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Pêssankas”. Ele perguntou se eu iria, mas é no meu horário de trabalho, eu não posso. Daí eu
comentei do teu trabalho, de como você tá fazendo, o quanto você, daquela vez, incentivou pra
gente não desistir, pra levar em frente esse projeto. Eu disse pra ele: - “Talvez a gente não vai poder
fazer lá grandes coisas, mas vamos, por exemplo, passar esse fim de semana lá em Craveiro, vai
sábado, fica até domingo de tarde e faz aquelas oficinas”. Claro, você não vai conseguir fazer as
pessoas saírem de lá já técnicas, mas vai passar a essência.
Como é o seu sentimento, como descendente de ucranianos? Como é essa ligação com a
Ucrânia?
Eu me sinto honrada. É complicado com a gente até achar palavras pra falar. Eu sinto um
orgulho imenso por ser ucraniana e de ter uma bagagem tão bonita, tão rica como essa. Eu não só
gosto de ser descendente, mas eu quero mostrar aquilo que nós temos de bagagem que agente
trouxe de lá e que tá preservando.Gente sabe que muitas coisas os nossos ucranianos de lá vieram
reaprender conosco. A gente manteve, porque eles, com o comunismo e com tudo o que eles
passaram lá, muita coisa acabou ficando para trás. Eu não sei como eu me identificaria se eu fosse
descendente de outra etnia, se eu tivesse uma outra etnia. Nossa eu me orgulho! Quando eu
participava do folclore (grupo de dança), eu me “achava”, “eu sou ucraniana, que lindo!” Ou
mesmo de fazer pêssanka, ou de você bordar, coisas que você passa pra frente, ou de você cantar.
Ou ali na igreja, você veja que às vezes eu deixo família, eu deixo tudo, porque pra mim aquilo ali
tá no sangue, sabe? Muito bom, eu gosto, tenho orgulho de ser ucraniana, tenho orgulho de estar
colaborando. A gente sabendo uma coisa e sabendo passar pra frente, isso é uma coisa que também
me realiza. Quando eu vejo que aquela sementinha que eu plantei, ela tá dando frutos, que mais
alguém aprendeu junto com aquela pessoa que aprendeu comigo ou coisa parecida, meu Deus,
aquilo deixa a gente feliz e realizada ainda, sabe?
Por que você acha que é importante, para essa comunidade de descendentes de ucranianos
de Itaiópolis, preservar esse costume?
Porque eles vindo do interior para a cidade, eu percebi que pelo fato de eles estarem aqui,
eles estão deixando muitas coisas que eram nossas mesmo, de lado, sabe? Daí vem a tecnologia, a
modernidade... Vizinhos, brincadeiras, costumes, aquelas raiuka, que são canções que se faz em
volta da igreja, época de Páscoa, aquelas coisas assim... Não sei se é pelo fato de ter outras pessoas,
mistura, que não é só uma comunidade ucraniana, que faz com que essa pessoa de repente, deixe de
lado... Eu percebo, eu senti essa dificuldade quando eu vim aqui. Eu vejo que as pessoas daqui
muitas vezes elas estão no anonimato, você sabe que é ucraniano pelo nome, porque você sabe
quem é a pessoa, mas não que ela se manifeste, sabe? Eu acho que aqui em Itaiópolis (Centro)
agente tem que buscar muito daquilo que eles deixaram ou que estão deixando pra trás. Eu vejo que
os filhos que estão vindo p´ra catequese já não sabem ucraniano como deveriam saber. Aquilo que
você aprende desde pequeno já não é mais passado; sei lá, já vem a escolinha, inglês, essas coisas
que estão deixando de lado ... Então se agente não fizer um trabalho de conscientização, pras
pessoas se orgulharem daquilo que são e que têm uma cultura linda, como eu sempre falo, que as
pessoas que às vezes nem são ucranianas, valorizam muito mais do que nós. Eu vivo citando
exemplos, de uns tempos pra cá eu cito muito: “A Analu não é ucraniana e ela tá ali, defendendo
uma coisa que nós, ucranianos, às vezes estamos deixando a desejar.” Eu vejo, é claro, tem trabalho,
emprego, os ucranianos lá na Ucrânia, bem como no interior têm um estilo de vida, depois vêm pra
cidade, muda tudo: é emprego, é horário, é ônibus, é creche, já não são eles que acompanham o
crescimento do filho, a educação... Tá se perdendo, não dá pra negar. É difícil, mesmo numa missa,
pra cantar ou coisa parecida, a dificuldade desses que estão vindo. Depois, eu fico pensando, mais
uns anos, que essas pessoas de idade vão se acabando, será que esses que estão vindo vão saber