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Prédios, calçadas, embaçadas vidraças, fuligem
solta misturada no ar. Cheiro de combustível
dos carros passantes. Som das buzinas, frena-
gens, rumores. Um viandante maltrapilho esbra-
veja delírios. Velha senhora em passos duros
juntando as pernas em sobre passo no sinal do
cruzamento. Sirene da escola e da polícia, a am-
bulância e o caminhão de lixo, a médica ao celu-
lar e o camelô e alguns importados, o bêbado às
quatro da tarde, a transeunte de cabelos com-
pridos e bíblia embaixo do braço, o motorista de
táxi, o jovem de gravata, a moça de saia curta, o
ponto do ônibus brotando filas por todos os la-
dos, o silêncio do guarda com apito na boca, a
estação rodoviária indo e vindo de ônibus sem
saber pra onde, o elevador que subiu, o celular
que toca, a menina de mão dadas com a mãe
que também é sogra parada em frente à vitrine,
o pintor no andaime do topo do mundo, um avi-
ão cruzando o céu de outubro, um pardal no fio
telefônico entre outros mil revoando a volta do
calçamento, o tormento do pai que o salário já
foi, do hilário tombo do boy, os papéis espalha-
dos na sarjeta, no chão a criança que chora no
shopping, a criança que ri com o tostão, o res-
taurante lotado, a assembléia em louvor de deus
e dos homens, aleluia!