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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA
SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
A EXPERIÊNCIA DA CO-RESIDÊNCIA PARA IDOSAS EM FAMÍLIA
INTERGERACIONAL
CURITIBA
2007
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JOANA ERCILIA AGUIAR
A EXPERIÊNCIA DA CO-RESIDÊNCIA PARA IDOSAS EM FAMÍLIA
INTERGERACIONAL
Dissertação apresentada no Curso de Mestrado
em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre.
Área de Concentração: Prática Profissional de
Enfermagem.
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Lourdes Centa.
CURITIBA
2007
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TERMO DE APROVAÇAO
JOANA ERCILIA AGUIAR
A EXPERIÊNCIA DA CO-RESIDENCIA PARA IDOSAS EM FAMÍLIA
INTERGERACIONAL
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Enfermagem, Área de concentração Prática Profissional de Enfermagem, do
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem, Setor de Ciências da
Saúde, da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientadora: __________________________________________
Profª. Drª. Maria de Lourdes Centa
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Membro Titular: ___________________________________________
Profª. Drª. Maria Helena Lenardt
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Membro Titular: ___________________________________________
Profª. Drª. Maria Angélica Pagliarini Waidman
Universidade Estadual de Maringá - UEM
Curitiba, 14 de dezembro de 2007.
AGRADECIMENTOS
Obrigada, Meu Deus, por sempre me dar muito mais, que mereço. Sem Sua
infinita misericórdia, presentes nos momentos difíceis da realização deste estudo,
ele não seria concluído.
Ofereço meus mais profundos agradecimentos a todos aqueles que estiveram
comigo no decorrer desta pesquisa. Muito obrigada.
A Maria de Lourdes Centa, pela paciência diante de minhas dificuldades e pelo
respeito às minhas idéias. Com a serenidade própria da sabedoria, conduziu-me à
atividade de pesquisa. Nenhuma palavra com que eu tente me expressar fará jus
ao meu sentimento de infinita gratidão.
Às amigas Nataly Alves Barbosa e Marieta Fernandes Santos, pelo incentivo e
confiança, às quais devo, em grande parte, a decisão de cursar o Mestrado.
Ao Centro Universitário de Maringá, pelo efetivo auxílio concedido.
À Maria Aparecida Salci, coordenadora do Curso de Enfermagem do CESUMAR,
pelo apoio.
A Drª. Maria Helena Lenardt que com seu rigor acadêmico proporcionou preciosas
contribuições a esta dissertação.
Drª. Maria Fátima Mantovani, pelo valioso exemplo, disponibilidade e ajuda na
construção deste estudo.
Ao Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná e
a todas as professoras que integram este programa.
Às professoras Maria Angélica Pagliarini Waidman e Liliana Muller Larocca pelas
valiosas sugestões durante a qualificação.
A Rosangela Dias, pelo apoio e incentivo durante esta minha caminhada repleta
de desafios.
À amiga Ana Carla Campos Hidalgo de Almeida, ombro sempre presente e
telefone sempre disponível nos momentos mais distintos. Obrigada, pelo
incentivo, carinho e cumplicidade.
A Família Campos-Hidalgo, por me acolher carinhosamente, me sinto honrada por
estar com vocês em momentos tão preciosos; sentirei saudades das conversas
sobre família ao redor da mesa.
A turma do mestrado 2006: “[...] amigas eu ganhei, saudades [...] e às vezes eu
deixei vocês me verem chorar, sorrindo [...]”. Criamos vínculos com bases sólidas.
A Izabel Cavalini Gobbi, pelo auxílio no contato com as famílias.
Às idosas participantes deste estudo, espero ter sido fiel ao contar um pouco das
suas histórias.
A todos os que direta ou indiretamente, me ajudaram a estar aqui.
Dedico
A minha mãe Erotilde Silva;
Ao meu irmão João Aguiar e minha cunhada Luciana;
As pequenas sobrinhas Isabela e Gabriela Aguiar;
Ao meu pai João Aguiar (memoriam), que nunca verei
idoso, mas te imagino neste momento feliz por mim;
A minha avó Ercilia Maria (memoriam) por ser em uma só
pessoa o discurso coletivo de todas estas idosas; por me
ensinar, desde muito cedo, por meio de suas atitudes, que
Deus e a família estão acima de tudo.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, e quem sabe, só levo a
certeza de que muito pouco eu sei, que nada sei [...].
(RENATO TEIXEIRA / ALMIR SATER)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................13
2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................17
2.1 FAMÍLIA ...........................................................................................................17
2.1.1
História da família
...................................................................................17
2.1.2 Família na atualidade..............................................................................19
2.1.3 Família intergeracional...........................................................................23
2.1.4
Co-residência em família
........................................................................24
2.2 ENVELHECIMENTO/IDOSO............................................................................26
2.2.1 Políticas públicas de saúde relacionadas ao envelhecimento...................30
2.3 CUIDADO FAMILIAL........................................................................................34
3 METODOLOGIA ......................................................................................................37
3.1 TIPO DE ESTUDO ...........................................................................................37
3.2 PARTICIPANTES DO ESTUDO.......................................................................38
3.3 CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA ...........................................39
3.4 LOCAL DO ESTUDO .......................................................................................40
3.5 COLETA DE DADOS .......................................................................................41
3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA...............................................................42
3.7 DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE ANALISE DAS INFORMAÇÕES....................42
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................47
4.1 CARACTERÍSTICA DA POPULAÇÃO .............................................................47
4.2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO51
4.2.1 CONHECENDO O MOTIVO DA CO-RESIDÊNCIA..................................52
4.2.2
CONVIVÊNCIA EM FAMÍLIA
...................................................................57
4.2.3 O SENTIMENTO DA IDOSA QUANTO À FAMÍLIA .................................59
4.2.4 TRATAMENTO DISPENSADO ÀS IDOSAS POR PARTE DA FAMÍLIA.63
4.2.5
O RELACIONAMENTO ENTRE MÃE-IDOSA E FILHOS CO-
RESIDENTES..........................................................................................................65
4.2.6 RELACIONAMENTO ENTRE SOGRA-IDOSA E NORAS/GENROS.......67
4.2.7
O RELACIONAMENTO ENTRE AS IDOSAS E SEUS NETOS.
..............68
4.2.8 A FONTE DE RENDA E FORMA DE GASTÁ-LA. ...................................71
4.2.9 A IDOSA E A CHEFIA DA FAMÍLIA. .......................................................75
4.2.10 O SUSTENTO DA FAMÍLIA.....................................................................80
4.2.11 A IDOSA E A OCORRÊNCIA DE MAUSTRATOS...................................84
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................88
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................93
ANEXO..........................................................................................................................104
ANEXO A – PARECER DO COMITÊ PERMANENTE DE ÉTICA EM PESQUISA.....104
APÊNDICES..................................................................................................................105
APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO ..................105
APÊNDICE 2 - INSTRUMENTO DE PESQUISA........................................................106
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CESUMAR Centro Universitário de Maringá
CNS Conselho Nacional de Saúde
DNTs Doenças não-transmissíveis
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
ECH Expressões-chave
IADI Instrumento de Análise do Discurso I
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC Idéia central
IPDSC Instituto de Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PNI Política Nacional do Idoso
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS Unidade Básica de Saúde
WHO World Health Organization
RESUMO
AGUIAR, J. E.
A Experiência da Co-residência para Idosas em Família
Intergeracional.
2007. 106f. [Mestrado em Enfermagem] - Universidade Federal
do Paraná, Curitiba.
Orientadora: Profª. Drª., Maria de Lourdes Centa
As transformações causadas pelo envelhecimento populacional, além de
promover desenvolvimento, investimento, distribuição de renda, flexibilidade da
mão-de-obra, estimula a convivência com a família, principalmente as relações
intergeracionais, igualdade social e de gênero e das diversas formas de gestão
econômica, social e política. O Brasil vem envelhecendo de forma rápida e
intensa, apesar disso, pouco se conhece a situação dos idosos convivendo com
suas famílias, ou seja, o número e a condição dos idosos que moram com seus
filhos, genros, noras e netos. Com o objetivo de identificar a experiência dos
idosos que co-residem com filhos (genros/noras) e netos. Utilizamos o método de
pesquisa qualitativa de caráter descritivo. A população estudada foi composta por
13 idosas, residentes em Maringá-Pr, onde os idosos representam 8,9% da
população. Todos os preceitos éticos preconizados pela Resolução 196/96,
Ministério da Saúde, foram cumpridos. As entrevistas foram realizadas de junho a
agosto de 2007. Para a coleta das informações foi utilizado entrevista semi
estruturada, e os dados obtidos foram analisados utilizando-se a metodologia do
Discurso do Sujeito Coletivo. O resultado deste estudo nos mostra que as idosas
co-residem com a família em virtude de sua viuvez/solidão e de necessidades
econômicas, de moradia, emocional e de ajuda, demonstrada pelos filhos. Elas
prestam ajuda à seus filhos e netos e são o ponto de apoio da família, quando em
necessidade ou situação de risco. A convivência em família é considerada boa e
muito boa, as idosas relatam que se sentem bem e felizes como cuidadoras e
protetoras da família, que a co-residência lhes possibilitou um tipo de vida,
permeada por atividades compartilhada com os membros da família, onde elas se
sentem amadas, respeitadas, valorizadas e cuidadas. Relatam autonomia
financeira, com fonte de renda advinda de aposentadoria, benefícios
previdenciários e atividades de trabalhos informais. Utilizam sua renda para
despesas pessoais e/ou como ajuda nas despesas da família e tem consciência
do poder que exercem sobre a família. Cuidam da saúde, principalmente para
manterem-se independentes fisicamente. Chefiam e são chefiadas em seus lares
e não trocariam a convivência com seus filhos, genros, noras e netos, pela solidão
Em sua maioria elas não referem violência sica, mas algumas relatam violência
verbal. Concluímos que co-residir em família, é uma forma de cuidado mutuo, no
qual há interação, troca de experiência, ajuda e apoio entre as gerações.
Descritores: Enfermagem, idoso, relações Familiares.
ABSTRACT
AGUIAR, J. E. The experience of Co-residence Elderly Women in
Intergenerational Family. 2007. 106f. [Nursing Master Degree Paper].
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Person who orientates: Maria de Lourdes Centa.
The changes because of population aging over there to promote research,
investment, income distribute, labor flexibility, and encourage living with family ,
specially generation relationship, social and gender equality and kind of
economical, social and politic management .The Brazilian population was getting
old intense and quickly, nevertheless, little get know about the situation of elderly
who live theirs family, in other words, the number and condition of elderly who live
theirs sons, sons-in-law, daughters-in-law and grandchildren. With the goal to
identify the elderly experiences that live with their sons (sons-in-law/daughters-in-
law) and grandchildren, we use the qualitative research method of descriptive
character. The population was study was composing to 13 elderly women
residents in Maringá-Pr, where the elderly represent 8, 9% this population. All
ethical precepts established for to Resolution 196/96, Health Department, were
fulfilling. The interviews was realized July to August 2007. To collection the
information was use semi-structured interview and the piece of information to get
were analyzed through of the methodology of Collective Subject Discourse. The
results this paper was that these elderly women co-reside with theirs family
because are widow, solitary, economical, residence and emotional necessities, to
prove for sons. Also auxiliary theirs sons and grandchildren and are support point
of the family when risk situation. The live together in family is considered very well
and the elderly women relate that to feel yourself and happy with career of and
protector her family, since the co-residence possibility to her a life involved to
activities whit family members where they feel loved, respected, valued and cared.
They relate financial autonomy, with pension source of income, Social Security
benefits and informal work. Use their income to personal expense and/or with
family expense, and are aware of power about family. They take care of health to
maintain themselves physically independents. They lead and are leading in their
homes and wouldn’t change the live together with sons, sons-in-law, daughters-in-
law and grandchildren however solitude. Although didn’t reveal physical violence,
they sad about verbal violence. We concluded that co-resided in family is mutual
care form, since participate activity the everyday family with change experience,
help and support between generations.
Key-words: Enfermería, aged, family relations
RESUMEN
AGUIAR, Joana Ercilia. La Experiencia de la co-residencia para ancianas en
Familia Intergeneracional. 2007. 106f. Disertación (Master en Enfermería) –.
Universidad Federal del Paraná. Curitiba.
Orientadora: Maria de Lourdes Centa.
Las transformaciones ocasionadas por el envejecimiento poblacional además de
promover el desarrollo, inversión, distribución de renta, flexibilidad de mano de
obra, estimula la convivencia con la familia principalmente las relaciones
intergeneracionales, igualdad social y de género y en las diversas formas de
gestión económica, social y política. La población brasileña está envejeciendo de
manera rápida e intensa, a pesar de esto, poco se conoce sobre la situación de
los ancianos que co-residen con sus familias, o sea, el numero y las condiciones
de personas grandes que viven con sus hijos, yernos, nueras y nietos. Con el
objetivo de identificar la experiencia de los ancianos que conviven con sus hijos
(yernos/nueras) y nietos. Utilizamos el método de investigación cualitativa de
carácter descriptivo. La población investigada fue compuesta por 13 ancianas,
residentes en la ciudad de Maringa- PR, en donde los ancianos representando
8,9% de la población. Todos los preceptos éticos determinados por la Resolución
196/96, Ministerio de la Salud, fueran cumplidos. Las encuestas fueran realizadas
de Junio hasta Agosto de 2007. Para la colecta de las informaciones fue utilizada
entrevista semiestructurada y los datos obtenidos fueran analizados utilizándose
la metodología del Discurso del Sujeto Colectivo. El resultado de este estudio
demuestra que estas señoras mayores conviven con su familia en virtud de su
viudez/soledad y de necesidades económicas y de morada, emocional y de
ayuda, demuéstrala por los hijos. Prestan ayuda a sus hijos y nietos y son el
punto de apoyo de la familia cuando en necesidad o situación de riesgo. La
convivencia en familia es considerada muy buena y las ancianas describen que
siéntense muy bien y felices como las cuidadoras y protectoras de la familia, ya
que la convivencia posibilitó a ellas una forma de vida llena de actividades
compartidas con los miembros de la familia, en la cual siéntense amadas,
respetadas, valorizadas y cuidadas. Las ancianas relatan autonomía financiera y
tienen como fuente de renta la jubilación, beneficios de la previdencia social y
actividades de trabajos informales. Utilizan su renta para los gastos personales
y/o ayuda en los gastos de la familia, y tienen conciencia del poder que ejercen
sobre la familia. Cuidan de la salud, principalmente para que se mantengan
independientes físicamente. Lideran y son lideradas en sus hogares y no
cambiarían la convivencia con sus hijos, yernos, nueras y nietos por la soledad.
En su mayoría no relatan violencia física, todavía, con relatos de violencia verbal.
Concluimos que co-residir en familia es una manera de cuidado mutuo, en el cual
ocurre interacción, cambio de experiencias, ayuda y apoyo entre las
generaciones.
Palabras claves: Nursing, anciano, relaciones familiares.
1 INTRODUÇÃO
O Século XX marcou definitivamente a importância do estudo do
envelhecimento, fruto da tendência natural em investigar e construir novos
conhecimentos sobre o processo de envelhecer devido ao aumento do número de
idosos em todo o mundo (PAPALÉO NETTO, YUASO e KITADAI, 2005).
Na Europa e na América do Norte, o fenômeno do envelhecimento
apresentou-se de forma paulatina, teve início há quase 100 anos, entretanto, esse
não tem sido o caso do Brasil, cujo processo começou na década de 60, do
século passado, sendo marcado por uma velocidade de expansão sem
precedentes (SILVA, 2005).
Diversos fatores podem explicar a longevidade humana tais como: os
avanços da tecnologia, incluindo a produção de vacinas e medicamentos, além de
outras práticas e políticas públicas, como as políticas de saneamento básico, que
têm contribuído para o declínio dos índices de mortalidade e, também, a queda
das taxas de fecundidade, o que ocorreu a partir de 1970.
Entre 1950 e 2000, a população brasileira, que representava
aproximadamente um terço do total latino–americano, aumentou de 54 milhões
para 170 milhões. A população menor de 15 anos aumentou de 22 para perto de
50 milhões, devendo manter-se neste patamar até 2050, com pequenas
oscilações. Por outro lado, a população acima de 65 anos que em 1950 era de 1,6
milhões chegará a 42 milhões, em 2050. Portanto, enquanto a população jovem
pouco mais que duplicará, a idosa cresceem aproximadamente 26 vezes em
100 anos (MOREIRA, 2002).
No ano de 2006 o Brasil contabilizava 169.799.170 habitantes, sendo: 14
536 029 idosos, ou seja, 8,6% da população brasileira. Estes idosos são 44,9%
homens e 55, 1% mulheres, assim distribuídos quanto à faixa etária: 2,7% estão
na faixa etária de 60 a 64 anos, 2,1% de 65 a 69 anos, 1,6% de 70 a 74: e 2,1%
de 75 ou mais (IBGE, 2006). Atualmente os brasileiros apresentam expectativa de
vida de 71 anos e oito meses, sendo que na década de 40, do século passado,
mal passava de 45 anos.
14
Em 2025, o número de idosos no Brasil atingirá aproximadamente 30
milhões de pessoas, o equivalente a 15% da população, estimando-se que em
2050 atingirá 244 milhões (MOREIRA, 2002).
Estes números demonstram que a população brasileira vem envelhecendo
de forma rápida e intensa, e começa a mudar sua estrutura demográfica com o
aumento e a presença de idosos. Apesar disso, pouco se conhece sobre a sua
situação quando convivendo com suas famílias. Qual é o número de idosos que
moram com os filhos e/ou netos? Por que moram juntos? ? Qual é o nível de
relação psicossociocultural estabelecido entre eles? Quem é mais dependente o
Idoso ou sua família, ou então, quem é responsável pela família, ou outra forma
de viver em família?
Para SILVA (2005) a relação do idoso com seus familiares torna-se
importante devido a sua participação no cotidiano familiar, onde tem exercido
expressiva atividade de apoio na vida de seus descendentes.
A ampliação das famílias dos idosos ou co-residência em família pode ser
uma estratégia utilizada para beneficiar tanto as gerações mais novas como as
mais velhas. No Brasil, ela parece estar associada a melhores condições de vida,
pois oferece benefícios para os idosos e seus filhos, mas há indicações de que as
gerações mais novas são as maiores beneficiadas (CAMARANO e EL GHAOURI,
2003; WILMOTH, 2002).
A co-residência do idoso com a família traz uma nova situação: a
convivência intergeracional que acarreta envolvimento entre avós e netos,
explicada pela experiência que o papel de avó, inserido no lar, representa; pelos
cuidados que as crianças e adolescentes exigem ou pela necessidade que os
pais têm de recorrer aos seus próprios pais para cuidarem de seus filhos
enquanto eles trabalham ou realizam outra atividade (DIAS e SILVA, 2003).
A convivência entre gerações pode ser fonte de alegria, felicidade e bem-
estar para o idoso e seus familiares, mas, também, pode gerar conflitos e crises.
Isto foi observado ao exercer minhas atividades profissionais, como enfermeira
responsável por um serviço privado de assistência e internação domiciliar, na
15
cidade de São Paulo, quando me interessei pelas famílias com idosos. Chamou-
me a atenção a alteração da dinâmica familiar, com a entrada ou permanência da
terceira idade no seio das famílias, pela convivência temporária ou permanente
com seus filhos, noras, genros e netos.
Verifiquei durante as visitas aos pacientes idosos, que co-residiam com
seus descendentes, que era comum escutar reclamações sobre a interferência de
membros da família no cotidiano do idoso e vice-versa. Estas interferências iam
desde mudanças de hábitos, costumes, realização de trabalho, divisão ou troca
do foco de poder, apoio financeiro, respeito a valores e sentimentos, além de ter
de conviver com pôsteres de mulheres nuas que lhes eram muito agressivos, pois
a formação cultural do idoso não permitia esse tipo de exposição da mulher.
Atualmente, como docente da disciplina de Enfermagem na Saúde do
Adulto e do Idoso, do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro
Universitário de Maringá, tenho observado, por meio da prática assistencial, o
viver dos idosos com suas famílias. Desde o aceite para ministrar esta disciplina,
ela transformou-se em desafio, haja vista que, em minha formação acadêmica,
não me foi ofertado uma disciplina destinada ao conhecimento do idoso e,
tampouco, de suas necessidades e/ou de sua inserção na sociedade.
Baseada em minha experiência, semanalmente procuro levar para a sala
de aula os conhecimentos e a problemática causada pelas transformações que os
idosos têm vivido e a necessidade de práticas de enfermagem, específicas e de
resolutividade, destinadas a esta população. Mas a minha grande surpresa vem
dos trabalhos que fazem parte da disciplina Vivências Assistenciais, na qual os
acadêmicos realizam atividades de campo e as apresentam em sala de aula.
Durante esta atividade eles têm desvelado um universo de histórias e situações
de vida de idosos que vivem em família ou em instituições de longa permanência,
em municípios pequenos. Nesse processo os acadêmicos começam a mudar a
sua percepção do idoso, observando suas características, necessidades e formas
de viver próprias, construindo conhecimentos e práticas de Enfermagem que
melhorem as condições e qualidade de vida dos idosos.
16
A partir dessas experiências foi que me senti motivada a desenvolver este
estudo, procurando retratar a vivência dos idosos em família, visando auxiliar aos
profissionais de saúde a identificar e compreender o processo de viver dos idosos
no contexto familiar composto por 3 gerações, ou seja, idoso, filhos, genro, noras
e netos.
Para isso estabeleci a seguinte questão norteadora: Qual é a experiência
dos idosos que co-residem com seus filhos, genros, noras e netos? Objetivando
identificar a experiência dos idosos que co-residem com filhos, genros/noras e
netos.
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
Para desenvolver este estudo, busquei informações contidas na literatura
que me dessem suporte sobre família, envelhecimento, cuidados e co-residência,
sobre o que passo a discorrer.
2.1 FAMÍLIA
Estudar a co-residência do idoso com seus filhos, genros, noras e netos
nos faz ingressar no universo da realidade de muitas famílias, rever o passado,
viver o presente e pensar no futuro. Nesse processo, a família e o idoso
permeiam a temporalidade, ditando suas leis, normas, ritos, mitos, valores,
costumes, funções e necessidades, escrevendo sua história.
2.1.1 História da família
Na época da selvageria e barbárie, os seres humanos viviam em
promiscuidade sexual, os homens praticavam a poligamia e as mulheres a
poliandria. Estas relações excluíam a possibilidade de estabelecer, com certeza, a
paternidade, motivo pelo qual a filiação podia ser contada por linhagem
feminina e as mulheres gozavam de grande apreço e respeito e os filhos
podiam ser herdeiros de suas mães (BACHOFEN APUD ENGELS, 1995). Nesta
época, a autoridade da mulher parece indiscutível, apesar de que ela deveria
realizar todos os afazeres domésticos, para os quais contava apenas com a ajuda
dos velhos e das crianças (ENGELS, 1995).
Com a criação de gado, elaboração de metais, a arte de tecer e o
desenvolvimento da agricultura, houve acúmulo de riquezas, que foram
convertidas em propriedades particulares das famílias e deram ao homem uma
posição mais importante do que a da mulher. Este fato fez modificar a história em
relação à ordem da herança estabelecida; portanto, a partir daí, houve a
revolução da ordem familiar, o que resultou na abolição da filiação feminina e do
18
direito hereditário materno que foi substituído pela filiação masculina e o direito
hereditário paterno, resultando na monogamia feminina. Com isso a mulher passa
a pertencer a um homem, a filiação é contada pela linhagem masculina, e as
mulheres perdem sua posição de respeito e liberdade, passando a ser tratadas
como objetos de posse dos homens, caracterizando-se assim a família patriarcal
(BACHOFEN apud ENGELS, 1995).
Nesta época, para o homem, a mulher não passava de mãe de seus filhos
legítimos e herdeiros; era aquela que governava a casa e vigiava as escravas
(ENGELS, 1995).
No século XI a família compreendia várias gerações e múltiplas funções, a
qual representava o conjunto de moradores de uma casa, sendo uma unidade
socioeconômica, onde o pai era o chefe e detinha a autoridade (HURSTEL, 1999).
Centa e Elsen (1999) mencionam que foi no século XVIII que o público
se tornou coisa do Estado e o privado foi valorizado, ressaltando o sentido
familiar. Isto contribuiu para que a privacidade, intimidade e segredos da família
começassem a ser preservados, proporcionando maior união das relações
familiares entre seus membros. Diferenciaram-se os papéis sexuais,
estabelecendo-se a oposição entre homem (mundo público) e mulher (mundo
privado).
Com o surgimento da escola, da privacidade, a preocupação de igualdade
entre os filhos, a manutenção das crianças junto aos pais e o sentimento de
família valorizado pelas instituições, principalmente pela Igreja, no início do século
XVIII começa a delinear-se a família nuclear burguesa (SZYMANSKY, 1995,
p.24).
Em meados do século XVIII, o sentimento de infância fez com que os pais
se preocupassem mais com os filhos e tudo o que se referia à família e à criança
tornava-se assunto sério. Disseminou-se novo discurso acerca de família, criança
e maternidade, privilegiando o espaço privado, a atenção, o cuidado, a educação,
dando-se relevância à figura da mãe, principalmente a da classe burguesa
(ÁRIES, 1986).
19
No fim do século XVIII, a família nuclear passa a ter consciência dos
aspectos emocionais que a envolvem, os quais devem ser protegidos, pois o
amor materno gerou um ninho afetivo que uniu a família moderna, isolando-a em
sua domesticidade (SHORTER, 1975).
Após o movimento feminista, ocorrido no século XX, as pessoas passam a
buscar uma aliança baseada no amor e os filhos passam a ser o alvo afetivo da
família, ocupando o centro do grupo familiar (CENTA; ELSEN, 1999).
Conseqüentemente, a construção da família pode ser entendida como a
união de pessoas que decidem viver juntas por razões afetivas, assumindo
também responsabilidades que incluem o respeito e o cuidado para com o outro
(MOLINA, 2005).
O ser humano recebe, ao nascer, herança cultural e genética. A herança
cultural transmite costumes, hábitos, valores, mitos, ritos e crenças
fundamentadas no conhecimento e ações dos antepassados herdados pelos
indivíduos enquanto membros de uma família e de uma sociedade. Assim,
reproduzimos modelos que nos o passados pela família e sociedade, sendo
essa herança sóciocultural, que determina os diferentes significados que damos
para coisas, situações e ações (HELMAN, 2003).
2.1.2 Família na atualidade
O termo família origina-se do latim familiae, significando grupos de
pessoas que vivem em um ambiente comum sob a liderança de um chefe. Ela
baseia-se na vida em comum revela-se como principal unidade social, sendo de
grande significado para o desenvolvimento da sociedade (ALVES, 1997).
Atualmente existem conceitos de família, nas mais diversas áreas do
conhecimento. Neste estudo, não foi adotado um conceito único, mas foram
respeitados os modelos de família resultantes das diversas transformações que
ocorreram na sociedade.
20
Na atualidade, a família brasileira é formada por uma comunidade de amor,
apoio, compreensão e solidariedade, na qual o vínculo afetivo une o grupo
familiar, pois ele fundamenta a qualidade das relações e a interdependência,
compatibiliza os projetos de vida familiar, mantendo a individualidade de cada um
de seus membros (CENTA, 2001).
A família não é algo biológico, algo natural ou dado, mas produto de formas
históricas de organização entre os humanos. Oprimido pela necessidade material
de sobrevivência e de reprodução da espécie, o homem inventou diferentes
formas de relação com a natureza e entre si, dentre elas a organização familiar
(NARVAZ E KOLLER, 2004).
Como grupo social, a família é considerada como uma unidade complexa e
essencial para o processo de viver de todo ser humano (ALTHOFF, 2001).
A palavra família engloba diferentes e variados significados, estando
intimamente correlacionada ao local onde vivem seus membros, à cultura, à
religião e à filosofia de vida que os orientam (NITSCHKE, 1999).
Ao longo dos tempos, a família é vista como instituição que vem sendo
apontada e responsabilizada pelas mudanças sociais e morais observadas na
sociedade (SANTOS; ADORNO 2002).
Delaney apud Nitschke (1999) refere-se à família como sistema dinâmico,
constituído por duas pessoas ou mais que assim se consideram e compartilham
suas histórias de vida, alguns objetivos em comum, obrigações, laços afetivos,
assim como grande intimidade. Diante do entendimento de família, como sistema,
percebe-se que cada um de seus membros possui suas características singulares
que, interagindo, forma um todo, que é diferente e maior do que a mera soma de
seus membros.
Para Penna (1992, p. 92) família é:
Uma unidade dinâmica constituída por pessoas que convivem por
determinado espaço de tempo, estruturados e organizados para atingir
objetivos comuns e construir história de vida. Os membros da família
estão unidos por laços consangüíneos, de adoção, interesse e/ou
21
afetividade. A família tem direitos e responsabilidades; vive em
determinado ambiente em interação com outras pessoas e famílias, em
diversos níveis de aproximação definindo objetivos e promovendo meios
para o crescimento, desenvolvimento, saúde e bem-estar de seus
membros.
A família não pode ser considerada uma entidade estática, pois assim
como o contexto social, ela passa por processos de mudanças contínuas,
ocasionadas por fatores internos e externos. Deste modo, cada família busca
construir um modo de viver próprio que, mesmo sendo único, está inserto em uma
estrutura dinâmica e contínua, que é o meio que a circunda (MINUCHIN E
FISHMAN, 1990).
A família é indispensável para garantir a sobrevivência, desenvolvimento e
proteção de seus membros, independentemente do tipo de arranjo familiar ou da
forma como ela está estruturada. Proporciona suportes afetivo e material,
necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus filhos, desempenhando
papel decisivo na sua educação, transmitindo e aprofundando laços de
solidariedade e estabelecendo marcas entre as gerações (FERRARI e
KALOUSTIAN, 2004).
Ela pode, também, ser fonte de conflitos diretamente associados às etapas
de seu ciclo vital e aos relacionamentos estabelecidos pela sua vivência em
sociedade. Cerveny (1997) estudou as diferentes etapas do ciclo de vida familiar
que influenciam seu modo de viver, demonstrando a necessidade de serem
respeitadas suas especificidades e necessidades.
Diante das etapas de vida, a família apresenta estrutura e organização
flexíveis, proporcionando meios para o crescimento, desenvolvimento, saúde e
bem-estar de seus membros. Ela também atua de maneira consciente em seu
ambiente, respeitando a individualidade de seus membros e interagindo com
outras pessoas e famílias, em diversos níveis de aproximação, transformando e
sendo transformada, experienciando e escrevendo sua história (PENNA, 1992).
A família também é um sistema de saúde para seus membros que
possuem um conjunto de valores, crenças, conhecimentos e práticas que guiam
22
suas ações na promoção da saúde, na prevenção e no tratamento de doença.
(ELSEN, 2002).
Nesse contexto, para compreender a dinâmica da família faz-se necessário
compreendermos o universo em que o idoso está inserto. De acordo com Duarte
(2005) o funcionamento familiar está relacionado com a saúde da família;
entretanto, em relação às famílias com idosos, deve-se lembrar que as funções
familiares se modificam no sentido de oferecer respostas às necessidades dos
idosos.
Assim, ao trabalhar com família, deve-se levar em consideração as trocas
afetivas ocorridas em seu interior, porque, segundo Szymanski (2002), a
afetividade entre seus membros tem o poder de imprimir marcas nas pessoas que
serão carregadas ao longo de suas vida, influenciando seus comportamentos e
relacionamentos, dentro e fora da família.
A família, no período pré-moderno, moderno e pós-moderno se situa como
representação de modelos específicos pertencentes a determinados estágios da
história de sua vida, resultando em conquistas, avanços e reflexões sobre o
impacto de tais transformações sobre o cotidiano da vida das pessoas.
Atualmente, as mulheres saem de casa, integrando-se ao mercado de
trabalho, a educação dos filhos é partilhada com as escolas; e os idosos deixam
de contar com o apoio direto dos familiares, sendo entregues aos cuidados de
instituições de assistência (MOREIRA, 2002). Isto faz com que as famílias tenham
de se adaptar à realidade vivida, para atender às necessidades sentidas pelos
seus membros, gerando transformações no seio familiar, adaptações e
readaptações em seu modo de viver. Nesse processo de readaptação
encontramos o idoso e seus filhos, genros, noras e netos vivendo sob o mesmo
teto.
23
2.1.3 Família intergeracional
As transformações causadas pelo envelhecimento populacional além de
promover desenvolvimento, investimento, distribuição de renda, flexibilidade da
mão-de-obra, estimula a convivência com a família, principalmente as relações
intergeracionais, igualdade social e de gênero e as diversas formas de gestão
econômica, social e política (BRASIL, 2002b).
Estamos numa época em que a viabilização para o movimento de
aceitação e da compreensão do processo de envelhecer é imprescindível;
portanto, faz-se necessário, refletir sobre a inter-relação indivíduo, família,
sociedade e mundo, dando enfoque especial às transformações que estão
ocorrendo. Nesse processo, é importante a interação das gerações (BRUM E
SOUZA, 2002).
Os apoios intergeracionais, via arranjos familiares, têm importância
crescente como estratégia de sobrevivência, embora sob formas diferenciadas,
sendo a co-residência uma delas, onde se reconhece que variações na renda dos
pais e dos filhos desempenham papel importante (CAMARANO, 2002).
A convivência entre gerações assegura a transmissão cultural, desenvolve
diversas trocas e, geralmente, contribui para assegurar a reprodução social; o
universo familiar se reforça em diversas fases da vida de cada um dos membros
da família (SEGALEN, 1999).
Os estudos sobre idosos e suas famílias são recentes e têm aumentado
devido à transição demográfica facilitada pela redução da taxa de natalidade e de
mortalidade infantil, melhoria da qualidade de atenção à saúde, alimentação,
habitação, saneamento básico e educação (KALACHE, 1987).
Portanto é necessário estabelecer diálogo entre os idosos e sua rede de
relações, principalmente, entre eles e a suas famílias. Para Zimerman (2000) a
chave para estabelecer mudanças de atitude está na sensibilização da família
para com o idoso, principalmente em relação ao respeito, comunicação e afeto.
24
Os arranjos intergeracionais familiares têm sido importantes como
estratégias de sobrevivência tanto para os idosos como para suas famílias,
embora sob formas diferenciadas. Uma das estratégias utilizadas tem sido a co-
residência, onde se reconhece que as variações na renda dos pais e dos filhos
desempenham papel importante (CAMARANO et al, 2004).
2.1.4
Co-residência em família
Biasoli-Alves et al (2006) afirmam que boa parte das famílias está
mudando, tentando arranjos em que as relações sejam aprimoradas, mas,
pergunta até que ponto essas alterações estão trazendo novos modelos ou
renovando os antigos.
Os modos de convivência em família podem ser variados, alterando-se em
função dos acontecimentos familiares e das mudanças que afetam os indivíduos
ao longo da vida, por razões diferentes, desde a falta de recursos econômicos até
a necessidade de cuidar de um idoso dependente. Nesse processo, as famílias
vivem em configurações domésticas mais complexas, entre elas, a co-residência
entre familiares (WILMOTH, 2002).
A co-residência não se limita a contemplar os indivíduos que de fato
dormem sob o mesmo teto, mas inclui também as pessoas temporariamente
ausentes, que continuam ligadas a uma determinada casa, identificando-a como a
sua casa. Não se incluem os filhos casados em situação idêntica, pois eles
próprios já constituíram um grupo doméstico autônomo e o seu contato com a
casa natal é meramente circunstancial (AFONSO, 1997).
Os grupos co-residentes são configurações instáveis, de contornos
variados, que se fazem e desfazem em função dos acontecimentos individuais e
familiares, carências econômicas, por fatores associados a cuidados prestados a
dependentes ou doentes e, também, sob o efeito de mudanças sociais e
movimentos da população que afetam a dispersão geográfica e a situação
econômica dos membros da família (WALL, 2004).
25
A necessidade econômica de co-residência, mesmo sem necessidade de
condições de cuidado ao idoso ou relação satisfatória de afetividade entre os
familiares, é apontada pelo relatório da ONU como um fenômeno regional:
Dado que la gran mayoría de los hogares multigeneracionales de
América Latina y el Caribe se ubica en los estratos socioeconómicos
bajos, es probable que muchas modalidades de coresidencia no sean
una consecuencia del afecto familiar sino de una necesidad económica.
Los escasos estudios existentes señalan que, a raíz de las iniquidades
sociales imperantes en la región, la mayoría de las personas de edad
que residen en hogares multigeneracionales viven en situación de
pobreza (ONU, 1997, p. 21)
Uma informação importante a ser partilhada é que a existência de co-
residência com familiares não pode ser necessariamente vista como garantia de
uma velhice bem-sucedida, nem o fato de morarem juntos como um sinal de
relações mais amistosas entre idosos e seus filhos (DEBERT, 1999). A vivência
dos idosos com os filhos não é garantia da presença de respeito e prestigio, nem
da ausência de maus tratos. No entanto as denúncias de violência física contra
idosos aparecem nos casos em que diferentes gerações convivem na mesma
unidade doméstica (SAAD, 2003).
O aumento da expectativa de vida e as transformações sociais e familiares
fazem com que membros da família, pertencentes a diversas gerações, convivam
sob o mesmo teto. Isto ocorre devido, por um lado, a que os filhos permanecem
na casa dos pais durante muitos anos, até terminarem seus estudos e
conseguirem uma situação profissional que lhes permita sair de casa e,
possivelmente, construir sua própria família, por outro, muitas vezes, os filhos
retornam à família de origem com mulher, um ou dois filhos (PETRINI, 2005).
Existem, também, os idosos que, por um motivo ou outro, moram com seus filhos,
genros, noras e netos, compondo uma família intergeracional.
Os benefícios da co-residência estão relacionados à companhia e ao
suporte emocional, além da satisfação das necessidades financeiras e de
cuidados físicos, tanto dos pais como dos filhos. Também, ajudam a economizar
os custos de sobrevivência, pois pais e filhos podem economizar dinheiro vivendo
juntos. Nesse sentido, as economias geradas pela co-residência podem servir
26
como incentivo a mais para o estabelecimento deste tipo de arranjo familiar
(FERREIRA, 2001).
Os arranjos domiciliares multigeracionais, além de serem extremamente
prevalentes, associam-se significativamente com um nível socioeconômico baixo,
geralmente afetando mulheres viúvas. Mais do que uma opção sociocultural, tais
arranjos mostraram-se uma forma de sobrevivência (RAMOS, 2003).
Diversos estudos realizados nos mostram que a co-residência
intergeracional, geralmente ocorre para atender às necessidades tanto dos idosos
como de seus descendentes, sendo uma de suas principais justificativas a
necessidade de cuidado exigida pelo idoso.
2.2 ENVELHECIMENTO/IDOSO
O envelhecimento tem dimensão existencial, modifica o relacionamento do
indivíduo com o tempo e, em conseqüência, o seu relacionamento com o mundo e
com sua própria história (BEAUVOIS, 1990).
O envelhecimento é processo complexo, pluridimensional, revestido por
aquisições individuais e coletivas, fenômenos inseparáveis e simultâneos, visto
que, por mais que o ato de envelhecer seja individual, o ser humano vive em
coletividade e, como tal, sofre as influências da sociedade (BRÊTAS, 2003).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são considerados
idosos os indivíduos com 65 anos ou mais. Em países em desenvolvimento,
porém, devido à baixa expectativa de vida, o limite de idade é de 60 anos. No
Brasil, são considerados idosos as pessoas com 60 anos de idade ou mais
(BRASIL, 1994).
Para Groisman (2002) o critério cronológico, comumente utilizado para a
definição do envelhecimento é apontado como falho e arbitrário, isso porque o
envelhecimento é vivenciado de forma heterogênea pela população, pois pessoas
da mesma idade cronológica podem estar em estágios completamente distintos
27
de envelhecimento. Além disso, o próprio organismo de um indivíduo envelhece
de maneira diferente, se considerar seus tecidos, ossos, órgãos, nervos e células.
Os enormes esforços para medir exatamente o grau de envelhecimento de
uma pessoa parecem derivar de outra dificuldade da gerontologia: o desafio de
estabelecer as fronteiras entre a saúde e a doença na velhice. Para Canguilhem
(1982), a nossa sociedade tende confundir saúde com juventude. No caso da
velhice, indícios de que vivemos uma grande contradição, pois ela parece ter
sido concebida como uma espécie de doença, porque é medida justamente pelo
grau de degeneração que causou ao organismo.
Outro aspecto que não pode ser negligenciado é que o envelhecimento é
vivenciado de maneira diferente pelo homem e pela mulher. As mulheres são
beneficiadas por menores níveis de mortalidade, visto que, apesar da razão de
gênero ao nascer ser favorável aos homens, elas passam a ser mais numerosas
do que estes a partir dos 20 anos aproximadamente. Os efeitos cumulativos da
maior mortalidade masculina são mais intensos, justificando a crescente
feminização do envelhecimento no Brasil (MOREIRA, 2002).
Na perspectiva antropológica, o envelhecimento é encarado como
fenômeno universal que gera problemas comuns, mas que podem ser vividos e
resolvidos de modo diferente pelas culturas (MEYERHOFF apud UCHOA, 2003).
Neste contexto, representações e práticas em relação ao indivíduo que envelhece
devem ser compreendidas como elementos do universo de regras sociais e
símbolos culturais que as guiam e validam.
O envelhecimento é, também, cercado por determinantes sociais, que
tornam as concepções sobre velhice variáveis de indivíduo para indivíduo, de
cultura para cultura, de época para época. Fica evidente a impossibilidade de
pensarmos sobre o que significa ser idoso, fora de um contexto histórico
determinado (SECCO, 1999).
Quando falamos sobre envelhecimento e família, adentramos em reflexões
que nos remetem a ambigüidades, paradoxos e contradições, quer seja pela
diversidade de conceitos e definições que cercam o tema, quer seja pela ênfase
28
no aspecto do humano, seja ele físico, psicológico, existencial ou social. Sob esta
perspectiva o sociólogo Giddens (2005) escreve que o envelhecimento cria muitas
oportunidades para as pessoas se libertarem das preocupações do trabalho; no
entanto, isso gera problemas sociais, econômicos e psicológicos para os
indivíduos e com freqüência para os grupos familiares.
É preciso haver uma mudança de valores, sobretudo no que tange à
imagem negativa de fragilidade e dependência que a sociedade propaga dos
idosos, porque grande parte deles tem necessidade de serem incluídos nas
decisões a respeito da sociedade e de sua vida diária, pois não desejam ser
considerados objetos de cuidado (SILVA, 2005).
A idéia de que todas as pessoas acima de 60 anos são dependentes é
falsa, pois várias pessoas continuam a trabalhar no mercado de trabalho formal
durante a terceira idade ou escolheriam fazê-lo se tivessem oportunidade. Muitos
outros continuam a contribuir para a economia através de trabalho informal ou
atividades de voluntariado, bem como realizando atividades de apoio e ajuda às
gerações mais novas: por exemplo, pessoas idosas que cuidam de seus netos
permitindo que adultos jovens participem do mercado de trabalho (BRASIL,
2002d). Para CAMARANO e EL GHAOURI (1999) nas famílias chefiadas por
idosos, encontram-se um número expressivo de filhos adultos e crianças
residindo no mesmo domicílio, apontando que os fluxos intergeracionais fluem
dos mais velhos para os mais jovens.
Outro fator que pode influenciar o viver em família é a cultura, definida
como sendo um universo de significados que permite aos indivíduos de um grupo
interpretar sua experiência e guiar suas ações. Ela é o contexto que torna
inteligível os diversos acontecimentos e situações de vida, como por exemplo, as
limitações e perdas que ocorrem com a idade (GEERTZ, 1989).
As culturas variam substancialmente em relação ao status que se atribui
aos idosos. Diferentemente das sociedades ocidentais industrializadas, onde a
perda da capacidade produtiva, pelo acúmulo de idade e a aposentadoria,
29
significam uma queda marcante no status social, o respeito ao idoso é geralmente
muito maior em sociedades tradicionais rurais (HELMAN, 2003).
A corrente interpretativa da antropologia nos remete a uma cultura que
determina as regras que regem as relações conjugais, dita normas e modelos de
comportamento e estabelece que o cuidado ao idoso dependente seja uma
obrigação natural da mulher (GIACOMIN; UCHOA, & LIMA-COSTA, 2005).
Atualmente, o papel da mulher, dentro e fora da família, passa por
transformações individuais e sociais que dissipam esta obrigatoriedade, que
suas obrigações fora do lar tornam mais frágeis os laços parentais, diminuindo a
responsabilidade e o sentimento de reciprocidade para com os mais idosos
(NÉRI, 1995). Reforçando este pensamento, Ramos (2003) afirma que a
disponibilidade de suporte familiar para o idoso dependente decai em face da
diminuição do tamanho da família, o aumento do número de pessoas atingindo
idades avançadas e a crescente incorporação da mulher, principal cuidadora, à
força de trabalho fora do domicílio.
A co-residência em família associa duas questões importantes: a primeira
refere-se à mulher idosa manter-se em atividade de trabalho, deter benefícios
previdenciários e estabilidade financeira, o que a faz ponto de apoio às gerações
descendentes; o outro é a saída de um número maior de pessoas da casa para o
trabalho; o idoso passa a ser o cuidador das gerações mais jovens para que os
demais possam trabalhar.
Em virtude do crescente número de idosos houve, por parte do Estado,
uma preocupação com sua qualidade de vida, o que fez com que fossem
elaborados e implementados programas públicos de promoção ao
envelhecimento ativo. A incorporação de políticas de integração social para a
população idosa é relativamente nova e tem como objetivo fazer com que a última
etapa da vida seja desfrutada em condições de estabilidade econômica e pessoal,
através de ativa participação do idoso na vida familiar e social, a qual deve estar
atrelada a uma boa condição de saúde.
30
2.2.1 Políticas públicas de saúde relacionadas ao envelhecimento
Os programas sociais direcionados ao enfrentamento do processo de
envelhecimento das populações dos países desenvolvidos começaram a ganhar
expressão na década de 1970. Tinham por objetivo a manutenção do papel social
dos idosos e/ou a sua re-inserção na sociedade, bem como a prevenção da perda
de sua autonomia (CAMARANO e PASIONATO, 2004).
A I Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento ocorrida em Viena, em
1982 é considerado marco inicial para o estabelecimento de políticas públicas
para a população idosa. Foi o primeiro fórum internacional com enfoque na
questão do envelhecimento populacional e que resultou na aprovação de um
plano global de ação. Representou um evento de referência; haja vista que o
tema envelhecimento não era foco de atenção dos poderes públicos
internacionais nem mesmo no Brasil.
A ONU adotou os princípios em favor dos idosos, Resolução 46/91 de
16/12/1991, estimulando os governos a incorporá-los na medida do possível. São
destacados os seguintes aspectos: independência, participação, cuidado, auto-
realização e dignidade. Os idosos devem desfrutar dos cuidados e da proteção
da família e da comunidade, de conformidade com os valores culturais de cada
sociedade (ONU, 2001).
A OMS argumenta que os países devem custear o envelhecimento se os
governos, as organizações internacionais e a sociedade civil implementarem
políticas e programas de “envelhecimento ativo” que melhorem a saúde, a
participação e a segurança dos cidadãos mais velhos (WHO, 2005).
A democratização e o universalismo das políticas sociais afirmados na
Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988) inscrevem-se no movimento de
reforma do Estado e da reorganização da rede de proteção social. Oficializou-se,
dessa forma, a tentativa de atender algumas demandas da sociedade em geral (e
da população idosa em particular), na busca da afirmação de seus direitos sociais
e da ampliação de sua participação na sociedade. As políticas públicas
31
caminharam para reformas no sentido de melhor aproveitamento e locação dos
recursos públicos para o financiamento das atividades sociais.
Tentando melhorar as condições de vida dos idosos e buscando assegurar
seus direitos na sociedade, a Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988),
introduziu, em suas disposições, o conceito de Seguridade Social, fazendo com
que a rede de proteção social passasse do enfoque assistencialista e tivesse uma
visão de cidadania.
A partir da Lei Orgânica da Assistência Social nº. 8.742, de dezembro de
1993, foram regulamentados os princípios constitucionais referentes à assistência
social. Nesta lei ficaram estabelecidos programas e projetos de atenção ao idoso,
em co-responsabilidade nas três esferas de governo, e regulamentou-se a
concessão do benefício de prestação continuada de assistência às pessoas
maiores de 70 anos de idade pertencentes a famílias com renda mensal per
capita inferior a 1/4 do salário mínimo. Em 1998, a idade mínima para o
recebimento do benefício foi reduzida para 67 anos e em 2004 para 65 anos
(BRASIL, 1993).
Em 1994 é instituída pela Lei 8842/94 a Política Nacional do Idoso (PNI)
tendo como objetivo:
[...] a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a
melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção
de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação
daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de
modo a garantir-lhes permanência no meio em que vivem exercendo de
forma independente suas funções na sociedade (BRASIL, 1994.p.21).
Em seu artigo 1º destaca-se a necessidade de assegurar os direitos sociais
do idoso e, o seu artigo 3º, apresenta seus princípios: “I - a família, a sociedade, o
Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania,
garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-
estar e direito a vida [...]” (BRASIL, 1994). Enfatiza, também, a obrigação da
família, da sociedade e do poder público em assegurar o direito à saúde,
alimentação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, dignidade,
respeito e convivência familiar.
32
A PNI assegura direitos e estabelece princípios e mecanismos de
coordenação entre a União, os Estados e os Municípios na execução de
programas e projetos que têm como alvo a terceira idade. Esta política rege-se
por cinco princípios: (1) a família, a sociedade e o Estado têm o dever de
assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania, garantindo sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade, seu bem-estar e seu direito à vida; (2) o
processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral e deve ser objeto
de conhecimento e informação para todos; (3) o idoso não deve sofrer
discriminação de qualquer natureza; (4) o idoso é o destinatário e o principal
agente das mudanças sociais propostas pela Política; e (5) diferenças
econômicas, sociais e regionais, bem como contradições entre o meio rural e
urbano, serão levadas em conta na execução das transformações que a Política
propõe (BRASIL, 1994).
Em abril de 2002 ocorreu a II Assembléia Mundial, em Madrid, onde foram
aprovados uma nova declaração política e um novo plano de ação que servirá de
orientação à adoção de medidas normativas sobre o envelhecimento no início do
século XXI. Espera-se que o plano de ação exerça influência nas políticas e
programas dirigidos à população idosa em todo o mundo, especialmente nos
países em desenvolvimento (CAMARANO e PASINATO, 2004).
O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades
para a saúde, a participação e a segurança, com o objetivo de melhorar
a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. O
envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos
populacionais. Ele permite que as pessoas percebam o seu potencial
para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e
permite que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas
necessidades, desejos e capacidade, protegendo-as e providenciando
segurança e cuidados quando necessários (WHO, 2005. p.13).
A compreensão das evidências que temos sobre os fatores que envolvem o
envelhecimento irá auxiliar a elaborar políticas e programas que obtenham êxito
nessa área. O envelhecimento ativo depende de uma diversidade de fatores
determinantes que envolvem indivíduos, famílias e países: (1) Cultura e gênero:
os valores culturais e as tradições determinam como uma sociedade encara as
pessoas idosas e o processo de envelhecimento, influenciam na busca por
comportamentos mais saudáveis, fazendo com que as políticas públicas busquem
33
promover o bem-estar de homens e mulheres. (2) Sistemas de saúde e serviço
social: devem visar à promoção da saúde, prevenção de doenças, acesso
eqüitativo ao cuidado primário de longo prazo e a qualidade de vida dos usuários.
Nesse processo, os serviços sociais e de saúde devem ser integrados e eficazes,
tratando as pessoas com dignidade e respeito. (3) Comportamentais: devem
proporcionar a adoção de estilos de vida saudável, participação ativa no auto-
cuidado, atividade físicas adequadas, alimentação saudável, abstinência do fumo
e do álcool e fazer uso adequado de medicamentos. (4) Relacionados a aspectos
pessoais: a trajetória de saúde e doença é o resultado de uma combinação
genética, ambiental e de estilo de vida do indivíduo. (5) Relacionados ao ambiente
físico: este pode representar a diferença entre a independência e a dependência,
especialmente para os idosos. (6) Relacionados ao ambiente social: deve enfocar
a proteção contra a violência e maus-tratos, estimulando a saúde, a participação
social e a segurança dos idosos, pois o apoio social inadequado está associado
ao aumento da mortalidade, morbidade, problemas psicológicos, diminuição na
saúde e bem-estar em geral. (7) Fatores econômicos: refere-se à renda, ao
trabalho e à proteção social do idoso (WHO, 2005)
A partir da II Assembléia Mundial, em 2002, o Brasil criou o Estatuto do
Idoso, que regulamenta os direitos da pessoa idosa, implantou o Plano de
Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa e deu caráter deliberativo ao
Conselho Nacional do Idoso, que até 2004 tinha caráter apenas consultivo.
No ano de 2003 foi promulgado o Estatuto do Idoso, Lei nº. 10.741, que
reafirma os mesmos princípios da PNI e acrescenta outras cinco prioridades para
o atendimento ao idoso: (1) políticas e programas de assistência social, em
caráter supletivo, para os que delas necessitem; (2) serviços especiais de
prevenção e atendimento a vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,
abuso, crueldade e opressão; (3) serviço de identificação e localização de
parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de
longa permanência; (4) proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
direitos dos idosos; e (5) mobilização da opinião pública que vise ampliar a
participação social no atendimento do idoso (BRASIL, 2003).
34
As políticas públicas com vistas à integração social dos idosos também
podem ser entendidas como parte de um programa de promoção de
envelhecimento saudável e ativo como preconizado pelos Planos de Ação para o
Envelhecimento, de Viena e Madri.
Posteriormente, o Projeto de Atenção ao Idoso denominado
envelhecimento ativo, foi desenvolvido pelo Programa de Envelhecimento e Curso
de Vida da OMS como contribuição para a II Assembléia Mundial das Nações
Unidas sobre Envelhecimento. Este termo Envelhecimento Ativo foi adotado pela
OMS para designar o envelhecimento como experiência positiva.
Para que as políticas voltadas para o envelhecimento populacional possam
ser efetivas é necessária uma abordagem integrada em seus diversos setores
específicos: saúde, economia, mercado de trabalho, seguridade social e
educação (CAMARANO e PASINATO, 2004).
A promoção da independência do idoso requer políticas públicas que
garantam sua autonomia física e financeira, ou seja, o acesso aos direitos
básicos, como: alimentação, moradia, saúde, trabalho e educação. Isso requer a
criação de um ambiente propício para que possam compartilhar seus
conhecimentos e habilidades com gerações mais jovens. Os cuidados referem-se
à necessidade dos idosos de usufruir todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais, através do cuidado familiar ou institucional (op cit, 2004).
2.3 CUIDADO FAMILIAL
O cuidado existencial é importante componente do cuidado e ocorre
quando aquele que cuida compreende o mundo subjetivo, vivencia a união com
este e expressa-a, de tal forma que a singularidade de cada um emerge, surgindo
a dimensão da intersubjetividade, de onde é possível respeitar a liberdade de ser
de cada um. Portanto, o cuidado existencial entre duas pessoas transcende o
tempo, o espaço e o cotidiano (CALDAS, 2000).
35
É no espaço da família onde se definem os padrões de atendimento a
seus membros. O montante de recursos que a família dispõe para suprir
suas necessidades não depende apenas da flutuação das oportunidades
do mercado de trabalho, mas, também, de cada momento específico do
ciclo de vida familiar, que determinam quais dos seus membros serão
liberados para o mercado de trabalho e quais serão encarregados dos
cuidados com os demais membros (CAMARANO, 2002, p.8).
O termo cuidado familial foi criado por Elsen (1984) pioneira nos anos 80,
do século XX, em pesquisar e refletir sobre a temática da família, pois ela estava
interessada nas possíveis relações entre o cuidado e a vida do grupo familiar.
Para esta autora, o cuidado familial:
Concretiza-se nas ações e interações presentes na vida de cada grupo
familiar e se direciona a cada um dos seus membros, individualmente ou
ao grupo como um todo ou em parte, objetivando fortalecer seu
crescimento, desenvolvimento, saúde e bem-estar, realização pessoal,
inserção e contribuição social, pode ser reconhecido através de
inúmeros atributos, entre os quais se destacam: a presença, proteção,
inclusão, orientação e a formação (ELSEN, 2002).
O cuidar vai além do atendimento às necessidades básicas do ser humano.
É o compromisso com o cuidado existencial que envolve o autocuidado, a auto-
estima, a autovalorização, a cidadania do outro e da pessoa que cuida. É
necessário ao enfermeiro conhecer o ambiente familiar para compreender suas
crenças, seus saberes sobre saúde e doença, e as suas necessidades de
cuidado, pois cuidar de família é possível em qualquer ambiente (OLIVEIRA e
MARCON, 2007).
Nesse processo, os idosos deverão sentir-se insertos e participantes do
contexto familiar e social, onde poderão exercer sua cidadania com liberdade,
autoridade e responsabilidade. Eles não devem sentir-se como inúteis,
dependentes, estorvo, visto que, apesar das características próprias da idade,
muitas vezes, eles são capazes de continuar produzindo, cuidando e apoiando
sua família e rede de relações.
A Enfermagem tem importante participação na construção desta estrutura
de apoio ao idoso; o conhecimento de sua realidade é o primeiro passo para o
cuidado eficaz e de resolutividade (SILVA, 2004).
36
Para que os enfermeiros desenvolvam, de forma eficaz e resolutiva, os
cuidados ao idoso, alguns requisitos devem ser considerados, tais como:
manutenção do bem-estar e da vida autônoma do idoso no ambiente familiar e
comunitário; centrar suas ações no idoso, focando suas necessidades, e não sua
doença; interagir com o idoso e sua família; desvelar as suas reais necessidades
e potenciais para poder implementar ações de prevenção, promoção e proteção
de sua saúde.
É vendo o idoso como ser humano inserido na família e sociedade,
atendendo suas reais necessidades e expectativas, proporcionando-lhes
qualidade de vida e cidadania que a Enfermagem pode participar das ações para
a realização do envelhecimento ativo, recomendado pela ONU.
37
3 METODOLOGIA
Neste capítulo, apresento o percurso metodológico empreendido na
pesquisa. Descrevo o tipo de estudo, o cenário, os informantes, o método de
coleta e análise dos dados e os preceitos éticos utilizados.
3.1 TIPO DE ESTUDO
Este estudo foi desenvolvido utilizando o método de pesquisa qualitativa
descritiva. A importância da abordagem qualitativa acontece por uma
aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto. Por serem da
mesma natureza ela se envolve com os motivos, as intenções, os projetos dos
atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações entre pesquisador
e pesquisados, tornam-se construções humanas significativas (MINAYO e
SANCHES, 1993).
A pesquisa qualitativa contribui para a compreensão holística do ser
humano, oferece oportunidade de discussão profunda de temas, permite explorar
melhor alguns problemas da assistência de Enfermagem, levando o enfermeiro a
refletir mais e contribui para o desenvolvimento da Enfermagem como ciência e
profissão (GUALDA et al., 1995).
A pesquisa qualitativa o se baseia em critérios numéricos para garantir
sua representatividade; a quantidade de entrevistas é considerada adequada
quando abrange a totalidade do problema investigado em múltiplas dimensões.
MINAYO (2004).
Para Grey (2001 p. 125):
A pesquisa qualitativa é particularmente adequada ao estudo da
experiência humana sobre saúde, uma preocupação fundamental na
ciência da Enfermagem. Os seus métodos têm relevância para a prática
de Enfermagem por se basearem em resultados que revelam processos
de vida, aumentando sua compreensão e fornecendo base para o
planejamento e implementação de ações de Enfermagem que melhorem
a qualidade de vida dos sujeitos.
38
A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação
dinâmica ente o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito
e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade. O
conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma
teoria explicativa (CHIZZOTI, 1995, p. 79).
A pesquisa qualitativa supõe explorar opiniões e diferentes representações
sobre um determinado tema. A entrevista é instrumento indispensável para
apreensão e compreensão do mundo e vida do entrevistado, fornecendo dados
básicos para o desenvolvimento e compreensão das relações entre os atores
sociais e sua situação; visa compreender crenças, valores e motivações para o
comportamento das pessoas em contextos sociais específicos (GASKELL, 2002).
Flick (2004) afirma a importância do papel do pesquisador dizendo que
suas competências comunicativas constituem o instrumento principal de coleta de
dados e de cognição e que em função disso, sua neutralidade no campo deve ser
vista como um processo de negociação entre pesquisador e pesquisados.
O estudo descritivo objetiva descrever com exatidão os fatos e fenômenos
de determinada realidade, sem nela interferir para modificá-la (Triviños apud
VANZIN e NERY, 1999). Eis o motivo pelo qual optei em utilizá-la neste estudo.
3.2 PARTICIPANTES DO ESTUDO
Para selecionar os informantes, participantes deste estudo, entrei em
contato com as enfermeiras da Unidade Básica de Saúde (UBS), para que elas
apontassem idosos que se enquadrassem nos critérios de inclusão: ser idoso; co-
residir no mesmo espaço sico com filhos, genros/noras e netos (três gerações);
aceitar participar do estudo; consentir na gravação das entrevistas; possuir
capacidade física e cognitiva para responder aos questionamentos relativos ao
estudo.
39
Apenas cinco idosas, usuárias deste serviço, enquadravam-se nos critérios
de inclusão propostos pela pesquisa: todas foram entrevistadas em suas
respectivas residências. Entretanto, houve necessidade de localizarmos mais
idosas para participarem do estudo, fato este que ocorreu a partir de indicação
das idosas anteriormente entrevistadas, totalizando 13 idosas.
O motivo pelo qual este estudo foi realizado somente com idosas deve-se
ao fato de que na UBS selecionada não ter sido encontrados idosos que co-
residissem com filhos, genros, noras e netos.
A amostra deste estudo não foi representada em termos numéricos; ela foi
composta à medida que as informações se repetiram no discurso das
participantes. Na 13ª entrevista a coleta de informação foi finalizada, por
entendermos que os dados se repetiam, ou seja, por invariância do fenômeno.
Para este estudo, foi utilizada a definição de idoso citada na Lei nº.
8842/94, Art. 2º, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, “considera-se
idoso, a pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos” (BRASIL, 1994, p.
12).
3.3 CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA
A entrevista semi-estruturada possibilita superar a limitação implícita na
compreensão dos campos de dados objetivos existentes, como normas, leis,
decretos, número de servidores e disposição de cronogramas. A questão aberta
representa o pensamento dos indivíduos, uma vez que é um procedimento de
pesquisa que proporciona maiores possibilidades de o indivíduo se expressar em
um discurso (LEFÉVRE e LEFÈVRE, 2005).
“Todo roteiro precisa ser previamente testado em sujeitos semelhantes ou
equivalentes aos pesquisados, com a finalidade de verificar se as perguntas
elaboradas realmente levantarão os dados propostos” (LEFÉVRE e LEFÉVRE,
2005, p. 43).
40
Para validar o instrumento (APÊNDICE 2), que seria utilizado neste estudo,
foi realizado teste-piloto com a finalidade de testar a adequação das questões aos
objetivos propostos pelo estudo e à técnica utilizada pelo entrevistador, para
possíveis mudanças.
Dele participaram duas idosas, selecionadas na UBS da cidade de
Maringá, visitadas em suas residências, quando foi explicado o que seria feito e
solicitado sua participação.
As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas com o intuito
de verificar a confiabilidade do instrumento a ser utilizado na coleta de dados.
Foi possível verificar que o instrumento e a técnica estavam de acordo com
o que havíamos idealizado. A partir dessa análise, foi definido que o roteiro de
entrevista permaneceria sem alterações, composto por informações relativas à
identificação dos sujeitos e 11 perguntas semi-estruturadas sobre a experiência
do idoso que co-reside com sua família, ou seja, com seus filhos, genros, noras e
netos.
3.4 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido em Maringá, cidade ao norte do Estado do
Paraná, com população de 324.397 habitantes, que possui 28.872 idosos, ou
seja, 8,9% da população maringaense é idosa. Desta, 45,51% são do gênero
masculino e 54,49% do feminino: sua faixa etária corresponde a: 2,9 % de 60 a 64
anos, 2,2% de 65 a 69 anos; 1,7 %; de 70 a 74 anos; 2,1 % de 75 anos ou mais
(MARINGÁ, 2006).
Nesta cidade, a Secretaria Municipal da Assistência Social e Cidadania é
responsável por coordenar e executar as políticas de proteção e defesa dos
direitos do idoso. Para garantir a efetividade, resolutividade e qualidade destas
políticas, ela utiliza serviços, programas e projetos que assistem/cuidam
aproximadamente 2.200 idosos residentes no Município. O atendimento é
41
classificado em dois tipos: Política de Proteção Social Básica e Política de
Proteção Social Especial. A primeira compreende 29 grupos da terceira idade
governamentais e não-governamentais, dois Centros de Convivência para o Idoso
(Eliseu Guarani e Parque das Palmeiras), dois Centros Dia (um governamental e
outro não governamental) e associações (Imares, Amave e Clube do Vovô). A
Política de Proteção Social Especial conta com a Casa Lar do Idoso de Maringá e
com o Condomínio Morada do Sol, além de outras quatro entidades de abrigo não
governamentais: Imares, Asilo São Vicente de Paula, Lar dos Velhinhos e
Wajunkai (MARINGÁ, 2006).
3.5 COLETA DE DADOS
As entrevistas foram realizadas nos meses de junho a agosto de 2007.
Para isso, mantive contato telefônico prévio à visita na residência das idosas, com
o intuito de agendar a data e horário mais favorável às idosas.
As entrevistas foram realizadas na residência das idosas. Para Mazza
(2002) a riqueza dos depoimentos é possível de ser alcançada por meio de visitas
domiciliares, no ambiente natural, ou seja no domicilio dos informantes, onde as
representação e os significados emergem de uma forma intensa e permeada de
sentimentos .
As entrevistas foram iniciadas por meio de conversas informais,
descontraídas, sobre assuntos, principalmente, relacionados ao cotidiano familiar,
mostrando o meu interesse em conhecer um pouco de sua família para
posteriormente dedicar-me em identificar a sua experiência de co-residir com
filhos, genros, noras e netos. Todas as entrevistas foram gravadas e tiveram a
duração média de 40 minutos.
A realização das entrevistas ocorreu em clima harmonioso e afável,
ocorrendo por muitas vezes momentos de emoção por parte da participante e da
pesquisadora, graças ao estabelecimento de uma relação de interação e
confiança.
42
A entrevista não representa uma conversa neutra, considerando que se
constitui em meio de coleta dos fatos relatados pelos atores sociais, enquanto
participantes de uma pesquisa, os quais vivenciaram uma determinada realidade
que está sendo enfocada (CRUZ NETO, 2003).
3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Este projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê
Permanente de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos do Centro
Universitário de Maringá CESUMAR e aprovado sob Processo nº. 039/2007, em
reunião realizada em 18/04/2007 (Anexo A).
Atendeu às determinações da Resolução nº. 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), que estabelece as Diretrizes e Normas Reguladoras
de Pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 2002a)
Antes da entrevista as participantes foram informadas do objetivo do
estudo, das técnicas de como ele seria realizado, do destino dos dados, e dos
aspectos éticos relacionados ao anonimato, liberdade para participar e retirar-se
do estudo conforme sua vontade, em qualquer momento, sem precisar justificar
sua decisão e sem ônus, conforme recomenda a Resolução 196/96 do Ministério
da Saúde. Após serem dadas todas as informações, foi solicitado a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, apêndice 1).
Para atender aos pressupostos da ética a pesquisadora procurou atender
aos referenciais de autonomia, não-maleficência, beneficência e de justiça.
3.7 DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE ANALISE DAS INFORMAÇÕES
A análise dos dados obtidos foi realizada conforme a metodologia do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) em que para obter um pensamento em escala
coletiva, é preciso somar os discursos coletados por meio de uma questão aberta,
43
feita a um conjunto de indivíduos, separadamente, os quais expressam um
pensamento e, portanto, elaboram um discurso. Deste discurso, poderão ser
extraídas as expressões-chave, com as quais se compõem um ou vários
discursos-síntese na primeira pessoa do singular (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003).
Os autores, acima citados, consideram o DSC como um guia adequado
para a realização de pesquisas, pois permite organizar e tabular dados
qualitativos, obtidos em depoimentos, cartas, entre outros, extraindo deles suas
idéias centrais e as expressões-chave que irão compor um ou vários discursos-
sínteses na primeira pessoa do singular. Este discurso nos permite conhecer o
pensamento de um grupo em relação a um tema; portanto, utilizando o método do
DSC, poderemos conhecer os discursos dos idosos sobre a experiência de co-
residir com seus filhos, genros, noras e netos (LEFÈVRE; LEFÉVRE, 2003).
O pensamento de uma coletividade sobre um dado tema pode ser visto
como o conjunto dos discursos ou formações discursivas, ou representações
sociais, existentes na sociedade e na cultura sobre o tema, do qual, os sujeitos
lançam mão para se comunicar, interagir, pensar (LEFÉVRE; LEFÉVRE, 2005).
O DSC é uma estratégia metodológica com vistas a tornar mais clara uma
dada representação social. Consiste na reunião, num só discurso-síntese, de
vários discursos individuais emitidos como resposta a uma mesma questão de
pesquisa, por sujeitos sociais. Ele é uma forma de expressar diretamente a
representação social de um dado sujeito social e pode ser conceituado como o
agrupamento em um discurso – síntese das expressões chaves que manifestam a
mesma idéia central, de modo que os discursos dos participantes são dissolvidos,
para depois se incorporarem em um ou em vários discursos coletivos que
expressam a representação social acerca de um determinado tema da
coletividade a que pertencem (SIMIONI et al., 1997).
Antes de descrever como foi efetuada a análise das entrevistas, utilizando
o software e a construção dos DSCs, é importante explicar a denominação das
figuras metodológicas: expressões-chave, idéia central, ancoragem e discurso do
sujeito coletivo, criadas para confeccionar os DSCs:
44
Expressões-chave (ECH) “são pedaços, trechos ou transcrições literais do
discurso, que revelam a essência do depoimento, resgatando a literalidade do
depoimento”. Elas são as matérias-primas na construção do DSC, sendo
consideradas como prova da verdade das idéias centrais e das ancoragens e
vice-versa (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, p. 17).
A idéia central (IC) “é uma expressão lingüística que revela e descreve, de
maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada um dos
discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar
nascimento, posteriormente, ao DSC”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, p. 17).
A IC é uma descrição sucinta do sentido de um ou de vários depoimentos
e não uma interpretação deles, que tem a “função de” individualizar um dado
discurso ou conjunto de discursos, de acordo com as especificidades semânticas,
contidas em cada um deles (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, p. 25).
Ancoragem é uma figura metodológica que tem seu nome inspirado na
teoria da representação social, a qual é descrita como “manifestação lingüística
explícita de uma dada teoria, ideologia ou crença que o autor do discurso
professa e que, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo
enunciador para “enquadrar” uma situação específica” (LEFÉVRE E LEFÉVRE,
2003, p. 17).
Para estes autores, um discurso pode ter mais de uma IC e, considerando
o conjunto dos discursos individuais, esses podem ter ICs semelhantes e/ou
complementares. Para a construção do DSC são extraídos, da íntegra de cada
depoimento, após a análise, os trechos que continham as ECHs. Esses trechos
são limpos de particularidades, expressões e idéias repetidas e agrupados de
acordo com a idéia central.
Todos os trechos das ECHs, após serem feitos os ajustes ortográficos ,
quando necessário, são utilizados para a construção do DSC, acrescentando
apenas conectivos que ligam as partes e conferem coerência ao discurso. Assim,
o “DSC é um discurso-síntese que reúne em um único discurso as ECHs
45
semelhantes, representando o pensamento coletivo, na primeira pessoa do
singular” (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003. p.28).
Utilizando este método, o pesquisador tem o papel de reproduzir o sujeito
social e o discurso coletivo correspondente, fazendo o social falar como se fosse
um indivíduo, sem faltar com o rigor científico, utilizando procedimentos explícitos,
transparentes e padronizados, que possibilitem construir a fala do social, por
intermédio das ECHs e ICs contidas na fala dos indivíduos (op cit, 2003).
Para melhor realizar a análise dos dados, as entrevistas gravadas foram
ouvidas por diversas vezes, para melhor compreensão dos conteúdos expressos
pelas idosas e posteriormente transcritas literalmente. Nesta etapa cada idosa foi
identificada como “idosa0número” Ex: idosa01, idosa02 e assim
consecutivamente até a “idosa13”.
A primeira fase da análise das entrevistas foi realizada no Instituto de
Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo (IPDSC), em São Paulo, de 15 a 18 de
agosto de 2007, sob a orientação da Drª. Ana Maria Cavalcante Lefévre e
também da Doutoranda Rachelle Amália Agostini Balbinot; as entrevistas foram
analisadas com a utilização do software Qualiquantisoft®
1
.
Após a transcrição das entrevistas, os discursos individuais foram
transportados para um instrumento do software denominado Instrumento de
Análise do Discurso 1 (IAD 1); posteriormente, iniciou-se a análise dos discursos
por meio da identificação das ECHs, onde estavam contidas as ICs de cada
discurso, escritas de forma breve e objetiva.
As ECs identificadas foram copiadas no campo específico ECH na mesma
janela do IAD 1. Depois disso, iniciou-se a identificação das idéias centrais,
retiradas da resposta individual de cada idosa, relacionada à questão analisada
no campo IC do IAD 1.
1
Software desenvolvido para analisar o material verbal coletado, extraindo-se de cada um dos depoimentos,
as Idéias Centrais e Ancoragens e as suas correspondentes Expressões-chave. Com as Idéias
Centrais/Ancoragens e Expressões Chave semelhantes compõe-se um ou vários discursos-sínteses (DSCs).
46
Na etapa seguinte, procedeu-se à impressão do conjunto das idéias
centrais da questão em análise. Nesse momento, as ICs impressas, cujos
discursos eram equivalentes, semelhantes ou complementares foram reunidas em
uma mesma categoria, representadas por letras do alfabeto, iniciando pelas letras
A, para destacar as diferentes idéias /categorias encontradas para cada pergunta,
e seguindo a ordem alfabética até que todas as ICs tivessem sido categorizadas.
Na seqüência, retornou-se à janela do IAD 1, categorizando as ICs e
imprimindo o Relatório Síntese das ICs da questão analisada. Após a elaboração
do Relatório Síntese das ICs, iniciou-se a construção do DSC de cada categoria
em campo da janela do Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD 2) do software.
Para a construção do DSC de cada grupamento ou categoria, as ECHs
foram organizadas de modo seqüencial, da forma geral para a particular,
utilizando-se de conectivos para conferir coerência entre as partes do discurso e
eliminando as idéias repetidas, conferindo efeito didático para o DSC. No término
de todas essas etapas, realizou-se a impressão de um relatório, contendo as
ECHs, suas respectivas ICs e categorias pertencentes a cada indivíduo com
relação à questão analisada.
Saber que os DSCs buscam representar e expressar a fala do social das
idosas, não exclui o pesquisador desse processo como fonte organizadora das
falas, pois ele tem o papel de “produzir o sujeito social ou coletivo do discurso e o
discurso coletivo correspondente, fazendo o social falar, como se fosse um
indivíduo sem, contudo, faltar com o rigor científico” (LEFÈVRE e LEFÈVRE,
2003, p.29).
Os DSCs foram desencadeados a partir das várias ICs e ECHs, listadas
em uma só IC e em uma só ECH, como se apenas um indivíduo estivesse
falando, isto é, compondo um único discurso síntese.
Apresento a seguir os resultados e a discussão dos dados obtidos na
pesquisa realizada com idosas co-residentes com filhos, genros/noras e netos, na
cidade de Maringá.
47
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 CARACTERÍSTICA DA POPULAÇÃO
Para melhor compreensão dos resultados, apresentamos as idosas e suas
especificidades.
População
Idade Grau de
Instrução
Estado
Civil
Religião Atividade
Laboral
Renda
Individual
Mensal
(em R$)
Renda
Familiar
Mensal
Moradia Co-
residência
Doenças
Pré-existentes
Idosa01 69 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Católica Do lar 380,00 3000,00 Própria
(do
filho)
1 filho
1 nora
3 netas
Hipertensão arterial
Hipertireoidismo
Hipercolesterelemia
Idosa02 60 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Católica Diarista 1.140,00 4090,00 Própria
(do
filho)
1 filha
1 genro
3 netos e
1 bisneta
Tendinite
Bursite
Bronquite alérgica
Idosa03 79 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Católica Do lar 380,00 Não
revelou
própria 1 filha
1 genro
1 neta
Distúrbios coluna
Idosa04 74 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Católica Do lar 600,00 Não
revelou
própria 1 filha
1 neta
Hipertensão arterial
Idosa05 69 Ensino
fundamental
incompleto
casada Católica Do lar Não
possui
renda
3500,00 própria 1 marido
2 filhos
4 netos
Hipertensão arterial
Idosa06 80 Ensino
fundamental
incompleto
casada Evangélica Do lar 4.000,00 Não
revelou
própria 1 marido
1 filho
1 nora
2 netos
Colostomizada
Idosa07 69 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Evangélica Do lar 1.000,00 Não
revelou
aluguel 1 filha
1 neta
Hipertensão arterial
Idosa08 63 Ensino
Médio
completo
casada Evangélica Comerciante 982,00 Não
revelou
própria 1 marido
2 filhos
2 netas
Diabetes Melitus
Idosa09 89 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Católica Do lar 700,00 Não
revelou
própria 1 filho
1 nora
2 netos
Diabetes Melitus
Idosa10 71 Ensino
fundamental
incompleto
viúva Evangélica Diarista 950,00 Não
revelou
aluguel 1 filho
3 netos
Hipertensão arterial
Artrite
Idosa11 60 Ensino
Médio
completo
casada Evangélica Costureira 950,00 Não
revelou
própria 1 marido
2 filhos
1 nora
1 neta
1 mãe
Hipertensão arterial
Idosa12 64 Ensino
Médio
completo
casada Espiritualista Artesã 1.400,00 Não
revelou
própria 1 marido
2 filha
1 neto
Problema do joelho
Idosa13 68 Ensino
Médio
incompleto
viúva Católica Pecuarista 6.000,00 Não
revelou
própria 1 filha
1 genro
3 netos
Hipertensão arterial
hipertireoidismo
QUADRO I – Características pessoais da população estudada (MARINGA, 2007).
As idosas, que participaram deste estudo, tinham idade entre 60 e 89 anos.
De acordo com o IBGE (BRASIL, 2002b) a expectativa de vida ao nascer atingiu,
em 2000, 65 anos para homens e 73 anos para as mulheres. No Brasil, observa-
se um predomínio feminino entre os idosos desde 1920; a vida mais longa das
48
mulheres superou o incremento da população masculina causado pela imigração
estrangeira (TELAROLLI JUNIOR; MACHADO; CARVALHO, 1996).
Embora nasçam mais homens que mulheres, em decorrência de fatores ao
longo da vida morrem mais homens que mulheres (CAMARANO, 2002). Ainda
para Ribeiro et al (2002), a população feminina de mais de 60 anos é superior à
masculina, havendo grande disparidade entre os sexos, como conseqüência da
maior expectativa de vida ao nascer, que permite às mulheres sobreviver aos
seus contemporâneos masculinos.
Entre as idosas entrevistadas nove o completaram o ensino
fundamental, uma possuía o ensino médio incompleto e três o ensino médio
completo, percentual superior ao apresentado pelo IBGE quando refere que
apenas 10,5% da população de idosos do país concluíram o ensino médio. O
IBGE (BRASIL, 2002b) esclarece que a alfabetização é medida pela proporção de
pessoas que se declararam como sabendo ler e escrever pelo menos um bilhete
simples sendo declarados no Brasil, no ano de 2000, que 64,8% dos
entrevistados por este Instituto são alfabetizados.
Considera-se que, possivelmente, essa baixa escolaridade dos idosos, em
geral, seja reflexo da taxa de alfabetização nos anos 20-40 do século passado,
em que não havia tanta cobrança por escolaridade, como atualmente, pois o
papel das mulheres na sociedade era o de casar, ter filhos e cuidar de casa e por
isso não eram estimuladas a estudar (RAMOS, 2003).
Em relação ao estado civil, verificou-se que oito idosas entrevistadas eram
viúvas e cinco casadas. A maior longevidade da mulher em relação ao homem
traz consigo fatores sociais relacionados com a velhice na mulher, entre eles a
redução de renda, a perda do companheiro e a solidão do final da vida (VERAS;
RAMOS e KALACHE, 1987). Isso, muitas vezes, as faz conviverem com filhos,
parentes ou pessoas de sua rede de relações, procurando suprir suas
necessidades não só materiais, mas também afetivas.
A maior parte das idosas verbalizou serem cristãs distribuídas
essencialmente entre católicas e evangélicas. Isto ocorre devido ao Brasil ser um
49
país eminentemente católico desde sua descoberta e da religião ser uma tentativa
de conservar significados por meio dos quais cada indivíduo interpreta sua
experiência e organiza sua conduta. “Um sistema religioso é formado por um
conjunto de símbolos sagrados, tecido numa espécie de todo ordenado, em que
pessoas possuem conhecimento das condições essenciais nos termos das quais
a vida tem que ser vivida” (GEERTZ, 1989, p. 93).
A igreja sempre interferiu no comportamento da família, a família e a
religião são instituições guardiãs de regras, desde as relativas à virgindade,
passando pela fidelidade feminina, instituição matrimonial, procriação, educação e
criação dos filhos. Envolvendo nisso o cuidado com o lar, com os filhos, com os
doentes e idosos, por parte da mulher, a qual deveria ter a Virgem Maria como
modelo (SOIHET, 2005).
A administração do cristianismo foi pouco a pouco se tornando autoritária e
centralizadora, nele apenas as mulheres religiosas eram as que podiam ter algum
desenvolvimento intelectual e de sua capacidade de decisão. A vida espiritual do
indivíduo compunha o núcleo central da sua visão de família e de mundo
(MURARO, 2002).
Em relação às atividades de trabalho desenvolvidas pelas participantes
deste estudo, observou-se que sete relataram ser “do lar”, seis exercem alguma
atividade de trabalho fora dele, chamando a atenção duas idosas que realizavam
trabalho como diarista. Para Camarano (2003) os idosos têm uma contribuição
importante na vida familiar, em virtude de sua permanência no emprego e/ou
recebimento de benefício previdenciário, o que os faz manter seu papel de
provedores da família.
Para determinar a renda da idosa, foram utilizadas informações de
rendimento do trabalho, aposentadoria ou pensão, ajuda de familiares, aluguel ou
aplicações bancárias e rendimentos de outras fontes. A renda das idosas
entrevistadas variou de 1 salário mínimo a 15, 7 salários-mínimos
2
, entre elas
quatro apresentam renda media inferior à media referenciada pelo IBGE (BRASIL,
2
Salário mínimo de referencia: R$ 380,00
50
2002b), o rendimento médio dos idosos, em 2000, correspondia a R$ 739,00 na
área urbana. Ainda assim, a renda de duas destas idosas era incorporada ao
orçamento familiar.
No contexto familiar, a presença do idoso, graças a sua renda mais estável,
permite uma elevação do poder de compra de toda a família, principalmente
daquelas que possuem filhos e netos co-residindo (ALMEIDA, 2002).
A maioria das idosas que participaram deste estudo não soube informar a
renda familiar. Das que informaram observa-se que a renda dos demais membros
da família era superior à das idosas. Para MORAES (2007) o rendimento mensal
per capita das famílias com idosos é mais elevado e seus membros dependem
menos da renda do chefe do que as famílias que não os possuem.
Mulheres idosas têm forte potencial para ajudar e apoiar filhos, netos,
cônjuges e outros parentes idosos, mesmo não tendo renda resultante de
atividade econômica ou de aposentadoria (AQUINO e CABRAL, 2002).
Por outro lado, as mulheres idosas tendem a se manter no papel de
cuidadoras da família, acumulando, em certos casos, o papel de provedoras com
taxas de participação no mercado de trabalho e salários menores do que os dos
homens chefes de família. A participação da mulher pobre e chefe de família se
dá, com maior freqüência, nos trabalhos informais, instáveis, de menor
qualificação e com os salários mais baixos do mercado, como, por exemplo, os
serviços domésticos, pois estes permitem ou facilitam a conciliação de suas
múltiplas funções (FUNDAÇÃO SEADE, 1998).
Quanto à propriedade do domicílio, nove idosas eram donas dos imóveis
onde viviam, duas pagavam aluguel e outras duas moravam em domicílios cujo
proprietário era o filho.
A maior parte das idosas é proprietária do imóvel onde vivem ou moram
com seus filhos. Para Peixoto (2004) as mulheres são, majoritariamente,
proprietárias dos imóveis onde vivem, pois, em geral, herdaram a moradia dos
maridos mortos ou divorciados.
51
Todas as idosas, participantes deste estudo, possuem algum tipo de
patologia própria do idoso com prevalência da hipertensão arterial. Conforme os
indivíduos envelhecem, as doenças não-transmissíveis (DNTs) transformam-se
nas principais causas de morbidez, deficiências e mortalidade em todas as
regiões do mundo, até mesmo nos países desenvolvidos. Elas são típicas da 3
ª
idade, e ocasionam gastos elevados para os indivíduos, famílias e Estado. Muitas
podem ser evitadas, ou pelo menos adiadas, minimizando os custos humanos e
sociais que absorvem quantidade desproporcional de recursos que poderiam ser
utilizados para minimizar ou eliminar problemas de saúde de outras faixas etárias
(WHO, 2005).
Devido a que as idosas, participantes deste estudo, possuem algum tipo de
DNTs, elas demonstraram preocupação com sua saúde, fazendo tratamento
medicamentoso contínuo e acompanhamento médico periódico. Isso ocorre
devido à sua conscientização de que quanto mais elas se cuidarem, menos elas
serão dependentes de sua família, motivo este que as estimula a buscarem
cuidados de saúde de qualidade e com freqüência.
Após análise descritiva das características das informantes que
participaram deste estudo, passarei a apresentar as informações referentes às
questões, utilizando as figuras metodológicas: IC e ECHs. As ICs e os DSCs
foram construídos e serão apresentados a seguir.
4.2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO DISCURSO DO SUJEITO
COLETIVO
Cada um dos DSCs será apresentado com a indicação da idosa em
número entre parênteses, com a intenção de indicar a procedência da parte da
fala da entrevistada, ou seja, a parte da entrevista com que foi construído o DSC.
Ao realizar a análise qualitativa das respostas obtidas nas entrevistas,
originaram-se, para cada tema, no mínimo um e, no máximo quatro DSCs,
52
totalizando 26 DSCs. A seguir, serão apresentados os temas e a análise
seqüencialmente.
4.2.1
CONHECENDO O MOTIVO DA CO-RESIDÊNCIA
Em resposta a questão: Por que vocês moram juntos? As idosas relataram
os motivos que as levaram a co-residir com seus filhos, noras/genros e netos,
donde foi possível extrair as seguintes ICs:
A. Necessidade Pessoal;
B. Necessidade dos filhos;
C. A Separação da filha;
D. Cuidar dos netos.
Idéia Central A
- Necessidade Pessoal (viuvez, solidão, doença).
Fiquei viúva (02). Eu tive um casamento perfeito, foram 42 anos de um
casamento muito feliz, eu não me imaginava sozinha, por este motivo
que fui morar com as minhas filhas (13). Muitas amigas minhas que
ficaram viúvas disseram: fica na sua casa, nem que seja para você ficar
sozinha, porque é seu cantinho, você manda, você recebe. Mas, a gente
se bem, eu ajudo minha filha e ela me ajuda, eu estou gostando, não
sei ela (04). Eu não fico sem eles e eles não ficam sem mim (02).
A idéia central A foi construída a partir dos depoimentos de idosas que
relataram que o motivo de dividirem seu lar com os filhos, genros/noras e netos,
foi a solidão causada pela viuvez. Durante as entrevistas, as idosas
constantemente referiram-se à viuvez como causa das mudanças ocorridas em
sua vida e, também, a saudade sentida do companheiro morto. Algumas
mantinham duas alianças na mão esquerda, mantendo o compromisso com o
marido ausente, nenhuma delas aventou a possibilidade de ter um companheiro.
A viuvez pode ser compreendida pela ambigüidade de sentimentos que
gera e pela ambivalência de situação, pois ela faz com que algumas viúvas
mantenham uma relação de não ser-sendo, a “viúva de fulano de tal” e com isso
53
elas não possuem um nome social próprio. Nestas situações a presença da
família é importante para ajudar as idosas viúvas a dar novo significado a seus
papéis e enfrentarem a solidão (PEIXOTO, 2004).
Devido aos valores culturais que envolvem e limitam a mulher, constituir
um novo casamento torna-se difícil para as idosas viúvas, fazendo com que elas
tenham maior possibilidade de ficar sozinha, buscando referência e apoio na
família (AFONSO, 1997).
“A co-residência pode ser desencadeada por fatores materiais, como
carências econômicas e de moradia ou ainda, por certas situações de crise como
a solidão ou transições familiares difíceis como: a viuvez, a gravidez imprevista de
uma filha solteira, divórcio ou separação (WALL, 2004, p.6). Entretanto, a co-
residência de idosas com filhos casados decorre principalmente da necessidade
do idoso de receber algum tipo de ajuda da família (SAAD, 2003).
Neste DSC, verificou-se que as idosas viúvas, participantes deste estudo,
preferiram morar com seus filhos, genros, noras e netos, talvez até perdendo sua
liberdade, para diminuir a falta, a saudades e a solidão causada pela morte do
companheiro. Esse relacionamento criou dependência entre as partes envolvidas,
fazendo com que elas se sintam satisfeitas e felizes de estarem morando com
seus filhos.
Idéia Central B - Necessidade dos filhos
Meus filhos precisaram de mim. Foram eles que vieram morar comigo
(05, 09). Para se ajudar entre a família, porque nós temos a casa, daí
moramos junto para não pagar o aluguel (11). A minha filha não tinha
marido, é mãe solteira (08), ela se sentiu sozinha, desamparada, era
muita tarefa para ela sozinha. Então eu disse: "volta filha, a mamãe vai
te ajudar”. Meu marido também concordou. Ela veio e está morando com
a gente. Ela está fazendo mestrado e nós precisamos investir nela, por
que ela tem uma filha para criar e é uma mulher sozinha (08, 12).
Também tenho um filho, o único filho que eu tenho que mora comigo,
vendeu os negócios dele e veio para ficar conosco, com as duas filhas
(06). O meu netinho, também, chegou com o jeitinho dele, e falou: "vó,
posso vir morar com a senhora?” Vai para cinco anos que ele mora
comigo. Eu gosto muito dos meus netos (10).
54
Neste DSC observa-se que a necessidade expressa pelos filhos, para co-
residirem com os pais foram: necessidade financeira, apoio, ajuda para criar os
netos. Segundo Camarano (2004) o apoio intergeracional parece ser mais
expressivo quando parte das gerações mais velhas para as mais novas ao longo
de grande parte do ciclo de vida dos indivíduos, pois em geral os pais idosos
começam a necessitar da ajuda dos filhos a partir dos 75 anos. Antes disso são
eles que atendem à necessidade dos filhos.
A preferência por determinados arranjos familiares resulta do balanço entre
custos e benefícios associados à co-residência. Os benefícios da co-residência,
tanto para idosos quanto para a família, variam desde a obtenção de companhia e
apoio emocional até ajuda física e financeira.
Neste discurso duas idosas, apesar de terem mais de 75 anos, prestam
ajuda a seus filhos e netos reafirmando serem os pais o ponto de apoio da família
quando em necessidade ou situação difícil ou de risco. Nele observa-se a união
de forças dos pais para apoiar/ajudar os filhos em alguma situação difícil de suas
vidas, como em dificuldades: econômica, emocional, social, educacional.
As necessidades da família em diferentes momentos da vida são
embasadas na crença comum de cada época; na primeira geração, as famílias
percebiam terem como principal necessidade dos filhos o estudo (ser
alfabetizado), a presença da mãe junto à criança e a preparação deste para o
trabalho (MARCON, 1998).
No entanto as idosas participantes deste estudo, não demonstraram
preocupação com a formação do neto e do filho, atitude sustentada por Marcon
(1998), quando afirma que a mãe percebe a necessidade de preparar o filho para
o convívio social. Elas se preocuparam em preparar a filha para enfrentar o
mercado de trabalho. Isso geralmente ocorre devido a mulher ter, muitas vezes,
que assumir a chefia do lar e sustentar sua prole. Para isso ela deve estar cada
vez mais preparada para competir não com o homem, mas com tudo aquilo
que compõe o mercado de trabalho.
55
A resposta de cada família aos desafios vividos no estagio tardio de vida
ocorrem de acordo com padrões familiares desenvolvidos anteriormente
para manter a estabilidade e a integração familiar. A maneira pela qual a
família e seus membros lidam com essas situações depende do tipo de
sistema que criaram ao longo dos anos e da capacidade e forma do
sistema ajustar-se as perdas e novas exigências (CARTER e
MCGOLDRICK 1995, p. 270)
Idéia Central C
- A Separação da filha
A princípio a IC C: “Separação da filha”, poderia ser erroneamente,
classificada como “necessidade dos filhos” e fazer parte da idéia central B; porém
Lefévre e Lefévre (2005) afirmam que é necessário que o entrevistado verbalize
esta situação. Esta observação sobre a verbalização do sujeito faz com que o
entrevistador não se utilize de suas concepções ou conceitos no momento da
criação das ICs.
Minha filha divorciou-se. Não foi propriamente uma escolha, porque
sozinha com uma criança pequena, e precisando trabalhar, então, veio
para nossa casa. Ficamos morando juntas, estamos até agora (04). É a
mesma coisa que ela não tivesse saído de casa. Se precisar, eu falo,
corrijo e a gente se entende [...] Estamos vivendo (07).
Neste discurso as idosas relataram que não escolheram morar com suas
filhas, mas que isso ocorreu devido às separações e as necessidades sentidas
pelas filhas, quando, então, elas assumiram o seu papel de mães, apoiando,
corrigindo, interagindo com filhas e netos, enfim exercendo suas funções na
sociedade e escrevendo suas histórias.
No Brasil é comum muitos filhos divorciados retornarem à casa dos pais
solicitando apoio financeiro ou moral e ajuda para educar os seus filhos. Isto
ocorre devido à falta de creches, escolas maternais e de ensino fundamental, na
rede pública, que funcionem durante todo o período em que os pais estejam
trabalhando, obrigando-os a buscar apoio informal dos pais aposentados,
parentes ou vizinhos, para a guarda e o cuidado de crianças (PEIXOTO, 2004).
Durante a separação/divórcio de seus filhos é provável que os idosos
estejam numa fase mais estável de suas vidas, o que lhes possibilita prestar
assistência material e emocional a seus filhos, netos e ex-genros/noras. Nesse
56
processo eles atuam de forma positiva, protegendo principalmente seus netos,
porque nesse período muitas vezes são os avós que se responsabilizam pelo
cuidado com sua alimentação, saúde e desenvolvimento escolar (ARAÚJO e
DIAS, 2002). Pode-se dizer, portanto, que a relação entre estas gerações é
mutuamente importante, pois uns ajudam aos outros para que todos possam
atravessar a crise de forma mais harmônica e saudável.
Idéia Central D
- Cuidar dos netos
Para eu ajudar a cuidar das meninas (01). A neta mais nova desde o
primeiro dia de idade fui eu que cuidei dela (3). Era muita tarefa para ela
sozinha, cuidar das filhas, levar para a escola, buscar, trabalhar, cuidar
de casa, mexer com a escola onde ela era professora. Ficavam as
duas (08). Estamos criando os netos juntos (02)
Para Carter e McGoldrick (1995) as necessidades da família estão
diretamente ligadas ao momento do ciclo de vida que elas vivem. Isto ficou
evidente, neste discurso, quando as idosas referem que foram morar com as
filhas para ajudar a cuidar dos netos e da casa, pois era muito trabalho para elas
terem que desempenhar essas atividades e ainda trabalhar fora.
É, geralmente, na fase adulta que os casais se encontram construindo
suas famílias, tendo filhos e se firmando profissionalmente no mundo competitivo
do trabalho, fatores que muitas vezes os fazem necessitar da ajuda dos pais para
poderem realizar essas tarefas.
Para as avós se colocar no lugar das filhas ou das noras para cuidar de um
neto representa recuperar o papel de mãe, o que torna o acontecimento cheio de
significado, proporcionando-lhes a sensação de ter cumprido todas as etapas de
sua vida na sociedade e na família e ainda estarem em condições de ajudar seus
filhos a criarem e educarem sua prole (LEITE, 2004).
Neste processo as idosas demonstram continuar exercendo sua função de
cuidadoras e socializadoras. Isto talvez ocorra devido a estarem conscientes de
terem experiências suficientes para participar do cotidiano das famílias e do
57
cuidado dos netos. Segundo Leite (2004, p. 62) “as mulheres-avós possuem
ternura, compreensão, tolerância, intuição, passividade, paciência o que quando
relacionadas ao cuidado de crianças e dos afazeres da casa, se torna um atributo
de mais valia para a mulher idosa”.
As idéias centrais que nos permitiram construir os DSCs, acima descritos,
deixam claro que algumas idosas optaram pela co-residência com seus filhos,
genros, noras e netos para se livrarem da solidão causada pela morte do
companheiro; mas a maioria refere que foi para dar apoio e suprir necessidades
sentidas pelos filhos. Esta opção pela co-residência, muitas vezes, traz equilíbrio
financeiro e emocional às famílias, pois seus membros compartilham
responsabilidades e atividades.
4.2.2
CONVIVÊNCIA EM FAMÍLIA
O segundo tema que surgiu após a análise das entrevistas foi a
convivência em família. A maioria das idosas referiu que viver em família era bom,
entretanto cinco relataram ter algumas dificuldades para conviver com suas
famílias. Dos relatos das idosas que participaram deste estudo foi possível extrair
as seguintes ICs:
A. Viver em família é bom
B. Viver em família é bom, com ressalvas.
Idéia Central A - Viver em família é bom
A minha família é muito legal, muito unida, amorosa, carinhosa, sem
conflito. Graças a Deus a convivência é boa (01, 07), mas, a gente acaba
se envolvendo na vida dos filhos (11) porque a gente conversa tudo (02)
Me dou bem com as minhas noras, com os filhos e eles se dão comigo
(06). Às vezes alguém esta trabalhando e não teve muito tempo de
conversar [...] então conversamos à noite [...] é a nossa hora de ficar
junto (12). Uma família é reflexo da formação recebida pelos pais. É
muito bom ver a família unida (13). Também a dona do fogão sou eu, eu
posso fazer o que eu quiser. Posso fazer um doce, posso fazer bolo,
posso fazer um pão, eles não falam nada (03).
58
As idosas, para as quais viver em família é bom, relatam que
envolvimento, afeto, interação, diálogo e união entre elas e seus familiares. As
atividades cotidianas permitiram que alguns dos contatos mantidos entre estas
idosas e seus familiares fossem breves, porém bem aproveitados, demonstrando
um relacionamento harmônico, feliz e produtivo. Cada família possui um estilo de
“estar junto”, o qual pode ser vivido de diversas maneiras; nestes encontros,
podem ocorrer diversas formas de aproximação e interação como diálogos,
toques, brincadeiras, que os tornam mais significativos.
O envolvimento afetivo, relatado pelas idosas pode ser sustentado por Boff
(1999), quando afirma que o ser humano possui sentimentos e capacidade de
envolver-se, de afetar e de ser afetado pelo outro; pressupõem que ele mantenha
uma relação com o outro que não deve ser de domínio, mas de convivência com
o outro e desenvolvem a alteridade, o respeito, valores fundamentais da
experiência humana. A relação afetiva familiar engloba o modo de ser de cada um
de seus membros e seus laços afetivos.
Para que o idoso possa manter sua identidade pessoal, a família deve
proporcionar-lhe a possibilidade de dar significados às suas próprias vivências,
assumir seu papel na transmissão da vida e de seus valores, reconhecendo a
importância e as experiências de vida do idoso (MORAGAS, 1997, p. 126).
Idéia Central B - Viver em família é bom, com ressalvas.
Somos uma família. Tem momentos muito bons [...] muitos que a gente
fica meio revoltada (08) [...] Eu dependo deles, eles dependem de mim
(10, 11). Não me sinto na obrigação. Não é porque estou com essa
idade, que eu vou bancar na pia, no fogão e no tanque e os netos,
bisnetos, tataranetos, todo mundo nas costas. Temos direitos iguais,
responsabilidades iguais (08). Eu acho que faz falta um homem dentro
de casa (04). Mas, no final dá tudo certo. Se a gente quer, dá certo (05).
As idosas que relataram que viver em família é bom, com ressalvas,
exteriorizaram ter problemas no relacionamento com os netos, em virtude da
pouca importância que estes demonstravam em relação ao idoso.
59
O conflito entre gerações é sinal de uma situação em que os jovens e
adultos contestam por que os idosos possuem mais experiências de vida devido a
sua própria condição ser e estar no mundo (FORACCHI, 1972).
Para Marcon; Carreira; Waidman e Andrade (1999) o conflito em família se
deve à convivência em família e suas particularidade, pois com ela
permanecemos grandes parte de nosso tempo e nos sentimos mais a vontade.
Ainda para estes autores, a convivência com duas, três ou mais gerações em
uma mesma residência é cenário para conflitos, devido às diferenças de valores e
crença entre as gerações.
Um bom relacionamento somente se estabelece entre iguais, quando
existem direitos e obrigações, cada pessoa respeita e deseja o melhor para a
outra. O relacionamento se baseia em compreender o ponto de vista do outro,
sendo para isso essencial a interação, a conversa, o dialogo (GIDDENS, 2000).
Outro fato que emergiu foi a falta de um homem, dentro de casa, como se a
figura masculina representasse mais respeito e poder. Isto parece estar
relacionado à herança cultural das idosas e à sua educação pois até alguns anos
atrás somente o homem era considerado o chefe da família, seu provedor e
senhor, a quem a mulher, filhos e criados deviam obedecer e respeitar.
4.2.3
O SENTIMENTO DA IDOSA QUANTO À FAMÍLIA
O tema sentimento da idosa quanto à família teve origem na seguinte
questão: Como a senhora se sente em família? A maioria das idosas relatou se
sentir bem e feliz, participando da vida familiar, sendo cuidada, protegida pelos
filhos, genros, noras e neto e cuidando e protegendo-os. Desses relatos foram
extraídas as seguintes ICs:
A. Sensação de bem-estar e felicidade.
B. Sensação de cuidado e proteção.
C. Sensação de revolta e infelicidade
60
Idéia Central A
- Sensação de bem-estar e felicidade.
Nós somos felizes (06, 12). Sinto-me muito bem, um ajuda ao outro (02).
Depois da morte do meu marido [...]. Eles [filhos, netos e noras/genros]
se preocupam comigo, querem saber como estou, se vão passear me
chamam. Eles se aproximaram, (04) Tenho um bom relacionamento com
meus filhos, minha nora e meus netos (05, 06). Não me imagino sozinha,
sem eles (13), me sinto feliz com eles perto de mim (05).
As idosas demonstram que a co-residência lhes possibilitou um tipo de
vida, permeada por atividades realizadas com os membros da família, pois
mantêm bom relacionamento com seus filhos, genros, noras e netos onde existe
apoio e preocupação mútua. Elas se sentem cuidadas por seus familiares, eles se
preocupam com seu bem-estar, estão próximos não as deixando sentir solidão;
enfim elas sentem-se felizes.
Para Elsen (2002) o cuidado familial pode ser reconhecido por vários
atributos, dentre os quais a autora salienta cinco: a presença, a promoção da vida
e bem-estar, a proteção, a inclusão e a orientação para a vida. De acordo com o
pensamento da autora, a presença compreende ações, interações e
principalmente interpretações através das quais a família expressa solidariedade
a seus membros.
O apoio intergeracional dos membros de uma família é mantido por um
conjunto de fatores, como afeto, sentimentos de reciprocidade, incentivos
econômicos, ocorrências negativas, e valores culturais. Os sentimentos de afeto e
ajuda mútua são fatores que asseguram os ajustes familiares informais entre as
gerações, possibilitando um viver harmônico e feliz (GOLDANI, 2004).
Idéia Central B
– Sensação de cuidado e proteção
Quando o meu marido faleceu, eu tinha quatro filhos ainda para casar;
então eu tinha medo de morrer (03). A minha filha é mãe solteira. Eu criei
os meus netos também (05). Eu levanto de manha, faço um cafezinho,
cuido do almoço, da roupa, do banheiro; mas meu compromisso é com
eles, com a criação deles, com alimentação e roupa, gosto muito de
cozinhar (07). Sou muito protetora, estou sempre querendo encaminhar
os meus netos para o caminho certo (11).
61
Neste DSC observa-se que as idosas participantes deste estudo relataram
serem cuidadoras, protetoras e educadoras de seus filhos e netos. Esta foi a
verbalização de idosas, fisicamente mais fortes, com características de liderança
na família, perceptíveis durante a entrevista. As demandas de atividade advindas
do aumento no número de moradores nestas residências não pareceu
assustarem estas mulheres, pois elas têm como meta, neste momento da vida,
educar e criar os netos.
Para Munhoz; Centa e Lenardt (2004) o viver em família evoca a imagem
de proteção, cuidado, educação e preservação de seus membros, pois como
agente educador, a família pode combinar duas funções especificas: socializadora
na medida em que transmite a herança cultural e provedora quando proporciona a
conquista de diferentes status sociais. Nesse processo a mulher exerce o papel
de educadora, cuidadora, protetora e difusora da cultura através dos filhos e
netos; colocando-os em contato com o mundo, iniciando sua socialização,
mostrando-lhes o sentido dos laços que ligam os seres humanos entre si e
introduzindo-os no sistema de valores da sociedade.
Nesse processo as idosas assumem a função de avó cuidadora,
assumindo o neto durante a ausência dos pais, função que pode ser muito
gratificante para muitas mulheres idosas, pois diante da criança que transborda
vivacidade, elas sentem mais vontade de viver (LOPES; NERI e PARK, 2005).
Geralmente, a viúva, assume importante papel dentro da família,
exercendo a chefia da casa, sendo responsável pelas tarefas domésticas e pelos
cuidados com os filhos e netos. Os homens idosos auxiliam a família, executando
trabalhos fora do lar (ALMEIDA, 2002).
Idéia Central C
– A idosa às vezes sente-se revoltada, infeliz.
Tem momentos muito bons, têm muitos que a gente fica meio revoltada,
os jovens de hoje, são muito irresponsáveis (08). A casa é minha, mas,
quem mora junto acha que tem direito também. Meu filho quer ser dono
[da casa] também [...] (09). Eu trabalho muito. Antes, eu lavava roupa,
cozinhava, passava, fazia quase tudo, era muito serviço, daí eu falei para
62
minha neta: "Agora você vai lavar a sua roupa e do seu marido, que eu
vou lavar a minha e das meninas" [netas]. Melhorou um pouco! Eu
cansava muito (10)!
Neste discurso observa-se que algumas idosas se sentem revoltadas pela
irresponsabilidade demonstrada pelos jovens, lutam para manter o domínio e
poder dentro do lar, pois são proprietárias da casa em que os filhos e netos
moram, enfrentam dificuldades na divisão das atividades domésticas com os mais
jovens, executando tarefas que as levam ao cansaço.
A co-residência pode beneficiar tanto os idosos quanto as gerações mais
jovens; mas exige dos integrantes da família constante readaptação às novas
demandas deste arranjo.
Os homens idosos geralmente mantêm o seu papel de provedores, por
outro lado, as mulheres idosas tendem a manter suas funções de cuidadoras e
responsáveis pelos afazeres domésticos, mesmo que elas sejam as donas do
domicílio e chefes da casa (CAMARANO, KANSO, MELLO e PASINATO, 2004).
Na sociedade atual, o valor da igualdade entre os gêneros foi
progressivamente sendo assimilado no cotidiano familiar, dando origem a formas
mais democráticas e igualitárias de partilhar tarefas e responsabilidades,
entretanto alguns vestígios dos modelos tradicionais ainda prevalecem como a
atribuição às mulheres das tarefas domésticas. Isto ocorre porque ainda não
emergiram novos modelos familiares que tenham uma validade universalmente
reconhecida e aceita pela sociedade (PETRINI, 2005).
Outro dado interessante relatado foi que elas sentem que os filhos querem
mandar na casa, criando conflitos. Atualmente, com a inclusão da mulher no
mercado de trabalho e dos diversos tipos de composição familiar, temos no Brasil,
muitas idosas chefes de família; porém o feminino permanece associado ao
espaço privado da família, apesar da crescente participação das mulheres no
espaço blico. Isto, muitas vezes, faz com que os filhos se sintam no direito de
assumir o lugar da mãe idosa na chefia da casa, lugar de direito da idosa visto
que a ela pertencem os bens. Isto faz com que elas se sintam revoltadas e
infelizes, pois muitas vezes lutaram a vida inteira para obter seus bens e adquirir
63
o status de proprietária da moradia e os filhos se apoderam desse direito
causando revolta e conflitos.
Para alguns idosos a co-residência significa perda de status, quando os
filhos adultos assumem o controle dos recursos financeiros do domicílio. Este fato
muitas vezes resulta em mal-estar para eles (FERREIRA, 2001).
A família sempre foi o lugar de encontro entre as diferentes gerações, ora
prevalecendo a cooperação, ora o conflito entre elas. Nas ultimas décadas, do
século XX, as gerações mais novas divergem da geração dos adultos e dos
idosos quando as metas que devem ser atingidas, os valores que devem ser
respeitados e os critérios para definir o que deve ou não ser descartado não estão
de acordo com seu modo de pensar ou agir (PETRINI, 2005).
4.2.4
TRATAMENTO DISPENSADO ÀS IDOSAS POR PARTE DA FAMÍLIA.
Das respostas obtidas a partir da pergunta: “Como sua família trata a
senhora?" Foi possível extrair as ICs que representam os sentimentos relativos
aos tratamentos recebidos dos membros da família com quem os idosos
convivem. A maioria relatou ser bem tratada pelos filhos, genros, noras e netos.
Apenas duas idosas referem que as noras não as tratam bem. Destes relatos
foram extraídas as seguintes idéias centrais:
A. Bom tratamento
B. A nora não me trata bem.
Idéia Central A
– Bom tratamento
Os filhos me tratam muito bem. Com amor, carinho [...] eles não
respondem [...] e me respeitam muito. Não pra saber qual é o melhor
deles! São todos bonzinhos, e não sou eu que acho (02, 04, 10, 11,
12) [...] fizeram até uma festinha surpresa no meu aniversario (03). Não
tenho problemas com eles [...] (05). Tive sorte com marido e com filho,
nunca me deram trabalho, com droga, farra [...] (12) Hoje em dia nós
podemos nos estender a mão por que quem está aqui dentro dessa
64
casa, são os netos e filhos que moram comigo (08) Os netos me tratam
bem e sempre recorrem a mim quando precisam de alguma coisa
material (13).
A maioria das idosas procurou relatar que existe harmonia na convivência
familiar, pois esta é baseada em amor, respeito, educação.
Para Redante et al (2005) está ocorrendo um fato novo no relacionamento
entre avós, filhos e netos, devido a que o idoso expressa a necessidade de
preservar os relacionamentos familiares através do poder de manterem
fortalecidos, em número e qualidade, os vínculos com a família, contribuindo,
quando possível, com a educação de filhos e netos, solidificando sua rede de
suporte social.
A afetividade na família está relacionada a diversos aspectos como a
confiança mútua, reciprocidade de papeis, competição, cooperação, consideração
existente entre seus membros, a qualificação e educação, flexibilidade nas
transações, relacionamento interpessoal, apego, proteção, crenças e valores,
dialogo, agressividade, tipo de comunicação e de conflitos (CERVENY, 1997).
Como agente socializador, a família tem no amor e no apoio mútuo a
principal determinante para poderem desempenhar a importante tarefa de formar
hábitos, atitudes e valores (CENTA, 2001). Isso vai fortalecer os vínculos que
unem seus membros e proporcionando-lhes melhores condições para ampliar sua
rede de relações e um melhor viver em sociedade.
A união entre as idosas e os membros de sua família, que co-residem, é
um processo que deve ser construído ao longo do tempo, envolvendo toda a
família, pois ele requer ações simples e complexas para tornar este viver
harmonioso e feliz, não só para as idosas, mas também para toda a sua família.
Idéia Central B
– A nora não me trata bem.
A nora não trata bem, com ela não converso. Sempre foi uma relação
difícil. faço tudo de casa, tudo o que posso, porque ela foi trabalhar fora
(01,09).
65
Neste estudo encontramos duas idosas que referenciaram ter
relacionamento difícil com suas noras. Estas idosas demonstraram sentir-se
desvalorizadas e desprestigiadas pelas noras, apesar de permitirem que os filhos
e suas respectivas famílias morem em sua casa, onde elas são as proprietárias
da casa, realizam todas as atividades/trabalho da casa e as noras que trabalham
fora não participam dos trabalhos domésticos, mas dão palpites e fazem
exigências, gerando desentendimentos e conflitos entre ambas.
São inúmeros os sentimentos desencadeados na relação sogra-nora, como
ciúme, inveja, raiva, tristeza, insegurança, amizade, amor, carinho, respeito.
Apesar dos inúmeros conflitos que envolvem esta relação, eles podem ser
administrados de forma saudável, à medida que ambas amadurecem
emocionalmente e podem compreender-se mutuamente, conscientizando-se de
que não precisam competir, pois cada uma exerce um papel diferente no seio
familiar. Entretanto o modelo de relação que a nora estabeleceu com sua mãe
pode definir o tipo de seu relacionamento com outras mulheres, no caso com sua
sogra (CHIAPIN; ARAUJO e WAGNER, 1998)
Para as idosas as perdas de papéis ocupacionais e as perdas afetivas
próprias da velhice podem fazer emergir certo grau de ansiedade e levar a
desvalorização pessoal, o que muitas vezes leva ao ostracismo ou à perda do
significado de viver, fazendo com que elas se isolem, tenham dificuldades para
comunicarem-se com os que estão próximos, culminando em maior solidão
(CARVALHO FILHO e PAPALEO NETTO 1994).
4.2.5
O RELACIONAMENTO ENTRE MÃE-IDOSA E FILHOS CO-
RESIDENTES
Com o intuito de identificar o relacionamento existente entre as idosas e
seus filhos perguntei: Como é a sua relação com seu filho? Donde emergiu a
seguinte IC:
A. Bom relacionamento com os filhos
66
Idéia Central A
– Bom relacionamento com os filhos
A gente tem um relacionamento bom com os filhos, com a nora, com os
netos (06). Meus filhos são muito bons (05), maravilhosos, carinhosos
(01, 11) nossa relação está cada vez melhor (12). Com o tempo ficamos
muito amigos. Casei muito cedo, tive filho muito cedo. Quando eles
estavam na adolescência a minha cabeça também estava na
adolescência. A gente se divertia muito. A gente morava numa cidade
pequena e meus filhos tinham muita liberdade (12), mas, filho é muito
teimoso, tem opinião própria (10), mas, não tem problemas, nós vivemos
muito bem. A gente vive tranqüilo, unido (02). Nos damos muito bem
(13). Eu converso muito com o meu filho mais novo, eu queria que ele
estudasse, para ele ter uma formação melhor, para ter uma velhice mais
acomodada (03, 04, 07, 08).
Os idosos participantes deste estudo relataram ter uma relação boa com
seus filhos, a qual está baseada na expressão de sentimentos positivos como
amor, carinho, amizade, cumplicidade, liberdade, tranqüilidade e dialogo.
Entretanto, houve idosas que se referiram à teimosia do filho e à
preocupação com melhor educação formal deste, visando uma velhice com
melhores condições de vida; elas acreditam que só assim os filhos poderão
vivenciar uma realidade de vida distinta e melhor, que elas puderam lhes
proporcionar melhores condições de vida e status social e também pode ser a
consolidação de seu próprio sonho; haja vista que elas não tiveram oportunidade
de acesso a esse tipo de formação.
No tocante à formação escolar, o envolvimento dos pais é importante na
educação dos filhos como atitude individual informal e estratégia de ascensão
social (CARVALHO, 2000). Para este autor, a missão da escola é compensar o
peso desigual das condições familiares fazendo com que o sucesso escolar
dependa, em grande parte, do apoio direto e sistemático da família que investe
nos filhos, levando em conta tempo disponível para estudos e o nível de
escolarização da mãe.
Em seu estudo, Marteleto (2002) demonstra que a escolaridade média do
jovem aumenta, à medida que o tamanho da família diminui, apontando uma
relação inversa entre estes fatores, atrelada à escolaridade materna como
determinante, em parte, pelo aumento da escolaridade dos filhos.
67
Enquanto a visão dos papéis da família se renovam, observa-se que a
transmissão de bens e patrimônio entre as gerações se dá sob a forma de
estudos, pois existem muitos pais que consideram que ao darem instrução formal
sólida para os filhos, eles estão contribuindo para colocá-los em melhores
posições sociais do que lhes dando bens materiais (SEGALEN, 1999).
Para Gomes e Pereira (2005) a educação tem o impacto de perpetuação
do ciclo de pobreza entre gerações, uma vez que os pais, com baixa
escolaridade, têm dificuldades em garantir maior nível de escolaridade para seus
filhos e com isso eles terão maiores dificuldades para enfrentar seu processo de
viver.
4.2.6 RELACIONAMENTO ENTRE SOGRA-IDOSA E NORAS/GENROS
Tentando identificar o relacionamento existente entre idosa e seus genros e
noras, perguntei: Como é seu relacionamento com seu genro/nora? A IC que
emergiu foi:
A. Relacionamento bom ou muito bom
A maioria das idosas que co-residem com genros e noras relatam que se
relacionam bem ou muito bem com seus genros; entretanto elas reconhecem que
o relacionamento não é tão bom quando se referem às noras. A maioria das
idosas não respondeu a esta questão por o terem genro ou nora co-residindo
com elas (04, 05, 06, 07, 08, 10, 12).
Idéia Central A
- Relacionamento bom ou muito bom
Meus genros são como filhos (01, 13) estão casados há mais de 30 anos
(13) [...]. Ele é bom, a gente se dá bem (01). Quando eu estou doente ele
me pega e leva no medico. Eu não tenho o que falar dele (02, 03).
Quanto a minha nora, eu sou chata, exijo demais dela (11).
68
Das idosas que responderam a esta questão, todas relataram que seu
relacionamento com os genros é muito bom, porque eles são como filhos, as
tratam com carinho e se preocupam com seu bem-estar. São presenças
freqüentes no cotidiano destas idosas, elas reconhecem o tratamento recebido e
em contrapartida procuram agradar aos genros, fazendo-lhes os gostos,
mimando-os e, em algumas ocasiões, tomando partido em favor dos genros em
detrimento das próprias filhas.
Entretanto, elas não deixam de tratar as noras como filhas; porém exigem
que elas dêem o melhor de si aos seus filhos e netos. exigências com a
manutenção da casa, das roupas dos filhos e netos, diversificação na preparação
dos alimentos. Elas reconhecem que cobram das noras as atividades que
realizavam para seus filhos, quando estes eram pequenos; porém não levam em
consideração as exigências, atribuições e responsabilidades assumidas pela
mulher na sociedade atual, onde se insere no mercado de trabalho com todas as
atribuições e responsabilidades que este espaço exige.
Apesar das mudanças ocorridas na família, ainda se observa que muitos
membros da família, principalmente os mais idosos, consideram seus filhos,
filhas, genros e noras como objetos de poder matriarcal, fato este herdado da
época em que a mulher era a responsável pelo cuidado dos filhos e da casa
(RUSCHEL e CASTRO, 1998).
4.2.7
O RELACIONAMENTO ENTRE AS IDOSAS E SEUS NETOS.
Buscando compreender a relação entre as idosas e seus netos, perguntei:
“Como é a sua relação com seus netos?” As idosas relataram que sua relação
com os netos é boa ou muito boa; apenas uma idosa não respondeu. Esta relação
esta baseada no cuidado, na emoção, no orgulho de ser valorizada pelos netos,
na cumplicidade e na religião. A idéia central retirada destes relatos foi:
A. Bom relacionamento com os netos
Idéia Central A
- Bom relacionamento com os netos
69
É muito boa (02). Desde pequenininhas eu cuido delas. É emocionante,
é outra emoção [...] gosto de brincar, de chatear os namorados (01).
Ontem minha neta falou que fui eu que a criei, criar não, eu cuidei, quem
deu comida foi seu pai e sua mãe (03). Mas eu falo para eles estudarem
(05, 07). Nossa convivência [...] em relação às outras famílias é boa
porque a gente é religiosa, segue a palavra de Deus, que recomenda
como tratar dos pais, até diz assim: “Honra teu pai e tua mãe que Eu
prolongarei teus dias úteis na Terra" . Isso deve frear um pouco as
atitudes dos jovens (04, 09). Eu lhes ensino o que aprendi com a vida. É
claro que temos alguns problemas, mas isto é família (06). As minhas
netas gostam de morar aqui, uma neta disse: "Não me vejo em outro
lugar, me vejo em Maringá na casa da minha vó" (08). É a coisa mais
linda, o neto é minha vida (10), quando um sorriso, eu ganho o dia,
sai o cansaço. Eu faço qualquer coisa pelos meus netos (11, 12). Sei
que eles têm orgulho de mim, principalmente da minha condição
financeira (13). Eles perguntam assim: ”Vó como que era no seu tempo
namorar?” Como que era no seu tempo isso ou aquilo? A gente conta
era assim, era assim, era assim... Eu também falo dessas coisas
absurdas do dia de hoje, eu aconselho (6)
Observa-se, neste discurso, que as idosas se sentem valorizadas e
queridas pelos netos e, em contra partida, elas dedicam-lhes amor, carinho,
dedicação, cuidado, conselhos e momentos de lazer.
Para Moragas (1997) as relações intergeracionais podem ser solidárias,
proporcionando ajuda, afeto e atenção em certos momentos vitais, quando
compreensão entre gerações e os jovens são educados para praticá-la,
fomentando assim a interação das diferentes idades.
O orgulho, referido neste estudo, por parte das netas, da situação
financeira abastada das avós, pode ser explicado pelas melhores condições
financeiras em que estas idosas se encontram, nesta etapa da vida. Os
sentimentos de afeto e a obrigação ou a promessa de benefícios econômicos são
fatores que asseguram o contrato familiar informal entre as gerações.
Os avós significam para os netos sabedoria, experiência de vida, respeito,
afeto/carinho, origem da família, e são chamados de segundos pais. Eles
exercem influência na vida dos netos, tanto no aspecto pessoal como no social.
Os avós o percebidos como pessoas amáveis e importantes. Os netos
percebem a importância dos avós à medida que crescem, pois na infância o
relacionamento entre avós e netos está baseado em brincadeiras, sendo
continuamente transformado em respeito. No que tange à contribuição dada pelos
avós aos netos, destacam-se: o reflexo, nos jovens, da educação dada pelos avós
70
a seus pais, a ajuda dos avós na criação dos netos, ajuda emocional dada a toda
a família, os avós como elo de ligação da família e a ajuda financeira
proporcionada pelos avós (DIAS e SILVA, 2003).
A chamada “casa da avó” ou casa da minha avó conforme o DSC acima, é
uma configuração do poder destas idosas sobre as gerações descendentes. A
casa é minha, foi uma afirmação freqüente, o que demonstra o poder exercido
pela idosa em relação aos seus filhos, genros, noras e netos. Este poder é
exteriorizado de diversas formas, desde o auxílio financeiro até a realização de
pequenas ações do cotidiano familiar.
Quando as idosas se referem a criar os netos, possivelmente elas estão de
acordo com o pensamento de Marcon (1999, p. 19), quando afirma que “criar é
muito mais do que educar e socializar. Criar é enxergar a criança de forma
completa, com todas as suas necessidades, [...] é um processo inacabado, único
para cada filho [...] que vai sendo moldado, construído pelas interações
ocorridas”.
A transmissão de conhecimentos e vivências ocorre nesta relação de
maneira constante. A relação avó-neta sugestiona cumplicidade e harmonia, e é
envolta por segredos, como se a avó fosse, ao mesmo tempo, refúgio e
conselheira para assuntos que vão desde o cuidado com sua alimentação,
roupas, estudo até a participação em seus possíveis envolvimentos amorosos. A
relação avó-neto é formal, mas respeitosa. Os idosos podem cuidar dos netos,
transmitindo-lhes informações culturais e conhecimentos adquiridos por meio da
experiência (LOPES; NERI e PARK, 2005).
A troca de experiência entre avós e netos se explica pela função que o
papel de avó representa, pelos cuidados que as crianças e adolescentes exigem
ou pela necessidade que os pais têm de recorrer aos seus próprios pais para
cuidarem de seus filhos enquanto trabalham ou realizam outras atividades (DIAS
e SILVA, 2003).
Nesse processo, a vivência entre avó e netos torna-se intima através de
sentimentos profundos, interação contínua e vida compartilhada, proporcionando
71
estímulos às idosas para continuar vivendo e felicidade por poder participar da
vida daqueles que amam.
Outro fator que influencia o relacionamento entre idosas e seus netos é a
religião, porque segundo Lisboa; Feres-Carneiro e Jablonski (2007) a religião
minimiza as angústias da existência de um grupo ou sujeito, ao encontrarem
explicações do desconhecido ou de suas impotências em um ser supremo. Isto
significa uma tentativa de representar aquilo que está no mais íntimo dos
sentimentos de uma família.
4.2.8
A FONTE DE RENDA E FORMA DE GASTÁ-LA.
Por meio da pergunta: a senhora possui renda e como gasta o seu
dinheiro? Foi investigada a utilização, pela idosa, de sua renda. As idéias centrais
que emergiram foram:
A. Despesas pessoais
B. Despesas com a casa
C. Pagamento de plano de saúde
Das idosas que possuem fontes de renda a maioria delas é proveniente de
aposentadorias e pensões. Elas utilizam seus rendimentos para suprir
necessidades pessoais e as demais para suprir outras necessidades como pagar
despesas da casa, plano de saúde privado e oferecer presentes aos seus entes
queridos.
Observou-se também que a fonte de renda e a forma de gastar os seus
rendimentos interferem na autonomia e autoridade da idosa dentro da família. De
acordo com o IBGE (BRASIL, 2002b), em 1999 as aposentadorias representavam
44,3% e a pensão 33,3% do rendimento dos idosos responsáveis pelo domicílio
no Brasil, enquanto apenas 12,0% dos rendimentos provinham do trabalho,
72
Idéia Central A
- Despesas pessoais
Sou aposentada (01, 03, 06), recebo pensão de uma filha (07). Tenho a
minha pensão e tenho renda vinda da fazenda e alugueis (13). Gasto
comigo, não tenho obrigações financeiras na casa (01, 09, 13) Mas, eu
sei que parte do respeito da minha família vem do meu dinheiro. Por
exemplo, minhas filhas e minhas netas, sempre que vão a lojas querem
a minha companhia. É claro! Eu sempre me disponho a pagar as contas
(13), dou dinheiro para minha neta ir ao cinema, dou presentes quando
quero dar (07). Pago as prestações (02), como a prestação da moto que
presenteei meu neto (11). Também gasto com meus remédios (01, 03,
09), roupas, calçados. Graças a Deus nunca dependi de meus filhos.
Não sei daqui para frente [...] a gente não sabe (03) [...] Gosto de
guardar dinheiro na poupança (4). Também, contribuo com 10% para
ajudar a igreja, eu até falo quando estou rezando: “Oh! Meu Deus
obrigada pela família que o Senhor me deu”, porque se eu não tivesse
uma família de oração, que me ensinou o caminho , talvez eu não
tivesse chegado até aqui (06, 07) Às vezes um ou outro precisa e toma
emprestado (06).
No Brasil, a Constituição de 1988, estabelece na seção IV - Da assistência
social, art. 203, item V: “a garantia de um salário nimo de benefício mensal (...)
ao idoso que comprove não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida pela família (...)” (BRASIL, 2003, p. 124).
Na França aposentadoria é assegurada depois de 25 anos de trabalho, o
que faz com que, os aposentados sejam autônomos, e tenham sua independência
financeira na velhice. Os pais, com a aposentadoria garantida, o dependem e
não esperam nada dos filhos, o que faz com que os laços entre as gerações se
tornem mais fortes (ROCHA, ECKERT, ACHUTTI, 2001).
As diferentes formas pelas quais os idosos percebem a aposentadoria
podem ser ressaltadas pela história de vida de cada um, pois os processos de
envelhecimento e de aposentadoria ocorrem de diversas maneiras e estão
relacionados às mudanças na vida social e no mundo do trabalho, à
reorganização da vida familiar e social, ao modo de ser de cada indivíduo e aos
papéis desempenhados (BULLA e KAEFER, 2003)
As idosas, que participaram do estudo, gastam seu dinheiro de diversas
formas e estão conscientes de que seus familiares, em determinados momentos,
se beneficiam com sua renda, tomando dinheiro emprestado, aceitando que o
73
idoso pague as suas contas, recebendo presentes. Isso as faz felizes, pois podem
contribuir com o bem-estar e a felicidade de seus familiares.
No convívio com os netos, estas idosas atuam, oferecendo oportunidades
de estudo, de passeios ou mesmo de aquisição de bens, como roupas, doces e
demais alimentos que os pais estão impossibilitados de oferecer.
Elas também relataram contribuir com o dízimo, como forma de
agradecimento a Deus pelas conquistas conseguidas durante a vida. Para Geertz
(1989) ser devoto não é estar praticando algum ato de devoção, mas ser capaz
de praticá-lo, pois a religião ajuda as pessoas a suportarem situações de pressão
emocional e social, por meio de um domínio sobrenatural e contribuir com a
Igreja.
Observou-se que algumas idosas utilizam seu dinheiro para manter o poder
e autoridade sobre os demais membros da família; mas isso não as incomoda
nem interfere no relacionamento familiar.
Idéia Central B
- Despesas com a casa
Primeiro de tudo nós pagamos as contas: luz, água, telefone [...] Ajudo
nas despesas (02, 10) [...] Faço compras para a casa, alimentação,
móvel e eletrodoméstico (11) Hoje mesmo teve que arrumar a válvula, o
homem cobrou pouco, R$ 30,00, mas eu tive que pagar. Todas as coisas
que arrumam aqui sou eu quem paga (09). Também, gasto com
construção, mas logo vai estar tudo pronto (12).
Verifica-se, neste discurso, que as idosas contribuem com as despesas
fixas da casa e ajudam a suprir necessidades esporádicas como compras de
moveis e eletrodomésticos, consertos e construções. A co-residência apesar de
reduzir gastos com moradia para alguns integrantes da família, aumenta os
gastos, dos membros da família que já viviam na casa, com alimentos, água, luz e
telefone.
Estudos sobre co-residência intergeracionais têm mostrado que, entre as
famílias mais pobres, os idosos contribuem com sua aposentadoria para ajudar a
74
compor o orçamento domiciliar, essa contribuição tem papel importante nas
estratégias de sobrevivência do grupo (CALDAS, 2003). Este fato foi observado
neste estudo e corrobora os achados de Pereira et al (2005), ao afirmar que
atualmente as famílias brasileiras, que possuem idosos, estão em melhores
condições socioeconômicas que as demais, porque os idosos influenciam a renda
domiciliar, contribuindo com suas aposentadorias e /ou pensões para aumentar a
renda domiciliar.
O rendimento do idoso é muito importante para melhorar a sua condição de
vida e a de seus entes queridos e a aposentadoria proporciona bem-estar para os
idosos, independentemente da sua categoria social (BARROS, MENDONÇA e
SANTOS, 1999).
A independência financeira é um dos fatores essenciais para que os idosos
possam manter sua autonomia e tenham uma percepção mais positiva da vida
(FERRAZ e PEIXOTO, 1997). Ela proporciona segurança, poder decisório,
sustento próprio e ajuda a sentirem-se auto-suficientes.
Idéia Central C
– Pagamento de plano de saúde
Pago o meu plano de saúde (03, 02). com ele tenho que pagar R$
352,00 por mês.
Apesar de a saúde ser objeto do Estatuto de Idoso, onde lhe é assegurada
a atenção integral à saúde, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso
universal, igualitário e contínuo das ações e serviços, para a prevenção,
promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às
doenças que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2003. p.12), observa-
se que entre as idosas entrevistadas duas relataram preocupação em pagar um
plano de saúde privado.
Esta despesa é tida como prioridade entre as despesas pessoais das
idosas, demonstrando a preocupação pela escolha da assistência a saúde que
elas desejam receber. A preocupação em ter um plano de saúde talvez ocorra
75
devido a certeza de ter maior facilidade no atendimento, em menor espaço de
tempo e por profissionais e instituições que julgam serem mais qualificados.
As idosas, participantes deste estudo, demonstram autonomia financeira,
pagam seus planos privados de saúde, sem necessitar da ajuda dos filhos, o que
nos leva a pensar que elas talvez não representem a realidade das idosas
brasileiras, que possuem menos recursos financeiros.
No Brasil, cerca de um quarto da população adulta possui cobertura por
plano privado de saúde, sendo a filiação a esses planos determinada pela
escolaridade e/ou pela renda familiar. Os indivíduos filiados a planos privados de
saúde utilizam os serviços de saúde com mais freqüência, em comparação
àqueles que dependem exclusivamente do sistema público de saúde (BAHIA;
COSTA; FERNANDES; LUIZ e CAVALCANTE, 2002).
Quanto ao acesso à rede privada de atendimento, a renda familiar tem
impacto mais expressivo do que a renda individual do idoso, pois com um
aumento na renda familiar de um salário nimo, as chances de o idoso utilizar a
rede privada de saúde aumentam em 20%; porém se esse aumento ocorrer na
renda individual, as chances aumentam em apenas 7%. Esta comparação indica
que os recursos financeiros da família são compartilhados e utilizados para cobrir
as necessidades de saúde de seus membros (BOS E BOS, 2004).
4.2.9 A IDOSA E A CHEFIA DA FAMÍLIA.
Para saber quem as idosas consideravam chefe da família perguntamos:
Quem a senhora considera chefe da família? Das respostas obtidas pudemos
retirar as seguintes ICs:
A. O Idoso chefia a família
B. A idosa e/ou filha chefiam a família
C. O filho é o chefe da família
D. O genro é considerado chefe da família
76
A maioria das idosas relatou que o chefe de família era o marido, filho ou
genro, ressaltando que o homem é o chefe da família, apesar da contribuição da
mulher na renda familiar. Isto provavelmente deve-se à nossa herança cultural
onde o homem pertencia ao público e a mulher ao privado, cabendo a ele a chefia
da família, o seu sustento e bem estar.
Em passado remoto, o homem, como chefe de família, foi se afirmando na
medida em que foram acumulando riquezas e assumindo mais posições
importantes do que as mulheres, no seio da família e da sociedade. Eles valeram-
se destas vantagens e com isso aboliram o direito materno, substituindo-o pelo
direito paterno. O homem apoderou-se da direção da casa, convertendo a mulher
em sua escrava e simples objeto de reprodução, surgindo, então a família
patriarcal, monogâmica, em que, para assegurar a fidelidade feminina e a
paternidade de seus filhos, a mulher foi entregue ao poder absoluto do homem
(CENTA e ELSEN, 1999).
Na atualidade, há dificuldade em estabelecer o exercício da autoridade
parental na família, devido à impossibilidade da distribuição clara de papéis,
regras, normas e limites. Os limites para o exercício de papéis parecem estar
difusos, dificultando a posição entre os indivíduos e a conseqüente atribuição de
papéis (CARTER e MCGOLDRICK, 1995).
Isto foi verificado, neste estudo, pois apesar de as idosas atribuírem o
papel de chefe da família a um homem (marido, filho ou genro), houve outras que
a atribuíram a si mesmas ou à filha. Observa-se que elas não atribuíram este
papel às noras ou netos.
Idéia Central A
- O Idoso chefia a família
O meu marido é o chefe (06, 08, 11). Ele orienta a gente, tira dúvidas
(11). Quando os filhos eram menores, toda semana todos se reuniam ao
redor da mesa e eu começava a perguntar para eles: "qual o seu
problema" dizia “que podiam contar para gente, para a gente poder
ajudar”. Sempre foi assim, temos ensinamento para isso na nossa escola
bíblica dominical [...] (06) [...] Homem impõe respeito (08).
77
Desde os tempos remotos o homem era considerado o chefe da família;
entretanto hoje, devido à diversidade dos agrupamentos familiares, esta situação
está mudando. Neste estudo três idosas relataram que seus maridos eram os
chefes da família. Isso sugere que os homens permanecem como chefes da
família, apesar da idade e da evolução dos tempos.
Observa-se na história da família que a autoridade paterna estava
ancorada em situações efetivamente vividas por ele e em informações
apreendidas de diferentes fontes, as quais eram incorporadas à sua experiência.
Esse conhecimento legítimo era transmitido pela socialização, por meio de
orientações verbais e exemplo paterno, o que projetava para o futuro o saber
adquirido no passado (CARVALHO et al, 1995).
O modelo de família, organizado com base na hierarquia, regido pela
severidade de princípios, é substituído por formas diferenciadas de organização,
sem deixar lugar para o autoritarismo, do antigo pai provedor, que exercia
domínio sobre o grupo. Em período recente de nossa história, o homem
encontrava dificuldades para separar sua individualidade das funções de pai,
apoiado pela cultura que, sendo patriarcal, reservou-lhe lugar acima do cotidiano
doméstico (GOMES e RESENDE, 2004).
Os índices elevados de idosos que chefiam suas famílias podem indicar
que eles possuem melhores condições de saúde e capacidade funcional, as
quais, por sua vez, podem ser interpretadas como um produto de melhores
condições de vida, sugerindo uma redução da dependência dos idosos sobre a
família (CAMARANO, 2002). Almeida (2002) afirma que a renda mensal, per
capita, de famílias que possuem idosos como chefes de família é de
aproximadamente 200 reais a mais do que em de famílias em que eles não são
chefes.
Nas famílias em que os idosos são os chefes, encontra-se uma proporção
expressiva de filhos co-residindo com eles, pois eles, muitas vezes, apresentam
melhores condições econômicas do que seus dependentes, porque ganha mais, o
78
que os possibilita contribuir significativamente na renda das famílias (SOPEÑA,
2002).
Idéia Central B
– A idosa e/ou filha são chefes de família
Sou eu, a responsabilidade é minha (10) e da minha filha (5). A casa
era minha, agora eles [filhos e netos] vieram pra cá, mas sou eu que
mando [...] sou eu que falo e eu que dou [...] (04). Meu marido faz uns
10, 12 anos que não trabalha (05).
Verifica-se, neste DSC, que a idosas e/ou sua filha assumem a
responsabilidade de chefiar a família. Entretanto isso parece ocorrer devido à
ausência ou incapacidade do homem para assumir esta função.
A família chefiada por mulher é um tipo de organização familiar que sempre
existiu no decorrer da história da humanidade, sendo mais freqüente entre os
pobres. No Brasil, no início do século XX, período de maior urbanização, houve
intensa mobilidade geográfica dos homens em busca de melhores empregos,
ocasionando com isso o abandono periódico de suas famílias, fazendo com que
as mulheres se responsabilizassem pelo sustento e chefia das mesmas
(PACHECO, 2005).
Atualmente, vem ocorrendo o declínio da autoridade do chefe de família e
de sua capacidade de exercer seu poder sobre a esposa e os filhos, e ampliando-
se o controle das mães sobre a prole, deslocando o centro da família da
autoridade patriarcal para a afeição maternal (RYAN apud GIDDENS, 1993).
Esta situação vem-se modificando, lenta e progressivamente, sob a égide
de transformações mais amplas, na sociedade e na família. Entretanto as
mudanças de hábitos não acompanham o ritmo da transformação de valores.
Antes de assimilar a configuração familiar que se delineia, o homem é
surpreendido pela ruptura da hierarquia doméstica e pelo constante
questionamento de sua autoridade (GOMES e RESENDE, 2004).
79
Atualmente tem havido aumento significativo do número de mulheres,
idosas ou não, que chefiam suas famílias. Isto se deve ao ingresso da mulher nas
instituições escolares, no mercado de trabalho, possuir renda própria e aos novos
arranjos e funções familiares, feito observado neste estudo.
As mulheres idosas que chefiam suas famílias demonstram que, apesar de,
muitas vezes, elas serem levadas a viver com os filhos, principalmente em
situações de viuvez e separação, elas têm se mantido em sua própria residência,
e consideram-se chefes do domicílio (COUTRIM, 2006)
Idéia Central C
- O filho é o chefe da família
É meu filho. Ele que comanda a casa (01). Por que ele que tem a
família [...] tem que ser o chefe, é natural (09).
Na antiguidade, o domínio do homem sobre a mulher tinha como finalidade
principal a procriação de herdeiros, que um dia tomariam posse dos bens do pai.
Na falta do pai, a herança era passada para os filhos e estes eram preparados
para assumir o seu lugar, até mesmo no cuidado dos familiares, principalmente
das mulheres (ENGELS apud CENTA, 2001).
Ainda hoje, é comum as pessoas da família elegerem o homem como
chefe da família, independentemente de ser ele, efetivamente, o principal
responsável pela manutenção econômica do lar. Esta escolha, possivelmente,
está baseada muito mais na permanência de conceitos culturais que atribuem ao
homem a responsabilidade pelo sustento da família do que na renda mensal de
cada um de seus membros (CARVALHO, 1998).
Idéia Central D
– O genro é considerado chefe da família
Meu genro (02, 03, 13) [...] é o cabeça da casa [...]. Administra tudo, é o
provedor da família (13), ele está presente no dia a dia [...]. É um filho!
(03) O homem é o sacerdote da família, o responsável (07).
80
Segundo NARVAZ e KOLLER (2006) a sociedade civil como um todo é
patriarcal. As mulheres estão submetidas aos homens tanto na esfera privada
quanto na pública, não ao poder do pai, mas ao poder dos homens, ou do
masculino, enquanto categoria social. Portanto, as relações dentro de uma família
são produtos de permanentes negociações, cujos termos precisam ser
elaborados, de acordo com o princípio da autonomia que rege o viver de cada
uma delas (GIDDENS, 1993).
Ainda hoje, a formação de papéis, que devem ser exercidos pelos
indivíduos, está fundamentada numa sociedade patriarcal, onde mitos sociais e
familiares têm influenciado o relacionamento e comportamento das pessoas.
Dentre eles observa-se o mito do homem-pai, tido como provedor, trabalhador,
disciplinador, racional, dono do poder e independente; e o da mulher, como frágil,
emotiva, sensível e dependente (MUNHOZ; CENTA e LENARDT, 2004).
Observa-se, nos discursos acima que a maioria das idosas atribuiu ao
homem a obrigação de chefiar a família. Elas transferiram a função que antes era
do esposo para outro homem, membros de suas famílias, reproduzindo e
mantendo, assim, a estrutura hierárquica básica da família patriarcal tradicional,
onde ao homem é reservada a obrigação cotidiana de sustentar e chefiar a
família. Sua importância está em prover o sustento da família e sua identidade
confunde-se com a de trabalhador, embora apareçam traços de modernidade,
quando a chefia da família é compartilhada entre duas mulheres, retratando uma
realidade crescente em nosso meio. Dados do IBGE (BRASIL, 2002d) apontam
que um terço das mulheres responsáveis pelos domicílios tem mais de 60 anos
de idade e que grande parte deste universo de idosas é constituído de viúvas.
4.2.10
O SUSTENTO DA FAMÍLIA.
Para identificar quem sustenta a família foi perguntado: Quem sustenta a
sua família? As idéias centrais que emergiram foram:
A. Os idosos sustentam a família (1ª geração);
81
B. A família é sustentada pelo filho/genro/nora (2ª geração);
C. O sustento é compartilhado pela idosa, filho e genro (1ª e 2ª geração).
No momento da categorização desta pergunta, optei por fazê-la de tal
forma que ficasse claro qual era a geração que sustentava a família. Deste modo,
a idéia central A: “Idoso ou idosa sustenta a família” representa a geração mais
velha, a 1ª geração sendo responsável pelo sustento da família, ou seja, os
idosos é que sustentavam a família.
Na idéia central “B” A família é sustentada pelo filho/genro/nora, o sustento
da família está a cargo da segunda geração, ou seja, dos filhos, noras e genros. A
idéia central “C” envolveu a primeira e segunda geração na responsabilidade de
sustentar a família. Saliento que, apesar de existirem netos adultos co-residindo
com os idosos, eles não foram citados como compositores de alguma parte da
renda familiar. Nas respostas a esta pergunta foi possível identificar que a maioria
das famílias é sustentada pelos genros e noras; entretanto cinco idosas relataram
que são elas que sustentam suas famílias.
Idéia Central A
– Os idosos sustentam a família (1ª geração)
Meu marido (06, 08, 11) e eu (10, 08, 11). É isso [...] eu trabalho,
ganho um tantinho Cuido da casa e pago as prestações e o aluguel (10).
Com a renda do meu marido a gente tem um extra e põe na casa (12).
No Censo 2000 foi considerado como responsável pelo domicílio aquela
pessoa indicada pelos próprios moradores como referência da família. É com a
utilização desse conceito que se verificou haver no Brasil 8,96 milhões de idosos
responsáveis por seus domicílios (BRASIL, 2002b)
Atualmente, os idosos aposentados representam um dos segmentos
sociais com maior estabilidade econômica, assumindo, frequentemente, a
responsabilidade pela manutenção de suas famílias, devido à sua permanência
no emprego e/ou à posse do benefício previdenciário (CAMARANO, 2003).
82
Uma das conclusões parciais do Relatório Nacional Brasileiro sobre o
envelhecimento da população, do Ministério das Relações Exteriores (BRASIL,
2002c) demonstra que em 1998, os idosos estavam em melhores condições
econômicas do que outros segmentos populacionais, pois eles ganhavam mais e
contribuíam significativamente na renda das famílias. Nas famílias em que os
idosos são os chefes, encontram-se uma proporção expressiva de filhos co-
residindo. Como parcela importante da renda familiar depende da renda do idoso,
a redução ou o aumento dos benefícios previdenciários, não atinge apenas os
idosos, mas, também, as estruturas familiares. Assim, o aumento da longevidade
tem levado o idoso a assumir papéis não esperados pela família, sociedade e
políticas públicas.
Neste estudo, as idosas que relataram ser elas e/ou seus cônjuge os
responsáveis pelo sustento da família, justificam que isso ocorre devido a terem
renda advinda de benefícios sociais e trabalho informal. Muitas destas idosas
participam do mercado de trabalho informal para poderem sustentar ou ajudar na
manutenção da família e suprirem necessidades dos filhos e netos.
Idéia Central B – A família é sustentada pelo filho/genro/nora
O filho (01, 04) ele trabalha no Banco do Brasil [...] Desde que o pai
estava vivo. Ele me dava 600 reais todo mês (04) e a nora que também
trabalha (01). O meu genro (03, 13, 07) e a minha filha (03) também
ajudam. O outro filho não tem emprego. A filha também está
sustentando-o (05, 07).
Neste DSC, observa-se que o sustento da família é compartilhado entre os
membros da primeira e segunda geração familiar e cada um ajuda de acordo com
suas possibilidade.
Desde os tempos remotos, a hierarquia familiar estabelecia o homem como
principal responsável pelo sustento da família. Atualmente este conceito está
sendo modificado, devido à inserção da mulher no mercado de trabalho. Nesse
processo, a mulher, ao tornar-se produtiva, compartilha as despesas familiares,
83
adquirindo responsabilidades e, muitas vezes, maior poder para assumir a chefia
do lar (GELINSKI; RAMOS, 2004).
Devido a importantes fenômenos e movimentos sociais, como a entrada da
mulher no mercado de trabalho e sua maior participação no sistema financeiro
familiar está sendo construído novo perfil de família, a qual se contrapõe ao
modelo familiar tradicional, que tinha o pai como único provedor e a mãe como
responsável pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos. Este processo de
transição está ocorrendo na maioria das famílias brasileiras de nível
socioeconômico médio, pois atualmente, em muitas famílias se percebe uma
relativa divisão de tarefas, na qual pais e mães compartilham as tarefas
domésticas, a educação dos filhos, a organização do cotidiano familiar, o suporte
afetivo, e o sustento econômico. São tarefas que, na maioria das vezes, o pai e a
mãe assumem conjuntamente (WAGNER, PREDEBON e MOSMANN, 2005).
Porém essas mudanças parecem não estar ocorrendo com a mesma
freqüência e intensidade em todas as famílias, pois hoje encontramos famílias
com diferentes configurações e estruturas, o que implica diretamente a divisão de
tais tarefas. Coexistem modelos familiares que seguem a tradicional divisão de
papéis; outros em que os maridos e esposas dividem as tarefas domésticas e
educativas da família e, ainda, aqueles em que as mulheres são as principais
responsáveis e mantenedoras financeiras da família, acumulando a
responsabilidade pelo trabalho doméstico e educação dos filhos (FLECK e
WAGNER, 2003).
Idéia Central C
- O sustento é compartilhado pela idosa, filho e genro (1ª e
geração).
[...] quem sustenta a casa somos eu, minha filha e meu genro, a gente
divide o que ganha [...]. Reparte, pago o que tem que pagar e deixamos
tudo junto [...] cada um ajuda com o que pode (02). Eles pagam o
supermercado [...] mas, tem muita coisa que eu pago: o IPTU, talão de
luz, água (09).
84
A tônica deste DSC foi o compartilhamento na manutenção da família pelos
idosos, seus filhos e genros.
De acordo com Coutrim (2006), o rendimento dos idosos auxilia na
manutenção da família dos filhos, em momentos de dificuldades, quando eles se
encontram em situação de desemprego ou não possuem recursos suficientes
para pagar aluguel ou construir sua própria casa. O compartilhamento no sustento
da família pelos idosos, vai além da renda direta, pois ao cederem espaço em sua
moradia para filhos e netos com os respectivos cônjuges, os idosos diminuem os
encargos das famílias mais jovens, ajudando-os a enfrentar as dificuldades
encontradas para manter sua família.
Considerando-se que existem ganhos com a adição de novos membros em
um domicílio, esse ganho não é real, porque com o aumento do número de
pessoas na casa um aumento de despesas, o que, a partir de um determinado
momento, pode superar os ganhos advindos desse agrupamento, além da
redução de privacidade de cada um de seus membros (FERREIRA, 2001).
Estes DSCs demonstram que, embora as famílias estejam vivendo no
século XXI e passando por uma série de transformações, ainda trazem em seu
modo de ser valores, mitos, ritos, hábitos e costumes de nossos antepassados,
onde os pais se sentem responsáveis pelo bem-estar e sustento dos filhos,
porquanto as idosas, informantes deste estudo, referem que participam das
despesas da casa, mesmo que sejam os filhos os que mais contribuem.
4.2.11
A IDOSA E A OCORRÊNCIA DE MAUSTRATOS.
De acordo com a OMS os maustratos na terceira idade podem ser
definidos como ato único ou repetidos, ou ainda, ausência de ação apropriada
que cause dano, sofrimento ou angústia e que ocorram dentro de um
relacionamento de confiança. Um único episódio de violência física pode
intensificar enormemente o significado e o impacto emocional, pois o pior aspecto
85
dos maus tratos não é a violência em si, mas a angústia mental e o viver com
medo e aterrorizado (OPAS, 1998)
Em seus estudos sobre violência contra idosos, Espíndola e Blay (2007)
evidenciaram que o abuso verbal e o psicológico são os mais recorrentes, com
prevalências variando de 1,1% a 26,8% e 29,6% a 47%, respectivamente. Quanto
ao abuso físico, as prevalências variaram entre 1,2% e 16,5%. O abuso financeiro
foi abordado com freqüência variando de 1,4% a 8,5%. A negligência prevaleceu
de 0% a 24,6%. O abuso sexual não foi relatado.
Estimativas sobre o abuso em idosos são difíceis de serem obtidas em
virtude do caráter freqüentemente velado do problema. A subnotificação da
violência sofrida pelo idoso associa-se, muitas vezes, à solidão, ao isolamento e à
tendência dos indivíduos idosos a não relatar suas adversidades, principalmente
aquelas ocorridas em família.
Neste estudo a violência verbal foi relatada por cinco idosas. Outras
tentaram minimizar o fato demonstrando aversão à pergunta. Em nenhum
momento foi relatado abuso financeiro, apesar de parte da renda das idosas ser
utilizada em família, nem violência física.
A violência familiar foi objeto da pergunta: Alguém a maltratou? Das
respostas obtidas, foi possível retirar as seguintes ICs:
A. A idosa não foi maltratada.
B. Foi maltratada verbalmente.
Idéia Central A
- A idosa não foi maltratada
Não (01, 11), eu não lembro (13). A gente discute, mas, maltratar,
ofender, não (11). Às vezes pego pesado com eles [...]. Exagero um
pouquinho, mas eles me respeitam assim mesmo (02). Não vou aceitar
desacatos, quero respeito [...] acontecem alguns atritos entre os filhos,
mas, termina tudo bem. Quando você tem razão o silencio fala mais alto
do que as palavras e eles pedem desculpas (08).
Algumas idosas relataram que discutem com seus familiares, mas, não
aceitam desacatos e exigem respeito. Elas afirmam que não lembram de serem
86
maltratadas e que quando existe algum atrito ou discussão entre os filhos eles
pedem desculpas.
As relações intergeracionais podem ser solidárias, porque proporcionam
ajuda em certos momentos da vida; mas deve-se reconhecer que existe
necessidade de compreensão entre as gerações e isso deve ser praticado entre
seus membros, para que se fomente a integração entre as diferentes idades e
conseqüentemente se reduza o conflito dentro da família (MORAGAS, 1997).
Atualmente, os jovens passaram a conviver mais tempo com os idosos,
sendo esta convivência importante para todas as gerações; entretanto esta
relação necessita de respeito mútuo. Foi possível perceber, neste estudo, que
para melhorar a convivência dos idosos com os mais jovens, estes precisam
compreender que os conselhos emitidos pelos mais velhos têm o intuito de o
fazê-los cometer os mesmos erros que os próprios idosos já cometeram em
alguma fase de suas vidas.
Por outro lado, a visão de mundo das avós é própria de sua geração, pois
elas viveram transformações significativas no transcorrer de suas vidas, em
função das mudanças sociais como guerras, mudanças de país, governos;
portanto elas precisam promover modificações em suas maneiras de pensar, agir
e de se relacionar com os jovens e com o mundo.
Os idosos precisam entender que, apesar dos princípios morais e éticos
não serem mutáveis os jovens precisam ter as suas próprias experiências e não é
porque os jovens não os acatam que eles os desrespeitam. O viver experiências é
necessário para o crescimento pessoal dos jovens, pois enriquece a sua busca
por um padrão de comportamento que julgue adequado.
Idéia Central B
- A idosa foi maltratada verbalmente.
Sim, com palavras (03, 09, 05) porque a pessoa está estressada, mas
[...] Eu não guardo raiva das pessoas. Tudo passa, faz de conta que
esquece (03, 05). A minha neta tem os problemas de amor, a gente
que está errado. E ela fica nervosa, eu largo pra [...]. Daí um
87
pouquinho ela vem me agradar [...], não pede desculpa, não. Não
admite, mais a gente sabe que ela está arrependida. A mãe [filha] dela
nunca me maltratou [...]. Tem vez que achoro, mas, basta ela me falar
uma palavra de amor, de carinho que eu esqueci (04). Isso é coisa da
vida, depois que acontece, o que passou, passou, mas também não
aceito agressão. Não tem problema, a gente acostuma, mas a minha
nora não é da minha família, então eu não quero nem noticia [...] (05).
Não é um trato bom como deveria ser (09) [...]. Cansei de dizer que
ponha a cabeça no lugar (12).
Neste DSC observa-se que as idosas foram maltratadas pelas netas e
noras. Com a neta o relacionamento fragiliza-se; entretanto é aceito pela idosa
como transitório, devido à fase da vida em que a neta se encontra e por ser sua
neta. Porém, quando o assunto é a nora, novamente emerge a emulação
existente entre ambas, com o agravante da idosa verbalizar que a nora “não é da
família”.
Co-residir com filhos ou fazer parte de uma família o é garantia para
velhice segura ou livre de violência e maus tratos (DUARTE, 2005), pois o fato
dos idosos co-residirem com os filhos não lhes garantem respeito e prestígio. As
denúncias de violência física contra idosos aparecem nos casos em que
diferentes gerações co-residem, reforçando o fato de que morar junto não quer
dizer que existam relações mais amistosas entre as gerações co-residentes
(AQUINO e CABRAL, 2002).
A relação familiar intergeracional desgastada pelo tempo, conflitos,
problemas econômicos entre outros, levam aos maus tratos no ambiente familiar,
os quais têm efeito destrutivo na qualidade de vida dos idosos. Os maus tratos
acarretam somatizações, transtornos psiquiátricos e morte prematura dos idosos,
gerando, gastos com saúde pelo aumento do número de atendimentos
ambulatoriais e internações hospitalares (TORTELLI, 2001).
Co-residir com filhos, genros, noras e netos é um processo complexo; mas
as participantes deste estudo o relataram de forma simples, fiel e compreensível
nos possibilitando conhecer um pouco mais desta forma de viver em família e
quão importante ela é para a vida das idosas e, porque não, de sua família.
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo nos mostra que a co-residência entre idoso, filhos, genros,
noras e netos pode ser considerada uma forma de cuidado familial, em que
muitas vezes o idoso exerce o papel de chefe da família, sendo responsável pelo
sustento e cuidado de seus membros, ou uma forma de ele ser cuidado por seus
familiares. Nesse processo o idoso é respeitado e amado pela sua família,
interagindo de forma harmônica e democrática, onde pode exercer sua cidadania
e obter melhores condições e qualidade de vida.
A co-residência principalmente para as viúvas, parece ser um marco na
vida destas idosas, porque elas se sentem úteis, não solitárias e participativas da
vida da família. Co-residindo com familiares elas são incapazes de vislumbrar
qualquer possibilidade de dependência física, mas admitem a necessidade de
companhia e demonstram felicidade em viver em família. Apresentam dificuldades
para falar sobre si, falando muito mais do marido (presente ou falecido). Isso se
deve ao fato de poder enaltecê-los, demonstrando o tipo de relação que
vivenciaram.
A co-residência é um elemento que contribui para a solidariedade familiar
tanto nos períodos mais difíceis da vida dos filhos, quanto na viuvez dos pais,
principalmente da mãe. Assim, concluímos que co-residir com filhos, genros,
noras, e netos é um processo que inclui compartilhamento, responsabilidades,
ajuda, cuidado, poder e liberdade, permitindo que as idosas se sintam úteis,
respeitadas e amadas.
A população idosa que participou deste estudo está inserta na família não
necessariamente por vontade própria, mas em sua maioria, por motivos familiares
como viuvez, separação dos filhos, necessidade dos filhos de ajuda financeira e
para cuidar dos netos. Entretanto elas não trocariam a convivência com a família
de seus filhos pela solidão. Referiram-se muito à viuvez e ao divórcio dos filhos
como as grandes causas da co-residência familiar, um marco na mudança de
suas vidas. Estas idosas, além de não viverem sozinhas, estão conscientes da
89
forma que vivem e em nenhum momento demonstraram infelicidade, revolta,
insatisfação.
A necessidade de ajudar os filhos que estão passando pela fase de
aquisição é tida como forma de manter as suas atividades laborais, que a
população estudada o apresentava nenhuma doença incapacitante. As idosas
demonstraram prazer em poder ajudar os filhos, genros, noras e netos, pois isto
gera respeito, poder, carinho.
O relacionamento familiar pareceu ser harmônico, entretanto foi relatado
existir em alguns momentos divergências, principalmente entre as noras e netos,
considerado pelas idosas como fato comum entre familiares. A maioria dirige a
sua vida; mas também controlam e protegem a vida dos seus entes queridos,
principalmente aconselhando-os e trocando experiência, cuidando e apoiando.
Isto nos faz pensar que existe preocupação recíproca entre os membros da
família e entre as gerações.
A relação mais conflituosa é a existente entre sogra e nora, que é
permeada por questões culturais, de poder e imaginário. Com os filhos a relação
é tida como respeitosa, carinhosa e amigável.
A religiosidade é um ponto importante para estas idosas, pois encontramos
idosas dedicadas a ações comunitárias ligadas a Igreja, ocorrência de pagamento
do dízimo, bem como citações bíblicas a respeito da família. Muitas referem que a
união da família é atribuída aos ensinamentos religiosos e morais aprendidos em
casa, fruto dos princípios cristãos exercidos pelas famílias. Isso ocorre
principalmente nas situações mais limítrofes de desentendimentos.
A violência física foi negada por todas as idosas; mas houve relatos de
violência verbal, sendo esta entendida como exacerbação momentânea de
sentimentos, sem repercussão no cotidiano. A violência por abusos financeiros é
velada; haja vista a oferta de presentes e dinheiro aos seus descendentes,
mencionada como usual, bem como a compra de objetos para a casa e o
investimento com o ensino, pagamento de prestação de motos, empréstimos.
90
O investimento em educação formal para as gerações mais novas é
preocupação das idosas, primeiro como realização pessoal, de uma formação que
não lhes foi permitida em virtude do casamento prematuro, carência de recursos
ou proibição por parte dos pais. Portanto a educação formal e a aquisição de uma
profissão para os filhos e netos é uma forma de realizar seus sonhos, objetivos
próprios não realizados de melhorar as condições de vida de seus ascendentes.
Para as idosas católicas o chefe da família é o detentor do poder
financeiro, independentemente do gênero; entretanto para as evangélicas a chefia
da casa recai sobre o homem, devido às referências na bíblia sobre o assunto.
A renda destas idosas advém principalmente de aposentadorias e pensões,
sendo usada parcial ou totalmente nas despesas da casa. A atenção à saúde é
retratada pela aquisição de planos de saúde privados, que possibilitam o
acompanhamento médico constante e uso de medicamentos continuado.
As facilidades da vida moderna são agradáveis à visão destas
entrevistadas, mas a cultura capitalista que invalida a experiência do idoso e não
valoriza a sua sabedoria, principalmente por parte dos jovens, desagradam a
estas idosas, pois elas se sentem em condições de externar suas experiências,
dar exemplos e ou participar da vida das gerações mais jovens.
A reflexão sobre o idoso co-residindo em famílias intergeracionais deve
incluir os aspectos socioeconômicos e culturais desta população, a fim de que se
possa perceber as especificidades, necessidades, e expectativas de futuro destas
idosas. O envelhecimento da população no contexto da família traz consigo a
necessidade de reflexão sobre as medidas e as políticas sociais que devem ser
adotadas diante dessa nova realidade da sociedade contemporânea, onde
algumas idosas não querem e não permitem ficar a parte do cotidiano da família e
da sociedade. Atualmente, mesmo aposentadas e consideradas limitadas, devido
à idade, elas continuam em atividade, possibilitando novas aquisições, ajuda aos
filhos, genros, noras e netos; enfim, um viver saudável, harmônico e feliz.
Este estudo demonstrou que a co-residência se baseia em apoios
múltiplos, como apoio econômico, intervenções na vida cotidiana, ajuda no
91
cuidado dos netos, favorecendo interações permanentes entre as gerações com
trocas de experiências capazes de valorizar a experiência do idoso, com
informações da história da família e conselhos, que julgam importantes ao futuro
de seus descendentes.
Nesse contexto acreditamos que o papel do enfermeiro envolve o
conhecimento sobre as necessidades e os problemas dos idosos, doentes ou
não, para que eles possam planejar e implementar o cuidado ao idoso, conforme
seu estado de saúde e bem-estar.
Observa-se que a ciência se tem dedicado a prolongar a vida; mas muitas
vezes nem as famílias, nem os profissionais de saúde nem a sociedade são
capazes de transformar esta etapa de vida em um processo de ser e viver
saudável e com qualidade,
Atualmente, em nossa sociedade se cultua o novo, o belo, o saudável e o
produtivo; entretanto o idoso ainda possui muito a ofertar tanto às famílias como
ao mundo. Eles podem não ser tão belos nem tão saudáveis; mas eles possuem
muitas experiências de vida, muito desejo de transmitir conhecimento pratico do
que é ser e viver em sociedade, de ajudar, de amar e principalmente de viver.
Os profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, devem procurar
cuidar do idoso de forma diferenciada, visando não ao conhecimento cientifico
e à técnica, mas o ser humano com todos os seus matizes. Nesse processo deve-
se estar atento não no processo saúde-doença, mas nos detalhes do ser idoso
aqui e agora, inserido em suas famílias e sociedade, possuindo vontade e
necessidades específicas próprias da idade e do ser idoso com todo o seu
potencial de vivências, experiências e herança cultural.
A ONU, OMS e governo brasileiro nos oferecem diretrizes e políticas
específicas para o cuidado do idoso, entretanto ainda vemos em nosso meio e na
mídia idosos sem o mínimo necessário para sobreviver; encontramos famílias que
por um motivo ou outro colocam seus idosos sob o cuidado de profissionais ou
pessoas sem qualificação para assisti-los ou cuidá-los, quando não os colocam
em abrigos nem sequer os visitam em dias festivos. As famílias modernas estão
92
mais preocupadas com suas subsistência do que com seus idosos. Governantes
e gestores de saúde que pouco se interessam por esta faixa populacional, pois a
mesma quando doente, é causa de grandes gastos.
Apesar dos programas existentes de assistência ao idoso, observa-se que
muitos cursos da área da saúde não possuem em suas matrizes curriculares
disciplina específica que enfoque o idoso nem a família, apesar de estarmos
cientes de que o idoso depende de sua família e vice-versa.
Este estudo nos mostrou que as idosas querem ser consideradas ainda
capazes de contribuir com suas famílias e sociedade, que elas querem viver
saudáveis e com qualidade de vida. Isso deve fazer-nos refletir sobre nossa
prática profissional, sobre os idosos e seu viver em família.
O viver em família proporciona qualidade de vida aos idosos, consciência
de que podem contribuir com a família e sociedade, quebrando paradigmas,
respeitando e sendo respeitados. Eles querem e podem contribuir para a
formação de uma sociedade que deve aprender a conviver harmoniosamente com
os idosos. Os governantes, portanto, que devem pensar no futuro desta
população, discutindo, planejando e implementando ações que atendam às reais
necessidades dos idosos e de suas famílias.
A enfermagem deve aprender a cuidar melhor desta população, criando
estratégias que permitam ao idoso melhorar ou manter o seu bem-estar, vivendo
de maneira independente e feliz.
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104
ANEXO
ANEXO A – PARECER DO COMITÊ PERMANENTE DE ÉTICA EM PESQUISA
105
APÊNDICES
APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Declaro que fui satisfatoriamente esclarecido pelo pesquisador, em relação a minha
participação no projeto de pesquisa CO-RESIDÊNCIA ENTRE IDOSO E SUA FAMILIA,
cujo objetivo é Identificar o tipo de relacionamento existente entre o idoso e seus
familiares, visando compreender as relações que permeiam este viver.
Aceito os procedimentos do estudo, ou seja, a realização de entrevistas e do uso de
gravador, após a abordagem da pesquisadora, leitura e assinatura deste termo de
consentimento e esclarecimento quanto aos objetivos e aspectos legais da pesquisa para
cada idoso e familiar.
Autorizo a utilização dos dados para a construção do conhecimento e sua divulgação em
revistas e eventos científicos desde que seja mantido sigilo e privacidade, bem como
garantido meu direito de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento de
dúvidas acerca dos procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa, além de
que se cumpra a legislação em caso de dano.
Caso haja algum efeito inesperado que possa prejudicar meu estado de saúde físico e/ou
mental, poderei entrar em contato com o pesquisador responsável e/ou com demais
pesquisadores. É possível retirar o meu consentimento a qualquer hora e deixar de
participar do estudo sem que isso traga qualquer prejuízo à minha pessoa. Desta forma,
concordo voluntariamente e dou meu consentimento, sem ter sido submetido a qualquer
tipo de pressão ou coação.
Maringá, ______ de __________________ de 2007.
Qualquer dúvida ou maiores esclarecimentos, procurar um dos membros da equipe do
projeto ou o Comitê Permanente de Ética em Pesquisa do Cesumar (COPEC) – Telefone
(044) 3027-6360 – ramal 274.
106
APÊNDICE 2 - INSTRUMENTO DE PESQUISA
ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO PARA ENTREVISTA
I – Itens de identificação
Iniciais:_________________ Codinome _______________ Idade: ___
Religião: _________________ Descendência: ___________________
Grau de escolaridade: _______________ Estado civil: _____________
Atividade econômica: _____________________
Renda do Idoso: _____________________
Renda familiar: ______________________
II - Itens específicos da pesquisa
Por que vocês moram juntos?
Como é viver com sua família?
Como o senhor se sente na família?
Como o sr (a) é tratado por seus filhos, genros/noras e netos?
Como é o seu relacionamento com seu filho (a)?
Como é o seu relacionamento com sua nora (genro)?
Como é o seu relacionamento com seu neto (s)?
Se o sr (a) possui renda, como gasta o seu dinheiro?”
Quem o sr (a) considera chefe de sua família? [...] Por quê?
Quem sustenta a família?
Alguém já o maltratou? Pode-me falar como aconteceu? Como se sentiu?
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