
Escrevo querendo ser fiel ao vocabulário da época.
Dirá com freqüência mímica para falar da língua de sinais e de igual maneira dirá surdo
mudo e falante no lugar do que agora se diria mais bem surdo e ouvinte.
Se preferiria então designar uns e outros por seus atos e pelo que é visível.
Falar, não falar, esse se vê e são atos.
Ouvir, não ouvir são mais bem estados e esse não se vê.
Ademais no caso todas as Línguas de Sinais do mundo, me parece, se continua a usar o
signo surdo mudo por surdo e falante por ouvinte.
d- Como fizemos com os movimentos os documentos testamentário conseguidos e não
fazíamos logo em realidade positiva, temos sentido a nostalgia desses, temos os registros
49
escassos, soltos do olhar histórico sobre a pedagogia dos surdos, tenho que construir a tessitura
16
desse olhar, que terá no capítulo seguinte.
16
Como uma contextura, uma organização ou uma constituição, costuradas construindo o olhar histórico da pedagogia dos surdos
desde o passado até o presente.
50
3.3 AS TESSITURAS DO OLHAR HISTÓRICO DA PEDAGOGIA DOS SURDOS
As concepções equivocadas, ou seja, o deslocamento do surdo está na história, (conforme
examinei colecionando com o Caderno do Espaço do INES, e outros dos autores como Lulkin em
sua dissertação: “Silêncio Disciplinado”, Perlin: “História da Educação dos Surdos”, Mottez: “O
banquete e o Nascimento do Movimento Surdo”, e alguns livros de Skliar) e foi tamanho que o
seu curso de vida, tradicionalmente dividido em 4 tempos: Na Idade Antiga e Média (antes de
1880), na Idade Moderna (ou do Iluminismo) (Século XVI a XIX), do oralismo
17
a diversas
metodologias (1880 até o momento), na época atual.
Na Idade Antiga a Idade Média:
Que história triste para começar. Como dizer de forma mais promissora se neste período a
história registra que houve surdos castigados, maltratados, assassinados, decapitados por causa do
“mito da perfeição”, tendo negados todos os direitos a educação, herança, etc. O mais antigo
registro que tem notícias é o do século XVIII a.C.: “Não se deve maldizer um surdo e nem
colocar obstáculos diante do cego.”(Moisés). O surdo já era o objeto de maus tratos, mas alguém
como Moisés já dizia que o surdo era alguém.
O próprio Heródoto, filósofo da antigüidade, classificava os surdos como “seres
castigados pelos deuses.” Porque isso? Igualmente, Aristóteles, o grande filósofo da antigüidade,
estabeleceu uma relação entre surdez e mudez, mas não foi além. Mas, também não via uma
possibilidade de educar as pessoas surdas. nas civilizações gregas e romanas, de uma maneira
geral, não lhes perdoavam a surdez e a questão era resolvida com a eliminação social ou física.
Desta época, muita coisa foi feita para eliminar os surdos e ficou perdida no tempo, sem
registro. O que se sabe é que as civilizações e as pessoas surdas percorreram um longo caminho,
cheio de preconceito, descrédito, piedade e loucura.
17
Oralismo é a tradição secular de fazer o surdo igual ao modelo ouvinte., proibindo-o de sinalizar.
51
Na Idade Média (século V – antes de Cristo ao Século XV depois de Cristo), as civilizações
acreditavam em infinitos demônios. Porque estas mentes chegaram a tanto? No caso da pessoa
surda não foi diferente, este pensamento destrutivo colocou a surdez em suas imensas fogueiras.
O pivô que mostra o pavor pela surdez foi descoberto pelos arqueólogos. As epígrafes
que eles encontraram mostravam que os pais prometiam aos deuses sacrificarem seus filhos
surdos sempre que tivessem um filho “sadio”. Isto talvez porque ser surdo era estar condenado ao
inferno, não só a pessoa surda, senão também a família teria a maldição.
Os surdos eram tratados como incapazes, bobos, loucos, malditos e juridicamente não
tinham direito algum. Eram proibidos de herdar, de celebrar missas e de se casar.
O momento bom está na Idade Moderna (Século XV ao culo XVIII), a Europa vivia
grandes mudanças políticas, econômicas, culturais e religiosas. Era o Renascimento, a luz
contrapondo as trevas medievais. Onde o humanismo ficou evidenciado. E assim, historicamente
podemos entender, o surdo passa de “seres castigados pelos deuses” à pessoas com direitos à
educação e à socialização.
Ainda no Século XVI, existem inúmeros trabalhos educativos realizados com pessoas
surdas, como métodos criados, inventados por pessoas ouvintes ou mesmo ouvicêntricas. O
monge ouvinte Pedro Ponce de León, conseguiu oralizar através de um método rudimentar o filho
de um nobre rico. (1510-1584). Já em 1620 (século XVIII), na Espanha, Juan Pablo Bonet, o
ouvinte publica um livro em que expunha os princípios do método oral, “Reducción de las Letras
y Arte para Enseñar a Hablar a los Mudos”. Onde afirmava que a prática do ensino da pessoa
surda deveria ser individual.
Na Idade Moderna:
O monge ouvinte L’Epeé, iniciou seu ensino aos surdos por acaso. Ele estudou a
linguagem usada pelos surdos e tentou um método de ensino para a língua escrita através do uso
de sinais. Ele descobriu a linguagem dos surdos como um meio de as pessoas surdas expressarem
52
sentimentos, idéias e emoções. Ao contrário do método oral, a prática do ensino usada por
L’Epeé era realizada com grupo de pessoas surdas.
Ainda no século XVIII, tem-se registro do primeiro debate público sobre métodos para
trabalhar a educação da pessoa surda. Trata-se da famosa discussão entre o abade francês Charles
Michel de L’Epeé (1712-1789), autor do método de sinais ou mímico, e o pastor Samuel Heinicke
(1729-1790), defensor ouvinte do método oral.
Em 1775, em Paris, o abade L´Epeé fundou a 1ª escola pública para surdos Instituto
Nacional de Jovens Surdos, com uma proposta pedagógica difundida para diversos países. A
partir desses eventos, a língua de sinais passa a ser reconhecida como uma das formas de
comunicação apropriada para a educação de pessoas surdas. Em pouco tempo, os resultados
positivos da metodologia utilizada pelo abade de L´Epeé, apresentados publicamente para as
autoridades e doutores, chamam a atenção de religiosos e educadores e fundam-se inúmeras
escolas para surdos na Europa, com profissionais surdos e não - surdos.
Na escola os surdos passavam a ser professores de outros surdos. Seu método foi muito
reconhecido, pois nas demonstrações e nos exames anuais, os alunos deviam responder a 200
perguntas sobre religião, responder sobre conjugação, pessoa, tempo e modo de expressão,
deviam distinguir substantivos, adjetivos, pronomes, preposições e conjugações.
Segundo Mirzoeff (1995), algumas publicações do século XIX apontam para uma
interpretação própria dos surdos sobre esses eventos, chamados de “representações teatrais”, com
o sentido pejorativo. As mostras públicas de L´Epeé e Sicard foram hostilizadas por autores como
Ferdinand Berthier, intelectual surdo, e pelo abade Bébian, amigo de Berthier:
Não é difícil ensinar um surdo-mudo a escrever palavras na ordem em que elas são
ditadas; o público admira-se cegamente; mas o instrutor consciencioso não pode se
contentar com essa aparência decepcionante. Ele deseja que o aluno entenda tudo
que lê e escreve”. (BÈBIAN,1825 apud Mirzoeff, 1995, p.94).
53
Esta história de povo surdo começou em 1834 no momento em que os professores surdos
Ferdinand Berthier
18
e Lenoir
19
decidiram mobilizar os surdos (PERLIN, 2002, p. 48).
Se o desígnio inicial era exaltar de início o homem ouvinte em que favoreceu a entrada
da língua de sinais na educação dos surdos, tal efeito não teve repercussão.
Notadamente os registros das Atas dos Surdos de Paris o se voltaram logo contra os
discursos dominantes, mas para sua diferença cultural. Assim crescia um pequeno
grupo representativo, como parte do todo: professores, pintores, gravadores,
empregados, sumidos da elite, todos movidos por uma necessidade de encontrar-se. Não
era então a referência da discriminação, mas a descoberta da alteridade surda
essencial na articulação das identidades diferenciais que podiam descriminar o ser e o
estar sendo surdo.
A presença surda, não narrada na historia oficial, foi descobrindo nos banquetes
20
improvisados para os encontros onde entre surdos se falava muito de política evidenciando
inclusive o aspecto passa despercebido como povo surdo e nação surda. Sobre os banquetes
Ladd (2003) tem uma versão de quem pesquisou nas fontes:
Não se deve inferir que um único discurso surdo existia. Os banquetes de Paris reuniam
uma elite masculina, eles também se dissolviam e se reuniam em torno de argumentos
baseados em termos políticos surdos, tais como as prioridades políticas que a
comunidade enfrentava no momento. Todavia, os textos dos banquetes revelam não
somente um alto nível de discurso surdo, mas o fato de que esses discursos
contemplavam também certos princípios com os quais surdos menos literatos e oradores
se identificavam. Nesse sentido parece existir neles uma base unitária para outros
discursos que, de outra forma, poderiam parecer divergentes. (LADD, 2003 p.112)
21
Em 1834, Ferdinand Berthier, primeiro professor surdo e líder surdo, aclamou aos surdos
franceses e estrangeiros no banquete “Povo Surdo” para a criação da Associação Universal dos
Surdos-Mudos, pois eles se preocupavam com a decadência da Pedagogia surda. Ele foi o
militante / batalhador pelos Direitos Civis dos Surdos e da Língua de Sinais. Professor – escrivão
– homenageado com o Título Cavaleiro da Legião de Honra pelo governo e sociedade da França.
Fundador e presidente da 1ª Sociedade/ Associação de Surdos no Mundo.
18
Ferdinand foi um dos professores surdos do Instituto de Paris. Ao que conta este Instituto tem vários outros
professores surdos.
19
Outro professor surdo e colega de Ferdinand, mais tarde ele seria diretor da Escola de Lyon, na França.
20
A assertiva dos banquetes onde estavam reunidos somente os surdos parecem com nossas distraídas tardes de chá
onde se revela com toda a intensidade a narrativa substancializada de nossa diferença cultural. Inclusive tenho
experienciado que onde se encontra apenas um surdo ele sucumbe à força do colonizador, quando ele se encontra em
grupos consequentemente ele expõe sua narrativa que parte para o evento ou legitimação de sua fonte, a interação
cria um território cultural. (Gládis, 2002).
54
No século XIX, já havia inúmeros institutos para alunos surdos em toda a Europa, mas é o
Instituto Nacional de Surdos de Paris que merece de nós a maior atenção, pois é de que vem o
fundador do primeiro Instituto para surdos no Brasil. E é onde começa a história da educação da
pessoa surda em nosso país:
“Em 1855 chegou ao Brasil o francês E. Huet, o surdo congênito. O ex - diretor do
Instituto de Surdos de Paris trouxe a experiência de Mestrados e cursos, a fim de comprovar a
capacidade do surdo na área de Educação. Seus trabalhos contaram com o apoio de D. Pedro II,
que ajudou a colocar em funcionamento o Instituto de Surdos - Mudos, a princípio instalado no
Centro do Rio. Mas, o francês alcançou seu objetivo em 26 de setembro de 1857, com a
fundação do Instituto Nacional de Educação do Surdo / INES, atualmente em Laranjeiras, no Rio
de Janeiro.
Trouxe consigo a bagagem pedagógica que continha a LSF (Língua de Sinais Francesa).
Através dos ensinamentos de Huet, a Língua de Sinais se difundiu e desenvolveu no Brasil.
Durante anos o INES foi a única escola especial para surdos no Brasil. Tanto assim que até hoje é
considerada importante referência educacional nacional.
Do Oralismo a diversas metodologias (l880 até o momento):
Ainda na França, o trabalho do português Rodrigues Pereira utilizando o ensino da fala e
exercícios auditivos nos seus alunos teve o reconhecimento e sucesso, pois, em 1866 o Ministério
da Instituição Pública da França redigiu uma circular onde aconselhava a deixar de usar a mímica
natural e se implantasse a língua oral.
21
Tradução do original em inglês por Janie Gonçalves.
55
A Itália desejava uma unidade lingüística e isso dificultou a difusão tomada no Congresso
Internacional de Surdo Mudez, em Milão, Itália, no ano de l880. Onde o método oral foi
proclamado o mais adequado a ser usado pelas escolas. A comunicação em sinais foi
desaprovada. Porém os surdos, ali presentes não puderam opinar e também foram excluídos da
votação. O único defensor da língua de sinais foi Gallaudet.
As conseqüências dessa decisão foram a medicalização; as escolas viraram clínicas; as
estratégias pedagógicas tornaram-se estratégias terapêuticas.
Trata-se do Congresso Internacional de Milão, ocorrido na Itália entre 6 a 11 de setembro
de l880. Como é mais conhecido, foi organizado, patrocinado e/ou conduzido por renomados
especialistas ouvintes na área da surdez, todos ardorosos defensores do oralismo (como aqueles
pertencentes ao Clarke School, ao Royal School for Deaf, ou membros do Pereire Society, por
exemplo). A grande maioria deles havia se empenhado, antes do Congresso, em fazer
prevalecer o método oral puro no ensino de surdos. Cientistas eminentes, como Alexander
Graham Bell (que criou o telefone ao tentar comunicar com a esposa surda e não conseguiu, por
isso, tornou-se o inventor do telefone para ouvintes), se utilizaram de todo o prestígio político e
econômico de que dispunham em defesa, não do uso exclusivo da linguagem oral, mas da
implantação de mecanismos de controle e proibição da linguagem de sinais. Todos os esforços
que realizaram, mesmo antes do Congresso, a favor dessa causa foram coroados de sucesso. De
fato, numa Assembléia Geral realizada durante o Congresso, e na qual, vale dizer, todos os
profissionais surdos foram proibidos de votar, decidiu-se pela adoção universal, no ensino de
surdos, do oralismo em sua forma “pura”. De acordo com documentos redigidos posteriormente
por pessoas presentes no Congresso, os argumentos em prol do oralismo foram apaixonados,
portanto, não implicou em análises ponderadas e comparativas a respeito dos benefícios do uso
de cada uma das linguagens envolvidas.
O pesquisador, Lane (l989, p.386-401) citado por Souza (1998) relata a catástrofe do
oralismo sobre os surdos:
“Mesmo com todos esses avanços, em l880, após o Congresso Mundial de Surdos na
Itália, os surdos do mundo inteiro enfrentavam grandes problemas com a imposição do
Oralismo”. De 1923 a 1929, surgiu a Associação Brasileira de Surdos e houve grande
56
mobilização pelo direito de um ensino em Língua de Sinais. Mesmo no INES durante
muito tempo a metodologia oralista predominou e desencadeou uma série de
divergências entre surdos e profissionais.
Com o tempo o movimento em defesa do surdo ganhou força, e mesmo durante o período
de ditadura militar os surdos lutaram por maiores condições e qualidade de vida. (Souza, 1998).
No Estado do Rio Grande do Sul, onde estou atuando por ser surdo, fui inclusive vítima desta
onda do oralismo. Em 1921 a professora alemã Louise Schmidt, fundou uma escola oralista em
nossa capital. Ela era portadora das idéias de Samuel Heinicke. Durante quase duas décadas ela
dirigiu a escola em nossa capital. A sua escola para os surdos era o sufoco de aprender tudo na
língua oral, incluía ainda o castigo aos que tentassem de usar a língua de sinais. E ela se esforçou
em ensinar muito, mas os surdos entendiam pouco. Daí porque tinham que procurar um lugar nas
suas casas ou fundar uma associação, deles, para transmitir uns aos outros, o que aprendiam
por si mesmos em suas andanças, suas experiências.
O oralismo foi o responsável pela fuga dos surdos em associações que os defendiam do
poder ouvinte. Assim foram fundadas as várias associações de Surdos nas cidades do Brasil,
inclusive a FENEIS
22
, objetivando defender a vida e a cultura dos surdos.
Em 1960 o pesquisador norte-americano, William Stokoe criou a tese de que a comunicação
usada pelos surdos era, de fato, uma língua e tinha status de língua como às demais:
Após Stokoe lingüistas que lhe seguiram os passos acabaram, com freqüência, entrando
em controvérsias com os educadores proponentes da Comunicação Total. Segundo
Behares (1994), os “estudiosos da língua de sinais” ao aceitarem trabalhar com a idéia
de que a comunicação dos surdos organiza-se em uma língua diferente à língua oral
majoritária, defendem teses relacionadas à educação bilíngüe. A inusual vinculação
desses lingüistas à Educação confere um tom “militante” ao âmbito dos estudos sobre
as Línguas de sinais”.(SOUZA, 1998)
Com o apoio da FENEIS, a língua de sinais no Brasil já é oficializada, regulamentada,
também em alguns estados, sendo que muitos municípios já conseguiram esta vitória.
22
FENEIS: Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos é uma ONG, onde os objetivos se inteiram
pela educação, saúde, trabalho, comunicação, cultura próprios dos surdos.
57
Na Época Atual : A Educação que nós Surdos construímos:
Atualmente os surdos reivindicaram, lutaram e através de outros têm conseguindo alguns
direitos legais.
Realizamos a I e II Conferência Estadual dos Direitos Humanos dos Surdos em Porto
Alegre, em junho de 1998, onde as temáticas elaboradas e aprovadas pelos surdos tiveram
destaque, como segue: Cultura: Língua de Sinais, Identidade Surda, Cultura Surda, Arte Surda;
Educação: Ensino de Língua de Sinais, Formação do Professor Surdo, Currículo Adequado,
Ensino Superior para Surdos; Comunicação: Telefone para Surdos, Mídia televisiva, Legenda;
Trabalho: Formação e Qualificação Profissional para Surdos, Concursos Públicos para Surdos;
Direito e Legislação: Oficialização de Língua de Sinais, em nível Federal, Estadual e nos
Municípios; Adaptações Urbanas: Incentivar a implantação de sistemas e alarmes luminosos
como nos porteiros eletrônicos, campainhas, sistema de incêndio, no telefone nas residências,
escolas, bem como informação visual ou legendada nos aeroportos, rodoviárias e paradas de
ônibus.
Outro instrumento de luta foi o documento elaborado: A Educação que nós surdos
queremos”, que nós surdos construímos junto a partir do P- Congresso ao V Congresso Latino
Americano de Educação Bilíngüe para Surdos, realizado em Porto Alegre/RS, foi entregue ao
governo do Estado com uma passeata e atualmente está tramitando no MEC para a elaboração de
novas diretrizes nacionais para a educação dos surdos.
O outro também importante texto elaborado: A Pedagogia dos Surdos durante o Seminário:
“Surdos: Um olhar sobre as práticas em educação”, ocorrido em Caxias do Sul, RS – 2001.
O curso de formação de professores surdos elaborado por nós pesquisadores do NUPPES
Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais para Surdos – UFRGS e FENEIS. (está nos
anexos).
58
3.4 REFERENCIAL METODOLÓGICO
O meu trabalho foi feito com a metodologia cujo objetivo é ter a obtenção das respostas
das experiências com o objeto de observação, interrogação e pesquisa, junto com filmagens e
suas transcrições da escrita:
- Descobrir a pedagogia nas suas experiências vividas e pensadas.
- Pesquisar a pedagogia dos surdos constante nos discursos surdos.
- Pesquisar a pedagogia dos surdos já existentes nas propostas curriculares de surdos.
- Observar a diferença da pedagogia surda da do ouvinte.
“Traduzir uma experiência em uma história talvez seja o ato mais fundamental
da compreensão humana”. Peter McLaren
A - Entrevistando quem?
Os seis professores já formados, formando ou se evadidos do curso de Magistério do Ensino
Médio e de Pedagogia nas Universidades. Os surdos entrevistados que se formam do qual local:
(estes locais que tiveram os surdos, que participam, estão participando ou evadindo do
curso).
- De Santa Vitória do Palmar, a Escola Particular de Ensino Médio Magistério (de ouvintes).
- De Tupanciretã – Escola Estadual de Ensino Médio Magistério (de ouvintes).
- De Santa Maria – o recém curso de Magistério de Surdos, da Escola Estadual de 2º Grau
Reinaldo Fernando Cóser.
- De Canoas – o curso de Magistério, da La Salle (inclusão).
- De Canoas – o curso de Pedagogia Infantil, da ULBRA (inclusão).
- De Pelotas - o curso de Magistério, da Escola Pelotense (inclusão).
- De Florianópolis, SC –- o curso de Pedagogia para Surdos (e com ouvintes incluídos), da
UDESC.
59
B - Entrevistando em qual local?
O contato é direto com os professores surdos, é individual, particular em qualquer lugar.
Cujas entrevistas são flexíveis, não rigorosas.
C - Coletando e analisando os dados:
Os dados das experiências sobre a aquisição do saber / poder das formações universitárias,
do magistério, dos cursos, adquiridos pelos professores surdos que trabalham com os surdos.
D - Questionários:
Os questionários que são divididos do discurso narrativo de uma aluna do curso de
pedagogia. Acontece muitas vezes, peguei e apresento, neste meio, um discurso de um deles
durante o I Encontro de Líderes Surdos no RS em junho de 2005, na oficina da Pedagogia dos
Surdos, uma líder surda chama-se Carine:
“Sonhei ser professora para surdos. Pretendi fazer o curso de
Pedagogia Infantil para Surdos, fiz e passei inacreditável o vestibular
pois sei que na Universidade é particular, esse vestibular era adequado
para ouvintes, com a língua do outro.
Durante o curso, a falta de intérprete, lutei pelo direito da acessibilidade,
foi solicitada. Depois desta, muitas vezes as faltas dos intérpretes devido
aos problemas financeiros, à falta de horário, eu apenas sentei sem
apreensão, perdi muitos conhecimentos.
Mesmo durante os trabalhos da interpretação / tradução de um intérprete
de LIBRAS / Língua Portuguesa, eles perderam o espaço necessário,
perdendo muitos sentidos do ensino..., passando rapidamente muitos
sinais, às vezes soltos.
Muitas vezes recebi muitos conhecimentos / experiências com
sentido escuro, equivoco, ambíguo. Mesmo durante o ensino todos os
conteúdos/matérias eram próprios para ouvintes ou seja superficialmente
ou “nada” para nós surdos. Larguei razoavelmente o curso para evitar o
problema da vida escolar do amanhã. O meu desejo é ter conhecimentos /
experiências da Educação dos Surdos, da Cultura Surda (especificidade
surda) como por exemplo: Disciplina (ou seminário) de LS, Lingüística
Surda, Conto Surdo, Narração Surda, Literatura Surda, Poesia Surda,
60
Arte Surda, Corpo Surdo (Identidade Surda)..., ou seja, Currículo Surdo
adequado.
Apressei o curso para ter a diploma? Não.
A ter formação do “nada”, do “vazio”?
Como a mudança para o amanhã?”
Analisei este discurso em pesquisa, e divido em doze questionamentos, flexíveis, não
rigorosos, para a entrevista, escritos no capítulo seguinte: “Questões da Pesquisa”.
3.5 Questões da pesquisa
As questões que norteiam a pesquisa em doze partes:
1- Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
61
3- Contar o que recebeu ou não da Arte - educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da
pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa Arte - educação?
- Quais são os elementos constantes nesta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc.)?
4- Qual a formação da identidade cultural / mesmidade em relação à área filosófica /
poética / política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
6- Fale o que existe na moral / ética dentro da formação?
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
- de receber educação digna.
- de acessibilidade.
- de educação própria.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia?
62
Que passos influenciaram a pedagogia dos surdos?
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
10- Explique o que pede a solução experiencial.
11- Quais os critérios da solução, pretende esboçar para “o amanhã”?
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
63
4 AS EXPERIÊNCIAS DOS PROFESSORES SURDOS
Os dados das respostas obtidas através de doze questionários, que norteiam a pesquisa,
pelos entrevistados surdos. Para a apresentação dos discursos narrativos, cada participante foi
representada pela letra E seguida por um número, ficando assim designados: E1, E2, E3, E4, E5 e
E6.
E1
Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
Foi relatado que Ferdinand Bertier iniciou seu discurso no primeiro banquete declarando “O
Povo Surdo”. Ele se preocupava especialmente em Pedagogia do Povo Surdo, desde depois do
aniversário de 122º ano de abade de Epée. Ferdinand Bertier era aluno da escola de surdos,
INJS, começou a chamar os líderes surdos de outros países e chamou-os de Povo Surdo”,
durante a época do ouvicentrismo. Durante os séculos do poder ouvicêntrico fez-se criar o uso
do Oralismo.
Hoje sinto a volta da visão epistemológica dos surdos, resgatada na escola de surdos, Escola
Estadual Dr. Prof. Reinaldo Fernando Cóser que surgiu em 2001, já iniciado o Ensino
Fundamental, agora este ano, implantado o Ensino Médio Normal (Magistério) para surdos, o
pioneiro magistério de surdos dentro da escola de surdos no Brasil, sim se compara à educação
dos surdos da França do século XVII e XVIII: “Esse povo tão atingido, tão elevado que jamais vi,
depois, declinou-se por um século. O tesouro que era da França do século XVII e XVIII foi
achado e resgatado aqui”.
64
Os alunos do Curso Normal apoiam-se relacionados com os Ciclos, EJA. Aqui no RS, falta
o curso de Pedagogia dos Surdos na Universidade, acredito, que após o término do Curso
Normal, criara-se a Pedagogia Surda.
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Acho que aqui no Brasil não tem a Pedagogia Surda verdadeira, vejo que tem aqui em
Santa Maria o recém curso Normal (Magistério) para Surdos que relaciona os Ciclos de Ensino
Fundamental e Médio, EJA e Totalidades, sinto que aqui não existe lacunas vazias, nem
reclamações no currículo por exemplo: temos as disciplinas: Didática de LS, História dos Surdos
e LIBRAS que ensinados por mim, como professor.
3- Contar o que recebeu ou não da arte - educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da
pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa arte - educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
- Literatura é como uma vida?
Durante o curso de Educação física, formei-me e ensinei, gostei de receber conhecimentos
referentes a LIBRAS, aprendi fora do curso, LIBRAS, Cultura Surda.
Fui concursado pela escola de surdos para ser professor de surdos e ensinar LIBRAS aos alunos,
senti que não formei bem. Como professor dentro do Magistério para Surdos: adaptei-me
65
construindo com métodos próprios para ensinar: Gramática de LIBRAS, Arte - educação, Escrita
de LIBRAS, Poesia Surda, História da Educação dos Surdos. O mais importante é estimular o
surdo a fazer o teatro surdo, também para apresentá-lo ao público.
Também ensinar a LS aos ouvintes, para eles conhecerem bem a LS, expressão facial e
corporal do teatro. Os alunos apresentaram o teatro, arte, também começaram a dedicar-se a
SW com a arte, por exemplo: Páscoa: Escreve-se SW um cara acrescenta-se com o desenho de
coelho papai - Noel: um cara, de SW, acrescenta-se com o desenho de chapéu vermelho.
Os alunos surdos inspiraram-se admirando intensamente a arte própria dos surdos.
Educação vazia, só há o conhecimento de Educação Física , esportes, pensei que havia bons
conhecimentos referentes a Educação Física para Surdos com LIBRAS, a especificidade da
Cultura Surda, só há currículo para ouvintes, tive sentimentos de decepção.
Agora, no Magistério dos Surdos, o ensino é bom, “cheio”, “novo”, produtivo, com
vibrações. Com poesia, SW.... Também construímos nós próprios conforme as nossas
experiências, criando novas produções de conhecimentos, buscando inclusive cursos/experiências
de fora, adaptando o curso, SW, outros, para poder criar novas produções. Era como o baú do
tesouro escondido, difícil de encontrar o ouro (tesouro) como a SW, arte - educação: como poesia
surda, agora tem a literatura recente para a criança surda, falta para adultos, ainda falta muito, ao
menos conseguimos disciplinas como didática surda, história dos surdos, falta mais poesia,
literatura, acredito que no amanhã terá disciplinas completas, mais produtivas.
“Literatura é como uma vida” que os ouvintes têm, faltam para os surdos. Ter Literatura para
que as crianças possam curtir, por exemplo: o lobo e os porquinhos com a especificidade da
cultura surda, o lobo toca a campainha da luz e os porquinhos vêem a luz da lâmpada acesa com
o pisca-pisca ligado da campainha, diferente do porquinho ouvinte ao ouvir a campainha ou
ouvir as batidas da porta pelo lobo, foi admirado pelos alunos surdos a conhecerem a literatura
surda. O lobo e os porquinhos surdos sinalizam e o lobo e os porquinhos ouvintes oralizam. A
literatura é uma vida vivenciada pela realidade cultural dessas pessoas.
66
4- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
No curso normal, eu como professor de Didática Surda e História dos Surdos, vejo que os
alunos surdos deste curso se constroem bem os conhecimentos, a identidade cultural, identidade
lingüística, também os alunos da escola, Ciclos, Totalidades e EJA se construem bem a
identidade lingüística e cultural influenciando o modelo identitário lingüístico dos alunos surdos
do Magistério. E na inclusão? Não acredito que eles se construem esse igual, quem é o modelo? E
a formação da comunidade/convivência dos surdos?
Tem um aluno surdo da escola, que formou-se do Ensino Fundamental, foi mudado para
SC, estudava na inclusão do ensino médio com um intérprete, acreditava-se no progresso, agora
se frustrou , tem nostalgia do espaço da aprendizagem lingüística e cultural aqui em Santa Maria,
queria voltar, disse que o que pensou foi diferente, não acreditava mais na inclusão com
ouvintes, esse se fez à fragmentação da identidade, nem teve contato e avaliação escolar com o
professor, com intérprete, quando sempre agia em contato com professor, senti-me isolado,
excluído. Cujo currículo era próprio para “outro”, ouvinte.
Aqui nesta escola, o currículo pertence aos mesmos surdos, inclui-se poucos também as
culturas dos ouvintes a conhecer importantes valores desses. A mãe dele fez ele acreditar na
importância da inclusão, estudava lá, também trabalhava lá mesmo. Para ser cidadão completo na
sociedade, trabalhava, desde fevereiro até março, percebia-se que a falta era a cultura surda.
Em maio ele veio aqui para jogar futebol no torneio, matar a saudade do contato cultural, dos
surdos, (sentia um vazio desse contato de lá) participava do torneio desportivo de surdos, dos
eventos da associação, do lazer em contato com surdos, reclamava por querer voltar para este
ambiente cultural, queria emprego aqui para poder voltar e queria estudar no curso normal,
admirava-se ao ver o curso “encantado” do Magistério de Surdos, queria muito participar do
curso. Ele falou que alunos surdos do curso adquiriram bem ricamente os conhecimentos.
Vejo que tem provas (argumentos) das experiências narradas dele. .(J.M.)
67
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
Existe a política surda que os grupos lutaram pela política da diferença como por exemplo:
a comparação semelhante à política da educação identitária e lingüística dos índios. Tem surdos
que lutaram conforme a Política da diferença querendo uma escola adequada para surdos com
própria educação de surdos, “aqui e agora” já temos a escola.
faltava nas universidades a Pedagogia dos Surdos, hoje já temos centros de Letras, o
curso de LETRAS/LIBRAS nas capitais do Brasil e um no interior, Santa Maria - RS.
Depois de completar o curso normal a nível secundário, acredito que a UERS é uma das
universidades que tem mais chance de criar a Pedagogia Superior Surda.
6- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação?
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
No curso Normal para Surdos, eu ensino sempre sobre a ética verdadeira durante todo o curso
para evitar que no amanhã criaria o problema da vida pedagógica. Antes, durante a formação da
Educação Física não entendia nada, os professores e alunos ouvintes sempre falavam oralmente,
não entendia as coisas. Os ouvintes pensaram que eu era igual a eles, foi quando eu comecei a
usar o aparelho auditivo no final do curso (para preparação da formatura), à toa para ouvir apenas
a música, só tic, tic, tic, tic, tic, não ouvi bem a voz pessoal enquanto no discurso de um
professor, ele me acusou por não usar o aparelho durante todo o curso, eu tentei explicar, não deu
certo, frustrei-me, foi difícil explicar naquela época (1987) o que é surdo!. O professor insistiu
em me acusar por não usá-lo, mas com a intervenção do presidente do curso que me defendeu e
explicou o que é diferença, o que é outro, e aliviei-me também meus colegas me defenderam
dizendo que havia falta de ética, o professor ainda não acreditou, hoje acredito que ele mesmo
compreendeu ao ver neste tempo atual, com visibilidade, o aumento dos intérpretes de LIBRAS,
68
instrutores de LIBRAS, a oferta do curso de LIBRAS, a propagação da importância do uso de
LIBRAS, já oficializada e regulamentada, é uma falta de ética.
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
- de receber educação digna.
- de acessibilidade.
- de educação própria.
Pelos direitos humanos, antes nós, os povos surdos, lutavam pela lei de LIBRAS, hoje a
temos. Lei estadual em 1999, Lei municipal em 2000, Lei federal em 2002. No ano passado, já
havia a regulamentada LIBRAS, precisava da criação do cargo de professor surdo de LIBRAS,
também intérprete de LIBRAS. Vejo que a ULBRA não respeitou os direitos humanos e o papel
do trabalho dos intérpretes que se complicou ao receber os vencimentos salariais. A UFSM não
assumiu bem a contratação laboriosa, desrespeitando os direitos humanos dos
instrutores/professores surdos para ministrar a LIBRAS.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade / Escola.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia?
- Que passos influenciaram a pedagogia dos surdos?
Todas as realidades das pedagogias existentes em todo o Brasil, foram construídas pelos poderes
e saberes ouvicêntricos.
Eles, os ouvintes, incluíam alguns instrutores ou professores surdos, pensavam que se
colocassem uma das especificidades da cultura surda, como a inclusão de LIBRAS apenas numa
das disciplinas, seria completa a pedagogia para surdos, é um erro, um engano, uma ilusão.
Falta a construção do currículo pelos surdos: com a Literatura Surda, Poesia Surda, Escrita de
Sinais (Sign - Writting), entre outros. Mas no Brasil não existe esse sonho da pedagogia surda.
69
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Naquela época (década 80), tive muitos problemas na minha vida, esses sentimentos de
isolamento, de nervosismo, durante o curso de Educação Física sem nunca a presença de
intérprete. Muitas aulas foram dadas com explicações, orientações mas eu não recebi bem nada,
persisti até conseguir me formar, então, recebi o diploma.
Na pós-graduação, o curso de especialização em Educação Física para Portadores da Deficiência
na área de Deficiência Auditiva juntamente com “você”, “o par surdo” na UFU-MG, com
intérprete, segui de bem com a vida, tranqüilo, comuniquei-me com todos através do intérprete.
Atualmente no curso Normal para Surdos na escola de surdos, eu atuo como professor
diretamente com alunos e com a própria língua de fácil contato e comunicável.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
Aqui e agora dificilmente o povo surdo resolve, fazer ao separar a pedagogia da pedagogia
surda.
Acredito que passo a passo com tempo, conseguiremos, por exemplo: o já criado curso do
Magistério para Surdos, vejo que nos EUA os surdos têm o território e começaram a construir
uma cidade para surdos (cidade chamada LAURENT) para ter o predomínio da LS a ASL
American Sign Language..
11- Quais os critérios da solução pretende esboçar para “o amanhã”?
Penso em convocar todos os professores surdos a fazer o projeto ou organizar o currículo
próprio para surdos, os outros - ouvintes não, os professores surdos conforme as próprias
experiências ao estabelecer o currículo surdo com critérios.
70
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
Traço planos em mente uma Pedagogia Superior para o amanhã, mas é impossível fazer
algo logo “aqui e agora”, já tem o momento o curso de Magistério para Surdos ainda andando até
4 anos. Também em SC, na UFSC, a professora e doutorada Gládis Perlin tem trabalhado
atualmente ao pesquisar a Pedagogia Surda. Na UFRGS, você ao fazer o curso de doutorado com
a pesquisa: Pedagogia dos Surdos. Nós, surdos acadêmicos ao nos unirmos, acreditamos no
amanhã talvez na UERGS ou na UFSC ou em outra ao criar esse sonho e construí-lo em realidade
necessária.
E2
- Tem três histórias da vida escolar dela (em diferentes três magistérios):
1- Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
Historicamente soube da história da França, os direitos e cidadania eram oprimidos pelas
monarquias (autoridades) da época, considerando-os como incapazes, doentes mentais,...
Os pais escondiam filhos surdos e tinham uma forma de comunicação diferente entre si, os
gestos, a mímica ou em forma de sinais com classificadores, o padre assistia-os e tinha o objetivo
de colhê-los, eles ficavam com medo e escondiam-se. O padre tentava aproxima-los e queria
entender a comunicação e colhia-os para o mosteiro.
O padre compreendia que não eram deficientes, considerando sim como diferentes, vivia
carregando junto com ele a experiência deles, considerou-os com outra cultura, a própria cultura
deles, trabalhou com a educação dos surdos, mostrou o trabalho deles ao rei, ele aproveitou e
considerou os surdos como surdos e como capazes. Eles ficaram felizes.
71
Semelhante a aqui, a cultura surda de SM, parecia a volta dos tempos e espaços daquela
França. Depois de construída culturalmente surda, a filosofia ouvicêntrica começou a cair
obsoletamente.
No Brasil chegou o professor surdo francês E. Huet, e o rei D. Pedro II construiu a escola
de surdos enorme, ele ministrou a LSF para surdos que aprendiam facilmente encantados pelos
“sinais facilmente visualizados”.
Com a pressão da política ouvicêntrica brasileira e mundial ele abandonou o Brasil para ir a
outro país. A política ouvicêntrica dominante que ocupou a educação de surdos, passou a ser
igual a filosofia de vida deles, ensinando-os como normais, como iguais, com o método oralista.
Os surdos sofriam controles rigorosos, com duros castigos e com muitas repetições.
2- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos
influenciaram a pedagogia dos surdos?
Naquele tempo morei em Chuí - RS em 2001.
Inscrevi-me em Magistério Particular para Ouvintes em Santa Vitória do Palmar, perto da
cidade de Chuí, interessei-me em ser professora para crianças surdas. Porém as pessoas me
olhavam, espantadas e me negavam, mandavam eu me inscrever no Ensino Médio, me chamaram
de “deficiente”. Frustrada, a minha mãe tentou convencê-los em vão. Então, fomos no CRE de
Rio Grande e o pessoal de disse hesitante: Vamos ver se pode. Enquanto esperava a resposta.
Sofria, pensava na não permissão e na resposta positiva de lá. Decepcionei-me muito com a
hesitação. Angustiada esperando a resposta, lutei para convencê-los telefonando, mas estavam em
recesso (férias) durante uma semana. Enquanto isso, também inscrevi-me no Ensino Médio,
começava a freqüentar, esperando ansiosa a resposta de lá.
72
Enfim, veio a resposta positiva. Aliviada, pensei:
- Por quê? perguntei a minha mãe, dizendo que pensei que eu como surda, para eles, os
outros (ouvintes) eu era como uma retardada, uma deficiente mental,...
Nas escolas de ouvintes, não conhecia a História dos Surdos, pois o curso deles era para
ouvintes.
3- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Mudei para o Curso Magistério para Ouvintes, senti-me incluída com os demais ouvintes,
sentei esperando a exposição mas fui totalmente oralizada com som seqüencial, esperava ansiosa
o recebimento do conhecimento, mas nada, nada, era o conhecimento vazio”, veio à minha
mente ”vazia”.
Ansiei, encarei a perguntar o que? o que? mas recebi pouquíssimas respostas, olhando no
quadro, aprendi pouquíssimo. Sofri alguns meses passados até junho e nada, não passei nas
provas. Rodei, por não conhecer as palavras, os profundos significados, conceitos, por causa do
não recebimento das mensagens através do canal auditivo / oral, ou seja, por eu ser surda, as
aulas foram ministradas concentrando-se oralmente ou em voz oral sonoro. Sofria angustiada
pelas respostas desses conhecimentos.
4-Contar o que recebeu ou não da arte - educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da pedagogia.
73
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa arte - educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
Literatura é como uma vida?
Em Santa Vitoria do Palmar , as professoras explicam os termos hermenêuticos em
Português, a língua ouvicêntrica. A minha mãe não conhecia bem essas, pois é primária.
Sofri com muito nervosa, tentei procurar livros, dicionários para ler, tentando a resposta mas em
vão.
5- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Em Santa Vitoria do Palmar essa formação sem contato da identidade lingüística me fez ser
excluída, isolada, ficando mal de saúde.
6- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
Naquele momento eu não entendia “nada” naquela situação vazia, não recebia a ajuda dos
colegas, nem das professoras para lutar pelo direito de ter alguma acessibilidade, de ser eu
mesma, de ser diferente. Sinto a vida “vazia” não tinha convivência cultural dos surdos. E ainda
piorei o estado da saúde voltando para casa.
7- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação.
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
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Em Santa Vitória do Palmar, ingressei pela primeira vez a minha inclusão no curso de
Magistério na escola particular, os alunos me olhavam estranhamente, parecia que eles não
conheciam um “outro diferente”, então fiquei isolada, sentada, as professoras oralizavam e eu não
entendia, elas estranhavam ao me ver, pensavam “como fazer uma surda na sala? Alunas se
riram, ironizaram, fiquei calada, com tolerância. Antes de ingressar, proibiram me lecionar. As
professoras preocuparam-se a minha situação, escreveram num papel as tarefas para eu fazer em
casa e eu não conseguia fazer por não entender direito pela falta de explicações, ninguém
esclarecia nada, depois disso as professoras começam a deixar de lado e trabalham mais
exclusivamente aos alunos ouvintes. Elas me chamam “coitada”, o pior é a Língua Portuguesa, a
comunicação e a disciplina mais difíceis, e rodei, e sinto muito mal e larguei.
8- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação
- O que te fez causar problemas na vida?
Estava sentindo com vontade de participar a convivência surda, sentindo a necessidade da
falta desta fez com que eu tomasse remédios, tive o aumento da pressão, tive a depressão, febre,
quase tornada a doente, parei os estudos a melhorar a saúde. Pensei em abandonar o Curso
Magistério, a minha e concorda e me mandou parar em julho. Comecei com a vontade de
abandonar os estudos, peguei com a pressão alta. Fiquei doente, dormi muito, a minha mãe me
manda parar os estudos. Senão acabo me enlouquecendo. Parei, sofri, frustrei, chorei pensando
como “não formar sendo professora”. Perguntei a mim mesma: porque tenho que parar? Chorei,
queria muito ser professora de crianças surdas comunicando-me em Língua de Sinais. Tive
sentimentos de decepção em minha memória, além deste, muito pior era a minha saúde causada
dentro da formação, sofri muito. Fiquei em casa à toa, conversei com minha mãe insistindo em
estudar na escola de surdos.
9- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
- de receber educação digna.
- de acessibilidade.
- de educação própria.
75
Falei a mãe que em Santa Maria tem escola de surdos. Queria muito ir estudar lá. Minha
mãe ficava perplexa. Minha amiga uruguaia Verônica, que morava na fronteira com o Uruguai,
veio nos visitar, ela tinha um namorado surdo de Santa Maria, me contou que visitava a escola de
Surdos de Santa Maria e admirava os surdos que se usavam a maravilhosa comunicação poética
de gestos, a LIBRAS, tornaram-se muitos inteligentes por isso. Disse a minha mãe: “viu”!
Queria muito ir lá, aprender a LS e comunicar-me com a LS com os surdos, minha mãe perplexa
disse que iria pensar e me mandou esperar, eu ficava angustiada, sozinha em Chuí.
Outro dia encantei-me com a vinda de Verônica a Chuí de novo, com o namorado Edilar,
convenci minha mãe a passear com eles e conhecer a escola de surdos em Santa Maria, ela
telefonava para a minha tia em Santa Maria e perguntava: “como fazer minha filha a estudar”.
Fui lá, pedi a moradia a minha tia e meu pai também surdo que moram em Santa Maria, e
disseram que não tinha lugar para eu morar era um apartamento pequeno, então esperei ansiosa e
veio a confirmação, mas em outro lugar, com o apoio das famílias (tios, tias) dividindo verbas
para o aluguel do apartamento (outro bloco do condomínio onde eles moravam) para mim e para
meu pai.
Fui visitar a escola de surdos, admirei o jeito / cultura das pessoas da mesmidade, mas não
sabia a completa Língua de Sinais, só sabia um pouco, basicamente a LS conheci com os
professores surdos, os alunos surdos, aprendi cada vez mais a LS, via perplexa a comunicação
fluentemente e rápida dos professores.
Não entendia completamente porque o professor pedia para os surdos a sentar a sua volta
formando um semicírculo a frente do professor, depois reconheci que essa era a cultura surda.
Assisti à minha palestra preferida do professor surdo Jeferson (irmão do marido surdo da
minha tia surda). Não entendia algumas vezes, nas outras ele sinalizava devagar então, entendia.
Nos dias seguintes, uma aluna surda me ajudou a entender, ensinando-me os sinais. Pedi o Ensino
Médio, mas nesta escola tinha o Ensino Fundamental, e pedia para eu estudar de novo na
série com aproveitamento profundo do conhecimento da LS, Contatos da Identidade cultural e
76
lingüística e conhecimentos/informações da especificidade da Cultura Surda, aceitei e estudei e
recebi construindo com clareza conhecimento/informação o que faltava nas escolas de ouvintes.
Comecei a querer mais e mais, para encher o recipiente destes, abri a mente para aventurar-me
nos maravilhosos e claros conhecimentos / informações, pensando em como os estudos anteriores
eram “vazios, vazios,...”.
Comecei a me entrosar com os colegas, com o aprimoramento da comunicação sinalizada, o
enriquecimento dos significados das palavras e sinais, aprofundamento do conhecimento da
construção identitária da própria cultura, formei.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
Eu e meus colegas da série fazíamos um projeto de reivindicação do Ensino Médio
juntamente com o curso de Magistério para Surdos com o apoio da ASSM, esperávamos a
resposta do CEE através da diretora e do vice Jeferson da escola, esperei demoradamente e nada.
(em 2004).
11- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade / Escola.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia?
- Que passos influenciaram a pedagogia dos surdos?
De novo na série com estudos em profundidade mas a diretora pedia que eu e algumas
colegas trabalhássemos ensinando a LS como voluntária em alunos surdos nas aulas noturnas.
Aceitei, adquiri experiências com o aprimoramento em LS com seqüência ordenada, que antes
me comunicava com comunicação desordenada, com repetição, então passaram-se dois anos.
Minha mãe pedia para eu parar e estudar o Ensino Médio em outra escola, pedia para eu
mudar para Tupanciretâ (a mãe mudou para esta cidade para ficar perto do outro filho e de mim
(a duas horas de Santa Maria)). Ainda não vinha a resposta do CEE e o projeto, também a do
ensino técnico médio da UFSM - cargo instrutor de LIBRAS não veio. Mudei com paciência para
Tupanciretã.
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NA ESCOLA DE OUVINTES COM INCLUSÃO
Em Tupanciretã, comecei a me inscrever no curso de Magistério para Ouvintes (como
queria ser professora) mas o chefe me proibia, senti o mesmo que havia sentido em Santa Vitória
do Palmar. Mas explicava-me: pode, pode, mas ela dizia: não pode. Ficava cansada, de novo
senti-me mal, chorei, quase abandonei os estudos mas veio a professora especial conhecida minha
que saiba pouco comunicar-se em LS, defendia a minha causa, lutou para eu me inscrever, essa
professora foi a CRE de Cruz Alta exigir o meu direito e lá esperamos a confirmação do
processo. Ela me disse que iria trabalhar como interprete, e eu como incluída.
Enquanto isso eu me inscrevi no Ensino Médio, estudei, ao mesmo tempo esperei pela
resposta. A coordenadora pedagógica desta escola me chamou para fazer a prova de admissão
para o curso de magistério público, eu assustada, fiquei nervosa, ela me explicou como fazer a
rapidez conforme a hora limitada estabelecida com 10 pontos de cada disciplina (Matemática,
Português,...).
Fiquei nervosa fazendo a prova com o cronômetro em 7 minutos usada pela professora,
consegui terminar no último minuto, passaram-se outras provas em outras disciplinas, faz como
geometria (psicotécnica com decoração de desenhos geométricos,...).
Passei, e finalmente ser inscrita em curso Magistério.
Aliviada e muito nervosa mas feliz. As professoras fizeram com as mãos com vibrações ,
difere a de bater palmas das mãos para as pessoas que ouvem, emocionei-me.
Mudei para este curso em Tupanciretã, sentei, e pensei como em Santa Maria não tinha o
Ensino Médio e Magistério? E ficava triste.
1- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
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- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Em Tupanciretã, as professoras não sabiam como fazer com a presença da aluna surda na
aula, aliviaram-se com a presença do intérprete, mas ela não freqüentava tudo (vinha às vezes,
depois desaparecia), tinha seu próprio trabalho na classe de crianças surdas. havia uma única
intérprete em Tupanciretã. Eu consegui com a ajuda dos colegas que aprenderam alguns sinais,
pois elas foram orientadas pela intérprete e educadora especial.
2-Contar o que recebeu ou não da arte - educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa arte - educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
- Literatura é como uma vida?
Durante as aulas, sempre perguntei corajosamente a professora e as colegas, escritas num
papel, “o que é esta palavra, o que significa?” Mesmo recebendo as respostas porém frias, escuras
pois todos os textos eram baseados em Língua Portuguesa.
3- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Também ensinei os colegas de lado alguns sinais básicos, preocupada “como nos
comunicaremos?”. Sempre surgia o aviso, apareciam os colegas me dando avisos.
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Eu como surda, sempre vivia sozinha, longe daquele contato, às vezes visitava Santa Maria
para matar a saudade.
4-- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Em Tupanciretâ, tive mais ou menos os problemas na saúde especialmente nervosa e
angustiada pelos conhecimentos, às vezes os colegas ouvintes me ajudavam, mas a comunicação
em Português complicou muito a comunicação, eu hesitei muito nisso. Fiquei triste, senti-me
nostalgia de que adorava contatar os surdos de Santa Maria, trocando experiências históricas,
poéticas, filosóficas em vivência doméstica, esportiva, em lazer, do trabalho, e escolar nos
espaços e tempos próprios.
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
No final do ano passei, ao mesmo tempo em Santa Maria veio a resposta: aprovação do
projeto do Curso Normal (Magistério) e do Ensino Médio para Surdos em Santa Maria pelo CEE
e pelo Governo do Estado, após durante o Encontro de Políticas Educacionais para Surdos no
RS: “A Educação que Nós Surdos Queremos” na Assembléia Legislativa em Porto Alegre, com
muitos movimentos surdos (Escolas e Associações de Surdos) vindos dos interiores do RS e do
capital, e FENEIS - RS, ficava pasma, pensei em voltar para Santa Maria, não?
6- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade / Escola.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos
influenciaram a pedagogia dos surdos?
Pensei em voltar a começar o curso Magistério de novo mas pensava: E a repetição? Fiquei
muito chateada, e ao mesmo tempo senti muita saudade daqueles contatos culturais com os
80
surdos, colegas e professores daquela escola. Mas aqui aprendi: “nada”, vivia sempre sozinha,
vivia com a identidade lingüística e cultural dos surdos.
Fui na escola de Santa Maria e pensei em 2 tempos e espaços simultâneos: 1-Volto a
estudar no começo do curso de novo? Não queria! Chamei a minha mãe para falar com a diretora
sobre o problema do “começo”, e ela telefonou para o CRE de Santa Maria, discutindo e
concordaram a minha permanência na 2ª série em Santa Maria, fiquei aliviada, e feliz, minha mãe
também não gostava das “repetições”. Tem um outro surdo para ficar como meu único colega.
Fui comunicada pela CRE que não poderia voltar para a 1ª série.
ESCOLA DE SURDOS
1- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
De novo mudei para ficar com o meu pai, o par surdo” em Santa Maria. Contatei de novo
os contatos culturais dos surdos, desenvolvimento e aprimoramento em LS, Poesia Surda, SW,
para o meu conhecimento. O SW é a mais importante leitura e escrita para o entendimento claro
da LS.
Na escola estadual “Reinaldo Coser”, com o curso de magistério adequado, eu aprendi
observando os professores ensinando com a mesma comunicação de LIBRAS., a História dos
Surdos, bem como Matemática com LS claramente, Escrita de LS, e demais disciplinas com mais
81
referência a especificidade da Cultura Surda, inclusive com a Filosofia, com o Corpo Surdo, com
a Pesquisa em LS, etc.
Não houve nenhuma opressão na escola, o curso foi bem ministrado, calmamente.
.
2--Contar o que recebeu ou não da Arte - Educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa Arte - Educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
- Literatura é como uma vida?
Aqui tem a própria Arte - Educação que nós esperávamos ansiosamente, que nos outros
cursos de Magistério que fiz de fora não tem a própria Arte - Educação com referência e
especificidade da cultura surda. Inclusive em outras transdisciplinariedades como Química,
Física, etc.
Observei em outros cursos que alguns surdos fizeram, uma surda já fez um curso
Magistério para Ouvintes aqui mesmo em Santa Maria, recebia o conhecimento “vazio. Ela
mesma trabalhou aqui nesta escola, perguntei interessada quais eram as novidades dos
ensinamentos referentes a Cultura Surda similar como Arte - Educação Surda, e ela hesitou
dizendo: nada, nada, nada, ...
“Pensei que nos outros cursos para ouvintes: as professoras não se comunicavam em LS,
como sem a LS podem ou não fez produzir/construir metaforicamente a arte poética da LS junto
aos alunos?”. Compreendi e me arrependida o que fiz nos cursos anteriores,. Com muita sorte,
agora estou fazendo o curso certíssimo para poder formar-me com “recipiente cheio de
conhecimento” para poder ensiná-los satisfatoriamente, entende? Que bom.
Na minha opinião , nos cursos dos ouvintes não dá para os surdos fazerem o melhor, o ideal
para os surdos fazerem é mesmo o curso de Magistério para Surdos, neste curso já tenho
construídas experiências pedagógicas. Noutros cursos formaram-se com recipientes vazios, para
82
ensinar conhecimentos vazios aos surdos e aqui neste curso surdo com recipiente cheio,
riquíssimo para poder ensiná-los com conhecimento riquíssimo, com leitura e escrita o melhor é
fazer aqui mesmo na Escola Cóser pois teremos experiências surdas, tem Língua de Sinais, com
contatos culturais e identitárias socialmente, com comunidade identitária dos surdos. Na inclusão,
o surdo forma-se com conhecimentos vazios, no amanhã não saberá nada ao ensinar. Nas escolas
de surdos recebem experiências cheias e culturais e no amanhã poderão dar esses experiências
aos alunos.
Em Tupanciretã aprendi confusamente, sofri , angustiei-me, sempre aprendia errado, não
entendia nada o que as professoras tentaram fazer-me entender e na Escola Cóser aprendi
facilmente e claramente com a Língua de Sinais visualmente, senti bem.
3- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Na Escola Cóser nós estudávamos no Ensino fundamental, lutávamos a ter o Curso
Magistério e o Grau e formar-nos para ampliar a convivência cultural porque os surdos
pequeninos poderão contatar como modelo identitário dos alunos deste curso, senão, a defasagem
identitária .Eles precisam bem antes essa convivência identitária para melhorar o nível da
educação dos surdos.
4- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença.
- a política da pedagogia da diferença.
- a política da pedagogia dos surdos.
83
Nós o povo surdo ficamos sabendo da aprovação do projeto Magistério para Surdos em
Santa Maria, o curso LETRAS / LIBRAS nos pólos - estados universitários, e no amanhã terão
professores surdos em cidades do interior, nas escolas onde tiverem alunos surdos.
5- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação.
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
Aqui temos alguns professores ouvintes de cada disciplina, desconheciam a noção da
identidade surda e faltavam a fluência de LS (falta o conhecimento intenso da gramática de LS)
os surdos complicavam-se ao aprender por causa desses problemas, precisavam formar bem
estas carências, as habilidades comunicativas, às vezes os professores com preguiça e falta de
interesse o desenvolvimento da LS, esses professoras não respeitavam não atendendo as
exigências dos alunos a ajudar, a aprimorar a LS. Tem uma nova, que aprendia rápido a LS
devido o interesse, com o nosso alívio e nos desenvolviamos com a troca de comunicação e
diálogo. Esses professores precisariam freqüentar o curso de LIBRAS, senão comunicariam-se
como “tartaruga”, também comunicariam-se “com repetições”.
6- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Em Santa Maria eu abri muito a minha mente metaforicamente com contatos culturais dos
surdos, em LS, eu ficava sossegada, tranqüila, sem angustia, sem irritação, muito feliz sempre,
com alegria.
7- Explique o que pede a solução experiencial.
Nós surdos líderes, junto com os professores, fizemos o projeto do curso normal e já foi
encaminhado à SEC, esperaríamos. Até no dia 10 de junho de 2005, teve o fórum da política
educacional de surdos no RS: “a educação que nós surdos queremos”, nós juntos com os
movimentos do povo surdo gaúcho com o apoio da FENEIS na assembléia legislativa, também
encaminhávamos esse projeto da reivindicação, algum dia depois, foi aprovado, e no amanhã
84
teriam em cidades do interior onde tiveram alunos surdos: mais professores surdos e mais escolas
de surdos.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade / Escola.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia?
- Que passos influenciaram a pedagogia dos surdos?
Na inclusão as mesmas repetições, no Coser, as novidades, a convivência diferente, o bom
estudo, o conhecimento ampliado metaforicamente. O contato da identidade lingüística e cultural
que tive pela primeira vez no “Coser”, a comunicação de LS, tranqüila e feliz, precisava muito
trocar as idéias de significados/conceitos para aliviar “a mente”, sempre combinávamos para
passear na ASSM, nos contatos culturais em outros lugares, etc., sempre ligado a ASSM da
escola Cóser.
9-- Qual o critério da solução pretende esboçar para “o amanhã”?
Preciso pensar no futuro dos professores surdos que concluíram a formação tem que ter
acesso às universidades, o primeiro critério terá o acesso dos surdos a se inscrever, pois tem
muitos cursos para ouvintes. O é para os surdos pois esperavam ansioso tanto esse sonho de
ser professor. Também esperavam pelo vestibular para surdos, a luta por intérprete ou na
UFRGS, seleção de mestrado e doutorado para surdos, exames não oral e sim com a LS, o curso
não ouvicêntrico para não “diminuir o conhecimento”, sim o uso de LS para aumentar o
conhecimento e convivência cultural.
10- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
penso sonhando depois da formação “como fazer o plano no amanhã para melhorar a
educação organizada com a metodologia específica, junto com os professores surdos a adquirir
buscando conhecimentos, recebendo informações desses, inclusive a escrita de sinais, até nós
resolvermos estudar para mudar essas para serem mais específicas, diferentes, para que os alunos
recebam as percepções visuais específicas, claras, diferentes com o sentido próprio para as
85
aprendizagens claras inclusive em todas as disciplinas como Biologia, Ciências, Matemática, etc.,
com fundamental visão epistemológica própria como ensinar sinais em cálculos, negócio, roupa,
até saúde: AIDS, doenças , etc.”.
E3
1-Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
Na Espanha o pai rei que gerou um filho surdo, soube durante a época do massacre das
pessoas doentes, deficientes, discapacitados, tentou escondê-lo e procurar um monge a educá-lo,
o fez reconhecido a outros países a educação para surdos.
Depois deste, na França os surdos próprios criaram a comunicação viso - gestualizada. (os gestos,
a mímica ou Língua de Sinais informal).
O padre L´Epée seguiu-os aprendendo a Língua de Sinais. O ouvinte estabeleceu LS com escrita
da LS Francesa “Método Combinado”, mas foram os surdos que criaram e transmitiam
mundialmente a LSF. Os ouvintes também aprendiam a LSF junto com o padre De L´Epée até a
criação da pedagogia surda na França com a formação para professores surdos, alguns tempos
depois, fracassou devido o forte poder da política filosófica ouvicêntrica.
tendo a Pedagogia dos Surdos na França, depois, a vinda do professor surdo Eduard Huet para
o Brasil, criou INES, com o predomínio da Língua dos Surdos, ensinado aos surdos brasileiros a
LSF.
Nas décadas seguintes, o Congresso Internacional de Educadores de Surdos em Milão,
Itália, com a maioria dos ouvintes, conseguiu aprovar o fim da sinalização e o predomínio da
Oralização em 1880. Depois destes, com o domínio da filosofia oralista mundial, os surdos
começaram a oralizar-se mas sinalizavam às escondidas.
Com a oficialização de LIBRAS em 2002. Os surdos se alegram e param. Eles precisariam
mobilizar-se e fazer planos, divulgar com essa LIBRAS e Educação dos Surdos. Eles param.
86
Precisariam dobrar mangas compridas dos braços, divulgariam a LIBRAS, cursos para
professores, pais.
“Surdos param, no amanhã da inclusão?”
Em Milão apresentaram um deficiente auditivo (identidade intermediária) e não surdo,
oralizado, que ouvia pouco foi mostrado, enganaram àqueles ouvintes e fizeram-lhes na nova
filosofia e metodologia para educar os surdos, aprovada.
Os surdos não foram bem avisados, os ouvintes foram avisados para conseguir conforme a
política ouvicêntrica. Se fossem trocar por outra política surda estariam hoje na educação dos
surdos e na pedagogia dos surdos em todo o Brasil.
Declarado “Povo surdo” no banquete por Ferdinand Bertier, depois da morte de L’Epée, foi
transmitido de século a século para Santa Catarina, o professor surdo Francisco que criou a
Associação dos surdos de SC, depois transmitiu para Salomão Watnick, que criou a Associação
dos Surdos - Mudos do Rio Grande do Sul. no início do curso tinha a pouca História da
Educação dos Surdos, não aprendi o bastante.
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Interesso-me pela pedagogia porque necessita-se de uma pedagogia para o povo surdo,
pensavam que só os outros - ouvintes poderiam cursar a pedagogia, não. Também os surdos como
87
eu, têm com o desafio de participar deste curso para a desconstrução. Sei que antes não tinha a
pedagogia adequada para os surdos aqui em Santa Catarina, nem acesso com os intérpretes. Foi
criada a Pedagogia para Surdos, o pioneiro, é na UDESC em Florianópolis, SC, me cursei, ligado
a Educação à Distância contatando com os surdos dos interiores de SC à capital, todas as sextas e
sábados. Alguns alunos inscritos eram vindos dos interiores de SC, alguns não sabiam bem a LS,
poucos sabiam bem a LS, outros sabiam bem pouco a LS e uns fluentes e conhecedores dos
contatos identitário cultural, se formaram em três turmas com 2 líderes cada turma, com
paciência, não dava para juntar como um todo.
No início escolhíamos qual seria a Pedagogia de Educação Infantil (0 a 6) ou Pedagogia das
séries iniciais (1ª a 4ª), ou finais (5ª a 8ª). Temos os docentes, as lingüistas
23
se definiram
“Pedagogia das séries iniciais e se organizaram, explicaram os fundamentos da lingüística de
LIBRAS, e a surda, ministraram um pouco a ELS Escrita de Língua de Sinais, ou seja SW
Sign Writing, nós achávamos difícil ler a SW devido ao pouco tempo”. Nós adquiríamos /
entendíamos melhor essas especialidades. No início, durante um mês nhamos 4 sábados com
essas especialidades, depois, nada. As demais aulas eram traduzidas, pela intérprete, que não
tinha conhecimento adequado e ministradas pelas outras – ouvintes, nós ajudávamos “a dar
sinal”, era difícil formar a esse tempo. Em conseqüência, o curso foi ampliado para sete anos, nós
lutamos e conseguimos de volta para 4 anos. Nós fazíamos a proposta: as disciplinas que contêm
com referência a especificidade da cultura surda em troca das disciplinas comuns (igual às dos
ouvintes).
Sei que não havia 100%, podendo até 30%, mas tínhamos mais ou menos 30% e os
ouvintes conseguiram 70%, nós ficamos com tolerância. Nós aprendíamos as teorias de
Vygotsky, Paulo Freire e Piaget. Nós, com os colegas ouvintes, priorizamos as teorias de
Vygotsky e Paulo Freire, tentávamos esquecer cada vez mais Piaget, na escola porque
escolhiam Piaget.
Outros alunos não entendiam, nós ajudávamos a fazer entender. De três turmas, nós
dividimos cada dois surdos intelectuais, lideres, somando com os mais ou menos, e os outros
88
nada. Tivemos onze bons formados, dez mais ou menos mas bons organizadores de teatros, artes,
e os demais nada. Nós onze bons formados, somos professores, e os demais não, pois moram
longe, trabalham nas fábricas. Nós ainda tentávamos fazê-los entender, não deu.
3-Contar o que recebeu ou não da Arte - Educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa Arte - Educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
- Literatura é como uma vida?
Aqueles três lingüistas de LIBRAS nos faziam entender sobre currículo após mais ou
menos um ano e meio depois deste, esse currículo foi dominado pela política do saber
ouvicêntrico. Adquiríamos / recebíamos sempre os conhecimentos próprios dos ouvintes,
ouvintes, ouvintes. Parecia-nos que tentariam incluir para igualar aos ouvintes. Nós tentávamos
mudar essa filosofia ouvintista, nós avançávamos, acabávamos indo para trás, avançávamos, mas
para trás várias vezes com a referência desse currículo. Nós precisávamos trabalhar numa escola
com a questão do currículo, com novos ideais para melhorar a educação para o amanhã. Não
conseguíamos ”quebrar” a proposta vinda da influência da proposta confusa, não clara, da
política da inclusão do MEC. Nós crescemos, mas paramos por causa da proposta da política
ouvicêntrica, nós obedecemos com tolerância.
A essa pedagogia que era “dos surdos, durante um ano e meio teríamos as professoras
lingüistas de LIBRAS e ELS com a referência da cultura Surda, depois essa pedagogia era “para”
surdos. Tudo foi por causa do problema financeiro, também a coordenação era composta pelo
poder / saber dos ouvintes. FADESC não aceitava pagar mais por problemas da política pública.
Muitos professores estaduais eram cedidos para ministrar, não sabiam como comunicar
adequadamente para surdos, apenas oralmente com os trabalhos da tradução dos intérpretes. Nós
surdos perguntávamo-nos tentando entender, foi difícil, e ouvintes entendiam naturalmente.
“No início progredíamos, no fim regressávamos insatisfatoriamente.”
23
As lingüistas gaúchas de LIBRAS, Ronice Quadros, Lodenir Karnopp, e a surda Marianne Stumpf.
89
No início tivemos a Arte Educação: Boa Poesia Surda: Poesia do Alfabeto, das Letras, do
Vogal, dos Números, do Sinal Metafórico com Sinais Classificadores, ministradas por
professoras surdas de Porto Alegre e Caxias do Sul
24
. Também ministradas a Gramática de
LIBRAS e diferentes estruturas de LIBRAS e LP. São importantes para a Educação Infantil
Surda. É uma disciplina com vídeo, é interessante e necessária ser assimilada esse conhecimento.
Após 2 meses não ofereciam mais essa.
Também quase convidaríamos Nelson Pimenta o poeta, criador de Poesia Brasileira Surda,
e Tanya Felipe, a lingüista de LIBRAS, esses duas pessoas importantes para ministrar aulas de
Poesia Surda e Teatro Surdo mas não deu, por problemas financeiros.
Nós alguns colegas já adquirimos cursinhos desses fora do curso, aprendemos / entendemos sobre
poesia, arte, teatro surdo.
O mais importante e necessário no currículo é a formação desses conhecimentos da Arte -
Educação Surda. Tem aulas de Arte - Educação ministradas por professores ouvintes, mas nós
nada de valor adquirimos pois essa é própria cultura dos ouvintes.
4- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Apenas tínhamos duas professoras lingüistas ouvintes, que sabiam comunicar com fluência
em LS nas aulas, nós olhávamos o mundo de LS, assistiamos, com o modelo das comunicações
sinalizadas e visualizadas dessas professoras, era fundamental para alunos assimilarem esse
modelo. E intérpretes sempre traduziam com o sentido das mensagens transmitidas oralmente
ouvicêntricas. Nós regressávamos cada vez mais, nós precisávamos desse modelo. Apesar de
24
As pedagogas surdas Ana Luiza Caldas e Natacha.
90
nós irmos a outros cursos com o modelo de identidade lingüística, aqui o curso era difícil e
limitado.
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vivida dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
A maioria teve a política ouvicêntrica, os surdos mostravam a poesia cultural, mas os outros
- ouvintes tentavam apagar e indicar outras, influenciando a políticas ouvintista ou globalizada ou
de inclusão. Os surdos apresentavam a certa filosofia, mas os outros - ouvintes discordavam,
manipulavam convencendo que a outra visão era melhor. Nós surdos debatíamos com ouvintes,
que sempre contrapunham / contradiziam – a cultura surda x cultura ouvinte.
Exemplo: nós surdos expomos discutindo a nossa cultura, nossa filosofia surda, e depois
nós falávamos isto para ouvintes, eles contradiziam, dizendo que não concordavam: “isso não é
bom” Isto é bom... Os ouvintes nos convenceram que se os surdos não falam, não crescem,
usam a LS, não crescem. Nós confundimos, quebramos os traços futuros feito por nós, frustrados
com a influência dominante dos ouvintes, assim é a cultura, do jeito deles.
Historicamente como surgiu o curso Pedagogia dos Surdos, na UDESC, no começo no
Fórum dos Direitos do Cidadão Surdo com o pessoal do IATEL - Instituto de Audição e Terapia
de Linguagem, com famílias de surdos, com três surdos Fábio Silva, mais alguns surdos, e
Vilmar Silva, irmão de Fábio, criaram e apresentaram o projeto político pedagógico para surdos
ao Governo do Estado, após dois anos esse governo aprovou, investiu abrindo o curso de
Pedagogia Surda para todo o estado de Santa Catarina, surdos e também ouvintes vindos dos
interiores a licenciarem esse curso. Durante o curso, esse Fórum parou (as famílias se evadiram),
foi fundado a FENEIS – SC (em julho de 2003), Fabio era o diretor regional, e eu era o CELES
25
da FENEIS. Após o curso, o governo não manteve mais esse, parecia que a direção ouvicêntrica
da Universidade não conseguia ou não sabia como manter o curso.
91
Agora na UFSC terá o curso LETRAS/LIBRAS em 2006, irá iniciar em agosto, descentralizada
mais nas universidades –pólos – estados.
6- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação.
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
O papel da ética era ministrada pelos docentes ouvintes, não surdos, nós não entendíamos,
eles ministravam conforme as leis do curso da faculdade.
Nós muitas vezes perguntávamos para entender melhor, mas os docentes perdiam o interesse ao
ensinar, pois esse era a pertença dos ouvintes.
No começo do curso com a ética correta, depois de um ano e meio, os docentes
universitários perderam a posição da ética, começaram a nos acusar, eles começaram a falhar
suas aparências, os alunos poderiam imitar a essa influência passando de escola a escola como o
modelo desses professores da ética? criando confusão no ambiente escolar? teríamos que
evitar essa influência? A direção manipulava, conforme a política ouvicêntrica, convidaram mais
docentes ouvintes, influenciando a má ética passava, passava mais a cultura globalizada.
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
- de receber educação digna.
- de acessibilidade.
- de educação própria.
Os surdos lutavam mas o MEC tem o poder maior, de cima. Nós, surdos, de baixo, tentávamos ir
para cima, mas longe. Com leis conseguidas, os ouvintes ouviam mas não transmitiam, não
movimentavam-se, calavam-se, pois os ouvintes não são como os outros surdos. Os surdos da
pedagogia têm a falta dessa informação.
25
CELES – Coordenador de Ensino de LIBRAS.
92
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos influenciaram
a pedagogia dos surdos?
A valorização da Pedagogia surda seria com referência à filosofia da vida surda, não a
pedagogia comum, a comunicação oralizada com “palavras vocalizadas, de escritas usadas pelos
ouvintes”. Faltava aqui a didática adequada com comunicação visualizada e sinalizada. Apenas
recebiam didaticamente ouvicêntrica, se sentiam como “nada” com lacunas vazias dentro do
curso. Nós, sete professores surdos, tentávamos criar a didática surda conforme as categorias das
séries 1ª a 4ª. As professoras ouvintes ensinaram o modelo da didática, nós surdos seguíamos esse
modelo. Não, nós conhecíamos, depois refletíamos, traçando traduzindo para o outro modelo.
Não ensinar o modelo do ouvinte às crianças surdas. Agora tem nas LETRAS o curso de
LIBRAS, para o amanhã, vamos ver o que haverá. Não sabemos nada o que? Não tem a
pedagogia completa no Brasil nada, por política ouvicêntrica, que tenta diminuir nosso poder para
a inclusão, a política do MEC não conhece bem a cultura surda nem a pedagogia surda.
Tem surdos formados, que participaram dos concursos ouvicêntricos mas sempre os
ouvintes passavam. Não lei para ajudar os surdos. tem instrutor, monitor. Essa pedagogia
não, a política educacional do MEC não conhece, não pensa nem em mudar. No curso tem 36
surdos mais 6 ouvintes que sabem LS, 2 bons; 4 fracos, oralizados; mais os surdos.
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Durante a minha vida no curso, prossegui a vida aos espaços e tempos dos contatos surdos.
Mas a posição ouvicêntrica me perseguia “mexendo”, conforme a política filosófica e poética
ouvicêntrica, inclusive a da Deficiência Auditiva. E a proposta de Inclusão nos perseguia, a
minha vida regressou, mas seguia com tolerância. As políticas ouvicêntricas perseguiam
apresentando a proposta de inclusão, faltava incluir na política da LDB para pedagogia dos
surdos, e LIBRAS, cujo curso criado nas Letras. Não conseguíamos mostrar nossas posturas e
políticas filosóficas e poéticas surdas para parar a perseguição ouvicêntrica. Sempre seguíamos
93
com a ”dependência da política ouvicêntrica”. Teríamos que chamar os surdos professores
pedagogos formados de vários estados a fazer o fórum, a proposta da pedagogia ideal para o
amanhã.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
A importância da solução experiencial, das comunidades surdas ou do povo surdo, como
nós surdos refletíamos: ter um espaço, ou uma cidade com comunidade surda com LS, (usam LS
nas lojas, bancos, etc.), a pedagogia só com própria língua, a LS, como no mundo da LS.
Muitos queriam comunicação a LS, vinham no trabalho, no banco, no curso da pedagogia,
como “num país da LS”, com surdos , com ouvintes com comunicação em LS, com surdos líderes
acadêmicos, vinham comunicar a LS. Nós surdos sonhamos com esse espaço.
11- Quais os critérios da solução, pretende esboçar para “o amanhã”?
Nós surdos fazíamos o projeto com critérios, os ouvintes aproveitaram manipulando esse
projeto. O mais importante é estabelecer critérios conforme a especificidade da Cultura Surda.
Nós surdos vindos de outros surdos, pedagogos/professores reuniremos para fazer o projeto para
a nova pedagogia para o amanhã. Os ouvintes pedidos para nos apoiar, mas aproveitariam
manipulando o projeto para misturar para a “inclusão” ouvicêntrica”.
Nós com o desejo queremos estabelecer critérios, mas não temos o professor surdo próprio,
de didática, de poesia, próprios de surdos, como teatro surdo, a gramática de LS metafóricos
como “classificadores”, explicação do valor desses em foco com o objetivo proposto à formação
do aluno surdo. O ato da comunicação oralizada constante do professor ouvinte quebraria
contradizendo o objetivo proposto da formação do aluno. Estabelecerá o projeto com próprios
surdos com os critérios estabelecidos para o vestibular projetado pelos surdos mestres e doutores.
Se alguém ouvinte vem e não sabe LIBRAS, reconhece e sai. Com a valorização do critério
estabelecido para a valorização da pedagogia concreta para os surdos poderem lecionar bem.
Sonhei com a pedagogia surda própria e necessária, combinamos com professores surdos
formados a reunirem a fazer projetos para o amanhã com as experiências deles, com os surdos
94
líderes para estabelecerem critérios rigorosos para poder lecionar o curso para o amanhã,
inclusive ter o Fórum dos direitos do cidadão surdo a combinar.
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
No amanhã professores doutores e mestres surdos irão estabelecer critérios para fazer o
projeto da criação da pedagogia surda. Também temos o documento do seminário da
pedagogia dos surdos: práticas educacionais para surdos em Caxias do Sul, juntamente com
Gládis, eu, você, Tibiriçá, em conseqüência da preocupação sobre a falta da Pedagogia dos
Surdos, também surgiu recentemente as pesquisas da tese sobre a pedagogia surda (Wilson), este
iria ajudar a criar esse traço.
E4
1-Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é
nova, ela existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
A maioria dos surdos luta por ter a Pedagogia Surda. Sempre tem a pedagogia comum para
os ouvintes. Por exemplo, nós surdos fizemos o curso de Magistério, um curso inadequado faz
acontecer, essa coisa preocupante, foi brotado, o já criado curso Normal (Magistério) para Surdos
em Santa Maria, o curso próprio para surdos a nível secundário. Em Santa Catarina, na UFSC foi
brotado, criado o curso LIBRAS/LETRAS também em 9 pólos filiais estaduais por Ronice
Quadros e Gládis Perlin que irão desenvolver nos Centros de LETRAS.
O professor surdo Huet, da França, veio ao Brasil e propagou a LIBRAS até nós surdos e o
mais importante era o modelo identitário e intelectual deste professor surdo, o líder cultural para
que os alunos surdos poderem construí-los com esse modelo no INES no Rio de Janeiro, e depois
influiu em todo o Brasil.
95
Hoje no Brasil não tem esse igual. Atualmente no INES não é o mesmo, Porque? No Rio
Grande do Sul tem a melhor política educacional dos surdos, no Rio de Janeiro não, acho que foi
coagida por política educacional ouvicêntrica, os ouvintes sempre “ocupam mais”, mexendo,
construindo. Os surdos ficavam alienados, cumprindo as construções das práticas ouvicêntricas.
No Rio Grande do Sul sim as construções das políticas educacionais dos surdos, aqui se
progrediram. Porque aqui tem surdos líderes intelectuais e acadêmicos como professores surdos
mestres e doutores
26
lutavam com movimentos sociais/culturais dos surdos por políticas
educacionais para desenvolvê-las aqui, no Rio de Janeiro é diferente, alienados oralistas. Não sei
responder a história da educação/pedagogia dos Surdos da França, pois não foi ensinado neste
curso.
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
- A lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
- Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
- Como e porque nomeamos esta pedagogia?
- Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
- A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
- Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
- Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
- Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Ingressei começando no curso de Magistério que era próprio para os ouvintes, sempre
foram aprendidas / adquiridas / recebidas as informações/conhecimentos sempre pelo canal
auditivo com mensagem em voz sonoro. Nós sempre fomos mudados traduzíveis para o canal
manual / visor com mensagem gesto / visual, sempre com os trabalhos dos intérpretes de
LIBRAS/LP, inclusive com a apresentação de nossos trabalhos para os professores e alunos
conhecerem sempre admiravelmente (e pela primeira vez). Eles apresentaram em grupos a
apresentação e nós surdos apresentamos sempre diferente, os professores aceitaram. No curso não
26
Gládis Perlin, eu, Gisele Rangel, Marianne Stumpf.
96
ofereceram currículo próprio, nem disciplinas adequadas, o curso próprio conforme a influência
do poder/saber ouvicêntrica.
Acho interessante o termo tendo a “Pedagogia dos Surdos” o termo que combina com a
prática do ensino da pedagogia que os professores surdos irão usar. A Pedagogia para Ouvintes,
não combina para os surdos. “Fiz tudo o que fiz no curso da La Salle foi traduzida por mim para
as práticas de ensino” para permitir o ensino e aprendizagem para os alunos surdos. O curso de
formação de Magistério / Pedagogia sempre foi apenas traduzida/interpretada quando presencia o
aluno surdo, aprendido durante todo o curso. A Pedagogia dos Surdos ou Pedagogia Surda é
“bom” para o termo adequado.
pedi a alguém o nosso sonho, a proposta da pedagogia própria para surdos que aqui não
tinha, comentei com ela que concordou, conversou a respeito deste a pessoal da Universidade,
ainda não aconteceu/funcionou.
admirei a aprovada proposta do Magistério para Surdos em Santa Maria, mas foi
adiantada a mim, o que já fiz antes. A Pedagogia Surda e Pedagogia Ouvinte são muito diferentes
curriculares.
3-Contar o que recebeu ou não da Arte - Educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, filmoplastia) da própria cultura surda dentro do currículo da pedagogia.
- Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa Arte - Educação?
- Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
- Literatura é como uma vida?
A La Salle não oferecia Arte - Educação própria dos surdos, nenhum, senti o “vazio
conhecimento na La Salle”. Se já formada pensava: Como ensinar aos surdos? Não é fácil sempre
traduzindo as coisas dos ouvintes. Durante os estágios, também, os livros, as revistas literárias da
universidade, da escola de surdos e dos colegas também, são as coisas próprias dos ouvintes, eu
traduzi estabelecendo com paciência para ensiná-los.
97
Eu mesma criei/construi completamente traduzida mas não todo, eu juntamente com a
colega surda
27
, pretendíamos criar as nossas próprias idéias mas não conseguíamos, ela ficava
ocupada, diferente, sentia-me isolada, a maioria era os outros- ouvintes.
Na FENEIS, eu conheci Arte Educação, gostei muito, além de LIBRAS, aprendi durante o
curso de instrutora de LIBRAS para ouvintes. O que é surdo? Comunidade surda? Que é
movimento surdo? política surda? entre outras, aprendi para ensinar aos surdos.
No magistério era diferente, este era para ouvintes.
Currículo da Cultura Surda? É difícil responder, pensei que as coisas do curso são próprias
dos ouvintes, queria que acrescentasse no curso para os surdos como História dos Surdos, Estória
Surda como, por exemplo: sempre tentei traduzido para a especificidade da cultura surda, não
tinha dentro do curso, só coisas dos ouvintes. Eu vi no Brasil na maioria dos casos, são iguais.
4- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Neste curso a construção da identidade dos ouvintes, eu adquirindo a construção/formação
da identidade surda, não tinha. aprendi LS no curso de instrutor referindo a construção da
identidade surda desenvolvendo com conceitos de ser surdo / comunidade surda / movimento
surdo / política surda, aprendi este. No curso de ouvintes, não, sim pouquíssimas construções
deste com uma colega surda.
5-Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
27
Lisandra
98
Eu me lembrei que durante uma disciplina, não lembrava o nome deste, durante os trabalhos
dos grupos como o professor pede, eu e minha colega surda fizemos o trabalho sobre a política e
movimento surdo, expoemos o que é FENEIS, Associações de Surdos, o que funcionam. Eles
ouvintes admiravam exoticamente, me perguntavam insistentemente para que nós encaramos não
sendo chamadas coitadas, protegidas, etc.
Nós ainda expoemos como nossa primeira língua é LS e segunda é LP, como estrangeira,
também o que é Cultura Surda, eles ainda interessavam. Mas eles, não nos fizeram criar, como as
Resistências, dos Movimentos Surdos, não, pois eles logicamente não eram surdos, apenas nós
mostrávamos como nós somos, buscávamos os dons misteriosos da FENEIS., Associações,
Movimentos Surdos para mostrar o que queremos.
Os próprios surdos apenas lutavam por intérprete no curso de Pedagogia da La Salle. Pois
não tinham nas universidades o curso próprio para surdos, teríamos que lutá-lo para poder
participar /acessar neste curso, também o apoio dos intérpretes e outros a lutarem para conquistar
esse espaço. A direção da Universidade não aceitava esse, só se preocupava pelas políticas
financeiras, é o caso, mesmo os surdos lutarem pelos direitos pois queriam “entender ao ensiná-
los, finalmente a direção entregou-se, aceitando a proposta ter intérprete. Com a participação do
reitor que entendia o sonho, o caminho dos surdos a ter a formação concreta mas acabavam
mesmo recebendo o valor do diploma que necessitam”. Formávamos movimentos surdos pela
FENEIS, aprendendo, adquirindo.
Nas universidades não tinham espaço para surdos, eu sentia: não tem espaço surdo. A
maioria dos professores e alunos ouvintes aceitavam o fato de sermos “surdas” a identidade
surda, mas o espaço para que os surdos lutaram, desenvolveram, construiram algo, como o
NUPPES, da UFRGS, não tem aqui, apenas o espaço para os intérpretes. Nesta universidade
avaliou-se se poucos surdos para outros cursos, não dá para pagar por muitos intérpretes, La Salle
é particular, diferente, a proposta dela era com dois cursos: um para Informática e outro
Pedagogia onde tem demanda : maior número de surdos.
99
Se a proposta for a criação da Pedagogia própria para surdos, não precisaria ter o intérprete,
apenas professores que sabiam a LS. Isso facilitaria a negociação, sim, já começou recentemente
uma disciplina onde tem uma professora surda que ministrava, no amanhã mais. E o curso
próprio, ainda não chegou, esperamos esse.
Incomodavam a direção da La Salle e perguntaram: Essa pedagogia? Sinto a falta da própria
pedagogia, no Brasil os ouvintes as têm, os surdos perdem muito o tempo esperando esse
desejável curso. Neste curso, foi projetado pelos ouvintes, para os ouvintes, e os surdos não
entendem esse plano, nem curso, nem palavras ”estrangeiras”, com o trabalho muito forçado dos
intérpretes. Quero que os surdos libertem-se arbitrariamente para entender o sentido da formação.
Precisa criar a pedagogia surda para que os surdos se formarem bem e fácil e sentiram bem.
Ainda não tem o curso próprio, o ouvicêntrico. Tenho certeza que os surdos não gostavam desse
curso, que frustravam. Mais fácil ter os professores surdos ou que saibam a língua de Sinais
com especificidade da cultura surda, mas os professores ouvintes? Os surdos sofrem.
Os surdos se angustiavam até pedir aos intérpretes os que queriam construir e aprender
claramente “coisas da política filosófica e poética”, e os intérpretes se reclamaram incomodando,
perguntando-os: porque vocês vieram aqui? Azar seus, eu apenas estou trabalhando como
intérprete de LS –LP e LP-LS. Os surdos se chocavam, com a má sensação deles. Apenas não era
a faculdade para surdos, nem o espaço para surdos. Como os professores surdos, líderes
intelectuais e acadêmicos que se expõem adequadamente os ensinamentos claramente visuais e
entranháveis. Atualmente os surdos fizeram os trabalhos arduamente (em particular fora desta
universidade, sempre procuravam os tradutores de LP para traduzir e corrigir e pagavam),
entregavam aliviadas, mas sentiam que não era próprio feito. Também sentiam mal o que não fez
para que os tradutores faziam tudo os trabalhos, e pagavam e aliviam. (Eu estou preocupada com
essa situação), com rigidez controle com a escrita do outro, a LP para que as outras docentes
pudessem ler. Tranqüilamente sem reforços, eles se apresentavam fatigadamente, duplamente,
com muitos reforços sempre com o trabalho do intérprete para os outros cuidadosamente em
outra língua, eles se sofriam.
100
6- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação.
- Existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
Os professores que praticaram com ética, o bons, mas o curso é pertença aos ouvintes, as
relações de saber/poder são ouvicêntricos.
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
- de receber educação digna.
- de acessibilidade.
- de educação própria.
Os Direitos Humanos: na universidade tem legalmente, como funciona essa entidade, no
curso, para o espaço legalmente surdo tinham apenas por intérpretes. Eles respeitavam os nossos
direitos humanos como surdos e os nossos trabalhos expoente culturalmente.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
- Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos
influenciaram a pedagogia dos surdos?
O poder/saber da Universidade La Salle era exclusivamente religiosamente católico, ele
desenvolvia normalmente, satisfatório, aprendi, mas não tinha o poder / saber do “outro” paralelo,
como o dos surdos. Como fui influenciada para lecionar o curso, foram as minhas colegas surdas
que fizeram esse curso, me incentivaram a licenciar este, a mudar meu trabalho forçado (do
hospital) a conseguir “diploma” e poder ficar dentro da comunidade da mesmidade, trabalhando e
comunicando simultaneamente a língua própria, tranqüila em qualquer escola de surdos. Agora já
trabalho na Escola Frei Pacífico, eu prefiro este escola pois trabalhei de estágio. Mudei o trabalho
do hospital para a Escola de Surdos Frei Pacífico, aproveitei poder ter essa convivência da
identidade lingüística e cultural dos surdos. No hospital não tinha essa convivência, só dedicava a
trabalhos, sempre ficava sozinha, des comunicada culturalmente, com solidão. Aproveito para
ficar com os surdos podendo abrir a "mente” participando dos seminários, congressos, lutas,
desenvolvendo “a mente”, construindo experiências visuais, os conhecimentos. No hospital, os
101
ouvintes se desenvolviam dentro da convivência ouvicêntrica com sua própria cultura, nós
surdos, não somos só diferentes, mas do outro caminho, dentro do convívio surdo.
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Sim, causava poucos problemas na minha vida, mas não percebi essa porque tive com a
presença dos intérpretes. Com os trabalhos feitos, sempre tive com os problemas de saúde, nas
provas, não.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
Eu estou sentindo vontade de juntar os pedagogos surdos, professores surdos da escola de surdos
e trocar “as experiências de cada um” como ensinar aos surdos a melhorar a educação, a
qualidade da vida escolar, enriquecer a Língua de Sinais.
11- Quais os critérios da solução pretende esboçar para “o amanhã”?
Eu estou com o desejo de combinar um compromisso com os professores surdos (não
adianta fazer sozinha) construir a proposta com critérios reivindicando o curso de pedagogia
surda para o amanhã para poder desenvolver a qualidade da formação do professor surdo, os
ouvintes os tem; os surdos, o curso onde? Não tem como buscar a formação identitária para o
professor surdo, o profissional surdo. Precisa mudar a essa situação para melhorá-la no amanhã,
por exemplo: tem colegas surdas minhas têm formação de identidade lingüística e cultural,
sempre se preocupam, angustiadas, não sabem com fazer planos para o ensino e aprendizagem,
não sentem a formação adequadamente. Tem que ter consciência, ter a formação correta para
estas pessoas. Nós temos que reivindicar a essa proposta. Não adianta não aceitar esta. Nós temos
com o compromisso a mudar a situação da formação profissional do pedagogo, do professor até
mesmo do instrutor. Quais critérios de como ingressar no curso de Pedagogia dos Surdos, eu acho
primeiro seria o surdo, sim, pois os outros - ouvintes sempre “mexem” complicando o curso.
surdos, que saiba mais a LS (fluente) se ingressam primeiro conforme a avaliação lingüística.
102
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
Traçar planos da vida universitária no amanhã, eu refleti que na UFSC, ligada a UFSM
(onde leciono) oferece o curso de LETRAS/LIBRAS este ano, a buscar e explorar as novidades
de conhecimentos/informações da especificidade dessa língua, a enriquecer a qualidade da vida
surda, a ser ensinada/aprendida/assimilada, nós, grupo de surdos interessamos muito deste, esse é
meu sonho a mudar e melhorar a minha formação profissional de professora, essa é a minha
esperança.
Não conheço bem o termo Pedagogia dos Surdos (ou Pedagogia Surda), acho o termo
correto Pedagogia dos Surdos, esse é próprio enfocando para os professores surdos, a Pedagoga
da Língua de Sinais, eu não conheço bem esse termo, eu ainda hesitei, espere esse termo a pensar.
Prefiro escolher dois, a LIBRAS/LETRAS e Pedagogia dos Surdos, para aprender mais a
experiência profissional.
E5
1-Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- A história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
Antes na França, tinha a Educação dos Surdos, depois a decadência, devido pela política
ouvicêntrica, o surgimento do Oralismo. Stokoe, a lingüista descobria a ngua dos surdos (a
mesma estrutura a demais línguas), fez o mundo compreender que os “surdos têm a língua
própria” (fez romper cada vez devagar a política dominante ouvicêntrica que priorizava a única
língua sonora para todos.) a criação das Associações de Surdos, e agora?
Na ULBRA, a mesma pedagogia do passado? Não.
103
Acho que antes, a história da LS, o pioneiro era na França, no Brasil não tinha, é
fundamental a marcada vinda histórica da Língua de Sinais trazida da França, foi disseminado
aqui no Brasil. Nós adquirimos a essa LS e os significados culturais através da FENEIS. Na
decadência da LS nas escolas. Nas associações de Surdos, os surdos se comunicavam
continuamente com a LS no INES a educação oralizada, a LS escondida. Antes o professor surdo
Huet ensinava influenciando aos surdos a importância da língua de Sinais, o modelo identitário e
a participação das Associações/convivência dos surdos, os surdos aceitavam, refletiam esse
modelo. No predomínio oralista os surdos cresciam e ainda se comunicavam a LS às escondidas
ou fora da escola, nas ruas e nas casas. Não tinha professor surdo líder e intelectual, somente
professores ouvintes, em 1956 o pesquisador lingüista Stokoe divulga a “língua dos surdos” com
visibilidade. O problema era a maioria dos ouvintes, o poder e saber ouvicêntrica influia criando
a metodologia oralista e destruia a cultura surda.
No curso de formação de ULBRA, observei que os ouvintes “mexiam” no perfil dos
instrutores surdos forçando-os a participar e ensinar mais no mundo dos ouvintes, mas os surdos
hesitavam os deveres e responsabilidades do trabalho na FENEIS, a qualificar mais os cursos.
Na escola de Surdos professores / instrutores trabalharam com surdos mas forçados a
trabalhar mais com os pais, e demais ouvintes. Em 1986 surdos começaram a aprender a
LIBRAS, com sinais corretos, mas trabalharam para com os ouvintes, mas acabaram também a
trabalhar com crianças surdas. Surdos com certificado de instrutor, desejavam, solicitando o
emprego garantido na escola de surdos, mas a direção exigia o certificado de Magistério ou
Pedagogia ou licenciaturas, ele se frustravam, alguns trabalhavam pouco, eles formavam-se no
ensino superior e não sentiam nada.
Alguns surdos corriam no curso de formação e ganhavam certificados (de instrutor) e
corriam vaga e ainda esperavam e foram exigidos os certificados de professor. Os professores
ouvintes após formavam se ganhavam a vaga fácil para permanecer sempre e ganhavam mais
horas (regime), e surdos sofriam a falta de emprego após a formação.
104
Na verdade na França tinha LSF dentro do curso, não foram encontrados os registros
pedagógicos, apenas em foco maior a LS, alunos assimilaram o modelo da identidade lingüística
do professor surdo. Aqui falta: os professores surdos mestres e doutores nas universidades a
ministrar a História dos Surdos.
Tinha um professor surdo líder e intelectual, lutava com Movimento Surdo historicamente
na França, criava a Associação Universal dos Surdos, com os povos surdos intelectuais
organizavam para garantir e transmitir a LS no amanhã, como Eduard Huet no Brasil, Laurent
Clerc nos EUA. (Não lembro o nome e o sinal de um professor surdo que é pioneiro proclamando
o “povo surdo” na presença dos lideres surdos).
Na França historicamente tinha a maravilhosa Educação / Pedagogia de Surdos concreta e
na ULBRA a formação vazia”. O mais importante é ter o professor líder surdo na Universidade
e faz para ter o curso de Pedagogia para Surdos e consta o cargo de professor no diploma.
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
-a lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
-Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
-Como e porque nomeamos esta pedagogia?
-Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
-A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
-Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
-Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
-Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
Acho que mais fundamental dentro da Pedagogia que surdos recebem é com o diploma
constando o nome: o “professor surdo”, e este o sonho é dos surdos. Como na FENEIS não tem
esse, desejamos que mude para as universidades que darão o diploma do “professor surdo”,
que os surdos sonham.
105
Afirmo que o curso era próprio para ouvintes, não tinha a condição do curso para surdos,
não tivemos o apetite de nutrir esse. Criar um curso de Pedagogia própria, a “Pedagogia dos
Surdos”, que os surdos querem. Com tolerância, a inclusão dos surdos nos cursos ouvicêntricos,
os ouvintes têm a oportunidade de adquirir a formação, as suas necessidades, os surdos não tem.
Necessitaria que com professores surdos com a visão epistemológica e metodológica própria para
que nós pudéssemos desenvolver com o modelo identitário e com disciplinas com especificidade
da cultura surda, e a LS para ministrar as crianças surdas.
O curso era equívoco, escuro, era ouvicêntrico, os surdos não recebiam aprendendo o que
necessitavam. Eles deram os métodos o que era deles, surdos não recebiam aprender nada,
”vazio”, perdíamos muito neste curso. Grupo de surdos sentiam com o desejo de fazer a formação
própria, eles toleravam seguindo o curso e recebiam diploma mesmo sem formação concreta,
mesmo sem LS.
É verdade, aprendi algo, e levei textos, para casa, percebia que tinha um conhecimento
“vazio”. Se eu aprendesse com própria visão epistemológica, com especificidade temporal -
espacial da cultura surda, aprenderia. Levei textos da visão do “outro” ouvicêntrico, o desprezei
obsoletamente e guardei-os em local fechado.
Interessei-me na Pedagogia dos Surdos que combinam entre Professor Surdo e alunos
crianças surdas dentro da escola de surdos.
Se surgisse o aumento da quantidade dos professores surdos formados, teria o curso de
Pedagogia no amanhã, mas mesmo assim não adiantaria poucos surdos criam esse sonho como a
política educacional do MEC pensa. Como o MEC auxiliou a UFSC a criar a LETRAS/LIBRAS.
Os surdos se alegravam ao entrar nos cursos de Magistério/Pedagogia, e em seguida não
conseguiram encontrar a volta e a reverberação da Pedagogia dos Surdos a condição do território
de aprendizagem dentro do curso de formação, que era da visão epistemológica ouvicêntrica nem
tinham as referências bibliográficas referentes a cultura surda.
106
3-Contar o que recebeu ou não da arte-educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, visoplastia,...) da própria cultura surda dentro do currículo da
pedagogia.
-Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa arte-educação?
-Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
Literatura é como uma vida?
Nós surdos sentíamos a necessidade de ter algumas disciplinas com especificidade da
cultura surda fundamentais para surdo para repor dentro do currículo mas dentro do curso, que
lecionei, era diferente, pertencia a “outro - os ouvintes, não daria para “montar” esses.
Nós explicávamos para os ouvintes as filosofias e as metodologias que os surdos necessitam, eles
não conheciam esse mistério, nem se contatavam nem comunicavam no mundo dos surdos, era o
mundo da Língua Portuguesa dentro do curso.
Na universidade foi oferecido o curso que não contém a Arte - Educação com referência a
Cultura Surda, recebi as matérias/textos sobre a arte em geral, produzida em LP. Adquiri
/assimilei fora da universidade a Arte - Educação como nas comunidades/convívios surdos as
Piadas Surdas, Humor Surdo, Histórias da Vida, Estórias que contém a Cultura Surda, dentro das
Associações de Surdos/Feneis (cursos, encontros, palestras, eventos,...). Principalmente nas
ASSOCIAÇÕES DE surdos, conheci muitas piadas/humor.
Adquiri o curso de Instrutor, promovido pela FENEIS: o curso de Arte oferecido pelo poeta
Nelson Pimenta, o famoso poeta brasileiro que mais difundiu a POESIA SURDA Brasileira ou
seja POESIA MANUAL.
Nós professores surdos teríamos que projetar incluindo a Arte - Educação dos Surdos para
que os alunos surdos conheçam e assimilem a Poesia Surda, Piada / Humor Surdo, Estória dos
Surdos, Literatura Surda, na ULBRA era diferente era ouvicêntrico, baseado em LP, deixamo-los
de lado e pudemos criar o projeto Pedagogia Surda incluindo Poesia Surda, Literatura Surda,
Piada Surda, baseado em LS e em Filmoplastia (vídeos).
107
Percebi que o currículo no curso que lecionávamos foi feito pelo poder/saber ouvicêntrico,
não conseguiamos entender/nutrir esse, foi diferente do que pensávamos a pretensão em traçar o
currículo. Quando entrei em um curso comum com inclusão, com currículo ouvicêntrico, pensei
que havia condição de formação para surdos também, foram apenas ilusão e decepção.
Os surdos aprendiam adquirindo a Arte - Educação com LP, não tínhamos apetite de nutrir /
adquirir. Muitos surdos não conseguiam reproduzir, copiavam para ensinar aos alunos e eles não
nutririam / aprenderiam bem “nada”. No amanhã temos que nos reunir para traçar o curso próprio
para surdos desenvolvendo Arte - Educação. Não daria surdo isolado a reproduzir / criar este.
4- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
- Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Os surdos ao se formar com tolerância com diploma hesitaram com mente equivoca/escura.
Acho que na Universidade, nós surdos formamos com tolerância durante todo o curso, fazíamos
os trabalhos com textos deles com alienação (com predomínio da LP) nós tentávamos evitar e
fazíamos os trabalhos bem diferentes culturalmente, tentávamos mostrar bem diferente a
exposição visual, nossos colegas surdos me achavam difícil (Não tinha recursos visuais nem
bibliográficos, nem com tecnologias das experiências visuais/gestuais.), deixávamos de lado e
mostrávamos mesmo com escritos da LP e copiávamos citações nas referências bibliográficas
ouvicêntricas.
E nós já refletíamos este e comentávamos como traçar bem diferente no amanhã.
Alguns pareciam com identidade fragmentada, achavam que poderiam assimilar para ensiná-los
aos alunos?
Na ULBRA, no espaço ouvicêntrico, nós surdos, vindos dos diferentes cursos, corríamos e
sentávamos no barzinho formando como comunidade / convívio, comunicando-nos em LIBRAS
nas horas fora das aulas, e dentro das horas da aula, e sentávamos isolados ou alguns, com
108
tolerância, olhávamos fixamente o trabalho do intérprete. Nós sentávamos como comunidade
identitária lingüística, como respirávamos o ar puro, limpo. Não tinha como a Universidade criar
estrategicamente o curso com a comunidade surda inteira dentro dela mesma, poderia criar o
curso próprio. Se aumentassem os surdos na Universidade poderiam criar o curso próprio.
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
Historicamente não sei como surgiu a inclusão do surdo nos cursos ouvicêntricos, algumas vezes
os movimentos surdos acadêmicos através da FENEIS já lutaram pela consecução dos intérpretes,
e com propostas, mas não conseguiram derrubar as resistências do poder /saber das políticas
financeiras da ULBRA.
Incomodada o poder / saber ouvicêntrico, até mesmo intérpretes, professores e membros do
NES que não se interessam sobre a vida e saber cultural dos surdos. Os ouvintes mestres e
doutores da educação, que ocupavam o espaço do NES
28
, esses sentiam o sabor de poder /saber e
não preocupavam-se com o amordaçamento da cultura surda pelos alunos surdos, e pensavam
apenas no salário, convidam algum surdo no NES como reduzido auxiliar ou pesquisador, depois
de algum tempo o substitui por outro. Conseguiram com sucesso o valor do projeto ou trabalho e
desprezaram as nossas propostas ou reivindicações, ou copiaram as propostas com textos
construídos deles e mostraram.
Com o curso diferente, a incomodada pedagogia, os surdos sempre reclamaram,
reivindicaram pela pedagogia própria, pela LIBRAS, pelos professores surdos.
6- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação.
-existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
28
NES = Núcleo de Estudos Surdos.
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Os surdos pagavam, lecionavam o curso como os docentes universitários não se
preocupavam com o caminho verdadeiro dos surdos na Universidade. Porque a universidade não
daria o curso específico concreto para surdos? Na universidade pública nós surdos fizemos
vestibular e não passamos. Eles não se preocupavam em estabelecer o vestibular específico e
verdadeiro para surdos, então nós muitos surdos fizemos na ULBRA e eles nos facilitaram a
passar por interesses financeiros, mas entrávamos nos cursos ouvicêntricos, ficávamos iludidos,
continuávamos freqüentar, com tolerância até recebermos o diploma, sofriamos e pagávamos
sempre e aprendíamos ”nada”, e ainda sonhávamos com o curso de Pedagogia dos surdos, e
ficávamos como palhaços dentro do curso.
A universidade e docentes universitários não conheciam o “surdo”, eles agiam apenas com
protecionismo, paternalismo, assistencialismo até mesmo com deficientes: físicos, cegos, etc.,
eles apenas pensavam em interesses financeiros, ficavam com lucros e aumentavam os salários.
Eles não se preocupavam, nem se interessavam na situação do surdo, apenas dariam o diploma, o
que falta para eles, era ética, teriam que mudar o plano do curso, ter a aquisição das experiências
das vidas dos surdos, das metodologias, didáticas.
Nós sofremos por quatro anos. Eles apenas davam o curso ouvicêntrico.
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
-de receber educação digna
-de acessibilidade
-de educação própria
Na sala, às vezes, sem intérprete, nós surdos reclamávamos por essa falta, o docente e
também o NES disseram que não precisaríamos ter intérprete, “se ela não vem, precisa integrar-
se bem com os colegas, a ler a leitura labial”, nós não aceitávamos, apelávamos insistentemente
por intérpretes, até fomos a secretária do curso, ao vice-reitor, eles não deram bola” (não
preocupavam-se com direitos) nos disseram que “não tem a vaga, não tem verba para pagar”, nós
insistíamos, dissemos que pagávamos caro pelo curso, pela falta de respeito e responsabilidade
pelos direitos humanos dos surdos. Eles traziam intérpretes voluntários, fracos, não profissionais,
não credenciados pela FENEIS, alguns ainda freqüentando o recém curso básico, também davam
110
o intérprete fraco aos alunos líderes fortes. Também na ULBRA o problema era financeiro para
muitos intérpretes.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
-Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos
influenciaram a pedagogia dos surdos?
Tem muitos novos alunos surdos que desconheciam a realidade positiva do curso da
Pedagogia. Tem muitos que evadiam, trancávam o curso para ir a outro curso ou emprego que
eles queriam e sonhavam. O surgimento do curso de Letras/Libras, na ULBRA faz se
esvaziando ou diminuindo os interesses dos surdos nos cursos ouvicêntricos.
Acho que no amanhã, teremos muitos professores surdos mestres e doutores, os projetos
do curso traçados, a criar no espaço e tempo próprios como o surgimento do curso reverberado
para surdos: LETRAS / LIBRAS ministrado por Ronice Quadros pois ela teve experiências
lingüísticas surdas em outros países além do Brasil, e que conheceu os graves problemas
educacionais que os surdos atravessaram. O maior poder político é a pedagogia, a maior
facilidade no centro de LETRAS era a consecução de criar o curso de LETRAS/LIBRAS, foi a
conseqüência da oficialização e regulamentação da LIBRAS.
Depois da inclusão de sempre do surdo nos cursos universitários ouvicêntricos, eu descobri
que na UDESC, tem o curso cujo nome é Pedagogia dos Surdos em Florianópolis SC, com
alunos surdos vindos dos interiores de SC, no começo, pensei que esse curso seria a volta e a
reverberação, mas no fim foi um equivoco, obscuro, projetado por pessoas ouvintes, outro lado
era na UFSC recém criado o curso de LETRAS/LIBRAS será?
Tem muitos professores surdos formados pela pedagogia/magistério, agora todos vão para a
LETRAS / LIBRAS? será o fim para a pedagogia dos surdos? Como viver essa pedagogia?
Era minha primeira vez, no curso pioneiro da “Pedagogia dos Surdos” em Santa Catarina,
mas não sei bem qual as práticas educacionais dentro do currículo, se o curso projetado pelos
111
ouvintes, era concreto? Sinto que eram os ouvintes que projetavam mal copiando o dos ouvintes?
Disseram que apenas no início (1° semestre) do curso ofereceram algumas disciplinas com
especificidade da cultura surda como História dos Surdos, aspectos lingüísticos de LIBRAS, no
curso também havia inclusão dos ouvintes, mistura-se tornando-se globalizado.
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Ainda temos sempre o sentimento da angustia, da agonia, do sofrimento, da escravatura, da
tolerância, da alienação, do colonizado por aprender o “vazio” / ”nada” durante e depois do curso
até hoje. O sentimento de arrependimento pelo novo curso concreto e verdadeiro. A sensação do
sofrimento do abandono, do azar, da perda dos valores dos pagamentos.
Tenho dificuldade de ler os textos baseados em LP, ou seja, língua ouvicêntrica, também exige os
trabalhos realizados em LP para que os professores ouvintes possam avaliar tranqüilamente a
própria língua, fiz um trabalho como língua de fronteira, foi negado, ainda paguei pela tradução
para Língua Portuguesa, mas a tradutora hesitou desconhecendo o meu sentido e fez o trabalho
próprio e eu senti a perda do meu sentido, entreguei-o com paciência.
Muitos surdos fizeram o mesmo, sentiam-se como colonizados, escravos da “língua do outro”.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
Um dia nós teremos que nos reunir com a Universidade, FENEIS, Associações de Surdos,
professores líderes acadêmicos e surdos mestres e doutores a traçar, a solucionar o curso concreto
a Pedagogia dos Surdos para o amanhã. A Pedagogia dos Surdos e a Pedagogia Ouvinte: são
diferentes curriculares, a dos Surdos, organiza-se conforme o projeto consensualmente as
práticas de educação que combinam o ensino - aprendizagem com experiências visuais - gestuais
para que os alunos poderem aprender / nutrir entranháveis essas, incluindo as próprias referências
bibliográficas com experiências dos surdos ou mesmo visuais / gestuais, com o uso da própria
língua inteira a LIBRAS, com o modelo da identidade lingüística, recebem-no , formam-no,
criam-no a proposta cada vez melhor, mais qualificada para dar o curso em outra geração...
112
11- Quais os critérios da solução, pretende esboçar para “o amanhã”?
O mais importante é com professores surdos que projetarão com critérios com a coleta das
disciplinas ou práticas de educação concretas com experiências trabalhadas pelos surdos,
consensualmente como por exemplo: LS, espaço/tempo da realidade da vida surda, e com os
professores surdos mestres e doutores responsáveis pela orientação. Os Professores e presidentes
das Federações e Associações de Surdos até fazerem leis/regulamentações, são muitos diferentes
da Pedagogia dos Ouvintes. No amanhã, nós surdos temos que fazer critérios, o que cada um
achar que é fundamental as práticas no currículo próprio, os profissionais verdadeiros para
regulamentar o curso, temos que mostrar com os nossos próprios sentimentos, com o próprio
poder/saber surdo, com a proposta concreta conforme espaço/tempo próprio, evitar que os outros
- ouvintes “mexam”.
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
Tenho o desejo de traçar agora, mas não dá, junto com o MEC, nós os professores surdos, temos
que ir devagar para criar minuciosamente a certa proposta do curso da pedagogia Surda.
Atualmente a maioria é a política ouvicêntrica como a “educação inclusiva”, a “inclusão”, isto
está complicando o nosso sonho, o nosso desejo de criar o próprio curso, como admiramos o
curso já feito a LETRAS/LIBRAS para instrutores surdos, que mais trabalham ensinando a língua
para “ouvintes”, de novo nós os surdos sofremos com o poder dos ouvintes.
Nós nos formamos como instrutores de LIBRAS pela FENEIS/MEC. De novo o curso
LIBRAS na Universidade?
muitos instrutores de LIBRAS, hoje ainda desprezados, porque ainda não foram
chamados ao trabalho nas escolas, para que ainda novamente esperem pelos cursos novos?
Muitos instrutores hoje velhos perdem o valor do papel profissional do instrutor. No amanhã os
instrutores se formarão, serão desprezados e exigidos a participar em outro curso. Meu sonho é
ter formação concreta e ter diploma de “professor ou pedagogo surdo”.
113
E6
1-Contar o que entende da história da educação/ pedagógica dos surdos:
- a história vivida por você comparada à do passado?
- Esta pedagogia dos surdos, desejada por surdos, nos incomodou na história com os
professores surdos de Paris e o pioneiro professor surdo Huet no Brasil? Ela não é nova, ela
existe para nós, está contida, latente nos discursos surdos?
A história da educação dos surdos na França, o monge colheu os surdos à escolarização,
iniciou-se a educação dos Surdos e da LSF (Língua de Sinais da França), pesquisou esse. L’Epée
também pesquisou coletando os sinais usados pelos surdos.
Em Pelotas é diferente, pois a educação da França do século XVII e XVIII e a Educação do
Brasil são diferentes culturalmente e politicamente, aqui se preocupam com as classes baixas e
altas e as qualidades educacionais. Mas nós surdos lutamos para melhorar as políticas da
educação dos surdos. Só conheço a história de Eduard Huet que é 1º professor surdo e pioneiro na
educação dos surdos no Br. D. Pedro II permitiu a construção da Escola para os Surdos...
Não conheço bem a história dos professores surdos na França. Aqui o magistério não ensinou a
história dos surdos.
2- Contar/explicar o que sente sobre a ciência positiva da pedagogia dos surdos.
-a lacuna vivida existente em Pedagogia própria para surdos?
-Diante das muitas tessituras, que pedagogia os surdos querem?
-Como e porque nomeamos esta pedagogia?
-Tem algo a volta e a reverberação dentro da formação da pedagogia
-A pedagogia dos surdos nos incomoda e incomoda os ouvintes?
-Há bastantes perguntas sobre esta incomoda pedagogia?
-Há reclamações pela falta da própria pedagogia?
-Ensina-se aos surdos numa formação não pedagógica?
114
Eu estudei no Ensino Médio Comum em outra escola estadual, e depois fiz um ano no
Magistério Municipal Pelotense, com alunos ouvintes, com adaptações, porém as disciplinas / o
currículo era para ouvintes, a inclusão dos surdos fez algumas adaptações como metodologias e
didáticas, principalmente aulas visuais, mesmo baseadas em Língua Portuguesa.
Lecionei o curso, bem como trabalhei como professor na escola de surdos, senti que essa
formação que adquiri, existe na lacuna vazia, m falta de muitos conhecimentos / informações
com a especificidade da cultura surda, nesta escola estadual bem como onde trabalho, tem
pouquíssimos recursos: bibliográficos, o que mais precisa para surdos são recursos bibliográficos
e tecnológicos visuais, como TV, Informática / Internet, vídeo, livros e revistas com imagens
visuais ou em LS. E para os ouvintes o que mais precisam são ler e escrever com textos e
palavras baseadas em Língua Portuguesa incluindo como ouvir a música, ou outros sons , ou seja
o mundo do som.
3-Contar o que recebeu ou não da arte-educação (literatura, arte, poesia, piada/ humor,
cartunista, teatro, Filmoplastia,...) da própria cultura surda dentro do currículo da
pedagogia.
-Consegue construir/produzir durante/depois do ensino dessa arte-educação?
-Quais são os elementos constantes desta pedagogia (cultura, língua, currículo, etc. .)?
Literatura é como uma vida?
Este currículo era para ouvintes (ouvicêntrico). Só no final do curso (durante as aulas de
estágio, nós organizávamos convidamos instrutores / professores surdos serem palestrantes no
seminário para questionar sobre o currículo próprio).
A Arte - Educação era ouvicêntrica, era só para ouvintes, não tinha para surdos.
No curso de Magistério, davam pouca aula / texto de literatura, porque cada disciplina cuja carga
horária eram poucas horas, pois no curso participei apenas um ano, no estágio com pouca Arte
Educação criada por nós surdos.
4- Qual a formação da identidade cultural / da mesmidade em relação à área
filosófica/poética/política da própria cultura surda dentro da formação da Universidade?
115
-Qual a importância da cultura e participação do povo surdo na construção da
pedagogia dos surdos?
Senti que a minha identidade surda persistia, permanecia, tinha o controle de ser colonizado
alienado pelo poder/saber ouvicêntrico, alguns não conseguiam, nós sempre ficávamos juntos em
grupo tornando forte a política identitária, se um isolado perdesse essa, ficaria com a identidade
fragmentada.
5- Expor o que tem a política surda e o movimento surdo vividos dentro da Universidade.
- a política da diferença
- a política da pedagogia da diferença
- a política da pedagogia dos surdos
Em Pelotas já aconteceu o forte movimento surdo / política surda, uma vez reivindicávamos
mais intérpretes, pois temos 8 classes onde tiver surdos e somente 4 intérpretes, solicitando a
contratação de mais intérpretes na Prefeitura, e na Câmara de vereadores a principal
reivindicação era ter intérprete no curso de Magistério para ouvintes onde tiver alunos surdos.
Também em outro lado - o ensino médio onde tiver alunos surdos, nós nos preocupávamos mais
era no magistério que iria formar surdos em professores. O prefeito não conhecia a realidade da
vida do “surdo” não conhecia a educação dos surdos e questionava “porque o intérprete?” porque
a lei? Os direitos da língua própria? Quando começou a entender, começou a investir para
melhorar a situação da nossa educação. Às vezes a falta dos intérpretes foi por doenças/doente,
uma vez durante um semestre por falta de recursos financeiros para os pagamentos salariais.
6- Fale o que existe na moral/ética dentro da formação?
-existe alguma falcatrua nesta ética da formação?
Tem alguns professores que tinham a vontade de dar a formação concreta e outros não.
Tinha doze surdos que já se formaram, esperavam pelo concurso, não tinha concurso de professor
para surdos ou de LIBRAS nem vaga para surdos. ensinavam LS, LS, LS e faltava magistério
116
de 1ª a séries, faltava a política deles para lutar, pela consecução do espaço para essa
importância.
7- Contar sobre os direitos humanos existentes na Universidade:
-de receber educação digna
-de acessibilidade
-de educação própria
Os surdos que estudavam muitos anos nestes cursos, queriam ter um espaço para núcleo
ou centro de estudos surdos, estudos e pesquisas sobre a educação dos surdos, educação infantil,
estimulação precoce, é difícil foram aceitas este sonho. Pensavam / temiam que surdos não
seriam capazes de fazer, irresponsáveis. Os surdos ainda lutavam até hoje pelos direitos desses.
8- Contar resumidamente a realidade toda da formação e da Universidade.
-Hoje os surdos voltam e reverberam por uma nova pedagogia? Que passos
influenciaram a pedagogia dos surdos?
No Magistério de Ouvintes com inclusão de surdos com a presença do intérprete, em quatro
anos, exceto eu que estudava em ensino médio comum, depois incluia-me em um ano no
magistério. E durante a prática, a teoria e a orientação do estágio (no final do curso) somente com
os surdos em outra classe, nós surdos trocávamos as nossas idéias com nossas sugestões,
projetos, experiências, não dava para ficar com os ouvintes, isto causaria muitas contradições.
Nós surdos facilitamos a troca de idéias rápida em projetos de estágios nas aulas. Enquanto a
supervisora ficava conosco, sempre acompanhava-nos com intérpretes. Sim , recebi a capacidade
para poder ministrar o ensino /aprendizagem dos alunos. Sei que recebi a formação ouvicêntrica,
não houve volta e reverberação neste curso. Pretendia dar o melhor conhecimento / informação
com mais novidades com a visão epistemológica visual para que as crianças surdas pudessem
aprender melhor.
117
No começo os professores de cada disciplina preocupavam-se “como fazer para ensinar ao
surdo?” Enquanto durante as aulas os surdos apresentavam os trabalhos diferentes, eles
começaram a compreender a realidade da identidade cultural dele. Durante a avaliação do
estágio, a professora (orientadora) junto com a intérprete, observava a aula dada por aluno surdo
e formá-lo.
9- Contar em especial os problemas da vida dentro da formação.
- O que te fez causar problemas na vida?
Tive com problema da vida no curso, sim, até eu tive, no começo senti-me mal, as
professoras davam um território de aprendizagem muito difícil, nós surdos começávamos a
discutir, a brigar, pois o currículo era ouvicêntrico, a cultura diferente da nossa, o currículo
dominante e colonizado, nós insistíamos em trocar o currículo, foi resistente e contraditório, a
discussão permanecia até o fim, com base da língua ouvicêntrica, a Língua Portuguesa, e a
filosofia da vida ouvicêntrica.
10- Explique o que pede a solução experiencial.
Nós, surdos sonhamos em criar a escola própria da rede municipal (desde a educação
infantil até o magistério). Em primeiro nos interessamos muito pela creche municipal para surdos.
Os surdos já se formam e ficam em casa, ou trabalham como instrutor, instrutor, instrutor, só.
11- Quais os critérios da solução, pretende esboçar para “o amanhã”?
Nosso sonho é criar critérios para esboçar a pedagogia dos surdos na universidade de
pelotas, com curso bacharelado para próprios surdos, mas no momento UFPEL aceita LIBRAS,
depois no futuro a Pedagogia dos surdos. Os surdos têm que fazer a prova “se é capazes”: ter
experiência, capacidade lingüística, ética, etc. Bem como reivindicar o vestibular para surdos.
118
12- Pretende traçar quais os planos destas histórias para mudar para o “amanhã”?
Sonhamos com a viagem fantástica no amanhã dentro da faculdade para surdos no mundo dos
surdos em relação à educação de surdos com própria política surda, os outros - ouvintes não
precisam incluir-se, como recém criado LETRAS/LIBRAS, como própria pedagogia, geografia,
matemática, formações para professores surdos. Traçamos com os professores surdos mestres e
doutores pois eles têm a obrigação e deliberação de apresentar projetos, têm o poder de disputar
com outros doutores.
119
5 ANÁLISE DOS DADOS
Coloco as citações destacáveis e necessárias das falas da experiência narrada com a saturação (e
similares) em triagem:
Conforme a pesquisa, analiso essas citações dos discursos saturados e similares, e defino-as na
conclusão no capítulo seguinte:
5.1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS:
Na escola de ouvintes:
Não conhecia a História dos Surdos pois o currículo era para ouvintes. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos:
Na França historicamente tinha a maravilhosa Educação / Pedagogia dos Surdos concreta e na
ULBRA a formação “vazia”. (E5)
Não sei responder a História da Educação / Pedagogia dos Surdos da França, pois não foi
ensinado neste curso. (E4)
Na verdade na França tinha a LSF dentro do curso, não foram encontrados os registros
pedagógicos, apenas em foco maior a LS, alunos assimilaram o modelo da identidade
lingüística do professor surdo. Aqui, falta: os professores surdos mestres e doutores nas
universidades a ministrar a História dos Surdos. (E5)
Não conheço bem a história dos professores surdos na França. Aqui o Magistério não ensinou a
História dos Surdos. (E6)
Na escola de surdos:
“Esse povo tão atingido, tão elevado que jamais vi, depois declinou-se por um século. O tesouro
que era da França do século XVIII, foi achado e resgatado por aqui”.(E1)
120
Hoje sinto a volta da visão epistemológica dos surdos, resgatada na escola de surdos...já
implantado Ensino Magistério para Surdos... (E1)
Com o curso de magistério adequado: aprendi observando os professores ensinando com a
mesma comunicação em LIBRAS, a História dos Surdos. (E2)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes:
Só no início do Curso tinha a pouca História da Educação dos Surdos, não aprendi o bastante.
(E3)
5.2 A PEDAGOGIA DOS SURDOS
Na escola de ouvintes-
Mudei para o Curso Magistério para Ouvintes, senti-me incluída com os demais ouvintes, sentei
esperando a exposição, mas foi totalmente oralizada com som seqüencial, esperava ansiosa o
recebimento do conhecimento, mas nada, nada, era o “conhecimento vazio”, veio à minha mente
”vazia”.
Ansiei, encarei a perguntar o que? o que? mas recebi pouquíssimas respostas, olhando no
quadro, aprendi pouquíssimo.
Sofri alguns meses passados até junho, e nada, não passei nas provas.
Rodei, por não conhecer as palavras, os profundos significados, conceitos, por causa do não
recebimento das mensagens através do canal auditivo/oral, ou seja, eu por ser surda, as aulas
foram ministradas concentrando-se oralmente ou em voz oral sonoro.
Sofria angustiada pelas respostas desses conhecimentos. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Em Tupanciretã, as professoras não sabiam como fazer com a presença da aluna surda na aula,
aliviaram-se com a presença do intérprete, mas ela não freqüentava tudo (vinha às vezes, depois
121
desaparecia), tinha seu próprio trabalho na classe de crianças surdas. Só havia uma única
intérprete em Tupanciretã.
Eu consegui com a ajuda dos colegas que aprenderam alguns sinais pois elas foram orientadas
pela intérprete e educadora especial. (E2)
Ingressei começando no curso de Magistério que era próprio para os ouvintes, sempre foi
aprendida / adquirida / recebida a informação / conhecimentos sempre pelo canal auditivo com
mensagem em voz sonoro.
Nós sempre fomos mudados, traduzíveis para o canal manual / visor com mensagem gesto /
visual, sempre com os trabalhos dos intérpretes de LIBRAS/LP, inclusive com a apresentação de
nossos trabalhos para os professores e alunos conhecerem sempre admiravelmente. Eles
apresentaram em grupos a apresentação e nós surdos apresentamos sempre diferente, as
professores aceitaram.
No curso não ofereceram currículo próprio, nem disciplinas adequadas, o curso próprio
conforme a influência do poder/saber ouvicêntrica. (E4)
Afirmo que o curso era próprio para ouvintes, não tinha a condição do curso para surdos, não
tivemos o apetite de nutrir esse.
Necessitaria que com professores surdos com a visão epistemológica e metodológica própria
para que nós pudéssemos desenvolver com modelo identitário e com disciplinas com
especificidade da cultura surda, e a LS para ministrar as crianças surdas.
O curso era equivoco, escuro, era ouvicêntrico, os surdos não recebiam aprendendo o que
necessitavam. Eles deram os métodos o que era deles, surdos não recebiam aprender nada,
”vazio”, perdíamos muito neste curso.
Grupo de surdos sentiam com o desejo de fazer a formação própria, eles toleravam seguindo o
curso e recebiam diploma mesmo sem formação concreta, mesmo sem LS.
É verdade, aprendi algo, e levei textos, para casa, percebia que tinha um conhecimento “vazio”.
Se eu aprendesse com própria visão epistemológica, com especificidade temporal - espacial da
cultura surda, aprenderia. Levei textos da visão do “outro” ouvicêntrico, o desprezei
obsoletamente e guardei-os em local fechado. Surdos se alegravam ao entrar nos cursos de
Magistério/Pedagogia, e em seguida não conseguiram encontrar a volta e a reverberação da
Pedagogia dos Surdos a condição do território de aprendizagem dentro do curso de formação,
que era da visão epistemológica ouvicêntrica nem tinham as referências bibliográficas referentes
a cultura surda. (E5)
122
Eu estudei no Ensino Médio Comum em outra escola estadual, e depois fiz um ano no Magistério
Municipal Pelotense, com alunos ouvintes, com adaptações, porém as disciplinas / o currículo era
para ouvintes, a inclusão dos surdos fez algumas adaptações como metodologias e didáticas,
principalmente aulas visuais, mesmo baseadas em Língua Portuguesa. (E6)
Na escola de surdos-
Acho que aqui no Brasil não tem Pedagogia Surda verdadeira, vejo que tem aqui em Santa
Maria o recém curso Normal (Magistério) para Surdos..., sinto, que aqui não existe lacunas
vazias nem reclamações no currículo por exemplo: temos as disciplinas: Didática de LS, História
dos Surdos e LIBRAS que ensinados por mim, como professor.(E1)
De novo mudei para ficar com o meu pai, “o par surdo” em Santa Maria.
Contatei de novo os contatos culturais dos surdos, desenvolvimento e aprimoramento em LS,
Poesia Surda, SW, para o meu conhecimento. Bem como Matemática com LS claramente, Escrita
de LS, e demais disciplinas com mais referência a especificidade da Cultura Surda, inclusive com
a Filosofia, com o Corpo Surdo, com a Pesquisa em LS, etc.
O SW é a mais importante leitura e escrita para o entendimento claro da LS.
Não houve nenhuma opressão na escola, o curso foi bem ministrado calmamente.
(E2)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
Foi criada a Pedagogia para Surdos, o pioneiro, é na UDESC em Florianópolis, SC, me cursei,
ligado a Educação à Distância contatando com os surdos dos interiores de SC à capital, todas as
sextas e sábados.
Alguns alunos inscritos eram vindos dos interiores de SC, alguns não sabiam bem a LS, poucos
sabiam bem a LS, outros sabiam bem pouco a LS e uns fluentes e conhecedores dos contatos
identitário cultural, se formaram em três turmas com 2 líderes cada turma, com paciência, não
dava para juntar como um todo.
Temos os docentes, as lingüistas explicaram os fundamentos da lingüística de LIBRAS, e
ministraram um pouco ...a SW ... por pouco tempo.
Nós adquiríamos / entendíamos melhor essas especialidades.
123
No início, durante um s tínhamos 4 sábados com essas especialidades, depois, nada. As
demais aulas eram traduzidas pela intérprete, que não tinha conhecimento adequado e
ministradas pelas outras ouvintes, nós ajudávamos “a dar sinal”, era difícil formar a esse
tempo. Em conseqüência, o curso foi ampliado para sete anos, nós lutamos e conseguimos de
volta para 4 anos. (E3)
5.3 ARTE-EDUCAÇÃO
Arte – educação, subdivide-se em:
a)Currículo
Na escola de ouvintes-
(...) que nos outros cursos de Magistério, que fiz de fora, não tem a própria Arte - Educação com
referência e especificidade da cultura surda. Inclusive em outras transdisciplinariedades como
Química, Física, etc. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Na universidade foi oferecido o curso que não contém a Arte - Educação com referência a
Cultura Surda, só recebi as matérias / textos sobre a arte em geral, produzidos em LP. (E5)
A Arte - Educação era ouvicêntrica, era só para ouvintes, não tinha para surdos. (E6)
Durante as aulas, sempre perguntei corajosamente a professora e as colegas, escritas num papel,
“o que é esta palavra, o que significa?” Mesmo recebendo as respostas porém frias, escuras pois
todos os textos são baseados em Língua Portuguesa. (E2)
Na La Salle não oferecia Arte - Educação própria dos surdos, nenhum, senti o “vazio
conhecimento na La Salle”. (E4)
124
Na escola de surdos-
Aqui tem a própria Arte - Educação que nós esperávamos ansiosamente,... (E2)
Como professor dentro do Magistério para Surdos: adaptei-me construindo com métodos
próprios para ensinar: Gramática de LIBRAS, Arte - educação, Escrita de LIBRAS, Poesia Surda,
História da Educação dos Surdos. (E1)
O mais importante é estimular o surdo a fazer o teatro surdo, também para apresentá-lo ao
público. Agora, no Magistério dos Surdos, o ensino é bom, “cheio”, “novo”, produtivo, com
vibrações. Com poesia, SW,... Também construímos nós próprios conforme as nossas
experiências, criando novas produções de conhecimentos, buscando inclusive cursos/experiências
de fora, adaptando o curso, SW, outros, para poder criar novas produções.
Era como o baú do tesouro escondido, difícil de encontrar o ouro (tesouro) como a SW, arte -
educação: como poesia surda, agora tem a literatura recente para a criança surda, falta para
adultos, ainda falta muito, ao menos conseguimos disciplinas como didática surda, história dos
surdos, falta mais poesia, literatura, acredito que no amanhã terá disciplinas completas, mais
produtivas. (E1)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes
No início tivemos a Arte – Educação: Boa Poesia Surda: Poesia do Alfabeto, das Letras, do
Vogal, dos Números, do Sinal Metafórico com Sinais classificadores, ministrados por professoras
surdas de Porto Alegre e Caxias do Sul. Também ministradas a Gramática de LIBRAS e
diferentes estruturas de LIBRAS e LP.
(...) Após 2 meses não ofereciam mais essa. (E3)
b) literatura
Na escola de ouvintes-
Em Santa Vitoria do Palmar , as professoras explicam os termos hermenêuticos em Português, a
língua ouvicêntrica.
A minha mãe não conhecia bem essas, pois é primária.
125
Sofri com muito nervosa, tentei procurar livros, dicionários para ler, tentando a resposta
mas em vão. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos
Se já formada pensava: como ensinar aos surdos? Não é fácil sempre traduzindo as coisas dos
ouvintes durante os estágios, também, os livros, as revistas literárias da universidade, da escola
de surdos e dos colegas também, são as coisas próprias dos ouvintes, eu traduzi estabelecendo
com paciência para ensiná-los. (E4)
Adquiri / assimilei fora da universidade a Arte - Educação como nas comunidades / convívios
surdos as Piadas Surdas, Humor Surdo, Histórias da Vida, Estórias que contém a Cultura Surda,
dentro das Associações de Surdos / Feneis (cursos, encontros, palestras, eventos). Principalmente
nas Associações de Surdos, conheci muitas piadas / humor / teatro surdo. (E5)
Adquiri o curso de Instrutor promovido pela FENEIS: Curso de Arte oferecido pelo poeta Nelson
Pimenta, o famoso poeta brasileiro que mais difundiu a POESIA SURDA Brasileira, ou seja,
POESIA MANUAL. (E5)
Na escola de surdos-
“Literatura é como uma vida” que os ouvintes já tem, faltam para os surdos.
Ter Literatura para que as crianças possam curtir, por exemplo: “lobo e os porquinhos com a
especificidade da cultura surda: “o lobo toca a campainha da luz e os porquinhos vêem a luz da
lâmpada acesa com o pisca-pisca ligado da campainha, diferente do porquinho ouvinte ao ouvir a
campainha ou ouvir as batidas da porta pelo lobo, foi admirado pelos alunos surdos a
conhecerem a literatura surda.
O lobo e porquinhos surdos sinalizam e o lobo e os porquinhos ouvintes oralizam.
A literatura é uma vida vivenciada pela realidade cultural dessas pessoas. (E1)
“Pensei que nos outros cursos para ouvintes: as professoras não se comunicavam em LS, como
sem LS podem ou não fez produzir / construir metaforicamente a arte poética da LS junto aos
alunos”. (E2)
126
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
São importantes para a Educação Infantil Surda. É uma disciplina com vídeo, é interessante e
necessária ser assimilada esse conhecimento. (E3)
c) Elementos constantes como cultura, língua, currículo
Na escola de ouvintes-
As repetições monolingüística ouvicêntrica... (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Quando entrei em um curso comum com inclusão, com currículo ouvicêntrico, pensei que havia
condição de formação para surdos também, foram apenas ilusão e decepção.
Os surdos aprendiam adquirindo a Arte - Educação com LP, não tínhamos apetite de nutrir /
adquirir. Muitos surdos não conseguiam reproduzir, copiavam para ensinar aos alunos e eles não
nutririam/aprenderiam bem “nada”. (E5)
Este currículo era para ouvintes ( ouvicêntrico). (E6)
Todos os textos eram baseados em Língua Portuguesa. (E2)
Currículo da Cultura Surda? É difícil responder, pensei que as coisas do curso são próprias dos
ouvintes, queria que acrescentasse no curso para os surdos como História dos Surdos, Estória
Surda como por exemplo: sempre tentei traduzido para a especificidade da cultura surda, não
tinha dentro do curso, só coisas dos ouvintes. (E4)
Na escola de surdos-
(...) na Escola Coser, aprendi facilmente e claramente com a Língua de Sinais visualmente, senti
bem. (E2)
127
Os alunos apresentaram o teatro, arte, também começaram a dedicar-se a SW com a arte, por
exemplo:
Páscoa: Escreve-se SW: um cara acrescenta-se com o desenho de coelho Papai Noel: um cara,
de SW, acrescenta-se com o desenho de Chapéu Vermelho.
Os alunos surdos inspiraram-se admirando intensamente a arte própria dos surdos. (E1)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
A essa pedagogia que era “dos” surdos, durante um ano e meio teríamos as professores
lingüistas de LIBRAS, com a cultura Surda, depois essa pedagogia era “para” surdos. Tudo foi
por causa do problema financeiro, também a coordenação era composta pelo poder / saber dos
ouvintes. (E3)
Muitos professores estaduais eram cedidos para ministrar, não sabiam como comunicar
adequadamente para surdos, apenas oralmente com os trabalhos da tradução dos intérpretes.
Nós surdos perguntávamos tentando entender, foi difícil, e ouvintes entendiam naturalmente.
Tem aulas de Arte - Educação ministradas por professores ouvintes, mas nós nada de valor
adquirimos pois essas são próprias dos ouvintes.
“No início progredíamos, no fim regressávamos insatisfatoriamente.” (E3)
5.4 SOBRE A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Na escola de ouvintes-
Em Santa Vitoria do Palmar essa formação sem contato da identidade lingüística me fez ser
excluída, isolada, ficando mal de saúde. (E2)
Na escola de ouvinte com inclusão de surdos-
Neste curso a construção da identidade dos ouvintes, eu adquirindo a construção/formação da
identidade surda, não tinha. Só aprendi LS no curso de instrutor referindo a construção da
identidade surda desenvolvendo com conceitos de ser surdo / comunidade surda / movimento
128
surdo / política surda, aprendi este. No curso de ouvintes, não, sim pouquíssimas construções
deste com uma colega surda. (E4)
Senti que a minha identidade surda persistia, permanecia, tinha o controle de ser colonizado,
alienado pelo poder / saber ouvicêntrico, alguns não conseguiam, nós sempre ficávamos juntos
em grupo tornando forte a política identitária, se um isolado perdesse essa, ficaria com a
identidade fragmentada. (E6)
Eu como surda, sempre vivia sozinha, longe daquele contato, às vezes visitava à Santa Maria
para matar a saudade. (E2)
Surdos ao se formar com tolerância com diploma hesitaram com mente equivoca / escura.
Acho que na Universidade, nós surdos formamos com tolerância durante todo o curso... Alguns
pareciam com identidade fragmentada, achavam que poderiam assimilar para ensiná-los aos
alunos?
Na ULBRA, no espaço ouvicêntrico, nós surdos, vindos dos diferentes cursos, corríamos e
sentávamos no barzinho formando como comunidade / convívio, comunicando-nos em LIBRAS
nas horas fora das aulas, e dentro das horas da aula, e sentávamos isolados ou alguns, com
tolerância, olhávamos fixamente o trabalho do intérprete.
Nós sentávamos como comunidade identitária lingüística como respirávamos o ar puro, limpo.
Não tinha como a Universidade criar estrategicamente o curso com a comunidade surda inteira
dentro dela mesma, poderia criar o curso próprio.
Se aumentassem os surdos na Universidade poderiam criar o curso próprio. (E5)
Na escola de surdos-
Na Escola Cóser nós estudávamos no Ensino fundamental, lutávamos a ter o Curso Magistério e
o 2º Grau e formar-nos para ampliar a convivência cultural porque os surdos pequeninos
poderão contatar como modelo identitário dos alunos deste curso, senão, a defasagem
identitária.Eles precisam bem antes essa convivência identitária para melhorar o nível da
educação dos surdos. (E2)
129
(...) eu como professor de Didática e História dos Surdos, vejo que alunos se construírem bem os
conhecimentos na presença da identidade cultural e lingüística.
Na inclusão, não acredito que eles se construem esse igual? Quem é o modelo? E a formação da
Comunidade /Convivência dos Surdos? (E1)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
Apenas tínhamos duas professoras lingüistas ouvintes, que sabiam comunicar com fluência em
LS nas aulas, nós olhávamos o mundo de LS, assistíamos, com o modelo das comunicações
sinalizadas e visualizadas dessas professoras, era fundamental para alunos assimilarem esse
modelo. E intérpretes sempre traduziam com o sentido das mensagens transmitidas oralmente
ouvicêntricas. Nós regressávamos cada vez mais, nós precisávamos desse modelo. Apesar de
nós irmos a outros cursos com o modelo de identidade lingüística, aqui o curso era difícil e
limitado. (E3)
5.5 SOBRE A POLÍTICA E MOVIMENTO SURDO
Na escola de ouvintes
Naquele momento eu não entendia “nada” naquela situação vazia, não recebia a ajuda dos
colegas nem das professoras para lutar pelo direito de ter alguma acessibilidade, de ser eu
mesma, de ser diferente. Sinto a vida “vazia” não tinha convivência cultural dos surdos. E ainda
piorei o estado da saúde voltando para casa. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos
Em Pelotas aconteceu o forte movimento surdo / política surda, uma vez reivindicávamos mais
intérpretes. O prefeito não conhecia a realidade da vida do “surdo” não conhecia a educação
dos surdos e questionava “porque o intérprete?” porque a lei? Os direitos da língua própria?
Quando começou a entender, começou a investir para melhorar a situação da nossa educação.
Às vezes a falta dos intérpretes foi por doenças/doente, uma vez durante um semestre por falta de
recursos financeiros para os pagamentos salariais. (E6)
130
Historicamente não sei como surgiu a inclusão do surdo nos cursos ouvicêntricos, algumas vezes
os movimentos surdos acadêmicos através da FENEIS lutaram pela consecução dos
intérpretes, e com propostas, mas não conseguiram derrubar as resistências do poder /saber das
políticas financeiras da ULBRA .Com o curso diferente, a incomodada pedagogia, os surdos
sempre reclamaram, reivindicaram pela pedagogia própria, pela LIBRAS, pelos professores
surdos. (E5)
Incomodado o poder / saber ouvicêntrico, até mesmo intérpretes, professores e membros do NES
que não interessavam sobre a vida e saber cultural dos surdos. (E5)
Nós ainda expomos como nossa primeira língua é LS e segunda é LP, como estrangeira, também
o que é Cultura Surda, eles ainda interessavam-se. Mas eles, não nos fizeram criar, como as
Resistências, dos Movimentos Surdos, não ,pois eles logicamente não eram surdos, apenas nós
mostrávamos como nós somos, buscávamos os dons misteriosos da FENEIS., Associações,
Movimentos Surdos para mostrar o que queremos. (E4)
(...) em Santa Maria veio a resposta: aprovação do projeto do Curso Normal (Magistério) e do
Ensino Médio para Surdos em Santa Maria pelo CEE e pelo Governo do Estado, após durante o
Encontro de Políticas Educacionais para Surdos no RS: “A Educação que Nós Surdos
Queremos” na Assembléia Legislativa em Porto Alegre, com muitos movimentos surdos (Escolas
e Associações de Surdos) vindos dos interiores do RS e do capital, e FENEIS – RS... (E2)
Na escola de surdos-
Nós o povo surdo ficamos sabendo da aprovação do projeto Magistério para Surdos em Santa
Maria, o curso LETRAS / LIBRAS nos pólos - estados universitários, e no amanhã terão
professores surdos em cidades do interior, nas escolas onde tiverem alunos surdos. (E2)
Existe a política surda que os grupos lutaram pela política da diferença como, por exemplo: a
comparação semelhante à política da educação identitária e lingüística dos índios.
Têm surdos que lutaram conforme a Política da diferença querendo uma escola adequada para
surdos com própria educação de surdos, “aqui e agora” já temos a escola. (E1)
131
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
A maioria teve a política ouvicêntrica, os surdos mostravam a poesia cultural, mas os outros
ouvintes tentavam apagar e indicar outras, influenciando a política ouvintista ou globalizada ou
de inclusão. Os surdos apresentavam a certa filosofia, mas os outros ouvintes discordavam,
manipulavam, convencendo que a outra visão era melhor. Nós surdos debatíamos com ouvintes,
que sempre contrapunham / contradiziam. A cultura surda x cultura ouvinte.
5.6 NA ÉTICA
Na escola de ouvintes
Em Santa Vitória do Palmar, ingressei pela primeira vez a minha inclusão no curso de
Magistério, na escola particular, os alunos me olharam estranhamente, parecia que eles não
conheciam um “outro diferente”, então fiquei isolada, sentada, as professoras oralizavam e eu
não entendia, elas estranhavam ao me ver, pensaram “como fazer uma surda na sala?” Alunas se
riram, ironizaram, fiquei calada, com tolerância. Antes de ingressar, proibiram me lecionar.
As professoras preocuparam-se com a minha situação, escreveram num papel tarefas para eu
fazer em casa e eu não conseguia fazer por não entender direito pela falta de explicações,
ninguém esclarecia nada,depois disso, as professoras começaram a me deixar de lado e
trabalharam mais exclusivamente com alunos ouvintes. Elas me chamaram de
“coitada”, o pior era a Língua Portuguesa, pela comunicação era a disciplina mais difícil, e
rodei, senti-me muito mal e larguei a escola.. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Os professores, que praticaram com ética, são bons, mas o curso é pertença aos ouvintes, as
relações saber/poder são ouvicêntricos. (E4)
Surdos pagavam, lecionavam o curso como os docentes universitários não se preocupavam com o
caminho verdadeiro dos surdos na Universidade. Porque a universidade não daria o curso
específico concreto para surdos?
132
Na universidade pública nós, surdos, fizemos vestibular e não passamos. Eles não se
preocupavam em estabelecer o vestibular específico e verdadeiro para surdos, então nós, muitos
surdos fizemos na ULBRA e eles nos facilitaram a passar por interesses financeiros, mas
entrávamos nos cursos ouvicêntricos, ficávamos iludidos, continuávamos a freqüentar, com
tolerância até recebermos o diploma, sofríamos e pagávamos sempre e aprendíamos ”nada”, e
ainda sonhávamos com o curso de Pedagogia dos surdos, e ficávamos como palhaços dentro do
curso.
A universidade e docentes universitários não conheciam o “surdo”, eles agiam apenas com
protecionismo, paternalismo, assistencialismo até mesmo com deficientes: físicos, cegos, etc., eles
apenas pensavam em interesses financeiros, ficavam com lucros e aumentavam os salários.
Eles não se preocupavam, nem se interessavam na situação do surdo, apenas dariam o diploma, o
que falta para eles, era ética, teriam que mudar o plano do curso, ter a aquisição das
experiências das vidas dos surdos, das metodologias, didáticas.
Nós sofremos por quatro anos. Eles apenas davam o curso ouvicêntrico. (E5)
Tem alguns professores que tinham a vontade de dar a formação concreta e outros não. Tinha
doze surdos que já se formaram, esperavam pelo concurso, não tinha concurso de professor para
surdos ou de LIBRAS nem vaga para surdos. Só ensinavam LS, LS, LS e faltava o magistério de 1ª
a séries, faltava à política deles para lutar, pela consecução do espaço para essa importância.
(E6)
Na escola de surdos-
No curso Normal para Surdos, eu ensino sempre sobre a ética verdadeira durante todo o curso
para evitar que no amanhã criaria o problema da vida pedagógica. (E1)
Aqui temos algumas professoras ouvintes de cada disciplina, desconheciam a noção da identidade
surda e faltavam a fluência de LS (falta o conhecimento intenso da gramática de LS) os surdos
complicavam-se ao aprender por causa desses problemas, precisavam formar bem estas
carências, as habilidades comunicativas, às vezes os professores com preguiça e falta de interesse
o desenvolvimento da LS, esses professores não respeitavam não atendendo as exigências dos
alunos a ajudar, a aprimorar a LS. Tem uma nova, que aprendia rápido a LS devido o interesse,
com o nosso alívio e nos desenvolvíamos com a troca de comunicação e diálogo. Esses
133
professores precisariam freqüentar o curso de LIBRAS, senão comunicariam-se como
“tartaruga”, também comunicariam-se “com repetições”.(E2)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
A direção manipulava, conforme a política ouvicêntrica, convidaram mais docentes ouvintes,
influenciando a má ética passava, passava mais a cultura globalizada. (E3)
5.7 DIREITOS HUMANOS
Na escola de ouvintes-
Falei à mãe que em Santa Maria tem escola de surdos. Queria muito ir estudar lá.
Minha mãe ficava perplexa. (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Os Direitos Humanos: na universidade tem legalmente, como funciona essa entidade, no curso,
para o espaço legalmente surdo tinha apenas por intérpretes. Eles respeitavam os nossos direitos
humanos como surdos e os nossos trabalhos expoente culturalmente. (E4)
Na sala, às vezes, sem intérprete, nós surdos reclamávamos por essa falta, o docente e também o
NES disseram que não precisaríamos ter intérprete, “se ela não vem, precisa integrar-se bem
com os colegas, a ler a leitura labial”, nós não aceitávamos, apelávamos insistentemente por
intérpretes, até fomos a secretária do curso, ao vice-reitor, eles “não deram bola” (não
preocupavam-se com direitos) nos disseram que “não tem a vaga, não tem verba para pagar”,
nós insistíamos, dissemos que pagávamos caro pelo curso, pela falta de respeito e
responsabilidade pelos direitos humanos dos surdos.
Eles traziam intérpretes voluntários, fracos, não profissionais, não credenciados pela FENEIS,
alguns ainda freqüentando o recém curso básico, também davam o intérprete fraco aos alunos
líderes fortes.
Também na ULBRA o problema era financeiro para muitos intérpretes. (E5)
134
Os surdos que estudavam muitos anos nestes cursos, queriam ter um espaço para núcleo ou
centro de estudos surdos, estudos e pesquisas sobre a educação dos surdos, educação infantil,
estimulação precoce, é difícil foram aceitas este sonho. Pensavam / temiam que surdos não
seriam capazes de fazer, irresponsáveis. Os surdos ainda lutavam até hoje pelos direitos desses.
(E6)
Na escola de surdos-
Pelos direitos humanos, antes nós, os povos surdos, lutavam pela lei de LIBRAS, hoje já a temos:
Lei estadual em 1999, Lei municipal em 2000, Lei federal em 2002.
No ano passado, já havia a regulamentada LIBRAS, precisava da criação do cargo de professor
surdo de LIBRAS, também intérprete de LIBRAS. (E1)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
Os surdos lutavam mas o MEC tem o poder maior, de cima.
Nós, surdos, de baixo, tentávamos ir para cima, mas longe...
Com leis conseguidas, os ouvintes ouviam mas não transmitiam, não movimentavam-se, calavam-
se, pois os ouvintes não são como os outros surdos.
Os surdos da pedagogia têm a falta dessa informação. (E3)
5.8 A REALIDADE DA FORMAÇÃO E DA UNIVERSIDADE / ESCOLA:
Na escola de ouvintes-
Inscrevi-me em Magistério Particular para Ouvintes em Santa Vitória do Palmar, perto da cidade
de Chuí, interessei-me em ser professora para crianças surdas.
Porém as pessoas me olhavam, espantadas e me negavam, mandavam eu me inscrever no
Ensino Médio, me chamaram de “deficiente”.
Frustrada, a minha mãe tentou convencê-los em vão. Então, fomos no CRE de Rio Grande e o
pessoal de lá disse hesitante: Vamos ver se pode.
Enquanto esperava a resposta. Sofria, pensava na não permissão e na resposta positiva de lá.
Decepcionei-me muito com a hesitação.
135
Angustiada esperando a resposta, lutei para convencê-los telefonando, mas estavam em recesso
(férias) durante uma semana.
Enquanto isso, também inscrevi-me no Ensino Médio, começava a freqüentar, esperando ansiosa
a resposta de lá.
Enfim, veio a resposta positiva. Aliviada, pensei:
- Por quê? perguntei a minha mãe, dizendo que pensei que eu como surda, para eles, os outros
(ouvintes) eu era como uma retardada, uma deficiente mental,... . (E2)
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
O poder/saber da Universidade La Salle era exclusivamente religiosamente católico, ele
desenvolvia normalmente, satisfatório, aprendi, mas não tinha o poder/saber do “outro”
paralelo, como o dos surdos. Como fui influenciada para lecionar o curso, foram as minhas
colegas surdas que fizeram esse curso, me incentivaram a licenciar este, a mudar meu trabalho
forçado (do hospital) a conseguir “diploma” e poder ficar dentro da comunidade da mesmidade,
trabalhando e comunicando simultaneamente a língua própria, tranqüila em qualquer escola de
surdos. (E4)
Tem muitos novos alunos surdos que desconheciam a realidade positiva do curso da Pedagogia.
Tem muitos que evadiam, trancavam o curso para ir a outro curso ou emprego que eles queriam e
sonhavam.
O já surgimento do curso de Letras/Libras, na ULBRA faz se esvaziando ou diminuindo os
interesses dos surdos nos cursos ouvicêntricos.
Acho que no amanhã, teremos muitos professores surdos mestres e doutores, os projetos do
curso traçados, a criar no espaço e tempo próprios como o surgimento do curso reverberado
para surdos: LETRAS / LIBRAS ministrado por Ronice Quadros...
Depois da inclusão de sempre do surdo nos cursos universitários ouvicêntricos, descobri que na
UDESC, tem o curso cujo nome é “Pedagogia para Surdos” em Florianópolis SC, com alunos
surdos vindos dos interiores de SC, no começo, pensei que esse curso seria a volta e a
reverberação, mas no fim foi um equivoco, obscuro, projetado por pessoas ouvintes, outro lado
era na UFSC recém criado o curso de LETRAS/LIBRAS será?
Tem muitos professores surdos formados pela pedagogia/magistério, agora todos vão para a
LETRAS / LIBRAS? será o fim para a pedagogia dos surdos? Como viver essa pedagogia? (E5)
136
Em Tupanciretã, comecei a me inscrever no curso de Magistério para Ouvintes (como queria ser
professora), mas o chefe me proibia, senti o mesmo que havia sentido em Santa Vitória do
Palmar.
Mas explicava-me: pode, pode, mas ela dizia: não pode. Ficava cansada, de novo senti-me mal,
chorei, quase abandonei os estudos, mas veio a professora especial conhecida minha que saiba
pouco comunicar-se em LS, defendia a minha causa, lutou para eu me inscrever, essa professora
foi a CRE de Cruz Alta exigir o meu direito e esperamos a confirmação do processo. Ela me
disse que iria trabalhar como interprete, e eu como incluída.
Enquanto isso eu me inscrevi no Ensino Médio, estudei, ao mesmo tempo esperei pela resposta. A
coordenadora pedagógica desta escola me chamou para fazer a prova de admissão para o curso
de magistério público, eu assustada, fiquei nervosa, ela me explicou como fazer a rapidez
conforme a hora limitada estabelecida com 10 pontos de cada disciplina (Matemática,
Português.).
Fiquei nervosa fazendo a prova com o cronômetro em 7 minutos usada pela professora, consegui
terminar no último minuto, passaram-se outras provas em outras disciplinas, faz como geometria
(psicotécnica com decoração de desenhos geométricos,...).
Passei, e finalmente ser inscrita em curso Magistério.
Aliviada e muito nervosa, mas feliz. As professoras fizeram com as mãos com vibrações , difere a
de bater palmas das mãos para as pessoas que ouvem, emocionei-me.
Mudei para este curso em Tupanciretã, sentei, e pensei como em Santa Maria não tinha o Ensino
Médio e Magistério? E ficava triste. (E2)
Sei que recebi a formação ouvicêntrica, não houve volta e reverberação neste curso. (E6)
Na escola de surdos-
Todas as realidades das pedagogias existentes em todo o Brasil, foram construídas pelos poderes
e saberes ouvicêntricos.
Eles, os ouvintes, incluíam alguns instrutores ou professores surdos, pensavam, que se
colocassem uma das especificidades da cultura surda como a inclusão de LIBRAS apenas numa
das disciplinas, seria completa a pedagogia para surdos, é um erro, um engano, uma ilusão.
Falta a construção do currículo pelos surdos: com a Literatura Surda, Poesia Surda, Escrita de
Sinais (Sign - Writting), entre outros.
137
Mas no Brasil não existe esse sonho da pedagogia surda. (E1)
(...) no Coser, as novidades, a convivência diferente, o bom estudo, o conhecimento ampliado
metaforicamente. O contato da identidade lingüística e cultural que tive pela primeira vez no
“Coser”, a comunicação de LS, tranqüila e feliz, precisava muito trocar as idéias de
significados/conceitos para aliviar “a mente”, sempre combinávamos para passear na ASSM, nos
contatos culturais em outros lugares, etc., sempre ligado a ASSM da escola Cóser. (E2)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
A valorização da Pedagogia surda seria com referência à filosofia da vida surda, não a
pedagogia comum, a comunicação oralizada com “palavras vocalizadas, de escritas usadas pelos
ouvintes”.
Faltava aqui a didática adequada com comunicação visualizada e sinalizada.
Apenas recebiam didaticamente ouvicêntrica, se sentiam como “nada” com lacunas vazias dentro
do curso.
Não tem a pedagogia completa no Brasil nada, por política ouvicêntrica, que tenta diminuir
nosso poder para a inclusão, a política do MEC não conhece bem a cultura surda nem a
pedagogia surda. (E3)
5.9 PROBLEMAS NA VIDA
Na escola de ouvintes-
Estava sentindo uma vontade de participar da convivência surda, sentindo necessidade. A falta
desta, fez com que eu tomasse remédios, tive o aumento da pressão, tive depressão, febre, quase
tornei-me uma doente, parei os estudos e comecei a melhorar a saúde.
Comecei a ter vontade de abandonar os estudos, fiquei com a pressão alta, fiquei doente, dormi
muito, minha mãe me mandava parar os estudos. Senão acabaria enlouquecendo. Parei, sofri,
frustrada, chorei pensando em como “não seria professora”. (E2)
138
Na escola de ouvintes com inclusão-
Em Tupanciretâ, tive mais ou menos os problemas na saúde especialmente nervosa e angustiada
pelos conhecimentos, às vezes os colegas ouvintes me ajudavam, mas a comunicação em
Português, complicou muito a comunicação, eu hesitei muito nisso . Fiquei triste, senti-me
nostalgia, adorava contatar os surdos de Santa Maria, trocando experiências históricas, poéticas,
filosóficas em vivência doméstica, esportiva, em lazer, do trabalho, e escolar nos espaços e
tempos próprios. (E2)
Sim, causava poucos problemas na minha vida, mas não percebi essa porque tive com a presença
dos intérpretes. Com os trabalhos feitos, sempre tive com os problemas de saúde, nas provas, não.
(E4)
Ainda temos sempre o sentimento da angustia, da agonia, do sofrimento, da escravatura, da
tolerância, da alienação, do colonizado por aprender o “vazio” / ”nada” durante e depois do
curso até hoje. O sentimento de arrependimento pelo novo curso concreto e verdadeiro. A
sensação do sofrimento do abandono, do azar, da perda dos valores dos pagamentos.
Tenho dificuldade de ler os textos baseados em LP ou seja língua ouvicêntrica, também exige os
trabalhos realizados em LP para que os professores ouvintes possam avaliar tranqüilamente a
própria língua, fiz um trabalho como língua de fronteira, foi negado, ainda paguei pela tradução
para Língua Portuguesa, mas a tradutora hesitou desconhecendo o meu sentido e fez o trabalho
próprio e eu senti a perda do meu sentido, entreguei-o com paciência.
Muitos surdos fizeram o mesmo, sentam-se como colonizados, escravos da “língua do outro”.
(E5)
Tive um problema da vida no curso, sim, até eu tive, no começo sentia-me mal, os professores
davam o território de aprendizagem muito difícil, nós surdos começávamos a discutir, a brigar,
pois o currículo era ouvicêntrico, a cultura diferente da nossa, o currículo dominante e
colonizado, nós insistíamos em trocar o currículo, foi resistente e contraditório, a discussão
permanecia até o fim, com base da língua ouvicêntrica, a Língua Portuguesa, e a filosofia da
vida ouvicêntrica. (E6)
139
Na escola de surdos-
Naquela época (década 80), tive muitos problemas na minha vida, esses sentimentos de
isolamento, de nervosismo, durante o curso de Educação Física sem nunca a presença de
intérprete. Muitas aulas foram dadas com explicações, orientações, mas eu não recebi bem nada,
persisti até conseguir me formar, então, recebi o diploma.
Na pós-graduação, o curso de especialização, juntamente com “você”, “o par surdo” na UFU -
MG, com intérprete, segui de bem com a vida, tranqüilo, comuniquei-me com todos através do
intérprete.
Atualmente no curso Normal para Surdos, eu atuo como professor diretamente com alunos e com
a própria língua de fácil contato e comunicável.(E1)
Em Santa Maria eu abri muito a minha mente metaforicamente com contatos culturais dos surdos,
em LS, eu ficava sossegada, tranqüila, sem angustia, sem irritação, muito feliz sempre, com
alegria. (E2)
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
Durante a minha vida no curso, prossegui a vida aos espaços e tempos dos contatos surdos. Mas
a posição ouvicêntrica me perseguia “mexendo”, conforme a política filosófica e poética
ouvicêntrica, inclusive a da Deficiência Auditiva. (E3)
5.10 A SOLUÇÃO EXPERIENCIAL
Na escola de ouvintes-
Eu e meus colegas da 8ª série fazíamos um projeto de reivindicação do Ensino Médio juntamente
com o curso de Magistério para Surdos com o apoio da ASSM, esperávamos a resposta do CEE
através da diretora e do vice Jeferson da escola, esperei demoradamente e nada. (em 2004). (E2)
140
Na escola de ouvintes com inclusão dos surdos-
Nós, surdos sonhamos em criar a escola própria da rede municipal (desde a educação infantil até
o magistério). Em primeiro nos interessamos muito pela creche municipal para surdos. Os surdos
já se formam e ficam em casa, ou trabalham como instrutor, instrutor, instrutor, só. (E6)
Eu estou sentindo vontade de juntar os pedagogos surdos, professores surdos da escola de surdos,
e trocar “as experiências de cada um” como ensinar aos surdos a melhorar a educação, a
qualidade da vida escolar, enriquecer a Língua de Sinais. (E4)
Um dia nós teremos que nos reunir com a Universidade, FENEIS, Associações de Surdos,
professores líderes acadêmicos e surdos mestres e doutores a traçar, a solucionar o curso
concreto a Pedagogia dos Surdos para o amanhã.
A Pedagogia dos Surdos e a Pedagogia Ouvinte: são diferentes curriculares, a dos Surdos que
organiza-se conforme o projeto consensualmente as práticas de educação que combinam o ensino
- aprendizagem com experiências visuais - gestuais para que os alunos poderem aprender / nutrir
entranháveis essas, incluindo as próprias referências bibliográficas com experiências dos surdos
ou mesmo visuais / gestuais, com o uso da própria língua inteira a LIBRAS, com o modelo da
identidade lingüística, recebem-no , formam-no, criam-no a proposta cada vez melhor, mais
qualificada para dar o curso em outra geração...(E5)
Na escola de surdos-
Aqui e agora dificilmente o povo surdo resolve, fazer ao separar a pedagogia da
pedagogia surda. Acredito que passo a passo com tempo, conseguiremos por exemplo: o
criado curso do Magistério para Surdos, vejo que nos EUA os surdos m o território e
começaram a construir uma cidade para surdos (cidade chamada LAURENT) para ter o
predomínio da LS a ASL... (E1)
(...) e no amanhã teriam em cidades do interior onde tiveram alunos surdos: mais professores
surdos e mais escolas de surdos. (E2)
141
Na escola de surdos com inclusão dos ouvintes-
A importância da solução experiencial, das comunidades surdas ou do povo surdo, como nós
surdos refletíamos: ter um espaço, ou uma cidade com comunidade surda com LS, (usam LS nas
lojas, bancos, etc.), a pedagogia só com própria língua, a LS, como no mundo da LS. (E3)
5.11 OS CRITÉRIOS
Penso em convocar todos os professores surdos a fazer o projeto ou organizar o currículo
próprio para surdos, os outros - ouvintes não, os professores surdos conforme as
próprias experiências ao estabelecer o currículo surdo com critérios.(E1)
Preciso pensar no futuro dos professores surdos que concluíram a formação tem que ter
acesso às universidades, o primeiro critério terá o acesso dos surdos a se inscrever, pois
tem muitos cursos para ouvintes. O é para os surdos, pois esperavam ansiosos tanto
esse sonho de ser professor. Também esperavam pelo vestibular para surdos, a luta por
intérprete ou na UFRGS, seleção de mestrado e doutorado para surdos, exames não oral
e sim com a LS, o curso não ouvicêntrico para não “diminuir o conhecimento”, sim o uso
de LS para aumentar o conhecimento e convivência cultural. (E2)
O mais importante é estabelecer critérios conforme a especificidade da Cultura Surda. Nós
surdos pedagogos / professores vindos de outros estados, reuniremos para fazer o projeto para a
nova pedagogia para o amanhã. Os ouvintes pedidos para nos apoiar, mas aproveitariam
manipulando o projeto para misturar para a “inclusão” ouvicêntrica” . (E3)
Estabelecerá o projeto com próprios surdos com os critérios estabelecidos para o vestibular
projetado pelos surdos mestres e doutores. Se alguém ouvinte vem e nem sabe LIBRAS, reconhece
e sai. Com a valorização do critério estabelecido para a valorização da pedagogia concreta para
os surdos poderem lecionar bem. Sonhei com a pedagogia surda própria e necessária,
combinamos com professores formados surdos a reunirem a fazer projetos para o amanhã com as
experiências deles, com os surdos líderes para estabelecerem critérios rigorosos, para poder
lecionar o curso para o amanhã, inclusive ter o Fórum dos direitos do cidadão surdo a combinar.
(E3)
142
Eu estou com o desejo de combinar um compromisso com os professores surdos (não adianta
fazer sozinha) construir a proposta com critérios reivindicando o curso de pedagogia surda para
o amanhã para poder desenvolver a qualidade da formação do professor surdo, os ouvintes os
tem; os surdos, o curso onde? (E4)
Quais critérios de como ingressar no curso de Pedagogia dos Surdos, eu acho primeiro seria o
surdo, sim, pois os outros - ouvintes sempre “mexem complicando o curso. surdos, que saiba
mais a LS (fluente) se ingressam primeiro conforme a avaliação lingüística. (E4)”.
O mais importante é com professores surdos que projetarão com critérios com a coleta das
disciplinas ou práticas de educação concretas com experiências trabalhadas pelos surdos,
consensualmente como por exemplo: LS, espaço/tempo da realidade da vida surda, e com
professores surdos mestres e doutores responsáveis pela orientação. Os Professores e presidentes
das Federações e Associações de Surdos até fazerem leis / regulamentações, são muitos diferentes
da Pedagogia dos Ouvintes.
No amanhã, nós surdos temos que fazer critérios o que cada um achar que é fundamental as
práticas no currículo próprio, os profissionais verdadeiros para regulamentar o curso, temos que
mostrar com os nossos próprios sentimentos, com o próprio poder/saber surdo, com a proposta
concreta conforme espaço/tempo próprio, evitar que os outros - ouvintes “mexem”. (E5)
Nosso sonho é criar critérios para esboçar a pedagogia dos surdos na universidade de pelotas,
com curso bacharelado para próprios surdos, mas no momento UFPEL aceita LIBRAS, depois no
futuro a Pedagogia dos surdos.
Os surdos têm que fazer a prova “se é capaz”: ter experiência, capacidade lingüística, ética, etc.,
bem como reivindicar o vestibular para surdos. (E6)
5.12 TRAÇAR PARA O AMANHÃ
Traço planos em mente uma Pedagogia Superior para o amanhã, mas é impossível fazer algo
logo “aqui e agora”, tem o momento o curso de Magistério para Surdos ainda andando até 4
anos. Também em SC, na UFSC, a professora e doutorada Gládis Perlin tem trabalhado
atualmente ao pesquisar a Pedagogia Surda. Na UFRGS, você ao fazer o curso de doutorado com
143
a pesquisa: Pedagogia dos Surdos. Nós, surdos acadêmicos ao unirmos, acreditamos no amanhã
talvez na UERGS ou na UFSC ou em outra ao criar esse sonho e construí-lo em realidade
necessária. (E1)
Já penso sonhando depois da formação “como fazer o plano no amanhã para melhorar a
educação organizada com a metodologia específica, junto com os professores surdos a adquirir
buscando conhecimentos, recebendo informações desses, inclusive a escrita de sinais, até nós
resolvermos estudar para mudar essas para serem mais específicas, diferentes, para que os
alunos recebam as percepções visuais específicas, claras, diferentes com o sentido próprio para
as aprendizagens claras inclusive em todas as disciplinas como Biologia, Ciências, Matemática,
etc., com fundamental visão epistemológica própria como ensinar sinais em cálculos, negócio,
roupa, até saúde: AIDS, doenças , etc.. (E2)”.
No amanhã professores doutores e mestres surdos irão estabelecer critérios para fazer o projeto
da criação da pedagogia surda.
Também temos o documento do seminário da pedagogia dos surdos: práticas educacionais
para surdos em Caxias do Sul, juntamente com Gládis, eu, você, Tibiriçá, outros, em
conseqüência da preocupação sobre a falta da Pedagogia dos Surdos, também surgiu
recentemente às pesquisas da “sua” tese sobre a pedagogia surda, este iria ajudar a criar esse
traço. (E3)
Traçar os planos da vida universitária no amanhã, eu refleti que na UFSC, ligada a UFSM (onde
leciono) oferece o curso de LETRAS / LIBRAS este ano, a buscar e explorar as novidades de
conhecimentos/informações da especificidade dessa língua, a enriquecer a qualidade da vida
surda, a ser ensinada/aprendida/assimilada, nós, grupo de surdos interessamos muito deste, esse
é meu sonho a mudar e melhorar a minha formação profissional de professora, essa é a minha
esperança.
Prefiro escolher dois, a LIBRAS/LETRAS e Pedagogia dos Surdos, para aprender mais a
experiência profissional. (E4)
Tenho o desejo de traçar agora, mas não dá, junto com o MEC, nós, os professores surdos, temos
que ir devagar para criar minuciosamente a certa proposta do curso da pedagogia Surda.
144
Atualmente a maioria é a política ouvicêntrica como a “educação inclusiva”, a “inclusão” isto
está complicando o nosso sonho, o nosso desejo de criar o próprio curso, como admiramos o
curso já feito a LETRAS/LIBRAS para instrutores surdos,
que mais trabalham ensinando a língua para “ouvintes”, de novo nós os surdos sofremos com o
poder dos ouvintes.
Nós já nos formamos como instrutores de LIBRAS pela FENEIS / MEC. De novo o curso LIBRAS
na Universidade? (E5)
Sonhamos com a viagem fantástica no amanhã dentro da faculdade para surdos no mundo dos
surdos em relação à educação de surdos com própria política surda, os outros - ouvintes não
precisam incluir-se, como recém criado LETRAS/LIBRAS, como própria pedagogia, geografia,
matemática, formações para professores surdos.
Traçamos com os professores surdos mestres e doutores pois eles têm a obrigação e deliberação
de apresentar projetos, têm o poder de disputar com outros doutores. (E6)
145
6 CONCLUSÕES
Analisando e examinando minuciosamente os discursos narrativos enunciados sobre a
Pedagogia, concluí e apresento os tópicos que seguem:
Os surdos que estudam:
1- Nas escolas de ouvintes com os cursos de Magistério para Ouvintes:
- Os currículos eram ouvicêntricos, ou seja, próprios para ouvintes.
- Difícil ser aceitos e inscritos no curso por ser diferente, ser surdo. Quando inscritos
sempre foram ironizados, chamados de deficientes, retardados, coitados.
- Toda a exposição foi toda oral com som seqüencial.
- Cuja língua era baseada em Língua Portuguesa, incluindo todos os textos até mesmo
os literários.
- Não conheciam a História dos Surdos pois os currículos eram feitos pelos poderes e
saberes ouvicêntricos.
- Não contém a Arte – Educação com especificidade da Cultura Surda.
- Sem contato da identidade surda, que gera sentimentos de exclusão, de vida vazia, de
decepção, de angustia pelos conhecimentos, de depressão, a tomar remédios, a dormir
muito, tornados-os doentes.
- Recebiam os conhecimentos “vazios” (“mente vazia”), rodavam, paravam ou
trancavam o curso.
- As repetições monolingüísticas ouvicêntricas.
- Sem a ajuda dos colegas e professores a lutar pelo direito de ter alguma acessibilidade,
de ser eu mesma, de ser diferente.
- Sentiam a necessidade da identidade surda.
É a pedagogia que deve ser sempre apagada é a pedagogia de sempre; uma
pedagogia que nega duas vezes e que o faz de uma forma contraditória; nega que o outro
146
haja existido como outro e nega o tempo em que aquilo a própria negação colonial do
outro-possa ter acontecido. (Skliar, p. 200)
É a pedagogia com a sensação da vacuidade, da infertilidade, da solidão a sós.
Na escola de ouvintes com os cursos de Magistério para Ouvintes com Inclusão dos Surdos:
- De formação “vazia’, são influenciados pelo poder e saber ouvicêntrico.
- Não foi ensinada a História da Educação dos Surdos nem a Arte – Educação, pois não
há professores surdos”.
- Aqui faltava professores surdos mestres e doutores nas Universidades a ministrar a
História dos Surdos.
- Os professores ouvintes não sabiam “como fazer a presença dos alunos surdos na
sala”, aliviam-se com a presença dos intérpretes de LIBRAS / LP, que vinham às
vezes, depois desapareceram, ou ausentaram muito por problemas políticas financeiras
e de saúde.
- Os colegas ouvintes só aprenderam e comunicaram alguns sinais pois foram
orientadas pela educadora especial.
- Eles toleraram seguindo o curso e recebem o diploma.
- Segundo alunos perguntavam corajosamente, mas veio as respostas frias, escuras pois
todos os textos são baseados em LP, são coisas próprias dos ouvintes, não tem apetite
de nutrir, traduzem-nos em LS tolerante e difícil para ensinar aos surdos.
- Pensavam que tem condição de formação, foi ilusão e decepção.
- Não tinham identidade surda, sentavam com tolerância ao olhar fixamente os
trabalhos manuais dos intérpretes, corriam ao barzinho ou em outro lugar para matar a
saudade do contato desse, sentaram e comunicaram em LIBRAS trocando
experiências históricas, poéticas, em vivências surdas.
- Tinham o forte movimentos surdos a lutar pela consecução dos intérpretes, alguns
foram negados por problemas políticos financeiros ou ouvicêntricos, que disseram:
“senão, precisam integrar com ouvintes, ou ler os lábios dos outros”, ou desconheciam
dizendo: “Por que o intérprete? Por que a própria língua?” Eles agiam apenas como
assistencialismo, protecionismo.
147
- Segundo eles: “Os surdos pagavam, lecionavam, recebiam formação “vazia”,
recebiam o diploma e sentiam como palhaços dentro do curso, como colonizados
escravos da língua do outro, com decepção”.
Uma pedagogia para o presente disjuntivo? ... É a pedagogia como hóspede de nossa
hospitalidade (SKLIAR, 2003, p. 200).
É as pedagogias que capturam, ignoram, mascaram, massacram ou vibram com o outro
(SKILAR,2003, p.36), amordaçam a língua e a identidade surda.
3- Na escola de surdos com o curso de Magistério dos Surdos:
- Os surdos aprendiam observando os professores surdos comunicando em LIBRAS,
ministrando a História dos Surdos, a Didática Surda, Arte Educação Surda, que essa
que esperem ansiosamente, e a arte poética que inspiram intensamente.
- Construíram métodos e didática de LS
- Sentiam que não tem lacunas vazias nem reclamações no currículo.
- Sentiam a visão epistemológica dos surdos, juntamente com o pensamento político,
filosófico e poético surdo.
- Resgatados desses tesouros do baú que era da França do século XVII e XVIII, fez a
volta e reverberação da educação dos surdos.
- Mudaram para ficar com os “parceiros dos mesmos” a construir a identidade
lingüistica dos surdos.
- A desenvolver e aprimorar a “língua dos mesmos” e suas leituras e escritas (SW).
- Lutavam a ter o Magistério de Surdos. A formar a convivência cultural dos surdos. E
construíram com o modelo identitário lingüístico e cultural dos mesmos.
- No amanhã terão mais professores surdos nos interiores do Estado.
- Essa política surda que o povo surdo luta por política da diferença, em comparação
semelhante à política da educação identitária dos povos índios.
- Os professores surdos atuaram diretamente aos alunos com a própria língua de fácil
contato e comunicável.
148
- Os surdos aprendiam com a mente aberta metaforicamente, com os contatos culturais
dos surdos, em LS, tranqüila e feliz.
- A valorização da pedagogia surda enfatiza-se a imersão da filosofia da vida do Ser
Surdo.
- A SW é a mais importante leitura e escrita para o entendimento claro da LS.
É a pedagogia que volta e reverbera permanentemente. (Skliar, 2003, p. 200).
É a pedagogia da mesmidade, da identidade lingüística dos surdos.
4- Na escola (espaço) de surdos, com o curso Pedagogia para Surdos com a Inclusão dos
Ouvintes:
Só no início tinha pouca aula de História da Educação de Surdos.
- Não ensinou bastante, até a Arte – Educação e os fundamentos lingüísticos de LIBRAS e
SW com lingüistas de LIBRAS e SW em pouco tempo, são apenas passageiras.
- Os surdos apenas assistiam com o modelo das comunicações visualizadas e
sinalizadas, esse modelo necessário, e depois não tinham “nada”,
- Tinham com o intérprete que sempre traduzia as mensagens transmitidas oralmente
ouvicêntricas.
- A direção manipulou conforme a política ouvicêntrica, convidaram mais os docentes
ouvintes influenciando a má ética passa, passa mais a cultura globalizada.
- Eles seguiam a vida aos contatos surdos mas a posição ouvicêntrica os perseguia
conforme a política filosófica e poética ouvicêntrica inclusive a da Deficiência
Auditiva.
- Algum tempo depois, esse curso sempre desaparecia, os ouvintes não sabiam “como
manter esse curso”.
- Esse curso de Pedagogia era “dos” Surdos, depois era “para” Surdos.
149
- Os surdos apresentavam nos discursos a certa filosofia, mas os outros ouvintes
discordavam manipulavam, convencendo que a outra visão era melhor. Cultura Surda
x Cultura Ouvinte.
A educação como a poiesis, isto é, como um tempo de criatividade e de criação que o
pode nem orientar-se para o mesmo, para a mesmidade. A educação como a construção de
um outro que repercuta na mesmidade (MÈLICH, 1994, apud SKILAR, 2003). É a
pedagogia da hospitalidade e hostilidade. A pedagogia das supostas diferenças em meio a
um terrorismo da indiferença (indiferente); e a produção de uma diversidade que quase
não se atende, quase não se entende, quase não se sente. (SKILAR, 2003, p. 196)
Traçar plano para o amanhã com critérios e com a solução experiencial:
Sentem em traçar em mente uma Pedagogia dos Surdos para o amanhã, mas é impossível fazer algo
logo “aqui e agora”, tem que ir devagar para criar minuciosamente a certa proposta, pois já tem o
momento o curso de Magistério dos Surdos em Santa Maria (2005), ainda está andando até 4 anos.
Também em SC, na UFSC e nos vários estados, o recém criado curso LIBRAS /LETRAS
(2006). Na UFSC, a professora doutorada Gládis Perlin já tem trabalhado atualmente ao
pesquisar a Pedagogia Surda. Sentem a vontade de juntar os pedagogos surdos, professores
surdos da escola de surdos, e trocar “as experiências de cada um” como ensinar aos surdos a
melhorar a educação, a qualidade da vida escolar, enriquecer a Língua de Sinais.
Um dia nós teremos que nos reunir com a Universidade, FENEIS, Associações de Surdos,
professores deres acadêmicos, professores surdos mestres e doutores a traçar e solucionar o
curso concreto da Pedagogia dos Surdos para o amanhã, que organiza-se conforme o projeto
consensualmente as práticas de educação que combinam o ensino - aprendizagem com
experiências visuais - gestuais para os alunos poderem aprender / nutrir entranháveis essas,
incluindo as próprias referências bibliográficas com experiências dos surdos ou mesmo visuais /
gestuais, com o uso da própria língua inteira a LIBRAS, com o modelo da identidade lingüística
dos surdos, recebem-no , formam-no, criam-no a proposta cada vez melhor, mais qualificada para
dar o curso em outra geração.
150
E estabelecer critérios rigorosos: o primeiro critério teo ingresso dos surdos a se inscrever,
pois tem muitos cursos para ouvintes. O é para os surdos pois esperavam ansiosos tanto esse
sonho de ser professor. Os surdos, que saibam mais a LS (fluente) se ingressam primeiro conforme a
avaliação lingüística. Também esperavam pelo vestibular para surdos, a luta por intérprete ou na
UFRGS , seleção de mestrado e doutorado para surdos, exames não oral e sim com a LS, o curso
não ouvicêntrico para não “diminuir o conhecimento”, sim o uso de LS para aumentar o
conhecimento e convivência cultural.
Os surdos têm que fazer a prova “se é capaz”: ter experiência, capacidade lingüística, ética,
etc., bem como reivindicar o vestibular para surdos.
No amanhã teriam em cidades do interior onde tiveram alunos surdos: mais professores
surdos e mais escolas de surdos.
Acredito que passo a passo com tempo, conseguiremos por exemplo: o criado curso do
Magistério para Surdos, vejo que nos EUA os surdos têm o território e começaram a construir
uma cidade para surdos (cidade chamada LAURENT) para ter o predomínio da LS a ASL...
Pensam em convocar todos os professores surdos a fazer o projeto ou organizar o currículo
próprio para surdos, conforme as próprias experiências com critérios.
Se alguém ouvinte vem e nem sabe LIBRAS, reconhece e sai.
No amanhã, nós surdos temos que fazer critérios o que cada um achar que é fundamental as
práticas no currículo próprio, os profissionais verdadeiros para regulamentar o curso, temos que
mostrar com os nossos próprios sentimentos, com o próprio poder/saber surdo, com a proposta
concreta conforme espaço/tempo próprio, evitar que os outros - ouvintes “mexam”.
pensam sonhando depois da formação “como fazer o plano no amanhã para melhorar a
educação organizada com a metodologia específica, junto com os professores surdos a adquirir
151
buscando conhecimentos, recebendo informações desses, inclusive a escrita de sinais, até nós
resolvermos estudar para mudar essas para serem mais específicas, diferentes, para que os alunos
recebam as percepções visuais específicas, claras, diferentes com o sentido próprio para as
aprendizagens claras inclusive em todas as disciplinas como Biologia, Ciências, Matemática, etc.,
com fundamental visão epistemológica própria como ensinar sinais em cálculos, negócio, roupa,
até saúde: AIDS, doenças, etc..”.
Também já temos o documento do seminário da pedagogia dos surdos: práticas educacionais
para surdos em Caxias do Sul, em conseqüência da preocupação sobre a falta da Pedagogia dos
Surdos, este iria ajudar a criar esse traço.
Sonhamos com a viagem fantástica no amanhã dentro da faculdade para surdos no mundo
dos surdos em relação à educação de surdos com própria política surda, os outros - ouvintes não
precisam incluir-se, como recém criado LETRAS/LIBRAS, como própria pedagogia, geografia,
matemática, formações para professores surdos.
Esse memorando é importante para os documentos testamentários das experiências dos
professores surdos, para o arquivo da História da Pedagogia dos Surdos e para os estudos e
pesquisas no amanhã, de geração em geração.
152
7 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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Santa Maria, UFSM, 2000 no prelo. P.1-22.
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expressão cultural amordaçada. In: Skliar, C. (org.). A Surdez: Um olhar sobre as diferenças.
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In: SKLIAR, C. (org.) A Surdez: Um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
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PERLIN, G. , MIRANDA, W. A Arte Surda. UFRGS, Porto Alegre, 1998.
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153
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Surdos: Um Olhar sobre as Práticas de Educação. Seminário Nacional. Revista
da FENEIS –Ano IV Nº 13 Janeiro - Março, 2002 p. 29, Edição Especial
154
INTERNET:
- Do CorreioWeb 18/08/2006.
http://noticias.correioweb.com.br/materias.php?id=2678744&sub=Distrito%20Federal
- www.feneis.com.br/Educacao/artigos_pesquisas/gladis.htm - 6k -
-www.wfdeaf.org 5-5-2006.
-www.wfdcongres.org 30-05-2006
155
8- ANEXOS
FENEIS
156
FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO
DOS SURDOS
PROJETO DE CURSO:
FORMAÇÃO DE PROFESSORES SURDOS
2002
1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
157
1.1 Título: CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES SURDOS
1.2 Promotora: FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
1.3 Parcerias: A FENEIS buscará parceria com Instituições de Ensino Superior para
concretização deste curso.
2. JUSTIFICATIVA:
Em vista de estar presente, nesta virada de século, uma pedagogia da diferença,
envolvendo grupos de minorias como índios, negros, mulheres e tantas outras, a
comunidade surda vem fazendo uma caminhada no sentido de inscrever seus
anseios e suas especificidades no quadro das políticas sociais e educacionais. No
ano de 1999, antecedendo o V Congresso Latino Americano de Educação Bilíngüe
para Surdos
29
líderes da comunidade surda de diferentes Estados brasileiros e de
outros países, participaram do que foi denominado Pré Congresso, onde foram
discutidos aspectos relevantes sobre a Educação dos Surdos. A partir daí foi
construído o documento: Que educação nós surdos queremos? Vários foram os
desdobramentos deste evento, sendo que veio a culminar, no ano de 2001, com a
realização do I Seminário Nacional – Surdos um olhar sobre as práticas em
Educação
30
na cidade de Caxias do Sul, contando com a participação de
professores/educadores/instrutores surdos. Naquele momento, foram aprofundadas
temáticas referentes a educação dos surdos, incluindo emergência de formação
de professores surdos. Visando um programa de formação para os surdos como
profissionais da educação, foram citadas algumas questões que deveriam prevalecer
na formação do professor surdo:
A questão da construção das identidades com relação à diferença
A questão dos embates, articulações, hibridizações culturais.
Dupla inscrição cultural do surdo
A resistência à opressiva predominância das identidades ditas normais
A superação do congelamento das identidades. Construção e reconstrução
Encontros e desencontros culturais
A supermacia cultural
29
O V Congresso latino Americano de Educação Bilíngüe para Surdos aconteceu entre os dias 21 e 24 de abril de
1999, em Porto Alegre-RS na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo como organizadores o Núcleo de
Pesquisas em Políticas Educacionais para Surdos NUPPES do Programa de s Graduação em Educação da
UFRGS e a FENEIS. Trata-se de um Congresso referência nas discussões acerca da educação de Surdos na América
Latina. Neste V Congresso, estiveram presentes 1.500 pessoas entre educadores, profissionais na área da surdez e
principalmente, uma representação significativa da comunidade surda latino americana. Compareceram a este evento
pesquisadores surdos e ouvintes de diferentes países latino americanos, como também dos Estados Unidos,
Inglaterra, Espanha e Portugal.
30
I Seminário Nacional Surdos um olhar sobre as práticas em Educação aconteceu entre os dias 27 e 29 de
setembro de 2001, na cidade de Caxias do Sul - RS. Foi promovido pela FENEIS, escritório do Rio Grande do Sul.
158
A categoria da diferença cultural
O movimento educacional desencadeado pelos surdos mostra que a formação do professor
surdo deve ir para o aspecto da pedagogia da diferença. O que é esta pedagogia da diferença?
Uma política pedagógica e curricular da identidade e da diferença.
Uma pedagogia que questiona, reconhece e celebra a identidade e a diferença.
Uma pedagogia da diferença que acolhe o surdo como surdo, como o outro, o diferente do
ouvinte.
Desde então, vem crescendo o número de surdos que pretendem atuar junto à educação de
crianças e jovens surdos. Para isso, muitos surdos têm procurado formação junto ao sistema
regular de ensino, através de cursos de Magistério (Ensino Médio), e em várias áreas do Ensino
Superior como a Pedagogia e diferentes Licenciaturas. A maioria destes novos professores vêm
atuando junto as Escolas de Surdos, o que os coloca cotidianamente frente a falta de uma
formação que conta das especificidades na educação dos surdos. Ou seja, não existem cursos
que contemplem as questões específicas aos professores e alunos surdos, desde um olhar das
comunidades surdas.
O presente Curso de Formação de Professores Surdos pretende atender a esta demanda crescente
de professores surdos, procurando articular, em sua proposta pedagógica, as aspirações da
comunidade surda que emergem das questões levantadas em seus diferentes fóruns de discussão.
Este curso, assim, vêm respaldado na necessidade de se pensar a formação de professores surdos
desde uma perspectiva da pedagogia da diferença.
3. CARACTERIZAÇÃO DO CURSO
3.1 Carga horária: 870 h/a
3.2 Tipo: Aperfeiçoamento de docentes surdos
3.3 Nº de vagas: Mínimo: 20
Máximo: 35
3.4 Público Alvo: Surdos graduandos e/ou graduados em Pedagogia e áreas afins a Educação e
surdos com formação em Magistério
4. OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral:
Possibilitar espaço para a formação de professores surdos para o exercício profissional na
educação de surdos com vistas à pedagogia da diferença para atender a demandas atuais da
educação de surdos.
4.2 Objetivos específicos:
Promover o conhecimento acerca da História da Surdez e dos Surdos, procurando resgatar as
narrativas surdas sobre a história das comunidades e das culturas surdas e suas relações
históricas com a educação e escolarização dos surdos
Estabelecer uma possível posição em relação ao poder e conhecimento nas escolas para surdos,
orientando a atuação dos professores/educadores surdos na educação e na escolarização dos
surdos.
Conhecer a comunidade surda e sua organização política, lingüística e social, identificando a
realidade das diferentes identidades surdas que são continuamente recriadas: as possíveis
identificações e os locais onde as identidades aparecem ou tomam conteúdos de mudança:
família, escola, associação, etc.
159
Reconhecer e estimular a diferença marcada na experiência visual dos surdos. assegurando
experiências significativas em relação à língua, ao convívio junto às comunidades, a
expressão nas artes e na cultura surdas.
Oferecer conhecimentos em relação a escrita da língua de Sinais SING WRITTING,
proporcionando aos professores surdos instrumentos eficazes para suas práticas pedagógicas.
5 PROGRAMA BÁSICO
Eixo 1. DIFERENÇA SURDA.
Disciplina 1: Política e Poética das Identidades e das Diferenças
Disciplina 2: História feita pelos surdos
Disciplina 3: O espaço da Cultura
Disciplina 4: Comunidade Surda
Disciplina 5: As Artes Surdas
Disciplina 6: A Construção do Corpo Disciplinado
Eixo 2. CONTEXTOS EDUCACIONAIS.
Disciplina 1: Representações sobre a Surdez e os Surdos na educação e na escolarização
Disciplina 2: A Educação dos Surdos na Educação Especial e na Educação em Geral
Disciplina 3: A pedagogia da diferença
Eixo 3. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS.
Disciplina 1: Gramática da Língua de Sinais
Disciplina 2: Metodologias de Ensino de Língua de Sinais
Disciplina 3: Sign Writting
Disciplina 4: Narrativas em Língua de Sinais
Disciplina 5: Classificadores
Eixo 4. ENSINO
Disciplina 1: Currículo e Estudos Surdos em Educação
Disciplina 2: Processos e Práticas de Avaliação
Disciplina 3: Lingüística e Educação de Surdos
Disciplina 4: Práticas de Ensino
Eixo 5: INTERFACES NA EDUCAÇÃO DE SURDOS
Disciplina 1: Políticas Públicas de Atendimento à Surdez
Disciplina 2: Educação de Surdos e Tecnologias
Eixo 6: PRÁTICAS DE ENSINO E ESTUDO DAS CONDIÇÕES EDUCATIVAS
REGIONAIS
Disciplina 1: Investigação social sobre as condições individuais, comunitárias, históricas e
culturais dos surdos nas diferentes regiões.
160
6 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO
6.1 Seleção
Modalidade
[ ] Provas [ ] Carta Recomendação
[x ] Entrevista [ ] Outra Indicação (especificar)
[x ] Análise Currículo
6.2 Critérios de Avaliação
[ ] Provas [ ] Seminários
[ ] Trabalhos Finais de Disciplina [x ] Monografias
6.3 Freqüência Mínima Exigida pelo Curso:
85% de freqüência nas disciplinas
6.4: Dados Resumidos do Corpo Docente
Titulação:
Requisito de Formação na Área da Surdez
7 Avaliação Geral
8 Aspectos financeiros:
8.1 Previsão de despesas com pessoal
Remuneração da hora aula
Coordenação do Curso
Auxiliar administrativos
Intérprete de Língua de Sinais
Encargos financeiros (20%)
8.2 Previsão de outras despesas
Material de Consumo:
Outros Serviços (reprografia, serviços de gráfica, certificados)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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Baixar livros de Astronomia
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