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Tal escola deveria estar preocupada com o desenvolvimento integral do
indivíduo, preparando-o para o mundo produtivo. Isso, sem direcioná-lo para uma
habilitação específica, o que deveria ocorrer em um momento posterior.
A partir dessa concepção, vários pesquisadores defendem que, na educação
básica, não seria conveniente a vinculação com uma habilitação específica, como
ocorre nos cursos técnicos de nível médio.
Para Saviani (2007, p. 159), “Conforme Gramsci, a escola unitária
corresponderia à fase que hoje, no Brasil, é definida como a educação básica,
especificamente nos níveis fundamental e médio”. Tal afirmação é correta, contudo,
a própria duração da escola primária e secundária sofreu e sofre várias alterações.
Sobre a duração dos cursos, Gramsci (2004, p. 37) propõe:
A escola unitária deveria corresponder ao período representado hoje pelas
escolas primárias e médias, reorganizadas não somente no que diz respeito
ao método de ensino, mas também no que toca à disposição dos vários
graus da carreira escolar. O nível inicial da escola elementar não deveria
ultrapassar três-quatro anos e, ao lado do ensino das primeiras noções
“instrumentais” da instrução (ler, escrever, fazer contas, geografia, história),
deveria desenvolver sobretudo a parte relativa aos “direitos e deveres”,
atualmente negligenciada, isto é, as primeiras noções do Estado e da
sociedade, enquanto elementos primordiais de uma nova concepção do
mundo que entra em luta contra as concepções determinadas pelos
diversos ambientes sociais tradicionais, ou seja, contra as concepções que
poderíamos chamar de folclóricas. O problema didático a resolver é o de
abrandar e fecundar a orientação dogmática que não pode deixar de existir
nestes primeiros anos. O resto do curso não deveria durar mais de seis
anos, de modo que, aos quinze ou dezesseis anos, já deveriam estar
concluídos todos os graus da escola unitária.
Fica claro que Gramsci pretendia a construção de uma escola com
organização curricular diferenciada. Quanto à nomenclatura, o autor pretendia que
essa escola unitária fosse correspondente às escolas primária e secundária. Porém,
quando se analisa sua proposta de duração dos cursos, é possível verificar que
corresponderia a um total de 9 a 10 anos.
Gramsci manifestava, ainda, uma preocupação com a universalização de
condições de sucesso escolar, mediante a isonomia de condições, propiciada pelo
Estado, para crianças de origens sociais diferentes:
Assim, os alunos urbanos, pelo simples fato de viverem na cidade, já
absorveram – antes dos seis anos – muitas noções e aptidões que tornam
mais fácil, mais proveitosa e mais rápida a carreira escolar. Na organização
interna da escola unitária, devem ser criadas, pelo menos, as mais
importantes destas condições, além do fato, que se deve dar por suposto,
de que se desenvolverá – paralelamente à escola unitária – uma rede de
creches e outras instituições nas quais, mesmo antes da idade escolar, as
crianças se habituem a uma certa disciplina coletiva e adquiram noções e
aptidões pré-escolares (GRAMSCI, 2004, p. 38).